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SIERJ inicia novo projeto – o Clube de Infectologia do Rio SIERJ fechou o ano de 2010 com avanços importantes. Mantivemos os trabalhos até então em curso e iniciamos um novo projeto – o Clube de Infec- tologia do Rio. O Clube de Infectologia foi concebido como uma reunião mensal para agregar médicos dos Serviços de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, mas está aberto a todos os interes- sados em mergulhar neste encantador univer- so da Infectologia. Teremos casos clínicos com apresentação feita por médicos residentes e moderados por professores ou preceptores dos residentes dos Serviços de Infectologia. Em algumas reuniões, teremos apresentações em formato diferenciado, seja como palestras ou mesas-redondas, sempre objetivando o melhor aproveitamento do tema proposto. O Clube de Infectologia já tem agenda para 2011, que será divulgado no site da SIERJ. Estamos também em fase final de organiza- ção do II Fórum de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, que neste ano acontecerá em Volta Redonda, com a realização conjunta da SIERJ e UniFoa (Centro Universitário de Volta Redonda). A data está marcada para 13 e 14 de maio, sendo que o programa e outras informa- ções podem ser acessados no site do Fórum - www.unifoa.edu.br/infectologia. O Fórum de Infectologia tem sido programado para os anos em que não realizamos nosso Congresso Regional. Enquanto o Congresso é sempre re- alizado na cidade do Rio de Janeiro, o Fórum sempre acontece em uma cidade importante do interior de nosso Estado, integrando mais os especialistas das diversas regiões. Nesta edição do Boletim Informativo da SIERJ, temos a publicação de dois artigos: “Esporo- tricose zoonótica no Rio de Janeiro ainda sem controle” , de autoria da Dra. Maria Clara Gutier- rez Galhardo; e “Doenças infecciosas relaciona- das às inundações” , da Dra. Dominique Thiel- mann e do Dr. Alberto Chebabo. Os temas abordados nos artigos são de extre- ma importância: o primeiro por tratar-se de doença com aumento progressivo do número de casos ocorrido nos 10 últimos anos, ainda sem medidas efetivas de controle, além de ge- rar sequelas físicas e emocionais nos pacientes acometidos; o segundo por abordar doenças já conhecidas que se apresentam em novo panorama, cada vez mais frequente, que são situações de catástrofe, via de regra associada a inundações e doenças infecciosas de trans- missão hídrica. Boa leitura! E, fica o convite para participar dos nossos eventos. “A Operação Lei Seca já salvou mais de 5.000 vidas.” A Dr. Mauro Treistman, Presidente da SIERJ 1 Ano 11 – nº 34 / 2011

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SIERJ inicia novo projeto – o Clube de Infectologia do Rio

SIERJ fechou o ano de 2010 com avanços importantes. Mantivemos os trabalhos até então em curso e

iniciamos um novo projeto – o Clube de Infec-tologia do Rio.

O Clube de Infectologia foi concebido como uma reunião mensal para agregar médicos dos Serviços de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, mas está aberto a todos os interes-sados em mergulhar neste encantador univer-so da Infectologia. Teremos casos clínicos com apresentação feita por médicos residentes e moderados por professores ou preceptores dos residentes dos Serviços de Infectologia. Em algumas reuniões, teremos apresentações em formato diferenciado, seja como palestras ou mesas-redondas, sempre objetivando o melhor aproveitamento do tema proposto. O Clube de Infectologia já tem agenda para 2011, que será divulgado no site da SIERJ.

Estamos também em fase fi nal de organiza-ção do II Fórum de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, que neste ano acontecerá em Volta Redonda, com a realização conjunta da SIERJ e UniFoa (Centro Universitário de Volta Redonda). A data está marcada para 13 e 14 de maio, sendo que o programa e outras informa-ções podem ser acessados no site do Fórum - www.unifoa.edu.br/infectologia. O Fórum

de Infectologia tem sido programado para os anos em que não realizamos nosso Congresso Regional. Enquanto o Congresso é sempre re-alizado na cidade do Rio de Janeiro, o Fórum sempre acontece em uma cidade importante do interior de nosso Estado, integrando mais os especialistas das diversas regiões.

