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1 Servidão Ambiental: Singelos Comentários à redação do artigo 9º-A da Lei nº 6.938/1981 Tauã Lima Verdan Rangel 1 Resumo: Inicialmente, ao se analisar o tema colocado em debate, prima anotar que a servidão administrativa se apresenta como direito real público que permite a Administração utilizar a propriedade imóvel para viabilizar a execução de obras e serviços que atendam ao interesse público. Nesta toada, é verificável que, com a substancialização da servidão administrativa, ocorre o exercício paralelo de outro direito real em favor de um prédio, o qual passa a ser denominado de dominante, ou mesmo de uma pessoa, de modo tal que o proprietário não é mais o único a exercer os direitos dominiais sobre a res. No que toca ao instituto da servidão administrativa ambiental foi introduzido no ordenamento jurídico vigente pela Lei nº 12.651, de 25 de Maio de 2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis n os 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis n os 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória n o 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências, ao introduzir o artigo 9º-A Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Consoante a dicção do dispositivo legal ora mencionado, o proprietária ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou particular ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental. 1 Bolsista CAPES. Mestrando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), linha de Pesquisa Conflitos Urbanos, Rurais e Socioambientais. Especializando em Práticas Processuais Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Produziu diversos artigos, voltados principalmente para o Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Administrativo e Direito Ambiental. E-mail: [email protected] WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR

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Servidão Ambiental: Singelos Comentários à redação do artigo 9º-A

da Lei nº 6.938/1981

Tauã Lima Verdan Rangel1

Resumo: Inicialmente, ao se analisar o tema colocado em debate, prima anotar que

a servidão administrativa se apresenta como direito real público que permite a

Administração utilizar a propriedade imóvel para viabilizar a execução de obras e

serviços que atendam ao interesse público. Nesta toada, é verificável que, com a

substancialização da servidão administrativa, ocorre o exercício paralelo de outro

direito real em favor de um prédio, o qual passa a ser denominado de dominante, ou

mesmo de uma pessoa, de modo tal que o proprietário não é mais o único a exercer

os direitos dominiais sobre a res. No que toca ao instituto da servidão administrativa

ambiental foi introduzido no ordenamento jurídico vigente pela Lei nº 12.651, de 25

de Maio de 2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis

nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428,

de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e

7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de

2001; e dá outras providências, ao introduzir o artigo 9º-A Lei nº. 6.938, de 31 de

agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e

mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Consoante a

dicção do dispositivo legal ora mencionado, o proprietária ou possuidor de imóvel,

pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou particular ou por termo

administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de toda a

sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os

recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental.

1 Bolsista CAPES. Mestrando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da

Universidade Federal Fluminense (UFF), linha de Pesquisa Conflitos Urbanos, Rurais e Socioambientais. Especializando em Práticas Processuais – Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Produziu diversos artigos, voltados principalmente para o Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Administrativo e Direito Ambiental. E-mail: [email protected]

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Palavras-chaves: Intervenção do Estado. Servidão Administrativa Ambiental.

Interesse Público

Sumário: 1 Intervenção do Estado na Propriedade: Breve Escorço Histórico; 2

Ponderações Introdutórias ao Instituto da Servidão Administrativa; 3 Fundamentos

da Servidão Administrativa; 4 Breve Painel à Tutela e Salvaguarda do Meio

Ambiente Natural: Ponderações ao artigo 225 da Constituição Federal; 5 Servidão

Ambiental: Singelos Comentários à redação do artigo 9º-A da Lei nº 6.938/1981

1 Intervenção do Estado na Propriedade: Breve Escorço Histórico

Em uma primeira plana, o tema concernente à intervenção do Estado na

propriedade decore da evolução do perfil do Estado no cenário contemporâneo. Tal

fato deriva da premissa que o Ente Estatal não tem suas ações limitadas tão

somente à manutenção da segurança externa e da paz interna, suprindo, via de

consequência, as ações individuais. “Muito mais do que isso, o Estado deve

perceber e concretizar as aspirações coletivas, exercendo papel de funda conotação

social”2, como obtempera José dos Santos Carvalho Filho. Nesta esteira, durante o

curso evolutivo da sociedade, o Estado do século XIX não apresentava essa

preocupação; ao reverso, a doutrina do laissez feire assegurava ampla liberdade aos

indivíduos e considerava intocáveis os seus direitos, mas, concomitantemente,

permitia que os abismos sociais se tornassem, cada vez mais, profundos, colocando

em exposição os inevitáveis conflitos oriundos da desigualdade, provenientes das

distintas camadas sociais.

Quadra pontuar que essa forma de Estado deu origem ao Estado de

Bem-estar, o qual utiliza de seu poder supremo e coercitivo para suavizar, por meio

de uma intervenção decidida, algumas das consequências consideradas mais

penosas da desigualdade econômica. “O bem-estar social é o bem comum, o bem

do povo em geral, expresso sob todas as formas de satisfação das necessidades

comunitárias”3, compreendo, aliás, as exigências materiais e espirituais dos

2 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24 ed, rev., atual. e ampl.

Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011, p. 711. 3 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 38 ed. São Paulo: Editora Malheiros,

2012, p. 661.

