SEP_90.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    1/382

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    2/382

    SrieEstudose

    Pesquisas

    90

    S A L V A D O R 2 0 1 1

    EM ASSOCIAO DASAMRICAS, AS ESTATSTICAS

    PBLICAS COMO OBJETODE ESTUDO

    Cesar Vaz de Carvalho Junior, Edmundo S Figueira,Nelson de Castro Senra, Hernn Gonzlez Bollo(orgs.)

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    3/382

    Governo da Bahia

    Governo do Estado da BahiaJaques Wagner

    Secretaria do PlanejamentoZezu Ribeiro

    Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da BahiaJos Geraldo dos Reis Santos

    Diretoria de EstudosEdgard Porto

    Ficha Tcnica

    OrganizadoresCesar Vaz de Carvalho JuniorEdmundo S FigueiraNelson de Castro SenraHernn Gonzlez Bollo

    Coordenao de Biblioteca e DocumentaoNormalizaoRaimundo Pereira Santos

    Coordenao de Disseminao de InformaesAna Paula Porto

    Editoria-geralElisabete Cristina Teixeira Barretto

    RevisoLuis Fernando Sarno (Linguagem)

    Aline Santana, Diana Chagas (Padronizao e Estilo)

    Editoria de ArteNando Cordeiro

    Design GrficoElisabete Cristina Teixeira Barretto

    Julio Vilela

    EditoraoAgap Design

    ProduoRenata Santos

    Av. Luiz Viana Filho, 435, 2 andar CAB CEP 41750-002 Salvador BahiaTel.: (71) 3315-4822 / 3115-4707 Fax: (71) 3116-1781

    www.sei.ba.gov.br [email protected]

    Em associao das Amricas, as estatsticas pblicas como objeto de estudo. /Csar Vaz de Carvalho Junior et al. Salvador: SEI, 2011.

    250 p. il. (Srie estudos e pesquisas, 90).

    ISBN 978-85-85976-94-1

    1. Estatsticas pblicas. I. Carvalho Jnior, Csar Vaz de. II. Figueiroa,Edmundo de S. III. Senra, Nelson de Castro. IV. Bollo Gonzlez, Hernn.

    V. Srie

    CDU 311.3 (81)

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    4/382

    Blaise

    Pasca

    l,autorannimo,

    sc.

    XVII

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    5/382

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    6/382

    11 POR UMA ASSOCIAO DE PESQUISADORES

    12 UM BALANO BASTANTE PARCIAL ARGENTINO E MEXICANO 13 UM BALANO MENOS PARCIAL BRASILEIRO PIONEIRISMO DO IBGE

    17 DOIS SEMINRIOS INTERNACIONAIS 2009 E 2010

    18 A ESTRUTURA DA PUBLICAO

    18 BIBLIOGRAFIA

    21 NOTA

    23 1aSEOSISTEMAS E INSTITUIES ESTATSTICAS: AUTONOMIA, SUFICINCIA EATUALIDADE

    25 LA TRANS FORMATION DU TRAVAIL STATISTIQUE ET LMERGENCE DUNE

    SOCIOHISTOIRE DE LA STATISTIQUEJean-Pierre Beaud

    25 LE RGIME STATISTIQUE

    28 LA SOCIOHISTOIRE DE LA STATISTIQUE

    31 ESQUISSE DE COMPARAISON ENTRE LES PRINCIPES DE LA SOCIOHISTOIRE DE LA STATISTIQUE ET LEDISCOURS ET LA PRATIQUE DES BUREAUX DE CHIFFRES

    33 BIBLIOGRAPHIE

    35 A TRANSFORMAO DO TRABALHO ESTATSTICO E A EMERGNCIA DE UMA SCIOHISTRIA DAESTATSTICA

    45 TRANSFORMAES ESTRUTURAIS E SISTEMAS ESTATSTICOS NACIONAIS:

    REFLEXES A PARTIR DA CRISE FINANCEIRA INTERNACIONALCarmem FeijElvio ValentePaulo Gonzaga M. de Carvalho

    46 BREVE HISTRICO SOBRE LEVANTAMENTO ESTATSTICO NO BRASIL

    49 A CRISE ECONMICA E A DEMANDA POR ESTATSTICAS CONJUNTURAIS 50 Conceito de normalidade e a hiptese da zona de estabilidade para ajudar a entender

    contextos de crise

    52 OBSERVAO FINAL

    53 REFERNCIAS

    55 AS INSTITUIES PBLICAS ESTADUAIS BRASILEIRAS VOLTADAS PARA A PRODUOE DISSEMINAO DE ESTATSTICAS PBLICAS, ESTUDOS E PESQUISAS EPLANEJAMENTO, E OS DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADECesar Vaz de CarvalhoEdmundo S Barreto Figueira

    57 UMA NOVA ORDEM E O IMPERATIVO DE UM NOVO SISTEMA DE PRODUO DAS ESTATSTICASPBLICAS E DOS ESTUDOS E PESQUISAS: A ANIPES E O SEU PLANEJAMENTO ESTRATGICO

    60 A ANIPES E O SEU PLANEJAMENTO ESTRATGICO

    63 A PESQUISA REALIZADA PELA ANIPES

    63 SNTESE DO RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA PELA ANIPES

    64 CONSIDERAES FINAIS

    67 REFERNCIAS

    SUMRIO

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    7/382

    69 REFLEXIONES SOBRE LA PRODUCCIN DE DATOS SOCIODEMOGRFICOSEN LA ARGENTINA DE LOS 2000Alicia Gmez

    Gladys MassMara Fernanda Olmos

    70 LA NOCIN DE REALIDAD DE L A CUAL PARTIMOS

    72 ACERCA DEL MARCO NORMATIVO JURD ICO LEGA L VIGEN TE EN LA ARGEN TINA DEL 2000 73 a) Relaciones con los usuarios gubernamentales y no gubernamentales 73 b) Aplicacin de metodologas y procedimientos

    74 c) Difusin e impacto de sus resultados

    74 CARACTERSTICAS DEL SISTEMA ESTADSTICO NACIONAL EN LA ARGENTINADEL 2000

    76 PRODUCCIN DE INFORMACIN ESTADSTICA SOCIODEMOGRFICA A PARTIR DE LAFUENTE CENSAL

    77 a) Conservacin de la forma de indagacin histrica bsica

    78 b) Nuevas temticas. Metodologa alternativa 79 c) Desarrollos metodolgicos de informacin censal. La medicin de la pobreza

    80 A MANER A DE REF LEXIN Y CONCLUSIN

    80 BIBLIOGRAFA

    82 FUENTES

    83 2aSEOSISTEMAS E INSTITUIES ESTATSTICAS: PRTICAS E BUROCRACIASESPECIALIZADAS

    85 A COMISSO DE ESTATSTICA GEOGRFICA E NATURAL, POLTICA E CIVIL DA CORTE

    18291831Rafael de Almeida Daltro Bosisio

    86 O PRIMEIRO REINADO E AS ESTATSTICAS

    93 CONSIDERAES FINAIS

    94 REFERNCIAS

    97 O POVO SEM SENSO? EM ARMAS CONTRA MEDIDAS RACIONAIS DO GOVERNOIMPERIAL BRASILEIRO 18511852Nelson de Castro Senra

    97 TERRA FRTIL S REVOLTAS

    102 O GABINETE E AS REFORMAS

    106 a) O censo geral108 b) O registro civil

    109 REPDIO DA POPULAO112 a) 1 explicao: ltima batalha da Praieira115 b) 2 explicao: atuao de bandidos116 c) 3 explicao: revolta dos vigrios

    117 OS MISSIONRIOS CAPUCHINHOS

    119 ECOS NOUTRAS PROVNCIAS

    120 POVO SEM SENSO? NO, MAS O PAS FICA SEM CENSO

    121 O QUE VEM DEPOIS?

    126 REFERNCIAS

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    8/382

    129 A JUSTA MEDIDAMara Vernica Secreto

    129 A SUBJETIVIDADE DAS MEDIDAS

    130 O SIGNIFICADO DA PADRONIZAO

    131 SECOS E MOLHADOS

    136 O DIFCIL PROCESSO DE UNIFICAR AS MEDIDAS NO BRASIL

    140 O NORDESTE E AS MEDIDAS

    141 SEM TER O QUE QUEBRAR

    145 OUTRA MEDIDA INJUSTA: OS IMPOSTOS

    148 REFERNCIAS

    151 ESTATSTICAS E URBANISMO OS IRMOS ANDRADA E OS CLCULOS PARAUMA NOVA CAPITAL PARA O IMPRIO DO BRASILMargareth da Silva PereiraMrio Luis Carneiro Pinto de Magalhes

    151 HERANAS E ORIGINALIDADES NA PRTICA DE UM SABER TRANSVERSAL

    155 COMPARANDO POVOAES E CIDADES

    157 A EXPERINCIA DAS MINAS E DE SEUS SERTES NO SC XVIII E XIX AS CONTRIBUIES PARA UMOUTRO ESQUADRINHAMENTO DO TERRITRIO

    160 DE UMA ARITMTICA A UM CLCULO COMPLEXO A TRANSIO DE UMA ARITMTICA POLTICAPARA UMA ECONOMIA MORAL

    162 JOS BONIFCIO LEITOR DE JEREMY BENTHAM O UTILITARISMO, ENTRE A MORAL E A ESTTICA

    164 REFERNCIAS

    167 TENTATIVAS DE ORDENAMENTO DA ESTATSTICA MINEIRA NO SCULO XIX:

    OS DADOS EDUCACIONAIS E AS LISTAS NOMINATIVASSandra Caldeira

    168 SILVA PINTO E AS RELAES ENTRE ESTATSTICA E EDUCAO

    170 A DINMICA DA POPULAO NAS LISTAS NOMINATIVAS

    175 VNCULOS ENTRE OS DADOS EDUCACIONAIS E A CONTAGEM POPULACIONAL

    179 CONSIDERAES FINAIS

    179 REFERNCIAS

    183 LAS ESTADSTICAS PBLICAS EN LA ARGENTINA DE ENTREGUERRAS. AGENCIAS, ACTORES YPROGRAMAS DE RECUENTOClaudia Daniel

    184 LA CUESTIN SOCIAL TRADUCIDA EN CIFRAS

    190 MEDIR LA RIQUEZA AGROPECUARIA. RACIONALIZACIN Y POLMICA

    194 LA GRILLA ESTADSTICA DE LA ARGENTINA FABRIL

    199 REFLEXIONES FINALES

    201 BIBLIOGRAFA

    205 LA DIRECCIN NACIONAL DE INVESTIGACIONES, ESTADSTICA Y CENSOS YEL ESTADO PERONISTA 19461949Hernn Gonzlez Bollo

    207 LA CENTRALIZACIN EJECUTIVA Y METODOLGICA PERONISTA

    213 EL CUARTO CENSO GENERAL DE LA NACIN, IMPORTANCIA POLTICA E IMPACTO SOCIAL

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    9/382

    217 LA DNIEC Y EL PRIMER PLAN QUINQUENAL

    220 CONCLUSIN

    221 BIBLIOGRAFA

    225 3aSEOESTATSTICAS NA CONFIGURAO DOS IMAGINRIOS:ABORDAGENS HISTRICAS

    227 LAS ESTADSTICAS DE CRIMINALIDAD EN MXICO EN EL SIGLO XIX YEL IMAGINARIO NACIONALLeticia Mayer

    228 LA ESTADSTICA Y EL DETERMINISMO SOCIAL

    228 LA ESTADSTICA COMO CONOCIMIENTO UTILITARIO

    229 LA ESTADSTICA Y EL CONTROL DE LA DESVIACIN DE LA NORMA MORAL

    230 LA ESTADSTICA COMO TEXTO C ULTURAL231 EL MEXICANO COMO HOMBRE TIPO

    238 CONCLUSIONES: ESTADSTICA, CRIMINALIDAD Y DETERMINISMO

    240 BIBLIOGRAFA

    243 EL PENSAMIENTO ESTADSTICO, UN INSTRUMENTO DE MEDICIN EN MXICO EN EL SIGLO XIXAna Mara Medeles Hernndez

    243 LA ESTADSTICA, SABERES Y PRCTICAS

    244 EL PENSAMIENTO ESTADSTICO

    246 LA ESTADSTICA COMO INSTRUMENTO DE REPRESENTACIN NACIONAL

    247 LOS NUEVOS OBJETOS SOCIALES

    249 LAS ESTADSTICAS NACIONALES: RIQUEZA PBLICA

    251 LA ASPIRACIN NACIONAL: CIFRAS Y DATOS, UN ACERCAMIENTO

    254 BIBLIOGRAFA

    255 OTROS

    257 A DEMOGRAFIA NO DISCURSO MDICOHIGIENISTA: UM ESTUDO BASEADO NOBRAZILMDICO 18871900

    Alexandre de Paiva Rio Camargo

    260 O BRAZILMDICOE A RENOVAO INSTITUCIONAL E CONCEITUAL DA SADE PBLICA

    266 ESTATSTICAS NO BRAZILMDICO, 18871900 I: ENTRE ESTRATGIAS EDITORIAIS E SOCIABILIDADESPROFISSIONAIS

    272 ESTATSTICAS NO BRAZILMDICO, 18871900 II: A EMERGNCIA DE UM ESTILO DE PENSAMENTO

    280 CONSIDERAES FINAIS

    281 REFERNCIAS

    283 MEDINDO O CRIME: UMA ANLISE DA PRODUO DAS ESTATSTICASCRIMINAIS NO BRASILHerberth Duarte dos SantosMarcelo Brice Assis Noronha