Nesta edição do Boletim Informativo da SIERJ, temos a publicação de dois artigos: “Esporo-tricose zoonótica no Rio de Janeiro ainda sem controle”, de autoria da Dra. Maria Clara Gutier-rez Galhardo; e “Doenças infecciosas relaciona-das às inundações”, da Dra. Dominique Thiel-mann e do Dr. Alberto Chebabo.

Os temas abordados nos artigos são de extre-ma importância: o primeiro por tratar-se de doença com aumento progressivo do número de casos ocorrido nos 10 últimos anos, ainda sem medidas efetivas de controle, além de ge-rar sequelas físicas e emocionais nos pacientes acometidos; o segundo por abordar doenças já conhecidas que se apresentam em novo panorama, cada vez mais frequente, que são situações de catástrofe, via de regra associada a inundações e doenças infecciosas de trans-missão hídrica.

Boa leitura! E, fi ca o convite para participar dos nossos eventos.

“A Operação Lei Seca já salvou mais

de 5.000 vidas.”

A

Dr. Mauro Treistman,

Presidente da SIERJ

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Presidente: Mauro Sergio TreistmanVice Presidente: Alberto ChebaboSecretária-Geral: Lia Adler ChermanPrimeira-Secretária: Marília de Abreu SilvaPrimeira-Tesoureira: Maria Christina Baltar Machay'Segunda-Tesoureira: Valéria Ribeiro GomesCoordenadora de Informática Médica: Karla Ronchini

REGIONAIS DA SIERJCoordenador geral: J. Samuel KierszenbaumMetropolitana I: Jorge Eurico RibeiroAbrangência: Angra dos Reis - Belford Roxo - Duque de Caxias - ItaguaíJaperi - Magé - MangaratibaMesquita - Nilópolis - Nova Iguaçu Queimados - Rio de JaneiroSão João de Meriti - SeropédicaMetropolitana II: Ralph Antonio X. FerreiraAbrangência: Itaboraí - Maricá - Niterói Rio Bonito - São Gonçalo - Silva Jardim - TanguáSerrana: Délia Celser EngelAbrangência: Bom Jardim – Canta-galo Carmo – Cachoeiras de Macacú Cordeiro – Duas Barras – Guapimirim Macuco - Nova Friburgo – Petrópo-lis - Teresópolis – Trajano de Morais São Jose do Vale do Rio Preto – São Sebastião do Alto - Santa Maria Madalena – SumidouroCentro-Sul Fluminense: Lucio CaparelliAbrangência: Areal – Comendador Levy Gasparian - Engenheiro Paulo de Frontin – Mendes – Miguel Pereira Paracambi – Paraíba do Sul - Pati de Al-feres – Sapucaia – Três Rios - VassourasNoroeste Fluminense: Aloísio Tinoco de Siqueira FilhoAbrangência: Aperibe – Bom Jesus de Itabapoana – Cambuci - Cardoso Moreira – Italva – Itaocara – Itaperuna Lage do Muriaé – Miracema – Natividade Porciúncula – Santo Antonio de Pádua São Jose de Ubá - Varre-Sai.Norte Fluminense: Nélio Artilles FreitasAbrangência: Campos dos Goytacazes Conceição de Macabú – Macaé – Quis-samã – São Fidélis – São Francisco de Itabapoana - São João da BarraBaixada Litorânea:Apparecida Castorina Monteiro dos SantosAbrangência: Araruama – Armação dos Búzios - Arraial do Cabo – Cabo Frio – Casemiro de Abreu – Iguaba Grande - Rio das Ostras - Saquarema São Pedro da AldeiaMédio Paraíba:Bernardo CalvanoAbrangência: Barra Mansa – Barra do Piraí – Itatiaia – Paraty - Pinheiral - Piraí Porto Real – Quatis – Resende – Rio Claro - Rio das Flores – Valença – Volta Redonda

Jornalista responsável: Juliana Temporal (MTb 19.227)Projeto gráfico: Julio Leiria, Daniel MeirelesEditoração eletrônica: Selles & Henning Comunicação IntegradaTiragem: 2.000 exemplaresPeriodicidade: trimestral

Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro - SIERJAv. Mem de Sá, 197, Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20.230-150Tel. (21) 2507-3353 - Fax: (21) 2509-0333E-mail: [email protected] – Site: www.sierj.org.br

Boletim Informativo da SIERJ

Os artigos publicados neste boletim são de inteira responsabilidade de seus autores, não expressando, necessariamente, a opinião da SIERJ.

