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Silva 2008

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Profissionalização de adolescentes

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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO PUC-SP

    Nicia Luzia Selete Silva

    A contratao de aprendizes: o reflexo da aprendizagem de adolescentes na cultura organizacional

    MESTRADO EM ADMINISTRAO

    So Paulo 2008

  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO PUC-SP

    Nicia Luzia Selete Silva

    A contratao de aprendizes: o reflexo da aprendizagem de adolescentes na cultura organizacional

    MESTRADO EM ADMINISTRAO

    Dissertao apresentada Banca Examinadora como exigncia parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Administrao, pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, sob a orientao do Prof. Dr. Antonio Vico Maas.

    So Paulo 2008

  • Banca Examinadora

    _____________________________________

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  • A meu marido Yuri, pelo apoio incondicional. s minhas filhas, Cynthia e Lorena.

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus pais, Nelson Selete e Nida Gosalan Selete, por terem me ensinado e encaminhado na melhor direo sempre, e por todo amor que dedicam a mim;

    Aos amigos Ana Paula de Lima da Silva, Joo Marcos Codato e Vicente Afonso Gasparini, pela ajuda, apoio e incentivo constantes;

    Aos mestres da Pontifcia Universidade Catlica, com quem tanto aprendi;

    UNIPAR, que permitiu a pesquisa em seu projeto de Extenso Adolescente Aprendiz e que, sendo a instituio onde trabalho, permitiu-me dedicar o tempo necessrio

    ao estudo.

    Guarda Mirim de Umuarama, que permitiu e at auxiliou, muitas vezes, a pesquisa realizada;

    s Empresas e aos aprendizes que participaram deste estudo, respondendo atenciosamente ao questionrio e entrevistas realizadas;

    Rita de Cssia, secretria do Programa de Mestrado em Administrao da PUC-SP, que auxiliou tantas vezes quanto necessrias, no desenvolver do meu curso,

    compreendendo a distncia e as falhas acadmicas;

    Em especial ao meu orientador, Prof. Dr. Antonio Vico Maas, que acompanhou e direcionou, pacientemente e com sabedoria, este estudo. Que esteve ao meu lado, mesmo quando a teimosia persistia no erro. Sou-lhe grata por tudo que me ensinou.

    Acima de tudo e de todos, agradeo a DEUS, que colocou pessoas to maravilhosas para caminhar ao meu lado, completando e enriquecendo minha vida!

  • RESUMO

    O objetivo primordial deste trabalho avaliar a influncia da contratao e do processo de aprendizagem de mo-de-obra adolescente na cultura organizacional de empresas. Para ser atingido, foi desdobrado em objetivos especficos, que pretendem: analisar legislao especfica e pertinente que regula a aprendizagem profissional de adolescentes; estudar a aprendizagem e cultura organizacional e suas interligaes; identificar caractersticas culturais e de aprendizagem organizacional das empresas com quotas de aprendizagem, demonstrando os elementos de maior destaque; avaliar a influncia da presena obrigatria do aprendiz na cultura das organizaes cotistas pesquisadas.

    Para isto, foram coletadas informaes documentais do Projeto Adolescente Aprendiz, que aplica curso tcnico-profissionalizante e encaminha os participantes para a aprendizagem prtica nas empresas. Este projeto desenvolvido pela Universidade Paranaense - UNIPAR, em parceria com a Guarda Mirim de Umuarama-PR, com o Ministrio Pblico do Trabalho e com o Ministrio do Trabalho.

    Alm da avaliao de documentos e leis, a investigao tambm contemplou entrevista no estruturada, com a coordenao da Guarda Mirim, com representantes das empresas, com representantes do Ministrio do Trabalho e do Ministrio Pblico do Trabalho, com os adolescentes e com os monitores do curso terico. Ainda, foi aplicado um questionrio aos adolescentes e aos representantes das empresas contratantes.

    A discusso e anlise de conceitos como aprendizagem organizacional, aprendizagem profissionalizante, gesto da aprendizagem, cultura organizacional, gesto da cultura e conhecimento, so predominantes neste estudo. Assim, se apresentam a fundamentao cientfica sobre o processo de aprendizagem e o processo cultural nas organizaes e como esto vinculados.

    Aprendizagem de adolescentes no espao empresarial tema novo, que surgiu a partir da Lei Federal 10097/2000. As organizaes que j atendem a esta normativa contratam aprendizes com menos de 18 anos, sem experincia. A questo que este trabalho prope est ligada ao tipo de influncia que estas empresas podem ter em seus grupos de trabalho, em sua cultura, partindo deste novo elemento humano em seu ambiente. Com a pesquisa constatou-se que, apesar de haver a percepo do uso dos aprendizes como mo-de-obra barata, a colaborao destes nas empresas significativa no grupo onde trabalham, bem como, gradativamente, conquistaram a confiana dessas organizaes.

