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SERRA DA ESTRELLA EXPEDIÇÃO SCIENTIFICA EM AGOSTO DE 1881 SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE LISBOA AUXILIADA PELO GOVERNO E PELA JUNTA GERAL DO DISTRICTO DA GUARDA UMA VISITA / ESTUDO / HOMENAGEM EM AGOSTO DE 2013 132 ANOS DEPOIS JOSÉ RABAÇA GASPAR

SERRA da ESTRELLA - Expedição Scientifica em 1881 - 132 anos depois

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SERRA da ESTRELA - Expedição Científica em 1881 - 132 anos depois, continua a ser um marco na investigação e estudo da nossa Sociedade e do nosso Mundo... a pedir contributos dos que estiverem mais documentados e interessados...

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SERRA DA ESTRELLA EXPEDIÇÃO SCIENTIFICA

EM AGOSTO DE 1881 SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE LISBOA

AUXILIADA PELO GOVERNO E PELA JUNTA GERAL DO DISTRICTO DA GUARDA

UMA VISITA / ESTUDO / HOMENAGEM EM AGOSTO DE 2013

132 ANOS DEPOIS

JOSÉ RABAÇA GASPAR

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EXPEDIÇÃO SCIENTIFICA EM AGOSTO DE 1881

SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE LISBOA AUXILIADA PELO GOVERNO E PELA

JUNTA GERAL DO DISTRICTO DA GUARDA

UMA VISITA / ESTUDO / HOMENAGEM EM AGOSTO DE 2013

132 ANOS DEPOIS

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FICHA TÉCNICA TÍTULO - SERRA DA ESTRELLA - EXPEDIÇÃO SCIENTIFICA UMA VISITA / ESTUDO / HOMENAGEM 132 ANOS DEPOIS… do ALTO dos 2013 anos… AUTOR – José Rabaça Gaspar Corroios 2013 AGOSTO Créditos – imgs etc. nos respectivos lugares; imgs capa: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=530580 http://nunoluis.net/wordpress_dev/blog/877/

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DEDICATÓRIA

aos pioneiros de 1881

que depois de explorarem África

decidiram conhecer melhor a sua terra…

como podemos conhecer os outros

se não nos conhecemos a nós próprios

ou temos medo de nos conhecermos!…

aos caminheiros do século XXI…

que continuam a trilhar os TRILHOS

da SERRA…

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APRESENTAÇÃO

desde 1991, que, para mim

seria o número mágico que casava com 1881 tentei organizar uma

VISITA / ESTUDO / HOMENAGEM aos exploradores da Sociedade de Geografia de Lisboa que desde 1875 procuraram manter-se na vanguarda

das grandes explorações que se faziam pela Europa e manter o espírito de descoberta e conhecimento

que herdámos desde a era de quinhentos com os descobrimentos…

apesar de ter tentado documentar-me

com a aquisição dos boletins e relatórios da expedição de 1881… agora, em 2013… uma tentativa de partilha do conhecimento

para que os ‘pioneiros’ de hoje possam enraizar o FUTURO…

«O desconhecimento da Serra da Estrela era tão grande que

mereceu exploração e estudo, qual África no meio de Portugal.»

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ÍNDICE

Conteúdo

Expedição Científica de 1881 – dados base ............. 11

A SERRA DA ESTRELA EM NÚMEROS ....................... 16

Nota Histórico-Artística - Catarina Oliveira - IPPAR/2006 ............................................................ 17

DISPOSIÇÕES REGULAMENTARES ........................... 19

BOLETIM SOCIEDADE de GEOGRAPHIA de LISBOA – nº 7 e 8 - 1881 ............................................................ 25

EXPEDIÇÃO SCIENTIFICA Á SERRA DA ESTRELLA EM1881 - PESSOAL E ORGANIZAÇÃO – SECÇÕES – SUB-SECÇÕES… ....................................................... 44

SECÇÃO DE AGRONOMIA E SYLVICULTURA ......... 44

SECÇÃO DE ANTHROPOLOGIA ............................. 45

SECÇÃO DE ARCHEOLOGIA .................................. 46

SECÇÃO DE BOTANICA ........................................ 48

SECÇÃO DE CHIMICA........................................... 50

SECÇÃO DE ETHNOGRAPHIA ............................... 51

SECÇAO DE GEOLOGIA ........................................ 52

SECÇÃO DE HYDROGRPHIA ................................. 53

SUB-SECÇÃO – LEVANTAMENTO E SONDAGEM DAS LAGOAS .............................................................. 53

SECÇÃO DE MEDICINA ........................................ 54

SUB-SECÇÃO DE HYDROLOGIA MINERO-MEDICINAL ........................................................................... 55

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SUB-SECÇÃO DE OPHTHALMOLOGIA ................... 56

SECÇÃO DE METEOROLOGIA ............................... 57

SECÇÃO DE PHOTOGRAPHIA ............................... 59

SECÇÃO DE ZOOLOGIA ........................................ 60

SECÇÃO DE ZOOTECHNIA .................................... 61

SECÇÕES AUXILIARES* ............................................ 62

TOPOGRAPHIA .................................................... 62

ACAMPAMENTO ................................................. 62

COMMISSAO ADMINISTRATIVA DA EXPEDIÇÃO ...... 63

GOMMISSÃO AUXILIAR, DA CIDADE DA GUARDA .... 65

PESSOAL AUXILIAR .............................................. 65

PESSOAL MENOR. ............................................... 66

SERVIÇO DE POLICIA ........................................... 66

A expedição científica à serra da Estrela de 1881 revisitada13 maio 2012 - HELENA GONÇALVES PINTO ............................................................................... 67

A EXPEDIÇÃO de 1881 & SOUSA MARTINS .............. 70

Lenda da Lagoa Escura – por Emanuel..................... 74

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Expedição Científica de 1881 – dados base

OBSERVATÓRIO METEOROLOGICO DA SERRA DA ESTRELLA, INSTALLADO EM 5 DE AGOSTO DE 1881

NUMA BARRACA DE MADEIRA NO ACAMPAMENTO DA EXPEDIÇÃO

TENDO COMO FRONTEITAS A PYRAMIDE DA ESTRELLA, O CÂNTARO GORDO a E, e a

PYRAMIDE DO MALHÃO GROSSO a O Coordenadas geografias são: Latitude N., 40º 20’ 45’’ Longitude E. de Lisboa, 1º 30’ 50’’ Altitude 1:850 metros Em graus decimais: Latitude: 40.34854078928588 Longitude: 1.5133774280548096 Neste ponto fizeram-se estudos de meteorologia n’um período de 15 dias, de 5 a 19 de Agosto de 1881… (CITAÇÃO do Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa, fundada em 1875,

4ª série – Nº 6, Lisboa – Imprensa Nacional 1883)

(Img digitalizada do relatório de meteorologia nos ANEXOS pós p. 77)

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http://www.geocaching.com/seek/cache_details.aspx?guid=bdaaf63c-4bb9-435f-9312-54257e2bead3 «Perto das coordenadas da cache vai encontrar“ (…) um local com um marco, conhecido por Cume (1858 m), também conhecido por Planalto da Expedição, onde acampou, no Verão de 1881, o grupo de cientistas da Sociedade de Geographia de Lisboa liderado por Hermenegildo Capelo. O desconhecimento da Serra da Estrela era tão grande que mereceu exploração e estudo, qual África no meio de Portugal.

«Até ao fim do século XIX, uma ascensão ao cume da serra era ainda uma arrojada aventura. (...) A Lagoa Escura, a uma altitude de 1560 metros, assim chamada por serem escuros os seus contrafortes graníticos, tem uma água frigidíssima, mesmo no Verão, o que poderá explicar acidentes ocorridos a afoitos nadadores, e donde terá resultado a lenda de que ninguém lá

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podia nadar, sob pena de ser puxado por mão invisível. Anexa às lagoas Comprida e Escura está a ridícula lenda do Olho Marinho, (...) segundo a qual essas lagoas comunicavam com o mar, e quando havia tempestade essas lagoas subiam e desciam como as marés, e era frequente lá aparecerem cascos de navios naufragados... Verificou-se de facto uma variação de nível das águas das lagoas, mas foi atribuída ao degelo, e os cascos de navios não são mais que troços de zimbro arrastados pela corrente. (...)

«Só com a referida Expedição Científica, de 1881, se conjuraram as lendas e mistérios da Serra da Estrela. Todavia, ainda há pouco mais de cinquenta anos, sem qualquer estrada para os Cântaros e para o planalto da Torre, uma ascensão ao cimo da serra tinha o sabor da aventura e da descoberta, pois só podia ser feita a pé por veredas, através de penhascos ladeando precipícios.»

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Textos adaptados das páginas web da Região de Turismo da Serra da Estrela

http://trilhosdeideias.blogspot.pt/2013/03/travessia-do-planalto-central.html

«Um dos pontos de interesse a visitar nesta travessia não podia deixar de ser a Nave da Mestra (1.650m), com a respectiva passagem pela mítica “Talisca”, a fractura no enorme bloco granítico sobranceiro à “Casa do Juíz”. Outro dos locais mais simbólicos por onde passaremos será o Cume (1.858m), actualmente assinalado por um vértice geodésico e onde em 1881 acampou o grupo de investigadores da Sociedade de Geografia de Lisboa na sua Expedição Científica à Serra da Estrela.

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A SERRA DA ESTRELA EM NÚMEROS

In - http://www.casadopastor.com/pt/index.php/pt/a-serra-da-estrela

- 1881 foi a data da 1ª Expedição Científica à Serra da Estrela, organizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa; - 100 pessoas entre cientistas, administrativos, auxiliares, cozinheiros e policias e outros fizeram parte desta expedição, entre os quais alguns ilustres como o Dr. Sousa Martins e o Prof. Marrecas Ferreira; - 3 de Agosto foi o dia da chegada ao acampamento, perto de Manteigas; - 12 foram as Secções que fizeram parte da expedição: Antropologia, Agronomia, Arqueologia, Química, Botânica, Hidrologia, Medicina, Meteorologia, Fotografia, Zoologia, Etnografia e Geologia; - 40 Espécies de mamíferos, 100 de aves, 30 de répteis, 30 de peixes e anfíbios e 8 tipos de peixes e inúmeras espécies de invertebrados compõem a fauna da região; - 5 Espécies, 2 subespécies e 7 formas estritamente endémicas, de entre inúmeras existentes da flora do Parque Natural. - 1976 foi o ano em que foi criado o Parque Natural da Serra da Estrela - 101.060 ha é a sua dimensão - 27 são os habitats naturais registados - 900 a 2.500mm é a precipitação média anual - 1/3 da água consumida em Portugal provem dos rios que nascem na Serra da Estrela: Alva, Mondego e Zêzere

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Nota Histórico-Artística - Catarina Oliveira - IPPAR/2006 http://www.igespar.pt/en/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/71598/

«A primeira expedição à zona montanhosa da Serra da Estrela foi realizada no ano de 1881, organizada pela Sociedade de Geografia e integrando diversos membros ilustres desta associação, nomeadamente o Dr. Martins Sarmento e o médico Sousa Martins. O objectivo da expedição era realizar uma exploração de bases científicas de uma das áreas mais inóspitas do país, até então pouco conhecida, tomando conhecimento das "riquezas" aí existentes, que se pensavam estar ligadas ao povo Lusitano, que as lendas populares afirmavam terem vivido naquela região resistindo ao domínio romano. Para além deste estudo, foi em consequência da expedição de 1881 que o Dr. Sousa Martins chamou a atenção dos meios científicos de então para as excelentes condições climáticas que aquela região oferecia ao tratamento da tuberculose. Foi a partir desta data que o reputado médico defendeu a edificação de várias casas de saúde na zona da Guarda. Terá sido depois de 1889 que foi edificado, na estrada junto ao antigo sanatório das Penhas da Saúde, um marco de pedra quadrangular, de grandes dimensões, coroado por pináculos e gravado em cada uma das faces com inscrições alusivas à Expedição da Sociedade de Geografia e às várias etapas que antecederam a edificação do sanatório, referindo a fundação da primeira casa de saúde para tuberculosos. Nas respectivas inscrições pode ler-se:

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"Anno de 1881 Expedição da Sociedade de Geographia e Serra da Es- trella, presi- dida pelo Dr.

