Ser Humano vs. 2.0

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    SER HUMANO VERSO 2.01PARA O ENSASTA, EM CERCA DE 30 ANOS UMA SRIE DE MINSCULOS ROBS CUMPRIR ASMAIS DIVERSAS FUNES NO CORPO E TORNAR INTIL BOA PARTE DE SUAS ESTRUTURASBIOLGICAS

    O sexo j est bastante desvinculado de sua funo biolgica. Na maior partedas vezes, participamos de atividade sexual para nos aproximarmosintimamente e para obtermos prazer sensual, e no pela reproduo. Damesma forma, possumos diversos mtodos para gerar bebs sem o ato fsicodo sexo, embora a maior parte da reproduo ainda derive desse ato. Apesarde no ser aceita por todos os setores da sociedade, essa dissociao entresexo e a sua funo biolgica foi prontamente -pode-se dizer atansiosamente- adotada pela maioria.Ento por que no separar o propsito da biologia em outra atividade quetambm proporciona tanta intimidade social quanto o prazer sensual, a saber,o ato de comer? Temos maneiras toscas de faz-lo hoje. Certos bloqueadoresde amido impedem parcialmente a absoro de carboidratos complexos; jdeterminados bloqueadores de gordura unem-se a molculas de gordura efazem com que elas no sejam absorvidas pelo sistema digestivo; e substitutosde acar fornecem doura sem calorias. H limitaes e problemas em cadauma dessas tecnologias contemporneas, mas uma gerao mais eficiente dedrogas est sendo desenvolvida e bloquear o excesso de absoro calrica emnvel celular.

    Devemos considerar, entretanto, uma reengenharia mais fundamental doprocesso digestivo para podermos desconectar o aspecto sensual de comer deseu propsito biolgico original: prover nutrientes para a corrente sangunea,que so ento entregues a cada uma de nossos trilhes de clulas. Essesnutrientes incluem substncias calricas (portadoras de energia) como aglicose (de carboidratos), protenas, gorduras e uma mirade de molculas deoutros compostos, como vitaminas, minerais e elementos fitoqumicos, queproporcionam blocos de montagem e enzimas facilitadoras para diversosprocessos metablicos.Nosso conhecimento das complexas vias subjacentes ao processo digestivo se

    expande rapidamente, embora ainda haja muita coisa que no compreendemosinteiramente. Por um lado, a digesto, como qualquer outro grande sistemabiolgico do ser humano, assombrosa em sua complexidade eengenhosidade. Nossos corpos so capazes de extrair os complicados recursosnecessrios sobrevivncia, apesar das condies altamente variveis,enquanto simultaneamente filtram uma multiplicidade de toxinas.Por outro lado, nossos corpos se desenvolveram em uma era muito diferente.

    1 Publicado no Jornal Folha de So Paulo, Caderno Mais, domingo, 23 de maro de 2003. Disponvelemhttp://www.neuropedagogia.com/versaohumana2.html. Acesso em 21 de out. 2012.

    http://www.neuropedagogia.com/versaohumana2.htmlhttp://www.neuropedagogia.com/versaohumana2.htmlhttp://www.neuropedagogia.com/versaohumana2.htmlhttp://www.neuropedagogia.com/versaohumana2.html
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    Nosso processo digestivo, em particular, otimizado para uma situaodramaticamente distinta daquela em que nos encontramos.Para a nossa herana biolgica, havia uma grande probabilidade de que aprxima estao de coleta ou caa (e, por um perodo breve e relativamenterecente, o prximo plantio) pudesse ser catastroficamente parca. Ento faziasentido que nossos corpos armazenassem cada caloria possvel. Hoje, essaestratgia biolgica extremamente contraproducente. Nossa programaometablica obsoleta subjacente epidemia contempornea de obesidade e causa de processos patolgicos de doenas degenerativas, como a doenaarterial coronria e diabetes do tipo 2.

