Upload
lykhue
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Hianne Leite Ribeiro
SILÊNCIO
Primeira Edição
2
3
Sumário
Capítulo 1: Introdução ....................................................... 7
Capítulo 2: Baile ................................................................ 57
Capítulo 3: Surpresas ..................................................... 101
Capítulo 4: Rotina ........................................................... 128
Capítulo 5: Treinos .......................................................... 159
Capítulo 6: Aflições ......................................................... 195
Capítulo 7: Mudanças ..................................................... 216
Capítulo 8: Confissão ...................................................... 240
4
5
Aos meus amigos Patrick e Mardly que me
ajudaram a imaginar o quão forte pode ser a
ligação entre um casal, independente da cor, da
raça ou do poder.
6
7
Capítulo 1: Introdução
Era sexta-feira, 9 de janeiro de 2009. Já havia
escurecido, era como se minha pele começasse a deixar a
irritação de lado. O Sol não afeta os vampiros como as histórias
apontam. Não poderíamos nos misturar aos humanos, caso algo
assim ocorresse.
Sim, nossa pele pode ficar bastante irritada quando o Sol
está muito forte, ainda mais agora por causa do aquecimento
global ou, ao menos, o que grande parte de suas teorias
implicam. Os seres humanos, que se dizem tão espertos e cheios
da verdade, estão acabando aos poucos com o que resta deste
planeta e sem a Terra não haverá humanos, vampiros, lobos ou
qualquer raça existente.
Antes que me esqueça, prazer, meu nome é Beth
O’Joanne. Esse poderia ser apenas um diário, mas acho melhor
descrever como uma narração do meu destino. Como as coisas
mudam em tão pouco tempo e só nos resta mais uma história
para contar...
Outra noite, como qualquer outra em Port-Cartier, à
procura de alimento, já que devorar humanos sem um forte
motivo só é real no enredo de Drácula. Devo confessar, adoro
Drácula de Bram Stoker, se o conhecesse lhe daria um prêmio
por sua criatividade, é mesmo uma bela obra. Drácula de fato
existiu, mas ele não foi o primeiro de nós, nem o mais poderoso,
ele foi apenas o impiedoso, o empalador, que por uma mulher
perdeu a própria cabeça. Era difícil entendê-lo nesse aspecto.
Consigo sangue fresco através de John Settler, médico
humano do banco de sangue do Hospital In-Systems. Um dos
poucos humanos aliados ao nosso clã, diria até honrado.
8
Cheguei ao Cemetery Extreme com a rapidez de
costume, ainda que longe do centro da pequena cidade. Nada
aqui lembra aqueles cemitérios de filmes de terror, este é
totalmente o contrário: um campo vasto, com algumas lápides e
túmulos de mármore, limpos e brilhantes sob a luz do luar. Hoje
talvez esteja um pouco diferente, já que não há lua no céu e os
poucos postes que há não conseguem iluminar todo o local.
Resumidamente, é um lugar bem aconchegante para alguém
como eu, para uma vampira solitária.
Apreciei a imensidão do ambiente e me sentei em um
dos túmulos de mármore, de forma a desfrutar o sabor daquele
líquido, aliás, o único sabor que podemos sentir nitidamente.
Como vou contar sobre minha história gostaria de explicar
algumas coisas sobre nós vampiros:
Nota 1: A luz do Sol não nos faz derreter ou virar cinzas. O fato
é que com o calor dos raios do Sol, principalmente quando estão
muito fortes, nossa temperatura se eleva e começamos a passar
mal, tendo que fazê-la abaixar o mais rápido possível, pois a
coisa mais mortal para um vampiro é o calor.
Nota 2: Estacas enfiadas no nosso coração também não nos
mata, apenas nos paralisa.
Nota 3: Apenas com uma mordida no pescoço e retirando o
sangue do corpo do indivíduo não se cria um vampiro. Um
vampiro é criado quando se absorve o sangue de um humano a
ponto de estar quase morto, então, é introduzido o sangue do
vampiro que o mordeu, o Sire, que será um mentor para o
novato.
Nota 4: Se o mentor largar o novato, ele se transformará em um
monstro terrivelmente cruel. Assim que o encontrarem, o
levarão ao crematório Warm Order onde ele terá um fim digno,
apesar de tudo que tenha feito. Não há como saberem o que
9
acontece no Warm Order por causa de outro humano que está do
nosso lado, Carl Louise. Já o Sire sofrerá com um castigo, pelo
qual ele se lembrará por um bom tempo e garanto que não
deixará nenhum novato, que ele tenha transformado, solto.
Nota 5: Também não morremos com balas de prata ou
crucifixos, a prata quando ingerimos ou inalamos faz ficarmos
paralisados por um tempo, do mesmo modo quando perfuram
uma estaca em nosso coração.
Eu tinha 23 anos quando fui transformada pelo meu Sire,
Perry Jordan, mas costumo chamá-lo de PJ. Não minto sobre o
quanto gosto dele, pois eu era mais uma garota órfã e, ao me
transformar, ele se tornou minha família, bem como todos do
nosso clã. Ele é como se fosse um irmão mais velho ou até
mesmo um pai. Tudo que sei, foi ele quem me ensinou, como
conseguir me controlar ao ver algum humano machucado, entre
outras coisas do tipo. Se fosse para eu acabar com essa vida por
alguém, com certeza seria por ele.
Perry tinha 29 anos quando foi transformado, não sei
como aconteceu, nem quem é o seu Sire. Nunca tive coragem de
perguntar, pelo fato de saber que ele se zangaria. Cabelos
dourados, olhos verdes, pele pálida, lábios escuros, barba
malfeita e um cheiro caracteristicamente masculino. Seu charme
era indiscutível, se quisesse conseguiria seduzir qualquer
mulher, vampira ou não. Perry Jordan era o homem mais
atraente que eu havia conhecido, até eu mesma já havia sido
interessada nele.
Retornando ao real enredo, terminei minha refeição e
voltei para o nosso prédio. Um antigo prédio que se encontrava
em um ótimo estado de conservação, apesar de ser
extremamente antigo, havia passado por uma reforma. Cada clã
tem sua sede instalada em uma região, onde por milênios
10
ocupam alguma construção, restaurando-a sempre que
necessário. Dinheiro não é um problema para nenhum de nós,
com tantos anos vivendo e trabalhando, temos infiltrados em
todos os setores.
Entrei no salão amplo e encontrei Perry, que deixou o
livro de lado para me encarar.
- Boa noite! – O cumprimentei ao entrar no aposento.
- Boa noite! – Perry falou me chamando para sentar no sofá,
junto a ele – Você sumiu, já estava começando a me preocupar,
por que você não avisou que sairia? Quer mesmo me
enlouquecer? – Fui bombardeada pelas perguntas infinitas.
- Eu fui ao hospital e depois fui para o cemitério, como sempre
faço e você sabe disso. – Retruquei calma, sorrindo para ele
como de costume.
- Devia ter avisado, eu pensei que tinha acontecido alguma
coisa. – Começou o sermão diário, isso já estava virando rotina
– Você deve me avisar quando vai sair, porque eu sei como você
é e, ainda mais agora, que temos inúmeros problemas com
humanos mal-intencionados pela cidade. Certamente, iriam para
cima de você e eu sei como é seu temperamento... Tenho certeza
que você iria acabar espancando um deles, deixando-os
desfigurados ou até mesmo matando-os... – O homem com
aparência de quase 30 anos falou.
Ele realmente se preocupava comigo, não caso algo
acontecesse, mas caso eu fizesse alguma coisa, algo que violasse
nossas regras. Realmente, eu seria capaz de fazer, não tenho um
temperamento suave e pacífico.
Aos poucos outros começavam a entrar no mesmo
aposento.
11
- Eu sei. Perry, fica tranquilo, sei me controlar, aprendi com o
melhor. – Me desculpei, dando um beijo em seu rosto, tentando
amolecer aquele coração amanteigado.
- Oi B. – Ouvi a voz de Anne da entrada do aposento.
- Oi Anne. - Anne Saller era minha melhor amiga no clã.
A garota, que tinha mais ou menos minha idade, sentou
ao meu lado junto com Donn Petril, com o qual ela ficava
sempre junto. Eles falavam que eram apenas amigos, mas eu sei
que não são só isso, posso sentir a eletricidade entre olhar dos
dois, a tensão no ar. Por trás dessa amizade, há um romance
escondido, só não querem admitir ou talvez até tenham admitido
entre eles, só que o deixam entre quatro paredes. Ainda assim,
era engraçado vê-los se esforçar para esconder o óbvio.
Em nosso clã há dois tipos de vampiros: aqueles que
seguem as regras e aqueles que não as seguem. Dessa forma,
somos obrigados a manter um sistema de restrição. O trabalho
de Anne e Donn é fazer um relatório a respeito da situação dos
que não seguem as regras. Em seguida, esse relatório é entregue
aos encarregados pacíficos, que irão modificar as ações dos
problemáticos, fazendo com que passem a respeitar e cumprir as
regras. Caso contrário, uma terceira equipe, da qual faço parte,
entra em ação. Somos taxados como os rigorosos. Quando
encontramos vampiros fora de controle, os convencemos a
mudar suas atitudes de uma forma desagradável. Contudo,
ocorrem casos em que uma simples punição não dá certo, então,
uma quarta equipe entra em ação, sendo esta, comandada pelo
PJ, junto com o Tonny Dell e o Dylan Aron.
Ficamos conversando por um bom tempo, mas depois
saímos, nos separando pelo prédio. Eu e PJ subimos para o
nosso apartamento que, como meu Sire, era natural que
morássemos juntos.