    283 O CRIME COMO FATO SOCIAL

    286 A RELAO ESTADO VISVIS ESTATSTICA

    287 A PRODUO DE ESTATSTICAS CRIMINAIS BRASIL

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    10/382

    9

    293 CONSIDERAES FINAIS

    294 REFERNCIAS

    297 CONSIDERAES SOBRE A LEGITIMIDADE DAS ESTATSTICAS DE EDUCAO NO BRASIL18711940Natlia de Lacerda Gil

    298 LEGITIMIDADE E INTELIGIBILIDADE DAS ESTATSTICAS OFICIAIS

    300 OBJETIVIDADE DOS NMEROS E POLTICA EDUCACIONAL

    303 EXATIDO, ESCOLHAS E LACUNAS

    309 REFERNCIAS

    311 CARTOGRAFIA E ESTATSTICA EM MINAS GERAIS NOS ANOS 1920:A ATUAO DE TEIXEIRA DE FREITASMaria do Carmo Andrade Gomes

    311 O CENTENRIO DA INDEPENDNCIA: CARTOGRAFIA E ESTATSTICA NA DIMENSO MONUMENTAL

    312 A COMISSO MINEIRA DO CENTENRIO E SEU PROGRAMA CARTOGRFICO E ESTATSTICO

    322 O ATLAS COROGRFICO MUNICIPAL: PEQUENAS CRNICAS DA CIVILIZAO E DO PROGRESSO

    324 REFERNCIAS

    327 4aSEOESTATSTICAS NA CONFIGURAO DOS IMAGINRIOS:APROPRIAES ATUALIZADAS

    329 ESTATSTICA E EDUCAO NO BRASIL: ESTATSTICAS ESCOLARES EPADRONIZAO DE TESTES EDUCACIONAISOdair Sass

    330 ESTATSTICA, EDUCAO E ESTADO NO BRASIL

    339 MENSURAO PSICOLGICA, ESTATSTICA E EDUCAO

    344 CONSIDERAES FINAIS

    345 REFERNCIAS

    347 NUEVAS FORMAS DE VIGILANCIA POBLACIONAL. EL PAPEL DE LOSSISTEMAS DE INFORMACINLaura Vecinday

    348 SISTEMAS DE INFORMACIN Y NUEVAS FORMAS DE VIGILANCIA POBLACIONAL: EL CASO DEL SISTEMA DEINFORMACIN PARA LA INFANCIA

    358 REFLEXIONES FINALES?

    359 BIBLIOGRAFA

    361 SISTEMA ESTADSTICO PARA EL SEGUIMIENTO DE POLTICAS DE POSGRADO. EXPERIENCIASEN LA UNIVERSIDAD NACIONAL DE CRDOBA, ARGENTINA

    Ana BaruzziMnica BalzariniAlicia MaccagnoCristina SomazziNicols EsbryHebe Goldenhersch

    361 FORMACIN PARA INVESTIGACIN

    363 INDICADORES363 Formacin de recursos humanos de posgrado367 Docentes con posgrado, produccin en investigacin y nuevo capital humano

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    11/382

    371 AGRADEC IMIENTOS

    371 BIBLIOGRAFA

    373 POLTICA PBLICA E EDUCAO: O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR NA BAHIAMaria Raidalva Nery Barreto

    374 TRAJETRIA DA EDUCAO SUPERIOR NO BRASIL

    375 O ENSINO SUPERIOR SEGUNDO AS CONCEPES DA UNESCO E DO BANCO MUNDIAL

    377 O PROJETO FAZ UNIVERSITRIO

    380 CONSIDERAES FINAIS

    380 REFERNCIAS

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    12/382

    11

    POR UMA ASSOCIAO DE PESQUISADORES

    As informaes estatsticas so bastante especiais. Por elas, mundos ausentes e distantes so

    tornados presentes e prximos, dessa forma sendo tornados conhecidos, e, por isso, pens-

    veis para neles se atuar. Em poucas tabelas, grficos e cartogramas, esses mundos, expressos

    em nmeros, so postos frente dos decisores (pblicos ou privados), tornando objetivas

    suas decises. Polticas pblicas so geradas, e depois de aplicadas, por nmeros internos,

    so devidamente monitoradas; por outro lado, acadmicos as utilizam em suas pesquisas,

    validando ou negando suas hipteses de interpretao das realidades complexas. Em suma,

    nessa linha clssica de utilizao das informaes estatsticas, elas so vistas como meios deanlise; no meios quaisquer, mas meios objetivos, racionais, e por isso mesmo especiais e

    superiores. Impossvel no desej-las, como forma de saber e como fonte de poder, ou, de

    outra forma, como tecnologias de distncia e de governo.

    Para podermos prosseguir com segurana, preciso deixar claro que as informaes estatsticas

    no so as realidades,per se, mas construes das realidades. No quaisquer construes, em

    que se veja o que se quer ver, em aes dominadas por ideologias, mas, sim, em que se veja

    o que se pode ver, no amparo das cincias (ou dos consensos cientficos em comunidades

    de pesquisadores) e dos modernos processos de pesquisa, tudo, sob rigoroso controle dos

    usurios, em particular dos especialistas. Assim, no so os mundos, per se, que so postos

    em nmeros, mas suas imagens possveis, por seleo de variveis, ou, melhor dizendo, por

    seus aspectos relevantes devidamente quantificveis. Ao fim desse processo, as informaes

    estatsticas organizam os mundos sociais, dessa forma, se fazendo, tambm, tecnologias de

    subjetivao, em que o um se olha no outro. As individualidades, incontrolveis e imperce-

    bveis, so transformadas em individualizaes.

    Pois esses processos de construo, a cada tempo, so perscrutados atentamente pelos

    formuladores de polticas pblicas e pelos pesquisadores acadmicos, certificando-se de

    suas isenes cientficas, da desejada e desejvel ausncia de vontades polticas e mesmo

    pessoais. Quer-se processos produtivos tcnico-cientficos, tendo as instituies estatsticas

    produtoras se aplicado com iseno, em completa autonomia e independncia. Ento, no

    se usa, simplesmente, as informaes estatsticas; s se as usa, bem, com pleno domnio dos

    processos produtivos praticados; a intimidade das estatsticas produzidas nas instituies

    estatsticas (em suma, a atividade estatstica) desnudada pelos especialistas. Para alm

    dessa vistoria utilitria, pragmtica, possvel aprofund-la, numa dimenso scio-histrica,

    configurando, assim, uma sociologia das estatsticas. Ento, para alm de serem vistas como

    meios de anlise, elas so, agora, tomadas como objeto de estudo.

    Essa segunda vertente tom-las como objeto de estudo surge h pouco tempo. Um dos

    estudos mais antigos ter sido o do economista Oskar Morgenstern, na dcada de sessenta,

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    13/382

    12

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    olhando a produo das estatsticas econmicas americanas1. Passa o tempo, e na dcada de

    oitenta, o tema vir, de novo, tona em um seminrio, seguido de excelente publicao, pelas

    mos de Willian Alonso e Paul Starr (este, em texto lapidar lanar a expresso sociologia daestatstica, como a expresso do que se iniciava a elaborar).

    Logo viro outros nomes, numa sucesso crescente de publicaes: Alain Desrosires, Colin Gordon,

    Darrel Huff, Donald Mackenzie, Edward Tufte, Ferreira da Cunha, Franois Fourquet, Ian Hacking,

    Margo Anderson, Mary Morgan, Nikolas Rose, Stephen Stigler, Theodore Porter, entre vrios outros.

    No Canad francs essencial lembrar dois nomes: Jean-Pierre Beaud2e Jean-Guy Prvost.

    E h os, por assim dizer, formuladores de molduras tericas, que no so estudiosos da esta-

    tstica, propriamente, como Anthony Giddens, Bruno Latour, Howard Becker, Michel Foucault,

    Norbert Elias, Pierre Bourdieu (e, de certa forma, Ian Hacking), entre outros poucos. E h osautores de artigos-chaves, como Ivan Fellegi, Jean-Louis Besson, Jean Penneff, Norman Bra-

    dburn, Peter Miller, Willian Seltzer, entre outros.

    J nas Amricas espanhola e portuguesa, estudos s emergem nas dcadas de noventa, e na

    primeira do sculo XXI. Embora j se consiga elaborar um primeiro balano dessas obras, e de

    seus autores, tudo ainda muito inicial, demasiado incompleto, e o que ser visto adiante, para

    a Argentina, o Mxico e o Brasil. Mas, somado ao Canad francs, j h novos avanos, expressos

    em dois seminrios internacionais, como veremos no decorrer desta introduo. E do segundo

    desses encontros saram os textos que compem esta publicao, dos quais logo se dar uma

    breve sntese, bem assim, dele saiu a ideia de criao de uma Associao das Amricas para a

    Histria da Estatstica e do Clculo das Probabilidades(por ousada sugesto de Jean-Pierre Beaud).

    UM BALANO BASTANTE PARCIAL ARGENTINO E MEXICANO3

    Na Argentina destaca-se Hernn Otero4, com realce especial para Estadstica y Nacin. Una Historia

    Conceptual del Pensamiento Censal de la Argentina Moderna, 1869-1914(de 2006). Dois outros nomes

    lhe seguem: Hernn Gonzlez Bollo e Claudia Daniel, cujas teses doutorais so destacveis, res-

    1 Para maior leveza, os livros dos autores-chaves sero referenciados apenas ao final do texto (contudo, alguns teroseus ttulos antecipados na argumentao, para maior nfase do exposto). Sempre que possvel as referncias serodas edies originais, havidas no exterior; quando no possvel, iro as referncias brasileiras, nestes casos, dandoentre colchetes as datas das edies originais. Outros livros, mais pontuais, sero referenciados no prprio texto,no indo para a bibliografia ao final. As teses doutorais e as dissertaes de mestrado, tambm por leveza, notero referncia completa, nem ao longo nem ao final do texto, sendo fcil obt-las na Internet. Por fim, no haverindicaes bibliogrficas de artigos, a menos dos de Paul Starr, por seu carter fundador, e os de Ivan Fellegi por seremformadores das mentalidades mais atuais.