    NANORROBS NO SISTEMA DIGESTIVO E NA CORRENTE SANGUNEAEXTRAIRO DE FORMA INTELIGENTE OS NUTRIENTES EXATOS DE QUE

    PRECISAMOS

    At recentemente (em uma escala temporal evolucionria), no erainteressante para a espcie que pessoas velhas como eu (que nasci em 1948)usassem os recursos do cl. A evoluo favorecia uma existncia curta -a

    expectativa de vida era de 37 anos h apenas dois sculos- para que essasreservas restritas pudessem ser devotadas aos jovens, aos que tomavam contados pequenos e aos que fossem fortes o bastante para se devotar a intensoesforo fsico. Vivemos agora em uma era de grande abundncia material. Amaior parte do trabalho requer esforo mental, em vez de fsico. Um sculoatrs, 30% do trabalho nos EUA consistia no esforo fsico em fazendas,enquanto outros 30%, em fbricas. Ambos os nmeros esto agora em menosde 3%. A grande maioria das categorias de emprego atuais, que variam decomissrio de bordo a "web designer", no existia um sculo atrs. Em 2003,

    temos a oportunidade de continuar a contribuir para o conhecimento de nossacivilizao, que cresce exponencialmente -por acaso, um atributo nico denossa espcie-, bem alm de nossos dias de economizar recursos para criarcrianas.

    Corpo sem pane ou doenasNossa espcie j aumentou a ordem "natural" de nossas vidas por meio denossa tecnologia: drogas, suplementos, peas de reposio para virtualmentetodos os sistemais corporais e muitas outras invenes. J temosequipamentos para substituir nossos joelhos, bacias, ombros, cotovelos,

    pulsos, maxilares, dentes, pele, artrias, veias, vlvulas do corao, braos,pernas, ps e dedos. Sistemas para substituir rgos mais complexos (por

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    exemplo, nossos coraes) comeam a funcionar. Estamos aprendendo osprincpios de operao do corpo e do crebro humanos e logo poderemosprojetar sistemas altamente superiores, que sero mais agradveis, duraromais e funcionaro melhor, sem serem suscetveis a panes, doenas eenvelhecimento.

    A VERSO 1.0 DE NOSSOS CORPOS LIMITADA, GUARDA ALGUNS MINUTOS DEOXIGNIO EM NOSSO SANGUE; A VERSO 2.0 TER RESERVAS BEM MAIORES

    A artista Natasha Vita-More pioneira em um design conceitual de umsistema assim, chamado "Primo Posthuman" [saiba mais nositewww.natasha.cc/primo.htm, projetado para mobilidade, flexibilidade elongevidade. Ele dispe de inovaes como um metacrebro para conexoglobal em rede dotado de uma prtese de neoneocrtex de intelignciaartificial entremeada com nanorrobs; pele inteligente que protegida contrao sol e biossensores para mudana de tom e textura, alm de sentidosaltamente aguados. Ns no projetaremos o corpo humano verso 2.0 de umavez s. Ser um processo contnuo, que j est em andamento. Apesar de a

    verso 2.0 ser um grande projeto, que por fim resultar em uma melhoraradical de todos os nossos sistemas fsicos e mentais, ns a implementaremosa um passo benigno de cada vez. Baseados em nosso conhecimento atual, ns

    j podemos tocar e sentir os meios para atingir cada aspecto dessa viso.Dessa perspectiva, retornemos a uma considerao do sistema digestivo. Ns

    j temos uma imagem razoavelmente abrangente daquilo que constitui acomida que ingerimos. Ns j temos os meios para sobreviver sem comer,usando alimentao intravenosa (para pessoas incapazes), apesar de esse serclaramente um processo desagradvel, dadas as limitaes atuais em nossas

    tecnologias para pr e retirar substncias da corrente sangunea. A prximafase de desenvolvimento ser em grande parte bioqumica, na forma de drogase suplementos que bloquearo a absoro calrica excessiva e de outra formareprogramaro os caminhos metablicos para uma sade otimizada. Ns jtemos o conhecimento para evitar a maior parte das etapas de doenasdegenerativas, como as do corao, derrames, diabetes do tipo 2 e cncer, pormeio de programas abrangentes de nutrio e suplementao. Vejo nossoconhecimento atual como uma ponte para o completo florescimento darevoluo biotecnolgica, que por sua vez ser uma ponte para a revoluonanotecnolgica.