Souza Martins e proposta

do mesmo pa- ra creação de

Sanatórios / nos planaltos." "Anno de 1884 Visita de Emy gdio Navarro à Serra publi- cando o livro Quatro dias na Serra da

Estrella."; "Anno de 1889 Inauguração da primeira

casa de saude para tubercu- losos em Por- tugal devido aos esforços extraordina- rios e perse- verantes de

Cezar Henriques.

Catarina Oliveira

IPPAR/2006

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SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE LISBOA

EXPEDIÇÃO SCIENTIFICA Á SERRA DA ESTRELLA EM AGOSTO DE 1881

PROMOVIDA E ORGANISADA PELA SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE LISBOA

E AUXILIADA PELO GOVERNO E PELA JUNTA GERAL DO DISTRICTO DA GUARDA

DISPOSIÇÕES REGULAMENTARES

LISBOA CASA DA SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA

89 – Rua do Alecrim - 89 1881

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EXPEDIÇÃO SCIENTIFICA Á SERRA DA ESTRELLA

EM AGOSTO DE 1881

PROMOVIDA E ORGANIZADA PELA SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE LISBOA E AUXILIADA PELO GOVERNO E PELA JUNTA GERAL DO DISTRICTO DA GUARDA

DISPOSIÇÕES REGULAMENTARES

Lisboa

CASA DA SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA Rua do alecrim – 89

1881

(Capa do folheto de 6 páginas formato do Boletim da sociedade próximo do A5,

que se trancreve…)

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1.° A commissão organisadora da expedição scientifica á Serra da Estrella, em conformidade com os poderes que lhe foram conferidos, dirige administrativamente todos os trabalhos. 2.º Fazem parte da expedição os socios da Sociedade, que expontaneamente se inscreveram, e os que pelas suas especialidades ou aptidões hajam sido convidados pela commissão organisadora. 3.º Os serviços prestados pelos expedicionarios são gratuitos, e representam, somente a sua dedicação á. sciencia, ao paiz e á Sociedade de Greographia. 4.º A expedição divide-se nas seguintes secções: a) secções de estudo: de agronomia e sylvicultura de anthropologia. de archeologia de botanica de ethnographia de geologia de hydrographia. (estudo das torrentcs) de hydrologia minero-medicinal de medicina de meteorologia de zoologia de zootechnia b) secções auxiliares : de trabalhos chimicos de trabalhos photographicos c) secções de serviço: de serviço medico de soccorros aos membros da expedição que d'elles careçam;

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de serviço administrativo de secretaria, thesouraria, transportes, correio, rancho, etc. ii 5.° Os membros de cada secção escolherão entre si um chefe, por intermedio do qual será requisitado á commissão organisadora tudo o que fôr necessario aos trabalhos da respectiva secção. 6.° A secção que, para os seus estudos, necessite de informações locaes, indicará á commissão organisadora o nome de uma ou os de duas pessoas residentes no districto da Guarda, que devam ser convidadas a incorporar-se na 'expedição. 7.° Os trabalhos scientificos das secções são da responsabilidade individual e collectiva dos seus membros. 8.° Estes trabalhos pertencem, inteiramente, á Sociedade de Geographia, e no praso de seis mezes, contados do regresso da expedição, será enviado á commissão organisadora por cada uma das secções, um relatorio geral ou relatorios parciaes, a fim de que, reunidos todos, possam ser apresentados á Sociedade. § unico. Antes d`esta apresentação nenhum expedicionario poderá fazer uso publico dos seus estudos e trabalhos. 9.° As secções prestarão umas as outras os subsídios que possam fornecer, e que a correlação que exista entre os seus trabalhos, torne indispensaveis. 10.° O serviço medico de soccorros aos expedicionários fica a cargo dos clínicos que fazem parte da expedição. § unico. A superintendencia da ambulancia pertence ao chefe da secção de estudos de medicina. 11.° O serviço administrativo fica a cargo da comissão

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organisadora, a qual será, auxiliada nos seus trabalhos pelos expedicionarios que a queiram coadjuvar. 12.º Para as secções em que, pela sua natureza, não possam dispensar-se alguns empregados auxiliares, serão elles requisitados ás estações ofliciaes a que pertençam, ou então remunerados pelo cofre da expediçao. 13.° São, para todos os effeitos, considerados membros da expedição scientifica á Serra da Estrella: os que fazem parte do pessoal superior da expedição topographica auxiliar, que a instancias da Sociedade de Geograpliia, foi ali mandada pelo Governo; os que constituem o pessoal superior da direcção de obras publicas do districto da Guarda, á qual foi tambem ordenado pelo Governo que auxiliasse os trabalhos projectados pela Sociedade; e os que formam a commissão auxiliar da commissão organisadora, com séde na Guarda. 14.º São convidados a fazer parte da expedição e a incorporar-se nas secções que entenderem, os illustres exploradores africanos, socios da Sociedade, srs. Alexandre de Serpa Pinto, Hermenegildo de Brito Capello e Roberto Ivens. 15.º As secções que, pela natureza dos seus estudos, poderem fornecer um boletim diario, aprcsental o-hão á commissão organisadora, que d'elle tirará tres copias c as enviará ao Governo, á Commissão executiva da junta geral do districto da Guarda e á. Sociedade de Geographia de Lisboa. §1.° As secções que, não podendo fazer boletim diario, registem eventualmente qualquer facto notavel de extraordinaria importancia, procederão, querendo, do mesmo modo. § 2.° Haverá tambem um boletim diario do estado sanitario do

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pessoal da expedição. 16.° No acampamento da cumeada da Serra e nas jornadas, seguir-se-ha, tanto quanto possivel, um regimen militar, a fim de que a regularidade dos serviços e a boa distribuição do tempo deem garantias dos resultados da expedição. 17.° As horas das refeições serão previamente fixadas; e os membros das secções que saindo de manhã e tendo de afastar-se muito do acampamento, por assim o exigirem as investigações scientificas, só possam regressar á noite prevenirão com 24 horas de antecedencia a commissão organisadora, a fim de que lhes seja fornecida convenientemente a alimentação para esse dia. 18.° Todas as requisições á commissão organisadora, serão dirigidas ao secretario d'esta commissão. 19.° Os avisos que, a bem do serviço, a mesma comissão entenda dever dirigir aos expedicionarios, serão affixados no acampamento, em logar apropriado, para que cheguem ao conhecimento de todos.

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BOLETIM SOCIEDADE de GEOGRAPHIA de LISBOA – nº 7 e 8 - 1881

2ª SERIE - nºS 7 e 8

Lisboa Imprensa Nacional

1881 p. 468

IV

NOTICIÁRIO (1 DE Agosto de 1881)

Exploração scientifica da Serra da Estrella.--Partiu de Lisboa no dia 1 de agosto, ás oito horas e quinze minutos da noite, o corpo principal da expedição de exploração scientifica enviada pela nossa Sociedade ás altas regiões da Serra da Estrella.

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O sr. presidente do conselho de ministros e ministro do reino1, a direcção da Sociedade2, muitos dos nossos consocios, varios professores das escolas superiores de Lisboa, jornalistas, membros das sociedades doutas, negociantes, etc., concorreram á, gare da estação central dos caminhos de ferro do norte e leste a saudar os nossos expedicionários. Á saída do comboio que os conduziu á Mealliada, a multidão enorme que enchia a gare soltou tres enthusiasticos hurrahs.

1 [António Rodrigues Sampaio (1806–1882) (foi 1º ministro de 25 de março de

1881 a 14 de novembro de 1881 - regenerador) (foi substituído por António Maria de Fontes Pereira de Melo)] 2 «José Tomás de Sousa Martins (Alhandra, 7 de Março de 1843 — Alhandra, 18

de Agosto de 1897) foi um médico e professor catedrático da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, antecessora da Faculdade de Medicina de Lisboa.» «O seu percurso académico e profissional levou-o ao cargo de secretário e bibliotecário da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, catedrático de Patologia Geral, Semiologia e História da Medicina, presidente da Comissão Executiva e da Secção de Medicina da expedição científica à Serra da Estrela organizada em 1881 pela Sociedade de Geografia de Lisboa e director efectivo da Enfermaria de São Miguel no Hospital de São José.»

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Para substituir os srs. conde de Ficalho, presidente de comissão organisadora e executiva da expedição, emquanto elle não regressa de França, e durante a doença do vice-presidente o sr. João de Brito Capello

3, foi nomeado o illustre explorador

africanista, sr. Hermenegildo de Brito Capello, que tomou o commando da expedição no acto da partida. Do Diario de noticias transcrevemos em seguida a larga noticia que elle publicou sobre o assumpto.

«A expedição de exploração scientifica da Serra da Estrella, que parte na segunda feira de Lisboa, devendo receber em Coimbra e na Mealhada, alguns dos seus membros, é um d’estes factos, quo, pouco numerosos ainda, infelizmente, representam no meio do embate das pequenas paixões e obcecações politicas da nossa vida publica, e das blagues e impertinencias de certo espirito critico que procura systematicamente deprimir o paiz, que nós vamos caminhando, embora. com lentidão, para uma existencia de mais levantadas preocupações, e que há hoje um nucleo de dedicações que procura acompanhar o grande movimento sereno e productivo de estudo e de sciencia que assignala as sociedades modernas. Em toda a sua modestia, esta iniciação das excursões scientificas, em si, e pela forma notavelmente brilhante e dedicada, por que foi organisada, tem uma bella significação para nós, e felicitâmo-nos deveras que já os governos, as reparticções publicas, os particulares, prestem a sua adhesão e o seu patrocinio a estes trabalhos, pois que na verdade a Socidade de Geogrphia póde gabar-se de ter conseguido os melhores e mais gonerosos auxilios, modestissimos, de certo, ainda, sempre que tinham de assumir a forma pecuniária, mas emfim prestados com boa cara, o que é já um grande progresso. A região que vai começar-se a explorar

3 João Carlos de Brito Capelo, vice-almirante da Marinha e engenheiro

hidrográfico (1831-1891) (irmão de Hermenegildo Carlos de Brito Capelo)

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é, por todos os titulos, interessantíssima e mais de uma vez tem attrahido as attenções dos sabios estrangeiros. Ainda modernamente um allemão, o sr. Rivoli

4, fez alli importantes

estudos. Os levantamentos topográficos das cabeceiras dos valles do Mondego, Alva e Zezere, e da planura da serra têem um grande interesse pratico para as regiões adjacentes, e representam um tirocinio muito util para o distincto pessoal que ha mais de um mez anda n’esses trabalhos em missão preparatoria. Um dos fina da expedição é estudar o estabelecimento do um posto meteorologico na região dos Cantaros, que pela altitude, circumstancia, hoje muito procurada, ficaria sendo o terceiro ou quarto posto d’este genero, na Europa. Os estudos biologicos, agrícolas, silvicolas, botanicos, geologicos, etc., que se projectan, podem ter igualmente um considerável alcance para o futuro d'aquellas regiões, alem da sua immediata importancia scientifica.» «Foi em sessão do 15 de novembro do ultimo anno (1880) que a Sociedade approvou a prosta assignada pelos srs, engenheiro Marrecas Ferreira e Luciano Cordeiro, para o estudo geral, por expedições exploradoras, competentemente constituidas, das altas regiões da Serra da Estrella, abrangendo a geologia, fauna e flora, relevo orographico, formação das torrentes e sua influencia nos valles adjacentes, estabelecimento de um posto moteorologico, sondagem das lagoas, temperatura e densidade das suas aguas, condições climatericas, etc., declarando o segundo signatario que do primeiro era a excellente idéa e iniciativa. Formou-se a commissão organizadora por nomeação da mesa ficando presidente o sr. Conde de Ficalho, vice-presidente o sr. Capello, e secretario o sr. Pequito, a cuja activadade intelligente e dedicadissima muito se deve, e começaram as respectivas diligencias. Daremos um breve summario dos programas scientificos cuja publicação foi restricta aos expedicionários

4 Calculou o sr. Rivoli que, na serra da Estrella, a temperatura média decresce

0°,65 cent, por cada 100 metros de elevação.

