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SÃO PAULO, 20 a 22 DE DEZEMBRO DE 2014

SÃO PAULO, 21 DE MARÇO DE 2013 · Se a gente considerar a COP15 (Copenhagen, 2009), que foi um grande fracasso, e depois a tentativa de reerguer as negociações nas conferências

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SÃO PAULO, 20 a 22 DE DEZEMBRO DE 2014

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“O Brasil tem condições de zerar o desmatamento em 15 anos”

Segundo o cientista Carlos Nobre, o país terá de desatrelar a expansão da

agricultura do desmatamento, reduzir a emissão de CO2, e investir em

energias renováveis

Carlos Nobre, cientista climático e secretário de Políticas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, MCTI, acredita que há uma leitura muito severa sobre o papel do Brasil no âmbito do meio ambiente. Doutor em meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Nobre tem pesquisas feitas, desde os anos 1980, os impactos do clima sobre o desmatamento da Amazônia e seus ecossistemas. Para ele, o Brasil já vem trabalhando pela redução das emissões de gás carbônico (CO2), até mais do que outros países e tem plenas condições de casar preservação e desenvolvimento da agricultura.

Seu irmão, Antonio Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, se notabilizou este ano por um estudo mostrando o impacto do desmatamento para a seca de São Paulo, por exemplo. Para este problema, Carlos Nobre acredita que só é possível avançar com a redução do consumo de água.

Pergunta. Qual é o balanço que o senhor faz da COP20? O que o senhor acha sobre inserir os países emergentes no mesmo bloco que os países ricos no acordo para a redução de CO2?

Resposta. Se a gente considerar a COP15 (Copenhagen, 2009), que foi um grande fracasso, e depois a tentativa de reerguer as negociações nas conferências seguintes, a COP20 foi a melhor até agora. O que derrubou Copenhagen foi a falta de acordo, e isso frustrou todos os participantes, porque os Estados Unidos e a China estavam cada um falando uma língua diferente. A COP20 apresentou esse pré-acordo [de redução de CO2], que ainda precisa se materializar, mas pelo menos ele aconteceu. Se não houvesse esse acordo, hoje estaríamos bem mais frustrados. Sobre incluir os emergentes no mesmo bloco que os países desenvolvidos, não é bem assim. No documento, há uma frase que diz “respeitando as peculiaridades de cada país”. E essa última frase muda todo o espírito. Quando o tempo passa, as coisas mudam. Em 1992, por exemplo, a Coreia do Sul ainda era um país considerado em desenvolvimento. Em 2014, já é um país desenvolvido. Você tem que ter um mecanismo para que os países que vão avançando, assumindo condições tecnológicas e financeiras, possam desempenhar um papel importante.

P. Como será 2015 para o Brasil? Quais serão os principais desafios ambientais?

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R. São três grandes desafios: acelerar a introdução de energias renováveis na matriz energética, reduzir o desmatamento e melhorar a produtividade da agricultura. O Brasil deve continuar sendo o protagonista e tem de continuar nessa trajetória de redução das emissões [de CO2]. Nos últimos anos, o único país grande em desenvolvimento que diminuiu [a emissão de gases de efeito estufa] foi o Brasil. Tem condições de, em dez,15 anos, zerar o desmatamento. Porque é possível aumentar a produção agrícola sem ter que expandir a fronteira agrícola. O Brasil tem a faca e o queijo na mão para zerar o desmatamento. Para isso, é preciso investir na agricultura e a pressão de expansão da fronteira agrícola em cima das florestas, do cerrado e da caatinga tem que zerar. E é preciso que os mecanismos de incentivos foquem na recuperação de áreas degradadas no sentido de plantar floresta. Isso não é nada fora do que é exequível para o Brasil.

O terceiro é a energia, que tem uma correlação muito grande com o crescimento econômico e demográfico. A única maneira de mudar essa curva é alterando a matriz enérgica. É preciso que haja investimento do setor, incentivos de iniciativa pública com energias renováveis. O Brasil tem o maior potencial de energia renováveis do mundo por quilômetro quadrado. Nem os Estados Unidos e nem a China têm esse potencial.

P. O Governo está atento a essa importância do investimento na energia renováveis?

R. Como política pública sim. A energia eólica avançou muito porque o setor privado viu que havia um potencial muito grande. O Governo cria mecanismo para incentivar a geração de energias renováveis. Mas é preciso que exista um capital privado interessado em explorar esse potencial que o país tem.

