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SH O W 32 BELÉM, DOMINGO, 31 DE AGOSTO DE 2014 squeça os sapatos Manolo Blahnik, os brindes com Cos- mopolitan e a entrada VIP nos endereços mais badalados de Nova York. As protagonistas de “Sexo e as Negas”, que estreia na Globo em setembro, passam lon- ge do glamour que fazia a cabeça das personagens da série “Sex & the City” (1998-2004). Mas nem por isso são menos interessantes. Zulma (Karin Hils), Tilde (Co- rina Sabbas), Soraia (Maria Bia) e Lia (Lilian Valeska) vivem con- flitos parecidos com os de Carrie (Sarah Jessica Parker) e compa- nhia, mas o cenário é o complexo da Cidade Alta, no bairro de Cor- dovil, na zona norte do Rio. “Eu falo de mulheres que, por acaso, moram em uma comuni- dade, mas que querem ficar boni- tas, querem arrumar homens que as amem e que cuidem de suas possíveis crias”, explica o autor Miguel Falabella. “É como qual- quer outra mulher no mundo”. Ele conta que a ideia do pro- grama surgiu quando visitou o local a convite da camareira que o acompanha, Nieta, que vive lá. Passou a observar as mulheres do local, “vibrantes, extremamente arrumadas e donas de outra rela- ção com o corpo”. Assim como na série ameri- cana, cada uma das amigas tem um perfil definido: Zulma é des- colada; Tilde, romântica; Soraia é a devoradora de homens; Lia, a batalhadora. “Escrevi os papéis para cada uma das atrizes”, diz Falabella, que já havia trabalhado com todas elas em musicais. A experiência, aliás, fez com que ele incluísse um clipe musical ao final de cada programa - a can- ção sempre tem a ver com o tema que norteia o episódio, como pre- conceito, mobilidade e cabelos. A produção marca também a volta da atriz Claudia Jimenez à TV, após problemas de saúde, como a dona do bar onde as ami- gas se reúnem. Vida própria - Apesar da re- ferência aos arquétipos de “Sex & the City”, as atrizes dizem que suas personagens têm vida pró- pria. Durante a preparação, as quatro fizeram laboratório no complexo da Cidade Alta. “O bacana é que essas mulhe- res têm uma autoestima muito grande”, observa Karin Hils. “En- quanto a gente está preocupada em gastar não sei quanto para se enfeitar, a autoafirmação delas vêm de dentro”, diverte-se. Para Lilian Valeska, as perso- nagens misturam referências da periferia e da classe alta, porque elas “trabalham na zona sul”. “Então têm influências que não são apenas do lugar onde mo- ram”, diz. E SÃO PAULO Folhapress n Zulma é descolada; Tilde, romântica; Soraia é a devoradora de homens; Lia, a batalhadora DIVULGAÇÃO “SEX & THE CITY” VAI À FAVELA ESTREIA EM SETEMBRO, NA GLOBO, “SEXO E AS NEGAS”. COMO NA SÉRIE NORTE-AMERICANA, AMIGAS VIVEM CONFLITOS FEMININOS. Após morte de Cybele, grupo gravará primeiro álbum em 8 anos Com Vinicius de Moraes e Car- los Lyra como padrinhos de car- reira, as irmãs Cylene, Cynara, Cy- bele e Cyva formaram o Quarteto em Cy e integraram a era de ouro da música popular, fortalecendo o cenário de grupos vocais no Brasil junto a conjuntos como Os Cario- cas, MPB4 e Trio Irakitan. Uma se- mana após a morte de Cybele, que há um ano já estava afastada das canções para passar mais tempo com sua família, o quarteto - hoje com Cynara, Cyva, Sonya e Keyla Fogaça -, segue em turnê que cele- bra os 50 anos de trajetória e prepa- ra álbum com canções inéditas de João Donato, Roberto Menescal, Marcos Valle e Carlos Lyra. Ao longo das décadas, o Quar- teto em Cy teve diversas forma- ções com a entrada e saída das irmãs em períodos diferentes, substituídas por outras cantoras que de alguma forma adotavam o “Cy” em seu nome, como Regina Werneck, que virou Cyregina em 1966 no lugar de Cylene. Em 1967, Cybele e Cynara deixaram o gru- po e juntas defenderam “Caroli- na” (Chico Buarque) no Festival da Canção de 1967, ficando em terceiro lugar. No ano seguinte, elas levaram o “Galo de Ouro” na competição com “Sabiá” (Tom Jo- bim e Chico Buarque). As duas canções integram a atual turnê do Quarteto em Cy, que além de comemorar as cinco décadas, celebra também os 70 anos de Chico Buarque, grande parceiro das irmãs que já havia sido homenageado em 1991 com o disco “Chico em Cy”. “Cantar essas duas músicas agora