    Palavras-chave: cultura organizacional; aprendizagem; aprendiz; conhecimento; gesto.

  • ABSTRACT

    The primary main of this study is to assess the hiring and teenager learning labour process in the companies organizational culture. It unfolds in specific objectives to achieve and intend to examine specific and relevant legislation that controls teenager profession learning; study the learning and the organizational culture and their interconnections. Identify cultural characteristics and organizational learning from the companies, with learning shares, showing the greater emphasis elements; and; assess the learner compulsory presence in the organizations culture studied.

    For that reason, documentary information was collected from the Teenager Learner Project, which applies technical training course and forwards the participants to the learning practice in the companies. This Project is developed by Universidade Paranaense UNIPAR in partnership with Guarda Mirim de Umuarama, Ministrio Publico do Trabalho and Ministrio do Trabalho.

    Beyond the documents evaluation and laws, the investigation got an interview with the Guarda Mirim coordination, companies representatives, Ministerio do Trabalho and Ministerio Publico do Trabalho representatives, with the teenagers and theoretical course monitors. Still it was applied one questionnaire to the teenagers and to the contractors companies representatives.

    The discussion and analysis of concepts like organizational learning, vocational learning, learning management, organizational culture, culture management, and knowledge are predominant in this study. On that way, scientific reasoning of the learning process and cultural process in the organizations are presented and it shows like they are linked.

    Teenager learning into the business space is a new subject that came from the federal law 10097/2000. The organizations that follow that normative hire below 18 years old learners, without experience. The questions that this work proposes are linked to the kind of influence that this companies can have in their work groups, their culture from this new human element in their environment. With this research it was noted that despite from having perception of the learners use like a cheap labour, their collaboration in the company is significant into the work group, and, gradually, won these organizations trust.

    Key words: organizational culture, learning, learner, knowledge, management

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    1 INTRODUO

    O presente estudo apresenta anlise sobre o processo de aprendizagem atravs da avaliao de mudana de comportamento de adolescentes e dos grupos de trabalhos das empresas participantes do Projeto Adolescente Aprendiz da Universidade Paranaense UNIPAR, que funciona desde maro de 2002, e tm, em processo de aprendizado tcnico-profissional, a 3 turma, iniciada em junho de 2005 e a 4 turma, iniciada em junho de 2007. Estes adolescentes tm contrato de aprendizagem prtica em organizaes fundamentado na Lei 10.097/2000. A UNIPAR localiza-se no Paran e o estudo ser realizado no campus da cidade de Umuarama, unidade que deu origem ao projeto.

    O Governo, em 19 de dezembro de 2000, sancionou a Lei 10.097, que altera dispositivos da Consolidao das Leis Trabalhistas CLT. Nesta Lei est previsto que menores de 16 anos no podero trabalhar, a menos que estejam como aprendizes, a partir dos 14 anos. Obriga que os empregadores estejam assegurando a formao tcnico-profissional do adolescente maior que quatorze anos e menor que dezoito. Isto faz com que o Ministrio Pblico do Trabalho e o Ministrio do Trabalho e Emprego cuidem para que as normas que tratam da aprendizagem e do adolescente trabalhador sejam cumpridas. Tal instruo afirma que, para que tenha validade, um contrato de aprendizagem deve respeitar a obrigatoriedade de um programa de aprendizagem terico e prtico, e que escolas tcnicas ou entidades sem fins lucrativos podero oferecer tal formao. Desta norma surgiu o Projeto Adolescente Aprendiz, como proposta de extenso do curso de Administrao do Campus de Umuarama da Universidade Paranaense UNIPAR, ofertando mdulos tericos do curso de auxiliar administrativo, em parceria com a Guarda Mirim de Umuarama-PR, enquanto as empresas tm a responsabilidade legal de propiciar o aprendizado prtico.

    Como a cultura organizacional pode ser influenciada por diversas variveis internas e externas s organizaes, estando entre elas o poder da lei, este estudo prope, como objetivo geral, avaliar a influncia da contratao obrigatria e do processo de aprendizagem de mo-de-obra adolescente na cultura organizacional das empresas. Considerando o caso do Projeto Adolescente Aprendiz da Universidade Paranaense e verificando o reflexo da presena dos aprendizes na cultura das empresas cotistas, os objetivos especficos desta pesquisa so: 1) analisar a Lei 10.097/2000 como norma que d origem e regula a aprendizagem profissional de adolescentes e demais legislaes relacionadas de forma direta com este processo; 2) fundamentar teoricamente aprendizagem e cultura organizacional e suas interligaes; 3) identificar caractersticas culturais e de aprendizagem organizacional das empresas com quotas de aprendizagem, demonstrando os elementos de maior destaque; 4) avaliar a influncia da presena obrigatria do aprendiz na cultura das organizaes cotistas pesquisadas.