    2 Uma sua trajetria, e bibliografia, por ele mesmo, so reveladas na entrevista concedida a Hernn Otero, e podem servistas em SENRA & CAMARGO (2010, p. 399-413). Merece destaque, Lre du Chiffre. Systmes Statistiques et TraditionsNationales, organizado em parceria com Jean-Guy Prevost, de 2000.

    3 Este balano, por razes bvias, ser menos longo que o balano da produo brasileira. No vai a nenhuma afirmaode superioridade brasileira, longe disso, mas apenas de ainda no se ter conseguido avanar no conhecimento dasrealidades dos outros pases. (Nesse balano, ainda por demais parcial, a ajuda de Hernn Gonzlez Bollo foi vital).

    4 Uma sua trajetria, e bibliografia, por ele mesmo, so reveladas na entrevista concedida a Nelson Senra e a Alexandre

    Camargo, e podem ser vistas em SENRA & CAMARGO (2010, p. 377-397).

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    14/382

    13

    PORUMAASSOCIAODEPESQUISADORESINTRODUO

    pectivamente: La Estadstica Pblica y la Expansin del Estado Argentino: una Historia Social y Poltica

    de una Burocracia Especializada, 1869-1947(de 2007), e La Sociedad (des)Cifrada. Configuraciones del

    Discurso Estadstico en Argentina (1890-1945)(de 2010)5. E deve haver outros nomes6.

    Recentemente, diante da crise por que passa o INDEC (Instituto Nacional de Estadstica y Censos),

    em que suas credibilidade e legitimidade foram postas em causa, dois livros foram editados: um, de

    Gustavo Noriega, INDEC Histria ntima de una Estafa (Destruccin)(Buenos Aires: Sudamericana,

    2010); outro, de Francisco Jueguen e Lucrecia Bullrich, INDEC Una Destruccin con el Sello de los

    Kirchner(Buenos Aires: Edhasa, 2010). Naturalmente, no temos condies de julgamento minucioso

    (e imparcial) do ocorrido, mas, no obstante, so livros que importam, e merecem referncia, por

    terem olhado uma instituio estatstica (se o fizeram com iseno, no nos cabe julgar).

    No Mxico destaca-se Letcia Mayer Cellis, com especial destaque para El Infierno de unaRealidad y el Cielo de un Imaginrio. Estadstica y Comunidad Cientfica en el Mxico de la Mitad

    del Siglo XIX(de 1999). Outro nome de realce Laura Chzaro, valendo destacar sua tese

    doutoral, Ensayo de una Nacin: Estadsticas Mdicas a Fines del Siglo XIX(de 2000). A esses

    nomes se somou (para ns, recentemente) Ana Maria Medeles Hernndez (em concluso de

    doutoramento). E deve haver outros nomes.

    Quanto s respectivas instituies estatsticas, na Argentina h um esforo (houve?) de recu-

    perao de antigos censos, o que, como fonte histrica, por certo importa bastante. J no

    Mxico, do INEGI (Instituto Nacional de Estadstica y Geografia) pouco sabemos, mas, por sua

    boa imagem no exterior, bem possvel que contribua, por alguma maneira, para o avano

    dos estudos histricos das estatsticas. E preciso lembrar o papel vital (em todas as Amricas,

    e por longo tempo) dos livros da Siglo XXI(editora mexicana).

    Por fim, de outros pases pouco (quase nada) sabemos, mas possvel imaginar a existncia

    de estudiosos das estatsticas, como objeto de pesquisas scio-histricas7.

    UM BALANO MENOS PARCIAL BRASILEIRO PIONEIRISMO DO IBGE

    No Brasil, diferente de outros pases, coube ao rgo central de estatstica, o IBGE (Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica), por uma feliz juno de fatores, ser pioneiro nas pesquisas

    histricas das estatsticas. Antes do mais, por ter a posse de acervos documentais extraordinrios,

    porquanto, desde seu incio, se apresentou como herdeiro do passado estatstico brasileiro,

    5 Salvo melhor juzo, parece justo lembrar Ral Prebisch, na Argentina, e, no Brasil, Roberto Simonsen e Celso Furtado(entre outros) que, enquanto distintos usurios (e at produtores) de estatsticas econmicas as pensaram em suassuficincias e insuficincias, e qualidades, influindo seus avanos.

    6 Importa destacar, na Argentina, o Anurio IEHS Instituto de Estudio s Histrico -Sociales (da Faculdade de CinciasHumanas, da Universidad Nacional del Centro, Tandil), em cujo n 14, de 1999, vale marcar a tima seo Histria yEstadstica, a cargo de Hernn Otero (com textos, alm dele, de Alain Desrosires, de Jean-Pierre Beaud e Jean-GuyPrvost, de Eric Brian, e de Hernn Gonzlez Bollo.

    7 Chile e Uruguai, por serem pases que sediam organismos internacionais, podem surpreender, com bons estudos e

    estudiosos competentes.

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    15/382

    14

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    da assumindo bibliotecas e arquivos dos organismos estatsticos anteriores. Alm disso, o

    feliz acaso de ter havido estudiosos interessados, e dispostos a fazerem pesquisas histricas,

    claro, com o apoio e o estimulo da direo-superior8. Foi o caso de Nelson de Castro Senra,que idealizou e realizou a Histria das Estatsticas Brasileiras: 1822-2002, em quatro grandes

    volumes: 1) Estatsticas Desejadas: 1822-c.1889; 2) Estatsticas Legalizadas: c.1889-c.1936; 3)

    Estatsticas Organizadas: c.1936-c.1972; 4) Estatsticas Formalizadas: c.1972-2002; seguidos do

    volume sntese: Breve Histria das Estatsticas Brasileiras: 1822-2002(sados em quatro anos,

    todos pelo IBGE)9. Ainda desse autor, vale citar O Saber e o Poder das Estatsticas (de 2005,

    pelo IBGE tambm)10.

    Por fim, como professor no programa de mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas

    Sociais, da ENCE (Escola Nacional de Cincias Estatsticas), do IBGE, Nelson de Castro Senra,

    vem lecionando a disciplina, por ele idealizada e implantada, Sociologia das Estatsticas(ouSociologia da Atividade Estatstica). Vem orientando dissertaes, valendo destacar, pela maior

    afinidade com essa publicao, as seguintes: em 2006, Estatsticas Pblicas: Tempo e Significados

    (o Espao da Sociologia das Estatsticas, de Herberth Duarte dos Santos (e que segue sendo

    um estudioso competente); em 2005, A Notcia da Estatstica. A Divulgao das Estatsticas do

    IBGE na Viso dos Jornalistas, de Slvia Maia Fonseca (atual chefe da assessoria de imprensa

    do IBGE); em 2004, Ptria de Questionrios: o Clamor dos Tipos Quando o Brasil Fez 100 Anos, de

    Marco Aurlio Martins Santos (que fez alguns captulos na coleo acima referida); em 2003,

    Uma Viagem Epistemolgica ao Geoprocessamento, de Luiz Henrique Castiglione (um dos raros

    estudiosos da cartografia brasileira, j agora doutor em Cincia da Informao).

    Ainda no IBGE, Simon Schwartzman, enquanto foi seu presidente (1994-1998), deu grandes

    contribuies sociologia das estatsticas, com timos textos11. Quatro outros nomes se

    destacam: trs deles, Carmem Feij, Elvio Valente (j no mais no IBGE, pois devidamente

    aposentados) e Paulo Gonzaga de Carvalho (ainda no IBGE), em geral escrevem em par-

    ceria, sempre com estudos acurados sobre a atualidade (autonomia e suficincia) das

    instituies estatsticas. O quarto nome Paulo de Martino Jannuzzi, professor da ENCE,

    que uma referncia consagrada em indicadores (e estatsticas pblicas), com especial

    destaque para Indicadores Sociais no Brasil. Conceitos, Fontes de Dados e Aplicaes(2 Ed..

    Campinas: Alnea Editora, 2003).

    8 O apoio e o estmulo, sem restries e exigncias, em total autonomia e liberdade, de David Wu Tai, diretor do Centrode Documentao e Disseminao de Informaes, do IBGE, foi fundamental.

    9 Paralelamente, enquanto esses volumes eram feitos, diversos seminrios, ora focando pessoas, ora temas, em geral com adistribuio de publicaes especficas, foram organizados. Como exemplo, as homenagens ao mdico Bulhes Carvalho(o Av Fundador do IBGE, enquanto um seu precursor), ao Embaixador Macedo Soares e a Teixeira de Freitas (os PaisFundadores do IBGE), aos grandes demgrafos Giorgio Mortara e Lyra Madeira, aos grandes geopolticos Delgado deCarvalho e Therezinha de Castro, entre outros, ou a recuperao da curiosa histria dos elos da estatstica brasileira com oEsperanto, tomado, por muito tempo (desde 1907) como lngua auxiliar de divulgao da estatstica brasileira.

    10 O autor iniciou ao final de 2010 uma reviso completa dessa publicao, e a segue em 2011.11 Em boa medida, depois, quase todos esses textos foram agrupados em As Causas da Pobreza (de 2007). Para uma viso

    sntese da contribuio (institucional) de Simon Schwartzman, veja-se: SENRA, Nelson de Castro. Pensando e mudando

    a atividade estatstica brasileira. In: SCHWARTZMAN, Luisa, et al (org.). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. P. 175-198.

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    16/382

    15

    PORUMAASSOCIAODEPESQUISADORESINTRODUO

    Fora do IBGE, merecem destaques Csar Vaz de Carvalho Junior e Edmundo de S Barreto

    Figueira, ambos da SEI (Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia, editora

    desta obra)12

    , sempre atentos s instituies estatsticas estaduais no Brasil.J em matria de estatsticas da segurana pblica, e temas afins, a autoridade indiscutvel

    Renato Srgio de Lima ( frente do Frum Nacional de Segurana Pblica), com especial

    destaque para Entre Palavras e Nmeros: Violncia, Democracia e Segurana Pblica no Brasil(de

    2010)13, e cuja tese doutoral j prometia trajetria destacada (Contando Crimes e Criminosos

    em So Paulo: uma Sociologia das Estatsticas Produzidas e Utilizadas Entre 1871 e 2000, de 2005).

    Na temtica da educao, dois textos merecem destaque: a tese de Natlia de Lacerda Gil, A

    Dimenso da Educao Nacional: um Estudo Scio-Histrico Sobre as Estatsticas Oficiais da Escola

    Brasileira(de 2007); a dissertao de Sandra Maria Caldeira Machado, Os Servios Estatsticos em

    Minas Gerais na Produo, Classificao e Consolidao da Instruo Pblica Primria 1871-1931(de 2008). Na temtica da cartografia destacamos Mapas e Mapeamentos: Dimenses Histricas;

    as Polticas Cartogrficas em Minas Gerais 1850-1930, de Maria do Carmo Andrade Gomes (de

    2005); e na temtica (associada) da representao geogrfica (cartogrfica) da informao

    destacamos Epistemologia da Geoinformao: uma Anlise Histrico-Crtica, do j antes citado

    Luiz Henrique Castiglione (de 2009; e que est a nos dever uma histria da cartografia brasileira,

    com destaque cartografia estatstica)14.

    12 A revista Bahia Anlise & Dadosda SEI de referncia obrigatria (com especial destaque para o v. 15, n. 1, jul. 2005), ainda

    muito atuante. Outras duas revistas brasileiras precisam ser lembradas: So Paulo em Perspectiva, da Fundao Seade(Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados), de So Paulo, e Transinformao, da Universidade de Campinas, emSo Paulo (ambas em crise, hoje). Mas, a melhor revista brasileira, nos moldes do Journal of Official Statistics, oBoletim de Estatsticas Pblicas, da Anipes (Associao Nacional das Instituies Pblicas de Planejamento, Pesquisa eEstatstica), em cujo n. 6, de 2010, saram os resumos dos textos agora divulgados nesta publicao (em apresentaode Nelson de Castro Senra e Hernn Gonzlez Bollo). Todas so acessveis na Internet, facilmente.