12
O dia já estava amanhecendo e, como a noite tinha sido
longa, resolvi entrar para o meu quarto e dormir. Não que
precisemos dormir, pelo contrário, apenas mantemos o hábito
humano por capricho. Mais um dia, ou melhor, uma noite que
chegava ao fim, naquela eterna vida. Só para ficar claro:
Nota 6: Caixões não são mais utilizados. Usamos camas
normais, mas se o vampiro preferir pode usar algo como uma
câmara de ar frio, que se trata de uma cama que faz a
temperatura cair.
Sábado, 10 de janeiro. Quando acordei, eram quase
10:00 da manhã. Tomei um banho frio e fui me alimentar, era a
minha rotina, meu piloto automático.
Cheguei na cozinha e abri a geladeira pegando uma bolsa
de sangue, enchendo um copo para mim e uma garrafa térmica
para que eu pudesse levar para o Perry, que estaria na biblioteca
do prédio e, provavelmente, não havia se lembrado de se
alimentar.
A biblioteca enorme, com suas prateleiras repletas de
livros, que subiam até o topo da parede. Algumas mesas
redondas de mogno no centro com cadeiras ao redor, um sofá
gigante e poltronas macias. Como havia pensado, lá estava ele,
em uma poltrona isolada no canto do cômodo. Sentei no braço
do sofá e entreguei a garrafa com o líquido vermelho, não
coagulado, que ele logo bebeu sem demora, me agradecendo
com um sorriso encantador. Ele era mesmo irresistível.
Avisei que iria sair e fui atrás de Anne, que estava na
cozinha central, junto com Donn. Os chamei para rodar pela
cidade, ficar muito naquele prédio não fazia muito bem para
mim, parecia que estava em uma gaiola. Partimos no meu carro,
a procura de alguma coisa para fazer e passar o tempo. Demos
13
voltas e voltas pela cidade, mas nada de interessante havia nos
entretido. Port-Cartier podia ser entediante nos dias comuns.
O casal resolveu voltar ao prédio e eu os levei, decidindo
sair novamente, só que desta vez, preferi uma boa caminhada.
Guardei o carro na garagem e a chave no quarto, peguei meus
óculos escuros e saí logo em seguida.
O Sol estava coberto por uma nuvem, o que aliviou um
pouco o calor que fazia na cidade. Caminhei, não sei ao certo
por quanto tempo, mas percebi que já tinha sido um percurso
grande, pois não me encontrava em nenhum dos bairros
próximos à casa. Mesmo assim, não me importei, sentei em um
banco de uma praça e notei que o tempo havia mudado desde
que havia saído. De um dia ensolarado, passou para um nublado
e chuvoso. Pouco mais de dez minutos, senti uma gota de chuva
cair sobre meu rosto e, aos poucos, sua intensidade foi
aumentando. Fazia um bom tempo que não tomava banho de
chuva e, realmente, não me lembrava o quanto era bom. Por um
estranho impulso, comecei a correr pela praça abandonada,
como quando era apenas mais uma criança órfã pulando sobre as
poças que se formavam na rua sem pavimentação.
Já estava completamente molhada, meu cabelo castanho
já se encontrava negro e caía sobre meu rosto. Não vi para onde
corria e acabei esbarrando em alguém, o que fez com que eu
caísse no chão, levando a pessoa junto. Passei a mão no rosto
tirando o cabelo e vi que era um homem com mais ou menos uns
26 anos, era a idade que seu cheiro me demonstrava... Não tinha
como ter certeza com aquela chuva, eu estava um pouco
atordoada.
Levantei-me rapidamente e, enquanto ele se levantava,
pedi desculpas.
- Sinto muito, eu não tive a intenção de derrubar você!
14
- Não tem problema, acontece. – Ele falou, não contendo um
riso abafado – Prazer meu nome é Josh. – Estendeu a mão para
me cumprimentar.
- Não, esse tipo de coisa não acontece. – Sorri – Mas obrigada
por ser gentil. É um prazer Josh, meu nome é Beth, Beth
O’Joanne. Desculpe-me de novo é que eu me empolguei com a
chuva e saí como uma criança correndo por aí. Sabe como é,
mesmo que o tempo passe, algumas coisas não mudam.
- Não tem problema, mas sua mão está muito gelada, não acha
que vai acabar doente correndo por aí na chuva? – “Não
sabendo ele que vampiros não adoecem”, ri pelo meu
pensamento.
- Eu não adoeço fácil! Bom, é melhor eu ir antes que esbarre em
outra pessoa. – Respondi, sorrindo gentilmente.
- Eu também tenho que ir... Nos vemos por aí. – Disse indo
embora, “Espero que sim”.
Não posso mentir, ele era uma graça. Há tempos não me
encontrava com alguém tão atraente, tão atraente quanto meu
Sire, mas completamente diferente. Cabelos escuros como a
noite, nem tão comprido nem tão curto, e penetrantes olhos
azuis. Mais alto que eu uns 10 centímetros. Vestia uma calça
jeans escura e uma camisa branca com vários desenhos nela, que
por estar molhada havia ficado levemente transparente,
denunciando seus músculos definidos.
Continuei minha caminhada pela chuva e resolvi voltar
para o prédio já que havia me cansado. Depois de trocar de
roupa fui deitar-me, onde acabei dormindo a um sono leve.
O domingo havia chegado e com um grave ruído acordei.
Levantei-me e senti um cheiro familiar. Coloquei um sobretudo
sobre a roupa que usava e saí do quarto.
15
Descendo as escadas senti o cheiro mais forte e ouvi
outro ruído, desta vez já não estava sozinha, Perry estava ao meu
lado e mandou que fizesse silêncio. “Isso não é bom”, pensei
instantaneamente.
Chegamos à porta da cozinha central e aquele cheiro já
havia se tornado insuportável, abrimos a porta e lá estava um
lobo devorando um dos nossos novatos. Minha indignação foi
tamanha, que avancei sem pensar duas vezes, mesmo com Perry
tentando me impedir. Não aguentaria ver aquela cena sem tomar
qualquer atitude. Eu odiava lobos, não sei exatamente porquê,
estava em meu sangue. Arranquei um pedaço do seu pescoço,
mas antes que pudesse atacar de novo, ele me pegou e me
lançou longe, conseguindo fugir.
Não recordo muita coisa, fiquei desacordada por um
certo tempo. Quando recobrei a consciência estava no sofá da
sala, com o braço todo arranhado e deslocado, o que não
demorou para voltar ao normal, assim que o coloquei no lugar.
Fui em direção à cozinha, onde havia ocorrido toda a ação, vi
que estava tudo em ordem como se nada tivesse acontecido. O
corpo do pobre vampiro, que acabou morto, já havia
desaparecido, nosso sistema de limpeza era muito eficaz e isso
não me surpreendeu. Provavelmente não encontraria uma gota
de sangue sequer.
Minha visão continuou turva por um tempo, mas o cheiro
daquela coisa horrorosa começou a voltar, mesmo estando fraco,
eu seria capaz de segui-lo. Procurei alguém que pudesse me
acompanhar naquela trilha, mas tudo indicava que eu estava
sozinha.
Comecei a farejá-lo e vi à poucos passos do jardim
algumas manchas do sangue do animal. Segui a trilha chegando
a um galpão abandonado no meio do bosque, decidida a acabar
16
com aquele miserável que havia matado um de meus amigos.
Entrei e vi sua pelagem se desfazendo, o monstro voltando à
forma humana, bem mais frágil.
- Agora vai ser mais fácil de acabar com você. – Pensei em voz
alta.
Assim que o homem se levantou e começou a vestir sua
calça, pulei em cima dele, jogando-o no chão. Estava pronta
para cravar-lhe os dentes e destruir sua garganta, quando
reconheci o rosto. Era o mesmo rapaz que havia esbarrado no
período da tarde, Josh era um lobo. Meus instintos
misteriosamente sumiram, fiquei paralisada e, ainda, sentada
sobre ele, como eu tinha deixado isso passar despercebido?
- Você que é... É o lobo? – Perguntei incrédula.
- É o que parece, não é mesmo?! – O rapaz deu um sorriso
despojado, pela pergunta retórica feita por mim.
- Isso só pode ser uma maldita coincidência ou você já sabia que
eu era uma vampira?
- Para ser sincero, eu não sabia, mas isso não interferirá no meu
interesse em você. – Ele me segurou, mais forte do que eu
pensava e me jogou no chão subindo em cima de mim, me
prendendo pelos braços.
- O que você pensa que está fazendo? – O fitei com raiva.
- O que você espera que eu faça? – Disse chegando o mais
próximo do meu rosto.
- Você acha que eu sou uma presa fácil? – Debochei, indignada.
- Não acho que seja fácil te derrotar, afinal se fosse eu teria
acabado com você quando estava cego de ódio há pouco tempo.
Mas isso é bem excitante, tendo em vista que tudo diz que não
podemos nos envolver. – Sorriu confiante e sedutor, “Belos
olhos azuis”.
17
- Isso pode tornar as coisas interessantes, mas eu não trairia
minha família por tão pouco. – Retruquei sem pensar nas
palavras que saiam pela minha boca.
- Por pouco? Então quer dizer que você também queria? – Falou
com seus lábios quase colados nos meus.
- Eu não disse isso. – Continuei séria.
- Não com as palavras exatas, mas você insinuou. – Continuou
selando meus lábios demoradamente.
- Você é louco?! – Soltei um braço e o empurrei, quase sem
forças, seu cheiro me embriagava. Seria uma nova droga?
