8/11/2019 SEP_90.pdf
1/382
8/11/2019 SEP_90.pdf
2/382
SrieEstudose
Pesquisas
90
S A L V A D O R 2 0 1 1
EM ASSOCIAO DASAMRICAS, AS ESTATSTICAS
PBLICAS COMO OBJETODE ESTUDO
Cesar Vaz de Carvalho Junior, Edmundo S Figueira,Nelson de Castro Senra, Hernn Gonzlez Bollo(orgs.)
8/11/2019 SEP_90.pdf
3/382
Governo da Bahia
Governo do Estado da BahiaJaques Wagner
Secretaria do PlanejamentoZezu Ribeiro
Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da BahiaJos Geraldo dos Reis Santos
Diretoria de EstudosEdgard Porto
Ficha Tcnica
OrganizadoresCesar Vaz de Carvalho JuniorEdmundo S FigueiraNelson de Castro SenraHernn Gonzlez Bollo
Coordenao de Biblioteca e DocumentaoNormalizaoRaimundo Pereira Santos
Coordenao de Disseminao de InformaesAna Paula Porto
Editoria-geralElisabete Cristina Teixeira Barretto
RevisoLuis Fernando Sarno (Linguagem)
Aline Santana, Diana Chagas (Padronizao e Estilo)
Editoria de ArteNando Cordeiro
Design GrficoElisabete Cristina Teixeira Barretto
Julio Vilela
EditoraoAgap Design
ProduoRenata Santos
Av. Luiz Viana Filho, 435, 2 andar CAB CEP 41750-002 Salvador BahiaTel.: (71) 3315-4822 / 3115-4707 Fax: (71) 3116-1781
www.sei.ba.gov.br [email protected]
Em associao das Amricas, as estatsticas pblicas como objeto de estudo. /Csar Vaz de Carvalho Junior et al. Salvador: SEI, 2011.
250 p. il. (Srie estudos e pesquisas, 90).
ISBN 978-85-85976-94-1
1. Estatsticas pblicas. I. Carvalho Jnior, Csar Vaz de. II. Figueiroa,Edmundo de S. III. Senra, Nelson de Castro. IV. Bollo Gonzlez, Hernn.
V. Srie
CDU 311.3 (81)
8/11/2019 SEP_90.pdf
4/382
Blaise
Pasca
l,autorannimo,
sc.
XVII
8/11/2019 SEP_90.pdf
5/382
8/11/2019 SEP_90.pdf
6/382
11 POR UMA ASSOCIAO DE PESQUISADORES
12 UM BALANO BASTANTE PARCIAL ARGENTINO E MEXICANO 13 UM BALANO MENOS PARCIAL BRASILEIRO PIONEIRISMO DO IBGE
17 DOIS SEMINRIOS INTERNACIONAIS 2009 E 2010
18 A ESTRUTURA DA PUBLICAO
18 BIBLIOGRAFIA
21 NOTA
23 1aSEOSISTEMAS E INSTITUIES ESTATSTICAS: AUTONOMIA, SUFICINCIA EATUALIDADE
25 LA TRANS FORMATION DU TRAVAIL STATISTIQUE ET LMERGENCE DUNE
SOCIOHISTOIRE DE LA STATISTIQUEJean-Pierre Beaud
25 LE RGIME STATISTIQUE
28 LA SOCIOHISTOIRE DE LA STATISTIQUE
31 ESQUISSE DE COMPARAISON ENTRE LES PRINCIPES DE LA SOCIOHISTOIRE DE LA STATISTIQUE ET LEDISCOURS ET LA PRATIQUE DES BUREAUX DE CHIFFRES
33 BIBLIOGRAPHIE
35 A TRANSFORMAO DO TRABALHO ESTATSTICO E A EMERGNCIA DE UMA SCIOHISTRIA DAESTATSTICA
45 TRANSFORMAES ESTRUTURAIS E SISTEMAS ESTATSTICOS NACIONAIS:
REFLEXES A PARTIR DA CRISE FINANCEIRA INTERNACIONALCarmem FeijElvio ValentePaulo Gonzaga M. de Carvalho
46 BREVE HISTRICO SOBRE LEVANTAMENTO ESTATSTICO NO BRASIL
49 A CRISE ECONMICA E A DEMANDA POR ESTATSTICAS CONJUNTURAIS 50 Conceito de normalidade e a hiptese da zona de estabilidade para ajudar a entender
contextos de crise
52 OBSERVAO FINAL
53 REFERNCIAS
55 AS INSTITUIES PBLICAS ESTADUAIS BRASILEIRAS VOLTADAS PARA A PRODUOE DISSEMINAO DE ESTATSTICAS PBLICAS, ESTUDOS E PESQUISAS EPLANEJAMENTO, E OS DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADECesar Vaz de CarvalhoEdmundo S Barreto Figueira
57 UMA NOVA ORDEM E O IMPERATIVO DE UM NOVO SISTEMA DE PRODUO DAS ESTATSTICASPBLICAS E DOS ESTUDOS E PESQUISAS: A ANIPES E O SEU PLANEJAMENTO ESTRATGICO
60 A ANIPES E O SEU PLANEJAMENTO ESTRATGICO
63 A PESQUISA REALIZADA PELA ANIPES
63 SNTESE DO RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA PELA ANIPES
64 CONSIDERAES FINAIS
67 REFERNCIAS
SUMRIO
8/11/2019 SEP_90.pdf
7/382
69 REFLEXIONES SOBRE LA PRODUCCIN DE DATOS SOCIODEMOGRFICOSEN LA ARGENTINA DE LOS 2000Alicia Gmez
Gladys MassMara Fernanda Olmos
70 LA NOCIN DE REALIDAD DE L A CUAL PARTIMOS
72 ACERCA DEL MARCO NORMATIVO JURD ICO LEGA L VIGEN TE EN LA ARGEN TINA DEL 2000 73 a) Relaciones con los usuarios gubernamentales y no gubernamentales 73 b) Aplicacin de metodologas y procedimientos
74 c) Difusin e impacto de sus resultados
74 CARACTERSTICAS DEL SISTEMA ESTADSTICO NACIONAL EN LA ARGENTINADEL 2000
76 PRODUCCIN DE INFORMACIN ESTADSTICA SOCIODEMOGRFICA A PARTIR DE LAFUENTE CENSAL
77 a) Conservacin de la forma de indagacin histrica bsica
78 b) Nuevas temticas. Metodologa alternativa 79 c) Desarrollos metodolgicos de informacin censal. La medicin de la pobreza
80 A MANER A DE REF LEXIN Y CONCLUSIN
80 BIBLIOGRAFA
82 FUENTES
83 2aSEOSISTEMAS E INSTITUIES ESTATSTICAS: PRTICAS E BUROCRACIASESPECIALIZADAS
85 A COMISSO DE ESTATSTICA GEOGRFICA E NATURAL, POLTICA E CIVIL DA CORTE
18291831Rafael de Almeida Daltro Bosisio
86 O PRIMEIRO REINADO E AS ESTATSTICAS
93 CONSIDERAES FINAIS
94 REFERNCIAS
97 O POVO SEM SENSO? EM ARMAS CONTRA MEDIDAS RACIONAIS DO GOVERNOIMPERIAL BRASILEIRO 18511852Nelson de Castro Senra
97 TERRA FRTIL S REVOLTAS
102 O GABINETE E AS REFORMAS
106 a) O censo geral108 b) O registro civil
109 REPDIO DA POPULAO112 a) 1 explicao: ltima batalha da Praieira115 b) 2 explicao: atuao de bandidos116 c) 3 explicao: revolta dos vigrios
117 OS MISSIONRIOS CAPUCHINHOS
119 ECOS NOUTRAS PROVNCIAS
120 POVO SEM SENSO? NO, MAS O PAS FICA SEM CENSO
121 O QUE VEM DEPOIS?
126 REFERNCIAS
8/11/2019 SEP_90.pdf
8/382
129 A JUSTA MEDIDAMara Vernica Secreto
129 A SUBJETIVIDADE DAS MEDIDAS
130 O SIGNIFICADO DA PADRONIZAO
131 SECOS E MOLHADOS
136 O DIFCIL PROCESSO DE UNIFICAR AS MEDIDAS NO BRASIL
140 O NORDESTE E AS MEDIDAS
141 SEM TER O QUE QUEBRAR
145 OUTRA MEDIDA INJUSTA: OS IMPOSTOS
148 REFERNCIAS
151 ESTATSTICAS E URBANISMO OS IRMOS ANDRADA E OS CLCULOS PARAUMA NOVA CAPITAL PARA O IMPRIO DO BRASILMargareth da Silva PereiraMrio Luis Carneiro Pinto de Magalhes
151 HERANAS E ORIGINALIDADES NA PRTICA DE UM SABER TRANSVERSAL
155 COMPARANDO POVOAES E CIDADES
157 A EXPERINCIA DAS MINAS E DE SEUS SERTES NO SC XVIII E XIX AS CONTRIBUIES PARA UMOUTRO ESQUADRINHAMENTO DO TERRITRIO
160 DE UMA ARITMTICA A UM CLCULO COMPLEXO A TRANSIO DE UMA ARITMTICA POLTICAPARA UMA ECONOMIA MORAL
162 JOS BONIFCIO LEITOR DE JEREMY BENTHAM O UTILITARISMO, ENTRE A MORAL E A ESTTICA
164 REFERNCIAS
167 TENTATIVAS DE ORDENAMENTO DA ESTATSTICA MINEIRA NO SCULO XIX:
OS DADOS EDUCACIONAIS E AS LISTAS NOMINATIVASSandra Caldeira
168 SILVA PINTO E AS RELAES ENTRE ESTATSTICA E EDUCAO
170 A DINMICA DA POPULAO NAS LISTAS NOMINATIVAS
175 VNCULOS ENTRE OS DADOS EDUCACIONAIS E A CONTAGEM POPULACIONAL
179 CONSIDERAES FINAIS
179 REFERNCIAS
183 LAS ESTADSTICAS PBLICAS EN LA ARGENTINA DE ENTREGUERRAS. AGENCIAS, ACTORES YPROGRAMAS DE RECUENTOClaudia Daniel
184 LA CUESTIN SOCIAL TRADUCIDA EN CIFRAS
190 MEDIR LA RIQUEZA AGROPECUARIA. RACIONALIZACIN Y POLMICA
194 LA GRILLA ESTADSTICA DE LA ARGENTINA FABRIL
199 REFLEXIONES FINALES
201 BIBLIOGRAFA
205 LA DIRECCIN NACIONAL DE INVESTIGACIONES, ESTADSTICA Y CENSOS YEL ESTADO PERONISTA 19461949Hernn Gonzlez Bollo
207 LA CENTRALIZACIN EJECUTIVA Y METODOLGICA PERONISTA
213 EL CUARTO CENSO GENERAL DE LA NACIN, IMPORTANCIA POLTICA E IMPACTO SOCIAL
8/11/2019 SEP_90.pdf
9/382
217 LA DNIEC Y EL PRIMER PLAN QUINQUENAL
220 CONCLUSIN
221 BIBLIOGRAFA
225 3aSEOESTATSTICAS NA CONFIGURAO DOS IMAGINRIOS:ABORDAGENS HISTRICAS
227 LAS ESTADSTICAS DE CRIMINALIDAD EN MXICO EN EL SIGLO XIX YEL IMAGINARIO NACIONALLeticia Mayer
228 LA ESTADSTICA Y EL DETERMINISMO SOCIAL
228 LA ESTADSTICA COMO CONOCIMIENTO UTILITARIO
229 LA ESTADSTICA Y EL CONTROL DE LA DESVIACIN DE LA NORMA MORAL
230 LA ESTADSTICA COMO TEXTO C ULTURAL231 EL MEXICANO COMO HOMBRE TIPO
238 CONCLUSIONES: ESTADSTICA, CRIMINALIDAD Y DETERMINISMO
240 BIBLIOGRAFA
243 EL PENSAMIENTO ESTADSTICO, UN INSTRUMENTO DE MEDICIN EN MXICO EN EL SIGLO XIXAna Mara Medeles Hernndez
243 LA ESTADSTICA, SABERES Y PRCTICAS
244 EL PENSAMIENTO ESTADSTICO
246 LA ESTADSTICA COMO INSTRUMENTO DE REPRESENTACIN NACIONAL
247 LOS NUEVOS OBJETOS SOCIALES
249 LAS ESTADSTICAS NACIONALES: RIQUEZA PBLICA
251 LA ASPIRACIN NACIONAL: CIFRAS Y DATOS, UN ACERCAMIENTO
254 BIBLIOGRAFA
255 OTROS
257 A DEMOGRAFIA NO DISCURSO MDICOHIGIENISTA: UM ESTUDO BASEADO NOBRAZILMDICO 18871900
Alexandre de Paiva Rio Camargo
260 O BRAZILMDICOE A RENOVAO INSTITUCIONAL E CONCEITUAL DA SADE PBLICA
266 ESTATSTICAS NO BRAZILMDICO, 18871900 I: ENTRE ESTRATGIAS EDITORIAIS E SOCIABILIDADESPROFISSIONAIS
272 ESTATSTICAS NO BRAZILMDICO, 18871900 II: A EMERGNCIA DE UM ESTILO DE PENSAMENTO
280 CONSIDERAES FINAIS
281 REFERNCIAS
