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    SENTENA

    13. VARA FEDERAL CRIMINAL DE CURITIBA

    PROCESSO n.5023162-14.2015.4.04.7000

    AO PENAL

    Autor: Ministrio Pblico Federal

    Rus:

    1) Alberto Youssef, brasileiro, casado, comerciante, nascido em 06/10/1967, portador daCIRG 3.506.470-2/SSPPR, inscrito no CPF sob o n 532.050.659-72, atualmente preso nacarceragem da Polcia Federal em Curitiba/PR;

    2) Carlos Alberto Pereira da Costa, brasileiro, divorciado, advogado, nascido em11/12/1969, portador da CIRG 20759256-1/SP, inscrito no CPF sob o n 613.408.806-44,com endereo conhecido pela Secretaria.

    3) Joo Luiz Correia Argolo dos Santos, brasileiro, casado, empresrio, nascido em23/06/1980, portador da CIRG n 0689103638/BA, inscrito no CPF sob o n 922.281.945-49, atualmente preso no Complexo Mdico Penal;

    4) Rafael ngulo Lopez, espanhol, casado, nascido em 17/07/1947, portador da cdulaRNE n W252913/SPMAF/DPF, com endereo conhecido pela Secretaria.

    I. RELATRIO

    1. Trata-se de denncia formulada pelo MPF pela prtica de crimes de corrupo (art. 317 e333 do Cdigo Penal), de peculato (art. 312 do Cdigo Penal) e de lavagem de dinheiro(art. 1, caput, inciso V, da Lei n. 9.613/1998) contra os acusados acima nominados.

    2. A denncia tem por base os inquritos 5010001-34.2015.404.7000, 5008041-

    43.2015.404.7000, 5010001-34.2015.404.7000, 5049557-14.2013.404.7000 e processosconexos, especialmente 5001446-62.2014.404.7000, 5014455-57.2015.4.04.7000,5011278-85.2015.4.04.7000, 5047229-77.2014.4.04.7000, 5026387-13.2013.404.7000,5049597-93.2013.404.7000, 5031223-92.2014.404.7000, 5007530-45.2015.4.04.7000,5027775-48.2013.404.7000, 5026212-82.2014.404.7000, entre outros. Todos essesprocessos, em decorrncia das virtudes do sistema de processo eletrnico da Quarta RegioFederal, esto disponveis e acessveis s partes deste feito e estiveram disposio paraconsulta das Defesas desde pelo menos o oferecimento da denncia, sendo a eles ainda feita

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    ampla referncia no curso da ao penal. Todos os documentos neles constantes instruem,portanto, os autos da presente ao penal.

    3. Segundo a denncia do evento 1, no curso das investigaes relacionadas assimdenominada Operao Lavajato, surgiram provas, em cognio sumria, de que grandes

    empreiteiras brasileiras, para obteno de contratos com a Petrleo Brasileiro S/A -Petrobrs, pagaram sistemativamente vantagem indevida a Diretores da estatal, entre elesPaulo Roberto Costa e Renato de Souza Duque.

    4. Alm disso, teriam tambm, em cartel, ajustado o resultado de licitaes, possibilitandoque apresentassem propostas com os preos prximos ao mximo do admitido pelaPetrobras (20% acima da estimativa de custo), sem concorrncia real.

    5. A propina tambm seria dirigida a agentes polticos que contriburam para que osreferidos diretores assumissem e permanecessem nos respectivos cargos.

    6. No mbito da Diretoria de Abastecimento da Petrobras, ocupada por Paulo RobertoCosta, Alberto Youssef atuava como responsvel pela lavagem dos recursos que lhe eramentregues pelas empreiteiras e que eram destinados aos agentes polticos.

    7. Segundo o MPF, cerca de R$ 357.945.680,52 teriam sido repassados em propinas Diretoria de Abastecimento e ao Partido Progressista entre 2004 a 2014.

    8. Joo Luiz Correia Argolo dos Santos estaria entre os agentes polticos beneficiados.Teria recebido propinas na condio de Deputado Federal pelo Partido Progressista edepois pelo Solidariedade. Atualmente no mais exerce mandato parlamentar.

    9. Alberto Youssef tambm teria pago propina a Joo Luiz Argolo em interesse prprio eem razo da funo por ele ento ocupada, buscando obter atos do Deputado em seu favorna realizao de negcios, como interferncia para obteno de financiamentos eminstituies financeiras oficiais.

    10. Segundo a denncia:

    - Joo Luiz Argolo recebeu vantagem indevida de Alberto Youssef por diversas vezes entre2011 a 2014, por entregas em espcie ou depsitos bancrios;

    - os valores, produtos de crimes anteriores do esquema criminoso da Petrobras, teriam sidosubmetidos a condutas de ocultao e dissimulao, tambm caracterizando lavagem dedinheiro.

    11. Observa-se que a tese da denncia a de que Alberto Youssef utilizou dinheiro sujo,decorrente do esquema criminoso da Petrobrs, para pagar propina a Joo Luiz Argolo,caracterizando os atos tanto crimes de corrupo como de lavagem.

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    12. Nos itens V.1 a V.8 da denncia, h um detalhamento dos fatos, consistentesprincipalmente na realizao de pagamentos de despesas vultosas de Joo Luiz Argolo porAlberto Youssef a pedido deste, ou depsitos em contas de terceiros por Alberto Youssef apedido de Joo Luiz Argolo, inclusive chefe de gabinete parlamentar do ento Deputado,ou aquisio de bens de valor expressivo por Alberto Youssef para Joo Luiz Argolo ou at

    mesmo entrega de valores vultosos em espcie para Joo Luiz Argolo.13. Joo Luiz Argolo responderia por crimes de corrupo passiva e de lavagem.

    14. Alberto Youssef, por sua vez, responderia pela corrupo ativa e pela lavagem dedinheiro.

    15. Carlos Alberto Pereira da Costa e Rafael ngulo Lopez teriam atuado como partcipesna lavagem de dinheiro, o primeiro na aquisio, com ocultao e dissimulao, de umhelicptero para o parlamentar, o segundo nas entregas de valores em espcie.

    16. Alm desses fatos, imputa o MPF a Joo Luiz Argolo o crime de peculato por terutilizado recursos disponibilizados pela Cmara dos Deputados para compra de passagensareas para custear viagens de cunho exclusivamente particular, especificamente visitar oescritrio de Alberto Youssef para recolher valores de propina.

    17. Essa a sntese da pea.

    18. A denncia foi recebida em 15/05/2015 (evento 3).

    19. Os acusados foram citados e apresentaram respostas preliminares por defensoresconstitudos (55, 53, 47 e 46), salvo Carlos Alberto Pereira que apresentou respostarepresentado pela Defensoria Pblica da Unio.

    20. As respostas preliminares foram examinadas na deciso de 19/06/2015 (evento 61).

    21. Foram ouvidas as testemunhas de acusao (eventos 77, 90, 101, 128, 132, 134, 135,145 e 167) e de defesa (eventos 153, 163, 167, 192, 195, 221).

    22. Os acusados foram interrogados (eventos 268, 271, 326 e 337).

    23. Os requerimentos das partes na fase do art. 402 do CPP foram apreciados na audinciade 10/09/2015 (evento 271). Nessa fase, alm da juntada de documentos (evento 310),foram ouvidas trs testemunhas referidas e reinterrogado o acusado Alberto Youssef(eventos 318, 326 e 352).

    24. O MPF, em alegaes finais (evento 356), argumentou: a) que restou provada a autoriae materialidade dos crimes de corrupo, lavagem e associao criminosa; b) que Joo LuizArgolo recebeu propina enquanto parlamentar federal; c) que a condio de funcionriopblico de Paulo Roberto Costa comunica-se aos coautores e partcipes; d) que no hconfuso entre crime de lavagem e de corrupo; e) que a venda de imvel de Joo Luiz

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    Argolo a Alberto Youssef no justifica as transaes subreptcias havidas entre eles; f) querestaram provados os crimes de corrupo e de lavagem de dinheiro.

    25. A Defesa de Joo Luiz Argolo, em alegaes finais (evento 366), argumentou: a) queJustia Federal de Curitiba incompetente para processar e julgar o feito; b) que o acusado

    foi interceptado enquanto detentor do mandato de deputado federal; c) que a Polcia Federaltinha conhecimento que "L.A." era o acusado, ento deputado federal; d) que a utilizaode prova emprestada viola o contraditrio; e) que a denncia inepta; f) que Paulo RobertoCosta declarou desconhecer repasses a Joo Luiz Argolo; g) que Joo Luiz Argolo mantevenegcios privados com Alberto Youssef, mas dele no recebeu vantagem indevida; h) queJoo Luiz Argolo vendeu um terreno em Camaari para Alberto Youssef por dois milhesde reais; i) que no h prova da prtica por Joo Luiz Argolo de ato de ofcio em benefcioa Alberto Youssef; j) que no h prova de crime de corrupo passiva; k) que no h provado crime de lavagem de dinheiro; l) que o acusado no teve acrscimo patrimonial adescoberto, estando em situao financeira fragilizada; m) que no h prova do crime depeculato; n) que Joo Luiz Argolo pagou R$ 250.000,00 empresa Cardiomdica por 25%de um helicptero; o) que os pagamentos efetuados por Alberto Youssef a Joo LuizArgolo decorrem da aludida venda do imvel; p) que, no caso de condenao, deve serreconhecida a continuidade delitiva; q) que deve ser revogada a priso preventiva; r) e queas delaes no foram voluntrias.

    26. A Defesa de Alberto Youssef, em alegaes finais, argumenta (evento 360): a) que oacusado celebrou acordo de colaborao com o MPF e revelou os seu crimes; b) que oacusado revelou fatos e provas relevantes para a Justia criminal; c) que o acusado era umdos operadores de lavagem no esquema criminoso, mas no era o chefe ou principalresponsvel; d) que o esquema criminoso servia ao financiamento poltico e a um projeto depoder; e) que a ao penal deve ser suspensa em relao ao acusado considerando os termosdo acordo; f) que, considerando o nvel de colaborao, o acusado faz jus ao perdo judicialou aplicao da pena mnima prevista no acordo.

    27. A Defesa de Rafael ngulo Lopez, em alegaes finais (evento 359), argumentou: a)que o acusado celebrou acordo de colaborao com o MPF e revelou os seu crimes; b) queo acusado revelou fatos e provas relevantes para a Justia criminal; c) que o acusado eramero subordinado de Alberto Youssef; d) que, considerando o nvel de colaborao, oacusado faz jus ao perdo judicial.

    28. A Defesa de Carlos Alberto Pereira da Costa, em alegaes finais, argumentou (evento361): a) que a denncia se ampara em prova emprestada de outros feitos, com violao docontraditrio; b) que o Juzo incompetente; c) que no h prova do nexo causal entre oscrimes antecedentes e a aquisio do helicptero narrada na denncia; d) que no h provade que o acusado agiu com dolo; e) que a participao de Carlos Alberto foi de menorimportncia; f) que o acusado colaborou com as investigaes.

    29. Ainda na fase de investigao, foi decretada, a pedido da autoridade policial e doMinistrio Pblico Federal, a priso preventiva do acusado Alberto Youssef (evento 22 doprocesso 5001446-62.2014.404.7000). A priso cautelar de Alberto foi implementada em17/03/2014. Alberto Youssef ainda remanesce preso na carceragem da Polcia Federal.

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    30. Ainda na fase de investigao, foi decretada, a pedido da autoridade policial e doMinistrio Pblico Federal, a priso preventiva do acusado Joo Luiz Argolo (deciso de01/04/2015, evento 12, processo 5014455-57.2015.4.04.7000). A priso foi implementadaem 10/04/2015. Joo Luiz Argolo ainda remanesce preso no Complexo Mdico Penal.