- Viu?
- Vi o quê? Estúpido. – Alterei o tom de voz, tentando me soltar.
- Você não tem forças para me impedir. – Retrucou.
- Eu devia te matar agora.
- Tudo bem, se é o que quer. Então me mate. – O moreno
terminou de me soltar e pôs seu pescoço ao alcance dos meus
dentes. A única coisa que consegui foi dar uma leve mordida,
mesmo desejando matá-lo, minha força parecia ter sumido, só
fui capaz de fazer um arranhão.
- Viu, você também gosta do risco. – Josh sorriu confiante – É
excitante, certo?
- Idiota. – Ele realmente tinha razão, eu estava interessada no
perigo, como sempre. Já que eu viveria eternamente, deveria
arriscar em todas as chances, que se apresentassem sedutoras.
Ele me beijou, dessa vez foi um beijo bem mais intenso e
eu não me preocupei em impedir. Suas mãos prenderam as
minhas sobre minha cabeça, deixando-me imóvel, novamente.
Minha razão havia desaparecido.
Ouvi um barulho e me soltei o mais rápido possível,
havia um cheiro diferente no ar. Com certeza era um grupo de
18
busca, que seguiu o cheiro do lobo e viu que eu também havia
seguido. Reforços.
- Você tem que fugir. Agora! – Falei me levantando, sem
entender o porquê de tentar ajudá-lo a fugir.
- Alguém está vindo aqui. – Disse após respirar fundo e sentir o
cheiro dos vampiros.
- Me bate!
- Você é masoquista? – Para um cara esperto, ele era um tanto
quanto idiota.
- Não, estúpido. Para eles pensarem que eu tentei te impedir e
como não consegui, acabei sendo derrotada... Você iria me
matar, mas parou quando percebeu que eles estavam chegando.
- Inteligente, gosto disso em uma garota. – Murmurou, rindo e
catando sua camisa no chão.
- Vai me bate. – Falei passando minhas unhas em seu braço,
arrancando um pouco de pele e sangue.
- Desculpa! – Concluiu com um rosnado.
Assim que as palavras saíram de sua boca, ele me
acertou na cabeça, o que doeu bastante, fiquei tonta e caí no
chão. Ele foi embora correndo com a camisa na mão. “Mas por
que diabos eu estou ajudando um lobo que invadiu meu
território? Por que eu o beijei? Só posso estar maluca, mas pelo
menos não o verei mais”, os pensamentos gritavam entre si na
minha mente embaralhada e dolorida. Após uns dez segundos, vi
PJ entrar no galpão.
- Sua idiota. Por que você foi segui-lo sozinha?
- Sem sermão... Acho que minha cabeça vai explodir. – Não
precisei fingir, minha cabeça poderia explodir com aquela dor
imensurável.
- Também pudera, você levou uma pancada daquelas.
19
- Mas também consegui arrancar um pouco de sangue dele... – O
interrompi mostrando minha mão suja - Teria conseguido mais,
se vocês não tivessem aparecido.
- Se nós não aparecêssemos, você estaria morta agora. – Tonny
retrucou, tão bravo quanto Perry.
- Bobagem. Eu teria matado aquele idiota a qualquer momento.
– Menti.
- Sua cabeça dura, vamos embora. – PJ me pegou no colo e
começou a andar.
- Eu consigo andar.
- Fica quieta e obedece ao menos uma vez.
Mentir não era problema para mim, mas senti-me muito
mal por ter mentido para PJ, não conseguiria contar a ele que
havia beijado um de nossos, mais recentes, inimigos. Seria
melhor que ele não soubesse disso, pelo menos por enquanto. O
loiro me carregou até em casa e me deu uma bolsa de sangue.
Minha vontade era não beber, mas a necessidade falou mais alto.
- Eu acho que vou dormir. – Conclui indo me deitar, sem obter
sucesso com o sono.
Quase não dormi pensando no que tinha acontecido,
pensando no moreno de olhos azuis e lábios quentes. Fiquei o
mais quieta possível, não queria que descobrissem que estava
acordada. Ouvi passos e em seguida uma conversa entre PJ e
outro vampiro, que julgo ser um dos que fazem parte do quarto
grupo. Os passos vieram em direção à porta e ao abrir, tranquei
os olhos e fingi estar dormindo.
- Beth, você está acordada? – Perry veio tentar me acordar.
- Agora estou. – Respondi, fingindo cansaço.
- Quero que você venha, vai haver uma reunião e você precisa
comparecer.
- Claro! – Concordei.
20
Era hora de ligar meu piloto automático profissional.
Levantei, tomei um banho gelado, vesti uma saia preta e uma
blusa de botão, com um sobretudo até o joelho. Calcei uma
sapatilha preta confortável e saí encontrando com PJ na porta do
quarto.
Descemos as escadas e fomos para a biblioteca, onde
todos se encontravam para a tão urgente reunião. Sentei em uma
cadeira vazia ao lado de Anne e comecei a prestar atenção.
- Bom, agora que você chegou Beth, podemos começar. –
Robert Gordeen começou a falar dos últimos acontecimentos e
eu me senti envergonhada por ter sido a última a aparecer – A
reunião foi marcada com urgência para discutirmos o que
ocorreu... O lobo, que nos atacou hoje, está relacionado com o
assassinato de Jenny Klimier, uma fêmea ligada ao grupo dos
lobisomens do Norte. Ela foi morta por um novato sem controle.
Ele havia sido punido pelos atos, mas o estrago já havia sido
feito e, aparentemente, decidiram cobrar a morte de Jenny com
retaliação. Nossa trégua tem resultado em tranquilidade para
ambas as espécies... Então, por mais que não suportamos o fato
de um lobo ter matado um dos nossos, dentro do nosso território,
da nossa casa, não podemos fazer nada a respeito do assassinato.
Creio que não tenha mencionado, mas Robert é como se
fosse o ministro do nosso clã. Adotamos uma hierarquia
rigorosa e ele tem governado nosso território pelos últimos dois
milênios.
- Então é isso, nós vamos aceitar um ataque ao nosso clã sem
falar nada. – Ouvi a voz de um vampiro vinda do fundo do
cômodo.
- Não devia me interromper. – Robert o repreendeu com um
olhar fuzilante – Como dizia, foi errado invadir nosso
estabelecimento e matar um dos nossos, mas o fato é que nós
21
indiretamente começamos. Por isso antes que vocês resolvam
caçá-lo, digo que esse assunto vai ser encerrado logo, só que
antes pretendo mandar uma intimação aos lobisomens do Norte.
– Terminando de dizer isso, levantei a mão e pedi que me
deixasse falar.
- E a que tipo de intimação se refere? – Questionei-o.
- Boa pergunta Beth, se trata de uma intimação com relação ao
contato com o lobo que invadiu nossa propriedade, a pena dele
não é de morte com relação ao assassinato cometido por ele.
Pelo menos, não ainda. Ficará sobre nossa vigia, como
prisioneiro, por ter invadido nossas terras.
- E quem irá levar essa intimação? – PJ perguntou.
- Você, claro. Junto à Tonny e Dylan Aron. Vocês irão amanhã
logo cedo com o documento e o trarão para mim. Devo
mencionar que tenho meus planos para o lobo, então, por hora,
ele será um hóspede nosso. Sendo assim, desde já, digo que
vocês estão proibidos de arrumar confusão. Principalmente
você, Elizabeth. Não devia ter ido atrás dele antes de nos
consultar. – Há séculos não me chamavam pelo meu nome
completo, isso não era bom.
- Sinto muito, não se repetirá. – Desculpei-me diante do
conselho, ainda que me sentisse humilhada por aquilo.
- É bom saber. Quanto aos outros, espero que tenha sido claro. –
Mesmo com alguns insatisfeitos, no final, todos tiveram que
aceitar. Era uma ordem e como tal deveria ser cumprida
rigidamente.
A reunião deu-se por encerrada e cada um foi para o seu
aposento. Voltei a tentar dormir, um pouco feliz com o fato de
que o lobo iria ficar por um bom tempo em nosso prédio. “Eu
tenho que me controlar, certamente não manterei contato com
Josh e mesmo se mantiver não posso me relacionar com ele”,
22
pensei fitando o teto branco. Ao contrário da tentativa anterior
consegui dormir, mesmo que a sono leve.
Segunda-Feira, 12 de janeiro, a semana começaria
intensa, depois da reunião da noite anterior. Acordei por volta
das 11:00 da manhã, ouvi várias vozes vindas do salão principal.
Nota 7: Nós temos ótima audição, amplificada. Contudo, somos
proibidos de usá-la em nosso terreno, então cada apartamento é
bloqueado, de forma a impedir a intromissão em assuntos
alheios. Nunca me explicaram como isso funciona, mas
certamente tem algo a ver com os antigos anciãos.
Nota 8: Também temos um excelente olfato, principalmente
quando se trata de sangue. Somos como tubarões.
Tomei um banho rápido, vesti uma calça escura, uma
blusa vermelha, um colete preto por cima e calcei uma bota.
Desci as escadas e cheguei ao salão onde todos estavam
reunidos.
- Anne, o que está acontecendo? – Perguntei para loira parada
em uma pilastra, no canto do salão.
- O lobo vai chegar a qualquer momento. – Respondeu.
- Já? – Estranhei a rapidez do ocorrido, mal discutimos o
assunto.
- Sim. Olha lá, parece que você desceu na hora certa... Já estão
chegando. – Anne fez um gesto com a cabeça, apontando para
porta de entrada.