    Nanorrobs

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    Em uma famosa cena do filme "A Primeira Noite de um Homem" [de 1967,dirigido por Mike Nichols], o mentor de Benjamin lhe d um conselho arespeito da carreira a seguir com uma s palavra: "Plstico". Hoje, essapalavra pode ser "software" ou "biotecnologia", mas em algumas dcadas apalavra provavelmente ser "nanorrobs". Nanorrobs -robs do tamanho deuma hemcia- nos daro os meios para refazer radicalmente os nossossistemas digestivos e, incidentalmente, quase tudo o mais. Em uma faseintermediria, nanorrobs no sistema digestivo e na corrente sanguneaextrairo de forma inteligente os nutrientes exatos de que precisamos, nosavisaro quais so os nutrientes e suplementos que nos faltam por meio denossa rede sem fio local e mandaro o restante da comida a caminho daeliminao. Se isso parece futurstico, saiba que mquinas inteligentes j estoencontrando o caminho para o nosso fluxo sanguneo.

    O USO DE "RESPIRCITOS" SER PROIBIDO EM OLIMPADAS, MAS ENTO TEREMOSADOLESCENTES SUPERANDO ATLETAS PROFISSIONAIS NAS AULAS DE EDUCAO FSICA

    H dzias de projetos encaminhados para a criao de "sistemas

    microeletromecnicos biolgicos" (bioMEMS, em ingls) com uma amplapossibilidade de aplicaes diagnsticas e teraputicas. EquipamentosbioMEMS esto sendo projetados para encontrar de forma inteligente agentespatognicos e para aplicar medicamentos de maneira muito precisa. Porexemplo, um pesquisador da Universidade de Illinois, em Chicago, criou umapequena cpsula com poros que medem apenas sete nanmetros. Os porosfornecem insulina de maneira controlada, mas evitam que anticorpos invadamcertas clulas pancreticas dentro da cpsula. Esses equipamentos projetadoscom nanoengenharia curaram ratos com diabetes do tipo 1, e no h razes

    para que o mesmo mtodo venha a falhar em seres humanos. Sistemassimilares poderiam fornecer dopamina para o crebro de pacientes com mal deParkinson, fornecer fatores coaguladores para hemoflicos e fornecer drogaspara o tratamento do cncer diretamente no local do tumor. Um novo projetopossui at 20 reservatrios para substncias que podem fornecer sua carga emhorrios e locais programados do corpo. Kensall Wise, um professor deengenharia eltrica da Universidade de Michigan, desenvolveu uma minsculasonda neural que pode monitorar precisamente a atividade eltrica depacientes com doenas neurolgicas. Espera-se que projetos futurosentreguem drogas a pontos especficos do crebro. Kazushi Ishiyama, da

    Universidade Tohoku, no Japo, desenvolveu micromquinas que usamparafusos giratrios microscpicos para injetar drogas em pequenos tumores

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    cancergenos. Uma micromquina particularmente inovadora desenvolvidapelos laboratrios Sandia tem verdadeiros microdentes com uma mandbulaque abre e fecha para capturar clulas individuais e nelas implantarsubstncias como DNA, protenas ou drogas. H j pelo menos quatro grandesconferncias cientficas a respeito de bioMEMS e outras abordagens para odesenvolvimento de mquinas em micro e nanoescala que entrem no corpo ena corrente sangunea. Por fim, os nutrientes individuais necessrios para cadapessoa sero completamente compreendidos (incluindo todas as centenas deelementos fitoqumicos) e facilmente, do ponto de vista econmico,encontrveis, ento no haver nenhuma necessidade de extrair nutrientes dacomida. Como hoje ns fazemos sexo por suas recompensas sensuais erelacionais, teremos a oportunidade de desligar o ato de comer da funo deobter nutrientes para a corrente sangunea. Essa tecnologia dever estarrazoavelmente amadurecida na dcada de 2020. Os nutrientes sero

    introduzidos diretamente na corrente sangunea por nanorrobs metablicosespeciais. Sensores no fluxo sanguneo e no corpo, utilizando comunicaosem fio, fornecero informao dinmica a respeito dos nutrientes necessriosa cada momento. Uma questo-chave ao projetar essa tecnologia dever ser osmeios pelos quais esses nanorrobs entram e saem do corpo. Como mencioneiacima, as tecnologias de que dispomos hoje, como cateteres intravenosos,deixam muito a desejar. Um benefcio significativo da tecnologia denanorrobs que, ao contrrio de meras drogas ou suplementos alimentares,nanorrobs tm alguma inteligncia. Eles podem saber quanto e o quecarregam e, inteligentemente, entrar e sair de nossos corpos. Um cenriopossvel o de que usaremos uma "veste de nutrio" especial, como um cintoou uma camiseta. Essa veste seria carregada de nanorrobs que carregamnutrientes, que entrariam e sairiam de nossos corpos atravs da pele ou deoutras cavidades. Nesse ponto do desenvolvimento tecnolgico, seremoscapazes de comer o que quisermos, o que nos der prazer e realizaogastronmica e, portanto, explorar sem reservas as artes culinrias por seussabores, texturas e aromas. Ao mesmo tempo, forneceremos um fluxootimizado de nutrientes a nossas correntes sanguneas, usando um processocompletamente diverso. Uma possibilidade seria que toda a comida que

    comssemos passasse por um sistema digestivo desconectado de qualquerpossvel absoro por parte da corrente sangunea.