    31. Os acusados Alberto Youssef e Rafael ngulo Lopez celebraram acordo de colaboraopremiada com a Procuradoria Geral da Repblica e que foram homologados pelo SupremoTribunal Federal. Cpias dos acordos foram disponibilizados nos autos (evento 1, out83,out86, out87), alm dos termos de depoimentos especficos a este caso (evento 1, out25,out46, deste processo, evento 1, anexo4, do processo 5007530-45.2015.4.04.7000, e evento5, anexo2, evento 10 do processo 5014455-57.2015.4.04.7000).

    32. No decorrer do processo, foi interposta a exceo de incompetncia de n. 5032222-11.2015.4.04.7000 por Joo Luiz Argolo e que foi rejeitada, constando cpia da deciso noevento 239.

    33. Na fase de investigao preliminar, foi, a pedido da autoridade policial e do MPF,decretada a quebra do sigilo fiscal e bancrio de Joo Luiz Argolo, de sua assessora EliaSantos da Hora e de pessoas beneficirias de depsitos solicitados por Joo Luiz Argolo aAlberto Youssef (decises de 27/03/2015 e 27/04/2015, eventos 9 e 34, do processo5011278-85.2015.4.04.7000).

    34. No transcorrer do feito, foram impetrados habeas corpus e que foram, em regra,denegados pelas instncias recursais.

    35. Os autos vieram conclusos para sentena.

    II. FUNDAMENTAO

    II.1

    36. Questionou a Defesa de Joo Luiz Argolo a competncia territorial deste Juzo.

    37. Entretanto, as mesmas questes foram veiculadas na exceo de incompetncia5032222-11.2015.4.04.7000 e que foi rejeitada, constando cpia da deciso no evento 239.

    38. Remeto ao contedo daquela deciso, desnecessrio aqui reiterar todos os argumentos.Transcrevo apenas a parte conclusiva:

    "61. Ento, pode-se sintetizar que, no conjunto de crimes que compem a OperaoLavajato, alguns j objeto de aes penais, outros em investigao:

    a) a competncia da Justia Federal pois h diversos crimes federais, inclusive na presenteao penal, atraindo os de competncia da Justia Estadual;

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    b) a competncia da 13 Vara Federal de Curitiba pela conexo e continncia bvia entretodos os crimes e porque este Juzo tornou-se prevento em vista da origem da investigao,lavagem consumada em Londrina/PR, e nos termos do art. 71 do CPP;

    c) a competncia da 13 Vara Federal de Curitiba para os crimes apurados na assim

    denominada Operao Lavajato j foi reconhecida no s pela instncia recursal imediatacomo pelo Superior Tribunal de Justia e, incidentemente, pelo Supremo Tribunal Federal;e

    d) as regras de reunio de processos penais por continuidade delitiva, conexo e continnciavisam evitar dispersar as provas e prevenir decises contraditrias, objetivos tambmpertinentes no presente feito.

    62. No h qualquer violao do princpio do juiz natural, se as regras de definio eprorrogao da competncia determinam este Juzo como o competente para as aespenais, tendo os diversos fatos criminosos surgido em um desdobramento natural dasinvestigaes."

    39. Agrego que deve-se ter presente o quadro geral, j que esta ao penal, abrangesomente uma frao dos crimes investigados no mbito da Operao Lavajato.

    40. No que se refere aos crimes que acometeram a Petrleo Brasileiro S/A - Petrobrs, apresente denncia reporta-se ao pagamento de vantagem indevida Diretoria deAbastecimento da Petrobrs, especificamente a Paulo Roberto Costa, com base emcontratos de empreiteiras com a Petrobrs em diversas obras espalhadas no pas, inclusivena regio metropolitana de Curitiba (Refinaria Presidente Getlio Vargas - REPAR).

    41. Mas h mais do que isso. Como consta na acusao, parte da propina era destinada aagentes polticos do Partido Progressista, que foram responsveis pela indicao esustentao poltica de Paulo Roberto Costa.

    42. Parte desses agentes polticos exercia mandato de deputado federal.

    43. Esse tambm era o caso do ora acusado Joo Luiz Argolo que teria recebido vantagemindevida nessa condio.

    44. Assim, deputados federais recebiam parte da propina destinada ao Diretor deAbastecimento da Petrobrs, tornando inequvoca a competncia da Justia Federal, semolvidar as demais causas conexas que contm, em seu objeto, outros crimes federais.

    45. Evidentemente, aqueles que ainda retm mandato parlamentar esto sendo investigadosperante o Egrgio Supremo Tribunal Federal, tendo aquela Suprema Corte, apsdesmembrar as investigaes, remetido as provas colhidas no acordo de colaboraopremiada de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa relativamente aos destitudos de foroprivilegiado, entre eles Joo Luiz Argolo, a este Juzo (Peties 5.210 e 5.245, cpia no

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    evento 775 do 5049557-14.2013.404.7000, e Petio 5292, que formou o processo5007530-45.2015.4.04.7000, declinado a este Juzo).

    46. Na intermediao da propina, atuava o escritrio de lavagem de Alberto Youssef, cujainvestigao e primeiros crimes de lavagem identificados se consumaram em Londrina, o

    que foi objeto de sentena na ao penal conexa 5047229-77.2014.4.04.7000, determinandoa preveno deste Juzo.

    47. Em um esquema criminal complexo, a disperso das aes penais, como pretende partedas Defesas nas diversas aes penais conexas na assim denominada Operao Lavajato,para vrios rgos espalhados do Judicirio no territrio nacional no serve causa daJustia, tendo por propsito pulverizar o conjunto probatrio e dificultar o julgamento.

    48. Enfim a competncia da Justia Federal de Curitiba/PR.

    II.2

    49. Questiona a Defesa de Joo Luiz Argolo a validade da interceptao das comunicaesrealizadas pelo Blackberry Messenger.

    50. Argumenta principalmente que, na poca dos fatos, exercia o mandato parlamentar,tendo havido usurpao da competncia do Supremo Tribunal Federal.

    51. Foram de fato, interceptadas, em verdadeiro encontro fortuito de provas, diversasmensagens telemticas trocadas entre Alberto Youssef e Joo Luiz Argolo na fase de

    investigao nos processos 5026387-13.2013.404.7000 e 5049597-93.2013.404.7000.52. Tais mensagens fazem parte do acervo probatrio.

    53. A Polcia Federal apresentou Relatrio de Monitoramento Telemtico 09/2014 comdezenas de mensagens trocadas entre Alberto Youssef e Joo Luiz Correia Argolo (evento1, anexo1, do processo 5031223-92.2014.404.7000, com cpia no evento 1, out28, destaao penal).

    54. Nas mensagens, Alberto Youssef, identificado com o codinome "Primo", trocoumensagens com o interlocutor "LA".

    55. Em nenhum momento, o prprio deputado foi interceptado ou investigado de qualquerforma.

    56. Aps a confirmao pela autoridade policial, j na fase ostensiva da investigao, deque "LA", seria Joo Luiz Correia Arglo dos Santos, sendo dele o nmero de telefoneutilizado para a troca de mensagens, 61 9996-1133, o material probatrio respectivo foiremetido ao Supremo Tribunal Federal (5031223-92.2014.404.7000).

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    57. Posteriormente, como Joo Luiz Correia Arglo dos Santos no se elegeu para novomandato, o Supremo Tribunal Federal declinou a competncia para este Juzo do processoali instaurado para apurar a sua conduta (Petio 5292, agora processo 5007530-45.2015.4.04.7000).

    58. Com a devoluo da competncia a este Juzo, esse material pode ser novamenteconsiderado.

    59. Importante esclarecer que a Polcia Federal tinha como investigado, na poca, AlbertoYoussef e no os seus interlocutores.

    60. O foco inicial da assim denominada Operao Lavajato eram quatro supostosoperadores do mercado negro de cmbio, Carlos Habib Chater, Alberto Youssef, NelmaKodama e Raul Henrique Srour.

    61. A ilustrar que o foco das investigaes jamais foram parlamentares ou autoridades

    sujeitas a foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal, tem-se que, naOperao Lavajato, foram inicialmente propostas dez aes penais, sem que qualquerparlamentar tenha sido nelas denunciado, e cujos objetos so crimes em relao aos quaisno havia indcios de autoria ou participao de parlamentar ou de outra autoridade sujeitaao foro privilegiado (5025687-03.2013.2014.404.700, 5047229-77.2014.404.7000,5026663-10.2014.404.7000, 5025699-17.2014.404.7000, 5049898-06.2014.404.7000,5026212-82.2014.404.7000, 5025692-25.2014.404.7000, 5026243-05.2014.404.7000, 5025676-71.2014.404.7000 e 5025695-77.2014.404.7000). Entre elas,inclusive lavagem de produto de trfico internacional de drogas, sem qualquer, mesmoremota, vinculao com parlamentares.

    62. Pode-se especular e afirmar que a Polcia Federal tinha por objetivo investigarparlamentares, mas no existe qualquer elemento probatrio que apie concluso daespcie.

    63. No parece a este Juzo to bvio, por outro lado, que a Polcial Federal devesse saber,ao tempo da interceptao telemtica, que "LA" seria o acrnimo de "Joo Luiz CorreiaArglo dos Santos".

    64. Revendo retrospectivamente as mensagens telemticas interceptadas, encontram-se, certo, indcios de que "LA" seria um parlamentar.

    65. Entretanto, na dinmica da investigao, mxime em uma complexa, com diversosinvestigados e fatos em apurao, no tem a autoridade policial um conhecimento timo detodos os detalhes dos elementos probatrios colacionados, sendo possvel que no tivessepercebido a real identidade do interlocutor "LA", que no era "alvo primrio" dasinvestigaes.

    66. De todo modo, como o acusado no mais exerce mandato parlamentar, o especulativovcio de competncia, mesmo se existente, estaria sanado, pois, caso tivesse sido percebido

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    na poca que LA era o Deputado Federal Joo Argolo, a nica consequncia jurdica seriaantecipar a remessa do feito ao Supremo Tribunal Federal, com seu inevitvel retorno,como tambm aconteceu, a este Juzo, aps a perda do mandato.

    67. O vcio de competncia, mesmo se existente, seria relativo e ratificvel (art. 567 do

    CPP).68. Acerca da validade do encontro fortuito de provas mesmo em diligncia determinadapor Juzo que posteriormente descobre provas de crimes no sujeitos a sua competncia,oportuno destacar o precedente desta Suprema Corte no HC 81.260/ES (Rel. Min.Seplveda Pertence - Pleno - por maioria - j. em 14.11.2001 - DJU de 19.4.2002).

    69. Ento, no h falar em qualquer usurpao da competncia do Supremo TribunalFederal, tendo, alis, este Juzo remetido o feito aquela Suprema Corte to logo recebida aaludida informao pela Polcia Federal acerca da presena de indcios de que Joo LuizCorreia Arglo dos Santos, ento deputado federal, estaria envolvido nos crimes. Ainvestigao, por outro lado, contra o acusado s foi retomada quando devolvido o processopela prpria Suprema Corte.

    70. Ento no h invalidade aqui a ser reconhecida.

    II.3

    71. A interceptao telemtica abrangeu mensagens trocadas atravs do BlackberryMessenger.

    72. Nada h de ilegal em ordem de autoridade judicial brasileira de interceptao telemticaou telefnica de mensagens ou dilogos trocados entre pessoas residentes no Brasil e tendopor objetivo a investigao de crimes praticados no Brasil, submetidos, portanto, jurisdio nacional brasileira.

    73. O fato da empresa que providencia o servio estar sediada no exterior, a RIM Canad,no altera o quadro jurdico, mxime quando dispe de subsidiria no Brasil apta a cumprira determinao judicial, como o caso, a Blackberry Servios de Suporte do Brasil Ltda.

    74. Essas questes foram esclarecidas no ofcio 36 e na deciso de 21/08/2013 (evento 39)do processo conexo 5026387-13.2013.404.7000.

