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Hianne Leite Ribeiro SILÊNCIO Primeira Edição

SILÊNCIO - PerSe - Publique-se - Publicar seu … acontece no Warm Order por causa de outro humano que está do nosso lado, Carl Louise. Já o Sire sofrerá com um castigo, pelo qual

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Hianne Leite Ribeiro

SILÊNCIO

Primeira Edição

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Sumário

Capítulo 1: Introdução ....................................................... 7

Capítulo 2: Baile ................................................................ 57

Capítulo 3: Surpresas ..................................................... 101

Capítulo 4: Rotina ........................................................... 128

Capítulo 5: Treinos .......................................................... 159

Capítulo 6: Aflições ......................................................... 195

Capítulo 7: Mudanças ..................................................... 216

Capítulo 8: Confissão ...................................................... 240

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Aos meus amigos Patrick e Mardly que me

ajudaram a imaginar o quão forte pode ser a

ligação entre um casal, independente da cor, da

raça ou do poder.

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Capítulo 1: Introdução

Era sexta-feira, 9 de janeiro de 2009. Já havia

escurecido, era como se minha pele começasse a deixar a

irritação de lado. O Sol não afeta os vampiros como as histórias

apontam. Não poderíamos nos misturar aos humanos, caso algo

assim ocorresse.

Sim, nossa pele pode ficar bastante irritada quando o Sol

está muito forte, ainda mais agora por causa do aquecimento

global ou, ao menos, o que grande parte de suas teorias

implicam. Os seres humanos, que se dizem tão espertos e cheios

da verdade, estão acabando aos poucos com o que resta deste

planeta e sem a Terra não haverá humanos, vampiros, lobos ou

qualquer raça existente.

Antes que me esqueça, prazer, meu nome é Beth

O’Joanne. Esse poderia ser apenas um diário, mas acho melhor

descrever como uma narração do meu destino. Como as coisas

mudam em tão pouco tempo e só nos resta mais uma história

para contar...

Outra noite, como qualquer outra em Port-Cartier, à

procura de alimento, já que devorar humanos sem um forte

motivo só é real no enredo de Drácula. Devo confessar, adoro

Drácula de Bram Stoker, se o conhecesse lhe daria um prêmio

por sua criatividade, é mesmo uma bela obra. Drácula de fato

existiu, mas ele não foi o primeiro de nós, nem o mais poderoso,

ele foi apenas o impiedoso, o empalador, que por uma mulher

perdeu a própria cabeça. Era difícil entendê-lo nesse aspecto.

Consigo sangue fresco através de John Settler, médico

humano do banco de sangue do Hospital In-Systems. Um dos

poucos humanos aliados ao nosso clã, diria até honrado.

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Cheguei ao Cemetery Extreme com a rapidez de

costume, ainda que longe do centro da pequena cidade. Nada

aqui lembra aqueles cemitérios de filmes de terror, este é

totalmente o contrário: um campo vasto, com algumas lápides e

túmulos de mármore, limpos e brilhantes sob a luz do luar. Hoje

talvez esteja um pouco diferente, já que não há lua no céu e os

poucos postes que há não conseguem iluminar todo o local.

Resumidamente, é um lugar bem aconchegante para alguém

como eu, para uma vampira solitária.

Apreciei a imensidão do ambiente e me sentei em um

dos túmulos de mármore, de forma a desfrutar o sabor daquele

líquido, aliás, o único sabor que podemos sentir nitidamente.

Como vou contar sobre minha história gostaria de explicar

algumas coisas sobre nós vampiros:

Nota 1: A luz do Sol não nos faz derreter ou virar cinzas. O fato

é que com o calor dos raios do Sol, principalmente quando estão

muito fortes, nossa temperatura se eleva e começamos a passar

mal, tendo que fazê-la abaixar o mais rápido possível, pois a

coisa mais mortal para um vampiro é o calor.

Nota 2: Estacas enfiadas no nosso coração também não nos

mata, apenas nos paralisa.

Nota 3: Apenas com uma mordida no pescoço e retirando o

sangue do corpo do indivíduo não se cria um vampiro. Um

vampiro é criado quando se absorve o sangue de um humano a

ponto de estar quase morto, então, é introduzido o sangue do

vampiro que o mordeu, o Sire, que será um mentor para o

novato.

Nota 4: Se o mentor largar o novato, ele se transformará em um

monstro terrivelmente cruel. Assim que o encontrarem, o

levarão ao crematório Warm Order onde ele terá um fim digno,

apesar de tudo que tenha feito. Não há como saberem o que

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acontece no Warm Order por causa de outro humano que está do

nosso lado, Carl Louise. Já o Sire sofrerá com um castigo, pelo

qual ele se lembrará por um bom tempo e garanto que não

deixará nenhum novato, que ele tenha transformado, solto.

Nota 5: Também não morremos com balas de prata ou

crucifixos, a prata quando ingerimos ou inalamos faz ficarmos

paralisados por um tempo, do mesmo modo quando perfuram

uma estaca em nosso coração.

Eu tinha 23 anos quando fui transformada pelo meu Sire,

Perry Jordan, mas costumo chamá-lo de PJ. Não minto sobre o

quanto gosto dele, pois eu era mais uma garota órfã e, ao me

transformar, ele se tornou minha família, bem como todos do

nosso clã. Ele é como se fosse um irmão mais velho ou até

mesmo um pai. Tudo que sei, foi ele quem me ensinou, como

conseguir me controlar ao ver algum humano machucado, entre

outras coisas do tipo. Se fosse para eu acabar com essa vida por

alguém, com certeza seria por ele.

Perry tinha 29 anos quando foi transformado, não sei

como aconteceu, nem quem é o seu Sire. Nunca tive coragem de

perguntar, pelo fato de saber que ele se zangaria. Cabelos

dourados, olhos verdes, pele pálida, lábios escuros, barba

malfeita e um cheiro caracteristicamente masculino. Seu charme

era indiscutível, se quisesse conseguiria seduzir qualquer

mulher, vampira ou não. Perry Jordan era o homem mais

atraente que eu havia conhecido, até eu mesma já havia sido

interessada nele.

Retornando ao real enredo, terminei minha refeição e

voltei para o nosso prédio. Um antigo prédio que se encontrava

em um ótimo estado de conservação, apesar de ser

extremamente antigo, havia passado por uma reforma. Cada clã

tem sua sede instalada em uma região, onde por milênios

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ocupam alguma construção, restaurando-a sempre que

necessário. Dinheiro não é um problema para nenhum de nós,

com tantos anos vivendo e trabalhando, temos infiltrados em

todos os setores.

Entrei no salão amplo e encontrei Perry, que deixou o

livro de lado para me encarar.

- Boa noite! – O cumprimentei ao entrar no aposento.

- Boa noite! – Perry falou me chamando para sentar no sofá,

junto a ele – Você sumiu, já estava começando a me preocupar,

por que você não avisou que sairia? Quer mesmo me

enlouquecer? – Fui bombardeada pelas perguntas infinitas.

- Eu fui ao hospital e depois fui para o cemitério, como sempre

faço e você sabe disso. – Retruquei calma, sorrindo para ele

como de costume.

- Devia ter avisado, eu pensei que tinha acontecido alguma

coisa. – Começou o sermão diário, isso já estava virando rotina

– Você deve me avisar quando vai sair, porque eu sei como você

é e, ainda mais agora, que temos inúmeros problemas com

humanos mal-intencionados pela cidade. Certamente, iriam para

cima de você e eu sei como é seu temperamento... Tenho certeza

que você iria acabar espancando um deles, deixando-os

desfigurados ou até mesmo matando-os... – O homem com

aparência de quase 30 anos falou.

Ele realmente se preocupava comigo, não caso algo

acontecesse, mas caso eu fizesse alguma coisa, algo que violasse

nossas regras. Realmente, eu seria capaz de fazer, não tenho um

temperamento suave e pacífico.

Aos poucos outros começavam a entrar no mesmo

aposento.

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- Eu sei. Perry, fica tranquilo, sei me controlar, aprendi com o

melhor. – Me desculpei, dando um beijo em seu rosto, tentando

amolecer aquele coração amanteigado.

- Oi B. – Ouvi a voz de Anne da entrada do aposento.

- Oi Anne. - Anne Saller era minha melhor amiga no clã.

A garota, que tinha mais ou menos minha idade, sentou

ao meu lado junto com Donn Petril, com o qual ela ficava

sempre junto. Eles falavam que eram apenas amigos, mas eu sei

que não são só isso, posso sentir a eletricidade entre olhar dos

dois, a tensão no ar. Por trás dessa amizade, há um romance

escondido, só não querem admitir ou talvez até tenham admitido

entre eles, só que o deixam entre quatro paredes. Ainda assim,

era engraçado vê-los se esforçar para esconder o óbvio.

Em nosso clã há dois tipos de vampiros: aqueles que

seguem as regras e aqueles que não as seguem. Dessa forma,

somos obrigados a manter um sistema de restrição. O trabalho

de Anne e Donn é fazer um relatório a respeito da situação dos

que não seguem as regras. Em seguida, esse relatório é entregue

aos encarregados pacíficos, que irão modificar as ações dos

problemáticos, fazendo com que passem a respeitar e cumprir as

regras. Caso contrário, uma terceira equipe, da qual faço parte,

entra em ação. Somos taxados como os rigorosos. Quando

encontramos vampiros fora de controle, os convencemos a

mudar suas atitudes de uma forma desagradável. Contudo,

ocorrem casos em que uma simples punição não dá certo, então,

uma quarta equipe entra em ação, sendo esta, comandada pelo

PJ, junto com o Tonny Dell e o Dylan Aron.