283 MEDINDO O CRIME: UMA ANLISE DA PRODUO DAS ESTATSTICASCRIMINAIS NO BRASILHerberth Duarte dos SantosMarcelo Brice Assis Noronha
283 O CRIME COMO FATO SOCIAL
286 A RELAO ESTADO VISVIS ESTATSTICA
287 A PRODUO DE ESTATSTICAS CRIMINAIS BRASIL
8/11/2019 SEP_90.pdf
10/382
9
293 CONSIDERAES FINAIS
294 REFERNCIAS
297 CONSIDERAES SOBRE A LEGITIMIDADE DAS ESTATSTICAS DE EDUCAO NO BRASIL18711940Natlia de Lacerda Gil
298 LEGITIMIDADE E INTELIGIBILIDADE DAS ESTATSTICAS OFICIAIS
300 OBJETIVIDADE DOS NMEROS E POLTICA EDUCACIONAL
303 EXATIDO, ESCOLHAS E LACUNAS
309 REFERNCIAS
311 CARTOGRAFIA E ESTATSTICA EM MINAS GERAIS NOS ANOS 1920:A ATUAO DE TEIXEIRA DE FREITASMaria do Carmo Andrade Gomes
311 O CENTENRIO DA INDEPENDNCIA: CARTOGRAFIA E ESTATSTICA NA DIMENSO MONUMENTAL
312 A COMISSO MINEIRA DO CENTENRIO E SEU PROGRAMA CARTOGRFICO E ESTATSTICO
322 O ATLAS COROGRFICO MUNICIPAL: PEQUENAS CRNICAS DA CIVILIZAO E DO PROGRESSO
324 REFERNCIAS
327 4aSEOESTATSTICAS NA CONFIGURAO DOS IMAGINRIOS:APROPRIAES ATUALIZADAS
329 ESTATSTICA E EDUCAO NO BRASIL: ESTATSTICAS ESCOLARES EPADRONIZAO DE TESTES EDUCACIONAISOdair Sass
330 ESTATSTICA, EDUCAO E ESTADO NO BRASIL
339 MENSURAO PSICOLGICA, ESTATSTICA E EDUCAO
344 CONSIDERAES FINAIS
345 REFERNCIAS
347 NUEVAS FORMAS DE VIGILANCIA POBLACIONAL. EL PAPEL DE LOSSISTEMAS DE INFORMACINLaura Vecinday
348 SISTEMAS DE INFORMACIN Y NUEVAS FORMAS DE VIGILANCIA POBLACIONAL: EL CASO DEL SISTEMA DEINFORMACIN PARA LA INFANCIA
358 REFLEXIONES FINALES?
359 BIBLIOGRAFA
361 SISTEMA ESTADSTICO PARA EL SEGUIMIENTO DE POLTICAS DE POSGRADO. EXPERIENCIASEN LA UNIVERSIDAD NACIONAL DE CRDOBA, ARGENTINA
Ana BaruzziMnica BalzariniAlicia MaccagnoCristina SomazziNicols EsbryHebe Goldenhersch
361 FORMACIN PARA INVESTIGACIN
363 INDICADORES363 Formacin de recursos humanos de posgrado367 Docentes con posgrado, produccin en investigacin y nuevo capital humano
8/11/2019 SEP_90.pdf
11/382
371 AGRADEC IMIENTOS
371 BIBLIOGRAFA
373 POLTICA PBLICA E EDUCAO: O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR NA BAHIAMaria Raidalva Nery Barreto
374 TRAJETRIA DA EDUCAO SUPERIOR NO BRASIL
375 O ENSINO SUPERIOR SEGUNDO AS CONCEPES DA UNESCO E DO BANCO MUNDIAL
377 O PROJETO FAZ UNIVERSITRIO
380 CONSIDERAES FINAIS
380 REFERNCIAS
8/11/2019 SEP_90.pdf
12/382
11
POR UMA ASSOCIAO DE PESQUISADORES
As informaes estatsticas so bastante especiais. Por elas, mundos ausentes e distantes so
tornados presentes e prximos, dessa forma sendo tornados conhecidos, e, por isso, pens-
veis para neles se atuar. Em poucas tabelas, grficos e cartogramas, esses mundos, expressos
em nmeros, so postos frente dos decisores (pblicos ou privados), tornando objetivas
suas decises. Polticas pblicas so geradas, e depois de aplicadas, por nmeros internos,
so devidamente monitoradas; por outro lado, acadmicos as utilizam em suas pesquisas,
validando ou negando suas hipteses de interpretao das realidades complexas. Em suma,
nessa linha clssica de utilizao das informaes estatsticas, elas so vistas como meios deanlise; no meios quaisquer, mas meios objetivos, racionais, e por isso mesmo especiais e
superiores. Impossvel no desej-las, como forma de saber e como fonte de poder, ou, de
outra forma, como tecnologias de distncia e de governo.
Para podermos prosseguir com segurana, preciso deixar claro que as informaes estatsticas
no so as realidades,per se, mas construes das realidades. No quaisquer construes, em
que se veja o que se quer ver, em aes dominadas por ideologias, mas, sim, em que se veja
o que se pode ver, no amparo das cincias (ou dos consensos cientficos em comunidades
de pesquisadores) e dos modernos processos de pesquisa, tudo, sob rigoroso controle dos
usurios, em particular dos especialistas. Assim, no so os mundos, per se, que so postos
em nmeros, mas suas imagens possveis, por seleo de variveis, ou, melhor dizendo, por
seus aspectos relevantes devidamente quantificveis. Ao fim desse processo, as informaes
estatsticas organizam os mundos sociais, dessa forma, se fazendo, tambm, tecnologias de
subjetivao, em que o um se olha no outro. As individualidades, incontrolveis e imperce-
bveis, so transformadas em individualizaes.
Pois esses processos de construo, a cada tempo, so perscrutados atentamente pelos
formuladores de polticas pblicas e pelos pesquisadores acadmicos, certificando-se de
suas isenes cientficas, da desejada e desejvel ausncia de vontades polticas e mesmo
pessoais. Quer-se processos produtivos tcnico-cientficos, tendo as instituies estatsticas
produtoras se aplicado com iseno, em completa autonomia e independncia. Ento, no
se usa, simplesmente, as informaes estatsticas; s se as usa, bem, com pleno domnio dos
processos produtivos praticados; a intimidade das estatsticas produzidas nas instituies
estatsticas (em suma, a atividade estatstica) desnudada pelos especialistas. Para alm
dessa vistoria utilitria, pragmtica, possvel aprofund-la, numa dimenso scio-histrica,
configurando, assim, uma sociologia das estatsticas. Ento, para alm de serem vistas como
meios de anlise, elas so, agora, tomadas como objeto de estudo.
Essa segunda vertente tom-las como objeto de estudo surge h pouco tempo. Um dos
estudos mais antigos ter sido o do economista Oskar Morgenstern, na dcada de sessenta,
8/11/2019 SEP_90.pdf
13/382
12
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
olhando a produo das estatsticas econmicas americanas1. Passa o tempo, e na dcada de
oitenta, o tema vir, de novo, tona em um seminrio, seguido de excelente publicao, pelas
mos de Willian Alonso e Paul Starr (este, em texto lapidar lanar a expresso sociologia daestatstica, como a expresso do que se iniciava a elaborar).
Logo viro outros nomes, numa sucesso crescente de publicaes: Alain Desrosires, Colin Gordon,
Darrel Huff, Donald Mackenzie, Edward Tufte, Ferreira da Cunha, Franois Fourquet, Ian Hacking,
Margo Anderson, Mary Morgan, Nikolas Rose, Stephen Stigler, Theodore Porter, entre vrios outros.
No Canad francs essencial lembrar dois nomes: Jean-Pierre Beaud2e Jean-Guy Prvost.
E h os, por assim dizer, formuladores de molduras tericas, que no so estudiosos da esta-
tstica, propriamente, como Anthony Giddens, Bruno Latour, Howard Becker, Michel Foucault,
Norbert Elias, Pierre Bourdieu (e, de certa forma, Ian Hacking), entre outros poucos. E h osautores de artigos-chaves, como Ivan Fellegi, Jean-Louis Besson, Jean Penneff, Norman Bra-
dburn, Peter Miller, Willian Seltzer, entre outros.
J nas Amricas espanhola e portuguesa, estudos s emergem nas dcadas de noventa, e na
primeira do sculo XXI. Embora j se consiga elaborar um primeiro balano dessas obras, e de
seus autores, tudo ainda muito inicial, demasiado incompleto, e o que ser visto adiante, para
a Argentina, o Mxico e o Brasil. Mas, somado ao Canad francs, j h novos avanos, expressos
em dois seminrios internacionais, como veremos no decorrer desta introduo. E do segundo
desses encontros saram os textos que compem esta publicao, dos quais logo se dar uma
breve sntese, bem assim, dele saiu a ideia de criao de uma Associao das Amricas para a
Histria da Estatstica e do Clculo das Probabilidades(por ousada sugesto de Jean-Pierre Beaud).
UM BALANO BASTANTE PARCIAL ARGENTINO E MEXICANO3
Na Argentina destaca-se Hernn Otero4, com realce especial para Estadstica y Nacin. Una Historia
Conceptual del Pensamiento Censal de la Argentina Moderna, 1869-1914(de 2006). Dois outros nomes
lhe seguem: Hernn Gonzlez Bollo e Claudia Daniel, cujas teses doutorais so destacveis, res-
1 Para maior leveza, os livros dos autores-chaves sero referenciados apenas ao final do texto (contudo, alguns teroseus ttulos antecipados na argumentao, para maior nfase do exposto). Sempre que possvel as referncias serodas edies originais, havidas no exterior; quando no possvel, iro as referncias brasileiras, nestes casos, dandoentre colchetes as datas das edies originais. Outros livros, mais pontuais, sero referenciados no prprio texto,no indo para a bibliografia ao final. As teses doutorais e as dissertaes de mestrado, tambm por leveza, notero referncia completa, nem ao longo nem ao final do texto, sendo fcil obt-las na Internet. Por fim, no haverindicaes bibliogrficas de artigos, a menos dos de Paul Starr, por seu carter fundador, e os de Ivan Fellegi por seremformadores das mentalidades mais atuais.
