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ÍNDICE: 2 INTRODUÇÃO 4 A PEDRA DE TOQUE BRANCA 5 QUAL É A ESTRUTURA INTERIOR DO MUNDO? 11 ORIGEM E UTILIZAÇÃO DOS SÍMBOLOS 16 ÁRVORE: SÍMBOLO UNIVERSAL 20 SÍMBOLOS E MAGIA 24 FIGURAS GEOMÉTRICAS, SÍMBOLOS DE EVOLUÇÃO ESPIRITUAL 34 A LINGUAGEM: UM SÍMBOLO INFINITAMENTE VARIÁVEL 36 CONVIVENDO COM SÍMBOLOS 38 HOMEM E MULHER, SÍMBOLOS BÍBLICOS 1996 ANO 18 NÚMERO 2 A revista Pentagrama propõe-se a atrair a atenção dos leitores para a nova era que começou para o desenvolvimento da humanidade. O pentagrama sempre foi, em todos os tempos, o símbolo do homem renascido, do novo homem.Também é o símbolo do universo e de seu eterno devir, por meio do qual acontece a manifestação do plano divino. Entretanto, um símbolo apenas tem valor quando se torna realidade. O homem que realiza o pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, permanece no caminho de transfiguração. A revista Pentagrama convida o leitor para operar esta revolução espiritual em si mesmo. © Stischting Rozekruis Pers. Reprodução proibida sem autorização prévia. PENTAGRAMA

PENTAGRAMA · Em seu livro De Harmonice Mundi, Kepler define o conceito de harmonia como “a conso-nância ordenada dos corpos celes- ... solfejo é o ensino dos princípios da mú-

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Page 1: PENTAGRAMA · Em seu livro De Harmonice Mundi, Kepler define o conceito de harmonia como “a conso-nância ordenada dos corpos celes- ... solfejo é o ensino dos princípios da mú-

ÍNDICE:

2 INTRODUÇÃO

4 A PEDRA DE TOQUE

BRANCA

5 QUAL É A ESTRUTURA

INTERIOR DO MUNDO?

11 ORIGEM E UTILIZAÇÃO

DOS SÍMBOLOS

16 ÁRVORE:SÍMBOLO UNIVERSAL

20 SÍMBOLOS E

MAGIA

24 FIGURAS GEOMÉTRICAS, SÍMBOLOS DE EVOLUÇÃO

ESPIRITUAL

34 A LINGUAGEM: UM SÍMBOLO

INFINITAMENTE VARIÁVEL

36 CONVIVENDO

COM SÍMBOLOS

38 HOMEM E MULHER, SÍMBOLOS BÍBLICOS

1996ANO 18NÚMERO 2

A revista Pentagrama propõe-se a atrair a

atenção dos leitores para a nova era que

começou para o desenvolvimento da

humanidade.

O pentagrama sempre foi, em todos os

tempos, o símbolo do homem renascido, do

novo homem. Também é o símbolo do universo

e de seu eterno devir, por meio do qual

acontece a manifestação do plano divino.

Entretanto, um símbolo apenas tem valor

quando se torna realidade. O homem que

realiza o pentagrama em seu microcosmo, em

seu próprio pequeno mundo, permanece no

caminho de transfiguração.

A revista Pentagrama convida o leitor para

operar esta revolução espiritual em si mesmo.

© Stischting Rozekruis Pers. Reprodução proibida sem autorização prévia.

PENTAGRAMA

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2

Os símbolos sempre tiveram algo de

misterioso. São sinais que, por um

lado, dizem respeito a religiões e

civilizações antigas das quais nem

sempre conhecemos o grau de ele-

vação e que, por outro lado, guiam

nossa vida cotidiana como simples

indicações.

stes ideogramas, como são chama-dos, às vezes vêm de antigos sinais,mas muitas vezes também são dese-nhados por seu autor para transmitirconceitos e idéias novas, de tal modoque possam ir servindo pouco a poucopara o mundo inteiro. Os antigos signosastrológicos dos planetas são um exem-plo: eles estão na base da vasta panó-plia de signos empregados em toda aparte pelas ciências. O mesmo aconte-ce no circuito comercial. Os signos queestimulam o instinto de posse e de pra-zer são universais, como: personagensbebendo ou comendo, um cartão ban-cário no caixa automático ou uma flechaem uma placa, indicando a direção aseguir.

Chegamos a uma época em que atransmissão de conhecimentos aconte-ce por meio de signos originários dociclo solar, como os signos do Livro deDzyan (cf. “A Doutrina Secreta”, de He-lena Blavatsky, Primeira Parte), os sig-nos da Tábua Esmeraldina, de HermesTrismegisto, e os que estão desenhadosnas cavernas dos cátaros, no Sul daFrança. Estes signos simbolizam algu-mas etapas que se relacionam com aevolução da humanidade no cosmo.Para quem os compreende, eles expli-cam todo o processo, representado poralguns traços gráficos. O círculo simbo-liza Deus, que tudo contém e tudo sus-tenta; a cruz representa a descida da luzao mundo das trevas; o triângulo, a trin-dade das forças agentes que emanam

do Deus único. À medida em que ossentidos, e portanto a consciência e acompreensão se desenvolviam, os si-nais de transmissão do conhecimentoiam tornando-se mais complexos. A as-sistência oferecida à humanidade, tantohoje como antigamente, situa-se emdois níveis: espiritual e material. A estre-la de cinco pontas — o pentagrama — éo sinal dos Mistérios, mas também é uti-lizado no sentido contrário.

É aí que se situa a “compreensão”dos símbolos. Cada um pode interpretá--los conforme sua consciência, o quenão quer dizer que esta interpretaçãocorresponda ao sentido original.

Vivemos em um tempo em que o inte-resse pelos símbolos está crescendocada vez mais; por um lado, por uma ne-cessidade espiritual de descobrir a ori-gem das coisas; por outro, para reduzira complexidade de nossa sociedadecom elementos de fácil compreensão.

Neste número da revista Pentagrama,nossa intenção é examinar o conceito“símbolo” e tudo o que decorre desteconceito (“a simbologia”) na esperançade que nossos leitores possam perceberclaramente que existe uma grande dis-tinção a ser feita entre o significado espi-ritual e material de um símbolo.

INTRODUÇÃO

E

Geodo, pedra oca contendo umpentagrama formado naturalmente(FotoPentagrama). A REDAÇÃO

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A Pedra branca é um símbolo sim-

ples, claro, atemporal e puro do

caminho de transfiguração. A cor

branca é o som puro, eterno, a voz

do silêncio, o desaparecimento e a

morte total da velha natureza ego-

cêntrica em que o homem original

pode ressuscitar.

homem nasceu para exaltar as obrasde Deus e delas dar testemunho atravésde si mesmo. Com esta finalidade, elerecebe um poderoso auxílio destinadounicamente ao desenvolvimento do“homem verdadeiro”, que está aprisio-nado dentro do homem natural. Nesteprocesso, a alma é profundamente im-portante. A animação de uma naturezasupra-orgânica eleva aquele que buscaa Deus com seriedade muito acima deseu estado de nascimento natural, epode transformá-lo em um ser humanodivino que respira o Alento Divino, oPneuma da Nova Aliança.

O amor de Deus sempre se manifes-ta em primeiro lugar em sua totalidade.

Este amor divino está ligado ao cora-ção, ao centro do templo espiritual, e atodos os que são chamados para prote-gê-lo. Para que o amor divino possa agirefetivamente, é preciso expandi-lo. Épreciso fazer com que ele seja conheci-do, estabelecê-lo dentro do tempo. Semeste milagroso poder magnético, nãopoderíamos completar este trabalho.Um dia, todos os seres humanos acaba-rão compreendendo de onde caíram, deque tipo de contato se privaram, e deque tipo de força pura já não podem ser-vir-se. A senda da transfiguração, vivifi-cada pela Rosacruz Áurea, coloca obuscador diante da alma eterna, impe-recível, e diante do crescimento, dentrodele, do homem-alma-espírito, vivo eimortal. Quem quiser cumprir esta sen-da, transforma-se e recebe a Pedra detoque branca. Assim, passa a ser umhomem excepcional, purificado peloamor divino. A Pedra de toque brancadeve refletir o amor divino que se mani-festa dentro dele, e deste modo formar apedra angular sobre a qual o homem--alma-espírito tem a possibilidade deelevar-se até a eternidade.

A PEDRA DE TOQUE BRANCA

Cubo de mármore, naentrada doTemplo deRenova (FotoPentagrama).

O

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Desde sua origem, o homem tenta

conhecer e compreender os proces-

sos da natureza na qual ele vive e à

qual ele está submetido. Ele estuda

os ritmos e as leis da natureza, não

somente para utilizá-la para suas

próprias finalidades, mas também

para atingir a sabedoria absoluta

por meio da pesquisa e da experi-

mentação, “para descobrir a estrutu-

ra interior do mundo” (Goethe, 1749-

1832).

om o passar do tempo, a pesquisaatingiu diversos picos; mas vastos domí-nios do conhecimento também se per-deram e tiveram de ser reconquistadoscom grande esforço nos períodos cultu-rais que se seguiram, quando isto foipossível. Os buscadores tentavam ler oLibrum Naturæ, tanto o grande quanto opequeno. Este Livro da Natureza éexpressado, entre outras coisas, pelasforças eletromagnéticas, pela luz, pelacor, pelo calor, pela coesão, pelo som,pelo ritmo e pelo movimento; em resu-mo: pela vida. Os antigos falavam daharmonia das estrelas, criação surgidado caos, do não-manifestado.

PERSCEPÇÃO DOS SONS INAUDÍVEIS

Johannes Kepler, que nasceu em1517, perto de Weil der Stadt, próximaa Calw, no Sul da Alemanha, trabalha-va em Praga como matemático eastrônomo na corte do rei Rudolf II.Ele fez uma descrição exata do siste-

ma heliocêntrico, formulado pela pri-meira vez desde a antigüidade porCopérnico (1473-1543). Em seu livroDe Harmonice Mundi, Kepler define oconceito de harmonia como “a conso-nância ordenada dos corpos celes-tes”. Pitágoras, como sabemos, cha-mava os sons emitidos pelos corposcelestes em movimento de “harmoniadas esferas”, sons não audíveis pelosmortais. Ora, é possível torná-los per-ceptíveis, evidenciar vibração, som ecor com o auxílio de conceitos como ode freqüência e o de oitava.

A freqüência é o número de repeti-ções de um fenômeno periódico quese produz em um tempo determinado.A unidade é o hertz: um hertz equiva-le a uma vibração por segundo. Foidecretado em 1939 que o diapasãoque vibra um la normal (o quarto la dopiano) seria capaz de fazer-nos ouviruma vibração de 440 Hz (que portan-to seria animado de um movimento de440 “oscilações” por segundo). Na Eu-ropa, no continente europeu, o quartola era equivalente a 435 Hz para amúsica de câmara e de orquestra emParis. Na Inglaterra, o limite seria de432 Hz. Para conseguir maior harmo-nia, os músicos afinam freqüentemen-te seus instrumentos o mais alto pos-sível, sendo que algumas orquestraschegam a subir até 445 Hz.

A oitava é a escala de oito notascom sete intervalos (ou tons) que for-mam uma seqüência considerada “na-tural” (na escala diatônica). Na Gréciaantiga, esta seqüência era chamadade harmonia na teoria musical (Philo-laos). Em um violino ou em um violão,a oitava do som dada por uma cordainteira é obtida dividindo-se o compri-mento desta corda por dois: este é oprimeiro harmônico deste som. Ela

QUAL É A ESTRUTURA INTERIOR DO MUNDO?

C

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tem uma freqüência dupla, ou seja,quando uma vibração é elevada à oi-tava, a freqüência é dobrada.

FREQÜÊNCIA DE ROTAÇÃO DA TERRA

A terra gira sobre seu eixo em 24 ho-ras, ou seja, 24x60x60 = 86.400 segun-dos. A rotação da terra tem, portanto,uma freqüência de 1/86.400 Hz. Do-brando esta freqüência sucessivamen-te, obtêm-se oitavas crescentes da vi-bração fundamental. Dobrando-a 24 ve-zes, atinge-se a freqüência de 194,1874Hz. É um tom audível que correspondeperfeitamente ao sol de 193,77 Hz. Seainda dobrarmos esta 24ª oitava, atin-ge-se o sol da clave de sol, o quarto sol(388,36 Hz). Portanto, podemos consi-derar o som da rotação da terra comoum sol extremamente grave.

Em latim, assim como em português,sol significa sol. Em francês, por exem-plo, sol é a terra sobre a qual ficamos. Osolfejo é o ensino dos princípios da mú-sica. Solfejar é cantar a seqüência desons. Em italiano, solfa quer dizer es-

cala, solfeggiare significa cantar seguin-do as notas, e solfeggio é cantar sempartitura.

Foi o músico italiano Guido d’Arezzo(992-1050) que escolheu a primeira sí-laba da quinta linha do hino “Ut queantlaxis” para indicar o quinto tom da esco-la, o sol. Kepler deu um som a cada pla-neta em seu texto De Harmonice Mundi.Para a terra, ele conferiu a nota sol (gnas línguas anglo-saxônicas). Observe--se a palavra grega que significa terra:“geos”. Talvez não seja por acaso que aclave de sol seja baseada no som de umdia terrestre, o som da rotação da terraem torno de seu eixo.

