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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS E MEIO
AMBIENTE
Mayra Santos Mourão Gonçalves
ANÁLISE ESPAÇO TEMPORAL DA LEISHMANIOSE VISCERAL NA
REGIÃO SUDESTE DO PARÁ.
MANAUS-PA
2018
Mayra Santos Mourão Gonçalves
ANÁLISE ESPAÇO TEMPORAL DA LEISHMANIOSE VISCERAL NA
REGIÃO SUDESTE DO PARÁ.
Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em Ciências e Meio Ambiente do Instituto de Ciências Exatas e Naturais da Universidade Federal do Pará, como parte das exigências para a defesa de Mestrado na área de Recursos Naturais e Sustentabilidade. Orientador: Prof. Dr. Cláudio Nahum Alves
MANAUS-PA
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal
do Pará Gerada automaticamente pelo módulo Ficat, mediante os dados fornecidos pelo(a)
autor(a)
Santos Mourão Gonçalves, Mayra ANÁLISE ESPAÇO TEMPORAL DA LEISHMANIOSE VISCERAL NA REGIÃO SUDESTE DO
PARÁ / Mayra Santos Mourão Gonçalves. — 2018 30 f. : il. color
Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-graduação em Ciências e Meio Ambiente
(PPGCMA), Instituto de Ciências Exatas e Naturais, Universidade Federal do Pará, Belém, 2018.
Orientação: Prof. Dr. Cláudio Nahum Alves
1. Leishmaniose Visceral. 2. DATASUS. 3. SURFER. I. Nahum Alves, Cláudio, orient. II. Título
CDD 341.64098
Mayra Santos Mourão Gonçalves
ANÁLISE ESPAÇO TEMPORAL DA LEISHMANIOSE VISCERAL NA
REGIÃO SUDESTE DO PARÁ.
Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em Ciências e Meio Ambiente do Instituto de Ciências Exatas e Naturais da Universidade Federal do Pará, como parte das exigências para a defesa de Mestrado na área de Recursos Naturais e Sustentabilidade. Orientador: Prof. Dr. Cláudio Nahum Alves
Local e data de defesa:
BANCA EXAMINADORA:
________________________________________________________
Prof. Dr. Cláudio Nahum Alves
Orientador
(Universidade Federal do Pará)
________________________________________________________
Prof. Dr. Cledson Nahum Alves
(Instituto Federal do Pará)
________________________________________________________
Prof. Dr. Davi do S. Barros Brasil
(Universidade Federal do Pará)
AGRADECIMENTOS
À Deus.
RESUMO
Este trabalho retrata uma análise geoespacial sobre a patologia Leishmaniose
Visceral (LV), no período de Janeiro de 2008 à Fevereiro de 2018, no sudeste
paraense, enfatiza-se então a incidência e expansão neste território. As notificações
do diagnóstico da LV foram retiradas da plataforma DATASUS (Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde) e o espaço amostral foi computado
estatisticamente no software Excel, e consequentemente modelados no software
SURFER® para a prospecção geoespacial. O número de interações ocasionadas
pela doença aumentou, principalmente nos municípios de Redenção e Conceição do
Araguaia, nos quais apontaram que o gênero masculino é o mais infectado, dentre
estes crianças e adolescentes. A pesquisa denota que é necessário investir em um
programa de controle para prevenir, corrigir e erradicar posteriormente a incidência
da LV.
Palavras Chave: Leishmaniose Visceral. DATASUS. SURFER.
ABSTRACT
This work presents a geospatial analysis of Visceral Leishmaniasis (LV), from
January 2008 to February 2018, in southeast of Paraense, emphasizing the
incidence and expansion in this territory. The reports of the LV diagnosis were taken
from the DATASUS (Department of Informatics of the Unified Health System)
platform and the sample space was computed statistically in the Excel software, and
consequently modeled in the SURFER® software for geospatial prospecting. The
number of interactions caused by the disease increased, mainly in the municipalities
of Redenção and Conceição do Araguaia, in which they indicated that the male
gender is the most infected, among these children and adolescents. The research
denoted that it is necessary to invest in a control program to prevent, correct and
later eradicate the incidence of VL.
