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B. Indústr. ii.nim., SP, 32(2) :239-48, jul./dez. 1975 SILAGENS DE SORGO E DE CAPIM-NAPIER, COM OU SEM ADIÇÃO DE PALHAS, PARA VACAS DE CORTE, NA ÊPOCA DE SECA (*) (Sorghum silage and napier grass silage, in beef cattle feeding, in dry season) PAULO GASTAO DA CUNHA (1), DELCACIO JOAQUIM DA SILVA (2) e ALFONSO G. A. TUNDISI (3) RESUMO Quarenta e oito vacas cruzadas Santa Gertrudis com suas crias foram utilizadas em um experimento em blocos ao acaso com 12 repetições e 4 tratamentos: A) silagem de sorgo-sart; B) silagem de capim-napier; C) silagem de sorgo-sart mais palha e D) silagem de capim-napier mais palha. Os resultados, em relação à perda de peso das vacas indicaram que o tratamento B foi superior ao tratamento A; que o tratamento C foi superior ao tratamento A e que a palha não influiu quando adcionada à silagem de capim-napier. Quando se consideraram os bezerros, verificou-se que os tratamentos com palha influenciaram favora- velmente nos seus desenvolvimentos, não havendo diferenças en- tre as silagens. INTRODUÇÃO Os pecuaristas do Brasil Central cla- mam soluções para uma série de problemas zootécnicos, sanitários e econômicos cuja solução parece exigir uma melhor tecnolo- gia na exploração animal. Dentre os prin- cipais problemas zootécnicos da pecuária brasileira, SANTIAGO 14 cita a baixa fertili- dade do rebanho por manejo inadequado e deficiências de nutrição; o retardamento do desenvolvimento e a perda de peso no pe- ríodo de estiagem, característica do clima regional. Para amenizar o deficit de forragem na época adversa, tem sido preconizado o emprego de cana-de-açúcar, de subprodu- tos agrícolas, capineiras e silagens. No entanto, uma melhor estrutura agronômica poderia ser recomendada aos criadores, vi- sando a alimentação dos seus rebanhos; pa- rece que a solução mais prática, para as condições de solo e clima do Estado de São Paulo, seja a confecção de silagens e fenos de gramíneas e leguminosas. A silagem, segundo MORRISON 9, éo alimento mais comumente usado para vacas no inverno nos Estados Unidos, devendo-se (*) Parte do Projeto 1Z-399. (1) Da Estação Experimental de Zootecnia de Sãc José do Rio Preto, Divisão de Zootecnia de Bovinos de Corte. (2) Da Seção de Higiene Zootécnica e Análises, Divisão de Técnica Básica e Auxiliar. Bolsista do CNPq. (3) Da Divisão de Zootecnia de Bovinos de Corte. 239 -

SILAGENS DE SORGO E DE CAPIM-NAPIER, COM OU ... qualidade como alimento, revel~m que ~Ia deixou a desejar quer na produçao de leite, quer na manutenção do leite, quer na ma-nutenção

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B. Indústr. ii.nim., SP, 32(2) :239-48, jul./dez. 1975

SILAGENS DE SORGO E DE CAPIM-NAPIER, COM OUSEM ADIÇÃO DE PALHAS, PARA VACAS DE CORTE,

NA ÊPOCA DE SECA (*)

(Sorghum silage and napier grass silage, in beefcattle feeding, in dry season)

PAULO GASTAO DA CUNHA (1), DELCACIO JOAQUIM DA SILVA (2)e ALFONSO G. A. TUNDISI (3)

RESUMO

Quarenta e oito vacas cruzadas Santa Gertrudis com suas criasforam utilizadas em um experimento em blocos ao acaso com12 repetições e 4 tratamentos: A) silagem de sorgo-sart; B)silagem de capim-napier; C) silagem de sorgo-sart mais palhae D) silagem de capim-napier mais palha. Os resultados, emrelação à perda de peso das vacas indicaram que o tratamento Bfoi superior ao tratamento A; que o tratamento C foi superiorao tratamento A e que a palha não influiu quando adcionada àsilagem de capim-napier. Quando se consideraram os bezerros,verificou-se que os tratamentos com palha influenciaram favora-velmente nos seus desenvolvimentos, não havendo diferenças en-tre as silagens.