Ficamos conversando por um bom tempo, mas depois

saímos, nos separando pelo prédio. Eu e PJ subimos para o

nosso apartamento que, como meu Sire, era natural que

morássemos juntos.

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O dia já estava amanhecendo e, como a noite tinha sido

longa, resolvi entrar para o meu quarto e dormir. Não que

precisemos dormir, pelo contrário, apenas mantemos o hábito

humano por capricho. Mais um dia, ou melhor, uma noite que

chegava ao fim, naquela eterna vida. Só para ficar claro:

Nota 6: Caixões não são mais utilizados. Usamos camas

normais, mas se o vampiro preferir pode usar algo como uma

câmara de ar frio, que se trata de uma cama que faz a

temperatura cair.

Sábado, 10 de janeiro. Quando acordei, eram quase

10:00 da manhã. Tomei um banho frio e fui me alimentar, era a

minha rotina, meu piloto automático.

Cheguei na cozinha e abri a geladeira pegando uma bolsa

de sangue, enchendo um copo para mim e uma garrafa térmica

para que eu pudesse levar para o Perry, que estaria na biblioteca

do prédio e, provavelmente, não havia se lembrado de se

alimentar.

A biblioteca enorme, com suas prateleiras repletas de

livros, que subiam até o topo da parede. Algumas mesas

redondas de mogno no centro com cadeiras ao redor, um sofá

gigante e poltronas macias. Como havia pensado, lá estava ele,

em uma poltrona isolada no canto do cômodo. Sentei no braço

do sofá e entreguei a garrafa com o líquido vermelho, não

coagulado, que ele logo bebeu sem demora, me agradecendo

com um sorriso encantador. Ele era mesmo irresistível.

Avisei que iria sair e fui atrás de Anne, que estava na

cozinha central, junto com Donn. Os chamei para rodar pela

cidade, ficar muito naquele prédio não fazia muito bem para

mim, parecia que estava em uma gaiola. Partimos no meu carro,

a procura de alguma coisa para fazer e passar o tempo. Demos

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voltas e voltas pela cidade, mas nada de interessante havia nos

entretido. Port-Cartier podia ser entediante nos dias comuns.

O casal resolveu voltar ao prédio e eu os levei, decidindo

sair novamente, só que desta vez, preferi uma boa caminhada.

Guardei o carro na garagem e a chave no quarto, peguei meus

óculos escuros e saí logo em seguida.

O Sol estava coberto por uma nuvem, o que aliviou um

pouco o calor que fazia na cidade. Caminhei, não sei ao certo

por quanto tempo, mas percebi que já tinha sido um percurso

grande, pois não me encontrava em nenhum dos bairros

próximos à casa. Mesmo assim, não me importei, sentei em um

banco de uma praça e notei que o tempo havia mudado desde

que havia saído. De um dia ensolarado, passou para um nublado

e chuvoso. Pouco mais de dez minutos, senti uma gota de chuva

cair sobre meu rosto e, aos poucos, sua intensidade foi

aumentando. Fazia um bom tempo que não tomava banho de

chuva e, realmente, não me lembrava o quanto era bom. Por um

estranho impulso, comecei a correr pela praça abandonada,

como quando era apenas mais uma criança órfã pulando sobre as

poças que se formavam na rua sem pavimentação.

Já estava completamente molhada, meu cabelo castanho

já se encontrava negro e caía sobre meu rosto. Não vi para onde

corria e acabei esbarrando em alguém, o que fez com que eu

caísse no chão, levando a pessoa junto. Passei a mão no rosto

tirando o cabelo e vi que era um homem com mais ou menos uns

26 anos, era a idade que seu cheiro me demonstrava... Não tinha

como ter certeza com aquela chuva, eu estava um pouco

atordoada.

Levantei-me rapidamente e, enquanto ele se levantava,

pedi desculpas.

- Sinto muito, eu não tive a intenção de derrubar você!

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- Não tem problema, acontece. – Ele falou, não contendo um

riso abafado – Prazer meu nome é Josh. – Estendeu a mão para

me cumprimentar.

- Não, esse tipo de coisa não acontece. – Sorri – Mas obrigada

por ser gentil. É um prazer Josh, meu nome é Beth, Beth

O’Joanne. Desculpe-me de novo é que eu me empolguei com a

chuva e saí como uma criança correndo por aí. Sabe como é,

mesmo que o tempo passe, algumas coisas não mudam.

- Não tem problema, mas sua mão está muito gelada, não acha

que vai acabar doente correndo por aí na chuva? – “Não

sabendo ele que vampiros não adoecem”, ri pelo meu

pensamento.

- Eu não adoeço fácil! Bom, é melhor eu ir antes que esbarre em

outra pessoa. – Respondi, sorrindo gentilmente.

- Eu também tenho que ir... Nos vemos por aí. – Disse indo

embora, “Espero que sim”.

Não posso mentir, ele era uma graça. Há tempos não me

encontrava com alguém tão atraente, tão atraente quanto meu

Sire, mas completamente diferente. Cabelos escuros como a

noite, nem tão comprido nem tão curto, e penetrantes olhos

azuis. Mais alto que eu uns 10 centímetros. Vestia uma calça

jeans escura e uma camisa branca com vários desenhos nela, que

por estar molhada havia ficado levemente transparente,

denunciando seus músculos definidos.

Continuei minha caminhada pela chuva e resolvi voltar

para o prédio já que havia me cansado. Depois de trocar de

roupa fui deitar-me, onde acabei dormindo a um sono leve.

O domingo havia chegado e com um grave ruído acordei.

Levantei-me e senti um cheiro familiar. Coloquei um sobretudo

sobre a roupa que usava e saí do quarto.

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Descendo as escadas senti o cheiro mais forte e ouvi

outro ruído, desta vez já não estava sozinha, Perry estava ao meu

lado e mandou que fizesse silêncio. “Isso não é bom”, pensei

instantaneamente.

Chegamos à porta da cozinha central e aquele cheiro já

havia se tornado insuportável, abrimos a porta e lá estava um

lobo devorando um dos nossos novatos. Minha indignação foi

tamanha, que avancei sem pensar duas vezes, mesmo com Perry

tentando me impedir. Não aguentaria ver aquela cena sem tomar

qualquer atitude. Eu odiava lobos, não sei exatamente porquê,

estava em meu sangue. Arranquei um pedaço do seu pescoço,

mas antes que pudesse atacar de novo, ele me pegou e me

lançou longe, conseguindo fugir.

Não recordo muita coisa, fiquei desacordada por um

certo tempo. Quando recobrei a consciência estava no sofá da

sala, com o braço todo arranhado e deslocado, o que não

demorou para voltar ao normal, assim que o coloquei no lugar.

Fui em direção à cozinha, onde havia ocorrido toda a ação, vi

que estava tudo em ordem como se nada tivesse acontecido. O

corpo do pobre vampiro, que acabou morto, já havia

desaparecido, nosso sistema de limpeza era muito eficaz e isso

não me surpreendeu. Provavelmente não encontraria uma gota

de sangue sequer.

Minha visão continuou turva por um tempo, mas o cheiro

daquela coisa horrorosa começou a voltar, mesmo estando fraco,

eu seria capaz de segui-lo. Procurei alguém que pudesse me

acompanhar naquela trilha, mas tudo indicava que eu estava

sozinha.

Comecei a farejá-lo e vi à poucos passos do jardim

algumas manchas do sangue do animal. Segui a trilha chegando

a um galpão abandonado no meio do bosque, decidida a acabar

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com aquele miserável que havia matado um de meus amigos.

Entrei e vi sua pelagem se desfazendo, o monstro voltando à

forma humana, bem mais frágil.

- Agora vai ser mais fácil de acabar com você. – Pensei em voz

alta.

Assim que o homem se levantou e começou a vestir sua

calça, pulei em cima dele, jogando-o no chão. Estava pronta

para cravar-lhe os dentes e destruir sua garganta, quando

reconheci o rosto. Era o mesmo rapaz que havia esbarrado no

período da tarde, Josh era um lobo. Meus instintos

misteriosamente sumiram, fiquei paralisada e, ainda, sentada

sobre ele, como eu tinha deixado isso passar despercebido?

- Você que é... É o lobo? – Perguntei incrédula.

- É o que parece, não é mesmo?! – O rapaz deu um sorriso

despojado, pela pergunta retórica feita por mim.

- Isso só pode ser uma maldita coincidência ou você já sabia que

eu era uma vampira?

- Para ser sincero, eu não sabia, mas isso não interferirá no meu

interesse em você. – Ele me segurou, mais forte do que eu

pensava e me jogou no chão subindo em cima de mim, me

prendendo pelos braços.

- O que você pensa que está fazendo? – O fitei com raiva.

- O que você espera que eu faça? – Disse chegando o mais

próximo do meu rosto.

- Você acha que eu sou uma presa fácil? – Debochei, indignada.

- Não acho que seja fácil te derrotar, afinal se fosse eu teria

acabado com você quando estava cego de ódio há pouco tempo.

Mas isso é bem excitante, tendo em vista que tudo diz que não

podemos nos envolver. – Sorriu confiante e sedutor, “Belos

olhos azuis”.

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- Isso pode tornar as coisas interessantes, mas eu não trairia

minha família por tão pouco. – Retruquei sem pensar nas

palavras que saiam pela minha boca.

- Por pouco? Então quer dizer que você também queria? – Falou

com seus lábios quase colados nos meus.

- Eu não disse isso. – Continuei séria.

