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Sheila Pérsia do Prado Cardoso Melatti A arquitetura escolar e a prática pedagógica Orientador: prof. dr. Luís Gonzaga Mattos Monteiro UDESC/SOCIESC 2004

Sheila Pérsia do Prado Cardoso Melatti - tede.udesc.br · projetos realizados para o programa de educação e saúde do governo de Porto Rico, além de trabalhos para áreas habitacionais

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Sheila Pérsia do Prado Cardoso Melatti

A arquitetura escolar

e a prática pedagógica

Orientador: prof. dr. Luís Gonzaga Mattos Monteiro

UDESC/SOCIESC

2004

II

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT

MESTRADO EM EDUCAÇÃO E CULTURA

A arquitetura escolar e a prática pedagógica

SHEILA PÉRSIA DO PRADO CARDOSO MELATTI

Dissertação apresentada ao curso de

Mestrado em Educação e Cultura da

Universidade do Estado de Santa

Catarina – UDESC, como requisito

parcial para obtenção do título de mestre.

Joinville 2004

III

AGRADECIMENTOS

A DEUS, pela força e pela luz que muitas vezes parecia ser tão fraca.

À SOCIESC, por esta parceria com a UDESC, que oportunizou o crescimento dos seus professores.

Ao meu orientador e amigo, professor Luís Gonzaga Mattos Monteiro, que confiou no meu projeto e acreditou nesse resultado desde o início do mestrado.

A minha família, que com carinho tolerou minha ausência em momentos tão importantes e, em silêncio, me apoiou.

E a todos que direta ou indiretamente me apoiaram nas pesquisas e abriram as portas para a coleta de dados, muitos deles sigilosos, sem os quais este trabalho

não ficaria completo.

IV

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Pérsio e Cida, que sempre me

acompanharam nessa caminhada, torcendo por mim nas horas de dificuldade e

vibrando a cada conquista, desde o primeiro diploma do primário, passando pelo

ensino médio, faculdade, especializações e agora com o mestrado. Ao meu

companheiro e esposo, Sílvio, que tanto me incentiva e que com sua paciência e

seu amor, junto de mim, revisa letra a letra e me ensina a cada instante ter cuidado

para escrever. E a minha princesa, Beatriz, que está prestes a chegar e que

enquanto escrevia, singelamente me cutucava, pois além do meu silêncio, a posição

não era nem um pouco cômoda para ela, e que foi um dos principais incentivos na

finalização deste trabalho.

V

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...........................................................................09

2. HISTÓRIA E TEORIA...............................................................19

2.1 O mundo antigo................................................................19

2.2 A maquinaria escolar........................................................28

2.3 O mundo moderno e contemporâneo..............................35

2.4 Escola x arquitetura.........................................................41

2.4.1 Elementos externos............................................42

2.4.2 Elementos internos............................ ................43

3. INDO A CAMPO........................................................................49

3.1 Instituição 1......................................................................49

3.2 Instituição 2......................................................................51

3.3 Instituição 3......................................................................52

3.4 Instituição 4......................................................................54

3.5 Instituição 5......................................................................55

3.6 Instituição 6......................................................................57

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................60

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................73

VI

6. ANEXOS.........................................................................................76

Anexo 1- Altura das janelas........................................................77

Anexo 2 - Janelas nas costas dos alunos...................................79

Anexo 3 - Portas de sala de aula................................................82

Anexo 4 - Degraus em sala de aula............................................91

Anexo 5 - Acústica, iluminação direta.........................................93

Anexo 6 - Área verde e escolas visitadas...................................98

Anexo 7 - Distribuição dos prédios de sala de aula e campus..113

Anexo 8 - Propostas discutidas e aceitas..................................116

VII

RESUMO

MELATTI, SHEILA PÉRSIA DO P. CARDOSO. A ARQUITETURA ESCOLAR E A PRÁTICA

PEDAGÓGICA. FLORIANÓPOLIS, 2004. 112 P. DISSERTAÇÃO (MESTRADO EM EDUCAÇÃO E

CULTURA) - UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

Este trabalho se propõe a discutir a influência da arquitetura na educação, tomando

por base a trajetória dessas duas áreas ao longo da história e estudos teóricos

desenvolvidos especialmente por Foucault, Neufert e Paulo Casé, além de

pesquisas de campo realizadas em instituições de ensino de três estados brasileiros.

procurou-se focar de modo particular a sala de aula como ambiente arquitetônico

que interfere no processo de aprendizagem do aluno. Por fim, é apresentada uma

proposta de intervenção tendo em vista a construção de uma escola ideal.

PALAVRAS-CHAVES: ARQUITETURA, EDUCAÇÃO, FOUCAULT, NEUFERT, SALA DE

AULA, PRÁTICA PEDAGÓGICA.

VIII

ABSTRACT

MELATTI, Sheila Pérsia do P. Cardoso. School architecture and pedagogic practice.

Florianópolis, 2004. 112 p. Dissertation (Masters degree in education and culture) –

Santa Catarina State University – UDESC

This work proposes to discuss the influence of architecture on education, from three

starting points: first, the trajectory of these two areas in history; second, the

theoretical studies carried out, especially by Foucault, Neufert and Paulo Casé; and,

third, field research carried out between 2002 and 2004 in teaching institutions in

three Brazilian states (São Paulo, Santa Catarina and Rio Grande do Sul). The

survey of data resulted in the formulation of proposals for construction of the ideal

school space, and that at the end of the work, some of them were put into practice by

one of the institutions researched. The focus was particularly on how the architectural

environment affects the learning process of the pupil, considering the requirements

such as acoustics, lighting, physical and visual comfort (colors) and furnishing.

Key words: Architecture, education, Foucault, Neufert, Classroom, Pedagogic

practice.

9

1. INTRODUÇÃO

Após décadas de discussão centrada unicamente nos métodos de ensino e

nas teorias da aprendizagem, um tema novo vem ganhando importância entre os

educadores quando se analisa o processo educacional como um todo: o bem-estar

do aluno e sua relação com o ambiente escolar. O papel do meio físico, da estrutura

onde se dá o ensino e onde o aluno passa grande parte do seu tempo, fez surgir o

que se chama de Arquitetura Escolar.

É este ramo da arquitetura que o presente estudo se propõe pesquisar,

verificando até que ponto ela pode interferir na prática pedagógica e desempenho do

aluno nas escolas e universidades. O foco será principalmente a sala de aula, que

hoje, na maioria das escolas, está sendo utilizada por alunos de diversas faixas

etárias devido ao alto custo de prédios específicos para determinada idade. Os

casos analisados irão abranger desde a 5ª série do ensino fundamental até a

universidade, que muitas vezes usam o mesmo tipo de sala de aula. Verificando nas

seguintes formas de análise: elementos internos e elementos externos, um trabalho

de pesquisas de campo e observação em conjunto com a revisão bibliográfica.

Para tanto, parte-se de alguns conceitos estabelecidos por profissionais e

estudiosos da área, como Richard Neutra, Paulo Mendes da Rocha, Paulo Casé,

Oscar Niemeyer, Frank Lloyd Wright, Antoine Predock, Ernest Neufert, além de

teóricos como Michel Foucault, Fustel de Coulanges, Pierre Bourdieu, Júlia Varella e

Mário Manacorda.

10

O arquiteto Paulo Mendes da Rocha1, refletindo sobre os dilemas da

profissão, dizia: "A arquitetura deve responder nitidamente às situações

fundamentais que amparam a vida humana" (ROCHA, 2001:15). Assim, ele coloca os

arquitetos diante de uma grande responsabilidade, inclusive porque acrescenta o

argumento de que habitamos uma parte do planeta recentemente inaugurada no

plano do conhecimento. Tomando essa idéia inicial como parâmetro para analisar o

mundo de hoje, pergunta-se: onde está o foco do amparo à vida humana? Quais são

as situações fundamentais em se que deve atuar? E, afinal, pode-se falar em

amparo, ou seria mais apropriado, diante da crise atual, tratarmos logo do

desamparo do homem? Antes disso, porém, surge uma questão que parece anterior

a todas as outras: onde deve nascer a maior preocupação com o ser humano senão

na escola? Todos concordam que é ali, naquele espaço público, que se forma a

base do cidadão. Porém, como toda disciplina recente, a Arquitetura Escolar ainda

está recheada de muitas suposições teóricas sem comprovação, embora não haja

dúvidas quanto à influência das estruturas espaciais sobre o comportamento

humano.

A qualidade de vida no ensino é uma preocupação crescente entre

administradores e educadores. Porém, é necessário estabelecer novos parâmetros,

estudar melhor a interferência da estrutura física no homem, pensar a espacialidade

para criar novos horizontes, usando a imaginação quanto à forma das coisas que

haveremos de construir. Por isso, é preciso mais e mais pesquisas.

Um exemplo de preocupação arquitetônica nas escolas é o trabalho de 1 Paulo Archias Mendes da Rocha nasceu em Vitória, no Espírito Santo, formou-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, em São Paulo, em 1954, e lecionou na USP. Tem como principais projetos o pavilhão do Brasil na Expo 70, em Osaka (Japão) e o Museu Brasileiro de Esculturas em São Paulo, obra que lhe valeu a indicação do prêmio Mies van der Rohe de Arquitetura Latino-americano de Barcelona (1999).

11

Richard Neutra2, cujos projetos priorizavam a luminosidade, a ventilação e a

visibilidade no sentido do bem-estar do aluno. Sobre esse autor, Lamprecht afirma:

Os edifícios escolares de Neutra apresentavam uma nova concepção de espaço educacional. Suas revolucionárias idéias estavam atreladas ao seu agudo senso de observação do comportamento humano em relação às características do ambiente natural e, digamos assim, arquitetônico, e fundamentadas em uma abordagem própria da arquitetura, chamado por Neutra de biorrealismo. Decorriam, ainda, de sua observação sobre o processo de ensino-aprendizagem e o comportamento dos alunos em sala de aula, apoiados no estudo de documentos científicos da época, como aqueles que apontavam a necessidade de crianças de um volume de oxigênio duas ou três vezes maior do que um adulto. Daí decorrem os sistemas engenhosos, empregados nas escolas, para a constante troca de ar nas salas de aula. Em muitos casos, sua intuição sobre as características mais adequadas para o ambiente escolar foi posteriormente comprovada por estudos científicos (LAMPRECHT, 2000:80). 3

A arquitetura tem uma contribuição fundamental nesse campo. Com seu

domínio sobre concepção de espaço e sobre a influência dos materiais, da natureza

e das cores nas pessoas, o arquiteto poderá interagir com os demais profissionais

envolvidos no processo de aprendizagem para criar um ambiente escolar agradável

e estimulante tanto a alunos quanto a professores. Ainda segundo Lamprecht:

Neutra acreditava que o contato com a natureza era importante para a formação das crianças, porém, o que lhe parece evidente é que a solução espacial encontrada por Neutra possibilitava a realização de procedimentos pedagógicos menos formais. O acesso ao exterior permitia o desenvolvimento de atividades pedagógicas mais dinâmicas, superando a ortodoxa e estática relação aluno/carteira–professor/quadro negro. A mesma dinâmica Neutra imprimiu no desenho do mobiliário, nunca fixo, permitindo que muitas atividades fossem desenvolvidas no pátio, extensão natural da sala de aula, e na possibilidade de eliminar o quadro negro, já que, segundo ele, as crianças teriam um melhor aprendizado próximo do chão, como os

2 Richard Neutra (1892 – 1970), austríaco naturalizado americano, foi um dos mentores da chamada arquitetura social. Sua visita ao Brasil, em 1945, inspirou a publicação, três anos mais tarde, do livro Arquitetura social em países de clima quente (São Paulo: G. Todtmann, 1948), em que reuniu projetos realizados para o programa de educação e saúde do governo de Porto Rico, além de trabalhos para áreas habitacionais na Califórnia.a conciliava racionalização e adequação climática. 3 Citado por AMORIM, Luiz & LOUREIRO, Cláudia, em comunicação apresentada no IV Seminário Docomomo Brasil, realizado em Viçosa (MG) de 30 de outubro a 3 de novembro de 2003.

12

Homo sapiens o fizeram. (LAMPRECHT, 2000:80).

Na contramão dessas idéias, vê-se ainda hoje alunos brasileiros estudando

em salas fechadas, mal ventiladas, algumas com janelas tão altas que mal permitem

enxergar o ambiente externo. Os conceitos daquela arquitetura tão inovadora e ao

mesmo tempo tão antiga — defendida por Neutra e outros — não prosperaram por

desconhecimento ou por serem inviáveis na prática?

Portanto, o objetivo deste estudo é analisar o grau de influência da arquitetura

na escola em geral e na aprendizagem do aluno em particular, focando

principalmente o espaço das salas de aula. Como dizia Certeau:

É assim que o espaço cotidiano, e por isso mesmo de cotidianidade, que é a escola, vai exigir, por todo lado, que se tirem do esquecimento e do desconhecimento as práticas que nele se dão, o uso que nele se faz. (CERTEAU, 1994, apud ALVES,1998:50)

Partindo de uma experiência profissional concreta e amparando-se na

escassa bibliografia existente, o trabalho será desenvolvido, em sua maior parte,

através de pesquisas de campo. Após consolidar as informações históricas e a base

conceitual, serão propostos projetos que se encaixem nas soluções apontadas por

este estudo, de modo a contribuir para que a arquitetura passe a ser vista como um

importante instrumento do processo educacional.

O fato de a arquitetura desenvolver-se rapidamente, impulsionada pela

criação de novos materiais de baixo custo e de tecnologias que proporcionam

construções melhores e mais seguras, fez com que se buscasse aplicar esse

conhecimento especificamente aos ambientes escolares, onde as inovações, de

modo geral, costumam chegar bastante tarde. A base de inspiração, mais uma vez,

é a Europa, onde predominam grandes áreas de lazer nas escolas e universidades,

com espaços de convívio, salas harmoniosas e uma preocupação constante com o

13

bem-estar dos alunos. Antes de tudo, é preciso deixar clara a dimensão histórica da

importância da arquitetura nas escolas, conforme Bourdieu:

Ao tratar da questão espaço escolar, temos que nos haver com dois estados da história (ou do social): a história, no seu estado objetivado, quer dizer, a história que se acumulou ao longo do tempo nas coisas, máquinas, edifícios, monumentos, livros, teorias, costumes, direito, etc. e a história no seu estado incorporado, que se tornou habitus4. (BOURDIEU, 1989:82)

A importância do ambiente escolar pode ser testada numa experiência

simples e corriqueira: quando se leva uma criança pela primeira vez à escola, ela

normalmente reage de forma imediata, demonstrando o impacto agradável ou não

que lhe causou o "espaço", a estrutura, as cores, enfim, o conjunto físico do colégio.

Cely Arena, orientadora pedagógica de uma instituição de ensino de São Paulo,

alerta para esse processo:

“Nessa escolha pesam fatores de ordem prática, como a distância, a amplitude e as condições do espaço físico, a segurança oferecida, pois o aluno deve dispor de conforto para que nada interfira na sua disposição de aprender. Além disso, espera-se que o ambiente seja estimulante, pois ele é um dos muitos meios que a escola deve recorrer para promover o desenvolvimento da atenção e explorar a curiosidade.” (ARENA, 2003:10)

Mesmo que a impressão inicial da criança seja considerada irrelevante, será

que depois de algum tempo ela não terá seu desenvolvimento educacional afetado

pelo fato de estar num lugar que lhe desagrada? Esse é o ponto sobre o qual muitos

administradores de escolas, educadores, pais de alunos e psicólogos vêm se

debruçando nos últimos tempos.

