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SENTENÇA Processo 150/15.9Y5LNB.N1 -7 Assunto: Ação Administrativa de Impugnação de Norma Autores: Associação dos Tuk Tuk Ecológicos (Autor 1) e CARLOS MANUEL HENRIQUES DA COSTA; BEATRIZ MARIA ALVES DOS REIS; ANTÓNIO ALBERTO MORAIS ESTEVES (Autor 2) Entidade Demandada: Município de Capital Contra interessados : Associação de taxistas de Capital Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa 1 Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

sentença simulação

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No âmbito da simulação da disciplina de Contencioso Administrativo e Tributário, vêm os juízes decidir :

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SENTENÇA

Processo Nº 150/15.9Y5LNB.N1-7

Assunto: Ação Administrativa de Impugnação de Norma

Autores: Associação dos Tuk Tuk Ecológicos (Autor 1) e CARLOS MANUEL HENRIQUES DA COSTA; BEATRIZ MARIA ALVES DOS REIS; ANTÓNIO ALBERTO MORAIS ESTEVES (Autor 2)

Entidade Demandada: Município de Capital

Contra interessados: Associação de taxistas de Capital

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

1Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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Acordam na Secção de Contencioso Administrativo do Tribunal Administrativo de Círculo de Capital:

1. Relatório

CARLOS MANUEL HENRIQUES DA COSTA, portador do cartão de cidadão n.º 111222333

0 ZY 1 e NIF 123456789, com domicílio na Rua do Céu, nº1, 10º DTº, 2060-152, Capital,

exercendo profissionalmente a atividade de animador turístico em Capital;

BEATRIZ MARIA ALVES DOS REIS, portadora do cartão de cidadão n.º 333444555 0 ZY 1 e

NIF 234567890, com domicílio na Estrada do Progresso, nº4, 3º ESQº, 2060-320, Capital,

exercendo profissionalmente a atividade de animadora turística em Capital; e

ANTÓNIO ALBERTO MORAIS ESTEVES, portador do cartão de cidadão n.º 555666777 0

ZY 1 e NIF 345678901, com domicílio na Praceta da Alegria, nº13, R/C ESQ., 2060-013,

Capital, exercendo profissionalmente a atividade de animador turístico em Capital.

Representados judicialmente por Ana Catrina Piedade Brizida cédula profissional nº347829 NIF

985725916, Anastasiya Myrna cédula profissional nº110408 NIF 976164085, Maria Ana Matias

Nunes cédula profissional nº745609 NIF 864374098, Regina Gomes Dias cédula profissional nº

986780 NIF 981746589, e Rita Isabel Ramos Batista Escarpiado cédula profissional nº895953

NIF 09634765, advogadas da Omega & Delta, Sociedade de Advogados, R.L, com sede na

Avenida das Papoilas, nº18, 2060-003, Capital.

A Associação dos Tuk Tuk Ecológicos, NIPC 211111111, com sede na Rua Ógusta, n.º 9, 1234-

567, Capital, representada para o acto pelo seu Presidente da Direcção João Papaia Verde,

nascido em 01.06.1981, portador do número de CC 55555555 emitido em 07.09.2012, válido

até 07.09.2017,com residência na Rua Verdinho, nº 9, 4º D, 1200-442 Capital. Representados

judicialmente por Dr. André Reis Julião, cédula profissional n.º 4321Q, NIF 212.345.678, Dra.

Carolina Figueiredo Viegas, cédula profissional n.º 4322Q, NIF 287.654.321, Dr. David

Ribeirinho Alves, cédula profissional n.º 4323Q, NIF 276.543.210, Dra. Romina Almeida,

cédula profissional n.º 4324Q, NIF 201.234.567, e Dra. Virgínia Nascimento, cédula

profissional n.º 4325Q, NIF 298.765.432

Vem intentar ação contra,

MUNICÍPIODA CAPITAL, com o NIPC 456 788 819, com sede nos Paços do Conselho, Praça

do Município, 1149-014, Capital e com o NIF 500 856 784, constitui seus bastantes

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2Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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procuradores a Dra. Filipa Serras Matias com cédula profissional nº 6547123 e NIF nº 233344;

a Dra. Ana Monteiro Martins com cédula profissional nº 457891 e NIF nº 235698; o Dr. João

Duarte

Domingos com cédula profissional nº 578451 e NIF nº 237875; o Dr. João Quintanilha

Garrinhas com cédula profissional nº 457695 e NIF nº 238415; e o Dr. Francisco Bettencourt

Gomes com cédula profissional nº 698474 e NIF nº 23475; e

ASSOCIAÇÃO DE TAXISTAS DE CAPITAL, com contribuinte fiscal nº500 051 070, com

sede na Praça do Marquês, S/N, 2060-125, Capital. Representados judicialmente por Dra. Sofia

Rosário, cédula profissional nº5867H NIF 271779063, Dra. Micaela Martins, cédula

profissional nº 6458H NIF 271779063, Dra. Margarida Gonçalves, cédula profissional nº7650K

NIF 271756063, vem à presença de Vossa Excelência, na qualidade de contra-interessado.

2. Texto Integral

Acordam em conferência os juízes da 1ª Secção de Contencioso Administrativo do Tribunal

Administrativo do Círculo de Capital:

A ASSOCIAÇÃO DOS TUK TUK ECOLÓGICOS (Autor 1) e CARLOS MANUEL

HENRIQUES DA COSTA; BEATRIZ MARIA ALVES DOS REIS; ANTÓNIO ALBERTO

MORAIS ESTEVES (Autor 2), ao abrigo do artigo 78º do Código Procedimento dos Tribunais

Administrativos (doravante CPTA), vêm interpor a presente ação administrativa de impugnação

de normas, tendo em conta a alínea d) do número 1 do artigo 37º e dos artigos 72º e seguintes do

CPTA.

Foi pedida a impugnação das normas constantes do Despacho 123/P/2015 emitido a 27 de

Setembro de 2015 pelo Presidente da Câmara Municipal de Capital, Joaquim Substituto, que,

incidindo sobre queixas de obstrução à normal circulação, sobre as condições de estacionamento

e sobre ruído e poluição provocado pelos veículos e motores de explosão, em especial de

quadriciclos, triciclos ou automóveis ligeiros de passageiros, lhes vedou a circulação nas zonas

de Alto Bairro, Alfombra e Castelinho, consideradas zonas com maiores perturbações. Para

mais o presente Despacho instituiu, também, um horário de circulação, compreendido entre as 9

horas e as 21 horas nas freguesias da Estrela, Misericórdia, Santo António, Santa Maria Maior e

São Vicente.

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3Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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Ademais, foi fundamento desta decisão as inquietações apuradas no seguimento do

procedimento antecedente do Despacho 123/P/2015, por parte dos presidentes de numerosas

freguesias do local, diversos moradores, alguns empresários e a Associação dos Taxistas de

Capital.