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    Este estudo realiza a anlise do vnculo entre aprendizagem e cultura, as influncias entre os dois conceitos, e como a figura de adolescentes aprendizes, impostos pela lei, influem na aprendizagem e na cultura das organizaes. A anlise se estende questo da influncia de tais relaes, diretamente realidade das organizaes, no que tange evoluo do trabalho e de seu ambiente cultural e de aprendizagem.

    O objeto deste estudo , portanto, a aprendizagem profissional do adolescente entre 14 e 18 anos, prevista pela Lei de aprendizagem 10.097/2000, regulados tambm pela CLT (Consolidao das Leis Trabalhistas) e pelo ECA (Estatuto da Criana e do Adolescente), e a relao deste processo de aprender com a cultura organizacional, no que tange influncia que as empresas sofreram ou no, em sua cultura, pela presena e atuao dos adolescentes em seu ambiente laboral.

    Outra discusso e diferenciao fundamental a extenso da idade dos aprendizes para 24 anos, pela Lei Federal 11.180/2005, no Projeto Escola de Fbrica, numa legislao nova que poder afetar o processo de aprendizagem e cultura das organizaes contratantes, talvez numa idia de juno do aprendiz com o primeiro emprego. Neste sentido, a anlise das mudanas da lei do trabalho e do aprendizado, dos direitos da criana e do adolescente, necessria para a compreenso da teia cultural e de aprendizagem que se forma dentro das organizaes.

    Diferencia-se, pois, a aprendizagem da Lei 10097/2000 daquela apresentada na Lei 11.180/2005, principalmente porque a faixa etria prevista para cada uma delas d aos indivduos direitos distintos, em funo de sua idade. Ento, h dois tipos de aprendizes, considerados por lei, caracterizando entre 14 e 18 anos a aprendizagem tcnico-profissional (10.097/2000), e a outra, at 24 anos (11.180/2005), que cria o Projeto Escola de Fbrica. A discusso deste estudo passa por este segundo tipo de aprendizagem, estudando sua lei, mas o alvo a que se prope e aprofunda a aprendizagem tcnico-profissional.

    Se um princpio fundamental da aprendizagem a mudana de comportamento e a concepo de cultura passa pelo conjunto de comportamentos de grupos (ritos, mitos, cerimoniais, hbitos, moral, etc.), possvel afirmar a existncia de correlao entre eles, uma vez que os dois conceitos tratam de comportamento humano, um no mbito da psicologia e outro no da antropologia. Portanto, esta anlise busca verificar a localizao e o destaque de tal ligao, no ambiente organizacional, durante o processo de aprendizagem de adolescentes (um elemento estranho ao processo das empresas que os contratam). H uma abordagem sobre os conceitos, em que se encontram situadas a maior parte das similaridades, se em um processo cultural pode haver aprendizagem e em que fase da aprendizagem h mudana cultural.

    As cincias sociais aplicadas, como rea abundante em fatos e atos, como objeto de estudo, tm, no contexto do mercado de trabalho brasileiro, uma alterao a ser avaliada,

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    no que diz respeito empregabilidade e os novos conceitos de trabalho. O processo de aprendizagem de adolescentes no ambiente organizacional uma destas mudanas, imposta por legislao especfica. Como fato social tambm passvel de estudos administrativos, uma vez que afeta o convvio dos trabalhadores e a aprendizagem organizacional ora estabelecida pela cultura da empresa, e que pode refletir nos resultados esperados em sua misso.

    A identificao das caractersticas culturais das organizaes receptoras de adolescentes aprendizes fundamental para o processo de adaptao da prpria organizao e dos aprendizes ao programa. Neste sentido, a antropologia apia conceitualmente para que o levantamento de tais caractersticas possa ser realizado nas empresas. Essa adaptao pode incorrer na necessidade de mudanas. No entanto, para que haja um processo evolutivo, as empresas devem ter conhecimento de suas caractersticas culturais e a partir deste subsdio, podero criar programas de desenvolvimento que inclua o progresso cultural, por intermdio de um processo de aprendizagem, que pode incluir todos os funcionrios, uma vez que a contratao de aprendizes j foi determinada como obrigatria para uma classe empresarial.