2 Uma sua trajetria, e bibliografia, por ele mesmo, so reveladas na entrevista concedida a Hernn Otero, e podem servistas em SENRA & CAMARGO (2010, p. 399-413). Merece destaque, Lre du Chiffre. Systmes Statistiques et TraditionsNationales, organizado em parceria com Jean-Guy Prevost, de 2000.
3 Este balano, por razes bvias, ser menos longo que o balano da produo brasileira. No vai a nenhuma afirmaode superioridade brasileira, longe disso, mas apenas de ainda no se ter conseguido avanar no conhecimento dasrealidades dos outros pases. (Nesse balano, ainda por demais parcial, a ajuda de Hernn Gonzlez Bollo foi vital).
4 Uma sua trajetria, e bibliografia, por ele mesmo, so reveladas na entrevista concedida a Nelson Senra e a Alexandre
Camargo, e podem ser vistas em SENRA & CAMARGO (2010, p. 377-397).
8/11/2019 SEP_90.pdf
14/382
13
PORUMAASSOCIAODEPESQUISADORESINTRODUO
pectivamente: La Estadstica Pblica y la Expansin del Estado Argentino: una Historia Social y Poltica
de una Burocracia Especializada, 1869-1947(de 2007), e La Sociedad (des)Cifrada. Configuraciones del
Discurso Estadstico en Argentina (1890-1945)(de 2010)5. E deve haver outros nomes6.
Recentemente, diante da crise por que passa o INDEC (Instituto Nacional de Estadstica y Censos),
em que suas credibilidade e legitimidade foram postas em causa, dois livros foram editados: um, de
Gustavo Noriega, INDEC Histria ntima de una Estafa (Destruccin)(Buenos Aires: Sudamericana,
2010); outro, de Francisco Jueguen e Lucrecia Bullrich, INDEC Una Destruccin con el Sello de los
Kirchner(Buenos Aires: Edhasa, 2010). Naturalmente, no temos condies de julgamento minucioso
(e imparcial) do ocorrido, mas, no obstante, so livros que importam, e merecem referncia, por
terem olhado uma instituio estatstica (se o fizeram com iseno, no nos cabe julgar).
No Mxico destaca-se Letcia Mayer Cellis, com especial destaque para El Infierno de unaRealidad y el Cielo de un Imaginrio. Estadstica y Comunidad Cientfica en el Mxico de la Mitad
del Siglo XIX(de 1999). Outro nome de realce Laura Chzaro, valendo destacar sua tese
doutoral, Ensayo de una Nacin: Estadsticas Mdicas a Fines del Siglo XIX(de 2000). A esses
nomes se somou (para ns, recentemente) Ana Maria Medeles Hernndez (em concluso de
doutoramento). E deve haver outros nomes.
Quanto s respectivas instituies estatsticas, na Argentina h um esforo (houve?) de recu-
perao de antigos censos, o que, como fonte histrica, por certo importa bastante. J no
Mxico, do INEGI (Instituto Nacional de Estadstica y Geografia) pouco sabemos, mas, por sua
boa imagem no exterior, bem possvel que contribua, por alguma maneira, para o avano
dos estudos histricos das estatsticas. E preciso lembrar o papel vital (em todas as Amricas,
e por longo tempo) dos livros da Siglo XXI(editora mexicana).
Por fim, de outros pases pouco (quase nada) sabemos, mas possvel imaginar a existncia
de estudiosos das estatsticas, como objeto de pesquisas scio-histricas7.
UM BALANO MENOS PARCIAL BRASILEIRO PIONEIRISMO DO IBGE
No Brasil, diferente de outros pases, coube ao rgo central de estatstica, o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatstica), por uma feliz juno de fatores, ser pioneiro nas pesquisas
histricas das estatsticas. Antes do mais, por ter a posse de acervos documentais extraordinrios,
porquanto, desde seu incio, se apresentou como herdeiro do passado estatstico brasileiro,
5 Salvo melhor juzo, parece justo lembrar Ral Prebisch, na Argentina, e, no Brasil, Roberto Simonsen e Celso Furtado(entre outros) que, enquanto distintos usurios (e at produtores) de estatsticas econmicas as pensaram em suassuficincias e insuficincias, e qualidades, influindo seus avanos.
6 Importa destacar, na Argentina, o Anurio IEHS Instituto de Estudio s Histrico -Sociales (da Faculdade de CinciasHumanas, da Universidad Nacional del Centro, Tandil), em cujo n 14, de 1999, vale marcar a tima seo Histria yEstadstica, a cargo de Hernn Otero (com textos, alm dele, de Alain Desrosires, de Jean-Pierre Beaud e Jean-GuyPrvost, de Eric Brian, e de Hernn Gonzlez Bollo.
7 Chile e Uruguai, por serem pases que sediam organismos internacionais, podem surpreender, com bons estudos e
estudiosos competentes.
8/11/2019 SEP_90.pdf
15/382
14
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
da assumindo bibliotecas e arquivos dos organismos estatsticos anteriores. Alm disso, o
feliz acaso de ter havido estudiosos interessados, e dispostos a fazerem pesquisas histricas,
claro, com o apoio e o estimulo da direo-superior8. Foi o caso de Nelson de Castro Senra,que idealizou e realizou a Histria das Estatsticas Brasileiras: 1822-2002, em quatro grandes
volumes: 1) Estatsticas Desejadas: 1822-c.1889; 2) Estatsticas Legalizadas: c.1889-c.1936; 3)
Estatsticas Organizadas: c.1936-c.1972; 4) Estatsticas Formalizadas: c.1972-2002; seguidos do
volume sntese: Breve Histria das Estatsticas Brasileiras: 1822-2002(sados em quatro anos,
todos pelo IBGE)9. Ainda desse autor, vale citar O Saber e o Poder das Estatsticas (de 2005,
pelo IBGE tambm)10.
Por fim, como professor no programa de mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas
Sociais, da ENCE (Escola Nacional de Cincias Estatsticas), do IBGE, Nelson de Castro Senra,
vem lecionando a disciplina, por ele idealizada e implantada, Sociologia das Estatsticas(ouSociologia da Atividade Estatstica). Vem orientando dissertaes, valendo destacar, pela maior
afinidade com essa publicao, as seguintes: em 2006, Estatsticas Pblicas: Tempo e Significados
(o Espao da Sociologia das Estatsticas, de Herberth Duarte dos Santos (e que segue sendo
um estudioso competente); em 2005, A Notcia da Estatstica. A Divulgao das Estatsticas do
IBGE na Viso dos Jornalistas, de Slvia Maia Fonseca (atual chefe da assessoria de imprensa
do IBGE); em 2004, Ptria de Questionrios: o Clamor dos Tipos Quando o Brasil Fez 100 Anos, de
Marco Aurlio Martins Santos (que fez alguns captulos na coleo acima referida); em 2003,
Uma Viagem Epistemolgica ao Geoprocessamento, de Luiz Henrique Castiglione (um dos raros
estudiosos da cartografia brasileira, j agora doutor em Cincia da Informao).
Ainda no IBGE, Simon Schwartzman, enquanto foi seu presidente (1994-1998), deu grandes
contribuies sociologia das estatsticas, com timos textos11. Quatro outros nomes se
destacam: trs deles, Carmem Feij, Elvio Valente (j no mais no IBGE, pois devidamente
aposentados) e Paulo Gonzaga de Carvalho (ainda no IBGE), em geral escrevem em par-
ceria, sempre com estudos acurados sobre a atualidade (autonomia e suficincia) das
instituies estatsticas. O quarto nome Paulo de Martino Jannuzzi, professor da ENCE,
que uma referncia consagrada em indicadores (e estatsticas pblicas), com especial
destaque para Indicadores Sociais no Brasil. Conceitos, Fontes de Dados e Aplicaes(2 Ed..
Campinas: Alnea Editora, 2003).
8 O apoio e o estmulo, sem restries e exigncias, em total autonomia e liberdade, de David Wu Tai, diretor do Centrode Documentao e Disseminao de Informaes, do IBGE, foi fundamental.
9 Paralelamente, enquanto esses volumes eram feitos, diversos seminrios, ora focando pessoas, ora temas, em geral com adistribuio de publicaes especficas, foram organizados. Como exemplo, as homenagens ao mdico Bulhes Carvalho(o Av Fundador do IBGE, enquanto um seu precursor), ao Embaixador Macedo Soares e a Teixeira de Freitas (os PaisFundadores do IBGE), aos grandes demgrafos Giorgio Mortara e Lyra Madeira, aos grandes geopolticos Delgado deCarvalho e Therezinha de Castro, entre outros, ou a recuperao da curiosa histria dos elos da estatstica brasileira com oEsperanto, tomado, por muito tempo (desde 1907) como lngua auxiliar de divulgao da estatstica brasileira.
10 O autor iniciou ao final de 2010 uma reviso completa dessa publicao, e a segue em 2011.11 Em boa medida, depois, quase todos esses textos foram agrupados em As Causas da Pobreza (de 2007). Para uma viso
sntese da contribuio (institucional) de Simon Schwartzman, veja-se: SENRA, Nelson de Castro. Pensando e mudando
a atividade estatstica brasileira. In: SCHWARTZMAN, Luisa, et al (org.). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. P. 175-198.
8/11/2019 SEP_90.pdf
16/382
15
PORUMAASSOCIAODEPESQUISADORESINTRODUO
Fora do IBGE, merecem destaques Csar Vaz de Carvalho Junior e Edmundo de S Barreto
Figueira, ambos da SEI (Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia, editora
desta obra)12
, sempre atentos s instituies estatsticas estaduais no Brasil.J em matria de estatsticas da segurana pblica, e temas afins, a autoridade indiscutvel
Renato Srgio de Lima ( frente do Frum Nacional de Segurana Pblica), com especial
destaque para Entre Palavras e Nmeros: Violncia, Democracia e Segurana Pblica no Brasil(de
2010)13, e cuja tese doutoral j prometia trajetria destacada (Contando Crimes e Criminosos
em So Paulo: uma Sociologia das Estatsticas Produzidas e Utilizadas Entre 1871 e 2000, de 2005).
Na temtica da educao, dois textos merecem destaque: a tese de Natlia de Lacerda Gil, A
Dimenso da Educao Nacional: um Estudo Scio-Histrico Sobre as Estatsticas Oficiais da Escola
Brasileira(de 2007); a dissertao de Sandra Maria Caldeira Machado, Os Servios Estatsticos em
Minas Gerais na Produo, Classificao e Consolidao da Instruo Pblica Primria 1871-1931(de 2008). Na temtica da cartografia destacamos Mapas e Mapeamentos: Dimenses Histricas;
as Polticas Cartogrficas em Minas Gerais 1850-1930, de Maria do Carmo Andrade Gomes (de
2005); e na temtica (associada) da representao geogrfica (cartogrfica) da informao
destacamos Epistemologia da Geoinformao: uma Anlise Histrico-Crtica, do j antes citado
Luiz Henrique Castiglione (de 2009; e que est a nos dever uma histria da cartografia brasileira,
com destaque cartografia estatstica)14.
12 A revista Bahia Anlise & Dadosda SEI de referncia obrigatria (com especial destaque para o v. 15, n. 1, jul. 2005), ainda
muito atuante. Outras duas revistas brasileiras precisam ser lembradas: So Paulo em Perspectiva, da Fundao Seade(Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados), de So Paulo, e Transinformao, da Universidade de Campinas, emSo Paulo (ambas em crise, hoje). Mas, a melhor revista brasileira, nos moldes do Journal of Official Statistics, oBoletim de Estatsticas Pblicas, da Anipes (Associao Nacional das Instituies Pblicas de Planejamento, Pesquisa eEstatstica), em cujo n. 6, de 2010, saram os resumos dos textos agora divulgados nesta publicao (em apresentaode Nelson de Castro Senra e Hernn Gonzlez Bollo). Todas so acessveis na Internet, facilmente.