Assim sendo, instaurando ação neste Tribunal, impugnaram, de facto e de direito, os

autores, em causa alegando que:

De facto:

i. Presidente da Câmara Municipal de Capital fora influenciado pelo “lobby dos taxistas”;

ii. Da existência de manifestações, por parte da Associação dos Taxistas de Capital,

contra negócios a eles concorrentes;

iii. Não foi ouvido em sede de audiência prévia o Autor 1 - constituindo a Associação dos

Tuk Tuk Ecológicos como interessada, provado pelo nexo de conexão entre a

diminuição dos lucros auferidos pelos empresários Tuk Tuk e a diminuição do

financiamento da referida Associação, mostrando a dependência desta perante os

primeiros.

iv. Não foram ouvidos em sede de audiência prévia, os Autores 2 – constituindo os autores

como interessados por: a) serem animadores turísticos condutores dos Tuk Tuks; b) esta

consubstancia a sua principal e única fonte de rendimentos;

v. Da atividade prosseguida pelos Tuk Tuk ecológicos caracterizava-se: a) pelo caráter

ecológico dos Eco Tuks, 100% elétricos; não ruidosos; b) pela disponibilização de uma

visita à cidade de forma sustentável; c) pelo favorecimento da conservação do

património cultural e histórico da cidade; d) pela prossecução dos objetivos traçados

pelas políticas de ambiente e desenvolvimento sustentável europeias.

vi. Da não publicação e abertura do procedimento no sítio oficial da Câmara Municipal ou

Diário da República;

vii. O cônjuge de Joaquim Substituto, Presidente da Câmara Municipal de Capital, é parente

no 2º grau da linha colateral do Presidente da Associação de Taxistas de Capital;

viii. Das Notícias e reportagens contrapostas ao exposto pelo Despacho 127/P/2015.

De Direito:

i. da incompetência relativa por parte do Presidente da Câmara Municipal, Joaquim

Substituto, para elaboração ou aprovação de regulamentos internos ou externos, com

fundamento: no número 7 do artigo 112º da Constituição da República Portuguesa

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(doravante CRP), pela necessidade que a lei confira a Administração competência

objetiva e subjetiva para emanar regulamentos; na alínea g) do número 1 do artigo 25º

da Lei nº75/2013 de 12 de Setembro (Regime Jurídico das Autarquias locais, doravante

LAL), conferindo esta competência à assembleia municipal para aprovação de

regulamentos com eficácia externa; na alínea k) do número 1 do artigo 33 º da LAL,

cabendo à câmara Municipal elaborar e submeter à aprovação da assembleia municipal

os projetos de regulamentos externos; no número 1 do artigo 34º da LAL, pela

impossibilidade de delegação1; na violação do procedimento de elaboração dos

regulamentos municipais, por concentração de todos os trâmites num único órgão, o

Presidente da Câmara – apreciação pelo executivo camarário, discussão pública,

discussão em Assembleia Municipal;

ii. da incompetência absoluta do presidente da Câmara Municipal, Joaquim Substituto,

com fundamento: na alínea a) do número 1 do artigo 198º da CRP; no Decreto-Lei

nº108/2009.

iii. da invocação de um impedimento, patente na alínea b) do número 1 do artigo 69º do

Código do Procedimento Administrativo (doravante CPA);

iv. da atuação do Presidente da Câmara, estaria condicionada pela relação familiar

existente, pelo que existiria uma violação do princípio da imparcialidade, violando o

disposto no artigo 9º CPA;

v. da violação do princípio da igualdade, com primazia dos interesses da Associação dos

Taxistas, violando o disposto no número 2 do artigo 266º da CRP e do artigo 6º do

CPA;

vi. invocação do desvalor da anulabilidade do Despacho 123/P/2015, com fundamento em

vício procedimental por preterição do trâmite essencial de audiência prévia, nos termos

do número 1 do artigo 143º do CPA, por violação do princípio da participação

patenteado no artigo 12º do CPA e número 5 do artigo 267º da CRP;

1 Atento que os autores 2, na sua petição inicial, sem referirem a impossibilidade de delegação patenciada no artigo enunciado supra, fundamentam o vício da delegação na falta de publicação prevista pelo artigo 159º do Código do Procedimento Administrativo, confirmando a falta de delegação de poderes pelo decurso do prazo de 30 dias para efetuar a respetiva publicação. O coletivo de juízes decidiu não incorporar tal fundamento como facto de direito por entender apresentar-se como incoerente face ao fundamento invocado pelo autor 1 relativo à impossibilidade de delegação de poderes.

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5Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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vii.

da insuficiência de fundamentação exigida pela alínea a) do número 1 do artigo 152º CPA

sobre: o estado do ar e do ruído naqueles locais; da diferenciação dos Eco Tuks; da

violação do princípio da igualdade; violação do princípio da boa Administração,

resultante do artigo 99º CPA e de uma interpretação do artigo 5º do CPA à luz da alínea

c) do número 2 do artigo 41º da Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia;

viii. do preenchimento dos requisitos da Responsabilidade Civil Extra-Contratual por parte

do Município, nos termos do Regime Jurídico da Responsabilidade Civil do Estado e

demais Entidades Públicas, contido na Lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro, invocado

pela Associação de Empresários de Tuk Tuk Ecológicos.

Nestes termos, pediram ao Colectivo : i. a declaração de ilegalidade com força obrigatória geral

da norma regulamentar que dispõe que “Será proibido o acesso e, consequentemente, a

circulação dos veículos referidos no número anterior, em áreas quem causem mais perturbações

nas freguesias de Alto Bairro, Alfoma e Castelinho.” (constante no Despacho n.º123/P/2015); ii.

Condenar o Réu ao restabelecimento da situação que existiria se a norma regulamentar não

tivesse sido emitida iii. Condenar o Réu nas custas do processo. O Autor 1 acrescenta em

relação ao Autor 2 que em consequência do primeiro pedido seja desaplicada ao Autor a norma

proibitiva.

Contestou a ação o Município de Capital, nos termos do art.º.83º CPTA:

Dos factos:

i. da existência de tumultos entre moradores e comerciantes e condutores de triciclos e

ciclomotores;

ii. dos danos provocados nos estabelecimentos comerciais devido ao intenso tráfego e ao

tamanho reduzido das vias de circulação.

iii. Presidente da Câmara ouviu os reclamantes, sendo que entre eles estava um empresário

de Tuk Tuk Ecológicos e um empresário de Tuk Tuk não ecológicos.

iv. alguns empresários do sector de taxistas e um membro da Associação de Taxistas

também foram ouvidos.

v. na reunião realizada pelo Presidente da Câmara, não esteve presente o Presidente da

Associação de taxistas, mas sim o seu Vice-Presidente.

vi. divórcio litigioso entre o Presidente da Câmara e a sua mulher.

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6Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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vii.

vii.

Joaquim Substituto, foi vice- presidente até Abril de 2015, pelo que ainda não era Presidente

aquando da instauração do processo de divórcio.

viii. despacho é necessário à salvaguarda do património cultural das freguesias em causa.

ix. despacho visa acautelar o ambiente.

De Direito:

i. nos termos do número 1 do artigo 34º LAL a competência para administrar o domínio

público municipal, foi delegada ao Presidente da Câmara mediante proposta e

aprovação pelo órgão competente;

ii. a falta de menção da delegação no proferimento do despacho não afeta a validade do

mesmo nos termos do número 2 do artigo 48º LAL;

iii. em relação à preterição da audiência dos interessados alega o município que esta não

constituí uma invalidade, pois: a) o regulamento não afeta de forma imediata e direta os

interesses dos autores; b) a audiência podia ser preterida devido ao caráter de urgência

da emissão do despacho, patente no número 3 do artigo 100º do CPA);

iv. prevalência do direito ao descanso sobre os interesses privados dos Tuk Tuk;

v. tendo em conta o Decreto Regulamentar 9/92, de 28 de Abril, os estudos apresentados

pela Associação Eco Tuk Tuk não parecem ter o devido fundamento legal;

vi. do não preenchimento dos requisitos da Responsabilidade Civil Extra-Contratual por

parte do Município, nos termos do Regime Jurídico da Responsabilidade Civil do

Estado e demais Entidades Públicas, contido na Lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro,

invocado pela Associação de Empresários de Tuk Tuk Ecológicos, uma vez que: a) não

procede a ilicitude uma vez que o Presidente agiu de acordo com as suas competências

e dentro do princípio da legalidade; b) não há dano, pois não existe violação das

posições subjetivas dos autores; c) não há culpa, uma vez que o Presidente pode

praticar o ato e estava atuar conscientemente.