Keywords: Visceral Leishmaniasis. DATASUS. SURFER.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. O vetor (Lutzomyia longipalpis) responsável pela transmissão da Leishmaniose
Visceral na América Latina. Fonte: Wikimedia Commons, Ray Wilson, Liverpool School of
Tropical Medicine ................................................................................................................. 14
Figura 2. Ciclo da Leishmaniose Visceral. Fonte: Adaptado de CDC, 2017 ...................... 15
Figura 3. Fase aguda: Paciente com Leishmaniose Visceral. Fonte: Ministério da Saúde
(MS), 2014 ........................................................................................................................... 16
Figura 4. Período de estado: Paciente com Leishmaniose Visceral. Fonte: Ministério da
Saúde (MS), 2014 ................................................................................................................ 17
Figura 5. Fase final: Paciente com Leishmaniose Visceral. Fonte: Ministério da Saúde (MS),
2014 .................................................................................................................................... 17
Figura 6. Municípios de estudo localizados no sudeste paraense. Fonte: Elaborado pela
autora .................................................................................................................................. 20
Figura 7. Número de internações por município no período de Janeiro de 2008 a janeiro de
2018 na região Sudeste do Pará. Fonte: Elaborado pela autora ......................................... 21
Figura 8. Número de internações por gênero de Janeiro de 2008 a janeiro de 2018, na
região Sudeste do Pará. Fonte: Elaborado pela autora ....................................................... 22
Figura 9. Número de internações por faixa etária de Janeiro de 2008 a janeiro de 2018 na
região Sudeste do Pará. Fonte: Elaborado pela autora ....................................................... 23
Figura 10. Número de internações de pacientes com Leishmaniose visceral no período de
Janeiro de 2008 a janeiro de 2018 na região Sudeste do Pará. Fonte: Elaborado pela autora
............................................................................................................................................ 23
Figura 11. Distribuição geoespacial dos casos de Leishmaniose visceral na região Sudeste
do Pará entre (2008 e 2013). Fonte: Elaborado pela autora ................................................ 24
Figura 12. Distribuição geoespacial dos casos de Leishmaniose visceral na região Sudeste
do Pará entre (2008 e 2013). Fonte: Elaborado pela autora ................................................ 24
LISTA DE ABREVIAÇÕES, SIGLAS E SÍMBOLOS
LV Leishmaniose Visceral
LVA Leishmaniose Visceral Americana
LTA Leishmaniose Tegumentar Americana
DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
WHO World Health Organization
MS Ministério da Saúde
OMS Organização Mundial da Saúde
PVCLV Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral
LC Leishmaniose Cutânea
LM Leishmaniose Mucocutânea
CDC Centers for Disease Control and Prevention
SFM Sistema Fagocítico mononuclear
SIG Sistemas de Informação Geográfica
IVDN Índices de Vegetação por Diferença Normalizada
HRPA Hospial Regional Público do Araguaia
Sumário 1.Introdução 11
2. Objetivos 13
2.1 Objetivo Geral 13
2.2 Objetivos Específicos 13
3. Revisão Bibliográfica 14
3.1 Aspectos Gerais 14
3.2 Ciclo Biológico 15
3.3.1 Período inicial 16
3.3.2 Período de estado 17
3.3.3 Período Final 17
3.4 Medidas de controle e prevenção 18
3.5 Análise espacial em epidemiologia 19
4. Metodologia 20
4.1 Tipo de Pesquisa 20
4.2 Local de Estudo 20
4.3 População 21
5. Resultado e Discussão 21
6. Considerações Finais 25
7. Referências Bibliográficas 26
8. Apêndice 30
11
1. Introdução
As leishmanioses incluem doenças causadas por protozoários do gênero
Leishmania, que são transmitidos para o homem e outros hospedeiros mamíferos
pela picada e inoculação das formas parasitárias por fêmeas de dípteros da família
Psychodidae, subfamília Phebotominae, conhecidos genericamente por
flebotomíneos (GONTIJO; MELO, 2004; World Health Organization (WHO), 2018). A
manifestação clínica da doença depende tanto das espécies de parasitas quanto do
estado imunológico do hospedeiro, podem ser classificadas como tegumentar e
visceral (GOSCH et al., 2017).
A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma doença infecciosa, não
contagiosa, que provoca úlceras na pele e mucosas. A doença é causada por
protozoários do gênero Leishmania. No Brasil, há sete espécies de leishmanias
envolvidas na ocorrência de casos de LTA. As mais importantes são: Leishmania
(Leishmania) amazonensis, L. (Viannia) guyanensis e L.(V.) braziliensis (BRASIL,
2017A).
Por sua vez, a leishmaniose visceral (LV), também conhecida por calazar é uma
zoonose de evolução crônica, com acometimento sistêmico e, se não tratada, pode
levar a óbito até 90% dos casos. É transmitida ao homem pela picada de fêmeas do
inseto vetor infectado. No Brasil, a principal espécie responsável pela transmissão é
a Lutzomyia longipalpis, conhecido popularmente como mosquito-palha, no ambiente
urbano, os cães são a principal fonte de infecção para o vetor (BRASIL, 2017).