    Sem eliminaoIsso traria um nus para os nossos intestinos, ento uma abordagem maisrefinada dispensar a funo de eliminao. Seremos capazes de faz-loutilizando nanorrobs especiais de eliminao que ajam como minsculoscompactadores de lixo. medida que os nanorrobs de nutrientes vm daveste de nutrientes para o nosso corpo, os nanorrobs eliminadores fazem ocaminho inverso. Periodicamente, substituiramos a veste de nutrientes por

    uma nova. Algum poderia comentar que ns obtemos prazer na funo deeliminao, mas eu suspeito que a maioria das pessoas ficaria feliz sem ela.

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    Por fim no precisaremos nos preocupar com roupas especiais ou recursosnutricionais explcitos. Assim como a computao ser eventualmente ubquae disponvel em todo lugar, tambm os recursos bsicos para os nanorrobsmetablicos estaro embutidos em todo lugar em nosso ambiente. Mais ainda,um importante aspecto desse sistema ser manter dentro do corpo reservasamplas de todos os recursos necessrios. A verso 1.0 de nossos corpos fazisso de maneira bastante limitada, por exemplo, guardando alguns minutos deoxignio em nosso sangue e alguns dias de glicognio e outras reservas. Averso 2.0 ter reservas substancialmente maiores, nos permitindo separarrecursos metablicos para perodos bastante extensos.

    SE NS REALMENTE ACREDITARMOS QUE RESPIRAR PRAZEROSO, ENCONTRAREMOSMANEIRAS VIRTUAIS DE SIMULAR ESSA EXPERINCIA SENSRIA

    Uma vez concluda essa evoluo, no teremos mais nenhuma necessidade daverso 1.0 de nosso sistema digestivo. Eu chamei a ateno acima para o fatode que a nossa adoo dessas tecnologias ser cautelosa e em etapas, portantono dispensaremos o processo digestivo moda antiga no momento de sua

    introduo. A maioria esperar o sistema digestivo verso 2.1 ou 2.2 antes dedescartar espontaneamente a verso 1.0. Afinal, as pessoas no jogaram suasmquinas de escrever no lixo quando surgiram os primeiros processadores detexto. As pessoas guardaram suas colees de vinis por muito tempo depoisdo aparecimento dos CDs (eu ainda tenho a minha). As pessoas ainda tmsuas cmeras com filme, apesar de a mar estar rapidamente mudando emfavor das cmeras digitais.

    Sangue programvel

    Na medida em que fizermos a engenharia reversa (aprendermos os princpiosde funcionamento) dos diversos sistemas de nossos corpos, estaremos emposio de projetar novos sistemas que proporcionaro melhorias dramticas.Um sistema pervasivo que j tem sido tema de redesign conceitual abrangente o nosso sangue. Um dos maiores propositores da "nanomedicina" (reprojetaros nossos sistemas biolgicos por meio da engenharia em escala molecular) eautor de um livro com o mesmo nome Robert Freitas, pesquisador denanotecnologia da Zyvex Corp. O ambicioso manuscrito de Freitas um maparodovirio abrangente para rearquitetar a nossa herana biolgica. Um dosprojetos de Freitas substituir (ou aumentar a capacidade de) os nossos

    glbulos vermelhos com "respircitos" artificiais que nos permitiriam segurara respirao por quatro horas ou correr em velocidade mxima por 15 minutos