vii. do não preenchimento do número 2 do artigo 9º e ao número 1 do artigo 73 do CPTA,

na medida em que a norma produz efeitos apenas para os serviços municipais e não

para as Associações, nem para os condutores.

viii. os condutores de Tuk Tuk não são parte materialmente controvertida, pois o

regulamento é interno e destina-se aos serviços municipais, não estando preenchido o

art9,nº1 do CPTA

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7Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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Nestes termos, pediram ao Colectivo: i. deve a exceção de ilegitimidade ser jugada procedente

e absolver-se o Réu da instância; ii. se não se entender o referido ponto i. , deve extinguir-se a

instância por inutilidade superveniente da lide; iii caso assim não se entenda, deve ser absolvido

do pedido de indemnização no âmbito da responsabilidade civil; iv impugnação do despacho

deve ser julgada improcedente;

Contesta ainda, a Associação de Taxistas de Capital:

Dos Factos:

i. a Câmara Municipal de Lisboa está, de momento, a elaborar um novo regulamento

referente às matérias em causa;

ii. aquando da elaboração do Despacho foram chamadas a pronunciar-se, entre outras

empresas do sector, a Associação de Empresários dos Tuk Tuk e a Associação dos Tuk

Tuk Ecológicos;

iii. apesar de devidamente notificadas, nenhuma das Associações em causa se pronunciou;

iv. o atual Presidente da Associação de Taxistas, não tem qualquer relação familiar com o

Presidente da Câmara de Capital;

v. Amador Rodrigues, Presidente da Associação de Taxistas de Capital durante dez anos,

renunciou ao cargo em virtude de um acidente de viação que o deixou incapacitado

para exercer a sua profissão;

vi. tendo sido substituído pelo atual Presidente, José Castro Aguiar;

vii. os taxistas estão sujeitos a um processo de formação e a exames de aptidão física e

mental;

viii. os condutores dos Tuk Tuk não estão sujeitos a estas formalidades, aumentando o risco

de segurança rodoviária;

ix. os Tuk Tuk contribuem para a poluição ambiental e sonora;

x. em relação à regulação de tarifas dos preços praticados pelos Tuk Tuk, estes não estão

sujeitos à fiscalização por parte da autoridade competente podendo deste modo praticar

preços mais baixos;

xi. o ponto anterior fundamenta a existência de concorrência desleal;

Do Direito:

i. no âmbito do artigo 37º da LAL, o Presidente da Câmara tinha competência para

coordenar os serviços municipais;

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ii. mediante carta registada, a Associação de Empresários dos Tuk Tuk e a Associação dos

Tuk Tuk Ecológicos foram devidamente notificados ao abrigo do número 1 do artigo

112º do CPA.

iii. violação do principio da igualdade ao abrigo do artigo 13º CRP.

Nestes termos, pediram ao Colectivo: i. improcedência da presente da ação; ii. inquirição de

testemunhas;

A. FUNDAMENTAÇÃO

De facto:

Conduzida a audiência de discussão e julgamento, subjacente aos temas de prova definidos, no

despacho saneador emitido pelo presente coletivo de juízes, para a decisão é relevante a

seguinte matéria de facto apurada:

- Quanto à emissão de ruído e poluição emitidos pelos Tuk tuk, de referir que o

depoimento do perito em engenharia civil, André Silva, será desconsiderado pelo

coletivo de juízes por entenderem estes que o referido perito não detém das habilitações

técnicas para aferir de um exato conhecimento acerta dos modelos dos motores dos tuk

tuk ecológicos, da emissão de CO2 e HC e do ruído produzido.

- Quanto à emissão de ruído ficou provado, pelo depoimento de José Pinto Barbosa,

presidente de Junta de Castelinho, da existência de numerosas queixas de moradores e

comerciantes do referido bairro – precisamente 874 queixas - , em evidente maior

proporção face às alegações de comerciantes não importunados pelo ruído. Porém,

referente ao depoimento de Estér Gomes, o coletivo tomou como provado a diferença

entre os tuk tuk e os tuk tuk ecológicos, nomeadamente a nível de emissão de ruído.

- Tendo em consideração a alegada perda de receitas dos comerciantes afetos às zonas de

proibição de circulação dos Tuk tuk, em consequência do proferimento do despacho, não

ficou provado o seu montante específico.

- Dá-se como provado que houve prejuízos para os Autores, uma vez que as zonas

vedadas à circulação dos tuk tuk são altamente turísticas, auferindo estes a maior parte

dos seus rendimentos nos determinados bairros.

- Deu o coletivo como provado o facto de os tuk tuk funcionarem como um meio de

transporte alternativo aos táxis;

- Dá-se como provado a existência de desacatos entre os taxistas e os tuk tuk ecológicos;

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9Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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- Dá-se como não provado a emissão de notificações à Associação dos tuk tuk e a

Associação dos tuk tuk ecológicos, com a anexação das referidas notificações e o

depoimento do vereador Carlos Moura, uma vez que estas serão desconsideradas pelo

tribunal por violação do principio da correspondência por parte da Associação dos

taxistas;

- Não ficou provado o carácter de urgência da emissão do Despacho 123/P/2015;

- Não ficou, também provado a publicação da abertura do procedimento referente ao

Despacho 123/P/2015.

- Não ficou, ainda, provado a sujeição dos Tuk tuk e dos tuk tuk ecológicos à regulação de

tarifas e à sujeição dos seus condutores a exames psíquicos e físicos.

De direito:

Pronuncia-se o Colectivo nestes termos sobre as questões, infra enunciadas, que cumpre, depois

de convicção formada, decidir:

1. Natureza do despacho;

2. Competência para proferir o despacho;

3. Oportunidade das partes de se pronunciarem no procedimento;

4. Violação dos princípios de imparcialidade, igualdade e prossecução do interesse

público;

5. Colisão entre direitos de personalidade e o princípio da livre iniciativa económica

privada;

6. Concorrência desleal entre os taxistas e as Associações de Empresários Tuk Tuk.

7. Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e das demais pessoas coletivas de

direito público

8. Fundamentação

9. Pagamento das Custas

1. Natureza do despacho

O ato jurídico objeto do presente processo não é um ato coletivo, nem um ato plural, nem sequer um ato geral2. O ato jurídico objeto do presente processo é uma norma regulamentar por emitir um comando, visando moldar um comportamento, com caráter geral e abstrato. Trata-se de uma

2 FREITAS DO AMARAL; Curso de Direito Administrativo vol. II 2a edição, pp. 228 ss.).

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10Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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norma jurídica.

Assim, ao abrigo da alínea c) do artigo 199º; da alínea d), do número1 do artigo 227º e artigo

241º da CRP, a Administração Publica detém o poder de elaborar regulamentos, sendo que no

caso sub judice estamos dentro do âmbito regulamentar. Os regulamentos administrativos são as

normas emanadas no exercício do poder administrativo por um órgão da administração ou por

outra entidade pública ou privada para tal habilitada por lei. Concludentemente, convenciona o

número 2 do artigo 235º da CRP que as autarquias locais são pessoas coletivas territoriais

dotadas de órgãos representativos que visam a prossecução dos interesses próprios das

populações respetivas. Ficam preenchidos assim os elementos de natureza material, orgânica e

funcional do regulamento. 

O Despacho em apreço é um regulamento administrativo, nos termos do artigo 135.º do CPA,

contendo normas gerais e abstractas, na medida em que se aplicam a uma pluralidade

indeterminada de pessoas e a uma pluralidade indeterminada de situações, respetivamente.

