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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA CENTRO DE EDUCAÇÃO ESCOLA MÉDIA DE AGROPECUÁRIA REGIONAL DA CEPLAC Seringueira: da implantação ao Beneficiamento primário Jodelse Dias Duarte

Seringueira: da implantação ao Beneficiamento primário

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Visando subsidiar os alunos da EMARC de Valença, com referencial teórico atualizado e oriundo de diversas fontes, fez-se a compilação dos textos doravante apresentados, os quais acreditamos que preencherá as lacunas existentes na assimilação de saberes técnicos necessários à complementação do processo ensino-aprendizagem, subsidiando-os em sua trajetória profissional.Apesar disso, recomendamos a atualização constante do profissional, para que a obsolência do material não o deixe à margem das inovações tecnológicas.

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Page 1: Seringueira: da implantação ao Beneficiamento primário

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

ESCOLA MÉDIA DE AGROPECUÁRIA REGIONAL DA CEPLAC

Seringueira: da implantação ao Beneficiamento primário

Jodelse Dias Duarte

Page 2: Seringueira: da implantação ao Beneficiamento primário

Valença - Bahia

2007

634.895D812S

Duarte, Jodelse Dias.

Seringueira: da implantação ao beneficiamento primário por Jodelse Dias Duarte. — 1.ed.— Valença, 2007. 62 p.

1. Seringueira — Implantação — Beneficiamento. I. Seringueira

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SUMÁRIO

Apresentação 06

Introdução 07

Historicidade 08

Botânica 11

Agroclimatologia 14

Coleta, transporte e armazenamento de sementes 19

Formação de mudas de seringueira 21

Sementeira 21

Viveiros 22

Jardim Clonal 31

Área de Viveiros 36

Processos de propagação da seringueira 38

Enxertias 38

Tipos de mudas de seringueira 40

Toco Convencional 41

Toco Baixo 41

Toco Alto 41

Toco Tricomposto 42

Arranquio das Mudas 43

Preparo da área 43

Plantio 46

Replantio 47

Tratos Culturais 48

Consorciação 52

Sangria 54

Estrutura do Seringal 61

Estimulantes 64

Administração da Sangria 66

Beneficiamento primário do látex 72

Pragas da Seringueira 74

Doenças da Seringueira 79

Doenças das Folhas 80

Doenças do Caule 92

Doenças das Raízes 97

Bibliografia 100

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APRESENTAÇÃO

Visando subsidiar os alunos da EMARC de Valença, com referencial teórico atualizado e oriundo, fez-se a compilação dos textos doravante apresentados, os quais acreditamos que preencherá as lacunas existentes na assimilação de saberes técnicos necessários à complementação do processo ensino-aprendizagem, subsidiando-os em sua trajetória profissional.

Apesar disso, recomendamos a atualização constante

do profissional, para que a absolência do material não o deixe à

margem das inovações tecnológicas.

Jodelse.

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INTRODUÇÃO

A seringueira (Hevea brasiliensis Muell Arg.) é uma árvore produtora de látex, do qual é extraída a borracha natural. Esse gênero ocorre naturalmente entre as latitudes 3º N e 15º S no continente americano, incluso aí a Região Amazônica, em uma área superior a quatro milhões de km². Comercialmente as regiões de produção compreendem latitudes de 24º N na China e 25º S no litoral do Estado de São Paulo.

A substância denominada “borracha” foi mencionada como curiosidade em livro de Ovíedo y Valle no Século XVIII, como uma substância elástica que os ameríndios da Amazônia usavam para várias finalidades. A partir do Século XIX com o interesse de Hancock (1820) em patentear artigos confeccionados com borracha e a descoberta, a seguir (1839) de Goodyear, do processo de vulcanização abriram excelentes perspectivas para utilização comercial deste produto.

As primeiras tentativas de produção de borracha natural de áreas cultivadas só iniciaram na primeira metade do Século XX, porém sem sucesso, devido ao da doença denominada “Mal das Folhas”. O aumento do consumo interno e o controle desta doença, a obtenção de clones mais resistentes e produtivos e a elevação do preço do petróleo, levaram o governo a incentivar a produção da borracha natural a partir de seringais cultivados, incrementando o plantio de novas área e recuperação das existentes.

Hoje a fixação do homem no campo, através de incentivos e recursos do Programa Nacional da Agricultura Familiar com a implantação dos SAF (Sistema de Cultivo Agro-Florestal), abre-se uma nova perspectiva no aumento da área plantada, consequentemente levando um aumento da produção nacional de borracha natural.

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HISTORICIDADE

As civilizações ameríndias pré-colombianas já utilizavam a borracha natural (látex da seringueira) na confecção de diversos artefatos.

A partir da segunda metade do Século XIX a ocupação da Amazônia brasileira está diretamente ligada à exploração da seringueira nativa, de maneira bastante primitiva em uma Região de condições naturais tão adversas. A necessidade de se encontrar maiores concentrações de seringueiras levou a colonização das margens dos rios Xingu, Tapajós, Madeira, Purus-Acre, Juruá e Javari, terminando com a incorporação do Acre ao território brasileiro.

A visita empreendida pelo botânico inglês Henry Wickhan às florestas brasileiras levou-o em 1871 a publicar suas impressões, detalhando bem a seringueira. Um ano após, este decide voltar ao Brasil alegando a vontade de plantar café na confluência do rio Tapajós com o Amazonas, onde, naquela época se produzia a melhor borracha.

Em 1876 Wickhan, através de um cargueiro especial, envia para a Inglaterra 70.000 sementes de seringueira proveniente da região de Boim, às margens do rio Tapajós. Estas sementes foram plantadas no “Royal Botanic Garden”, em Kew, de onde foram levadas as mudas para Java, Sri Lanka e depois para Cingapura.

No final do Século XIX as invenções da câmara de ar (Thompson), da roda pneumática (Michelin, Dunlop) e do automóvel (1895) tornaram a borracha natural um produto de grande importância econômica. Assim o Brasil, “habitat” natural das “heveas”, passou à frente dos países produtores de borracha natural. A exportação cresceu, chegando a 24.300 t em 1900, entrando, portanto o Século XX com a Amazônia no auge da produção de borracha natural.

O primeiro plantio racional de seringueiras em território nacional foi realizado em 1908, quando Leo Zehntner, Diretor da Escola Agrícola de São bento das Lages, no Município de São Francisco do Conde, importou 200 mudas altamente selecionadas da Ilha de Java. No ano seguinte, o alemão Guilherme Behrmann, agente do “Lloyd” (companhia de navegação), importou 150 mil mudas do Ceilão (Sri Lanka), das quais 30 mil mudas foram implantadas na região sudeste da Bahia, onde as condições edafo-climáticas são similares às encontradas no ecossistema amazônico, centro de origem da Hevea brasiliensis. Dessa forma, surgiram os primeiros seringais baianos: o da Serra da Onça em Canavieiras, o da Fazenda Francônia em Uma e o do Sítio Mucambo em Ilhéus.

Com a queda dos preços da borracha natural, nos anos 1913-1914, as tentativas de fomento da seringueira arrefeceram-se, o que não impediu que em 1927, o governo brasileiro cedesse à Ford Motor Company, 1.200.000 hectares de terras às margens do Rio Tapajós, para implantação de seringueiras. Foi a primeira tentativa séria de produção eficiente de borracha natural em nosso Pais, encerrando-se em 1933. Os plantios foram formados em duas cidades fundadas pela Companhia Ford no Estado do Pará, as cidades de Belterra e Fordlândia.

Os plantios nessas duas localidades não obtiveram sucesso, devido ao ataque da doença “Mal das Folhas” que praticamente dizimou os plantios

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de seringueiras.

Em 1934 os alemães inventaram a borracha sintética (SBR), tornando viável um empreendimento de 30 milhões de marcos, realizado sem mistério e transmitido na íntegra aos norte-americanos no conjunto de acordo entre a “I.G. Farberindustrie” e a “Standard Oil” até maio de 1940. A partir desse ano com o advento da 2ª Guerra Mundial os japoneses tomaram os plantios asiáticos de seringueiras, forçando os americanos a um esforço concentrado na produção de borracha sintética (SBR) chegando 820 mil t em 1945.

Em 1951, o Brasil passou de exportador a importador de borracha, neste ano, a família Almeida-Fuchs doou ao Ministério da Agricultura, as Fazendas Laranjeira e Cajueiro, com uma área total de 500 hectares, localizada em Uma, objetivando a criação de Estação de Plantas Tropicais, hoje denominada Estação Experimental Djalma Bahia, da CEPLAC, onde se iniciou um trabalho pioneiro de suporte técnico para o cultivo de seringueiras na Bahia.

Entre 1870 e 1910, o Brasil foi o maior produtor e exportador de borracha natural, obtida através do extrativismo na região Amazônica, que respondia com 98% da produção mundial (hoje menos de 1%).

Entre 1908 - 1913 o Estado do Acre era o 2ª maior contribuinte em divisas para o País, atrás apenas de São Paulo. Os seringalistas (donos de seringais), poderosos latifundiários, tornaram-se grandes magnatas.

Os seringais eram formados por uma sede (barracão), localizado preferencialmente às margens de rio navegável, onde viviam o patrão e seus serviçais. Via de regra, os seringais do início do século constituíam grandes latifúndios (até 600 mil hectares) e neles se fixavam de 200 - 250 colocações (casas de Seringueiros), às vezes distantes até 20 h do barracão. Em busca de seringueiras de grande porte, essas colocações penetravam na selva, onde encontravam plantas que produziam de 6 a 9 litros de látex por sangria.

O seringueiro, que na maioria das vezes era o cearense fugindo da seca, chega à sede do barracão, etapa final de uma viagem de três a cinco meses, nos lendários “navios gaiolas”, eram retirados dos porões dessas embarcações pelos seringalistas e iniciavam uma lenta, penosa e muitas vezes mortal aprendizagem, diante de um mundo adverso, assolado pelas chuvas, enchentes e pela malária.

No sistema tradicional de extração do látex, persistente ainda hoje na Amazônia – o mais onerado e sacrificado sempre foi o seringueiro, pois, além das condições precárias de sobrevivência, a remuneração pelo seu trabalho era praticamente absorvida pelos seringalistas, aviados, gerentes e marreteiros e encarregados de “aviar” (fornecer) os gêneros alimentícios, bem como os utensílios necessários à obtenção da borracha natural.

A borracha natural constitui um produto estratégico para a maioria dos países, pois é indispensável à moderna civilização industrial. É necessário, portanto, que se mantenha uma distribuição de plantios de seringueiras cultivadas em vários continentes que apresentem condições edafo-climáticas à espécie, a fim de se evitar colapso no fornecimento em caso de conflitos armados.

Em 2003 a Bahia possuía 21.774 hectares cultivados com seringueira, sendo 18.279 em exploração com uma produção de 10.700 t de borracha seca/ano, beneficiadas no parque manufatureiro regional, o qual também beneficia borracha natural de outras regiões. Entretanto, o estádio avançado dos seringais, a redução na oferta de mão de obra qualificada e o nível de extrativismo empregado por grade parte das propriedades existentes, são indicadores de redução na oferta de borracha natural, comprometendo a sobrevivência do setor

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em médio prazo.

BOTÂNICA

Seringueira é o nome vulgar de todas as espécies do gênero Hevea, pertencente á família Euphorbiaceae. A sua dispersão natural está circunscrita à Amazônia, isto é, os Estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, e nos países limítrofes à região a exemplo das Guianas, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia.

O gênero Hevea apresenta onze espécies com produção laticífera, sendo a mais importante delas a Hevea brasiliensis Muell. Arg., por produzir látex de melhor qualidade e com elevado teor de borracha.

Como espécies de menor importância econômica, mas de

grande valor em trabalhos de melhoramento genético, temos:

Espécie Porte

Hevea benthamiana Arbóreo

Hevea camargoana Arbustiva

Hevea camporum Arbustiva

Hevea guianensis Arbóreo

Hevea microphylla Arbóreo

Hevea nítida Arbóreo

Hevea paludosa Arbóreo

Hevea pauciflora Arbóreo

Hevea rigidifolia Arbóreo

Hevea spruceana Arbóreo

A seringueira (Hevea brasiliensis) é uma arvore de grande porte podendo atingir entre 40 m e 50 m de altura, cujas características podemos a seguir descrever:

Caule: seu caule é ereto, cilíndrico, de coloração cinza esverdeado, com ramos principais acentuadamente ascendentes. A copa é densa, porém, não muito desenvolvida. O caule pode chegar até 1,5 m de diâmetro, no caso da seringueira nativa.

Folha: as folhas são alternas, longopecioladas, três folíolos (trifolioladas) alongados pendentes e de cor verde escuro, elípticos e acuminados

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ou não, com características senescentes, em maio,junho e julho. Reenfolha a partir de agosto.

Flor: a planta é monóica (com flores masculinas e femininas numa inflorescência tipo racimo). Esta inflorescência está localizada na axila das ramificações novas. As flores masculinas estão distribuídas mais internamente nas inflorescências e as femininas nas extremidades das ramificações principais, existindo sempre uma nas extremidades do eixo principal. As masculinas são ligeiramente menores que as femininas, porém aparecem em maior numero e se localizam sempre aos pares. Florescimento a partir de agosto. Quer a flor masculina quer a flor feminina estão constituídas de um só perianto, isto é, são monoperiantadas, perianto este que se resume ao cálice (sépalas) faltando a corola (pétalas). As flores femininas apresentam na base um disco esverdeado, característica esta que facilita a sua diferenciação das flores masculinas. A flor masculina apresenta um eixo central (andróforo) onde se localizam os dez estames sésseis. As flores femininas apresentam três carpelos soldados.

Fruto: a frutificação ocorre em nov/fev, o fruto é uma cápsula trilocular, formada por três “loci”, encerrando em cada “locus” uma única semente.Tem a característica deiscente, ou seja na sua deiscência, a partir de fevereiro, as sementes são atiradas a grandes distâncias, com um estalido característico.Trata-se de sementes volumosas, porém leves, sendo necessário cerca de 160 unidades para 1 kg. as sementes são providas de casca resistente, de coloração parda com manchas cor de ferrugem escura, algumas vezes pretas, de tamanho e forma irregulares, distribuídas em toda superfície, o seu formato é alongado medindo mais ou menos 28 mm de comprimento por 19 mm de largura. A face dorsal é arredondada e a ventral formada por duas facetas mais ou menos planas, as quais muitas vezes, mostram pequena depressão.

Raiz: apresenta sistema radicular pivotante de onde partem as raízes

secundárias, as quais por sua vez se ramificam. O sistema radicular é, pois, bastante desenvolvido.

CLONE

A seringueira deve ser propagada por via assexuada (enxertia por borbulhia), então, cada população de plantas de características estudadas e que são mantidas por tal via de propagação, constitui um clone.

A designação de um clone compreende uma sigla e um número. A sigla se refere à origem do material melhorado. Por exemplo, todas as seleções feitas por Ford, receberam os prefixos F e B. Todos os cruzamentos Ford, têm o prefixo Fx. Os cruzamentos feitos sob patrocínio do Instituto Agronômico do Norte, receberam o prefixo IAN. O numero que acompanha o prefixo diferencia os clones que tem a mesma sigla, tais como os clones Fx 3864, Fx 3844, ..... IAN 717, etc.

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AGROCLIMATOLOGIA

CLIMA

É a manifestação em longo prazo das variações atmosféricas. Por outro lado, denominam-se condições de tempo as variações a atmosféricas em curto prazo.

No caso específico da seringueira, podemos afirmar que o seu desenvolvimento satisfatório e econômico só acontece se associarmos os fatores ambientais com as exigências específicas da cultura, de modo que se consiga à manifestação plena de toda sua capacidade produtora.

Comercialmente, as regiões de produção compreendem latitudes de 24º N na China até 25º S no litoral do estado de São Paulo. Considerando-se tanto sua ocorrência espontânea, como os ecossistemas de cultivos comerciais, o gênero Hevea demonstra excepcionais condições de rusticidade e de capacidade de adaptação a grande numero de padrões climáticos e edáficos (ORTOLANI et alii, 1983; ORTOLANI, 1985).

A possibilidade de cultivo comercial em áreas com climas tão diferenciados exige, como premissa básica, o seu desenvolvimento e adaptação de tecnologia de produção à cada padrão climático. Quando isto não ocorre, normalmente, o empreendimento não apresenta retorno econômico esperado. A freqüência de temperaturas baixas no Sul e Sudoeste, regime de ventos fortes em ares não tradicionais, a superumidade na Região Norte e no Sul da Bahia, a duração da estação seca em ecossistemas de transição úmida por subúmida são exemplos de problemas mais freqüentes observados no Brasil (ORTOLANI, 1985).

A interação clima – agentes patogênicos principalmente o “Mal das folhas”, causada pelo Microcyclus ulei, a mancha aureolada causa pelo Tanatephorus cucumeris, e a requeima, causada por Phytophthora são considerados problemas importantes nos países tradicionais de cultivo do continente americano. A superumidade na porção ocidental do Vale Amazônico condiciona epifitias constantes de enfermidades de folhas. No Sul da Bahia a principal área de produção situa-se também em clima superúmido. (ORTOLANI 1985; BERNARDES et alii, 1983).

Os sistemas de produção de borracha natural, principalmente a indicação de clones, devem estar associados, preferencialmente, aos fatores climáticos, além dos tipos de solo. Na Malásia essa tecnologia é operacional e no Brasil BERNARDES et alii, (1983), com base em dados experimentais e de observação elaboraram boas aproximações sobre fatores edafoclimáticos e indicação de clones.

TEMPERATURA

A temperatura média anual de 20ºC tem sido adotada como uma média limite mínimo para o cultivo da seringueira. Para regiões limítrofes ao Trópico, livre de geadas, essa temperatura anual corresponde a uma condição de periodicidade térmica estacional adequada para o crescimento vegetativo e

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produção de látex.

Observações de ZONG DAO e WUEQIN (1983) na China mostram que a temperatura ambiente superior a 40ºC, a taxa de respiração excede a taxa de fotossíntese. Os limites térmicos mais favoráveis à fotossíntese estão entre 27 30º. Para i fluxo de látex, o intervalo entre 18 e 28ºC é o mais indicado.

UMIDADE ATMOSFÉRICA

Elevados índices de umidade do ar tem alguns efeitos benéficos para o crescimento vegetal, pois algumas plantas podem absorver umidade diretamente do ar e, além disso, a taxa de fotossíntese geralmente aumenta e a taxa de transpiração diminui com a elevação de umidade. A maioria dos plantios de seringueira estão situados em regiões com umidade relativa do ar acima de 80%.

PRECIPITAÇÃO

Com base na necessidade de elevada pressão de turgência nos vasos laticíferos, para que se verifique um escoamento de maior volume de látex na sangria da seringueira, definiu-se, de um modo geral que, quanto mais uniforme for a distribuição mensal das chuvas, maior será a produtividade da seringueira. Isso é realmente válido para os países em que não ocorrem enfermidades graves das folhas, causadas por fungos que exigem alta umidade e temperatura para ataques epidêmicos. Uma distribuição pluviométrica sem estação seca definida é boa para a seringueira, mas é melhor para Microcyclus ulei, para Phytophthora e, também para o Tanatephorus cucumeris. Os resultados dos plantios feitos no Brasil, em áreas de clima tipo Afi de Koppen, o qual se caracteriza por chuvas bem distribuídas durante o ano, poderiam ser considerados como desastres econômicos, devido principalmente aos ataques de Microcyclus ulei , se os preços da borracha no Brasil não fossem atualmente um que os preços praticados no mercado internacional. Também no Extremo Oriente a ocorrência de danos causados por Oidium, Gloesporium e Phytophthora estão fortemente relacionadas com a precipitação pluviométrica.