    75. A cooperao jurdica internacional s seria necessria caso se pretendesse, porexemplo, interceptar pessoas residentes no exterior, o que no o caso, pois tanto os oraacusados, como todos os demais investigados na Operao Lavajato residem no Brasil.

    76. Com as devidas adaptaes, aplicveis os precedentes firmados pelo Egrgio TribunalRegional Federal da 4 Regio e pela Egrgia Corte Especial do Superior Tribunal de

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    Justia quando da discusso da validade da interceptao de mensagens enviadas porresidentes no Brasil utilizando os endereos eletrnicos e servios disponibilizados pelaGoogle.

    Do TRF4:

    "MANDADO DE SEGURANA. INVESTIGAO CRIMINAL. QUEBRA DE SIGILO.EMPRESA 'CONTROLADORA ESTRANGEIRA. DADOS ARMAZENADOS NOEXTERIOR. POSSIBILIDADE DE FORNECIMENTO DOS DADOS.

    1. Determinada a quebra de sigilo telemtico em investigao de crime cuja apurao epunio sujeitam-se legislao brasileira, impe-se ao impetrante o dever de prestar asinformaes requeridas, mesmo que os servidores da empresa encontrem-se em outro pas,uma vez que se trata de empresa constituda conforme as leis locais e, por este motivo,sujeita tanto legislao brasileira quanto s determinaes da autoridade judicialbrasileira.

    2. O armazenamento de dados no exterior no obsta o cumprimento da medida quedeterminou o fornecimento de dados telemticos, uma vez que basta empresacontroladora estrangeira repassar os dados empresa controlada no Brasil, no ficandocaracterizada, por esta transferncia, a quebra de sigilo.

    3. A deciso relativa ao local de armazenamento dos dados questo de mbitoorganizacional interno da empresa, no sendo de modo algum oponvel ao comandojudicial que determina a quebra de sigilo.

    4. Segurana denegada. Prejudicado o agravo regimental." (Mandado de Segurana n5030054-55.2013.404.0000/PR - Rel. Des. Federal Joo Pedro Gebran Neto - 8 Turma doTRF4 - un. - j. 26/02/2014)

    Da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia:

    "QUESTO DE ORDEM. DECISO DA MINISTRA RELATORA QUE DETERMINOU AQUEBRA DE SIGILO TELEMTICO (GMAIL) DE INVESTIGADOS EM INQURITO EMTRMITE NESTE STJ. GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA. DESCUMPRIMENTO.ALEGADA IMPOSSIBILIDADE. INVERDADE.GOOGLE INTERNATIONAL LLC EGOOGLE INC.CONTROLADORA AMERICANA. IRRELEVNCIA. EMPRESAINSTITUDA E EM ATUAO NO PAS. OBRIGATORIEDADE DE SUBMISSO SLEIS BRASILEIRAS, ONDE OPERA EM RELEVANTE E ESTRATGICO SEGUIMENTODE TELECOMUNICAO. TROCA DE MENSAGENS, VIA E-MAIL , ENTREBRASILEIROS, EM TERRITRIO NACIONAL, COM SUSPEITA DE ENVOLVIMENTOEM CRIMES COMETIDOS NO BRASIL. INEQUVOCA JURISDIO BRASILEIRA.DADOS QUE CONSTITUEM ELEMENTOS DE PROVA QUE NO PODEM SESUJEITAR POLTICA DE ESTADO OU EMPRESA ESTRANGEIROS. AFRONTA SOBERANIA NACIONAL. IMPOSIO DE MULTA DIRIA PELODESCUMPRIMENTO.' (Questo de Ordem no Inqurito 784/DF, Corte Especial, RelatoraMinistra Laurita Vaz - por maioria - j. 17/04/2013)

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    77. A prpria empresa Google Inc. e a sua subsidiria no Brasil, Google do Brasil, apsessas controvrsias, passaram, como notrio, cumprir as ordens de interceptao dasautoridades judiciais brasileiras sem novos questionamentos.

    78. Recusar ao juiz brasileiro o poder de decretar a interceptao telemtica ou telefnica

    de pessoas residentes no Brasil e para apurar crimes praticados no Brasil representariaverdadeira afronta soberania nacional e "capitis diminutio"da jurisdio brasileira.

    79. Seguindo a argumentao defendida por algumas das Defesas, seria o mesmo que,como consequncia necessria, concordar que a Justia estrangeira pudesse interceptarcidados ou residentes brasileiros to s pelo fato do sistema de comunicao utilizado serdisponibilizado por empresa residente no exterior, como a Google, a Microsoft ou a prpriaa RIM Canad.

    80. Tratando-se de questo submetida jurisdio brasileira, desnecessria a cooperaojurdica internacional.

    81. Impertinente, portanto, a alegao de que teria havido violao do Tratado deAssistncia Mtua em Matria Penal entre o Brasil e o Canad e que foi promulgado noBrasil pelo Decreto n 6747/2009. No sendo o caso de cooperao, o tratado no temaplicao.

    82. No se tem, alis, notcia de que qualquer autoridade do Governo canadense tenhaemitido qualquer reclamao quanto imaginria violao do tratado de cooperao mtua.

    83. Oportuno lembrar que o descumprimento de compromissos internacionais geramdireitos s Entidades de Direito Internacional lesadas e no, por evidente, a terceiros. Cabe,portanto, aos Estados partes a reclamao. A ausncia de qualquer reclamao dasautoridades canadenses acerca da suposta violao silncio eloquente de que no hviolao nenhuma.

    84. Tendo a Justia brasileira jurisdio para ordenar interceptao telemtica de troca demensagens atravs do Blackberry Messenger quando os crimes ocorreram no Brasil equando os interlocutores so residentes no Brasil, no tem a menor relevncia a questorelativa forma de implementao da diligncia, se os ofcios judiciais ou da autoridadepolicial foram entregues a X ou a Y, se foram selados ou no, se o endereo foi escritocorretamente, com utilizao de letra cursiva ou no. Essas so questinculas relativas formalidades, sendo apenas relevante se atenderam ou no a finalidade da realizao dadiligncia e se foram ou no autorizadas judicialmente, questes j respondidas no sentidoafirmativo.

    85. Portanto, no h invalidade a ser reconhecida.

    86. Indefiro, portanto, o reconhecimento da ilicitude desta prova tambm por este motivo.

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    II.4

    87. Reclama parte das Defesas inpcia da denncia. Ela, porm, no inpcia, sendofacilmente compreensvel, conforme sntese efetuada por este mesmo Juzo nos itens 1-17.Se ou no procedente, questo de mrito.

    88. Reclama parte das Defesas a utilizao de prova emprestada de outros inquritos ouaes penais neste feito, sem porm discriminar a prova especfica impugnada.

    89. H, certo, um conjunto grande de inquritos e aes penais na assim denominadaOperao Lavajato. As provas emprestadas de outros feitos consistem, porm, emdocumentos e laudos periciais. A sua juntada aos autos ou disponibilizao s Defesasgarante suficientemente o contraditrio. Quanto aos laudos, as Defesa, querendo, podempromover requerimentos na forma do art. 159 do CPP, ou seja requerer a oitiva dos peritos,acesso ao material periciado ou indicar assistente tcnico. Nenhum requerimento da espciefoi formulado.

    90. Quanto prova oral, fora a que instruiu a denncia, todos os acusados e testemunhasforam ouvidos em Juzo, em audincias nas quais foi garantido o contraditrio.

    91. Ento, no se vislumbra qualquer prova utilizada com violao ao contraditrio, aindaque as Defesas sequer as tenham especificado propriamente em sua impugnao.

    II.5

    92. Os acordos de colaborao premiada celebrados entre a Procuradoria Geral daRepblica e os acusados Alberto Youssef e Rafael ngulo Lopez, estes assistidos por seusdefensores, foram homologados pelo eminente Ministro Teori Zavascki do EgrgioSupremo Tribunal Federal (item 31, retro), e foram os depoimentos especficos relativos aesta ao penal anexados denncia.

    93. Tambm este o caso do acordo de colaborao premiada celebrado entre PauloRoberto Costa e a Procuradoria Geral da Repblica, que foi homologado pelo EgrgioSupremo Tribunal Federal (evento 1, out81 e out82), tambm sendo juntados os seusdepoimentos especficos nos autos (evento 1, out4 e out24).

    94. Todos eles foram ouvidos em Juzo como testemunhas ou como acusadoscolaboradores, com o compromisso de dizer a verdade, garantindo-se aos defensores doscoacusados o contraditrio pleno.

    95. Nenhum deles foi coagido ilegalmente a colaborar, por evidente. A colaborao sempre voluntria ainda que no espontnea.

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    96. Nunca houve qualquer coao ilegal contra quem quer que seja da parte deste Juzo, doMinistrio Pblico ou da Polcia Federal na assim denominada Operao Lavajato. Asprises cautelares foram requeridas e decretadas porque presentes os seus pressupostos efundamentos, boa prova dos crimes e principalmente riscos de reiterao delitiva dados osindcios de atividade criminal grave reiterada, habitual e profissional. Jamais se prendeu

    qualquer pessoa buscando confisso e colaborao.97. As prises preventivas decretadas no presente caso e nos conexos devem sercompreendidas em seu contexto. Embora excepcionais, as prises cautelares foramimpostas em um quadro de criminalidade complexa, habitual e profissional, servindo parainterromper a prtica sistemtica de crimes contra a Administrao Pblica, alm depreservar a investigao e a instruo da ao penal.

    98. A ilustrar a falta de correlao entre priso e colaborao, vrios dos colaboradorescelebraram o acordo quando estavam em liberdade, como, no caso, Rafael ngulo Lopez.

    99. E, mais recentemente, h o exemplo de Ricardo Ribeiro Pessoa, coacusado em aopenal conexa, que celebrou acordo de colaborao com o Procurador Geral da Repblica efoi homologado pelo Supremo Tribunal Federal, somente aps a converso da prisopreventiva em priso domiliciar.

    100. Argumentos recorrentes por parte das Defesas, no necessariamente nestes autos, deque teria havido coao, alm de inconsistente com a realidade do ocorrido, ofensivo aoSupremo Tribunal Federal que homologou os acordos de colaborao mais relevantes,certificando-se previamente da validade e voluntariedade.

    101. A nica ameaa contra os colaboradores foi o devido processo legal e a regularaplicao da lei penal. No se trata, por evidente, de coao ilegal.

    102. De todo modo, a palavra do criminoso colaborador deve ser corroborada por outrasprovas e no h qualquer bice para que os delatados questionem a credibilidade dodepoimento do colaborador e a corroborao dela por outras provas.

    103. Em qualquer hiptese, no podem ser confundidas questes de validade com questesde valorao da prova.

    104. Argumentar, por exemplo, que o colaborador um criminoso profissional ou quedescumpriu acordo anterior um questionamento da credibilidade do depoimento docolaborador, no tendo qualquer relao com a validade do acordo ou da prova.

    105. Questes relativas credibilidade do depoimento resolvem-se pela valorao da prova,com anlise da qualidade dos depoimentos, considerando, por exemplo, densidade,consistncia interna e externa, e, principalmente, com a existncia ou no de prova decorroborao.

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    106. Ainda que o colaborador seja um criminoso profissional e mesmo que tenhadescumprido acordo anterior, como o caso de Alberto Youssef, se as declaraes queprestou soarem verazes e encontrarem corroborao em provas independentes, evidenteque remanesce o valor probatrio do conjunto.

    107. Como ver-se- adiante, a presente ao penal sustenta-se em prova independente,resultante principalmente das quebras de sigilo bancrio e fiscal e das provas documentaiscolhidas. Rigorosamente, foi o conjunto probatrio robusto que deu causa s colaboraes eno estas que propiciaram o restante das provas. H, portanto, robusta prova decorroborao que preexistia, no mais das vezes, prpria contribuio dos colaboradores.