Saí de perto da loira de cabelos repicados e passei pelos
outros, ficando bem na frente, apenas atrás do ministro. A porta
se abriu e os quatro entraram.
Lá estava ele, vestindo uma camisa verde escura, ao
estilo exército, calça jeans e tênis. “Lindo”, suspirei
involuntariamente. Eu, definitivamente, precisava parar com
esses pensamentos.
23
O ministro se aproximou do recém-chegado, me
deixando um pouco mais para trás.
- Seja bem-vindo ao nosso clã, sou o ministro Robert Gordeen.
Creio que estejam todos os associados nesse comitê de boas-
vindas dócil. – Ele apontou para trás sarcástico.
- Sinto-me honrado, em ser recebido com tanta hospitalidade. –
O moreno ironizou – Aliás, prazer, meu nome é Josh Anthony,
mas você já deve saber. – Completou, me fitando em seguida,
sem disfarçar, sendo notado pelo ministro.
- De fato, já sabia, mas foi bom ter mencionado para que os
outros saibam. Essa é Beth O’Joanne, você já a conheceu. Bom,
ela será sua acompanhante aqui, tudo que precisar é só pedir a
ela. – Robert só podia estar brincando, essa era uma péssima
ideia.
- Acho que essa não é uma boa ideia. – PJ questionou as ordens
dadas, como se lesse meus pensamentos.
- Pelo contrário, Beth é forte o suficiente para se defender. Não
estou querendo ser mal-educado Josh, mas Perry é muito
preocupado com sua Beth. – Explicou.
- Não me sinto ofendido. De fato, já tive a oportunidade de ver o
quão forte ela é. – Josh pronunciou-se e, involuntariamente,
soltei um sorriso no canto dos lábios.
- Não me preocupo com isso, me preocupo com a tolerância
dela. – Perry retrucou, me olhando sério, enquanto eu ria
discretamente.
- Justamente por isso é um ótimo trabalho, ela treinará sua força
de vontade, paciência e compreensão. Ela será também a guarda
dele, enquanto os outros se acostumam com a presença do nosso
novo hóspede.
- Perry, eu não me importo em ser a acompanhante do
cachorrinho. – O provoquei e recebi um olhar sério de Robert –
24
Fique tranquilo vou me controlar, te dou minha palavra. – Dei
dois passos para frente, entrando no diálogo sobre mim mesma.
- Pois bem, já que ninguém se importa com o desastre iminente,
me dou por vencido.
- Ótimo, considere seu serviço iniciado a partir de agora e não é
uma brincadeira. Srta. O’Joanne, você estará sendo avaliada de
perto. – O ministro me olhou sério.
- Não se arrependerá de ter me escolhido. – Sorri confiante e
fitei o rapaz parado a uns quatro passos de distância.
- Bom, já lhe dei boas-vindas. Agora tenho que voltar aos meus
afazeres. – Robert Gordeen pronunciou – O comitê já pode se
desfazer, cada um deve voltar para os devidos afazeres e Beth
leve-o para o apartamento dele, que agora será o seu também. –
Ao se despedir do rapaz e dispensar os outros, entregou-me um
papel com o número do apartamento.
- Ela ficará no mesmo apartamento que ele? – PJ questionou.
- Claro, como acha que ela o vigiaria e o protegeria? – O
ministro despediu-se novamente com um aceno de cabeça e saiu
do aposento.
Perry desistiu e se convenceu, junto aos outros, voltou
aos serviços normais. Após alguns minutos ficamos apenas eu,
Josh e uns dois vampiros que o fitavam enojados. Abri o papel e
li com os olhos: 405 – 4º andar.
Durante minha longa rotina costumava seguir pelos
andares do prédio pelas escadas apesar de haver dois elevadores,
para mim funciona como uma forma de exercício. Fitei os dois
vampiros no canto do salão e olhei o rapaz ao meu lado.
- Bom, vamos andando? – Disse pegando a mala do chão, sendo
interrompida por ele.
- Não vou deixar você carregar essa mala pesada.
- Peso não é um problema mim, não acha? – Retruquei séria.
25
- Eu sei, mas gosto de ser gentil. Não começamos bem da última
vez. – Josh pegou a mala da minha mão e me seguiu.
Não pude deixar de compartilhar um sorriso, ainda que
contra minha vontade. Entramos no elevador e apertei o botão
indicativo ao 4° andar, a porta se fechou e o rapaz de cabelos
bagunçados verificou a ausência de câmeras de segurança. Antes
que percebesse, fui empurrada contra a parede de metal,
largando a mala no chão.
- Pensei que fosse demorar mais para ficarmos sozinhos de
novo. – Disse com o rosto perto do meu, o suficiente para me
fazer sentir sua respiração quente.
- Você é doido? Essas paredes têm ouvido, não podemos
facilitar, muito menos repetir o que ‘não’ aconteceu naquele
galpão.
- Bom, pior do que está não pode ficar, certo?
- Não tenha dúvidas de que pode. Você não sabe o que Perry
poderia fazer a você. – Forcei uma cara séria.
- Afinal, ele é o seu namorado, marido, amante? Para o ministro
ter dito que você era a Beth dele, alguma coisa tem que ser. – O
rapaz debochou.
- Ele é como um pai, ou melhor, ele é atraente demais para ser
meu pai... – O provoquei propositalmente – É mais como um
irmão mais velho. – Sorri notando um alívio nos olhos do rapaz,
que ainda me prendia contra o metal frio – Faria alguma
diferença? – Disse de forma divertida aproximando-me do
rapaz.
- Faria? – Ele fitou meus lábios e em seguida me olhou nos
olhos.
- A porta vai abrir. – Me soltei do moreno, ao ouvir o quarto
soar de aviso do elevador, e voltei ao meu lugar inicial.
26
Fingi que nada estava acontecendo e segui séria pelo
corredor até o apartamento desejado. Abri a porta, que estava
destrancada, e entramos. Não era muito diferente do
apartamento de PJ, apesar de ser um pouco menor. Uma sala
ampla onde dava passagem para a cozinha e um corredor com
saída nos dois quartos e no banheiro. Era até muito
aconchegante.
Mostrei os cômodos e passando pelo quarto que seria o
meu, notei que minhas coisas já estavam lá, estranhei um pouco,
mas não dei tanta importância. Robert deveria ter mandado que
levassem tudo para lá durante a recepção.
Seguimos para o próximo quarto que seria de Josh, entrei
na frente e ele me seguiu, trancando a porta. Virei de repente, o
encontrando à poucos centímetros.
- Você ainda não me respondeu. Faria diferença? – O rapaz
repetiu a pergunta feita há pouco tempo atrás.
- Eu fiz a pergunta primeiro, responda você. – Diminui os
centímetros que havia entre nós dois.
- Não faria, eu já estou ferrado mesmo. Só aumentaria a parcela
de delitos nas minhas costas. – Me segurou pela cintura colando
nossos corpos – E para você faria diferença?
- Já que estou encrencada mesmo. – Respondi sem pensar.
Mordi o lábio inferior e o beijei, me soltando logo em seguida –
Aqui podem ter câmeras ou escutas. É melhor ter certeza de que
não há perigo.
Vasculhamos todo o apartamento, até termos certeza de
que não havia dispositivos plantados. Ficamos boa parte da tarde
fazendo isso, como se esse fosse o maior dos problemas.
Tranquei a porta da entrada com a chave, que encontrei na mesa
da sala, e fui até a geladeira, onde enchi um copo com o sangue
27
de uma bolsa. Bebi rápido, enquanto Josh pegava algo comer,
sentando-se também a mesa.
- Afinal, como é que vai ficar esse negócio de você ser minha
acompanhante, ou seja lá o que for? Isso quer dizer que se você
estiver comigo eu posso ir onde quiser? – Perguntou quebrando
o silêncio de poucos minutos.
- Para ser sincera, nem eu sei. Acho que sim, eu devo ficar na
tua cola o tempo todo. – Respondi tomando mais um gole do
líquido vermelho.
- Ficar na minha cola o tempo todo, até quando eu estiver
dormindo? Interessante isso. – O moreno sentado à minha frente
sorriu malicioso, enquanto me encarava.
- Você está se empolgando demais. – Pisquei.
- E não deveria? Até ontem nós mal nos conhecíamos e você já
estava em cima de mim, em um galpão abandonado. Hoje, você
é minha guardiã no covil dos morcegos. – O moreno falou de
forma divertida, me fazendo rir – E ainda por cima vai dividir o
apartamento comigo, se não, a cama também. – Terminando a
fala, ele se levantou, vindo em minha direção e parando logo
atrás de mim.
Josh se curvou sobre a cadeira onde eu estava sentada e
falou bem próximo ao meu ouvido, me fazendo arrepiar com a
brisa quente junto a sua voz. Eu jamais arrepiei, pelo menos não
depois de ser transformada.
- Nós não terminamos nossos assuntos lá dentro. – Enquanto
dizia isso desabotoou o colete que eu usava.
- Você está muito apressadinho, não? – Disse, enquanto
levantava da cadeira e me sentava na mesa, ficando a poucos
passos dele.
Gesticulei com o dedo, mandando que se aproximasse.
28
- Eu estou apressadinho ou é você que está querendo me
enlouquecer? – Falou, se encaixando entre minhas pernas, antes
de me puxar pela cintura para mais perto de seu corpo.
- Eu estou te enlouquecendo? – Perguntei com os lábios quase
colados aos dele e com os braços em volta de seu pescoço.
- Você está mesmo interessada no risco? O perigo e a
possibilidade de morte te agradam? – O moreno que me
segurava contra ele, agora passava a mão pela minha perna até
que ela voltasse à minha cintura.