Em contrapartida, encontram-se no Brasil pequenos seringais plantados em áreas com estação seca definida, cujo estado fitossanitário é muito bom e cuja produtividade é comparável a de outros paises onde a Heveicultura é um sucesso econômico. Essas áreas, consideradas como “áreas de escape”, atestam que a seringueira é mais plástica do que se pensava, quanto às suas exigências de disponibilidade de água, o mesmo não ocorrendo com os fungos que atacam suas folhas, podendo, portanto ajustar-se a climas mais secos sem ocorrência de danos econômicos em plantas adultas.

Em plantios jovens, até 2 a 3 anos, a seringueira cresce de modo intermitente, com lançamentos novos mais freqüentes na estação chuvosa. Como os folíolos recém brotados atravessam uma fase inicial de crescimento em que são susceptíveis ao Microcyclus ulei , caso haja suficiente potencial de inoculo, o que costuma ocorrer nos viveiros, é provável a necessidade de tratamento das plantas jovens com fungicida, durante os dois primeiros anos, para proteger os lançamentos que ocorrem no período chuvoso. A partir do terceiro ano a seringueira entra no regime de queda anual da folhagem, seguida de reenfolhamento, que nos clones de “hibernação” tardia ocorre em plena estação seca, sem condições para ataques epidêmicos, se o plantio for feito em áreas de clima Ami ou Awi.

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Além da queda e renovação anual da folhagem, é comum a ocorrência de novas brotações esporádicas durante o ano. Quando estas coincidem com o período chuvoso, especialmente quando as árvores estão próximas a fontes de inoculo, como viveiros, ou quadras de clones muito susceptíveis, os folíolos jovens desses lançamentos esporádicos são atacados, mas o maior volume de folhagem é formada após a queda anual, de sorte que não tem havido comprometimento da produtividade nem formação de alto volume de inoculo capaz de produzir um ataque severo, no caso de anos irregulares em que ocorrem precipitações mais pesadas em pleno período normalmente seco.

Vale considerar, por último, que os exemplos citados de localidades onde ocorre o escape ao “mal da folhas” correspondem sempre a pequenas áreas de seringais de 5 a 20 hectares. Tem-se argumentado que a nesses casos não se forma um maciço uniforme de seringal que induza condições favoráveis ao fungo. O exemplo da Guatemala felizmente nos pode dar a garantia que invalida essa preposição. As primeiras tentativas de heveicultura comercial na Costa Atlântica da Guatemala, onde ocorre o clima Afi, fracassaram devido ao “mal das folhas”. Na Costa do Pacífico, com cinco meses de baixa precipitação e pelo menos um mês com precipitação nula, existem maciços de mais de 900 hectares com seringais em excelente estado fitossanitário e produção média de 1.500 kg/bs/ha/ano.

As regiões onde as chuvas matutinas são freqüentes, não deverá ser implantada a cultura da seringueira, porque no futuro estas irão prejudicar a sangria, operação feita pela manhã. A seringueira se desenvolve em regiões com precipitação anual de 1.500 mm a 4.000 mm bem distribuídos, sendo que as condições ideais para o cultivo estão nas áreas com média de 2.000 mm de chuvas durante o ano.

VENTOS

Ventos fortes causam danos sensíveis à seringueira. Eles aumentam a demanda de águas, reduzem a eficiência fotossintética e causam danos mecânicos como quebra de ramos, galhos e até destruição total da árvore. Constituem um dos fatores mais importantes a serem considerados nas áreas não tradicionais de cultivo no Brasil.

ALTITUDE

Os paises produtores do oriente cultivam a seringueira até 700 metros de altitude, mas, é preciso notar que eles estão só um pouco acima ou um pouco abaixo do Equador, enquanto que na Bahia estamos a 15º S, razão porque devemos ser cautelosos e não levar a heveicultura a mais de 400 m de altitude. A altitude influindo na temperatura, na densidade atmosférica e no seu teor de CO2, é fator primordial no comportamento das plantas não só no seu crescimento, mas também na sua produtividade. Experimentos e observações comprovaram que acima dos 400 m de altitude, cada 100 m atrasa a idade em que a planta atinge o limite mínimo para sangria em seis meses.

SOLOS

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Um solo adequado ao desenvolvimento da seringueira deverá apresentar boas condições de fixação e desenvolvimento do sistema radicular, água e nutrientes disponíveis suficientes à exploração econômica do cultivo.

As propriedades físicas do solo importantes para o bom desenvolvimento da seringueira são a profundidade, a estrutura, a consistência, a textura, ausência de camada compacta ou impermeável no perfil e boa drenagem. Estas são intrínsecas e duráveis.

As propriedades químicas são o pH e a fertilidade expressa em íons disponíveis e trocáveis. Estas são passiveis de serem mudadas com o manejo. Do ponto de vista agronômico, a seringueira exige um solo as seguintes características:

Profundidade superior a 1 m;

Boa drenagem e boa aeração;

Boa estrutura;

Consistência friável e firme;

Boa capacidade de retenção de umidade;

Textura argilosa ou franco-argilosa;

pH 4,5 a 5,5;

Relevo suave ondulado a ondulado, com baixa erosão;

Declividade inferior a 16%;

Lençol freático profundo, acima de 1 m.

COLETA, TRANSPORTE E ARMAZENAMENTO DE SEMENTES.

Recomenda-se que a coleta de sementes utilizadas na produção de porta-enxertos seja feita não em seringais nativos da Amazônia e sim em seringais de cultivo, onde a uniformidade e a qualidade fisiológica das sementes são superiores ao daquelas coletadas nos seringais nativos, entretanto, alguns cuidados são necessários durante o período de produção, coleta, transporte e armazenamento.

A deiscência dos frutos inicia-se em janeiro, perdurando de 2 a 3 meses, existindo alternância de alta e baixa produção de um ano para outro.

As sementes de seringueira apresentam um período de viabilidade muito curto, principalmente quando ficam expostas, sem qualquer proteção às condições ambientais. Desta forma, a coleta deve ser feita no menor prazo possível, após a queda das sementes. É interessante que se proceda à coleta em intervalos não superiores a uma semana e que as sementes sejam imediatamente transportadas para o local onde serão utilizadas.

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Esse transporte deve ser feito evitando-se as horas mais quentes do dia, de maneira que as sementes fiquem protegidas da ação direta do sol e da chuva. Como as sementes apresentam alto grau de umidade, o calor provocado pela ação do sol, contribui para aumentar a temperatura da massa de sementes e de sua atividade metabólica provocando, em conseqüência, sua rápida deterioração.

Existe um teste prático para determinar o poder germinativo de um lote de sementes, sem a perda de tempo. Toma-se 100 sementes ao acaso, corta-se ao meio cada uma, e, após a remoção do tegumento observar as seguintes características no interior da amêndoa:

Endosperma branco - semente boa

Endosperma amarelo - viabilidade duvidosa;

Endosperma oleoso - viabilidade negativa.

Pelo número de sementes com endosperma branco determina-se o percentual aproximado de germinação do lote.

A semente de seringueira perde rapidamente seu poder germinativo. A.T. Edgar ressaltou que quanto mais frescas as sementes por ocasião do plantio, melhor seria a germinação. Ele encontrou que as sementes recém colhidas, deixadas em meio ambiente, perdiam 50% de seu conteúdo de umidade em três dias e o restante nos dez dias consecutivos. A percentagem de germinação acompanha de perto a curva da perda de umidade. Para que o poder germinativo seja mantido é necessário que o grau de umidade seja mantido a valores acima de 30 a 35% (Cícero, S.M., 1986).

FORMAÇÃO DE MUDAS DE SERINGUEIRA

SEMENTEIRA

É importante notar que as sementeiras devem ser localizadas adjacentes ou dentro da área do viveiro e de próximo acesso à água.

Existem dois processos para o preparo das sementeiras:

Sementeira a céu aberto com cobertura artificial dos canteiros – consiste na construção do ripado com altura de 1,0 m a 1,5 m, coberto com folhas de palmeiras, ou tela sombrite, para proteção dos canteiros contra a incidência direta de raios solares, danos pelo vento e água das chuvas. Embora seja o método mais comum, tem um maior custo.

Sementeiras rústicas com cobertura natural – consiste no aproveitamento da sombra propiciada pela própria vegetação natural.

A escolha de quaisquer dos métodos está diretamente relacionada com a localização do viveiro em caso de sua localização em terreno inclinado, os canteiros deverão ser dispostos perpendicularmente à pendente.

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O preparo do leito da sementeira em ambos os casos são idênticos. Faz-se a limpeza do local e demarcam-se os canteiros com largura de 1,0 a 1,20 m e com comprimento de acordo com a área disponível, porém, nunca superior a 25 m, de maneira a facilitar a condução dos trabalhos. Entre canteiros, deixar um espaço para circulação em torno 0,50 m. proceder ao afofamento do solo a uma profundidade de 20 cm; a seguir, remover os restos de raízes com posterior nivelamento do leito. Distribuir o substrato em uma camada nunca inferior a 10 cm, utilizando para tal, serragem curtida, terriço ou areia lavada. Abrir drenos nas laterais dos canteiros para evitar possível encharcamento.

Antes do semeio colocar as sementes dentro d’água por 10 a 12 horas. Distribuir as sementes ordenadamente com a face achatada (micrópila) voltada para baixo, de maneira a ficarem em perfeito contato com o substrato. Em seguida, colocar uma fina camada de substrato sobre as sementes, regando logo após. Durante a germinação, regar frequentemente de manha cedo e à tardinha, salvo em dias chuvosos. Periodicamente, redistribuir o substrato sobre as sementes, de maneira a evitar o ressecamento das pequeninas raízes.

Um quilo de sementes oriundas dos seringais do Sul da Bahia, comporta entre 160 a 200 sementes. Essas sementes atingem um percentual de até 60% do poder germinativo e um índice de aproveitamento em torno de 70% na sementeira. Em um metro quadrado de canteiro, semeia-se em torno de 5 kg de sementes. Para plantio de um hectare de viveiro no espaçamento de 0,80 m x 0,20 m, necessita-se de 750 kg de sementes.

A germinação das sementes começa a partir do 7º dia após a semeadura, sendo a prática da repicagem realizada entre 7 e 10 dias da semeadura, quando a radícula aponta pelo pólo germinativo, rompendo a cutícula micropilar, dando surgimento às radicelas e formando um emaranhado que se constitui em estágio denominado de “pata de aranha”.

A repicagem é feita de preferência nas primeiras horas do dia e à tardinha, sendo as sementes germinadas transportadas em pequenas caixas de madeira com um pouco de serragem úmida. Se o dia estiver nublado, a prática pode ser realizada durante todo dia.

VIVEIRO

A seringueira, por uma planta de polinização cruzada, com alto nível de segregação, somente através da propagação vegetativa é que se consegue manter as boas características agronômicas apresentadas por determinado cultivar.

A modalidade mais comum de propagação vegetativa é a enxertia, a qual, normalmente, realiza-se em viveiros.

Comumente existem dois tipos de viveiros, denominados viveiros de campo ou a pleno solo e viveiros em sacos plásticos. O estabelecimento do viveiro deve ser feito observando-se as características do solo, que deve ser bastante profundo, bem estruturado e friável, a fim de possibilitar um perfeito desenvolvimento do sistema radicular das plantas, com suprimento de água constante, e com topografia plana ou suave ondulado.

VIVEIRO A PLENO SOLO

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A instalação de um viveiro deve ser em local de fácil acesso, próximo a área de implantação do seringal, evitando-se a derruba de áreas ocupadas com vegetação nativa. Após o preparo da área dividi-la em blocos, de maneira a facilitar os tratos culturais, a distribuição dos insumos, melhor controle da enxertia e perfeita aeração do viveiro. Cada bloco deverá ter no máximo 60 m x 30 m separados por arruamentos secundários de 3,5 m de largura e principais de 6,0 m de largura, possibilitando o acesso de máquinas e veículos. De preferência essa área deverá ser arada e a gradeada.

Recomenda-se a adoção do espaçamento em linhas simples, espaçadas de 0,80 m e com distância de 0,20 m entre plantas nas linhas, perfazendo um total de 62.500 plantas inicialmente repicadas por hectare, subtraindo-se os arruamentos. Neste caso, obtém-se cerca de 25.000 mudas enxertadas por hectare considerando-se um índice de aproveitamento de 40%. Embora existam outros espaçamentos que podem ser utilizados, este é o que preferencialmente recomendamos.

Ao iniciar a germinação, e de acordo com o já preconizado no item “Sementeiras”, repicar as sementes, transportando-as em caixas de madeira contendo serragem umedecida e protegendo-as do sol. São necessários cuidados especiais na coleta e transporte, de maneira a não danificar as pequenas raízes. A repicagem permite a seleção das sementes germinadas, possibilitando um melhor desenvolvimento do porta enxerto. O plantio é feito colocando-se a muda na cova de 2,5 a 4,0 cm de profundidade, previamente aberta, segurando-a pela semente e comprimindo o solo com ligeira pressão dos dedos em volta da radícula. As sementes deverão ficar na mesma posição da sementeira, ou seja, com o lado liso para cima. Após uma semana verificar a “pega” das mudas e replantamos as falhas.

TRATOS CULTURAIS

Recomenda-se realizar a prática da irrigação nos períodos de estiagem acentuada, de maneira a deixar o solo com água disponível às plantas, principalmente nos primeiros meses de desenvolvimento do viveiro.

É importante frizar, que na condução de um viveiro é muito importante mantê-lo livre de concorrência de ervas daninhas que utilizam água e nutrientes, competindo com o desenvolvimento dos porta-enxertos notadamente nos primeiros meses. A capina pode ser manual ou química, através do uso de herbicidas. Ao usar herbicidas pós-emergentes, adicionar espalhante adesivo na dosagem de 0,05%. Nos trinta dias que antecedem a enxertia e durante esta prática, não se deve fazer uso de herbicidas, a recomendação técnica é descrita no seguinte quadro:

Estágio da cultura

Principio ativo

Nome comercial Dosagem (kg/l/ha.)

Modo de aplicação Plantas invasoras controladas

Diuron Karmex 80, Centhion 80 ou Herburon

2,0 Pré-emergência 30 d antes plantio. Ação residual

Anuais (gramíneas e dicotiledôneas)

Pré-plantio Dalapon Gramitec, Secafix, Dowpon ou Basfapon

6,0 + 4,0 Pós-emergência. Duas aplicações c/ intervalo 20 dias

Sapé e Canoão

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Glifosate Round-up 3,0 Pós-emergência, uma aplicação.

Gramíneas perenes

2-3 meses pós-plantio

Paraquat Gramoxone 1,5 Pós-emergência, plantas com máx. de 20 cm altura. *

Folhas largas e estreitas anuais e algumas herbáceas perenes

Diuron Karmex 80, Centhion 80 ou Herburon

3,0 – 4,0 Pré-emergência Folhas largas e estreitas anuais e algumas herbáceas perenes

Simazine Gesatop, Simazinax ou Herbazin

4,0 – 5,0 Pré-emergência Folhas largas e estreitas anuais e algumas herbáceas perenes

Acima de 2 meses pós-plantio

Paraquat + Diuron

Gramoxone + Karmex 80, Centhion 80 ou Herburon

1,0 + 3,0-4,0

Ação de contato com efeito residual. *

Folhas largas e estreitas anuais e algumas herbáceas perenes

Paraquat + Simazine

Gramoxone + Gesatop, Simazinax ou Herbazin

1,0 + 4,0-5,0

Ação de contato com efeito residual. *

Folhas largas e estreitas anuais e algumas herbáceas perenes

Paraquat + 2,4-D

Gramoxone + Herbi – D4

1,5 + 2,0 Ação de contato com efeito residual. *

Aplicar na predominância de folhas largas

* Usar chapéu de Napoleão.

Havendo disponibilidade de restos de culturas para formação de “mulching”, diminui-se a incidência de ervas daninhas e mantêm-se bom teor de umidade.

Deve-se procurar manter dentro do possível, uma uniformidade de plantas no stand do viveiro, para isso aos dois meses de implantado e entes da segunda adubação, elimina-se plantas defeituosas e poço desenvolvidas. O percentual de eliminação pode chegar a 20% do stand inicial.

Antes da instalação do viveiro, amostras compostas de solo serão coletadas, com o objetivo de conhecer algumas características químicas avaliar as necessidades de calagem e adubação. Teores insuficientes de Ca e Mg poderão ser adicionados através da calagem em pré-plantio, conforme recomendações da análise do solo.

Previamente ao transplantio das plântulas no viveiro, aplica-se por metro linear, em sulco, 50 g de Superfosfato Simples. Em etapas posteriores, usar a fórmula 10-18-06 nas épocas e quantidades seguintes:

Mês após transplantio

Dosagem (g/m)

Quantidade (kg/ha.)

2 コ 60 750

4º 60 750

8º 60 750

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As dosagens acima recomendadas devem ser aplicadas em cobertura, em faixas opostas a cada vez, de 0,15 m de largura e afastadas 0,10 m das plantas.

Para obter a fórmula recomendada, misturar os seguintes fertilizantes, para 10 kg da mistura:

Nutrientes%

N P2O5 K2 O

Quantidades em kg

Sulfato de amônio Superfosfato Triplo Cloreto de Potássio

10 18 06 50 40 10

Deficiências de micronutrientes, notadamente zinco, manganês e cobre poderão ser atenuadas quando do controle fitossanitário de doenças, através de fungicidas que tenham esses elementos na base de seu princípio ativo. Sintomas de carência acentuada serão corrigidas pela aplicação de adubos foliares que contemplem os micronutrientes necessários, através de pulverizações a 0,25%.

No sul da Bahia a maior freqüência de ataque de pragas é ocasionada pela ação de formigas cortadeiras e da lagarta mandarová. Às formigas faz-se o combate com iscas granuladas ou formulação formicida pó. As lagartas, através de polvilhamento de Dipterex 2,5% ou Sevin 7,5%.

Preferencialmente deve-se efetuar o controle de doenças de forma preventiva, através da aplicação de fungicidas descritos a seguir:

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Doenças

(Agente causador)

Fungicida Dosagem produto comercial (g

ou ml/ l)

Aplicação Volume l /ha. Observações

Principio ativo Nome comercial

Tipo Dependendo

Mal das folhas Benomil Benlate Sistêmico

1,0 Aplicar um sistêmico e um protetor

da idade das plantas

Usar espalhante

(Microcyclus ulei)

Clorotalonil Bravonil (1) (2) Protetor 4,0 alternadamente 100-200 l adesivo na dosagem

Mancozeb DithaneM45 Protetor 4,0 a intervalos de 7, 15 ou 30 dias

c/ costal motorizado

de 0,05%

Triadimefon Bayleton Sistêmico

0,6 A depender das condições de umidade

200-400 l c/ costal manual

Idem

Requeima Captafol Difolatan 4F(2)

Protetor 4,0 Intercalar semanalmente

Idem

(Phytophthora spp.)

Oxicloreto de cobre

diversos Protetor 7,5 ( a 50%) em períodos chuvosos

(1) Pode ser usar o Daconil 50 FW ( 4 ml/ l ) ou daconil 70 PM (3 g/ l)

(2) Não usar espalhante adesivo

VIVEIRO EM SACOS PLÁSTICOS

A formação de mudas em sacos plásticos tem encontrado grande aceitação por parte dos viveiristas e heveicultores de várias regiões do Brasil, principalmente onde a tecnologia é mais avançada. Esta crescente aceitação está diretamente relacionada com as vantagens apresentadas por estas mudas quando comparadas ao toco enxertado de raízes nuas, como:

Redução dos riscos de perdas por variações climáticas das mudas após plantio, além de dar maior flexibilidade de tempo para a implantação definitiva.

Elevação do índice de pegamento das mudas após o plantio, além de dar maior flexibilidade de tempo para implantação definitiva.

Diminuição do período improdutivo do plantio, antecipando a entrada em sangria da plantação, consequentemente o retorno econômico ao produtor.