13 Este livro foi primeiro editado no exterior, em 2010 tambm, sob o ttulo Between Words and Numbers: Violence,Democracy and Public Safety in Brazil, e que no site da Amazon recebeu o seguinte comentrio, de Elizabeth Leeds:This book by Renato Srgio de Lima examines the challenges of implementing police reform at a time when rising crimerates and demands by citizens for quick-fix solutions give rise to hard-line emergency policies rather than fundamentalinstitutional change to create effective and respectful policing. Demonstrating the importance of reliable research andmeasurement of factors affecting crime and recognizing important innovations in public safety -- the new emphasis on policemanagement, the multi-causality of crime, the role of municipalities, and the participation of civil society, among others,-- the author never theless places these advances in the realistic context of institutional resistance working against reformin Brazil?s criminal justice system. It is essential reading to understand one of the most complex problems facing Brazil and
Latin America. Por demais, do prefcio edio brasileira, por Srgio Adorno (que foi seu orientador no doutorado),destacamos o seguinte trecho: Este livro um bom testemunho de que iniciativas bem-sucedidas de investigaosociolgica podem ser apropriadas pelos saberes prticos e profissionais. Sem abdicar das exigncias de rigor e deobjetividade inerentes ao modo de ser e lgica do campo cientfico, os captulos abordam o papel estratgico dasestatsticas como instrumento de gesto pblica, os desafios propostos pela emergncia e disseminao do crimeorganizado nas sociedades latino-americanas, o papel da polcia na sociedade democrtica, as novas polticas desegurana em curso formuladas pelos governos federal e estaduais, tendncias da evoluo dos homicdios bemcomo imagens e vises sobre a poltica criminal em So Paulo, estudos sobre fluxo dos crimes no sistema de justiacriminal. Concisos e destitudos do hermetismo prprio do discurso acadmico, os captulos demonstram sim que possvel aliar nmeros eficincia administrativa e profissional. Mais do que isso, possvel traduzir resultados deinvestigaes em fonte de inspirao para a profissionalizao das atividades de controle do crime dentro dos marcosdo estado de direito.
14 Trs outras teses merecem referncia:A Ostentao Estatstica (um Projeto Geop oltico p ara o Territrio Nacion al: Estadoe Planejamento no Perodo ps-1964, de Paulo Roberto de Albuquerque Bomfim (de 2007); Sociedade de Geografia doRio de Janeiro: Espelho das Tradies Progressistas (1910-1945) , de Luciene Pereira Carris Cardoso (de 2008); e, Polticas e
Representaes da Geografia Quantitativa no Brasil: a Formao de uma Caricatura, de Mariana Lamego (de 2010).
8/11/2019 SEP_90.pdf
17/382
16
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
Outro nome que sobressai o de Alexandre de Paiva Rio Camargo, historiador e mestre
em histria, e agora fazendo o doutorado em sociologia, no IESP (Instituto de Estudos
Sociais e Polticos), da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)15. No obstante,embora doutorando, j um pesquisador amadurecido e, com merecimento, bastante
respeitado, com vrios textos publicados em consagrados peridicos brasileiros (por
demais, foi assistente de pesquisa no projeto Histria das Estatsticas Brasileiras). Seu
texto nesta obra (na seo 3) atesta sua capacidade de pesquisador, sua profundidade e
seriedade nas anlises que realiza.
Para terminar este balano, h dois pontos a acrescentar: 1) em final de 2010 foi criado (pela
ENCE / IBGE, tendo como lder Nelson de Castro Senra) um Grupo de Pesquisa no CNPq (Con-
selho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico); trata-se de Estudos Sociais e
Histricos das Estatsticas Pblicas16, com duas linhas de pesquisa: Estatsticas Pblicas: Estado eNao; Tempos, Processos, Significados17, e Estatsticas Pblicas: Instituies, Processos, Sistemas,
Atores18; e j com quinze membros, entre os quais alguns nomes distintos, vrios deles antes
citados; 2) h um Grupo de Trabalho no mbito da ABEP (Associao Brasileira de Estudos
Populacionais) chamado Populao e Histria, bastante atuante, e tendo nomes distintos na
demografia, e com o qual ser oportuno promover-se relacionamento (o que ser logo feito).
Neste ponto final, por certo h grupos semelhantes em associaes e conselhos de classe,
nas esferas federal e regional, a pedir urgente mapeamento19.
15 Sado do antigo IUPERJ (Instituto Universitrio de Pesquisa do Rio de Janeiro), da UCAM (Universidade CandidoMendes), e que est em processo de recriao.
16 Com a seguinte descrio: Nas ltimas trs dcadas, mundo afora, as estatsticas deixaram de ser apenas fontesde anlises (formular e avaliar polticas pblicas; aceitar ou negar hipteses, etc.) para se tornarem tambmobjetos de estudo, atraindo a ateno de estudiosos em demografia, economia, histria, f ilosofia, sade coletiva,sociologia, antropologia, cincia po ltica, cincia da informao, entre outras. Este grupo volta -se compreensoda trajetria das estatsticas, interessando-se pelas diferentes tradies nacionais dos sistemas de informao,pela cultura profissional de seus atores (em uma comunidade especializada) e sua atuao na elite burocrtica,sem olvidar suas utilizaes como forma de dominao e de contestao, entre outras frentes possveis. Quer-sediscutir as razes de terem sido feitas e como o so, b em assim, como costumam ser apropriadas historicamente,a partir de vrias teorias (nas linhas de Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Bruno Latour, entre outras), que oferecemconceitos e categorias de percepo da realidade, e dos processos cientficos, com suas implicaes para aprtica poltica. Entre os esforos de racionalizao administrativa do Brasil Joanino e o Estado planejador da
contabilidade nacional e dos indicadores so ciais, este grupo pretende reunir pesquisadores engajados na tarefade compreender as estatsticas pblicas, com sua potncia de mediao e (re)produo de alguns dos aspectosmais singulares da sociedade brasileira. Com origem no pioneirismo do IBGE desde 2003, tem-se por m eta revelaruma comunidade de pesquisadores, de modo a se formular estratgias comuns de ao em mbito regional,nacional e internacional, e fazer emergir os acervos documentais das instituies estatsticas e geocientficas.No mbito dos estudos comparados internacionais trabalha-se em associao com Jean- Pierre Beaud e Jean-GuyPrvost (do Canad), Hernn O tero, Hrnan Gonzlez Bollo e Cludia Daniel (da Argentina), Leticia Mayer e LauraChzaro (do Mxico), entre outros.
17 Com a seguinte descrio: Desenvolver estudos histricos das estatsticas, relevando-as como instrumento cognitivoe administrativo ao Estado e ao pblica; vistas na intimidade de suas comunidades especializadas (ou elitesburocrticas), bem assim seus papis na construo dos imaginrios sociais e na mediao simblica da nao.
18 Com a seguinte descrio: Estimular estudos sociais das instituies estatsticas, suas relaes cientficas, independnciase autonomias, suas comunidades e suas associaes, suas legislaes, seus sistemas, processos e programas de trabalho,etc. Estudos temticos sero oportunos, como educao, sade, criminalidade, municipalismo, etc.
19 Integra este grupo, entre vrios outros nomes, Tarcsio Botelho que participou do primeiro dos seminrios
internacionais, a seguir apresentados.
8/11/2019 SEP_90.pdf
18/382
17
PORUMAASSOCIAODEPESQUISADORESINTRODUO
DOIS SEMINRIOS INTERNACIONAIS 2009 E 2010
O primeiro seminrio internacional se deu no marco da reunio de junho de 2009 da LASA (LatinAmerican Studies Association), na cidade do Rio de Janeiro (Estado do Rio de Janeiro, Basil), na
sessoAs Estatsticas Latino-Americanas em Perspectiva Histrica, idealizada por Hernn Otero. Foi,
em vrios sentidos, um evento inaugural importante: primeiro, por trazer a uma reunio da LASA a
histria (e sociologia) das estatsticas; segundo, por ensejar o encontro de estudiosos de vrios pases
(Argentina, Brasil, Canad e Mxico) nessa temtica to relevante, e na qual o mundo, exclusive as
Amricas espanhola e portuguesa, evolua h tempos. Como esse tipo de sesso muito rpida,
Nelson de Castro Senra, em dilogo com Claudia Daniel, props alongar o encontro para mais
um dia, em dupla sesso no IBGE, o que se deu com sucesso20. Por demais, decidiu-se organizar
(o que foi feito por Nelson de Castro Senra e por Alexandre de Paiva Rio Camargo) em livro (peloIBGE, em 2010) os textos feitos para a LASA e para o IBGE, e outros estudos especficos (como, por
exemplo, as entrevistas realizadas com Hernn Otero e Jean-Pierre Beaud, dois destacados pes-
quisadores):Estatsticas nas Amricas. Por uma Agenda de Estudos Histricos Comparados(de 2010).
O segundo seminrio internacional se deu no marco das reunies promovidas em novem-
bro de 2010 pela SBHC (Sociedade Brasileira de Histria da Cincia), na cidade de Salvador
(Estado da Bahia, Brasil): 12 Seminrio Nacional de Histria da Cincia e da Tecnologia
e 7 Congresso Latino-americano de Histria da Cincia e da Tecnologia. Deu-se, ento,
no simpsio temtico As Instituies Estatsticas Oficiais: Conceitos, Medies, Comunida-
des Profissionais e a Criao de Polticas Pblicas , para o qual 23 textos foram inscritos (24
sendo o mximo)21, dos quais 21 integram esta publicao22, Em Associao das Amricas,
as Estatsticas Como Objeto de Estudo, como parte da Srie Estudos & Pesquisas (SEP), da
Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). O ttulo desta publica-
o, e desta introduo, tem por objetivo destacar a deciso tomada pelos presentes de
envidarem seus melhores esforos no sentido da prxima criao daAssociation des Am-
riques pour lhistoire de la statistique et du calcul des probabilits (em portugus:Associao
das Amricas para a Histria da Estatstica e do Clculo das Probabilidades ; em espanhol:
Asociacin de las Amricas para la Historia de la Estadstica y el Clculo de Probabilidades; e,
em ingls: Association of the Americas for the History of Statistique and of Probabilities Cal-
culus), como proposto, com ousadia (e viso de mundo distinta) por Jean-Pierre Beaud23.
20 Essa ideia, levada a David Wu Tai, diretor do Centro de Documentao e Disseminao de Informaes, do IBGE,recebeu imediato apoio, podendo assim ser realizada.
21 Vale repetir que os resumos propostos foram publicados em: SENRA, Nelson de Castro, GONZLEZ BOLLO, Hernn. Asestatsticas como objeto de estudo. Boletim de Estatsticas Pblicas, Salvador: Anipes, n. 6, p. 142-162, novembro 2010.
22 Desta vez houve texto tambm do Uruguai, e no apenas da Argentina, do Brasil, do Canad e do Mxico, e dessespases houve textos de autores que no atuaram no primeiro seminrio. Por outro, houve uma ausncia completa, a deHernn Otero, por certo um nome indispensvel ao desdobramento dessa nossa atividade; e duas ausncias apenasparciais (em alguns momentos da trajetria do simpsio), a de Letcia Mayer Cellis e Laura Chzaro (e nesta obra,sentimos a ausncia de Renato Srgio de Lima).
23 Espera-se, proximamente, colocar na Internet um site indicativo da Associao, com uma revista eletrnica, e outros
espaos de dilogo da nascente comunidade internacional, nas Amricas.
8/11/2019 SEP_90.pdf
19/382
18
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
A propsito, seu texto nesta obra, ajuda a entender sua forte defesa da proposta, e sua
enftica proposta do nome acima.