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O da secção de agronomia e sylvicultura foi elaborado pelo sr. professor Batalha Reis

5. Estabelece como bases o estudo do

clima da geologia, da fauna, da flora e da hydrographia da serra para as investigações agronomicas e florestaes, pede a determinação da parte schistosa em relação á inclinação da sua stratiticação, da profundidade das camadas araveis e da sua humidade, estudo dos valles e natureza e accumulação dos materiaes agrologicos; desenvolvimento e vigor da vegetação, exame das especies de gramíneas, medição e sondagem das arvores isoladas nas grandes altitudes, flora arbustiva, essencias florestaes, arvoredos plantados, fetos, zinbraes, juncaes humidos, prados complexos, industrias agricolas, estradas, meios de transporte, etc. O da secção de anthropologia, é do sr. dr. Feijão

6, e trata das

investigações a fazer em relação a caracteres, tradições e typos anthropologicos. O de arqueologia, elaborado pelo sr. dr. Martins Sarmento7, o illustre explorador da Citania, pergunta pela existencia de estações pre-historicas, denunciados por denominações locativas ou por alguns restos de forticações (crastos, etc., e indaga se há antas, antelas, etc.

5 Jaime Batalha Reis (Lisboa, 24 de Dezembro de 1847 — 1935) foi um

agrónomo, diplomata, geógrafo e publicista. Foi uma das figuras eminentes da Geração de 70 e companheiro mais próximo de Antero de Quental nos tempos do Cenáculo da Travessa do Guarda-Mor em Lisboa (1868-1871). Acompanhou de perto todo o percurso dos Vencidos da Vida com quem se relacionou. Colaborou na revista Revista do Conservatório Real de Lisboa (1902) 6 FRANCISCO AUGUSTO DE OLIVEIRA FEIJÃO - Nascido em Almada a 24 de

Novembro de 1850 - Falecido a 11 de Novembro de 1918 7 Francisco Martins Sarmento - ETNÓLOGO E ARQUEÓLOGO - GLORIOSO

EXUMADOR DA CITÂNIA DE BRITEIROS. – Relatório de Arqueologia, ver em: http://www.csarmento.uminho.pt/docs/ndat/rg/RG100_10.pdf

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O da botânica, é do sr. conde de Ficalho8: indica que o tempo é escasso e a estação má, mas recommenda que se façam herborisações, sendo de crer que se encontrem especies e fórmas ainda não denunciados, indicando o caminho de Gouveia pelo Sabugueiro, do Zezere por Eirado e Unhaes, o de Manteigas e a exploração dos Corregos que passam por Loriga c Alvoco. Aconselho os trabalhos de Filippe C. Martins, Boissier, Hooker, etc., para consulta. «O do secção do ethnographia, é do sr. professor Adolpho Coelho

9: trata das aptidões industriaes , poéticas e artísticas ,

jogos principalmente de rapazes (incluindo uma interessante lista dos mais usados), contos, festas e kalendario populares. «O do secção de geologia, é feito pelo sr. Carlos Ribeiro

10,

recommenda o estudo da forma geral da serra, seu relevo e suas relações geographicas com as de Trancoso, Lapa, Lousã e

8 Francisco Manuel de Melo, 3.° conde de Ficalho - n. 27 de Julho de 1837 - f. 19

de Abril de 1903. - Na 21.ª série do Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, N.º 5, de Maio de 1903, está publicado o elogio do conde de Ficalho, escrito pelo Sr. conde de Arnoso. Neste elogio se mencionam os inéditos deixados pelo ilustre professor. 9 Francisco Adolfo Coelho - (Coimbra, 15-01-1847 - Carcavelos, 09-02-1919)

10 Foi membro de várias sociedades científicas, portuguesas e estrangeiras, e

galardoado com diversas condecorações nacionais e internacionais. Morre em Lisboa a 13 de Novembro de 1882 na casa em que habitava na Rua do Arco das Amoreiras, nº 83, vítima dos padecimentos hepáticos e cardíacos de que vinha sofrendo. No quadro do Ministério das Obras Públicas, é criada, em 1857, a Comissão Geológica de Portugal, incorporada na Comissão dos Trabalhos Geodésicos. Carlos Ribeiro é então nomeado membro director da Comissão Geológica, cargo que partilha com F. A. Pereira da Costa. A missão da Comissão Geológica era elaborar o mapa geológico de Portugal continental, tarefa difícil dada a exiguidade de meios humanos envolvidos. Devido a dissenções profundas ocorridas na direcção da Comissão Geológica, esta instituição é dissolvida, em Fevereiro de 1868, para ser restabelecida cerca de um ano depois, numa das secções da Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos. Carlos Ribeiro desempenhará o cargo de director da 5ª Secção da Direcção dos trabalhos Geodésicos, Topográficos Hidrográficos e Geológicos do Reino, até à sua morte. Nessa altura, Nery Delgado sucede-lhe na direcção do organismo responsável pelo levantamento geológico, onde permanecerá até à data da sua morte.

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Castello Novo; caracteres physicos e geraes dos valles do Mondego, Zezere e Alba, se ha valleiros importantes, determinação das origens e importancia das lagoas, principalmente da do Paxão, a maior; investigar se ha bermas ou socalcos nos valles, cobertos, por depositos de transporte; se ha indícios do fenómenos diluviaes etc. Ha imiportantes indicações sobre alguns pontos da região que convem estudar. «A secção de hydrographia tem programma elaborado polo sr. engenheiro Adolpho Loureiro

11, que aponta entre varios

problemas o da extinção e regímen artificial das torrentes. «O programma da secção de hydrologia minero-medicinal é do sr. dr. Leonardo Torres

12, e refere-se ao numero das nascentes,

11

Adolfo F. Loureiro nasceu a 12 de Dezembro de 1836 na freguesia de São Bartolomeu, em Coimbra, filho de Felisberto de Sousa Ferreira e de D. Ana Augusta de Sequeira. Notas:- 02.11.1880 – vogal da Comissão encarregada do plano geral das obras para melhorar o regime do Tejo e beneficiar os seus campos agrícolas; - 13.10.1881 – vogal da Comissão encarregada de se pronunciar sobre o acabamento e ampliação do porto de Ponta Delgada. 12

Subsecção de Hidrologia minero-medicinal da Secção de Medicina (Relatório dos Drs. Leonardo Torres e Jacinto Augusto Medina); - Subsecção de «Oftalmologia da Secção de Medicina (Relatórios do Dr. Fonseca Júnior)… - «Sousa Martins foi nomeado chefe da Secção de Medecina, coadjuvado pelo Dr. Jacinto Augusto Medina, facultativo do Hospital da Marinha e pelo Dr. José António Serrano, professor da Escola Médico-Cirúrgica Dividia-se em 2 sub-secções esta Secção de Medecina: sub-secção de Hydrologia - Minero Medicinal, chefiada pelo Dr. Leonardo Manuel Leão da Costa Torres, e sub-secção de Ophtalmologia chefiada pelo Dr. Francisco da Fonseca, Médico Oculista. No entanto, apesar destas duas sub-secções, o grande propósito da secção de Medicina da Expedição foi - afirmou-o Emídio Navarro: “Estudar a applicação das excepcionais altitudes d’essa serra ao tratamento de certas doenças pulmonares”.(12) … «O Dr. Leonardo Manuel da Costa Torres apresenta no final esta conclusão: “Careciam de reconhecimento analytico as águas thermaes de Manteigas e Unhais da Serra. Fiz-lhes esse reconhecimento indispensável e o primeiro, e d’elle resultou a sua classificação que é esta: águas thermaes alcalinas silico - sulphureas”.(14) – ver: http://www.historiadamedicina.ubi.pt/cadernos_medicina/vol09.pdf

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sua thermalidade, informações clinicas, e analyse das aguas na origem o nos laboratórios. «A secção de medicina tem o seu programma feito pelo sr. professor dr. Sousa Martins

13, e trata das observações

respectivas á pathologia das altitudes, á climatologia medica e á flora pharmceutica. «O programma da secção de metereologia é do sr. João Capello

14, e estabelece as observações directas e comparativas a

fazer, correspondência com os observatórios de Coimbra e da Guada, etc. «O da secção de zoologia é feito pelo sr. dr. Bocage

15, e

recommenda particularmente o estudo de certos grupos zoologicos e a investigação das cavernas que acaso existam.

13

José Tomás de Sousa Martins (Alhandra, 7 de Março de 1843 — Alhandra, 18 de Agosto de 1897) foi um médico e professor catedrático da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, antecessora da Faculdade de Medicina de Lisboa. … «Ganhou enorme prestígio na luta contra a tuberculose, que então atingia proporções epidémicas em Lisboa, que reforçou ao liderar a expedição científica à Serra da Estrela e ao defender a construção naquelas montanhas de sanatórios destinados à climoterapia daquela doença. A expedição científica à Serra da Estrela foi organizada sob a égide da Sociedade de Geografia de Lisboa, de que Sousa Martins era sócio fundador e vogal do Conselho Central, reunindo em Agosto de 1881 uma plêiade de cientistas e intelectuais que estudaram aquela região portuguesa nas suas vertentes geográfica, meteorológica e antropológica num esforço sem precedentes de exploração sistemática do território português. O interesse de Sousa Martins na realização da expedição prendia-se com a necessidade de conhecer a meteorologia e as condições sanitárias da região dado a importância então atribuída ao clima no tratamento da tuberculose pulmonar. Essa necessidade levou a que em conjunto com Brito Capelo tivesse requerido ao Governo, em 1882, a instalação de um posto meteorológico na Serra.» http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_tom%C3%A1s_de_sousa_martins 14

João Carlos de Brito Capelo (Lisboa, 8 de Março de 1831 — Lisboa, 2 de Maio de 1901)… Era irmão do explorador Hermenegildo Capelo. 15

José Vicente Barbosa du Bocage (Funchal, 1823 — Lisboa, 1907) foi um zoólogo e político português. Foi curador de zoologia do Museu de História

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«O programma da secção de zootechnia é do sr. professor J. S. Eleuterio de Sousa (?), e refere-se ás raças que habitam a serra, com solar ou de creação, ali; estantes, transhumantes e emigrantes, regimen, pathologia predominante, etc. Como se vê, é um largo e serio plano que apenas poderá considerar-se começado este anno, em relação a algumas das secções que ali terão de voltar. «No anno proximo conta-se que a Sociedade poderá inaugurar igual trabalho em relação ao Gerez, etc. «E todas as estações officiaes e em todos os particulares a que teve de dirigir-se, a direcção e a comissão organisadora da expedição da Sociedade de Geographia encontrou felizmente o melhor acolhimento e auxilio. A companhia dos caminhos-de-ferro do norte e leste, por exemplo, offereceu o transporte da expedição com uma reducção de 50 por cento nas tarifas, e transportou o enorme material pela grande velocidade com reducção igualmente importante sobre os preços correspondentes á pequena velocidadde. A companhia dos caminhos do ferro da Beira, representada pelo sr. Bartissol, prestou-se bisarramente a transportar de graça a expedição de Santa Comba Dão a Celorico. Fazendo apressar os trabalhos para que ali podessem chegar no dia 2 os seus wagons. E do uma e outra, tanto as direcções, como o possonl de serviço, cavalheirosamente prestaram ainda outros auxilios á comissão e á Sociedade no bom andamento do expediente respectivo. Nós que já aqui citámos com o merecido louvor o bom exemplo dado pela junta districtal da Guarda, votando unanimemente o subsidio de réis 300.000 á expedição, estimâmos registar mais

Natural de Lisboa. Publicou extensa obra sobre mamíferos, aves e peixes. Na década de 1880 foi Ministro da Marinha e mais tarde Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Por decreto governamental de 10 de Abril de 1905 a secção de zoologia do Museu Nacional de Lisboa foi nomeada como "Museu José Vicente Barbosa du Bocage" em sua honra. José Vicente era primo em segundo grau do poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805).