As mudas em sacos plásticos podem ser obtidas usando-se

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dois métodos:

MUDA ENXERTADA NO SACO PLÁSTICO – Este processo consta na produção da muda em saco plástico desde a repicagem da semente germinada, podendo ser as mudas levadas para o campo com a gema dormente ou com até dois lançamentos foliares maduros.

Os sacos de polietileno devem ser pretos, sanfonados lateralmente e com as dimensões de 20 a 25 cm de largura por 40 a 45 cm de altura e 0,20 mm de espessura. Estes sacos deverão ser cheios com terriço de boa qualidade, retirando dos primeiros 15 cm de solo, livre de raízes e torrões, de textura média com boa estrutura e após o enchimento sofrerem três perfurações (1,0 a 1,5 cm ente si) na parte do fundo para permitir a passagem da raiz pivotante para o solo evitando assim seu enovelamento no interior dos sacos.

O período total de permanência das plantas no viveiro é de 10 a 12 meses, por esta razão tem que serem posicionadas no viveiro de forma a evitar o autosombreamento ou mesmo concorrência de luz entre si.

Na instalação do viveiro são abertas trincheiras com 20 cm de profundidade e largura suficiente para comportar 2 fileiras de sacos afastadas 60 cm entre si, para facilitar a circulação dos operários e os tratos culturais. O solo removido da trincheira, com alguma raspagem da superfície é utilizado para promover a fixação do saco, formando-se montões em volta da parte exposta deste, cobrindo-os do lado externo até a altura de 6,0 cm da parte de cima do saco. Este procedimento tem a finalidade de manter a umidade em períodos de estiagens ou quando a irrigação não for suficiente e também serve para dar maior durabilidade aos sacos plásticos utilizados.

A repicagem das sementes germinadas e a manutenção do viveiro seguem os passos do viveiro no solo ou convencional. A enxertia pode ser verde ou madura (marrom).

As mudas em condições de serem usadas em plantio definitivo devem apresentar as folhas maduras no último lançamento e ao se fazer a retirada destas dos canteiros deve-se fazer uma poda da raiz pivotante rente ao fundo do saco e o plantio no mesmo dias.

TOCO ENXERTADO TRANSPLANTADO PARA SACO PLÁSTICO - Os porta enxertos neste método, são cultivados e enxertados em viveiros convencionais, sendo as mudas decapitadas e arrancadas de raízes nuas e, em seguida, transplantadas para os sacos plásticos, visando maior garantia de brotação do enxerto e enraizamento do toco. As mudas assim produzidas estarão em condições de irem para o lugar definitivo três a cinco meses após o plantio nos sacos, quando tiverem de dois a três lançamentos foliares, sendo o último com folhas maduras.

Os sacos plásticos para este tipo de muda podem ter as dimensões de 15 a 20 cm de largura por 40 a 45 cm de altura e 0,16 mm de espessura. Estas dimensões variam em função da idade da muda (toco enxertado oriundo de enxertia vede ou marrom) e não causam qualquer problema ao desenvolvimento do sistema radicular ou parte aérea das mudas.

O enchimento e arrumação dos sacos destinados a formação das mudas seguem as recomendações do método anterior, podendo ser acrescentado uma fertilização do terriço com 1,4 kg de superfosfato triplo, 0,5 kg de cloreto de potássio e 1,0 kg de calcário dolomítico em cada mero cúbico de substrato.

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A decapitação dos tocos enxertados (mudas),ocorre uma semana antes do arranquio destes. O preparo da muda é feito com o corte em bisel da raiz pivotante com 15 – 20 cm de comprimento e as raízes laterais rentes à pivotante ou, no máximo, com 1,0 cm de comprimento (Pereira & Pereira, 1986) e, a parafinagem do toco e a indução de raízes com Nafusaku (20% de Ácido Naftalenoacético), 0,5 kg de Caulim e 1,0 l de água (Pereira & Durães, 1983) deixam as mudas em condições de serem plantadas nos sacos plásticos.

O plantio deve ser feito após uma rega e a abertura de uma cova no centro do saco com uso de um “chucho” no comprimento e diâmetro equivalentes ao da raiz pivotante. Para um bom pegamento é necessário uma leve compressão da terra ao redor da raiz e uma nova rega até saturar o substrato.

Os tocos ao serem plantados devem ter os escudos de enxertia voltados para o lado externo das fileiras, para facilitar a distribuição dos espaços dos enxertos brotados e menor abafamento das mudas.

Os tratos culturais constam de irrigação freqüente nos períodos estiados; controle de ervas daninha; cobertura do solo do saco com “mulching”; desbrota de ramos ladrões ou enxertos com mais de uma brotação; controle de doenças e combate às pragas.

JARDIM CLONAL

A exploração da seringueira exige um fornecimento constante de material vegetativo (hastes ou vergônteas ou bengalas de borbulhas que contêm gemas axilares dormentes para enxertia). Sendo assim, o jardim clonal é a base da infra-estrutura de formação e produção de mudas para plantio de seringais.

Um viveiro tem tecnicamente via útil máxima de 22 meses, enquanto que um jardim clonal, apresenta uma utilização mais ampla chegando a cinco anos quando o objetivo é produção de hastes para enxertia madura e até doze anos quando se destina a obtenção de hastes para enxertia verde (Pereira, J.P., 1986).

Existem três maneiras de se instalar um jardim clonal (RRIM, 1975).:

Plantio de sementes germinadas com realização de enxertia verde aos 5 – 6 meses no próprio local com decapitação da parte aérea dos porta-enxertos para possibilitar o desenvolvimento da gema do enxerto. Se o objetivo for a produção de hastes para enxertia verde aos 8 – 9 meses após, as plantas devem ser decepadas a aproximadamente 0,90 m de altura, deixando-se desenvolver quatro ramos laterais por 08 a 10 semanas, ocasião em que são colhidas cortando-se a poucos centímetros da base a fim de possibilitar a brotação de novas hastes e assim dar continuidade ao ciclo de coletas.

Formação do jardim clonal a partir de tocos enxertados

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provenientes de enxertia verde ou madura, plantados de muda convencional (raiz nua) ou em sacos plásticos.

Também um jardim clonal pode ter sua formação a partir de um viveiro, após um desbaste de plantas, ficando sem arrancar um “stand” no espaçamento requerido pelo jardim clonal.

A área para estabelecimento de um jardim clonal deve ser o mais próximo possível do viveiro, ou do plantio definitivo, no caso da operação de enxertia se processar no campo. A topografia deve ser de plana a moderadamente inclinada, solo de textura média, profundo e de boa permeabilidade. Esta área deve ser preparada da mesma forma que se prepara a área para implantação do viveiro.

Utilizar-se-á o espaçamento de plantio de 1,0 m x 1,0 m (10.000 pl/ha.) quando a finalidade for produzir hastes verdes, e 1,0 m x 0,50 m quando for produzir hastes maduras (20.000 pl/ha.). Quando se estabelece a partir do viveiro de linha simples, usa-se o espaçamento de 0,80 m x 1,0 m.

Faz-se a demarcação da área, após locação, utilizando-se da mesma técnica para o viveiro, procedendo-se o balizamento de acordo com a finalidade, iniciando-se a abertura das covas com a utilização de cavador reto ou cavador boca de lobo. Dimensionam-se as covas em 0,40 m x 0,40 m x 0,50 m e o reenchimento feito com a camada superficial do solo depositada no fundo da cova até metade, e o restante será complementado com a camada superior ou o volume resultante de uma raspagem superficial o solo em volta da cova, misturada com 100 g de superfosfato simples.

Se for utilizar o toco já enxertado, logo no início do período chuvoso faz-se o plantio das mudas, perfurando-se o centro da cova com um piquete de madeira pontiaguda e na profundidade suficiente para comportar a raiz pivotante, em seguida planta-se a muda deixando o coleto ao nível do solo com a posição do enxerto voltada para o nascente ou para os ventos dominantes na região. Feito isso, comprime-se o solo em volta da raiz pivotante até a parte desprovida de raízes laterais; reencher a cova até a superfície para fixar bem a muda. Após plantio fazer “mulching”, com a finalidade de manter a umidade em volta da muda.

Ao se procurar estabelecer um jardim clonal deve-se observar a disposição deste em blocos ou canteiros e a separação do material clonal nele plantado, e deve-se obedecer ao critério de preferência de um clone para cada bloco. Todos os clones deverão estar rigorosamente identificados com marcas de concreto, ou placas de ferro onde esteja marcado inequivocadamente a identidade do clone.

Na exploração de seringueiras deve-se evitar o plantio de um só clone, pois em plantações policlonais a probabilidade de resultados negativos se torna bastante reduzida, pois às vezes uma menor extensão de massa foliar de certo clone reduz a possibilidade de ocorrência de doenças em toda plantação.

Dentre os tratos culturais realizados em um jardim clonal, as capinas e tratos fitossanitários são os mesmos indicados para o viveiro.

Deve-se ter o cuidado de não deixar hastes brotando do “hipobioto”, pois estes causam a atrofia do enxerto, retardando seu desenvolvimento (efetuar desbrota).

Quanto à adubação, no 2º, 4º e 8º mês da realização do plantio, aplicar 50 g da fórmula 10-18-06 por planta, em cobertura em círculos de

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raios de 0,20 m, 0,30 m, e 0,50 m, respectivamente. Quando há necessidade de cálcio e magnésio é recomendada a aplicação de 600 kg de calcário dolomítico por hectare distribuído de maneira uniforme, por ocasião do balizamento. Novas aplicações de calcário através do resultado da análise de solo. As adubações realizadas a partir do 2º ano deverão acontecer após 1,3 e 5 meses após a coleta das hastes, utilizando-se a mesma mistura fertilizante na proporção de 50 g por planta no circulo com raio de 0,50 m. Se porventura surgirem sintomas de carência acentuada de micronutrientes, serão corrigidas pela aplicação de adubos foliares que contemplem os micronutrientes necessários, através de pulverizações a 0,25%.

A depender da prática dos enxertadores, fazer ou não a prática da “toalete”, que consiste em eliminar os folíolos deixando o pecíolo com aproximadamente 15 cm, deixando os dois últimos lançamentos foliares, para maior aproveitamento das gemas.

Num jardim clonal para produção de hastes destinadas a enxertia marrom, utilizar hastes com a casca parda ou verde escuro, com as gemas apresentando cicatrização em forma de coração, após queda das folhas.

A depender do clone, cada metro de vergôntea ou haste deverá ter em torno de 15 gemas aproveitáveis para enxertia. Comprimento da haste, no entanto não deverá ultrapassar 1,50 m, sendo o ideal em torno de 1,0 m.

A coleta da haste é feita usando-se uma serra de poda para o corte em bisel a 15 cm acima da base da haste, deixando 3 a 4 gemas para posterior rebrota. Logo após, aplicar parafina derretida ou tinta a base de óleo no local do corte. As vergônteas que não forem utilizadas de imediato devem receber tratamento com parafina nas extremidades. Quando se necessitar transportar hastes à pequena distância deve-se evitar traumatismos nas mesmas, para não danificar as gemas, envolvendo-as em leguminosas ou jornal umedecido.

Se o transporte for realizado a longa distância, as hastes deverão ter as extremidades parafinadas e serem acondicionados em caixas de madeira de 1,10 m x 0,30 m x 0,30 m. esta caixa comporta a depender do material de 50 a 70 hastes, que deverão ficar arrumadas em camadas intercaladas com jornal umedecido. Mantendo-se a umidade do jornal constante, pode-se conservar as hastes por até 20 dias. Ao abrirem-se as caixas, se o material apresentar aspecto de ressecamento, com dificuldade para soltar a casca, apara-se a extremidade basal, colocando este lado dentro da água de um dia para o outro.

Se porventura houver um ataque de doenças no jardim clonal, este não deve ser usado para coleta das hastes, devido o baixo índice de pegamento da enxertia.

Quando iniciar a brotação das gemas dormentes do toco, realiza-se a poda do jardim clonal, com a finalidade de impedir a competição, eliminando-se os brotos pouco desenvolvidos e posicionados mais próximos do solo. Nos locais susceptíveis a incidência de ventos, as brotações novas devem ser tutoradas.

Os jardins clonais no 3º ano de exploração pode-se manter em desenvolvimento 2 a 5 hastes, desde quando estejam bem distribuídas. No caso de enxertia verde, faz-se a eliminação do broto apical a uma altura em torno de 0,65 m e acima da roseta. O local do corte deve ser tratado com tinta a base de óleo ou piche, deixar crescer 3 a 5 brotações laterais, quando estas adquirirem a cor parda, deverão ser cortadas um pouco acima da roseta, de onde surgirão novos lançamentos de brotos que deverão ser utilizados 6 a 8 semanas após. Este manejo favorece a produção de uma maior quantidade e material clonal, uma vez que se obtêm hastes no intervalo menor.

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Na formação de um seringal, a primeira providência que o agricultor deve tomar quando quer criar sua própria infra-estrutura é saber quanto deve instalar de canteiros, sementeiras, viveiros e jardim clonal para atender ao seu plantio definitivo. Poderemos realizar os cálculos da seguinte maneira:

ÁREA DE VIVEIROS:

Considerando-se os espaçamentos definitivos utilizados na implantação de seringais no Brasil, que são de 7,0 m x 3,0 m; 7,0 m x 2,5 m; 8,0 m x 3,0 m; 8,0 m x 2,5 m, tomaremos como exemplo o espaçamento de 8,0 m entre linhas e 2,5 m entre plantas perfazendo um total de 500 plantas por hectare, e faremos a base de cálculo para 10 hectares, que comporta 5.000 mudas.

Sendo assim, 5.000 mudas correspondem a 80% do material pego na enxertia, logo:

5.000 ― 80%

X ― 100% X = 6.250 mudas enxertadas

Esse número corresponde a 80% do material que se encontrava em condições de ser realizada a enxertia no viveiro, logo, o número de porta enxertos existentes no viveiro na época da enxertia será:

6.250 ― 80%

X ― 100% X = 7.813 porta enxertos

Como houve um desbaste de 20% no 2º mês, os 7.813 porta enxertos correspondem a 80% do material enviveirado

7.813 ― 80%

X ― 100% X = 9.766 porta enxertos.

Logo a área do viveiro, no espaçamento de 0,80 m x 0,20 m será de:

1 planta ― 0,16 m2

9.766 plantas ― X x = 1.562,25 m2

Para conhecermos as áreas necessárias à implantação de canteiros e sementeira, consideremos as seguintes constantes:

1,0 kg de sementes dos seringais de cultivo da Bahia contêm em média 160 sementes;

1,0 m2 de canteiro comporta entre 1.400 a 1.600 sementes – consideramos a média de 1.500 sementes;

Poder germinativo em torno de 60%;

Aproveitamento de cerca de 70% das sementes germinadas;

Aproveitamento global de 42% das sementes que foram postas a germinar.

Logo:

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9.766 ― 42%

X ― 100% X = 23.252 sementes

Correspondente a 145,325 kg de sementes.

Para os canteiros então:

23.252 sementes ― X

1.500 sementes ― 1,0 m2 x = 15,50 m2

Largura do canteiro 1,0 m a 1,20 m

Comprimento do canteiro 15,0m a 25,0 m

Para a sementeira então:

15,50 m2 ― X

15 ― 1,0 canteiro x = 1,03 canteiros

Para o jardim clonal:

Considerando que cada metro de haste possui em média quinze gemas utilizáveis e que cada planta clonal produz em torno de 15 escudos para serem enxertados, logo:

6.250 ÷ 15 = 417 plantas em jardim clonal, ou 0,042 ha.

no espaçamento de 1,0 m x 1,0m.

PROCESSOS DE PROPAGAÇAO DA SERINGUEIRA

PROPAGAÇÃO SEXUADA - Também conhecida como plantio de “seedlings” ou “mudas de pé franco”, consiste no plantio no local definitivo de sementes recém germinadas. Apresentam como fatores negativos, um longo período de imaturidade em decorrência da desuniformidade no crescimento das plantas e desuniformidade produtiva, devido a baixa produtividade da maioria dos “seedlings”, onde 75% da produção de uma determinada área pode ser representada por apenas 25% das árvores boas produtoras e, os 25% da produção restante representam a contribuição de 75% das árvores restantes de baixa produtividade individual.

PROPAGAÇÃO ASSEXUADA - O processo de propagação agâmica da seringueira é realizada através da enxertia, tendo por finalidade manter as características desejáveis e inalteradas. Este método foi desenvolvido por VAN HELTEN na Indonésia em 1916.

O método de enxertia consta da substituição da copa de um porta enxerto comum por um clone previamente selecionado, apresentando alta produtividade, resistência a doenças e outros caracteres fisiológicos e vegetativos

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desejáveis ao cultivo.

Desde o desenvolvimento deste processo de propagação, que inovações vem sendo adquiridas visando o aprimoramento e redução do tempo de formação das mudas, para isto alguns tipos são usuais como descritos a seguir:

ENXERTIA MADURA - Enxertia marrom (convencional), foi desenvolvida por FORKERT (1951) e consta da técnica de introdução de uma gema dormente em um porta enxerto com idade a partir de dez meses e 2,0 cm de diâmetro a 5,0 cm do solo. O índice de pegamento (eficiência) pode ser superior a 80% quando executado por pessoal bem treinado. Este método de enxertia pode ser feito no viveiro a pleno solo, em viveiro em sacos plásticos, ou no local definitivo e consiste em destacar a lingüeta da casca do hipobioto em forma de “U” invertido, através de duas incisões paralelas de 5 a 6 cm no sentido longitudinal, distanciadas 2,0 cm e uma incisão no sentido transversal ligando as extremidades superiores. Em seguida, introduz-se a borbulha na janela de cima para baixo, recobrindo-a com a lingüeta do porta enxerto. Finalmente, com uso da fita plástica transparente, faz-se o amarrio de baixo para cima, em espirais sucessivas, destacando-se 2/3 da lingüeta. A borbulha utilizada como epibioto é retirada com um auxilio de um canivete de enxertia, utilizado pelo enxertador que retira um fragmento de casca e lenho da haste clonal (vergôntea), contendo uma gema em dormência., em seguida faz-se a apara das bordas da borbulha (gema) e se destaca da casca a parte lenhosa a ela fixada, fazendo todo movimento apenas com o lenho. Deve-se ter o cuidado de retirar o escudo (gema ou borbulha) com tamanho um pouco menor que a janela do porta enxerto, não tocar nas superfícies cambiais e evitar colocar a borbulha invertida (gema de cabeça para baixo).

ENXERTIA VERDE - A enxertia verde (Greenbuding), conhecida também como enxertia herbácea, foi desenvolvida por H.R. HUROV em Bornéu. É a técnica de enxertia que possibilita o aproveitamento de porta enxertos mais jovens. Isto ocorre entre os 4 e 6 meses de idade quando os mesmos apresentam aproximadamente 1,0 cm de diâmetro a 5,0 cm de altura do solo. A prática é idêntica à enxertia madura; o que difere é a idade do material. Não é muito utilizada na Bahia.

Após 23 dias de realização da prática é feita a primeira verificação do pegamento do enxerto, e retira-se a fita que envolve a gema; em caso positivo, a muda enxertada será marcada com um laço utilizando-se a própria fita da enxertia. Transcorridos mais sete dias, faz-se a segunda verificação.

Concluída esta prática as mudas estarão aptas a serem decapitadas e levadas pra o local definitivo. A decapitação deve ser realizada dez dias antes da muda ser arrancada, para a gema seja estimulada e intumesça. Consta da retira da parte aérea da muda enxertada através de um corte em bisel 2 cm acima da parte superior do enxerto, ficando a parte mais alta voltada para o mesmo. No local do corte aplicar tinta à base de óleo ou parafina derretida, a fim de impedir a perda de água e penetração de agentes patogênicos. Caso não se faça a decapitação, a muda enxertada poderá permanecer “armazenada” no viveiro, aguardando a época propícia para o plantio.