Assim, parece que os sons e os rit-mos cósmicos podem tornar-se audí-veis para os homens mortais por meiode seus harmônicos. Também podemostorná-los visíveis. Se subirmos o som darotação da terra até sua 65ª oitava (aci-ma do audível), atingiremos as cores doespectro luminoso que estão compreen-didas entre o vermelho (375 bilhões deHz ou 375 Terahertz) e o violeta (750Terahertz), correspondendo a um com-primento de onda entre 800 nanômetros(vermelho) e 400 nanômetros (violeta).Um nanômetro eqüivale à bilionésimaparte de 1 metro. A 65ª oitava do dia ter-restre corresponde a 427 Terahertz ou702 nanômetros, ou seja, à cor verme-lho-alaranjado. Foi provado que esta corexerce uma ação fortemente dinamizan-te sobre os homens e sobre os seres vi-vos em geral. Isto é bem compreensível,pois, agora todos sabem que o DNA (aestrutura molecular dos cromossomosque é portadora das característicashereditárias) pode vibrar até 351 nanô-metros (que eqüivale à 66ª oitava de umdia terrestre).

A terra não apenas gira em torno deseu eixo, mas também em torno do sol,durante 365 dias, aos quais é precisoacrescentar cerca de 6 horas. Isto signi-fica, principalmente, que o início da pri-mavera, de acordo com o ritmo cósmico,cai no dia 20 ou 21 de março, que é oponto de intercessão do plano do equa-dor e do plano da eclíptica (dia em que

De vinte em vinte anosSaturno eJúpiter entramem conjunção.Uma volta completa pelozodíaco levacerca de 2.400anos. (Kepler).

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Vers. 4 – Em verdade, antes de tudo e acima de tudo, realmente está Deus: o Eterno, o não-criado, o Criador de todas as coisas;O segundo, o mundo, é por ele formado segundo sua imagem,é por ele mantido e nutrido e dotado de imortalidade, visto que,emanado de um pai eterno, é, como ser imortal, possuidor de vida desde a eternidade.

Vers. 6. Da matéria que ele destinou a esse fim, o Pai formou o corpo do mundo; ele lhe concedeu a forma esférica edeterminou as qualidades das espécies que o deveriam ornar,conferindo-lhe uma materialidade eterna, já que a substânciamaterial era divina.

Vers. 7 – O Pai, após ter disseminado na esfera as qualidades das espécies, encerrou-as como numa gruta, vistoque ele quis ornar sua criação com todas as qualidades.

Vers. 8 – E envolveu o corpo inteiro da terra com imortalidade, a fim de que a matéria, desatando-se da forçaconectora do corpo, não voltasse ao caos, que lhe é próprio.

Vers. 9 – Porque, meu filho, quando a matéria ainda nãohavia sido formada num corpo, era não-ordenada. Ela mostra isto em certa medida mesmo aqui, pela faculdade docrescimento e do decrescimento, faculdade esta que os homens chamam de morte.

Vers. 10 – Esse desordenamento, essa volta ao caos, apresenta-se somente em criaturas terrestres. Pois os corposdos seres celestes mantêm a ordem única que desde o princípio lhes foi concedida pelo Pai; e essa ordem é mantidaindestrutível mediante o retorno de cada um deles ao estado de perfeição.

Vers. 11 – O retorno dos corpos terrestres ao seu estadoanterior consiste na dissolução da força conectora, que voltaaos corpos indissolúveis, isto é aos corpos imortais. Destaforma, surge a eliminação da consciência dos sentidos, masnão o aniquilamento dos corpos.

Sistema solar deKepler com as figuras geométricas de Platão(MysteriumCosmographicum,Tübingen, 1596).

HERMES TRISMEGISTO, LIVRO 9 1

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o sol passa pelo equador e quando anoite tem a mesma duração do dia.) Nocomeço do cristianismo, a Páscoa, afesta da ressurreição, era celebrada nodia da lua cheia que se seguia ao inícioda primavera. Neste mesmo dia, os in-dianos celebravam uma festa, e os ju-deus celebravam sua Páscoa. Nestedia, o sol se põe com uma luz púrpura-dourada, a lua cheia sobe no lado leste.A terra fica no meio, banhada de luz. Pa-ra separar a festa cristã da tradição ju-daica, o Concílio de Nicéia, em 325d.C., decretou que os cristãos celebra-riam a Páscoa sempre no domingo se-guinte da primeira lua cheia depois de21 de março. Se a lua cheia caísse em20 de março, a Páscoa seria celebradaem fim de abril. Este fato fez com quefosse esquecida a correlação existenteentre a festa da ressurreição e a posi-ção do sol no equinócio de primavera.

VERDE: ESTA É A COR DA TRAJETÓRIA

DA TERRA EM TORNO DO SOL

Entre duas passagens no ponto ver-

nal passa-se um ano trópico de 365,24219879 dias solares médios, o queequivale a 31.556.925,97 segundos.Transportando-se este número para fre-qüências sonoras, o ritmo anual do sol,na 32ª oitava dá o do sustenido de136,1 Hz e, na 33ª oitava, o dobro, ouseja o do sustenido de 272,2 Hz. Ins-trumentos como cítara e tamborim têmo do sustenido como base. A caixa deressonância do violão também dá umdo sustenido.

A 74ª oitava do ano trópico nos trans-porta ao domínio óptico: 598,6 THz (501nanômetros). A freqüência e o compri-mento de onda correspondentes a eladão uma cor verde. Esta cor se encontrana zona neutra do espectro, a zona indi-ferenciada da qual Goethe nos fala emsua Teoria das Cores. O verde tambémtem um lugar importante na doutrinagnóstica.

Segundo J. V. Andreæ, a Cidade doSol, Christianopolis, está situada na ilhaverde de Caphar Salama. No livro A Ro-sacruz Áurea2, Catharose de Petri diz:“As sete cores do verde referem-se àsatividades da fé e da esperança”. Janvan Rijckenborgh, no livro “O Advento

Modelo em metaldo MysteriumCosmographi-cum, MuseuKepler, em Weilder Stadt,Alemanha.

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do Novo Homem”3 fala do “verde país daesperança”, e também lemos no Apo-calipse de João (21:10, 11, 18): “E metransportou, em espírito, até uma gran-de e elevada montanha, e me mostrou acidade santa, Jerusalém, que descia docéu, da parte de Deus, a qual tem a gló-ria de Deus. Seu fulgor era semelhantea uma pedra preciosíssima, como pedrade jaspe cristalina. A estrutura da mura-lha é de jaspe; também a cidade é deouro puro, semelhante a vidro límpido“4.

MOVIMENTO DO EIXO DA TERRA

O terceiro movimento da terra temcomo conseqüência a precessão dos e-quinócios. Durante um ano estelar, queequivale a aproximadamente 26.000 a-nos terrestres, o eixo da terra, animadopor um movimento de pião, descreveum círculo completo. Por esta razão, oponto vernal recua um grau a cada 72anos em relação às estrelas fixas. Por-tanto, ele leva cerca de 2.160 anos parapercorrer um signo do zodíaco, ou seja,a décima segunda parte de um ano es-telar. Se transportarmos a freqüência deum ano estelar para o domínio das fre-qüências acústicas, atingiremos, na 48ªoitava, a nota fa de 344,12 Hz. Esta no-ta corresponde ao quarto fa do piano.

Podemos perguntar-nos agora se to-dos estes cálculos estão de acordo e seeles realmente são úteis para o buscadorda verdade. Responderemos que os mú-sicos tentam, ao menos intuitivamente,sintonizar com a harmonia cósmica dasesferas. A diferença entre o quarto la e oquarto sol são apenas algumas dezenasde Hertz. Se medirmos o movimento daterra com relação às estrelas fixas, che-garemos a calcular um dia sideral de umano sideral. O quarto sol de um dia side-ral é de 389,42 Hz, aproximadamente 1,1Hz a mais que o quarto sol de um diamédio do ano trópico!. Parece que o lanormal (o quarto la) da música orquestralentre 435 e 445 Hz está quase sintoniza-do com a harmonia cósmica. Não pode-

mos dizer o mesmo do la no paroxismodo agudo sobre o qual são afinados osinstrumentos da música pop, o jazz, a“eletrônica” etc. (480 Hz).

LIMITES DO CAMPO DE VIDA

Se transportarmos a vibração de umano estelar até o domínio situado entrea 88ª e a 89ª oitava, então atingiremosos limites do visível. O limite inferior évermelho (378 THz), o limite superior évioleta (756 THz). Pode-se dizer que umano estelar engloba uma fase de desen-volvimento completa da terra. O verme-lho representa uma atividade do pólopositivo, o violeta, uma poderosa ativi-dade demolidora do pólo negativo. Já foidemonstrado cientificamente que a luzvermelha aumenta a atividade das enzi-mas, que são substâncias necessáriaspara o metabolismo biológico, enquantoque a luz violeta a reduz.

A GRANDE SINFONIA DO CRIADOR

DO UNIVERSO

No livro Confessio da Fraternidadeda Rosacruz5, Jan van Rijckenborgh es-creve: “Se afastarmos o aspecto porvezes simplesmente exotérico, o con-teúdo universal e ilimitado desse textoressalta, e vemos estender-se, de umhorizonte a outro, tal como uma vastaabóbada, o caminho resplandecente daverdade. Assim como o arco da promes-sa contém todas as cores visíveis e invi-síveis, cores inerentes aos sons da har-monia das esferas, de maneira que nãopodemos falar somente de um espectrode cores, mas também de um espectrosonoro — lei contra a qual nenhumartista mágico pecará — assim o pes-quisador que aplica a verdadeira chavedessa nítida sabedoria, libera uma ondade sabedoria tão poderosa, tão pene-trante, que nos submerge”.

Graças à coesão das leis exteriores,

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tanto a dos Dez Mandamentos como ada harmonia cósmica do universo mani-festado, o homem é chamado a penetraraté a fonte original da vida. Cristo diz:“Eu não vim para abolir a lei, e sim paracumpri-la”. A lei exterior, como reflexo daharmonia divina, pode ser um símbolo,um guia para descobrir a lei interior.

“Todas as figuras e todos os enca-deamentos de números, todas as com-binações de sons harmoniosos, assimcomo a sintonia que reina no movimen-to dos astros, a manifestação individualdestes elementos, assim como sua ana-logia, tudo isto deve tornar-se evidentepara quem está buscando de maneiracorreta. O que dizemos se revela, por-tanto, claramente para aquele que,orientado puramente pelo Uno, esforça--se por tudo compreender; então, emverdade, a ligação de tudo o que acaba-mos de citar surge diante dele.” (Platão)

O ETERNO IMPULSO PARA A CRIAÇÃO

Através de todos estes elementos, aponte que liga novamente a criação aoCriador do céu e da terra é bem percep-tível; da mesma forma, no sétimo aspec-to planetário, o plano em que nada édurável, onde a ordem, o caos e a har-monia se encontram e onde o homempode experimentar e viver a mensagemde Deus. O Criador traçou com seu pró-prio dedo os caracteres da natureza, e oser humano é impulsionado interior-mente a meditar sobre estes caracteres.Cada um deve um dia aproximar-se docentro, do sol, de seu próprio sistemamicrocósmico, e penetrar nele.

ASSIM COMO É EM CIMA, É EM BAIXO;ASSIM COMO É DENTRO, É FORA

“Assim como é em cima é embaixo;assim como é no interior é no exterior.”Portanto, o homem está preparado paravivenciar o cosmos como um som da

grande sinfonia do Criador do universo.Este campo de vida, que se move ritmi-camente e envolve todos os aspectosda matéria, da força, da alma e doEspírito, exorta e incita os humanos àregeneração. Jan van Rijckenborgh diz,na Confessio5: “Nós, de quem disseramque dirigiríamos a fria inteligência paraa coisa suprema, sentimos como nossosaber culmina em sua convicção profun-damente religiosa. Curvamos os joelhosdiante da majestade de Deus, porque,após profunda sondagem, a intervençãodivina se comprova em todos os reinos;porque experimentamos a força que im-pulsiona todas as coisas, a energia su-blime que sustenta nosso planeta atra-vés do espaço, a Luz do Mundo: Cristo”.

Quem sente estas palavras no imo desua alma e a elas reage de maneira cor-reta, vivencia a luz, o calor e o som.“São as três forças que fazem transfigu-rar a alma”, diz Jan van Rijckenborgh,“elas estão em harmonia com a palavradivina. Em seguida vem a coesão, avida e o movimento. A manifestação deum novo corpo glorificado.”

Assim nossa “co-movimentação” nãotem como finalidade a natureza exterior,nem sequer a lei exterior, ainda que nãoa desprezemos. Nossa “co-movimenta-ção” é totalmente consagrada ao Es-pírito Sétuplo.