De acordo com Karimi, Alborzi e Amanati (2016) a leishmaniose visceral humana
ocorre principalmente em regiões tropicais e subtropicais, onde os flebotomíneos
são mais encontrados, como Ásia, África, Américas Central e do Sul, sendo
endêmica em 88 países. Estima-se que 50.000 a 90.000 novos casos de LV ocorrem
em todo o mundo a cada ano. Em 2015, mais de 90% dos novos casos notificados à
OMS ocorreram em sete países: Brasil, Etiópia, Índia, Quênia, Somália, Sudão do
Sul e Sudão (World Health Organization (WHO), 2018).
Em território brasileiro, foi Penna (1934) quem constatou, pela primeira vez, a
ocorrência da LV, diagnosticando 41 casos, sendo a maioria em crianças da Região
Nordeste, com predomínio do Estado do Ceará, e apenas três casos da Região
Norte, em sua totalidade do Estado do Pará, procedentes dos Municípios de Moju e
Abaetetuba (SILVEIRA et al., 2016). Em 1936, o Instituto Oswaldo Cruz organizou
uma comissão presidida pelo Dr. Evandro Chagas e apoiada pelo governo do estado
do Pará, para estudos da leishmaniose visceral americana, inaugurando em Belém o
“Instituto de Patologia Experimental do Norte”, atual Instituto Evandro Chagas
(LAINSON et al., 1986).
Há poucos anos, a doença era considerada típica de ambientes rurais, mas
acredita-se que o desmatamento associado à expansão urbana gera um ambiente
propício à manutenção de flebotomíneos, favorecendo a ocorrência da leishmaniose
visceral americana (LVA) em regiões metropolitanas (World Health Organization
12
(WHO), 2018). Além disso, o Lutzomyia longipalpis se adapta a ambientes urbanos e
suburbanos, alimentando-se de animais domésticos, sinantrópicos e o próprio
homem, sendo um fator relevante para a disseminação da doença em diversos
locais (RANGEL; VILELA, 2008).
Atualmente, sabe-se que a região Nordeste registra os maiores números de
casos de LV (1.806); seguida pelas regiões Sudeste (538); Norte (469); Centro-
Oeste (157); e Sul (5) (BRASIL, 2017). Para conter esse avanço territorial e diminuir
a morbidade e letalidade do agravo, o Ministério da Saúde publicou no ano de 2006
o Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral (PVCLV), com
medidas baseadas no diagnóstico e tratamento precoce dos casos humanos,
redução da população de flebotomíneos, eliminação de reservatórios e atividades de
educação em saúde (VON ZUBEN; DONALÍSIO, 2016)
Nesse cenário, verifica-se a importância de pesquisas sobre a leishmaniose
visceral, considerando que trata-se de uma enfermidade presente em vários
continentes e tanto em ambientes rurais quanto urbanos. E por apresentar-se como
uma zoonose que afeta tanto o homem quanto os animais, necessita de um cuidado
mais direcionado a sua evolução, como também controle dos vetores que
transmitem esta doença, mostrando assim para a população o quanto devemos
estar atentos para o aparecimento frequente desta doença (LISBOA et al., 2016)
Portanto, o desenvolvimento do presente trabalho tem como objetivo conhecer o
perfil epidemiológico dos casos notificados de Leishmaniose Visceral Americana, na
região sudeste paraense a partir de dados retirados da plataforma DATASUS
(Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) no período de Janeiro de
2008 à Fevereiro de 2018. Realizar esta pesquisa sobre o perfil epidemiológico da
LVA destina-se a fornecer à comunidade científica informações atuais, esperando
assim trazer informações capazes de subsidiar as equipes gestoras na elaboração e
execução de propostas de ação para o efetivo controle das Leishmanioses.
13
2. Objetivos
2.1 Objetivo Geral
Descrever as características demográficas dos indivíduos acometidos pela
Leishmaniose Visceral (LV), no período de Janeiro de 2008 à Fevereiro de 2018, no
sudeste paraense.
2.2 Objetivos Específicos
➢ Utilizar dados da plataforma DATASUS (Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde para avaliar a incidência da patologia na área de
estudo;
➢ Fazer uso dos softwares Excel e SURFER® para gerar uma a prospecção
geoespacial;
➢ Analisar a distribuição espacial de casos de LV e a detecção de áreas de maior
risco de adoecimento em municípios paraenses;
➢ Gerar dados para facilitar a compreensão dos fatores envolvidos, contribuindo
desta forma para a melhoria das estratégias de controle e prevenção da doença.