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Esporotricose zoonótica no Rio de Janeiro ainda sem controle

esporotricose é uma micose de evo-lução subaguda ou crônica do ser hu-mano e animal, causada pelo fungo di-

mórfico Sporothrix schenckii. É a principal micose subcutânea da América Latina. O fungo vive sa-profiticamente na natureza e a infecção ocorre por inoculação direta com matéria orgânica contaminada. Alguns animais têm sido relacio-nados à transmissão zoonótica do S. schenckii, mas esta forma de transmissão é rara.

No Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Cha-gas (IPEC)/Fiocruz, desde 1998, verificamos um aumento do número de casos de esporotricose. Hoje, soma-se mais de 2000, contrastando aos 13 casos nos 12 anos anteriores. A este número de casos inicialmente denominamos de surto, mas com a sua extensão, de epidemia, e agora, pelo passar de mais de uma década, de ende-mia. Ao compararmos os anos 2005-2008 com os períodos anteriores, verificamos um aumento de 85% de casos por ano. Entretanto, por não ser uma doença de notificação compulsória, não há registro de sua atual magnitude no estado do Rio de Janeiro.

Os municípios mais afetados são Rio de Janeiro (bairros da zona norte e oeste), Duque de Caxias, São João de Meriti, Nova Iguaçu, Nilópolis Mes-quita e Belford Roxo. Os gatos com esporotrico-se estão envolvidos na cadeia de transmissão da doença em quase 90% dos casos e, geralmente, a maioria dos pacientes sofreu algum tipo de trauma provocado por estes (arranhadura, mor-dedura). Entretanto, em torno de 30% co-habi-tam com o animal, mas negam trauma prévio e provavelmente a doença se transmitiu pelo simples contato. Os gatos com esporotricose constituem um importante reservatório da do-

ença tendo o fungo isolado em 100% das lesões cutâneas, 66,2% das cavidades nasais, 41,8% das cavidades orais e 39,5% das unhas destes ani-mais. Cães podem exibir a esporotricose, mas não apresentam esta magnitude. A similitude genética entre cepas de S. schenckii isoladas de alguns gatos e de seus donos com a micose foi comprovada por Reis et al.

Em todas as casuísticas de esporotricose do IPEC, estudadas ao longo destes anos, há predo-mínio de mulheres, entre a 4ª e a 6ª década de vida com atividades domésticas, além do desta-que para jovens estudantes e senhores aposen-tados, os quais, por suposição, passam boa parte do tempo no domicílio e com contato íntimo com os gatos afetados. É preocupante a relati-va alta proporção de crianças afetadas (5,3%) na primeira década de vida, quando comparado com os dados históricos de casos de esporotri-cose por inoculação traumática direta de solo e plantas, que classicamente afetam o homem rural, adulto que profissionalmente ou por lazer se expõe ao fungo.

As formas clínicas encontradas concordaram com as classicamente diagnosticadas da doença, com amplo predomínio da forma linfocutânea (65,8%) e da cutânea fixa (25,4%). Entretanto, o que nos chama a atenção é a diversidade de for-mas clínicas consideradas raras em alguns des-tes pacientes. A forma cutânea disseminada está presente em 7,2% dos casos, em indivíduos sem imunodepressão, o que deve refletir as diversas lesões proporcionadas por múltiplos inóculos (arranhões e mordeduras pelo gato) desta for-ma de transmissão. A forma extracutânea ocorre em 1,5% dos casos, principalmente com acome-timento ocular em mucosa conjuntival. Uma das

A

Dra. Maria Clara Gutierrez Galhardo

Médica do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas/Fiocruz,

Mestrado (Doenças Infecciosas) e Doutorado (Dermatologia)

pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pós-Doutorado no

Instituto de la Salud Carlos III, Madri - Espanha

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hipóteses para esta forma de apresentação rara seja os espirros frequentes, devido ao acometi-mento do trato respiratório do animal doente, possibilitando a inoculação do fungo neste local (Schubach T et al. 2004). As reações de hipersen-sibilidade pela primeira vez descritas associadas à esporotricose, como eritema nodoso, eritema multiforme e outras formas, podem chegar até a 10% nesta forma zoonótica de transmissão.