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indivíduos coletivamente considerados. Com realce, são as necessidades

consideradas vitais da comunidade, dos grupos, das classes que constituem a

sociedade. Abandonando, paulatinamente, a posição de indiferente distância, o

Estado contemporâneo passa a assumir a tarefar de garantir a prestação dos

serviços fundamentais e ampliando seu espectro social, objetivando a materialização

da proteção da sociedade vista como um todo, e não mais como uma resultante do

somatório de individualidades.

Neste sentido, inclusive, o Ministro Luiz Fux, ao apreciar o Agravo

Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo N° 672.579/RJ, firmou

entendimento que “ainda que seja de aplicação imediata e incondicional a norma

constitucional que estabeleça direitos fundamentais, não pode o Ente Estatal

beneficiar-se de sua inércia em não regulamentar, em sua esfera de competência, a

aplicação de direito constitucionalmente garantido”4. Desta feita, para consubstanciar

a novel feição adotada pelo Estado, restou necessário que esse passasse a se

imiscuir nas relações dotadas de aspecto privado. “Para propiciar esse bem-estar

social o Poder Público pode intervir na propriedade privada e nas atividades

econômicas das empresas, nos limites da competência constitucional atribuída”5, por

meio de normas legais e atos de essência administrativa adequados aos objetivos

contidos na intervenção dos entes estatais.

Com efeito, nem sempre o Estado intervencionista ostenta aspectos

positivos, todavia, é considerado melhor tolerar a hipertrofia com vistas à defesa

social do que assistir à sua ineficácia e desinteresse diante dos conflitos produzidos

pelos distintos grupamentos sociais. Neste jaez, justamente, é que se situa o dilema

moderno na relação existente entre o Estado e o indivíduo, porquanto para que

possa atender os reclamos globais da sociedade e captar as exigências inerentes ao

interesse público, é carecido que o Estado atinja alguns interesses individuais. Ao

lado disso, o norte que tem orientado essa relação é a da supremacia do interesse

4 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em Agravo Regimental no Recurso

Extraordinário com Agravo N° 672.579/RJ. Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito administrativo. Servidor público. Adicional noturno. Regime de plantão semanal. Necessário reexame da legislação infraconstitucional. Análise do contexto fático-probatório. Impossibilidade. Incidência da súmula 279 do STF. Agravo regimental desprovido. Órgão Julgador: Primeira Turma. Relator: Ministro Luiz Fux. Julgado em 29.05.2012. Publicado em 19 jun. 2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 26 out. 2014. 5 MEIRELLES, 2012, p. 662.

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público sobre o particular, constituindo verdadeiro postulado político da intervenção

do Estado na propriedade. “O princípio constitucional da supremacia do interesse

público, como modernamente compreendido, impõe ao administrador ponderar,

diante do caso concreto, o conflito de interesses entre o público e o privado, a fim de

definir, à luz da proporcionalidade, qual direito deve prevalecer sobre os demais”6.

2 Ponderações Introdutórias ao Instituto da Servidão Administrativa

Inicialmente, ao se analisar o tema colocado em debate, prima anotar que

a servidão administrativa se apresenta como direito real público que permite a

Administração utilizar a propriedade imóvel para viabilizar a execução de obras e

serviços que atendam ao interesse público. Nesta toada, é verificável que, com a

substancialização da servidão administrativa, ocorre o exercício paralelo de outro

direito real em favor de um prédio, o qual passa a ser denominado de dominante, ou

mesmo de uma pessoa, de modo tal que o proprietário não é mais o único a exercer

os direitos dominiais sobre a res. Com realce, insta ponderar que a servidão

administrativa estabelecida em favor de prédio materializa a servidão real, ao passo

que se beneficiar determinada pessoa constituirá a servidão pessoal. Afora isso,

mister se faz sobrelevar que a servidão administrativa, consoante as lições

apresentadas pelo festejado José dos Santos Carvalho Filho, consiste no “direito

real público que autoriza o Poder Público a usar a propriedade imóvel para permitir a

execução de obras e serviços de interesse coletivo”7.

Não discrepa de tal entendimento Meirelles que, com o destaque

reclamado, coloca em evidência que a “servidão administrativa ou pública é ônus

real de uso imposto pela Administração à propriedade particular para assegurar a

realização e conservação de obras e serviços públicos ou de utilidade pública”8.

Ressoando o sedimento doutrinário, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande

do Sul, ao apreciar a Apelação Cível N° 70039145073, já decidiu que a “servidão

administrativa é direito real de uso, estabelecido em favor da Administração Pública 6 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão proferido em Recurso em Mandado de Segurança

N° 27.428/GO. Administrativo. Servidor público. Determinação de abertura de conta corrente em instituição financeira pré-determinada. Recebimento de proventos. Possibilidade. Recurso ordinário improvido. Órgão Julgador: Quinta Turma. Relator: Ministro Jorge Mussi. Julgado em 03.03.2011. Publicado em 14mar. 2011. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em 26 out. 2014. 7 CARVALHO FILHO, 2011, p. 717.