P. Recentemente, Gustavo Fonseca, do Fundo Global para o Meio Ambiente, disse que o Brasil tem que reassumir o papel de protagonista na negociação ambiental. Você concorda? Por que perdemos esse protagonismo?

R. Não acho que o Brasil perdeu esse papel. É dificílimo diminuir a emissão [de CO2] com o desmatamento. A questão é mudar o padrão de desenvolvimento. É um aspecto cultural, que existe desde que os portugueses chegaram aqui em 1500. Eu não concordo, acho incompleta essa afirmação e fraca como análise transversal da dificuldade que é a redução de emissões. Nós reduzimos, enquanto os EUA aumentaram no ano passado, o que é muito preocupante. O que alguns analistas equivocadamente acreditam é que o Brasil deveria ter o papel de convencer a China a reduzir as emissões, por exemplo. Essa ideia de que o protagonismo do Brasil é ser um país que convença todos os países a reduzir é inocente. Deixa o Papa fazer isso. O protagonismo nosso é resolver os nossos problemas.

P. Como o senhor vê a seca que está afetando a região sudeste do país? Qual é a nossa responsabilidade em relação a ela?

R. Eu não sou especialista em uso da água. Mas a Academia Brasileira de Ciências reuniu, nos dias 21 e 22 de novembro, os melhores especialistas em recursos hídricos do Brasil para discutir o tema. De modo geral, o que recomendamos é a redução drástica de consumo. A não ser que ocorra um dilúvio, ainda assim, era preciso que

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tivesse um dilúvio de hoje, o início do verão, até março. E mesmo que chova de hoje até o fim da estação chuvosa uma quantidade na média, teremos um problema no próximo inverno até mais severo do que tivemos até agora, porque praticamente não há mais água no Cantareira e nem nos outros reservatórios. Nos próximos anos é preciso tomar medidas que combinem saneamento – melhorar a qualidade da água disponível – e consumo racional. Enquanto perdurar a crise, o consumo tem que diminuir. Além disso, as bacias estão muito degradadas. É preciso replantar as florestas para melhorar a vazão dos reservatórios e melhorar a qualidade da água.

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Metas do clima alvo da embaixada turismo e meio ambiente

Comitivas estarão se deslocando para Paris e regiões europeias,estudando mecanismos de controle para chegar em dezembro com metas efetivas de redução dos gases de efeito estufa.

A indicação do ativista ambiental e biólogo Claudio Sideral e parte da delegação brasileira na Cop 20 em Lima para o representante do Fórum Permanente de Sustentabilidade da Amazônia, Hercules Góes, fazer as funções informais de um “Embaixador do Turismo e Meio Ambiente de Rondônia”, são parte das inúmeras atividades assumidas pelo delegado nomeado pelo Itamaraty na Conferencia da ONU, em assumir desafios e metas da região amazônica brasileira, com ênfase no estado de Rondônia, de grandes hidrelétricas, pecuária extensiva e uma agricultura que tem metas mensais de controle de redução de gases de efeito estufa. Os estudos científicos como, por exemplo, o da climatologista americana Debora Laurence da Universidade de Virginia, comprovam que se a Amazônia não somente a nacional, mas, a Pan Amazônia, fosse desmatada por completo os problemas climáticos causados seriam muito fortes para a agricultura dos EUA e até mesmo do maior país do mundo que é a China.

O mesmo acontece com as bacias do Congo e do Sudoeste asiático que não podem ser desmatadas. Há estudos comprovados científicos que o Meio Oeste dos EUA que produz comida para os americanos sofreria muito forte com a devastação da Amazônia.

O cientista Antônio Nobre do INPE aponta que inclusive a seca paulista esta diretamente ligada ao desmate amazônico e o atual modelo de ocupação da Amazônia.

O compromisso que o ativista ambiental Hercules Góes, embaixador informal do turismo e meio ambiente de Rondônia, ajudou a firmar com os demais membros da delegação brasileira na Cop 20, representada pelos delegados oficiais do Governo e comitiva de 470 membros da sociedade civil, agora no Peru, caminharam para a apresentação de documentos que estão visando à redução das emissões de carbono recomendado no documento final da Conferencia Mundial do Clima, em Lima Peru, conduzindo iniciativas que vão alimentar o crescimento e favorecendo a integração do Brasil na economia internacional.

Se os resultados que a delegação brasileira e delegados de l95 países em Lima Peru na Cop 20, ficaram como em Copenhagen na Cop l5, pouco aquém do objetivo,

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levantaram, no entanto a bola para a próxima etapa da Conferencia de Mudança Climática que ocorrera em Paris em dezembro de 20l5.