Os regulamentos dividem-se, quanto à sua eficácia, em regulamentos internos e externos. São

regulamentos internos aqueles que produzem efeitos jurídicos unicamente no âmbito da pessoa

coletiva que emanou o regulamento. São externos aqueles que produzem efeitos jurídicos em

relação a outras pessoas coletivas ou em relação a particulares.

Considera-se tratar-se de um regulamento externo, na medida em que produz

efeitos jurídicos em relação a outras pessoas coletivas, que não a própria pessoa

coletiva que o emitiu – a Associação dos tuk tuk - e ainda em relação a terceiros – os

comerciantes. Concluí o coletivo de juízes, portanto, pela não procedência do argumento do

Município de Capital do carácter interno do presente regulamento.

A norma objeto de impugnação do presente processo é imediatamente operativa3,

na medida em que produz efeitos jurídicos imediatos nas esferas dos Autores ao proibir a

circulação dos seus Tuk Tuks nas zonas de Alto Bairro, Alfoma e Castelinho. Sendo uma norma

proibitiva não carece de ato administrativo de aplicação4

Remete o coletivo para maiores desenvolvimentos, bem como para a observâ para o Despacho

Saneador proferido no âmbito do processo em curso pelo presente tribunal.

3 Segundo MAGALHÃES COLLAÇO, são identificados como regulamentos imediatamente lesivos os que extinguem direitos atribuídos por lei. MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA, releva o momento e o modo como os efeitos da norma se projetam na esfera jurídica dos particulares, ou seja, quando essa projeção se realiza de forma imediata e sem interposição de qualquer ato de aplicação, sendo assim o regulamento imediatamente operativo. Por fim, MOREIRA DE SILVA enuncia um critério prático para qualificar um regulamento como imediatamente produtor de efeitos, se estes passarem, ou não, pela dependência de um ato administrativo ou jurisdicional de aplicação. 4 Ac. TCA sul, Proc. N.º 04583/08, de 18/10/2012 

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11Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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2. Competência para proferir o despacho

Na sequência desta ação, foi alegado pelos Autor 1 e Autor 2 a inexistência de qualquer tipo de

delegação de competências. O réu e contra-interessados contestaram, por via de excepção

peremptória, indicando o réu a existência de um documento que comprova a existência dessa

delegação – articulado nº 3 da respetiva contestação.

Estipula o artigo 237º da CRP que as atribuições e a organização das autarquias locais, bem

como a competência dos seus órgãos, serão reguladas por lei, de harmonia com o princípio da

descentralização administrativa. Não é, portanto, nem da competência do Governo, nem da

competência da Assembleia da República por via da alínea a) do número 1 do artigo 198º e da

alínea g) do número 1 do artigo 165º a contrario.

Citando o Ministério Público:

(...)

De acordo com a Lei 75/2013, de 12 de setembro, referente ao estatuto das autarquias locais, as

atribuições das autarquias locais são a promoção e salvaguarda dos interesses próprios das

respetivas populações - artigo 2º da Lei 75/2013 e  número 2 do artigo 235º/2 CRP.A Câmara

Municipal é um órgão da pessoa coletiva Município - 250º e 252º CRP e 5º/2 da Lei 75/2013-,

integrando este a Administração Autónoma (artigos 199º (d) in fine CRP, 242º CRP). Quanto à

definição das condições de circulação dos triciclos ou ciclomotores afetos à atividade de

animação turística, esta matéria insere-se nas atribuições do Município, de acordo com o artigo

23º/2(c) e (k), estando em causa os domínios dos Transportes e do Ambiente respetivamente.

Estaria em causa assim uma norma administrativa, de carácter geral e abstrato e não um ato

administrativo, individual e concreto, dado que se visava aplicar a uma indeterminabilidade de

sujeitos e situações. As normas administrativas recebem o nome de regulamentos (artigo 241º

CRP e 135ºCódigo de Procedimento Administrativo, de em diante CPA). Tendo o Presidente da

Câmara de Capital atuado fora do âmbito da sua competência material, o despacho padece de

invalidade (artigo 143º, nº1 CPA), sendo inválido por estarmos perante um caso de

incompetência (artigo 144º/1 CPA). Quanto ao desvalor em concreto, até ao novo CPA, a

Doutrina e Jurisprudência tinham vindo a defender que os regulamentos que violassem as

disposições legais seriam sempre nulos. O novo artigo 144º/1 não refere a nulidade, no entanto

o regime que confere à invocação da invalidade dos regulamente tem subjacente o desvalor da

nulidade (neste sentido Pedro Moniz Lopes em “O regime substantivo dos regulamentos no

projeto de revisão do Código do Procedimento Administrativo: algumas considerações

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

12Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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estruturantes”). Quanto à inclusão do vício de incompetência no nº2 do artigo 144º ao invés do

nº1, esta é uma questão que levanta dúvidas. Pedro Moniz Lopes no artigo referido

anteriormente defende que nos casos de incompetência relativa (como era o caso do despacho

em causa, dado que a matéria deste se inclui nas atribuições do Município) poderá considerar-se

este como um vício formal ou procedimental. Neste ponto, o Ministério Público considera

que era aplicável ao despacho a nulidade do nº1 do artigo 144º CPA, dado que muito

dificilmente a falta de competência poderá ser subsumida aos conceitos de vício formal ou

procedimental no Direito Português. Neste sentido, não podemos deixar de seguir o

entendimento adotado na Petição Inicial da Associação dos Tuk Tuk Ecológicos e na

Petição Inicial apresentada pelos condutores de Tuk Tuk, sendo o despacho nulo por  falta de

competência”

(...)

De acrescentar que segundo a alínea rr) e qq) do número 1 do artigo 33º LAL tem a Câmara

Municipal competência em matéria administrativa do domínio público municipal. São definidos

como Bens do Domínio Público os enunciados no artigo 84º da CRP, incluindo neste leque “ as

estradas”. Esta competência poderia ser delegada na pessoa do Presidente da câmara, ex vi

número 1 do artigo 34º LAL. Argumentação esta exposta pelo Autor 2. Porém como concluído

supra o regulamento em questão tratar-se-ia de um regulamento externo, uma vez que produz

efeitos jurídicos em relação a outros sujeitos de direito diferentes, isto é, em relação a

particulares. Regulamento este patenciado na alínea k) do número 1 do artigo 33º da LAL. Ora

esta é uma das exceções do número 1 do artigo 34º LAL, pelo que concluí o coletivo de juízes

em consonância com o disposto pelo Ministério Público, pela impossibilidade de delegação da

referida competência ao Presidente da Câmara, logo pelo vício de incompetência relativa.

O princípio da publicidade dos atos de conteúdo genérico do poder local é uma exigência do

princípio do Estado de direito democrático. Torna-se indispensável que os cidadãos conheçam e

tenham fácil acesso ao direito vigente e fiquem a saber das principais decisões dos órgãos do

poder político.

Estipula, assim, de acordo com o que esta a ser afirmado, a alínea h) do número 1 do artigo 119º

CRP “São publicados no jornal oficial, Diário da República: h) (…) os decretos regulamentares

regionais”. Como se trata de um regulamento autárquico este deveria ter sido publicado em

boletim próprio da autarquia, quando exista, ou em edital afixado nos locais do estilo, conforme

dispõe o artigo 91º da Lei das Autarquias Locais.

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

13Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 14: sentença simulação

O requisito de eficácia, publicidade, foi respeitado, dado que o regulamento foi publicado no

Boletim Municipal da Câmara Municipal de Capital, sob a forma do Despacho nº123/P/2015.

Procedida a publicidade necessária, enquanto requisito de eficácia, o regulamento autárquico

inicia a sua vigência na data que no regulamento estiver estipulada para esse efeito –

2015/10/27.