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    sem tomar flego. Como a maioria de nossos sistemas biolgicos, nossosglbulos vermelhos cumprem sua funo de oxigenao de forma bem poucoeficiente, e Freitas os tem reprojetado para otimizar sua performance. Eleestudou muitos dos requisitos fsicos e qumicos com um nvel impressionantede detalhamento. Ser interessante ver como lidar com esse desenvolvimentoem disputas atlticas. Presumivelmente, o uso de "respircitos" e sistemassimilares ser proibido em Jogos Olmpicos, mas ento teremos o espectro deadolescentes de 14 ou 15 anos superando atletas profissionais nas aulas deeducao fsica. Freitas prev plaquetas artificiais do tamanho de um mcronque poderiam conseguir hemstase (controle do sangramento) at mil vezesmais rpido do que plaquetas biolgicas. Ele descreve substitutos de glbulosbrancos nanorrobticos que baixaro softwares para destruir infecesespecficas centenas de vezes mais rapidamente do que antibiticos e quesero eficazes contra todas as infeces bacterianas, virticas ou causadas por

    fungos, sem as limitaes da resistncia a remdios. Eu observei (atravs deum microscpio) os meus prprios glbulos brancos cercarem e destruremum agente patognico e fiquei surpreso com o incrvel vagar desse processonatural. Apesar de saber que a reposio de nosso sangue com bilhes deaparatos nanorrobticos v requerer um longo processo de desenvolvimento,refinamento e aprovao legal, ns j temos o conhecimento conceitual paraprojetar melhoramentos substanciais nos incrveis, mas bastante ineficientes,mtodos utilizados por nossos corpos biolgicos.

    Problemas de coraoO prximo rgo na minha lista o corao. uma mquina considervel,mas tem uma srie de problemas srios. sujeito a uma mirade de falhas erepresenta uma fraqueza fundamental em nossa longevidade potencial. Ocorao, em geral, quebra muito antes do restante do corpo -e com frequnciade modo prematuro. Apesar de coraes artificiais estarem comeando afuncionar, uma abordagem mais eficaz ser a de nos livrarmos do corao deuma vez. Entre os projetos de Freitas esto glbulos sanguneosnanorrobticos que se movem sozinhos. Se o sistema sanguneo se movesozinho, os problemas de engenharia resultantes da extrema presso

    necessria para manter um bombeamento central podem ser eliminados. medida que aperfeioamos os meios para transferir nanorrobs para e a partirdo fluxo sanguneo, poderemos tambm repor continuamente os nanorrobsque compem o nosso suprimento de sangue. A energia ser fornecida porclulas de combustvel de hidrognio microscpicas. A Integrated Fuel CellTechnologies, uma das muitas companhias pioneiras em tecnologia de clulade combustvel, j criou clulas de combustvel microscpicas. O seu designde primeira gerao fornece dezenas de milhares delas em um circuitointegrado e direcionado para uso em eletrnicos portteis. Com os"respircitos" fornecendo acesso bastante estendido oxigenao, estaremos

    em posio de eliminar os pulmes utilizando nanorrobs que nos forneamoxignio e se livrem do dixido de carbono. Algum pode ressaltar que ns

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    obtemos prazer na respirao (mais do que no ato de defecar). Como ocorrecom todos esses redesigns, ns certamente atravessaremos estgiosintermedirios em que essas tecnologias aumentam os nossos sistemasnaturais, para que possamos ter o melhor dos dois mundos. Eventualmente,entretanto, no haver mais motivo para continuar com as complicaes darespirao e a necessidade de ar respirvel onde quer que formos. Se nsrealmente acreditarmos que respirar prazeroso, encontraremos maneirasvirtuais de simular essa experincia sensria. Ns tambm no precisaremosdos diversos rgos que produzem elementos qumicos, hormnios e enzimasque fluem no sangue e em outras vias metablicas. Ns j criamos versesbioidnticas de diversas dessas substncias e teremos os meios de criarrotineiramente todas as substncias bioquimicamente relevantes em algumasdcadas. Essas substncias ( medida que ainda forem necessrias) seroentregues via nanorrobs, controlados por sistema de resposta biolgica

    inteligente para manter e equilibrar os nveis necessrios, como os nossossistemas "naturais" fazem atualmente (por exemplo, o controle da insulina departe das clulas pancreticas). J que estamos eliminando a maior parte dosnossos rgos biolgicos, a maioria dessas substncias se tornardesnecessria e ser substituda por outros recursos requeridos pelos sistemasnanorrobticos. De forma similar, os rgos que filtram as impurezas dosangue, como os rins, podem ser substitudos por sistemas de eliminaobaseados em nanorrobs. importante enfatizar que esse processo de redesignno se completar em um nico ciclo de projeto. Cada rgo e cada idia teroseu prprio progresso, designs intermedirios e estgios de implementao.Mesmo assim, estamos claramente nos dirigindo a um redesign fundamental eradical da verso 1.0, extremamente ineficiente e de funcionalidade limitada,do corpo.