No artigo "O poder condicionador do espaço", publicado primeiro no Jornal do

4 Habitus é um dos conceitos-chave da teoria de campo em Bourdieu. Segundo ele, habitus é esta espécie de sentido do jogo (...) que faz com que se faça o que é preciso fazer no momento próprio, sem ter havido necessidade de tematizar o que se havia de fazer e, menos ainda, a regra que permite gerar a conduta adequada. (Bourdieu, 1989, p. 23)

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Brasil e depois no livro A cidade desvendada, o arquiteto Paulo Casé5 faz referência

a um caso extremo de inadequação construtiva que exigiu uma solução radical: a

destruição pura e simples da construção. Trata-se do complexo industrial Pruitt Igoe,

nos Estados Unidos, projetado segundo os princípios da escola modernista de Le

Corbusier.

Este quarteirão resultou em edifícios/caserna de onze andares cada, com intermináveis seqüências de janelas absolutamente idênticas, com corredores sem fim, com sua estrutura espacial desmesurada e repetitiva, transformando-se para seus habitantes numa espécie de prisão e no símbolo material da condição de seres explorados. (JENKS, apud, Casé, 1998:78)

O autor diz que a identificação entre a arquitetura e a pouca qualidade de vida

dos moradores provocou uma "reação conflituosa", gerando uma série de "atos de

violência e vandalismo". Diante disso, Paulo Casé argumenta:

Não é de se espantar que, há algum tempo, se tenha classificado, entre as doenças sociais que se desenvolvem rapidamente, aquela que se manifesta em conseqüência do mórbido excesso de controle social, acarretado por um certo tipo de construção que os arquitetos “funcionalistas” continuam, ainda, a considerar como o melhor.(CASÉ, 1998:78)

Nesse mesmo texto, Casé ilustra sua crítica à arquitetura modernista6 com

outro exemplo curioso, que diz respeito mais diretamente à linha deste trabalho.

Lembra que as crianças, nas suas brincadeiras, criam o seu microcosmo

proporcionalmente ao seu tamanho.

A criança, muitas vezes conduzida por impulsos genéticos, procura

5 Paulo Casé (Rio de Janeiro, 1931) é arquiteto premiado nacional e internacionalmente, além de professor universitário. Publicou durante dez anos uma coluna sobre arquitetura e urbanismo no Jornal do Brasil. Representou o país na Bienal Internacional de Paris em 1967. Tem como principais projetos o hotel Porto do Sino (Jurutuba, SP), o prédio da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, o edifício residencial Ipanema e a Igreja Union Church (Barra da Tijuca). 6 Refere-se a toda inovação nas artes e na arquitetura processada no século XX. Concreto, vidro e armações de ferro são moldados pelos construtores de forma funcional.

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recriar um cosmos próprio, adequado ao tamanho de seu corpo, se afastando, mesmo que por instantes, das condições de um espaço que lhe é imposto. Podemos observar, com freqüência, ela armar, com material disponível, pequenas cabanas, como um ambiente para o seu refúgio. (CASÉ, 1998:80)

Mas a realidade da criança, do adolescente ou até mesmo do adulto que volta

a estudar, não é essa. Fora do seu castelo de papel, tudo é desproporcional. Nem

mesmo a escola é projetada para recebê-los adequadamente. O autor descreve uma

cena que vê todos os dias: um grupo de alunos do primário se divertindo debaixo do

grande pé direito do ginásio de sua escola. Ele argumenta que é lícito indagar quais

as "reações psicológicas que aqueles meninos estarão suportando, expostos a

esses espaços desproporcionais". E pergunta: "Será que essas fortes tensões

espaciais permitirão que eles recriem seu microcosmo, tão necessário ao seu mundo

de referências simbólicas? Bastará, para o conforto dessas crianças, oferecer-lhes

bebedouros e lavatórios baixos?"

Paulo Casé não dá respostas, mas propõe questões para serem refletidas

pelos profissionais da área. Veja-se sua conclusão: “O arquiteto tem sob sua

responsabilidade poderosos instrumentos condicionadores e, ao gerar espaços

coletivos ou individuais, estará sempre interferindo, por gerações, na vida das

pessoas.”

Para além da teoria, Casé concretizou suas idéias. É seu o projeto da

Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Ali, muitos foram os desafios para a

construção da escola, como a proximidade do Viaduto do Chá, a irregularidade do

terreno e a existência de um bosque consolidado. E, acima de tudo, tendo de

adequar diversas atividades em um edifício. O autor partiu do pressuposto de que o

ambiente de uma escola, lugar onde as pessoas devem estar em permanente

16

contato, deveria assemelhar-se a uma cidade, com seus espaços imprevistos de

convívio. Hoje, o projeto é uma referência na área.

Outra tentativa nesse sentido foi o projeto Arquitetura Escolar, desenvolvido

no estado de São Paulo por vários arquitetos. Eles estudavam as principais

características de cada região e projetavam a escola "com a cara dos alunos".

Infelizmente, a maior parte do trabalho ficou no papel, e poucas escolas foram

realmente construídas com esse espírito.

Todos esses fatos despertam o interesse em buscar novos caminhos para

intervir dentro das escolas com uma visão de futuro, na tentativa de contribuir para

melhorar o processo educacional através da Arquitetura Escolar. Os principais

elementos da arquitetura levados em consideração aqui são aqueles que direta ou

indiretamente afetam o bem-estar do aluno, como por exemplo as salas de aula e as

áreas de convívio — buscando-se a melhor forma de utilizá-las a favor do ensino.

Para chegar a esses elementos, nada melhor do que partir da tradição. Por isso,

será feita uma viagem pelo tempo desde a pré-dinastia na Mesopotâmia até a sexta

dinastia no Egito. Nesse percurso histórico, será enfatizada a descrição dos templos

e palácios da antigüidade para verificar as influências na arquitetura. A viagem

passará ainda por Roma, onde a análise da arquitetura será incorporada à história

da educação, com base nas idéias de Manacorda.

Por fim, ao tratar da arquitetura moderna e contemporânea, serão abordadas

hipóteses de resgate de certas propostas para a Arquitetura Escolar.

17

Especificamente nas questões de ergonomia, com base na obra de Neufert7, faz-se

um comparativo com as escolas visitadas.

No final deste trabalho também será incluída uma proposta de intervenção na

estrutura logística, como mobiliário escolar e a área de recepção de alunos, visando

principalmente a segurança, sem deixar de lado a questão dos alunos especiais

(deficientes físicos). Ainda serão pesquisadas escolas específicas, que atendem

desde a 5ª série até a universidade num mesmo prédio (um dos grandes desafios

para administradores e professores), já pensando na escola do futuro, irradiadora da

educação a distância.

Depois dessa abordagem panorâmica sobre algumas soluções arquitetônicas

ao longo da história, será feito estudo entre elas para apontar as semelhanças nos

materiais, no desenho das grandes edificações e nos valores espirituais que as

inspiraram. Aí assume importância a obra de Foucault, sobretudo quando traça

comparativos entre as prisões, as escolas e o panóptico. Este tema é tratado no

segundo capítulo, que está dividido em quatro etapas:

– Na primeira, a da história da antiga Idade Média, será feita uma leitura das

obras mais famosas, como templos, santuários, pirâmides, palácios, pinturas,

sempre tendo como referência os detalhes arquitetônicos e estruturais;

– Na segunda parte tratar-se-á das escolas (comparando-as com as prisões

estudadas por Foucault), do panóptico e da história da educação segundo as

concepções de Manacorda e Júlia Varela, incluindo ainda exemplos de projetos de

7 Ernst Neufert foi professor da Escola Politécnica de Darmstadt, Alemanha, é arquiteto e autor de um dos livros mais usado até hoje por arquitetos, engenheiros e designers — A arte de projetar em arquitetura, que traz mais de 4.700 figuras e que, quase meio século após a primeira edição, continua sendo reeditado no mundo inteiro.

18

escolas paulistas de 1890–1920.

– Na terceira, será abordada a arquitetura moderna e contemporânea através

das obras de grandes mestres como Frank Lloyd Wright8 e Oscar Niemeyer, além de

outros menos conhecidos, como Paulo Mendes da Rocha, Paulo Casé e Antoine

Predock9;

– Na quarta etapa será realizada uma abordagem descritiva do contexto da

Arquitetura Escolar, tendo Neufert como parâmetro;

O terceiro capítulo apresenta as pesquisas realizadas em algumas escolas e

universidades, enquanto o quarto traz as propostas para melhorar a estrutura física

das salas de aula. Como conclusão, tenta-se chegar próximo de um projeto ideal,

unindo teoria e prática, com propostas a serem utilizadas num espaço escolar

concreto e oferecendo elementos para um estudo mais completo dos ambientes

escolares.

8 Frank Lloyd Wright, arquiteto norte-americano que projetou mais de mil edifícios nos seus 92 anos de vida e exerceu grande influência na arquitetura do século XX. Suas obras mais famosas são a Casa das Cascatas (Fallingwater) e o Museu Guggenheim de Nova York. 9 Antoine Predock, arquiteto norte-americano, notabilizou-se por edifícios escolares como o da Universidade do Arizona, da Universidade Politécnica da Califórnia e do Nelson Fine Arts Center.

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2. HISTÓRIA E TEORIA

2.1 O mundo antigo

De início, propõe-se aqui uma breve viagem histórica para que se possa

perceber os traços comuns existentes entre o mundo moderno e o antigo,

especialmente no que diz respeito à distribuição dos espaços, ao uso de cores, e à

concepção da arquitetura em geral. Antes de tudo, é preciso dizer que o homem só

adquiriu habilidade construtiva quando deixou de ser nômade.

Há um milhão e meio ou um milhão de anos, aproximadamente, começa a longa história do homem tal como hoje o conhecemos. Durante a maior parte desse tempo, vivendo em condições simples e primitivas, dominado pelas forças físicas do clima e da geografia, lutava o homem pela sobrevivência mais restrita, na sua busca de alimentos e de abrigo. (GARBINI, 1979:8)

Intensamente ligado aos deuses e a suas intuições, o homem vivia em

bandos e, ao se fixar, passou a construir estruturas de abrigo com mais segurança.

Mas seria bem mais tarde, no Oriente Médio, nasceria o que se chama hoje de

civilização. Como afirma Garbini, ali começaram as primeiras transformações

significativas político-religiosas e artísticas. Essa região vai do Egito até o platô

iraniano, a oeste e a leste, estendendo-se por toda a Península Arábica. Os povos

que ali viviam foram muito criativos na arquitetura. A existência de dois grandes

vales, formados pelos rios Tigre e Eufrates, fez com que se preocupassem mais com

a segurança, como veremos nos exemplos a seguir. É importante ressaltar que o

Egito sempre foi fiel a sua arte, arquitetura, sem interferências de outras regiões.

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Começando pelo território da antiga Mesopotâmia — palavra que significa

terra no meio das águas — sua principal característica, que beirava à monotonia, era

ser plana. Isso só era quebrado pelo Tigre, pelo Eufrates e pelos remanescentes

tells, ou morros artificiais, gradualmente levantados ao longo de algumas sucessivas

elevações habitacionais. Para melhor compreensão desse processo de evolução na

arquitetura é importante dizer que a história da civilização mesopotâmica foi dividida

em duas épocas: a sumeriana (aproximadamente 3500 a.C.), que compreende um

período de preparação (o pré-dinástico) e um período de florescimento clássico, o

chamado período da primeira dinastia, dividido em três partes. A época semita

começa por volta de 2350 a.C. com a dinastia acadiana, sendo que após um breve

renascimento sumeriano, ao tempo da terceira dinastia de Ur, a predominância

semítica foi restabelecida no período babilônico antigo. O domínio nativo na

Mesopotâmia terminou com a conquista de Babilônia pelos persas, em 539 a.C.

A importância da arte e arquitetura nessa época pode ser percebida na

citação a seguir:

Il grande sistema di fortificazione e le porte di Babilonia, la cittadella dei palazzi e dei giardini reali (palazzo di Nabucodonosor) e i templi centrali (tempio di Marduk, ziqqurat), furono tali che la grandezza della loro architettura meritò di figurare tra le “sette meraviglie del mondo”. (D´AFONSO E SAMSA, 2001:15)10

A Mesopotâmia foi dividida inicialmente em cidades. Como afirma Leick, esse

foi um dos momentos mais decisivos para a região.

A invenção das cidades pode muito bem ser o mais duradouro legado da Mesopotâmia. Não havia apenas uma cidade, mas dezenas delas, controlando cada um seu próprio território rural e

10 “O grande sistema de fortificação e a porta da Babilônia, a pequena cidade do palácio e do jardim real (palácio de Nabucodonosor) e o templo central (templo de Marduk), foram de tal grandeza arquitetônica que merecia figurar entre as sete maravilhas do mundo.”

21

pastoril e sua própria rede de irrigação. Mas, uma vez que essas comunidades estavam alinhadas ao longo dos principais cursos de água como uma coleção de pérolas num colar, elas tinham necessariamente que chegar a formas de cooperação e tolerância mútua. Os historiadores foram propensos a salientar o surgimento de estados centralizados que exerceram controle sobre territórios freqüentemente muito vastos, mas a unidade sociopolítica mais duradoura e bem-sucedida a surgir na Mesopotâmia continuou a ser cidade-estado. (LEICK, 2003:14)

A primeira cidade a ser criada foi Eridu. Leick dizia que ela era o Éden

mesopotâmio, o lugar da criação. Tinha uma arquitetura belíssima, com estátuas

esculpidas em granito negro, peças como vasos de barro e as construções na

maioria em adobe. Em uma das obras desenterradas, a “capela primitiva” feita em

adobe, surgiu o mais puro exemplar da arquitetura antiga. Nos templos, sempre

havia pátios centrais, e cada vez maiores. Leick afirma:

Esses últimos templos ubaidianos podem ter prenunciado a arquitetura dos templos mesopotâmios dos períodos históricos, uns 1.500 anos mais tarde. Sua planta, uma câmara central flanqueada por salas de ambos os lados com um pódio independente e isolado no centro, tornou-se uma característica corrente, tal como a fachada decorada com pilastras e listas. O costume de enterrar presentes votivos e implementos rituais também nunca foi abandonado. (LEICK, 2003:30)

Merece registro, aqui, essa informação das câmaras centrais flanqueadas por

salas e com um pódio ao centro, pois se trata de um tipo de construção que será

visto mais adiante.

Na pré-dinastia, a arquitetura sumeriana começa em Uruk, onde uma série de

obras testemunha o avançado grau de civilização da cidade. As construções eram

feitas de tijolos de barro, recebiam um formato oblongo, eram secos ao sol e

colocados numa argamassa de barro. Como eram bastante ligados à religião, não

poderia ser diferente que as duas maiores obras desse período fossem dois

22

complexos sacros, o recinto de E-anna11 ("a casa do céu") e o chamado Anu

Zigurate, encimado pelo Templo Branco.

O recinto de E-anna era um conjunto de templos, sendo um dos mais

importantes o Templo de Pedra Calcária, apresentando uma arquitetura diferenciada

pelo material utilizado. Tinha a forma ampla de um retângulo (11,30x62m), no centro

um grande aposento em forma de T, guarnecido lateralmente, e na parte posterior

câmaras menores. Típico da época, várias entradas compridas são feitas nas

laterais, e, apesar de terem usado a pedra rara para sua construção ao invés do

tijolo de barro, o edifício conserva contrafortes característicos dos templos de tijolo.

Essa é a descrição feita por Garbini. Já Leick o descrevia assim:

Um estreito e longo espaço central (9 por 58 metros), a céu aberto ou com telhado, era cercado nos quatro lados por salas subsidiárias, as quais eram acessíveis desde o lado de fora. As paredes consistiam em blocos de calcário e eram profundamente onduladas em nichos e botaréus, uma técnica mais adequada para arquitetura de tijolos. Uma escada dava acesso ao telhado. (LEICK, 2003:59).