INTRODUÇÃO

Os pecuaristas do Brasil Central cla-mam soluções para uma série de problemaszootécnicos, sanitários e econômicos cujasolução parece exigir uma melhor tecnolo-gia na exploração animal. Dentre os prin-cipais problemas zootécnicos da pecuáriabrasileira, SANTIAGO14 cita a baixa fertili-dade do rebanho por manejo inadequado edeficiências de nutrição; o retardamento dodesenvolvimento e a perda de peso no pe-ríodo de estiagem, característica do climaregional.

Para amenizar o deficit de forragemna época adversa, tem sido preconizado oemprego de cana-de-açúcar, de subprodu-tos agrícolas, capineiras e silagens. Noentanto, uma melhor estrutura agronômicapoderia ser recomendada aos criadores, vi-

sando a alimentação dos seus rebanhos; pa-rece que a solução mais prática, para ascondições de solo e clima do Estado de SãoPaulo, seja a confecção de silagens e fenosde gramíneas e leguminosas.

A silagem, segundo MORRISON9, é oalimento mais comumente usado para vacasno inverno nos Estados Unidos, devendo-se

(*) Parte do Projeto 1Z-399.

(1) Da Estação Experimental de Zootecnia de SãcJosé do Rio Preto, Divisão de Zootecnia deBovinos de Corte.

(2) Da Seção de Higiene Zootécnica e Análises,Divisão de Técnica Básica e Auxiliar. Bolsistado CNPq.

(3) Da Divisão de Zootecnia de Bovinos de Corte.

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fornecer com este volumoso pelo menos2,800 a 3,200 kg de feno.

MELOTTI; CAIELLI; BOIN 7 afirmam quea confecção de silagem com capim-elefan-te, variedade Napier, dá um produto de boaqualidade organoléptica. Porém, Q baixoteor de matéria seca dessa silagem impedeque os animais consumam os nutrientesnecessários para atender as suas exigências,apesar dos coeficientes de digestibilidadedos seus componentes serem relativamentealtos.

PEDREIRA&: BOIN 12 concluíram que ocapim-elefante deve ser cortado em interva-los de mais ou menos 8 semanas, durantea estação de crescimento, visando contarcom forragem de boa qualidade. EstesAA. sugerem, no entanto, que o napier,quando usado para silagem, deve ser c?r-tado mais tarde, compensando seu baixodesempenho por um rendimento mais ele-vado de matéria seca, por unidade de área,o que ocorreria quando as plantas tivessemaproximadamente 2,40 m de altura. Po-rém Lucci: BOIN; LOBÃO4, que confeccio-naram a silagem desse capim em estágiocomumente recomendado como o mais apro-priado (1,50 m), pois concilia rendimentoe qualidade como alimento, revel~m que ~Iadeixou a desejar quer na produçao de leite,quer na manutenção do leite, quer na ma-nutenção do peso corporal.

Trabalhando com vacas mestiças tipoeuropeu-tropical, Luccr: PAIVA; NOGUEIRADE FREITAS5, em estudo comparativo entresilagens, verificaram que, apesar destas se-rem suplementadas com alimentos concen-trados, os animais que receberam como úni-

co volumoso a silagem de sorgo, variedadeSart, emagreceram 0,152 kg por dia. Emestudo comparativo entre a cana-de-açúcare silagem de milho, sorgo e capim-napierna alimentação de vacas leiteiras, que tam-bém recebiam um suplemento de concentra-dos, NAUFEL et alii 10 constataram que todosos animais emagreceram durante o períodoexperimental. As perdas médias diárias depeso corporal foram de 0,140; 0,220; 0,250e 0,955 kg, respectivamente para os trata-mentos: silagem de sorgo, de napier, demilho e cana-de-açúcar.

PAULAASSIS et alii 11, comparando pas-to de capim-gordura, Melinis minutiilora,PaI. de Beauv, com pasto mais silagem esilagem somente na alimentação de vacasHolandesas P.O., verificaram que, de ummodo geral, no que se refere ao peso vivo,as silagens se comportaram igualmente,propiciando aumentos de peso com relaçãoao tratamento pasto somente.

MORRISON9 afirma que a silagem ofe-rece vantagens econômicas ao ser ministra-da em substituição às pastagens onde asterras são de preço elevado e se deseja man-ter um maior número de animais por área.Para esse fim a silagem é mais barata emais satisfatória que as capineiras.