    E o que resta?Consideremos o lugar onde estamos. Eliminamos o corao, pulmes,glbulos brancos e vermelhos, plaquetas, pncreas, glndula tireide e todosos rgos produtores de hormnios, rins, bexiga, fgado, parte inferior doesfago, estmago, intestinos grosso e delgado.

    O que ainda temos agora o esqueleto, a pele, genitais, boca e parte superiordo esfago e o crebro.O esqueleto uma estrutura estvel, e ns j temos uma compreensorazovel de seu funcionamento. Ns substitumos partes dele hoje, apesar denossa tecnologia para faz-lo ter severas limitaes. Nanorrobs deinterligao nos daro a habilidade de aumentar e, em ltimo caso, substituir oesqueleto. Substituir partes do esqueleto hoje requer cirurgia dolorosa, massubstitui-lo por meio de nanorrobs a partir de dentro pode ser um processogradual e no-invasivo. O esqueleto humano verso 2.0 ser muito forte ecapaz de se consertar sozinho.

    Ns no notaremos a ausncia de muitos de nossos rgos, como o fgado e opncreas, pois no sentimos diretamente o seu funcionamento. A pele,

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    entretanto, um rgo que ns de fato desejaremos manter -ou pelo menosmanter a sua funcionalidade. A pele, que inclui os nossos rgos sexuaisprimrios e secundrios, nos fornece uma funo vital de comunicao eprazer.Mesmo assim, seremos por fim capazes de melhorar a pele com novos eflexveis materiais nanoprojetados que nos daro maior proteo contra osefeitos cinticos e trmicos do ambiente, aumentando ao mesmo tempo nossacapacidade de comunicao ntima e prazer. O mesmo pode ser dito da boca eda parte superior do esfago, responsveis pelos aspectos do sistema digestivoque utilizamos para o ato de comer.O processo de engenharia reversa e de redesign tambm abranger o sistemamais importante de nossos corpos: o crebro. O crebro no mnimo tocomplexo quanto todos os outros sistemas simultaneamente, comaproximadamente metade de nosso cdigo gentico dedicado ao seu design.

    um engano ver o crebro como um nico rgo: na realidade uma intricadacoleo de rgos processadores de informao, interconectados em umahierarquia elaborada, da mesma forma que o acidente que nossa histriaevolucionria.O processo de compreenso dos princpios de operao do crebro humano jest bem encaminhado. As tecnologias subjacentes de anlise do crebro e demodelagem de neurnios melhoram exponencialmente, assim como o nossoconhecimento generalizado de seu funcionamento. Ns j temos modelosmatemticos detalhados de algumas dzias das vrias centenas de regies quecompem o crebro humano.A era dos implantes neurolgicos tambm est encaminhada. Temosimplantes cerebrais baseados em modelagem "neuromrfica" (isto ,engenharia reversa do crebro humano e do sistema nervoso) para uma listacrescente de regies. Um amigo meu que ficou surdo em idade adulta agorapode conversar pelo telefone novamente graas a um implante coclear, umaparato que se comunica diretamente com o sistema nervoso auditivo. Eleplaneja substitu-lo por um novo modelo que tem mil nveis de discriminaode frequncias, o que lhe permitir voltar a escutar msica. Ele lamenta o fatode ter as mesmas melodias tocando em sua cabea h 15 anos e espera ansioso

    ouvir outras canes.Uma gerao futura de implantes de cclea, atualmente na prancheta, provernveis de discriminao de frequncias que iro significativamente almdaqueles captados por uma audio "normal".Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e daUniversidade Harvard desenvolvem implantes neurolgicos que substituiroretinas danificadas. H implantes cerebrais para pacientes com mal deParkinson que se comunicam diretamente com as regies do ncleo ventralposterior e do ncleo subtalmico do crebro para reverter os sintomas maisdevastadores dessa doena.

    Um implante para pessoas com paralisia cerebral e esclerose mltipla secomunica com o tlamo ventral lateral e foi eficiente no controle de tremores.