Alm desses dois seminrios, e das duas publicaes, outros eventos so esperados, e j esto
sendo pensados e/ou organizados para este ano e o seguinte.
A ESTRUTURA DA PUBLICAO
Finalmente, passemos concluso desta introduo, tratando da estrutura da publicao. Alm
deste texto, de introduo, com o histrico da trajetria que cumprimos at agora, e afora um
texto final com os emails dos autores e/ou atuantes no simpsio temtico, esta obra tem quatro
sees, com 21 textos. Por serem muitos os textos, seria por demais volumosos explor-los uma um; ento falemos somente das sees. fcil notar que elas quatro formam dois conjuntos:
a 1 e a 2 tratam dos sistemas e das instituies estatsticas, a 1 focando o presente, e a 2 o
passado; a 3 e a 4 tratam das estatsticas nas configuraes dos imaginrios, a 3 focando o
passado, e a 4 focando o presente. Esta inverso presente / passado e passado / presente,
nos permite oferecer um miolo forte com estudos histricos, deixando as abordagens sociol-
gicas, focadas no presente, nos extremos da publicao. Por fim, convm realar que a prtica
focada na seo 4 ainda nascente, sem uma robustez cristalizada (no sem bons textos,
claro), pelo qu, se tivssemos mantido a lgica inicial presente / passado tambm para as 3
e 4 sees teria havido uma queda no meio da obra, o que no seria de agrado dos leitores.
A 1 seo Sistemas e Instituies Estatsticas: Autonomia, Suficincia e Atualidade tem
quatro textos; o primeiro, riqussimo, por sua importncia, e para maior acesso, editado
em francs, lngua original, mas tambm em portugus; os demais tratam de assuntos
bastante atuais. A 2 seo Sistemas e Instituies Estatsticas: Prticas e Burocracias Espe-
cializadas tem sete textos, os quatro do Brasil focando o sculo XIX, e os dois ltimos da
Argentina focando a primeira metade do sculo XX. A 3 seo Estatsticas na Configu-
rao dos Imaginrios: Abordagens Histricas tem seis textos, a maioria focando o sculo
XIX, mas com alguma entrada pelo sculo XX. Os textos dessas sees (2 e 3) ajudam
bastante a entender as atualidades argentina e brasileira. A 4 e ltima seo Estatsticas
na Configurao dos Imaginrios: Apropriaes Atualizadas tem quatro textos, sendo os
dois iniciais bastante instigantes.
BIBLIOGRAFIA
ALONSO, William & STARR, Paul (ed). The politics of numbers. New York: Russell Sage Foundation, 1983.
ANDERSON, Margot.American Census.New Haven & London: Yale Un. Press, 1988.
BEAUD, Jean-Pierre; PREVOST, Jean-Guy. Lre du chiffre. Systmes statistiques et traditions nationales.Qubec: Presses de lUniversit du Quebec, 2000.
8/11/2019 SEP_90.pdf
20/382
19
PORUMAASSOCIAODEPESQUISADORESINTRODUO
BECKER, Howard S.. Falando da sociedade. Ensaios sobre diferentes maneiras de representar o social.Rio de Janeiro: Zahar, 2010. [2007]
BESSON, Jean-Louis (org).A iluso das estatsticas.So Paulo: Ed. Unesp, 1995. [1992]BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. Lisboa : DIFEL, 1989.
BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. So Paulo : Brasiliense, 1990 [1987]
BOURDIEU, Pierre. Razes prticas. Sobre teoria da ao. So Paulo: Papirus, 1996 [1994]
BURCHELL, G.; GORDON, C.; MILLER, P. (eds). The Foucault effects; studies in governmentality. London:Haverster Wheatsheaf, 1991.
CELIS, Letcia Mayer. Entre El infierno de una realidad y El cielo de un imaginrio. Estadstica y comunidadcientfica en el Mxico de la mitad del siglo XIX. Ciudad del Mxico: El Colgio de Mxico, 1999.
DESROSIRES, Alain. LArgument Statistique. Vol 1 : Pour une sociologie historique de la quantification.
Vol 2 : Gouverner par les nombres.Paris: Mines Paris Tech Les Presses, 2008.
DESROSIRES, Alain, THVENOT, Laurent. Les catgories socio-professionnelles. 5m edition. Paris : LaDcouvert, 2002. [1988]
DESROSIRES, Alain. La politique des grands nombres. Histoire de la raison statistique . Paris: dition laDcouverte, 1993.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador.Vol. 1: Uma histria dos costumes. Vol 2: Formao do estado ecivilizao. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993. [1939]
FELLEGI, Ivan P. Maintaining the credibility of official statistics.52 Conference of European Statisticians.Paris, junho de 2004.
FELLEGI, Ivan P. Towards Systems of Social Statistics Some principles and their application in Statistics inCanada.Jornal of Official Statistics , vol 15, n. 3, p. 373-393, 1999.
FELLEGI, Ivan. P. Statistical Services - preparing for the f uture.Aguascalientes, Mxico: INEGI,1998. 80 p.
FELLEGI, Ivan P.. Characteristics of an effective statistical system.International Statistical Review, v. 64, n.2, p. 165-197, 1996.
FERREIRA DA CUNHA, Adrio. Em torno da engenharia dos Sistemas Estatsticos Nacionais.Lisboa:Instituto Nacional de Estatstica, 2004.
FERREIRA DA CUNHA, Adrio.Auto-avaliao da qualidade nos Institutos Nacionais de Estatstica.Lisboa: Instituto Nacional de Estatstica, 1999.
FERREIRA DA CUNHA, Adrio. O Sistema Estatstico Nacional. Algumas notas sobre a evoluo dos seusprincpios orientadores: de 1935 ao presente. Lisboa: Instituto Nacional de Estatstica, 1995.
FOUCAULT, Michel. Segurana, Territrio, Populao. So Paulo: Martins Fontes, 2008.
FOUCAULT, Michel. Estratgia, poder-saber. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2006 [ColeoDitos & Escritos n. IV]
FOURQUET, Franois. Les conptes de la puissance. Histoire de la comptabilit nationale et du plan.Paris : Encres dition Recherchers, 1980.
GIDDENS, Anthony. O Estado-Nao e a Violncia. So Paulo: EdUSP, 2001.
HACKING, Ian. The taming of chance.Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
8/11/2019 SEP_90.pdf
21/382
20
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
HACKING, Ian. The social construction of what?Harvard: Harvard Un. Press, 1999.
HUFF, Darrel. How to lie with statistics.New York : W. W. Norton & Company, 1993.
LATOUR, Bruno.La fabrique du droit. Une ethnographie du Conseil dEtat. Paris: La Dcouverte, 2002.[1998]
LATOUR, Bruno.A esperana de Pandora. Bauru: EDUSC, 2001 [1999]
LATOUR, Bruno.A cincia em ao. So Paulo: Ed. UNESP, 2000. [1998]
MACKENZIE, Donald A. Statistics in Britain: 1865-1930. The social construction of scientific knowledge. Edinburgh: Edinburgh Un. Press, 1981.
MORGAN, Mary S. The history of econometric ideas. Historical perspectives on modern economics.Cambridge: Cambridge Un. Press, 1995.
MORGENSTERN, Oskar. On the accuracy of economic observations. 2 ed. Princenton: Princenton
University Press, 1973.
OTERO, Hernn. Estadstica y Nacin. Una historia conceptual del pensamiento censal de la Argentinamoderna 1869-1914.Buenos Aires: Prometeo Libros, 2006.
PORTER, Theodore M. The rise of statistical thinking, 1820-1900. Princenton: Princenton UniversityPress, 1986.
PORTER, Theodore M. Trust in numbers. The pursuit of objectivity in science and public life. Princenton:Princenton University Press, 1995.
ROSE, Nikolas. Powers of freedom. Reframing political thought. Cambridge: Cambridge Un. Press, 1999.
SENRA, Nelson de Castro; CAMARGO, Alexandre de Paiva Rio (org.). Estatsticas nas Amricas. Por umaagenda de estudos histricos comparados.Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
SENRA, Nelson. O saber e o poder das estatsticas. Uma histria das relaes dos estaticistas com osEstados Nacionais e com as cincias. Rio de Janeiro: IBGE, 2005 (330p).
SENRA, Nelson. Histria das Estatsticas Brasileiras: 1822-2002.Rio de Janeiro: IBGE, 2006 2009. [Vol.1 - Estatsticas Desejadas: 1822-c.1889(2006); Vol. 2 - Estatsticas Legalizadas: c.1889-c.1936( 2006);Vol. 3 - Estatsticas Organizadas: c.1936-c.1972(2008); e, Vol. 4 - Estatsticas Formalizadas: c.1972-2002(2009)].
SENRA, Nelson. Uma breve histria das estatsticas brasileiras: 1822-2002. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
STARR, Paul. The sociology of official statistics. In: ALONSO, William & STARR, Paul (ed). The politics ofnumbers.New York: Russell Sage Foundation, 1983. [P. 7-58]
STIGLER, Stephen M. The history of statistics. The measurement of uncertainty before 1900. Cambridge &London: The Belknap press of Harvard Un. Press, 1986.
TUFTE, Edward R. The visual display of quantitative information. Connecticut: Graphic Press, 1983.
TUFTE, Edward R. Visual and statistical thinking. Displays of evidence for making decisions. Connecticut:Graphic Press, 1997.
8/11/2019 SEP_90.pdf
22/382
21
PORUMAASSOCIAODEPESQUISADORESINTRODUO
NOTA
No Brasil, recentemente, alguns timos livros de divulgao cientfica foram publicados, bem afinscom o tema em pauta, por isso valendo indicar uma rpida seleo:
CROSBY, Alfred.A mensurao da realidade. A quantificao e a sociedade ocidental 1250-1600. SoPaulo: Editora Unesp, 1999. [1997]
JOHNSON, Steven. O mapa fantasma. Como a luta de dois homens contra o clera mudou o destino denossas metropoles.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008. [2006]
MLODINOW, Leonard. O andar do bbado.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009. [2008]
SALSBURG, David. Uma senhora toma ch... como a estatstica revolucionou a cincia no sculo XX.Riode Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009. [2002]
8/11/2019 SEP_90.pdf
23/382
8/11/2019 SEP_90.pdf
24/382
23
Sri
eEstudosePesquisas
90
SISTEMAS E INSTITUIES
ESTATSTICAS: AUTONOMIA,SUFICINCIA E ATUALIDADE
1ASEO
8/11/2019 SEP_90.pdf
25/382
8/11/2019 SEP_90.pdf
26/382
8/11/2019 SEP_90.pdf
27/382
8/11/2019 SEP_90.pdf
28/382
27
LATRANSFORMATIONDUTRAVAILSTATISTIQUEETLMERGENCEDUNESOCIO-HISTOIREDELASTATISTIQUE1
ASEO
interventions politiques pour retarder la divulgation de donnes lapproche dune lection, par
exemple, la pratique desPeer reviews, gnralise dans le cas des pays de lUnion europenne,
et le dveloppement duBenchmarking, appel aussi talonnage, qui consiste tudier, compa-rer les diffrentes pratiques dans le but didentifier les meilleures. On ne stonnera pas, dans ces
conditions, de voir la technicit prendre une place de plus en plus importante dans le discours et la
pratique des bureaux statistiques et apparatre comme la norme par excellence. La qualit totale,
cest dabord un slogan, cest ensuite une srie dexigences techniques. Un autre trait de ce rgime
touche aux pratiques mises en place pour saccommoder dune rsistance de plus en plus mar-
que de la population aux enqutes statistiques. Mme si les bureaux ont toujours t confronts
cette mauvaise humeur du public, cest surtout depuis la fin des annes 1960 quelle est devenue
trs problmatique, au moins dans certains pays dEurope. Cette rsistance l inquisition statis-
tique a conduit, par exemple, une utilisation plus marque des fichiers administratifs. Mais cettetendance est aussi et surtout le rsultat de la recherche dune pratique statistique rationalise dans
un contexte de ressources rares et de croissance de la demande pour des politiques publiques. En
gros, les enqutes cotent cher, surtout les recensements. De plus, ces derniers sont de plus en plus
souvent critiqus pour leur lourdeur et leur imprcision. Sils ne disparaissent pas (comme cest le
cas dans certains pays, Islande, Finlande, Suisse, Allemagne, par exemple), ils utilisent de plus en
plus des techniques statistiques qui, pendant longtemps, avaient t juges incompatibles avec
lexercice du recensement et conduisent donc prendre une certaine distance vis--vis de ce qui
avait t prsent comme le principe central du recensement, lexhaustivit. Le dernier point sur
lequel nous aimerions insister touche au nouveau statut du subjectif dans le travail des bureaux
statistiques. Le nouveau rgime statistique est en effet caractris par la monte des statistiquessubjectives. Et cela remet en cause un autre principe central du travail des bureaux de chiffres : la
mise distance de la subjectivit comme pr-requis. Pour les bureaux statistiques, il y avait une
distinction fondamentale entre les classements scientifiques, objectifs (cest--dire qui ne repo-
sent pas sur les jugements, ncessairement subjectifs, des individus statistiques et qui sont, dune
certaine faon, du ressort de la statistique comme science applique ), qui les concernent, et les
classements indignes, subjectifs dont saccommodent les individus dans la vie quotidienne. Deux
chemins avaient t tracs pour atteindre cette scientificit : lobjectivation et la standardisation.