Nesse trabalho procurou-se aumentaro número de animais por área, comparandoas silagens de Napier e sorgo Sart, come sem adição de palhas na alimentação devacas de corte, durante o período crítico,como únicos volumosos. Preocupou-se emmanter o bom estado físico das vacas e desuas crias com alimentos de baixo custo deprodução, fator necessário para que o .n:es-mo possa ser adotado na grande prática.

MATERIAL E MÉTODOS

o trabalho foi realizado na EstaçãoExperimental de Zootecnia de São JOSé doRio Preto, situada no km 442 da RodoviaWashington Luiz, a Noroeste do Estado deSão Paulo, a 20° 48' S de latitude e 48°39' W de longitude.

Os solos do estabelecimento são are-nosos, profundos, bem drenados, levemente

ondulados e mapeados por Lemos et alii(in CENTRO NACIONALDE ENSINO E. PES-QUISASAGRONÔMICAS3) como Podzolizadosde Lins e Marília, variedade Lins.

São apresentados no gráf. 1 as preci-pitações pluviométricas mensais ocorridasno período de janeiro de 1973 a março de1975.

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Gráf. 1

300

2.00

100

JFMAMJJASOND JFMAMJJASONDJFM1973 1974 1975

Precipitações mensais ocorridas no período de janeiro de 1973 a março de 1975.

o napier foi formado nos primeirosmeses do ano de 1973, utilizando-se colmosmaduros. As mudas foram colocadas, umaem seguida a outra, em sulcos contínuosdistanciados de 0,50 m.

Na primavera, sobre esta cultura, fo-ram colocados animais, com a finalidadede aproveitar a forragem e baixar a alturadas plantas. Em fevereiro do ano seguinteefetuou-se um corte de igual ação e logo de-pois foram aplicados 100 kg de N/ha, emcobertura.

O sorgo-sart foi semeado em fins denovembro de 1973, seguindo as instruçõespara essa cultura, preparada por BANZATO 1.

O enchimento do silo tipo trincheira,com sorgo-sart, foi executado no períodode 4 a 8 de março, utilizando-se colhedeiraTaarup. Por ocasião da ensilagem, as plan-tas apresentavam-se com altura média de3,00 m, bem espigadas e com os grãos du-ros e amadurecidos.

Em virtude do excesso de chuvas nosmeses anteriores, o sorgo foi prejudicadopelo encharcamento do solo, principalmentenas áreas próximas dos terraços, produzin-do plantas de coloração verde-clara, comcolmas grossos e suculentos, aparentandoesta cultura excesso de caules devido à per-da das folhas da base.

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A silagem de sorgo-sart foi confeccio-nada sem qualquer aditivo, pois os caulesdesta variedade são adocicados, possuindoquantidade apreciável de sacarose e açúca-res redutores, o que produz boa fermenta-ção da silagem.

A silagem de napier foi preparada naprimeira quinzena de abril, quando as plan-tas estavam com altura média de 1,60 me ainda não estavam florescidas. Nesta si-lagem utilizou-se como aditivo grãos desorgo granífero na base de 35 kg por tone-lada de massa verde, conforme recomenda-ção de MORRISON 9.

Não houve a pré-secagem do materialcomo seria aconselhável, pois ambas as cul-turas foram colhidas com Taarup e logo emseguida ensiladas.

Neste experimento utilizaram-se vacascom suas crias, cruzadas Santa Gertrudis,criadas e recriadas no Estabelecimento, emregime extensivo.

o delineamento seguido foi o de blo-cos ao acaso com 4 tratamentos e 12 repe-tições. Para formação dos blocos levaram-seem consideração estado físico, idade e pesodas mães, observando-se, também sexo, ida-de e desenvolvimento das crias. Quantoao estado físico, as vacas foram classifica-das de acordo com seus aspectos: gordas,regulares e magras.

Durante o período experimental pro-priamente dito, que foi de 84 dias, com iní-cio em 24/6/74, as matrizes tinham à suadisposição água, sais minerais e as sila-gens, que compuseram os seguintes trata-mentos:

A silagem de sorgo-sart;B silagem de napier;C silagem de sorgo-sart + palha;D - silagem de napier + palha.

Os bezerros permaneceram o tempotodo com suas mães, tendo por alimentaçãobásica o leite materno.

Devido ao grande volume disponível,o cacho de sorgo R-I090, depois da retira-da dos grãos, foi moído e utilizado comocomplemento das silagens nos tratamentosC e D. Esta palha foi bem aceita pelosanimais, tendo sido limitado o seu consumodiário em 5,00 kg por vaca para forçar osanimais a ingerirem mais silagem.