14
Figura SEQ Figura \* ARABIC 1. O vetor (Lutzomyia longipalpis) responsável pela transmissão da Leishmaniose Visceral na América Latina. Fonte: Ray Wilson, Liverpool School of Tropical Medicine.
3. Revisão Bibliográfica
3.1 Aspectos Gerais
A leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose, infecciosa, não contagiosa,
determinada por parasito protozoário da ordem Kinetoplastida, família
Trypanosomatidae, gênero Leishmania (ROSS, 1903) que atinge populações dos
cinco continentes, sendo conhecida, na América Latina, como leishmaniose visceral
americana (LVA) ou "kala-azar neotropical" (ALVAR et al., 2012;(KARIMI; ALBORZI;
AMANATI, 2016).
Os vetores biológicos do parasita são dípteros membros da família
Psycodidae, representados nas Américas principalmente pela espécie Lutzomyia
longipalpis (Figura 1). A distribuição destes dípteros está associada a locais quentes,
úmidos e com elevada quantidade de matéria orgânica (DEANE; DEANE, 1962;
SHARMA; SINGH, 2008).
As espécies de parasitas responsáveis pela leishmaniose visceral estão
divididas mundialmente em três gêneros: Leishmania (Leishmania) chagasi,
Leishmania (Leishmania) donovani e a Leishmania (Leishmania) infantum. A L.
infantum e a L. donovani são os agentes causadores da doença nas áreas do mar
Mediterrâneo e do Oriente Médio (FRASER, 2008; KARIMI; ALBORZI; AMANATI,
2016) e a L. chagasi é responsável pela forma clínica da leishmaniose visceral nas
Américas Central e do Sul, incluindo o Brasil (FERREIRA et al., 2003; ALMEIDA et
al., 2005).
Embora aproximadamente 53 espécies de Leishmania tenham sido descritas,
apenas 20 espécies são conhecidas por causar infecção (Akhoundi et al., 2016). As
espécies patogênicas humanas são capazes de causar diversas manifestações
clínicas tradicionalmente classificadas como: (i) leishmaniose cutânea (LC), (ii)
leishmaniose mucocutânea (LM) e (iii) leishmaniose visceral (LV) que ocorre quando
fígado, medula óssea e/ou baço são afetados. (ALVES et al., 2018).
Figura 1. O vetor (Lutzomyia longipalpis) responsável pela transmissão da Leishmaniose Visceral na América Latina. Fonte: Wikimedia Commons, Ray Wilson, Liverpool School of Tropical Medicine
15
3.2 Ciclo Biológico
A leishmaniose é transmitida pela picada de flebotomíneos fêmeas infectados
(KARIMI; ALBORZI; AMANATI, 2016; GOSCH et al., 2017). A Figura 2 representa o
ciclo de vida do parasito, apresentando as seguintes etapas: (1) Os flebótomos
injetam a forma promastigotas infecciosa durante as refeições de sangue; (2) O
promastigotas atinge a ferida de punção e são fagocitados por macrófagos e outros
tipos de células fagocíticas mononucleares; (3) Progmastigotas transformam essas
células no estágio tecidual do parasita (ou seja, amastigotas); (4) Os amastigotas se
multiplica por divisão simples e infectam outras células fagocíticas mononucleares
(Centers for Disease Control and Prevention (CDC), 2017)
A partir desse estágio a infecção se torna sintomática, apresentando
características de leishmaniose cutânea ou visceral. O ciclo recomeça quando os
flebótomos saudáveis são infectados pela ingestão de células infectadas durante as
refeições de sangue (5-6). Em flebótomos, amastigotas se transformam em
promastigotas, desenvolvem no intestino (no intestino grosso para organismos
leishmanianos no subgênero Viannia; no intestino médio para organismos no
subgênero Leishmania) (7), e migram para a tromba, infectando um novo mamífero
hospedeiro (8) (Centers for Disease Control and Prevention (CDC), 2017). O período
de incubação é bastante variável tanto para o homem como para o cão, sendo de 10
dias a 24 meses (com média entre 2 a 6 meses) e de 3 meses a vários anos (com
média de 3 a 7 meses), respectivamente (BRASIL, 2014).
Figura 2. Ciclo da Leishmaniose Visceral. Fonte: Adaptado de CDC, 2017
16
Figura SEQ Figura \* ARABIC 2. Ciclo da Leishmaniose Visceral. Fonte: Adaptado de CDC, 2017.