- Não com as palavras exatas, mas você insinuou. – Continuou

selando meus lábios demoradamente.

- Você é louco?! – Soltei um braço e o empurrei, quase sem

forças, seu cheiro me embriagava. Seria uma nova droga?

- Viu?

- Vi o quê? Estúpido. – Alterei o tom de voz, tentando me soltar.

- Você não tem forças para me impedir. – Retrucou.

- Eu devia te matar agora.

- Tudo bem, se é o que quer. Então me mate. – O moreno

terminou de me soltar e pôs seu pescoço ao alcance dos meus

dentes. A única coisa que consegui foi dar uma leve mordida,

mesmo desejando matá-lo, minha força parecia ter sumido, só

fui capaz de fazer um arranhão.

- Viu, você também gosta do risco. – Josh sorriu confiante – É

excitante, certo?

- Idiota. – Ele realmente tinha razão, eu estava interessada no

perigo, como sempre. Já que eu viveria eternamente, deveria

arriscar em todas as chances, que se apresentassem sedutoras.

Ele me beijou, dessa vez foi um beijo bem mais intenso e

eu não me preocupei em impedir. Suas mãos prenderam as

minhas sobre minha cabeça, deixando-me imóvel, novamente.

Minha razão havia desaparecido.

Ouvi um barulho e me soltei o mais rápido possível,

havia um cheiro diferente no ar. Com certeza era um grupo de

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busca, que seguiu o cheiro do lobo e viu que eu também havia

seguido. Reforços.

- Você tem que fugir. Agora! – Falei me levantando, sem

entender o porquê de tentar ajudá-lo a fugir.

- Alguém está vindo aqui. – Disse após respirar fundo e sentir o

cheiro dos vampiros.

- Me bate!

- Você é masoquista? – Para um cara esperto, ele era um tanto

quanto idiota.

- Não, estúpido. Para eles pensarem que eu tentei te impedir e

como não consegui, acabei sendo derrotada... Você iria me

matar, mas parou quando percebeu que eles estavam chegando.

- Inteligente, gosto disso em uma garota. – Murmurou, rindo e

catando sua camisa no chão.

- Vai me bate. – Falei passando minhas unhas em seu braço,

arrancando um pouco de pele e sangue.

- Desculpa! – Concluiu com um rosnado.

Assim que as palavras saíram de sua boca, ele me

acertou na cabeça, o que doeu bastante, fiquei tonta e caí no

chão. Ele foi embora correndo com a camisa na mão. “Mas por

que diabos eu estou ajudando um lobo que invadiu meu

território? Por que eu o beijei? Só posso estar maluca, mas pelo

menos não o verei mais”, os pensamentos gritavam entre si na

minha mente embaralhada e dolorida. Após uns dez segundos, vi

PJ entrar no galpão.

- Sua idiota. Por que você foi segui-lo sozinha?

- Sem sermão... Acho que minha cabeça vai explodir. – Não

precisei fingir, minha cabeça poderia explodir com aquela dor

imensurável.

- Também pudera, você levou uma pancada daquelas.

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- Mas também consegui arrancar um pouco de sangue dele... – O

interrompi mostrando minha mão suja - Teria conseguido mais,

se vocês não tivessem aparecido.

- Se nós não aparecêssemos, você estaria morta agora. – Tonny

retrucou, tão bravo quanto Perry.

- Bobagem. Eu teria matado aquele idiota a qualquer momento.

– Menti.

- Sua cabeça dura, vamos embora. – PJ me pegou no colo e

começou a andar.

- Eu consigo andar.

- Fica quieta e obedece ao menos uma vez.

Mentir não era problema para mim, mas senti-me muito

mal por ter mentido para PJ, não conseguiria contar a ele que

havia beijado um de nossos, mais recentes, inimigos. Seria

melhor que ele não soubesse disso, pelo menos por enquanto. O

loiro me carregou até em casa e me deu uma bolsa de sangue.

Minha vontade era não beber, mas a necessidade falou mais alto.

- Eu acho que vou dormir. – Conclui indo me deitar, sem obter

sucesso com o sono.

Quase não dormi pensando no que tinha acontecido,

pensando no moreno de olhos azuis e lábios quentes. Fiquei o

mais quieta possível, não queria que descobrissem que estava

acordada. Ouvi passos e em seguida uma conversa entre PJ e

outro vampiro, que julgo ser um dos que fazem parte do quarto

grupo. Os passos vieram em direção à porta e ao abrir, tranquei

os olhos e fingi estar dormindo.

- Beth, você está acordada? – Perry veio tentar me acordar.

- Agora estou. – Respondi, fingindo cansaço.

- Quero que você venha, vai haver uma reunião e você precisa

comparecer.

- Claro! – Concordei.

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Era hora de ligar meu piloto automático profissional.

Levantei, tomei um banho gelado, vesti uma saia preta e uma

blusa de botão, com um sobretudo até o joelho. Calcei uma

sapatilha preta confortável e saí encontrando com PJ na porta do

quarto.

Descemos as escadas e fomos para a biblioteca, onde

todos se encontravam para a tão urgente reunião. Sentei em uma

cadeira vazia ao lado de Anne e comecei a prestar atenção.

- Bom, agora que você chegou Beth, podemos começar. –

Robert Gordeen começou a falar dos últimos acontecimentos e

eu me senti envergonhada por ter sido a última a aparecer – A

reunião foi marcada com urgência para discutirmos o que

ocorreu... O lobo, que nos atacou hoje, está relacionado com o

assassinato de Jenny Klimier, uma fêmea ligada ao grupo dos

lobisomens do Norte. Ela foi morta por um novato sem controle.

Ele havia sido punido pelos atos, mas o estrago já havia sido

feito e, aparentemente, decidiram cobrar a morte de Jenny com

retaliação. Nossa trégua tem resultado em tranquilidade para

ambas as espécies... Então, por mais que não suportamos o fato

de um lobo ter matado um dos nossos, dentro do nosso território,

da nossa casa, não podemos fazer nada a respeito do assassinato.

Creio que não tenha mencionado, mas Robert é como se

fosse o ministro do nosso clã. Adotamos uma hierarquia

rigorosa e ele tem governado nosso território pelos últimos dois

milênios.

- Então é isso, nós vamos aceitar um ataque ao nosso clã sem

falar nada. – Ouvi a voz de um vampiro vinda do fundo do

cômodo.

- Não devia me interromper. – Robert o repreendeu com um

olhar fuzilante – Como dizia, foi errado invadir nosso

estabelecimento e matar um dos nossos, mas o fato é que nós

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indiretamente começamos. Por isso antes que vocês resolvam

caçá-lo, digo que esse assunto vai ser encerrado logo, só que

antes pretendo mandar uma intimação aos lobisomens do Norte.

– Terminando de dizer isso, levantei a mão e pedi que me

deixasse falar.

- E a que tipo de intimação se refere? – Questionei-o.

- Boa pergunta Beth, se trata de uma intimação com relação ao

contato com o lobo que invadiu nossa propriedade, a pena dele

não é de morte com relação ao assassinato cometido por ele.

Pelo menos, não ainda. Ficará sobre nossa vigia, como

prisioneiro, por ter invadido nossas terras.

- E quem irá levar essa intimação? – PJ perguntou.

- Você, claro. Junto à Tonny e Dylan Aron. Vocês irão amanhã

logo cedo com o documento e o trarão para mim. Devo

mencionar que tenho meus planos para o lobo, então, por hora,

ele será um hóspede nosso. Sendo assim, desde já, digo que

vocês estão proibidos de arrumar confusão. Principalmente

você, Elizabeth. Não devia ter ido atrás dele antes de nos

consultar. – Há séculos não me chamavam pelo meu nome

completo, isso não era bom.

- Sinto muito, não se repetirá. – Desculpei-me diante do

conselho, ainda que me sentisse humilhada por aquilo.

- É bom saber. Quanto aos outros, espero que tenha sido claro. –

Mesmo com alguns insatisfeitos, no final, todos tiveram que

aceitar. Era uma ordem e como tal deveria ser cumprida

rigidamente.

A reunião deu-se por encerrada e cada um foi para o seu

aposento. Voltei a tentar dormir, um pouco feliz com o fato de

que o lobo iria ficar por um bom tempo em nosso prédio. “Eu

tenho que me controlar, certamente não manterei contato com

Josh e mesmo se mantiver não posso me relacionar com ele”,

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pensei fitando o teto branco. Ao contrário da tentativa anterior

consegui dormir, mesmo que a sono leve.

Segunda-Feira, 12 de janeiro, a semana começaria

intensa, depois da reunião da noite anterior. Acordei por volta

das 11:00 da manhã, ouvi várias vozes vindas do salão principal.

Nota 7: Nós temos ótima audição, amplificada. Contudo, somos

proibidos de usá-la em nosso terreno, então cada apartamento é

bloqueado, de forma a impedir a intromissão em assuntos

alheios. Nunca me explicaram como isso funciona, mas

certamente tem algo a ver com os antigos anciãos.

Nota 8: Também temos um excelente olfato, principalmente

quando se trata de sangue. Somos como tubarões.

Tomei um banho rápido, vesti uma calça escura, uma

blusa vermelha, um colete preto por cima e calcei uma bota.

Desci as escadas e cheguei ao salão onde todos estavam

reunidos.

- Anne, o que está acontecendo? – Perguntei para loira parada

em uma pilastra, no canto do salão.

- O lobo vai chegar a qualquer momento. – Respondeu.

- Já? – Estranhei a rapidez do ocorrido, mal discutimos o

assunto.