8 MEIRELLES, 2012, p. 688.

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ou de seus delegados, incidente sobre a propriedade particular”9. É plenamente

observável, notadamente a partir do escólio adotado, que as servidões

administrativas dão ao a um direito real público, eis que sua instituição decorre da

atuação do Ente Estatal, com o fito primevo de atender a fatores de interesse

público. Nesta senda, é observável, justamente, que o aspecto caracterizador que

difere o instituto em tela da servidão decorrente do direito privado, norteada pelas

disposições albergadas pela Lei N° 10.406, de 10 de janeiro de 200210, tendo como

participantes da relação jurídica pessoas de iniciativa privada, descansa justamente

na presença do Ente Estatal.

Além disso, o núcleo fundamental de ambos os institutos ora

mencionados se alicerçam no mesmo paradigma. Neste alamiré, em que pese a

identidade de núcleos, perceptíveis são os aspectos distintivos da servidão privada e

da servidão administrativa, quais sejam: a) a servidão administrativa busca atender a

interesse público, ao passo que a servidão privada, respaldada pelo Estatuto Civil,

visa satisfazer interesse privado; b) a servidão administrativa sofre o influxo dos

ditames e princípios do direito público, ao passo que as servidões privadas estão

sujeitas aos cânones e corolários do direito privado. Constitui verdadeiro ônus real

imposto a um imóvel, particular ou público, no interesse de satisfazer o interesse

público. Ao lado disso, com efeito, cuida salientar que, em sede de servidão

administrativa, o imóvel serviente poderá ser tanto um privado, o que ocorre

9 RIO GRANDE DO SUL (ESTADO). Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

Acórdão proferido em Apelação Cível N°70039145073. Apelação cível e recurso adesivo. Servidão de eletroduto. - A apelação interposta contra sentença que não foi alterada no julgamento dos embargos de declaração prescinde de ratificação para ser recebida pelo juízo de primeiro grau. Precedentes desta Corte. Ausência de previsão legal de ratificação da apelação interposta antes do julgamento dos embargos declaratórios. - Recurso adesivo que se apresenta intempestivo e deserto. Não conhecimento. - Servidão administrativa é direito real de uso, estabelecido em favor da Administração Pública ou de seus delegados, incidente sobre a propriedade particular. Sua instituição acarreta indenização dos prejuízos sofridos pelo particular, não se indenizando o valor total da propriedade, mas tão-somente a diminuição do valor do imóvel. - Acolhimento do laudo realizado pelo perito judicial, pois profissional equidistante das partes, observado o contraditório, a ampla defesa, e utilizado o método comparativo. - Atualização do valor depositado para imissão provisória na posse até a data do laudo judicial, a fim de evitar o enriquecimento sem causa da demandada. - Verba honorária minorada em observância ao disposto no art. 27, § 1º, do Decreto-lei nº 3.365/41, com a redação introduzida pela MP nº 1.997-33/99. Rejeitaram a preliminar, não conheceram do recurso adesivo e deram parcial provimento à apelação. Órgão Julgador: Terceira Câmara Cível. Relatora: Desembargadora Matilde Chabar Maia. Julgado em 03 nov. 2011. Disponível em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso em 26 out. 2014. 10

BRASIL. Lei Nº. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014.

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comumente, ou mesmo o público. Afora isso, em se tratando de limitação singular, a

constituição do instituto em tela é passível de indenização ao proprietário.

3 Fundamentos da Servidão Administrativa

Ao se analisar a servidão administrativa, mister se faz aludir que o

fundamento da instituição da intervenção do Estado na propriedade privada encontra

descanso na supremacia do interesse público sobre o interesse privado, tal como a

função social da propriedade, claramente delineada no artigo 5°, inciso XXIII11, e

artigo 170, inciso III12, ambos da Constituição Federal de 1988. Assim, o sacrifício da

propriedade cede lugar ao interesse público que inspira e norteia a atuação

interventiva do Ente Estatal. Inexiste uma disciplina normativa federal específica

acerca das servidões administrativas, sendo comumente utilizada a norma

insculpida no artigo 40 do Decreto-Lei N° 3.365, de 21 de junho de 194113, que

dispõe sobre desapropriações por utilidade pública. “Com esforço interpretativo,

contudo, podemos entender que o titular do poder de instituir as servidões é o Poder

Público (que na lei é o expropriante) e que, em alguns casos, será observado o

procedimento da mesma lei para a instituição do ônus real”14.

São exemplos mais comuns da servidão administrativa a instalação de

redes elétricas e a implantação de gasodutos e oleodutos em áreas privadas para a

execução de serviços públicos. A acepção clássica do instituto em discussão

envolve a nomeado servidão de trânsito, isto é, aquela que provoca a utilização do

solo, promovendo a redução da área útil do imóvel do proprietário. Farta é a

11

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (omissis) XXIII - a propriedade atenderá a sua função social”. 12

__________. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (omissis) III - função social da propriedade”. 13

__________. Decreto-Lei N° 3.365, de 21 de junho de 1941. Dispõe sobre desapropriações por utilidade pública. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014: “Art. 40. O expropriante poderá constituir servidões, mediante indenização na forma desta lei’. 14

CARVALHO FILHO, 2011, p. 719.