3.3 Formas Clínicas
As manifestações clínicas da LVA refletem o equilíbrio entre a multiplicação
dos parasitos nas células do sistema fagocítico mononuclear (SFM), a resposta
imunitária do indivíduo e as alterações degenerativas resultantes desse processo
(GOSCH et al., 2017). Crianças na faixa de 1-10 anos de idades são as mais
atingidas, porém a infecção, pode manifestar-se também nos adultos, sendo o sexo
masculino o mais envolvido (SILVEIRA et al., 2016).
O espectro clínico da enfermidade é vasto, podendo apresentar sintomas
discreto (oligossintomáticas), moderados, graves, e frequentemente confundidos
com outras doenças, como malária, esquistossomose, tuberculose (LISBOA et al.,
2016). As infecções inaparentes ou assintomáticas são aquelas em que não há
evidência de manifestações clínicas, normalmente, vistas em pacientes provenientes
de áreas endêmicas, onde há evidência epidemiológica e imunológica da infecção
(KARIMI; ALBORZI; AMANATI, 2016).
O diagnóstico clínico da leishmaniose visceral deve ser suspeitado quando o
paciente apresentar: febre e esplenomegalia associado ou não à hepatomegalia
(GAMA et al., 2004). Do ponto de vista didático e considerando a evolução clínica da
leishmaniose visceral, optou-se em dividi-la em períodos: período inicial, período de
estado e período final.
3.3.1 Período inicial
A fase inicial da doença, também denominada como “fase aguda”,
caracteriza-se pelo surgimento dos primeiros sintomas os quais podem variar de
paciente para paciente, mas geralmente inclui febre com duração inferior a quatro
semanas, palidez cutâneo-mucosa e hepatoesplenomegalia (Figuras 3) (SILVEIRA
et al., 2016; GOSCH et al., 2017).
Em regiões onde a doença é endêmica, as crianças infectadas, geralmente,
podem apresentar um quadro clínico discreto, com duração de aproximadamente 15
dias, e em muitos caso evolui para cura espontânea, forma oligossintomática
(BRASIL, 2014). Nesses casos, os pacientes sintomas mais discretos, com febre
baixa, hepatomegalia, hiperglobulinemia e aumento do sedimentado sanguíneo
Figura 3. Fase aguda: Paciente com Leishmaniose Visceral. Fonte: Ministério da Saúde (MS), 2014
17
Figura SEQ Figura \* ARABIC 4. Período de estado: Paciente com LV. Fonte: Ministério da Saúde (MS), 2014
Figura SEQ Figura \* ARABIC 5 - Fase final
(GAMA et al., 2004). Esta apresentação clínica pode ser facilmente confundida com
outros processos infecciosos .
3.3.2 Período de estado
Caracteriza-se por febre irregular, geralmente associada a emagrecimento
progressivo, palidez cutâneo-mucosa e aumento da hepatoesplenomegalia.
Apresenta um quadro clínico arrastado geralmente com mais de dois meses de
evolução, na maioria das vezes associado a comprometimento do estado geral
(BRASIL, 2014) (Figuras 13).
3.3.3 Período Final
O diagnóstico clínico é complexo, e sem tratamento o quadro evolui
progressivamente para o período final, com febre contínua e comprometimento mais
intenso do estado geral (GONTIJO; MELO, 2004). Instala-se a desnutrição (cabelos
quebradiços, cílios alongados e pele seca), edema dos membros inferiores que pode
evoluir para anasarca (BRASIL, 2014). Outros sintomas de relevância incluem
hemorragias, icterícia e ascite, atingindo este estágio o óbito geralmente é
determinado por infecções bacterianas e/ou sangramentos (GAMA et al., 2004).
Figura 4. Período de estado: Paciente com Leishmaniose Visceral. Fonte: Ministério da Saúde (MS), 2014
Figura 5. Fase final: Paciente com Leishmaniose Visceral. Fonte: Ministério da Saúde (MS), 2014
18
As complicações mais freqüentes do calazar são de natureza infecciosa
bacteriana. Dentre elas destacam-se: otite média aguda, piodermites, infecções dos
tratos urinário e respiratório (KARIMI; ALBORZI; AMANATI, 2016). Caso essas
infecções não sejam tratadas com antimicrobianos, o paciente poderá desenvolver
um quadro séptico com evolução fatal. As hemorragias são geralmente secundárias
à plaquetopenia sendo a epistaxe e a gengivorragia as mais comumente
encontradas. A hemorragia digestiva e a icterícia quando presentes indicam
gravidade do caso (BRASIL, 2014).