- Vai me dizer que você também não está interessado? –
Questionei com a mão por debaixo de sua camisa, arranhando
suas costas.
- Você não sabe com quem está se metendo. – Disse sério.
- Você me deixa interessada e agora quer me fazer mudar de
ideia?
- Absolutamente, não. Só estou apontando fatos.
- Ótimo, então me mostre no que estou me metendo. – Disse
mordendo-o no pescoço.
- Você gosta de provocar, só que agora não tem como correr de
mim. – Concluiu tirando a camisa.
- Por quê? Você prefere que eu corra e você tente me pegar? –
Desabotoei dois botões da camisa vermelha que usava, deixando
à mostra meu sutiã, que lhe chamou a atenção.
- Pode até correr, mas eu vou te pegar do mesmo jeito.
Seus lábios foram de encontro aos meus, com grande
urgência, era um beijo quente e completamente excitante. Ao me
soltar do beijo o puxei para o quarto, jogando-o na cama e
subindo em cima de seu tronco. Terminei de desabotoar a blusa
e a joguei num canto. Ele me virou, ficando por cima.
Aproveitei e tirei a calça, com sua ajuda, agora só estava de
calcinha e sutiã. Enquanto o beijava e o arranhava
29
inconscientemente, Josh terminava de tirar a calça. Na menção
de tirar mais uma peça de roupa do meu corpo, bateram na
porta.
- Droga. – O rapaz em cima de mim soltou um rugido rouco.
- Vai sai de cima de mim, eu tenho que me vestir. – Falei,
levantando da cama e pegando minha calça – Espera. – Gritei –
Está esperando o que para se vestir?!
- Eu estava dormindo, durmo sem roupa. – O moreno, deitado
na cama, piscou.
- Você acabou de chegar e já ia dormir? – Arqueei a
sobrancelha, irônica.
Terminei de me vestir, em segundos, e fui até a sala,
destrancando a porta. Era Perry.
- Por que demorou abrir a porta? – Ele perguntou enquanto
entrava no aposento.
- Porque eu estava me vestindo. – Respondi.
- Vestindo? – Ele me olhou de cima a baixo. Eu precisava
aprimorar minhas mentiras.
- É, vestindo, estava indo tomar um banho quando você chamou.
– Menti descaradamente, eu tinha tomado um banho logo cedo.
- E o lobo, onde está? – Perguntou, vasculhando o apartamento
com os olhos.
- Dormindo no quarto dele. – Falei engasgada com a outra
mentira que contava – Quer que eu o chame?
- Não é preciso, confio na sua palavra. – Meu mundo
simplesmente desabou ao ouvi-lo.
- Não devia. – As palavras sussurradas saíram da minha
garganta como gritos.
Por mais baixas que fossem, não passaram despercebidas
pelos ouvidos afiados de Perry.
- Por que não?
30
- Eu quis dizer que não devia ter vindo aqui, eu posso cuidar do
serviço sem sua ajuda. – Disse enquanto ele me olhava confuso
– Quero dizer que você já me ensinou o suficiente, eu aprendi
com o melhor, não deve se preocupar comigo, eu sei o que faço.
– Falei tentando ser convincente, já que nem eu acreditava
naquelas palavras.
- É, eu sei, mas me preocupo mesmo assim. – Os olhos azuis do
loiro continuaram sobre os meus – Se qualquer coisa
acontecesse com você, eu nunca me perdoaria. – Disse, me
abraçando.
- Perry, fica tranquilo. Pode deixar, eu prometo me cuidar. –
Conclui, dando um beijo no rosto do loiro, antes de o apertar em
outro abraço.
- Bom, já que você está bem, vou voltar para o escritório e
continuar a mexer com as papeladas. – Dito isso, o homem à
minha frente retribuiu o beijo no rosto.
O vi sair do local e voltei para o quarto, onde o rapaz de
cabelos bagunçados estava. O observei da porta, ele olhava pela
janela nosso amplo jardim, que acabava na entrada do bosque.
Não demorou e ele se virou para mim, seu rosto era tão pacífico
que nunca ninguém imaginaria a fera presa em seu interior.
- O que aconteceu? Você demorou. – Falou vindo em minha
direção, me puxando para um beijo.
- Acho melhor não fazermos isso agora. – Recuei, enquanto ele
ainda me segurava.
- O que aconteceu? Quem era? – O moreno perguntava sem
entender minhas mudanças de humor.
- Era o Perry, nunca havia mentindo para ele antes e, em pouco
tempo, menti o bastante para uma vida inteira. Ele ainda me
disse que confia em mim, quando eu não sou digna da confiança
31
dele. – Falei com nojo de mim mesma, o que eu tinha na
cabeça? Estava mesmo tendo um caso com um lobo?
- Claro que é digna, não temos culpa de sentir atração um pelo
outro, mesmo que todos sejam contra...
- Não somos mais humanos Josh, devemos considerar que
somos duas raças de animais opostas. Mesmo juntos, os outros
não aceitariam, isso não é um conto de fadas. – O interrompi.
- Eu não disse que isso era um conto de fadas, está mais para
conto de terror. – O rapaz conseguiu tirar um sorriso do meu
rosto – Nós mal nos conhecemos, mas não devemos perder uma
chance que talvez nunca mais tenhamos. Não sei até quando me
deixarão vivo.
- De qualquer forma, agora não tenho mais cabeça para isso.
Perdi o clima. – Falei indo em direção à janela, sendo seguida
pelo rapaz, debrucei sobre o parapeito.
- Então, vamos sair e você distrai a cabeça. – Sussurrou em meu
ouvido, ficando por trás de mim.
- E será que você pode sair?
- Não sei, pergunte ao Robert Gordeen.
- Pois bem, eu vou tomar um banho e, depois que você tomar o
seu, nós iremos.
- Tomar o banho juntos está fora de cogitação? – Brincou,
cheirando minha nuca.
- Nem vou responder... Eu não demoro.
Saí do quarto e, após pegar uma toalha, fui tomar um
banho. A água gelada corria pelo meu corpo e, por alguns
minutos, esqueci o motivo de estar ali. Dez minutos se passaram
e saí, dando de cara com Josh no corredor, dei um meio sorriso e
segui para meu quarto.
Abri o guarda-roupa novo e peguei um vestido preto até
o joelho, uma bota na mesma cor, um cinto vermelho que
32
contrastasse com o tom negro daquela roupa e me vesti. Passei
um batom vermelho, um perfume e coloquei um colar. Quando
terminei de me arrumar saí do quarto, Josh ainda não estava
pronto, afinal ele tinha tomado banho depois de mim, fui até a
sala e sentei no sofá a sua espera, checando as mensagens do
celular.
Menos de cinco minutos e ele já estava pronto, vestindo
uma camisa social branca com as mangas dobradas e uma calça
jeans preta. Seu cabelo estava molhado e bagunçado, já o
perfume que usava era simplesmente irresistível. “Seria o
homem mais cheiroso que eu havia conhecido?” Não
demoramos muito tempo para sair, peguei a chave do carro e
uma bolsa. Fomos ao andar superior pedir uma permissão, que
foi concedida, e, ao chegarmos no salão principal, resolvi avisar
PJ, para que não se preocupasse.
- Perry?! – Entrei na biblioteca, avistando-o com um de seus
antigos livros.
- Beth? O que está fazendo aqui? – O homem de cabelos bronze,
sentado na poltrona da biblioteca, falou – Olá Josh! – Ele
continuou ao ver o meu acompanhante.
- Perry, como você sempre reclama que saio sem avisar, vim
aqui falar que estou indo sair junto do Josh. – Expliquei,
enquanto ele fitava o rapaz ao meu lado com os olhos em
chamas.
- E... Ele pode sair?
- Já fui falar com Robert, ele liberou. – Respondi.
- Se ele permitiu... Então, tudo bem, mas tome cuidado. –
Sugeriu.
- Pode deixar, general. – Brinquei, indo abraçá-lo – Bom, então
estamos indo, qualquer coisa estou com celular. – Íamos saindo
33
do cômodo, quando me virei encontrando os olhos de Perry
sobre mim, mandei um beijo e sorri.
Saímos do prédio, havia escurecido rápido demais hoje,
entramos no carro e eu fui dirigindo.
- Sugestões? – Perguntei.
- Como?! – O moreno se virou para mim.
- Alguma sugestão de lugares onde ir?
- Você gosta de qual tipo de programa?
- Coisas solitárias, não sou chegada em muitas pessoas ao meu
redor. Costumam me deixar com fome... – Rebati, rindo
divertidamente da piada sem graça.
- Pois muito bem, esse carro tem um som apropriado? –
Debochou.
- Sim, senhor.
- Você tem uma boa lista de músicas?
- Tenho. – Revirei os olhos, apontando para o celular.
- Então vamos para alguma praia deserta.
- Eu não conheço praias, não sou muito chegada a bronzeados,
como deve ter notado. – Ri pela segunda piadinha sem graça que
acabara de fazer.
- Eu conheço uma perfeita, posso dirigir? – Após relutar em
minha mente, estacionei o carro.
- Claro. – Disse tirando o cinto e passando por cima do garoto
para o seu banco.
- E depois você reclama quando eu tento te agarrar. – O moreno
disse sentando no banco do motorista.
- Não fiz coisa alguma com você. – Ri pelo comentário, sua
presença me deixava absurdamente infantil.