3. Oportunidade das partes de se pronunciarem no procedimento;

Todo o procedimento administrativo tem formalidades prescritas na lei para serem observadas

na fase de preparação da decisão, ou na própria fase da decisão. Estas têm em vista garantir a

correta formação da decisão administrativa e o respeito pelos direitos subjetivos e interesses

legalmente protegidos dos particulares.

As formalidades podem ser classificadas como não essenciais, quando podem ser dispensadas, e

como essenciais, quando não podem ser dispensadas, na medida em que a sua falta afeta

irremediavelmente a validade ou eficácia da decisão administrativa. Ora, principio geral é o de

que todas as formalidades legalmente previstas são essenciais, com exceção: i. aquelas que a

lei considere dispensáveis; ii. daquelas que revistam natureza meramente interna;; iii. daquelas

cuja preterição não haja obstado ao alcance objetivo visado pela lei ao prescrevê-las.

 

Um dos princípios gerais da atividade administrativa é o principio da participação, consagrado

no artigo 12º do CPA, que consiste no direito de participação dos particulares, bem como das

Associações que tenham por objeto a defesa dos seus interesses “nos procedimentos de

formação de decisões administrativas que lhes digam respeito“, nomeadamente através de

audiências.

Uma das principais formalidades previstas na lei é a audiência dos Interessados prevista no número

5 do artigo 267º da CRP, dando posteriormente origem ao número 1 do artigo 100º do CPA.

Nas palavras do professor Sérvulo Correia, não está em causa o dever do interessado em

“prestar a sua colaboração para o conveniente esclarecimento dos factos e descoberta da

verdade”, presente no número 2 do artigo 60º do CPA, nem o poder discricionário da

administração de solicitar informações aos particulares, como dispõe o número 1 do artigo 89º

do CPA, mas sim, a sujeição da administração ao dever de audiência dos interessados.

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

14Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 15: sentença simulação

Nestes termos, o direito de audiência dos interessados cumpre-se, por parte da administração,

dando-lhes o instrutor a possibilidade de se pronunciarem sobre o sentido provável da decisão,

como prevê o número 3 do artigo 103º do CPA.

No que diz respeito ao direito a audiência, o número 1 do artigo 100º do CPA refere que este

deve ser facultado aos diversos interessados obrigatórios na decisão, sendo que no que toca aos

interessados secundários ou facultativos, designadamente não tendo intervindo no processo, não

está a administração sujeita ao dever de os ouvir.

O principal objectivo da audiência dos interessados é evitar decisões “surpresa” e de facultar

aos particulares uma oportunidade para fazerem valer as suas posições e os seus argumentos no

procedimento. Tem também como objecto fulcral a função de auxiliar a administração a decidir

melhor, de modo mais consensual e em conformidade com o bloco de legalidade.

Por norma, a lei manda aplicar a audiência prévia dos interessados sempre que a administração

profira uma decisão desfavorável aos interessados, o que se verifica no nosso caso, a Associação

de Empresários de Tuk Tuk era indiscutivelmente parte interessada na matéria

regulada pelo despacho proferido, na medida em que as decisões por ele emanadas iriam incidir

sobre a atividade prosseguida pelos seus associados, afetando assim os seus direitos e interesses

legalmente protegidos.

Ademais, anexado à contestação da Associação de Taxistas, veio as devidas notificações ao

abrigo do disposto no artigo 122ºCPA mediante carta registada, em cumprimento com o número

1 do artigo 112º do CPA. Porém decidiu o coletivo de juízes não considerar como prova

admissível uma vez que a Associação dos Taxistas de Capital não são nem remetentes nem

destinatário das missivas, pelo que a obtenção e divulgação das mesmas implica a violação de

correspondência. Para mais, a prova apresentada será nula nos termos do número 8 do artigo da

CRP e número 3 do artigo 32º e número 3 do artigo 126º do Código de Processo Penal (CPP)

aplicados analogicamente (como se admite em relação ao processo civil: acórdão do Tribunal da

Relação de Guimarães de 16-02-2012, José Rainho [Relator]).Ainda, a confissão pelo

Município de que não foi realizada a audiência dos interessados, leva a concluir pela falsidade

dos documentos apresentados.

É ainda da competência deste Tribunal fazer referencia ao facto de, segundo a maioria da

doutrina e jurisprudência do Supremo Tribunal Administrativo, se a audiência previa fosse

considerada obrigatória, a sua falta traduzia-se num vício de forma, por preterição de uma

formalidade legal, gerando assim, a sua anulabilidade. Tal como refere o Professor Freitas do

Amaral (“Curso de Direito Administrativo”, volume II, 2ª reimpressão, Almedina, Coimbra,

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

15Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 16: sentença simulação

2003, pp 322, 323) o direito subjetivo público de audiência prévia dos interessados, apesar de

ser muito importante no sistema de proteção dos particulares face à Administração Pública, não

é um direito incluído no elenco dos direitos fundamentais, que são os direitos com uma ligação

mais estreita à proteção da dignidade da pessoa humana.

Sistema de proteção dos particulares face à Administração Pública, não é um direito incluído no

elenco dos direitos fundamentais, que são os direitos com uma ligação mais estreita à proteção

da dignidade da pessoa humana.

Porém e concluído pela não realização de audiência prévia dos interessados, faz o presente

tribunal citar o Ministério Público:

(...)

“ Tendo em conta o elevado número de condutores de Tuk Tuk, a audiência poderia ter sido

substituída por uma consulta pública(artigos 100º/3(c) e 100º/4º CPA) ou poderia ter sido

ouvida a Associação de Empresário sem sua representação. Não podemos concordar com a Contestação

apresentada pelo Município da Capital quando esta refere a audiência foi preterida por motivos

de urgência de acordo com o artigo 100º/3 CPA dado que não estávamos perante uma situação

em que a passagem do tempo tirasse o efeito útil dos direitos dos moradores, estando apenas em

causa alguma perturbação causada pelo ruído”.

(...)

Conclui o coletivo de juízes, que não estaríamos perante um caso de audiência prévia, mas sim

de consulta pública, presente na alínea c, do número 3 do artigo 100º do CPA, devido ao

elevado número de interessados, o que aconteceu, nos termos já provados.

Estão em causa os presidentes das várias freguesias do local, os moradores, alguns empresários,

nomeadamente as Associações de Empresários Tuk Tuk, tal como a Associação de Taxistas de

Capital.

Por esta razão, a consulta pública é o meio indicado para recolher as informações dos vários

interessados, como dispõe o número 1 do artigo 101º do CPA, sendo propositado saber a

opinião dos Presidentes das Juntas de Freguesia do local sobre o impacto que os Tuk Tuk têm

nas freguesias, bem como a opinião dos moradores acerca das consequências que a circulação

dos Tuk Tuk pode implicar no seu dia-a-dia. Os empresários das Associações de taxistas de

Capital podem também exprimir o seu agrado/desagrado acerca da circulação dos Tuk Tuk,

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

16Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 17: sentença simulação

exercendo assim o seu direito de participação, nos termos do número 2 do artigo 101º do CPA.

Por outro lado, qualquer pessoa singular ou colectiva que se considere direta ou indiretamente

prejudicada pelo proferimento do despacho podia dirigir as suas sugestões por escrito, tal como

Nestes termos, consideramos que não houve preterição do princípio de participação dos

interessados na gestão da Administração Pública.

4. Violação do princípio imparcialidade, do principio da igualdade e princípio da

prossecução do Interesse Público

O Princípio da imparcialidade5, trata-se de uma série de limites ao poder discricionário da

administração, este vêm referidos número 2 do artigo 266º da CRP e artigo 9º CPA sendo que a

administração Pública necessita de garantir a imparcialidade. O Princípio da Imparcialidade,

significa que a Administração deve comportar-se sempre com isenção e numa atitude de

equidistância perante todos os particulares, que com ela encontrem em relação, não

privilegiando ninguém, nem discriminando contra ninguém6.