1) Jan van Rijckenborgh, A Gnosis Egípcia,Tomo 2, p. 288-289, 1986, 1ª edição.2) Catharose de Petri, A Rosacruz Áurea,p. 40, 1986, 2ª edição.3) Jan van Rijckenborgh, O Advento doNovo Homem, p. 34, 1988, 2ª edição.4) O jaspe é uma calcedônia colorida deverde pela ação dos óxidos.5) Jan van Rijckenborgh, Confessio daFraternidade da Rosacruz, p. 53 e 64, 1987,1ª edição.

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ORIGEM E UTILIZAÇÃO DOS SÍMBOLOS

Em sua origem, o símbolo é um si-

nal hermético que marca a relação

que existe entre o que está “em ci-

ma” e o que está “embaixo”. É o en-

contro entre dois mundos: o supe-

rior e o inferior, o plano exterior e o

plano interior, o consciente e o in-

consciente, a idéia e a aparência.

Os antigos símbolos religiosos refe-

riam-se à verdade e à senda que

leva a ela.

raças aos símbolos, podemos viven-ciar conscientemente certas limitaçõese até mesmo ultrapassá-las, eventual-mente. É por esta razão que eles sãoutilizados em todos os setores da vida:religioso, científico, artístico. São meiosempregados com a finalidade de fazercom que os seres humanos tomemconsciência de seus limites. E, se elesconhecem estes limites, então os sím-bolos podem ajudá-los a ultrapassá-los.“Assim como é em cima, é embaixo”: asestruturas que estão “embaixo” corres-pondem às que estão “em cima”, e daíresulta que o que está embaixo podesimbolizar o que está em cima.

A palavra “símbolo” vem do antigoverbo grego symballein, que quer dizer“reaproximar”; portanto, um símbolo é arepresentação de um conceito ou de umprocesso ao qual a estrutura do símbo-lo se assemelha, por assim dizer. O con-ceito de símbolo era utilizado, entre ou-tros, para indicar que duas metades deum anel ou de uma tábua, que haviamsido quebrados de propósito, agoraestavam novamente reunidas. Mos-trando esta metade, amigos, esposos,crianças, provavam que eram bastanteligados ou aparentados.

Este significado da palavra símbolo(união de dois elementos separados eentretanto aparentados) indica muitobem a reaproximação de duas coisas emum mesmo plano. É daí que vem o signi-ficado atual da palavra símbolo: assim,um símbolo indica que uma coisa inferiorpode expressar uma coisa superior. Daípara a frente, o símbolo ultrapassa umafronteira, tornando-a possível de serreconhecida conscientemente.

Neste sentido, uma alegoria não éum símbolo, mas uma representaçãosimbólica ou figurativa. Um conceito co-mo “a justiça” é representado alegorica-mente por uma mulher com os olhosvendados, segurando uma balança; oupela “morte”, armada de uma foice.Nestes casos, servimo-nos de elemen-tos de um todo que não são da mesmanatureza, mas que exprimem a mesmaidéia de diferentes maneiras. A alegorianão sugere a idéia de um limite decisivoque pode ser atingido e até mesmoultrapassado.

SÍMBOLOS PSICOLÓGICOS

O significado de mundos ocultos pordetrás dos símbolos depende do planosobre o qual entramos em contato. Porexemplo, na zona fronteiriça entre oconsciente e o subconsciente, ou entreo mundo da matéria e seu reflexo eté-rico no além, ou entre a natureza infe-rior e a natureza superior. Na primeirazona, trata-se de representações psi-cológicas que vêm do inconsciente eque estão em relação com a parteinconsciente e desconhecida da alma.São expressões de experiências inte-riores que podem ser percebidas pelossentidos. Em psicologia, as profunde-

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zas deste tipo de símbolos constituemos elos ativos entre as forças incons-ciente da psique e a consciência. Oscomplexos individuais, assim como oscoletivos, podem desempenhar umpapel simbólico nas palavras, nas a-ções e nos sonhos.

Quanto a este ponto, os símbolos ge-ralmente são considerados como ins-trumentos de compreensão do ser inte-rior, assim como do mundo que o cerca.Forças da região astral inconscientefazem nascer, em sonho, imagens queàs vezes podemos reviver consciente-mente depois de acordados. É possívelque elas revelem em que “situação limi-te” nos encontramos, que mostrem acausa da pressão e a crise que amea-ça. Seguindo este caminho, é possívelque a tensão pisicológica diminua epossamos receber indicações para umdesenvolvimento mais equilibrado dapersonalidade. Mas isto também acar-reta alguns perigos que não podería-mos enfrentar. Por exemplo, a projeçãode um sentimento de culpa conscientesobre uma outra pessoa, que vai assimsuportar o peso do erro que a pessoaculpada não quer tomar sobre si.

Neste caso, surge o grande perigoque ameaça quando um símbolo é con-siderado a própria realidade. É um peri-go inevitável quando estamos viven-ciando o limite, sobretudo quando nosaproximamos da fronteira entre o cons-ciente e o inconsciente, o mundo damatéria e o mundo dos mortos, a natu-reza mortal e a natureza imortal.

Carl Gustav Jung deplora estasituação perigosa: “Desde o momentoem que nossos símbolos mais subli-mes foram embaciados, há uma vidadesconhecida e secreta no incons-ciente do homem. É por esta razãoque a psicologia existe em nossosdias, e que falamos a respeito do in-consciente. Se estes símbolos tives-sem permanecido dinâmicos e ativos,isto não seria necessário, pois estessímbolos nascem do espírito que vemde cima”.

OS SÍMBOLOS GNÓSTICOS

Qual é o significado, ainda em nossaépoca, destes símbolos sublimes sobreos quais fala Jung, uma vez que eles jánão indicam claramente o “sublime” queficou em segundo plano, isto é, Deus, aGnosis?

Enquanto fatos e situações concretaspodem ser explicados com toda a exati-dão por conceitos e definições, a super-abundância e a profundidade infinita darealidade divina pluridimensional sãoexpressas por símbolos.

Além disso, o homem terrestre tem apossibilidade de aproximar-se do mun-do que está por trás de tudo. Estes sím-bolos somente podem representar aexistência de uma realidade estranha àconsciência humana comum, e portantoinacessível.

Assim o símbolo cria um laço entreDeus e a personalidade, graças ao qualpodemos elevar-nos acima de nossaspróprias limitações. O símbolo evoca aforça potencial irredutível que encerra odivino, mas que jamais se expressa namatéria. Graças a esta ligação com o di-vino, a simbologia gnóstica transcendeeste mundo perecível, mesmo que estemundo possa ainda comportar aspectosválidos, bons e verdadeiros. Por exem-plo: uma pedra talhada se esfacela, masCristo, a pedra angular simbólica sobrea qual o santo microcosmo se edifica, éinalterável.

OS SÍMBOLOS MAIS SUBLIMES

SÃO REVELAÇÕES

Como os símbolos gnósticos puroschegam até este mundo? Seriam umproduto da fantasia humana? Ou seriamrevelações divinas, ilustrações de prin-cípios e processos da inviolável criaçãooriginal?

Esta questão provocou discussõesveementes e muitas guerras no decor-rer da história da humanidade e ainda

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continua bastante atual. Conforme oque já foi citado, podemos concluir quea simbologia gnóstica pura provém derevelações da Gnosis e que qualqueroutra simbologia é um produto da cons-ciência humana. Os símbolos mais anti-gos provêm da fonte universal de sabe-doria, e estão sintonizados com onúcleo latente da sabedoria que estápresente no coração humano. Eles seelevam acima de toda a explicaçãoegocêntrica e psicológica. A frase: “OReino do Céu está dentro de vós” ex-pressa que “Céu” ou “Deus” não são fic-ções psicológicas, mas sim que a portade acesso à realidade divina se encon-tra no próprio centro do ser humano. Éexatamente pela ligação que existeentre a realidade divina e o centro divi-no no homem que se manifestam todasas revelações e todos os símbolosgnósticos no mundo mortal. É esta liga-ção que designam as palavras deCristo: “O Pai e eu somos um”.

Assim a divindade responde aoespírito, o espírito à inteligência, a inte-ligência à vontade, a vontade à repre-sentação, a representação ao poder depercepção, o poder de percepção aosentido e enfim o sentido ao objeto.Pois tal é a relação e a ligação recípro-ca pela qual todas as coisas do altoenviam raios através de todas as coi-sas de baixo, sem descontinuidade, atéa última.

Este texto é uma citação de umaobra alquímica do século XVII que mos-tra claramente que os símbolos gnósti-cos têm diferentes funções:• a revelação da natureza superior na

natureza inferior;• o apelo ao retorno à realidade divina;• a resposta do homem a este convite,

a realização progressiva de todos osseus esforços para estudar a mani-festação e a imagem que ele fazdela.É por isso que muitos símbolos e

representações simbólicas dão teste-munho do amor divino, da busca dohomem por Deus e da busca de Deuspelo homem.

A PORTA ENTRE O TEMPO E A ETERNIDADE

Portanto, um símbolo gnóstico não étanto um símbolo da Verdade ou umainformação que diz respeito a estaVerdade, mas sim uma porta entre otempo e a eternidade, entre a origem eo fim. Um símbolo como este não ultra-passa o limite em si; é o homem mesmoque deve ultrapassar este limite, rumo àrealidade que se acha por detrás dele.Todo o símbolo universal irradiado cons-cientemente pelos servidores na vinhade Deus no mundo mortal sob forma depalavras e imagens (e principalmentepelo exemplo de sua própria vida) é umchamado para voltar.

Este símbolo não é somente umamensagem espiritual ligada à vida divi-na, mas também a força que desce docampo de vida original. Assim, a huma-nidade recebe auxílio para descobrir averdade manifesta, compreendê-la etransformá-la em uma realidade vivente.

Os símbolos gnósticos são, portanto,passarelas entre a verdade relativa aohomem e a verdade imperecível deCristo. Paulo escreve (Epístola aosColossenses 1: 15, 17, 19, 20): “O qualé a imagem do Deus invisível, ... nele,todas as coisas foram criadas.. porquefoi do agrado do Pai que toda plenitudenele habitasse ... tanto as que estão naterra como as que estão nos céus”.

“O Verbo (a Palavra) se fez carne. EmCristo, o homem é novamente um ins-trumento do mundo divino. Cristo ‘derru-bou o muro de separação entre os dois.Entre o homem terrestre e o homemdivino’” (Efésios, 2, 14).

O ENCORAJAMENTO DOS SÍMBOLOS

Como os símbolos gnósticos pos-suem um alto nível, é compreensívelque Carl Gustav Jung tenha deplorado ofato de que nossa época tenha-se tor-nado tão pouca receptiva a eles. Quan-to mais o ser humano se deixa aprisio-

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nar pela corrente técnico-econômica daatualidade, mais vai perdendo a cons-ciência de seu espaço interior. Ele julgaos símbolos a partir de critérios exterio-res, como uma criança que estende amão em direção à lua, porque não temconsciência da distância. Mas, se com-preendermos que tudo o que manifestaum símbolo gnóstico diz respeito direta-mente a nosso mais profundo ser inte-rior, então surge uma outra relação como mundo original. A vida muda de dire-ção: ela torna o ser humano conscientede tudo o que sua existência tem de infi-nito e o leva ao autoconhecimento; por-tanto, logicamente, a atos que estão emconcordância, e a um comportamentoresolutamente direcionado a partir desua vida interior.

Então, este homem torna-se cons-ciente da existência de Deus dentro desi, e que este “Outro” dentro delesomente ressuscita pela morte de seu

eu. Quem não aproveita as possibilida-des oferecidas pelo símbolo gnóstico nasenda da realização, não faz frutificar ostalentos que ele possui e os enfraquece.Neste caso, falta a inspiração e a cora-gem que este símbolo sublime irradia nocoração daquele que se encontra real-mente na senda, rumo a Deus.

Os símbolos gnósticos geralmentesão como que um espelho embaçado,para nossa consciência terrestre.Entretanto, eles nos são ofertados paraque possamos cumprir nosso verdadei-ro destino: voltar a Deus.

Helena P. Blavatsky, A DoutrinaSecreta:“Antes de nos voltarmos para as verdades esotéricas, e a fim de queestas últimas não possam ser cor-rompidas, precisamos primeiro desen-terrar a idéia fundamental que está naraiz das religiões exotéricas. Alémdisso, todos os símbolos de todas asreligiões naturais podem ser lidosesotericamente, e a prova de umaleitura precisa por sua transposiçãoem números e figuras geométricascorrespondentes é dada pela extra-ordinária concordância de todos osglifos e símbolos, por mais diferentesque eles sejam exteriormente uns dosoutros”.

O Anjo, guardião e mensageiro.(Gustave Moreau,1826-1898. MuseuGustave Moreau,Paris.)

* Carl Gustav Jung, Von den Wurzelndes Bewusstseins

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No decorrer da história da humani-

dade, a árvore sempre surgiu como

um símbolo importante. Mitos, tradi-

ções religiosas e obras de arte mos-

tram seus inúmeros aspectos, re-

portando de maneira característica

importantes evoluções da vida ter-

restre.

a Bíblia, o homem e a árvore sempreestão associados para mostrar a rela-ção entre o cosmos e a vida sobre aterra: a árvore da vida, a árvore doconhecimento do bem e do mal, a cruzde Cristo, a árvore do Apocalipse.Vemos que este símbolo é utilizado eexplicado em diversos níveis.