- Sim. Olha lá, parece que você desceu na hora certa... Já estão

chegando. – Anne fez um gesto com a cabeça, apontando para

porta de entrada.

Saí de perto da loira de cabelos repicados e passei pelos

outros, ficando bem na frente, apenas atrás do ministro. A porta

se abriu e os quatro entraram.

Lá estava ele, vestindo uma camisa verde escura, ao

estilo exército, calça jeans e tênis. “Lindo”, suspirei

involuntariamente. Eu, definitivamente, precisava parar com

esses pensamentos.

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O ministro se aproximou do recém-chegado, me

deixando um pouco mais para trás.

- Seja bem-vindo ao nosso clã, sou o ministro Robert Gordeen.

Creio que estejam todos os associados nesse comitê de boas-

vindas dócil. – Ele apontou para trás sarcástico.

- Sinto-me honrado, em ser recebido com tanta hospitalidade. –

O moreno ironizou – Aliás, prazer, meu nome é Josh Anthony,

mas você já deve saber. – Completou, me fitando em seguida,

sem disfarçar, sendo notado pelo ministro.

- De fato, já sabia, mas foi bom ter mencionado para que os

outros saibam. Essa é Beth O’Joanne, você já a conheceu. Bom,

ela será sua acompanhante aqui, tudo que precisar é só pedir a

ela. – Robert só podia estar brincando, essa era uma péssima

ideia.

- Acho que essa não é uma boa ideia. – PJ questionou as ordens

dadas, como se lesse meus pensamentos.

- Pelo contrário, Beth é forte o suficiente para se defender. Não

estou querendo ser mal-educado Josh, mas Perry é muito

preocupado com sua Beth. – Explicou.

- Não me sinto ofendido. De fato, já tive a oportunidade de ver o

quão forte ela é. – Josh pronunciou-se e, involuntariamente,

soltei um sorriso no canto dos lábios.

- Não me preocupo com isso, me preocupo com a tolerância

dela. – Perry retrucou, me olhando sério, enquanto eu ria

discretamente.

- Justamente por isso é um ótimo trabalho, ela treinará sua força

de vontade, paciência e compreensão. Ela será também a guarda

dele, enquanto os outros se acostumam com a presença do nosso

novo hóspede.

- Perry, eu não me importo em ser a acompanhante do

cachorrinho. – O provoquei e recebi um olhar sério de Robert –

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Fique tranquilo vou me controlar, te dou minha palavra. – Dei

dois passos para frente, entrando no diálogo sobre mim mesma.

- Pois bem, já que ninguém se importa com o desastre iminente,

me dou por vencido.

- Ótimo, considere seu serviço iniciado a partir de agora e não é

uma brincadeira. Srta. O’Joanne, você estará sendo avaliada de

perto. – O ministro me olhou sério.

- Não se arrependerá de ter me escolhido. – Sorri confiante e

fitei o rapaz parado a uns quatro passos de distância.

- Bom, já lhe dei boas-vindas. Agora tenho que voltar aos meus

afazeres. – Robert Gordeen pronunciou – O comitê já pode se

desfazer, cada um deve voltar para os devidos afazeres e Beth

leve-o para o apartamento dele, que agora será o seu também. –

Ao se despedir do rapaz e dispensar os outros, entregou-me um

papel com o número do apartamento.

- Ela ficará no mesmo apartamento que ele? – PJ questionou.

- Claro, como acha que ela o vigiaria e o protegeria? – O

ministro despediu-se novamente com um aceno de cabeça e saiu

do aposento.

Perry desistiu e se convenceu, junto aos outros, voltou

aos serviços normais. Após alguns minutos ficamos apenas eu,

Josh e uns dois vampiros que o fitavam enojados. Abri o papel e

li com os olhos: 405 – 4º andar.

Durante minha longa rotina costumava seguir pelos

andares do prédio pelas escadas apesar de haver dois elevadores,

para mim funciona como uma forma de exercício. Fitei os dois

vampiros no canto do salão e olhei o rapaz ao meu lado.

- Bom, vamos andando? – Disse pegando a mala do chão, sendo

interrompida por ele.

- Não vou deixar você carregar essa mala pesada.

- Peso não é um problema mim, não acha? – Retruquei séria.

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- Eu sei, mas gosto de ser gentil. Não começamos bem da última

vez. – Josh pegou a mala da minha mão e me seguiu.

Não pude deixar de compartilhar um sorriso, ainda que

contra minha vontade. Entramos no elevador e apertei o botão

indicativo ao 4° andar, a porta se fechou e o rapaz de cabelos

bagunçados verificou a ausência de câmeras de segurança. Antes

que percebesse, fui empurrada contra a parede de metal,

largando a mala no chão.

- Pensei que fosse demorar mais para ficarmos sozinhos de

novo. – Disse com o rosto perto do meu, o suficiente para me

fazer sentir sua respiração quente.

- Você é doido? Essas paredes têm ouvido, não podemos

facilitar, muito menos repetir o que ‘não’ aconteceu naquele

galpão.

- Bom, pior do que está não pode ficar, certo?

- Não tenha dúvidas de que pode. Você não sabe o que Perry

poderia fazer a você. – Forcei uma cara séria.

- Afinal, ele é o seu namorado, marido, amante? Para o ministro

ter dito que você era a Beth dele, alguma coisa tem que ser. – O

rapaz debochou.

- Ele é como um pai, ou melhor, ele é atraente demais para ser

meu pai... – O provoquei propositalmente – É mais como um

irmão mais velho. – Sorri notando um alívio nos olhos do rapaz,

que ainda me prendia contra o metal frio – Faria alguma

diferença? – Disse de forma divertida aproximando-me do

rapaz.

- Faria? – Ele fitou meus lábios e em seguida me olhou nos

olhos.

- A porta vai abrir. – Me soltei do moreno, ao ouvir o quarto

soar de aviso do elevador, e voltei ao meu lugar inicial.

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Fingi que nada estava acontecendo e segui séria pelo

corredor até o apartamento desejado. Abri a porta, que estava

destrancada, e entramos. Não era muito diferente do

apartamento de PJ, apesar de ser um pouco menor. Uma sala

ampla onde dava passagem para a cozinha e um corredor com

saída nos dois quartos e no banheiro. Era até muito

aconchegante.

Mostrei os cômodos e passando pelo quarto que seria o

meu, notei que minhas coisas já estavam lá, estranhei um pouco,

mas não dei tanta importância. Robert deveria ter mandado que

levassem tudo para lá durante a recepção.

Seguimos para o próximo quarto que seria de Josh, entrei

na frente e ele me seguiu, trancando a porta. Virei de repente, o

encontrando à poucos centímetros.

- Você ainda não me respondeu. Faria diferença? – O rapaz

repetiu a pergunta feita há pouco tempo atrás.

- Eu fiz a pergunta primeiro, responda você. – Diminui os

centímetros que havia entre nós dois.

- Não faria, eu já estou ferrado mesmo. Só aumentaria a parcela

de delitos nas minhas costas. – Me segurou pela cintura colando

nossos corpos – E para você faria diferença?

- Já que estou encrencada mesmo. – Respondi sem pensar.

Mordi o lábio inferior e o beijei, me soltando logo em seguida –

Aqui podem ter câmeras ou escutas. É melhor ter certeza de que

não há perigo.

Vasculhamos todo o apartamento, até termos certeza de

que não havia dispositivos plantados. Ficamos boa parte da tarde

fazendo isso, como se esse fosse o maior dos problemas.

Tranquei a porta da entrada com a chave, que encontrei na mesa

da sala, e fui até a geladeira, onde enchi um copo com o sangue

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de uma bolsa. Bebi rápido, enquanto Josh pegava algo comer,

sentando-se também a mesa.

- Afinal, como é que vai ficar esse negócio de você ser minha

acompanhante, ou seja lá o que for? Isso quer dizer que se você

estiver comigo eu posso ir onde quiser? – Perguntou quebrando

o silêncio de poucos minutos.

- Para ser sincera, nem eu sei. Acho que sim, eu devo ficar na

tua cola o tempo todo. – Respondi tomando mais um gole do

líquido vermelho.

- Ficar na minha cola o tempo todo, até quando eu estiver

dormindo? Interessante isso. – O moreno sentado à minha frente

sorriu malicioso, enquanto me encarava.

- Você está se empolgando demais. – Pisquei.

- E não deveria? Até ontem nós mal nos conhecíamos e você já

estava em cima de mim, em um galpão abandonado. Hoje, você

é minha guardiã no covil dos morcegos. – O moreno falou de

forma divertida, me fazendo rir – E ainda por cima vai dividir o

apartamento comigo, se não, a cama também. – Terminando a

fala, ele se levantou, vindo em minha direção e parando logo

atrás de mim.

Josh se curvou sobre a cadeira onde eu estava sentada e

falou bem próximo ao meu ouvido, me fazendo arrepiar com a

brisa quente junto a sua voz. Eu jamais arrepiei, pelo menos não

depois de ser transformada.

- Nós não terminamos nossos assuntos lá dentro. – Enquanto

dizia isso desabotoou o colete que eu usava.

- Você está muito apressadinho, não? – Disse, enquanto

levantava da cadeira e me sentava na mesa, ficando a poucos

passos dele.

Gesticulei com o dedo, mandando que se aproximasse.

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- Eu estou apressadinho ou é você que está querendo me

enlouquecer? – Falou, se encaixando entre minhas pernas, antes

de me puxar pela cintura para mais perto de seu corpo.

- Eu estou te enlouquecendo? – Perguntei com os lábios quase

colados aos dele e com os braços em volta de seu pescoço.