Quando o arranquio for realizado com uso do “quiau” fazer a decapitação com facão, a uma altura de 0,60m, deixando para preparar a muda após a operação.

ENXERTIA DE COPA - É o método usado em seringueira envolvendo uma dupla enxertia com a intenção de formar uma planta composta,

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denominada tricomposta. Esta planta é constituída pelo sistema radicular de hipobioto, no qual é enxertado, próximo ao solo (5 cm) um painel de corte de um clone de alta produção e a copa de clone resistente ou tolerante a doenças. Esta enxertia é uma variante da verde com o mesmo procedimento. A técnica da enxertia de copa foi inicialmente desenvolvida por CRAMER em Java e deve ser feita à altura de 2,20m a 2,50 m em tecido verde, entre o penúltimo e o último lançamento foliar totalmente maduros usando hastes clonais com 3 a 4 meses de idade, usando a técnica da enxertia verde. Essa enxertia pode reduzir a imaturidade da seringueira, porém precisa de estudos aprimorados sobre a compatibilidade copa – painel, pois além de provável efeito de redução na produção do clone de painel, a qualidade e coloração do látex podem ser afetadas no caso de uma combinação indevida (PEREIRA,1986).

TIPOS DE MUDAS DE SERINGUEIRA.

A seringueira é uma planta que permite, com êxito, a sua implantação utilizando mudas de raízes nuas. Estas mudas geralmente são produzidas em viveiros implantados no campo, mediante enxertia seguida de arranquio e por último o plantio em local definitivo. Temos os seguintes tipos:

TOCO ENXERTADO CONVENCIONAL - É a muda obtida a partir de enxertia madura ou verde e plantada no local definitivo com a gema do enxerto dormente ou ligeiramente intumescida, tendo a raiz principal (pivotante) decepada com 45 cm de comprimento e as laterais com 5 cm. Este tipo de muda é o mais utilizado no Brasil, cerca de 90% dos plantios de nossos seringais, apesar de ter como inconveniente o alto índice de replantio (20 a 50%) quando plantados em épocas sujeitas a estiagens ocasionais após o plantio ou no início do desenvolvimento. Para reduzir as perdas, PEREIRA e DURÃES, 1983, fizeram a decapitação da parte aérea do toco a apenas 1,0 cm acima do escudo de enxertia seguido da impermeabilização até abaixo da borbulha com parafina derretida (85 a 90ºC) em “banho maria”, promovendo antecipação e uniformização da brotação do enxerto (PEREIRA,1986). As áreas implantadas com mudas convencionais entrarão em sangria 6 a 7 anos após o plantio, excluindo-se as perdas e os replantios.

MINI TOCO - É um tipo de muda usado para replantio, sendo inicialmente formado a partir de enxertia verde em viveiro de campo no espaçamento de 1,0 m x 0,50 m, em seguida de decapitação da haste do porta enxerto. Após 7 a 10 meses, a haste brotada do enxerto é podada em tecido maduro à altura de 0,60 m a 1,0 m do nível do solo e, após 10 dias, a muda é arrancada e transplantada com raiz nua para o local definitivo, quando as gemas, abaixo do ponto de decapitação da haste se apresentam ligeiramente intumescidas. (RRRIM 1975). A haste do mini toco deve ser pincelada com calda de cal em toda a sua extensão para melhor refletir os raios solares e diminuir a temperatura e transpiração. A raiz principal deve ser decepada a 45 cm de comprimento do “colo” do toco e as laterais a 5 cm da raiz principal (PEREIRA,1986.)

TOCO ALTO - Possui a técnica inicial de produção idêntica à descrita para mini toco, sendo ambos conduzidos em viveiros de campo, já estabelecidos no espaçamento de 0,90 m x 0,90 m com o “stand” conduzido até 18 meses quando será feita a decapitação da haste do porta enxerto. Este tipo de muda também pode ser conduzida em

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viveiros destinados a mudas convencionais. Após a enxertia verde e a verificação do pegamento, algumas são selecionadas e decapitadas para formação do “toco alto” num espaçamento 1,0m x 0,80 m, permanecendo as demais plantas enxertadas aguardando a época própria para serem decapitadas, arrancadas e plantadas em local definitivo, como muda convencional de raiz nua ou em sacos plásticos com dois lançamentos maduros. As plantas quando apresentarem a casca madura e diâmetro entre 9 cm e 14 cm, deverão ser separadas por classe e estarão em condições de serem levadas para o local definitivo. Seis ou sete semanas antes do transplantio, abre-se uma valeta de um dos lados da planta a fim de se fazer o corte da raiz pivotante a 45 cm a 50 cm de profundidade, em seguida a valeta deverá ser parcialmente reenchida. A decapitação da haste para o toco alto deverá ser feita 10 a 14 dias antes do transplantio para o local definitivo no local de casca madura a 2,40 m a 2,50 m de altura do solo, abaixo de um lançamento de gemas dormentes. A impermeabilização do corte terminal deverá ser feita com parafina líquida e o toco deve ser imediatamente pincelado com calda de cal hidratada em toda sua extensão (PEREIRA, 1986). O toco deve ser arrancado quando apresentar as gemas intumescidas e em início de brotação até 0,5 cm de comprimento. O transplantio realizado neste estágio, mais corte antecipado da raiz, tem a vantagem de induzir certo grau de endurecimento a muda, dando um alto grau de pegamento (95 a 100%), salvo condições adversas de clima. A muda de toco alto é considerada um tipo avançado, usado no replantio de falhas ou substituição de plantas em campo quando aos doze meses não apresentarem um desenvolvimento satisfatório. Caso se forme em área contínua, o período de sangria é antecipado para 4 a 4,5 anos após o plantio (PEREIRA, 1986).

TOCO ALTO ENXERADO DE COPA - Também chamado de tricomposto, é a muda originada de um viveiro de campo no qual foi utilizado o espaçamento de 1,0 m x 1,0 m e o porta enxerto recebe a enxertia verde com o clone desejado para painel (normalmente clones de alta produção). Após a enxertia de base e decapitada a haste do porta enxerto, as plantas crescerão até uma altura de 3,0 m a ,60 m, antes porém receberão outra enxertia verde a altura de 2,50 m acima do solo com o clone de copa (enxertia de copa). Uma vez estabelecido o tricomposto, poda-se o enxerto quando está crescido e maduro e o transplantio é feito tanto em raiz nua, quanto em saco plástico, seguindo a mesma técnica do toco alto.

ARRANQUIO DAS MUDAS

O arranquio das mudas pode ser manual com uso do enxadete ou mecânico pelo emprego do “quiau”. Se for utilizar o método de arranquio manual, cavar uma valeta lateral à linha das plantas enxertadas e a 0,50 m de profundidade. Arrancar as mudas através de movimentos para cima e para o lado da valeta com o devido cuidado para não danifica-las. Quando a raiz pivotante ultrapassar 0,50 m, decapita-la com o enxadete à essa profundidade.

Se o solo for de textura média a leve, o uso do “quiau” proporciona melhor rendimento e economia de mão de obra. Deve-se adotar os cuidados necessários para evitar o rompimento dos tecidos à altura do coleto. Dois homens com um “quiau”, arrancam de 800 a 1.000 mudas por dia.

Prepara-se essas mudas serrando a parte aérea não decapitada, através de corte em bisei, ficando o lado mais alto voltado para o

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enxerto; posteriormente, aplicar parafina derretida ou tinta a óleo no local seccionado. Aparar a raiz pivotante para 0,40 a 0,50 m de comprimento e as laterais para 0,10m.

Para transporte e plantio em locais distantes, procurar embalar as mudas em feixes de 30 a 35 plantas enroladas com ramagens ou sacos de aniagem, amarradas com fio de barbante, procurando evitar ao máximo traumas no enxerto.

PREPARO DA ÁREA

No estabelecimento de um seringal, o primeiro passo é a divisão da área em blocos, seguida das operações de preparo de área que pode ser manual ou mecanizada, e por fim complementa-se com as práticas conservacionistas de solo.

Esses blocos são definidos a partir da área a ser plantada com um clone e a quantidade de clones a serem utilizados no plantio é que irá definir o tamanho dos blocos ou talhões do seringal, que em grandes áreas não devera ultrapassar 25 ha. (EMBRATER, 1981) e se possível dever ser múltiplo inteiro da área de uma tarefa (área sangrada em um dia por um seringueiro).

Quando fizer a divisão da área em blocos, a distribuição das estradas terá que ser levada em consideração, pois pode ou não coincidir com a divisão, dependendo apenas do relevo. De qualquer modo nenhum “ponto” no interior do seringal deve ficar a mais de 450 m de uma estrada em condições de tráfego o ano todo (ABDULLAH, 1978). A idéia básica da divisão da área em blocos e a construção de estradas e/ou acessos está na facilidade de coleta de látex, realização de práticas agrícolas mecanizadas, de administração, acompanhamento e outras atividades que necessitam transporte. A direção e a forma dos blocos dependerão do relevo, direção e intensidade dos ventos, bem como a necessidade de se plantar um sistema de quebra ventos.

Selecionar a área para implantação do seringal com topografia plana ou suave ondulada, solo de textura média, não sujeita a inundações, profundidade mínima de 2,0 m, ausência de lençol freático neste nível, inexistência de camadas compactas e cobertura vegetal de mata ou capoeirão. Procurar utilizar áreas com culturas abandonadas ou improdutivas, evitando o máximo à derrubada de vegetação de recuperação florestal. Ao fazer a derruba de restos de culturas, procurar evitar a queima do material, preservando assim, a fauna e a flora microbiológica do solo.

Em terrenos declivosos, demarcar as curvas de nível com aparelhos de precisão ou níveis rústicos, obedecendo a distância inicial de 7,0 m ou 8,0 m entre linhas, abertura máxima nas entrelinhas de 11,0 m e mínima de 5,50 m. nos terrenos panos, estabelecer as linhas básicas distanciadas de 7,0 m ou 8,0 m uma da outra. Se a área for de capoeira rala, abrir faixas com largura de 2,0 m, tendo-se as linhas básicas como centro, distanciadas uma da outra de acordo com espaçamento escolhido, e rebaixar os tocos encontrados dentro da faixa.

Durante esse procedimento, deve-se efetuar a coleta de amostras de solo para verificação do pH e teores de alumínio trocável e bases Ca++

e Mg++. Caso seja necessário fazer a correção do solo, aplica-se calcário dolomítico na quantidade indicada pela análise do solo, inicialmente na faixa de 3,0 m tendo como centro a linha de plantio, e as aplicações subseqüentes de 2 em 2 anos

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ocorrerão até completar a área entre as linhas básicas, o que deverá acontecer no máximo no 6º ano após plantio. Se houver exploração de cultivos intercalares, a calagem deverá ser a lanço cobrindo toda a superfície do solo.

A calagem em uma área de seringueiras só deverá ocorrer até antes de iniciar a sangria devido a prováveis mudanças no látex provocada pelo aumento de concentração das bases circulando na seiva das plantas. No caso de solos com teores muito baixos de Ca++ e Mg++ a aplicação de fosfato de rocha ou termofosfato magnesiano além de acrescentar estes elementos, ainda fornece fósforo às plantas.

COVEAMENTO

A prática da abertura de covas tem por objetivo dar condições para plantio da muda e melhorar o solo do local do plantio, para um desenvolvimento do sistema radicular. A maneira como a cova deve ser aberta vai depender do tipo de material de plantio a ser utilizado, seja semente, muda de raiz nua ou torrão. Em áreas de plantio que permitem a mecanização, a abertura das covas poderá ser feita com brocas nas dimensões exigidas o que dará uma redução nos custos desta prática, além do rendimento diário ser excelente.

Em áreas de relevo declivoso ou naqueles que foram preparadas manualmente, o coveamento é feito com auxílio de cavador boca de lobo, nas dimensões de 0,40 m X 0,40 m X 0,60 m, separando o solo retirado da camada superficial que deve retornar ao fundo da cova no momento do plantio, a camada inferior deverá ser misturada com a adubação de cova (100 g de superfosfato simples) e complementar o reenchimento da cova. A abertura das covas deverá preceder no mínimo 30 antes do plantio, a fim de que possa se evitar a formação de bolsões de ar que irão prejudicar as mudas implantadas dificultando a aeração.

TERRACEAMENTO

Em áreas de relevo acidentado (mais de 8% de declividade) é necessário se fazer um controle da erosão, o caminho para se realizar os tratos culturais e posteriormente a sangria, e para resolver de uma vez de uma vez as situações faz-se o terraceamento.O terraceamento quando feito com uso de tratores equipados com lâminas deve-se deixar uma declividade de 1,5% de fora para dentro e a cada 30 m de terraços fazer lombada transversal para evitar erosão dentro do terraço.

Em locais não possíveis de mecanização ou que não haja disponibilidade de máquinas, a opção é a construção manual de banquetas individuais para as plantas e a interligação das banquetas para o terraceamento é feita associada às capinas.

Em qualquer dos métodos utilizados, a cova deve ser localizada na margem externa do terraço ou das banquetas para que a muda quando plantada desenvolva seu sistema radicular no solo superficial de origem.

PLANTIO

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A fase de instalação de um seringal correspondente ao plantio da muda deve ocorrer a partir do início do período chuvoso.

MUDAS DE RAIZ NUA - São aquelas conhecidas por toco enxertado convencional, mini toco e toco alto ou tricomposto e que para serem plantadas deve-se observar os seguintes cuidados:

Abrir com auxílio de um espeque um furo no centro da cova de modo a permitir maior contato da raiz pivotante com o solo, pra evitar a formação de bolsões de ar próximos da raiz;

Comprimir o solo em torno da muda;

Manter o solo da cova úmido após o plantio até o pegamento da muda, caso seja realizado num período de estiagem. No caso de toco alto, para um período sem chuva após o plantio, deve-se colocar 9 a 10 litros de água por cova a cada 4 dias. Também pode se fazer, o plantio em lameiro feito na cova e neste caso a compactação final é feita posteriormente.

MUDAS DE TORRÃO EM SACOS PLÁSTICOS – Em covas já reenchidas faz-se aberturas com tamanho suficiente para alojar a muda. O saco tem o fundo eliminado e o torrão juntamente com o que restou do saco é colocado na cova. A seguir firma-se o torrão com um pouco de terra e retira-se o restante do saco completando a cova até o coleto da muda.

Qualquer tipo de muda de seringueira após o plantio, necessita a formação de uma cobertura morta (mulching) em sua volta a fim de que possa ser mantida a umidade e temperatura adequada no solo. Entretanto em condições de temperaturas extremas (altas e baixas) a cobertura morta pode provocar danos na parte aérea da planta. Para evitá-las, a cobertura deve ser afastada da muda e com o início do período frio deve ser retirada completamente (CARMO et alii, 1985; Convênio CEPLAC/EMBRAPA, 1983; RRIM 1970/1974/1976 e SAMPAIO, 1984).

Ao ser plantada, a muda terá que ser colocada com a gema enxertada voltada para o nascente (para evitar a exposição do ao sol no horário de maior insolação do dia) no sentido dos ventos dominantes do local (pra evitar a quebra dos ramos e brotos do porta enxerto).

Para diminuir o efeito do porta enxerto na produção à medida que o painel de sangria se aproxima do solo, o enxerto ou a inserção do broto de enxertia deve ser posicionado 5 cm abaixo do nível natural do terreno, sem entretanto cobri-los com terra. O nivelamento é feito após suberificação do tecido do ramo da enxertia ao nível do solo (RRIC,1970 e SAMPAIO, 1984).

REPLANTIO

O replantio consiste na substituição das plantas mortas ou atrofiadas por mudas vigorosas e de bom desenvolvimento, de maneira que se consiga formar um plantio uniforme. Esta operação deverá ocorrer no início do período de maior precipitação pluviométrica, e essa prática pode ser feita durante o primeiro ano com mudas do mesmo tipo utilizadas no plantio.

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No caso da utilização de material avançado de plantio (toco alto, toco tricomposto), o replantio pode ser feito até o 3º ano de implantação do seringal, desde que persistam percentagens acima de 10% de covas a serem replantadas. Considera-se exceção áreas, que após esse período, permaneçam com densidades muito baixas de plantas vivas ou grande número de plantas raquíticas (BERNARDES, 1982; EMBRATER, 1981 e RRIC, 1970).

TRATOS CULTURAIS

Para o bom desenvolvimento e produção um seringal é exigente em cuidados, tais como:

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS - A seringueira não tolera concorrência de plantas daninhas, por isso um seringal deve ser mantido sempre limpo o que representa uma grande parcela dos custos totais de manutenção do cultivo. As linhas do plantio deverão ser mantidas limpas, através do uso de capinas manuais ou químicas através do uso de herbicidas (Quadro 01). A largura da faixa deverá iniciar-se com 0,80 m e chegar a 2,0 m quando o plantio entrar em produção. As faixas ou entrelinhas terá a vegetação controlada fazendo-se roçagens que vão diminuindo de intensidade com o desenvolvimento do seringal ou da leguminosa que porventura tenha sido planta, ou até mesmo pelo adensamento da cultura intercalar. Em áreas mecanizadas as roçagens nas entrelinhas serão realizadas com roçadeiras motorizadas que possuem largura de corte de mais ou menos 1,50 m, peso de mais ou menos 400 kg, com cerca de 500 rpm e tracionadas por trator de pneu leve, do tipo agrícola.

DESBROTA – Consta da eliminação de quaisquer brotos laterais que venham surgir no porta enxerto, e no caule (haste enxertada) até a altura de 2,50 m. Os brotos surgidos na haste enxertada deverão ser retirados rentes ao caule tendo a finalidade de se obter um tronco livre de cicatrizes e bifurcações. Essa prática deve ser feita continuamente, e devem ser feitas inspeções regulares (semanalmente) com este objetivo.

DESBASTE – É a prática responsável pela eliminação das plantas mal formadas, raquíticas e que apresentem conformação não compatível com a idade de plantio. O desbaste deve ocorrer no 3º e 5º anos, porém nos seringais em sangria também se realiza a prática com a finalidade de retirada das plantas de baixa produção de látex, plantas doentes ou mortas.

ADUBAÇÃO - A seringueira apesar da sua alta capacidade de adaptação a solos ácidos e de baixa fertilidade química, é uma cultura que responde bem a aplicações de fertilizantes e armazena, durante seu desenvolvimento, quantidades respeitáveis de nutrientes nos diferentes tecidos (SHORROCKS, 1965). Entretanto as quantidades de nutrientes contidos no látex são praticamente inexpressivas (GEUS, 1967). A maioria dos países produtores de borracha emprega análise de solo e/ou folhas para diagnosticar o estado nutricional do solo e avaliar as necessidades de adubação.

A análise química do solo constitui a técnica mais comumente usada no Brasil para diagnosticar a fertilidade dos solos e avaliar as necessidades de adubação. O histórico da área e a amostragem bem representativa dão validade aos resultados analíticos, objetivando recomendação de fertilizantes. Durante a fase de desenvolvimento, a seringueira responde bem à adubação fracionada. As quantidades a serem utilizadas da FÓRMULA E (10 18 06) variam de acordo com a idade e o explicitado no a seguir:

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ÉPOCA

(mês)

QUAN

g/pl

TIDADE

kg/Ha.

N P2O5 K2O APLICAÇÃO

2 コ 100 0,25 m em círculo

4º 100 190 19 34 11 0,25 m em círculo

6º 100 0,50 m em círculo

8º 100 0,50 m em círculo

11º 200 0,75 m em círculo

14º 200 381 38 69 23 0,75 m em círculo

17º 200 1,00 m em círculo

20º 200 1,00 m em círculo

24º 400

28º 400 571 57 103 34 1,25 m em círculo

32º 400

36º 500

40º 500 714 71 129 43 Faixas de

44º 500 1,20 m nas

50º 600 laterais

56º 600 das

62º 600 571 57 103 34 plantas

68º 600 afastadas

74º 600 0,30 m

80º 600 destas.