Este princípio tem duas vertentes: negativa (a Administração Pública está proibida de terem

consideração circunstâncias que não sejam relevantes para a tomada de decisão);

e positiva (implica o dever, por parte da Administração Pública, de ponderar todos os interesses

públicos secundários e os interesses privados legítimos relevantes, equacionáveis para o efeito de

certa decisão antes da sua adoção

A Administração Pública não podendo conferir privilégios, assim como também não podendo

impor discriminações, só a lei o pode fazer em ambos os casos, proíbe o favoritismo ou

5 MARIA TERESA DE MELO RIBEIRO (O Princípio da Imparcialidade da Administração Pública, p.

235), a imparcialidade “constitui, assim, um princípio regulador do conjunto da actividade administrativa

e respeita ao exercício e ao desenvolvimento da totalidade da função administrativa, desde a fase de

averiguação e determinação dos factos relevantes, até à fase de decisão administrativa, passando pelo

inteiro processo de formação da vontade da Administração Pública”.

6 acórdão do STA de 26 de fevereiro de 2015, no âmbito do processo 01132/12)

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

17Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 18: sentença simulação

perseguições relativamente aos particulares, e a proibição dos órgãos da Administração de

tomarem decisões sobre assuntos em que estejam pessoalmente interessados.

O artigo 69º do CPA dispõe sobre os casos de impedimento na qual, a lei obriga o órgão ou

agente da Administração a comunicar a existência de impedimentos. Consoante o caso concreto,

a comunicação deve ser feita a um superior hierárquico ou ao presidente do órgão colegial. Se

isto não for feito qualquer interessado poderá requerer a declaração de que existe um

impedimento. Deve o órgão em causa suspender imediatamente a sua atividade até à decisão do

incidente.

Para efeitos de impedimento de intervenção em procedimento administrativo não releva a

pendência de ação de divórcio entre Joaquim Autarca Substituto e Maria Aguiar Rodrigues,

uma vezq ue nos termos do artigo 1789.º do Código Civil, este só produz efeitos a partir do

trânsito em julgado da sentença que o decrete. Para mais , advém do depoimento prestado por

Maria Aguiar Rodrigues, que a ação de divórcio não implicou uma efetiva rutura da vida

familiar, baseando-se, apenas, em razões de índole financeira, tendo, ainda, sido declarado que

Joaquim Autarca Substituto mantem uma relação próxima com Amador Aguiar Rodrigues.

Pelo decide o coletivo de tribunais pela existência do impedimento da alínea b) do úmero1 do

artigo 69º CPA, pelo que existe clara violação do princípio da imparcialidade como enunciado

supra.

Face ao princípio da igualdade, este está consagrado no artigo 13º e número 2 do artigo 266º

da CRP, na qual obriga a Administração Pública a tratar igualmente os cidadãos que se

encontram em situação objectivamente idêntica e desigualmente aqueles cuja situação for

objectivamente diversa. O disposto na alínea d) do número 1 do artigo 152º do CPA, tem o

objectivo de possibilitar a verificação do respeito por essa obrigação. Este princípio pressupõe

que todos os cidadãos são iguais perante a lei, sendo que a administração tem que observar esta

ideia de igualdade e os seus limites.

Esta igualdade também estará consagrada no facto da proibição de descriminação, sendo que

não pode existir diferenciação na análise e tratamento dos casos concretos. Caso exista violação

de algum destes casos, estamos perante uma violação do princípio da igualdade. Considera o

coletivo de juízes, que como ficou provado, existe uma aproximação dos Tuk Tuk à atividade

dos taxistas, em virtude de as suas atividades se inserirem no mesmo âmbito – o de transporte

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

18Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 19: sentença simulação

de pessoas. Este foi um facto provado na audiência de discussão e julgamento, pelo que será de

desconsiderar uma violação do princípio da igualdade.

O Princípio da Prossecução do Interesse Público está consagrado no número 1 do artigo 266º

CRP, e no artigo 4º CPA. O “interesse público” é o interesse colectivo, o interesse geral de uma

determinada comunidade, isto é o bem-comum.

A noção interesse público traduz uma exigência, a exigência de satisfação das necessidades

colectivas. Pode-se distinguir o interesse público primário que é aquele cuja definição compete

aos órgãos governativos do Estado, no desempenho das funções politicas e legislativas e dos

interesses públicos secundários que são aqueles cuja definição é feita pelo legislador, mas cuja

satisfação cabe à Administração Pública no desempenho da função administrativa.

Este princípio tem numerosas consequências práticas, em que as mais importantes são: i. só a lei

pode definir os interesses públicos a cargo da Administração: não pode ser a administração a

defini-los; ii. em todos os casos em que a lei não define de forma complexa e exaustiva o

interesse público, compete à Administração interpretá-lo, dentro dos limites em que o tenha

definido; iii. a noção de interesse público é uma noção de conteúdo variável; iv. não é possível

definir o interesse público de uma forma rígida e inflexível; v. definido o interesse público pela

lei, a sua prossecução pela Administração é obrigatória; vi. o interesse público delimita a

capacidade jurídica das pessoas colectivas públicas e a competência dos respectivos órgãos: é o

chamado princípio da especialidade, também aplicável a pessoas colectivas públicas.

Em especial, análise cabe a dimensão que a prossecução de interesses privados em vez de

interesse público, por parte de qualquer órgão ou agente administrativo no exercício das suas

funções, constitui corrupção e como tal acarreta todo um conjunto de sanções, quer

administrativas, quer penais, para quem assim proceder.

A obrigação de prosseguir o interesse público exige da Administração Pública que adopte em

relação a cada caso concreto as melhores soluções possíveis, do ponto de vista administrativo

(técnico e financeiro): é o chamado dever de boa administração.

Não foi violado o princípio da persecução do interesse público, pois o Presidente tentou dar

resposta às queixas dos moradores – provada a sua existência supra pelo depoimento do

Presidente da Junta de Freguesia de Castelinho - tentando encontrar uma solução que

consagrasse o interesse público, uma solução que fosse a melhor para se obter o bem comum –

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

19Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 20: sentença simulação

considerando os direitos de personalidade dos moradores. Sem mais considerações, esta será

analisada infra .

5. Colisão entre direitos de personalidade e o princípio da livre iniciativa

económica privada

O Despacho proferido pelo Presidente da Câmara coloca inevitavelmente, tendo em conta as

consequências do mesmo e factos invocados ao longo do processo, uma reflexão em relação aos

direitos de ambas as partes. Neste âmbito e ao abrigo do artigo 75º do CPTA , o presente

Tribunal invoca a verificação da existência de uma colisão de direitos nos termos do artigo 335º

do Código Civil (doravante CC) na medida em que o direito à liberdade de iniciativa privada,

previsto no número 1 do artigo 61º da CRP colide com direitos de personalidade dos moradores

previstos no artigo 70º CC e artigo 25º CRP. Os direitos de personalidade dos moradores que

aqui estão em causa consistem no direito ao repouso e à tranquilidade cuja violação ou não

cumpre analisar. O descanso e a tranquilidade são direitos fundamentais constitucionalmente

consagrados, que se inserem no direito à integridade física, preceituado no número 1 do artigo

25º da CRP e à qualidade de vida, como previsto no artigo 66º da CRP. Na lei ordinária o

direito de repouso é, ainda, um direito de personalidade que beneficia da tutela dos números 1 e

2 do artigo 70º do CC.7

Estes direitos são colocados em causa pelo ruído emitido pelos Tuk Tuk apresentando estes um

efeito nocivo na vida dos moradores das Freguesias em causa. Para fundamentar este

entendimento, o Tribunal teve em conta o testemunho do psiquiatra Teófilo Braga que

testemunhou acerca dos efeitos nocivos que quer os motores, quer o barulho e agitação

provocados pelas pessoas que pretendem usar os Tuk Tuk causam aos moradores.