Durante o período pré-experimental foiobservado que os animais, ao se alimenta-rem, escolhiam determinadas partes das si-lagens, refugando os talos. Para que estefato não ocorresse durante a prova, as si-lagens antes de serem distribuídas passavampor uma máquina desfibradora. As sila-gens eram fornecidas à vontade, duas vezespor dia, controlando-se a quantidade deforma que sempre houvesse uma sobrade aproximadamente 10%. Periodicamenteeram coletadas amostras das silagens eenviadas ao Laboratório da Divisão de Nu-trição Animal e Pastagens, em Nova Odes-sa, SP, para as análises bromatológicas.

Também, a intervalos regulares, reti-raram-se amostras das silagens, por ocasiãode sua distribuição e retirada das sobras,para determinação, no próprio Estabeleci-mento, do seu teor de matéria seca.

Adotou-se um período preparatório de16 dias e um experimental de 84 dias, tendoem vista evitar o tempo chuvoso, diminuiro custo do confinamento e o descanso daspastagens na época adversa.

No período preliminar adaptaram-seno local do confinamento cochos em númerosuficiente para evitar a disputa entre osanimais da prova. Nesse período tambémtodos os animais foram vacinados contra afebre aftosa e pulverizados contra ectopa-rasitos.

O nível de significância estabelecidopara a rejeição da hipótese de nulidade foide 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os alimentos utilizados neste experi-mento foram analisados pela Seção de Ava-liação de Forragens, Divisão de Nutrição

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Animal e Pastagens do Instituto de Zootec-nia.

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o resultado médio dessas análises, bemcomo as que serviram para a determinação

QUADRO r

dos coeficientes de digestibilidade, são mos-trados no quadro I.

Composição química dos alimentos na matéria seca

M.S. Em %Alimentos pH

100°C Prot. E.E. Fibra E.N.N. M.M.

Napier (*) 88,7 7,5 3,8 42,7 37,3 8,7 4,1

Silagens Napier (**) 7,6 3,8 38,5 40,5 9,5 4,5Sorgo-sart (*) 78.2 4,9 2,7 27,9 59,9 4,6 3,7Sorgo-sart (* * ) 5,1 4,6 27,5 57.7 5,1 3,7

Palha Sorgo (*) 90,2 7,2 2,5 37,5 43,4 9,4Sorgo (***) 90,4 7,9 1,7 36,5 46,8 7,1

(*) Alimentos utilizados no experimento e analisados na Seção de Avaliação de ForragensNova - Odessa, SP.

(**) Silagens de napier e sorgo-sart usadas por BOIN et alii 2.

(***) Dados retirados de MORRISON 9.

Pelos dados desse quadro, verifica-seque os constituintes das silagens produzidasem São José do Rio Preto e em Nova Odes-sa, por BOIN et alii 2, são muito sernelhan-

teso Daí terem-se utilizado esses coeficientespara determinação dos nutrientes dígestí-veis, os quais podem ser observados noquadro lI.

QUADRO' II

Nutrientes digestivos na matéria seca em porcentagem

Alimentos M.S.D. P.D. F.D. E.N.N,D. E.E.D. N.D,T.x 2,25

Silagem de napier 11,3 3,6 27,2 19,8 6,0 56,6Silagem de sorgo-sart 13,3 1,0 13,4 39,6 4,6 58,6Palha de sorgo 2,2 19,9 19,5 2,6 44,2

No quadro III, acham-se os nutrientesdigestivos das silagens e da palha utiliza-dos no experimento.

Quanto às principais características, asilagem de napier apresentava bom aspecto,coloração verde-clara e odor pouco intenso,sendo bem aceita pelos animais. Entretan-to, o mesmo não aconteceu com a silagemde sorgo-sart, que possuía odor mais in-tenso, característico, denotando fermentação

- 243

QUADRO III

Nutrientes digestivos na matéria original

Alimentos M.S. P.D. I N.D.T.

Silagem de napier 19,9 0,72 11,3Silagem de sorgo-

-sart 23,7 0,24 13,8Palha de sorgo 90,2 1,98 39,9

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butírica, O que a tornou muito menos pa-Iatável.

Ensilando o napier com níveis cres-centes de melaço, TOSI 15 verificou que, mes-mo com 7,5% do produto incorporado àmassa fresca por ocasião da ensilagem, nãofoi possível evitar a fermentação butíricacomo conseqüência da excessiva umidadedo material.