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    "Em vez de tratar o crebro como sopa, adicionando qumicas que melhoramou suprimem certos neurotransmissores", diz Rick Trosch, um mdico norte-americano que ajuda a elaborar essas terapias, "ns agora o estamos tratandocomo uma srie de circuitos". Uma variedade de tcnicas est sendodesenvolvida para fornecer um elo de comunicao entre o mundo mido eanalgico do processamento de informaes biolgico e a eletrnica digital.Pesquisadores no Instituto Max Planck, na Alemanha, desenvolveramequipamentos no-invasivos que podem se comunicar com neurnios emambas as direes. Eles demonstraram o seu "transistor de neurnios"controlando os movimentos de uma sanguessuga viva a partir de umcomputador pessoal.

    EM 2030, UM PASSATEMPO POPULAR SER O DE SE LIGAR NO RAIO EMOCIONAL-SENSORIAL DEALGUM E EXPERIMENTAR O QUE SE TORNAR OUTRA PESSOA, COMO EM "QUERO SER JOHNMALKOVICH"

    Tecnologia semelhante foi usada para reorganizar neurnios de sanguessugase coagir esses neurnios a resolver simples problemas lgicos e aritmticos.

    Cientistas agora experimentam um novo design, chamado de "pontos dequantum", que usa minsculos cristais de material semicondutor para conectarequipamentos eletrnicos a neurnios. Esses desenvolvimentos nos oferecema promessa de reconectar caminhos neurolgicos quebrados para pessoas comdano no sistema nervoso e ferimentos na coluna vertebral. Havia muito tempoque se acreditava que isso s seria realizvel em pacientes feridosrecentemente, uma vez que os nervos gradualmente se deterioram se noutilizados. Uma descoberta recente, entretanto, mostra a possibilidade de umsistema neuroprosttico para pacientes com antigas leses na coluna vertebral.

    Pesquisadores na Universidade de Utah pediram a um grupo de quadriplgicosde longa data que movessem seus membros em um certo nmero de modos eento observaram a resposta de seus crebros por meio de ressonnciamagntica. Apesar de os caminhos neurais para seus membros estareminativos havia anos, o padro de atividade cerebral quando tentavam moverseus membros se mostrou muito prximo do observado em pessoas que noportam deficincias fsicas. Seremos capazes, portanto, de colocar sensores nocrebro de uma pessoa paralisada, que sero programados para reconhecer ospadres cerebrais associados com os movimentos desejados, podendo entoestimular a sequncia apropriada de movimentos musculares. Para pacientes

    cujos msculos no mais funcionam, j h projetos de sistemas"nanoeletromecnicos" (NEMS, em ingls) que podem se expandir e contrair

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    para substituir msculos danificados e podem ser ativados por nervos reais ouartificiais. Estamos ficando cada vez mais ntimos de nossa tecnologia. Oscomputadores comearam como grandes mquinas em salas com ar-condicionado, controlados por tcnicos com jalecos brancos.Subsequentemente, foram para nossas mesas, para debaixo de nossos braos,agora para nossos bolsos. Logo, os poremos rotineiramente dentro de nossoscorpos e crebros. Por fim nos tornaremos mais no-biolgicos do quebiolgicos. A obrigatria necessidade e os benefcios de superar doenasgraves e deficincias mantero essas tecnologias em rpida evoluo, masaplicaes mdicas representam apenas a fase de adoo inicial. medida queas tecnologias forem se estabelecendo, no haver barreiras que impeam seuuso para expanso do potencial humano. Da forma como vejo, expandir onosso potencial o que melhor nos distingue como espcie. Alm disso, todasas tecnologias subjacentes esto se acelerando. O poder da computao

    cresceu em uma taxa de dupla exponencial por todo o sculo passado econtinuar a faz-lo neste sculo por meio da computao tridimensional. Asbandas de comunicao e o ritmo da engenharia reversa do crebro tambm seapressam. Enquanto isso, de acordo com meus modelos, o tamanho datecnologia est diminuindo numa taxa de 5,6 por dimenso linear por dcada,o que tornar a nanotecnologia onipresente na dcada de 2020. Ao final destadcada, a computao desaparecer enquanto tecnologia separada, queprecisamos carregar conosco. Teremos rotineiramente imagens em altaresoluo abrangendo todo o campo visual projetadas diretamente em nossasretinas a partir de nossos culos e lentes de contato (o Departamento deDefesa dos EUA j usa tecnologia similar da empresa Microvision).Estaremos conectados sem fio em altssima velocidade com a internetpermanentemente. O equipamento eletrnico para isso estar embutido emnossas roupas. Aproximadamente em 2010, esses computadores altamentepessoais permitiro que ns encontremos uns aos outros em total imersovisual e auditiva, em ambientes de realidade virtual, assim como aumentaronossa viso com informaes especficas relativas ao local e ao horrio a todoinstante. Em 2030, a eletrnica utilizar circuitos do tamanho de molculas, aengenharia reversa do crebro humano ter sido concluda e os bioMEMS