    108. No desconhece este julgador as polmicas em volta da colaborao premiada.

    109. Entretanto, mesmo vista com reservas, no se pode descartar o valor probatrio dacolaborao premiada. instrumento de investigao e de prova vlido e eficaz,especialmente para crimes complexos, como crimes de colarinho branco ou praticados porgrupos criminosos, devendo apenas serem observadas regras para a sua utilizao, como aexigncia de prova de corroborao.

    110. Sem o recurso colaborao premiada, vrios crimes complexos permaneceriam semelucidao e prova possvel. A respeito de todas as crticas contra o instituto da colaboraopremiada, toma-se a liberdade de transcrever os seguintes comentrios do Juiz da CorteFederal de Apelaes do Nono Circuito dos Estados Unidos, Stephen S. Trott:

    "Apesar disso e a despeito de todos os problemas que acompanham a utilizao decriminosos como testemunhas, o fato que importa que policiais e promotores no podemagir sem eles, periodicamente. Usualmente, eles dizem a pura verdade e ocasionalmenteeles devem ser usados na Corte. Se fosse adotada uma poltica de nunca lidar comcriminosos como testemunhas de acusao, muitos processos importantes - especialmentena rea de crime organizado ou de conspirao - nunca poderiam ser levados s Cortes.Nas palavras do Juiz Learned Hand em United States v. Dennis, 183 F.2d 201 (2d Cir.1950) affd, 341 U.S. 494 (1951): 'As Cortes tm apoiado o uso de informantes desdetempos imemoriais; em casos de conspirao ou em casos nos quais o crime consiste empreparar para outro crime, usualmente necessrio confiar neles ou em cmplices porqueos criminosos iro quase certamente agir s escondidas.' Como estabelecido pela SupremaCorte: 'A sociedade no pode dar-se ao luxo de jogar fora a prova produzida pelosdecados, ciumentos e dissidentes daqueles que vivem da violao da lei' (On Lee v. UnitedStates, 343 U.S. 747, 756 1952).

    Nosso sistema de justia requer que uma pessoa que vai testemunhar na Corte tenhaconhecimento do caso. um fato singelo que, freqentemente, as nicas pessoas que sequalificam como testemunhas para crimes srios so os prprios criminosos. Clulas deterroristas e de cls so difceis de penetrar. Lderes da Mfia usam subordinados parafazer seu trabalho sujo. Eles permanecem em seus luxuosos quartos e enviam seussoldados para matar, mutilar, extorquir, vender drogas e corromper agentes pblicos.Para dar um fim nisso, para pegar os chefes e arruinar suas organizaes, necessriofazer com que os subordinados virem-se contra os do topo. Sem isso, o grande peixe

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    permanece livre e s o que voc consegue so bagrinhos. H bagrinhos criminosos comcerteza, mas uma de suas funes assistir os grandes tubares para evitar processos.Delatores, informantes, co-conspiradores e cmplices so, ento, armas indispensveis nabatalha do promotor em proteger a comunidade contra criminosos. Para cada fracassocomo aqueles acima mencionados, h marcas de trunfos sensacionais em casos nos quais a

    pior escria foi chamada a depor pela Acusao. Os processos do famoso Estranguladorde Hillside, a Vov da Mfia, o grupo de espionagem de Walker-Whitworth, o ltimoprocesso contra John Gotti, o primeiro caso de bomba do World Trade Center, e o caso dabomba do Prdio Federal da cidade de Oklahoma, so alguns poucos dos milhares deexemplos de casos nos quais esse tipo de testemunha foi efetivamente utilizada e comsurpreendente sucesso." (TROTT, Stephen S. O uso de um criminoso como testemunha: umproblema especial. Revista dos Tribunais. So Paulo, ano 96, vo. 866, dezembro de 2007,p. 413-414.)"

    111. Em outras palavras, crimes no so cometidos no cu e, em muitos casos, as nicaspessoas que podem servir como testemunhas so igualmente criminosos.

    112. Quem, em geral, vem criticando a colaborao premiada , aparentemente, favorvel regra do silncio, a omert das organizaes criminosas, isso sim reprovvel. PiercamiloDavigo, um dos membros da equipe milanesa da famosa Operao Mani Pulite, disse, commuita propriedade: "A corrupo envolve quem paga e quem recebe. Se eles se calarem,no vamos descobrir jamais" (SIMON, Pedro coord. Operao: Mos Limpas: Audinciapblica com magistrados italianos. Braslia: Senado Federal, 1998, p. 27).

    113. certo que a colaborao premiada no se faz sem regras e cautelas, sendo uma dasprincipais a de que a palavra do criminoso colaborador deve ser sempre confirmada porprovas independentes e, ademais, caso descoberto que faltou com a verdade, perde osbenefcios do acordo, respondendo integralmente pela sano penal cabvel, e pode incorrerem novo crime, a modalidade especial de denunciao caluniosa prevista no art. 19 da Lein. 12.850/2013.

    114. No caso presente, agregue-se que, como condio dos acordos, o MPF exigiu opagamento pelos criminosos colaboradores de valores milionrios, na casa de dezenas demilhes de reais.

    115. Ainda muitas das declaraes prestadas pelos acusados colaboradores precisam serprofundamente checadas, a fim de verificar se encontram ou no prova de corroborao.

    116. Mas isso diz respeito especificamente a casos em investigao, j que, quanto presente ao penal, as provas de corroborao so abundantes.

    II.6

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    117. Tramitam por este Juzo diversos inquritos, aes penais e processos incidentesrelacionados assim denominada Operao Lavajato.

    118. A investigao, com origem nos inquritos 2009.7000003250-0 e 2006.7000018662-8,iniciou-se com a apurao de crime de lavagem consumado em Londrina/PR, sujeito,

    portanto, jurisdio desta Vara, tendo o fato originado a ao penal conexa 5047229-77.2014.404.7000 recentemente julgada.

    119. Em grande sntese, na evoluo das apuraes, foram colhidas provas de um grandeesquema criminoso de cartel, fraude, corrupo e lavagem de dinheiro no mbito daempresa Petrleo Brasileiro S/A - Petrobras cujo acionista majoritrio e controlador aUnio Federal.

    120. Grandes empreiteiras do Brasil, formaram um cartel, atravs do qual teriamsistematicamente frustrado as licitaes da Petrobras para a contratao de grandes obras.

    121. Em sntese, as empresas, em reunies prvias s licitaes, definiram, por ajuste, aempresa vencedora dos certames relativos aos maiores contratos. s demais cabia darcobertura vencedora previamente definida, deixando de apresentar proposta na licitaoou apresentando deliberadamente proposta com valor superior aquela da empresa definidacomo vencedora.

    122. O ajuste propiciava que a empresa definida como vencedora apresentasse proposta depreo sem concorrncia real.

    123. O ajuste prvio entre as empreiteiras propiciava a apresentao de proposta, semconcorrncia real, de preo prximo ao limite aceitvel pela Petrobrs, frustrando opropsito da licitao de, atravs de concorrncia, obter o menor preo.

    124. Alm disso, as empresas componentes do cartel, pagariam sistematicamente propinas adirigentes da empresa estatal calculadas em percentual, de um a trs por cento em mdia,sobre os grandes contrato obtidos e seus aditivos.

    125. Receberiam propinas dirigentes da Diretoria de Abastecimento, da Diretoria deEngenharia ou Servios e da Diretoria Internacional, especialmente Paulo Roberto Costa,Renato de Souza Duque e Nestor Cuat Cerver.

    126. Surgiram, porm, elementos probatrios de que o caso transcende corrupo - elavagem decorrente - de agentes da Petrobrs, servindo o esquema criminoso para tambmcorromper agentes polticos e financiar, com recursos provenientes do crime,partidos polticos.

    127. Aos agentes polticos cabia dar sustentao nomeao e permanncia nos cargos daPetrobrs dos referidos Diretores. Para tanto, recebiam remunerao peridica.

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    128. Entre as empreiteiras, os Diretores da Petrobrs e os agentes polticos, atuavamterceiros encarregados do repasse das vantagens indevidas e da lavagem de dinheiro, oschamados operadores.

    129. Em decorrncia desses crimes de cartel, corrupo e lavagem, j foram processados

    dirigentes da Petrobrs e de algumas das empreiteiras envolvidas, por exemplo nas aespenais 5083258-29.2014.404.7000 (Camargo Correa e UTC), 5083351-89.2014.404.7000(Engevix), 5083360-51.2014.404.7000 (Galvo Engenharia), 5083401-18.2014.404.7000(Mendes Jnior e UTC), 5083376-05.2014.404.7000 (OAS), 5036528-23.2015.4.04.7000(Odebrecht) e 5036518-76.2015.4.04.7000 (Andrade Gutierrez).

    130. O MPF juntou, com a denncia formulada na presente ao penal, diversas cpias dedenncias formuladas nas referidas aes penais, conforme evento 1, arquivos out5, out6,out7, out8 e out9.

    131. Tambm juntou cpia de sentena condenatrias por crimes de corrupo e lavagem(ao penal 5026212-82.2014.4.04.7000, evento 1, out10). Na ocasio, comprovado orepasse de R$ 18.645.930,13 do contrato entre a Petrobrs e a empresa Consrcio NacionalCamargo Correa - CNCC, relativamente a obras na Refinaria do Nordeste Abreu e Lima -RNEST, para Paulo Roberto Costa, mediante o intermdio de Alberto Youssef.

    132. Quatro outras das aes penais contra dirigentes das empreiteiras e beneficirios dosvalores de corrupo j foram julgadas, mas no foram juntadas cpias nestes autos.

    133. Relativamente aos agentes polticos, as investigaes tramitam perante o EgrgioSupremo Tribunal Federal que desmembrou as provas resultantes da colaborao premiadade Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, remetendo a este Juzo o material probatriorelativo aos crimes praticados por pessoas destitudas de foro privilegiado (Peties 5.210 e5.245 do Supremo Tribunal Federal, com cpias no evento 775 do processo 5049557-14.2013.4.04.7000 ).

    134. A presente ao penal abrange somente uma frao desses fatos.

    135. Segundo a denncia, em grande sntese, as empreiteiras teriam pago, por intermdiode Alberto Youssef, cerca de 1% de propina nos grandes contratos da Petrobrs Diretoriade Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa.

    136. Desses valores, cerca de 60% eram destinados ao Partido Progressista e a agentesdeste partido poltico. Estimou o MPF que cerca de R$ 357.945.680,52 teriam sidorepassados em propinas diretoria de Abastecimento e ao Partido Progressista entre 2004 a2014.

    137. Alberto Youssef intermediava esses pagamentos utilizado esquemas de ocultao edissimulao.

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    138. O ora acusado Joo Luiz Argolo, na condio de parlamentar federal, at 2013 noPartido Progressista, depois no Solidariedade, seria um dos agentes polticos beneficiriosdas propinas no esquema criminoso da Petrobrs.

    139. Estimou o MPF em cerca de R$ 1.685.592,42 as propinas pagas a Joo Luiz Argolo

    entre 2011 a 2014. Teria Joo Luiz Argolo tambm providenciado mecanismos deocultao e dissimulao para receber o dinheiro.

    140. Cumpre examinar as provas.

    141. Foram ouvidos na presente ao penal Paulo Roberto Costa como testemunha eAlberto Youssef como acusado (eventos 132 e 326). Confirmaram eles suas declaraesanteriores.

    142. Em sntese, eles declararam que grandes empreiteiras do Brasil, reunidas em cartel,fraudariam as licitaes da Petrobrs mediante ajuste, o que lhes possibilitava impor nos

    contratos o preo mximo admitido pela referida empresa.143. As empreiteiras ainda pagariam sistematicamente propinas a dirigentes da empresaestatal calculados em percentual de 2% a 3% sobre cada contrato da Petrobrs, inclusivedaqueles celebrados no mbito desta ao penal.