A existência de uma relação conflituante entre direitos constitucionalmente garantidos – o

direito ao repouso e à tranquilidade, enquanto direito de personalidade – e o direito de livre

iniciativa económica – leva à necessidade de dirimir o conflito de direitos daí decorrente, de

acordo com o disposto no número 1 do artigo 335º CC, tendo em conta o princípio da

proporcionalidade previsto no artigo 18º CRP.

O direito ao desenvolvimento da personalidade de cada indivíduo é, no entanto, limitado pelos

direitos ao desenvolvimento da personalidade dos demais indivíduos da comunidade jurídica,

devendo os titulares desses direitos iguais ou da mesma espécie, em caso de concreta colisão,

ceder na medida do necessário para que todos esses direitos produzam igualmente o seu efeito,

sem maior detrimento para qualquer das partes - seguindo o entendimento do do número 2 do

artigo 335º CC.

7 acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra 2962/05

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

20Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 21: sentença simulação

Ficou estabelecido, tendo em conta as enumeras queixas que o Senhor José Pinto Barbosa tem

vindo a receber em relação ao ruído produzido pelos Tuk Tuk, a existência de ruído que viola

claramente o direito ao repouso dos moradores, pois é crucial relembrar que estas zonas, apesar

de serem altamente turísticas, são essencialmente residenciais. O presente Tribunal não

considera razoável exigir ao moradores que se desloquem para outras àreas residenciais com o

fim de verem acautelado o seu direito ao repouso, mas consideram já ser exigível que os Tuk

Tuk adotem métodos que diminuam drasticamente o ruído e os danos que provocam aos

moradores.

A restrição que advém do Despacho não parece pôr em causa o direito a livre iniciativa

económica uma vez que os Tuk Tuk podem desenvolver a sua atividade noutras zonas turísticas

e permite igualmente tutelar os direitos de personalidade dos moradores.

Logo, o Regulamento em causa apenas restringe o direito a livre iniciativa económica através de

uma ponderação de interesses nos termos do Princípio da proporcionalidade nas vertentes da

adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. Nomeadamente na vertente da

necessidade que exige a opção pela ação menos gravosa e menos lesiva para os interesses e

direitos dos particulares, o réu observou o estabelecido no número 2 do artigo 266º CRP e

número 2 do artigo 5º CPA. . Assim, o réu agiu em conformidade com os princípios da

proporcionalidade e da justiça.

6. Concorrência desleal entre os taxistas e as Associações de Empresários Tuk Tuk

O ato de concorrência é aquele que é idóneo a atribuir, em termos de clientela, posições

vantajosas no mercado. A concorrência não é susceptível de ser definida em abstracto e só pode

ser apreciada em concreto, pois o que interessa saber é se a atividade de um agente económico

atinge ou não a atividade de outro, através da disputa da mesma clientela. É, assim, possível que

duas empresas sejam concorrentes quanto a certos atos e não o sejam relativamente a outros atos

que praticam.

Do mesmo modo, duas empresas com atividades iguais podem não estar em concorrência se,

atuando apenas num âmbito local ou regional, a sua distância geográfica impede que disputem a

mesma clientela.

O conceito de concorrência é, pois, um conceito relativo, que não pode ser aprioristicamente

definido mas apenas casuisticamente apreciado, tendo em conta a atuação concreta dos diversos

agentes económicos e a realidade da vida económica atual.

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

21Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 22: sentença simulação

No próprio conceito de ato de concorrência está ínsita a sua susceptibilidade de causar prejuízos

a terceiros, ainda que tais prejuízos possam efetivamente não ocorrer. Com efeito, a conquista

de posições vantajosas no mercado é feita em detrimento dos outros agentes económicos que

nele atuam e cuja clientela, atual ou potencial, é disputada. Deste modo, o ato de concorrência,

para verdadeiramente o ser, tem como seu elemento o perigo de dano, ou seja, a sua idoneidade

ou aptidão para provocar danos a terceiros.

Os requisitos da concorrência desleal, portanto, são: i. existência de um ato de concorrência; ii.

esse ato tem que ser um ato contrário às normas e usos honestos, de qualquer ramo de atividade;

iii. terá o autor que atuar com intenção de causar prejuízo a alguém ou para si ou para terceiro,

ou um beneficio ilegítimo, exigindo-se aqui um dolo alternativo.

Dos requisitos objectivos da concorrência desleal, interessa identificar quais os sujeitos, ativo e

passivo, do ato de concorrência desleal, ou seja, quem pode ser o agente ou autor do ato e qual o

concorrente atingido pelo ato praticado.

Como resulta claramente do artigo 331.° do Código de Propriedade intelectual o sujeito ativo

pode ser uma pessoa singular ou colectiva. Deve ser um agente económico atuando no mercado

e, em princípio, será um empresário, embora esta qualidade não seja requisito indispensável.

Os taxistas invocam que existe uma concorrência desleal por parte dos Tuk Tuk, na medida em

que a regulação das tarifas de preços não estão sujeitos à fiscalização por parte da autoridade

competente, podendo os Tuk Tuk praticar preços mais baixos. Ora, primariamente, e perante o

exposto, disputam os taxistas e os tuk tuk a mesma clientela, aquando do transporte de turistas.

Este facto já provado supra não consubstancia toda a atividade dos taxistas, porém

consubstancia parte dela. Secundariamente, o prejuízo subjacente a esta conduta estaria na

possibilidade de os tuk tuk poderem acordar um preço consoante as necessidades do seu cliente,

facto este impossível de praticar pelos taxistas devido à sua extrema regulamentação.

Esta análise incorre, uma vez no caso sub judice ambos partilham do mesmo âmbito local, pelo

poderia esta originar responsabilidade civil extra-obrigacional, desde que estejam reunidos os

pressupostos exigidos pelo artigo 483.° do Código Civil, a saber: o ato ilícito; o dolo ou a mera

culpa; o dano; e o nexo de causalidade entre o ato ilícito e o dano. A correspondente ação de

indemnização pode ser intentada apenas pelo concorrente ou concorrentes que tiverem sido

efetivamente lesados com o ato de concorrência desleal praticado – in casu a Associação de

Taxistas.

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

22Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 23: sentença simulação

Porém, não fazendo a Associação de Taxistas qualquer pedido reconvencional assente neste

propósito, considera o coletivo de juízes não ser da competência do presente tribunal analisar a

presente questão.

7. Resposabilidade Civil Extracontratual do Estado e das demais pessoas coletivas

de direito público

A responsabilidade civil extracontratual do Estado e das demais pessoas colectivas de direito

público por danos resultantes do exercício da função legislativa, jurisdicional e administrativa

encontra-se prevista na lei 67/2007, de 31 de Dezembro.

À luz do número 1 do artigo 1º da referida lei, correspondem ao exercício da função

administrativa as ações e omissões adoptadas no exercício de prerrogativas de poder público ou

reguladas por disposições ou princípios de direito administrativo.

O exercício de prerrogativas de poder público e a sujeição a um regime de direito administrativo

são dois dos indicadores através dos quais é possível caracterizar a atividade administrativa. A

atribuição de poderes de autoridade a uma entidade pública resulta da lei, traduzindo-se esses

poderes de autoridade na faculdade de essa entidade, de modo unilateral, editar normas

jurídicas, produzir efeitos com repercussão imediata na esfera jurídica de terceiros e utilizar, se

necessário, meios coercivos para executar as suas decisões.