Esses contrafortes são marcantes na arquitetura religiosa sumeriana, pois

eram usados para sustentar grandes estruturas de madeira e espessas massas de

barro não cozido, isso em grandes vãos e que depois foram copiados na arquitetura

do Egito. Outro ponto surpreendente: um impressionante grupo de colunas

cilíndricas e quatro meias-colunas sobre uma plataforma que unia o Templo da

Pedra Calcária e um segundo templo voltado mais para um ângulo de noventa

graus. Nessas colunas havia elementos decorativos com cores vibrantes como a

terracota e outras cores variadas se estendendo pelas paredes, prensados na

argamassa da superfície da muralha, formando desenhos geométricos, ziguezagues

e losangos. Esse tipo de desenho e de cores mais tarde influenciou os objetos 11 E-anna tinha 62 metros de comprimento por 11,30 metros de largura.

23

decorativos da chamada arte menor, tendo sobrevivido até épocas atrás.

Totalmente diferente da E-anna, o conjunto religioso de Uruk, o Anu Zigurate,

consiste de uma imensa plataforma de tijolo, ligeiramente irregular, a que se chega

por meio de degraus, chegando no chamado Templo Branco. Apesar de também ter

uma planta retangular, nada lembra o anterior. A sala central é apenas um retângulo

e as pequenas câmaras laterais são bem agrupadas e simétricas. Essa solução de

colocar os templos em plataformas deu-se pela necessidade de prevenir enchentes

e reparações, o que provocou essa graduação do nível do solo. Outra razão é que

eles diziam que os deuses eram habitantes das montanhas, e estariam em um plano

mais elevado do que os homens. Isso fez com que a teoria de um plano alto fosse

adotada pelo povo semítico, seminômade, que entrou em relação com a cultura

sumeriana, quando se instalou na Palestina.

Uruk possui as ruínas mais antigas em escala monumental da Mesopotâmia.

Suas fachadas são recobertas de mosaicos de cones de barro, em cores

contrastantes como o azul e o amarelo, e figuras geométricas. Leick afirma que são

os espaços mais bem planejados daquela época.

A impressão geral dos monumentos de Uruk é a de espaços públicos mais bem planejados, indefinidos em termos de finalidades mas projetados a fim de assegurar acessibilidade e fácil circulação interna. Além desses espaços abertos e edifícios permeáveis, havia outras construções muito diferentes e sem precedentes, por vezes de vastas dimensões. (LEICK, 2000:60)

Na primeira dinastia houve uma renascença econômica e política da

Mesopotâmia, com início por volta de 2700 a.C., fazendo com que passasse a existir

grande quantidade de edifícios públicos em algumas cidades da Suméria. Mas os

templos ainda são as edificações mais importantes.

24

Algumas reconstruções fizeram com que mudassem muitas características da

pré-dinastia. Exemplo disso é o Templo Khafajah, que deixou de ser isolado sobre

uma plataforma, como em Eridu e Uruk. Foram construídas duas muralhas ovais

irregulares para proteger a área sagrada do santuário, que devia ficar separada da

cidade. Assim como o templo, tem uma planta diferenciada: sua base quase

quadrada, com grande sala central, uma cela central, duas salas de culto, câmaras e

capelas laterais (Garbini, 1979:33). Tudo isso leva a supor que havia interesse em

isolar o centro religioso do templo, o sagrado entre os sagrados, de modo a tornar

algo intocável e sem acesso.

Outra grande obra desse milênio foi um palácio em Kish, formado por grupos

de estruturas contínuas (Garbini, 1979:33), que retrata uma arquitetura secular da

Mesopotâmia. Um grande pátio central com salas distribuídas nas laterais mostrava

seu diferencial, porém, trazendo também uma parede externa maciça, que formava

um retângulo. Ao lado deste havia um outro de utilização duvidosa, onde o detalhe

principal seria uma fileira de quatro pilares de tijolos. Acredita-se que essas

muralhas, as primeiras da época, seriam um incipiente sistema de defesa da

Suméria.

Em aproximadamente 1950 a 1850 a.C. ocorre o período de Isen-larsa e

Babilônico antigo, quando a Babilônia novamente unificou a Mesopotâmia. Pouca

coisa pode ser citada desse período na área da arquitetura. Conforme o estudo

desenvolvido por Garbini, nota-se uma influência egípcia que deve ter chegado

através da Assíria.

Algumas ruínas foram descobertas em Tell Harmal, perto de Bagdá, eram ruínas de uma cidade com ruas regulares e casas grandes talvez tipo semipalaciano. O que se destacava nessas edificações eram as paredes decorativas, onde foram encontradas em algumas

25

salas pinturas de que foram recuperada interessantes fragmentos, onde um desses painéis mostrava cenas de sacrifício, enquanto um segundo dividido em duas cenas, descrevia uma investidura real e figuras de deuses, um outro uma deusa ao meio de paisagens e animais. (GARBINI, 1979:41)

Já na terceira dinastia, por volta de 2650 a 2630 a.C., percebe-se um

crescimento diferenciado na arquitetura. O maior exemplo seria a pirâmide em

degraus de Zoser, em Saqqara. O complexo de Zoser foi construído sob a direção

do arquiteto Imhotep12 como um monumento fúnebre ao rei. Com suas dimensões

ambiciosas, a pedra pela primeira vez se destacara em grande escala. Uma torre de

seis andares, com cerca de 65 metros de altura, tinha finalidade diversa: a capela

estava em seu cume, a um nível celestial.

No Egito, desde o primeiro período dinástico, havia claramente a noção de

uma arquitetura primitiva. As pirâmides eram abrigos para os mortos, e os túmulos

comuns, conhecidos pelos árabes como mastaba, passaram a tomar forma de

pirâmides baixas e truncadas com uma ou mais câmaras em seu interior. O pesado

efeito do preto e branco foi rejeitado em favor da superfície quase livre de

sombreado, prenunciado a pureza geométrica das pirâmides de Giza na quarta

dinastia (GARBINI, 1979:130). Depois disso, ficou constatada a cópia da arquitetura

mesopotâmica por parte dos egípcios. E Zoser representou essa fase crítica da

arquitetura.

Sobre a quarta dinastia, Garbini diz: “As grandes obras de arte desse período

alcançariam uma perfeição da forma que lhes proporcionaria um firme ponto de

referência para o futuro.” (GARBINI, 1979:131). De fato, a construção das pirâmides é

um marco até hoje. As três pirâmides colossais de Gizé foram construídas pelos 12 Primeiro arquiteto nomeado no mundo, foi ele quem construiu a primeira pirâmide no Egito. Doutor, arquiteto, priest elevado, escrevente e vizir do rei Djoser.

26

faraós Queóps, Quéfren e Miquerinos. O vizir Hemon, primo de Queóps, foi

responsável pela construção da grande pirâmide Queóps. Ele utilizou milhões de

grandes blocos de pedra calcária não só como estrutura, mas no próprio

revestimento e na parte central. A pirâmide de Miquerinos é ladeada pelas pequenas

pirâmides de três das suas rainhas. Essa beleza de estrutura exigiu um longo

período de experimentação, e desde seu término simboliza a arquitetura egípcia

trazendo novamente a forma geométrica. Ao lado da calçada que ligava o templo da

pirâmide de Quéfren ao templo do vale há a esfinge de Quéfren, com altura de

20,11m e 4,10m de largura do rosto. Afirma Garbini:

A esfinge guardiã das pirâmides foi esculpida numa saliência de rocha deixada na pedreira de onde foram tirados os blocos de pedra para a construção de Quéfren. Tem o corpo de um leão e o rosto de um ser humano com paramentos reais. A esfinge ainda conserva o fascínio que exercia sobre os gregos, que tomaram como símbolo de todos os mistérios. (GARBINI, 1979:27)

Após esse período de afirmação da cultura egípcia, ocorre uma crise no final

da quarta dinastia que se prolonga na quinta e sexta dinastias. Na quinta dinastia é

erguido o obelisco do faraó Neuserre, em Abu Ghurob, que é uma variação da

pirâmide, e sua existência seria impossível sem o precedente dos monumentos de

Giza. No fim da sexta dinastia houve novamente uma guerra civil do Egito, e mesmo

assim o período viu surgir obras de mais sensibilidade, harmonia nas estruturas, na

qual o amor à vivacidade e ao colorido associa-se a uma ingênua narração de

lendas. Escolas artísticas no norte e no sul foram montadas.

Depois disso, houve pouco diferencial na arquitetura antiga. Apenas alguns

monumentos são citados sem muita ênfase por parte dos estudiosos. Mas o que foi

produzido até esse período deixou uma marca fundamental na história da

arquitetura. Muitas dessas obras continuaram sendo projetadas e algumas foram

27

incorporadas pela arquitetura moderna e contemporânea.

28

2.2 A maquinaria escolar

Do Egito é que nos chegaram os testemunhos mais antigos e talvez mais

ricos sobre todos os aspectos da civilização e, em particular, sobre a educação

(MANACORDA, 2000:9). Mesmo distante no tempo, aquele tipo de educação mantém

alguns pontos em comum com a atualidade, muitos deles de suma importância para

a evolução do espaço escolar.

Em todo o mundo antigo a educação era feita em casa: em algumas famílias,

pelos pais; e em outras, pelos escribas. Nos destroços de cidades babilônias foram

encontradas várias plaquetas nos pátios e jardins, como cita Leick, quando fala de

Nipur:

Uma das manifestações de prosperidade era a maior importância dada à instrução. Muitas casas tinham instalações para o treinamento de escribas, como pátios para ensinar, com bancos e recipientes para barro e água. Numerosas plaquetas foram encontradas nesses pátios — plaquetas de exercícios, listas lexicais e excertos literários. Parece que a maioria dos residentes educava aí seus filhos, visto que as plaquetas escolares foram encontradas em quase todas as casas. Essas escolas, conhecidas como é-dub-ba (“casas das plaquetas”), floresceram até o reinado de Samsu-lina, o sucessor de Hamurábi, quando uma crise econômica, provavelmente causada por problemas ecológicos, perturbou seriamente a vida da cidade. Os escribas, como elementos economicamente improdutivos, eram os primeiros a deixar a cidade. (LEICK, 2003:183)

Aqui é possível perceber a importância que já na época davam para o espaço

escolar: escolhiam pátios centrais para serem melhor vigiados, mas ali colocavam

jardins e bancos para tornar o ambiente mais leve. Na Grécia, a educação era

menos rígida, mas nos templos sempre existiam os famosos pátios e jardins para

leitura e estudo. Já em Roma os conventos começam a desempenhar um papel

importante no ensino. A educação moral, cívica e religiosa passa a ser fortemente

presente, embora se deva ressaltar que tudo isso vinha de uma cultura grega.

29

Manacorda confirma que a educação em Roma também era feita basicamente na

família. Diz que os historiadores da pedagogia afirmam que na Roma antiga o

primeiro educador é o pater familias (MANACORDA, 2000:73).

Já na alta Idade Média, quando surge a escola cenobial, ocorreram mudanças

importantes na área pedagógica: o aprimoramento de conteúdos como canto,

música, cálculo e gramática. Manacorda descreve a experiência de um monge que

relembra a primeira impressão de quando chegou na escola de Walfried Strabo,

abade de Reichenau, no segundo decênio do século IX: “Eu era totalmente

ignorante e fiquei muito maravilhado quando vi os grandes edifícios do convento,

nos quais deveria morar daquele momento em diante...” (MANACORDA, 2000:134).

Foucault também se refere a isso:

[...] a arquitetura não é mais simplesmente para ser vista (fausto dos palácios), ou para vigiar o espaço exterior (geometria das fortalezas), mas para permitir um controle interior, articulado e detalhado — para tornar mais visíveis os que nela se encontram; mais geralmente, a de uma arquitetura que seria um operador para a transformação dos indivíduos: agir sobre aquele que se abriga, dar domínio sobre seu comportamento, reconduzir até eles os efeitos do poder, oferecê-los a um conhecimento, modificá-los. As pedras podem tornar dócil e conhecível. O velho esquema simples do encarceramento e do fechamento — do muro espesso, da porta sólida que impedem de entrar ou de sair — começa a ser substituído pelo cálculo das aberturas, dos cheios e dos vazios, das passagens e das transparências... (FOUCAULT, 1997:144)

Na baixa Idade Média a escola passa a ter seu espaço dentro dos mosteiros,

entrando então a visão mais rígida de segurança, vigia e regras. Manacorda cita

algumas dessas regras:

Os meninos tenham na escola os livros, as navalhas, os pratos e as bacias para lavar suas cabeças... Na escola, quando é tempo de falar, podem falar: fora da escola façam absoluto silêncio... De quarta a sábado podem barbear-se na própria escola... (MANACORDA, 2000:140)

30

Eis as primeiras regras surgindo, e, com elas, o aparecimento da repressão

aos alunos. Manacorda chega a dizer que nos anos trezentos e quatrocentos as

escolas deveriam ser chamadas de “pesadeiro” (sic) ou “lugares de trabalho ou

tortura”. Sendo assim, não é descabido comparar os espaços escolares com as

prisões analisadas por Foucault, pois se trata de discutir o uso público do espaço,

das regras, dos castigos e das formas arquitetônicas. Em Vigiar e punir, Foucault faz

comparações entre escolas, hospitais e prisões.

O próprio edifício da escola devia ser um aparelho de vigiar; os quartos eram repartidos ao longo de um corredor como uma série de pequenas celas; a intervalos regulares, encontrava-se um alojamento oficial, de maneira que “cada dezena de alunos tivesse um oficial à direita e à esquerda [os alunos aí ficavam trancados durante toda a noite; e Pâris insistira para que fosse envidraçada] a parede de cada quarto do lado do corredor desde a altura de apoio até um ou dois pés do teto. Além disso a vista dessas vidraças só pode ser agradável, ousamos dizer que é útil sob vários pontos de vista, sem falar das razões de disciplinas que podem determinar essa disposição”. (FOUCAULT, 1997:145)

Mas se o espaço efetivamente interfere na educação, caberia perguntar: até

que ponto influencia na prática pedagógica? Foucault lança algumas idéias ao falar

da tortura nas prisões e nos semi-internatos do século XVIII e XIX, aplicada quando

os alunos erravam ou faziam alguma coisa que estivesse fora das regras da escola,

ou até das regras do aprender e do saber. Falando do que viria a ser o saber, ou até

que ponto esse saber deve ser tido como qualificado ou não, Varela e Úria formulam

o conceito de “maquinaria escolar”.

A escola não é somente um lugar de isolamento em que se vai experimentar, sobre uma grande parte da população infantil, métodos e técnicas avalizados pelo professor, enquanto “especialista competente”, ou melhor, declarado como tal por autoridades legitimadoras de seus saberes e poderes; mas também uma instituição social emerge enfrentando outras formas de socialização e de transmissão de saberes, as quais se verão relegadas e desqualificadas por sua instauração. (VARELA E ÚRIA, 1992:83)

31

A interferência do poder nas instituições educacionais aparece de modo mais

nítido, segundo os autores, quando surgem as escolas jesuítas. Estas operam

grandes mudanças no processo de educação, principalmente ao separar os colégios

de formação para médicos, engenheiros, arquitetos e artes e os dos nobres, que se

dedicavam desde de cedo ao mundo das armas — há registros de capitães com 12

anos de idade nos séculos XV e XVI. Varela e Úria comentam a transformação da

sociedade soberana para a disciplinar, quando novas instituições foram montadas.