Ao iniciar a fase de sangria deverá ser realizada uma nova análise de solo e em alguns casos análise foliar. A depender dos resultados, as quantidades dos fertilizantes serão aplicadas em função das necessidades diagnosticadas no plantio observando principalmente uma redução nas dosagens dos adubos. Os seringais adultos que ainda não sofreram adubações e que se encontram estimulados com fitohormônios, a adubação deve ser feita de uma só vez com a FÓRMULA F (12 12 06), na dosagem de 600 g por planta, distribuídos na área recomendada para plantas a partir do 3º ano. O fertilizante deve ser aplicado no período de queda das folhas (agosto e

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setembro), complementando 3 a 4 meses após com 250 g de sulfato de amônia.

INDUÇÃO DE COPA – Em plantas alongadas que ainda não formaram copa e irão dar plantas de grande altura, porém com diâmetro reduzido, deve-se fazer a indução da copa a uma altura de 2,50 m através da poda da gema apical (com canivete ou outro instrumento afiado) ou anelamento do caule à altura do último lançamento maduro, com um anelador de casca. A poda ou anelamento pode ser feita em qualquer época do ano, porém, se possível a prática deve ser feita no período de emissão de folíolos. Atualmente a indução de copa é também feita através da cobertura do broto apical. O processo consta da dobra para cima das folhas do lançamento subapical fazendo a cobertura deste. Com o broto apical sem receber luz as folhas são presas com auxílio de tiras de borracha ou barbante, até que ocorra a intumescência das gemas axilares da roseta inferior, após isso a cobertura desfeita e o broto volta a ficar exposto à luz. A copa será formada com os lançamentos laterais desenvolvidos a partir das gemas intumescidas e a gema apical continuará sua função e crescimento normais.

CONSORCIAÇÃO COM OUTRAS CULTURAS

A seringueira por ser um cultivo de espaçamento largo e ter início de produção relativamente demorado e fazer a cobertura do solo com a projeção das copas a partir do 5º ano, em média, podemos utilizar outro cultivo para que haja uma proteção do solo exposto, redução dos custos com a manutenção das faixas entre as linhas de plantio e até trazer algum retorno financeiro para cobrir as despesas nos primeiros anos da instalação do seringal.

A consorciação pode ter caráter econômico (plantio de cultivos que tragam receitas para o imóvel) ou simplesmente ser uma prática conservacionista (plantio de leguminosas para cobertura de solo).

Nesse último caso, as entrelinhas de plantio estarão sem a cobertura de vegetação, principalmente se o preparo de área for efetuado por processo de mecanização, onde a vegetação remanescente é arrastada e enleirada em camalhões, necessitando-se então providenciar cobertura viva das entrelinhas, onde se recomenda o plantio de leguminosas de porte rasteiro, que irá cobrir o solo satisfatoriamente.

A recomendação técnica é que se use de preferência a Pueraria phaseoloides (Kudzu tropical), semeando-se 8 a 10 sementes por cova, no espaçamento de 1,0 m x 1,0 m, guardando-se a distância mínima de 1,50 m das linhas de plantio e com gasto de sementes em torno de 5,0 kg/ha. Caso se disponha no imóvel de plantadeira manual (matraca), o plantio feito através desta irá economizar mão de obra e a quantidade sementes por hectare será reduzida a 1,5 kg. Ao utilizar este tipo de leguminosa, proceder a quebra de dormência das sementes colocando água em ¾ de vasilhame, aquecendo-a até a fervura; em seguida, completar com água fria, o que deixará a mistura com a temperatura de 75ºC. As sementes serão colocadas dentro dessa água, e cobertas imediatamente e deixadas em repouso por 10 a 12 horas. Posteriormente, escorrer a água e espalhar as sementes sobre uma lona em local sombreado. No dia seguinte realizar o plantio.

Quando a consorciação for feita através do plantio de cultivos de interesse econômico, pode se optar por cultivos de ciclo curto, semi-perenes, perenes, ou a implantação de um sistema agro-florestal (SAF).

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Ao se optar por cultivo de ciclo curto, a consorciação pode ser feita até os três anos do seringal, utilizando-se o feijão, milho, arroz, abóbora, abacaxi, melão, batata doce, açafrão ou gengibre. A exploração deve acontecer até quando as plantas de seringueiras ainda não fecharam a copa, consequentemente sombreando o solo. Os plantios devem obedecer a uma distância de 1,5 m das linhas de seringueira e no espaçamento inerente a cultura utilizada.

Se a consorciação for feita com cultivos semi-perenes, deve-se obedecer a uma distancia mínima de 2,0 m da linha de plantio de seringueiras. As opções de exploração econômica serão em função da facilidade de comercialização, podendo-se na região cultivar a banana da terra, mamão, maracujá ou patchouli.

Utilizando-se culturas perenes, será levada em consideração a capacidade do cultivo de tolerar o sombreamento provocado pelo seringal, além de não afetar direta ou indiretamente a exploração básica, que é a seringueira. Nesta situação a região apresenta o cacau como excelente opção, e mais recentemente o uso de cupuaçu, desde que seja obedecido um espaçamento idêntico ao da seringueira, ou seja, plantar uma fileira da cultura entre duas filas de seringueira.

Já a implantação de seringueiras seguindo o SAF (Sistema Agro Florestal), propicia ao produtor rendimentos sob os três estratos de cultivo, onde ele poderá adotar a sistemática de implantar, conjuntamente, um cultivo de ciclo curto, um cultivo semi-perene, e dois cultivos perenes na mesma área, não deixando, portanto, de obter receitas durante a fase improdutiva do seringal, e da cultura escolhida como consórcio perene. Se ele assim optar, deverá efetuar a implantação de abacaxi, banana da terra, cacau ou cupuaçu e seringueira, no sistema de fileira duplas, seguindo os espaçamentos de 13m x 3m x 2,5m para seringueira,três fileiras de cacau no espaçamento 3m x 3m, afastados 2m da fileira de seringueira, e banana da terra entre fileiras de cacaueiros no espaçamento de 3m x 3m. Na entrelinhas da seringueira, feijão ou abacaxi nos espaçamentos regulares.

SANGRIA

A seringueira no início de sua exploração comercial como produtora de látex, tinha a sangria (extração do látex) realizada através do corte amazônico, conhecido como espinha de peixe e que até hoje continua em uso nos seringais nativos. Este método consta do corte da casca em forma de riscos descontínuos sucessivos a uma distância aproximada de 2,0 cm ficando uma faixa intacta entre as duas incisões (CONCEIÇÃO, 1979).

O corte amazônico persistiu no início da extração do látex nos seringais do Sudoeste Asiático. Com o crescimento da demanda de borracha natural, houve a necessidade de se desenvolver métodos menos danosos aos plantios e mais produtivos. Em 1889 RIDLEI através de observações no Singapura Botanic Garden descobriu o método contínuo de incisão, no qual o corte é procedido regularmente pela remoção de uma fina camada de casca através de corte declivoso, princípio este usado até os tempos atuais. Esta descoberta proporcionou a redução dos ferimentos na planta dando condições à regeneração dos tecidos da casca (ABRAHAM, 1980).

Posteriormente em trabalhos realizados pelo RRIM, IRCA, RRIC e alguns outros conduzidos em menor intensidade em outros países,

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desenvolveram-se sistemas alternativos, visando a racionalização da mão de obra, maximização da produção, prolongamento da vida útil da planta.

VASOS LATICÍFEROS

Na seringueira o sistema laticífero é formado por vasos que se encontram em todas as partes da planta, exceto no lenho. Nas partes vegetativas, os vasos laticíferos se restringem quase que inteiramente à região secundária do floema do tronco, ramos e raízes (DICKENSON, 1969 citation BUTTERY e BOATMAN, 1976).

A extração de látex é fundamentada na incisão do tronco da seringueira visando a secção dos vasos laticíferos da casca possibilitando ao fluxo do látex para o exterior. Os vasos laticíferos estão arranjados em anéis regulares, quase paralelos ao câmbio, formando círculos concêntricos em relação ao eixo do tronco e inclinados da direita para a esquerda, a partir do alto da planta, notadamente em plantas adultas. O número de anéis dos vasos laticíferos é uma característica clonal e varia com a idade da planta, podendo ser em número de um ou dois em plântulas jovens ou até mais de cinqüenta em determinadas plantas adultas.

Em planta de “pé franco” o número de anéis é maior na parte basal em virtude do formato cônico do tronco. Em plantas enxertadas o número de anéis não varia significativamente a diferentes alturas.

Com base nos clones estudados, GOMEZ et alii (1972) assinalou que 20 a 55% dos anéis de vasos laticíferos estavam a 1 mm do câmbio, 10 35% a 2 mm e 10 a 30% a 3 mm. Em árvores com idade inferior a cinco anos, os anéis estão concentrados nos primeiros 4 – 5 mm, sendo que 40% estão até a 2 mm do câmbio. Acima de cinco anos há uma concentração de anéis próximos ao câmbio e a 8 mm deste, pode-se também nos mais observar a presença de anéis. Por volta do vigésimo na, cerca de 75% dos vasos estão distribuídos a 5 mm do câmbio. Em plantas com idade avançada - em torno de 32 anos – a densidade dos vasos laticíferos é elevada até os 3 mm do câmbio; nos primeiros 2 mm é ainda maior (GOMEZ,1980).

A sangria da seringueira reduz o desenvolvimento da árvore. Após o primeiro ano de sangria, a redução média da taxa de crescimento do tronco, de cultivares produtivas, mostrou-se da ordem de 29%, com variações entre os cultivares. Isto sugere que a regeneração do látex consome reservas de carboidratos que poderiam, de outra forma ser utilizadas no crescimento.

O rendimento econômico da sangria depende da abundancia do escorrimento do látex e pelo seu teor de borracha seca (DRC – Dry Rubber Content). Estes dois elementos estão diretamente na dependência de fatores de ordem anatômica, física e fisiológica, que descreveremos a seguir:

PROFUNDIDADE DO CORTE - A região de interesse econômico da planta de Hevea é o tronco onde é realizada a sangria, logo, a exploração do látex está diretamente relacionada com a estrutura anatômica da casca. A profundidade da incisão tem estreita relação com a produção, pois o maior escoamento do látex está relacionado com os cortes mais profundos até a distância 1 – 1,5 mm do câmbio. Por outro lado, incisão superior a este limite resulta em lesões das camadas regenerativas do câmbio, provocando o surgimento de nodosidades que dependendo da extensão e quantidade tornam a casca irregular, dificultando ou impossibilitando a sangria no ciclo seguinte.

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DECLIVIDADE DO CORTE - A orientação dos vasos laticíferos do interior da casca obedece a um ângulo em torno de 2,1º a 7,1º da esquerda para cima à direita (GOMEZ, 1980). Visando melhor seccionamento dos vasos laticíferos, a sangria deve ser feita a uma declividade em torno de 33º do alto à esquerda para baixo à direita. Diferenças de produção em relação declividades entre 25º e 45º são aceitáveis. Todavia, maior declividade de corte implica em maior consumo de casca e menor declividade conduz à perda de látex por escorrimento no painel quando a casca não é muito espessa. Em planta de “pé franco”, devido a maior espessura da casca, a declividade pode ser menor reduzida (ABRAHAM, 1980).

CONSUMO DE CASCA - A maior quantidade de látex produzida não está relacionada com a maior retirada de casca numa sangria e sim à remoção de fragmentos em torno de 1,5 mm de espessura, no comprimento, profundidade e inclinação de corte adequados. Adotando-se o convencional sistema de sangria (S/2 d/2 100 %), teremos um consumo de casca em torno de 2,0 a 2,5 cm por mês e 30 cm para cada ano de sangria. No sistema S/2 d/3 o consumo mensal fica em torno de 1,5 a 2,0 cm por mês. O controle do consumo de casca deve ser considerado como primordial para a manutenção da vida útil de um seringal e deve acontecer através de marcação mensal de uma linha paralela a linha de corte e com distância entre 1,5 a 2,0 cm (S/2 d/3) ou 2,0 a 2,5 cm (S/2 d/2). A cada último dia de sangria por mês é feita a verificação do consumo de casca e faz-se nova marcação para as sangrias do mês seguinte.

RESPOSTA À SANGRIA – A seringueira tem a característica de produzir maior quantidade de látex quando se reaviva logo depois uma incisão já aberta, do que quando se faz uma nova incisão. Este fenômeno denominado “resposta à ferimento ou resposta à sangria”, foi observado logo no início das explorações econômicas da seringueira, porém sua causa não é muito conhecida. Atribui-se a participação de hormônios, produzidos após a incisão da casca sobre os vasos laticíferos da zona incisada. Em função deste fenômeno é que se verifica uma reduzida produção de látex nas primeiras sangrias efetuadas. De uma maneira geral a “resposta à sangria” se traduz pela aclimatação da zona de casca próxima ao corte, à renovação e restauração de seu látex.

REGIME HÍDRICO E HORA DA SANGRIA – O fluxo de látex varia tanto em volume como em concentração, de acordo com a hora do dia e a estação do ano. As mudanças diurnas parecem ser devidas a alterações na taxa transpiratória, sendo que efeitos sazonais podem ser atribuídos à variação na precipitação e a demanda fisiológica das épocas de queda das folhas e rebrotamento. Experimentos demonstraram que a sangria realizada às 7:00, 9:00 e 11:00 apresentaram diferenças consideráveis de produção de látex. A queda real na produção parece mostrar-se dependente da taxa de transpiração e do suprimento de água. As condições ecológicas que são favoráveis à entrada de água (abundância de água no solo) e que restringem a saída pela transpiração (tempo nublado e temperatura menos elevada) são propícias a uma hidratação dos tecidos e consequentemente uma boa produção de látex. Durante a noite a transpiração é fraca e as perdas de água reduzidas, assim, na prática, num seringal explorado racionalmente a sangria deve ocorrer às primeiras horas do dia (a partir de 4:00), desde que haja luminosidade suficiente para execução perfeita da prática.

ESTADO DE NUTRIÇÃO E FITOSSANITÁRIO - Um seringal para ter uma produção constante e econômica necessita ter uma reposição no solo dos nutrientes extraídos pelas plantas e assim dar condições a estas continuarem produzindo sempre com o mesmo desempenho. As plantas

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deverão também apresentar um bom estado fitossanitário a fim de que a produção não seja afetada.

TAREFA DE SANGRIA

É a denominação dada a uma quantidade plantas que um seringueiro realiza a sangria em uma jornada de trabalho. O tamanho de uma tarefa varia em função do sistema de sangria adotado, relevo do terreno, habilidade do seringueiro, densidade da área explorada, e, principalmente, da finalidade da produção, se é látex ou cernambi tigela. . No sistema convencional S/2 d/2 100%, o tamanho da varia entre 350 e 500 plantas, sendo comum a média de 450 plantas. Tarefas com maior número de árvores conduzem à sangria tardia em algumas plantas e coleta antecipada em outras, resultando na redução de produção.

CODIFICAÇÃO DOS SISTEMAS E EINTENSIDADE DE SANGRIA

O sistema de sangria é o conjunto de fatores como a forma, comprimento e número de incisões, enquanto a freqüência de sangria determina a intensidade desta. Muitos dos sistemas de sangria já não são mais utilizados, mas, não deixaremos de mencioná-los a título de informação. Na codificação geral do sistema, o numerador, representado por uma letra maiúscula, indica o tipo de corte; a fração pode aparecer antecipada de um numeral que indique o número de cortes realizados numa mesma árvore, por dia de sangria. O denominador é a representação para o comprimento horizontal de cada corte, expresso como fração da circunferência da planta.

EXEMPLOS:

S/1 = Corte em espiral completa, somente em plantas com perímetro de tronco superior a 70 cm.

S/2 = Corte em meio espiral.

S/3 = Corte em terço de espiral.

S/4 = Corte em quarto de espiral.

Para indicar a posição dos cortes nos sistemas de dupla sangria ou sangria múltipla, são usados os seguintes sinais:

Corte com escada em painéis adjacentes, são usadas duas linhas paralelas inclinadas (//).

Cortes em lados opostos da árvore usa-se o sinal (+).Cortes superpostos, um em cima do outro do mesmo lado, usa-se o sinal (-).

EXEMPLOS:

S/2 + S/2 = Cortes em duas meio espiral em painéis opostos.S/2 – S/2 = Cortes em duas meio espiral superpostas do mesmo lado.S/4 // S/4 = Dois quartos de espiral em escada.

SÍMBOLOS DE CORTE

O tipo de corte mais comum é aquele em espiral

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representado por “S”. Existem outros tipos, porém somente o “S” e o corte em “V” (observado em alguns países asiáticos e menos usado é que serão considerados). A pesquisa tem intensificado estudos com sangria por puntura – “PG” e com mini cortes – “MC“ (corte em espiral com comprimento inferior a 6,0 cm), ambos com estimulação.

COMPRIMENTOS DE CORTE

Excluindo-se mini cortes, o comprimento do corte é interpretado como uma relativa proporção da circunferência do tronco que é atingida pelo corte de sangria. No caso de mini corte, o comprimento não é expresso em termos relativos, mas em centímetros. Ex. S/2 corte em meio espiral, MC 5 mini corte com 5 cm, S/4 corte em quarto de espiral.

DENOMINAÇÃO DOS PAINÉIS

A planta ao ser feita a sangria pela primeira vez, este painel recebe a denominação de painel “A” ou “A1” que é aberto em casca virgem. Após a utilização deste, o lado oposto recebe o nome de painel “B” ou “B1”, também constituído de casca virgem. A seguir, depois de completada a sangria em todo ele, retorna-se ao anterior que terá a denominação de painel “C” ou A2 e a sangria é realizada em casca regenerada. Por último faz-se a sangria em casca regenerada do painel “B”, que se chamará “D” ou B2. No sistema tradicional S2 d2 100%, o período d exploração de cada painel terá uma duração média de 4,5 5,0 anos alguns produtores já utilizam a técnica de sangria em corte ascendente em painel alto e descendente (corte bidirecional ou sangria remontante) e pelo balanceamento no uso dos painéis.

DIREÇÃO DE SANGRIA

A sangria convencional é no sentido descendente e pode também ser ascendente. Quando não aparece o símbolo da direção é porque a sangria é descendente (Ex. S2 d2). De outra forma teremos S2 (sangria em meio espiral ascendente); S4 (sangria em quarto de espiral ascendente); 2S4 ↓ (sangria em quarto de espiral, dois cortes em sentido bi-direcional.).

FREQUÊNCIA DE SANGRIA

Representa o intervalo entre sangrias. Ex. d/1 (uma sangria diariamente); d/2 (uma sangria a cada dois dias); d/4 (uma sangria a cada quatro dias); 2d/1(duas sangria diariamente); d/2d/3 (sangria de dois em dias seguido de um dia de intervalo).

ESTRUTURA DO SERINGAL

Na estrutura de um seringal encontramos blocos que são formados por tarefas e também, deve-se fazer um croqui detalhado do seringal com a finalidade de se localizar facilmente no escritório as tarefas que compõem a área e com isso melhorar a administração e os controles. Dentro de cada tarefa as

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primeiras e as últimas seringueiras de cada linha de plantio são marcadas com dois números e uma seta a 1,80 m de altura – o primeiro algarismo indica o número da tarefa, e o seguinte o número de plantas sangráveis de cada linha de plantio - a seta indicará a direção que o seringueiro deve tomar ao chegar ao fim da linha, para pra não sair da tarefa ou voltar a uma linha já percorrida. O conjunto de tarefas denomina-se “partes”. Deve-se tomar diversos cuidados ao se dividir o seringal em tarefas, entre estes, destacam-se:

Determinar o numero de árvores por tarefa a depender da finalidade da sangria;

Planejar o menor percurso dentro da atarefa, para que o seringueiro possa passar em todas as árvores em sangria;

Evitar obstáculos dentro da tarefa, afim de que o seringueiro não reduza seu rendimento. Ex. cursos d’água, depressões e elevações íngremes.