    13 Este livro foi primeiro editado no exterior, em 2010 tambm, sob o ttulo Between Words and Numbers: Violence,Democracy and Public Safety in Brazil, e que no site da Amazon recebeu o seguinte comentrio, de Elizabeth Leeds:This book by Renato Srgio de Lima examines the challenges of implementing police reform at a time when rising crimerates and demands by citizens for quick-fix solutions give rise to hard-line emergency policies rather than fundamentalinstitutional change to create effective and respectful policing. Demonstrating the importance of reliable research andmeasurement of factors affecting crime and recognizing important innovations in public safety -- the new emphasis on policemanagement, the multi-causality of crime, the role of municipalities, and the participation of civil society, among others,-- the author never theless places these advances in the realistic context of institutional resistance working against reformin Brazil?s criminal justice system. It is essential reading to understand one of the most complex problems facing Brazil and

    Latin America. Por demais, do prefcio edio brasileira, por Srgio Adorno (que foi seu orientador no doutorado),destacamos o seguinte trecho: Este livro um bom testemunho de que iniciativas bem-sucedidas de investigaosociolgica podem ser apropriadas pelos saberes prticos e profissionais. Sem abdicar das exigncias de rigor e deobjetividade inerentes ao modo de ser e lgica do campo cientfico, os captulos abordam o papel estratgico dasestatsticas como instrumento de gesto pblica, os desafios propostos pela emergncia e disseminao do crimeorganizado nas sociedades latino-americanas, o papel da polcia na sociedade democrtica, as novas polticas desegurana em curso formuladas pelos governos federal e estaduais, tendncias da evoluo dos homicdios bemcomo imagens e vises sobre a poltica criminal em So Paulo, estudos sobre fluxo dos crimes no sistema de justiacriminal. Concisos e destitudos do hermetismo prprio do discurso acadmico, os captulos demonstram sim que possvel aliar nmeros eficincia administrativa e profissional. Mais do que isso, possvel traduzir resultados deinvestigaes em fonte de inspirao para a profissionalizao das atividades de controle do crime dentro dos marcosdo estado de direito.

    14 Trs outras teses merecem referncia:A Ostentao Estatstica (um Projeto Geop oltico p ara o Territrio Nacion al: Estadoe Planejamento no Perodo ps-1964, de Paulo Roberto de Albuquerque Bomfim (de 2007); Sociedade de Geografia doRio de Janeiro: Espelho das Tradies Progressistas (1910-1945) , de Luciene Pereira Carris Cardoso (de 2008); e, Polticas e

    Representaes da Geografia Quantitativa no Brasil: a Formao de uma Caricatura, de Mariana Lamego (de 2010).

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    17/382

    16

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    Outro nome que sobressai o de Alexandre de Paiva Rio Camargo, historiador e mestre

    em histria, e agora fazendo o doutorado em sociologia, no IESP (Instituto de Estudos

    Sociais e Polticos), da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)15. No obstante,embora doutorando, j um pesquisador amadurecido e, com merecimento, bastante

    respeitado, com vrios textos publicados em consagrados peridicos brasileiros (por

    demais, foi assistente de pesquisa no projeto Histria das Estatsticas Brasileiras). Seu

    texto nesta obra (na seo 3) atesta sua capacidade de pesquisador, sua profundidade e

    seriedade nas anlises que realiza.

    Para terminar este balano, h dois pontos a acrescentar: 1) em final de 2010 foi criado (pela

    ENCE / IBGE, tendo como lder Nelson de Castro Senra) um Grupo de Pesquisa no CNPq (Con-

    selho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico); trata-se de Estudos Sociais e

    Histricos das Estatsticas Pblicas16, com duas linhas de pesquisa: Estatsticas Pblicas: Estado eNao; Tempos, Processos, Significados17, e Estatsticas Pblicas: Instituies, Processos, Sistemas,

    Atores18; e j com quinze membros, entre os quais alguns nomes distintos, vrios deles antes

    citados; 2) h um Grupo de Trabalho no mbito da ABEP (Associao Brasileira de Estudos

    Populacionais) chamado Populao e Histria, bastante atuante, e tendo nomes distintos na

    demografia, e com o qual ser oportuno promover-se relacionamento (o que ser logo feito).

    Neste ponto final, por certo h grupos semelhantes em associaes e conselhos de classe,

    nas esferas federal e regional, a pedir urgente mapeamento19.

    15 Sado do antigo IUPERJ (Instituto Universitrio de Pesquisa do Rio de Janeiro), da UCAM (Universidade CandidoMendes), e que est em processo de recriao.

    16 Com a seguinte descrio: Nas ltimas trs dcadas, mundo afora, as estatsticas deixaram de ser apenas fontesde anlises (formular e avaliar polticas pblicas; aceitar ou negar hipteses, etc.) para se tornarem tambmobjetos de estudo, atraindo a ateno de estudiosos em demografia, economia, histria, f ilosofia, sade coletiva,sociologia, antropologia, cincia po ltica, cincia da informao, entre outras. Este grupo volta -se compreensoda trajetria das estatsticas, interessando-se pelas diferentes tradies nacionais dos sistemas de informao,pela cultura profissional de seus atores (em uma comunidade especializada) e sua atuao na elite burocrtica,sem olvidar suas utilizaes como forma de dominao e de contestao, entre outras frentes possveis. Quer-sediscutir as razes de terem sido feitas e como o so, b em assim, como costumam ser apropriadas historicamente,a partir de vrias teorias (nas linhas de Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Bruno Latour, entre outras), que oferecemconceitos e categorias de percepo da realidade, e dos processos cientficos, com suas implicaes para aprtica poltica. Entre os esforos de racionalizao administrativa do Brasil Joanino e o Estado planejador da

    contabilidade nacional e dos indicadores so ciais, este grupo pretende reunir pesquisadores engajados na tarefade compreender as estatsticas pblicas, com sua potncia de mediao e (re)produo de alguns dos aspectosmais singulares da sociedade brasileira. Com origem no pioneirismo do IBGE desde 2003, tem-se por m eta revelaruma comunidade de pesquisadores, de modo a se formular estratgias comuns de ao em mbito regional,nacional e internacional, e fazer emergir os acervos documentais das instituies estatsticas e geocientficas.No mbito dos estudos comparados internacionais trabalha-se em associao com Jean- Pierre Beaud e Jean-GuyPrvost (do Canad), Hernn O tero, Hrnan Gonzlez Bollo e Cludia Daniel (da Argentina), Leticia Mayer e LauraChzaro (do Mxico), entre outros.

    17 Com a seguinte descrio: Desenvolver estudos histricos das estatsticas, relevando-as como instrumento cognitivoe administrativo ao Estado e ao pblica; vistas na intimidade de suas comunidades especializadas (ou elitesburocrticas), bem assim seus papis na construo dos imaginrios sociais e na mediao simblica da nao.

    18 Com a seguinte descrio: Estimular estudos sociais das instituies estatsticas, suas relaes cientficas, independnciase autonomias, suas comunidades e suas associaes, suas legislaes, seus sistemas, processos e programas de trabalho,etc. Estudos temticos sero oportunos, como educao, sade, criminalidade, municipalismo, etc.

    19 Integra este grupo, entre vrios outros nomes, Tarcsio Botelho que participou do primeiro dos seminrios

    internacionais, a seguir apresentados.

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    18/382

    17

    PORUMAASSOCIAODEPESQUISADORESINTRODUO

    DOIS SEMINRIOS INTERNACIONAIS 2009 E 2010

    O primeiro seminrio internacional se deu no marco da reunio de junho de 2009 da LASA (LatinAmerican Studies Association), na cidade do Rio de Janeiro (Estado do Rio de Janeiro, Basil), na

    sessoAs Estatsticas Latino-Americanas em Perspectiva Histrica, idealizada por Hernn Otero. Foi,

    em vrios sentidos, um evento inaugural importante: primeiro, por trazer a uma reunio da LASA a

    histria (e sociologia) das estatsticas; segundo, por ensejar o encontro de estudiosos de vrios pases

    (Argentina, Brasil, Canad e Mxico) nessa temtica to relevante, e na qual o mundo, exclusive as

    Amricas espanhola e portuguesa, evolua h tempos. Como esse tipo de sesso muito rpida,

    Nelson de Castro Senra, em dilogo com Claudia Daniel, props alongar o encontro para mais

    um dia, em dupla sesso no IBGE, o que se deu com sucesso20. Por demais, decidiu-se organizar

    (o que foi feito por Nelson de Castro Senra e por Alexandre de Paiva Rio Camargo) em livro (peloIBGE, em 2010) os textos feitos para a LASA e para o IBGE, e outros estudos especficos (como, por

    exemplo, as entrevistas realizadas com Hernn Otero e Jean-Pierre Beaud, dois destacados pes-

    quisadores):Estatsticas nas Amricas. Por uma Agenda de Estudos Histricos Comparados(de 2010).

    O segundo seminrio internacional se deu no marco das reunies promovidas em novem-

    bro de 2010 pela SBHC (Sociedade Brasileira de Histria da Cincia), na cidade de Salvador

    (Estado da Bahia, Brasil): 12 Seminrio Nacional de Histria da Cincia e da Tecnologia

    e 7 Congresso Latino-americano de Histria da Cincia e da Tecnologia. Deu-se, ento,

    no simpsio temtico As Instituies Estatsticas Oficiais: Conceitos, Medies, Comunida-

    des Profissionais e a Criao de Polticas Pblicas , para o qual 23 textos foram inscritos (24

    sendo o mximo)21, dos quais 21 integram esta publicao22, Em Associao das Amricas,

    as Estatsticas Como Objeto de Estudo, como parte da Srie Estudos & Pesquisas (SEP), da

    Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). O ttulo desta publica-

    o, e desta introduo, tem por objetivo destacar a deciso tomada pelos presentes de

    envidarem seus melhores esforos no sentido da prxima criao daAssociation des Am-

    riques pour lhistoire de la statistique et du calcul des probabilits (em portugus:Associao

    das Amricas para a Histria da Estatstica e do Clculo das Probabilidades ; em espanhol:

    Asociacin de las Amricas para la Historia de la Estadstica y el Clculo de Probabilidades; e,

    em ingls: Association of the Americas for the History of Statistique and of Probabilities Cal-

    culus), como proposto, com ousadia (e viso de mundo distinta) por Jean-Pierre Beaud23.

    20 Essa ideia, levada a David Wu Tai, diretor do Centro de Documentao e Disseminao de Informaes, do IBGE,recebeu imediato apoio, podendo assim ser realizada.

    21 Vale repetir que os resumos propostos foram publicados em: SENRA, Nelson de Castro, GONZLEZ BOLLO, Hernn. Asestatsticas como objeto de estudo. Boletim de Estatsticas Pblicas, Salvador: Anipes, n. 6, p. 142-162, novembro 2010.

    22 Desta vez houve texto tambm do Uruguai, e no apenas da Argentina, do Brasil, do Canad e do Mxico, e dessespases houve textos de autores que no atuaram no primeiro seminrio. Por outro, houve uma ausncia completa, a deHernn Otero, por certo um nome indispensvel ao desdobramento dessa nossa atividade; e duas ausncias apenasparciais (em alguns momentos da trajetria do simpsio), a de Letcia Mayer Cellis e Laura Chzaro (e nesta obra,sentimos a ausncia de Renato Srgio de Lima).

    23 Espera-se, proximamente, colocar na Internet um site indicativo da Associao, com uma revista eletrnica, e outros

    espaos de dilogo da nascente comunidade internacional, nas Amricas.

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    19/382

    18

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    A propsito, seu texto nesta obra, ajuda a entender sua forte defesa da proposta, e sua

    enftica proposta do nome acima.