Eles vão mais adiante:

A fabricação da alma infantil, para qual contribuem de forma especial os colégios, terá como contrapartida o submetimento dos corpos e a educação das vontades em que tanto insistem os educadores religiosos. Com razão afirma Michael Foucault que a cantilena humanista consiste em fazer-nos crer que somos mais livres quando submetidos estamos: submentimento de paixões à razão, submetimento do corpo ao espírito, submetimento da liberdade à obediência, submetimento da consciência ao confessor e diretor espiritual, dos filhos aos pais, da mulher ao marido, e dos súditos ao monarca. (VARELA E ÚRIA, 1992:85)

E por falar em escola jesuíta, a autora desta dissertação viveu a experiência

de estudar num colégio marista e recorda nitidamente a distribuição do espaço

escolar: um pátio central com um pódio13 para as manhãs cívicas, as salas ao redor

para serem vigiadas, e em uma das pontas havia a sala da diretoria ou chefia, com

vidros para que pudessem ter total controle dos alunos. Mais tarde, foram colocadas

persianas para não ficar tão nítido à vigilância, mas de forma que a chefia pudesse

ver. Recorda também dos castigos: quando alguém desobedecia às regras, ficaria

sozinho em uma sala fechada, sem contato algum, até a aula acabar, como nas

prisões citadas por Foucault, que tinham as celas solitárias. Recorda ainda dos

famosos vigias para verificar se as aulas estavam sendo dadas ou se os alunos não

13 Plataforma onde se posta o maestro

32

estavam escondidos em algum local. Nas salas, todas as carteiras em filas e

marcadas. Cada um sabia qual era a sua e, assim, se ocorresse algo com as

carteiras, saberiam quem eram os culpados.

Com o passar dos anos, novos tipos de prédios foram construídos e

transformações ocorreram. A vigia se tornou mais difícil e admitia-se que talvez a

escola não devesse funcionar como maquinaria escolar. Foucault faz uma

interessante abordagem ao mostrar o novo olhar do arquiteto durante as mudanças

havidas no século XVIII por pressão não só do poder, mas da sociedade como um

todo, que seria o panóptico:

O Panóptico de Bentham é a figura arquitetural dessa composição. O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada sela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente visível. O dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções — trancar, privar de luz e esconder — só se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha. (FOUCAULT, 2000:165)

Este conceito — ordem sem repressão — pode ser constatado nas

construções escolares atuais, como será visto mais adiante. Mas o ser vigiado é um

dos questionamentos freqüentes dos alunos. Ainda Foucault:

Daí o efeito mais importante do Panóptico: induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua sua ação; [...]

33

que esse aparelho arquitetural seja uma máquina de criar e sustentar uma relação de poder independente daquele que o exerce; enfim, que os detentos se encontrem presos numa situação de poder que eles mesmos são portadores. Para isso, é ao mesmo tempo excessivo e muito pouco que o prisioneiro seja observado sem cessar por um vigia: muito pouco, pois o essencial é que ele se saiba vigiado; excessivo, porque ele tem a necessidade de sê-lo efetivamente. (FOUCAULT, 2000:166)

Com isso, segundo Foucault, “uma sujeição real nasce mecanicamente de

uma relação fictícia”, pois já não é mais necessário recorrer à força para “obrigar o

condenado ao bom comportamento, o louco à calma, o operário ao trabalho, o

escolar à aplicação”. O pensador francês parece ironizar o criador do panóptico.

Bentham se maravilha de que as instituições panópticas pudessem ser tão leves: fim das grades, fim das correntes, fim das fechaduras pesadas: basta que as separações sejam nítidas e as aberturas bem distribuídas. O peso das velhas “casas de segurança”, com sua arquitetura de fortaleza, é substituído pela geometria simples e econômica de uma “casa de certeza”. (FOUCAULT, 2000:167)

Há muita semelhança nas indagações dos alunos, educadores e

administradores das instituições que adotam sistemas baseados no panóptico.

Depois das reflexões de Foucault, todos se perguntam se realmente estão

construindo bons modelos de escola e de educação. Afinal, como conclui o próprio

Foucault,

O panóptico, ao contrário, tem um papel de amplificação; se organiza o poder, não é pelo próprio poder, nem pela salvação imediata de uma sociedade avançada: o que importa é tornar mais fortes as forças sociais — aumentar a produção, desenvolver a economia, espalhar a instrução, elevar o nível da moral pública; fazer crescer e multiplicar. (FOUCAULT, 2000:171)

Conscientemente ou não, muitas instituições escolares aderiram ao

panoptismo arquitetônico, seja no projeto de um campus, seja na construção de

pequenos prédios de salas de aula, como será visto adiante.

34

Características semelhantes são observadas no estudo de um caso mais

próximo de nossa realidade. Em Arquitetura escolar paulista – 1890 a 1920, os

autores analisam o projeto arquitetônico de 125 instituições de ensino (ANEXO 3,

FOTOS 7, 8 e 9). No início da urbanização, as escolas estaduais paulistas eram na

sua maioria prédios de dois andares, aproveitando o máximo de espaço possível,

com somente uma sala para administração (posicionada estrategicamente), e ali

ficavam os professores. Outra curiosidade era a separação por sexo: de um lado,

meninos; de outro, meninas. Somente depois de 1900 é que surgem espaços para

as bibliotecas. Uma dessas escolas, construída em 1905, em Caçapava, tinha as

seguintes características:

O partido arquitetônico é caracterizado pela existência de um pátio interno, em torno do qual desenvolve-se a circulação coberta que interliga as salas. As plantas são simétricas, sendo assim reservada uma das alas à seção masculina e outra feminina. Bem no eixo da simetria está localizado o acesso central ao prédio, que dá para um vestíbulo ou portaria, antes de se atingir a galeria de circulação. (CORRÊA et alii, 1991:46)

Assim, as escolas normais eram desenhadas em formato retangular com

pátios centrais, fechados, com salas por todos os lados, ou em formato de U, mas

sempre com a administração ou diretoria em locais estratégicos, para vigiar. Até

1920, com muita freqüência, todas tinham portões altos, salas de aula com carteiras

em filas, com pisos de madeira, cores pálidas, mas as fachadas eram bastante

elaboradas e tinham o maior valor, pois eram por elas que as pessoas começavam a

escolher suas escolas. Algumas foram restauradas várias vezes, pois possuíam

arabescos antigos de grande valor. Nota-se pouca mudança nas escolas de 1900 a

1920, pois a arquitetura estava em processo de transição devido, principalmente, ao

período pós-guerra.

35

2.3 O mundo moderno e contemporâneo

Analisando a arquitetura moderna e contemporânea, observa-se uma

surpreendente quantidade de detalhes similares à técnica construtiva egípcia. Tanto

na parte estrutural14 quanto na decorativa, os elementos básicos ainda permanecem

sendo aplicados, a despeito de todo o avanço tecnológico experimentado pelo

homem moderno. Pode-se citar vários exemplos dessa similaridade, começando

pelas obras do pai da arquitetura moderna Frank Lloyd Wright. Ele projetou uma das

casas mais importantes do século, a Fallingwater (1934–1937), com terraços em

cascata e interiores de rocha bruta, tudo para fazer com que o homem ficasse mais

perto de uma compreensão espiritual do mundo. Nada modesto, Wright assim se

referia sobre sua obra-prima:

Fallingwater é uma grande bênção, uma das maiores bênçãos a serem vivenciadas aqui na Terra, penso que nada até agora igualou a coordenação e expressão compassiva do grande princípio de repouso em que a floresta, riacho a rocha e todos os elementos de estrutura combinam, tão tranqüilamente que realmente não se pode ouvir qualquer ruído, embora a música do riacho esteja aqui, mas ouvimos a cascata do modo como ouvimos o silêncio do campo. (WRIGHT, 2000:19)

A casa da cascata nos mostra que a relação homem x espírito volta a ser

importante para o bem-estar. Um encontro com a natureza a cada dia. Ele dizia que

era a forma mais perfeita de casar a arquitetura e natureza. Uma ousadia e risco na

construção civil, somente apoiada nas rochas, numa queda d`água, onde se pode

contemplar uma natureza exuberante (WRIGHT, 2000:20). Hoje já corre risco de

desabar.

Outra obra sua, também marcante e que mostra a semelhança com a antiga

14 Conjunto de elementos que forma o esqueleto de uma obra e sustenta paredes, telhados ou forros.

36

Idade Média é a sinagoga Beth Shalom, na Pensilvânia (1954–1959). De forma

geométrica e revestida de um material translúcido, é inundada de energia

ocasionada pela luz natural. A leveza da forma geométrica volta na nova era. É a

transparência, é novamente a questão da energia. Acredita-se que a transparência

faz com que o céu fique mais perto, pensamento que os egípcios já adotavam, mas,

como não tinham o material translúcido, criavam elementos altos para ficarem mais

perto do céu.

Tal característica lembra as obras do arquiteto Antoine Predock, que mora no

Novo México (EUA). Seu traço é bem despojado, sem janelas, e remete à

arquitetura do barro, que já existia naquela região e que Frank Lloyd Wright também

usara em alguns trabalhos. O ocre esbatido nas fachadas parece ser típico de

influência antiga. É possível citar o hotel Santa Fé, a Euro Disney e Marne-la-Vallée,

um prédio em forma de pirâmide, com poucas janelas, escadas laterais, e cores nos

tons de terra, numa clara referência às pirâmides e aos templos da Mesopotâmia,

cujas entradas eram nas laterais, assim como nesse hotel. Mais uma vez, o passado

servindo de referência ao presente, nas cores e características construtivas.

Outro exemplo de Antoine Predock seria a casa Zuber (1986–89), em

Phoenix, Arizona. Feita no sopé de uma montanha, sua fachada, nua e com uma

planta em forma de L, parece ter sido esculpida no local. Um exterior sinistro, quase

como uma fortaleza nas suas linhas fortes, dá acesso a um interior luminoso que se

torna mais acolhedor pela presença de água corrente. Faz lembrar da Esfinge,

esculpida em restos de pedras da construção de Quéfen.

Mas o grande exemplo desse arquiteto é a “interferência egípcia” do Nelson

Fine Arts Center (1986–1989), universidade do estado de Arizona. Dividido em

37

seções, o conjunto faz lembrar o contorno de uma cidade do deserto. Apesar de a

sua planta ser bastante racional, o exterior dá a impressão de um crescimento

urbano por acaso. Sua planta mostra o retângulo como forma principal, e, vendo em

perspectiva, pode-se observar telhados diferentes, pirâmides, triângulos, assim

como algumas colunas simples e retas, tendo somente o uso das cores terracota e

cinza esbranquiçado. Esse tipo de edificação lembra os complexos templos egípcios,

em que o altar ficava no centro e ligava-se a todas as câmaras; na parte externa,

colunas, rampas para ligação dos templos vizinhos. Predock tinha uma sensibilidade

arquitetônica digna de ser admirada, e era resumido por Jodidio da seguinte forma:

Come in gran parte dei suoi edifici, anche qui Antoine Predock sfrutta a fondo il gioco di luci e ombre perforando le pareti com numerose piccole aperture. Questa veduta fa pensare a um paesaggio urbano. (JODIDIO, 1994:146)

Pode-se citar ainda a obra de Ieoh Ming Pei, o Grande Louvre (1983–1993),

Paris, uma pirâmide de aço e vidro encravada no pátio do centenário museu francês,

junto a um espelho d´água. Ali, além da forma, onde o ponto forte é a aproximação

do céu e da água, assim como o recinto de E-anna, na Mesopotâmia, citado acima.

E voltando ao Brasil, tem-se hoje mais do que certas "coincidências" tanto na

arquitetura como nas esculturas. Começando por Brasília, que nasceu de um

simples traço, como disse Lúcio Costa15:

Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz. Procurou-se depois a adaptação à topografia local, ao escoamento natural das águas, à melhor orientação, arqueando-se um dos eixos a fim de contê-lo no triângulo equilátero que define a área urbanizada... (COSTA, 1991:20)

15 Arquiteto e urbanista, um dos criadores de Brasília.

38

Com sua concepção de poder centralizado, áreas amplas, santuários,

memoriais em homenagem a ex-presidentes (como templos de determinados

"deuses"), a cidade moderna conserva certas formas antigas. O próprio formato da

sua construção, com divisão de quadras e ruas regulares, liga-se ao passado. E hoje

há algumas obras com toques da antiga Idade Média, entre elas a igreja Dom Bosco

(1984), de planta retangular, com estrutura alta, vitrais pontudos lembrando os

obeliscos antigos, local amplo, grandioso e fechado por grades como fortalezas

intocáveis. E ainda a escola dos irmãos Maristas, que também possui todas as salas

de aula de frente para um pátio central, onde jardins e árvores convidam à

meditação.

Também em Brasília está o templo messiânico da 315 Norte. Em forma de

pirâmide, traz a sedução, a sensibilidade, a energia de um Deus adorado. Todo

revestido em mármore branco, é um convite à aceitação da divindade. Hoje, grande

parte dos monumentos em Brasília traz características estruturais como essas e não

mais de colunas usadas nos edifícios do início da sua construção. A cidade cresceu

para os lados, fazendo com que mais casas fossem construídas com traços livres,

de concreto armado16. Como já dizia Wright: “O concreto é um material plástico —

suscetível à imaginação, que (se moldado em partes) é permanente, nobre, belo...

barato”. (WRIGHT, 2000:18)

Os condomínios residenciais fechados tomam conta da paisagem, e isso não

ocorre somente em Brasília. Assim é em grande parte do país: muros, cercas, de

pedra, tijolo, ou plantas protegem o patrimônio dos cidadãos, embora nesses

condomínios esteja preservado um ponto que até hoje não mudou, que são as áreas

16 Mistura de cimento com areia, pedra e água, na massa se dispõe armadura de metal para aumentar a resistência e poder ser usado em grandes vãos sem apoio.

39

de lazer, de convívio social. Novamente, uma tendência semelhante das muralhas

construídas para protegerem os templos.

Há ainda uma forte tendência artística nas paredes de escolas, igrejas e

teatros da capital, como as obras de Athos Bulcão, que traziam para a cidade a

tradição antiga do mosaico em materiais atuais como o azulejo. Tais obras estão

expostas na igreja Nossa Senhora de Fátima, na Disbrave, na Escola Classe

407/408 Norte, no Teatro Nacional, na Escola Francesa e no Mercado das Flores.

Soluções semelhantes foram usadas em outros espaços públicos no Brasil, como no

Memorial da América Latina, em São Paulo, e no sambódromo do Rio de Janeiro, e

também podem ser observadas em residências e mobiliários. Apenas uma mudança

na tecnologia do material: ao invés de barro colorido e cerâmica seca ao sol,

passou-se a utilizar azulejo.

Um grande arquiteto contemporâneo cuja obra tem fortes ligações com o

passado é Paulo Mendes da Rocha. Sua “concepção passadista” não o impede de

ser considerado moderno.

Paulo Mendes da Rocha acredita que a arquitetura não pode ser encarada como um objeto pronto, estático na paisagem, e nem na cidade como um conjunto de monumentos auto-referentes. Essa concepção passadista resulta no elogio da representação em lugar da realização. No seu entender, a arquitetura é modificadora do espaço e da paisagem. Atende social e esteticamente as necessidades humanas. Paulo Mendes vê a história relacionada ao futuro. (ARTIGAS E SUGAI apud ROCHA, 2000:11)

Paulo Mendes da Rocha é o autor do projeto do Museu de Arte

Contemporânea da Universidade de São Paulo, obra que partiria da idéia de que

sua unidade seria um módulo articulado a outros museus da USP. Optou-se pela

centralização das implantações comuns de todos os outros. Assim estava prevista

para essa edificação o espaço da aula magna e o centro de documentação, e todas

40

as funções englobadas pelos chamados laboratórios e serviços gerais. Em forma de

pirâmide invertida, transmite a leveza da arquitetura apoiada em poucas colunas,

deixando o prédio suspenso, abrindo uma ampla área de lazer e meditação na parte

inferior. Novamente é notável a presença das formas geométricas, da ousadia, das

colunas retas.