- Você está mesmo interessada no risco? O perigo e a

possibilidade de morte te agradam? – O moreno que me

segurava contra ele, agora passava a mão pela minha perna até

que ela voltasse à minha cintura.

- Vai me dizer que você também não está interessado? –

Questionei com a mão por debaixo de sua camisa, arranhando

suas costas.

- Você não sabe com quem está se metendo. – Disse sério.

- Você me deixa interessada e agora quer me fazer mudar de

ideia?

- Absolutamente, não. Só estou apontando fatos.

- Ótimo, então me mostre no que estou me metendo. – Disse

mordendo-o no pescoço.

- Você gosta de provocar, só que agora não tem como correr de

mim. – Concluiu tirando a camisa.

- Por quê? Você prefere que eu corra e você tente me pegar? –

Desabotoei dois botões da camisa vermelha que usava, deixando

à mostra meu sutiã, que lhe chamou a atenção.

- Pode até correr, mas eu vou te pegar do mesmo jeito.

Seus lábios foram de encontro aos meus, com grande

urgência, era um beijo quente e completamente excitante. Ao me

soltar do beijo o puxei para o quarto, jogando-o na cama e

subindo em cima de seu tronco. Terminei de desabotoar a blusa

e a joguei num canto. Ele me virou, ficando por cima.

Aproveitei e tirei a calça, com sua ajuda, agora só estava de

calcinha e sutiã. Enquanto o beijava e o arranhava

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inconscientemente, Josh terminava de tirar a calça. Na menção

de tirar mais uma peça de roupa do meu corpo, bateram na

porta.

- Droga. – O rapaz em cima de mim soltou um rugido rouco.

- Vai sai de cima de mim, eu tenho que me vestir. – Falei,

levantando da cama e pegando minha calça – Espera. – Gritei –

Está esperando o que para se vestir?!

- Eu estava dormindo, durmo sem roupa. – O moreno, deitado

na cama, piscou.

- Você acabou de chegar e já ia dormir? – Arqueei a

sobrancelha, irônica.

Terminei de me vestir, em segundos, e fui até a sala,

destrancando a porta. Era Perry.

- Por que demorou abrir a porta? – Ele perguntou enquanto

entrava no aposento.

- Porque eu estava me vestindo. – Respondi.

- Vestindo? – Ele me olhou de cima a baixo. Eu precisava

aprimorar minhas mentiras.

- É, vestindo, estava indo tomar um banho quando você chamou.

– Menti descaradamente, eu tinha tomado um banho logo cedo.

- E o lobo, onde está? – Perguntou, vasculhando o apartamento

com os olhos.

- Dormindo no quarto dele. – Falei engasgada com a outra

mentira que contava – Quer que eu o chame?

- Não é preciso, confio na sua palavra. – Meu mundo

simplesmente desabou ao ouvi-lo.

- Não devia. – As palavras sussurradas saíram da minha

garganta como gritos.

Por mais baixas que fossem, não passaram despercebidas

pelos ouvidos afiados de Perry.

- Por que não?

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- Eu quis dizer que não devia ter vindo aqui, eu posso cuidar do

serviço sem sua ajuda. – Disse enquanto ele me olhava confuso

– Quero dizer que você já me ensinou o suficiente, eu aprendi

com o melhor, não deve se preocupar comigo, eu sei o que faço.

– Falei tentando ser convincente, já que nem eu acreditava

naquelas palavras.

- É, eu sei, mas me preocupo mesmo assim. – Os olhos azuis do

loiro continuaram sobre os meus – Se qualquer coisa

acontecesse com você, eu nunca me perdoaria. – Disse, me

abraçando.

- Perry, fica tranquilo. Pode deixar, eu prometo me cuidar. –

Conclui, dando um beijo no rosto do loiro, antes de o apertar em

outro abraço.

- Bom, já que você está bem, vou voltar para o escritório e

continuar a mexer com as papeladas. – Dito isso, o homem à

minha frente retribuiu o beijo no rosto.

O vi sair do local e voltei para o quarto, onde o rapaz de

cabelos bagunçados estava. O observei da porta, ele olhava pela

janela nosso amplo jardim, que acabava na entrada do bosque.

Não demorou e ele se virou para mim, seu rosto era tão pacífico

que nunca ninguém imaginaria a fera presa em seu interior.

- O que aconteceu? Você demorou. – Falou vindo em minha

direção, me puxando para um beijo.

- Acho melhor não fazermos isso agora. – Recuei, enquanto ele

ainda me segurava.

- O que aconteceu? Quem era? – O moreno perguntava sem

entender minhas mudanças de humor.

- Era o Perry, nunca havia mentindo para ele antes e, em pouco

tempo, menti o bastante para uma vida inteira. Ele ainda me

disse que confia em mim, quando eu não sou digna da confiança

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dele. – Falei com nojo de mim mesma, o que eu tinha na

cabeça? Estava mesmo tendo um caso com um lobo?

- Claro que é digna, não temos culpa de sentir atração um pelo

outro, mesmo que todos sejam contra...

- Não somos mais humanos Josh, devemos considerar que

somos duas raças de animais opostas. Mesmo juntos, os outros

não aceitariam, isso não é um conto de fadas. – O interrompi.

- Eu não disse que isso era um conto de fadas, está mais para

conto de terror. – O rapaz conseguiu tirar um sorriso do meu

rosto – Nós mal nos conhecemos, mas não devemos perder uma

chance que talvez nunca mais tenhamos. Não sei até quando me

deixarão vivo.

- De qualquer forma, agora não tenho mais cabeça para isso.

Perdi o clima. – Falei indo em direção à janela, sendo seguida

pelo rapaz, debrucei sobre o parapeito.

- Então, vamos sair e você distrai a cabeça. – Sussurrou em meu

ouvido, ficando por trás de mim.

- E será que você pode sair?

- Não sei, pergunte ao Robert Gordeen.

- Pois bem, eu vou tomar um banho e, depois que você tomar o

seu, nós iremos.

- Tomar o banho juntos está fora de cogitação? – Brincou,

cheirando minha nuca.

- Nem vou responder... Eu não demoro.

Saí do quarto e, após pegar uma toalha, fui tomar um

banho. A água gelada corria pelo meu corpo e, por alguns

minutos, esqueci o motivo de estar ali. Dez minutos se passaram

e saí, dando de cara com Josh no corredor, dei um meio sorriso e

segui para meu quarto.

Abri o guarda-roupa novo e peguei um vestido preto até

o joelho, uma bota na mesma cor, um cinto vermelho que

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contrastasse com o tom negro daquela roupa e me vesti. Passei

um batom vermelho, um perfume e coloquei um colar. Quando

terminei de me arrumar saí do quarto, Josh ainda não estava

pronto, afinal ele tinha tomado banho depois de mim, fui até a

sala e sentei no sofá a sua espera, checando as mensagens do

celular.

Menos de cinco minutos e ele já estava pronto, vestindo

uma camisa social branca com as mangas dobradas e uma calça

jeans preta. Seu cabelo estava molhado e bagunçado, já o

perfume que usava era simplesmente irresistível. “Seria o

homem mais cheiroso que eu havia conhecido?” Não

demoramos muito tempo para sair, peguei a chave do carro e

uma bolsa. Fomos ao andar superior pedir uma permissão, que

foi concedida, e, ao chegarmos no salão principal, resolvi avisar

PJ, para que não se preocupasse.

- Perry?! – Entrei na biblioteca, avistando-o com um de seus

antigos livros.

- Beth? O que está fazendo aqui? – O homem de cabelos bronze,

sentado na poltrona da biblioteca, falou – Olá Josh! – Ele

continuou ao ver o meu acompanhante.

- Perry, como você sempre reclama que saio sem avisar, vim

aqui falar que estou indo sair junto do Josh. – Expliquei,

enquanto ele fitava o rapaz ao meu lado com os olhos em

chamas.

- E... Ele pode sair?

- Já fui falar com Robert, ele liberou. – Respondi.

- Se ele permitiu... Então, tudo bem, mas tome cuidado. –

Sugeriu.

- Pode deixar, general. – Brinquei, indo abraçá-lo – Bom, então

estamos indo, qualquer coisa estou com celular. – Íamos saindo

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do cômodo, quando me virei encontrando os olhos de Perry

sobre mim, mandei um beijo e sorri.

Saímos do prédio, havia escurecido rápido demais hoje,

entramos no carro e eu fui dirigindo.

- Sugestões? – Perguntei.

- Como?! – O moreno se virou para mim.

- Alguma sugestão de lugares onde ir?

- Você gosta de qual tipo de programa?

- Coisas solitárias, não sou chegada em muitas pessoas ao meu

redor. Costumam me deixar com fome... – Rebati, rindo

divertidamente da piada sem graça.

- Pois muito bem, esse carro tem um som apropriado? –

Debochou.

- Sim, senhor.

- Você tem uma boa lista de músicas?

- Tenho. – Revirei os olhos, apontando para o celular.

- Então vamos para alguma praia deserta.

- Eu não conheço praias, não sou muito chegada a bronzeados,

como deve ter notado. – Ri pela segunda piadinha sem graça que

acabara de fazer.

- Eu conheço uma perfeita, posso dirigir? – Após relutar em

minha mente, estacionei o carro.

- Claro. – Disse tirando o cinto e passando por cima do garoto

para o seu banco.

- E depois você reclama quando eu tento te agarrar. – O moreno

disse sentando no banco do motorista.

- Não fiz coisa alguma com você. – Ri pelo comentário, sua

presença me deixava absurdamente infantil.