Antes de tudo, a árvore é o poderosorepresentante do reino vegetal quemostra o poder e a força da vida danatureza. É uma imagem primordial quechama a atenção não somente por suaforma e beleza, mas também pelas for-ças da natureza que operam nela invisi-velmente. Enraizada dentro da terra, elaaspira as águas de suas profundezas.Seus galhos recebem luz e calor do sol.Ela participa do jogo dos elementos e,graças a eles, ela cresce, floresce e secarrega de frutos. As condições climáti-cas combinadas com o efeitos das esta-ções do ano determinam sua espécie eseu aspecto.

A árvore é, portanto, um símbolo ada-ptado pela lei à qual todas as vidas es-tão submetidas: nascimento, crescimen-to, florescimento e fenecimento. Elareflete a curta vida do ser humano e ociclo ao qual ele está submetido: nasci-mento, crescimento, maturidade, fecun-didade, morte. Mas, para aquele que éreceptivo a ela, a árvore também podeindicar uma realidade totalmente dife-

rente. Uma árvore que sobe bem altoparece ligar a terra ao céu; neste caso,ela é a imagem das forças que se ele-vam e descem, o símbolo do encontroentre o celeste e o terrestre.Todas estasforças que se juntam para se elevar ilus-tram o desejo do terrestre de atingir oceleste, e a vitória da vida imperecívelsobre a morte e a instabilidade. Atravésdos séculos, a árvore tornou-se o sím-bolo do ideal e muitas vezes de ideaisterrestres como a árvore da liberdadeda Revolução Francesa, a árvore da pazentre os indianos, e a árvore de maio.Alguns grupos ecológicos falam da“árvore-irmã” para representar umaordem mundial em que o homem e anatureza estariam novamente unidos.

ÁRVORES MENSAGEIRAS DE LUZ

Alguns povos consideravam a árvoreuma “morada dos deuses”. Geralmente,eles não a adoravam como árvore, maspelo deus que ela representava. NaGrécia, por exemplo, o poder curativo epurificador do loureiro era associado aApolo. Na mitologia germânica, a tília éo emblema de Freya, a deusa do amor eda fertilidade. Muitas vezes, as árvoresmarcam o lugar de nascimento dos deu-ses. Assim, o deus frígio Atis teria nas-cido de uma amendoeira, e o deus egíp-cio Horus, de uma acácia.

As árvores também são considera-das mensageiras divinas: “A árvore domundo” é sempre verde. Os germânicosa chamavam Igdrasil, “o freixo do mun-do”. Debaixo desta árvore corria a fonteda terra e em sua copa morava a águia,o pássaro dos deuses. Igdrasil é o sím-bolo do cosmo, onde habitam Deus, oshomens e os gigantes (os homens que

ÁRVORE: SÍMBOLO UNIVERSAL

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se tornaram grandes espiritualmente).Em sua sombra, permanecem o bem eo mal, a luta sem fim de um contra ooutro. A águia que mora nesta árvore éo símbolo luminoso do Espírito que querelevar-se rumo às alturas da verdadeiravida.

Os antigos mistérios e os contos defada que provêm deles, falam de árvo-res da vida, de jardins, de fontes celes-tes onde se pode tomar a água da vida.A mitologia cristã também utiliza o sím-bolo da árvore. As árvores do jardim doÉden evocadas na Bíblia já são mencio-nadas pelas tradições da Mesopotâmia,onde elas são rodeadas de riachos quejorram de fontes.

Como os sumérios eram agricultores,a água era para eles uma necessidadevital e a associação entre a água davida e a árvore da vida era para elesextremamente natural. Hoje, pesquisase experiências mostram a relação entreo sol, o mundo vegetal, a água, a terra eo homem. Os sumérios (4000 a 2000a.C.) achavam que estes processos na-turais eram o resultado da ação dosdeuses. Até onde fosse necessário, ossacerdotes transmitiam estes conceitospor intermédio dos Mistérios àquelesque deles eram dignos. Portanto, era im-portante compreender que, assim comoas plantas têm necessidade de águapara crescer e florescer, o homem temnecessidade da água da vida espiritualpara desenvolver-se e tornar-se um ho-mem de verdade, capaz de cumprir seu

verdadeiro destino.

DESENVOLVIMENTO E RETORNO DO HOMEM

Na narração da criação da Gênese, odestino da humanidade está estreita-mente ligado à árvore da vida e à árvo-re do conhecimento do bem e do mal. Oprimeiro se encontra “no meio do jardim”(Gênese, 2: 4), e representa o alimentoespiritual que o ser humano absorve,quando vive do Espírito. Entretanto,quando ele se afastou do Espírito porsua livre e espontânea vontade pessoal,ele sofreu a influência dialética das for-ças terrrestres: a maldição do bem e domal, assim como de todas as forçascontrárias associadas. Ele apenas seliberará desta dualidade se lembrar-sede sua natureza original e aspirar a vol-tar para a harmonia do campo de vidadivino. Ora, trata-se de um longo desen-volvimento. A volta ao mundo do Es-pírito significa para o homem a morte deseu ser terrestre natural, um processoque simboliza a cruz pela qual ele cum-pre seu sacrifício, imitando a Cristo.

Para um gnóstico, a cruz está sempreassociada à árvore, à árvore do mundo.Ela lembra o sacrifício de Odin, que lhefaz adquirir a sabedoria. A cruz é, por-tanto, o símbolo da ressurreição e davitória sobre o mundo. Ela está plantadaexatamente no “centro”, no local em queo céu encontra a terra. Segundo algu-

Cristo, o “Cordeiro deDeus” na monta-nha do Paraíso,de onde corremos quatro rios da“Água Viva” sobrea humanidade.À direita e àesquerda, umaárvore da vida.(Sarcófago doimperador romanoValentiniano III,419-455, emRavena, na Itália)

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mas versões, sete renovos saem dacruz de madeira, representando os setecéus que o homem deve atravessar emseu caminho de elevação.

Na cabala, a doutrina esotérica dosjudeus, a árvore invertida é o símboloda criação que se realiza de cima parabaixo. A árvore dos Sephiroths repre-senta a criação e os princípios univer-sais que dirigem seu desenvolvimento,mostrando a energia divina que desceao mundo da matéria e daí se elevanovamente, acompanhada por aquelesque seguiram este desenvolvimento emum sentido positivo.

A PRÓPRIA ESSÊNCIA DA CRIAÇÃO ESTÁ

PRESENTE NO MICROCOSMO E NO MACRO-COSMO.

O símbolo da árvore desvela realida-des cósmicas e oferece uma represen-tação profunda do mundo. Ibn Arabi(século XIII), um dos principais repre-sentantes da mística islâmica, vivenciauma visão em que o universo surge soba forma de uma árvore de copa larga,cujas raízes saem da semente divina,que é a palavra criadora de Alá. Damesma forma, o homem teria nascido ecomeçado sua viagem pelo mundo. Osgalhos enormes representam a estrutu-ra e a idéia que sustenta a criação, mastambém o verdadeiro destino humano. A

casca é a marca do que está no exte-rior; ela evoca o que é material: o corpohumano. A folhagem e a copa represen-tam os campos de força e de atividadenão-materiais do cosmo e a lipika hu-mana. A seiva que corre nas veias sim-bolizam a eternidade, o imperecível, aessência de todos os princípios e forçasdo cosmo e do ser humano.

No Apocalipse (22:2), é dito: “...está aárvore da vida, que produz doze frutos,dando o seu fruto de mês em mês, e asfolhas da árvore são para a cura dospovos”.

No livro A Fraternidade de Shamballa*,Jan van Rijckenborgh diz: ”O sistemanervoso duplo no seu conjunto é indica-do como uma árvore no simbolismosanto de todos os tempos. Essa simbo-logia é muito lógica, pois, se comparar-

Uma das mais antigasrepresentaçõesda árvore da vida(Ur, no Sul daBabilônia, 4000 a3000 anos a.C.)

Árvore da vidaperto da portaque dá acesso àVida (Assíria)

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mos com o tronco a coluna do fogo espi-ritual espinal, que se eleva do plexussacralis, então o santuário da cabeça éa fronde, e os doze pares de nervos ce-rebrais, que descem do santuário dacabeça para dentro do corpo todo, osgalhos pendentes”.

Ou o sistema aspira a força pura eilimitada do Espírito e daí retira os éte-res; ou ele se encontra em um campode respiração terrestre limitado, por-tanto dialético, e aspira às forças liga-das à matéria. Neste último caso,trata-se da árvore denominada “doconhecimento do bem e do mal”. É ocampo de tensão das forças contráriasnaturais regidas pela lei do “nascer,florescer, fenecer”. A partir do momen-to em que um ser humano respira nocampo de força do Espírito, seu siste-ma nervoso inteiro se renova e o resul-tado é sua regeneração progressiva ecompleta.

A coluna de fogo do Espírito, geral-mente representada por uma serpente,recebe agora uma nova tarefa. Um novofogo irradia: já nasceu a nova consciên-cia do homem desperto no Espírito.

* Jan van Rijckenborgh, A Fraternidade deShamballa, p. 101, 1982, 1ª edição.

Palmeira em forma de cruz egípcia, também chamadatau (Rivers of Life,J.G.R.Forlong,1883)

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SÍMBOLOS E MAGIA

O ser humano tem a possibilidade

de ver em uma parte do mundo

exterior um símbolo da vida interior.

Geralmente ele mesmo cria este ti-

po de símbolo e age como um ma-

go, atraindo, recebendo e transmi-

tindo forças por meio destas ima-

gens. É preciso distinguir duas ori-

entações principais: a do homem

interiormente liberto, que se serve

destes símbolos primordiais para

evocar forças divinas em proveito de

seu próximo, e o homem ligado à

natureza, que geralmente utiliza os

mesmos símbolos para invocar as

forças da natureza para suas finali-

dades materiais.

eralmente, o conceito de “magia” estáassociado aos orientais, aos feiticeiros eaos curadores. As pessoas partem daidéia de que a magia se serve de rituaise de encantamentos para agir sobrepotestades superiores ou inferiores, ho-mens, animais e objetos. Neste sentido,usam-se as expressões magia branca,ou bem-intencionada, ou magia negraou diabólica e magia cinza, que seriauma mistura das duas. Mas poucos sa-bem que estas três formas estão igual-mente ativas na vida cotidiana do ho-mem moderno.

Os humanos comunicam-se trocandodemonstrações, explicações, perguntas,promessas, ameaças, e conferindo tare-fas uns aos outros. Fazendo isto, eles seexprimem por palavras, por gestos emuitas vezes por símbolos. Servimo-nosde palavras para sermos escutados; degestos e de símbolos, para nos expres-sarmos sem palavras ou para explicar-

mos os significados das palavras. Onível de compreensão e de interpreta-ção é determinado pelo nível de cons-ciência. Palavras, gestos e símbolospodem dinamizar e influenciar valorestanto superiores como inferiores. Osresultados dependem dos motivos doorador e do nível de consciência daque-le que recebe a informação. Este últimoassimila o que foi falado por meio deseus sentidos e, se tudo vai bem, seabre; ou então se fecha àquele que estáfalando com ele.

A publicidade, entre outras áreas,aplica este meio de transmissão. Umproduto é associado a um símbolo atra-ente. Assim, muitas vezes são utilizadossímbolos considerados sagrados paraalgumas pessoas, ou que têm um senti-do diferente em outros países. A relaçãoproduto-símbolo deve criar no observa-dor a impressão de que o produto apre-sentado é uma fonte de felicidade, deglória, de poder, de riqueza, de saúdeetc. Esta forma de magia moderna estábaseada em métodos muito antigos. Emprincípio, o observador sempre tem aliberdade de não reagir às sugestõespublicitárias.

Também há formas de magia que uti-lizam conscientemente meios, forças eseres supra-sensoriais para exerceruma influência invisível e despercebidasobre alguém ou sobre outras forças ouseres supra-sensoriais. Esta transmis-são também está baseada no fenômenoda ressonância. Quando uma corda deviolino vibra, a vibração se transmite àcaixa de ressonância que, vibrando eressoando por sua vez, transmite osom. Assim, um símbolo transmite cer-tas vibrações; ou seja, vibrações demundos superiores ou inferiores desco-nhecidos podem ser transferidos parauma imagem no mundo exterior. Pelo fe-

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nômeno de ressonância, estas vibra-ções às vezes são ainda amplificadas eevocam uma resposta. O mundo deonde elas provêm e o motivo do mago edo beneficiário determinam finalmente ocontato com um nivel espiritual superiorou então um mergulho mais profundona matéria.

A MAGIA LIGADA À TERRA ATRAI A PERSO-NALIDADE PARA UMA ESPIRAL DESCENDENTE

Os homens sempre tentaram influen-ciar-se mutuamente pela magia. Osobjetivos e os meios variam desde osmais baixos até os mais altos. A magiainferior envia pensamentos, sentimen-tos e impulsos da vontade, invisíveispara muitos, e portanto capazes detransmitir muito facilmente as intençõesdo mago sem que a pessoa visada per-ceba sua atuação. Mas qual seria entãoa diferença entre a magia e a atividadedo campo de força de uma escola espi-ritual autêntica?