Com o processo de endemização da esporotri-cose e o fato do IPEC ser centro de referência para diversas doenças infecciosas, observamos a sua associação com HIV, HTLV-1, hepatites B e C, tuberculose, hanseníase, entre outras. Entretan-to, a associação com a infecção pelo HIV é a que mais se destaca. Hoje, somam-se mais de 30 pa-cientes com estas duas infecções, casuística que consideramos elevada devido aos poucos casos descritos na literatura. Provavelmente, com a pauperização da infecção pelo HIV no Brasil e no Rio de Janeiro, se superpõem às zonas carentes onde hoje se insere a esporotricose.

Em relação à infecção pelo HIV, há um predomí-nio de homens e as formas clínicas estão na de-pendência da imunidade dos pacientes. Pacien-tes com a preservação da imunidade nota-se um predomínio das formas clássicas de esporo-tricose (linfocutânea e cutânea fixa). Entretanto, em pacientes com imunodeficiência instalada, com linfócitos T CD4+ abaixo de 200/µL for-mas cutâneas disseminadas e disseminadas são observadas. Assinalamos que a esporotricose neste contexto surge, muitas vezes, como a pri-meira infecção oportunística, em pacientes que desconheciam a sua condição de imunodepres-são. Da mesma forma, em pacientes com imu-nodepressão avançada, que iniciaram terapia antiretroviral, durante o tratamento da micose, observamos quadros atípicos e inflamatórios da esporotricose durante a recuperação imune destes pacientes.

No que tange ao tratamento da esporotricose, o itraconazol na dose de 100mg/dia é o fárma-co de eleição com elevada taxa de cura (85,7%)

e tempo médio de tratamento (12,0 semanas). Devido às inúmeras contraindicações e intera-ções medicamentosas consideradas graves e moderadas do itraconazol com fármacos utili-zados pelos pacientes, a terbinafina na dose de 250mg/dia é a principal alternativa. Ao compa-ramos itraconazol 100mg/dia versus terbinafi-na 250 mg/dia no tratamento da esporotricose cutânea, esta se mostrou tão eficaz e tolerada quanto o itraconazol. A anfotericina B é reserva-da nos casos disseminados da micose com êxito. A crioterapia com nitrogênio líquido pode ser empregada como terapia adjuvante para trata-mento de determinadas lesões verrucosas ou “encistadas” (aquelas que persistiram a despeito da cicatrização das demais). O seu emprego é útil na medida em que atua diretamente na des-truição da lesão, possibilitando a suspensão do antifúngico e evitando o prolongamento do uso deste. As grávidas com esporotricose por não poderem utilizar antifúngicos sistêmicos devido à teratogenicidade, utilizamos a termoterapia nas lesões com boa resposta. Em nenhuma ocor-reu a disseminação da micose.

As causas, que levaram à esporotricose no Rio de Janeiro a ter assumido características de uma zoonose, podem ser diversas e fazem parte da dinâmica da infecção. Tavares, em 2010, verificou que o cenário da esporotricose são casas recém-urbanizadas com vegetação. Ao estudarmos o perfil de sensibilidade das cepas de S.schenckii provenientes dos pacientes do Rio de Janeiro, verificamos serem mais sensíveis aos antifúngi-cos e com grande similaridade genética entre si. Marinon et cols, em 2007, através de estudos fenotípicos e genotípicos sugeriram que uma nova espécie de Sporothrix, o S. braziliensis, den-tro de uma nova taxonomia para o S. schenckii, o Complexo Sporothrix sp, estaria circulando na endemia do Rio de Janeiro. Estes resultados fo-ram confirmados por Marques, 2009. Entretanto, para a manutenção destes números de casos inaceitáveis de esporotricose e sem vias de con-trole, provavelmente um dos fatores mais impor-tantes é o inadequado controle da esporotricose felina, na medida em que a transmissão inter-

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humana não ocorre. Hoje, 71% dos pacientes, quando vêm para o seu primeiro atendimento no IPEC, deram um destino inadequado ao seu animal, perpetuando o ciclo de transmissão da doença. Por ser uma doença benigna e de pouca morbimortalidade em termos de Saúde Pública, a esporotricose não tem a visibilidade de doen-ças, não conseguindo ser incluída na agenda da Vigilância Epidemiológica dos municípios e do estado do Rio de Janeiro. Um programa de con-trole da esporotricose zoonótica deveria incluir em aumento da rede de atendimento dos casos humanos e interromper o elo da cadeia epide-miológica, através do tratamento dos gatos do-entes e incineração daqueles que forem a óbito. São fundamentais também medidas educativas e preventivas junto à população, estimulando a posse responsável do gato e oferecendo a sua castração nas áreas epidêmicas. O controle do gato errante deve ser assumido pelos órgãos competentes. A esporotricose constitui motivo de faltas e afastamento do trabalho, provoca cicatrizes inestéticas, sequelas e consequências emocionais para as pessoas quanto ao convívio com os gatos e ameaça à vida destes últimos. Cabe alertar para as hospitalizações e os óbitos ocorridos neste período pela micose.