    144. No mbito dos contratos relacionados Diretoria de Abastecimento, ocupada porPaulo Roberto Costa, cerca de 1% do valor de todo contrato e aditivos seria repassado pelasempreiteiras a Alberto Youssef, que ficava encarregado de remunerar os agentes pblicos,entre eles Paulo Roberto Costa. Do 1% da propina, parte ficava com Paulo Roberto Costa,parte com o operador Alberto Youssef, mas a maior parte, cerca de 60%, seria destinada aagentes polticos.

    145. Cabe a transcrio de alguns trechos, pela relevncia, ainda que longos (eventos 132 e380).

    146. No seguinte trecho, Paulo Roberto Costadescreve que agentes polticos do PartidoProgressista foram responsveis por sua nomeao ao cargo de Diretor de Abastecimentoda Petrobras e que ela, a nomeao, estava condicionada ao auxlio financeiro ilegal aopartido:

    "Paulo Roberto Costa:- , eu fui procurado, na primeira reunio participou o deputadoJos Janene, estava tambm participando o deputado Pedro Correia, e me propuseramindicar meu nome para uma diretoria da Petrobras, apoiado pelo PP, e assim foi feito,tratativas foram feitas, depois de cerca de 3 a 4 meses eu fui chamado numa reunio deconselho de administrao da Petrobras, onde meu nome ento foi aprovado no conselhode administrao para exercer a funo de diretor de abastecimento.

    Ministrio Pblico Federal:- E por que Pedro Correia participou dessa reunio?

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    Paulo Roberto Costa:- Ele tinha uma ligao muito forte com o Jos Janene, que era dopartido, houve tambm uma reunio em Braslia que Jos Janene me levou para participarde uma reunio em Braslia, que tambm participou na poca o Pedro Henry que tambmera do partido, eu no me lembro mais quem era o lder, quem era o presidente do partido,eu no tenho mais essa lembrana, mas eram as pessoas que comandavam o partido, eram

    os principais lderes do partido.Ministrio Pblico Federal:- Ou seja, Jos Janene, Pedro Correia e Pedro Henry, isso?

    Paulo Roberto Costa:- .

    Ministrio Pblico Federal:- Mais algum?

    Paulo Roberto Costa:- Bom, eu fiquei conhecendo depois, inicialmente foram essaspessoas, depois eu fiquei conhecendo o Pizzolatti, fiquei conhecendo o Nelson Meurer, masinicialmente as pessoas que eu tive contato foram esses 3 que eu acabei de mencionar.

    Ministrio Pblico Federal:- Para a sua indicao para a diretoria da Petrobras elesfalaram j das supostas contribuies financeiras para o Partido Progressista?

    Paulo Roberto Costa:- Inicialmente, nas primeiras conversas, me foi dito que eu precisariaajudar o partido e a qual seria a ajuda? Nas primeiras conversas falaram No, que vocindica empresas que possam participar das licitaes, a Petrobras tem um cadastro deempresas grande, ento dependendo das licitaes voc tem 40 empresas e chama 15, 20,ento falaram Vamos ver se voc consegue que as empresas que a gente indiqueparticipem das licitaes e tal. Agora, no incio, nesses primeiros contatos, no se faloude percentuais, no se falou de nada. A minha rea, como eu j dei aqui em vriosdepoimentos, a minha rea de abastecimento nos anos de 2004, 2005 e 2006, praticamentens no tnhamos projetos nem tnhamos oramento, ento o envolvimento , vamos dizer,em grandes projetos era praticamente nenhum, todo o oramento da Petrobras nessesprimeiros anos era direcionado a rea de explorao e produo, ento as obras de maiorporte na diretoria de abastecimento comearam a partir de final de 2006 para frente, entotinha muita atividade, mas obviamente que o partido tinha interesse de que empresasparticipassem e obviamente uma empresa participando iria ter algum benefcio para opartido, bvio.

    Ministrio Pblico Federal:- Esse tipo de benefcio seriam contribuies financeiras, isso?

    Paulo Roberto Costa:- Sim, sim. Se indicasse uma empresa, essa empresa entrava noprocesso de licitao e essa empresa fosse vencedora, alguma coisa, imagino, que opartido ia auferir de resultado em cima desse processo.

    Ministrio Pblico Federal:- Esse acordo que foi feito para voc ajudar o partido, se vocno cumprisse poderia ocorrer algum tipo de problema com o senhor?

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    Paulo Roberto Costa:- Simplesmente no seria nem indicado para ser o diretor deabastecimento.

    Ministrio Pblico Federal:- E j indicado, voc poderia ter tido, o partido poderia buscarsua substituio caso o senhor no cumprisse com o acordado?

    Paulo Roberto Costa:- Sim."

    147. No seguinte trecho, Paulo Roberto Costa descreveu o pagamento das propinas porempreiteiras cartelizadas em contratos para a Petrobras:

    "Ministrio Pblico Federal:- E como que iniciaram essas tratativas de propina dentro dadiretoria de abastecimento?

    Paulo Roberto Costa:- A partir do incio dessas grandes obras, eu fui procurado pelaprimeira vez pelas grandes empresas e onde me foi detalhado da formao do cartel, eu

    no tinha ainda noo desse cartel at ter as obras dentro da diretoria de abastecimento.Ouvia dentro da Petrobras que na diretoria de explorao e produo, na rea deexplorao e produo, que era quem assumia o grande volume dos recursos financeirosda companhia na poca, j se falava desse processo de cartelizao, mas como na minhano tinha obra, ento poucas vezes eu fui procurado pelas grandes empresas para isso. Anesse momento que comearam as obras, ter obras de maior porte, eu comecei a ter visitadas empresas, onde me foi colocado que existiria esse processo de cartelizao tambmdentro da rea de abastecimento, e dentro desse processo de cartelizao me foi dito entoque teriam percentuais para o PP e percentuais para o PT.

    Ministrio Pblico Federal:- Ento as empresas cartelizadas j tinham se reunido com osdeputados do Partido Progressista e previamente acertado que teriam o esquema decorrupo?

    Paulo Roberto Costa:- Possivelmente sim. No tenho confirmao, mas quando asempresas me procuraram imagino que isso j tivesse ocorrido, a resposta correta.

    Ministrio Pblico Federal:- Ento as empresas j tinham se reunido com os partidos?

    Paulo Roberto Costa:- Eu imagino que sim, porque depois para procurarem por mim jdeviam ter feito um acerto com os partidos, porque j me foi dito que seria, dentro dadiretoria de abastecimento, em mdia seria 1% dos contratos, 1% para o PP e 2% para oPT. pouco provvel que as empresas j no tivessem conversado com os partidos apriori.

    Ministrio Pblico Federal:- E esses valores tambm abrangiam aditivos contratuais? Depropina?

    Paulo Roberto Costa:- Sim.

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    Ministrio Pblico Federal:- E as porcentagens eram as mesmas?

    Paulo Roberto Costa:- Normalmente sim, era o mesmo percentual.

    Ministrio Pblico Federal:- Como que foi personalizado o incio dessas cobranas, como

    que era repassado o dinheiro para os partidos, como que era feito isso? Paulo Roberto Costa:- Bom, vamos dizer assim, se fazia uma licitao onde participavamas empresas cartelizadas e uma determinada empresa ganhava essa licitao. As pessoas,no caso eu vou falar pelo PP, no posso falar pelos outros partidos, mas no caso do PPnormalmente o emissor, vamos dizer, o porta-voz desse assunto na poca era o deputadoJos Janene, ento ele procurava, a empresa X ganhou essa licitao, ele ia depois nessaempresa comear as tratativas em relao ao percentual que cabia ao PP.

    Ministrio Pblico Federal:- E onde entra a figura do Alberto Youssef?

    Paulo Roberto Costa:- At o Janene ficar mais adoecido, adoecer mais, ele centralizavatodo esse processo, ento no era algo que ele delegava, ento ele mesmo ia conversarcom as pessoas. A partir do momento que ele comeou a ficar mais, comeou a adoecer,final 2008, 2009, depois faleceu em 2010, a houve uma participao mais efetiva doAlberto.

    Ministrio Pblico Federal:- O que o Alberto fazia?

    Paulo Roberto Costa:- O Alberto fazia esse contato com as empresas.

    Ministrio Pblico Federal:- E voc tinha alguma parcela dessa propina?

    Paulo Roberto Costa:- Tinha. Dentro do que era para o PP, normalmente 60% era para opartido, do 1%, 60% era para o partido, em mdia 20% era para despesas, emisses denotas, etc., e os outros 20% parte ficava comigo e parte ficava com o Alberto Youssef.

    Ministrio Pblico Federal:- E como que o Alberto Youssef te repassava essa parte?

    Paulo Roberto Costa:- Normalmente em dinheiro vivo.

    Ministrio Pblico Federal:- E como voc buscava esse dinheiro?

    Paulo Roberto Costa:- No, ele me levava no Rio de Janeiro, normalmente no Rio deJaneiro."

    148. No prximo trecho, Paulo Roberto Costa revela com melhores detalhes a distribuiodos valores ao Partido Progressista e que persistiu recebendo acertos de pagamentos depropina mesmo depois de sua sada da Diretoria da Petrobrs, em abril de 2012:

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    "Ministrio Pblico Federal:- A parte do partido progressista voc falou que era 60%, no isso?

    Paulo Roberto Costa:- Falei.

    Ministrio Pblico Federal:- Quem eram os principais beneficirios? Paulo Roberto Costa:- Bom, na fase, tem duas fases do partido progressista, na primeirafase era o Jos Janene e as pessoas que tinham uma ligao muito forte com ele, que eraque eu conheci na poca, o prprio Pedro Henry, que era o Pizzolatti, que era o est aquiagora...

    Ministrio Pblico Federal:- Senhor Pedro Correia?

    Paulo Roberto Costa:- Pedro Correia, que era o Nelson Meurer, eram pessoas maisligadas que eu participava, inclusive participei de alguns almoos, jantares, Mrio

    Negromonte, eram as principais pessoas.Ministrio Pblico Federal:- Dentro desse contexto, o Pedro Correia tinha sido cassadoem 2006 por envolvimento no mensalo, mas voc pode confirmar que mesmo depois dissoele tinha forte influncia no Partido Progressista?

    Paulo Roberto Costa:- Posso.

    Ministrio Pblico Federal:- Ele era um dos lderes?

    Paulo Roberto Costa:- Era. Em alguns almoos ou jantares que eu participei l em

    Braslia, s vezes l no apartamento do Mrio, s vezes no apartamento do Pizzolatti,muitas vezes ele estava presente, depois dessa data.

    Ministrio Pblico Federal:- E nessas ocasies tambm se falava dessas propinas?

    Paulo Roberto Costa:- Se falava de projetos, o que podia ser, o que no podia ser deprojeto, como que estavam as obras, agora a diviso, a diviso desse percentual, no sefalava e eu nunca presenciei essa diviso.

    Ministrio Pblico Federal:- Esses repasses que o Alberto Youssef fazia para voc e paraos lderes do Partido Progressista, esses repasses eram mensais?

    Paulo Roberto Costa:- No necessariamente, dependia da evoluo das obras. Ento,vamos dizer, quando as obras da Petrobras, tem obras que demoram 4 anos, 5 anos, entoquando voc olha l que tem um contrato de 1 bilho, 2 bilhes de reais, no quer dizerque voc v, em termos de recebimentos de valores indevidos, v receber isso num ms,dois meses, um ano, porque isso pago de acordo com a evoluo da obra. Ento,normalmente, obras de, por exemplo, a refinaria Abreu e Lima, a primeira fase que entrouem operao agora em 2014, ela comeou em 2007, ento foram 7 anos de obra, ento

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    contratos, esses contratos maiores, foram contratos de 7 anos, ento, por exemplo, eu jdetalhei isso, mas s exemplificando, eu sa da diretoria em abril de 2012, as obras daAbreu e Lima continuaram e eu j no tive mais participao em nenhum assunto depropina da Abreu e Lima a partir do momento que eu sa da companhia, mas as obrascontinuaram, a primeira fase acabou agora em setembro, outubro de 2014, so contratos

    de longo prazo.Ministrio Pblico Federal:- Mas mesmo depois que voc saiu, voc abriu uma empresachamada Costa Global, no isso?