vai ser barra demais para mim, é tudo muito doloroso”, comenta Cyna- ra. “Ao mesmo tempo é a maneira de lembrar dela ali no palco, onde mais gostava de estar. Perdemos o chão com a morte da Cybele. Sempre fomos muito unidas e temos uma história juntas. Per- der um pai e uma mãe faz parte da vida, se despedir de uma irmã maravilhosa é muito difícil”. Há cerca de um ano Keyla as- sumiu o posto de Cybele em show em Belo Horizonte (MG), e no próximo dia 20 o grupo retorna à cidade, desta vez com a turnê “Olhos nos Olhos” – que ainda acontece em 26, 27 e 28 em Salva- dor (BA) e no dia 23 de outubro no Rio de Janeiro, com mais datas em negociações. Nas apresentações QUARTETO EM CY A atriz Maria Bia, comemora o fato de a Globo ter escolhido qua- tro mulheres negras para prota- gonizar a atração. “A gente está levantando a bola dessas mulheres. A série mostra, por exemplo, que você pode ter cabelo crespo e bonito. Eu sentia - e sinto - falta dessas referências”. Já Corina Sabbas destaca que a série levanta também a ques- tão da amizade feminina. “Não acredito nessa história de que mulher não consegue ser amiga de outra mulher”, afirma. “Essa cumplicidade que elas têm na série a gente tem na vida tam- bém”. atuais, canções do compositor são intercaladas por causos da carreira do quarteto e da relação de amiza- de com Buarque. A história das irmãs de Ibira- taia, na Bahia, é conhecida. Foi por meio do projeto sociocultural intitulado “Hora da Criança” que elas começaram a cantar de forma despretensiosa. Em viagem ao Rio de Janeiro no início da década de 60, contudo, Cyva ficou amiga de Vinicius e de Lyra. Ambos acaba- ram posteriormente conhecendo também Cylene, Cynara, Cybele e incentivando a criação do con- junto vocal. O primeiro disco, ho- mônimo, com arranjos de Eumir Deodato e Luís Carlos Vinhas, e arranjos vocais de Carlos Castilho, saiu em 1964 e deu início a uma só- lida carreira estruturada no talen- to das Cys somado a parcerias com grandes compositores, entre eles Edu Lobo, Baden Powell, Vinicius, Lyra, Buarque, Tom Jobim e Billy Blanco. Cynara, no entanto, não nega as dificuldades de manter o grupo em constante produção em um ce- nário musical bastante distinto ao de anos atrás. Com uma discogra- fia que conta com quase 40 álbuns, o último, “Samba em Cy”, foi lan- çado em 2006. Ela argumenta que o Quarteto em Cy nunca quis se submeter às regras do mercado em detrimento de valores próprios. “Jamais fizemos concessões e sempre respeitamos nossas es- colhas como grupo. Acreditamos nesse caminho da boa música brasileira. Hoje anda tudo muito chulo”, diz. “Sempre tivemos coe- rência no nosso repertório. E bom gosto tanto nas escolhas das com- posições, quanto em harmonia, melodia. Os anos 60 nos deram ídolos que continuam os mesmos e sempre representamos essa leva de grandes compositores”. Segundo ela, “a turma dos anos 60 não grava mais como antiga- mente”. “Temos que correr atrás de coisas independentes porque as gravadoras hoje em dia só querem saber de hit e sucesso imediato”. Para o álbum que interromperá o hiato de oito anos longe dos estú- dios, o quarteto teve o projeto apro- vado via Lei de Incentivo ISS e agora está em negociações em busca do patrocínio. “As canções do Donato, Menescal, Marcos Valle e Carlos Lyra são todas novas e foram com- postas para nós”, comenta, exempli- ficando o laço do Quarteto em Cy à “velha guarda”. Por ora sem data de lançamento, as gravações terão iní- cio ainda este ano. Outra novidade que deve chegar ao mercado em algum momento de 2015 é o box da série “Tons”, da gravadora Univer- sal, com a reedição em CD dos tí- tulos “Som Definitivo” (1966) - que Cynara aponta como o melhor da carreira do grupo -, “Antologia do Samba Canção” (1975) e “Quarteto em Cy Interpreta Gonzaguinha, Caetano, Ivan, Milton” (1980). Fã de grupos vocais mais recen- tes, como o Mulheres de Hollanda, Cynara não abre mão de elogios ao ofício - ainda que o formato não alcance mais o mainstream como antigamente. “Você se sente muito vivo cantando com outras pessoas para tornar aquela junção de vozes um timbre único. Não há espaço para ego.” NOVOS TEMPOS: “HOJE ANDA TUDO MUITO CHULO”, DIZ CYNARA