Durante o próximo ano já em março, comitivas estarão se deslocando para Paris e regiões europeias, estudando mecanismos de controle para chegar em dezembro com metas efetivas de redução dos gases de efeito estufa e ambiciosas metas na chamada economia verde, buscando investimentos no Fundo Verde criado por Banki Moon, secretario executivo da ONU na Cop 20.

O Governo dos EUA já tem compromisso com a redução de 30 por cento das emissões de CO 2 na geração elétrica ate 2030 e a China, outro gigantesco player incluiu a proteção ambiental entre os indicadores da avaliação dos gestores públicos, o mesmo ocorrendo com empresas gigantescas, como Wal Mart, Coca Cola que já tem entre seus preceitos os compromissos de critérios de seleção de fornecedores, baseados nas metas de redução de emissão de gases nocivos.

Investidores nacionais e estrangeiros estão alinhados na busca de metas e índices como o Dow Jones Sustainability são fatores de redução métrica e ate a tradicional Bolsa de Valores de New York, BV Rio e outros órgãos significativos.

A Funda Amazônia do BNDES, Fundo Clima, Fundo Verde e outros fundos nacionais e internacionais vão investir recursos nestas novas métricas do novo planeta alinhado com os compromissos climáticos.

Neste patamar Hercules Góes e seu fórum permanente de sustentabilidade da Amazônia, estão alinhando compromissos com os estados amazônicos, todos eles e mais os da região pan-amazônica, para conferencias preliminares no primeiro semestre ate o seminário de outubro em Rondônia, preparatório da Cop 2l em Paris e o grande player será o Amapá, vizinho da Guiana Francesa, território ultramarino Frances na Amazônia, já que aquele pais sedia a maior conferencia climática da OONU em 20l5.

Hercules Góes e sua diretoria como radialista Sergio Gomes, Ricardo Júnior do jornal onortao, Erundina Barbosa, Marcos Barbosa entre outros, estão se movendo na direção destes compromissos climáticos e em temas sustentáveis, turísticos e ambientais que gerem turismo ecoturistico, sem matar o solo como é o caso de luta pelo tombamento internacional pela ONU para o Real Forte Príncipe da Beira, Patrimônio da Humanidade, que gerara recursos para o turismo com seu selo internacional, movimentando a comunidade e sem degradar o meio ambiente e diminuindo os índices de poluição e desmatamento amazônico.

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COP 20: ‘É hora de agir’

Que se pode esperar da reunião a ser promovida pela ONU em Lima, no Peru, de representantes de quase 200 países, do próximo dia 10 ao dia 12, para discutir um acordo “vinculante”, no âmbito da Convenção do Clima, em que todos se comprometam a reduzir emissões de poluentes que aumentam a temperatura do planeta? Até aqui, dizem os promotores que pretendem chegar a um “rascunho” do acordo com metas obrigatórias, a ser assinado até o final do ano que vem, em Paris, e que vigore a partir de 2020. Mas, apesar das datas distantes, há certo ceticismo quanto à possibilidade de acordo mesmo para um rascunho, tantas são as divergências entre países industrializados, de um lado, e “emergentes” e “subdesenvolvidos”, do outro, quanto à definição das responsabilidades de cada um na redução (hoje, 1 bilhão de pessoas mais prósperas emitem metade dos poluentes no mundo; 3 bilhões na faixa intermediária, 45%; e 3 bilhões – metade sem energia elétrica – emitem 5%).

Os relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) são categóricos: é preciso reduzir até 2050 as emissões em 40% a 70% do que são hoje para impedir que a temperatura do planeta suba mais que 2 graus Celsius (já subiu 0,85% em relação ao século 19); e chegar a zero nas emissões até o fim deste século. O último relatório, de 5 mil páginas, foi escrito por 800 cientistas, que reviram os estudos de mais de 30 mil no mundo todo. Por isso o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, é categórico. “A ciência já falou. Não há ambiguidade. É hora de agir”, disse ele na última reunião do IPCC, em Copenhague.