    Paulo Roberto Costa:- Perfeitamente.

    Ministrio Pblico Federal:- E ali voc ainda continuava a receber vantagens indevidas?

    Paulo Roberto Costa:- Sim, mas essas vantagens indevidas no foram de serviospraticados ou executados a partir de abril de 2012, foram servios que tinham feitos antes

    de abril de 2012 e que havia ainda pendncias. Ento, vamos dizer, a partir de que eu sade abril de 2012 para a frente eu no tive mais participao nenhuma nesse processo.

    Ministrio Pblico Federal:- E esses servios pendentes voc parou de receber peloAlberto Youssef e passava a receber pessoalmente, isso?

    Paulo Roberto Costa:- , e a, nesse momento, eu assinei alguns contratos que foramdetalhados num dos termos de colaborao com algumas empresas como CamargoCorra, Queiroz Galvo e etc., e me foram pagos alguns valores mensais, nem todospagaram tudo, houve algumas empresas que no pagaram tudo, depois teve operao aquiem maro de 2014, ento no foi, nesse momento estancou toda a parte de pagamento, maseram valores de servios realizados antes de abril de 2012."

    149. Relatou ainda Paulo Roberto Costa que teria conhecido o acusado Joo Luiz CorreiaArgolo dos Santos no escritrio de Alberto Youssef:

    "Ministrio Pblico Federal:- H informao que houve um jantar por volta de 2010, 2011,com parlamentares do PP para homenagear o senhor, o senhor se lembra disso?

    Paulo Roberto Costa:- Lembro.

    Ministrio Pblico Federal:- O senhor poderia relatar esse jantar, qual que era o objetivo,quem estava presente?

    Paulo Roberto Costa:- O objetivo, foi feito um jantar l em Braslia, acho que era um clube,eu no conheo tanto Braslia para dizer o local exato, mas acho que era um clube, ondetinham vrios parlamentares do PP e, como eu era o representante do partido na diretoria daPetrobras, eles fizeram o jantar em minha homenagem, ocorreu esse jantar.

    Ministrio Pblico Federal:- O senhor se lembra quem estava presente?

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    Paulo Roberto Costa:- Lembro. Alguns, no posso lembrar talvez de todos, mas lembro doMrio Negromonte, Pizzolatti, acho que o Nelson Meurer estava, acho que o Pedro Correiaestava, eu no posso lembrar de todos, Simo Sessim estava, e vrios outros, mas eu noconsigo me lembrar agora.

    Ministrio Pblico Federal:- O Luiz Argolo estava?Paulo Roberto Costa:- Luiz Argolo? Talvez estivesse, talvez estivesse. O Luiz Argolo, eufiquei conhecendo ele no escritrio do Alberto Youssef, eu no, vamos dizer, eu no tinhanunca relao com ele, eu encontrei com ele umas 4, 5 vezes no escritrio do Alberto, abom dia, boa tarde, sabia que ele era deputado federal pela Bahia, pelo PP, mas nuncaparticipei de reunio com ele, nem discutimos nada em relao a nenhum assunto, porqueele ia no escritrio do Alberto Youssef para conversar com Alberto Youssef.

    Ministrio Pblico Federal:- Digamos que foram coincidncias esses encontros, no foinada agendado?

    Paulo Roberto Costa:- Nada agendado, eu ia l e por acaso encontrava com ele l, masnunca tive nenhum, nenhuma reunio, nenhum detalhamento de nenhum assunto com ele, aconversa que ele tinha l era com o Alberto Youssef."

    150. Ressalvou, porm, que nunca teria tratado com Joo Luiz Argolo sobre propinas:

    "Defesa:- Apenas uma pergunta, o senhor informou que encontrou casualmente com LuizArgolo no escritrio do senhor Youssef, alguma vez o senhor tratou alguma coisa com elerelacionado a pagamento ou defesa de interesses de terceirizadas empresas ou empreiteirasno mbito da Petrobras?

    Paulo Roberto Costa:- Nunca."

    151. No seguinte trecho, Paulo Roberto Costa reconhece que fez "vistas grossas" atuaodo cartel de empreiteiras em decorrncia do recebimento de propina:

    "Ministrio Pblico Federal:- Como diretor de abastecimento da Petrobras quecapitaneava essas vantagens indevidas, que tinha noo, tinha conhecimento do cartel queexistia na companhia, qual que era a contra partida que voc tinha que fazer como diretorde abastecimento?

    Paulo Roberto Costa:- Bom...

    Ministrio Pblico Federal:- Em benefcio das empresas?

    Paulo Roberto Costa:- Bom, primeiro ponto, eu sabia do cartel e infelizmente errei e fiqueicalado, eu podia j ter relatado esse problema do cartel e ter acabado com o cartel, nofiz. Segundo, vrias licitaes no eram, essas licitaes de grande porte no eram feitasna minha rea, quem conduzia toda essa atividade era a rea de servio, ento a comisso

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    de licitao, a comisso que acompanhava as propostas, tudo era da rea de servio, maseu podia tambm interferir e no fiz, errei. Ento, vamos dizer, eu fiz vista grossa de umprocesso errado e por isso eu estou hoje pagando por isso.

    Ministrio Pblico Federal:- E nisso tambm se insere o envio de convite apenas para

    determinadas empresas do cartel?Paulo Roberto Costa:- As grandes obras, vamos dizer, as grandes obras de refinarias,como de plataformas, como de construo de navios, voc no tem muitas empresas noBrasil com competncia para fazer, ento, vamos dizer, pegar uma grande obra de umaunidade de processo de uma refinaria , talvez voc tenha 10 ou 15 empresas no mximopra fazer isso, e isso facilitou muito a formao desse cartel, porque essas empresas sereuniram e falaram Isso aqui vai ficar com a gente. Ento a Petrobras ou qualqueroutra empresa no podia chamar para uma unidade de um contrato de 2 bilhes de reais, 3bilhes de reais, uma empresa que no tivesse uma retaguarda tcnica, financeira e umacapacitao gerencial muito forte por trs porque seria um desastre. Ento, vamos dizer,na realidade houve, houve um fluxo muito grande de obras num espao de temporelativamente curto e com um volume de empresas no muito grande para poder fazer isso,e isso facilitou todo esse processo da cartelizao."

    152. Respondeu ainda questes do Juzo sobre a distribuio das propinas:

    "Juiz Federal:- Outros defensores tm indagaes? No? Ento uns esclarecimentos dojuzo assim muito rapidamente, o senhor mencionou, senhor Paulo, que desse 1%, 60% iapara o partido, isso?

    Paulo Roberto Costa:- 60% ia para o PP.

    Juiz Federal:- Mas o senhor disse que no fazia essa distribuio, mas o senhor tinhaconhecimento de como era feita essa distribuio?

    Paulo Roberto Costa:- No, eu sabia que na poca do Janene ele fazia essa distribuiopara os polticos que atendiam ao partido, que eram do partido, e depois que ele faleceu,que ele deixou de fazer isso, que ele ficou doente, melhor dizendo, coube ao MrioNegromonte fazer esse processo e depois, com essa briga interna do PP, passou para oCiro Nogueira, mas como era feita essa distribuio eu nunca tive acesso a isso.

    Juiz Federal:- Mas o senhor tem conhecimento como era isso, todos recebiam, algunsrecebiam, a maior parte recebia, uma minoria recebia, o senhor no tem nenhuma noodisso?

    Paulo Roberto Costa:- No, noo eu tenho, tanto que havia um desconforto dentro dopartido e at essa quebra depois do Mrio para o Ciro porque o pessoal ligado ao Cirose sentia desprestigiado em relao ao que era coletado, arrecadado.

    Juiz Federal:- Isso foi lhe falado diretamente?

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    Paulo Roberto Costa:- Isso me foi falado diretamente pelo grupo do Ciro, tanto que elesfalaram No d pra continuar desse jeito porque ns estamos sendo, isso me falaram,no sei se foi o Ciro, no tenho certeza se foi o Ciro ou se foi o Eduardo da Fonte, ou foi oAgnaldo, um dos trs me falou, Ns estamos totalmente insatisfeitos porque o processoprivilegia o lado A e no privilegia o lado B, isso me foi dito por um dos trs.

    Juiz Federal:- Nessa distribuio, o senhor tem conhecimento que o senhor Pedro Correiarecebia?

    Paulo Roberto Costa:- Bom, consta nessa, na minha agenda, dessa tabela que eu anotei nasala do Alberto Youssef, valores destinados ao Pedro Correia, e como o Pedro Correia eramuito ligado ao Jos Janene desde l o incio, suponho que sim.

    Juiz Federal:- Mas o senhor na poca, o senhor no teve, no lhe foi dito, o senhor noconversou com o senhor Pedro Correia alguma vez sobre esses valores?

    Paulo Roberto Costa:- No, nem com Pedro, nem com ningum, nunca conversei sobrevalores com essas pessoas.

    Juiz Federal:- Nessas reunies que o senhor mencionou que havia, que encontravamembros do partido, independentemente daquela festa, em outras reunies, no se faziamalgum comentrio sobre essas propinas, sobre esses valores?

    Paulo Roberto Costa:- O que se comentava eram os contratos que tinham dentro daPetrobras, a possibilidade de novos contratos, mas distribuio de valores nuncacomentamos, pelo menos no momento que eu ficava no jantar, no era comentado, eracomentado s de forma muito abrangente O que tem hoje na rea?Tem esse contrato,esse contrato, esse contrato, no futuro deve ter esses outros contratos, mas em termos depercentuais no momento em que eu ficava no jantar no era comentado.

    Juiz Federal:- E isso, essas lideranas do PP, esses parlamentares falavam ento com osenhor, comentavam sobre as obras, sobre os contratos?

    Paulo Roberto Costa:- Sim, isso era comentado nas reunies, sim, mas no percentuais.

    (...)

    Juiz Federal:- Eu no entendi muito bem, o senhor mencionou que o senhor copiou essesdados dessa tabela, eu no entendi, por que o senhor fez isso?

    Paulo Roberto Costa:- Porque isso foi relativo ao ano de 2010 e como eu no tinha esseacompanhamento, e s vezes alguns desses parlamentares ficavam perturbando em relaoa querer ganhar alguma coisa, embora eu no soubesse da diviso, eu resolvi naquelemomento fazer essa transcrio da tabela na minha agenda, para ter uma ideia do quetinha sido distribudo.

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    Juiz Federal:- Mas os parlamentares perturbavam o senhor querendo ganhar algumacoisa, o senhor pode me esclarecer isso?

    Paulo Roberto Costa:- Posso. Dentro dessas reunies que tinham os contratos 'precisamosagilizar aqui, precisamos resolver isso, resolver aquilo' em relao aos contratos

    existentes, sem falar de percentuais, a resposta sim. Juiz Federal:- Eles cobravam o que em relao aos contratos, no entendi?

    Paulo Roberto Costa:- Todos os contratos do cartel tinham um percentual, eu j sabia queera 60% para o PP, ento falavam Paulo, quando que vamos ter a uma nova entradade recurso?Eu falavaDepende das medies, depende da evoluo do contrato, isso devez em quando era colocado na pauta da reunio, do almoo, alguma coisa nesse sentido,mas nunca falamos de percentuais individuais.

    Juiz Federal:- Mas isso era falado ento pelos parlamentares, mas nesses termos que o

    senhor me colocou especificamente, quando que vai ter entrada de recursos?Paulo Roberto Costa:- Como que esto as evolues dos contratos?, a evoluo doscontratos, vamos dizer, os recursos entram de acordo com a evoluo dos contratos, ento,unidade de destilao atmosfrica de refinaria tal, Paulo, quando que acha que vaicomear esse contrato?, Deve comear talvez daqui a dois, trs meses, essas perguntas

    s vezes vinham pauta.