Quanto ao pH, as silagens utilizadasestavam dentro dos padrões desejados que,segundo MacDonald e Henderson (in To-SI 16), devem estar compreendidos entre 3,8 e 4,2%, para que seja alcançada boa con-servação do alimento armazenado.

A silagem de napier empregada, pos-suindo 19,9% de M.S., era praticamenteidêntica às de BOIN et alii 2 e TOSI15, masligeiramente inferior à utilizada por LUCCI;PAIVA; NOGUEIRADE FREITAS5. Por suavez, a silagem de sorgo tendo 23,7% deM. S. era inferior às produzidas pelos doisprimeiros AA., mas eqüivalente à usada porNAUFEL et alii 10.

Em termos de proteína, a silagem denapier era bem superior à preparada porTOSI15, pouco melhor que a de NAUFEL etalii 10 e praticamente idêntica à de BOIN etalii 2. A silagem de sorgo, no entanto, eraidêntica à de BOIN et alii 2, mas inferior àsproduzidas por LUCCI; PAIVA; NOGUEIRADEFREITAS5 e NAUFEL et aIii 10.

Quanto ao N. D. T., as silagens esta-vam dentro dos padrões conhecidos. Omenor teor de M. S. e de proteína da sila-gem de sorgo-sart, possivelmente deve-seà perda de sucos por ocasião da ensilagem(MORRISON9).

Determinou-se o consumo das silagenspela diferença entre as quantidades coloca-das e retiradas, o qual pode ser visto noquadro IV.

Verificou-se que as silagens após se-rem desfibradas para o fornecimento aosanimais, sofriam aumento insignificante noseu teor de matéria seca, o mesmo não acon-tecendo por ocasião da retirada das sobrasquando esse valor chegou a aumentar 34%.Daí concluir-se que o consumo verificadonão é o real, pois não se levou em conside-ração a perda de umidade da silagem.

Apesar disso, compôs-se o quadro V,no qual comparam-se os princípios nutri-tivos diários fornecidos pelas rações e asnormas de alimentação de MORRISON9, pa-ra vacas de corte, com bezerros de 3 a 4meses.

QUADRO IVConsumo indiivdual médio de alimentos em quilos

I Período I Silagem I PalhaTratamentos

1." 23,7Silagem de sorgo 2.' 23,5

3.' 24,2

Silagem de sorgo 1.° 18,72.' 19,6

+ palha 3.' 22,9

1.' 38,7Silagem de napier 2.' 52,4

3.' 48,3

Silagem de napier 1.' 30,92.' 43,3+ palha 3.' 38,1

555

552,6

QUADRO V

Normas de alimentação de MORRISON9 e nutrientes consumidos pelos animais

Vacas de corte com bezerros M.S. P.D. N.D.T.

408 a 499' kg10,0 - 12,3 0,54 - 0,64 5,4 6,8-

Tratamentos

Silagem de napier 9,3 0,33 5,25Silagem de sorgo 5,6 0,06 3,28Silagem de napier + palha 10,3 0,33 5,50Silagem de sorgo + palha 9,3 0,22 4,81

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A silagem de napier, apesar do seualto consumo (46,5 kg), não foi suficientepara atingir o limite inferior das normas deMORRISON 9, apresentando um deficit de 7%de M.S., 38,9% de P.D. e 2,8% de N.D.T ..

A silagem de sorgo comportou-se mui-to pior, em relação às mesmas normas, apre-sentando um deficit de 44% de M.S., 88,9%de P.D. e 39,3% de N.D.T ..

A ração silagem de sorgo mais palhaapresentou praticamente os mesmos deficitsque a silagem de napier. O tratamentosilagem de napier mais palha apresentoudeficit apenas de proteína digestiva, tendoatingido as normas de MORRISON 9, quantoa M.S. e N.D.T ..

Com esses tratamentos todas as vacasemagreceram durante a prova, conforme sevê no quadro VI.

QUADRO VI

Resumo dos valores médios por animal e tratamentos

TratamentosPeso médio das vacas em Perda de peso na provakg no experimento

ao parir início I fim em kg em %

442 411 347 64 15,6445 413 377 36 8,7439 408 368 40 9,8437 409 380 29 7,1

Silagem de sorgoSilagem de sorgo + palhaSilagem de napierSilagem de napier + palha

A análise estatística para as perdas depeso das vacas revelou o seguinte:

a) os efeitos das silagens e da palha fo-ram significativos;

b) a silagem de napier foi superior à desorgo-sart ;

c) a silagem de sorgo mais palha foi su-perior ao tratamento silagem de sorgo;

d) a palha não influiu quando adicionadaà silagem de napier.Não obstante a fraca alimentação for-

necida às vacas, todos os bezerros aumen-taram de peso, como se verifica no qua-dro VII.

