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GAZETA DE PIRACICABA MEIO AMBIENTE 23 PIRACICABA, SEXTA-FEIRA, 6 DE JUNHO DE 2014 Mesas de jogos sob a sombra de mangueira Broca passeia em paineira, quase que invisível Pau-ferro, de madeira densa, é uma das espécies Francisco Rollo defende a diversidade das espécies Parque fica no coração da cidade: revitalização As belas flores da eritrina enfeitam a paisagem João-de-barro utilizou mangueira para fazer sua casa Dois pés de tamarindos estão carregados de frutos ainda verdes ELENI DESTRO Especial para Gazeta C ultura, educação, diver- são, esporte, lazer e con- tato com a natureza. O Parque da Estação da Paulis- ta, tema de hoje da série Bol- sões Verdes da Gazeta, pode ser considerado um espaço completo já que oferece tudo isso à população. Sem contar sua beleza arquitetônica e pai- sagística, que reúne um mix de espécies nativas e exóticas. Em um passeio pelo local, a reportagem da Gazeta teve a ajuda de Francisco Martins de Almeida Rollo, gestor ambien- tal com mestrado em recur- sos florestais pela Esalq (Esco- la Superior de Agricultura Luiz de Queiroz). Logo na en- trada pelo portão que dá aces- so à rua Alferes José Caetano, alguns jacarandás mimosos são responsáveis por uma sombra muito agradável. Ao centro do parque foram intro- duzidas palmeiras. Almeida Rollo lembra que o conforto térmico é importante em um parque onde há atividades físi- cas e principalmente idosos: no local funciona a Estação do Idoso. "Eu prefiro árvores maiores, como os jacarandás, que fazem sombra, aumen- tam a umidade e atraem pás- saros", diz. Mais alguns passos e o am- biente ideal, na opinião do gestor ambiental, aparece. Trata-se de uma área grande, que fica nos fundos da esta- ção, ao lado da avenida Dr. João Conceição. Há dezenas e dezenas de espécies planta- das, entre nativas e exóticas. "Uma área como essa serve para barrar o barulho que vem da avenida, também se- gura o vento. Além disso, as árvores florescem em épocas diferentes, o que confere um paisagismo interessante", ava- lia Almeida Rollo. A mescla de espécies também evita que se percam todas as espécies de uma vez quando elas chega- rem ao período de senescên- cia (idade avançada). Só nesse ponto foram identi- ficadas a farinha-seca (quan- do você passa a mão em seu tronco, ele solta um pó pareci- do com farinha), ipê de El Sal- vador, paineiras, pata-de-va- ca, aldrago, pau-ferro (madei- ra muito usada para fabricar braço de violão pela sua densi- dade), cedro e o dedaleiro, en- tre outras. Uma prova de que misturar é vantajoso se quando uma eritrina é avistada, ou melhor, suas flores vermelhas são vistas, em meio à paisa- gem verde e marrom do outo- no. Almeida Rollo alerta para uma broca que passeia por uma jovem paineira, usando sua capacidade de mimetis- mo que quase a deixa invisí- vel. Ele explica que esse be- souro faz ninhos nas árvores; não oferecem perigo para as sadias, mas pode trazer pro- blema para a manutenção das que estão senis. TEMPERATURA E a caminhada continua ao la- do de uma rua de ipês. Bem em frente a elas, há vários brinquedos mas, sob o forte sol das 13h30, eles estão va- zios. "O ideal era que tivesse árvores", reforça Almeida Ro- llo. Mesmo no outono, o sol cas- tiga e, quando se chega a um espaço mais arborizado, a di- ferença pode ser sentida na pele literalmente. O Parque da Paulista tem outro espaço assim, formado por manguei- ras gigantes, além de dois pés de tamarindo cheios de frutos ainda verdes. Ali, algumas crianças brincam e pessoas descansam debaixo da som- bra. Almeida Rollo lembra que as mangueiras eram mui- to usadas em áreas e praças nas cidades do interior. Hoje, elas foram deixadas de lado por conta de seus frutos pesa- dos, que podem atingir pes- soas e também acumular mui- ta matéria orgânica. "É um parque muito interessante. Só falta conectá-lo com, por exemplo, o Parque da Rua do Porto. Isso traria melhoras am- bientais, criaria um caminho para que as pessoas chegas- sem até lá e também promove- ria o fluxo de fauna", enume- ra o gestor. HISTÓRIA RECUPERADA A Estação da Paulista foi inau- gurada em 1922. Os trens de passageiros circularam até 1976 e, em 1990, acabou sen- do fechada. O local ficou sem uso e foi revitalizado em 2005. Lá funcionam um centro cul- tural, um posto do programa de inclusão digital do Acessa São Paulo, além das pistas de corrida e ciclovia. Segundo Carlos Ambrosano, o Téia, engenheiro agrônomo e diretor do Departamento de Controle Ambiental da Sede- ma (Secretaria de Defesa do Meio Ambiente), o projeto pai- sagístico foi inspirado no Jar- dim Botânico do Rio de Janei- ro. De acordo com ele, foi fei- ta no local, para preservar al- gumas características, uma adaptação do jardim inglês com o francês, com áreas de sombra e gramadas, com sol. Só depois foram instalados os parquinhos, por exemplo, e também o jardim japonês. "O principal ganho foi a revitali- zação do entorno. Era uma área abandonada, um espaço grande dividindo a cidade, da rua do Rosário até a Benja- min. Passou de uma área de- gradada para um espaço com segurança e bastante utiliza- do pelas pessoas. O ganho ur- banístico foi fundamental", comemora Téia, que teve co- mo objeto de sua pós-gradua- ção em paisagismo justamen- te o parque. Parque da Estação da Paulista une natureza, cultura, educação, diversão, esporte e lazer Rua de ipês à frente; pista de caminhada e ciclovia atraem muitas pessoas ao Parque Estação da Paulista Espaço completo Bolsões Verdes Fotos: Christiano Diehl Neto