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estes factos, além de muitos que de certo não poderemos noticiar e de outros que noticiaremos ainda. Voltando porém á ordem natural da nossa noticia, digamos de quem é, como é formada a expedição, que é isso a melhor garantia do seu exito. «Ao mesmo tempo que a mesa da Sociedade nomeava a comissão executiva e promovia que outra, auxiliar d’esta, se formasse na Guarda, solicitava el obtinha. do sr. ministro das obras publicas que marchasse uma expedição preparatoria de trabalhos topographicos para os valles do Mondego, Alva e Zezere. «Eis a expedição au complet: «Commissão executiva. -- Presidente: conde de Ficalho; vice-presidente, João Capello; secretario, R. A. Pequito; thesoureiro, Eduardo Coelho; vogaes: dr. F. A.,do Oliveira Feijão, L. F. Marrecas Ferreira e Nuno de Freitas Queriol16. «Commíssäo auxiliar da Guarda. - Presidente: Francisco Antonio Patricio17; secretario, engenheiro F. P. Mousinho de Albuquerque; vogaes: A. C. Franco de Castro, Manuel Emydio da Silva, conde de Tavarede, J. A Barbosa Colen18, padre J. A. M. da Cunha, A da Costa Faro, dr. J. A. S. Ribeiro de Castro, dr. J. d'Elvas Leitão, H. Pinto Bravo, M. Lopes de Sousa, N. A. de Almeida Campos, J. G. dos Santos, A. B. B. Portugal da Silveira.

16 Nuno Freitas Queriol - Lisboa, Lisboa 20.11.1853 + 08.12.1924 17

Francisco António Patrício, que viveu entre 1845 e 1934 - CIDADÃO DA GUARDA - foi Comerciante, Industrial, Presidente da Câmara Municipal da Guarda, Procurador da Junta Geral do Distrito, Provedor da Misericórdia, Governador Civil e Juiz de Direito substituto. 18

José Barbosa Colen, 1849-1917… mais conhecido por Barbosa Colen, foi um jornalista, polemista e biógrafo português, autor de obras e escritos históricos... Colaborou com Emídio Navarro em diversos projectos jornalísticos, tendo sido seu sucessor na direcção do jornal Novidades.

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«Expedição topographica auxiliar. --Direcção: engenheiro A. X. de Almeida Pinheiro. Secção central: engenheiro A. C; Paes do Faria, engenheiro Folque, engenheiro L. da S. Mousinho de Albuquerque. Conductores chefes de trabalhos: A. H. de Almeida Castello Branco, A. M. Beltrão, A. Marques da Silva. 1ª' secção (Zezere), conductor, chefe de secção, Bartholomeu Valladas. 2.ª secção (Mondego), conductor, chefe de secção, C. Agostinho Costa. Conductor chefe de trabalhos, F. Sabino da Costa. 3.ª secção (Alva), conductor, chefe de secção, B. da Costa Roxo; conductor chefe dos trabalhos, E. F. de Mello Garrido. «Falta acrescentar aqui o pessoal superior da direcção das obras publicas da Guarda que foi aggregado á expedição e que como o anterior, está já ha algumas semanas trabalhando assiduamente na serra. «Exploração geral – Secção de agronomia, agronomo Antonio Lopes Mendes19, professor Jayme Batalha Reis20, engenheiro florestal Pedro Roberto da Cunha e Silva; -- secção de anthropologia, professores dr. F. A. de Oliveira. Feijão, dr. José J. da Silva Amado; secção de arqueologia Francisco Martins Sarmento21 (Guimarães), Joaquim de Vasconcellos (Porto), Gabriel Pereira22 (Evora); secção de botanica: professores conde

19

ANTÓNIO LOPES MENDES - Agrónomo e médico-veterinário. Nasceu em Vila Real em 1835. Viajou muito pelo mundo (Índia, Brasil, Peru), integrado em missões científicas. Destas missões deixou publicado abundante material escrito e também pictórico, pois era também um exímio desenhador. 20

Jaime Batalha Reis nasce a 24 de Dezembro de 1847, tendo acabado o curso de Agronomia e Engenharia Florestal, no Instituto Geral de Agricultura de Lisboa, com 19 anos de idade. …membro efectivo da Sociedade de Geografia… morre na Quinta da Viscondessa, no Turcifal, em 1935. 21

Francisco Martins de Gouveia Morais Sarmento (Guimarães, 9 de março de 1833 — Guimarães, 9 de agosto de 1899) foi um notável arqueólogo e escritor português. 22

Gabriel Victor do Monte Pereira nasceu em Évora em 1847 e nesta cidade viria a falecer em 1911.

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de Ficalho e dr. J. A. Henriques23 (Coimbra), Jules Daveau24: secção ethnographia: professores F. Adolpho Coelho25 e J. A. S. Raposo; secção de geologia: Carlos Ribeiro

26 e engenheiro J.

Eduardo Albers; secção de hydrographia: engenheiros Adolpho Ferreira. Loureiro, J. Emilio de Sant'Anna Castello Branco e Henrique dos Santos Rosa27; secção de hydrologia minero-medicinal: dr. Leonardo Torres

28; secção de medicina:

professores dr. J. T. de Sousa Martins, e dr. J. A. Serrano e dr. F. Lourenço da Fonseca; secção de meteorologia: João Carlos de Brito Capello, dr. Jacinto Augusto Medina, José Mauricio Vieira; secção de zoologia: professores, dr. J. V. Barbosa du Bocage, dr. Fernando Matoso; secção de zootechnia: professor J. S. Eleuterio de Sousa. Secções auxiliares: de trabalhos chímícos: Antonio Eugenio de Carvalho da Silva Pinto (escola do exercito) e Carl Bonhorst

29

23

Júlio Augusto Henriques - Júlio Augusto Henriques (Arco de Baúlhe (Cabeceiras de Basto), 15 de Janeiro de 1838 — Coimbra, 15 de Janeiro de 1928), mais conhecido por Júlio Henriques, foi um botânico e professor da Universidade de Coimbra, grande impulsionador da introdução dos estudos botânicos em Portugal. Fundou a Sociedade Broteriana e desenvolveu e consolidou o Herbário da Universidade de Coimbra e o Jardim Botânico de Coimbra. – Relatório - http://bibdigital.bot.uc.pt/obras/UCFCTBt-B-76-2-9/UCFCTBt-B-76-2-9_item1/index.html 24

[...] Foi por iniciativa do conde de Ficalho que Jules Daveau veio para Portugal onde viveu de 1876 a 1893, com o encargo de organizar o “arboretum” do Jardim Botânico. (Orlando Ribeiro) - http://www.monblog.ch/jbotanico/?p=200612252222334 25

Francisco Adolfo Coelho (Coimbra, 15 de Janeiro de 1847 — Carcavelos, 9 de Fevereiro de 1919), filólogo, escritor e pedagogo, autodidacta, que foi uma das figuras mais importantes da intelectualidade portuguesa dos finais do século XIX. 26

Carlos Ribeiro (Lapa, Lisboa, 21 de Dezembro de 1813 - Lisboa, 13 de Novembro de 1882) foi um militar, geólogo, professor e político português. 27

Henrique dos Santos Rosa (1850-1925) foi oficial de Engenharia tendo exercido funções, ainda capitão, em 1876, na Direcção de Obras Públicas de Angola onde se manteve até 1881. 28

Leonardo Moreira Leão da Costa Torres - n. 9 de Fevereiro de 1815 - f. 9 de Abril de 1894 O Dr. Leonardo Torres foi um doa sócios mais prestantes da Sociedade de Geografia de Lisboa; colaborou em diversas publicações, principalmente em assuntos económicos e sociais. 29

« Carl von Bonhorst (Wiesbaden, ? – Lisboa, 1918)... Alemão, assistente de R. Fresenius no seu laboratório em Wiesbaden, estava em Portugal desde a guerra

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(instituto industrial): de trabalhos photograficos: Frederico Augusto Torres, e Alberto J. de Brito e Cunha, officiaes do exercito; secção de serviço:- de serviço medico: os clínicos que fazem parte da' expedição, presididos pelo chefe da secção de medicina; de serviço administrativo: professor R. A. Pequito, Eduardo Coelho, professor E. H. Xavier Nogueira, capitão José Estevão de Moraes Sarmento

30, engenheiro L. F. Marrecas

Ferreira, guarde livros M. F. de Oliveira Feijão. Por homenagem especial foram convidados a encorporar-se nas secções, que escolherem os srs. Ilustres exploradores africanos, A. A. de Serpa Pinto, H. de Brito Capello e Roberto Ivens, e bem assim: na secção de agronomía: o agronomo do districto da Guarda; na secção da zootechnía: o intendente de pecuria do mesmo districto. Pessoal auxiliar: nas secções de anthropologia, geologia e archeologia: um chefe de trabalhos da repartição geológica; na secção de botanica: tres trabalhados dos jardins botânicos da universidade e da escola polytechnica de Lisboa; no secção de geologia o conductor de minas Alfredo Moraes Carvalho: na secção de medicina, o quartanista Alvaro da Fonseca e o chefe de trabalhos Morgado, da escola medica; na secção de meteorologia: o observador J. A. Mendes e Silva; secção de zoologia, um preparador; secção de trabalhos chimicos: um serventuario; secção de serviço administrativo, o conductor F. de P. dos Santos Rodrigues, da secretaria da Sociedade. «Alguns dos cavalheiros citados, como o sr. dr. Bocage, C. Ribeiro, etc., não vão á Serra por íncommodo de saúde, por

franco-prussiana, como assistente de Química prática no Laboratório de Química do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa «…we find the German Carl von Bonhorst (?-1918), previous assistant to Remegius Fresenius who occupied right from the start the position of assistant created in 1872 by António Augusto de Aguiar in the Chemistry laboratory at the Industrial (and now) Commercial Institute of Lisbon. 30

José Estêvão de Morais Sarmento - Lisboa, 12 de Outubro de 1843 - Lisboa, 14 de Fevereiro de 1930), foi um militar, Ministro da Guerra e escritor militar português.