Algumas das referências citadas:

1. Barros MBL, Schubach AO, Valle ACF, Galhardo MCG, Concei-

ção-Silva F, Schubach TMP, et al. Cat-transmitted sporotricho-

sis epidemic in Rio de Janeiro, Brazil: description of a series of

cases. Clin Infect Dis 2004 Feb; 38: 529-35.

2. Freitas DF, do Valle AC, de Almeida Paes R, Bastos FI, Ga-

lhardo MC. Zoonotic Sporotrichosis in Rio de Janeiro, Brazil:

a protracted epidemic yet to be curbed. Clin Infect Dis. 2010

Feb 1;50(3):453.

3. Francesconi G, Valle ACF, Passos SR, Reis RS, Galhardo MCG.

Terbinafine (250 mg/day): an effective and safe treatment of

cutaneous sporotrichosis. J Eur Acad Dermatol Venereol 2009

Nov; 23(11): 1273-6.

4. Galhardo MC, De Oliveira RM, Valle AC, Paes Rde A, Silvatava-

res PM, Monzon A, Mellado E, Rodriguez-Tudela JL, Cuenca-Es-

trella M. Molecular epidemiology and antifungal susceptibility

patterns of Sporothrix schenckii isolates from a cat-transmit-

ted epidemic of sporotrichosis in Rio de Janeiro, Brazil. Med

Mycol. 2008 Mar;46(2):141-51.

5. Marimon R, Cano J, Gené J, Sutton DA, Kawasaki M, Guarro J.

Sporothrix brasiliensis, S. globosa and S. mexicana, three new

Sporothrix species of clinical interest. J Clin Microbiol 2007

Oct; 45(10): 3198-206.

6. Oliveira, MME. Identificação e análise filogenética de es-

pécies do gênero Sporothrix isoladas em área endêmica de

esporotricose no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Dis-

sertação [Mestrado em Pesquisa Clínica em Doenças Infeccio-

sas] – Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas; 2009.

7. Reis RS, Almeida-Paes R, Muniz MM, Tavares PMS, Monteiro

PCF, Schubach TMP, et al. Molecular characterisation of Spo-

rothrix schenckii isolates from humans and cats involved in

the sporotrichosis epidemic in Rio de Janeiro, Brazil. Mem Inst

Oswaldo Cruz 2009 Aug; 104(5): 769-74.

8. Tavares, M. Distribuição sócio-espacial da esporotricose hu-

mana de pacientes atendidos no IPEC, residentes no estado do

Rio de Janeiro, no período de 1997 a 2007. Dissertação [Mestra-

do em Saúde Pública]- Escola Nacional de Saúde Pública, 2010.

“As causas,

que levaram à

esporotricose no

Rio de Janeiro

a ter assumido

características

de uma zoonose,

podem ser diversas

e fazem parte

da dinâmica da

infecção”.

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Doenças infecciosas relacionadas às inundações

s desastres naturais são quaisquer fenô-menos da natureza que causem danos a uma população em proporção maior

do que a sua capacidade em controlá-los, sendo por isso importantes causas de calamidades pú-blicas. No aspecto da saúde, os danos gerados comprometem o funcionamento da estrutura local de saúde, levando a um número inespe-rado de mortes, ferimentos e enfermidades. No Brasil, conforme dados de 2007 do banco global Emergency Events Database (EM-DAT), houve 150 registros de desastres no período 1900 a 2006, sendo as inundações as mais frequentes, respon-sáveis por 59% dos registros, com mais de 60% destes nas regiões Sul e Sudeste. Os dados de 2009 do EM-DAT apontam as inundações como responsáveis por 32,4% dos óbitos em desastres reportados em todo o mundo, sendo os países da Ásia e das Américas, como Índia, China, Brasil e as Filipinas, os mais acometidos. Ainda em 2009, o Brasil foi o sexto país com maior número de de-sastres reportados, com um total de nove desas-tres, sendo oito de etiologia hidrológica, com 1,9 milhões de vítimas envolvidas.