As práticas do mago da natureza vi-sam conservar e fazer crescer as forçasque agem na natureza. Com esta finali-dade, as forças naturais invocadas comou sem símbolos consolidam o poder domago natural e ligam a ele seus adeptosou ouvintes. Deste modo, surge umaconcentração de forças naturais dasquais vivem tanto o mago quanto seusouvintes e que mantém o grupo nesteestado. Como já dissemos na introdu-ção, trata-se de magia negra, branca oucinzenta, e as especificações do grupojá indicam sua finalidade. A magia negraestá associada a métodos que dizemser primitivos; a branca, a uma formaelevada; e a cinzenta, a todas as espé-cies de formas intermediárias. Objetiva-

mente, entretanto, todas estas formasde magia agem no interior dos limites danatureza da morte. Elas não são basea-das na liberdade interior, fruto de umaligação viva com o reino original doscéus. Neste sentido, elas nada têm a vercom as leis do mundo divino e tambémnão têm nenhuma relação com o cami-nho libertador que a Fraternidade daVida indica à humanidade inteira. Amagia natural baseia-se em forças ter-restres; a magia gnóstica é a prática davida libertadora que começa quandonos libertamos do domínio das forças

Osíris, criador e senhor. Seuolho tudo vê, seuouvido tudo ouve,sua consciênciaengloba o céu e a terra.

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da natureza. As forças que este proces-so suscitam não são destinadas a umindivíduo ou a um pequeno grupo depessoas dirigentes, mas têm como obje-tivo guiar a humanidade inteira em umafase de desenvolvimento superior. É poresta razão que elas deixam o beneficiá-rio livre para examinar o objetivo destavida superior e para engajar-se nestanova direção, se assim for seu desejo. AGnosis não têm por objetivo renovar oureforçar os laços terrestres, e uma esco-la espiritual autêntica apenas irá ocu-par-se de apresentar a nova vida e ocaminho que leva a ela.

A MAGIA NATURAL PODE SERVIR PARA

MANIPULAR A PERSONALIDADE

Alguns magos utilizam-se de símbo-los e outras entidades para influenciaro mundo do além. A literatura mundialoferece inúmeros testemunhos de prá-ticas como estas e muitas pessoas,atualmente, estão bastante interessa-das neste mundo desconhecido para amaioria. A literatura moderna e o cine-ma são os primeiros a explorar estestemas. Todos conhecem muito bem ashistórias de Aladim e sua lâmpada ma-ravilhosa, que dá a seu possuidor o po-der sobre os espíritos, e a história deFausto, que conjura o poderoso espíri-to da terra por meio de um símbolomágico. Nestas histórias, os símbolossão objetos materiais que, por suaestrutura, são análogos aos seres eforças supra-sensoriais. Quem conhe-ce a natureza de um princípio supra--sensorial como este pode invocar umaestrutura análoga por meio de um certosímbolo, pois o mundo supra-sensorialestá ligado ao mundo dos sentidos.

Assim, o mago forma um elo que ligaos sentidos ao supra-sensorial. Umsímbolo pode constituir um elo. Mas,perfumes vegetais, figuras compostasde certos objetos, signos, rituais e sonspodem igualmente servir como inter-mediários. A história do aprendiz de fei-ticeiro mostra muito bem como os“mestres” indignos ou de pouco poderpodem tornar-se vítimas das forçasinvocadas por eles mesmos.

Quando o mago se coloca em talsituação que o ser evocado apresenta--se a ele, então já está ligado a esteser. Na pior das hipóteses, já não podedesvencilhar-se dele e o ser torna-seseu mestre, e ele se torna um instru-mento dócil em suas mãos. O espíritoda terra diz a Fausto: “Tu te asseme-lhas ao espírito que te compreende, enão a mim”.

Nenhum buscador sério que estejaseguindo a senda espiritual para servira humanidade irá ocupar-se deste tipode prática. E não há nenhuma diferençase, ao invocar estes seres, a intenção éboa ou má. Elas influenciam o eu e apri-sionam a personalidade dentro de seuspróprios limites. Esta atividade do euimpede a união com o Espírito divino,mesmo quando este eu é mentalmentedesenvolvido e está inteiramente a ser-viço da humanidade sofredora.

Quando um mago da natureza sedireciona para seu destino original, avolta ao campo de vida divino, ele é con-frontado com os seres e forças que elemesmo evocou e criou. Quem se encon-tra na senda de libertação aprende queo eu, o criador destes seres e forçasfantasmagóricas não é capaz de ames-trá-las, e que somente o verdadeiro eu,a alma imortal, pode conseguir coman-dá-las.

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PROTEÇÃO CONTRA A MAGIA NATURAL

Se existem homens que, por seuspensamentos, sentimentos e vontadestentam influenciar magicamente seupróximo com ou sem a utilização desímbolos, de forças ou de seres supe-riores, como poderemos proteger-nosdeles?

Em princípio, qualquer pessoa razoá-vel e realista já está preservada contraeles. Se não nos deixarmos levar pelaexaltação, a embriaguês dos pensa-mentos, das emoções e da ação, nãoabriremos brecha para este tipo de ativi-dade. É extremamente importante a-prender a fazer a diferença entre a ima-ginação e a realidade. Muitas vezes, osmedos e os desejos pessoais são tãofortes que se manifestam por meio devozes ou formas. A pessoa tem a im-pressão de estar sendo guiada por for-ças ou seres superiores, mas na reali-dade eles não passam de fenômenoscriados por ela mesma e que, tornando--se independentes, provocam este tipode alucinações. É por esta razão que étão importante que o buscador da ver-dade compreenda que é ele mesmo quegera este tipo de experiências alucinató-rias: esta compreensão é a chave daneutralização destas interferências in-desejáveis. Quem se mantém correta-mente na senda espiritual desenvolvenão somente o poder de discernimentonecessário, mas também vivencia o po-der libertador que está sempre agindoem seu interior. O discernimento lhe en-sina a fazer a diferença entre a imagina-ção e a realidade. Ele vai vendo cadavez mais claramente a atividade daquiloque chamamos de forças da esferarefletora* e as do Espírito divino, real-mente libertadoras. Ele desmascara e

neutraliza, lenta mas firmemente, oshabitantes da esfera refletora. A filosofiaoriental jâmblica (cerca de 250-325d.C.) diz o seguinte a respeito da magia:“Esta arte exige a santidade da alma,uma santidade que rejeita e exclui tudoo que dá relevo à natureza e à matéria;de outro modo, esta arte conduziria àprofanação da alma. Uma é a unificaçãocom a centelha divina em nós, a fontedo Único Bem; a outra é o intercâmbiocom as forças da natureza, com osdemônios e os elementais que subme-tem o ser humano, transformando-o emum médium e guiando-o passo a passorumo ao aniquilamento da alma e doespírito”. (Jâmblico, De Mysteriis)

* A esfera refletora é o duplo etérico da esfe-ra material grosseira na qual se dá a vidacotidiana. Quando alguém morre, seus veí-culos sutis ainda subsistem algum temponeste reflexo da vida terrestre que é a esfe-ra refletora; mas aí também se encontramtodas as outras espécies de formas de vida.Depois de algum tempo, os corpos sutis domorto se volatilizam e a consciência nova-mente é introduzida na matéria grosseira.

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FIGURAS GEOMÉTRICAS,SÍMBOLOS

DA EVOLUÇÃO

ESPIRITUAL

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A importância da geometria não está

em sua utilidade prática, mas em

sua investigação das coisas eternas

e imutáveis e sobre o esforço de ele-

vação da alma rumo à Verdade.

ão é tão fácil analisar símbolos logica-mente. A única possibilidade é abordá--los pelo entendimento interior, e istonão ao pé da letra, mas segundo o espí-rito. Os símbolos são como obras dearte. Eles escondem segredos que serenovam à medida que neles penetra-mos; portanto eles somente se desve-lam pouco a pouco. Em conseqüênciadisso, não gostaríamos de considerar asfiguras geométricas em questão comoobjetos muito afastados de nós, mas simde tentar mostrar que elas podeminfluenciar nossa vida. Não se trata detrocar algumas idéias sobre leis eexpressões matemáticas, mas sim depenetrar mais profundamente em suafunção simbólica na vida cotidiana.

LINGUAGEM E FORMA

Pitágoras pesquisou o princípio imate-rial suscetível de explicar todas as coisas.Para isto, ele encontra o número. “Onúmero é o pai dos deuses e doshomens” (Pitágoras). Os números são asexpressões das forças fundamentais dacriação; eles são símbolos destas forças.

Os números podem ser consideradoscomo conceitos quantitativos ou qualita-tivos. O conceito quantitativo diz respei-to ao fato de medir e de contar massase objetos percebidos independentemen-te de sua constituição interna. Estavisão puramente analítica forma o fun-

damento da sociedade materialista mo-derna. A concepção qualitativa baseia--se na experiência de vida. Tudo é per-cebido como parte de um todo. O signi-ficado próprio é exclusivamente reco-nhecido em relação, em ligação, com oTodo Único. Vistos sob este prisma, osnúmeros constituem o primeiro princípiode organização da evolução cósmica.Eles também podem apresentar-secomo figuras geométricas. O que valepara os números vale também parasuas formas: eles participam do mundovisível e dos mundos invisíveis. Por umlado, a forma é uma expressão domundo visível, onde vivenciamos limitespróprios aos objetos e às formas. Poroutro lado, a forma está ligada aomundo invisível: ela faz parte dele. Éneste sentido que Platão interpreta amatemática.

A forma invisível é força, causa, en-quanto que a forma visível é efeito,resultado. Por detrás de todos os fenô-menos do mundo visível esconde-seuma força. Existe uma energia divina,original, que ativa o homem através dacriação, a fim de que ele retorne à uni-dade com a fonte divina, e o verdadeirocaminho espiritual é a realização do divi-no em seu ser interior. “Se uma coisaquer concretizar-se, ela primeiro temque existir in abstracto, pelo menos sobforma de potencialidade e de valorespresentes.” (As Núpcias Alquímicas deChristian Rosenkreuz, Jan van Rijcken-borgh.)

CÍRCULO, QUADRADO, TRIÂNGULO

Quando a energia original de algoque ainda não tem forma penetra na pri-meira dimensão, surge uma linha. A fase

Moldura empedra em umamesquita deIspahan, no Iran(século XII)

N

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seguinte é a de duas dimensões: a su-perfície. A terceira é a das três dimen-sões: espaço etc. Espaço e tempo sãoas partes de um sistema que comportasete eixos, dos quais utilizamos três pa-ra determinar o espaço, e para dar for-ma ao conceito de tempo. Na realidade,existem sete dimensões simultâneas,mas a consciência humana somente po-de expressar três, pois é incapaz derepresentar as outras dimensões.

Um dos símbolos mais marcantes daRosacruz atual é a combinação do cír-culo, do triângulo e do quadrado. O cír-culo simboliza a eternidade, a Gnosisuniversal que suporta o universo. Quemquer participar da eternidade deve a-prender a viver do círculo. O triângulo e-qüilátero representa a atividade tríplicedesta universalidade. Os três aspectosda trindade divina são equivalentes, ca-da um com sua atividade específica. Osrosa-cruzes da Idade Média falavam aeste respeito em Trigonum Igneum, oTriângulo de Fogo, mostrando que, paraadquirir a liberdade espiritual, coração,cabeça e mãos devem empenhar-sejuntos com a mesma intensidade.

O quadrado é a base sobre a qual de-ve começar este processo de evolução.Os quatro ângulos estão relacionadoscom o fogo, o ar, a água e a terra: os ele-mentos de construção do sétimo domí-nio cósmico. Todos os que buscamseriamente a verdade, que querem seralunos na senda da vida, são confronta-dos com os quatro ângulos:• orientação única na tarefa espiritual

de fazer nascer o corpo mental se-gundo as exigências requeridas;

• ausência de luta com relação a tudo ea todos, para fazer nascer um novocorpo de sentimentos;

• harmonia no intercâmbio das ativida-des, para fazer nascer um novo corpovital;

• unidade de grupo, para fazer nascerum novo corpo material.Tendo em vista esta reestruturação do

sistema vital como um todo, são necessá-rias quatro novas forças — ou éteres — quesão chamadas “os quatro éteres santos”.

FIGURAS GEOMÉTRICAS DE PLATÃO

O corpo tridimensional é a terceirafase de manifestação. O homem vive emtrês dimensões às quais ele está ligado.Os corpos visíveis podem ser símbolosde atividades, de leis, de forças que semanifestam no mundo original, espiri-tual. Neste sentido, Platão diz que omundo criado formou-se à imagem deum mundo imperecível. Ele demonstraisto por meio de cinco figuras geométri-cas cujas características mais importan-tes são as seguintes:• elas são todas delimitadas por polígo-

nos regulares;• em cada ponto angular se unem vá-

rias de suas faces poligonais;• todas as arestas são de comprimento

idêntico;em seguida, parece que:

• todos os pontos angulares do polie-dro se encontram na esfera que o cir-cunscreve;

• todos os centros das faces poligonaisse encontram na esfera inscrita den-tro do poliedro.