show BELÉM, DOMINGO, 31 DE aGOstO DE 2014 “Sex & the … · local, “vibrantes, extremamente arrumadas e donas de outra rela-ção com o corpo”. Assim como na série ameri-cana,

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show32

BELÉM, DOMINGO, 31 DE aGOstO DE 2014

squeça os sapatos Manolo Blahnik, os brindes com Cos-mopolitan e a entrada VIP

nos endereços mais badalados de Nova York. As protagonistas de “Sexo e as Negas”, que estreia na Globo em setembro, passam lon-ge do glamour que fazia a cabeça das personagens da série “Sex & the City” (1998-2004). Mas nem por isso são menos interessantes.

Zulma (Karin Hils), Tilde (Co-rina Sabbas), Soraia (Maria Bia) e Lia (Lilian Valeska) vivem con-flitos parecidos com os de Carrie (Sarah Jessica Parker) e compa-nhia, mas o cenário é o complexo da Cidade Alta, no bairro de Cor-dovil, na zona norte do Rio.

“Eu falo de mulheres que, por acaso, moram em uma comuni-dade, mas que querem ficar boni-tas, querem arrumar homens que as amem e que cuidem de suas possíveis crias”, explica o autor Miguel Falabella. “É como qual-quer outra mulher no mundo”.

Ele conta que a ideia do pro-grama surgiu quando visitou o local a convite da camareira que o acompanha, Nieta, que vive lá. Passou a observar as mulheres do local, “vibrantes, extremamente arrumadas e donas de outra rela-ção com o corpo”.

Assim como na série ameri-cana, cada uma das amigas tem

um perfil definido: Zulma é des-colada; Tilde, romântica; Soraia é a devoradora de homens; Lia, a batalhadora. “Escrevi os papéis para cada uma das atrizes”, diz Falabella, que já havia trabalhado com todas elas em musicais.

A experiência, aliás, fez com que ele incluísse um clipe musical ao final de cada programa - a can-ção sempre tem a ver com o tema que norteia o episódio, como pre-conceito, mobilidade e cabelos.

A produção marca também a volta da atriz Claudia Jimenez à TV, após problemas de saúde, como a dona do bar onde as ami-gas se reúnem.