Josh seguiu dirigindo. Saímos da cidade e, após quinze

minutos, chegamos à uma bela praia. Uma longa duna de areia

terminava com o oceano calmo e brilhante, como um diamante,

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abaixo da luz fraca da lua fina. Josh estacionou o carro no meio

daquela areia fofa e desligou o motor.

- Chegamos, o que achou? – Perguntou me olhando.

- Não sei como descrever... Extremamente lindo, talvez. –

Respondi olhando ao redor.

- Que bom que gostou, hoje esse lugar é só nosso. – O rapaz ao

meu lado conferiu as opções de músicas e colocou um álbum de

Lifehouse, começando por “Everything”.

Aquela praia deserta estava extremamente linda, fiquei

fascinada com tamanha beleza em um único lugar. A bota de

salto alto não me pareceu apropriado para aquela areia fofa, a

tirei e a larguei no carpete do carro. O moreno aumentou um

pouco o volume do som e me seguiu pela areia. Não me

lembrava do quão linda poderia ser uma praia, era incrivelmente

bom o contato da areia em meus pés, sem sombra de dúvidas

minha rotina nunca havia me dado liberdade de conhecer outros

locais fora da cidade, como aquele paraíso escondido.

O moreno me observava e ouvia a música, que ecoava

por todo o paraíso, antes silencioso, pediu que me aproximasse

para que dançássemos. Nunca fui uma boa dançarina, mas iria

me esforçar para não fazer feio. Quando a música seguinte

começou, “You and Me”, ele colocou minhas mãos em seu

pescoço e segurou minha cintura, fiquei na ponta dos pés para

que nossa diferença de altura diminuísse. Acompanhamos o

ritmo lento e dançamos pelos quatro minutos de música, sem

dizer uma palavra. Não havia necessidade de palavras, já que

nossos olhos nos entregavam quando se encontravam

silenciosamente.

A música finalmente acabou dando espaço para outras,

nos afastamos um pouco e resolvi quebrar o silêncio mesmo que

não fosse por um assunto muito agradável.

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- Eu preciso contar ao Perry. – Sussurrei, inconsciente.

- Como assim contar? – Ele me pareceu um pouco confuso.

- Vou contar que ficamos juntos, quero dizer, estamos juntos.

Não sei direito, estamos juntos? – Perguntei, agora eu também

estava confusa.

- Estamos? – O moreno repetiu a pergunta feita por mim.

- Por que você só me responde com perguntas?

- Porque você faz perguntas das quais já sabe as respostas. –

Permanecemos em silêncio por poucos segundos até o moreno

prosseguir, aborrecido – Se não estivéssemos juntos, não haveria

motivo algum para termos vindo até aqui... Mas não acho boa

ideia ficar falando sobre isso com outras pessoas. Não

precisamos gritar aos quatro ventos. – O silêncio voltou, apenas

podia-se ouvir a música – Para que você foi tocar nesse

assunto?! – Pensou alto demais.

- Eu não disse que gritaríamos para todos os lados que estamos

juntos, só contaríamos ao Perry. E outra coisa, iríamos ficar

juntos às escondidas? Olha, eu gosto de mistério e da ideia

também, mas ao menos o Perry merece saber, é quase um crime

eu mentir ele. – Falei séria.

- Um lobo e uma vampira, estamos quebrando muitas regras

sabia? – Sorriu irônico.

- Justamente por isso que devemos contar só ao Perry, ele vai

entender. Não para todos...

- Ainda acho que é melhor esperarmos um pouco, estamos nos

precipitando. – Ele colocou a ponta dos dedos em minha boca,

me impedindo de continuar a falar – Devemos planejar como

contar. Aliás, viemos aqui, principalmente, para relaxar e

esquecer do resto. Viemos bem longe de tudo e, caso não tenha

notado, não é o que estamos fazendo.

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- Tudo bem, você venceu, por enquanto. – Minha pele fria e a

dele, simplesmente tão quente, se tocavam.

O moreno me puxou para mais um de seus beijos

demorados, o mundo simplesmente sumia como se nos

entrássemos em um túnel sem volta, bem longe da luz. Uma

definição perfeita para nós dois juntos seria a de dois

adolescentes sem escrúpulos. A noite ainda ajudava, o céu com

uma meia lua crescente que deixava o brilho das estrelas

transparecerem, nada nem ninguém poderia nos atrapalhar

naquele momento.

Caminhamos em direção ao mar, com aquela brisa

pacífica. Não morávamos em um lugar quente, mas

definitivamente um clima ameno havia contornado toda a cidade

nos últimos meses. A água morna tocava agora nossos pés

descalços e, como antes, o silêncio permaneceu, sendo quebrado

apenas pelo som vindo do carro. Escutei alguns passos, mas não

consegui descobrir de onde vinham e a quem pertenciam.

- Você escutou isso? – Perguntei, fazendo o rapaz prestar

atenção nos ruídos.

- Agora escutei, vem do carro. – O moreno se virou rápido e

correu até o local onde o carro estava, me deixando um pouco

trás.

- Espera. – Corri.

- O que vocês querem? – O ouvi dizer para dois garotos

humanos de uns 17 ou 18 anos.

- Além do carro, acho que teremos uma diversãozinha. – O mais

velho riu ao me ver – Já no babaca, podemos dar uma boa surra,

o que acha?

- Você quer ou eu mesmo corro com eles daqui. – Josh me

perguntou.

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- Eu divido, fico com o menor, não quero estragar meu vestido...

Você pode ficar com o arrogante.

- Legal, adoro garotas difíceis. – O mais novo soltou uma risada

e olhou para o companheiro.

Fomos em direção aos dois rapazes, eu segui até o menor

e Josh até o maior, só não havíamos feito nada, ainda. Parei em

frente ao rapaz da minha altura e sorri.

- Não quer mesmo ir embora?

- Prefiro me divertir com você. – Respondeu passando a mão em

meu braço.

- Ótimo, queria mesmo ouvir isso. – Segurei forte seu braço e o

joguei contra o carro – Acho bom não ter arranhado meu carro,

seria pior para você.

- Você vai me castigar? – O jovem riu.

- Beth não brinque. Dê um fim nisso logo, estamos perdendo

nosso tempo. – Josh resmungou.

- Realmente. – Rasguei a camisa do rapaz e cravei-lhe os dentes

no pescoço.

Definitivamente o sangue fresco é melhor que o do

banco de sangue, é quente, tem mais textura e o sabor é mais

concentrado. Dos meus tempos de humana poderia compará-lo

com um bom vinho e outro barato. Ambos podem ser parecidos,

mas o de melhor qualidade é sempre mais saboroso. “Preciso

me focar, não posso extrapolar, se esse lixo morresse eu teria

sérios problemas”, pensei, parando de drená-lo. Tirei no

máximo um copo e meio de sangue, me deixaria satisfeita por

um bom tempo. Soltei o garoto e o manipulei facilmente.

- Vocês foram dar uma volta e tiveram uma briga com uns

rapazes de uma gangue. – Sussurrei, olhando fundo em seus

olhos, o garoto permaneceu calado, enquanto esperava o outro,

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para saírem dali – Sua vez fofo. – Virei para o outro, que tentou

fugir, mas foi impedido por Josh.

- O que vocês são? – Ele disse tentando se soltar do moreno.

- Digamos que somos seus piores pesadelos, queridinho. Mas

pode ficar tranquilo, vocês nos pegaram em um dia, ou melhor,

em uma noite boa. Não irão morrer. – Sorri.

Segurei o rosto do rapaz com as duas mãos, o forçando a

encarar meus olhos, e repeti o mesmo que havia dito ao outro,

quando o soltei os dois correram em direção à estrada e sumiram

na escuridão.

Nota 9: Quando estamos fortes, podemos controlar outros,

sejam humanos, vampiros ou lobos.

A atitude dos rapazes me fez soltar uma gargalhada

atrasada, olhei para o moreno ao meu lado que parecia confuso e

sorri, tentando me controlar.

- Não é ridículo, a forma como humanos agem? – Questionei.

- Só notou isso agora?! Os humanos de antigamente eram mais

interessantes que os de hoje. Tinham mais cultura, mais graça e

menos malícia.

- Até parece que você repudia a malícia. – Pisquei.

- Com você provocando, não sou capaz de resistir.

- Bom saber. – Entrei no carro e procurei outro álbum.

- Se interessou pelo que? – O moreno parou ao meu lado, de

fora do carro. Coloquei The Rasmus, para tocar dessa vez e

retornei à atenção para ele.

- Além do fato de poder te controlar de uma forma bastante

divertida? – Chamei o moreno para mais perto de mim.

- É, além do fato de você me controlar. – Disse se inclinando

perto do meu rosto.

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- Bom, melhor que isso, só quando eu te dou um pouco do

gostinho e te deixo babando pelo resto. – Dei um leve beijo no

moreno e saí do carro, rápido.

- Se você quer ser um corcel indomável, eu vou te mostrar como

sei colocar celas. – Se virou para me observar.

- Você vai me domar?! – Fitei o moreno à poucos metros – Eu

adoraria ver isso acontecer. Um corcel não fica parado, não é

mesmo?! Então, para me domar vai ter primeiro que me

alcançar. – Comecei a correr, achei engraçada a comparação do

corcel indomável comigo, foi no mínimo excêntrico.

Nota 10: Correr é algo um tanto quanto fácil para os vampiros e,

até onde saiba, os lobisomens também atingem grandes

velocidades.

Devíamos tomar cuidado para não irmos muito longe, já

que o carro estava aberto, mas não demorou muito até que Josh

me alcançasse. Talvez um minuto de corrida acirrada,

definitivamente isso era frustrante.