Outro projeto exemplar de Mendes da Rocha é a casa Nabor Ruegg, em

Guarujá (SP), construída em 1973, onde a pedra apenas assentada predominou em

sua construção. Ela remete a construções milenares como as pirâmides, que foram

erguidas com pedras calcárias apenas assentadas. Hoje até teria o cimento para

facilitar, mas o arquiteto quis ousar. Da mesma forma, a residência de

Milos/Summer, em Ubatuba (SP), é marcante. Ali, as principais características

contemporâneas seriam sua volumetria e a geometria depuradas, que enfatizam o

contraste entre o objeto construído e a natureza, como descreve Paulo Casé.

A alternância de vedações maciças e aberturas amplas, cruamente recortadas, acentua a tensão entre a transparência e opacidade ou, em outras palavras, entre a busca de uma integração exterior-interior e a organização de um universo de referências espaciais desnaturalizadas. No piso interno e externo da residência, mosaico tipo calçamento de arenito com detalhes em basalto, já lembrando a antiga Idade Média. Como dizia Sartre: “Uma cidade, para nós, é sobretudo o passado; para eles, é principalmente o futuro. Aquilo que eles amam na cidade é tudo que ela ainda não é, e tudo o que ela pode ser.” (CASÉ, 2000:118)

Outras teorias sobre espaços adequados elegem a sensibilidade nos

pensamentos com relação à construção, onde a simplicidade é muito importante,

assim como a leveza dos espaços e sua utilização correta. Entre elas, a

recomendada por Lao-Tsé:

Sete raios convergem ao centro de um cubo indefinido de uma roda. Mas é o centro que permitirá o uso do carro. Modelai o barro para materializar o vaso. Mas é o vazio deste que permitirá a colocação

41

das flores. Recortai nas paredes, portas e janelas, para que o quarto possa ser ultrapassado. Portanto, o cheio produz o útil, mas é o vazio que o torna eficaz. (LAO-TSÉ, apud CASÉ, 2000:109)

Os espaços amplos, abertos, sem obstáculos já se mostravam importantes

desde a antiga Idade Média. No centro dos templos, grandes espaços com colunas,

espaço para reflexão, para o contato mais direto com a natureza e para os escribas

educarem. Depois viriam as câmaras, pequenas, modestas, simplórias, nada de

muita riqueza nem de muita comodidade, coisa que no início da modernidade não

aconteceu: as edificações tinham grandes salas, quartos com banheiro e muito luxo,

as varandas eram necessárias para o contato com o mundo do lado de fora, salas

separadas conforme sua especialidade, como sala de almoço, jantar, visita. Afinal, já

afirmava Jorge Luis Borges: "O espaço é ao mesmo tempo preciso e absolutamente

indefinido". (BORGES, apud CASÉ, 2000, p.109)

Dentro desse fator urbanístico é clara a estabilidade na construção das

cidades. Apesar da evolução na parte de rede de esgoto, luz e água, por exemplo, a

distribuição arquitetônica não apresenta muitas mudanças, como foi demonstrado

nos exemplos acima.

2.4 Escola x arquitetura

Nesta parte, de início, será abordado o universo das penitenciárias, onde se

pode notar uma sutil semelhança com os espaços físicos escolares de hoje. Em

Vigiar e punir, Michel Foucault descreve toda a vida nas penitenciárias. Ele analisa

primeiro a prática das torturas e depois o prédio das carceragens.

O acampamento é o diagrama de um poder que age pelo efeito de

42

uma visibilidade geral. Durante muito tempo encontraremos no urbanismo, na construção das cidades operárias, dos hospitais, dos asilos, das prisões, das casas de educação, esse modelo de acampamento ou pelo menos o princípio que o sustenta: o encaixamento espacial das vigilâncias hierarquizadas. Princípio do “encastramento”. (FOUCAULT, 2000: 144)

Isso mostra a responsabilidade do arquiteto ao projetar seja qual for a

construção, e o quanto se pode mexer com o aspecto psicológico das pessoas,

mesmo que indiretamente.

2.4.1 Elementos externos

Lembrando da arquitetura dos palácios, bela para os olhos e difícil para a

execução, e agora observando os projetos de penitenciárias com os mesmos muros

de pedra, altos e sem acesso, chega-se ao projeto de algumas escolas.

De início, já era cercada por muros, para que os alunos não fugissem. Depois,

pensada como uma edificação onde o aluno ficasse sempre em observação. Na

maioria das vezes, era projetado um pátio central para ter o controle de todas as

salas. Ao redor, o “muro espesso” e a “porta sólida” que “impedem de entrar ou de

sair”, conforme observa Foucault. Tudo isso ainda era visto na construção das

escolas até os anos 80 do século passado. Nos pátios ficavam os “bedéis”, os vigias

dos alunos, rondando todo o movimento. As bandeiras, para serem hasteadas nas

manhãs cívicas ou para reunir os alunos nos dias festivos, também ficavam no pátio.

A sala de diretoria, toda envidraçada para dar uma visão do pátio, representa a

“guarita” da vigilância total. Entretanto, a grande vantagem desses pátios é o

convívio entre os alunos e a possibilidade de serem usados para aulas diferenciadas

(ao ar livre).

43

Algumas escolas vêm mudando essa teoria de muros altos, para que os

próprios alunos não se sintam prisioneiros do aprender. Nesse ponto, indiretamente,

eles podem se sentir ameaçados. Muitos chegam a se revoltar por estarem presos e

acabam enfrentando as barreiras, derrubando muros, se revoltando até chegam a

ser expulsos por isso. Mas será que o principal culpado é o aluno? Ou são os

arquitetos e administradores que os induzem a tais atitudes? Afinal, o impacto

negativo dos muros pode ser suavizado com a colocação de painéis, fazendo com

que o aluno não perceba tão diretamente esse elemento de segurança.

Outro problema é a questão da arquitetura circular, que é a forma mais

utilizada para se obter a visão completa de todos os ambientes. As salas ficam ao

redor de um grande pátio de vigilância, frio, e os alunos, ao saírem das salas, já se

deparam com o vigia e a diretoria sempre em alerta. Seria algo semelhante à visão

do panóptico, com vigilância constante. Entretanto, nesse tipo de arquitetura se pode

criar diversas formas de separação de ambientes e transformar o pátio central de

vigilância em espaço de convivência e diversão.

Entre todas as razões do prestígio que foi dado, na segunda metade do séc. XVIII, às arquiteturas circulares, é preciso sem dúvida contar esta: elas exprimiam uma certa utopia política. (FOUCAULT, 2000:146)

2.4.2 Elementos internos

Internamente, ainda hoje existem muitas salas de aula com um degrau para o

professor ficar mais alto do que os alunos (ANEXO 4, FOTO 1), uma forma ainda de

demonstrar o controle perante a platéia, como nas escolas militares. Aí, volta-se ao

panóptico:

44

Fora preparado um estrado um pouco alto para colocar as mesas dos inspetores dos estudos, para que eles possam ver todas as mesas dos alunos de suas divisões, durante as refeições. (FOUCAULT, 2000:145)

Por isso as escolas mais modernas vêm construindo salas de aula sem esse

degrau (ANEXO 4, FOTO 2), para que o professor tenha um contato direto com o aluno,

cuja importância no desenvolvimento escolar é comprovada por psicólogos e

pedagogos. O aluno deixa de pensar no professor como alguém muito além do seu

alcance e passa a ser mais próximo, podendo evoluir melhor no seu aprendizado. O

argumento de que o degrau facilita a visibilidade entre professor e aluno pode ser

rebatido com outra facilidade: sem o degrau, o professor pode passear mais entre as

carteiras ou até distribuí-las de modo dinâmico, como em formato de círculo ou de U.

Outro ponto polêmico ainda hoje utilizado é o sistema de colocação das

carteiras em fila, uma atrás da outra, para que o professor possa controlar a classe

pelo alinhamento físico e, assim, não deixar o aluno sequer olhar para o lado ou

conversar. Aqui, a referência ao panóptico é clara, como se observa nas imagens

em anexo (ANEXO 3, FOTO 11). Também têm sido adotadas as normas estabelecidas

por Neufert, que ampliou a diversidade de posições para as carteiras em sala de

aula.

Quanto à disposição das portas, foi possível perceber uma mudança.

Educadores acreditam que, no sistema sala–corredor–sala, as portas não devem

ficar frente a frente porque afeta a concentração dos alunos — na medida em que

estudantes de turmas diferentes se observam e, assim, desviam a atenção mais

facilmente. Por causa dessa crítica interna, as escolas visitadas que adotavam o

esquema de portas alinhadas (ANEXO 3, FOTO 1) estão passando para o sistema

cruzado, (ANEXO 3, FOTO 2). Contudo, é preciso ressaltar que, do ponto de vista

45

arquitetônico, a importância de uma porta ficar de frente para a outra deve-se à

melhor ventilação. Mas o ideal é que as salas de aula dessem para grandes pátios

internos ou externos, o que, além da ventilação, favorece a absorção da claridade

(ANEXO 3, FOTOS 3, 4 e 5). Neufert trabalha com diversas disposições de salas,

inclusive uma de frente para a outra (ANEXO 3, FOTO 5), salas viradas para os pátios

(ANEXO 3, FOTO 6) e salas conjugadas, com vestíbulos as unindo (ANEXO 3, FOTO 10).

Quesito igualmente fundamental para uma sala de aula é a posição das

janelas. Nas escolas visitadas, pôde-se constatar desde a existência de janelas atrás

dos alunos (ANEXO 2, FOTO 1), o que favorece uma maior propagação de sombra, até

o sistema de janelas laterais (ANEXO 2, FOTO 2), que é arquitetonicamente melhor,

devido à iluminação, conforme Neufert (ANEXO 2, FOTO 3).

A própria altura das janelas é fator de opressão. Foram registradas janelas

excessivamente altas (ANEXO 1, FOTO 1), onde o aluno perde a visão externa,

fazendo com que se sinta em uma verdadeira prisão. Já em outras instituições, as

janelas eram amplas (ANEXO 1, FOTO 2), proporcionando uma visão melhor da área

externa — o que lembra a concepção do panóptico, pois, com aberturas amplas e

abertas para o pátio, os alunos se autovigiam. Também foi observado um sistema

eficiente, e aprovado por Neufert, que é o de janelas cruzadas em ambas as

paredes, benéfico à ventilação (ANEXO 5, FOTO 5).

Outro problema comum observado nas salas de aula é a acústica: o acúmulo

de sons, a mistura de falas e ecos, algo que no final da aula se torna um eco

profundo nos ouvidos. Por quê? Muitos pisos dão reverberação, e as salas grandes

(ou com poucos alunos) ou mal dimensionadas (com menos de 1,5 metros

quadrados por aluno) causam sérios danos na voz nos professores — o que é

46

agravado, em alguns casos, pelo uso do ar condicionado convencional. Tudo isso

sendo usado ao mesmo tempo faz os alunos escutarem menos. A revista “Acústica e

vibrações”, de julho de 2002, traz um dado revelador:

Em muitas salas nos Estados Unidos, a inteligibilidade da fala é de 75% ou menos. Isso significa que em testes de inteligibilidade da fala, ouvintes com audição normal podem ouvir apenas 75% das palavras lidas de uma lista... Imagine ler um livro faltando a quarta palavra, sendo esperado que se entenda o material nele obtido. Parece ridículo? (SEEP, 2002:2)

Essa é a situação dos estudantes dos Estados Unidos, mas infelizmente

também o é no Brasil. Para os administradores o resultado final é que conta, e ainda

são poucos os que contratam pessoas capacitadas tecnicamente para pensar

nesses pormenores.

Pudemos observar uma grande diversidade de tipos de iluminação nas

instituições visitadas. Entre elas, as de sentido transversal para com as carteiras,

(ANEXO 5, FOTO 4), deixando mais sombra para os alunos; iluminação mista, nos dois

sentidos em uma mesma sala de aula, o que aumenta a visibilidade devido à

inexistência de sombra (ANEXO 5, FOTO 3); iluminação que acompanha o sentido das

carteiras, fazendo com que o aluno tenha uma visão melhor tanto do quadro quanto

do seu material de leitura (ANEXO 5, FOTOS 1 e 2).

Neufert resume essas especificações da seguinte maneira:

Quanto ao espaço físico, a superfície de construção deve ser de 20 a

25 m² por aluno, e a superfície de aula, conforme as normas gerais, ≥

1,5 m² por aluno, mas de preferência entre 2 e 6 m².

Quanto a pé-direito (altura do piso ao teto), depende das condições de

iluminação determinadas pelo ambiente exterior (arborização,

47

edificação). Com profundidades de 6 a 8 metros, alturas de teto devem

ficar entre 3,25 a 3,75 metros.

A parede principal de iluminação deve ficar sem pilares exteriores e

com o menor número possível de apoios intermediários para conseguir

a iluminação uniforme do local. Anteparos, abaixo de 60 a 80 cm

(altura das mesas e carteiras). Janelas rasgadas até o teto, isto é, sem

dentéis visíveis. Recomendam-se prismas refratores de vidro,

persianas e outros dispositivos difusores de luz que tornam a

iluminação mais uniforme. A iluminação excessiva e a radiação

colorífica reduz-se com toldos e persianas exteriores. Porém, as

construções fixas de proteção são preferíveis (beirais, brise-soleil).

Com profundidade de local de 6,50 metros ou mais, ter-se-á também

luz direta para uniformizar a iluminação. A altura de anteparo dessas

janelas de contraluz: ≥ 1,20 m, correntemente de 2 a 2,5 metros. Os

tetos inclinados oferecem boas condições de reflexão, de distribuição e

de difusão da luz e deixam a luz chegar até o corredor do fundo (ANEXO

5, FOTO 5).

Iluminação elétrica: a luz direta deve ser ligeiramente difundida, ou luz

fluorescente. Os quadros-negros encerados terão luz própria. A luz

indireta não é recomendável devido à pobreza das sombras.

As janelas de ventilação terão dimensões tais que permitam a rápida

circulação do ar sem arrefecimento importante das paredes. A

ventilação lateral sem tiragens forçadas é a mais conveniente. Com a

cubicação normal das salas, a 6 m³ por aluno, o ar deve ser renovado

48

de três a cinco vezes por hora. (NEUFERT, 1976:214)

As escolas brasileiras têm um número imenso de alunos, fazendo com que as

edificações (salas de aula, laboratórios etc.) cresçam cada vez mais, restando pouco

espaço para áreas de lazer, jogos, fontes, bosques, onde poderia haver aulas ao ar

livre por ocasião daquelas disciplinas que lidam com elementos da natureza, como

biologia, física e química. O Ministério da Educação exige uma determinada

metragem quadrada por aluno em termos de sala de aula e biblioteca, mas as áreas

de lazer estão esquecidas. Somente são obrigatórias para as escolas primárias.

Da forma como o espaço escolar tem sido concebido na maioria das

instituições brasileiras, não é de espantar que os alunos digam sentir-se prisioneiros

das escolas em muitas ocasiões. Mas qual seria a escola ideal na visão dos alunos?

Ainda é difícil dizer, mas ao observarmos tanta semelhança com as prisões torna-se

necessária uma maior reflexão sobre o assunto junto à própria administração

escolar. São temas como esse que hoje deveriam ser mais discutidos em

capacitações das escolas e universidades.

49

3. INDO A CAMPO

Este capítulo contém, primeiro, a descrição de algumas escolas e

universidades visitadas para o presente trabalho, e, em seguida, a análise sobre as

vantagens e desvantagens de se estudar em escolas planejadas. As instituições

aqui descritas foram escolhidas conforme o apoio institucional dado à pesquisa. Foi

feito um contato inicial e, depois, visitas planejadas com acompanhamento de um

integrante da própria instituição. Mesmo colaborando com a pesquisa, algumas

instituições solicitaram que a identificação fosse preservada. Sendo assim, não

serão citados os nomes das escolas e universidades abordadas, as quais passam a

ser identificadas apenas por um número.