E as tarefas não são fáceis. Em 2030 é preciso emitir 15% menos do que em 2010. É preciso trabalhar imediatamente no reflorestamento para que as áreas recuperadas ajudem na redução de temperaturas; avançar com a eficiência energética, que pode ajudar a reduzir a quantidade de poluentes emitidos na queima de combustíveis fósseis (carvão, óleo, gás) entre 3 bilhões e 7 bilhões de toneladas anuais de dióxido de carbono equivalente. Mas um dos avanços que também se conseguiria com isso seria reduzir os 7 milhões de mortes anuais por causa da poluição do ar (estudo da Organização Mundial de Saúde) na Índia, no Brasil, na China, no México e nos Estados Unidos – além da geração de 7 milhões de empregos nas áreas de energias renováveis. Tudo isso feito, as emissões anuais, que estarão em 47 gigatoneladas de CO2 em 2025, chegariam a 2050 com 22 gigatoneladas (55% menos que em 2012). Se nada for feito, poderemos chegar a 87 gigatoneladas em 2050.

Mas para avançar, calcula sir Nicholas Stern, estudioso respeitado, é preciso investir nos próximas anos nada menos que US$ 90 trilhões (quase 40 vezes o PIB brasileiro). E, pensam os cientistas, eliminar os subsídios ao consumo de combustíveis fósseis, hoje na casa dos US$ 600 bilhões por ano. E seguir nos caminhos de 2012, quando foram investidos cerca de US$ 360 bilhões em programas de eficiência energética, além de US$ 244 bilhões em energias renováveis.

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Há quem veja como sinal para otimismo o fato de Estados Unidos e China (que, juntos, emitem 45% do total de poluentes, hoje) haverem firmado acordo pelo qual os norte-americanos se comprometem a reduzir suas emissões entre 26% e 28% até 2025, enquanto os chineses só diminuirão em 20% seu consumo de combustíveis fósseis a partir de 2030. Os mais céticos ironizam as datas. E François Hollande, presidente da França, pede mais pressa, porque um fracasso no acordo global “pode levar à guerra” e à “catástrofe” (Business and Financial News, 7/11). Angela Merkel, a chanceler alemã, pede à Austrália que reveja sua posição contra o acordo: os desastres do clima “não se limitarão a algumas ilhas do Pacífico, atingirão todos os países” (17/11).

Por essas e outras, diz um dos relatórios da ONU (AP, 19/11) que o mundo ainda não está no caminho de evitar os perigos gerados pelas ações humanas; seria preciso baixar as emissões para 42 bilhões de toneladas métricas de CO2 em 2030 – quando as projeções de hoje são para 15 bilhões a 19 bilhões de toneladas acima disso. Há países já francamente assustados. O Nepal, por exemplo, mostra que a cobertura de gelo em suas montanhas se reduziu em 1.266 quilômetros quadrados em duas décadas – e o abastecimento de água de milhões de pessoas depende dela. Botswana demonstra que secas e inundações estão arrasando o país . O Banco Mundial manifesta preocupação com o que está acontecendo na Groenlândia e na Antártida. Se as temperaturas continuarem a subir, afirma (23/11), o nível dos oceanos poderá elevar-se em até 2,3 metros nos próximos séculos. Colheitas de soja no Brasil poderão baixar 70%; de trigo, 50%. O oeste dos Estados Unidos enfrenta uma sucessão de nevascas (dez pessoas morreram na última). A área dos vinhos na França está sofrendo com calor inédito e tempestades de granizo (Estado, 16/11). Lembra o Peru que em 30 anos os Andes perderam pelo menos 30% da cobertura de gelo.

Não estranha. De janeiro a outubro deste ano a temperatura média global esteve em 14,78 graus Celsius, a mais alta desde 1880, segundo a Agência de Administração Oceânica e da Atmosfera (NOAA), dos EUA. Ou 0,68 grau acima da média do século 20; recorde em cinco dos últimos seis meses.

Dinheiro resolveria, como o do Green Climate Fund, com o qual se espera reunir US$ 100 bilhões anuais para ajudar os países mais pobres e vulneráveis? Mesmo que seja, até agora só reuniu US$ 5 bilhões.

No Brasil, continuamos mergulhados em polêmica. Diz o Observatório do Clima (Estado, 25/11) que em 2013 aumentaram nossas emissões (1,57 bilhão de toneladas de CO2, mais 7,8%); diz o Ministério do Meio Ambiente que a metodologia oficial difere da que é usada nessa medição. Mas é tudo muito preocupante com os números sobre a perda de florestas – que está influenciando no clima, nas chuvas, no abastecimento.