    Alm desses dois seminrios, e das duas publicaes, outros eventos so esperados, e j esto

    sendo pensados e/ou organizados para este ano e o seguinte.

    A ESTRUTURA DA PUBLICAO

    Finalmente, passemos concluso desta introduo, tratando da estrutura da publicao. Alm

    deste texto, de introduo, com o histrico da trajetria que cumprimos at agora, e afora um

    texto final com os emails dos autores e/ou atuantes no simpsio temtico, esta obra tem quatro

    sees, com 21 textos. Por serem muitos os textos, seria por demais volumosos explor-los uma um; ento falemos somente das sees. fcil notar que elas quatro formam dois conjuntos:

    a 1 e a 2 tratam dos sistemas e das instituies estatsticas, a 1 focando o presente, e a 2 o

    passado; a 3 e a 4 tratam das estatsticas nas configuraes dos imaginrios, a 3 focando o

    passado, e a 4 focando o presente. Esta inverso presente / passado e passado / presente,

    nos permite oferecer um miolo forte com estudos histricos, deixando as abordagens sociol-

    gicas, focadas no presente, nos extremos da publicao. Por fim, convm realar que a prtica

    focada na seo 4 ainda nascente, sem uma robustez cristalizada (no sem bons textos,

    claro), pelo qu, se tivssemos mantido a lgica inicial presente / passado tambm para as 3

    e 4 sees teria havido uma queda no meio da obra, o que no seria de agrado dos leitores.

    A 1 seo Sistemas e Instituies Estatsticas: Autonomia, Suficincia e Atualidade tem

    quatro textos; o primeiro, riqussimo, por sua importncia, e para maior acesso, editado

    em francs, lngua original, mas tambm em portugus; os demais tratam de assuntos

    bastante atuais. A 2 seo Sistemas e Instituies Estatsticas: Prticas e Burocracias Espe-

    cializadas tem sete textos, os quatro do Brasil focando o sculo XIX, e os dois ltimos da

    Argentina focando a primeira metade do sculo XX. A 3 seo Estatsticas na Configu-

    rao dos Imaginrios: Abordagens Histricas tem seis textos, a maioria focando o sculo

    XIX, mas com alguma entrada pelo sculo XX. Os textos dessas sees (2 e 3) ajudam

    bastante a entender as atualidades argentina e brasileira. A 4 e ltima seo Estatsticas

    na Configurao dos Imaginrios: Apropriaes Atualizadas tem quatro textos, sendo os

    dois iniciais bastante instigantes.

    BIBLIOGRAFIA

    ALONSO, William & STARR, Paul (ed). The politics of numbers. New York: Russell Sage Foundation, 1983.

    ANDERSON, Margot.American Census.New Haven & London: Yale Un. Press, 1988.

    BEAUD, Jean-Pierre; PREVOST, Jean-Guy. Lre du chiffre. Systmes statistiques et traditions nationales.Qubec: Presses de lUniversit du Quebec, 2000.

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    20/382

    19

    PORUMAASSOCIAODEPESQUISADORESINTRODUO

    BECKER, Howard S.. Falando da sociedade. Ensaios sobre diferentes maneiras de representar o social.Rio de Janeiro: Zahar, 2010. [2007]

    BESSON, Jean-Louis (org).A iluso das estatsticas.So Paulo: Ed. Unesp, 1995. [1992]BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. Lisboa : DIFEL, 1989.

    BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. So Paulo : Brasiliense, 1990 [1987]

    BOURDIEU, Pierre. Razes prticas. Sobre teoria da ao. So Paulo: Papirus, 1996 [1994]

    BURCHELL, G.; GORDON, C.; MILLER, P. (eds). The Foucault effects; studies in governmentality. London:Haverster Wheatsheaf, 1991.

    CELIS, Letcia Mayer. Entre El infierno de una realidad y El cielo de un imaginrio. Estadstica y comunidadcientfica en el Mxico de la mitad del siglo XIX. Ciudad del Mxico: El Colgio de Mxico, 1999.

    DESROSIRES, Alain. LArgument Statistique. Vol 1 : Pour une sociologie historique de la quantification.

    Vol 2 : Gouverner par les nombres.Paris: Mines Paris Tech Les Presses, 2008.

    DESROSIRES, Alain, THVENOT, Laurent. Les catgories socio-professionnelles. 5m edition. Paris : LaDcouvert, 2002. [1988]

    DESROSIRES, Alain. La politique des grands nombres. Histoire de la raison statistique . Paris: dition laDcouverte, 1993.

    ELIAS, Norbert. O processo civilizador.Vol. 1: Uma histria dos costumes. Vol 2: Formao do estado ecivilizao. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993. [1939]

    FELLEGI, Ivan P. Maintaining the credibility of official statistics.52 Conference of European Statisticians.Paris, junho de 2004.

    FELLEGI, Ivan P. Towards Systems of Social Statistics Some principles and their application in Statistics inCanada.Jornal of Official Statistics , vol 15, n. 3, p. 373-393, 1999.

    FELLEGI, Ivan. P. Statistical Services - preparing for the f uture.Aguascalientes, Mxico: INEGI,1998. 80 p.

    FELLEGI, Ivan P.. Characteristics of an effective statistical system.International Statistical Review, v. 64, n.2, p. 165-197, 1996.

    FERREIRA DA CUNHA, Adrio. Em torno da engenharia dos Sistemas Estatsticos Nacionais.Lisboa:Instituto Nacional de Estatstica, 2004.

    FERREIRA DA CUNHA, Adrio.Auto-avaliao da qualidade nos Institutos Nacionais de Estatstica.Lisboa: Instituto Nacional de Estatstica, 1999.

    FERREIRA DA CUNHA, Adrio. O Sistema Estatstico Nacional. Algumas notas sobre a evoluo dos seusprincpios orientadores: de 1935 ao presente. Lisboa: Instituto Nacional de Estatstica, 1995.

    FOUCAULT, Michel. Segurana, Territrio, Populao. So Paulo: Martins Fontes, 2008.

    FOUCAULT, Michel. Estratgia, poder-saber. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2006 [ColeoDitos & Escritos n. IV]

    FOURQUET, Franois. Les conptes de la puissance. Histoire de la comptabilit nationale et du plan.Paris : Encres dition Recherchers, 1980.

    GIDDENS, Anthony. O Estado-Nao e a Violncia. So Paulo: EdUSP, 2001.

    HACKING, Ian. The taming of chance.Cambridge: Cambridge University Press, 1995.

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    21/382

    20

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    HACKING, Ian. The social construction of what?Harvard: Harvard Un. Press, 1999.

    HUFF, Darrel. How to lie with statistics.New York : W. W. Norton & Company, 1993.

    LATOUR, Bruno.La fabrique du droit. Une ethnographie du Conseil dEtat. Paris: La Dcouverte, 2002.[1998]

    LATOUR, Bruno.A esperana de Pandora. Bauru: EDUSC, 2001 [1999]

    LATOUR, Bruno.A cincia em ao. So Paulo: Ed. UNESP, 2000. [1998]

    MACKENZIE, Donald A. Statistics in Britain: 1865-1930. The social construction of scientific knowledge. Edinburgh: Edinburgh Un. Press, 1981.

    MORGAN, Mary S. The history of econometric ideas. Historical perspectives on modern economics.Cambridge: Cambridge Un. Press, 1995.

    MORGENSTERN, Oskar. On the accuracy of economic observations. 2 ed. Princenton: Princenton

    University Press, 1973.

    OTERO, Hernn. Estadstica y Nacin. Una historia conceptual del pensamiento censal de la Argentinamoderna 1869-1914.Buenos Aires: Prometeo Libros, 2006.

    PORTER, Theodore M. The rise of statistical thinking, 1820-1900. Princenton: Princenton UniversityPress, 1986.

    PORTER, Theodore M. Trust in numbers. The pursuit of objectivity in science and public life. Princenton:Princenton University Press, 1995.

    ROSE, Nikolas. Powers of freedom. Reframing political thought. Cambridge: Cambridge Un. Press, 1999.

    SENRA, Nelson de Castro; CAMARGO, Alexandre de Paiva Rio (org.). Estatsticas nas Amricas. Por umaagenda de estudos histricos comparados.Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

    SENRA, Nelson. O saber e o poder das estatsticas. Uma histria das relaes dos estaticistas com osEstados Nacionais e com as cincias. Rio de Janeiro: IBGE, 2005 (330p).

    SENRA, Nelson. Histria das Estatsticas Brasileiras: 1822-2002.Rio de Janeiro: IBGE, 2006 2009. [Vol.1 - Estatsticas Desejadas: 1822-c.1889(2006); Vol. 2 - Estatsticas Legalizadas: c.1889-c.1936( 2006);Vol. 3 - Estatsticas Organizadas: c.1936-c.1972(2008); e, Vol. 4 - Estatsticas Formalizadas: c.1972-2002(2009)].

    SENRA, Nelson. Uma breve histria das estatsticas brasileiras: 1822-2002. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

    STARR, Paul. The sociology of official statistics. In: ALONSO, William & STARR, Paul (ed). The politics ofnumbers.New York: Russell Sage Foundation, 1983. [P. 7-58]

    STIGLER, Stephen M. The history of statistics. The measurement of uncertainty before 1900. Cambridge &London: The Belknap press of Harvard Un. Press, 1986.

    TUFTE, Edward R. The visual display of quantitative information. Connecticut: Graphic Press, 1983.

    TUFTE, Edward R. Visual and statistical thinking. Displays of evidence for making decisions. Connecticut:Graphic Press, 1997.

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    22/382

    21

    PORUMAASSOCIAODEPESQUISADORESINTRODUO

    NOTA

    No Brasil, recentemente, alguns timos livros de divulgao cientfica foram publicados, bem afinscom o tema em pauta, por isso valendo indicar uma rpida seleo:

    CROSBY, Alfred.A mensurao da realidade. A quantificao e a sociedade ocidental 1250-1600. SoPaulo: Editora Unesp, 1999. [1997]

    JOHNSON, Steven. O mapa fantasma. Como a luta de dois homens contra o clera mudou o destino denossas metropoles.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008. [2006]

    MLODINOW, Leonard. O andar do bbado.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009. [2008]

    SALSBURG, David. Uma senhora toma ch... como a estatstica revolucionou a cincia no sculo XX.Riode Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009. [2002]

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    23/382

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    24/382

    23

    Sri

    eEstudosePesquisas

    90

    SISTEMAS E INSTITUIES

    ESTATSTICAS: AUTONOMIA,SUFICINCIA E ATUALIDADE

    1ASEO

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    25/382

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    26/382

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    27/382

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    28/382

    27

    LATRANSFORMATIONDUTRAVAILSTATISTIQUEETLMERGENCEDUNESOCIO-HISTOIREDELASTATISTIQUE1

    ASEO

    interventions politiques pour retarder la divulgation de donnes lapproche dune lection, par

    exemple, la pratique desPeer reviews, gnralise dans le cas des pays de lUnion europenne,

    et le dveloppement duBenchmarking, appel aussi talonnage, qui consiste tudier, compa-rer les diffrentes pratiques dans le but didentifier les meilleures. On ne stonnera pas, dans ces

    conditions, de voir la technicit prendre une place de plus en plus importante dans le discours et la

    pratique des bureaux statistiques et apparatre comme la norme par excellence. La qualit totale,

    cest dabord un slogan, cest ensuite une srie dexigences techniques. Un autre trait de ce rgime

    touche aux pratiques mises en place pour saccommoder dune rsistance de plus en plus mar-

    que de la population aux enqutes statistiques. Mme si les bureaux ont toujours t confronts

    cette mauvaise humeur du public, cest surtout depuis la fin des annes 1960 quelle est devenue

    trs problmatique, au moins dans certains pays dEurope. Cette rsistance l inquisition statis-

    tique a conduit, par exemple, une utilisation plus marque des fichiers administratifs. Mais cettetendance est aussi et surtout le rsultat de la recherche dune pratique statistique rationalise dans

    un contexte de ressources rares et de croissance de la demande pour des politiques publiques. En

    gros, les enqutes cotent cher, surtout les recensements. De plus, ces derniers sont de plus en plus

    souvent critiqus pour leur lourdeur et leur imprcision. Sils ne disparaissent pas (comme cest le

    cas dans certains pays, Islande, Finlande, Suisse, Allemagne, par exemple), ils utilisent de plus en

    plus des techniques statistiques qui, pendant longtemps, avaient t juges incompatibles avec

    lexercice du recensement et conduisent donc prendre une certaine distance vis--vis de ce qui

    avait t prsent comme le principe central du recensement, lexhaustivit. Le dernier point sur

    lequel nous aimerions insister touche au nouveau statut du subjectif dans le travail des bureaux

    statistiques. Le nouveau rgime statistique est en effet caractris par la monte des statistiquessubjectives. Et cela remet en cause un autre principe central du travail des bureaux de chiffres : la

    mise distance de la subjectivit comme pr-requis. Pour les bureaux statistiques, il y avait une

    distinction fondamentale entre les classements scientifiques, objectifs (cest--dire qui ne repo-

    sent pas sur les jugements, ncessairement subjectifs, des individus statistiques et qui sont, dune

    certaine faon, du ressort de la statistique comme science applique ), qui les concernent, et les

    classements indignes, subjectifs dont saccommodent les individus dans la vie quotidienne. Deux

    chemins avaient t tracs pour atteindre cette scientificit : lobjectivation et la standardisation.