O moreno me segurou por trás, senti seu braço passar

pela minha cintura forçando que eu parasse.

- É, parece que eu estou conseguindo te domar. Já sou rápido o

bastante para poder te alcançar. – Falou no meu ouvido e deu

um beijo no meu pescoço fazendo-me arrepiar.

- Falta muito para me domar.

- Como? – Josh ainda me segurava por trás colando seu corpo

no meu.

- Como conseguir me controlar. Pode ter me alcançado, mas

ainda tem que colocar a cela. – Me virei para o moreno e dei

uma mordida em seu lábio inferior, indo começar a correr de

volta até o carro.

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O moreno me segurou pelo braço impedindo que

voltasse a correr, colocando-me frente a ele e colando nossos

corpos novamente.

- Então, eu tenho que te controlar, não é? Pois bem, aceito o

desafio. Quer que eu comece por onde? – Me segurava forte

pelo braço.

- Começar?!

- É, se vou te controlar, chega de me dar o gostinho e cair fora,

você me provocou e agora que eu quero você, não há como

pular fora.

- É mesmo? ... – Antes que continuasse a falar qualquer coisa, o

rapaz me pegou no colo e em menos de um minuto me levou até

o carro.

Ele abriu a porta traseira do carro e me deitou no banco,

ficando por cima de mim.

- Parece que não tem para onde fugir agora. – Falou próximo do

meu rosto o suficiente para me fazer sentir sua respiração.

- Será mesmo?! – Pisquei.

- Tenha certeza, você não me escapa agora. – Selou meus lábios,

antes de começar a beijar e morder meu pescoço.

Enquanto Josh me beijava o pescoço, sua mão deslizava

pelas minhas coxas, levantando meu vestido até a cintura,

comecei a desabotoar sua camisa deixando seu corpo definido à

mostra.

O beijo do pescoço descia para o meu busto e eu

arranhava suas costas. Josh parou de me beijar por alguns

segundos, apenas o tempo necessário para que ele desabotoasse

o cinto e a calça. Antes que resolvêssemos tirar mais alguma

peça de roupa o meu celular começou a tocar.

- Deixa tocar, não atende. – Disse entre um beijo e outro.

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- Se eu não atender, eles virão nos procurar. – Respondi com os

lábios ainda colados aos dele.

- Merda! – O moreno saiu de cima de mim, contra sua vontade.

Abri o porta-luvas e peguei o celular que tocava

escandalosamente, como se quisesse competir com o som do

carro. O visor mostrava a sigla PJ e a foto do loiro sorrindo.

- É o Perry. – Virei para o moreno que ainda estava emburrado.

- Sanguessuga insuportável com essa mania de quebrar o clima e

me atrapalhar. – Fuzilei-o com um olhar, mesmo que fosse

apenas brincadeira, não havia achado graça.

- Oi PJ. – Falei de forma gentil.

- Você sabe que horas são? – A voz preocupada do outro lado da

linha quase gritou.

- Não, não sei.

- Pois é, já são 2:00 am.

- Nem está tão tarde e eu sei me cuidar, não precisa se

preocupar.

- O problema não é você Elizabeth O’Joanne. – Ele parecia

bravo ao enfatizar meu nome de humana.

- PJ eu já disse que sei me cuidar, pare de se preocupar com o

que não deve. – Retruquei – Além disso, eu queria te falar uma

coisa, mas não pode ser por telefone tem que ser pessoalmente.

– Agora quem me fuzilava com um olhar era Josh.

- Não adianta, não há como não me preocupar com você e você

sabe disso. Por isso tenha cuidado.

- Pode deixar.

- Não quero que você fique muito tempo longe das nossas terras.

Faça um favor mim?

- Claro.

- Não se mate e nem crie confusão. Se algo acontecer a você, eu

sou capaz de morrer.

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- Não fale merda Perry.

- Eu estou falando sério, preciso desligar agora, mas me promete

que não vai fazer besteira.

- Prometo.

- Bom, tenho que ir, estarei esperando até vocês voltarem, aí

você me conta o que quer. Te amo.

- Também te amo, PJ. – Desliguei o telefone e coloquei

novamente no porta luvas.

- Tem certeza que não há nada entre vocês? – O moreno me

tirou dos meus pensamentos.

- Ele é meu sire, por quem devo tudo. – Resmunguei – Mas nada

além disso.

- Eu começo a achar que ele não pensa assim.

- Se ele não pensasse assim, com certeza nos primeiros anos em

que me transformou teria tentado algo. Porque eu não deixei

faltar oportunidades e liberdade para fazer o que quisesse

comigo, mas ele não quis.

- O que quisesse? – O moreno questionou enquanto vestia a

calça.

- Sim, o que quisesse. – Ri, me sentindo confiante por ter

despertado um pouco de ciúmes no moreno – Eu não sei muito

do Perry, antes de ser transformada por ele. Sua vida é um

enigma para mim, mas fiquei sabendo por outras pessoas, que o

coração dele foi despedaçado quando sua esposa morreu, ou

algo assim, pelo menos é o que tudo indica. Disseram-me que

ela era muito linda, uma jovem ruiva com os cabelos longos e

lisos, tão branca quanto a neve, lábios finos, mas tão vermelhos

quanto sangue.

- Realmente parece ser muito bonita.

- Parecia, ela desapareceu, tudo indica que foi morta,

assassinada, mas não há certeza sobre isso, nem provas. O PJ

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nunca me contou nada, nem mencionou sequer o nome da

garota, os outros que vivenciaram esse ocorrido me mostraram

uma foto dos dois, mesmo em preto e branco dava notar o quão

bela ela era, foi quando descobri seu nome Marie Abigail, mas

ele a chamava de Abby.

- Então quer dizer que ele ainda não esqueceu ela? – O moreno

parecia interessado na história.

- Exatamente, na foto eles pareciam dançar em um jardim, devia

ser no dia do casamento dos dois. Ela usava um vestido branco

muito bonito e os dois se olhavam com tanta paixão, que

ninguém nunca diria o que eram na verdade. E é só até aí que

sei.

- É uma história triste, mas fico feliz. – O moreno afirmou.

- Eu acabo de te contar o trágico acontecimento da vida do Perry

e você diz que fica feliz? – O olhei indignada.

- Claro, assim não terei que me preocupar com uma possível

concorrência. – Deu um sorriso confiante, vestindo a camisa e

começando a abotoá-la.

- Concorrência, é? – Me virei para o garoto e saí do assento da

frente, voltando ao banco de trás, mas sentando em cima e de

frente para ele.

- Claro! Não sou bom em dividir minhas coisas, também não

gosto de perder, portanto, não vou deixar ninguém me roubar

tão fácil. – Sorriu, segurando-me pela cintura.

- Não vai?! – Disse, beijando e mordendo seu pescoço, enquanto

passava a mão pelo seu tórax nu, sentindo-o estremecer sob meu

toque – O que foi?

- Beth, é sério, eu não quero te perder! – Respondeu em um

sussurro entre beijos suaves.

- Não vai. – Afirmei, ainda que não soubesse do futuro.

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Naquele momento, a única coisa que eu ouvia, além do

som estridente do carro, eram nossas respirações. Eu podia

sentir o corpo de Josh já tão próximo ao meu, que eu não podia

me distinguir dele. Após tempos, vivendo namoros breves com

alguns vampiros do meu e dos outros clãs próximos, que em

quase nada me agradavam, eu e Josh conseguíamos sentir prazer

com o outro, sem sexo propriamente dito.

Eu estava sobre ele e envolta por seus braços, enquanto

arranhava-o no peito, com minhas unhas e puxava seus cabelos.

Josh me segurava pela nuca prendendo seus dedos bem firmes

entre meus cabelos e acariciava desde a minha cintura, passando

pelas costas, vindo até meu busto e descendo novamente à

minha cintura, tudo isso, com carinho, suavidade, mas ao

mesmo tempo, com a firmeza de um homem-lobo. Era notável

sua paixão, com seus gestos dizia que estaria sempre próximo,

para evitar que me perdesse.

O tempo passou sem, nem ao menos, termos percebido,

quando finalmente nos largamos já havia passado das quatro da

manhã, provavelmente Perry me mataria, era melhor irmos

embora logo. Trocamos novamente as músicas, mas não dei

tanta importância para qual escolheria. Tentei arrumar o vestido,

que antes estava perfeitamente liso e agora todo amarrotado,

ajudei o moreno a terminar de abotoar a camisa e arrumar ela

em seu corpo, por fim, calcei a bota que mal me lembrava de ter

usado. Passamos para o banco da frente e Josh dirigiu até o

prédio.

- Chegamos. – Olhei para o garoto que aparentava estar um

pouco cansado – Vamos logo antes que Perry se aborreça mais.

- Lá vem você falar no Perry Jordan de novo. – Revirou os

olhos, enquanto desligava o som e o carro.

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- Sem crise, por favor. Vamos? – Falei, enquanto saía do carro e

batia a porta, ele fez o mesmo, me devolvendo as chaves.

Entramos no saguão principal totalmente indiferentes um

com o outro. Uns conversavam e nem notaram nossa presença,

já outros nos encaravam como se soubessem de algo. Seguimos

até a biblioteca para avisar à PJ que havíamos chegado.

- Desculpa a demora. – Falei dando um beijo na bochecha do

loiro, que estava sentado na sua poltrona como de costume lendo

um livro de filosofia.

- Já não era sem tempo. Foram onde? – Ele começou a encher-

nos com perguntas.

- Demos várias voltas de carro e paramos numa praia para olhar

a noite, ficamos conversando e acabamos perdendo a hora.