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Sem chuva, Cantareira chega a abril com -33%

Aguardadas neste verão como a salvação do colapso do Sistema Cantareira, as chuvas dentro da média não acontecem no maior manancial paulista desde julho de 2012. Há 28 meses, os reservatórios têm recebido menos água do que o esperado, segundo os registros oficiais das vazões afluentes, que é a água que corre pelo leito. Durante todo este ano, o volume que entrou equivale à metade das mínimas históricas em 84 anos de medição.

Simulações feitas pelo especialista em recursos hídricos José Roberto Kachel, a pedido do Estado, mostram que, se a crise de estiagem persistir, o Cantareira chegará ao final de abril de 2015 com -33% da capacidade. Isso significa que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) já terá retirado 45 bilhões de litros da terceira cota do volume morto para abastecer cerca de 6,5 milhões de pessoas da Grande São Paulo que ainda dependem do manancial.

Hoje, o nível do sistema está negativo em 21%, considerando a segunda cota da reserva profunda. Pelo atual cenário, o Cantareira chegaria no próximo período de estiagem, que vai até setembro, em uma situação bem pior do que a de abril deste ano, quando as represas computavam 10% da capacidade positiva. Restariam cerca de 150 bilhões de litros para secar o manancial completamente.

O governo Geraldo Alckmin (PSDB), contudo, acredita que a entrada de água no sistema deve se normalizar neste verão. Em setembro, o secretário de Recursos Hídricos, Mauro Arce, que deixará o cargo em janeiro, disse que se chover o esperado o Cantareira estaria 100% recuperado em um ano. Segundo ele, a chance de isso acontecer é de 50%. As simulações mostram que se a vazão voltar mesmo à média histórica, o sistema chegará ao final de abril de 2015 com 22% da capacidade, melhor do que no mesmo período deste ano. Em outubro e novembro, porém, as entradas de água ficaram 80% abaixo da média. Neste mês, até a semana passada, a vazão correspondia a apenas 17% do esperado, uma diferença de 39,4 mil litros por segundo, ou 105 bilhões de litros no fim de dezembro.

Efeito esponja. O solo seco é o maior obstáculo hoje para a recuperação do Cantareira, segundo Kachel. "Boa parte da água que cai é absorvida pelo solo. É preciso chover o dobro da média histórica para recarregar o solo e fazer com que as vazões afluentes fiquem próximas da média", afirma o professor e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê.

Março foi um exemplo. Dados da Sabesp mostram que choveu no manancial 193,3 milímetros naquele mês, 5% a mais do que a média histórica, de 184,1 milímetros. Boa

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parte do volume foi sugada pelo solo. Em termos de vazão, o resultado foi alarmante: 77% abaixo da média. De lá para cá, a pluviometria ficou abaixo do esperado. Segundo Kachel, para normalizar a situação seria necessário cair um "dilúvio", como aconteceu em 1983, logo após o governo paulista concluir a construção das represas Jaguari-Jacareí, que respondem por 82% da capacidade do manancial. "A expectativa era de que demorasse três anos para a represa encher, sem retirar nada. Por causa do El Niño naquele ano, aconteceu esse dilúvio e a represa encheu em oito meses", diz Kachel.

Para o professor de Hidrologia da Unicamp, Antonio Carlos Zuffo, no atual cenário de seca extrema, mais do que intensas, as chuvas precisam ser constantes. "Uma chuva não provoca a mesma quantidade em vazão. Com o solo encharcado o resultado é um, com o solo seco, outro. Na situação atual, elas precisam ser contínuas para encher os reservatórios."

Déficit. As previsões mais pessimistas no plano de contingência do Cantareira entregue pela Sabesp aos órgãos reguladores esperavam a entrada de 76,6 bilhões de litros a mais do que realmente entrou nos dois últimos meses.

O "déficit" ocorre porque a empresa fez seu planejamento considerando como pior cenário as vazões de 1953, ano da última grande estiagem. O problema é que a entrada de água no sistema em 2014 tem sido 62% menor, o que coloca em xeque o planejamento da Sabesp.

Em nota, a companhia informou que "tem obrigação de planejar e considerar os mais diferentes cenários, a fim de avaliar a utilização dos seus reservatórios" e que uma redução ainda maior na retirada de água do Cantareira "compete aos órgãos reguladores ANA e DAEE".