Or, ces deux moyens semblent aujourdhui fragiliss, du moins dans certains secteurs du travail
statistique, par la multiplication des variables subjectives . Comment atteindre quelque chose
qui dpasse les donnes individuelles quand on a affaire de plus en plus des sujets et non plus
seulement des objets statistiques ? Comment construire des systmes de classement qui dpas-
sent les expriences nationales quand on a affaire des classements qui collent aux systmes de
classement des individus? Un peu partout, en Europe en particulier, des classements indignes
apparaissent, sous leffet soit de lois supranationales (comme dans le cas europen), soit de choix en
matire de gestion des populations (multiculturalisme). Et dans un contexte nouveau : ce nest plus
seulement, comme aux XIXeet XXesicles, laffaire des tats multinationaux, cest surtout laffaire
des pays qui accueillent de nouvelles populations dimmigrs. Un des effets, cest de produire des
classements si spcifiques que toute tentative de normalisation est sans doute voue lchec.
Lappareil statistique national se contente alors, un peu la manire des ethnomthodologues,
8/11/2019 SEP_90.pdf
29/382
28
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
de faire le compte rendu des comptes rendus des recenss. Le socle sur lequel reposent toutes
ces statistiques est fort ambigu et changeant. Cest une construction.
LA SOCIOHISTOIRE DE LA STATISTIQUE
Durant les annes soixante-dix du sicle dernier, sest structur un champ de recherche quil est
malais de cerner par une appellation unique. Lexpression histoire de la statistique est peut-tre
celle, toutefois, qui rallierait le plus dacteurs du champ. Si lhistoire de la statistique est presque
aussi ancienne que la statistique, ce nest que rcemment quelle a pris un tour plus externaliste,
quelle a, dans la foule, tent dintgrer les acquis de lhistoire internaliste, quelle sest appuye
sur une posture constructiviste (ou rflexive2
) et critique, refusant la fois un strict point de vueraliste et les drives relativistes. Bien sr, tout cela est objet de dbats et les positions des chercheurs
pourraient tre replaces dans un espace (au moins) deux dimensions, avec un premier axe
internaliste-externaliste et un deuxime axe raliste-relativiste , si un tel exercice ntait pas,
invitablement, suspect. On pourrait broder sur tout cela et distinguer, par exemple, un constructi-
visme ontologique et un constructivisme mthodologique (Schweber, 1996). On y reviendra. Reste
que, malgr les diffrences relles entre approches, un certain consensus caractrise le champ (dun
simple point de vue bourdieusien, cela va de soi : parler dun champ, cest faire lhypothse quil y
a un minimum de consensus). Voyons cela de plus prs.
Lhistoire de la statistique, telle quon la conoit aujourdhui, sest construite sur une rupture avec la
vieille conception internaliste qui liait le dveloppement de la statistique laffinement progressif
et logique doutils arithmtiques, puis mathmatiques de plus en plus complexes. Cette conception a
toujours cours et nest pas sans intrt, mme du point de vue de la nouvelle socio-histoire. Elle sest
construite galement sur une rupture avec une approche plus institutionnelle et aussi ancienne que
les premiers bureaux de chiffres qui voyait le dveloppement des activits et organismes statistiques
comme laccompagnement logique de lexpansion des attributions de ltat. Cette conception a
encore cours et est largement entretenue par des agents des bureaux statistiques nationaux. Les
ouvrages commmoratifs (pour les cent ans, les deux cents ans de tel ou tel institut) en sont la
forme la plus spectaculaire. Dans certains cas, ils ont t plus ou moins fortement influencs par
la nouvelle socio-histoire et constituent, en quelque sorte, un type hybride. Lhistoire modernedela statistique, enfin, sest galement labore sur le refus dune position purement externaliste qui
voit la statistique comme une consquence ou un effet de transformations presque totalement
extrieures au champ de la science. Cette position na gure eu de vritables dfenseurs chez les
statisticiens ou historiens de la statistique puisque, en quelque sorte, elle postulait linanit dune
histoire de la statistique. Elle fonctionne toutefois comme une sorte dhorizon, de point de repre
ou mme de point critique. Elle rappelle tous que les chiffres produits ne sont jamais innocents.
2 Les deux expressions, certes, ne sont pas interchangeables, mme sil est vrai quelles sont souvent vues comme proches, voire
quivalentes. Pour une illustration et une dfense de la posture rflexive, voir, par exemple, Brian (2010).
8/11/2019 SEP_90.pdf
30/382
29
LATRANSFORMATIONDUTRAVAILSTATISTIQUEETLMERGENCEDUNESOCIO-HISTOIREDELASTATISTIQUE1
ASEO
Il y a une quarantaine dannes, apparaissaient les premiers travaux illustrant les ruptures qui
viennent dtre exposes. Les conditions externes qui rendaient possibles de telles ruptures
sont nombreuses et devraient assurment tre identifies (si lon veut viter que lhistoiredela socio-histoire de la statistique reproduise les erreurs de lhistoire traditionnellede la statis-
tique). Les mutations des socits occidentales la fin des trente glorieuses (pour reprendre
une expression franaise qui nest pas sans intrt pour dautres pays), les premires remises en
cause de ltat-providence, la monte de nouvelles forces de gauche radicales (marques par
un marxisme renouvel et teint de tiers-mondisme), ici et l dans le monde, peuvent tre vues
comme de (trop) grands facteurs potentiellement explicatifs. Les classifications statistiques, qui
un peu partout sont prises comme premiers objets danalyse de cette nouvelle socio-histoire,
expriment bien ce que ces premiers chercheurs (Desrosires, en particulier) tendent appr-
hender : la traduction chiffre ncessairement imparfaite dun monde en changement. Unpeu partout, on montre que les classements statistiques (comme les autres faons de nommer,
dsigner, assigner les individus que la sociologie et lanthropologie avaient depuis un certain
temps dj relativises et historicises) doivent tre dconstruits. Dans une priode de transition,
les vieux classements et lchafaudage politique qui les solidifiait perdaient de leur utilit
pour reprsenter le monde.
Un livre comme celui de Desrosires et Thvenot (1988) sur les catgories socioprofessionnelles
pose bien les principes dune analyse des artefacts statistiques qui rcuse le vieil objectivisme cher
aux statisticiens dtat. Il dit aussi loriginalit du moment franais symbolis par lapparte-
nance dun Desrosires la fois au bureau statistique national, lINSEE, et au monde universitaire.
Le travail prsent ici rsulte dune longue participation aux travaux de lINSEE []. LINSEE a,
depuis longtemps, encourag des recherches de fond []. Ces travaux ont t galement, de
longue date, stimuls par une collaboration avec des sociologues. Cette rencontre entre deux
espaces scientifiques qui, dans presque tous les autres pays, sont compltement spars,
a apport une aide inapprciable pour aborder et traiter les questions de nomenclatures
(p. 8; les italiques sont de nous). Il faudrait sans doute sinterroger srieusement (de faon empi-
rique) sur la vritable originalit de ce modle de collaboration. Je ferais toutefois lhypothse
quune collaboration entre statisticiens et spcialistes des sciences sociales est aujourdhui plus
frquente quil y a une quarantaine dannes. Au Brsil, par exemple, un Nelson Senra occupe
une position analogue celle de Desrosires en France. La fertilisation croise des mondesuniversitaire et statistique serait un beau sujet de recherche. Le livre de Desrosires et Thvenot
nonait aussi certains des principes de la nouvelle histoire (la socio-histoire) de la statistique :
les dcoupages sontfabriqus; ils sont l is aux oprations de reprsentationdune socit :
reprsentation statistique []; reprsentationpolitique; reprsentationcognitive (p. 7); le
regard [] port sur le travail de classement et de dfinition des variables servant dcrire le
monde social ne vise pas en dnoncer les rsultats, mais plutt les replacer dans un ensemble
plus vaste de faons de connatre (p. 110), etc. Ltude des classifications statistiques sinscrivait,
dans le cas franais tout le moins, dans le cadre dune tradition assez ancienne remontant
aux travaux de Durkheim et Mauss. Elle rejoignait une proccupation parfois bien tablie pour
8/11/2019 SEP_90.pdf
31/382
30
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
ltude des recensements et prsente chez les historiens comme chez les dmographes. Lanalyse
des outils statistiques incorporait, toutefois, un nouveau corpus thorique et empirique issu
des recherches dun Foucault ou dun Bourdieu (du moins pour le monde francophone). De fait,aujourdhui, lunit relative du champ de la socio-histoire de la statistique peut tre atteste
par le recours aux mmes sources. Du Brsil lEspagne, en passant par un bon nombre de
pays, les bibliographies se ressemblent passablement, du moins si lon carte les rfrences
aux tudes nationales. Un bon exemple peut en tre donn avec le livre de Nelson Senra, O
Saber e o Poder das Estatsticas (2005), qui par son titre mme voque trs fortement le rf-
rent foucaldien et qui recense ces indispensables que sont les travaux de Foucault, donc (ses
cours au Collge de France abordent directement la question des statistiques), de Desrosires,
de Latour, de Hacking. Un autre exemple peut tre trouv chez Desrosires, bien sr, qui, par
le rle quil a jou dans lmergence du champ, est particulirement bien plac pour citer lestravaux marquants (voir, ce sujet, sa Politique des grands nombres [1993 et 2000] ou son
texte dans Beaud et Prvost [2000]).