Série "Bolsões Verdes": Parques da Estação da Paulista

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Page 1: Série "Bolsões Verdes": Parques da Estação da Paulista

GAZETA DE PIRACICABAMEIO AMBIENTE 23PIRACICABA, SEXTA-FEIRA, 6 DE JUNHO DE 2014

Mesas de jogos sob a sombra de mangueira

Broca passeia em paineira,quase que invisível

Pau-ferro, de madeira densa, é uma das espécies

Francisco Rollo defende a diversidade das espécies Parque fica no coração da cidade: revitalização

As belas flores da eritrina enfeitam a paisagem João-de-barro utilizou mangueira para fazer sua casa

Dois pés de tamarindos estãocarregados de frutos ainda verdes

ELENI DESTRO

Especial para Gazeta

Cultura, educação, diver-são, esporte, lazer e con-tato com a natureza. O

Parque da Estação da Paulis-ta, tema de hoje da série Bol-sões Verdes da Gazeta, podeser considerado um espaçocompleto já que oferece tudoisso à população. Sem contarsua beleza arquitetônica e pai-sagística, que reúne um mixde espécies nativas e exóticas.

Em um passeio pelo local, areportagem da Gazeta teve aajuda de Francisco Martins deAlmeida Rollo, gestor ambien-tal com mestrado em recur-sos florestais pela Esalq (Esco-la Superior de AgriculturaLuiz de Queiroz). Logo na en-trada pelo portão que dá aces-so à rua Alferes José Caetano,alguns jacarandás mimosossão responsáveis por umasombra muito agradável. Aocentro do parque foram intro-duzidas palmeiras. AlmeidaRollo lembra que o confortotérmico é importante em umparque onde há atividades físi-cas e principalmente idosos:no local funciona a Estaçãodo Idoso. "Eu prefiro árvoresmaiores, como os jacarandás,que fazem sombra, aumen-tam a umidade e atraem pás-saros", diz.