Vida própria - Apesar da re-ferência aos arquétipos de “Sex & the City”, as atrizes dizem que suas personagens têm vida pró-pria. Durante a preparação, as quatro fizeram laboratório no complexo da Cidade Alta.

“O bacana é que essas mulhe-res têm uma autoestima muito grande”, observa Karin Hils. “En-quanto a gente está preocupada em gastar não sei quanto para se enfeitar, a autoafirmação delas vêm de dentro”, diverte-se.

Para Lilian Valeska, as perso-nagens misturam referências da periferia e da classe alta, porque elas “trabalham na zona sul”. “Então têm influências que não são apenas do lugar onde mo-ram”, diz.

eSÃO PAULO

Folhapress

n Zulma é descolada; Tilde, romântica; Soraia é a devoradora de homens; Lia, a batalhadora

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“Sex & the City” vai à favelaEstrEia Em sEtEmbro, na Globo, “sExo E as nEGas”. Como na sériE nortE-amEriCana, amiGas vivEm Conflitos fEmininos.

Após morte de Cybele, grupo gravará primeiro álbum em 8 anosCom Vinicius de Moraes e Car-

los Lyra como padrinhos de car-reira, as irmãs Cylene, Cynara, Cy-bele e Cyva formaram o Quarteto em Cy e integraram a era de ouro da música popular, fortalecendo o cenário de grupos vocais no Brasil junto a conjuntos como Os Cario-cas, MPB4 e Trio Irakitan. Uma se-mana após a morte de Cybele, que há um ano já estava afastada das canções para passar mais tempo com sua família, o quarteto - hoje com Cynara, Cyva, Sonya e Keyla Fogaça -, segue em turnê que cele-bra os 50 anos de trajetória e prepa-ra álbum com canções inéditas de João Donato, Roberto Menescal, Marcos Valle e Carlos Lyra.

Ao longo das décadas, o Quar-teto em Cy teve diversas forma-ções com a entrada e saída das irmãs em períodos diferentes, substituídas por outras cantoras que de alguma forma adotavam o “Cy” em seu nome, como Regina Werneck, que virou Cyregina em 1966 no lugar de Cylene. Em 1967, Cybele e Cynara deixaram o gru-po e juntas defenderam “Caroli-na” (Chico Buarque) no Festival da Canção de 1967, ficando em terceiro lugar. No ano seguinte,

elas levaram o “Galo de Ouro” na competição com “Sabiá” (Tom Jo-bim e Chico Buarque).

As duas canções integram a atual turnê do Quarteto em Cy, que além de comemorar as cinco décadas, celebra também os 70 anos de Chico Buarque, grande parceiro das irmãs que já havia sido homenageado em 1991 com o disco “Chico em Cy”. “Cantar essas duas músicas agora vai ser barra demais para mim, é tudo muito doloroso”, comenta Cyna-ra. “Ao mesmo tempo é a maneira de lembrar dela ali no palco, onde mais gostava de estar. Perdemos o chão com a morte da Cybele. Sempre fomos muito unidas e temos uma história juntas. Per-der um pai e uma mãe faz parte da vida, se despedir de uma irmã maravilhosa é muito difícil”.

Há cerca de um ano Keyla as-sumiu o posto de Cybele em show em Belo Horizonte (MG), e no próximo dia 20 o grupo retorna à cidade, desta vez com a turnê “Olhos nos Olhos” – que ainda acontece em 26, 27 e 28 em Salva-dor (BA) e no dia 23 de outubro no Rio de Janeiro, com mais datas em negociações. Nas apresentações

Quarteto em Cy

A atriz Maria Bia, comemora o fato de a Globo ter escolhido qua-tro mulheres negras para prota-gonizar a atração.

“A gente está levantando a bola dessas mulheres. A série mostra,

por exemplo, que você pode ter cabelo crespo e bonito. Eu sentia - e sinto - falta dessas referências”.