Les tudes nationales sont donc maintenantrelativementnombreuses et portent aussi bien
sur les classifications, les recensements, les enqutes statistiques diverses, les statistiques
mdicales, la notion de probabilit, les bureaux statistiques, les socits savantes, etc. Il existe
galement des tudes portant sur linternationalisme statistique (congrs internationaux et
institut international), sur les passeurs de modles comme Quetelet, et des tudes plus gnrales
encore sur lavalanche des chiffres depuis le XIXesicle. Le recensement exhaustif des tudes
dhistoire de la statistique (ou de socio-histoire) un peu partout dans le monde est donc sans
doute aujourdhui une tche impossible raliser. Nous ne nous y essaierons pas. Mais, au-del
des diffrences dappellation (doit-on parler dhistoire de la statistique, de socio-politique des
statistiques, dhistoire sociale des statistiques ou encore de socio-histoire de la statistique?),
des divergences thoriques (accepte-t-on ou non linfluence latourienne?) et des spcificits
des expriences statistiques nationales, un noyau commun de faons de penser et de faire sest
cr. Malgr leurs diffrences, ces travaux sont souvent marqus par les principes de rfle xivit,
de dconstruction; ils se rclament (plus ou moins) des thses de Bourdieu, de Foucault et de
Latour et Callon (dans le monde francophone et au-del), font rfrence au moment Bielefeld
(annes 80) et aux travaux de Daston et de Porter pour le monde anglophone et germanique
et mme des thses plus philosophiques comme chez Ian Hacking. La dconstruction, qui amarqu les nouvelles sciences sociales (et la philosophie) tout le moins en Occident, sest tout
dabord traduite par un examen des classements statistiques (Desrosires et Thvenot) ou des
pratiques de recensement (Anderson, Otero, etc.). Elle sest vite tendue lensemble du travail
statistique (Senra, par exemple). Elle reste un principe solide caractrisant lensemble du travail
en socio-histoire de la statistique et renvoie,minimalement, un constructivisme de type mtho-
dologique. Mais il me semble quun principe encore plus fondamental de cette socio-histoire,
cest la revendication dune position qui insiste sur limportance de la prise en compte des liens
entre les normes, les structures et les pratiques statistiques et sur le rejet dune conception de
la statistique qui en ferait simplement la traduction chiffre de phnomnes externes. Cette
8/11/2019 SEP_90.pdf
32/382
31
LATRANSFORMATIONDUTRAVAILSTATISTIQUEETLMERGENCEDUNESOCIO-HISTOIREDELASTATISTIQUE1
ASEO
dernire conception, sans tre, loin de l, inintressante (on en trouve un exemple remarquable
dans lanalyse que Nicolas Bourgoin fait des statistiques criminelles [2008]), relve plutt dune
analyse du contrle social. Les statistiques sont alors davantage un indicateur dautre choseque lobjet mme de ltude.
ESQUISSE DE COMPARAISON ENTRE LES PRINCIPES DE LA SOCIOHISTOIRE DELA STATISTIQUE ET LE DISCOURS ET LA PRATIQUE DES BUREAUX DE CHIFFRES
Si nous tentons maintenant une comparaison entre cette socio-histoire, telle que d finie plus
haut, et le discours et la pratique des bureaux de chiffres contemporains, nous pouvons ta-
blir des parallles vocateurs. Ils ont t regroups dans le tableau ci-dessous. Ils montrent, tout le moins, que le monde scientifique (les chercheurs en socio-histoire de la statistique)
et les statisticiens (dappareil) partagent certains a priori sur le monde quils analysent (ou
construisent). Les raisons en sont multiples et complexes et vont d une formation influence
ventuellement par les nouvelles sciences sociales et historiques des voisinages de plus en
plus frquents, en passant, naturellement, par une semblable confrontation un monde en
transformation rapide.
Principes de la socio-histoire de la statistique Discours et pratique des bureaux de chifres
Les statistiques ne sont pas u n pur reet de l a ralit. Ni un pure laboration logique.
Les bureaux statistiques travaillent de plus en plus avec la subjectivitdes rpondants, ce qui les loigne de plus en plus de lide de vouloir
simplement reter la ralit objective.
Les groupes, que mobilisent des porte parole, nexistent ociellement(rellement?) que sils trouvent une traduction statistique ( travers unclassement, une catgorie).
Les groupes (du moins cer tains dentre eux) sont consults par les bureauxrelativement aux classements qui les concernent. Dune certaine faon, ilsles approuvent.
Le travail statistique a pour eet de durcir certaines divisions de la socit,dattribuer une essence des individus ou des groupes.
Les classements statistiques ne sont plus conus comme rpondant une pure logique scientique. Ils doivent correspondre la faon dont la
socit, elle-mme, se reprsente. Ils traduisent, en termes statistiques, lesdivisions de la socit.
Dans bien des cas, le travail de lhistorien de la statistique consiste, un peu la
manire des ethnomthodologues, faire des comptes rendus des comptesrendus des agents impliqus dans le travail statistique.
Face aux rponses certaines questions subjectives, le bureau statistique
devra se contenter de faire des comptes rendus des comptes rendus des rpondants.
La statistique est l e rsultat, toujours provisoire, dinteractions trs complexesentre les demandes de ltat, les demandes et les stratgies de reprsentation desgroupes (des publics) telles qulabores par leurs porte-parole, et leur traduction,en termes scientiques, par les professionnels de la statistique.
Le processus dlaboration des statistiques est de plus en plus complexe.Il ncessite des consultations auprs des publics, lanalyse des demandesde ltat et de ses agences, la prise en compte des ractions possibles dela population (de moins en moins docile) et un examen des possibilitsoertes par la statistique mathmatique.
La technicit, le mthodologisme sont, dune certaine faon, des moyens pour lesbureaux statistiques de se protger contre la politisation et les critiques
Le discours techniciste est de plus en plus valoris. Un bureau statistique sedistingue dabord par sa matrise mthodologique.
Le fait statistique est construit. Le bureau statistique nest quun des acteurs du processus dlaboration (de
construction) des statistiques.
8/11/2019 SEP_90.pdf
33/382
8/11/2019 SEP_90.pdf
34/382
8/11/2019 SEP_90.pdf
35/382
34
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
DESROSIRES, Alain ; THVENOT, Laurent. Les catgories socioprofessionnelles. Paris : ditions LaDcouverte, 1988.
SCHWEBER, Libby.
Lhistoire de la statistique, laboratoire pour la thorie sociale , Revue franaise desociologie, vol. 37, n. 1, p. 107-128, 1996.
SENRA, Nelson. O saber e o poder das estatsticas. Uma histria das relaes dos estaticistas com osEstados Nacionais e com as Cincias. Rio de Janeiro: IBGE, 2005.
SENRA, Nelson ; CAMARGO, Alexandre de Paiva Rio (ed.). Estatsticas Nas Amricas. Por uma agenda deestudos histricos comparados. Rio de Janeiro : IBGE, 2010.
8/11/2019 SEP_90.pdf
36/382
35
A TRANSFORMAO DO TRABALHO ESTATSTICO E AEMERGNCIA DE UMA SCIOHISTRIA DA ESTATSTICA1
Jean-Pierre Beaud*
Os ltimos 30 anos viram o trabalho estatstico modificar-se de modo bastante substancial.
isto que nos conduz a falar de um novo regime estatstico. A objetivao, que quase
sempre caracterizou a prtica estatstica, assume, por exemplo, uma forma particular
em razo, entre outras coisas, do lugar destinado hoje subjetividade dos indivduos.
Interrogamos-nos, neste texto, sobre a nova organizao de estruturas, normas e pr-
ticas que caracterizam este novo regime estatstico, por um lado, e, por outro, sobre asconcepes que, durante este mesmo perodo, impuseram-se pouco a pouco no seio
da comunidade de cientistas no que se refere ao estudo da estatstica. Ns afirmamos
que existem articulaes (complexas, certamente) entre as transformaes no espao
do trabalho estatstico e as novas maneiras de conceber a pesquisa sobre a estatstica.
mais particularmente a estas articulaes que consagramos nossa reflexo. , portanto, a
ocasio de se interrogar ao mesmo tempo sobre as instituies produtoras de nmeros,
os estatsticos que nelas trabalham, os instrumentos que eles produzem, os pblicos que
so o produto do trabalho estatstico e que, por sua vez, inf luenciam este mesmo trabalho,
a comunidade de pesquisadores que busca explicar o conjunto do processo estatstico
e mesmo a administrao estatal que, pelas demandas e pelos recursos que atribui aosrgos produtores de nmeros, orienta a produo estatstica. Terminamos apresentando
um exemplo recente de controvrsia que ilustra dramaticamente as novas tenses que
pesam sobre o trabalho estatstico. O debate que o Canad assistiu recentemente relativo
supresso do questionrio longo no recenseamento , de alguma maneira, a traduo
em um plano poltico e mesmo emotivo do novo arranjo estatstico.
O REGIME ESTATSTICO
Definimos em outro lugar (BEAUD; PRVOST, 2010, p. 37-65) um regime estatstico como o
complexo formado, em um momento determinado, pelas estruturas, normas e prticas esta-
tsticas. Por estruturas estatsticas entendemos tudo aquilo que diz respeito organizao e
diviso do trabalho estatstico. Evidentemente, pensar-se- primeiro no rgo estatstico
central, se ele existe, e em todas as instituies fortes que se ocupam da coleta, anlise e
* Professor no Departamento de Cincia Poltica e membro do Centro Interuniversitrio de Pesquisa sobre a Cincia e aTecnologia (CIRST), Universidade do Qubec em Montreal, Canad. [email protected]
1 N. do E.: Este texto, cujo original encontra-se na pgina 25, foi traduzido para o idioma portugus por Natlia deLacerda Gil, doutora e mestre em Educao pela Universidade de So Paulo (USP) e professora da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Adiante, ela tem um texto nesta publicao.
8/11/2019 SEP_90.pdf
37/382
36
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
divulgao das estatsticas, mas tambm na forma do sistema estatstico (sua maior ou menor
centralizao), por exemplo. Por normas, entendemos a regulamentao, as prescries e
os referenciais destinados a orientar, delimitar ou mesmo censurar as prticas. Estas ltimasrepresentam o conjunto das atividades para as quais so dispostos recursos e competncias.
Temos sido assim conduzidos a distinguir vrios regimes: o primeiro, qualificado de pr e
protoestatstica, caracteriza o perodo anterior metade do sculo XIX; o segundo, marcado
pelo fenmeno de nacionalizao estatstica, abrange o perodo que se estende da metade
do sculo XIX at o primeiro tero do sculo XX; o terceiro, organizado em torno da ideia
de macroadministrao estatstica, concerne ao corao do sculo XX; finalmente, o ltimo
impe-se a partir dos anos 1980 em um contexto de globalizao neoliberal. Ns j buscamos
mostrar que estes regimes caracterizam a maior parte dos sistemas estatsticos nacionais,
mesmo se verdade, por um lado, que o conceito foi forjado tomando como exemplo oCanad, e, por outro, que os perodos so aproximados e devem ser adaptados em virtude
das experincias (polticas) nacionais.
Desde o incio da dcada de 1980, portanto, grandes transformaes nos levaram a falar
de um novo regime estatstico. As principais caractersticas so as seguintes. Em primeiro
lugar, muitos sistemas estatsticos esto sujeitos a diversas formas de descentralizao
estrutural. Se, durante a maior parte do sculo XX, o modelo centralizado tinha sido, de
algum modo, a norma, e o sistema estatstico canadense seu arqutipo, nos ltimos trinta
anos este modelo foi questionado por causa, entre outras razes, da federalizao (a Espanha
o exemplo mais notvel) ou da regionalizao de certos sistemas polticos (a Frana o
exemplo mais surpreendente), da imbricao de vrios pases em sistemas supranacionais,
e mesmo do impacto de alguns avanos tecnolgicos (como a miniaturizao inform-
tica). Mesmo um sistema to centralizado como o Canad sofreu tenses deste ponto de
vista. Esse movimento inscreve-se igualmente em um contexto ideolgico marcado pelo
aumento das crticas neoconservadoras da burocracia, o que tem contribudo para colo-
car como central a questo do tamanho e das atribuies do rgo estatstico central e o
downsizing, o marketingestatstico, o direcionamento aos clientes como solues. A ltima
caracterstica estrutural significativa deste regime concerne reconfigurao da diviso
de tarefas entre os diferentes produtores de dados e entre estes ltimos e os diferentes
usurios, como testemunham, por um lado, os organogramas bastante complexos dossistemas estatsticos que integram hoje uma grande quantidade de produtores de dados
e, por outro lado, as instncias de dilogo com os usurios ou as instncias de exame dos
produtos estatsticos.