3.4 Medidas de controle e prevenção
Segundo Gontijo e Melo (2004), a prevenção de doenças transmissíveis por
vetores biológicos, por exemplo a LV, torna-se bastante complexo, pois agrega a
existência de reservatórios silvestres, domésticos e condições ambientais. O
controle da calazar consiste na detecção e o tratamento de casos humanos,
pulverização de inseticida para redução da população de vetores, remoção da fonte
de infecção com a eutanásia de cães infectados e medidas de educação e saúde
(Brasil, 2006).
Nesse cenário, o tratamento da infecção canina não tem apresentado
resultados satisfatórios, apresentando altas taxas de fracasso no tratamento, embora
o associado a um declínio na incidência em estudos observacionais (GONTIJO;
MELO, 2004; RANGEL; VILELA, 2008). A aplicação de inseticidas como alternativa
para o controle da população de vetores em regiões de risco pode ser realizada,
porém, os resultados obtidos também têm permanecido abaixo do esperado
(COSTA; VIEIRA, 2001).
Dentre as razões para a ineficiência das ações de controle, está a ausência
de um sistema de vigilância permanente, com a utilização extensiva de recursos
humanos e financeiros e a descontinuidade das ações de controle do vetor e do
reservatório canino, por problemas orçamentários e escassez de recursos humanos
(GONTIJO; MELO, 2004; VON ZUBEN; DONALÍSIO, 2016).
O tratamento das leishmanioses vem sendo realizado com antimoniais
pentavalentes: antimoniato de N-metil glucamina - Glucantime® e estibogluconato
de sódio - Pentostan, que são os medicamentos de primeira escolha para o
tratamento (RATH et al., 2003). Estes fármacos apresentam elevada taxa de
toxicidade, e nem sempre os resultados obtidos no tratamento são efetivos (LIMA et
al., 2007).
Tendo em vista as dificuldades no combate efetivo e redução de áreas que
favoreçam a proliferação de flebotomíneos, é de extrema importância a aplicação de
medidas para que proporcionem continuem controle continuado e eficaz (A AMÓRA
et al., 2009). A participação da população é fundamental para que focos de matéria
orgânica eliminando focos de matéria orgânica acessíveis aos insetos é crucial para
que isto seja alcançado (LISBOA et al., 2016).
A educação ambiental é um fator de extrema importância nos programas de
controle das leishmanioses, pois leva informação a população e dessa forma
19
contribui para reduzir possíveis focos nestes locais (AMÓRA et al., 2009; KARIMI;
ALBORZI; AMANATI, 2016). Diversos estudos apontam a falta de informações sobre
a LVA, incluindo as pessoas que já foram acometidos pela enfermidade e
comunidade em geral (RANGEL; VILELA, 2008; GOSCH et al., 2017). Todos os
serviços que atuam no controle da LVA no Brasil são responsáveis por manter este
trabalho de educação coletiva envolvendo suas equipes multiprofissionais e multi
institucionalmente (BRASIL, 2014).
3.5 Análise espacial em epidemiologia
O termo análise espacial refere-se a capacidade em manipular dado espaciais
de diferentes formatos obtendo informações complementares com bases nestes
(BAILEY, 1994). Na década de 80, iniciou-se os estudos na área da saúde
envolvendo análise espacial e Sistemas de Informação Geográfica (SIG), atualmente
são importantes ferramenta em investigações epidemiológica (CARVALHO et al.,
2005).
De acordo com Marshall (1991) o mapeamento geográfico das doenças
permite obter informações geográfica complexas com rapidez e possibilitar a
identificação moledos sutis necessário para levantamento de dados e pesquisa. O
análise espacial pode identificar ocorrência de doenças, gerando dados, analisando
taxas de morbidade e mortalidade, demonstra visualmente a variabilidade geográfica
da população em estudo (SATO; SATO, 2015).
Portanto, a análise espacial tem como objetivo investigar a padrões e
modelos espaciais, com base em dados observados, referentes à distribuição de
eventos associados a determinadas áreas de estudo (MARSHALL, 1991), permitindo
identificar fenômenos atípicas em relação ao tipo de distribuição e sua vizinhança
(SATO; SATO, 2015). Isso ocorre, frequentemente, quando lidamos com fenômenos
agregados por municípios, bairros ou setores censitários, como população,
mortalidade e renda.
Tais métodos vêm sendo aplicados na área de Saúde Pública, principalmente
em estudos ecológicos para melhor compreender a sua etiologia, além da atuação
no campo da análise exploratória, “mapeando” doenças, seja para identificar áreas
endêmicas e/ou apontando medidas preventivas (CARVALHO et al., 2005).