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terem de se ausentar do reino, etc., mas prestarão posteriormente todo o auxilio do seu estudo de gabinete. Segundo o respectivo regulamento, a commissão executiva representa para todos os effeitos a direcção social e dirige administrativamente todos os trabalhos. Os serviços prestados pelos expedicionarios são gratuitos (salvo alguns do pessoal subalterno) e representam a sua dedicação á sciencia., ao paiz e á Sociedade de Geographia, de que são socios. Os trabalhos scientificos são da responsabilidade individual e collectiva. dos membros das respectivas secções, pertencem inteiramente á Sociedade, e no praso de seis meses serão enviados á commissão executiva em relatorio ou relatórios geraes e parciaes, sem que antes d'isto nenhum expedicionario possa fazer uso publico d`elles e dos correspondentes estudos, o que é muito justo e regular e deve ser estabelecido para todas as expedições scientíficas, de futuro, e o que melhor accentua ainda a dedicação d'este grupo de homens benemeritos que vão servir a sciencia, o paiz e a Sociedade a que pertencem, alguns com serios sacrificios dos seus interesses particulares. As secções prestar-se-hão mutuamente todo o auxilio, e aquellas que pela natureza dos seus estudos possam fornecer um boletim diario, apresental-o-hão para ser enviado ao governo,á junta geral da Guarda e á Sociedade, que o comunicará á imprensa. Todos os jornais do districto da Guarda foram convidados a enviar os seus repórteres á expedição. No acampamento, excursões, alimentação, etc., seguir-se-ha, tanto quanto possivel, um regimen rigorosamente militar. Que os gastronomos, se alguns vão, não se criem illusões. Hão de contentar-se com um singelo rancho, e rações, a horas determinadas, salvo as indicações e conveniencias do estudo: ha as classicas marmitas e cantinas. Um cozinheiro foi contratado em Lisboa e tres ajudantes na Guarda. Haverá. alvorada e silencio a toque de corneta. Cada qual levará os objectos de uso pessoal: talher, tabaco, bordão, etc. Dois grandes abarracamentos com as necessarias macas e colchões de bordo, e algumas barracas de campanha, constituem o

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alojamento., A cada expedicionario serão distribuidas duas mantas. Ha dias, com o bello calor, que tem feito cá por baixo, a maxima e mínima temperatura na cumiada da Serra eram 15° e 4°. Ha, porém, differenças maiores. «Sentimos não poder dar ainda a lista, muito extensa dos apparelhos e instrumentos de observação e de estudo, de que vae munido a expedição. Sabemos porém, que n'esta como nas mais cousas, ella foi cuidadosamente organisada e preparada. Entre os instrumentos com que trabalha a secção topográfica, ouvimos que ha um omnimetro de Eckold, construido pelos sr. Elliot Brothers, de Londres, expressamente adquirido por esta ocasião. Este bello instrumento, que exerce simultaneamente as funcções de theodolito, nivel e cadeia, vem descripto por um dos expeclicionarios no ultimo numero do exeellente jornal de engenharia, O construtor. A secção de meteorologia leva um material completo: thermometros funda, de maxima e minima, etc.; barometros Gay Lussac, psychrometros, hypsometros, thermographo Redier, actinometro de Marie Davy, barographo Bedier, anemometro de Robinson, anemographos portateis, udometro de Babinet, evaporímetro Piche, bussolas, etc. De alguns instrumentos que infelizmente ainda não possuia o observatorio meteorologico, auctorisou a acquisição o sr. ministro do reino, por solicitação da Sociedade de Geographia e indicações do sr. Capello, devendo elles ficar pertencendo ao obscrvatorio, depois d'este serviço. As secções de trabalhos chimicos, de observações medicas, de botanica, de anthropologia e de photographia vão tambem armadas de ponto em branco, graças á douta dedicação dos seus membros. «Os instrumentos foram bizarramente prestados por diversos estabelecimentos de instrucção e por articulares. «Os ministerios da marinha, das obras publicas e da guerra, bem como as repartições e escolas d'elles dependentes, deram os auxílios necessarios, não só n'este ponto, mas em relação aos abarracamentos, material de serviço, etc. «Tem cooperado activamente tambem a direcção das obras

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publicas da Guarda, e a junta districtal e as camaras da Guarda, de Manteigas e de Ceia, alem de muitos dos principaes cavalheiros e auctoridades d’estas localidades. «Concluiremos por uma interessante nota dos volumes do material expedido de Lisboa: 100 macas de bordo e os respectivos colchões, 3 sondaresas, 10 pharoes de bordo, 20 anchoretas, 20 baldes, 2 ambulancias (medica e cirurgica) com 2 macas, 200 mantas, 3 caldeiros e fogões correspondentes, 100 marmitas, 100 cantis, 4 barcos de lona, sendo 3 do systema Caula. e 1 de construção ingleza, emprestado pelo sr. João Paulo Cordeiro, 6 cantinas, 6 barracas de campanha, 6 cintos de salvação, 1 estivado, 1 boia, 1 patesca, 5 volumes com mantimentos, 1 com ferramentas, 8 com material de meteorologia, 1 com material de botanica, 1 de zoologia, 12 de chimica, 4 da secção medica, 1 de expediente, etc. «Na Serra construíram-se 2 ou 3 jangadas para a exploração das lagoas, 2 grandes abarracamentos, 1 posto meteorologico provisorio que urge tornar permanente, etc. A commissäo da Guarda contratou o fornecimento de carne, pão e outros viveres. Em varios periodicos de Lisboa, que bizarramente facultam as suas colunnas aos nossos avisos e connnunicações, foi publicado o seguinte: «São informados todos os ex.mos socios de que o corpo principal da expedição scientifica á Serra da Estrella parte segunda-feira, 1 de agosto, em direcção á Mealhada, no comboio das oito horas da tarde. «N'esta secretaria receber-se-ha todos os dias até ás quatro horas da tarde, a correspondência das fiamilias e amigos dos ex.mos membros da expedição, devendo ser subscriptada por esta forma: Sociedade de Geographia.-- Expedição á Serra da Estrella.-- Para o sr. (o nome por extenso). «Secretaria da Sociedade, rua do Alecrim, n.° 89, 2.° andar.-- 30 de julho de 1881.— O 1º secretario geral, Luciano Cordeiro.»

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Iremos reunindo aqui as noticias relativas á expedição, que recebermos ou que encontrarmos nos jornaes. «Tendo adoecido com um eczema o sr. João Capello, segue na expedição á Serra da Estrella, a substituil-o, até que elle possa ali comparecer, o sr. primeiro-tenente Augusto Carlos da Silva, digno chefe de serviço do observatorio, que dedicadamente se prestou, a convite do sr. Capello. Na ausencia do presidente, e pela doença do sr. João Capello, foi o secretario da commissão executiva, sr. R. A. Pequito, entregar a el-rei os programmas e regulamento da expedição. Partiu hontem para a Serra o director da expedição topographica, sr. engenheiro Almeida Pinheiro. Parte na segunda feira o sr. engenheiro Folque.» (Diario de noticias de 31.) «Santa Comba, 2, as onze horas e cincoenta minutos da manhã. (Ao Diario de Notícias, de Lisboa.) – A expedição chegou agora. Vae ser-lhe servido o almoço, depois segue pela linha da Beira Alla. Estão aqui em numero de quarenta e duas pessoas. Aguardava a comissão o sr. Manuel Emygdio da Silva, ilustre representante da delegação na Guarda. Em Coimbra fomos recebidos por uma deputação da Sociedade de Geograplhia de Lisboa. Vamos partir.== E. (Diario de noticias de 2)

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«Carregal, 2, ás seis horas e quinze minutos da tarde.— (ao Diario de Noticias, Lisboa.) -- Ás duas horas da tarde passou a comissão de exploração Esperavam-a na estação do caminho de ferro alguns cavalheiros e os artistas da filarmónica da terra para comprimentar e saudar esta ilustre comissão. == M.» (Diario de noticias de 2)

Chegada. – Regressou a Lisboa, da sua viagem ao Brazil, o nosso ilustre explorador africanista, major Serpa Pinto.

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Mappa dos caminhos de ferro portuguezes em 1 de Janeiro de 1895 no

Continente e no Ultramar --des. Goullard e Nogueira. - Escala 1:1000000. - [Lisboa] : Gazeta dos Caminhos de Ferro de Portugal, [post. Janeiro de1895].

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EXPEDIÇÃO SCIENTIFICA Á SERRA DA ESTRELLA EM1881 - PESSOAL E ORGANIZAÇÃO – SECÇÕES – SUB-SECÇÕES…

Abreviatura - S. S. G. - Socio da Sociedade de Geographia

PESSOAL SUPERIOR

SECÇÃO DE AGRONOMIA E SYLVICULTURA Chefe - Jayme Batalha Reis, S. S. G., professor do instituto geral de agricultura. Joaquim Pedro de Freitas Castello Branco, agronomo do districto da Guarda. Pedro Roberto da Cunha e Silva, S. S. G., engenheiro sylcicultor, chefe de divisão florestal.

Jayme Batalha Reis

1847 - 1935

Joaquim Pedro de Freitas Castello

Branco

Pedro Roberto da Cunha e Silva, S. S. G

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SECÇÃO DE ANTHROPOLOGIA CHEFE-Dr. José Joaquim da Silva Amado, S. S. G., professor da escola medico-cirurgica de Lisboa. Dr. Francisco Augusto de Oliveira Feijão, S. S. G., professor da escola medico-cirurgica de Lisboa.

Dr. José Joaquim da

Silva Amado, S. S. G

Dr. Francisco Augusto de Oliveira

Feijão, S. S. G

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SECÇÃO DE ARCHEOLOGIA CHEFE -Dr. Francisco Martins Sarmento, S S. G., archeologo. - Gabriel Pereira, S. S. G., archeologo. Joaquim de Vasconcellos, S. S. G., archeologo.

1833 03 09 – 1899 08 09

(erro) http://pt.wikipedia.org/wiki/Franci

sco_Martins_Sarmento http://www.csarmento.uminho.pt/

sms_1.asp

Gabriel Pereira, S.

S. G., archeologo

Joaquim de Vasconcellos

1849 – 1936 http://www.uc.pt/bguc/Document

os2010/FlyerJVasconcelos

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ARQUEOLOGIA http://www.csarmento.uminho.pt/docs/sms/obra/RG100.11.pdf

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SECÇÃO DE BOTANICA CHEFE- Dr. Julio Augusto Henriques

31. S. S. G., professor da universidade de

Coimbra. - Jules Daveau, S. S. G.. jardineiro em chefe do jardim botânico da escola'polytechnica de Lisboa.

Dr. Julio Augusto Henriques

1838 – 1928 http://bibdigital.bot.uc.pt/index.php?me

nu=4&language=pt&tabela=geral

Jules Daveau, S. S. G.. «Jules Daveau (Orlando Ribeiro) -

25.12.2006 [...] Foi por iniciativa do conde de

Ficalho que Jules Daveau veio para Portugal onde viveu de 1876 a

1893, com o encargo de organizar o “arboretum” do Jardim Botânico. http://www.monblog.ch/jbotanico

/?p=200612252222334

31

Júlio Augusto Henriques (Arco de Baúlhe (Cabeceiras de Basto), 15 de Janeiro de 1838 — Coimbra, 15 de Janeiro de 1928), mais conhecido por Júlio Henriques, foi um botânico e professor da Universidade de Coimbra, grande impulsionador da introdução dos estudos botânicos em Portugal. Fundou a Sociedade Broteriana e desenvolveu e consolidou o Herbário da Universidade de Coimbra e o Jardim Botânico de Coimbra.

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BOTÂNICA – consultar em http://www.csarmento.uminho.pt/docs/sms/obra/RG100.11.pdf

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SECÇÃO DE CHIMICA CHEFE - Carl von Bonhorst. S. S. G., assistente do professor no laboratorio do instituto industrial e commercial de Lisboa. Antonio Eugenio de Carvalho da Silva Pinto, S. S. G., primeiro tenente de artilheria, instructor de trabalhos chimicos na escola do exercito.