No plano das normas, as transformaes so tambm espetaculares. Constata-se, assim,
um direcionamento evidente a uma temtica de tipo econmico. O rgo estatstico
apresentado como uma empresa que presta servios, que prope os produtos em um
mercado caracterizado por clientelas sensveis qualidade e ao preo. Um novo discurso
relativo a eficcia, marketing e qualidade total se generalizou. A proliferao de cdigos de
tica, cdigos de boas prticas que os representantes comerciais da estatstica moderna
8/11/2019 SEP_90.pdf
38/382
37
A TRANSFORMAODOTRABALHOESTATSTICOEAEMERGNCIADEUMASCIO-HISTRIADAESTATSTICA1
ASEO
transportam em suas bagagens e cuja aplicao recomendada pelos organismos supra-
nacionais outra caracterstica notvel. A cooperao estatstica internacional particu-
larmente valorizada desde h algumas dcadas. A livre circulao de modelos, conceitos,ideias tem certamente sido associada ao mundo da estatstica, ao ponto de fazer desta
disciplina um instrumento e uma garantia de paz. Entretanto nunca esta circulao tinha
tido tanta magnitude como hoje.
Disso resultam prticas largamente difundidas tais como a adoo de um calendrio
fixando datas para a publicao de dados, o que tem por finalidade eliminar as dvidas
quanto a possveis interferncias polticas para atrasar a divulgao de informaes com
a aproximao de uma eleio, por exemplo, a utilizao daspeer reviews, generalizadas
no caso dos pases da Unio Europeia, e o desenvolvimento do benchmarking, tambm
chamado de talonnage, que consiste em estudar, comparar as diferentes prticas como objetivo de identificar as melhores. No de surpreender, nestas circunstncias, ver o
aspecto tcnico assumir um lugar cada vez mais importante no discurso e na prtica dos
servios de estatstica e aparecer como a norma por excelncia. A qualidade total antes um
slogan, mas tambm uma srie de exigncias tcnicas. Outra caracterstica deste regime
refere-se s prticas criadas para se ajustar a uma resistncia cada vez mais marcada da
populao para com os inquritos estatsticos. Mesmo se os rgos estatsticos sempre
estiveram confrontados a este mau humor do pblico, , sobretudo, desde o final dos anos
1960 que isto se tornou muito problemtico, pelo menos em alguns pases da Europa. Esta
resistncia ao inqurito estatstico levou, por exemplo, a uma utilizao mais acentuada
da documentao administrativa. Contudo esta tendncia tambm, e principalmente, o
resultado da busca de uma prtica estatstica racionalizada em um contexto de recursos
escassos e crescimento da demanda pelas polticas pblicas. Grosso modo, as enquetes
custam caro, especialmente os censos. Alm disso, estes ltimos so cada vez mais fre-
quentemente criticados por seu peso e sua impreciso. Se no so suprimidos (como o
caso em alguns pases, como Islndia, Finlndia, Sua, Alemanha, por exemplo), utilizam
cada vez mais tcnicas estatsticas que, durante muito tempo, tinham sido consideradas
incompatveis com o exerccio do recenseamento e se distanciam, portanto, daquilo que
tinha sido apresentado como o princpio central do censo, a exaustividade. O ltimo
ponto sobre o qual gostaramos de insistir refere-se ao novo estatuto do subjetivo nostrabalhos dos servios de estatstica. O novo regime estatstico , de fato, caracterizado
pelo aumento das estatsticas subjetivas. E isso coloca em causa outro princpio central
do trabalho dos rgos produtores de nmeros: o afastamento da subjetividade como
pr-requisito. Para os institutos de estatstica, existia uma distino fundamental entre
as classificaes estatsticas, objetivas (ou seja, que no se assentam nos julgamentos,
necessariamente subjetivos, dos indivduos estatsticos e que so, de certa forma, da
competncia da estatstica como cincia aplicada), que lhes dizem respeito, e as classi-
ficaes externas, subjetivas, com as quais se acomodam os indivduos na vida cotidiana.
Dois caminhos tinham sido seguidos para alcanar esta cientificidade: a objetivao e a
8/11/2019 SEP_90.pdf
39/382
38
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
padronizao. Ora, estes dois meios parecem hoje fragilizados, pelo menos em alguns
setores do trabalho estatstico, pela multiplicao de variveis subjetivas. Como obter algo
que ultrapasse os dados individuais quando se tem que lidar cada vez mais com sujeitose no mais apenas com objetos estatsticos? Como construir sistemas de classificao que
ultrapassem as experincias nacionais quando se tem que lidar com classificaes que
se atrelam aos sistemas de classificao dos indivduos? Um pouco em toda a parte, na
Europa particularmente, as classificaes indignesaparecem sob o efeito quer de leis
supranacionais (como no caso europeu), quer de opes de gesto das populaes (mul-
ticulturalismo). E em um contexto novo: no mais apenas, como nos sculos XIX e XX,
um assunto de Estados plurinacionais, mas principalmente de pases que acolhem novas
populaes de imigrantes. Um dos efeitos a produo de classificaes to especficas
que qualquer tentativa de padronizao est sem dvida fadada ao fracasso. O aparelhoestatstico nacional contenta-se, ento, um pouco maneira dos etnometodlogos, a fazer
o relato dos relatos dos recenseados. A base sobre a qual repousam todas as estatsticas
fortemente ambgua e varivel. Trata-se de uma construo.
A SCIOHISTRIA DA ESTATSTICA
Durante os anos 70 do sculo passado, estruturou-se um campo de pesquisa difcil de definir
por uma designao nica. A expresso histria da estatstica talvez seja aquela, contudo,
que congrega a maioria dos atores do campo. Se a histria da estatstica quase to antigaquanto a estatstica, foi apenas recentemente que ela assumiu uma feio mais externalista,
tentou, de perto, integrar as aquisies da histria internalista, apoiou-se sobre uma postura
construtivista (ou reflexiva2) e crtica, recusando tanto um rigoroso ponto de vista realista
quanto os desvios relativistas. Evidentemente, tudo isto objeto de debates e as posies
dos pesquisadores poderiam ser situadas num espao de (pelo menos) duas dimenses,
com um primeiro eixo internalista-externalista e um segundo eixo realista-relativista,
se um exerccio deste tipo no fosse, inevitavelmente, suspeito. Poder-se-ia extrapolar em
tal exerccio e distinguir, por exemplo, um construtivismo ontolgico e um construtivismo
metodolgico (SCHWEBER, 1996). Voltaremos a isto. Fato que, no obstante diferenas reais
entre as abordagens, certo consenso caracteriza o campo (de um simples ponto de vista
bourdieusiano, isto evidente: falar de um campo assumir o pressuposto de que h um
mnimo de consenso). Vejamos isto mais de perto.
A histria da estatstica, tal como concebida atualmente, foi construda sobre uma ruptura
com a velha concepo internalista que relacionava o desenvolvimento da estatstica ao
refinamento progressivo e lgico das ferramentas aritmticas, matemticas, cada vez mais
1 As duas expresses, certamente, no so intersubstituveis, embora seja verdade que muitas vezes elas sejam vistascomo prximas e, at mesmo, equivalentes. Para uma ilustrao e uma defesa da p ostura reflexiva, ver, por exemplo,
Brian (2010).
8/11/2019 SEP_90.pdf
40/382
39
A TRANSFORMAODOTRABALHOESTATSTICOEAEMERGNCIADEUMASCIO-HISTRIADAESTATSTICA1
ASEO
complexas. Este conceito foi sempre reconhecido e no sem valor, mesmo sob o ponto de
vista da nova scio-histria. Esta foi construda igualmente sobre uma ruptura mais institucional
e to antiga quanto os primeiros rgos produtores de nmeros que viam o desenvolvimentodas atividades e dos organismos estatsticos como acompanhamento lgico da expanso das
atribuies do Estado. Este conceito ainda corrente e largamente conservado pelos agentes
dos servios nacionais de estatstica. As obras comemorativas (para os cem ou duzentos anos
de tal instituio) so sua forma mais espetacular. Em alguns casos, elas tm sido mais ou
menos fortemente influenciadas pela nova scio-histria e constituem, de alguma maneira,
um tipo hbrido. A histria moderna da estatstica, por fim, tambm foi elaborada com base na
recusa de uma posio puramente externalista que v a estatstica como uma consequncia
ou um efeito de mudanas quase totalmente exteriores ao campo da cincia. Esta posio
teve poucos verdadeiros defensores entre os estatsticos ou historiadores da estatstica j que,de algum modo, postulava a inutilidade de uma histria da estatstica. Funciona, contudo,
como uma espcie de horizonte, ponto de referncia ou mesmo ponto crtico. Ela lembra a
todos que os nmeros produzidos nunca so inocentes.
Nos ltimos 40 anos, surgiram os primeiros trabalhos que ilustram as rupturas que acabamos
de expor. As condies externas que tornaram possveis tais rupturas so muitas e certamente
merecem ser identificadas (se queremos evitar que a histriada scio-histria da estatstica
cometa os mesmos erros da histria tradicional da estatstica). As transformaes das sociedades
ocidentais no final dos 30 anos gloriosos (para retomar uma expresso francesa que no deixa
de ter interesse para outros pases), os primeiros questionamentos do Estado-providncia,
a ascenso de novas foras de esquerda radicais (marcadas por um marxismo renovado e
colorido de terceiro-mundismo), aqui e ali no mundo podem ser vistos como (demasiado)
grandes fatores potencialmente explicativos. As classificaes estatsticas, que um pouco em
toda a parte so assumidas como os primeiros objetos de anlise desta nova scio-histria,
expressam bem o que estes primeiros pesquisadores (Desrosires, em particular) tendem
a apreender: a traduo numrica necessariamente imperfeita de um mundo em transfor-
mao. Um pouco em toda a parte, aponta-se que as classificaes estatsticas (tais como as
outras formas de nomear, designar, assinalar os indivduos que a sociologia e a antropologia
j haviam desde h algum tempo relativizado e historicizado) devem ser desconstrudas. Em
um perodo de transio, as velhas classificaes e os arranjos polticos que as solidificavamperderam sua utilidade para representar o mundo.
Um livro como o de Desrosires e Thvenot (1988) sobre as categorias socioprofissionais
apresenta bem os princpios de uma anlise dos instrumentos estatsticos que rejeita o antigo
objetivismo, caro aos estatsticos de Estado. Ele evoca tambm a originalidade do momento
francs simbolizado pelo pertencimento de Desrosires ao mesmo tempo ao rgo nacional
de estatstica, o INSEE, e ao mundo universitrio.
O trabalho aqui apresentado o resultado de uma longa partici-
pao nos trabalhos do INSEE []. O INSEE tem, desde h muito
8/11/2019 SEP_90.pdf
41/382
40
EMASSOCIAODASAMRICAS, ASESTATSTICASPBLICASCOMOOBJETODEESTUDO
tempo, incentivado pesquisas de fundo []. Estes trabalhos foram
igualmente, de longa data, estimulados por uma colaborao com
os socilogos.Este encontro entre dois espaos cientficos que, emquase todos os outros pases so completamente separados, trouxe uma
valiosa ajuda para enfrentar e resolver a questo das nomenclaturas
(INSEE, p. 8, grifo nosso).
Seria necessrio, sem dvida, interrogar-se seriamente (de modo emprico) sobre a ver-
dadeira originalidade deste modelo de colaborao. Eu formularia, de qualquer modo, a
hiptese de que uma colaborao entre estatsticos e especialistas em cincias sociais
hoje mais frequente