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jurisprudência, inclusive, que explicita a natureza de servidões administrativas as

hipóteses apresentadas acima, consoante se infere:

Ementa: Apelação cível. Servidão de eletroduto. Passagem de linha de transmissão de energia elétrica. Controvérsia quanto ao valor da indenização. - A servidão administrativa enseja ao proprietário do imóvel o direito a justa e prévia indenização em dinheiro. - Servidão administrativa é direito real de uso, estabelecido em favor da Administração Pública ou de seus delegados, incidente sobre a propriedade particular. Sua instituição acarreta indenização dos prejuízos efetivamente sofridos pelo particular, não se indenizando o valor total da propriedade. - Laudo pericial realizado judicialmente que não apresenta irregularidades, devendo ser utilizado para fins de arbitramento da indenização pelos prejuízos sofridos pelo proprietário do imóvel serviente. Negaram provimento à apelação. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul - Terceira Câmara Cível/ Apelação Cível Nº 70036651628/ Relatora: Desembargadora Matilde Chabar Maia/ Julgado em 02.08.2012) (grifou-se). Ementa: Apelação. Indenização. Desapropriação indireta. Prolongamento de ruas projetado. Canalização de esgoto. Servidão administrativa. No caso, não está em questão apenas a destinação futura da área, mas o uso atual, já efetivado, segundo os apelantes. O uso de imóvel para escoamento do esgoto municipal pode ser considerado como servidão administrativa, pois, nessa hipótese, não se efetiva a transferência da propriedade, configurando-se apenas um ônus especial ao bem. Sendo considerada servidão administrativa, embora os proprietários continuem com o domínio e a posse, cabível indenização se comprovado prejuízo decorrente da restrição de uso da propriedade. Nessas circunstâncias, não há como considerar a parte autora carecedora de ação por falta de interesse processual, pois necessita de tutela de utilidade jurídica. Sentença desconstituída. Deram parcial provimento ao apelo. Unânime. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul - Quarta Câmara Cível/ Apelação Cível Nº 70037997202/ Relator: Desembargador Alexandre Mussoi Moreira/ Julgado em 13.06.2012) (destacou-se).

Ementa: Apelação cível. Condomínio. Ação de indenização. Corte de grama. Servidão administrativa de passagem. Ônus do proprietário do imóvel. 1. A servidão administrativa constitui-se em restrição ao uso da propriedade, imposta pelo Poder Público ao particular (neste caso) com o objetivo de resguardar interesse da coletividade, regendo-se ou por acordo firmado entre as partes, ou por sentença judicial. 2. No caso dos autos, houve acerto amigável formalizado através de Escritura Pública, da qual se extrai que os proprietários foram indenizados pela PETROBRÁS pelos prejuízos (presentes e futuros) decorrentes da mencionada servidão, ocasião em que outorgaram plena e irrevogável quitação, declarando nada mais ter a reclamar "a qualquer título". 3. Como se não bastasse os termos da quitação outrora outorgada, os proprietários permaneceram utilizando a área para circulação (inclusive para trânsito de veículos), devendo, portanto, suportarem os ônus decorrentes de sua conservação. Apelo desprovido. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul - Décima Nona Câmara Cível/ Apelação Cível Nº 70046929196/ Relator: Desembargador Eugênio Facchini Neto/ Julgado em 27.03.2012) (grifou-se).

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“Algumas vezes as servidões administrativas são suportadas pelos

particulares ou pelo Poder Público sem qualquer indenização, dado que sua

instituição não lhes causa qualquer dano, nem lhes impede o uso normal da

propriedade”15, a exemplo do que se verifica na afixação de placa de denominação

de rua ou de gancho para sustentar fios de rede energia elétrica dos trólebus em

parede de prédio situado em determinados cruzamentos, bem como com a

colocação de postes nas calçadas por concessionárias de serviço público. Com

efeito, não se verifica nas situações explicitadas acima qualquer interferência, por

parte do Ente Estatal, que possa produzir prejuízos ao proprietário particular, não

cabendo, portanto, em teoria, verba indenizatória.

4 Breve Painel à Tutela e Salvaguarda do Meio Ambiente Natural:

Ponderações ao artigo 225 da Constituição Federal

Em uma primeira plana, ao lançar mão do sedimentado jurídico-

doutrinário apresentado pelo inciso I do artigo 3º da Lei Nº. 6.938, de 31 de agosto

de 198116, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e

mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências, salienta que o

meio ambiente consiste no conjunto e conjunto de condições, leis e influências de

ordem química, física e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas

formas. Pois bem, com o escopo de promover uma facilitação do aspecto conceitual

apresentado, é possível verificar que o meio ambiente se assenta em um complexo

diálogo de fatores abióticos, provenientes de ordem química e física, e bióticos,

consistentes nas plurais e diversificadas formas de seres viventes. Consoante os

ensinamentos apresentados por José Afonso da Silva, considera-se meio-ambiente

como “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que

propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”17.

15

GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012, p. 891. 16

BRASIL. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014. 17 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros Editores, 2009, p.20.