3.1 – Instituição 1

Em Santa Catarina, visitou-se uma instituição que apresenta um estilo

moderno e está em constante ampliação (ANEXO 6, FOTO 1). Abrange desde o

primário até o ensino superior. Possui uma área total de 45.000m2 , com 17.000 m2

de área construída e 5. 313 m2 de área de lazer. Mas a instituição ainda está em

fase de crescimento, possuem apenas 62 salas de aula e 6 laboratórios prontos para

uma demanda de 1500 alunos por turno de ensino fundamental até especialização.

Foi possível perceber a diferença no tratamento entre as fases: no setor primário

havia muita cor, tudo limpo, bem cuidado, lugar adequado para todas as atividades,

50

mas conforme vai crescendo a idade e o número de alunos parece que os locais vão

ficando mais frios e até com menos valor. Na biblioteca dos adultos o caso é mais

sério: o descuido se reflete no reduzido número de freqüentadores (ANEXO 6, FOTO

3). Já na biblioteca infantil ocorre o inverso.

Nessa escola, predomina a concepção de que um “belo ar condicionado”

substitui o vento saudável. Não que o ar condicionado seja totalmente ruim, mas o

que está em questão é a falta de ar puro ou pelo menos de sistemas de renovação

de ar. Os laboratórios equipados com maquinários de última geração são os pontos

principais dessa instituição e que muitos ainda estão sendo construídos. Eles

acreditam que tendo bons laboratórios, terão um melhor empenho e participação dos

alunos nas pesquisas. São notáveis as diferenças arquitetônicas em relação às

escolas paulistas: salas extensas, pouca acústica, cadeiras universitárias ao invés

de carteiras e mesas, “pois ocupam menos espaço e cabem mais alunos” (ANEXO 6,

FOTO 2). De fato, essa escolha aumenta em cerca de 10% o índice de ocupação, e

isso significa muito no final do mês, financeiramente falando.

Um grande muro com portaria única e total controle de entrada e saída é um

dos pontos positivos na opinião dos pais. Afinal, eles se preocupam com a

segurança dos filhos. Já os alunos comparam isso a uma prisão. É importante

ressaltar ainda que nessa escola há um grande incentivo para a prática de esportes

(natação, atletismo etc.) e atividades ligadas à cultura, como dança, teatro e música.

Isso faz com que o aluno queira ficar na escola durante todo o dia, sem pressão dos

pais. O aluno está sempre disposto a retornar, pois é o tipo de ambiente que

estimula o convívio social. Um problema que a administração vem enfrentando e que

devido a área total, no momento não podem fazer nada é a não existência de

estacionamento.

51

3.2 – Instituição 2

Continuando em Santa Catarina, a segunda escola visitada é de porte maior,

com 128.298,77 m2 de área, sendo 29.098,66 m2 de área construída, onde foi

possível ver prédios de 1972 ao lado de construções recentes (ANEXO 6, FOTO 4).

São mais de 100 salas de aula e 30 laboratórios de diversas especialidades. Aqui o

impacto foi maior, pois a pesquisadora se deparou com uma antiga escola primária

instalada num prédio semelhante ao descrito por Foucault em Vigiar e punir, só que

ao invés de quadrado, o prédio é em “U”, com as salas nas laterais e um pátio no

meio. A distribuição das salas é muito bem feita, porém mal conservada. Hoje o

prédio está inutilizado devido a problemas na estrutura do telhado. A instituição

pretende demoli-lo e construir um novo no local.

Ainda nesta escola há um outro sistema de blocos, um ao lado do outro no

sentido transversal ou longitudinal, mas sempre com salas e um corredor dando para

áreas verdes. Muita área verde para ser usada, mas muito vazia, alunos nas salas

podendo ter aula ao ar livre, mas mais uma vez foi possível notar a força de um ar

condicionado. Uma biblioteca ampla, climatizada, mas quase vazia (ANEXO 6, FOTO

5). Livros? Todos possíveis e exigidos pelo MEC. Os maiores usuários? Os alunos.

Mas esses, muitas vezes “despachados” pelos professores, vão à biblioteca apenas

para cumprir tarefa. Sem o acompanhamento dos professores, eles acabam fazendo

da biblioteca um local de reunião, de encontro, mesmo à voz baixa, e deixam para

fazer o trabalho em casa. Foi um problema visto em quase todas as escolas e

instituições visitadas. Problema este de planejamento arquitetônico ou pedagógico?

Prédios novos estão sendo construídos nessa escola em formatos diferentes,

52

como sala–corredor–sala, com pouca ventilação, pois o código de posturas do

município não adota um padrão, então cada um coloca quanto quer de ventilação,

com um certo consenso mas ainda não o ideal. No primeiro pavimento, as portas

das salas estão frente a frente, mas nos outros pavimentos, foram colocadas no

sistema ziguezague, complicando a questão arquitetônica e mais ainda a ventilação.

Grandes janelas frontais que constavam inicialmente no projeto foram trocadas por

salas maiores. No projeto futuro ainda consta uma grande área coberta para abrigar

os alunos numa espécie de ambiente de convívio, além de um segundo prédio

idêntico ao existente.

Nos prédios antigos, as salas de aula possuíam piso de madeira, carteiras e

cadeiras separadas, degraus, janelas basculantes grandes, quadros verdes e

iluminação variada (ANEXO 5, FOTO 3). Nos prédios novos, as salas ficaram mais

espaçosas, com piso cerâmico, quadros verdes, iluminação propagando menos

sombra, mas as janelas diminuíram e foram para o final da sala ao invés de ficarem

nas laterais como Neufert aconselha (ANEXO 5, FOTO 4).

Teatro, banda, e outros esportes são incentivados em gincanas, mas ainda

não possuem locais apropriados. Porém, é importante ressaltar que nessa escola

existe uma constante preocupação com o futuro, que se manifesta através do estudo

de um plano diretor para o campus (ANEXO 7, FOTO 1).

3.3 – Instituição 3

Outra visita foi a uma universidade que é palco de eventos nacionais e

internacionais, localizada em Porto Alegre (RS), com área total de 55 hectares, área

53

construída de 328 mil m², 30 mil alunos, 1,8 mil professores e 1,5 funcionários e uma

área verde considerada parque ecológico de 5,4 hectares (ANEXO 6, FOTOS 7 E 10).

Seu bloco principal foi planejado para grandes convenções, com lojas, bancos,

reitoria, museu, auditório e a secretaria central. Nessa universidade o sistema de

secretarias é por núcleos, facilitando assim o atendimento para os alunos, já que o

campus é muito grande.

Nessa universidade existem largos pátios entre um prédio e outro. São muito

arborizados, com bastante grama e flores (ANEXO 6, FOTO 8). É preciso ressaltar que

em todas essas visitas não foi encontrado um único canteiro ou caminho forrado de

brita, como é comum em Santa Catarina, especialmente em Joinville. A aridez

germânica não encontra paralelo no Sul do país.

A maioria dos prédios dessa universidade é mais antigo, então há blocos

comuns no sistema sala–corredor. As salas são simples, na maioria com sistema de

carteiras duplas, piso de cimento queimado, quadro verde e janelas nas laterais. É

nítida a falta de investimento nesse caso, mas as janelas são sempre amplas, com

acesso a uma bela vista para que o aluno não se sinta preso, pois ali passa todo o

seu dia (ANEXO 6, FOTO 9). Os blocos são separados pelos cursos com sua biblioteca

setorial e o mini-auditório. Nos blocos mais recentes, as salas, principalmente dos

laboratórios de informática, ficam em aquários (não foi autorizado fotografar) com

vigilância tanto de microcâmeras quanto de agentes devidamente fardados.

Cada núcleo possui um pequeno auditório para os eventos específicos.

Quanto à segurança, chega a ser exagerada. Em todos os cantos existe um agente

equipado com modernos transmissores de rádio. Os estacionamentos são pagos, e

muito bem estruturados, com as vagas todas cobertas. Alunos e professores pagam

54

por mês, os visitantes também pagam, e todos têm direito a seguro. Isso, para uma

cidade grande como Porto Alegre, é muito importante. Como todas as instituições de

grande porte visitadas, esta possui um plano diretor estruturado e voltado para o

futuro, mas o diferencial da Instituição 3 é a valorização dos prédios mais antigos.

(ANEXO 7, FOTO 2).

3.4 – Instituição 4

Ainda em Porto Alegre, foi visitada uma tradicional faculdade de arquitetura,

com uma área de campus com 28.389 m², sendo 19.000 m² de área construída, tudo

isso para 2.037 alunos. O prédio recém-construído é todo em concreto armado, no

sistema sala–pátio, só que esse pátio transformado em um grande local para

exposições (ANEXO 6, FOTO 12). São 47 salas de aula com grandes janelas para o rio

Guaíba, e outras menores formando desenhos arquitetônicos para o pátio. Nelas

existem quadro verde (tomando toda a extensão da parede), carteiras individuais no

sistema mesa–cadeira, divisórias revestidas com carpete para melhor acústica e

evitar a reverberação, portas amplas para deficientes físicos, tudo isso dando para

corredores amplos, sofás em forma de bancos nos corredores. O conjunto é bem

colorido e muito criativo, digno de uma faculdade de arquitetura. Além das 47 salas

de aula, há quatro auditórios pequenos para 100 pessoas, com quadros brancos e

sistema de áudio. Os banheiros, equipados com sistemas inteligentes de água tanto

nas pias como nos bacios, mostra a preocupação com a educação e a

conscientização do profissional do futuro (ANEXO 6, FOTO 13).

A recepção fica próxima da secretaria, com poltronas confortáveis, e a

biblioteca é servida por um grande mezanino — algo arquitetonicamente bem

55

concebido. Os laboratórios de informática são equipados com o que há de mais

avançado na área. O pátio interno, para onde dão todas as salas de aula, é

aproveitado para exposições dos trabalhos dos alunos e para avisos gerais,

inclusive com um minipalco para eventos internos (ANEXO 6, FOTO 13).

Externamente, a faculdade dispõe de um estacionamento amplo, com guarita

única, asfaltado e cheio de árvores. A divisão interna dos boxes do estacionamento

é bem equilibrada. O grande auditório para eventos, recém construído, também é em

concreto armado, aberto nas laterais, como uma arena multiuso (ANEXO 6, FOTO 14).

3.5 – Instituição 5

A última etapa no Rio Grande do Sul coube a uma instituição com 90,55

hectares, 190.480 m² de área construída, 142.410 m² de área de preservação e

485.089 m² de área de jardim, e detentora da mais avançada tecnologia em termos

de Arquitetura Escolar (ANEXO 6, FOTO 15). Trata-se de uma grande universidade nas

proximidades de Porto Alegre, com um plano diretor voltado para o futuro e um

investimento constante. Campus aberto, amplo, com pequenas gaiolas de

atendimento para recolher a taxa de estacionamento, pois este também é pago, com

direito a seguro contra incêndio e serviço de mecânicos (ANEXO 7 FOTO 3). A área é

asfaltada e tem muitas árvores para sombrear os carros. Uma estação de tratamento

de água foi projetada em linhas tão discretas que, ao passear pelo campus, tem-se a

impressão de estar rodeado por um lago. Isso dá ao campus um ar natural e leve.

Nos dias de chuva, formam-se grandes quedas d’água em pleno campus.

O prédio administrativo é um imenso círculo com um pátio gramado ao meio,

56

com as secretarias, a editora, a livraria, o restaurante, e demais setores da

administração. São dois pavimentos de serviços aos estudantes (ANEXO 6, FOTO 16).

Esse bloco foi interligado recentemente ao prédio mais novo do campus, a nova

biblioteca, de cinco andares com um total de 37 mil metros quadrados, que abriga

634 mil títulos, espaço para videoconferência e ambientes específicos para didática

de novas tecnologias (ANEXO 6, FOTO 17). São 4.100 computadores, espaço cultural e

auditório, sendo 3.800 conectados à rede com acesso à internet e 1.506 em 75 salas

à disposição de alunos.

Além disso, a universidade possui 402 salas de aula, duas salas de

seminário, 144 laboratórios, dois auditórios de 200 a 400 pessoas para cada

departamento e área esportiva de 34.640 metros quadrados. Vale ressaltar que a

visão estratégica dos administradores está exposta no espaço cultural do bloco da

biblioteca, onde se pode conferir, em painéis gigantes, os investimentos feitos pela

instituição. Em um desses painéis constava o seguinte texto:

Campus é o ambiente da universidade tradicionalmente voltado para o conhecimento. Além disso, hoje também é reconhecido como área de convívio social. Promove a integração do ambiente acadêmico com a comunidade, com a vida. Esse novo conceito permite que as pessoas desfrutem de um ambiente agradável, aconchegante, combinando a valorização ecológica como tecnologia e serviços. A evolução da nova proposta tem por objetivo criar uma atmosfera adequada para integração da comunidade acadêmica com a comunidade em geral. Afinal, a universidade está a serviço da formação integral do ser humano.

Quanto aos prédios de salas de aula, são no sistema sala–corredor–jardim,

mas são jardins de fato, com gramados amplos, servidos de bancos e muitas

árvores. As salas, todas térreas, possuem sistema de carteiras duplas, quadros

côncavos, janelas amplas, portas largas, piso de cimento queimado. A comunicação

visual foi concebida para ser vista de longe, feita com grandes painéis pintados nas

57

cores da universidade. Ali ninguém se perde.

Os blocos são identificados também por cores conforme as áreas, e todos os

núcleos possuem uma secretaria setorial, xerox e outros serviços acadêmicos. Uma

das deficiências anotadas durante a visita são os sanitários, que ainda não foram

reformados para tamanho progresso do campus.

3.6 – Instituição 6

A Instituição 6, localizada no interior de São Paulo, tem mais de 130 mil

alunos em suas 100 unidades espalhadas pelo país, mas todas com o mesmo perfil

e infra-estrutura (ANEXO 6, FOTO 19). Foi visitada a unidade-sede da rede, instalada

em Ribeirão Preto. Nessa instituição, que vai desde o ensino fundamental até

faculdade, existem muitas sala de aula com corredores centrais e pisos escuros que

dificultam a visão, mas com carteiras e cadeiras adequadas, quadros modernos,

côncavos, cores claras nas paredes, portas amplas, boa iluminação e com pátio

central usado para eventos e lazer, já que existe pátio externo. Havia mais

preocupação com estacionamento do que com área verde, não por falta de vontade

ou sensibilidade dos administradores, mas por uma questão de falta imediata de

espaço, o que resultava em excesso de concreto, tornando o local mais frio e menos

aconchegante. Talvez essa ênfase tenha origem no problema da segurança, pois a

região apresenta altos índices de violência. É pedagogicamente bem pensada, mas

a estrutura física ficou problemática por falta de espaço.

Essa instituição também investe em prédios novos, como a entrada principal

do campus, feita com sistema automatizado. No entanto, há pouca área verde e não

possui um espaço de lazer e esporte tão adequados como os prédios. O uso de

concreto armado sem pintura (só as paredes são pintadas) deixa o ambiente

58

“carregado” e muito sério para um local onde as pessoas passam quase 70% de seu

dia estudando. O campus principal possui 60 salas de aula com 100 m² cada uma

(isso para 50 e até 60 alunos), onde estão instalados sistema de TV (em circuito

fechado, com tela de 29 polegadas), vídeo, computador, e outros equipamentos

específicos que um professor possa necessitar, a TV fica no centro do quadro e

esses equipamentos na parte lateral das salas em um móvel.

Os quadros são côncavos, na maioria brancos, e o ar condicionado também é

central, todas as salas possuem ar condicionado, mas com renovação de ar (ANEXO

6, FOTOS 24 e 25). Possui uma biblioteca com mais de 20 mil exemplares, laboratório

de informática com um computador por aluno, e a chamada “sala do futuro”, onde

cada carteira tem um computador embutido e o monitor reproduz o que o professor

vai escrevendo no quadro digitalizador. O aluno pode salvar o texto em disquete

para estudar em casa.