• todos os centros das arestas se encon-tram em uma segunda esfera inscrita.

O número destes volumes geométri-cos é limitado, pois o ângulo de umpoliedro regular é determinado exclusi-vamente pelo encontro de várias facespoligonais cuja soma dos ângulos nãopode ultrapassar 360º. Somente ascinco figuras geométricas de Platão sa-tisfazem estas condições pois, por nãocomportarem ângulos, as formas perfei-tas da esfera e do ponto não satisfazemestas condições.

As figuras platônicas representamnão somente os sistemas de linhas deforça do mundo invisível, mas tambémas da materialização destes sistemas.Cada uma das cinco figuras de Platãosimboliza um princípio original e, juntas,elas simbolizam as cinco fases do cami-nho que, a partir da prisão da matéria,conduz à vida do homem alma-espírito,o homem que venceu a matéria.

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O Hexaedro

O cubo compreende seis faces qua-dradas iguais e ângulos exclusivamenteretos. De todas as figuras de Platão, é aforma mais reta e fixa. Este símbologeralmente é utilizado para representar amatéria. Ele representa o “eu sou” dohomem, o ponto a partir do qual ele devecomeçar o caminho de sua libertação. Ocubo também está relacionado aos qua-tro pontos cardeais e também ao superiore ao inferior. No Apocalipse (21:16), aJerusalém celeste é descrita assim: ”Acidade é quadrangular, de comprimento elargura iguais. E mediu a cidade com avara até doze mil estádios. Seu compri-mento, largura e altura são iguais”.

Quando é desdobrado, o cubo apre-senta-se como uma cruz, cujos braçostêm uma relação de 2/3. Qualquer outrarelação entre os braços não deriva docubo e não está, portanto, em harmoniacom a atividade do campo de irradiaçãooriginal. Simbolicamente, o homem érepresentado por uma cruz de seis qua-drados, o que implica que ele está, comcerteza, ligado à matéria, ao tempo e aoespaço, mas também que é aí que elecomeça o caminho de sua libertação. Acrucificação de sua natureza mortaltorna possível a ressurreição do homemoriginal imortal.

O tetraedro ou pirâmide triangular

O triângulo eqüilátero é o símbolo dadivindade que se baseia nela mesma.Nesta unidade, o número quatro (quatrotriângulos eqüiláteros) já está presente,mas ainda não está manifestado (página31). Como o triângulo eqüilátero sai domistério e manifesta-se no mundo tridi-mensional, surge o tetraedro ou pirâmi-de triangular. Esta última sugere o equi-líbrio e a harmonia. Seus quatro ângulossão os mais agudos de todos os volu-mes platônicos. É por isso que Platão acolocava sob o símbolo do fogo. Ela dátestemunho das forças espirituais queabrem o caminho de uma libertaçãointerior e estimulam o homem a percor-rer este caminho. A pirâmide triangular

eqüilátera colocada no interior de umcubo é considerada como o símbolo doEspírito na matéria. A terra e a persona-lidade são irradiadas e transformadaspelo Espírito; “A matéria do mundo tridi-mensional se constrói em forma cúbica,mas oculta em si o tetraedro, construídosobre o equilíbrio divino. A matéria nãopode existir sem o conteúdo divino” (E.Haich, Einweihung.) Trata-se, portanto,do fato de que na vida não estamos ounão passamos a estar conscientes ex-clusivamente de nosso corpo (o cubo),mas que reconhecemos o elemento es-piritual em si, a quem podemos confiar adireção de nosso ser por meio de umcomportamento consciente.

Mapa do céushamânico com estrelapolar ao centro(Sibéria).

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O octaedro ou a pirâmide dupla

Oito triângulos eqüiláteros formam ooctaedro, uma figura que parece planarno espaço: é por isso que Platão o cha-ma de elemento aéreo. Podemos dizer,também, que é um trigonum igneumóctuplo. Oito é o número de Saturno, oguardião da fronteira. De um lado, elereina sobre a matéria inferior; de outro,ele estimula a elevação no campo devida supraterrestre. O número oito é for-mado por duas esferas que representamo mundo inferior e o mundo superior. Demodo análogo, podemos considerar ooctaedro como uma pirâmide dupla cujaparte de cima representa o Reino daLuz e cuja parte de baixo representaseu reflexo: a natureza terrestre. Asuperficie em que as duas pirâmides setocam é o umbral, a linha divisória, mastambém o plano a partir do qual os doismundos são invertidos. Se alguém atin-giu este plano, então podemos dizer queele já não é deste mundo, mesmo aindanão fazendo parte do outro.

Quem reconhece pelo menos uma veza verdadeira natureza da matéria e jánão se deixa dominar por ela, mantém--se no umbral, na linha divisória a partirda qual começa um outro mundo, ummundo novo. Quando a antiga consciên-cia dá lugar a uma nova consciênciacapaz de entrar neste novo mundo, en-tão o peregrino atravessa o portal deSaturno. Está feita a escolha decisiva:para uma ressurreição ou para umaqueda profunda. O número oito é a oita-va superior do número um, a fonte detodas as coisas, de onde parte todo odesenvolvimento novo.

O icosaedro: vinte triângulos eqüiláteros

Entre a série de figuras platônicas,esta é a que possui o maior número defaces. Em cada ponto angular se encon-tram cinco triângulos, o que faz surgiruma estrutura relativamente arredonda-da e fluida: por isso, Platão a coloca sobo signo do elemento água. A força trípli-ce original encontra-se vinte vezes re-

forçada, o que faz nascer uma podero-sa atividade espiritual no ser, no grupoque aí se encontra. A água simboliza asubstância primordial: conseqüente-mente o icosaedro é considerado comoo símbolo do princípio feminino supe-rior, a mãe que é a fonte de toda a vidaelevada.

O dodecaedro, a cidade de doze portas

Platão faz do dodecaedro o símboloda matéria primordial de onde Deus for-mou os elementos com números e for-mas. Esta figura consiste em doze pen-tágonos regulares e aproxima-se bas-tante da forma esférica. O pentágono éo símbolo da nova alma. As forças dasquais vive o novo homem-alma sãoduodécuplas, forças que, no mundomaterial, estão relacionadas aos dozesignos do zodíaco e, no plano espiritual,às doze forças originais. A combinaçãodos doze pentágonos, quando é umamanifestação do Espírito divino e danova alma, pode gerar possibilidadesinimagináveis.

No quinto dia de As Núpcias Alquími-cas de Christian Rosenkreuz*, encontra-mos a imagem dos sete navios quenavegam pelo mar em direção da torredo Olimpo. Estes navios formam, emconjunto, o campo de irradiação da pi-neal, no centro do qual se efetua a liga-ção da nova alma com o Espírito. Cadaum dos navios leva como emblema umdos corpos geométricos regulares, e onavio de Christian Rosenkreuz, que trazo globo como emblema, encontra-se nocentro. No momento em que a pérola éofertada, os navios se dispõem em for-ma de pentágono. Os que trazem o sím-bolo do sol e da lua — os símbolos doespírito e da alma — vêm no centro, e onavio de Christian Rosenkreuz encabe-ça a todos, como prova de que a novaconsciência concentra-se na cavidadefrontal. Cada um dos cinco corpos regu-lares forma uma porta com o sol e coma lua: por esta porta penetram seteraios. As figuras geométricas simboli-zam as diferentes atividades de cada

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raio, que intervêm cada vez sob ângulosde incidência diferentes, em harmoniacom a orientação interior e de acordocom o estado do candidato. Assim, omicrocosmo é conduzido como um“globo de ouro” sobre o mar do novocampo astral, até atingir, enfim, a torredo Olimpo.

O GLOBO, A ESFERA, É A MAIS PERFEITA

FORMA DA CRIAÇÃO

Em Christianopolis, de JohannValentin Andreæ, o globo de ouro édescrito como “a cidade de doze por-tas”. É o microcosmo santificado, nointerior do qual se cumpre o processode transfiguração: sol e lua, espírito ealma, ocupam uma posição centralneste processo e se encontram, por-tanto, no centro. Hermes Trismegistodiz que a esfera é a mais perfeita formado universo. É no interior da esfera quese produz toda a manifestação. A tota-lidade do processo do macrocosmo, docosmo e do microcosmo está contidana forma esférica.

De tudo o que foi dito, parece que,por meio de estruturas regulares, sãotransmutadas poderosas forças, nomomento em que o Espírito Sétuplopenetra o cosmo e o microcosmo. Amedida pela qual estas forças podemoperar depende inteiramente da capa-cidade de assimilação da pessoa toca-da. Quando o Espírito (o tetraedro)irrompe no ser terrestre (o cubo), obuscador da verdade chega ao umbral,à linha divisória (o octaedro) da novavida. Quando ele ultrapassa esta fron-teira e assimila progressivamente asnovas forças vitais (icosaedro), então onovo homem-alma (dodecaedro) sedesenvolve totalmente e age no planodivino. As doze forças divinas penetramo sistema microcósmico e renovamtodos os corpos do homem até sua últi-ma célula. Em As Núpcias Alquímicasde Christian Rosenkreuz, tomo II, Janvan Rijckenborgh escreve: “Quando o

candidato progride em relação a seuobjetivo, pois estabelece a ligação como mundo do Espírito, com o oceano daplenitude da vida, esta ligação temcomo conseqüência um afluxo denovas forças. Ora, a estas forças cor-respondem às novas e puras formascristalinas, pois não há espaço vazio.Novas forças significam, portanto,novas manifestações, ou seja, a combi-nação precisa de átomos provindos deDeus: isto é claro!”

KEPLER E AS FIGURAS GEOMÉTRICAS

DE PLATÃO

Filósofos e cientistas sempre se vol-tam, com muito interesse, para o segre-do dos polígonos regulares. O astrólo-go e astrônomo alemão Johann Kepler(1571-1630) considerava que o númerode planetas, sua ordem de sucessão eseu movimento respondiam a determi-nadas leis. Ele sempre agradecia “à luzda graça divina” pela compreensãocom a qual ela o gratificava. Até queponto seus trabalhos eram baseadosna pesquisa e na busca da ligaçãoentre o original e o homem? Isto ficabem claro nesta observação: “Não hánada que eu mais tente sondar com omais escrupuloso cuidado e aspire aconhecer do que esta indagação:‘Deus, que eu percebo claramente aocontemplar o universo, será que eupoderia encontrá-lo dentro de mimmesmo?’”

Com o auxílio de poliedros regularesde Platão, Kepler determinou a posiçãodos planetas e sua distância em rela-ção ao sol. Ele representou este siste-ma em seu modelo do universo, oMysterium Cosmographicum (fig. 7), noqual ele utilizou a relação entre a esfe-ra inscrita e a esfera circunscrita doscinco volumes de Platão. As pesquisasmostraram mais tarde que a relaçãoentre as órbitas dos planetas e as figu-ras platônicas baseia--se no númeroáureo**. As pesquisas atuais estão vol-

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tadas para as sete dimensões, mas istonos levaria longe demais para os limi-tes deste artigo. Esperamos ter de-monstrado um pouco que tudo nomacrocosmo, no cosmo e no microcos-mo ocupa seu próprio lugar a serviçodo plano divino.

Figuras geométricas de Platão. Da esquerda para a direita:hexaedro ou cubo,tetraedro ou pirâmidetriangular, octaedro ou pirâmide dupla,dodecaedro ou sólidocom doze faces regulares e, no centro,o icosaedro ou sólidocom vinte faces regulares.

* Tomo II, Rozekruis Pers.** É a relação entre duas medidas, de talmodo que a menor esteja para a maior comoa maior está para a soma das duas, o quedá o número áureo, a proporção de 0,618.

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No silêncio profundoRepousa o Mistério,Qual pérolaNo fundo do mar.

O Mistério diz:

Eu sou a Luz do Mundo,Imutável, E eterna,O coração do universo.Eu sou o sol dos sóis,Oferto meus raios a vósE os revelo na cruz de luz.

Em forma de centelhaPenetrei vosso coração,Infinitamente pequena como umátomo,Mas grande em poder;Como botão que se desabrocha,transformando-se em rosa;Como semente que deseja tornar--se homem-luz.

Despertai, sonhadores!Rebelai, prisioneiros!Combatentes, rendei-vos à Luz!Dirigi vossos olhos e ouvidosPara o imo,E vede o que ninguém percebeu noreino dos sentidos.

Desde a origem dos tempos,Desço ao sepulcro deste mundo,E faço com que minha luz fluaComo o Verbo Vivente,Como os símbolos sagrados.

Em forma de palavras de amor,Sabedoria e força,Volto desde tempos imemoráveis,De tempos a tempos,A vossa noite fria,A vosso vale da morte,Vertendo meu esplendor sobre vosso pó.

Mas sempre de novoA arbitrariedade o arrebata

E vós não me reconheceis,Guardando de mim uma imagemque não corresponde ao que souUm manto superficialque serve apenas para envolver.

Assim, há eões,Meu desprendimento combateVosso egocentrismo.E minha Luz lutaContra vossas trevas.

Entretanto, ouvi e vede!

Já é hora da minha cruz de luzTriunfar em vosso mundo.

Tudo aquilo que não segueMinha palavra e minha forçaRumo à Cruz de LuzÉ derribado.