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Nesta senda, ainda, Fiorillo18, ao tecer comentários acerca da acepção

conceitual de meio ambiente, coloca em destaque que tal tema se assenta em um

ideário jurídico indeterminado, incumbindo, ao intérprete das leis, promover o seu

preenchimento. Dada à fluidez do tema, é possível colocar em evidência que o meio

ambiente encontra íntima e umbilical relação com os componentes que cercam o ser

humano, os quais são de imprescindível relevância para a sua existência. O Ministro

Luiz Fux, ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade N°. 4.029/AM, salientou,

com bastante pertinência, que:

(...) o meio ambiente é um conceito hoje geminado com o de saúde pública, saúde de cada indivíduo, sadia qualidade de vida, diz a Constituição, é por isso que estou falando de saúde, e hoje todos nós sabemos que ele é imbricado, é conceitualmente geminado com o próprio desenvolvimento. Se antes nós dizíamos que o meio ambiente é compatível com o desenvolvimento, hoje nós dizemos, a partir da Constituição, tecnicamente, que não pode haver desenvolvimento senão com o meio ambiente ecologicamente equilibrado. A geminação do conceito me parece de rigor técnico, porque salta da própria Constituição Federal

19.

É denotável, desta sorte, que a constitucionalização do meio ambiente no

Brasil viabilizou um verdadeiro salto qualitativo, no que concerne, especificamente,

às normas de proteção ambiental. Tal fato decorre da premissa que os robustos

corolários e princípios norteadores foram alçados ao patamar constitucional,

assumindo colocação eminente, ao lado das liberdades públicas e dos direitos

fundamentais. Superadas tais premissas, aprouve ao Constituinte, ao entalhar a

Carta Política Brasileira, ressoando os valores provenientes dos direitos de terceira

dimensão, insculpir na redação do artigo 225, conceder amplo e robusto respaldo ao

meio ambiente como pilar integrante dos direitos fundamentais. “Com o advento da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, as normas de proteção

ambiental são alçadas à categoria de normas constitucionais, com elaboração de

18

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São Paulo: Editora Saraiva, 2012, p. 77. 19

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 4.029/AM. Ação Direta de Inconstitucionalidade. Lei Federal Nº 11.516/07. Criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Legitimidade da Associação Nacional dos Servidores do IBAMA. Entidade de Classe de Âmbito Nacional. Violação do art. 62, caput e § 9º, da Constituição. Não emissão de parecer pela Comissão Mista Parlamentar. Inconstitucionalidade dos artigos 5º, caput, e 6º, caput e parágrafos 1º e 2º, da Resolução Nº 1 de 2002 do Congresso Nacional. Modulação dos Efeitos Temporais da Nulidade (Art. 27 da Lei 9.868/99). Ação Direta Parcialmente Procedente. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Luiz Fux. Julgado em 08 mar. 2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 26 out. 2014.

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capítulo especialmente dedicado à proteção do meio ambiente”20. Nesta toada,

ainda, é observável que o caput do artigo 225 da Constituição Federal de 198821

está abalizado em quatro pilares distintos, robustos e singulares que, em conjunto,

dão corpo a toda tábua ideológica e teórica que assegura o substrato de edificação

da ramificação ambiental.

Primeiramente, em decorrência do tratamento dispensado pelo artífice da

Constituição Federal, o meio ambiente foi içado à condição de direito de todos,

presentes e futuras gerações. É encarado como algo pertencente a toda

coletividade, assim, por esse prisma, não se admite o emprego de qualquer

distinção entre brasileiro nato, naturalizado ou estrangeiro, destacando-se, sim, a

necessidade de preservação, conservação e não-poluição. O artigo 225, devido ao

cunho de direito difuso que possui, extrapola os limites territoriais do Estado

Brasileiro, não ficando centrado, apenas, na extensão nacional, compreendendo

toda a humanidade. Neste sentido, o Ministro Celso de Mello, ao apreciar a Ação

Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ, destacou que:

A preocupação com o meio ambiente - que hoje transcende o plano das presentes gerações, para também atuar em favor das gerações futuras (...) tem constituído, por isso mesmo, objeto de regulações normativas e de proclamações jurídicas, que, ultrapassando a província meramente doméstica do direito nacional de cada Estado soberano, projetam-se no plano das declarações internacionais, que refletem, em sua expressão concreta, o compromisso das Nações com o indeclinável respeito a esse direito fundamental que assiste a toda a Humanidade

22.

20

THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental: Conforme o Novo Código Florestal e a Lei Complementar 140/2011. 2 ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2012, p. 116. 21

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. 22

__________. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) - Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa - Diploma Legislativo que estimula o cometimento de atos de crueldade contra galos de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98, ART. 32) - Meio Ambiente - Direito à preservação de sua integridade (CF, Art. 225) - Prerrogativa qualificada por seu caráter de metaindividualidade - Direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da solidariedade - Proteção constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) - Descaracterização da briga de galo como manifestação cultural - Reconhecimento da inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada - Ação Direta procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna – Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador:

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O termo “todos”, aludido na redação do caput do artigo 225 da

Constituição Federal de 1988, faz menção aos já nascidos (presente geração) e

ainda aqueles que estão por nascer (futura geração), cabendo àqueles zelar para

que esses tenham à sua disposição, no mínimo, os recursos naturais que hoje

existem. Tal fato encontra como arrimo a premissa que foi reconhecido ao gênero

humano o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao gozo de condições de

vida adequada, em ambiente que permita desenvolver todas as suas

potencialidades em clima de dignidade e bem-estar. Pode-se considerar como um

direito transgeracional, ou seja, ultrapassa as gerações, logo, é viável afirmar que o

meio-ambiente é um direito público subjetivo. Desta feita, o ideário de que o meio

ambiente substancializa patrimônio público a ser imperiosamente assegurado e

protegido pelos organismos sociais e pelas instituições estatais, qualificando

verdadeiro encargo irrenunciável que se impõe, objetivando sempre o benefício das

presentes e das futuras gerações, incumbindo tanto ao Poder Público quanto à

coletividade considerada em si mesma.