Já Corina Sabbas destaca que a série levanta também a ques-tão da amizade feminina. “Não

acredito nessa história de que mulher não consegue ser amiga de outra mulher”, afirma. “Essa cumplicidade que elas têm na série a gente tem na vida tam-bém”.

atuais, canções do compositor são intercaladas por causos da carreira do quarteto e da relação de amiza-de com Buarque.

A história das irmãs de Ibira-taia, na Bahia, é conhecida. Foi por meio do projeto sociocultural intitulado “Hora da Criança” que elas começaram a cantar de forma

despretensiosa. Em viagem ao Rio de Janeiro no início da década de 60, contudo, Cyva ficou amiga de Vinicius e de Lyra. Ambos acaba-ram posteriormente conhecendo também Cylene, Cynara, Cybele e incentivando a criação do con-junto vocal. O primeiro disco, ho-mônimo, com arranjos de Eumir

Deodato e Luís Carlos Vinhas, e arranjos vocais de Carlos Castilho, saiu em 1964 e deu início a uma só-lida carreira estruturada no talen-to das Cys somado a parcerias com grandes compositores, entre eles Edu Lobo, Baden Powell, Vinicius, Lyra, Buarque, Tom Jobim e Billy Blanco.

Cynara, no entanto, não nega as dificuldades de manter o grupo em constante produção em um ce-nário musical bastante distinto ao de anos atrás. Com uma discogra-fia que conta com quase 40 álbuns, o último, “Samba em Cy”, foi lan-çado em 2006. Ela argumenta que o Quarteto em Cy nunca quis se submeter às regras do mercado em detrimento de valores próprios.

“Jamais fizemos concessões e sempre respeitamos nossas es-colhas como grupo. Acreditamos nesse caminho da boa música brasileira. Hoje anda tudo muito chulo”, diz. “Sempre tivemos coe-rência no nosso repertório. E bom gosto tanto nas escolhas das com-posições, quanto em harmonia, melodia. Os anos 60 nos deram

ídolos que continuam os mesmos e sempre representamos essa leva de grandes compositores”.

Segundo ela, “a turma dos anos 60 não grava mais como antiga-mente”. “Temos que correr atrás de coisas independentes porque as gravadoras hoje em dia só querem saber de hit e sucesso imediato”. Para o álbum que interromperá o hiato de oito anos longe dos estú-dios, o quarteto teve o projeto apro-vado via Lei de Incentivo ISS e agora está em negociações em busca do patrocínio. “As canções do Donato, Menescal, Marcos Valle e Carlos Lyra são todas novas e foram com-postas para nós”, comenta, exempli-ficando o laço do Quarteto em Cy à “velha guarda”. Por ora sem data de lançamento, as gravações terão iní-

cio ainda este ano. Outra novidade que deve chegar ao mercado em algum momento de 2015 é o box da série “Tons”, da gravadora Univer-sal, com a reedição em CD dos tí-tulos “Som Definitivo” (1966) - que Cynara aponta como o melhor da carreira do grupo -, “Antologia do Samba Canção” (1975) e “Quarteto em Cy Interpreta Gonzaguinha, Caetano, Ivan, Milton” (1980).

Fã de grupos vocais mais recen-tes, como o Mulheres de Hollanda, Cynara não abre mão de elogios ao ofício - ainda que o formato não alcance mais o mainstream como antigamente. “Você se sente muito vivo cantando com outras pessoas para tornar aquela junção de vozes um timbre único. Não há espaço para ego.”

novos tEmpos: “HojE anda tudo muito CHulo”, diz Cynara

show33

BELÉM, DOMINGO, 31 DE aGOstO DE 2014

faCilidade e perigo na netpoEtas, anônimos E ConsaGrados, busCam as rEdEs soCiais para dissEminar poEmas E tEmEm pláGio

ompartilhamento é a palavra chave das redes sociais. É por meio delas que artistas, fa-

mosos ou anônimos, disseminam as suas obras. Um exemplo muito comum desse fato é o uso do Fa-cebook por alguns poetas paraen-ses como Antônio Juraci Siqueira, Alex Contente, Jorge Andrade e Eduardo Santos. Os quatro, as-sim como muitos outros poetas, usam esse site de relacionamento para apresentar suas obras quase todos os dias. Mas é preciso ter muito cuidado com o plágio, um tipo de crime muito comum, com pena prevista em lei.