    Juiz Federal:- Mas associando a essa afirmao que o senhor fez de entrada de recursospara o partido?

    Paulo Roberto Costa:- Sim, porque eles sabiam que era uma empresa do cartel e que ia terrecurso para o partido, a resposta sim.

    Juiz Federal:- A essa afirmao de recursos da parte deles?

    Paulo Roberto Costa:- Sim, sim.

    Juiz Federal:- Do senhor Pedro Correia, o senhor se recorda dele ter feito algumaafirmao dessa espcie?

    Paulo Roberto Costa:- Era generalizado, deles todos, como que os contratos estoandando, previso dos contratos, repito, nunca falaram comigo de percentuais, sabendoeu, e eles todos sabiam que era 60% de 1%, isso sim.

    Juiz Federal:- E como que o senhor, vamos dizer, o senhor tem convico que elessabiam, como que o senhor sabe que eles sabiam? Isso era muito claro ali nessasreunies, essa minha indagao?

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    Paulo Roberto Costa:- Nessas reunies todos sabiam que tinham recursos para o partido,todos sabiam disso.

    Juiz Federal:- Mas qual que a sua base de afirmao para o senhor...?

    Paulo Roberto Costa:- Bom, o meu contato mais direto era com Jos Janene, depois foicom Mrio Negromonte, e depois, pouquinho tempo l, com o Ciro Nogueira, esses eramos contatos que eu tinha. O Jos Janene me falou reiteradas vezes isso, que ele faziadistribuio para os deputados do partido.

    Juiz Federal:- E os outros dois?

    Paulo Roberto Costa:- Mrio Negromonte tambm, e Ciro Nogueira foi muito curto, entoo espao foi pequeno, mas as pessoas que acompanhavam o Ciro Nogueira, que foi Arthurde Lira, que foi Agnaldo, que foi Eduardo da Fonte, com certeza."

    153. No seguinte trecho, Alberto Youssefdescreve genericamente o esquema criminoso:"Juiz Federal:- Senhor Alberto, j foi lhe indagado isso vrias vezes, eu vou tentar sersinttico, esse um outro processo, temos que passar por isso novamente. O senhorintermediava propinas de empreiteiras para o senhor Paulo Roberto Costa?

    Alberto Youssef:- Intermediava.

    Juiz Federal:- O senhor recebia valores das empreiteiras pra repassar ao senhor PauloRoberto Costa?

    Alberto Youssef:- Sim, senhor.Juiz Federal:- Havia um valor, uma regra fixa de valor dessa propina?

    Alberto Youssef:- Olha, na verdade tinha uma regra que era 1%, mas nunca ela se, muitasvezes ela no se confirmava e sim tinha ajustes pra baixo.

    Juiz Federal:- 1% sobre o que?

    Alberto Youssef:- Sobre os contratos em obras com o abastecimento da Petrobras.

    Juiz Federal:- O senhor intermediou propinas, por exemplo, em contratos da CamargoCorrea?

    Alberto Youssef:- Intermediei.

    Juiz Federal:- Da OAS?

    Alberto Youssef:- Intermediei.

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    Juiz Federal:- Da Engevix?

    Alberto Youssef:- Intermediei.

    Juiz Federal:- Esses valores eles eram todos para o senhor Paulo Roberto Costa?

    Alberto Youssef:- No.

    Juiz Federal:- Como era feita a diviso desse 1%?

    Alberto Youssef:- 30% ia para o seu Paulo Roberto Costa, 60% ia para o PartidoProgressista, 5% pra mim de comisso e 5% para o Joo Cludio Genu.

    Juiz Federal:- Esses 60% do Partido Progressista, eu no sei se eu entendi, isso ia para opartido ou ia pra polticos do partido?

    Alberto Youssef:- Ia pra polticos do partido, ia pra liderana do partido, que no primeiromomento quem fazia a liderana era o seu Jos Janene. No segundo momento eram maisquatro membros que era o Joo Pizzolati, Pedro Correa, Mrio Negromonte.

    Juiz Federal:- Esses valores que o senhor... Era o senhor que repassava ao partido essa partedo partido?

    Alberto Youssef:- Sim.

    Juiz Federal:- E o senhor fazia os pagamentos aos agentes polticos ou o senhor entregava aalgum dentro do partido pra entregar aos agentes polticos?

    Alberto Youssef:- Alguns agentes polticos eu entregava diretamente, alguns eu entregavapara o lder, e o lder que fazia os repasses.

    Juiz Federal:- Quando o senhor, aproximadamente, comeou a trabalhar com isso?

    Alberto Youssef:- Final de 2005, 2006.

    Juiz Federal:- E o senhor persistiu at quando nisso?

    Alberto Youssef:- At o final, quando existiu o esquema.

    Juiz Federal:- At 2014, quando o senhor foi preso ou no?

    Alberto Youssef:- No, porque... Mas at 2013 ainda alguma coisa por conta de que tinhaalguns remanescentes pra serem recebidos e eu fiz os recebimentos."

    154. Alberto Youssef, em seu interrogatrio, declarou que manteve negcios privados comJoo Luiz Argolo, inclusive dele adquirindo um imvel em Camaari. Tambm admitiu que

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    teria pago propina a ele utilizando, para tanto, a parcela que cabia a ele prprio, AlbertoYoussef, no esquema criminoso da Petrobrs. No soube afirmar se, dentro do prprioPartido Progressista, recebia ele parte da diviso da propina. Transcrevo:

    "Juiz Federal:- O senhor conheceu o senhor Joo Luiz Argolo?

    Alberto Youssef:- Conheci.

    Juiz Federal:- O senhor Joo Luiz Argolo recebia valores desse esquema?

    Alberto Youssef:- O senhor Joo Luiz Argolo, eu tinha alguns negcios com ele por contade algumas coisas privadas e fiz vrios negcios com ele nesse sentido, uma compra de umterreno em Camaari, que era da famlia, e tambm ajudei de maneira pessoal com vriasdoaes a ele pra que ele pudesse fazer suas, a parte social que ele costumava fazer no seuestado.

    Juiz Federal:- Doaes, como assim?Alberto Youssef:- Todo ano ele fazia uma festa na sua base eleitoral e nessa festa, que erano final, decorrer anterior semana ele fazia alguns tratamentos mdicos, oftalmologista,ginecologista, esse tipo de coisa, e a eu ajudava muito ele nesse sentido.

    Juiz Federal:- Mas desse esquema criminoso da Petrobras ele no recebeu dinheiro?

    Alberto Youssef:- Olha, ele recebia de mim, do bolo que eu tinha porque na verdade eleno tinha muito entendimento dentro do partido e a eu acabava o ajudando pessoalmente.

    Juiz Federal:- O senhor declarou no seu depoimento na fase de investigao: 'Joo LuizArgolo fazia parte do rol de parlamentares do PP que recebia repasses mensais, a partir doscontratos da Diretoria de Abastecimento da Petrobras'. isso ou no, senhor Alberto?

    Alberto Youssef:- isso, mas por conta do que eu recebia e a eu repassava a ele algumacoisa.

    Juiz Federal:- Da parte que o senhor recebia?

    Alberto Youssef:- Sim.

    Juiz Federal:- No era da parte do partido?Alberto Youssef:- No. A no ser que ele recebesse l por intermdio do MrioNegromonte ou do lder, mas a eu no ficava sabendo, ficava sabendo de algumas.

    Juiz Federal:- A partir de quando o senhor comeou a efetuar pagamentos pra ele?

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    Alberto Youssef:- Ele foi eleito em 2010, eu acredito que eu comecei a ajudar a ele a partirde 2011, mas no lembro bem a data." (Grifou-se.)

    155. O pagamento, segundo Alberto Youssef, no seria desinteressado:

    "Juiz Federal:- E o senhor ajudava a ele, tinha algum, desinteressado, ou qual era o seuinteresse nisso?

    Alberto Youssef:- Olha, eu achava o Joo Luiz Argolo um poltico que poderia ter umacerta expresso em algum momento da sua carreira, ele era um poltico bem ativo e lgicoque eu aspirava alguma coisa naquele poltico, por conta de que eu achava que ele poderiachegar ao Governo do Estado, ao Senado, enfim.

    Juiz Federal:- Tem uma referncia a um financiamento do Banco do Nordeste, que ele teriaajudado o senhor, isso aconteceu?

    Alberto Youssef:- No. Eu tinha pedido a ele pra que ele agendasse uma reunio com odiretor do Banco do Nordeste pra que eu pudesse pleitear um financiamento, pra fazer umareforma num hotel que eu tinha em Porto Seguro, mas essa reunio acabou noacontecendo porque a gente veio preso no dia 17 e essa reunio iria acontecer praticamentenaquele dia, se eu no me engano.

    Juiz Federal:- Ele ia auxiliar o senhor?

    Alberto Youssef:- Ele que conseguiu marcar a reunio.

    Juiz Federal:- Algum outro ato dele como deputado que ele intercedeu em favor do senhor?

    Alberto Youssef:- No. Que eu me lembre assim no."

    156. Declarou ainda que Joo Luiz Argolo tinha conhecimento do esquema criminoso naPetrobras:

    "Juiz Federal:- Ele tinha conhecimento desse esquema criminoso da Petrobras?

    Alberto Youssef:- A meu ver tinha.

    Juiz Federal:- Por que o senhor diz isso?

    Alberto Youssef:- Porque esse comentrio dentro do partido era unnime.

    Juiz Federal:-O senhor declarou no seu depoimento na investigao, que o depoente,no caso o senhor, 'Comeou a fazer pagamentos para Luiz Argolo desde quando oconheceu no ano de 2011, em razo dele pertencer ao PP e ser parceiro de MrioNegromonte, que Luiz Argolo presenciou algumas oportunidades em que o depoenteentregou dinheiro pra Mrio Negromonte'.

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    Alberto Youssef:-Confirmo.

    Juiz Federal:-Esse dinheiro que o senhor entregou para o Mrio Negromonte vinhadesse esquema criminoso da Petrobras?

    Alberto Youssef:-Sim, senhor.Juiz Federal:- E o senhor declarou tambm que ele presenciou a oportunidade na qual odepoente, no caso o senhor, presenteou com um relgio Rolex o senhor Paulo RobertoCosta.

    Alberto Youssef:- Tambm presenciou, foi na festa que fizeram para o Paulo Roberto Costaem Braslia para o agradecimento com referncia a ajuda de campanha que foi feita em2010.

    Juiz Federal:- O senhor declarou tambm na investigao preliminar que parte dos

    pagamentos que o depoente fazia pra Luiz Argolo era decorrente do dinheiro entregue pelasempreiteiras, contudo houve repasses que o depoente fez com aquele dinheiro sem oconhecimento de Paulo Roberto e de Mrio Negromonte, em razo do depoente ter ocontrole do caixa do PP e apostar na carreira poltica de Luiz Argolo.

    Alberto Youssef:- isso mesmo, senhor.

    Juiz Federal:- Mas ento ele recebia uma parte do partido tambm, o senhor tinhaconhecimento?

    Alberto Youssef:- Na verdade, como eu tinha o recebimento e eu tinha participao, e

    recebia por mim, ento do meu eu ajudava o Luiz Argolo por conta que ele dizia a mim queele no recebia do partido.

    Juiz Federal:- Mas ele no recebia nada?

    Alberto Youssef:- Mas o dinheiro era do bolo.

    Juiz Federal:- Ele no recebia nada da parte do partido?

    Alberto Youssef:- Pago por mim no, a no ser que os lderes faziam repasse a ele."(Grifou-se.)