Evitar vários clones na composição de uma tarefa;

Marcar as árvores de maneira fácil de identificação.

POSTO DE RECEPÇÃO

A distribuição das tarefas deve acontecer levando em consideração um ponto central, que será de o local de recepção de látex daquele grupo de seringueiros. Este lugar recebe o nome de Posto de recepção ou “Ponto”.

O posto de recepção de uma “parte” é o local onde os seringueiros se reúnem antes do início das atividades diárias para responder ao ponto e, também entregam a produção diária de látex colhida nas suas tarefas, que é pesada individualmente pelo cabo de turma antes de ser armazenada.

O ponto é um pequeno abrigo com área mínima de 3,0 m2 , é feito de madeira rústica, coberto de palha ou telha, paredes de taipa ou tábuas, com um dos lados aberto. O ideal é que se situe às margens de uma estrada em condições de tráfego durante todo ano, próximo da água, no meio ou na parte baixa da encosta, nunca no topo, e no ponto mais central possível das tarefas.

Podemos encontrar “pontos centrais” e pontos intermediários, dependendo da área do seringal. Nestes locais encontramos como materiais os tonéis de 200 l,, balança, defensivos para uso diário, vasilhame com anti coagulante e ferramentas usadas na sangria.

PROCEDIMENTOS PARA SANGRIA DESCENDENTE

Antes de se iniciar a sangria de um seringal, algumas medidas deverão ser adotadas tais como a seleção de árvores para a sangria e a abertura de painel.

A escolha das plantas aptas para sangria deve ser feita mediante a verificação do perímetro destas à altura de 1,50 m do solo. Esta medida deverá corresponder ao mínimo de 0,45 m de circunferência. A área que apresentar pelo menos 50% das plantas nestas condições pode ser considerada apta para iniciar a sangria. Semestralmente recontar as árvores que entrarão em corte segundo os mesmos critérios, incorporando-se às árvores que já estão em produção. A média de idade para o seringal entrar em fase de sangria é de sete anos, mas, se realizado o manejo adequado e tratamentos fitossanitários

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constantes, essa média se reduzirá para 5,5 a 6,0 anos. Para uniformização da altura do corte, os novos painéis deverão ser abertos na mesma altura em que se encontrarem os painéis anteriores.

ABERTURA DE PAINEL

É a preparação da árvore para sangria. Inicialmente o tronco é dividido em dois semicírculos com o auxílio de um barbante. Os dois riscos verticais que delimitarão os semicírculos serão abertos com o traçador que ligará em cada lado e tendo a régua bandeira como guia dois pontos marcados à altura de 1,00 m e 0,50 m da união enxerto/porta enxerto, respectivamente. Essas linhas divisoras deverão estar voltadas para as árvores vizinhas da mesma fila. A régua da bandeira (1,50 m x 0,03 m x 0,01 m) terá uma fita flexível presa a extremidade e formando um ângulo em torno de 33º em relação a linha perpendicular ao seu eixo. Posteriormente e com o uso da faca jebong, serão ampliados os riscos verticais que terão início no ponto da união enxerto/porta enxerto e se estenderão até a altura de 1,50 m no lado onde será fixada a tigela e em torno de uns 0,20 m acima do risco do lado oposto, que será o limite superior do painel. A seguir será procedida a marcação do risco inicial da sangria através da ligação da parte superior de um risco vertical a outro, formando uma inclinação em torno de 33º. Esse risco terá como linha guia a fita flexível da régua bandeira.

EQUIPAGEM DAS ÁRVORES

Consta da fixação nas seringueiras dos materiais usados na coleta do látex escorrido, ou seja, a bica, o suporte e a tigela. A bica é fixada 0,10 m abaixo da extremidade inferior da abertura do painel e a tigela será colocada 0,10 m abaixo da bica, cujo suporte é feito com arame liso número 12. A cada três meses a bica e a tigela serão mudadas de posição. A cada sangria o cernambi deve ser removido da tigela e da superfície de corte, a tigela deve ser centralizada em relação à bica e proceder ao corte pela remoção de um afina camada de casca na declividade e profundidade tecnicamente recomendadas.

SANGRIA ASCENDENTE

O painel ascendente e aberto estendendo-se para cima os dois sulcos verticais em continuação ao sulco do painel de sangria descendente. Para o sistema utilizado S/4 faz-se um sulco paralelo a partir do ponto intermediário do painel S/2 inferior. O corte ligando os dois sulcos é procedido na inclinação de 45º da horizontal (VIRGENS FILHO e CASTRO, 1986). Com a sangria ascendente são menores as possibilidades de esgotamento fisiológico da planta estimulada. Todavia a sangria ascendente apresenta as desvantagens já mencionadas quando não devidamente realizada e o anelamento provocado por uma sangria bidirecional pode levar à morte da planta (VIRGENS FILHO e CASTRO, 1986).

A faca para realização desta sangria tem o formato de “V” promovendo uma canaleta invertida com ângulo agudo, resultando em menor adesão do látex ao longo da canaleta, diminuindo o escorrimento. Alguns produtores utilizam a própria faca jebong neste tipo de sangria. O consumo de casca neste método de sangria varia de com a idade da planta e a altura do corte. Inicialmente faz-se a sangria com a retirada da fita cernambi, e neste caso a casca é consumida 2,5 cm mensalmente. Em cortes mais altos, não se faz a remoção do cernambi fita o que implica em maior consumo de casca mensal, chegando a cerca de 3,7 a 5,0 cm.

ESTIMULANTES

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A necessidade do aumento de produtividade dos seringais levou os produtores e pesquisadores a testarem vários produtos como o sulfato de cobre, oxietileno, antibióticos, bactericidas, herbicidas, acetileno e outros. Porém, somente depois de várias tentativas e o aprimoramento da pesquisa, verificou-se que o ácido dicloroetilfosfônico (ETHEPHON – American Chemical Company, AMCHEN) era um excelente estimulante ao fluxo do látex após a sangria, com poucos aspectos indesejáveis a seu uso em comparação aos demais utilizados. O ponto comum dos estimulantes é o estímulo à liberação do etileno. Este composto está relacionado com o atraso na obstrução dos vasos laticíferos, permitindo o escorrimento do látex por mais tempo. Os estimulantes podem ser aplicados de maneiras diferentes e cada uma apresentando características próprias (HASMIN,1980):

RASPAGEM DA E APLICAÇÃO – Corresponde a uma raspagem de uma faixa paralela ao corte, com 2,0 cm de largura e 4,0 cm de comprimento a cada mês ou dois meses. Normalmente a produção atinge ao máximo no período pós estimulação declinando 2 a 3 semanas depois. A maior necessidade de mão de obra é o inconveniente e esta maneira será mais econômica se feita a cada dois meses.

APLICAÇÃO NO CANAL DE SANGRIA – Faz-se a remoção do cernambi fita da zona do corte com um pincel faz a aplicação do estimulante. A quantidade de estimulante é menor, porém a remoção do látex coagulado (cernambi) apresenta-se como inconveniência apesar de uma produção maior que o método anterior.

APLICAÇÃO NO CANAL DE SANGRIA SOBRE CERNAMBI – A região da incisão recebe a aplicação do estimulante sem a retirada do cernambi. O processo funciona bem para árvores que não tenham cernambi espesso, pois facilita a penetração do ethephon. Comparado com a anterior apresenta a vantagem de não pincelar gotas de látex que escoam após a retirada do cernambi. Apresenta redução de custos e pode ser usado em painel ascendente ou mesmo em painel alto descendente e a produção é comparável a outros métodos.

APLICAÇÃO NO PAINEL - O estimulante é aplicado após leve raspagem e pincelamento em faixa de 1,5 cm a 2,5 cm sobre casca renovada próximo ao corte, a intervalos mensais ou bimensais. É viável nas situações em que a cascas renovada não seja futuramente explorada, portanto aplicado em plantas exploradas há alguns períodos. Ainda não é frequentemente recomendado.

O resultado do uso de estimulantes ao método de aplicação está relacionado com o clone e o sistema de sangria. O ethephon pode ser usado 4 vezes ao ano com intervalos de três meses ou ainda a quatro aplicações de dois em dois meses em casca raspada. A estimulação no canal de sangria ou sobre o cernambi pode acontecer mensalmente durante 8 a 10 meses. No período de troca de folhas não se deve fazer a estimulação, e deve ter inicio à partir do 12º a 15º anos, quando for em casca renovada (painéis A2 e B2) em plantas com bom estado de nutrição e fitossanitário. Em plantas jovens, em caráter experimental, já se tem feito estimulação, porém, em baixas concentrações (ETHREL 2,5 a 5%)(VIRGENS FILHO e CASTRO, 1986). Em plantas com maior período de exploração (painéis A2 eB2), tem-se feito a aplicação em casca raspada usando ETHREL 2,5 a 10% na quantidade de 1,5 2,0 ml por planta no sistema S2/d2 com boas respostas. Em aplicações no canal de sangria sobre cernambi, tem-se usado a mesma concentração na dosagem de 0,5 ml/planta (HASMIM, 1980). Não utilizar óleo de palma (dendê) para diluir o ethrel, pois estará estimulando o aparecimento do mofo cinzento (doença de painel).

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ADMINISTRAÇÃO DA SANGRIA

A sangria deve ter como intervalo o início e o fim de cada mês, de maneira que o último corte atinja o limite inferior da faixa de casca determinado para o mês findo. Os trabalhos do seringal são inicialmente acompanhados e administrados pelo cabo de turma, figura indispensável à estrutura administrativa desta exploração. Esta pessoa deve conhecer bem a área, a localização dos blocos e tarefas, além de ter um bom relacionamento com os seringueiros de seu grupo, que deve ser de 10 a 15 componentes. O cabo de turma no seu trabalho faz a reunião dos seringueiros no “ponto” ou posto de recepção, diariamente, antes do início da sangria, relacionando os presentes e caso haja algum seringueiro ausente, será providenciado um substituto junto ao capataz ou redistribuída a tarefa com os demais. Será também anotado diariamente a hora que se iniciou a sangria e as substituições de seringueiros que porventura tenha ocorrido. Durante o horário em que os seringueiros estão realizando a sangria o cabo de turma faz uma fiscalização geral, observando:

Árvores sangradas – às vezes o seringueiro deixa árvores sem sangrar, seja por falta de atenção, involuntariamente, ou de propósito; a razão o cabo de turma deverá descobrir.

Impedir que a sangria iniciasse antes da hora prevista, na tentativa do seringueiro terminar o trabalho mais cedo. Alguns tentam recolher o látex logo após a sangria, aguardando o momento de entregar a produção. Tão logo o sinal seja dado aparecem com uma baixa produção, ou seja, pouco peso para carregar. É muito fácil descobrir a fraude após a execução pela diferença de peso para menos e pelas sobras na tigela, isto é, pelo tamanho dos coágulos. (EMBRATER, 1981).

Látex transbordando pelo painel. Se a sangria não for bem feita e o canal da frente e a bica não tiverem sido bem limpos.

Profundidade de casca e declividade do corte – verificar se os cortes estão sendo feitos na profundidade e declividade ideais, casso encontre árvores sangrando fora dos padrões técnicos, o cabo de turma pode corrigir o erro a tempo, evitando maiores danos.

Cernambi perdido – o seringueiro pode querer acelerar o seu trabalho e com isso deixe de recolher algum cernambi, com prejuízo para a renda do seringal. O cabo de turma deve estar atento para o problema.

Proteção do painel contra doenças – o pincelamento dos painéis com fungicidas deverá ocorrer em dias, semanal ou quinzenal. A calda fungicida e o corante (marcador visual de aplicação do fungicida) devem ser distribuídos pelo cabo de turma. O seringueiro deve fazer o pincelamento no mesmo dia da sangria à tarde, quando o látex já parou de escorrer. As tigelas deverão ser viradas para baixo até a próxima sangria para evitar que o produto cai nestas.

Limpeza das tigelas – os coágulos da tigela e o cernambi do corte e da bica resultantes da sangria anterior devem ser recolhidos pelo seringueiro, sendo colocados separadamente em bolsas diferentes. A raspagem dos

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restos de látex coagulados aderentes na tigela também deve ser realizada pelo seringueiro.

Manutenção das linhas e faixas de plantio - o seringueiro em alguns plantios também é o responsável pela limpeza das faixas e linhas de plantio de sua tarefa, o cabo de turma irá verificar se os trabalhos estão sendo realizados a contento.

Anti-coagulante – o cabo de turma é o responsável pela preparação e distribuição diária do anti-coagulante usado para manter o látex líquido. Se o dia for chuvoso dificilmente se evitará a coagulação do látex, sendo dispensável essa operação. Nos dias de chuva dois casos são prováveis, em relação à sangria:

· A chuva foi anterior à mesma, encontrando-se na árvore, bica e tigela ainda molhadas. O cabo de turma marca na folha de ponto, na linha painel/chuva, no dia correspondente, a letra M (molhado).

· Se a chuva for durante ou depois da sangria e se cair água na tigela antes do final da coleta, marca-se a letra D (diluído).

Percebendo que a chuva é iminente ou já esteja chovendo antes de iniciar a sangria, o cabo de turma aguarda uma definição do tempo até as 12:00 h. A sangria poderá, nesses casos ser atrasada até esse horário, se a chuva não parar antes. Se a chuva se prolongar até após as 12:00 h não haverá sangria nesse dia. No caso de haver sido iniciada a sangria e o cabo de turma perceber que vai chover, mesmo que não seja a hora de recolher ele pode, através do sinal pré-determinado autorizar a coleta do látex imediatamente (EMBRATER,1981).

Em seringais pequenos o cabo de turma se encarrega da fiscalização geral dos trabalhos. Nos seringais maiores, porém, para cada cinco cabos de turma existe um capataz da sangria, que fiscaliza o trabalho de todos os seringueiros, conferindo-lhes pontos d modo a quantificar a qualidade da sangria. Com tal procedimento, os seringueiros são estimulados, mediante prêmios, a executarem um trabalho de alta qualidade, podendo no final do mês receber um prêmio em dinheiro, variável com o seringal.

O capataz faz a fiscalização por amostragem de 08 árvores (não muito próximas) ao acaso por tarefa nos últimos cinco dias úteis de sangria de cada mês. A classificação dos prêmios, de acordo com os pontos negativos é a seguinte:

TOTAL DE PONTOS NEGATIVOS

PRÊMIO TOTAL DE PONTOS NEGATIVOS

PRÊMIO

0 a 2 A 6 a 7 C

3 a 5 B acima de 7 D (sem prêmio)

O prêmio em dinheiro é proporcional aos dias de sangria. Se o seringueiro trabalhou todos os dias, recebe o prêmio integral. Se houver faltas justificadas ou não, as mesmas são descontadas proporcionalmente. Procurando estimular os cabos de turma, aos mesmos são concedidos prêmios em função do desempenho de seus seringueiros. Os critérios adotados na determinação do desses prêmios variam de seringal para seringal, dependendo do vigor da fiscalização e da qualidade da sangria exigida. Alguns adotam o seguinte esquema (EMBRATER, 1981).

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Para receber o prêmio A, 20% de seu salário o cabo de turma deve se esforçar para que todos os seringueiros recebam A nas duas tarefas (S/2 d/2), ou pelo menos B.

Se aparecerem de 1 a 5 prêmios B e um prêmio C entre os seringueiros de seu grupo, sendo os demais prêmios A, o cabo de turma receberá o prêmio B. se aparecerem 3 a 5 prêmios B e os demais forem prêmios A o cabo de turma receberá o prêmio B.

Se os prêmios A forem oito no mínimo e os sete restantes distribuídos entre B e C, o prêmio do cabo de turma será C. Se houver premio D ou menos de oito prêmios A o cabo de turma não receberá o prêmio no mês.

COLETA DO LÁTEX

A sangria quando realizada num dia normal, sem chuva e iniciada no horário indicado, a última planta da tarefa será sangrada em torno de 7:00 h, 8:00h. Assim acontecendo, o sinal para iniciar a coleta do látex será dado pelo cabo de turma às 10:00 h de maneira que uma hora após se encerrará a atividade, estando a produção já devidamente pesada e acondicionada em tonéis ou latões, que serão transportados para a usina de beneficiamento ou depósito.

O armazenamento do látex deverá ocorrer após a pesagem e retirada de algum coágulo que porventura tenha se formado e o acondicionamento em tonéis de 200 l,, revestidos de plástico resistente ou fibra de vidro (para evitar a oxidação do ferro). Antes de se despejar o látex nos tonéis adiciona-se o anti-coagulante (amônia líquida ou sulfito de sódio) colocando-se a seguir a produção e armazenando-os à sombra, onde poderão ficar por 30 dias sem maiores perdas de características básicas da borracha natural.

RENDIMENTO

O seringal quando tecnicamente formado e conduzido entrará em produção aos sete anos de campo, com produtividade média em quilogramas de borracha seca por hectare, de acordo com as seguintes estimativas.

ÉPOCA DE SANGRIA PRODUÇAO

1º ANO 350 kg

2º ANO 450 kg

3º ANO 600 kg

4º ANO 750 kg

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5º ANO 900 kg

6º ANO 1.100 kg

Em alguns seringais com manejo técnico podemos encontrar uma maior precocidade de início de sangria (menos de 7 anos) e produtividades maiores que as estimadas na projeção anterior, além de uma estabilização com produção por hectare superior a 1.500 kg de borracha seca.

ANTI-COAGULANTES

O produtor de borracha natural deve pensar em conseguir o máximo de rendimento possível do seu seringal. Para isso além de outros fatores inerentes à cultura deve comercializar o seu látex de forma líquida, ou seja, “in natura”. O coágulo ou cernambi da tigela e o cernambi fita não conseguem a mesma cotação no mercado que o látex “in natura” mesmo porque alguns produtos nobres dependem da industrialização do látex em estado natural.

Para ocorrer a produção de látex ”in natura” é necessário se fazer adição de um anti-coagulante na tigela, logo após a sangria. Como produtos usados nesta função temos o sulfito de sódio de 5 a 7,5% e amônia líquida. O primeiro é preparado diariamente pelo cabo de turma no posto de recepção e 10 litros da solução são suficientes para uma turma de 15 seringueiros, que usam algumas gotas por tigela. Este produto é usado como anti-coagulante principalmente quando o látex “in natura” se destina à produção de crepe claro, pois não provoca o escurecimento da borracha.

A amônia líquida é utilizada normalmente a uma concentração até 5%, usando-se de 2 a 5 gotas por tigela e o látex pode ser usado na produção de folha defumada ou outros produtos que não exijam classificação de qualidade e cor.

BENEFICIAMENTO PRIMÁRIO DO LÁTEX

Os produtos látex natural, cernambi e coalho em pouco tempo sofrem modificações acentuadas em suas características, indo com isso perdendo seu valor comercial e restringindo mercado. No contorno dessa situação, a alternativa é estabilizar o látex bruto com amônia e a secagem do coágulo e cernambi. Porém, não chega a atender ao todo, portanto, a solução é a instalação de uma agroindústria no imóvel ou na proximidade deste, pois o produto final terá melhor preço e consequentemente o lucro será compensador. O beneficiamento do látex pode seguir dois rumos, o do látex concentrado (creme) e a borracha sólida.

LÁTEX CONCENTRADO

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A matéria prima é o látex do campo que passa por um processo de retirada de água, elevando o teor de borracha seca para 60%. A concentração do látex pode ser através de centrifugação (físico-mecânica) ou cremagem (físico-química). No processo resulta o látex com 60% de borracha seca, e o soro que contém entre 0,5 a 2% de borracha seca (BERNARDES et alii,1986).

A estabilização do látex concentrado é obtida com amônia suficiente para aumentar o pH para 10,2. Apesar de a amônia ser excelente agente estabilizador do látex, não apresenta boas qualidades antissépticas, portanto em alguns casos pode-se acrescentar para assepsia o sal de sódio pentaclorofenol.