    Or, ces deux moyens semblent aujourdhui fragiliss, du moins dans certains secteurs du travail

    statistique, par la multiplication des variables subjectives . Comment atteindre quelque chose

    qui dpasse les donnes individuelles quand on a affaire de plus en plus des sujets et non plus

    seulement des objets statistiques ? Comment construire des systmes de classement qui dpas-

    sent les expriences nationales quand on a affaire des classements qui collent aux systmes de

    classement des individus? Un peu partout, en Europe en particulier, des classements indignes

    apparaissent, sous leffet soit de lois supranationales (comme dans le cas europen), soit de choix en

    matire de gestion des populations (multiculturalisme). Et dans un contexte nouveau : ce nest plus

    seulement, comme aux XIXeet XXesicles, laffaire des tats multinationaux, cest surtout laffaire

    des pays qui accueillent de nouvelles populations dimmigrs. Un des effets, cest de produire des

    classements si spcifiques que toute tentative de normalisation est sans doute voue lchec.

    Lappareil statistique national se contente alors, un peu la manire des ethnomthodologues,

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    29/382

    28

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    de faire le compte rendu des comptes rendus des recenss. Le socle sur lequel reposent toutes

    ces statistiques est fort ambigu et changeant. Cest une construction.

    LA SOCIOHISTOIRE DE LA STATISTIQUE

    Durant les annes soixante-dix du sicle dernier, sest structur un champ de recherche quil est

    malais de cerner par une appellation unique. Lexpression histoire de la statistique est peut-tre

    celle, toutefois, qui rallierait le plus dacteurs du champ. Si lhistoire de la statistique est presque

    aussi ancienne que la statistique, ce nest que rcemment quelle a pris un tour plus externaliste,

    quelle a, dans la foule, tent dintgrer les acquis de lhistoire internaliste, quelle sest appuye

    sur une posture constructiviste (ou rflexive2

    ) et critique, refusant la fois un strict point de vueraliste et les drives relativistes. Bien sr, tout cela est objet de dbats et les positions des chercheurs

    pourraient tre replaces dans un espace (au moins) deux dimensions, avec un premier axe

    internaliste-externaliste et un deuxime axe raliste-relativiste , si un tel exercice ntait pas,

    invitablement, suspect. On pourrait broder sur tout cela et distinguer, par exemple, un constructi-

    visme ontologique et un constructivisme mthodologique (Schweber, 1996). On y reviendra. Reste

    que, malgr les diffrences relles entre approches, un certain consensus caractrise le champ (dun

    simple point de vue bourdieusien, cela va de soi : parler dun champ, cest faire lhypothse quil y

    a un minimum de consensus). Voyons cela de plus prs.

    Lhistoire de la statistique, telle quon la conoit aujourdhui, sest construite sur une rupture avec la

    vieille conception internaliste qui liait le dveloppement de la statistique laffinement progressif

    et logique doutils arithmtiques, puis mathmatiques de plus en plus complexes. Cette conception a

    toujours cours et nest pas sans intrt, mme du point de vue de la nouvelle socio-histoire. Elle sest

    construite galement sur une rupture avec une approche plus institutionnelle et aussi ancienne que

    les premiers bureaux de chiffres qui voyait le dveloppement des activits et organismes statistiques

    comme laccompagnement logique de lexpansion des attributions de ltat. Cette conception a

    encore cours et est largement entretenue par des agents des bureaux statistiques nationaux. Les

    ouvrages commmoratifs (pour les cent ans, les deux cents ans de tel ou tel institut) en sont la

    forme la plus spectaculaire. Dans certains cas, ils ont t plus ou moins fortement influencs par

    la nouvelle socio-histoire et constituent, en quelque sorte, un type hybride. Lhistoire modernedela statistique, enfin, sest galement labore sur le refus dune position purement externaliste qui

    voit la statistique comme une consquence ou un effet de transformations presque totalement

    extrieures au champ de la science. Cette position na gure eu de vritables dfenseurs chez les

    statisticiens ou historiens de la statistique puisque, en quelque sorte, elle postulait linanit dune

    histoire de la statistique. Elle fonctionne toutefois comme une sorte dhorizon, de point de repre

    ou mme de point critique. Elle rappelle tous que les chiffres produits ne sont jamais innocents.

    2 Les deux expressions, certes, ne sont pas interchangeables, mme sil est vrai quelles sont souvent vues comme proches, voire

    quivalentes. Pour une illustration et une dfense de la posture rflexive, voir, par exemple, Brian (2010).

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    30/382

    29

    LATRANSFORMATIONDUTRAVAILSTATISTIQUEETLMERGENCEDUNESOCIO-HISTOIREDELASTATISTIQUE1

    ASEO

    Il y a une quarantaine dannes, apparaissaient les premiers travaux illustrant les ruptures qui

    viennent dtre exposes. Les conditions externes qui rendaient possibles de telles ruptures

    sont nombreuses et devraient assurment tre identifies (si lon veut viter que lhistoiredela socio-histoire de la statistique reproduise les erreurs de lhistoire traditionnellede la statis-

    tique). Les mutations des socits occidentales la fin des trente glorieuses (pour reprendre

    une expression franaise qui nest pas sans intrt pour dautres pays), les premires remises en

    cause de ltat-providence, la monte de nouvelles forces de gauche radicales (marques par

    un marxisme renouvel et teint de tiers-mondisme), ici et l dans le monde, peuvent tre vues

    comme de (trop) grands facteurs potentiellement explicatifs. Les classifications statistiques, qui

    un peu partout sont prises comme premiers objets danalyse de cette nouvelle socio-histoire,

    expriment bien ce que ces premiers chercheurs (Desrosires, en particulier) tendent appr-

    hender : la traduction chiffre ncessairement imparfaite dun monde en changement. Unpeu partout, on montre que les classements statistiques (comme les autres faons de nommer,

    dsigner, assigner les individus que la sociologie et lanthropologie avaient depuis un certain

    temps dj relativises et historicises) doivent tre dconstruits. Dans une priode de transition,

    les vieux classements et lchafaudage politique qui les solidifiait perdaient de leur utilit

    pour reprsenter le monde.

    Un livre comme celui de Desrosires et Thvenot (1988) sur les catgories socioprofessionnelles

    pose bien les principes dune analyse des artefacts statistiques qui rcuse le vieil objectivisme cher

    aux statisticiens dtat. Il dit aussi loriginalit du moment franais symbolis par lapparte-

    nance dun Desrosires la fois au bureau statistique national, lINSEE, et au monde universitaire.

    Le travail prsent ici rsulte dune longue participation aux travaux de lINSEE []. LINSEE a,

    depuis longtemps, encourag des recherches de fond []. Ces travaux ont t galement, de

    longue date, stimuls par une collaboration avec des sociologues. Cette rencontre entre deux

    espaces scientifiques qui, dans presque tous les autres pays, sont compltement spars,

    a apport une aide inapprciable pour aborder et traiter les questions de nomenclatures

    (p. 8; les italiques sont de nous). Il faudrait sans doute sinterroger srieusement (de faon empi-

    rique) sur la vritable originalit de ce modle de collaboration. Je ferais toutefois lhypothse

    quune collaboration entre statisticiens et spcialistes des sciences sociales est aujourdhui plus

    frquente quil y a une quarantaine dannes. Au Brsil, par exemple, un Nelson Senra occupe

    une position analogue celle de Desrosires en France. La fertilisation croise des mondesuniversitaire et statistique serait un beau sujet de recherche. Le livre de Desrosires et Thvenot

    nonait aussi certains des principes de la nouvelle histoire (la socio-histoire) de la statistique :

    les dcoupages sontfabriqus; ils sont l is aux oprations de reprsentationdune socit :

    reprsentation statistique []; reprsentationpolitique; reprsentationcognitive (p. 7); le

    regard [] port sur le travail de classement et de dfinition des variables servant dcrire le

    monde social ne vise pas en dnoncer les rsultats, mais plutt les replacer dans un ensemble

    plus vaste de faons de connatre (p. 110), etc. Ltude des classifications statistiques sinscrivait,

    dans le cas franais tout le moins, dans le cadre dune tradition assez ancienne remontant

    aux travaux de Durkheim et Mauss. Elle rejoignait une proccupation parfois bien tablie pour

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    31/382

    30

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    ltude des recensements et prsente chez les historiens comme chez les dmographes. Lanalyse

    des outils statistiques incorporait, toutefois, un nouveau corpus thorique et empirique issu

    des recherches dun Foucault ou dun Bourdieu (du moins pour le monde francophone). De fait,aujourdhui, lunit relative du champ de la socio-histoire de la statistique peut tre atteste

    par le recours aux mmes sources. Du Brsil lEspagne, en passant par un bon nombre de

    pays, les bibliographies se ressemblent passablement, du moins si lon carte les rfrences

    aux tudes nationales. Un bon exemple peut en tre donn avec le livre de Nelson Senra, O

    Saber e o Poder das Estatsticas (2005), qui par son titre mme voque trs fortement le rf-

    rent foucaldien et qui recense ces indispensables que sont les travaux de Foucault, donc (ses

    cours au Collge de France abordent directement la question des statistiques), de Desrosires,

    de Latour, de Hacking. Un autre exemple peut tre trouv chez Desrosires, bien sr, qui, par

    le rle quil a jou dans lmergence du champ, est particulirement bien plac pour citer lestravaux marquants (voir, ce sujet, sa Politique des grands nombres [1993 et 2000] ou son

    texte dans Beaud et Prvost [2000]).