Tendo em vista a atual importância da leishmaniose visceral americana no
Estado de São Paulo e a situação epidemiológica do município de Bauru, a
caracterização espaço-temporal dos casos humanos da enfermidade permite a
melhor compreensão dos fatores relacionados à expansão da área atingida pela
doença nos últimos anos, e serve como base para o desenvolvimento de novas
medidas de controle.
20
4. Metodologia
4.1 Tipo de Pesquisa
Foi realizado um estudo descritivo e analítico, do tipo ecológico. Nos estudos
ecológicos, verifica-se a incidência de uma enfermidade e as condições relacionadas
à saúde e a exposição de uma população ou grupo pertencente a uma área
geográfica definida (populações de países, regiões ou municípios, por exemplo) para
verificar a possível existência de associação entre elas (LIMA-COSTA; BARRETO,
2003).
4.2 Local de Estudo
O estudo foi realizado na região de saúde (CIR), é citada pelo código 15001
Araguaia, do sudeste do Estado do Pará, abrangendo 8 municípios que apresentam
consideráveis casos de internações por LVA, sendo estes: São Félix do Xingu (1),
Ourilândia do Norte (2) Santana do Araguaia (3), Redenção (4), Conceição do
Araguaia (5), Rio Maria (6), Xinguara (7) e Sapucaia(8).
Figura 6. Municípios de estudo localizados no sudeste paraense. Fonte: Elaborado pela autora
21
4.3 População
A população do estudo foi representada pelo dados relacionados à morbidade
hospitalar (Morb. CID-10: Leishmaniose visceral) referentes aos cidadãos que
estavam internados com o quadro patológico de leishmaniose. As informações foram
obtidos na plataforma DATASUS (Departamento de Informática do Sistema Único de
Saúde) /TABNET, na plataforma Ministério da Saúde, do Governo Federal, no
período de Janeiro de 2008 a Fevereiro de 2018.
4.3 Análise de dados
Utilizou-se o software Excel (Microsoft Office 2016) para a confecção dos
gráficos de estatísticas alusivos à quantidade de internados (geral e por gênero),
quantidade de casos por município da região sudeste paraense e número de
internados por faixa etária.
Para mensurar a distribuição geoespacial dos casos de Leishmaniose visceral
no período de estudo, valeu-se da modelagem pelo software SURFER® (Golden
Software, Inc.), que permite uma breve perspectiva do comportamento espacial da
variável em análise. Inseriu-se a malha agregada respeitando o arranjo em dois
principais pontos de coleta traçadas no plano cartesiano, onde foram estimados os
casos de infectados pelo patógeno causador da leishmaniose visceral.
5. Resultado e Discussão
A região do sudeste do Pará detém 8 municípios que apresentam
consideráveis casos de internações por LVA, conforme a Figura 7, que relata a
quantidade de internações por em cada um desses municípios.
Figura 7. Número de internações por município no período de Janeiro de 2008 a janeiro de 2018 na região Sudeste do Pará. Fonte: Elaborado pela autora
22
O município de Redenção obteve a maior frequência, com mais de 200
internações, em casos de LVA, em seguida o município de conceição do Araguaia,
aproximadamente 100 internações, e ainda no pódio o município de Xinguara com
pouco menos de 50 casos da antropozoonose. Tradicionais fatores preditivos para
doenças transmitidas por vetores incluem variáveis climáticas, índices de vegetação
por diferença normalizada (IVDN), cobertura vegetal, uso do solo e altitude, que para
o estudo da LVA não poderia ser diferente ao se considerar a ecologia do
flebotomíneo vetor (NETO et al., 2009; VALDERRAMA et al., 2010). Logo, pode-se
supor que tais fatores ambientais nesses municípios podem estar favorecendo a
incidência acentuada da LVA.
Verificou-se uma maior ocorrência de números de casos de LVA em homens
mais do que no gênero feminino. A Figura 8 retrata tal frequência dos casos da
patologia referente aos gêneros.
Figura 8. Número de internações por gênero de Janeiro de 2008 a janeiro de 2018, na região Sudeste do Pará. Fonte: Elaborado pela autora
Não há uma explicação científica plausível para explicar a maior frequência
dos casos de LVA no gênero masculino, mas uma hipótese é que estes estão mais
expostos ao vetor devido às suas atividades laborais. Porém, Borges (2008) afirmou
que a relação ao sexo, a LV demonstrou ser mais frequente em homens, sendo
estimado que eles tenham 2,57 vezes mais chances de contrair a doença que as
mulheres.
Levantou-se os dados estatísticos sobre a quantidade de pessoas internadas
em função da faixa etária (Figura 9), entre menores de 1 ano e mais de 80 anos de
idade, exposta no gráfico 3. A doença é mais frequente no sexo masculino (62,2%) e
em crianças menores de 10 anos (46,2%) e, se não tratada, pode levar ao óbito até
90% dos casos (MAIAELKHOURY et al., 2008).