Outra atração dessa instituição é a sala de 3D, onde o aluno pode fazer os

trabalhos visualizando melhor os objetos, recurso bastante útil principalmente no

caso de matérias como física, biologia e outras vinculadas à área tecnológica. Além

disso, as salas de estudos também têm computadores. Nota-se nessa instituição

uma ênfase na tecnologia em detrimento do próprio espaço escolar (ANEXO 6, FOTOS

20 a 23).

A Instituição 6 se destaca ainda pelas instalações da central administrativa,

gráfica e editora. É a única em que o material didático é feito pela própria instituição.

Com essa infra-estrutura, o material pode ser planejado de acordo com o

desenvolvimento dos alunos. Assim, professores, editores e administradores podem

acompanhar melhor o processo de crescimento dos estudantes, o que lhes permite

59

adotar, inclusive, um sistema on-line de tira-dúvidas.

Em meio a tantas visitas, procurou-se pesquisar também como os pais

escolhem as escolas para seus filhos. Os resultados confirmaram que a maioria

realmente vai à procura de estrutura física, bem-estar de seu filho, boa cantina, e

uma boa proposta pedagógica. Mas é nítida a dificuldade de encontrar uma escola

com tamanha perfeição. Então, os pais decidem-se pela proposta pedagógica. E

quando se invertem os papéis, isto é, pergunta-se aos próprios alunos o que os atrai

numa instituição escolar (a ponto de influenciar a decisão dos pais), a resposta é

taxativa: sempre colocam em primeiro plano o espaço físico que utilizam, sendo,

nessa ordem, lazer e sala de aula. Se a pesquisadora insistir na visão de futuro,

então lembram do ensino. Aqui, mais uma vez, reafirma-se a preocupação com

tamanha responsabilidade por parte de administradores escolares e arquitetos.

Como agradar a estas milhares de pessoas?

Em toda essa problemática da falta de adequação arquitetônica dos

estabelecimentos de ensino, o maior agravante é o tempo, pois as escolas de nome

são antigas e muitas vezes crescem em números e não em espaço. Outro problema:

o incentivo do próprio governo para fazer suas escolas servir de modelo, e o fato das

escolas estaduais ou municipais serem a primeira opção dos pais, e não a última.

Por outro lado, proprietários de escolas particulares e educadores em geral não

atentam para essa questão. Mas também foi possível ver o avanço tecnológico em

algumas instituições, nas quais isso faz o diferencial em sala de aula e dá resultado

no mercado de trabalho. A partir dessas constatações, pode-se agora fazer um

balanço e, assim, aproveitar a experiência para tentar adequar novos projetos de

salas de aula a uma visão pedagógica mais ampla, que inclua a noção de espaço e

ambiente como elementos constitutivos do processo educacional.

60

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a descrição panorâmica da história da arquitetura, feita no capítulo 2,

foram observadas várias coincidências no campo das edificações. Mas muitas

dessas coincidências são na realidade explicações concretas para certas práticas

construtivas, como a utilização da pedra nas muralhas, que hoje são nossos muros

de demarcação de propriedade privada. As primeiras muralhas erguidas pelo

homem tinham função menos egoísta: serviam para impedir que a água chegasse

até o templo e colocasse em risco a riqueza coletiva da época. E assim foram

construindo, pedra sobre pedra, muros altos de maneira que quem estivesse do lado

de fora não avistasse o interior das moradas. Os muros de hoje servem para nos

isolar de pessoas e bichos que não são bem-vindos. No fundo, a concepção e a

forma são praticamente as mesmas, só mudam os materiais.

Até mesmo o tijolo atual, feito de barro e queimado em forno também de barro

para garantir a resistência, não evoluiu muito em relação ao tijolo mesopotâmico, de

5 mil anos atrás, que era seco ao sol. O sol quente da região criava a resistência

necessária. Com relação a isso, a maior diferença, hoje, é o tipo de argila, que

muitas vezes não é pura, ou então sua resistência, que varia conforme o tipo de solo

da região. De qualquer maneira, a degradação ambiental provavelmente deve ter

interferido na qualidade do material, pois a argila pura é cada vez mais rara.

Outro ponto é a valorização do homem para com seus deuses e intuições,

espíritos, céu e Terra. No templo de E-anna isso ficou claro: quanto mais alto,

61

melhor, para ficar mais próximos do céu. Não pensavam que poderiam estar

arriscando quanto à resistência do material em relação às estruturas. Eram

audaciosos. Hoje a forma de pirâmide ainda é um marco dos novos templos, como

se viu em Brasília.

O céu sempre foi tido como fonte de energia, e é daí que se chega às telhas

translúcidas — produto resultante de um avanço tecnológico, e, ao mesmo tempo,

de uma lógica cuja origem é ancestral. E o homem moderno ainda ousa ao criar

grandes arranha-céus, testando materiais e novos cálculos, ou ao consertar grandes

estruturas para não deixar que o passado morra com a cultura, morra com o tempo.

Quanto ao urbanismo, a forma da cidade e suas ruas, pode-se dizer que

continua sendo um pouco egípcia. Brasília foi e sempre será um exemplo desse tipo.

Foi erguida em um ponto estratégico do país — no centro geográfico. Foi feita para

receber os representantes do poder, com ruas largas, grandes monumentos, tudo

bem projetado e bem separado por setores (industrial, residencial, comercial,

hoteleiro).

A cada momento é possível relacionar novas coincidências com o mundo

antigo. Hoje existem os grafiteiros, por exemplo. Pois o homem que habitava o Egito

e a Mesopotâmia desenhava e pintava deusas, animais, paisagens nos templos, nas

paredes. Tal prática acompanha a história das construções há milhares de anos.

Muitos artistas plásticos fizeram isso, e hoje se pode ver grafiteiros com linguagem

própria, desconhecida aos de fora da “tribo”, que seguem usando a superfície dos

prédios para fazer reivindicações e expor suas crenças. É algo que está tão perto e

vem de tão distante, assim como os mosaicos, que atingiam alta precisão com tão

pouca tecnologia.

62

Apesar de todo o avanço das técnicas construtivas, a leveza e a sensação de

grandiosidade que existia nos mosaicos é difícil de ser conquistada. Atualmente, a

técnica do mosaico voltou às edificações, muros, fachadas, residências, mobiliário.

As cores antigas, que pelo tom do barro dava a terracota, o branco e o preto,

continuam presentes. A gama de tons aumentou, mas as cores básicas são mais

constantes. Por exemplo: a terracota trouxe os tons desde o bege, passando pelo

vermelho e morrendo no marrom. Todos bastante atuais.

Diante desse vaivém de comparações entre passado e presente, ressoam as

palavras de Gaston Bachelard:

O espaço da casa se faz transcender ao espaço geométrico. Queremos, à primeira vista, compreender a casa como uma realidade visível e tangível: volumes, planos, linhas retas e curvas... Mas casa não é um frio sólido que envolve o homem. A casa é vivida pelo homem; adquire valores humanos... Esse objeto geométrico se transforma em humano assim que entendemos a casa como um espaço de conforto e intimidade. Além da racionalidade, descortina-se o campo do onirismo. Sonho e realidade... nunca definitivamente resolvidos... a intimidade do passado. (Bachelard, 1993:63)

As formas construtivas que continuam existindo são aquelas que deram certo.

Beleza e leveza sempre serão algo surpreendente aos olhos humanos, mas isso

basta? Pelo menos quando se estiver lidando com a Arquitetura Escolar, a resposta

será sempre negativa. Porque aqui entram outras implicações além da estética.

É por isso que o presente trabalho, ao tentar conjugar a visão da arquitetura à

da educação, não poderia deixar de refletir sobre a possibilidade de se construir uma

escola ideal, ou ao menos mais bem elaborada para o estágio atual do ensino. No

entanto, dadas as limitações próprias da natureza desta pesquisa, focou-se num

ponto da escola, que a bem da verdade é o ponto principal: a sala de aula, onde

alunos e professores passam a maior parte do tempo e onde se dá o ato essencial

63

do processo educativo. Claro que o fator arquitetônico é apenas um dos que

influenciam na aprendizagem do aluno, mas também é preciso dizer que este tem

sido negligenciado por muitos administradores e mesmo educadores ao longo do

tempo.

Nos capítulos anteriores, foi possível comparar a visão de autores teóricos

como Foucault à de técnicos como Neufert. Enquanto o primeiro faz uma análise

crítica das estratégias de vigilância representadas pelo panóptico, pelos muros e

pelos pátios centrais, o segundo recomenda o uso de estruturas com pátios centrais,

embora defenda a necessidade de grandes janelas nas salas de aula. Essa

contradição indica o grau de complexidade do tema.

Da mesma forma, na descrição das escolas visitadas, visualizou-se

diferenças na concepção de estruturas arquitetônicas, como disposição de salas,

escolha de materiais, detalhes de iluminação, disposição de móveis e de

instrumentos de ensino. Agora, seria necessário juntar todas essas pesquisas e

teorias para montar uma sala de aula ideal.

Antes disso, é importante ressaltar que no início deste trabalho, quando as

visitas não estavam finalizadas, outras teorias haviam sido adotadas assim como,

outras idéias mudaram de rumo ou até mesmo quebra de paradigma da própria

autora como por exemplo a questão das janelas: defendia-se a adoção de janelas

altas por uma questão de segurança, mas depois, com as pesquisas, constatou-se

que isso poderia ser um erro arquitetônico, não só por causa da ventilação, mas

também pela autovigilância (conforme Foucault) e por conforto (Neufert). Outro

exemplo é o dos quadros-negros. Há os retos, os côncavos, os que ocupam toda a

parede ou só parte dela. Os côncavos proporcionam maior visibilidade para os

64

alunos que sentam nas laterais, mas ainda seria melhor se todas as paredes

tivessem quadros, para que os professores pudessem colocar as carteiras em

qualquer formato, e, assim, estimular uma maior integração entre os alunos.

Vejamos, então, algumas idéias desenvolvidas a partir deste trabalho.

Quanto à parte física da escola propriamente dita, seja no caso de prédios

com um ou mais pavimentos, o formato sala–corredor revelou-se o mais adequado,

tendo ou não pátios centrais (não fechados), como vimos nas imagens de Neufert,

ou pelas teorias e exemplos do panóptico de Foucault. Isso faz com que se tenha

uma ligação maior com a natureza, mesmo no caso de dois ou mais andares, sem a

sensação ruim de falta de ar. Por maiores que sejam as janelas de uma sala, é muito

melhor sair da aula e se deparar com árvores, flores, bancos etc., mesmo no modelo

de pátio interno, do que se ver ainda cercado de paredes. Claro que não no modelo

das prisões, para os alunos serem vigiados, e sim apenas para que esse espaço

possa ser utilizado como lazer e convívio, até mesmo porque a proposta realmente

seria criar elementos arquitetônicos para que eles não se sintam vigiados.

O sistema em “U” e em “L” seria o mais indicado, ou apenas sala de aula–

corredor, e não sala–corredor–sala. Inclusive com corredores dando acesso externo

em ambos os lados (ANEXO 8, FOTO 1). São ideais as salas com sistema de

renovação de ar mediante a colocação de bandeirolas na parte superior e

venezianas na parte inferior, especialmente nas salas que possuem aparelhos de ar

condicionado sem capacidade de renovação automática do ar (ANEXO 8, FOTO 3).

Outra sugestão seria a colocação de basculantes dando acesso aos corredores,

onde poderá haver um sistema de circulação cruzado (ANEXO 8, FOTO 2), como vimos

em Neufert (ANEXO 5, FOTO 5).

65

Na Instituição 2 foi executado o sistema de iluminação com luminárias no

mesmo sentido das carteiras, pois assim os alunos podem escrever sem a sombra

do colega que está a sua frente. Também foram feitas a colocação de telas centrais

para imagens (ANEXO 8, FOTO 4) e a ligação do pátio amplo com as salas de aula

(ANEXO 8, FOTO 5), conforme sugerido. Por outro lado, sugestões referentes a

posição de quadros, sistema corredor–sala–pátio, tipos e tamanhos de janelas e

sistema acústico não foram executadas devido aos custos. É de grande valor,

todavia, o interesse da Instituição 2 em mudar e quebrar certos paradigmas, como

foi o caso de aderir ao sistema de salas de aula com portas frente a frente para

solucionar a questão da ventilação interna, como vimos no capítulo 2.

Em primeiro lugar, a escola ideal seria a escola do aluno participativo, e, para

isso, seria necessário que as construções fizessem parte do seu dia-a-dia,

crescessem conforme o crescimento do aluno e mudassem conforme muda o

relacionamento entre alunos, professores, pessoal administrativo e direção. Hoje,

muitas instituições de ensino já deixaram de lado os muros altos, trocando-os por

pátios, áreas de lazer, e é assim que seguram os alunos nas escolas. Ou, quando

existem muros, sugere-se duas formas de reconfigurá-los: eles podem assumir a

forma de telas, para que os estudantes possam ter uma visão externa, ou a forma de

painéis decorativos. Afinal, este é o papel da arquitetura: criar elementos que ao

mesmo tempo sejam funcionais e estéticos.

Trocar as salas de aula fechadas por salas com janelas amplas, possibilitando

um contato maior com a natureza, faz com que o aluno se acalme e até trabalhe

melhor a questão da concentração, que é um problema sério em muitas instituições

de ensino visitadas.

66

E aqui se chega a um problema enfrentado pelos administradores: eles têm

receio de mudar radicalmente e perder a identidade da escola. Isso, num mundo em

que o nome e a marca são fundamentais para a sobrevivência de qualquer

empreendimento, pode ser fatal. Uma escola sem identidade, dizem os

administradores, não atrai alunos. Mas mesmo quando querem mudar, eles se

deparam com outra dificuldade, que é a falta de espaço físico. Normalmente

inseridas na parte mais densamente povoada no meio urbano, as escolas só podem

crescer ocupando as áreas antes destinadas ao lazer. Porém, a submissão a

posturas conservadoras impede o aproveitamento da natureza como área mais

integrada ao ensino, como a destinação de espaços para aulas ao ar livre em

matérias como história, geografia, biologia, física e outras mais específicas ou outras

atividades extra-curriculares. Não por acaso, Frank Lloyd Wright, um dos maiores

arquitetos de todos os tempos, escreveu a seguinte frase, que lembra a filosofia

panteísta, concebida a partir das idéias de Aristóteles:

Acho que a palavra NATUREZA deveria ser gravada com ‘N’ maiúsculo, não que a natureza seja DEUS, mas porque tudo o que podemos aprender sobre DEUS aprendemos do corpo de DEUS, que chamamos de natureza. (Wright, 2000:12)

Ainda é possível ressaltar que nas instituições de hoje as salas de aula

passam a ser pintadas em cores pastéis, deixando o branco somente para o teto.

Isso faz com que o aluno se sinta num lugar mais aconchegante, até menos frio.

Mas ainda é necessário que todos esses paradigmas sejam quebrados em conjunto

entre arquitetos, professores e administradores.

A meta, então, seria levar em conta o bem-estar do aluno sempre em primeiro

lugar, deixando isso o máximo possível interligado com o administrativo e não

esquecendo que muitos dos elementos arquitetônicos podem ajudar ou não o aluno

67

em sala de aula, pois a sala de aula ainda é o espaço por excelência da educação.

Sendo assim, merece um olhar mais cuidadoso.