Os principais agravos à saúde após as inunda-ções são os traumas (afogamentos, lesões cor-porais, choques elétricos), os acidentes com ani-mais peçonhentos e a transmissão de doenças infecciosas. Dentre estes, as doenças infecciosas demandam atenção especial, pois podem ter proporções variadas.

Doenças transmitidas por animais peçonhen-tos e ferimentos: Durante as inundações, cobras, escorpiões e aranhas são desalojados do seu ha-bitat natural e migram para as áreas próximas às casas, em busca de abrigo e alimentos, o que

aumenta a chance de contato das pessoas com estes animais na fase de retorno da população para suas residências após a redução do nível das águas, facilitando a ocorrência de acidentes peçonhentos. Nesta mesma fase, também au-menta a incidência de acidentes com ferimen-tos, aumentando assim o risco de infecção pelo bacilo do tétano. A população e os profissionais envolvidos na limpeza urbana devem utilizar equipamentos de proteção individual apropria-do para tais atividades e a Secretaria de Saúde local deve prover unidades de atendimento com imunobiológicos especiais em quantidades ade-quadas, como soros antipeçonhentos e antitetâ-nico, além da vacina contra o tétano.

Doenças transmitidas por ingestão de água e alimentos: Os danos ambientais causados pelas inundações às fontes de água e ao solo, levando à contaminação da rede pública de abastecimento de água, tornam as doenças de transmissão hídri-ca uma grande preocupação, sobretudo as gas-troenterites, cólera, febre tifóide e hepatites virais A e E. O diagnóstico específico destas doenças é feito através dos exames de coprocultura, hemo-culturas, reação de Widal e sorologias para hepa-tites A e E. A prevenção deve ser realizada através da orientação da população em evitar o consumo de água inadequada e intensificar os cuidados de higiene pessoal. Mesmo a água proveniente da rede de abastecimento deve ser submetida à de-sinfecção com produto à base de cloro.

Doenças de transmissão respiratória: Com o deslocamento das pessoas afetadas pelas en-chentes para alojamentos temporários e abrigos públicos gerando aglomerações, pode haver transmissão de doenças respiratórias, sobretudo

O

Dra. Dominique Thielmann

Infectologista e Consultora em Microbiologia Clínica da

CientíficaLab, Diagnósticos da América - Rio de Janeiro,

Médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do

Hospital Pró-Cardíaco - Rio de Janeiro

Dr. Alberto Chebabo

Médico do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias

do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/UFRJ,

Infectologista do Apoio a Unidades Hospitalares da DASA -

Rio de Janeiro, Membro da Câmara Técnica de Infectologia

e Controle de Infecções Hospitalares do CREMERJ

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viroses. As doenças respiratórias mais preocu-pantes são a coqueluche e a difteria pela gravi-dade das manifestações clínicas, porém elas são prevenidas de forma eficaz mantendo a popula-ção com cobertura vacinal adequada através do Programa Nacional de Imunização.

Zoonoses: As principais zoonoses decorrentes das inundações são a leptospirose e a dengue. A permanência de bolsões de água parada au-menta o risco de proliferação do mosquito Aedes aegypti e permite a presença de Leptospira viável no ambiente, eliminada nas urinas de roedores.

Com a infestação por Aedes aegypti, a ocorrência de dengue deve ser considerada como hipóte-se diagnóstica em pacientes que se apresentem nas unidades de atendimento médico com qua-dro agudo de febre, cefaleia, mialgia e prostração. Pela dificuldade de implantação das medidas usuais de controle de vetor durante as catástro-fes, os casos de dengue podem perdurar mesmo após o período de inundação.