Além de poeta, Antônio Juraci Siqueira é filósofo, formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA). O marajoara de Cajary, município de Afuá, descobriu a literatura nos folhetos de cordel quando era criança. O poeta per-tence a várias entidades litero-culturais, entre as quais a União Brasileira de Trovadores, Centro Paraense de Estudos do Folclore, Malta de Poetas Folhas & Ervas e Cirandeiros da Palavra.

Juraci leciona Filosofia, além de desempenhar o papel de ofi-cineiro de literatura, contador de histórias e performista. Ele possui

80 títulos individuais publicados entre folhetos de cordel, livros de poesias, contos, crônicas, litera-tura infantil, histórias humorís-ticas e versos picantes. Colabora com jornais, revistas e boletins culturais do município e de ou-tras localidades, e usa o Facebook para divulgar os seus trabalhos li-terários: “É a ferramenta dos nossos dias e tem um alcance maior e mais rápido que os outros meios de co-municação”, diz, acrescentando: “O retorno é o melhor possível. Tenho dois perfis e cinco mil amigos, além de vários seguidores. Uso meus perfis exclusivamente para divul-gar literatura, a minha e de outros autores. E mesmo não marcando ninguém em minhas postagens, elas são muito comentadas, com-partilhadas e curtidas, chegando facilmente às centenas”.

Mas Juraci já foi vítima: “Não só já fui plagiado várias vezes como já se apropriaram de traba-lhos meus. Isso é um risco que se corre sempre. Não tomo cuidado nenhum. No início de carreira re-gistrei meus primeiros três livros no escritório de Direitos Autorais, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, mas depois larguei dessa marmota. Só os bons são plagia-dos, então podem plagiar à vonta-de que não estou nem aí”.

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n Antônio Juraci: “Só os bons são plagiados, então podem plagiar à vontade, que não estou nem aí”

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Outro poeta que também usa o Facebook é o paraense Alex Contente que alega nun-ca ter sonhado em ser poeta, já que escrever sempre foi na-tural para ele. Fruto de muita leitura quando criança, onde os gibis o deixavam encantado. “Adorava Mauricio de Sousa; foi natural começar a escrever e foi natural que isso evoluís-se”, diz. No final de 2011, por incentivo de uma amiga, Alex começou a divulgar os seus

trabalhos pela internet. “Até então eu nem pensava nisso; o barato mesmo era escrever. Até que, no final do mesmo ano, me atrevi em publicar minhas poe-sias no Facebook. Eis que logo depois me veio a incrível ideia: o blog. Assim nasceu o www.fala-campeao.blogspot.com. O nome é meio estranho, mas sintetiza meu lado batalhador”, afirma Contente, que também acredita que há muitos internautas mal-intencionados, se escondendo

pelo mundo virtual, mesmo na hora de fazer críticas destrutivas na web. Mas, ao contrário de Ju-raci, Alex tem como se defender do plágio: “A síndrome do copia e cola é outro sintoma alarman-te, mas no meu caso, eu tenho (quase) tudo escrito à mão, e da-tado. Possuo um blog, que cha-mo carinhosamente de diário maldito, onde tudo o que quero dizer está soterrado lá, desde a minha estreia. Então, não preo-cupo quanto a isso.”

alEx ContEntE GarantE quE nunCa sonHou Em sE tornar poEta

Álvaro Jorge de Sena Andrade, mais conhecido como Jorge An-drade, também usa o Facebook para divulgar as suas obras lite-rárias. Formado em Letras pela UFPA, é professor da rede pública desde 1985 e também é letrista e contista. Possui publicações em revistas, participações em anto-logias poéticas, já compôs com grandes nomes da música para-

ense e nacional. Jorge Andrade explica: “Passei a utilizar a inter-net, assim como deixei de usar a caneta, a máquina de escrever, e agora a internet que tem os recur-sos do lápis, da caneta, da máqui-na e outros que vieram com ela, como a veiculação, comercializa-ção, diálogo etc.”, diz.