Nos termos do número 3 do artigo 1º da Lei número 67/2007, o regime da responsabilidade civil

extracontratual do Estado e demais Entidades Públicas regula a responsabilidade civil dos

titulares de órgãos, por danos decorrentes de ações ou omissões adotadas no exercício da função

administrativa e por causa desse exercício.

No presente caso, podemos considerar o ato do Presidente da Câmara como ilícito, à luz do

número 1 do artigo 7º da mesma lei, pelo enunciado supra no presente corpo ditado pelo

coletivo de juízes. Para mais, pela: i. incompetência relativa; ii. violação do princípio da

imparcialidade. Sendo o Presidente exclusivamente responsável pelos danos causados pela sua

ação ilícita, agiu com culpa leve. A existência de culpa leve presume-se na prática de atos

ilícitos, dispõe o número 2 do artigo 10º da Lei 67/2007.

Tendo por base o número 1 do artigo 564º do Código Civil (CC), aplicável por força do número

3 do artigo 3º da Lei 67/2007, o dever de indemnizar compreende não só o prejuízo causado,

como os benefícios que o lesado deixou de obter em consequência da lesão. Assim, temos

presente um caso de lucros cessantes, na medida em que houve uma frustração de ganhos, pelo

facto de, em consequência da emissão do regulamento, as Associações de empresários Tuk Tuk

deixaram de obter grande parte do lucro que obtinham aquando da circulação dos Tuk Tuk nas

zonas agora proibidas.

Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa

23Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

Page 24: sentença simulação

Posto isto, e tendo em conta o artigo 563º do Código Civil, a obrigação de indemnizar só existe

em relação aos danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se a lesão não tivesse

ocorrido. Neste sentido tem de haver um nexo de causalidade entre o ato ilícito e o dano.     

Considerando que o regulamento proibiu a circulação dos Tuk Tuk nas zonas mais turísticas de

Capital, sendo, essencialmente, nestas que as Associações de Empresários Tuk Tuk

desenvolviam a sua atividade, há um nexo causal entre a emissão do regulamento e a perda de

receitas por parte destas. Ao analisarmos o regulamento proferido pela Câmara Municipal de

Capital, concluímos pela sua ilegalidade (em que de seguida vamos tirar as devidas ilações),

sendo que podemos dirigi-la para a verificação do pressuposto da ilicitude e do facto típico.

A indemnização em dinheiro tem como medida a diferença entre a situação patrimonial do

lesado, na data mais recente que puder ser atendida pelo tribunal, e a que teria nessa data se não

existisse os danos, ex vi número 2 do artigo 565º CC. Estará aqui em causa a teoria da

diferença existente entra a situação real e a situação atual hipotética do património do lesado.

Estando, portanto, verificados todos os pressupostos da responsabilidade civil extracontratual do

Estado – Câmara Municipal.

Porém, os Autores nas demais Petições Iniciais não incorrem o pedido de responsabilidade

Civil. Para mais, ainda que fazendo referência a esta no corpo de direito, não consubstanciam,

posteriormente, o devido pedido. Apenas pediram os Autores condenar o Réu ao

restabelecimento da situação que existiria se a norma regulamentar não tivesse sido emitida, não

sendo este o correto pedido de indemnização por responsabilidade civil extracontratual.

8. Fundamentação

Concorda o coletivo de juízes com o exposto pelo Ministério Público, pelo que passando a citá-lo: (...)

“Apesar de in casu não estarmos perante um ato administrativo, mas sim perante um regulamento

[(um despacho é um regulamento administrativo, uma vez que comporta é uma norma geral e

abstrata que, no exercício de poderes jurídico-administrativos, visa produzir efeitos jurídicos

externos (135 CPA)], esta forma de atuação administrativa deve ser igualmente fundamentada.

Fundamentar é enunciar explicitamente as razões ou motivos que conduziram o órgão

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administrativo à prática de determinado ato, ato este que deverá conter expressamente os

fundamentos de facto e de direito em que assenta a decisão sem que a exposição dos

fundamentos de facto tenha de ser prolixa. (AcórdãoTCA Norte de 25/05/2012, processo nº

00730/10.9BECBR). À luz do art. 99 CPA, os regulamentos devem ser aprovados com base

num projeto, e este deve ser acompanhado uma nota justificativa devidamente fundamentada.

Esta fundamentação apesar de não exigir a profundidade da fundamentação requerida para

um ato administrativo (que deves er sucinta, clara, congruente, suficiente e acessível como se

infere duma leitura exegética do art. 153 CPA) deve existir e cumprir grosso modo as mesmas

exigências do art. 153,aplicado analogicamente. Não foi justificado pelo Presidente da Câmara

Municipal de Capital o interesse que subjaz à emanação do despacho, sendo de qualificar como

insuficiente o facto de se considerar “insuportável” o ruído. Deverá a decisão ser balizada

por critérios técnicos, designadamente atentos os índices de decibéis permitidos no

Regulamento Geral do Ruído (RGR), aprovado pelo DL 292/2000, para zonas habitacionais.

Não basta um mero juízo discricionário do Presidente da Câmara, deverá ser elaborado um

plano municipal de redução do ruído (art. 8 do RGR) e identificar as áreas onde é necessário

reduzir o ruído ambiente exterior (art. 9/a RGR).”

(...)

Considerando o coletivo de juízes pela não correta fundamentação base para o proferimento

do devido Despacho.

9. Pagamento das Custas

Será da alçada da parte vencida no litígio o pagamento das custas processuais, segundo os

números 1 e 2 do artigo 527º CPC.

Ao caso sub judice será de aplicar o regulamento das custas processuais – Decreto-Lei 34/2008

– aplicável por força do seu artigo 2º. De referir, que nenhuma das partes do processo em

análise está abrangida pela isenção do artigo 4º, pelo que, também, não tendo sido requerida a

mesma não importa aqui analisar.

Encontram-se abrangidas por estas a taxa de justiça, os encargos e as custas de parte.

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25Processo nº 150/15.9Y5LNB.N1

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B. DECISÃO

Nos demais termos, considerando que:

i. o Despacho 123/P/2015 padece de incompetência relativa;

ii. não foi violado o princípio da igualdade, nem o princípio da participação, nem o

princípio da prossecução do interesse público;

iii. foi violado o princípio da imparcialidade;

iv. terá sido dada prevalência aos direitos de personalidade dos moradores.

v. incorre a administração no dever de indemnizar a título de responsabilidade civil

extracontratual

    Acordam os Juízes da 1.ª Secção de Contencioso Administrativo em julgar a ação procedente

e, nos termos dos artigos 72.º e 73.º do CPTA, declarar a ilegalidade do Despacho em causa

com força obrigatória geral.

Acordam os Juízes da 1.ª Secção de Contencioso Administrativo em julgar procedente o

pedido de condenação do réu no pagamento das custas.

3. Valor da CausaArrolado pelas Petições Iniciais e demais Contestações está o valor de 30.000,01 € - trinta mil

euros e um cêntimo. Montante este baseado nos números 1 e 2 do artigo 34º do CPTA, da alínea

h) do número 2 do artigo 78º do CPTA, do número 4 do artigo 6º do ETAF, do número 1 do

artigo 44º da Lei 62/2003 de 26 de Agosto.

O valor da causa representa, assim, a utilidade económica do pedido e é de conhecimento

oficioso pelo tribunal, ainda que tenham as partes de o indicar na petição inicial como o exposto

supra, tendo especial relevância para a determinação da admissibilidade do recurso da decisão

final.

Os Juízes de Direito

João Barão

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Marta Pires

Nicolle Barbetti

Patrícia Gonçalves

Ricardo Stoffel Costa

Sara Aguiar

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