Josh seguiu dirigindo. Saímos da cidade e, após quinze
minutos, chegamos à uma bela praia. Uma longa duna de areia
terminava com o oceano calmo e brilhante, como um diamante,
34
abaixo da luz fraca da lua fina. Josh estacionou o carro no meio
daquela areia fofa e desligou o motor.
- Chegamos, o que achou? – Perguntou me olhando.
- Não sei como descrever... Extremamente lindo, talvez. –
Respondi olhando ao redor.
- Que bom que gostou, hoje esse lugar é só nosso. – O rapaz ao
meu lado conferiu as opções de músicas e colocou um álbum de
Lifehouse, começando por “Everything”.
Aquela praia deserta estava extremamente linda, fiquei
fascinada com tamanha beleza em um único lugar. A bota de
salto alto não me pareceu apropriado para aquela areia fofa, a
tirei e a larguei no carpete do carro. O moreno aumentou um
pouco o volume do som e me seguiu pela areia. Não me
lembrava do quão linda poderia ser uma praia, era incrivelmente
bom o contato da areia em meus pés, sem sombra de dúvidas
minha rotina nunca havia me dado liberdade de conhecer outros
locais fora da cidade, como aquele paraíso escondido.
O moreno me observava e ouvia a música, que ecoava
por todo o paraíso, antes silencioso, pediu que me aproximasse
para que dançássemos. Nunca fui uma boa dançarina, mas iria
me esforçar para não fazer feio. Quando a música seguinte
começou, “You and Me”, ele colocou minhas mãos em seu
pescoço e segurou minha cintura, fiquei na ponta dos pés para
que nossa diferença de altura diminuísse. Acompanhamos o
ritmo lento e dançamos pelos quatro minutos de música, sem
dizer uma palavra. Não havia necessidade de palavras, já que
nossos olhos nos entregavam quando se encontravam
silenciosamente.
A música finalmente acabou dando espaço para outras,
nos afastamos um pouco e resolvi quebrar o silêncio mesmo que
não fosse por um assunto muito agradável.
35
- Eu preciso contar ao Perry. – Sussurrei, inconsciente.
- Como assim contar? – Ele me pareceu um pouco confuso.
- Vou contar que ficamos juntos, quero dizer, estamos juntos.
Não sei direito, estamos juntos? – Perguntei, agora eu também
estava confusa.
- Estamos? – O moreno repetiu a pergunta feita por mim.
- Por que você só me responde com perguntas?
- Porque você faz perguntas das quais já sabe as respostas. –
Permanecemos em silêncio por poucos segundos até o moreno
prosseguir, aborrecido – Se não estivéssemos juntos, não haveria
motivo algum para termos vindo até aqui... Mas não acho boa
ideia ficar falando sobre isso com outras pessoas. Não
precisamos gritar aos quatro ventos. – O silêncio voltou, apenas
podia-se ouvir a música – Para que você foi tocar nesse
assunto?! – Pensou alto demais.
- Eu não disse que gritaríamos para todos os lados que estamos
juntos, só contaríamos ao Perry. E outra coisa, iríamos ficar
juntos às escondidas? Olha, eu gosto de mistério e da ideia
também, mas ao menos o Perry merece saber, é quase um crime
eu mentir ele. – Falei séria.
- Um lobo e uma vampira, estamos quebrando muitas regras
sabia? – Sorriu irônico.
- Justamente por isso que devemos contar só ao Perry, ele vai
entender. Não para todos...
- Ainda acho que é melhor esperarmos um pouco, estamos nos
precipitando. – Ele colocou a ponta dos dedos em minha boca,
me impedindo de continuar a falar – Devemos planejar como
contar. Aliás, viemos aqui, principalmente, para relaxar e
esquecer do resto. Viemos bem longe de tudo e, caso não tenha
notado, não é o que estamos fazendo.
36
- Tudo bem, você venceu, por enquanto. – Minha pele fria e a
dele, simplesmente tão quente, se tocavam.
O moreno me puxou para mais um de seus beijos
demorados, o mundo simplesmente sumia como se nos
entrássemos em um túnel sem volta, bem longe da luz. Uma
definição perfeita para nós dois juntos seria a de dois
adolescentes sem escrúpulos. A noite ainda ajudava, o céu com
uma meia lua crescente que deixava o brilho das estrelas
transparecerem, nada nem ninguém poderia nos atrapalhar
naquele momento.
Caminhamos em direção ao mar, com aquela brisa
pacífica. Não morávamos em um lugar quente, mas
definitivamente um clima ameno havia contornado toda a cidade
nos últimos meses. A água morna tocava agora nossos pés
descalços e, como antes, o silêncio permaneceu, sendo quebrado
apenas pelo som vindo do carro. Escutei alguns passos, mas não
consegui descobrir de onde vinham e a quem pertenciam.
- Você escutou isso? – Perguntei, fazendo o rapaz prestar
atenção nos ruídos.
- Agora escutei, vem do carro. – O moreno se virou rápido e
correu até o local onde o carro estava, me deixando um pouco
trás.
- Espera. – Corri.
- O que vocês querem? – O ouvi dizer para dois garotos
humanos de uns 17 ou 18 anos.
- Além do carro, acho que teremos uma diversãozinha. – O mais
velho riu ao me ver – Já no babaca, podemos dar uma boa surra,
o que acha?
- Você quer ou eu mesmo corro com eles daqui. – Josh me
perguntou.
37
- Eu divido, fico com o menor, não quero estragar meu vestido...
Você pode ficar com o arrogante.
- Legal, adoro garotas difíceis. – O mais novo soltou uma risada
e olhou para o companheiro.
Fomos em direção aos dois rapazes, eu segui até o menor
e Josh até o maior, só não havíamos feito nada, ainda. Parei em
frente ao rapaz da minha altura e sorri.
- Não quer mesmo ir embora?
- Prefiro me divertir com você. – Respondeu passando a mão em
meu braço.
- Ótimo, queria mesmo ouvir isso. – Segurei forte seu braço e o
joguei contra o carro – Acho bom não ter arranhado meu carro,
seria pior para você.
- Você vai me castigar? – O jovem riu.
- Beth não brinque. Dê um fim nisso logo, estamos perdendo
nosso tempo. – Josh resmungou.
- Realmente. – Rasguei a camisa do rapaz e cravei-lhe os dentes
no pescoço.
Definitivamente o sangue fresco é melhor que o do
banco de sangue, é quente, tem mais textura e o sabor é mais
concentrado. Dos meus tempos de humana poderia compará-lo
com um bom vinho e outro barato. Ambos podem ser parecidos,
mas o de melhor qualidade é sempre mais saboroso. “Preciso
me focar, não posso extrapolar, se esse lixo morresse eu teria
sérios problemas”, pensei, parando de drená-lo. Tirei no
máximo um copo e meio de sangue, me deixaria satisfeita por
um bom tempo. Soltei o garoto e o manipulei facilmente.
- Vocês foram dar uma volta e tiveram uma briga com uns
rapazes de uma gangue. – Sussurrei, olhando fundo em seus
olhos, o garoto permaneceu calado, enquanto esperava o outro,
38
para saírem dali – Sua vez fofo. – Virei para o outro, que tentou
fugir, mas foi impedido por Josh.
- O que vocês são? – Ele disse tentando se soltar do moreno.
- Digamos que somos seus piores pesadelos, queridinho. Mas
pode ficar tranquilo, vocês nos pegaram em um dia, ou melhor,
em uma noite boa. Não irão morrer. – Sorri.
Segurei o rosto do rapaz com as duas mãos, o forçando a
encarar meus olhos, e repeti o mesmo que havia dito ao outro,
quando o soltei os dois correram em direção à estrada e sumiram
na escuridão.
Nota 9: Quando estamos fortes, podemos controlar outros,
sejam humanos, vampiros ou lobos.
A atitude dos rapazes me fez soltar uma gargalhada
atrasada, olhei para o moreno ao meu lado que parecia confuso e
sorri, tentando me controlar.
- Não é ridículo, a forma como humanos agem? – Questionei.
- Só notou isso agora?! Os humanos de antigamente eram mais
interessantes que os de hoje. Tinham mais cultura, mais graça e
menos malícia.
- Até parece que você repudia a malícia. – Pisquei.
- Com você provocando, não sou capaz de resistir.
- Bom saber. – Entrei no carro e procurei outro álbum.
- Se interessou pelo que? – O moreno parou ao meu lado, de
fora do carro. Coloquei The Rasmus, para tocar dessa vez e
retornei à atenção para ele.
- Além do fato de poder te controlar de uma forma bastante
divertida? – Chamei o moreno para mais perto de mim.
- É, além do fato de você me controlar. – Disse se inclinando
perto do meu rosto.
39
- Bom, melhor que isso, só quando eu te dou um pouco do
gostinho e te deixo babando pelo resto. – Dei um leve beijo no
moreno e saí do carro, rápido.
- Se você quer ser um corcel indomável, eu vou te mostrar como
sei colocar celas. – Se virou para me observar.
- Você vai me domar?! – Fitei o moreno à poucos metros – Eu
adoraria ver isso acontecer. Um corcel não fica parado, não é
mesmo?! Então, para me domar vai ter primeiro que me
alcançar. – Comecei a correr, achei engraçada a comparação do
corcel indomável comigo, foi no mínimo excêntrico.
Nota 10: Correr é algo um tanto quanto fácil para os vampiros e,
até onde saiba, os lobisomens também atingem grandes
velocidades.
Devíamos tomar cuidado para não irmos muito longe, já
que o carro estava aberto, mas não demorou muito até que Josh
me alcançasse. Talvez um minuto de corrida acirrada,
definitivamente isso era frustrante.