    Les tudes nationales sont donc maintenantrelativementnombreuses et portent aussi bien

    sur les classifications, les recensements, les enqutes statistiques diverses, les statistiques

    mdicales, la notion de probabilit, les bureaux statistiques, les socits savantes, etc. Il existe

    galement des tudes portant sur linternationalisme statistique (congrs internationaux et

    institut international), sur les passeurs de modles comme Quetelet, et des tudes plus gnrales

    encore sur lavalanche des chiffres depuis le XIXesicle. Le recensement exhaustif des tudes

    dhistoire de la statistique (ou de socio-histoire) un peu partout dans le monde est donc sans

    doute aujourdhui une tche impossible raliser. Nous ne nous y essaierons pas. Mais, au-del

    des diffrences dappellation (doit-on parler dhistoire de la statistique, de socio-politique des

    statistiques, dhistoire sociale des statistiques ou encore de socio-histoire de la statistique?),

    des divergences thoriques (accepte-t-on ou non linfluence latourienne?) et des spcificits

    des expriences statistiques nationales, un noyau commun de faons de penser et de faire sest

    cr. Malgr leurs diffrences, ces travaux sont souvent marqus par les principes de rfle xivit,

    de dconstruction; ils se rclament (plus ou moins) des thses de Bourdieu, de Foucault et de

    Latour et Callon (dans le monde francophone et au-del), font rfrence au moment Bielefeld

    (annes 80) et aux travaux de Daston et de Porter pour le monde anglophone et germanique

    et mme des thses plus philosophiques comme chez Ian Hacking. La dconstruction, qui amarqu les nouvelles sciences sociales (et la philosophie) tout le moins en Occident, sest tout

    dabord traduite par un examen des classements statistiques (Desrosires et Thvenot) ou des

    pratiques de recensement (Anderson, Otero, etc.). Elle sest vite tendue lensemble du travail

    statistique (Senra, par exemple). Elle reste un principe solide caractrisant lensemble du travail

    en socio-histoire de la statistique et renvoie,minimalement, un constructivisme de type mtho-

    dologique. Mais il me semble quun principe encore plus fondamental de cette socio-histoire,

    cest la revendication dune position qui insiste sur limportance de la prise en compte des liens

    entre les normes, les structures et les pratiques statistiques et sur le rejet dune conception de

    la statistique qui en ferait simplement la traduction chiffre de phnomnes externes. Cette

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    32/382

    31

    LATRANSFORMATIONDUTRAVAILSTATISTIQUEETLMERGENCEDUNESOCIO-HISTOIREDELASTATISTIQUE1

    ASEO

    dernire conception, sans tre, loin de l, inintressante (on en trouve un exemple remarquable

    dans lanalyse que Nicolas Bourgoin fait des statistiques criminelles [2008]), relve plutt dune

    analyse du contrle social. Les statistiques sont alors davantage un indicateur dautre choseque lobjet mme de ltude.

    ESQUISSE DE COMPARAISON ENTRE LES PRINCIPES DE LA SOCIOHISTOIRE DELA STATISTIQUE ET LE DISCOURS ET LA PRATIQUE DES BUREAUX DE CHIFFRES

    Si nous tentons maintenant une comparaison entre cette socio-histoire, telle que d finie plus

    haut, et le discours et la pratique des bureaux de chiffres contemporains, nous pouvons ta-

    blir des parallles vocateurs. Ils ont t regroups dans le tableau ci-dessous. Ils montrent, tout le moins, que le monde scientifique (les chercheurs en socio-histoire de la statistique)

    et les statisticiens (dappareil) partagent certains a priori sur le monde quils analysent (ou

    construisent). Les raisons en sont multiples et complexes et vont d une formation influence

    ventuellement par les nouvelles sciences sociales et historiques des voisinages de plus en

    plus frquents, en passant, naturellement, par une semblable confrontation un monde en

    transformation rapide.

    Principes de la socio-histoire de la statistique Discours et pratique des bureaux de chifres

    Les statistiques ne sont pas u n pur reet de l a ralit. Ni un pure laboration logique.

    Les bureaux statistiques travaillent de plus en plus avec la subjectivitdes rpondants, ce qui les loigne de plus en plus de lide de vouloir

    simplement reter la ralit objective.

    Les groupes, que mobilisent des porte parole, nexistent ociellement(rellement?) que sils trouvent une traduction statistique ( travers unclassement, une catgorie).

    Les groupes (du moins cer tains dentre eux) sont consults par les bureauxrelativement aux classements qui les concernent. Dune certaine faon, ilsles approuvent.

    Le travail statistique a pour eet de durcir certaines divisions de la socit,dattribuer une essence des individus ou des groupes.

    Les classements statistiques ne sont plus conus comme rpondant une pure logique scientique. Ils doivent correspondre la faon dont la

    socit, elle-mme, se reprsente. Ils traduisent, en termes statistiques, lesdivisions de la socit.

    Dans bien des cas, le travail de lhistorien de la statistique consiste, un peu la

    manire des ethnomthodologues, faire des comptes rendus des comptesrendus des agents impliqus dans le travail statistique.

    Face aux rponses certaines questions subjectives, le bureau statistique

    devra se contenter de faire des comptes rendus des comptes rendus des rpondants.

    La statistique est l e rsultat, toujours provisoire, dinteractions trs complexesentre les demandes de ltat, les demandes et les stratgies de reprsentation desgroupes (des publics) telles qulabores par leurs porte-parole, et leur traduction,en termes scientiques, par les professionnels de la statistique.

    Le processus dlaboration des statistiques est de plus en plus complexe.Il ncessite des consultations auprs des publics, lanalyse des demandesde ltat et de ses agences, la prise en compte des ractions possibles dela population (de moins en moins docile) et un examen des possibilitsoertes par la statistique mathmatique.

    La technicit, le mthodologisme sont, dune certaine faon, des moyens pour lesbureaux statistiques de se protger contre la politisation et les critiques

    Le discours techniciste est de plus en plus valoris. Un bureau statistique sedistingue dabord par sa matrise mthodologique.

    Le fait statistique est construit. Le bureau statistique nest quun des acteurs du processus dlaboration (de

    construction) des statistiques.

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    33/382

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    34/382

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    35/382

    34

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    DESROSIRES, Alain ; THVENOT, Laurent. Les catgories socioprofessionnelles. Paris : ditions LaDcouverte, 1988.

    SCHWEBER, Libby.

    Lhistoire de la statistique, laboratoire pour la thorie sociale , Revue franaise desociologie, vol. 37, n. 1, p. 107-128, 1996.

    SENRA, Nelson. O saber e o poder das estatsticas. Uma histria das relaes dos estaticistas com osEstados Nacionais e com as Cincias. Rio de Janeiro: IBGE, 2005.

    SENRA, Nelson ; CAMARGO, Alexandre de Paiva Rio (ed.). Estatsticas Nas Amricas. Por uma agenda deestudos histricos comparados. Rio de Janeiro : IBGE, 2010.

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    36/382

    35

    A TRANSFORMAO DO TRABALHO ESTATSTICO E AEMERGNCIA DE UMA SCIOHISTRIA DA ESTATSTICA1

    Jean-Pierre Beaud*

    Os ltimos 30 anos viram o trabalho estatstico modificar-se de modo bastante substancial.

    isto que nos conduz a falar de um novo regime estatstico. A objetivao, que quase

    sempre caracterizou a prtica estatstica, assume, por exemplo, uma forma particular

    em razo, entre outras coisas, do lugar destinado hoje subjetividade dos indivduos.

    Interrogamos-nos, neste texto, sobre a nova organizao de estruturas, normas e pr-

    ticas que caracterizam este novo regime estatstico, por um lado, e, por outro, sobre asconcepes que, durante este mesmo perodo, impuseram-se pouco a pouco no seio

    da comunidade de cientistas no que se refere ao estudo da estatstica. Ns afirmamos

    que existem articulaes (complexas, certamente) entre as transformaes no espao

    do trabalho estatstico e as novas maneiras de conceber a pesquisa sobre a estatstica.

    mais particularmente a estas articulaes que consagramos nossa reflexo. , portanto, a

    ocasio de se interrogar ao mesmo tempo sobre as instituies produtoras de nmeros,

    os estatsticos que nelas trabalham, os instrumentos que eles produzem, os pblicos que

    so o produto do trabalho estatstico e que, por sua vez, inf luenciam este mesmo trabalho,

    a comunidade de pesquisadores que busca explicar o conjunto do processo estatstico

    e mesmo a administrao estatal que, pelas demandas e pelos recursos que atribui aosrgos produtores de nmeros, orienta a produo estatstica. Terminamos apresentando

    um exemplo recente de controvrsia que ilustra dramaticamente as novas tenses que

    pesam sobre o trabalho estatstico. O debate que o Canad assistiu recentemente relativo

    supresso do questionrio longo no recenseamento , de alguma maneira, a traduo

    em um plano poltico e mesmo emotivo do novo arranjo estatstico.

    O REGIME ESTATSTICO

    Definimos em outro lugar (BEAUD; PRVOST, 2010, p. 37-65) um regime estatstico como o

    complexo formado, em um momento determinado, pelas estruturas, normas e prticas esta-

    tsticas. Por estruturas estatsticas entendemos tudo aquilo que diz respeito organizao e

    diviso do trabalho estatstico. Evidentemente, pensar-se- primeiro no rgo estatstico

    central, se ele existe, e em todas as instituies fortes que se ocupam da coleta, anlise e

    * Professor no Departamento de Cincia Poltica e membro do Centro Interuniversitrio de Pesquisa sobre a Cincia e aTecnologia (CIRST), Universidade do Qubec em Montreal, Canad. [email protected]

    1 N. do E.: Este texto, cujo original encontra-se na pgina 25, foi traduzido para o idioma portugus por Natlia deLacerda Gil, doutora e mestre em Educao pela Universidade de So Paulo (USP) e professora da Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Adiante, ela tem um texto nesta publicao.

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    37/382

    36

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    divulgao das estatsticas, mas tambm na forma do sistema estatstico (sua maior ou menor

    centralizao), por exemplo. Por normas, entendemos a regulamentao, as prescries e

    os referenciais destinados a orientar, delimitar ou mesmo censurar as prticas. Estas ltimasrepresentam o conjunto das atividades para as quais so dispostos recursos e competncias.

    Temos sido assim conduzidos a distinguir vrios regimes: o primeiro, qualificado de pr e

    protoestatstica, caracteriza o perodo anterior metade do sculo XIX; o segundo, marcado

    pelo fenmeno de nacionalizao estatstica, abrange o perodo que se estende da metade

    do sculo XIX at o primeiro tero do sculo XX; o terceiro, organizado em torno da ideia

    de macroadministrao estatstica, concerne ao corao do sculo XX; finalmente, o ltimo

    impe-se a partir dos anos 1980 em um contexto de globalizao neoliberal. Ns j buscamos

    mostrar que estes regimes caracterizam a maior parte dos sistemas estatsticos nacionais,

    mesmo se verdade, por um lado, que o conceito foi forjado tomando como exemplo oCanad, e, por outro, que os perodos so aproximados e devem ser adaptados em virtude

    das experincias (polticas) nacionais.

    Desde o incio da dcada de 1980, portanto, grandes transformaes nos levaram a falar

    de um novo regime estatstico. As principais caractersticas so as seguintes. Em primeiro

    lugar, muitos sistemas estatsticos esto sujeitos a diversas formas de descentralizao

    estrutural. Se, durante a maior parte do sculo XX, o modelo centralizado tinha sido, de

    algum modo, a norma, e o sistema estatstico canadense seu arqutipo, nos ltimos trinta

    anos este modelo foi questionado por causa, entre outras razes, da federalizao (a Espanha

    o exemplo mais notvel) ou da regionalizao de certos sistemas polticos (a Frana o

    exemplo mais surpreendente), da imbricao de vrios pases em sistemas supranacionais,

    e mesmo do impacto de alguns avanos tecnolgicos (como a miniaturizao inform-

    tica). Mesmo um sistema to centralizado como o Canad sofreu tenses deste ponto de

    vista. Esse movimento inscreve-se igualmente em um contexto ideolgico marcado pelo

    aumento das crticas neoconservadoras da burocracia, o que tem contribudo para colo-

    car como central a questo do tamanho e das atribuies do rgo estatstico central e o

    downsizing, o marketingestatstico, o direcionamento aos clientes como solues. A ltima

    caracterstica estrutural significativa deste regime concerne reconfigurao da diviso

    de tarefas entre os diferentes produtores de dados e entre estes ltimos e os diferentes

    usurios, como testemunham, por um lado, os organogramas bastante complexos dossistemas estatsticos que integram hoje uma grande quantidade de produtores de dados

    e, por outro lado, as instncias de dilogo com os usurios ou as instncias de exame dos

    produtos estatsticos.