Assim, decorrente de tal fato, produz efeito erga mones, sendo,

portanto, oponível contra a todos, incluindo pessoa física/natural ou jurídica, de

direito público interno ou externo, ou mesmo de direito privado, como também ente

estatal, autarquia, fundação ou sociedade de economia mista. Impera, também,

evidenciar que, como um direito difuso, não subiste a possibilidade de quantificar

quantas são as pessoas atingidas, pois a poluição não afeta tão só a população

local, mas sim toda a humanidade, pois a coletividade é indeterminada. Nesta

senda, o direito à interidade do meio ambiente substancializa verdadeira prerrogativa

jurídica de titularidade coletiva, ressoando a expressão robusta de um poder

deferido, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas num sentido mais

amplo, atribuído à própria coletividade social.

Com a nova sistemática entabulada pela redação do artigo 225 da

Carta Maior, o meio-ambiente passou a ter autonomia, tal seja não está vinculada a

lesões perpetradas contra o ser humano para se agasalhar das reprimendas a

Tribunal Pleno. Relator: Ministro Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 26 out. 2014.

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serem utilizadas em relação ao ato perpetrado. Figura-se, ergo, como bem de uso

comum do povo o segundo pilar que dá corpo aos sustentáculos do tema em tela. O

axioma a ser esmiuçado, está atrelado o meio-ambiente como vetor da sadia

qualidade de vida, ou seja, manifesta-se na salubridade, precipuamente, ao vincular

a espécie humana está se tratando do bem-estar e condições mínimas de

existência. Igualmente, o sustentáculo em análise se corporifica também na higidez,

ao cumprir os preceitos de ecologicamente equilibrado, salvaguardando a vida em

todas as suas formas (diversidade de espécies).

Por derradeiro, o quarto pilar é a corresponsabilidade, que impõe ao

Poder Público o dever geral de se responsabilizar por todos os elementos que

integram o meio ambiente, assim como a condição positiva de atuar em prol de

resguardar. Igualmente, tem a obrigação de atuar no sentido de zelar, defender e

preservar, asseverando que o meio-ambiente permaneça intacto. Aliás, este último

se diferencia de conservar que permite a ação antrópica, viabilizando melhorias no

meio ambiente, trabalhando com as premissas de desenvolvimento sustentável,

aliando progresso e conservação. Por seu turno, o cidadão tem o dever negativo,

que se apresenta ao não poluir nem agredir o meio-ambiente com sua ação. Além

disso, em razão da referida corresponsabilidade, são titulares do meio ambiente os

cidadãos da presente e da futura geração.

No que concerne ao meio ambiente natural, cuida salientar que tal faceta

é descrita como ambiente natural, também denominado de físico, o qual, em

sua estrutura, agasalha os fatores abióticos e bióticos, considerados como recursos

ambientais. Nesta esteira de raciocínio, oportunamente, cumpre registrar, a partir de

um viés jurídico, a acepção do tema em destaque, o qual vem disciplinado pela Lei

Nº. 9.985, de 18 de Julho de 2000, que regulamenta o art. 225, §1º, incisos I, II, III

e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza e dá outras providências, em seu artigo 2º, inciso IV, frisa

que “recurso ambiental: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e

subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da

biosfera, a fauna e a flora”23. Nesta esteira, o termo fatores abióticos abriga a

23

BRASIL. Lei Nº. 9.985, de 18 de Julho de 2000. Regulamenta o art. 225, §1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014

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atmosfera, os elementos afetos à biosfera, as águas (inclusive aquelas que se

encontram no mar territorial), pelo solo, pelo subsolo e pelos recursos minerais; já os

fatores bióticos faz menção à fauna e à flora, como bem assinala Fiorillo24. Em

razão da complexa interação entre os fatores abióticos e bióticos que ocorre o

fenômeno da homeostase, consistente no equilíbrio dinâmico entre os seres

vivos e o meio em que se encontram inseridos.

Consoante Rebello Filho e Bernardo, o meio ambiente natural “é

constituído por todos os elementos responsáveis pelo equilíbrio entre os seres vivos

e o meio em que vivem: solo, água, ar atmosférico, fauna e flora”25. Nesta senda,

com o escopo de fortalecer os argumentos apresentados, necessário se faz colocar

em campo que os paradigmas que orientam a concepção recursos naturais como

componentes que integram a paisagem, desde que não tenham sofrido maciças

alterações pela ação antrópica a ponto de desnaturar o seu aspecto característico.