Os surtos de leptospiroses estão entre as princi-pais ocorrências epidemiológicas relacionadas às inundações, uma vez que o contato com a água contaminada com Leptospira viável aconte-ce durante e imediatamente após as enchentes, durante a fase de retorno das pessoas para suas residências, quando iniciam a limpeza da lama e detritos contaminados. Além disso, o período de incubação da doença é bastante variável, entre um e 30 dias, prolongando o tempo de apareci-mento dos casos suspeitos. Como as leptospiras podem sobreviver no ambiente até semanas ou meses, dependendo das condições encontradas, a população deve ser orientada a proceder a lim-peza e desinfecção de domicílios com solução de água sanitária, que elimina as leptospiras, sendo esta a principal medida de prevenção da doença uma vez que diminui a presença do agente etio-lógico no ambiente. É fundamental a utilização de equipamento de proteção individual ade-quado durante estas atividades, principalmente botas, uma vez que a penetração da leptospira no organismo depende do contato direto desta com a pele ou mucosa do indivíduo.

Doenças de transmissão hídrica e alimentar

Principais agravos de saúde relacionados às inundações

Hepatite AHepatite EDiarréias Agudas (Escherichia coli, Giardíase, Amebíase, Salmonelose, Shigella)CóleraFebre Tifóide

Doenças transmitidas por vetores

DengueLeptospirose

Acidentes com animais peçonhentos

CobraEscorpiãoAranha

Doenças transmitidas por ferimentos

Tétano

Doenças transmitidas por vias aéreas

Viroses respiratóriasInfluenzaCoquelucheDifteriaMeningoencefalites agudas

Referências bibliográficas:

1. Plano de Contingência de Vigilância em Saúde frente a

inundações - Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério

da Saúde (SVS/MS) – 2005.

2. Programa Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental

dos Riscos Decorrentes dos Desastres Naturais Secretaria

de Vigilância em Saúde Ambiental - Secretaria de Vigilância

em Saúde – Ministério da Saúde (SVS/MS) – 2005.

3. Emergency Events Database (EM-DAT), relatório de 2007.

4. Emergency Events Database (EM-DAT), relatório de 2009.

5. Veronesi – Tratado de Infectologia – 3ª edição – 2005.

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Espaço para debate de temas relevantes na especialidade

Clube de Infectolo-gia – Fórum de Dis-cussão de Casos Clí-

nicos é uma iniciativa da SIERJ que tem por objetivo criar um espaço para o debate de temas relevantes nesta área de co-nhecimento, reunindo os dife-rentes serviços de Infectologia do Rio de Janeiro.

O formato da sessão é o da apresentação de caso clíni-co por parte de um residente ou especializando, moderado por um profi ssional apontado pelo Serviço responsável pela atividade. Todavia, através de contato com a Diretoria da SIERJ, o Serviço convidado po-derá sugerir a modifi cação do

Profª. Denise Marangoni, Prof. Ralph Ferreira e Dra. Daniele Macedo

O

formato da sessão, como a apresentação de conferências ou mesas-redondas, de forma a contemplar tópicos relacionados à atuação de cada centro na assistên-cia à população ou na pesquisa médica. Poderá ter também a realização de pales-

tras, seja com temas polêmicos, palpitantes, ou importantes re-visões de literatura.

Segunda edição do Clube de Infectologia inicia atividades de 2011 Realizada no dia 15 de março, no Hospital Universitário Ga-ffrée e Guinle, com a presença de mais de 40 participantes, entre chefes de serviço e ti-tulares de disciplina de Infec-tologia, a sessão do Clube de Infectologia foi brindada com a apresentação de um caso clínico com forma grave de paracoccidioidomicose, segui-do de palestra sobre “Infecção Urinária na Comunidade – Diagnóstico e Tratamento”.

O caso clínico foi apresentado pela Dra. Daniele Macedo, resi-dente do Serviço de DIP, e mo-derado pelo Prof. Ralph Ferrei-ra, chefe do Serviço de DIP do Hospital Universitário Antonio Pedro/UFF. Como foi mostra-do, é preciso estar atento, pois devido à cronicidade e à apre-sentação em formas variadas da doença, muitos casos de diagnóstico tardio, após trata-dos, evoluem com sequelas es-téticas e/ou funcionais graves. A palestra foi proferida pela Profª. Denise Marangoni, que abordou as diversas formas de “infecção do trato urinário”, des-de a bacteriúria assintomática até a pielonefrite, as condutas diagnóstica e terapêutica, di-ferindo conforme diversas fai-xas etárias, condição clínica de base, diabete melitus, gestan-tes e outras. Foram discutidos os mais recentes guidelines, e a Profª Denise apresentou também seus conhecimentos e experiência adquirida em sua recente tese de doutorado neste assunto. Até a próxima reunião, que acontecerá no dia 19 de abril.

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