QUADRO VII

Desenvolvimento das crias durante a prova

TratamentosGanho de pesoPeso médio em quilos

durante a prova

ao nascer início fim

Silagem de sorgo 32,4 98 111Silagem de sorgo + palha 29,9 96 134Silagem de napier 32,4 91 122Silagem de napier + palha 31,6 98 138

em kg em %

13383140

13,339,634,140,8

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Quando se comparou o desenvolvimen-to dos bezerros com os demais do Estabe-lecimento, verificou-se que o ganho de pesodurante a prova foi influenciado negativa-mente pelos tratamentos.

A análise estatística mostrou que so-mente a palha influenciou positivamente oganho de peso dos bezerros.

A análise de variância, referente à somaalgébrica da perda de peso das vacas e doaumento de peso dos bezerros, revelou que:

a) a silagem de napier foi superior à desorgo;

b) os tratamentos silagem com palha fo-ram superiores aos tratamentos sempalita;

c) a silagem de sorgo mais palha foi su-perior à silagem de sorgo;

d) não houve interação silagem x palha.

Os animais adultos foram classificadosno início e no final da prova pelos autoresquanto ao seu aspecto em três categorias.

QUADRO VIII

Influência dos tratamentos no estado físico das vacas

Estado físico das vacas

Tratamentos início da final dano prova no prova

magra regular boa magra regular boa---

Sil. de sorgo 2 6 4 6 3 3Silo de sorgo + palha 2 6 4 5 2 5Sil. de napier 2 6 4 2 7 3Sil. de napier + palha 2 6 4 4 8

Total 8 24 16 13 16 19

Por este quadro observa-se que seprocurou, no início da prova, manter emtodos os tratamentos número igual de vacasmagras, regulares e gordas. No final daprova, embora todas as vacas tenham ema-grecido devido a esta classificação ser porcomparação, encontrou-se maior número devacas magras e gordas, com diminuição dosanimais considerados regulares.

Levando-se em consideração ainda oestado físico, verificou-se que nenhumavaca classificada como magra no início foireclassificada como gorda no final da prova.Assim como o inverso também não se ve-rificou, isto é, nenhuma vaca classificadacomo gorda foi reclassificada como magra.

CONCLUSÕES

1 - excesso de umidade do sorgo,por ocasião da colheita e do processo dearmazenamento, prejudicou esta silagem pe-la perda de sucos, o que acarretou a dimi-nuição dos seus teores de matéria seca eproteína;

2 - a ocorrência de fermentação bu-tírica na silagem de sorgo diminuiu o seuconsumo;

3 - todas as vacas emagreceram du-rante a prova, mas o tratamento napier foisuperior ao sorgo-sart;

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4 - quanto ao desenvolvimento dosbezerros, as duas silagens se eqüivalerarne a adição de palha aos volumosos influiufavoravelmente;

5 - a adição de 3,6 kg de palha à

SUMMARY

The trial was carried out at Estação Expe-rimental de Zootecnia, São José do Rio Preto,São Paulo State. Fourty eight crossbred SantaGertrudis cows were utilized in randomized blockswith 4 treatments and 12 replications: A -Napier grass silage; B - Sorghum Sart silage;C - Napier grass silage + straw; D - Sor-ghum Sart silage + straw.

silagem de napier, reduziu o seu consumoem 9 kg, diminuindo porém o seu custo;

6 - as silagens, sem adição de con-centrados, não conseguiram satisfazer asexigências nutritivas dos animais, apesar doalto consumo da de napier.

Silages were supplied ad libitum while thestraw was given in limited quantity. Napiergrass silage was signifieantly superior than thesorghum Sart for the weight lose of the cows.The straw addition to the sílages was profita-ble, because decreased their consuption and costsshowing significant results than the treatmentsA and B in the calves development.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 10: SILAGENS DE SORGO E DE CAPIM-NAPIER, COM OU ... qualidade como alimento, revel~m que ~Ia deixou a desejar quer na produçao de leite, quer na manutenção do leite, quer na ma-nutenção

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