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E O ESPAÇO DA MÚSICA BRASILEIRA SETOR CULTURAL NORTE Há décadas, mais precisamente após a redemocratização do País, a Esplanada dos Ministérios se tornou o ponto de encontro para eventos sociais, sejam festas, manifestações, cultos religiosos ou eventos esportivos. O coração de Brasília nunca deixará de ser o ponto central de agregação dos cidadãos do DF e do Brasil. Em seu ponto de fuga, o Congresso Nacional, simbolizando o povo e essa democracia conquistada em nossa história. Vive sendo ocupada pelas pessoas para reivindicações políticas e sociais, mas será essa a única forma de se ocupar a área central de Brasília? Há como o Espaço da Música Brasileira conquistar os brasilienses e ser ocupada e utilizada rotineiramente? Mais do que um projeto arquitetônico, este exercício consistiu em uma intervenção urbanística que qualificasse essa área para um uso cotidiano. Essa autonomia do eixo monumental cria espaços adequados à escala do homem e permite o diálogo monumental localizado sem prejuízo do desempenho arquitetônico de cada setor na harmoniosa integração do desempenho arquitetônico de cada setor na harmoniosa integração urbanística do todo (...). A harmonia do desenho urbano vem do tratamento da natureza das partes. E é assim que monumental é também cômoda, eficiente, acolhedora e íntima. E ao mesmo tempo derramada e concisa, bucólica e urbana, lírica e funcional. - Lúcio Costa 1 / 8

SETOR CULTURAL NORTE - …arcoweb.s3.amazonaws.com/docs/operaprima/2017... · Praça Tom Jobim e à N2. Essa intervenção vem para tentar retirar o espaço público dedicado à veículos

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E O ESPAÇO DA MÚSICA BRASILEIRASETOR CULTURAL NORTE

Há décadas, mais precisamente após a redemocratização do País, a Esplanada dos Ministérios se tornou o ponto de encontro para

eventos sociais, sejam festas, manifestações, cultos religiosos ou eventos esportivos. O coração de Brasília nunca deixará de ser o

ponto central de agregação dos cidadãos do DF e do Brasil. Em seu ponto de fuga, o Congresso Nacional, simbolizando o povo e essa democracia conquistada em nossa história. Vive sendo ocupada

pelas pessoas para reivindicações políticas e sociais, mas será essa a única forma de se ocupar a área central de Brasília? Há como o

Espaço da Música Brasileira conquistar os brasilienses e ser ocupada e utilizada rotineiramente? Mais do que um projeto arquitetônico, este

exercício consistiu em uma intervenção urbanística que qualificasse essa área para um uso cotidiano.

Essa autonomia do eixo monumental cria espaços adequados à escala do homem e permite o diálogo monumental localizado sem

prejuízo do desempenho arquitetônico de cada setor na harmoniosa integração do desempenho arquitetônico de cada setor na

harmoniosa integração urbanística do todo (...). A harmonia do desenho urbano vem do tratamento da natureza das partes. E é

assim que monumental é também cômoda, eficiente, acolhedora e íntima. E ao mesmo tempo derramada e concisa, bucólica e urbana,

lírica e funcional.

- Lúcio Costa

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IMPLANTAÇÃO

Urbanidade é a maneira comopassamos nosso tempo em sociedade.

- Laura Spinadel

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3

4

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1. teatro nacional 2. chiquinha gonzaga 3. tom jobim 4. legião urbana-3.0m 0.0m0.0m+4.5m

Implantação na Esplanada dos Ministérios em Brasília-DF

0 20 100

10 50

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AA

Sua implantação nasce a partir de um estudo compositivo de toda a Esplanada dos Ministérios. A forma como o elemento principal a ser edificado no Setor Cultural Norte seria implantado diante dos outros elementos já existentes no local foi a grande preocupação inicial. O volume linear se mostrou o que balanceava melhor com o espaço já existente do Setor Cultural Sul, do outro lado da Esplanada. Seu comprimento foi definido praticamente pelo espaço vazio entre a Biblioteca e o Museu Nacional. Sua locação na parte mais posterior da área foi uma decisão que se mostra respeitosa em relação a visuais dos pedestres em relação ao Teatro Nacional, aos eixos de afastamento dos outros edifícios e à perspectiva livre do Congresso. Essa adoção de forma unitária, horizontalmente dominante, se tornou o melhor estudo para resolver a articulação nessa escala monumental.

A última decisão que basicamente definiu a proposta do projeto foi o grande fluxo de usuários que cruzam a área no sentindo sul-norte, fazendo assim com que a decisão de um edifício ponte, que permitisse a passagem dos transeuntes através dele, fosse algo forte. O grande desnível de 7,5m da via N1 para a via N2, ao mesmo tempo em que se tornou um desafio, foi algo que facilitou na decisão de se criar um platô - ou praça - intermediário que seria exatamente na altura média desse declive, criando assim uma espécie de praça semienterrada na Esplanada dos Ministérios. A topografia existente atualmente, se bem analisada, demonstra como essa decisão pode ter sido algo intuitivo, já que a atual bacia criada na área lembra a decisão apontada. Logo, a operação topográfica efetuada cria espaços abertos que se conformam de acordo com os movimentos de terra e ajudam a criar uma implantação artificial.