- E foi tudo bem?

- Foi sim, mas foi cansativo também, só quero saber de dormir.

– Respondi.

- E você Josh, gostou? – Agora ele olhava para o moreno ao

meu lado, analisando seu semblante.

- Foi tudo ótimo. A noite estava linda, faltava a fase da lua certa,

mas fora isso foi melhor do que esperava.

- Entendo. – Perry o encarou sério – E você Beth, disse que

queria me contar algo?

- É, eu quero. – Respondi e olhei para o moreno que havia

mudado de feição – Mas não precisa ser agora, quando eu

descansar um pouco, converso com você com calma.

- Se você prefere assim, que seja então. Vai descansar e depois

conversamos. Bom fim de noite Josh.

- Obrigado, para você também. – Os dois se deram um meio

sorriso.

- Se precisarem de algo é só me chamar. – PJ me deu um meio

sorriso enquanto saíamos.

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Pode até ser apenas uma impressão, mas senti uma certa

hostilidade entre esses dois, bom, depois resolveria isso. Saímos

da biblioteca e subimos pelo elevador até o apartamento.

Entramos e trancamos a porta.

- Eu tomo meu banho primeiro ou você toma? – Perguntei.

- Não seria muito mais prático e econômico tomarmos banho

juntos? – Ele se fez de esperto.

- Temos que maneirar aqui, se abusarmos muito, será pior.

- Então eu tomo meu banho primeiro, sou mais rápido. – Ele foi

até o quarto e pegou sua toalha.

Após uns cinco minutos o moreno saiu do banheiro com

seu cabelo molhado e bagunçado, com a toalha enrolada na

cintura deixando o abdômen definido, molhado e à mostra.

Provavelmente queria me provocar e havia obtido sucesso. Ri

para o rapaz e entrei no banheiro, tomei um banho um pouco

mais demorado, apenas cinco minutos a mais. Me enxuguei e saí

enrolada na toalha, entrei no meu quarto e peguei uma camiseta

preta e vesti por cima da calcinha e do sutiã, “Se é para

provocar, provocamos juntos”, conclui me olhando no espelho

atrevidamente.

Nota 11: Sim, possuímos reflexo.

Saí do quarto e ouvi a televisão ligada, segui pelo

corredor até a sala e parei encostada na parede, o olhando à

distância. Ele vestia apenas uma calça de algodão, jogado no

sofá, comendo uma pizza gelada, deve ter ficado com preguiça

de esquentar.

O moreno não demorou a notar minha presença ali, mas

o mais engraçado foi vê-lo engasgar com o pedaço de pizza

quando me viu. Não contive o riso debochado, como se ele já

não tivesse visto minhas pernas. Caminhei e sentei ao seu lado

para olhar o que assistia.

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- Assistindo o que? – Perguntei.

- É uma série policial, ao menos pude notar isso.

- Então você gosta dessas séries?

- Mais ou menos. – O moreno respondeu e voltou à olhar para

tela.

- Entendo. – Ficamos pela primeira sem ter o que conversar –

Essas séries são boas mesmo, ainda não sei muita coisa sobre

você.

- Realmente, acho que não falamos muito. – O rapaz segurou um

riso abafado, nossa relação era mais carnal.

- Pois é... Então, me conte um pouco de você, o que fazia?

- Eu posso ser considerado um faz tudo, com o passar do tempo

você se acostuma a fazer de tudo um pouco, mas meu trabalho

mesmo era de policial, tinha lá suas vantagens eu tinha

rosquinhas de graça. – Segurei um riso abafado pela piadinha –

E era mais fácil de chegar aos outros lobisomens, que

estragavam nossa descrição.

- Então você era policial... – Pensei, um pouco alto demais.

- Era, por quê? – Me fitou curioso.

- Não parece ser muito sua cara, os policiais daqui não deveriam

ser gordinhos ou terem bigode?

- Engraçadinha. Eu não era o único novo no departamento, havia

muitos jovens. Além de policial, também fui advogado de defesa

da nossa mansão, livrando a cara de alguns.

- Policial e advogado, tudo em um currículo só? – Brinquei.

- Não acho muita coisa, eu poderia ter feito algo a mais... Mas

agora me fale de você, o que fazia antes de virar minha vigia?

- Eu trabalhava aqui mesmo, temos um sistema de funções onde

faço parte da terceira equipe de mudança comportamental do

nosso clã.

- Equipe de mudança? – Perguntou intrigado.

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- Nós somos bem rigorosos com nossas regras aqui, mas ainda

há vampiros que saem da linha e a terceira equipe é a que dá um

castigo para que eles se comportem.

- Então seu trabalho é dar uma surra em alguns caras e ainda te

pagavam por isso?

- Basicamente sim. Mas bem antes, há muito tempo mesmo, eu

era legista, havia acabado de terminar a residência e um estágio.

Abrir mortos é bastante instigante. – Pisquei.

- Então você era médica e depois seu emprego aqui era bater em

uns folgados. Agora teve que parar com tudo isso para ficar de

olho em mim?

- Isso, mas vale apena. – Sorri para o moreno.

Continuamos ali com um bate-papo divertido, expondo

nossos pensamentos, vendo o que batia e o que não. Já era seis

horas da manhã, quando resolvemos dormir, desligamos a

televisão e saímos da sala.

- Temos que ser discretos, mas não vejo problema em ficarmos

no mesmo quarto e na mesma cama. – O moreno falou baixo,

enquanto me puxava pela cintura.

- Ok. – Cedi e entrei no quarto do rapaz fechando a porta.

Peguei os travesseiros e ajeitei na cama, deitando e me

cobrindo com o lençol vinho que se encontrava sobre a mesma,

enquanto Josh fazia o mesmo. Virei para o lado no intuito de

dormir, mas sem sucesso, pois o moreno me virou novamente.

- Sem beijo de boa noite? Como espera que eu durma? – Falou

se aproximando do meu rosto.

- Você quer dizer bom dia, não?!

- Não importa, contando que eu ganhe o beijo.

- Você não se cansa mesmo...

- Estamos indo dormir juntos, um beijo não fará diferença

alguma, caso nos flagrem.

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- É, faz sentido. – Completei.

Diminui a distância entre nossos rostos, colando os

lábios aos dele, me virei para o lado, enquanto o moreno ainda

me abraçava por trás. Dormi rapidamente em seus braços, talvez

mais rápido do que o costume.

O tempo passou rápido enquanto dormíamos, quando

acordei estava exatamente na mesma posição de quando havia

me deitado, o mesmo ocorreu com Josh, não havia movido

sequer uma polegada. Como não precisava dormir muito,

acordei antes do moreno, me levantei silenciosamente e saí do

quarto, fechando a porta.

Entrei no meu quarto apenas para vestir um short. Saí do

cômodo e fui até a cozinha, abri a geladeira e enchi um copo

com aquele líquido vermelho que aliviaria minha sede, como um

copo não foi suficiente, tomei logo três. “Tenho que me

controlar mais”, pensei vendo minhas mãos pararem de tremer

aos poucos. Finalmente havia conseguido aliviar minha sede,

mesmo que eu não comia nada, não custava nada fazer alguma

coisa para que o moreno pudesse comer.

Abri a geladeira e o armário, verificando o que havia ali,

peguei alguns ingredientes e resolvi fazer um bolo, já que não

sabia do que ele gostava. Peguei a tigela e comecei a misturar

todos os ingredientes: ovos, leite, farinha, manteiga, açúcar,

chocolate e o maldito fermento, que demorei a encontrar.

Terminei de bater a massa e levei ao forno, fui fazer uma

cobertura e pronto agora era só esperar que o bolo terminasse de

assar, fiz um café e um chá, um pouco de cada já que um deles

não iria ser consumido.

Enquanto esperava o bolo terminar de assar, lavei as

poucas vasilhas que haviam se acumulado, acho que o barulho

das vasilhas ecoando pelo apartamento, mesmo que pouco, fez

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com que o moreno acordasse. Não demorou cerca de dois

minutos até que ele viesse para cozinha.

- Bom dia. – Chegou por trás de mim, me beijando no pescoço.

- Boa tarde, isso sim, já passou das duas. – Virei para o moreno

contemplando seu rosto ainda sonolento.

- O cheiro está bom.

- Não é nada demais, só um bolinho. – Sorri em agradecimento

ao elogio.

- Quer dizer que além de tudo você cozinha?! E pelo visto muito

bem.

- Não sou uma chefe francesa, mas sei alguns truques de quando

era humana. – Pisquei e voltei para minhas vasilhas, enxaguando

os últimos itens e colocando-os nos lugares.

Enquanto o rapaz se sentava à mesa, eu tirei o bolo do

forno e virei a cobertura por cima. O cheiro realmente estava

ótimo, mas enquanto Josh não provasse não teria como saber se

havia realmente ficado bom. Coloquei o bolo sobre a mesa e

cortei um pedaço, servindo-o.

- Prefere café ou chá? – Perguntei com os dois bules à mão.

- Café. – Ele respondeu.

Servi ao rapaz uma xícara do líquido escuro, que

antigamente era uma das coisas que mais gostava de tomar.

Sentei à mesa também, observando-o comer.

- E então? Consegui acertar a receita?! – Perguntei ansiosa com

a resposta.

- Sem sombra de dúvida está ótimo, não precisava ter se

preocupado comigo. – Respondeu.

- Não vejo o mínimo problema em cozinhar para você. Aliás, até

gosto, vou relembrar minhas antigas receitas. Faz muito tempo

que não cozinho, achei até que iria errar.