Carl von Bonhorst

???? – 1918 http://fabricasol.blogspot.pt/

Antonio Eugenio de

Carvalho da Silva Pinto, S. S. G

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SECÇÃO DE ETHNOGRAPHIA CHEFE - Luiz Feliciano Marrecas Ferreira, S. S. G., capitão de engenheria, professor da escola do exercito. Antonio Lopes Mendes, S. S. G., agronomo.

Luiz Feliciano Marrecas Ferreira, S. S.

G

Luís Feliciano Marrecas Ferreira (1851-1928),

Antonio Lopes Mendes, S.

S. G.

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SECÇAO DE GEOLOGIA CHEFE - João Eduardo Albers, S. S. G., engenheiro, inspector de minas. Adjunto - Alfredo Augusto de Moraes Carvalho, conductor de minas.

João Eduardo Albers,

S. S. G.

Alfredo Augusto de Moraes

Carvalho

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SECÇÃO DE HYDROGRPHIA CHEFE - José Emilio de Sant’Anna Castello Branco. S. S. G., capitão de engenheria, professor da escola do exercito. Pedro Romano Folque, S. S. G., capitão de engenheria.

José Emilio de Sant’Anna Castello Branco. S. S. G

Pedro Romano Folque, S. S.

G

SUB-SECÇÃO – LEVANTAMENTO E SONDAGEM DAS LAGOAS CHEFE - Francisco da Silva Ribeiro, major de engenheria, director das obras publicas do districto da Guarda. Luiz Feliciano Marrecas Ferreira, S. S. G., capitão de engenheria, professor da escola do exercito. Norberto Amancio de Almeida Campos, tenente de infantaria servindo na direcção de obras publicas do districto da Guarda.

Francisco da Silva Ribeiro

Luiz Feliciano Marrecas Ferreira

Norberto Amancio de Almeida Campos

Lagoa Escura – Lagoa comprida…

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SECÇÃO DE MEDICINA CHEFE - Dr. José Thomás de Sousa Martins, S. S. G., professor da escola medico-cirurgica de Lisboa. Dr. Jacinto Augusto Medina, S. S. G., facultativo do hospital de marinha. Dr. José Antonio Serrano, S. S. G., professor da escola medico-cirurgica de Lisboa.

Dr. José Thomás de Sousa

Martins S. S. G.

http://www.alhandra.net/jsmartins.html

Dr. Jacinto

Augusto Medina

Dr. José Antonio

Serrano, S. S. G

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SUB-SECÇÃO DE HYDROLOGIA MINERO-MEDICINAL CHEFE Dr. Leonardo Moreira Leão da Costa Torres, S. S. G., medico. Dr. Jacinto Augusto Medina, S. S. G., facultativo do hospital de marinha.

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SUB-SECÇÃO DE OPHTHALMOLOGIA CHEFE - Dr. Francisco Lourenço da Fonseca Junior, S. S. G., medico-oeulista. Adjunto - Alvaro da Fonseca, alumno do 4º anno da escola medico-cirurgica de Lisboa.

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SECÇÃO DE METEOROLOGIA CHEFE - Augusto Carlos da Silva, primeiro-tenente da armada real, observador do observatorio meteorologico do infante D. Luiz. Hermenegildo Carlos de Brito Capello, S. S. G., capitão tenente da armada real, explorador geographo. Dr. Jacinto Augusto Medina, S. S.G., facultativo do hospital de marinha.

Augusto Carlos

da Silva

Hermenegildo Carlos de Brito Capello

Jacinto

Augusto Medina

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SECÇÃO DE PHOTOGRAPHIA CHEFE - Frederico Augusto Torres, S. S. G., major de cavallaria. Alberto Julio de Brito e Cunha, S. S. G., segundo tenente de artilheria. Norberto Amancio de Almeida Campos, tenente de infanteria, servindo na direcção de obras publicas do districto da Guarda.

Frederico

Augusto Torres

Alberto Julio de Brito e Cunha

Norberto

Amancio de Almeida Campos

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SECÇÃO DE ZOOLOGIA CHEFE -Dr. Fernando Mattoso dos Santos32, S. S. G., professor da escola polytechnica de Lisboa.

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Fernando Matoso dos Santos - (Campo Maior, 1849 - 22 de Abril de 1921) foi estadista e professor, tendo exercido os cargos de ministro dos Negócios da fazenda entre 30 de Novembro e 28 de Fevereiro de 1903, no ministério de Hintze Ribeiro. Devido a remodelação governamental é, a título provisório, ministro dos Negócios Estrangeiros, de 1 de Julho de 1901 até 28 de Fevereiro de 1903.

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SECÇÃO DE ZOOTECHNIA CHEFE - José Anastacio Monteiro, S. S. G., intendente de pecuaria do districto da Guarda.

«A zootecnia é a ciencia que visa aproveitar as potencialidades dos animais domésticos e domesticáveis, com a finalidade de explorá-los racionalmente como fonte alimentar e outras finalidades junto aos seres humanos, ciência aplicada que trata da adaptação dos animais com potencialidades de domesticação ao ambiente criatório e, desta forma, aproveitá-los com a finalidade nutricional e econômica. Como ciência deriva diretamente da biologia como uma zoologia aplicada, pois ao conhecimento biológico do animal soma-se os princípios da economia e da produção de alimentos, visando suprir o mercado com produtos adequados a alimentação humana. Pode-se definir zootecnia como produção animal Stricto Sensu e o seu principal objetivo é "produzir o máximo, no menor tempo possível, sempre visando lucro, tendo em conta o bem estar animal". O Zootecnista é o profissional habilitado para atuar na produção animal; as principais áreas de atuação são: Nutrição e Alimentação, Forragens, Genética e Melhoramento, Reprodução, Manejo, Instalações, Higiene, Tecnologia de Produtos e Derivados de Origem Animal e Administração Rural.» https://pt.wikipedia.org/wiki/Zootecnia

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SECÇÕES AUXILIARES*

TOPOGRAPHIA CHEFE-Antonio Xavier de Almeida Pinheiro, S. S. G., engenheiro civil. Augusto Cesar Paes de Faria, engenheiro, chefe de serviço. Luiz da Silva Mousinho de Albuquerque, engenheiro. Bartholomeu Valladas, conductor, chefe de secção. Barnabé da Costa Roxo, conductor, chefe de secção. Carlos Agrostinho da Costa, conductor, chefe dc secção. Antonio Henriques de Almeida Castello Branco, conductor. Antonio Maria Beltrão. conductor. Antonio Marques da Silva. conductor. Eduardo Frederico de Mello Garrido. conductor. Francisco Sabino da Costa, conductor.

ACAMPAMENTO CHEFE - Francisco da Silva Ribeiro, major de engenheria, director das obras publicas do districto da Guarda. Norberto Amancio de Almeida Campos, tenente de infanteria, servindo na direcção de obras publicas do districto da Guarda. André de Moura, apontador de primeira classe.

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COMMISSAO ADMINISTRATIVA DA EXPEDIÇÃO

Hermenegildo C. B. Capello

Sousa Martins

Pequito

COMMISSAO ADMINISTRATIVA DA EXPEDIÇÃO

Presidentes - Hermenegildo Carlos de Brito Capello, S. S. G., capitão tenente da armada real, explorador geographo - Dr. José Thomás de Sousa Martins, S. S. G., professor da escola medico-cirurgica de Lisboa. SECRETARIO - Rodrigo Affonso Pequito. S. S. G., professor do instituto industrial e commercial de Lisboa, THESOUREIRO - Eduardo Coelho, S. S. G., redactor do «Diario de noticias». VOGAES - Emilio Henrique Xavier Nogueira, S. S. G., capitão de infanteria, professor do real collegio militar - José Estevão de Moraes Sarmento. S. S. G., capitão de infanteria, promotor de justiça nos tríbunaes militares - Luiz Feliciano Marrecas Ferreira, S. S. G.. capitão de engenheria, progessor da escola do exercito - Manuel Francisco de Oliveira Feijão, S. S. G., guarda-livros.

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GOMMISSÃO AUXILIAR, DA CIDADE DA GUARDA PRESIDENTE - Francisco Antonio Patricio, S. S. G., negociante, 'vogal da commissao executiva da junta geral do districto da Guarda. SECRETARIA - Fernando Pereira Mousinho de Albuquerque, S. S. G., capitão de engenheria. VOGAES - Henrique Pereira Pinto Bravo, engenheiro – Joaquim Giraldes dos Santos, funccionario publico -- José Abrantes Martins da Cunha, redactor do «Districto da Guarda» - José Augusto Barbosa Colen. S. S. G., jornalista, procurador á junta geral do districto da Guarda - Manuel Emygdio da Silva. S. S. G., professor do lyceu da Guarda - Manuel Lopes de Sousa, proprietario - Norberto Amancio de Almeida Campos, tenente de infantaria, servindo na direcção de obras publicas do districto da Guarda.

PESSOAL AUXILIAR Francisco de Paula dos Santos Rodrigues, apontador de primeira classe, amanuense da secretaria da Sociedade de Geographia - Jayme Adelino Gomes da Silva, ajudante dos observadores do observatorio meteorologico do infante D. Luiz - José' Manuel Morgado, empregado do museu anatomico da escola medico-cirurgica de Lisboa - Lima e Lemos, empregado do museu zoologico da escola poliytechnica de Lisboa - Miguel Sertorio de Sousa, praticante do laboratorio do institulo industrial e commercial de Lisboa.

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PESSOAL MENOR. 2 trabalhadores do jardim botanico da escola polytechnica de Lisboa - 2 trabalhadores do jardim botanico da universidade de Coimbra - 1 cozinheiro - 38 homens das localidades proximas da serra: carpinteiros, pedreiro, guias, caçadores, pescadores, correios, ajudantes de cozinha. cortador e trabalhadores - 1 corneteiro de infanteria n.º 12.

SERVIÇO DE POLICIA 1 cabo e 6 soldados de infanteria n.° 12. * Incumbidas officíalmenie de fazer o levantamento topographico e construir os abarracamentos em virtude do pedido que ao ministerio das obras publicas dirigiu á Sociedade de Geographia de Lisboa.

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A expedição científica à serra da Estrela de 1881 revisitada13 maio 2012 - HELENA GONÇALVES PINTO http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2515740&seccao=Convidados&page=1 - A convidada

por HELENA GONÇALVES PINTO, HISTORIADORA, 13 maio 2012

«1 de Agosto de 1881. Pelas 20 horas e 15 minutos, partia da Gare do Norte de Lisboa (Santa Apolónia) um grupo de 42 expedicionários entusiásticos com a expectativa de uma viagem exploratória à serra da Estrela, região ainda desconhecida, selvagem e, em grande parte, desabitada, que encerrava em si mistérios e mitos. Partiram sob a aclamação calorosa de numerosa assistência, de representantes do Conselho de Ministros, do presidente e do primeiro secretário-geral da Sociedade de Geografia de Lisboa, do director e de alguns lentes da Escola Médico-Cirúrgica e de um grande número de membros da imprensa e das escolas superiores. Partiram enérgicos, sabendo que iriam defrontar as forças dos elementos naturais e não as feras de África. As vinte e três carruagens transportavam homens agasalhados com camisolas de flanela, casacos de Inverno, duas mantas inglesas e, ainda, botas de tamanho descomunal. Eduardo Coelho, o correspondente e director do Diário de Notícias, ironizava, escrevendo já a partir da serra, que era "toda a lã de um rebanho em cima de nós! Pôr sobre isto revólver, para lobos, toucinho para as víboras".