Após o processamento do látex concentrado é armazenado em tambores, que em casos especiais, podem ser revestidos internamente de polietileno para evitar a oxidação do ferro usado na fabricação dos tambores.

BORRACHA SÓLIDA

As borrachas usinadas mais comuns são os crepes, os granulados e as folhas defumadas ou secas ao ar.

As folhas defumadas podem ser produzidas em mini-usinas dimensionadas para produção econômica a partir de 30 a 50 kg de B.S./dia, ou seja, atende a necessidade dos pequenos e médios seringais existentes nas regiões brasileiras. Os equipamentos para produção das folhas são relativamente simples e com pouco consumo de energia.

Os granulados e crepes exigem equipamentos pesado, construção sólida e movidos por possantes motores, para que possam lavar intensamente e triturar o látex coagulado e obter estes produtos. Por isso a usina para obtenção de crepes e granulados operam geralmente com uma produção de 2.500 kg de B.S./dia. Neste tipo de produção a coagulação do látex na usina é obtida através da adição de ácido acético ou ácido fórmico.

Considerando a comercialização do látex processado, encontramos na folha defumada o produto de maior aceitação e consumo, sendo esta e os granulados os produtos de uso geral, enquanto os crepes e o látex concentrado (creme) tem usos específicos em linhas restritas de industrialização, reduzindo assim as suas participações no total da borracha natural comercializada.

PRAGAS DA SERINGUEIRA

A seringueira como toda planta cultivada e de interesse econômico, possui alguns insetos, ácaros, moluscos e mamíferos que lhe causam danos, provocando estragos desde a fase de semente até o seringal em produção. Relacionamos as seguintes:

ORDEM LEPIDÓPTERA

NOME VULGAR – Mandarová

NOME CIENTÍFICO – Erinnyis ello (L. 1758) – o mais comum

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Erinnyis alope (Drury. 1773)

DESCRIÇÃO E BIOLOGIA – O mandarová é considerado a principal praga da seringueira, em função da sua voracidade, chegando a dizimar por completo, um plantio em poucos dias. A ocorrência é cíclica, aparecendo em determinadas épocas em ataques severos. Os ovos são depositados no limbo foliar. Estes ovos são verdes e tornam-se amarelados próximos à eclosão. O período de incubação é de 3 a 6 dias, quando eclodem lagartas medindo 5 mm de comprimento e após sofrerem cinco mudanças de pele (ECDISES) no 3º,6º, 8º, 10º, 14º dia quando chegam a atingir 70 a 80 mm de comprimento, podendo alcançar 10 cm de comprimento por 1,0 cm de diâmetro. A coloração é variável: aparecem indivíduos verdes com dorso pardacento; outros são de coloração preta com pontuações laterais brancas e vermelhas, havendo ainda aqueles de cor pardo-marmorizada. O ciclo completo do ovo ao adulto leva de 35 a 38 dias.

PREJUÍZOS – As lagartas se alimentam das folhas novas depois as mais velhas e em ataques violentos destroem até as ramificações mais finas.

CONTROLE – Dentre os métodos de controle de pragas conhecidos destacamos:

Mecânico: Quando o surto é pequeno e em viveiros e jardim clonal o controle é feito através da catação manual e destruição das lagartas.

Biológico: Alguns pássaros como o “anu” e o “tesoureiro” ao sobrevoarem um seringal com freqüência focalizam intensa infestação de lagartas e se encarregam da eliminação de um grande número destas. O inseto Belvosia sp. da família Trachinidae é um dos principais parasitas da E. ello, depositando seus ovos sobre a folhagem da seringueira e são ingeridos pelas lagartas, vindo depois as larvas destruir a lagarta na fase de pupa. O Bacillus thuringiensis tem sido de grande importância seu uso no controle biológico desta praga. Apresenta a vantagem de ser seletivo e não tóxico ao homem. Os produtos DIPEL e MANAPEL têm apresentado grande eficiência (96 a 98%) na eliminação desta praga no sétimo dia após a aplicação.

Físico: As armadilhas luminosas poderão servir de indicador de ataque de pragas, através da captura dos insetos adultos.

Químico: O TRICHLORPHON (Dipterex) a 2,5% e CARBARYL 7,5% são inseticidas pó seco de menor toxicidade para o homem, que apresentam boa eficiência no controle desta praga. Usa-se o produto comercial em polvilhamento na dosagem de 20 a 30 kg/ha. Em pulverizações a alto volume os mesmos inseticidas pó solúvel (TRICHLORPHON) e pó molhável (CARVIN85) além dos emulsionáveis Diazinom 60, Malatol 50; na dosagem de 100 e 300 ml/100 litros de água. O maior problema ainda é o porte das plantas de seringueira o que dificulta a eficiência dos equipamentos convencionais.

ORDEM LEPIDÓPTERA

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NOME VULGAR – Pararama

NOME CIENTÍFICO – Premolis semirufa (Walker. 1856)

DESCRIÇÃO E BIOLOGIA – A lagarta causa efeitos dolorosos ou lesões nos dedos dos seringueiros. Os ovos são esféricos, mais ou menos achatados na porção que adere à superfície, após a eclosão são liberadas lagartas de 5 mm de comprimento pó 1,0 mm de diâmetro. O corpo é recoberto por cerdas castanhas e prateadas de diversos tamanhos e distribuição. O adulto de hábito noturno (mariposa) mede de 20 a 25 mm de comprimento e 40 a 55 mm de envergadura. A cor predominante é o amarelo quando as asas estão cobrindo o corpo do inseto.

PREJUÍZOS - O dano econômico à seringueira não é significativo apesar da alimentação das lagartas ser as folhas da planta, pois a ocorrência no seringal é de pequena monta. Esta lagarta é considerada de importância pelos males causados aos dedos dos seringueiros, depois do contato com as cerdas desta. A predominância do aparecimento dessas lagartas e seus casulos está no tronco da planta na faixa que vai do solo até 1,5 m de altura atingindo assim a zona de trabalho do seringueiro (painel, tigela e bica). Os danos físicos causados aos seringueiros estão relacionados ao hábito destes de retirarem o cernambi (látex coagulada), passar os dedos (principalmente o médio) no interior da tigelinha, tendo assim contato com as cerdas deixadas pelas lagartas. Inicialmente o local apresenta prurido intenso seguido de edema, durante uma semana. Podem ocorrer casos crônicos de incapacitar o seringueiro para o trabalho devido a falta de articulação dos dedos atingidos. Até o momento ainda não se descobriu uma medicação eficiente para resolver os problemas das pessoas atingidas pela pararama, somente de forma paliativa os corticosteróides são usados. Predomina na Região Norte.

CONTROLE: Dentre os métodos de controle utilizados citamos:

Mecânico: Destruição (sem tocar com as mãos) das lagartas e casulos encontrados nas hastes e folhas das plantas jovens e no tronco na zona de produção (painel) das plantas adultas.

Biológico: Ocorre em nível de laboratório a lagarta e parasitada através de um Braconidae (Zele sp) e um Ichnenmonidae (Netelia sp) e em menor incidência a lagarta é parasitada por Apanteles sp (Braconidae).

Químico: Não se recomenda porque a incidência ainda é pequena nos seringais.

ORDEM HOMÓPTERA

NOME VULGAR – Mosca Branca

NOME CIENTÍFICO – Aleurodicus cocois (Curtis. 1846)

Aleurodicus pulvinatus (Maskell. 1895)

Lecanoideus giganteus (Quaint & Baker. 1914)

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DESCRIÇÃO E BIOLOGIA: São pequenos insetos, raramente com mais de 2 a 3 mm de comprimento, sugadores, que quando adultos muito se assemelham às moscas comuns.

PREJUÍZOS: Os insetos se localizam na face inferior das folhas onde ficam protegidos, formando colônias, repletas de ovos, larvas, pupárias e adultos. Tanto a fase jovem quanto a adulta suga grande quantidade de seiva da planta provocando envelhecimento precoce das folhas atacadas que ficam cloróticas, secam e caem. Também excretam substancia açucarada que cobre as folhas favorecendo o desenvolvimento de fungos (fumagina) prejudicando a fotossíntese.

CONTROLE: Dentre os métodos de controle utilizados citamos:

Biológico: Predadores – Baccha sp (Díptera – Crysopidae)

Patógeno – Aschersoria aleyrodes – Fungo entomógeno

Parasito – Um Hymenóptero endoparasita da “ mosca branca” com grande capacidade de eliminação, apareceu no Pará, a partir de 1978.

Químico: Os inseticidas Ometoato (Folimat 1000) e o Malathion (Malatol 50 E) apresentam uma eficiência acima de 80% no controle desta praga.

ORDEM HYMENÓPTERA

NOME VULGAR – Formigas cortadeiras (quem- quéns)

NOME CIENTÍFICO – Acromyrmex spp

DESCRIÇÃO E BIOLOGIA: As formigas “quenquéns” são menores que as saúvas e possuem seus formigueiros constituídos de uma só panela cuja terra retirada pode aparecer ou não na superfície do solo: algumas espécies fazem seu ninho superficial coberto de palha ou de terra retirada. Algumas porém podem fazer mais de uma panela (máximo de 10) e que pelo tamanho reduzido não se confundem com as saúvas.

PREJUÍZOS: As folhas que cortam e carregam até o ninho são utilizadas para cultivar o fungo Pholiota gorgylophora (o mesmo cultivado pelas saúvas) de cuja frutificação se alimentam.

CONTROLE: Localização e destruição dos ninhos através de escavação e aplicação de formicidas pó, ou se não forem encontrados deve-se usar iscas microgranuladas nos carreiros.

ORDEM HYMENÓPTERA

NOME VULGAR – Formigas cortadeiras (saúvas)

NOME CIENTÍFICO – Atta spp

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DESCRIÇÃO E BIOLOGIA: São as formigas de maior importância econômica dentro de um seringal. Se caracterizam pelo tamanho grande e pelos 6 espinhos que apresentam na parte superior do tórax, são insetos sociais que vivem em formigueiro subterrâneo denominado “sauveiro”, formado por dezenas ou centenas de panelas arredondadas, ligadas entre si com a superfície do solo por meio de “galerias” ou “canais”. Caracteriza-se externamente por um monte de terra fofa (murundu), formado pelo acúmulo de terra extraída das “panelas”.

PREJUÍZOS: São insetos vorazes chegando em uma noite causar desfolha de muitas plantas prejudicando o desenvolvimento normal de um plantio. Os maiores prejuízos ocorrem em seringais jovens (primeiros anos de implantados), além de sementeiras e viveiros. As folhas que cortam e carregam até o ninho são utilizadas para cultivar o fungo Pholiota gorgylophora de cuja frutificação se alimentam.

CONTROLE: Localização e destruição dos sauveiros com dois ou mais olheiros porém não muito velho pois se torna mais difícil a eliminação, além de maior gasto com o produto a ser utilizado. Atualmente com a proibição de aplicação de formicidas clorados (a base de Aldrin), se torna difícil o controle das saúvas, porém, até que se produza um substituto eficiente nós devemos localizar os sauveiros no início de sua formação e destruí-los ou devem-se usar iscas granuladas nos carreiros, para que se possam diminuir os prejuízos causados por estes insetos. Evitar o contato manual com a isca ou o uso desta em época de chuvas constantes.

DOENÇAS DA SERINGUEIRA

Segundo GAUMANN “doença é um processo dinâmico, no qual hospedeiro e patógeno, em íntima relação com o meio, se influencia mutuamente, do que resultam modificações morfológicas e fisiológicas. Por ação conjugada dessas forças recíprocas, a doença não pode ser considerada como simples reação da planta à penetração do patógeno, e sim, como um processo independente, um complexo biológico autônomo de suas partes, quando o parasita e hospedeiro se unem em vidas separadas”.

As doenças da seringueira, como das outras plantas, sempre aparecem em maior intensidade quando o agente causal ou patógeno encontra plantas susceptíveis, sob condições favoráveis ao seu desenvolvimento.

No Brasil as tentativas iniciais de cultivo econômico da seringueira fracassaram em função da incidência de doenças. As condições de umidade e temperatura nas zonas edafoclimáticas propícias para exploração da Hevea são bastante favoráveis ao desenvolvimento de vários patógenos desta planta.

DOENÇAS DE FOLHAS

MAL DAS FOLHAS

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É a doença considerada como um dos principais fatores que limitam a expansão da cultura da seringueira no Brasil. Até o momento esta enfermidade só ocorre no Continente Americano não atingindo o Oriente, onde se concentra a maior atividade heveícola do mundo. O mal das folhas causa danos à seringueira porque proporciona a queda precoce das folhas. O patógeno, em condições favoráveis, pode provocar o desfolhamento total das plantas. Quando a doença se instala em viveiros e jardins clonais, a alta incidência provoca a diminuição do crescimento das plantas, redução do percentual de porta enxertos aptos à enxertia e o aproveitamento de gemas (borbulhas) para enxerto. Ataques freqüentes em seringais adultos causam debilidade nas plantas, levando-as em certos casos à morte, ou favorecem o aparecimento de outras doenças que podem também contribuir para a morte das plantas. Num seringal em fase produtiva, a perda de 75% da folhagem resulta em uma queda de produção da ordem de 30 a 50% (ALBUQUERQUE, 1980).

ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA

A doença “mal-das-folhas” é causada pelo fungo Microcyclus ulei (P. Henn) A. Arx., sendo que até o momento as espécies do gênero Hevea, principalmente a Hevea brasiliensis e a Hevea benthamiana são parasitadas com danos econômicos. A espécie Hevea pauciflora, que apresenta contra esse fungo uma reação de hipersensibilidade, trem sido considerada como altamente tolerante (CHEE & WASTIE, 1980).

O fungo durante seu ciclo de vida apresenta três tipos de esporos, os conídios, os pcnidiósporos e os ascósporos. Os conídios são os responsáveis pela disseminação da doença, correspondem ao estágio assexuado (forma imperfeita).

Os ascósporos são produzidos na fase sexuada ou perfeita nas folhas maduras. Estes são os responsáveis pela sobrevivência do fungo quanto as condições alimentícias são desfavoráveis e servem de inoculo primário, sendo 24º C a temperatura ótima para sua germinação. Por fim os pcnidiósporos que representam a fase de transição entre as anteriores e apesar de germinarem, não causam a doença.

Quando aparecem condições climáticas de elevadas temperaturas e umidade, os conídios germinam e penetram no limbo foliar, iniciando uma lesão, que no tempo de 5 a 6 dias já se torna visível nos clones susceptíveis.

A água da chuva e o vento são os principais responsáveis pela disseminação dos esporos do Microcyclus ulei, principalmente os conídios que tem no vento seu grande aliado para transportá-lo, não só dentro de um plantio, como a grandes distâncias.

Nas regiões onde as condições do ambiente favorecem a disseminação rápida, dois outros fatores devem ser considerados: o de que a folhagem da seringueira está sujeita ao patógeno até cerca de 12 a 15 dias de idade, dependendo do clone e do vigor das plantas e o de a seringueira perder todas as folhas e reenfolhar anualmente. Estas características apresentam grande importância quando do controle do mal-das-folhas. (GASPAROTTO, 1984).

SINTOMAS

No mal-das-folhas aparece a sintomatologia no limbo foliar, pecíolo e nos ramos novos, podendo também ser encontrada nos frutos verdes de

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clones altamente susceptíveis. Os sintomas da doença nas folhas novas são caracterizados por manchas necróticas, sobre as quais, após cinco a seis dias, aparecem os esporos do Microcyclus ulei em massa compacta com coloração verde-oliva sobre a lesão, na face dorsal do folíolo.

A queima dos folíolos é provocada pela aglutinação de várias lesões em seguida ocorre a queda. Dependendo das condições ambientais e da planta, a doença pode causar seguidos desfolhamentos nos clones susceptíveis,, provocando o secamento das extremidades dos ramos e, posteriormente a morte descendente das plantas que não forem capazes de renovação das folhas.

Os estromas são produzidos após a evolução do fungo nos folíolos atacados que ficaram presos aos ramos, isso já perto do final da fase de infecção. Estas são estruturas negras, carbonáceas, ásperas ao tato e dispostas como uma lixa sobre o limbo foliar. No seu interior estão os peritécios guardando as ascas e nestas se encontram oito ascósporos.

Os sintomas da doença no viveiro é um engrossamento de aspecto rugoso nas extremidades dos ramos, de coloração cinza escuro, que causa um emponteiramento e morte de cima para baixo de todo o tecido verde da planta. Nas folhas jovens quando a infecção é intensa, dois a três dias após a brotação ocorre a “queima” e queda destas.

CONTROLE

O mal-das-folhas no Brasil tem como opções de controle a adoção do uso de clones resistentes ou tolerantes ao ataque do fungo, o controle químico, plantio em “áreas de escape”, enxertia de copa e desfolhamento artificial.

USO DE CLONES RESISTENTES

Os pesquisadores em melhoramento genético de seringueira ainda não conseguiram obter grande numero de clones tolerantes ou resistentes ao Microcyclus ulei. Aqueles que apresentam alguma tolerância quando expostos à condições ambientais favoráveis ao aparecimento da doença, na época da troca de folhas, em geral, se tornam vulneráveis e susceptíveis.

A quebra da tolerância de certos clones está às vezes relacionada com o plantio destes, nas áreas de características ambientais (microclimáticas) diferentes dos locais onde foram selecionados, bem como as variações do fungo com o aparecimento de novas raças fisiológicas. Como por exemplo, temos o clone Fx 2261 que na Bahia apresenta certa tolerância ao Microcyclus ulei e no Pará é bastante susceptível, já com o Fx 3899 a situação é inversa.

Há de ressaltar que a maioria dos clones resistentes plantados no Brasil, foram selecionados a partir da Hevea benthamiana, o que pode ter facilitado a quebra da resistência pelo aparecimento de novas raças do fungo.

ENXERTIA DE COPA

As características genéticas de resistência e produtividade

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nem sempre se consegue introduzir numa mesma planta. Assim, com o intuito de se fazer uma combinação positiva, usa-se a copa de uma planta resistente associada a um painel produtivo, com a realização de uma dupla enxertia ou tricomposto.

A Hevea pauciflora é, até o momento, a espécie mais usada para enxertia de copa, com alta tolerância ao M. ulei. Certos clones desse material como o PA 31 tem sido testados com bons resultados.

A característica da Hevea pauciflora de apresentar queda de folhas e emissão de novos lançamentos durante todo o ano, aliada ao fato do M. ulei causar danos apenas nos folíolos jovens, deve-se reduzir os riscos dessa prática, mesmo que apareçam novas raças fisiológicas do fungo capazes de quebrar a tolerância dos clones dessa espécie. A quantidade de folhas maduras existentes nas copas dos clones de Hevea pauciflora durante o ano seria suficiente para manter as reservas na planta necessárias as suas atividades vegetativas normais além de recompor as perdas de folhas causadas pelo possível ataque da doença.

A enxertia de copa, no entanto, não deve ser recomendada para grandes plantios devido os resultados experimentais ainda não serem definitivos, problemas apresentados quanto a compatibilidade de copa versus painel, os custos de implantação na Bahia, ao ataque de Phythophthora sp. E redução da produção.

DESFOLHAMENTO ARTIFICIAL

A técnica consta em se provocar a desfolha das plantas nas épocas desfavoráveis a ocorrência do fungo. Esta prática ajuda a reduzir e uniformizar a fase de perda das folhas e reenfolhamento, facilitando a programação de controle do M. ulei através de fungicidas e reduzindo as pulverizações. Apesar da técnica ainda estar em fase experimental no Brasil, a Bahia já testou os produtos DROP, FOLEX, MSMA e o ÀCIDO CACODÍLICO, porém sem resultados definitivos.