    tero evoludo para bioNEMS (sistemas biolgicos nanoeletromecnicos).Ser rotineiro ter bilhes de nanorrobs cruzando os capilares de nossoscrebros, comunicando-se entre si (por meio de uma rede local sem fio), comnossos neurnios biolgicos e com a internet. Uma aplicao ser permitirimerso total em realidade virtual, abrangendo todos os nossos sentidos.Quando quisermos entrar em um ambiente virtual, os nanorrobs substituiroos sinais obtidos por nossos sentidos reais por sinais que o nosso crebroreceberia se estivesse de fato no ambiente virtual. Ns teremos uma miradede ambientes virtuais a escolher, incluindo desde mundos terrenos com osquais estamos familiarizados a mundos que no tm reflexo na Terra. Seremos

    capazes de ir a esses locais virtuais e ter todo tipo de interao com outraspessoas reais (ou simuladas), de encontros de negcios a situaes erticas.

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    Na realidade virtual, no estaremos restritos a uma nica personalidade, j queseremos capazes de mudar nossa aparncia e nos tornar pessoas diferentes.

    Experincias arquivadas"Carregadores" levaro todo seu fluxo de experincias sensoriais assim comoos correlatos neurolgicos de suas reaes emocionais na web, do mesmomodo que hoje as pessoas carregam imagens de seus quartos a partir de suaswebcams. Um passatempo popular ser o de se ligar no raio emocional-sensorial de algum e experimentar o que ser outra pessoa, como no filme"Quero Ser John Malkovich" [de 1999, dirigido por Spike Jonze". Havertambm uma vasta seleo de experincias arquivadas a escolher. O design deambientes virtuais e a criao de experincias de imerso total se tornaronovas formas de arte.A aplicao mais importante dos nanorrobs de 2030 ser literalmente

    expandir nossas mentes. Estamos hoje limitados a meras centenas de trilhesde conexes entre neurnios; seremos capazes de aument-las adicionandoconexes virtuais por meio da comunicao entre nanorrobs. Isso nosproporcionar a oportunidade de expandir amplamente as nossas habilidadesde reconhecimento de padres, nossas memrias e a capacidade de pensar deum modo geral, assim como a capacidade de nos comunicarmos com formaspoderosas de inteligncia no-biolgica. importante ressaltar que uma vez que a inteligncia no-biolgica consigaentrar em segurana em nossos crebros (um limiar que ns j cruzamos), elacrescer exponencialmente, como prprio da natureza acelerante dastecnologias baseadas em informao. Um cubo de uma polegada de arestacomposto de circuitos de nanotubo (que j funciona em escalas ainda menoresem laboratrios) ser no mnimo um milho de vezes mais poderoso do que ocrebro humano.Em 2040, a poro no-biolgica de nossa inteligncia ser muitssimo maispoderosa do que a parte biolgica. Ser, entretanto, ainda parte da civilizaohomem-mquina, tendo derivado da inteligncia humana, isto , sido criadapor humanos (ou por mquinas criadas por humanos) e baseada ao menos emparte na engenharia reversa do sistema nervoso humano.

    [O fsico" Stephen Hawking comentou recentemente na revista alem "Focus"que a inteligncia dos computadores ultrapassar a humana em algumasdcadas. Ele advoga que desenvolvamos "o mais rpido possvel tecnologiasque tornem vivel a conexo direta entre crebro e computador, para quecrebros artificiais contribuam para a inteligncia humana, ao invs de seoporem a ela". Hawking pode se reconfortar com o fato de que o programa dedesenvolvimento que ele recomenda j est bem encaminhado.

    Ray Kurzweil dirige o grupo Kurzweil Technologies e autor de, entre outros, "The Age of IntelligentMachines" (MIT Press). Este texto foi veiculado originalmente no sitewww.kurzweilai.netTraduo de Victor Aiello Tsu.

    http://www.kurzweilai.net/http://www.kurzweilai.net/http://www.kurzweilai.net/http://www.kurzweilai.net/