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https://txticulos.wordpress.com/tag/portugal/page/14/

«28 de Abril de 2012. Da mesma estação ferroviária, parte pela tarde um grupo de expedicionários, com destino à estação da Covilhã, percurso em que saboreámos, em Abrantes, os doces locais que as gentes desta cidade nos brindaram durante a curta paragem do comboio. De Lisboa, partimos imbuídos de um espírito de aventura e de revisitação dos passos dos inesquecíveis Brito Capello, Sousa Martins, Rodrigo Pequito, Mouzinho de Albuquerque, Jayme Batalha Reis, Martins Sarmento, Joaquim Vasconcellos, Júlio Henriques, Jules Daveau e muitos outros que representaram 12 secções e uma auxiliar pertencentes à recente Sociedade de Geografia de Lisboa (1875), promotora dessa expedição, enquanto a de agora teve a sua mobilização nas comemorações do centenário do turismo em Portugal (1911--2011), a fechar o seu ciclo comemorativo. A pernoita, nestes dias de revisitação, foi na Casa das Penhas Douradas, que serviu de quartel-general, a partir da qual se realizaram visitas a sanatórios e se calcorreou sensivelmente os mesmos trilhos do século XIX.» «Presidida por Hermenegildo de Brito Capello, experiente explorador nas terras de África, a ideia da primeira expedição (1881) teve origem no ano anterior, a 5 de Julho, como projecto singular multidisciplinar, com orientação científica (pura e aplicada), com o objectivo de auxiliar o progresso das ciências médicas em

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território português. A proposta foi apresentada à Sociedade por Luciano Cordeiro, sob iniciativa de Luís Feliciano Marrecas Ferreira, contando com a entusiástica e esclarecida argumentação científica de Sousa Martins, "que pretendia instalar sanatórios na serra para tratar os tísicos portugueses".» «A serra da Estrela, na época também designada de Hermínio, era uma região cujo fascínio levou a que, algumas vezes, fosse percorrida por pequenos grupos motivados pela aventura e pelas suas singularidades, levando-os a entrar em territórios desconhecidos para observar "as alagoas ou poços, a célebre montanha dos cântaros, o pomar de Judas, e outras celebradas raridades geológicas", muito sugestionados pela expedição que os especialistas em história natural, botânica e mineralogia, Link e Hoffmansegg, realizaram no século anterior, ou mesmo pelas descrições de J. Rivoli, em Die Serra da Estrela.» «Um dos objectivos imediatos da expedição de 1881 foi o de estabelecer o posto meteorológico, um dos primeiros da Europa. O programa para esta instalação foi cuidadosamente preparado por Sousa Martins, já que as ciências médicas trabalhavam, inovadoramente, nas áreas prospectivas das patologias das altitudes, climatologia médica, flora aplicada à farmacopeia e meteorologia, as quais certificariam a instalação mais tarde da Estância Sanatorial.»

http://www.geocaching.com/seek/cache_details.aspx?guid=43b860a5-8f90-

49f5-be03-c1193b8eecc2

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A EXPEDIÇÃO de 1881 & SOUSA MARTINS http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Tom%C3%A1s_de_Sousa_Martins

«A expedição científica à Serra da Estrela foi organizada sob a égide da Sociedade de Geografia de Lisboa, de que Sousa Martins era sócio fundador e vogal do Conselho Central, reunindo em Agosto de 1881 uma plêiade de cientistas e intelectuais que estudaram aquela região portuguesa nas suas vertentes geográfica, meteorológica e antropológica num esforço sem precedentes de exploração sistemática do território português. «O interesse de Sousa Martins na realização da expedição prendia-se com a necessidade de conhecer a meteorologia e as condições sanitárias da região dado a importância então atribuída ao clima no tratamento da tuberculose pulmonar. Essa necessidade levou a que em conjunto com Brito Capelo tivesse requerido ao Governo, em 1882, a instalação de um posto meteorológico na Serra. «Na sequência da expedição Sousa Martins defendeu a implantação de Casas de Saúde na região serrana e foi um dos impulsionadores da fundação do Club Hermínio, uma associação de carácter humanitário que criada em 1888 se manteve activa pelo menos até 1892. Sousa Martins foi aclamado sócio honorário e presidente perpétuo pelos membros fundadores. Afirmando-se como uma instituição de solidariedade, o Club Hermínio tinha por finalidades promover o melhoramento das condições naturais da Serra da Estrela, considerada como estação sanitária através do estabelecimento de casas de saúde sob direcção médica, o socorro aos doentes pobres e o exercício de polícia higiénica em todos os pontos da Serra e nas habitações que fossem usados pelos doentes. «No Verão de 1888, com o patrocínio do Club Hermínio e com o apoio entusiástico de Sousa Martins e de Guilherme Teles de Meneses, esteve na Serra da Estrela o médico Basílio Freire, professor da Faculdade de Medicina da

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Universidade de Coimbra, que ali assegurou acompanhamento médico gratuito aos doentes que o procuravam. «O principal objectivo de Sousa Martins era a construção de um sanatório na Serra da Estrela que de forma permanente pudesse acolher e tratar doentes com tuberculose pulmonar. Apesar do seu esforço e da sua influência junto da Coroa, já que desde 1888 era médico honorário da Real Câmara de Suas Majestades e Altezas, e do Governo, a iniciativa, aclamada por todos, tardou em materializar-se e o sanatório proposto apenas seria construído após a sua morte.

«A construção do sanatório da Guarda, ficou a dever-se à Assistência Nacional aos Tuberculosos, a ANT, instituição que sob a presidência da rainha D. Amélia de Orleães conseguiu reunir os fundos necessários e materializar a construção e equipamento. A inauguração do sanatório, o primeiro a ser construído pela ANT e o terceiro de Portugal, ocorreu a 18 de Maio de 1907, quase uma década após o falecimento de Sousa Martins. A inauguração incluiu uma homenagem àquele pioneiro da luta contra a tuberculose, cuja acção e dinamismo a rainha já evocara 1899 em intervenção pública integrada numa campanha de profilaxia da tuberculose. «Apesar do tempo decorrido após o falecimento de Sousa Martins, em sua homenagem, a nova instituição foi denominada Sanatório Dr. Sousa Martins e por ela passaram muitos milhares de doentes ao longo de mais de meio século de funcionamento. A sua importante acção deixou o nome ligado à zona serrana com tal perenidade que o principal hospital da cidade da Guarda o mantém Sousa Martins como patrono. «Foi também escolhido para representar Portugal em diversos eventos internacionais na área da Medicina: em 1874 foi nomeado delegado à Conferência Sanitária Internacional realizada em Viena; e em 1897 foi delegado

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à Conferência Sanitária Internacional, realizada em Veneza, onde foi eleito vice-presidente. «Adoeceu quando se encontrava em Veneza, regressando a Lisboa muito debilitado. Diagnosticada tuberculose, partiu para a Serra da Estrela à procura de alívio. Aparentemente convalescendo, recolheu-se a Alhandra, onde se instalou numa quinta, propriedade de amigos, tentando recuperar. «A doença agravou-se e aos 54 anos, tuberculoso terminal e sofrendo de lesão cardíaca, Sousa Martins cometeu suicídio, com uma injecção de morfina. Pouco antes, havia confidenciado a um amigo: "A morte não é mais forte do que eu" e "Um médico ameaçado de morte por duas doenças, ambas fatais, deve eliminar-se por si mesmo". «Na mensagem que enviou ao saber da morte de Sousa Martins, o rei D. Carlos I de Portugal afirmou: Ao deixar o mundo, chorou-o toda a terra que o conheceu. Foi uma perda irreparável, uma perda nacional, apagando-se com ele a maior luz do meu reino. «Também sobre ele, António Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina, disse: Notável professor que deixou, atrás de si, um nome aureolado de prelector admirável, de clínico, de orador consagrado, sempre alerta nas justas da Sociedade das Ciências Médicas. «Por sua vez Guerra Junqueiro considerou-o Eminente homem que radiou amor, encanto, esperança, alegria e generosidade. Foi amigo, carinhoso e dedicado dos pobres e dos poetas. A sua mão guiou. O seu coração perdoou. A sua boca ensinou. Honrou a medicina portuguesa e todos os que nele procuraram cura para os seus males.

«O principal hospital da cidade da Guarda tem o nome de Hospital Sousa Martins, em homenagem ao trabalho pioneiro de Sousa Martins sobre a tuberculose e climoterapia que conduziu à promoção da Serra da Estrela como área propícia à instalação de sanatórios para o tratamento de tuberculosos. Para

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além disso, existem vários sítios que homenageiam o Dr. Sousa Martins, entre os quais um concorrido monumento, de autoria de Costa Motta (tio) no Campo de Santana, em Lisboa; um jazigo no Cemitério de Alhandra, onde se encontra sepultado; a Casa-Museu Dr. Sousa Martins, em Alhandra; e o busto do Dr. Sousa Martins, no Largo 7 de Março, na baixa alhandrense. Também a toponímia da cidade da Guarda, à qual o nome de Sousa Martins está associado desde o início do século XX mercê da estrutura sanatorial que ali existiu, o recorda no nome de uma das ruas do moderno Bairro da Senhora dos Remédios. Um pequeno monumento erguido dentro dos muros do antigo Sanatório da Guarda continua, diariamente, a receber preces e agradecimentos e, à semelhança do monumento lisboeta do Campo de Santana, está quase sempre emoldurado de flores e de ex-votos diversos. «O Dr. Sousa Martins foi um adepto do Espiritismo e muitos dos seguidores dessa crença atribuem-lhe curas milagrosas por intermédio das suas comunicações mediúnicas. Em 27 de Março e a 18 de Agosto de cada ano, aniversários do seu nascimento e morte, milhares de devotos visitam e rezam sobre o seu túmulo.»

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Lenda da Lagoa Escura – por Emanuel

Por Emanuel

http://www.blogger.com/profile/12009550842326974894

Quando em 1881 chegou à serra da Estrela a expedição científica incumbida de fazer a sondagem da lagoa Escura para lhe determinar a profundidade, enorme alvoroço se apossou dos pastores da região. Um vento fresco punha em desordem os cabelos do jovem cientista. Mas estava demasiadamente entregue ao seu trabalho para se preocupar com o penteado. De súbito, um desconhecido, que até ali se conservara em silêncio, gritou-lhe, aflito: — Senhor! Não deveis pôr isso dentro da lagoa!

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O homem voltou-se. Viu o jovem pastor com expressão temerosa. Sorriu-lhe e explicou: — Isto que vês é um bote de lona. — E para que o meteis na água? — Para medir a altura do fundo. — Mas a lagoa não tem fundo, meu senhor! O cientista olhou-o com ar de troça. — Não tem fundo a lagoa? Quem inventou semelhante disparate? Ingenuamente, o pastor declarou: — Foi o meu pai quem mo disse. E foi meu avô quem o disse ao meu pai! E quem contou isso ao teu avô? — O meu bisavô. — Claro! Foram os teus avós e bisavós que inventaram tudo isso! O pastor insistiu: — Não inventámos nada, meu senhor. Quando há tempestades, aparecem aqui monstros vindos do mar! O cientista desatou a rir. Encarou o jovem pastor e tentou convencê-lo. — Olha, homem: tudo isso que me contas são histórias! Tudo histórias! Não existem monstros, nem a lagoa está ligada ao mar! As feições do pastor tornaram-se mais duras. — Quereis saber mais que os antigos? Eu já vi bocados de navios engolidos pelos mares a boiarem aqui, nesta lagoa! O jovem cientista franziu as sobrancelhas. — Já viste? Tens a certeza? — Tenho, sim! Vi-os aqui, com estes olhos que Deus me deu! Foi num dia de tempestade... O cientista meneou a cabeça. — O que faz a crença! Até vêem o que não existe! O pastor empertigou-se. — Juro que vi!