    No plano das normas, as transformaes so tambm espetaculares. Constata-se, assim,

    um direcionamento evidente a uma temtica de tipo econmico. O rgo estatstico

    apresentado como uma empresa que presta servios, que prope os produtos em um

    mercado caracterizado por clientelas sensveis qualidade e ao preo. Um novo discurso

    relativo a eficcia, marketing e qualidade total se generalizou. A proliferao de cdigos de

    tica, cdigos de boas prticas que os representantes comerciais da estatstica moderna

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    38/382

    37

    A TRANSFORMAODOTRABALHOESTATSTICOEAEMERGNCIADEUMASCIO-HISTRIADAESTATSTICA1

    ASEO

    transportam em suas bagagens e cuja aplicao recomendada pelos organismos supra-

    nacionais outra caracterstica notvel. A cooperao estatstica internacional particu-

    larmente valorizada desde h algumas dcadas. A livre circulao de modelos, conceitos,ideias tem certamente sido associada ao mundo da estatstica, ao ponto de fazer desta

    disciplina um instrumento e uma garantia de paz. Entretanto nunca esta circulao tinha

    tido tanta magnitude como hoje.

    Disso resultam prticas largamente difundidas tais como a adoo de um calendrio

    fixando datas para a publicao de dados, o que tem por finalidade eliminar as dvidas

    quanto a possveis interferncias polticas para atrasar a divulgao de informaes com

    a aproximao de uma eleio, por exemplo, a utilizao daspeer reviews, generalizadas

    no caso dos pases da Unio Europeia, e o desenvolvimento do benchmarking, tambm

    chamado de talonnage, que consiste em estudar, comparar as diferentes prticas como objetivo de identificar as melhores. No de surpreender, nestas circunstncias, ver o

    aspecto tcnico assumir um lugar cada vez mais importante no discurso e na prtica dos

    servios de estatstica e aparecer como a norma por excelncia. A qualidade total antes um

    slogan, mas tambm uma srie de exigncias tcnicas. Outra caracterstica deste regime

    refere-se s prticas criadas para se ajustar a uma resistncia cada vez mais marcada da

    populao para com os inquritos estatsticos. Mesmo se os rgos estatsticos sempre

    estiveram confrontados a este mau humor do pblico, , sobretudo, desde o final dos anos

    1960 que isto se tornou muito problemtico, pelo menos em alguns pases da Europa. Esta

    resistncia ao inqurito estatstico levou, por exemplo, a uma utilizao mais acentuada

    da documentao administrativa. Contudo esta tendncia tambm, e principalmente, o

    resultado da busca de uma prtica estatstica racionalizada em um contexto de recursos

    escassos e crescimento da demanda pelas polticas pblicas. Grosso modo, as enquetes

    custam caro, especialmente os censos. Alm disso, estes ltimos so cada vez mais fre-

    quentemente criticados por seu peso e sua impreciso. Se no so suprimidos (como o

    caso em alguns pases, como Islndia, Finlndia, Sua, Alemanha, por exemplo), utilizam

    cada vez mais tcnicas estatsticas que, durante muito tempo, tinham sido consideradas

    incompatveis com o exerccio do recenseamento e se distanciam, portanto, daquilo que

    tinha sido apresentado como o princpio central do censo, a exaustividade. O ltimo

    ponto sobre o qual gostaramos de insistir refere-se ao novo estatuto do subjetivo nostrabalhos dos servios de estatstica. O novo regime estatstico , de fato, caracterizado

    pelo aumento das estatsticas subjetivas. E isso coloca em causa outro princpio central

    do trabalho dos rgos produtores de nmeros: o afastamento da subjetividade como

    pr-requisito. Para os institutos de estatstica, existia uma distino fundamental entre

    as classificaes estatsticas, objetivas (ou seja, que no se assentam nos julgamentos,

    necessariamente subjetivos, dos indivduos estatsticos e que so, de certa forma, da

    competncia da estatstica como cincia aplicada), que lhes dizem respeito, e as classi-

    ficaes externas, subjetivas, com as quais se acomodam os indivduos na vida cotidiana.

    Dois caminhos tinham sido seguidos para alcanar esta cientificidade: a objetivao e a

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    39/382

    38

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    padronizao. Ora, estes dois meios parecem hoje fragilizados, pelo menos em alguns

    setores do trabalho estatstico, pela multiplicao de variveis subjetivas. Como obter algo

    que ultrapasse os dados individuais quando se tem que lidar cada vez mais com sujeitose no mais apenas com objetos estatsticos? Como construir sistemas de classificao que

    ultrapassem as experincias nacionais quando se tem que lidar com classificaes que

    se atrelam aos sistemas de classificao dos indivduos? Um pouco em toda a parte, na

    Europa particularmente, as classificaes indignesaparecem sob o efeito quer de leis

    supranacionais (como no caso europeu), quer de opes de gesto das populaes (mul-

    ticulturalismo). E em um contexto novo: no mais apenas, como nos sculos XIX e XX,

    um assunto de Estados plurinacionais, mas principalmente de pases que acolhem novas

    populaes de imigrantes. Um dos efeitos a produo de classificaes to especficas

    que qualquer tentativa de padronizao est sem dvida fadada ao fracasso. O aparelhoestatstico nacional contenta-se, ento, um pouco maneira dos etnometodlogos, a fazer

    o relato dos relatos dos recenseados. A base sobre a qual repousam todas as estatsticas

    fortemente ambgua e varivel. Trata-se de uma construo.

    A SCIOHISTRIA DA ESTATSTICA

    Durante os anos 70 do sculo passado, estruturou-se um campo de pesquisa difcil de definir

    por uma designao nica. A expresso histria da estatstica talvez seja aquela, contudo,

    que congrega a maioria dos atores do campo. Se a histria da estatstica quase to antigaquanto a estatstica, foi apenas recentemente que ela assumiu uma feio mais externalista,

    tentou, de perto, integrar as aquisies da histria internalista, apoiou-se sobre uma postura

    construtivista (ou reflexiva2) e crtica, recusando tanto um rigoroso ponto de vista realista

    quanto os desvios relativistas. Evidentemente, tudo isto objeto de debates e as posies

    dos pesquisadores poderiam ser situadas num espao de (pelo menos) duas dimenses,

    com um primeiro eixo internalista-externalista e um segundo eixo realista-relativista,

    se um exerccio deste tipo no fosse, inevitavelmente, suspeito. Poder-se-ia extrapolar em

    tal exerccio e distinguir, por exemplo, um construtivismo ontolgico e um construtivismo

    metodolgico (SCHWEBER, 1996). Voltaremos a isto. Fato que, no obstante diferenas reais

    entre as abordagens, certo consenso caracteriza o campo (de um simples ponto de vista

    bourdieusiano, isto evidente: falar de um campo assumir o pressuposto de que h um

    mnimo de consenso). Vejamos isto mais de perto.

    A histria da estatstica, tal como concebida atualmente, foi construda sobre uma ruptura

    com a velha concepo internalista que relacionava o desenvolvimento da estatstica ao

    refinamento progressivo e lgico das ferramentas aritmticas, matemticas, cada vez mais

    1 As duas expresses, certamente, no so intersubstituveis, embora seja verdade que muitas vezes elas sejam vistascomo prximas e, at mesmo, equivalentes. Para uma ilustrao e uma defesa da p ostura reflexiva, ver, por exemplo,

    Brian (2010).

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    40/382

    39

    A TRANSFORMAODOTRABALHOESTATSTICOEAEMERGNCIADEUMASCIO-HISTRIADAESTATSTICA1

    ASEO

    complexas. Este conceito foi sempre reconhecido e no sem valor, mesmo sob o ponto de

    vista da nova scio-histria. Esta foi construda igualmente sobre uma ruptura mais institucional

    e to antiga quanto os primeiros rgos produtores de nmeros que viam o desenvolvimentodas atividades e dos organismos estatsticos como acompanhamento lgico da expanso das

    atribuies do Estado. Este conceito ainda corrente e largamente conservado pelos agentes

    dos servios nacionais de estatstica. As obras comemorativas (para os cem ou duzentos anos

    de tal instituio) so sua forma mais espetacular. Em alguns casos, elas tm sido mais ou

    menos fortemente influenciadas pela nova scio-histria e constituem, de alguma maneira,

    um tipo hbrido. A histria moderna da estatstica, por fim, tambm foi elaborada com base na

    recusa de uma posio puramente externalista que v a estatstica como uma consequncia

    ou um efeito de mudanas quase totalmente exteriores ao campo da cincia. Esta posio

    teve poucos verdadeiros defensores entre os estatsticos ou historiadores da estatstica j que,de algum modo, postulava a inutilidade de uma histria da estatstica. Funciona, contudo,

    como uma espcie de horizonte, ponto de referncia ou mesmo ponto crtico. Ela lembra a

    todos que os nmeros produzidos nunca so inocentes.

    Nos ltimos 40 anos, surgiram os primeiros trabalhos que ilustram as rupturas que acabamos

    de expor. As condies externas que tornaram possveis tais rupturas so muitas e certamente

    merecem ser identificadas (se queremos evitar que a histriada scio-histria da estatstica

    cometa os mesmos erros da histria tradicional da estatstica). As transformaes das sociedades

    ocidentais no final dos 30 anos gloriosos (para retomar uma expresso francesa que no deixa

    de ter interesse para outros pases), os primeiros questionamentos do Estado-providncia,

    a ascenso de novas foras de esquerda radicais (marcadas por um marxismo renovado e

    colorido de terceiro-mundismo), aqui e ali no mundo podem ser vistos como (demasiado)

    grandes fatores potencialmente explicativos. As classificaes estatsticas, que um pouco em

    toda a parte so assumidas como os primeiros objetos de anlise desta nova scio-histria,

    expressam bem o que estes primeiros pesquisadores (Desrosires, em particular) tendem

    a apreender: a traduo numrica necessariamente imperfeita de um mundo em transfor-

    mao. Um pouco em toda a parte, aponta-se que as classificaes estatsticas (tais como as

    outras formas de nomear, designar, assinalar os indivduos que a sociologia e a antropologia

    j haviam desde h algum tempo relativizado e historicizado) devem ser desconstrudas. Em

    um perodo de transio, as velhas classificaes e os arranjos polticos que as solidificavamperderam sua utilidade para representar o mundo.

    Um livro como o de Desrosires e Thvenot (1988) sobre as categorias socioprofissionais

    apresenta bem os princpios de uma anlise dos instrumentos estatsticos que rejeita o antigo

    objetivismo, caro aos estatsticos de Estado. Ele evoca tambm a originalidade do momento

    francs simbolizado pelo pertencimento de Desrosires ao mesmo tempo ao rgo nacional

    de estatstica, o INSEE, e ao mundo universitrio.

    O trabalho aqui apresentado o resultado de uma longa partici-

    pao nos trabalhos do INSEE []. O INSEE tem, desde h muito

  • 8/11/2019 SEP_90.pdf

    41/382

    40

    EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO

    tempo, incentivado pesquisas de fundo []. Estes trabalhos foram

    igualmente, de longa data, estimulados por uma colaborao com

    os socilogos.Este encontro entre dois espaos cientficos que, emquase todos os outros pases so completamente separados, trouxe uma

    valiosa ajuda para enfrentar e resolver a questo das nomenclaturas

    (INSEE, p. 8, grifo nosso).

    Seria necessrio, sem dvida, interrogar-se seriamente (de modo emprico) sobre a ver-

    dadeira originalidade deste modelo de colaborao. Eu formularia, de qualquer modo, a

    hiptese de que uma colaborao entre estatsticos e especialistas em cincias sociais

    hoje mais frequente