Trata-se, com efeito, de uma conjunção de elementos e fatores que mantêm uma

harmonia complexa e frágil, notadamente em razão dos avanços e degradações

provocadas pelo ser humano. Ao lado do esposado, faz-se carecido pontuar que

os recursos naturais são considerados como tal em razão do destaque concedido

pelo ser humano, com o passar dos séculos, conferindo-lhes valores de ordem

econômica, social e cultural. Desta feita, tão somente é possível à compreensão do

tema a partir da análise da relação homem-natureza, eis que a interação entre

aqueles é preponderante para o desenvolvimento do ser humano em todas as suas

potencialidades. Patente se faz ainda, em breves palavras, mencionar a

classificação dos recursos naturais, notadamente em razão da importância daqueles

no tema em testilha. O primeiro grupo compreende os recursos naturais renováveis,

que são os elementos naturais, cuja correta utilização, propicia a renovação, a

exemplo do que se observa na fauna, na flora e nos recursos hídricos.

Os recursos naturais não-renováveis fazem menção àqueles que não

logram êxito na renovação ou, ainda, quando conseguem, esta se dá de maneira

lenta em razão dos aspectos estruturais e característicos daqueles, como se

observa no petróleo e nos metais em geral. Por derradeiro, os denominados

24

FIORILLO, 2012, p. 78. 25

REBELLO FILHO, Wanderley; BERNARDO, Christianne. Guia prático de direito ambiental. Rio de Janeiro: Editora Lumen, 1998, p. 19.

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recursos inesgotáveis agasalham aqueles que são “infindáveis”, como a luz solar e o

vento. Salta aos olhos, a partir das ponderações estruturadas, que os recursos

naturais, independente da seara em que se encontrem agrupados, apresentam

como elemento comum de caracterização o fato de serem criados originariamente

pela natureza. Nesta linha, ainda, de dicção, cuida assinalar que o meio ambiente

natural encontra respaldo na Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, em seu artigo 225, caput e §1º, incisos I, III e IV.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. §1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas [omissis] III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade

26.

Ora, como bem manifestou o Ministro Carlos Britto, ao apreciar a

Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 3.540, “não se

erige em área de proteção especial um espaço geográfico simplesmente a

partir de sua vegetação, há outros elementos. Sabemos que fauna, flora, floresta,

sítios arqueológicos concorrem para isso”27. Verifica-se, assim, que o espaço

26

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014. 27

__________. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido na Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 3.540. Meio Ambiente - Direito à preservação de sua integridade (CF, art. 225) - Prerrogativa qualificada por seu caráter de metaindividualidade - Direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da solidariedade - Necessidade de impedir que a transgressão a esse direito faça irromper, no seio da coletividade, conflitos intergeneracionais - Espaços territoriais especialmente protegidos (CF, art. 225, § 1º, III) - Alteração e supressão do regime jurídico a eles pertinente - Medidas sujeitas ao princípio constitucional da reserva de lei - Supressão de vegetação em área de preservação permanente - Possibilidade de a administração pública, cumpridas as exigências legais, autorizar, licenciar ou permitir obras e/ou atividades nos espaços territoriais protegidos, desde que respeitada, quanto a estes, a integridade dos atributos justificadores do regime de proteção especial - Relações entre economia (CF, art. 3º, II, c/c o art. 170, VI) e ecologia (CF, art. 225) - Colisão de direitos fundamentais - Critérios de superação desse estado de tensão entre valores constitucionais relevantes - Os direitos básicos da pessoa humana e as sucessivas gerações (fases ou dimensões) de direitos (RTJ 164/158, 160-161) - A questão da precedência do direito à preservação do meio ambiente: uma limitação constitucional

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territorial especialmente protegido do direito constitucional ao meio ambiente

hígido e equilibrado, em especial no que atina à estrutura e funções dos diversos

e complexos ecossistemas. Nessa esteira de exposição, as denominadas “unidades

explícita à atividade econômica (CF, art. 170, VI) - Decisão não referendada - Consequente indeferimento do pedido de medida cautelar. a preservação da integridade do meio ambiente: expressão constitucional de um direito fundamental que assiste à generalidade das pessoas. - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente. - A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem- estar da população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental considerado este em seu aspecto físico ou natural. A questão do desenvolvimento nacional (CF, art. 3º, II) e a necessidade de preservação da integridade do meio ambiente (CF, art. 225): O princípio do desenvolvimento sustentável como fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia. - O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O art. 4º do Código Florestal e a Medida Provisória Nº 2.166-67/2001: Um avanço expressivo na tutela das áreas de preservação permanente. - A Medida Provisória nº 2.166-67, de 24/08/2001, na parte em que introduziu significativas alterações no art. 4o do Código Florestal, longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão. - Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio da reserva legal. - É lícito ao Poder Público - qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) - autorizar, licenciar ou permitir a execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico de proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III). Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Celso de Mello. Julgado em 01 set. 2005. Publicado no DJe em 03 fev. 2006, p. 00014. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 26 out. 2014.