Ele acredita que a internet pos-sui muitas utilidades: “Você qua-

se que dispensa mediadores, dife-rente do livro, que é outro veículo, outra via, e de igual importância. Quero dizer que não deixei de uti-lizar meus poemas em livro con-vencional, usarei, quero, desejo editar meus livros também em versão impressa, mas enquanto não consigo, a internet me auxilia a colocá-los na rua, nas mãos das pessoas”.

jorGE andradE também usa o faCEbook para divulGar suas obras

Há quase três décadas o poeta Eduardo Santos escreve poesias. É reconhecido pela mídia e pro-fissionais literários como o poe-ta das praças. Possui produção artesanal de livros e já os levou para diversos programas de rede nacional. É considerado o maior produtor de livros feitos à mão.

Atualmente, ministra bate-papos e oficinas em escolas e universi-dades da rede pública e particular da Região Metropolitana de Be-lém. Com a sua livraria itinerante, adaptada à sua bicicleta, divulga sua poesia e comercializa seus livros nas principais praças da cidade. Mesmo com doze livros

publicados, na maioria poemas, dois CDs de poemas narrados, um DVD de videobook e um fil-me, Eduardo Santos não dispensa a internet para divulgar as suas obras literárias e está precavido contra o plágio, pois todas as suas poesias, textos e artigos estão de-vidamente registrados.

Eduardo santos diz quE EsCrEvE poEsia Há quasE três déCadas

O PLÁGIO E A LEI

O advogado Diego Almeida, es-pecialista em Direito Digital, explica que há punição para o plágio e que ela poderá ocorrer tanto na esfera cível como na criminal. “As obras autorais possuem ao mesmo tempo caráter moral, que diz respeito à honra e re-putação do autor, e patrimonial, já que integra o patrimônio de seu autor ou de seu titular. Pela legislação autoral brasileira, quem transmite ou retrans-mite uma obra protegida por direitos autorais sem a devida autorização, ou a faz sem mencionar o nome do autor responde integralmente pela conduta, podendo lhe ser imputado, na esfera civil, dever de reparação de caráter material (danos patrimoniais que o autor deixou de auferir com o uso irregular da obra) e morais (pela usur-pação de sua criação sem a atribuição dos devidos créditos), cabendo ao juiz atribuir o montante a ser estabelecido

como indenização, com base nos da-nos materiais efetivamente compro-vados e levando em consideração as situações fáticas para a definição do montante a ser atribuído pelos danos morais causados”, alerta o advogado.

Diego Almeida explica que, na esfe-ra penal, a punição pode variar de três meses a um ano de detenção em regi-me semiaberto, ou multa, em caso de infração sem fins comerciais, ou de dois a quatro anos de reclusão, e multa em caso de infração com intuito de lucro direto ou indireto. O advogado esclarece que, além de haver uma lei que regulamen-ta os Direitos Autorais, a Lei 9.610/98, a proteção ao direito de autor está previs-ta na Constituição Federal em seu artigo 5°, incisos XXVII e XXVIII. A lei do Marco Civil da internet no Brasil entrou em vi-gor no dia 23 de junho deste ano, mas não abordou pontos essenciais sobre os direitos autorais no ciberespaço.

n Alex Contente não teme o plágio de suas poesias na rede

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viviAnny mAtOSEspecial para o jornal Amazônia