Uma das dificuldades encontradas nesse campo de iluminação e ventilação é

a falta de padronização. Como cada município tem o seu código de posturas (norma

construtiva), existem vários dispositivos legais para a construção de escolas, muitos

deles contraditórios entre si. Uns determinam, por exemplo, que 1⁄4 do total da sala

deve ter ventilação e iluminação diretas, enquanto outros estabelecem 1⁄6 e alguns

não definem qualquer medida. Esta pesquisa conclui que 1⁄6 é a medida mais

indicada, apesar de aumentar a dificuldade de execução e, conseqüentemente, o

custo. O ambiente fica mais acolhedor para o aluno: a sala se torna mais clara e

ventilada, trazendo um conforto térmico maior.

A escolha adotada na questão acima vai determinar uma outra: quadro negro,

verde ou branco? Depende, pois com janelas grandes é preciso tomar cuidado para

não ocorrer reflexo de luz nos quadros, assim como o tipo de iluminação da sala

produz regiões de sombra, como visto anteriormente. As janelas devem estar

preferencialmente ao lado esquerdo de quem olha para o quadro e as portas ao lado

direito, na parte da frente e ao lado do quadro, segundo Neufert (ANEXO 2, FOTO 3).

Isso seria o ideal, mas a janela no lado esquerdo já ameniza as sombras, o que

ajuda muito o aluno.

Também não se deve deixar de lado o conforto acústico dentro das salas de

aula, principalmente na visão do professor, pois 99% das falas são dele e, como se

viu anteriormente, a maioria dos alunos sofre por não entender o que os professores

falam. Quando a sala tem ar condicionado convencional, por exemplo, fica

impossível escutar o professor. De preferência, que os cantos das salas passem a

68

ser arredondados, e que a parede oposta ao professor tenha uma inclinação de oito

graus, ou seja revestida com algum tecido ou fibra de vidro, o que ajuda a retirar o

efeito de eco. Outro problema que ocorre com a voz do professor é que muitas

vezes ela retorna ao invés de chegar no fundo da sala. Nesse caso, uma placa de

gesso na parede frontal resolve. No caso de sons vindo de fora, pode-se colocar

uma camada dupla de vidro nas janelas e portas, que tem a vantagem de também

proteger contra a insolação. Por último, não utilizar pé-direito muito alto (mais de 3m

de altura) igualmente favorece a boa acústica, e não esquecendo do teto inclinado

sugerido por Neufert, como referido no capítulo 2.

Quanto às cores nas salas de aula, recomenda-se evitar pigmentações

vibrantes. Estas só são admitidas em salas de recreação ou de outra atividade que

envolva movimento, como a educação física. Deve-se usar cores pastéis e não

saturadas, como verde claro ou azul claro. No caso de lugares com altas

temperaturas, seria mais aconselhável o azul claro. Esse tipo de cor nas paredes faz

com que os alunos fiquem menos agitados. É importante lembrar que o azul faz com

que o cérebro ative o poder de concentração, aumentando assim a capacidade de

raciocínio.

O teto deve sempre ser branco para que se tenha uma leitura melhor e mais

clara. Um teto escuro, além de escurecer a sala, pode transmitir ao aluno sensações

desagradáveis depois de certo tempo, como a de estar sendo esmagado, pois a cor

escura tem o efeito de “baixar” o pé-direito. Quanto ao piso, depende das cores que

estão sendo usadas no conjunto, mas não pode ser brilhante para que não reflita

luz, o que provocaria um rápido cansaço. Deve ser antiderrapante, para evitar

acidentes, e sem os degraus do patamar do professor, pois ficou claro que quando

todos estão no mesmo nível há mais interação. Ainda com relação às cores, é

69

importante lembrar que para prevenir acidentes seria melhor utilizar cores diferentes

dos pisos nos degraus, rampas, corrimãos e locais de perigo potencial.

Também é preciso dar atenção aos móveis das salas de aula. Estes devem

ser ergonomicamente corretos, conforme o seu uso. Os adolescentes, por exemplo,

preferem as carteiras universitárias, que lhes dão flexibilidade de movimentação e

um certo status de “pré-universitários”. Já nas universidades seria interessante voltar

ao sistema de cadeira e mesa, pois os estudantes necessitam com mais freqüência

de um local para colocar livros, material de pesquisa, pastas e outros objetos, ou

mesmo para se unirem em grupos de trabalho. O mais importante é que sejam

confortáveis, pois os alunos passam no mínimo 50% de seu dia sentados nessas

carteiras. Não esquecendo de se ter a flexibilidade das carteiras móveis: deixá-las

soltas será melhor se houver quadros em diversas paredes da sala, proporcionado

maior integração do aluno com a sala de aula, criando vários formatos como

semicírculo, em U, em grupo. Além disso, o professor pode usar esses elementos

arquitetônico como exemplos na aprendizagem.

Saindo para fora da sala de aula, é preciso falar, embora brevemente, sobre

as áreas de lazer, cuja importância não é percebida por todos os educadores e

administradores. São esses os locais mais admirados pelos estudantes e os mais

vistos pelos pais. Devem ser projetados em grande estilo, amplos, bem pensados,

sem esquecer de sua interligação com as salas de aula. O convívio proporcionado

pelas áreas de lazer também faz uma escola ser escola.

Partindo do pressuposto de que os pais ou mesmo os alunos escolhem a

escola pela primeira impressão que têm dela, começa-se pela fachada17. No caso de

17 Cada uma das faces externas de qualquer construção.

70

escola para crianças, evitar fachadas grandiosas, pois podem relacioná-las com

histórias de gigantes e terem medo de entrar. Algum detalhe ligado à faixa etária

deve ser usado, como bonecos e personagens de histórias infantis. Cores vibrantes

em detalhes também são importantes, pois são essas que as crianças vêem nos

primeiros anos de vida e assim podem se sentir mais em casa.

Já no caso de instituições para adolescentes, adultos ou de múltiplo uso,

buscar uma certa harmonia arquitetônica e evitar o exagero nos equipamentos de

segurança (muros, portões, grades, guaritas, alarmes etc.). Ou ao menos criar

elementos arquitetônicos para que eles se misturem aos outros elementos e

chamem menos atenção, como por exemplo um muro com painéis históricos da

instituição, histórias ou até com imagens dos cursos oferecidos na instituição. Uma

fachada com linhas exageradas pode causar a fobia das prisões. O ideal é colocar

portões discretos, harmônicos, nada muito alto, pois vale mais a pena contratar

pessoas para segurança do que erguer muros altos. Ou então usar telas decorativas

nos muros. Adolescentes e adultos dificilmente gostam de escolas muito coloridas,

pois na realidade eles “fogem” de tudo que lembra a infância. Por isso, cores pastéis

lsão a melhor opção, desde que seja uma cor forte, para chamar a atenção e

harmonizar a fachada.

Tanto no caso de crianças como no de adolescentes e adultos, seria

recomendável haver um espaço arborizado de até 200 metros (por lei, a escola é

responsável pelos alunos dentro do limite de 200 metros a contar da saída do

prédio), para que os estudantes disponham de um local para aguardar os pais,

esperar por caronas ou até mesmo para chegar mais cedo e ficar conversando com

os amigos num ambiente ligado à natureza. Nesse espaço poderia haver bancos,

árvores, canteiros, cascata etc., algo discreto mas aconchegante. Se possível,

71

aproveitar as idéias dos próprios alunos para compor esses ambientes (ANEXO 8,

FOTO 5). Sugere-se ainda a colocação de um outdoor com o nome e a filosofia da

escola, pois assim se chama os alunos e pais para entrar.

Um ponto falho em algumas escolas, principalmente nas grandes, é o

atendimento às visitas inesperadas. Os coordenadores não podem acompanhar o

visitante, o que é lamentável, pois eles têm um papel decisivo na escolha da

instituição escolar. Se as escolas não possuírem uma boa recepcionista para

mostrar a instituição ou encaminhar o visitante até a pessoa indicada, pode acabar

ali o sonho de estudar naquele local. Assim, é importante haver uma pessoa

treinada para atender e mostrar o espaço físico e a parte pedagógica. Melhor ainda

quando essa pessoa estudou na escola: ex-alunos aposentados são os mais

indicados para isso, pois se sentem honrados em prestar um serviço à instituição

que os formou. Da mesma maneira, alunos bolsistas poderiam dedicar parte de seu

tempo a esse trabalho, e transmitiriam sem esforços o prazer de estudarem naquela

escola.

Outra proposta é destinar uma sala para receber esses visitantes. A sala seria

decorada com fotos históricas da instituição (obras, equipamentos antigos e

modernos etc.) e quadros com a descrição dos cursos. O local poderia evoluir para

uma espécie de mini-museu e ser ampliado para um espaço que pudesse vir a ser

freqüentado por aposentados, professores, ex-funcionários e ex-alunos, como

acontece em algumas instituições tradicionais.

E para evitar o vazio das bibliotecas, pode-se adotar algumas soluções

arquitetônicas que atraiam os alunos. Uma das mais eficientes é o campo de visão:

quem não pensa melhor e até se inspira diante de uma vista panorâmica? Outra é

72

tornar a biblioteca mais leve, com plantas, móveis adequados, compondo um

ambiente de estudo mais caseiro, para que os alunos saiam de suas casas e

venham visitá-la, ou nem tenham a vontade de ir para casa. Os livros que chamam

mais atenção devem ser colocados em evidência, como em murais envidraçados.

Por fim, as áreas administrativas não devem ser fechadas e lacradas a sete

chaves para que os alunos não tenham acesso, pois quanto mais fechadas mais

induzem ao distanciamento, ao mistério e a um certo clima de suspeição. Por isso

devem ser abertas, com o mínimo de balcões. Tudo deve ser claro e transparente.

Como o ensino.

Como se percebe, o tema é bastante amplo e este trabalho poderia continuar

seguindo com o passar dos anos, pois novos materiais irão surgir, novas

tecnologias, novas necessidades pedagógicas, novos pensadores e administradores

escolares. Da mesma forma, a troca de informações e pesquisas entre educadores,

administradores, psicólogos, fonoaudiólogos, arquitetos e engenheiros deve estar

sempre presente para que se possa alcançar um melhor resultado e construir um

caminho mais consistente na criação de novas instituições escolares.

73

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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www.prossiga.com.br - acessada em 2004

76

ANEXOS

77

ANEXO 1 Altura das janelas

Foto 1: Sala de aula com a altura das janelas maior do que a própria janela, onde alguns alunos perdem a visibilidade externa, e a sala perde na ventilação.

1,10m

1,40m

78

Foto 2: Janelas iniciando mais baixo, proporcionando uma visibilidade maior da vista externa e melhor ventilação.

0,50m

1,60m

79

ANEXO 2 Janelas nas costas dos alunos

Foto 1: Propagação de sombra nas costas dos alunos impedindo luz direta para leitura.

80

Foto 2: Janela na lateral da sala, proporcionando luz

direta para o aluno.

81

Foto 3: Distribuição das janelas segundo Neufert.

82

ANEXO 3 Portas de salas de aula

Foto 1: Salas de aula com portas frente a frente, proporcionando melhor ventilação interna das salas e nos corredores.

83

Foto 2 : Salas de aula com portas cruzadas, dificultando o sistema de ventilação das salas de aula.

84

Foto 3: Portas das salas para o pátio e com detalhes em tijolo de vidro para tornar menos formal.

85

Foto 4: Sistema de salas de aula com portas para pátio central fechado

porém harmonioso e aconchegante.

86

Foto 5: Salas de aula com portas para as árvores e gramado, mais ar puro e menos ruídos internamente nas salas.

87

Foto 5 : Disposição das salas de aula. Foto 6: Disposição das salas de aula com pátio central. Segundo Neufert. Segundo Neufert.

88

Foto 7: Sistema de pátio central de uma das escolas de Arquitetura escolar paulista de 1890 – 1920.

89

Foto 8 e 9: Sistema de pátio central e salas de aula ao redor. Arquitetura escolar paulista de 1890 – 1920.

90

Foto 10: Disposição de salas de aula. Segundo Neufert. Foto 11: Sistema diferenciado na disposição das carteiras. Segundo Neufert.

91

ANEXO 4 Degraus em sala de aula

Foto 1: Ainda a existência de algumas salas de aula

com degrau, para melhor vigilância.

92

Foto 2: Novas salas de aula sem degrau, deixando o aluno no mesmo nível do que o educador.

93

ANEXO 5 Acústica, iluminação direta

Foto 1: Salas de aula com sistema acústico nas paredes, carteiras ergonômicas e iluminação indireta com suportes para ficar mais próximo ao usuário, colocada conforme as carteiras.

94

Foto 2: Quadro ocupando toda a parede, fazendo com que o quadro não crie diferença com a parede não cansando o aluno e ele passa a ter uma melhor visibilidade devido à iluminação estar no mesmo sentido.

95

Foto 3: Iluminação em diferentes sentidos dificultando

a visibilidade do aluno causando sombras.

96

Foto 4: Iluminação no sentido transversal das cadeiras causando sombra nas costas,

sendo assim na mesa do aluno sentado à trás.

97

Foto 5: Sistemas de ventilação segundo Neufert.

98

ANEXO 6 Área verde e escolas visitadas

Foto 1: pátio. Instituição 1

99

Foto 2: Laboratório. Instituição 1. Foto 3: Biblioteca. Instituição 1

100

Foto 4: Área verde criando uma barreira de barulho para salas de aula e sombras para os

alunos descasarem nos intervalos. Instituição 2.

101

Foto 5: Biblioteca. Instituição 2. Foto 6: Pátio coberto. Instituição 2.

102

Foto 7: Prédios com árvores ao redor para diminuir ruídos, embelezar e diminuir a poluição. Instituição 3.

103

Foto 8: Área florida e bem cuidada. Instituição 3. Foto 9: Árvores entre prédios. Instituição 3.

104

Foto 10: entrada da instituição 3. Foto 11: Biblioteca da instituição 3.

105

Foto 12: Árvores próximas às janelas favorecendo a diminuição dos ruídos. Instituição 4.

106

Foto 13: Pátio central da instituição 4. Foto 14: Entrada principal da instituição 4

107

Foto 15: Árvores mais distantes das janelas das salas não ajudando muito quanto a diminuição dos ruídos.

Instituição 5.

108

Foto 16: Pátio interno do prédio central. Instituição 5. Foto 17: Prédio da biblioteca. Instituição 5.

109

Foto 19: Sistemas dos prédios com pátios centrais. Instituição 6.

110

Foto 20: Vista da biblioteca . Instituição 6. Foto 21: Vista do laboratório de informática. Instituição 6.

111

Foto 22: Vista da sala de estudos informatizada. Instituição 6. Foto 23: Vista da sala do futuro. Instituição 6.

112

Foto 24: Móvel em salas de aula. Foto 25: Vista da sala de aula com quadro côncavo e tv. Instituição 6 Instituição 6

113

ANEXO 7 Distribuição dos prédios de sala de aula e Campus

Foto 1: Campus instituição 2 com área verde entre os prédios mas muito poucas árvores.

114

Foto 2: Plano diretor da instituição 3.

115

Foto 3: Campus universitário instituição 5 com uma grande área verde para deixar o ambiente mais leve e harmonioso.

116

ANEXO 8 Propostas discutidas e aceitas, até o momento, pela instituição 3

Foto 1: Portas colocadas uma frente as outras para melhor circulação de ar. Saída pelos

corredores para facilitar o cruzamento de circulação.

117

Foto 2: Janelas basculantes na parte superior das salas para um cruzamento de ar,

caso as portas estejam fechadas.

118

Foto 3: Banderolas na parte superior das portas e veneziana na parte inferior,

para renovação ar no caso das salas terem ar condicionado.

119

Foto 4: iluminação no mesmo sentido das carteiras para não causar sombras entre os alunos e tela

central para projeção onde todos os alunos possam ter uma melhor visão.

120

Foto 5: Pátio central coberto para que os alunos tenham um local para descontrair nos horários de

intervalos, tendo uma visam direta com a natureza.