    157. Alberto Youssef tambm declarou que intermediou com Ricardo Ribeiro Pessoa,acionista controlador da UTC Engenharia, uma das empreiteiras participante do esquemacriminoso da Petrobrs, doaes no registradas para a campanha eleitoral de prefeitosapoiados por Joo Luiz Argolo no ano de 2012:

    "Juiz Federal:- O senhor declarou tambm que os valores pagos pelo depoente a LuizArgolo variava entre 20 mil a 200 mil, em especial nas pocas de campanha eleitoral.

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    Alberto Youssef:- Bom, a outra situao que eu, atravs do empreiteiros, em poca decampanha eu sempre pedia pra que ajudassem o Luiz Argolo e uma das ajudas veio daempreiteira UTC, mas que no foi descontado do caixa que eu recebia atravs da Petrobras,foi uma ajuda espontnea do Ricardo Pessoa.

    Juiz Federal:- Doao oficial, registrada?Alberto Youssef:- No, foi do caixa 2, e a eu fiz alguns repasses ao Luiz Argolo pra que oajudasse.

    Juiz Federal:- Campanha eleitoral 2012, Luiz Argolo pediu dinheiro para os candidatos doPP aos cargos de prefeito e vereador de diversos municpios da Bahia. O senhor declarouisso, o senhor pode esclarecer?

    Alberto Youssef:- Sim, senhor. Essa foi uma das doaes que o Ricardo Pessoa ajudou,pelo menos eu fiz esse pedido ao Ricardo Pessoa nesse sentido e a ele combinou com o

    Luiz Argolo e fez o repasse atravs de mim.Juiz Federal:- E isso foi por doao oficial?

    Alberto Youssef:- No, que eu me lembre no."

    158. Pela confuso com os negcios privados entre Alberto Youssef e Joo Luiz Argolo,no logrou o intermediador de propinas dimensionar o valor repassado a este ttulo.Tambm relatou em Juzo que adquiriu um imvel por dois milhes de reais de Joo LuizArgolo e ainda um helicptero:

    "Juiz Federal:- O senhor sabe me dizer mais ou menos quanto que o senhor passou para osenhor Luiz Argolo nesse perodo, relativamente a essas verbas do esquema criminoso daPetrobras, da sua parte?

    Alberto Youssef:- Eu no consigo assim dimensionar os valores porque teve coisas que semisturaram, que foi a compra do terreno que eu fiz l de Camaari e tambm a compra dohelicptero, parte da compra de um helicptero que eu acabei tendo que fazer o pagamentoporque o Luiz Argolo havia comprado, tinha pago uma parte e no conseguiu pagar aintegridade do helicptero, e a eu fiz o pagamento e coloquei o helicptero no nome daGFD at que ele pudesse fazer esses pagamentos. Se ele no conseguisse fazer ospagamentos eu ia vender o helicptero e ele ia acabar perdendo a parte que ele deu porconta de que ele estaria voando aquelas horas no helicptero.

    Juiz Federal:- O senhor comprou o helicptero dele, mas o helicptero ficou com ele?

    Alberto Youssef:- Ficou com ele.

    Juiz Federal:- Foi formalizada essa venda?

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    Alberto Youssef:- No.

    Juiz Federal:- Essa compra?

    Alberto Youssef:- A compra pela GFD foi formalizada.

    Juiz Federal:- A GFD comprou de quem?

    Alberto Youssef:- Na verdade, a GFD... O Luiz Argolo teria comprado este helicptero deuma empresa farmacutica, alguma coisa assim nesse sentido, no me lembro o nome, noconseguiu efetivar na totalidade os pagamentos do helicptero. Em determinado momento,ele me pediu que eu fizesse esse pagamento, a eu acabei fazendo este pagamento, mas praobter a garantia de que eu iria receber esse valor de volta eu coloquei o helicptero nonome da GFD, e a foi feito o recibo no nome pra que a gente pudesse fazer a transfernciadiretamente GFD.

    Juiz Federal:- Mas a transao formal ento ficou entre a GFD e aquela empresafarmacutica?

    Alberto Youssef:- Formal sim, mas a no formal foi feita com o Luiz Argolo.

    Juiz Federal:- No foi feito nenhum documento formal com o senhor Luiz Argolo?

    Alberto Youssef:- No, no foi firmado nenhum documento formal.

    Juiz Federal:- E esse terreno em Camaari, o senhor pode me descrever o que foi isso?

    Alberto Youssef:- Esse terreno em Camaari foi uma oferta que o Luiz Argolo fez a mim,se eu no me engano ele tinha dito que esse terreno era de um parente, no me lembro seera irmo ou algum da famlia, e a eu comprei o terreno pra que a GFD pudesse fazer umempreendimento l de Minha Casa Minha Vida; um terreno de 114 mil metros quadrados,praticamente dentro da cidade de Camaari.

    Juiz Federal:- Por quanto foi isso?

    Alberto Youssef:- Na verdade, por dentro foi pago 330 mil se no me engano, 360 mil, epor fora foi pago o restante que era 2 milhes o combinado.

    Juiz Federal:- Dois milhes. E esse terreno estava em nome do senhor Luiz Argolo?Alberto Youssef:- Estava em nome de uma pessoa fsica, que eu me recordo.

    Juiz Federal:- Foi feito contrato?

    Alberto Youssef:- Foi feito um contrato de compra e venda sim.

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    Juiz Federal:- Escritura?

    Alberto Youssef:- No, a escritura no chegou a ser feita porque tinha alguns dbitos deIPTU que precisavam ser legalizados, pra que pudesse ser feita a transferncia.

    Juiz Federal:- O por dentro que o senhor pagou, como que o senhor pagou?Alberto Youssef:- Em conta corrente, na conta do proprietrio do terreno, que era no caso oproprietrio que estava no nome.

    Juiz Federal:- E o por fora, como que o senhor pagou?

    Alberto Youssef:- Teve coisas que eu mandei entregar na Bahia, teve coisas que ele retirouem So Paulo, ento eu no consigo me lembrar todos os valores porque j faz um bomtempo, mas teve coisas que eu pedi para que o Rafael entregasse na Bahia, teve coisas queeu pedi pra que ele retirasse em So Paulo.

    Juiz Federal:- O senhor sabe da onde que veio, como o senhor Luiz Argolo adquiriu esseimvel?

    Alberto Youssef:- Olha, eu no sei, sinceridade, eu no sei mesmo.

    Juiz Federal:- O senhor mencionou que o valor da transao foi quanto?

    Alberto Youssef:- 2 milhes."

    159. Alberto Youssef declarou que os repasses de propinas eram de cerca de vinte a

    quarenta mil reais mensais:"Juiz Federal:- E o senhor no sabe me dimensionar quanto aproximadamente o senhorrepassou naquele esquema criminoso para o senhor Luiz Argolo?

    Alberto Youssef:- No, no consigo mencionar assim de cabea.

    Juiz Federal:- O senhor pagava um percentual ou pagava mensal pra ele?

    Alberto Youssef:- No, eu fazia uma ajuda mensal pra ele.

    Juiz Federal:- Quanto que era a ajuda mensal?Alberto Youssef:- s vezes 30, s 40, s vezes 20, dependia.

    Juiz Federal:- Isso desde o perodo l que o senhor conheceu ele, 2010, isso?

    Alberto Youssef:- No, acho que foi depois, 2011... Eu conheci ele final de 2010, euconheci ele na verdade no jantar do Paulo Roberto Costa.

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    Juiz Federal:- Seriam 30, 40 mil mensal aproximadamente?

    Alberto Youssef:- , eu acredito que seria a mais ou menos esse valor.

    Juiz Federal:- E o senhor repassava esses valores como pra ele, tinha algum procedimento

    especial?Alberto Youssef:- No, s vezes ele retirava l no escritrio, muitas vezes quando ele ia emSo Paulo cuidar de algum assunto do partido ele acabava passando no escritrio.

    Juiz Federal:- O senhor depositava em conta dele tambm?

    Alberto Youssef:- s vezes ele deixava conta pra que fizesse depsito.

    Juiz Federal:- O senhor lembra alguma conta que o senhor depositou pra ele?

    Alberto Youssef:- No lembro, mas deixava vrias contas."160. Alberto Youssef ainda confirmou a autenticidade das mensagens eletrnicas etelefnicas trocadas com Joo Luiz Argolo:

    "Juiz Federal:- O senhor utilizava tambm aparelho Blackberry?

    Alberto Youssef:- Utilizava.

    Juiz Federal:- O senhor tinha alguma identificao nesse aparelho Blackberry?

    Alberto Youssef:- Primo.Juiz Federal:- O senhor falava com o senhor Luiz Argolo por esse aparelho?

    Alberto Youssef:- Falava todo dia, todo dia ele me pedia ajuda e eu enrolava s vezes.

    Juiz Federal:- O senhor deu o aparelho pra ele?

    Alberto Youssef:- No. Era o aparelho dele.

    Juiz Federal:- O senhor lembra como ele era identificado nesse aparelho?

    Alberto Youssef:- LA."

    161. Ao final de seu depoimento, Alberto Youssef deixou claro que Joo Luiz Argolo tinhacincia do esquema criminoso da Petrobrs e que, diante de sua reclamao de que norecebia parcela da propina entregue ao Partido Progressista, Alberto Youssef resolveuajud-lo com seus recursos vindos do prprio esquema criminoso:

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    "Defesa:- Tem? Ento t. Ento todos esses deputados que frequentavam o seu escritrio edele participavam sabiam que o senhor era o operador do partido nas propinas daPetrobras?

    Alberto Youssef:- Sabiam.

    Defesa:- Obrigado.

    Juiz Federal:- Alguns esclarecimentos adicionais do Juzo muito rapidamente. O senhorfalou que o senhor Luiz Argolo reclamou ao senhor que ele no recebia valores do esquemacriminoso da Petrobras, isso?

    Alberto Youssef:- Ele falava que o partido no o ajudava em nenhum sentido com essesvalores.

    Juiz Federal:- Que eram da Petrobras?

    Alberto Youssef:- Que eram da Petrobras.

    Juiz Federal:- E a o senhor decidiu comear a contribuir com ele com a sua parte?

    Alberto Youssef:- Sim.

    Juiz Federal:- Foi essa a resposta que o senhor deu?

    Alberto Youssef:- Foi.

    Juiz Federal:- Com a sua parte dos valores do esquema da Petrobras?Alberto Youssef:- No, com a minha parte dos valores que eu recebia, que eu recebiavalores de vrios assuntos, no s da Petrobras, tinha negcios que eu fazia que era negciode comissionamento de venda de tubo, negcio, de outros negcios, esse dinheiro era todomisturado ali, eu no posso dizer que 'Ah, esse dinheiro veio da Petrobras' ou 'Esse dinheirono veio'.

    Juiz Federal:- O que o senhor respondeu a ele que o senhor ia contribuir ento com a suaparte?

    Alberto Youssef:- Sim, que eu ia ajud-lo com o que eu poderia fazer.Juiz Federal:- Inclusive da parte que o senhor recebia do dinheiro da Petrobras?

    Alberto Youssef:- Sim, sim.

    Juiz Federal:- Isso foi objeto de conversao explcita?

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    Alberto Youssef:- No, eu no cheguei a falar do dinheiro que eu recebia da Petrobras, eudisse a ele que eu, Alberto Youssef, iria ajud-lo da maneira que eu podia ajudar e assim ofiz.

    Juiz Federal:-E quando ele reclamou que ele no recebia do esquema da Petrobras,

    ele mencionou a Petrobras, foi colocado explicitamente que ele no recebia da partedo partido da Petrobras?

    Alberto Youssef:-Mencionou, eu no posso mentir aqui e dizer que ele no mencionouo que ele mencionou.

    Juiz Federal:- Os escritrios que o senhor teve, os endereos, na So Rafael era escritriodo senhor... Avenida So Gabriel, perdo?

    Alberto Youssef:- Sim.

    Juiz Federal:- Renato Paes.Alberto Youssef:- Sim.

    Juiz Federal:- Eu tenho aqui u