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JUSTIFICATIVA

ESPERANÇA E JUVENTUDEA capital da esperança ainda existe. Não foram só os

candangos que acreditaram em Brasília. Os moradores, brasilienses também possuem esperança; a juventude

emana em cada evento de espaço público na cidade; e o projeto deve atender a todos esses sentimentos que

estão sendo criados na Brasília do século XXI.

INTERVENÇÃO E REQUALIFICAÇÃONão basta intervir, temos que pensar na melhoria do

espaço em curto e longo prazo, requalificar a área que atualmente é apenas um ponto de passagem para um ambiente de transição urbana, no qual as pessoas se

sintam parte da cidade e não apenas personagens secundários.

CULTURA E APRENDIZADOO conjunto vai priorizar o incentivo à cultura e ao

aprendizado no espaço público, promover a ocupação legítima e justa do espaço à todos.

CONEXÕES E FLUXOSO projeto deve conectar a malha urbana da região central

de Brasília e melhorar a vida dos pedestres cotidianos, assim como criar novos fluxos de comércio e permanên-

cia que irão promover uma maior urbanidade no centro cívico.

DIVERSIDADE E ECLETISMOA diversidade e ecletismo do povo brasileiro estarão representados no projeto com o Espaço da Música Brasileira. No geral deve ser um lugar democrático e acessível, além de promover a inclusão social e a melhoria da cidade de Brasília.

Brasília possui em seu centro uma série de desconexões para pedestres e ciclistas. A ideia de propor algo para o Setor Cultural Norte (SCTN) nasceu com o intuito de melhorar a vida dos transeuntes da área central do Plano Piloto. Após o estudo de propostas já feitas para a área, assim como uma análise do Eixo Monumental, chegou-se à conclusão de que um Espaço que homenageasse a música brasileira poderia ser o complemento que faltava ao Setor Cultural de Brasília. As outras artes já foram contempladas e, atualmente, vários shows acontecem na Esplanada dos Ministérios mensalmente, com montagem e desmontagem de estruturas efêmeras, o que pode ser evitado caso haja espaços com infraestrutura preparada para receber esse tipo de atividade social. Com isso, fortaleceu-se a ideia de criar um grande espaço para shows no SCTN, mas que incluísse um espaço com galerias, midiatecas e estúdios para que fosse também um espaço representativo para o país todo. Apesar de inspirado em um Museu da Imagem e do Som, o Espaço da Música Brasileira não tem a intenção de ser apenas um Museu, mas um espaço de amplo aproveitamento cultural por parte da cidade, de acesso público e com a implementação de área comercial, para potencialização do uso gregário, algo essencial para a revitalização dessa área da cidade, que diariamente é apenas local de passagem dos trabalhadores dos setores adjacentes.

ESQUEMA ESTRUTURAL

Após a abstração dos módulos como notas musicais soltas na estrutura de um pentagrama, a necessidade de fazer um pré-dimensionamento da estrutura de aço foi o próximo passo do projeto. As grandes fachadas do edifício são as próprias treliças estruturantes. Feitas em banzos paralelos com contraventamentos, elas ajudam a vencer o vão de 128m, se apoiando em blocos de tronco de pirâmide em cada extremidade do edifício, que levam as forças para as fundações. Cerca de 36m foram deixados para cada lado de balanço para facilitar o equilíbrio do monumento. A treliça foi uma decisão para se manter a permeabilidade visual do pedestre em relação ao Setor Bancário Norte, visto que uma empena cega não seria interessante. A adição de uma tela perfurada nas duas fachadas completa o edifício e resolve problemas relacionados ao conforto térmico e luminoso. Além disso, de noite, o edifício tem seus módulos acesos, apresentando as notas musicais à cidade.

rampa de acesso

cobertura translúcida com estrutura metálica

módulos do edifício em lajes treliçadas com vigas metálicas

rampas de circulação

tela em chapa perfurada

treliça metálica de banzos paralelos com contraventamentos

corte AA 0

10

20

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EVOLUÇÃO DAS PROPOSTAS AO LONGO DO PROCESSO DE CRIAÇÃO

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Enquanto o edifício segue linhas retas e objetivas, a implantação da praça e seus muros de arrimos receberam curvas nos encontros dos vértices, de forma a trazer um pouco de fluidez ao espaço. O edifício retilíneo é um gesto de respeito ao que já existe, ao mesmo tempo em que resolve uma problemática urbana bem atual na região central do Plano Piloto: as conexões de pedestres e a falta de espaços de convivência.

O antigo estacionamento do Teatro Nacional deu lugar a uma praça que conecta o Teatro ao novo Espaço da Música. Um elemento de circulação vertical foi implantado a fim de facilitar essa ligação e o acesso de pedestres para os níveis do subsolo de garagem e para a Via N2. A principal praça, semienterrada, se abre no grande espaço direcionando as pessoas para a concha acústica criada ao fim do Setor. Sem ter o objetivo de protagonizar, sua cobertura é composta por cinco finas folhas de concreto armado que cobrem a área de shows. Para finalizar a composição do Setor Cultural Norte, uma torre de audiovisual foi implantada no encontro de duas importantes diagonais tornando-se de grande utilidade à praça, iluminando à noite e servindo como apoio para caixas de som e refletores, em grandes eventos.