Mais alguns passos e o am-biente ideal, na opinião dogestor ambiental, aparece.Trata-se de uma área grande,que fica nos fundos da esta-ção, ao lado da avenida Dr.João Conceição. Há dezenas edezenas de espécies planta-das, entre nativas e exóticas."Uma área como essa servepara barrar o barulho quevem da avenida, também se-gura o vento. Além disso, asárvores florescem em épocasdiferentes, o que confere umpaisagismo interessante", ava-lia Almeida Rollo. A mescla deespécies também evita que sepercam todas as espécies deuma vez quando elas chega-rem ao período de senescên-cia (idade avançada).

Só nesse ponto foram identi-ficadas a farinha-seca (quan-do você passa a mão em seutronco, ele solta um pó pareci-do com farinha), ipê de El Sal-vador, paineiras, pata-de-va-ca, aldrago, pau-ferro (madei-ra muito usada para fabricarbraço de violão pela sua densi-dade), cedro e o dedaleiro, en-tre outras.

Uma prova de que misturaré vantajoso se dá quandouma eritrina é avistada, oumelhor, suas flores vermelhassão vistas, em meio à paisa-gem verde e marrom do outo-no.

Almeida Rollo alerta parauma broca que passeia poruma jovem paineira, usandosua capacidade de mimetis-mo que quase a deixa invisí-vel. Ele explica que esse be-souro faz ninhos nas árvores;não oferecem perigo para assadias, mas pode trazer pro-blema para a manutenção dasque estão senis.

TEMPERATURAE a caminhada continua ao la-do de uma rua de ipês. Bemem frente a elas, há váriosbrinquedos mas, sob o fortesol das 13h30, eles estão va-

zios. "O ideal era que tivesseárvores", reforça Almeida Ro-llo.

Mesmo no outono, o sol cas-tiga e, quando se chega a umespaço mais arborizado, a di-

ferença pode ser sentida napele literalmente. O Parqueda Paulista tem outro espaçoassim, formado por manguei-ras gigantes, além de dois pésde tamarindo cheios de frutos

ainda verdes. Ali, algumascrianças brincam e pessoasdescansam debaixo da som-bra. Almeida Rollo lembraque as mangueiras eram mui-to usadas em áreas e praçasnas cidades do interior. Hoje,elas foram deixadas de ladopor conta de seus frutos pesa-dos, que podem atingir pes-soas e também acumular mui-ta matéria orgânica. "É umparque muito interessante. Sófalta conectá-lo com, porexemplo, o Parque da Rua doPorto. Isso traria melhoras am-bientais, criaria um caminhopara que as pessoas chegas-sem até lá e também promove-ria o fluxo de fauna", enume-ra o gestor.

HISTÓRIA RECUPERADAA Estação da Paulista foi inau-gurada em 1922. Os trens depassageiros circularam até1976 e, em 1990, acabou sen-do fechada. O local ficou semuso e foi revitalizado em 2005.

Lá funcionam um centro cul-tural, um posto do programade inclusão digital do AcessaSão Paulo, além das pistas decorrida e ciclovia.

Segundo Carlos Ambrosano,o Téia, engenheiro agrônomoe diretor do Departamento deControle Ambiental da Sede-ma (Secretaria de Defesa doMeio Ambiente), o projeto pai-sagístico foi inspirado no Jar-dim Botânico do Rio de Janei-ro. De acordo com ele, foi fei-ta no local, para preservar al-gumas características, umaadaptação do jardim inglêscom o francês, com áreas desombra e gramadas, com sol.Só depois foram instalados osparquinhos, por exemplo, etambém o jardim japonês. "Oprincipal ganho foi a revitali-zação do entorno. Era umaárea abandonada, um espaçogrande dividindo a cidade, darua do Rosário até a Benja-min. Passou de uma área de-gradada para um espaço comsegurança e bastante utiliza-do pelas pessoas. O ganho ur-banístico foi fundamental",comemora Téia, que teve co-mo objeto de sua pós-gradua-ção em paisagismo justamen-te o parque.

Parque da Estação da Paulista une natureza, cultura, educação, diversão, esporte e lazer

Rua de ipês à frente; pista de caminhada e ciclovia atraem muitas pessoas ao Parque Estação da Paulista

Espaço completoBolsões Verdes

Fotos: Christiano Diehl Neto