O moreno me segurou por trás, senti seu braço passar
pela minha cintura forçando que eu parasse.
- É, parece que eu estou conseguindo te domar. Já sou rápido o
bastante para poder te alcançar. – Falou no meu ouvido e deu
um beijo no meu pescoço fazendo-me arrepiar.
- Falta muito para me domar.
- Como? – Josh ainda me segurava por trás colando seu corpo
no meu.
- Como conseguir me controlar. Pode ter me alcançado, mas
ainda tem que colocar a cela. – Me virei para o moreno e dei
uma mordida em seu lábio inferior, indo começar a correr de
volta até o carro.
40
O moreno me segurou pelo braço impedindo que
voltasse a correr, colocando-me frente a ele e colando nossos
corpos novamente.
- Então, eu tenho que te controlar, não é? Pois bem, aceito o
desafio. Quer que eu comece por onde? – Me segurava forte
pelo braço.
- Começar?!
- É, se vou te controlar, chega de me dar o gostinho e cair fora,
você me provocou e agora que eu quero você, não há como
pular fora.
- É mesmo? ... – Antes que continuasse a falar qualquer coisa, o
rapaz me pegou no colo e em menos de um minuto me levou até
o carro.
Ele abriu a porta traseira do carro e me deitou no banco,
ficando por cima de mim.
- Parece que não tem para onde fugir agora. – Falou próximo do
meu rosto o suficiente para me fazer sentir sua respiração.
- Será mesmo?! – Pisquei.
- Tenha certeza, você não me escapa agora. – Selou meus lábios,
antes de começar a beijar e morder meu pescoço.
Enquanto Josh me beijava o pescoço, sua mão deslizava
pelas minhas coxas, levantando meu vestido até a cintura,
comecei a desabotoar sua camisa deixando seu corpo definido à
mostra.
O beijo do pescoço descia para o meu busto e eu
arranhava suas costas. Josh parou de me beijar por alguns
segundos, apenas o tempo necessário para que ele desabotoasse
o cinto e a calça. Antes que resolvêssemos tirar mais alguma
peça de roupa o meu celular começou a tocar.
- Deixa tocar, não atende. – Disse entre um beijo e outro.
41
- Se eu não atender, eles virão nos procurar. – Respondi com os
lábios ainda colados aos dele.
- Merda! – O moreno saiu de cima de mim, contra sua vontade.
Abri o porta-luvas e peguei o celular que tocava
escandalosamente, como se quisesse competir com o som do
carro. O visor mostrava a sigla PJ e a foto do loiro sorrindo.
- É o Perry. – Virei para o moreno que ainda estava emburrado.
- Sanguessuga insuportável com essa mania de quebrar o clima e
me atrapalhar. – Fuzilei-o com um olhar, mesmo que fosse
apenas brincadeira, não havia achado graça.
- Oi PJ. – Falei de forma gentil.
- Você sabe que horas são? – A voz preocupada do outro lado da
linha quase gritou.
- Não, não sei.
- Pois é, já são 2:00 am.
- Nem está tão tarde e eu sei me cuidar, não precisa se
preocupar.
- O problema não é você Elizabeth O’Joanne. – Ele parecia
bravo ao enfatizar meu nome de humana.
- PJ eu já disse que sei me cuidar, pare de se preocupar com o
que não deve. – Retruquei – Além disso, eu queria te falar uma
coisa, mas não pode ser por telefone tem que ser pessoalmente.
– Agora quem me fuzilava com um olhar era Josh.
- Não adianta, não há como não me preocupar com você e você
sabe disso. Por isso tenha cuidado.
- Pode deixar.
- Não quero que você fique muito tempo longe das nossas terras.
Faça um favor mim?
- Claro.
- Não se mate e nem crie confusão. Se algo acontecer a você, eu
sou capaz de morrer.
42
- Não fale merda Perry.
- Eu estou falando sério, preciso desligar agora, mas me promete
que não vai fazer besteira.
- Prometo.
- Bom, tenho que ir, estarei esperando até vocês voltarem, aí
você me conta o que quer. Te amo.
- Também te amo, PJ. – Desliguei o telefone e coloquei
novamente no porta luvas.
- Tem certeza que não há nada entre vocês? – O moreno me
tirou dos meus pensamentos.
- Ele é meu sire, por quem devo tudo. – Resmunguei – Mas nada
além disso.
- Eu começo a achar que ele não pensa assim.
- Se ele não pensasse assim, com certeza nos primeiros anos em
que me transformou teria tentado algo. Porque eu não deixei
faltar oportunidades e liberdade para fazer o que quisesse
comigo, mas ele não quis.
- O que quisesse? – O moreno questionou enquanto vestia a
calça.
- Sim, o que quisesse. – Ri, me sentindo confiante por ter
despertado um pouco de ciúmes no moreno – Eu não sei muito
do Perry, antes de ser transformada por ele. Sua vida é um
enigma para mim, mas fiquei sabendo por outras pessoas, que o
coração dele foi despedaçado quando sua esposa morreu, ou
algo assim, pelo menos é o que tudo indica. Disseram-me que
ela era muito linda, uma jovem ruiva com os cabelos longos e
lisos, tão branca quanto a neve, lábios finos, mas tão vermelhos
quanto sangue.
- Realmente parece ser muito bonita.
- Parecia, ela desapareceu, tudo indica que foi morta,
assassinada, mas não há certeza sobre isso, nem provas. O PJ
43
nunca me contou nada, nem mencionou sequer o nome da
garota, os outros que vivenciaram esse ocorrido me mostraram
uma foto dos dois, mesmo em preto e branco dava notar o quão
bela ela era, foi quando descobri seu nome Marie Abigail, mas
ele a chamava de Abby.
- Então quer dizer que ele ainda não esqueceu ela? – O moreno
parecia interessado na história.
- Exatamente, na foto eles pareciam dançar em um jardim, devia
ser no dia do casamento dos dois. Ela usava um vestido branco
muito bonito e os dois se olhavam com tanta paixão, que
ninguém nunca diria o que eram na verdade. E é só até aí que
sei.
- É uma história triste, mas fico feliz. – O moreno afirmou.
- Eu acabo de te contar o trágico acontecimento da vida do Perry
e você diz que fica feliz? – O olhei indignada.
- Claro, assim não terei que me preocupar com uma possível
concorrência. – Deu um sorriso confiante, vestindo a camisa e
começando a abotoá-la.
- Concorrência, é? – Me virei para o garoto e saí do assento da
frente, voltando ao banco de trás, mas sentando em cima e de
frente para ele.
- Claro! Não sou bom em dividir minhas coisas, também não
gosto de perder, portanto, não vou deixar ninguém me roubar
tão fácil. – Sorriu, segurando-me pela cintura.
- Não vai?! – Disse, beijando e mordendo seu pescoço, enquanto
passava a mão pelo seu tórax nu, sentindo-o estremecer sob meu
toque – O que foi?
- Beth, é sério, eu não quero te perder! – Respondeu em um
sussurro entre beijos suaves.
- Não vai. – Afirmei, ainda que não soubesse do futuro.
44
Naquele momento, a única coisa que eu ouvia, além do
som estridente do carro, eram nossas respirações. Eu podia
sentir o corpo de Josh já tão próximo ao meu, que eu não podia
me distinguir dele. Após tempos, vivendo namoros breves com
alguns vampiros do meu e dos outros clãs próximos, que em
quase nada me agradavam, eu e Josh conseguíamos sentir prazer
com o outro, sem sexo propriamente dito.
Eu estava sobre ele e envolta por seus braços, enquanto
arranhava-o no peito, com minhas unhas e puxava seus cabelos.
Josh me segurava pela nuca prendendo seus dedos bem firmes
entre meus cabelos e acariciava desde a minha cintura, passando
pelas costas, vindo até meu busto e descendo novamente à
minha cintura, tudo isso, com carinho, suavidade, mas ao
mesmo tempo, com a firmeza de um homem-lobo. Era notável
sua paixão, com seus gestos dizia que estaria sempre próximo,
para evitar que me perdesse.
O tempo passou sem, nem ao menos, termos percebido,
quando finalmente nos largamos já havia passado das quatro da
manhã, provavelmente Perry me mataria, era melhor irmos
embora logo. Trocamos novamente as músicas, mas não dei
tanta importância para qual escolheria. Tentei arrumar o vestido,
que antes estava perfeitamente liso e agora todo amarrotado,
ajudei o moreno a terminar de abotoar a camisa e arrumar ela
em seu corpo, por fim, calcei a bota que mal me lembrava de ter
usado. Passamos para o banco da frente e Josh dirigiu até o
prédio.
- Chegamos. – Olhei para o garoto que aparentava estar um
pouco cansado – Vamos logo antes que Perry se aborreça mais.
- Lá vem você falar no Perry Jordan de novo. – Revirou os
olhos, enquanto desligava o som e o carro.
45
- Sem crise, por favor. Vamos? – Falei, enquanto saía do carro e
batia a porta, ele fez o mesmo, me devolvendo as chaves.
Entramos no saguão principal totalmente indiferentes um
com o outro. Uns conversavam e nem notaram nossa presença,
já outros nos encaravam como se soubessem de algo. Seguimos
até a biblioteca para avisar à PJ que havíamos chegado.
- Desculpa a demora. – Falei dando um beijo na bochecha do
loiro, que estava sentado na sua poltrona como de costume lendo
um livro de filosofia.
- Já não era sem tempo. Foram onde? – Ele começou a encher-
nos com perguntas.
- Demos várias voltas de carro e paramos numa praia para olhar
a noite, ficamos conversando e acabamos perdendo a hora.