Ó, não hesiteis,Vós que tendes fome de Espírito! Anelai vir ao meu encontro.Reconhecei-me.E não creais que uma veste carnalDo passado, pregada numaCruz de madeira, possa salvar-vos.

Eu sou o Verbo ViventeQue traspassa todo o universoCom puro Espírito.

Cerrai bem o velho mundoQue vos mantém cativos na morte.Despojai-vos da arbitrariedade eAbri-vos aos raios que descemDe mim como os símbolos sagrados, Em força e plenitude sétuplas,Para que a alma encontreSeu caminho de retorno ao lar,E se inflame, segundo minhaVontade, transformando-seNa Cruz de Luz.

Vinde a mim,Vós, alquebrados!Tomai minha luz e minha força

CRUZ DE LUZ

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Como pão e vinho,Como água e sangue,Como cordeiro sacrifical e peixe.

Nutri o embrião da nova alma.Fazei com que ela germine comorosa na cruz vivente.

E, se ela florescer plenamente,No coração e na cabeça,Nas mãos e nos pés,Fazei o que fiz por vós

Ide com minha força.

Sede Cruz de Luz paraTodos na noite.

E trazei a todos os que têm fomeDe Espírito aquilo que vos dei.

Libertai-vos do mesmo modo que libertais outrem!

Assim fala a Luz do MundoEm profundo silêncio.

Todos que ouvem e compreendemLivram-se dos grilhõesE seguem o Verbo,A Vontade Sagrada,Em jubilosa corrente de irmãos.

Eles se elevam na corda dosSímbolos luminosos até o local dosLibertos, avançando rumo à luz,Para a pátria dos viventes.

E quando circundam o trono do solPermanecem no meio do mundoPara apresentar suas oferendas.

Ouves a Palavra?Sentes o alento da eterna Verdade?

Da taça áureaDesce um raio até teu coração –

Para revelar-te

O Pai-Mãe-Filho, O Ser eterno, Que se sacrifica pelo mundo naAliança da Luz, da Cruz e do Graal.

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Cada linguagem é um sistema de

símbolos muito extenso, um teste-

munho que capta o poder que o ho-

mem possui de criar símbolos. As

palavras e a gramática de uma certa

língua expressam a maneira pela

qual um povo define sua relação

com o mundo. Em sua origem, cada

palavra refletia uma parte da reali-

dade e representava sua essência

tal como era percebida por cada

povo.

conceito de linguagem pode ser defi-nido como a totalidade dos conceitosque os humanos emitem pelos órgãosda fala ou pela escrita, a fim de expres-sar pensamentos e sentimentos, e decomunicá-los. Por exemplo, examine-mos o som que constitui a palavraalemã “árvore”: BAUM. O AU reflete acopa redonda da folhagem; o B é a abó-bada interior isolada do exterior; o M aleveza e a fluidez da folhagem. Outrospovos, percebendo a árvore de mododiferente, utilizam uma outra combina-ção sonora adaptada à estrutura de sualinguagem.

As orações subordinadas expressam,no momento atual, as relações entrecertos acontecimentos. Por exemplo, arelação entre presente e futuro, entrecausa e conseqüência, entre uma possi-bilidade e tudo o que depende dela. Amitologia relata que os humanos rece-beram seu poder de expressão de seressuperiores: depois as linguagens evoluí-ram até tornar-se o que são hoje.Segundo a Bíblia, o homem deu um no-me a todas as criaturas e a todos osobjetos para orientar-se consciente-mente e também para que os outros os

reconhecessem. “E Adão deu nome atodos os animais domésticos, às avesdo céu e a todos os animais do campo.”

Ao permitir ultrapassar as relaçõesintuitivas e inconscientes com a nature-za, a linguagem dá a possibilidade dedeterminar, independentemente dela, oque é necessário para adquirir o autoco-nhecimento e o conhecimento da natu-reza, e finalmente de nos aproximarmosdo mundo espiritual e entrar nele.

O milagre da linguagem é claramentevisível na língua hebraica, cuja escritaquadrada, que se traça da direita para aesquerda, preservou sua característicaoriginal. Assim, do som ou da letra Bethprovêm o Beta grego e o B das línguasmodernas; mas nestas línguas o B jánão é um símbolo vivo: é apenas umsinal. Em hebreu, entretanto, Beth e osom B significam casa. Uma casa se re-fere a um lugar separado do exterior. Aletra B não significa mais do que isto.Podemos verificar isto por sua pronún-cia: os lábios expulsam o sopro para oexterior e criam um vácuo; isto tambémpode ser bem visível na forma destaletra. No esoterismo hebraico, observa--se que a Bíblia começa com a letra B:“B’reschit bara elohim e haschamajimw’et ha’arez”. (No princípio criou Deusos céus e a terra”) Gênese, 1:1. De fato,a Bíblia começa com a criação domundo e o mundo é a casa separada deDeus, a matéria que foi apartada doEspírito.

A partir da unidade do Espírito, a cria-ção formou a dualidade da matéria: ointerior e o exterior, o Espírito e a maté-ria que o engloba em uma forma, a fimde que o Espírito se liberte da matéria.

A primeira letra da escrita hebraica éo Aleph. Esta letra não se escreve, as-sim como as outras vogais. Aleph é “aorigem invisível no Espírito”, a unidade

A LINGUAGEM: UM SÍMBOLO INFINITAMENTE VARIÁVEL

O

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que se torna dualidade pelo Espírito epela matéria. É por isso que Beth é iguala 2, pois cada letra hebraica representatambém um número. Estes númerosnão traduzem quantidades, mas sãoobtidos pela divisão e diferenciação. Do1 provém o 2, por divisão. Aqui vemosque o símbolo Beth representa simulta-neamente um princípio estrutural darealidade (separação), um princípio domundo dos números, o 2, e um estágiode desenvolvimento da criação; o mun-do da forma que se diferenciou a partirdo Espírito. Ao mesmo tempo todasestas funções traduzem realidades con-cretas que aparecem pelo desenvolvi-mento do som e da forma das letras.Trata-se de um maravilhoso simbolismo,pois o que acabamos de dizer pode serdemonstrado por todas as letras do alfa-beto hebraico!

Sete seqüências de signos sagradosbaseados no hebraico (BibliothecaMagna Rabbinica, 1675).

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“A Verdade não veio ao mundo nua,

mas em forma de símbolos e ima-

gens: de outro modo, o mundo não

poderia recebê-la.” (Evangelho de

Felipe, descoberto em Nag Ham-

madi.)

omo ainda não reconhecemos o con-ceito de incorruptibilidade, nosso pensa-mento continua direcionado para operecível e, por esta razão, muitos sím-bolos primordiais foram degenerandopouco a pouco, até passarem a se refe-rir apenas a considerações materiais.Entretando, se ainda continuam puros,eles representam uma grande força,que quase sempre é ignorada.

Em sua origem, um único símbolocontinha uma mensagem que, emboravelada, podia ser transmitida à humani-dade. Podemos considerar estes primei-ros símbolos como cordas salvadorasenviadas à humanidade sofredora paraarrancá-la para fora da matéria e elevá-la na imortalidade. Isto significa queesta humanidade recém-criada aindanão era capaz de tomar, por si mesma,o caminho de volta rumo à eternidade.Assim, quando um símbolo se situa noponto de intersecção entre o mortal e oimortal, é fácil de ser interpretado falsa-mente, ou degradado. Neste caso, acorda salvadora transforma-se em cor-rente, aprisionando a humanidadedecaída.

Vamos imaginar um grupo de pes-soas que estão buscando a verdade.Elas já tomaram seu caminho rumo àverdade e vivenciam seu aprisionamen-to na matéria, cada vez mais conscien-temente. Uma imagem da libertação,uma nova perspectiva sob a forma deum símbolo, pode mostrar a elas novos

aspectos da verdade. Depois, chega omomento em que as novas qualidadesde alma são grandes o bastante paratomar a direção de suas vidas. Então,tudo o que estas pessoas haviam adqui-rido (amigos, relações sociais ou profis-sionais, idéias, hábitos), já não tem umvalor essencial para elas. O anseio pelalibertação, que nasceu da lei originalinscrita em seu coração, deve tornar-setão ardente que a vida material já não éa finalidade de sua existência, e elaspercebem claramente a porta que seabre para o bem espiritual superior. Aprisão terrestre vai-se desfazendo exte-rior e interiormente, e todos os obstácu-los desaparecem. Neste processo queleva à autonomia espiritual, as orienta-ções que eram prescritas antes são dei-xadas de lado e as pessoas vão traçan-do, individualmente, novas linhas de for-ça. Assim, quem está no caminho, bus-cando sua libertação, retoma toda a res-ponsabilidade sobre sua própria vida.

Mas será que o que acabamos dedizer é tão fácil? Não é verdade quesempre nos deixamos guiar por todo otipo de princípios, instruções e teoriasestatísticas? A autoridade dos outrosparece servir de apoio, pois ainda nãoprocuramos mais além, e não percebe-mos que os outros são tão falíveis quan-to nós mesmos. É que as pretensas“autoridades” não passam de homens,debatendo-se também com o problemade suas próprias vidas! Eles são prisio-neiros de seus princípios, como todasas pessoas que ainda não perceberama porta da imortalidade.

Enquanto isso, a necessidade de umcerto suporte exterior realmente se fazsentir, a tempo de adquirir a compreen-são libertadora, e portanto de poderseguir um novo caminho. Mas, se o bus-cador não vai muito longe, os meios de

CONVIVENDO COM SÍMBOLOS

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socorro espiritual obtidos degeneramrapidamente, transformando-se em pri-são espiritual, e ele enfeitará as paredescom alguns símbolos magníficos quedão testemunho de suas aspirações.Para muitos, é assim que o nascimento,o caminho da cruz e a ressurreição dosalvador são símbolos cristalizados,transformados em dogmas.

COMO DEVEMOS COMPORTAR-NOS DIANTE

DOS SÍMBOLOS?

O nascimento, o caminho da cruz e aressurreição de Cristo representamfases do desenvolvimento espiritual queacontece dentro de cada pessoa. É umcaminho onde não fazemos outra coisasenão cair e levantar, como testemunhaPedro, quando nega seu mestre. Tendode escolher entre o antigo e o novo, eleainda não é bastante forte e cai nova-mente em seus hábitos antigos. O bus-cador da verdade conhece isto. As con-seqüências de suas novas concepçõesde vida são muitas vezes tão revolucio-nárias que é preciso refletir muito bemantes de saber se realmente quer conti-nuar, se é isto o que ele realmente quer!Não tendo certeza, ele recua. Ele bemque gostaria de libertar-se dos laços doespaço e do tempo, mas logo volta asua antiga natureza. E, a fim de salvarseu próprio eu, ele se reveste da sabe-doria dos símbolos, para tentar manter--se à frente e abusar dos outros. Eletenta mitigar sua fome de pão espiritualcom princípios e valores terrestres. Estafome vai-se tornando insuportável e, emsua corrida rumo à verdade, ele imita averdade. Ele a falsifica e a oferece,assim, a seus semelhantes. Quem agedesta forma, brinca com fogo, pois é

possível utilizar falsamente um símboloautêntico, mas este já não conserva suaforça. Ao fazer mau uso de um símbolo,quem o utiliza bebe de sua fonte secre-ta e vivencia a experiência de recebercoisas completamente diferentes doque gostaria ardentemente de receber.

No caso em que o buscador, ou ogrupo de buscadores ultrapassam oslimites da natureza da morte e utilizam aforça liberada no sentido de sua desti-nação original, surgem novas possibili-dades e propriedades. Assim, os símbo-los já desembaraçados das teias de ara-nha que os recobriam falam diretamen-te ao buscador sério, de maneira liberta-dora, em níveis cada vez mais elevados.Os dogmas, que quase sempre são osfrutos amargos do medo, vão perdendosua força. Assim, a mensagem originalpode ser seguida e vivenciada: primeiropelos pioneiros, depois por seus nume-rosos discípulos, e em seguida por todaa humanidade, convocada para voltarsobre seus próprios passos.

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É possível considerar um certo

número de figuras bíblicas como

símbolos da evolução interior do ser

humano. Eles traduzem este avanço

no caminho da vida por situações

simbólicas que parecem sempre

levar mais longe, principalmente

sob a forma de narrativas alegóri-

cas. Assim, a entrada em cena de

certos personagens, na Bíblia, é a

própria ilustração das vivências que

experimentamos no caminho do

desenvolvimento espiritual e no cor-

respondente estado interior.

stas narrativas alegóricas dizem res-peito a todos os homens? Em princípio,sim, pois o microcosmo foi criado “àimagem de Deus” e carrega em si umasemente divina. Ora, esta semente, ounúcleo, dá ao portador do microcosmo— o homem — a possibilidade de ligar--se novamente à força divina. Mas, aolado disso, podemos dizer que as expe-riências simbólicas descritas na Bíbliadizem respeito a um só ser: àquele queestá consciente de buscar a senda docrescimento espiritual e quer realmenteempreendê-la. Um buscador da únicaverdade torna-se progressivamentesempre mais receptivo ao plano e àforça divina. Ele libera em si o núcleooriginal, colocando de lado seu eu edando a palavra ao plano divino.