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Transposição do Paraíba do Sul para Cantareira custará R$ 830 milhões

Anunciada em março deste ano por R$ 500 milhões, a obra mais urgente para ajudar na futura recuperação do manancial em crise está orçada agora em R$ 830 milhões

Alteração de traçado, reforço na mão de obra, desapropriações e até o pagamento de

uma taxa para atravessar uma rodovia privatizada encareceram em 66% o projeto de

transposição de água da Bacia do Rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira em

apenas oito meses. Anunciada em março deste ano pelo governador de São Paulo,

Geraldo Alckmin (PSDB), por R$ 500 milhões, a obra mais urgente para ajudar na

futura recuperação do manancial em crise está orçada agora em R$ 830 milhões.

O projeto prevê a construção de um canal de quase 20 quilômetros para fazer a

transferência de pelo menos 5,1 mil litros de água por segundo da Represa Jaguari, em

Igaratá, para a Represa Atibainha, em Nazaré Paulista, um dos cinco reservatórios que

formam o Cantareira - ontem, o sistema ficou estável em 6,7% da capacidade. O

manancial opera atualmente com nível 21% abaixo de zero, dentro da segunda cota do

volume morto.

A ideia inicial era que o canal acompanhasse o curso da Rodovia D. Pedro I, que liga as

cidades de Campinas e Jacareí e passa sobre os dois reservatórios. Responsável pela

obra, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) estudou 13

alternativas de traçados e decidiu que o mais viável terá 13,3 quilômetros de adutora

em vala e outros 6,2 quilômetros de túnel, atravessando a estrada privatizada.

“Olhando no mapa, acharam que seria fácil seguir a D. Pedro, mas, na hora de

desenhar o projeto, apareceram interferências dessa alternativa”, explica o professor

de Hidrologia da Universidade de São Paulo (USP) Rubem Porto, que participou dos

estudos de viabilidade da obra. “Agora, terão de fazer algumas obras que não estavam

previstas, desapropriar áreas valiosas, como posto de gasolina, e pagar pelo uso da

faixa de servidão da rodovia privatizada”, afirmou.

Curto prazo

O jornal O Estado de S. Paulo questionou a Sabesp sobre qual o impacto de cada

alteração no encarecimento da obra, mas não obteve resposta. Na justificativa do

traçado escolhido, a companhia afirma que ele tem a menor extensão de túnel e de

adutora e permite a conclusão das obras em um prazo mais curto.

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A estimativa é de que toda a obra, que prevê ainda duas estações elevatórias de água

para fazer a transposição de água nos dois sentidos, seja concluída em no máximo 14

meses após seu o início. Segundo o governo, até março de 2016.

Aposta

O projeto é a principal aposta do governo Alckmin para a recuperação do Cantareira a

médio prazo. Atualmente, as principais ações para tentar preservar o manancial que

ainda abastece 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo são a redução da pressão

da água na rede, o remanejamento de outros sistemas, o desconto na conta para

quem economizar e, a partir de janeiro, a multa para quem gastar água.

O problema que ameaça o socorro ao Cantareira é que a Bacia do Rio Paraíba do Sul

também atravessa a seca mais severa em 80 anos, com apenas 2,4% da capacidade. Só

o nível da Represa Jaguari, alvo da transposição, está em 4%. Diante da escassez, o

projeto de transposição ainda causa polêmica com municípios que dependem da água

do Paraíba, responsável pelo abastecimento de 15 milhões de pessoas, incluindo a

Região Metropolitana do Rio.

“Não somos contra ceder essa água para São Paulo, mas não da forma como isso tem

sido tratado, mais política do que técnica, desrespeitando os comitês de bacias.

Estamos caminhando para um colapso hídrico das duas regiões mais importantes do

País. Precisamos discutir com seriedade os diversos usos da água”, diz Vera Lucia

Teixeira, vice-presidente do Comitê de Integração da Bacia do Rio Paraíba do Sul

(Ceivap).

Após uma longa disputa pública, os governadores de São Paulo, Rio e Minas, que

dependem da água do Paraíba, anunciaram um acordo para a transposição durante

uma audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), no mês passado. Até fevereiro, eles

devem chegar a um projeto que seja consenso para socorrer o Cantareira sem

comprometer o abastecimento das demais regiões.

Discussão

Com órgãos federais, como a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Operador Nacional

do Sistema Elétrico (ONS), as autoridades estão discutindo um reordenamento do uso

das águas do Rio Paraíba do Sul, que também é usado para geração de energia.

Uma das ideias já incluídas na projeto da Sabesp e revelada pelo Estado é a criação de

uma reserva de 162 bilhões de litros do volume morto da Represa Paraibuna como

garantia de abastecimento de água do Rio em caso de estiagem extrema.