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O seu interlocutor olhou-o bem nos olhos; e sentindo que era forte demais a convicção do pastor para a rebater com palavras, resolveu ser mais concreto. — Ouve? Amanhã virei aqui tomar banho. O pastor olhou-o como se estivesse na presença de um louco. E gritou quase: — Morrereis, senhor! O monstro chavelhudo virá agarrar-vos, levando-vos para o fundo do mar! Depois… talvez encontrareis a moura encantada! O cientista voltou a sorrir. — A moura? Qual moura? — A que a fada da Serra levou para o mar, roubando-a aos Lusitanos! O jovem cientista mostrou-se interessado. — Conta lá essa história. — Não sei mais nada, senhor. Só sei que ela queria casar com um cristão. Mas mataram o homem, e a ela levaram-na por esta lagoa dentro. O cientista achou melhor não contrariar opinião tão segura; retorquiu apenas, fingindo um ar contristado: — Pobre moura! Nunca mais sairá, então, do fundo do mar? — Sim, meu senhor. E que Deus nos livre disso! — Porquê? — Porque a moura só será desencantada quando um guerreiro da sua raça e da sua fé tenha a coragem de vir libertá-la. E nós não queremos mouros por aqui! — Nesse caso... a moura ficará para sempre no fundo do mar. — Assim penso, meu senhor. E agora vou ao meu trabalho. Fique com Deus! O cientista acenou com a mão ao pastor, e ficou-se a olhá-lo enquanto ele se afastava. Começava o Sol a descer no horizonte e já os pastores se retiravam com o gado, a caminho dos abrigos. A serra parecia envolvida por luminosidade estranha. Ouvia-se ao longe o tilintar dos chocalhos, quebrando o silêncio.

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Coberto com o seu amplo capote, pois começava a esfriar, o jovem cientista ficara pensativo, olhando uma vez mais a sumptuosa e bela lagoa Escura. O que ouvira da boca de um pastor à hora da merenda fazia-o sorrir. Meditava na ingenuidade dessa gente, tão sã de corpo como de alma. De súbito, uma erva seca estalou no chão. Ergueu o olhar e viu uma bonita rapariga de expressão amedrontada, caminhando a medo para a lagoa. O seu olhar de brilho intenso estava pousado nas águas, a que o cair da tarde dava aspecto ainda mais sombrio. Tão embevecida estava, que nem reparou na presença de mais alguém. Os seus lábios carnudos e sadios murmuraram, de leve, uma espécie de oração bastante estranha. Levantou o olhar ao céu. Só então descobriu que não estava só. A sua expressão mudou. Não conseguiu abafar um grito. E dispunha-se a fugir, quando o cientista a agarrou pela manga da blusa. — Sossega! Não te faço mal! Não precisas fugir! Vinhas em busca da moura encantada? Os olhos da rapariga fixaram o jovem desconhecido. Havia medo no seu olhar. Ele voltou a falar-lhe, sorrindo quase com ternura: — Tens medo de mim?... Porquê? Não te quero mal. A jovem pastora tremia. E perguntou: — Acaso sereis… o tal guerreiro mouro? Sorriu mais o jovem cientista. — Quem? Aquele que há-de vir desencantar a princesa moura?... Não, não sou... nem creio que ele chegue a vir. Sempre a medo, ela interrogou de novo: — Então... quem sois? Vindes de longe? — Sim, venho de longe. Faço parte da expedição que chegou ontem, e vimos trabalhar aqui, na lagoa Escura! O medo da rapariga deu lugar à estupefacção. — Trabalhar aqui? Como? Os monstros não vão deixar! — É o que tu pensas. Mas eu não acredito em monstros, nem em mouras, nem em lagoas sem fundo. São tudo histórias de lareira. Afligiu-se, de novo, a jovem pastora:

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— Virgem Nossa Senhora! Porque desdenhais os nossos antigos? — Porque isso é tudo fantasia. — Tudo quê? — Ora!... Tudo coisas que se dizem. A pastora olhou-o por uns instantes, sem responder. Depois dispôs-se a voltar para casa, não fossem os espíritos persegui-la. — Com vossa licença vou-me andando, que se está a fazer noite... Ele voltou a segurá-la. — Espera um pouco e diz-me: que vieste aqui fazer sozinha? Eu sei que vocês procuram sempre outro caminho. A jovem pastora mostrou-se embaraçada. — Foi mal pensado, foi. Mas dizem que a rapariga que vier aqui sozinha ao pôr-do-sol pedir à moura que lhe encaminhe bem os seus amores é atendida. Por isso eu vim... O cientista abanou a cabeça. — Oh, cachopa! Porque razão hão-de fazer preces à moura? — Porque ela também amou e sofreu por um lusitano cristão. Ela quis ser cristã. Devia ser dos nossos. Era muito boa e muito linda. Mas a fada má encantou-a, levando-a para o fundo do mar, por esta lagoa! O jovem cientista deixou cair os braços, num desalento. — E vá lá a gente dizer que isso não é assim!... Olha, pequena: que dirias, se me visses amanhã, à hora da merenda, tomar banho nesta lagoa? Ela recuou como se tivesse visto um fantasma. A sua voz tremeu. — Não façais isso, senhor! A menos… que sejais o tal guerreiro mouro... E olhava-o, de olhos esbugalhados. Ele sorriu. — Que ideia a tua! Não vês que não sou nenhum fantasma? Olha! Amanhã vamos pôr ali um barco e remexer as águas. Vem, e trás companhia. Hás-de gostar de ver. — Não! Não quero ver morrer ninguém! — Não morrerei, garanto-te.

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E sorrindo-lhe mais: — Como és bonita, com esse olhar de pavor! Um olhar que só pode igualar o das mouras encantadas. Foi o suficiente para a rapariga se libertar das mãos do jovem cientista e correr serra abaixo, dizendo: — É ele! É o guerreiro mouro! Que Deus me valha! Parecia uma avezita tonta, a pobre moça! O homem ficou a contemplá-la. E pensava como seria bom possuir o amor de uma mulher tão infantil, tão diferente das outras da cidade! Lentamente, começou também a descer a serra. O Sol parecia acompanhá-lo nesse ocaso. Mas o pensamento do cientista continuava lá, na lagoa Escura, tentando imaginar qual seria a reacção dos pastores quando, no dia seguinte, a caravana dos cientistas e trabalhadores tomasse de assalto essa lagoa rodeada de silêncio e mistério. O Sol estava a pino, pondo reflexos dourados em tudo quanto tocava. Na lagoa Escura a azáfama era grande. Lançavam o bote a água, perante o pasmo de alguns pastores que os observavam. O jovem cientista olhou em volta. Procurava os seus dois conhecidos da véspera. Acabou por descobri-los. Eram eles o pastor com quem estivera a falar e a jovem pastora que tanto se assustara ao tomá-lo pelo fantasma do guerreiro mouro. Vendo-se descoberta, ela escondeu-se. Mas o jovem cientista chamou o pastor. — Eh, tu! Anda cá! O pastor hesitou. — É a mim que chamais? — Sim, tu! Aproxima-te! O serrano aproximou-se. — Deus o salve, senhor! O cientista bateu-lhe amigavelmente num ombro: — Então? Que dizes a isto? Ainda não apareceram monstros chavelhudos, como tu disseste... — Por enquanto não, meu senhor...

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— Pois vou despir o casaco e deitar-me à água, tal como prometi! — Cuidado, senhor! Ele riu. Procurou de novo com o olhar a jovem pastora. Ela fitava-o, espavorida, procurando esconder-se. — Eh, cachopa! Não te escondas, que bem te vejo! Olha, vou ver se encontro a tua moura... De um salto, o jovem cientista entrou pela água da lagoa. Um grito uníssono saiu da boca da assistência. Alguém comentou: — Mas ele deitou-se mesmo à água! Outro opinou, aflito: — Vai aparecer o monstro! É melhor fugirmos! A debandada começou. Mas alguns serranos deixaram-se ficar, como colados ao chão. Entre eles, o pastor e a pastora com quem o cientista havia conversado. O jovem nadava, olhando-os, prazenteiro, triunfante. Bradou-lhes: — Como vêem, não há monstros na lagoa! Andem daí, rapazes! Venham ver como falo verdade! Alguns recuaram. Mas o Zé Branco, um pastor jovem com ar desempenado, saiu do grupo. — Raios me partam, se não vou também! Uma voz feminina gritou, aflita: — Zé, não vás! A ele não lhe acontece mal porque é o guerreiro da moura! O cientista compreendeu que esse jovem pastor era o namorado da pastora com quem falara. E incitou-o: — Vamos! Mostra que és homem! Ela gritou, de novo: — Não vás, Zé, que morres na lagoa! O jovem pastor encheu-se de brios. — Não vou, porquê? Sou homem como ele! E mais sabido do que vocês todos! Estive no Porto, quando cachopo, e lá aprendi a nadar. Conheço o mar e os seus abismos! O cientista animou-o. — Isso á que á falar! Vem daí, que já estou a arrefecer!

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Zé Branco despiu o casacão, tirou as botas e atirou-se a água. Porém, mal entrou nela, fez-se muito pálido. Voltou os olhos para terra. Abriu a boca sem poder falar. E deixava-se ir para o fundo da lagoa, se o cientista não lhe tivesse jogado a mão. Trouxe-o logo para terra, transido de pavor. Os outros homens persignavam-se. A jovem pastora chorava. Acercaram-se dele. Um deles perguntou: — Que te aconteceu, Zé Branco? Tentando alinhar as frases, o pastor respondeu: — Puxaram-me! Senti que me puxaram para o fundo! Todos fizeram um sinal afirmativo com a cabeça. O que diziam os seus avós estava confirmado! E por mais que o jovem cientista tentasse explicar que o puxão que ele julgava sentir não fora mais que a pressão feita pelo próprio fato por se ter prendido em qualquer planta aquática, eles não acreditavam. Olhavam o homem que viera de longe profanar as águas da lagoa como um verdadeiro fantasma. E a jovem serrana, antes de descer a serra de volta a casa com o Zé Branco, rogou ao cientista: — Se falais com a moura... dizei-lhe que me faça o que lhe pedi! Sorriu-lhe o jovem. Não havia outro remédio. A tradição era mais forte que tudo no mundo. Mais forte que a realidade! Ficou a olhar o grupo que se afastava, deixando-o como fantasma perdido. E ao ficar só — pois os seus companheiros haviam também começado a debandar — o cientista olhou de novo a lagoa Escura. E pensou na moura encantada e no guerreiro lusitano por quem se havia apaixonado. Como era bela e poética a imaginação do povo! Como era forte a sua crença! Tão forte, que ainda hoje esta lenda subsiste. Emanuel http://www.blogger.com/profile/12009550842326974894

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OS RELATÓRIOS

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trabalho realizado por @ JORAGA

Vale de Milhaços, Corroios, Seixal

2013 ABRIL / MAIO

JORAGA

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Mapa da localização do OBSERVATÓRIO em Agosto de 1881

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SERRA DA ESTRELLA

EXPEDIÇÃO SCIENTIFICA EM AGOSTO DE 1881

SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE LISBOA AUXILIADA PELO GOVERNO E PELA

JUNTA GERAL DO DISTRICTO DA GUARDA

UMA VISITA / ESTUDO / HOMENAGEM EM AGOSTO DE 2013

132 ANOS DEPOIS

JOSÉ RABAÇA GASPAR