Para começar, este processo ainda épassivo, mas ao mesmo tempo ohomem que busca a Deus está cha-mando por socorro. Sua profunda nos-talgia, seu desejo irrepreensível de po-

HOMEM E MULHER:SÍMBOLOS BÍBLICOS

E

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der seguir a senda de libertação se ex-teriorizam e o impulsionam a agir. Esta“passividade” e esta “atividade” — rece-ber e emitir — estão ligadas e depen-dem uma da outra. Em muitas narrativasalegóricas da Bíblia, estes dois pólossão representados pelo homem e pelamulher, e sua ação é descrita sob a for-ma de acontecimentos e personagens.

O COMEÇO DO CAMINHO NO ANTIGO

TESTAMENTO

No começo do caminho de transfigu-ração, o homem que busca a Deus ain-da está na fase de evolução do AntigoTestamento. Sem rumo, no estado dequeda em que ele se encontra, ele é to-cado pelas forças divinas. Ele ouve ochamado e se põe a caminho. A sendaque leva do Antigo Testamento para oNovo Testamento é a senda do chama-do, do “testemunho da antiga vida” parao “testemunho da nova vida”. O AntigoTestamento representa o período dapreparação; o Novo Testamento descre-ve a espiral superior desta evolução: odespertar e o crescimento da nova al-ma, a formação da nova consciência e aelevação da nova alma no Espírito. Tudoo que se passa no Novo Testamentoestá em preparação no Antigo Tes-tamento. Isto fica demonstrado pela en-trada em cena dos profetas que apon-tam para a realização no Novo Testa-mento.

ADÃO E EVA:SÍMBOLOS DO HOMEM DECAÍDO

Todos os seres humanos na terra seencontram em um estado que já nãoestá em conconrdância com a vida divi-na original. É dito que Adão e Eva foramexpulsos do mundo divino por terem co-mido do fruto da árvore do conhecimen-to do bem e do mal. Adão e Eva encar-nam o princípio emissor e receptor,

masculino e feminino. Aquele que per-cebe que pertence à vida mortal e com-preende que deve direcionar-se para aimortalidade, tem o dever de devolver aAdão e Eva sua função original, pormeio de seu próprio ser, antes que elespossam unir-se, pois neste momentosão forças distintas. O antigo Adão e aantiga Eva devem tornar-se um novoAdão e uma nova Eva.

No Novo Testamento surgem os mes-mos princípios baseados em uma espi-ral superior, sob o aspecto de Maria eJosé. Eles indicam que o processo depurificação já está avançado, que o ho-mem-Jesus pode nascer destes doisprincípios: ou seja, com um corpo (ouveículo) apto para se preparar para aressurreição.

Esta fase de desenvolvimento entre“o antigo” e “o novo” faz parte do cami-nho de todo o autêntico transfigurista Epara ele, é sempre verdadeira a indaga-ção: “Onde está o Adão em mim? Ondeestá Eva? Onde estão Maria e José?Será que Jesus já nasceu? E Cristo?” OAdão decaído tem sua sede no sistemaespinal, que vai da cabeça ao plexo sa-cro. Ele representa o antigo fogo ser-pentino, a consciência decaída. A Evadecaída encontra-se no santuário docoração ainda não purificado. Ela encar-na a antiga vida de sentimentos denatureza terrestre.

A força espinal tem um aspecto abs-trato e um aspecto concreto. Na alma--espírito desperta, o aspecto abstrato éportador dos impulsos do mundo divi-no: portanto, há uma atividade criadora.O aspecto concreto liga a nova com-preensão à matéria. A força espinalatrai a força astral — Eva. Por meiodela, a alma-espírito pode trabalhar namatéria. Quando esta colaboraçãoacontece em harmonia, o instrumento éformado para que Deus possa manifes-tar-se na matéria; e a fim de formar uminstrumento como este, é necessárioque cabeça e coração unam-se pro-gressivamente e já não estejam a servi-ço do eu.

David e o pecado original(Manuscrito da BibliotecaHerzog August,em Wolfenbüttel,Alemanha).

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DOZE NOVAS POSSIBILIDADES

Adão e Eva simbolizam, em primeirolugar, a força espinal e a força astral dohomem decaído. Em uma espiral supe-rior, eles retornam sob a forma deAbraão e Sara, símbolos da fé que faznascer o toque do Espírito. Isaque eRebeca lembram a concretização destaesperança; Jacó e suas esposas sim-bolizam a nova energia liberada. Deles,nascem doze filhos — doze novas for-ças — que podem ser imaginadascomo símbolos das novas forças bipo-lares que atuam em diferentes níveis navida humana. Assim, a compreensãoque é própria do homem do NovoTestamento adquire um maior poder derecepção e manifestação; o mesmoacontece em sua vida sentimental(Gênese: 49). Estes novos poderesacarretam uma nova tarefa: uma prepa-ração maior, tendo em vista o nasci-mento de Jesus e a ressurreição deCristo. Esta é a fase do AntigoTestamento — o testemunho da novavida que se desenvolve naquele quebusca

Depois do toque do Espírito divino, as

forças recebidas devem transformar-seem um processo consciente: é a faseJesus. É impressionante que, no NovoTestamento, já não seja tratada a ques-tão da linhagem das gerações, mas simda consciência do indivíduo. Para encer-rar a antiga fase, surge João Batista, oúltimo profeta, que lembra a fase dapreparação em termos concisos. A este-rilidade de seus parentes, Zacarias eIsabel, exprimia o fato de que eleshaviam deixado a fase do AntigoTestamento e já não estavam receptivosàs influências do antigo campo de vidaterrestre. A alma que se volta a Deus,por esta mesma razão, desvia-se domundo e se fecha a suas influências,porém não o abandona em seus sofri-mentos.

O NASCIMENTO DE DEUS NO HOMEM

Quando a alma, deste modo, des-via-se do mundo, recebe novas forças.O pólo oposto do princípio feminino é ointelecto terrestre, agora purificado aponto de poder retirar-se para darlugar a um desenvolvimento superior.Esta compreensão do intelecto —José — e a rendição do coração —Maria — permitem que se cumpra umagrande maravilha: a manifestação deDeus no homem. Jesus nasce. O nas-cimento de Jesus é, portanto, o símbo-lo do nascimento de Deus no homem,fato que deve acontecer um dia comtodos para permitir a ressurreição. Aalma “convertida” e o novo intelecto jánão acham seu lugar no velho mundo:então, são expulsos pelas forças ter-restres. Mas estes aspectos, que jáatingiram uma realidade superior, saú-dam a chegada da Luz. Estes aspec-tos são representados pelos três reisMagos que, guiados por uma estrelaaté o local de nascimento de Jesus,vêm trazer-lhe ouro, incenso e mirra. Oincenso é o símbolo do coração reno-vado e das novas forças astrais quechegam até ele; o ouro é a imagem da

A fuga do Egito(Gravura deAlbert Durer,1471-1528).

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nova compreensão ou consciência, e amirra, a nova atividade que vai permitira expansão do Espírito divino nomundo.

O CAMINHO DA NOVA ALMA

O caminho ainda não termina com onascimento de Jesus, que é o segundonascimento. Por mais que este nasci-mento tenha aberto a porta do mundoespiritual, o novo homem deve cresceraté poder participar conscientemente donovo campo de vida.

Em um determinado momento, Jesusdeixa seus pais, começa a pregação ereúne em torno de si seus doze discípu-los, a quem ele revela os maioresMistérios, que mantém velados ao povo,pois seus discípulos têm um nível maiselevado.

Os doze discípulos correspondemaos doze filhos de Jacó, às doze tribosde Israel. No Antigo Testamento, haviadoze atividades que resultavam dotoque do sangue pelo Espírito. Esta eraa fase dos profetas. No Novo Tes-tamento, estas doze atividades já nãoprovém do sangue renovado, mas simda nova alma, da nova consciência: épor esta razão que elas são chamadaspor Jesus, que é o princípio da novaalma. Elas são chamadas, mas nãototalmente realizadas, pois, apesar de jáestarem presentes em princípio, aindadevem ser dinamizadas. Esta é umaação consciente e este é o assunto tra-tado pelo Novo Testamento: o testemu-nho da nova vida!

Cada um de nós deve aprender a tra-balhar com as doze novas forças nocaminho de transfiguração: é assim queo sistema, como um todo, é renovado.Estas doze forças, no desenvolvimentodo Novo Testamento, agem nos dozepares de nervos cranianos já prepara-dos para isto. Em outras palavras: co-meça a tomar forma a nova doutrina(como base de trabalho) e as novas for-ças (como poder de execução). Neste

sentido, o buscador espiritual pode re-conhecer seu próprio caminho com aentrada em cena de Jesus, e tambémde Pedro, João, Tomás, Judas e outrosdiscípulos. Os doze discípulos seguema Jesus como seu Mestre. Eles oseguem, e o traem inúmeras vezes, poiseles não o compreendem e, semprecaindo em seus velhos hábitos, queremservir novamente ao deus terrestre. Ahistória dos doze discípulos descreve osaspectos positivos e negativos destecombate interior. Assim, Pedro mostraque é firme e perseverante. Em seu sen-tido negativo, estas qualidades se mani-festam como intransigência e tendênciaa fazer intervenções intempestivas.Estes dois aspectos já foram descritosno Antigo Testamento, quando Jacóaconselha seus irmãos.

Os aspectos simbolizados pelos fi-lhos de Jacó e pelos discípulos de Je-sus devem ser agora subordinados àvida segundo o Novo Testamento. Tudoo que representa um obstáculo à novavida deve ser reconhecido e vencidoprogressivamente: negação, traição, in-veja, incredulidade, desejo de poder,vaidade e todos os outros elementosnegativos da vida terrestre.

A terceira fase é a da libertação. De-pois daquele que prepara os caminhos— João Batista — vem Jesus, a novaalma: depois de Jesus vem a ressurrei-ção — a nova alma unida ao Espírito.Nesta fase, entram em ação duas for-ças que podemos definir como a almaressuscitada e seus companheiros. Ésobretudo Maria Madalena que aquidesempenha um papel importante. Se-gundo o evangelho, ela queria espalharóleos aromáticos pelo corpo de Jesus.Ela apenas encontra seu corpo glorio-so, o corpo que se tornou um corpo deluz. Depois de sua ressurreição, Jesusensinou seus discípulos, e sua alunamais inteligente era Maria Madalena.Ao contrário dos outros discípulos, elasempre continuou no rumo certo, comoé dito no Evangelho segundo Maria. ABíblia conta que havia três mulheres aolado da cruz: Maria (a mãe de Jesus),

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uma outra Maria e Maria Madalena.Podemos considerá--las como companheiras da nova alma.Elas sofrem e seguem o processo derenovação por completo, mas seu tes-temunho é o silêncio, porque a com-preensão natural não é capaz de con-cebê-lo.

NASCIMENTO DO NOVO CORPO ETÉRICO

A ressurreição é o desenvolvimentodo corpo da nova alma, nutrido pelasforças do Espírito. É apenas depois daressurreição que o sistema microcósmi-co é ligado ao campo de vida divino. Onovo corpo etérico da alma de Cristoenvolve o campo de vida terrestre emsua totalidade e dá a todos os buscado-res sérios a força para continuar no pro-cesso de renovação e conduzi-lo ao“bom fim”. A vida de um homem comoeste, em quem a alma é ressuscitada,entra em uma fase totalmente nova. Ospensamentos, os sentimentos e os atossão inspirados pelo novo campo devida. Jesus diz: “Eu sou a ressurreição ea vida”. Esta vida depois da ressurrei-ção é a do menino-Deus, do ser queestá em ligação direta com o campo devida divino.

OS SÍMBOLOS TORNAM-SE REALIDADE

O Antigo e o Novo Testamento des-crevem a evolução do homem em buscade Deus, desde a primeira fase, da pre-paração, até a última, da realização.Não é essencial saber se todos estespersonagens bíblicos realmente vive-ram e seguiram a senda ou não. Paraquem busca, o importante é seu signifi-cado simbólico. Quem busca reconhecesua própria senda e compreende ariqueza destas figuras e narrativas sim-bólicas. À medida em que ele avança nasenda de transfiguração, ele descobreseu significado em vários níveis diferen-

tes, e, se tiver a capacidade de traduzirem atos libertadores o que compreen-de, então, se aproximará passo a passode sua sublime finalidade. Ele descobri-rá que a Bíblia desenha minuciosamen-te a senda de sua própria vida, e queele próprio é um símbolo do ponto deencontro entre Deus e o homem, ondeacontece a vitória sobre a matéria.

Do Adão e da Eva decaídos podemressuscitar o novo Adão e a nova Eva,unidos em um só ser humano, um Adãoe uma Eva espirituais. Então, a queda éaniquilada, e o homem está de volta naqualidade de participante do campo devida divino.

“Naqueles dias, dispondo-seMaria, foi apressa-damente à regiãodas montanhas, a uma cidade deJudá, entrou nacasa de Zacarias e saudou Isabel”(Lucas, 1: 39 e 40)(Catedral deFreiburg, séculoXIV, Alemanha).