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de conservação”, neste aspecto de afirmação constitucional, enquanto instrumentos

de preservação do meio ambiente natural, configuram áreas de maciço interesse

ecológico que, em razão dos aspectos característicos naturais relevantes, recebem

tratamento legal próprio, de maneira a reduzir a possibilidade de intervenções

danosas ao meio ambiente.

Diante do exposto, o meio ambiente, em sua acepção macro e

especificamente em seu desdobramento natural, configura elemento inerente ao

indivíduo, atuando como sedimento a concreção da sadia qualidade de vida e, por

extensão, ao fundamento estruturante da República Federativa do Brasil, consistente

na materialização da dignidade da pessoa humana. Ao lado disso, tal como

pontuado algures, a Constituição da República estabelece, em seu artigo 225, o

dever do Poder Público adotar medidas de proteção e preservação do ambiente

natural. Aliás, tal dever é de competência político-administrativa de todos os

entes políticos, devendo, para tanto, evitar que os espaços de proteção ambiental

sejam utilizados de forma contrária à sua função – preservação das espécies

nativas e, ainda, promover ostensiva fiscalização desses locais.

5 Servidão Ambiental: Singelos Comentários à redação do artigo 9º-

A da Lei nº 6.938/1981

Oportunamente, cuida assinalar que o instituto da servidão administrativa

ambiental foi introduzido no ordenamento jurídico vigente pela Lei nº 12.651, de 25

de Maio de 201228, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis

nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428,

de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e

7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de

2001; e dá outras providências, ao introduzir o artigo 9º-A Lei nº. 6.938, de 31 de

agosto de 198129, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins

28

BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de Maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis n

os 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de

22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos

4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória n

o 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.

Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014. 29

__________. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014.

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e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Consoante a

dicção do dispositivo legal ora mencionado, o proprietária ou possuidor de imóvel,

pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou particular ou por termo

administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de toda a

sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os

recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental.

Assim, cuida ponderar que, em sintonia com as ponderações de Édis

Milaré, “a servidão ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio

Ambiente e envolve, basicamente, a renúncia voluntária do proprietário rural, ao

direito de uso, exploração ou supressão dos recursos naturais existentes em

determinado prédio particular”30. Quadra frisar, ainda, que a própria legislação

estabelece, de maneira clara, a estrutura e os requisitos da servidão ambiental,

sendo interessante destacar que a servidão pode ser onerosa ou gratuita,

temporária ou perpétua, conforme haja ou não remuneração e haja ou não fixação

de tempo de vigência31. Em relação aos caracteres do instituto em comento, é

interessante frisar que deve obedecer ao prazo mínimo de 15 (quinze) anos na

servidão ambiental temporária32, não sendo possível aplicá-la às áreas de

preservação permanente e de reserva legal33. Há que se observar, ainda, que a

limitação ao uso ou exploração da vegetação da área sob a servidão instituída em

relação aos recursos florestais deve ser, no mínimo, a mesma afixada para reserva

legal34. Igualmente, quadra anotar que a servidão ambiental deve ser averbada no

30

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 9 ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais Ltda., 2014, p. 882. 31

Neste sentido: BRASIL. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014. Art. 9

o-B. A servidão

ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou perpétua. 32

Neste sentido: __________. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014. Art. 9

o-

B. [omissis] §1o O prazo mínimo da servidão ambiental temporária é de 15 (quinze) anos.

33 Neste sentido: __________. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política

Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014. Art. 9

o-

B. [omissis] §2o A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso

aos recursos de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, definida no art. 21 da Lei n

o 9.985, de 18 de julho de 2000.

34 Neste sentido: __________. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política

Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014. Art. 9

o-

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registro de imóveis competente. Em se tratando de compensação de reserva legal, a

servidão deve ser averbada na matrícula de todos os imóveis envolvidos.

Convém, também, destacar que é vedada, durante o prazo de vigência da

servidão ambiental, a alteração da destinação da área, nos casos de transmissão do

imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites de

propriedade. Assim, em que pesem as ressalvas cabíveis, insta salientar que a

servidão ambiental, tal como ocorre com a servidão comum, afixa um ônus ao prédio

serviente. Porém, os aspectos de diferenciação daquelas se dá em dois aspectos

distintos, a saber: quanto à titularidade e quanto à origem. No primeiro aspecto, o

beneficiário da servidão comum é outro imóvel, nomeado de dominante, ao passo

que na servidão ambiental é vago, indeterminado, representado pelas presentes e

futuras gerações humanas. No segundo aspecto, a servidão comum pode ser legal

ou voluntária, enquanto que na servidão ambiental será sempre voluntária.

Consoante o §2º do artigo 9º-B da Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 198135, que

dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação, e dá outras providências, a servidão perpétua equivale, para

fins creditícios, tributários e de acesso aos recursos de fundos públicos, à Reserva

Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Conquanto o mecanismo não se encontre

totalmente desenvolvido, salta aos olhos que o instituidor da servidão ambiental

busca e tem direito a benefícios econômicos indiretos, personificados na concessão

de crédito em situação mais vantajosa ou pelo enquadramento tributário diferenciado

A. [omissis] §3

o A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental

deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal. 35

BRASIL. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 out. 2014.

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REFERÊNCIA:

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil.

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