- E foi tudo bem?
- Foi sim, mas foi cansativo também, só quero saber de dormir.
– Respondi.
- E você Josh, gostou? – Agora ele olhava para o moreno ao
meu lado, analisando seu semblante.
- Foi tudo ótimo. A noite estava linda, faltava a fase da lua certa,
mas fora isso foi melhor do que esperava.
- Entendo. – Perry o encarou sério – E você Beth, disse que
queria me contar algo?
- É, eu quero. – Respondi e olhei para o moreno que havia
mudado de feição – Mas não precisa ser agora, quando eu
descansar um pouco, converso com você com calma.
- Se você prefere assim, que seja então. Vai descansar e depois
conversamos. Bom fim de noite Josh.
- Obrigado, para você também. – Os dois se deram um meio
sorriso.
- Se precisarem de algo é só me chamar. – PJ me deu um meio
sorriso enquanto saíamos.
46
Pode até ser apenas uma impressão, mas senti uma certa
hostilidade entre esses dois, bom, depois resolveria isso. Saímos
da biblioteca e subimos pelo elevador até o apartamento.
Entramos e trancamos a porta.
- Eu tomo meu banho primeiro ou você toma? – Perguntei.
- Não seria muito mais prático e econômico tomarmos banho
juntos? – Ele se fez de esperto.
- Temos que maneirar aqui, se abusarmos muito, será pior.
- Então eu tomo meu banho primeiro, sou mais rápido. – Ele foi
até o quarto e pegou sua toalha.
Após uns cinco minutos o moreno saiu do banheiro com
seu cabelo molhado e bagunçado, com a toalha enrolada na
cintura deixando o abdômen definido, molhado e à mostra.
Provavelmente queria me provocar e havia obtido sucesso. Ri
para o rapaz e entrei no banheiro, tomei um banho um pouco
mais demorado, apenas cinco minutos a mais. Me enxuguei e saí
enrolada na toalha, entrei no meu quarto e peguei uma camiseta
preta e vesti por cima da calcinha e do sutiã, “Se é para
provocar, provocamos juntos”, conclui me olhando no espelho
atrevidamente.
Nota 11: Sim, possuímos reflexo.
Saí do quarto e ouvi a televisão ligada, segui pelo
corredor até a sala e parei encostada na parede, o olhando à
distância. Ele vestia apenas uma calça de algodão, jogado no
sofá, comendo uma pizza gelada, deve ter ficado com preguiça
de esquentar.
O moreno não demorou a notar minha presença ali, mas
o mais engraçado foi vê-lo engasgar com o pedaço de pizza
quando me viu. Não contive o riso debochado, como se ele já
não tivesse visto minhas pernas. Caminhei e sentei ao seu lado
para olhar o que assistia.
47
- Assistindo o que? – Perguntei.
- É uma série policial, ao menos pude notar isso.
- Então você gosta dessas séries?
- Mais ou menos. – O moreno respondeu e voltou à olhar para
tela.
- Entendo. – Ficamos pela primeira sem ter o que conversar –
Essas séries são boas mesmo, ainda não sei muita coisa sobre
você.
- Realmente, acho que não falamos muito. – O rapaz segurou um
riso abafado, nossa relação era mais carnal.
- Pois é... Então, me conte um pouco de você, o que fazia?
- Eu posso ser considerado um faz tudo, com o passar do tempo
você se acostuma a fazer de tudo um pouco, mas meu trabalho
mesmo era de policial, tinha lá suas vantagens eu tinha
rosquinhas de graça. – Segurei um riso abafado pela piadinha –
E era mais fácil de chegar aos outros lobisomens, que
estragavam nossa descrição.
- Então você era policial... – Pensei, um pouco alto demais.
- Era, por quê? – Me fitou curioso.
- Não parece ser muito sua cara, os policiais daqui não deveriam
ser gordinhos ou terem bigode?
- Engraçadinha. Eu não era o único novo no departamento, havia
muitos jovens. Além de policial, também fui advogado de defesa
da nossa mansão, livrando a cara de alguns.
- Policial e advogado, tudo em um currículo só? – Brinquei.
- Não acho muita coisa, eu poderia ter feito algo a mais... Mas
agora me fale de você, o que fazia antes de virar minha vigia?
- Eu trabalhava aqui mesmo, temos um sistema de funções onde
faço parte da terceira equipe de mudança comportamental do
nosso clã.
- Equipe de mudança? – Perguntou intrigado.
48
- Nós somos bem rigorosos com nossas regras aqui, mas ainda
há vampiros que saem da linha e a terceira equipe é a que dá um
castigo para que eles se comportem.
- Então seu trabalho é dar uma surra em alguns caras e ainda te
pagavam por isso?
- Basicamente sim. Mas bem antes, há muito tempo mesmo, eu
era legista, havia acabado de terminar a residência e um estágio.
Abrir mortos é bastante instigante. – Pisquei.
- Então você era médica e depois seu emprego aqui era bater em
uns folgados. Agora teve que parar com tudo isso para ficar de
olho em mim?
- Isso, mas vale apena. – Sorri para o moreno.
Continuamos ali com um bate-papo divertido, expondo
nossos pensamentos, vendo o que batia e o que não. Já era seis
horas da manhã, quando resolvemos dormir, desligamos a
televisão e saímos da sala.
- Temos que ser discretos, mas não vejo problema em ficarmos
no mesmo quarto e na mesma cama. – O moreno falou baixo,
enquanto me puxava pela cintura.
- Ok. – Cedi e entrei no quarto do rapaz fechando a porta.
Peguei os travesseiros e ajeitei na cama, deitando e me
cobrindo com o lençol vinho que se encontrava sobre a mesma,
enquanto Josh fazia o mesmo. Virei para o lado no intuito de
dormir, mas sem sucesso, pois o moreno me virou novamente.
- Sem beijo de boa noite? Como espera que eu durma? – Falou
se aproximando do meu rosto.
- Você quer dizer bom dia, não?!
- Não importa, contando que eu ganhe o beijo.
- Você não se cansa mesmo...
- Estamos indo dormir juntos, um beijo não fará diferença
alguma, caso nos flagrem.
49
- É, faz sentido. – Completei.
Diminui a distância entre nossos rostos, colando os
lábios aos dele, me virei para o lado, enquanto o moreno ainda
me abraçava por trás. Dormi rapidamente em seus braços, talvez
mais rápido do que o costume.
O tempo passou rápido enquanto dormíamos, quando
acordei estava exatamente na mesma posição de quando havia
me deitado, o mesmo ocorreu com Josh, não havia movido
sequer uma polegada. Como não precisava dormir muito,
acordei antes do moreno, me levantei silenciosamente e saí do
quarto, fechando a porta.
Entrei no meu quarto apenas para vestir um short. Saí do
cômodo e fui até a cozinha, abri a geladeira e enchi um copo
com aquele líquido vermelho que aliviaria minha sede, como um
copo não foi suficiente, tomei logo três. “Tenho que me
controlar mais”, pensei vendo minhas mãos pararem de tremer
aos poucos. Finalmente havia conseguido aliviar minha sede,
mesmo que eu não comia nada, não custava nada fazer alguma
coisa para que o moreno pudesse comer.
Abri a geladeira e o armário, verificando o que havia ali,
peguei alguns ingredientes e resolvi fazer um bolo, já que não
sabia do que ele gostava. Peguei a tigela e comecei a misturar
todos os ingredientes: ovos, leite, farinha, manteiga, açúcar,
chocolate e o maldito fermento, que demorei a encontrar.
Terminei de bater a massa e levei ao forno, fui fazer uma
cobertura e pronto agora era só esperar que o bolo terminasse de
assar, fiz um café e um chá, um pouco de cada já que um deles
não iria ser consumido.
Enquanto esperava o bolo terminar de assar, lavei as
poucas vasilhas que haviam se acumulado, acho que o barulho
das vasilhas ecoando pelo apartamento, mesmo que pouco, fez
50
com que o moreno acordasse. Não demorou cerca de dois
minutos até que ele viesse para cozinha.
- Bom dia. – Chegou por trás de mim, me beijando no pescoço.
- Boa tarde, isso sim, já passou das duas. – Virei para o moreno
contemplando seu rosto ainda sonolento.
- O cheiro está bom.
- Não é nada demais, só um bolinho. – Sorri em agradecimento
ao elogio.
- Quer dizer que além de tudo você cozinha?! E pelo visto muito
bem.
- Não sou uma chefe francesa, mas sei alguns truques de quando
era humana. – Pisquei e voltei para minhas vasilhas, enxaguando
os últimos itens e colocando-os nos lugares.
Enquanto o rapaz se sentava à mesa, eu tirei o bolo do
forno e virei a cobertura por cima. O cheiro realmente estava
ótimo, mas enquanto Josh não provasse não teria como saber se
havia realmente ficado bom. Coloquei o bolo sobre a mesa e
cortei um pedaço, servindo-o.
- Prefere café ou chá? – Perguntei com os dois bules à mão.
- Café. – Ele respondeu.
Servi ao rapaz uma xícara do líquido escuro, que
antigamente era uma das coisas que mais gostava de tomar.
Sentei à mesa também, observando-o comer.
- E então? Consegui acertar a receita?! – Perguntei ansiosa com
a resposta.
- Sem sombra de dúvida está ótimo, não precisava ter se
preocupado comigo. – Respondeu.
- Não vejo o mínimo problema em cozinhar para você. Aliás, até
gosto, vou relembrar minhas antigas receitas. Faz muito tempo
que não cozinho, achei até que iria errar.