Cidade planejada para o trabalho ordenado e e�ciente, mas ao mesmo tempo viva e aprazível,

própria ao devaneio e à especulação intelectual, capaz de tornar-se, com o tempo, além de

centro de governo e administração, num foco de cultura dos mais lúcidos e sensíveis do país.

- Lúcio Costa

O corte abaixo torna-se uma boa demonstração de como o programa foi distribuído ao longo do setor e como foi feita a integração entre o Teatro Nacional e o Espaço da Música Brasileira. A integração com o Teatro Nacional se deu a partir da necessidade de se resolver a acessibilidade do Setor. Um elemento de integração com circulação vertical foi criado nos fundos do teatro, com afastamento suficiente para respiro do monumento. No elemento também está localizado um posto de atendimento turístico. Ele faz a ligação entre o nível do Teatro, o nível do E.M.B. e os dois níveis de estacionamento subterrâneo que estão entre os dois edifícios.

SUBSOLO N= -7,50 SUBSOLO N= -3,75 SUBSOLO N= -3,75

DISTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA

teatronacional

ponto infoturística

atrio de ligação

ponto deônibus

torre deaudiovisual

estruturaamplificadorade som

espaço da músicabrasileira

concha acústica

SUBSOLO N= -3,75

anexo teatronacional

ponto infoturística

jazz sambaclub

marquise dosbares

concha acústica

espaço de showsElis Regina

complexo deestúdios

garagem

anexo teatronacional

ponto infoturística

jazz sambaclub

concha acústicagaleria de lojas

espaço de showsElis Regina

rampa de acesso àpraça Tom Jobim

garagem

0

10

20 100

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Uma grande galeria linear conecta-o nos andares inferiores à Praça Tom Jobim e à N2. Essa intervenção vem para tentar retirar o espaço público dedicado à veículos motorizados no térreo e também para manter um número de vagas sufi cientes em casos de espetáculos no SCTN. Na parte superior está exatamente a Praça Chiquinha Gonzaga que faz o acesso principal do E.M.B.

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Os blocos internos ao edifício se dividem em área para exposições, salas de aula , administração e midiateca

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Temos que ter coragem de propor e projetar astransformações que ainda se fazem necessárias.

Andrey Schlee - Ex Diretor da FAU-UnB

Temos que ter coragem de propor e projetar astransformações que ainda se fazem necessárias.

Viver em um espaço sem possibilidade de modifi cá-lo éuma redução drástica do sentido da vida urbana.

Regina Meyer - Professora FAUUSP

Viver em um espaço sem possibilidade de modifi cá-lo éuma redução drástica do sentido da vida urbana.

O problema do centro de brasilia é a ausência deracionalidade na ocupação do espaço.

Alfredo Gastal - IPHAN-DF

O problema do centro de brasilia é a ausência deracionalidade na ocupação do espaço.

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O projeto arquitetônico de consolidação do Setor Cultural Norte foi um ótimo desafio de projeto que apresentou problemáticas atuais da nossa cidade e almejou solucioná-las a partir do traçado arquitetônico, considerando, ainda, as grandes intervenções urbanísticas no Setor. Um espaço pensado para a apropriação pública e para acomodar as expressões culturais dos cidadãos do Distrito Federal, ao mesmo tempo em que faz uma homenagem de cunho nacional. O edifício consolidado não tem objetivo de protagonizar, apenas de respeitar e completar o que já foi composto na Esplanada.

CONCLUSÃO

A meta foi uma releitura de Brasília, uma visão contemporânea e de um cidadão que tenta sempre ver o melhor para cidade, que comparece aos eventos e suporta a cultura local; uma praça que respeite a genialidade da arquitetura já estabelecida na urbis modernista; que respeite os prédios em seu entorno, recebendo e distribuind os moradores da cidade; um projeto que estabeleça uma harmonia entre a Rodoviária, o Teatro Nacional, o Museu da República, a Biblioteca Nacional, os Ministérios, a Catedral, os Palácios e o Congresso.

O Espaço da Música Brasileira parte de um ufanismo jovem e acalorado de emoções. O mesmo que não distingue gênero, raça, cor, número. Que aceita o povo brasileiro como é, que exige respeito e acredita em um futuro melhor. Que olha para a Esplanada estabelecida e tenta trazer um novo ar para a cidade. Brasília, capital da esperança! O mesmo lema da construção da cidade continua após cinquenta anos. Ainda temos esperança de melhorar a cidade, a segurança pública, a ocupação dos espaços vazios, a mobilidade urbana, o combate à especulação imobiliária e o crescimento desordenado de seu espaço.

Uma solução espacial pode (re)construir o sentido de esperança que outrora marcou a historia da nossa cidade.