23
De acordo com Maia-Elkhoury et al. (2008), a razão da maior suscetibilidade
em crianças é explicada pelo estado de relativa imaturidade imunológica celular,
agravado pela desnutrição, tão comum nas áreas endêmicas, além de uma maior
exposição ao vetor no peridomicílio.
Computou-se ainda que, estatisticamente, os períodos de maior incidência
estão entre os anos de 2008 e 2018, atingindo uma média de 55 e 65 internações,
respectivamente, conforme a Figura 10.
Destaca-se a distribuição por meio dos mapas de isolinhas os casos de
Leishmaniose Visceral no sudeste paraense no periodo de 2008 a 2013, segundo a
Figura 11, no qual o município de Conceição do Araguaia dispões a maior
frequencia, sendo 45 casos de internações seguido do municipio de Redenção com
32 casos de LV registrados.
Figura 9. Número de internações por faixa etária de Janeiro de 2008 a janeiro de 2018 na região Sudeste do Pará. Fonte: Elaborado pela autora
Figura 10. Número de internações de pacientes com Leishmaniose visceral no período de Janeiro de 2008 a janeiro de 2018 na região Sudeste do Pará. Fonte: Elaborado pela autora
24
Figura 11. Distribuição geoespacial dos casos de Leishmaniose visceral na região Sudeste do Pará entre (2008 e 2013). Fonte: Elaborado pela autora
No periode de 2014 a 2018, observou-se aumento de internados de LV
registrados no município de Redenção 172 casos sequido de Conceição do
Araguaia, 28 e Xinguara com 7 internações. A Figura 12 retrata a modelagem
geoespacial do avanço desta patologia no sudeste paraense.
Constata-se de acordo com o mapa que os maiores numeros de casos de LV
foram registrados nas cidades mais desenvolvidas da região ou que apresentam
maiores recursos de atendimento hospitar. No caso de Redenção, por apresentar o
Hospial Regional Público do Araguaia (HRPA) que atende pacientes de toda região.
Figura 12. Distribuição geoespacial dos casos de Leishmaniose visceral na região Sudeste do Pará entre (2008 e 2013). Fonte: Elaborado pela autora
25
Em suma, os dados estatísticos demonstram que houve um acentuado de
número de casos de internação por LVA nos municípios do sudeste paraense, esta
explanação pode ter sua origem em atividades antrópicas. De acordo com Barcellos
et al. (2009), a construção de estradas, a expansão da pecuária, a crescente
extração de madeira, o aumento intensivo da agricultura de monocultivos e a
mobilidade da população são os principais fatores que levam aos constantes
desmatamentos, que muitas vezes ainda vêm acompanhados de queimadas. Esses
processos têm levado às mudanças climáticas e ambientais (emissão de gases de
efeito estufa, alteração de ecossistemas e redução da biodiversidade) o que podem
justificar o aumento da incidência e avanço das doenças infecciosas, entre elas, as
leishmanioses (MELO, 2013). No Brasil, os principais ecossistemas afetados pelas
queimadas são a Floresta Amazônica e o Cerrado (BARCELLOS et al., 2009).
6. Considerações Finais
É perceptível ao longo desta última década, que o número de casos de LVA
está se intensificando paulatinamente no sudeste paraense. Apesar de poucos
estudos efetivados sobre aspectos epistemológicos de Leishmaniose Visceral, no
Estado do Pará, faz-se significante mais uma fonte de estudos voltados à esta
patologia. O estado paraense se enquadra nas características socioambientais
favoráveis há uma possível endemia advinda da antropozoonose, favoráveis a
proliferação de criadores de vetores.
A infecção se espalha pela população devido à precariedade no saneamento
básico, principalmente em zonas rurais dos municípios em estudo, além da migração
dos organismos humanos infectados, reservatório e vetores, do crescimento
desordenado das cidades que requerem o desmatamento para a habitação, dentre
outros fatores.
Desta forma, propõe-se um programa de controle integrado dessas patologias
à combater diretamente o vetor pela coordenação da Secretaria de Saúde do
Estado. Além de estratégias para o tratamento adequado dos reservatórios e
aplicação de educação ambiental para conscientizar a população dos riscos da
patologia e direcioná-los à prevenção, tanto à população, a fim de evitar a alienação,
como aos profissionais na área de saúde para maior capacitação.
26
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8. Apêndice
Trabalho aceito no 15º Congresso Nacional de Meio Ambiental de 2018