PLANTIOS EM “ÁREAS DE ESCAPE”

Uma área é considerada de “escape” quando apresenta condições desfavoráveis à proliferação do M. ulei, embora a seringueira possa ter desenvolvimento e produção econômica. A EMBRAPA considerou como área de escape a região apresenta “déficit” hídrico anual de 200 a 350 mm distribuídos de quatro a seis meses, com a desfolha da seringueira ocorrendo preferencialmente nos três meses intermediários desse período.

As áreas litorâneas que estão sempre sob ação do vento, margens de rios largos, onde normalmente a umidade relativa do ar é baixa e localidades em que a duração do orvalho nos folíolos não é muito demorada, contrariando as exigências do fungo que requer umidade relativa do ar alta por período prolongado, são consideradas de “escape” para plantio da Hevea. Mesmo considerando uma “área de escape”, devemos escolher para o plantio, clones que apresentem troca de folhas num período curto e uma só vez no ano, a fim de não favorecer o mal das folhas.

CONTROLE CULTURAL

Antes e após a implantação de um seringal e objetivando reduzir a incidência de doenças e facilitar o controle químico, devem ser seguidos os seguintes critérios:

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Evitar o plantio em áreas de baixadas, pois nestes locais a umidade é maior e favorece a incidência de M. ulei.

Dispor as linhas de plantio no sentido dos ventos dominantes, pois uma melhor aeração do seringal propiciará uma redução no período de permanência do orvalho, não esquecendo de verificar também os problemas de erosão.

Plantar blocos monoclonais, pois a mistura de clones determinará maior numero de aplicações de fungicidas, devido a troca de folhas ocorrer normalmente em épocas diferentes.

Criar uma infra-estrutura viária dentro do seringal de maneira que facilite o deslocamento de máquinas e equipamentos nas épocas das pulverizações.

Manter o plantio com vigor, realizando os tratos culturas adequados e nas épocas recomendadas, pois assim as plantas se tornam mais tolerantes às doenças.

CONTROLE QUÍMICO

O mal das folhas, dentro do possível, deve ser evitado para não precisar de aplicação de defensivos no seu controle, haja vista que o custo é alto. O uso de fungicidas quando associado à época adequada de pulverização e pique da doença, tem trazido bons resultados (no quadro a seguir, recomendações de defensivos).

Mistura de fungicidas, no caso da ocorrência de mais de uma doença, são aconselháveis, pois reduzem os custos de aplicação. Recomenda-se mistura de Tiofanato metílico (Cercobin a 0,15%) + Clorotalonil (Bravonil a 0,3% ou Daconil a 0,2%), para controle do M. ulei do Colletrotrichum gloeosporioides, agente causal da Antracnose. Em viveiros e jardim clonal, as aplicações devem ser feitas semanalmente, durante o período chuvoso, e quinzenalmente, durante o período seco. Em plantios definitivos, devem ser feitas em torno de seis pulverizações durante o reenfolhamento (GASPAROTTO. 1985).

RECOMENDAÇÕES PARA CONTROLE DE MAL DAS FOLHAS

Doenças (Agente causador)

Fungicida Dosagem Viveiro

Jardim clonal (g ou ml/ l)

Dosagem Seringal adulto

(l/kg/ha)

Principio ativo Nome comercial Tipo

Benomil Benlate Sistêmico 1,0

Captafol (1) Difolatan 4F 4,0

Mal das folhas Bravonil 0,6 1,6

Clorotalonil (1) Daconil 50 FW Protetor 4,0 2,2

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Daconil 70 PM 3,0 1,5

Fenarimol Rubigan Sistêmico 0,03 0,6

(Microcyclus ulei)

Mancozeb DithaneM45 4,0 2,0

Mancozeb Protetor 4,0

Propiconazole Tilt 0,3 0,3

Triadimefon Bayleton Sistêmico 0,6 0,3

Triadimefon + Chlorothalonil

Bayleton + Daconil 50 FW

Sis + Prot. 0,1 + 0,65

Triadimefon + Mancozeb Bayleton + Dithane Sis + Prot. 0,1 + 0,65

Triadimenol Bayfidan Sistêmico 0,3 0,3

Triforine Saprol Protetor 1,2 1,2

Triforine + Chlorothalonil Saprol + Daconil 70 PM

Protetor 0,5 + 0,85

Oxicloreto de cobre diversos Protetor 7,5 (a 50%) 3,0 (a 50%)

(1) Não usar espalhante adesivo

ANTRACNOSE

A ocorrência desta doença na maioria das vezes vem associada ao mal das folhas. A desfolha das plantas em certas épocas é mais intensa em decorrência da antracnose, pois muitos folíolos que não cairiam com o ataque do M. ulei, mais tarde desprendem-se com a incidência desta doença.

ETIOLOGIA E EPIDEMOLOGIA

O agente causal da antracnose é o fungo Colletrotrichum gloeosporioides, chama na fase imperfeita de Glomerella cingulata.

Plantas deficientes, sem condução técnica e o ambiente com umidade relativa superior a 90%, são condições mais favoráveis para a ocorrência da infecção.

SINTOMAS

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Aparece nas folhas imaturas, ramos e frutos. A penetração do fungo nas folhas ocorre através de lesões provocadas por outros patógenos, insetos ou aberturas naturais. A identificação da doença pode ser feita observando lesões escurecidas, circundadas por área cloróticas e secamento dos folíolos, começando geralmente pelos bordos. Em plantios novos e jardim clonal, a doença causa o secamento do último lançamento. Nos ramos o sintoma pode ser confundido com o ataque de Phytophthora, porém a antracnose não provoca escorrimento de látex no local afetado. Nos frutos aparecem rachaduras e apodrecimento da casca. A antracnose também pode ser identificada pela massa de esporos de coloração rósea na região necrosada.

CONTROLE

As plantas conduzidas tecnicamente e em bom estado nutricional, se tornam menos susceptíveis à antracnose. O controle químico deve ser feito com fungicidas, e as pulverizações devem ser feitas por semana na época de maior incidência e a cada quinze dias em outras ocasiões. O controle deverá acontecer na fase de lançamentos novos ou reenfolhamento até os folíolos estarem maduros.

REQUEIMA

Na Bahia é considerada como doença de maior importância no cultivo da seringueira. Em certas ocasiões o ataque é tão intenso que traz prejuízos superiores aos causados pelo mal das folhas.

ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA

O patógeno Phytophthora capisici foi isolado como agente causal desta doença em seringais baianos. Este afeta também, na região, a pimenta do reino e o cacaueiro. A ocorrência acentuada do ataque desta doença coincide com o aumento da umidade relativa do ar e queda da temperatura. Os plantios de Hevea que se encontram em fase de frutificação ou próximos de cacauais, têm apresentado maior incidência da enfermidade.

Os frutos apodrecidos pelo fungo e que ficam nas plantas de um período para o outro, ainda se constituem na maior fonte de inoculo da doença. Quando as condições de tempo são favoráveis, ocorre por parte do fungo uma produção acentuada de esporângios, que germinam ou passam a produzir zoósporos e daí ocorre a disseminação, principalmente pela água da chuva (ROCHA,1973).

SINTOMAS

A doença aparece em toda a parte aérea da planta, como também nos frutos. Inicia pelos ramos mais baixos da planta e a partir daí ocorre a distribuição para a copa. A infecção inicial nos frutos verdes apresenta uma mancha aquosa e descolorida. À proporção que aumenta a lesão verifica-se a presença de gotas de látex, negras e brilhantes. O desenvolvimento do micélio branco do patógeno ocorre quando o tempo apresenta umidade relativa alta. As plantas podem manter frutos doentes presos em seus ramos de um ano para o outro.

A concentração da infecção ocorre nos pecíolos, embora os folíolos também apresentem lesões. Nos pecíolos as lesões são aquosas, marrons escuras e com gotas de látex coagulados. As folhas contaminadas normalmente

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caem com os folíolos verdes e intactos. Quando a doença aparece nos folíolos, encontramos também lesões aquosas. Em condições de tempo favoráveis a doença pode provocar o desfolhamento total em 14 dias (RAMAKRISHNAN e PILLAI, 1961).

O ataque severo da requeima em clones susceptíveis, pode provocar destruição parcial da copa das plantas pela morte dos ponteiros e ramos inferiores. A requeima em viveiros e jardim clonal apresenta nas plantas atacadas, o aparecimento de látex exsudado na extremidade do último lançamento, causando a morte do broto terminal. Isto provoca o estímulo da brotação de gemas laterais.

CONTROLE

O controle preventivo seria a melhor opção. Como se torna difícil fazer uma previsão do surgimento da doença, o melhor é manter uma observação constante no seringal e, logo que apareçam os primeiros sintomas da enfermidade, fazer aplicações quinzenais, com os fungicidas recomendados.

Doenças

(Agente causador)

Fungicida (1) Dosagem Viveiro

Jardim clonal (g ou ml/ l)

Dosagem Seringal adulto

(kg/ha.)

Principio ativo Nome comercial Tipo

Cholorihidrate Propamocarbe

Previcur Sistêmico

1,0

Requeima Cymoxanil Curzate M 2,0 1,7

Cymoxanil + Curzate M + Venturol Protetor 0,56 + 0,8

Dodina Venturol 1,1 1,6

Dodina + KCl Venturol + Cloreto de potássio

1,0 + 1,0 0,8 + 0,3

Metalaxyl – Mancozeb Ridomil Mancozeb BR Sistêmico

2,0 1,0

(Phytophthora capisici)

Metalaxyl – Mancozeb + Cymoxanil

Ridomil Mancozeb BR + Curzate M

Sist + Prot.

1,0 + 0,6 0,5 + 0,56

Metalaxyl – Mancozeb + Dodina

Ridomil Mancozeb BR + Venturol

Sist + Prot.

0,5 + 0,53

Metalaxyl – Mancozeb + KCl Ridomil Mancozeb BR + Cloreto de Potássio

1,0 + 1,0 0,5 + 0,3

(1)Intervalo de Aplicação: (Período chuvoso – 7 dias) (Período seco– 14 dias)

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DOENÇAS DO CAULE

CANCRO DO PAINEL

No mundo onde se explora a seringueira, o seringalista tem que conviver com esta enfermidade. Os prejuízos são maiores em função das condições climáticas para o desenvolvimento do fungo, apresentadas por cada região. O caule afetado pela doença tem os tecidos cambiais invadidos, provocando aparecimento de fendas no painel. O patógeno causa lesões em toda extensão do tronco e não só no painel como o nome da doença sugere. Quando os ferimentos são grandes, a casca não se regenera, há exposição do lenho e deformação do painel, não permitindo a sangria. Também é conhecido como cancro estriado do painel.

ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA

Esta doença é causada pelo fungo Phytophthora spp que em a disseminação pelas chuvas, ventos, instrumentos e ferramentas usadas na sangria de plantas doentes. As infecções são causadas por esporângios e zoósporos do fungo. A incidência da doença é acentuada quando ocorre umidade alta e temperatura amena. O ataque de um fungo se torna mais severo quando s sangria é feita em cortes mais profundos, o painel está muito próximo ao solo, má conservação do seringal facilitando a retenção de umidade, e copas bem fechadas (EMBRATER, 1980).

SINOMAS

Um tumor é o aspecto que toma o painel de sangria, quando afetado pelo fungo. O patógeno se propaga pela casca, causando o aparecimento de estrias escuras, que se estendem vertical e horizontalmente indo atingir partes do caule onde ainda não houve abertura de painel. O caule apresenta escorrimento de látex formando filetes enegrecidos sobre a casca. Em áreas à primeira vista, sadias, muitas vezes, ocorre exsudação de látex sob a casca, que coagula e provoca o rompimento desta. Partes da copa dos clones mais susceptíveis podem morrer, quando o fungo ataca os ramos grossos junto às bifurcações.

CONTROLE

O tratamento preventivo é o mais racional e de maior eficiência. Aos fungicidas recomendados devem ser adicionados um corante, para que se possa identificar as plantas tratadas. A aplicação da pasta fungicida no painel, faz-se com auxílio de uma brocha ou pincel, logo após o recolhimento do látex proveniente da sangria. Em áreas onde ainda não ocorre a doença, deve-se fazer aplicações mensais de fungicidas.

Os produtos com princípios ativos à base de cobre, não são recomendados para tratamento de painel, por apresentarem problemas no processamento de látex, alterando as qualidades tecnológicas da borracha.

Medidas preventivas também devem ser tomadas para evitar ou reduzir a incidência do cancro do painel. Como tais, podemos citar: desinfecção da faca de sangria com fungicida, logo após o corte de cada árvore; evitar a consorciação com cultivos altamente susceptíveis ao Phytophthora ou

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adequar o espaçamento de forma a permitir boa aeração, evitando as condições favoráveis à proliferação do patógeno e, manter os plantios sempre limpos ou com a faixa de plantas livres de ervas daninhas para evitar a retenção de umidade próxima ao painel de sangria.

Doenças (Agente causador)

Fungicidas(1) Dosagem (g ou ml/ l)

Principio ativo Nome comercial Tipo

Cholorihidrate Propamocarbe

Previcur Sistêmico 10

Cholorothalonil Daconil 10

Cancro do painel Cymoxanil Curzate M 10

Dithianon Delan Protetor 10

(Phytophthora spp) Dodine Venturol 10

Metalaxyl Ridomil Mancozeb BR

Sistêmico 6,6

(1) Intervalo de Aplicação: (Período chuvoso – 4 dias) (Período seco– 8 dias) (Área foco – 2 dias) Cirurgia: Sobre a área lesionada, proceder o rebaixamento de casca, de forma a constituir uma concha com a extremidade basal abaulada.

MOFO CINZENTO

Esta doença ocorre às vezes com alta incidência nos países produtores de borracha natural. Os maiores danos estão relacionados com os seringais de densidade de plantio alto e infestados de ervas daninhas, mantendo assim uma alta umidade em torno do tronco (BEELEY,1935).

ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA

O fungo Ceratocystis fimbriata é o causador desta enfermidade. A alta umidade e temperatura entre 22ºC e 26ºC, são as condições ideais para a proliferação da doença. A disseminação do fungo ocorre principalmente pala faca de sangria, quando é feito o corte em uma planta doente em seguida nas sadias. Segundo CONDURU NETO (1980), os insetos e o vento também distribuem o patógeno, embora em menor escala.

SINTOMAS

O painel de sangria é o local do aparecimento da doença, provocando o apodrecimento deste. Uma podridão negra e mole da casca é a forma que identifica exata enfermidade. A frutificação do fungo nas lesões aparece inicialmente como um mofo branco e depois acinzentado. O patógeno tem um desenvolvimento rápido nas lesões provocadas na sangria, destrói a casca, abre feridas expondo o lenho evitando a recuperação da casca e inutilizando o painel.

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CONTROLE

Manter constante vigilância no seringal quanto às práticas de manutenção e a qualidade da sangria, evitando assim incidência de ervas daninhas próxima do painel e cortes profundos feitos pelo sangrador na obtenção do látex. Quando consorciar o seringal não se deve escolher cultivos susceptíveis ao patógeno ou quando já estiver instalada a consorciação manter freqüente vigilância eliminando as plantas que apresentem a doença.

A desinfecção da faca de sangria com fungicida após o corte de cada planta, completa o conjunto de ações preventivas contra esta doença. O controle químico deverá ser realizado de acordo com a tabela em anexo, e como medida curativa deve-se remover com uma faca os tecidos lesionados e fazer um pincelamento de toda área contaminada com fungicidas recomendados.

Doenças (Agente causador) Fungicidas(1) Dosagem (g ou ml/ l)

Principio ativo Nome comercial Tipo

Benomyl Benlate Sistêmico 4,0

Mofo Cinzento Dodine Venturol Protetor 10

Tiofanato Metílico

Cercobin 3,4

(Ceratocystis fimbriata) Thiabendazole Tecto Sistêmico 3,4

Triadimefon Bayleton 3,5

(1) Intervalo de Aplicação: 7 dias Método de Aplicação: Pincelar sempre 15 cm acima e 5 cm abaixo da linha de corte, com proteção lateral de 2,5 cm, inclusive até a canela de coleta do látex.

DOENÇAS DAS RAÍZES

PODRIDÃO DAS RAÍZES

PODRIDÃO VERMELHA

PODRIDÃO BRANCA

PODRIDÃO PARDA

Embora a incidência de doenças de raízes seja mais freqüente no Continente Asiático, observa-se a ocorrência esporádica no Brasil, nas áreas desmatadas manualmente, mesmo sendo capoeiras ralas. As raízes de tocos

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que persistem nas áreas assim preparadas podem vir a ser fontes de inóculos dos patógenos. A ocorrência dessas doenças é preocupante em face à dificuldade de controle, já que, frequentemente ocorre a cessação da vida da planta, e consequentemente a redução do número total de plantas e sua produção por área.

Os fungos causadores dessas doenças pertencem à classe dos basidiomicetos na qual o fungo Ganoderma philippi causa a podridão vermelha, o Rigidoporus lignosus a podridão branca e o Phellinus noxius a podridão parda. Em condições de elevada umidade, estes fungos formam basidiocarpos (orelhas de pau) e quando produzem basidiósporos são disseminados pelo vento ou por insetos que se alimentam dos esporos (LIM,1977), que podem vir germinar e infeccionar em ferimentos próximos ao solo, no tronco. A disseminação pode se processar por meio de rizomorfas, quando não existem condições favoráveis à formação de esporos, no momento em que as raízes das plantas sadias entram em contato com raízes de plantas doente e/ou tocos persistentes.

SINTOMAS

Secamento parcial ou murcha da parte aérea da planta cujos folíolos ficam presos aos ramos. Tombamento das árvores implantadas em solos pouco profundos, em que a pivotante não se desenvolve, causado pelo apodrecimento das raízes laterais de sustentação sem apresentar amarelecimento das folhas.

A presença de rizomorfas pardacentas (podridão parda) na parte externa e marrons em zig-zag na parte interna das raízes caracteriza a podridão parda.

Na podridão vermelha o estágio inicialmente das rizomorfas é amarronzado e ao senescer torna-se vermelha, podendo ser úmida e esponjosa ou seca, a depender das condições do solo.

CONTROLE

Recomenda-se a destoca da área e queima, com a finalidade de destruir basidiocarpos e rizomorfas porventura existentes nas raízes e tocos de plantas nativas infectadas. Arranquio das plantas mortas e infectadas. Arranquio das plantas mortas e tratamento das raízes laterais e pivotante das circunvizinhas após remoção do solo descobrindo cuidadosamente estas raízes, com o fungicida recomendado, em seguida recobrir as raízes com o solo. Proceder, principalmente com as raízes das plantas atacadas a queima.

Doenças (Agente causador)

Fungicida (1) Modo de aplicação

Principio ativo Nome comercial

Podridão vermelha Misturar 10 %

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Ganoderma philippi do produto com

Calixin 85% de piche e

Podridão parda 5% de querosene

Phellinus noxius A seguir, pincelar as

raízes remanescentes

Podridão branca 75 % de Pentacloronitrobenzeno

Bentacol 75 PM, PCNB 75 BASF

(Rigidoporus lignosus)

Brassicol 75 PM, Kobutol 75

Tenaclor 75 PM, Sementol

(1) Misturar 20% de um produto que contêm 75 % de PCNB com 75% de piche e 5% de querosene. Pincelar as raízes remanescentes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Superintendência da Borracha. Anais: Encontro Nacional sobre Explotação e Organização de Seringais de Cultivo. Brasília, SUDHEVEA, 1986. 97 p.

CEPLAC/ EMBRAPA. Sistema de Produção de Seringueira Para a Região Sul da Bahia. Ilhéus - Bahia, 1983. 48 p.

FUNDAÇÃO CARGILL. Simpósio Sobre a Cultura da Seringueira no Estado de São Paulo, I. Piracicaba, 1986. 334 p.

MORAES, Jonildo G.L. et DUARTE, Jodelse D. Cultura da Seringueira. COOPEMARC. Valença - Bahia, 1987.102 p.

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