    Para alcanar os objetivos propostos, identificando caractersticas culturais e de aprendizagem organizacional, bem como a aprendizagem tcnico-profissional de adolescentes e a recproca influncia que pode acontecer, utilizar-se- a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa (com menor profundidade). Seus resultados se apresentaro na forma descritiva, a partir da coleta e anlise de dados secundrios bibliogrfico e documental e primrios, com a aplicao de questionrio, observao e entrevistas. O local da pesquisa o Campus de Umuarama-PR da Universidade Paranaense UNIPAR, atravs dos adolescentes que so aprendizes no projeto desta instituio. Tambm sero coletados dados das empresas contratantes de aprendizes, da instituio filantrpica Guarda Mirim de Umuarama, e demais participantes do projeto, como estagirios e professores.

    Apontar os benefcios ou oportunidades que as aes sociais, mesmo que compulsrias, podem trazer s empresas, no processo de transformao contnua que se faz na cultura dar, aos empresrios, instrumento de gesto informao. Em situaes adversas, as organizaes estrategicamente posicionadas podem desenvolver alternativas ou identificar oportunidades futuras e aprender, evoluindo tambm no intangvel capital intelectual. O que ocorre que o processo de aprendizagem e a estrutura cultural da empresa podem ser investigados, pensados, planejados e geridos. O desafio proposto e realizado um estudo para gesto de aprendizagem e sua influncia na cultura organizacional, a partir da anlise do Projeto Adolescente Aprendiz.

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    2 LEGISLAO DE APRENDIZAGEM NA ADOLESCNCIA

    O trabalho infantil e adolescente no Brasil algo comum, porm, em muitos casos, de forma a explorar, no sentido pejorativo desta palavra. No distante desta realidade est a carncia em que vivem muitas famlias e a necessidade que os pais ou responsveis sentem de colocar seus filhos para trabalhar, logo que surja a oportunidade. Quanto mais cedo melhor, mesmo ilegalmente, tentando evitar, muitas vezes, a fome.

    No Brasil, Rocha (2001 apud UNIPAR Universidade Paranaense. Projeto adolescente aprendiz) conceitua a pobreza como pobreza absoluta das famlias. As pessoas no conseguem atender s suas necessidades bsicas. Considerando a distribuio de renda brasileira por famlias e no por pessoas, quanto maior o nmero de indivduos numa unidade familiar que estiverem trabalhando, maior a renda desta famlia. No entanto, as condies de trabalho de um adolescente no amparado pela lei pode ser adversa, prejudicando, por exemplo, sua educao escolar que, a longo prazo, prejudicar seu futuro profissional.

    Segundo Goldbaum (2001 apud UNIPAR Universidade Paranaense. Projeto adolescente aprendiz, 2007), em 1998, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD), realizado pelo IBGE, mostrava um quadro em que de 17 milhes de crianas entre 10 e 14 anos existentes no pas, 3,22 milhes (19,0%) declararam-se economicamente ativas. O trabalho infantil pode ser considerado um absurdo social, levando-se em considerao as necessidades infantis para seu desenvolvimento fsico e intelectual, necessidades como alimentao, amor, recreao, educao. E ainda, considerando suas limitaes de conhecimento para trabalhos que no ofeream riscos fsicos, normalmente as crianas so colocadas em trabalhos altamente insalubres, principalmente para um corpo em desenvolvimento, esquecendo que neste tipo de atividade a criana tambm limitada. Haja vista as normas do Estatuto da Criana e Adolescente (ECA), ambas as faixas etrias devem ser protegidas destes abusos.

    A regulamentao do trabalho no Brasil d-se pela Consolidao das Leis Trabalhistas CLT, em primeiro lugar, e por um conjunto de normas que vem adapt-las ou atualiz-las, de acordo com as necessidades contemporneas da sociedade, das organizaes e dos trabalhadores, influindo, por conseguinte, na economia e cultura do pas e das empresas.

    Para a atualidade, no mbito internacional, Nascimento (2003) cita que a Organizao Internacional do Trabalho OIT manifesta sua preocupao com a aprendizagem profissional do menor, no contedo de vrias Convenes e Recomendaes aprovadas.

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    O Glossrio da UNESCO apud Nascimento (2003), afirma que o ensino tcnico e profissional o termo que determina a educao com estudos tcnicos e os conhecimentos voltados para o exerccio de certas profisses. diferente da formao profissional porque, este ltimo tem objetivos essencialmente voltados para a qualificao prtica e conhecimentos especficos necessrios para a ocupao de um determinado emprego [...].

    No Brasil, segundo Paulo Sergio Joo apud Nascimento (2003), a seqncia de regulamentos que tratava do trabalho do menor como aprendiz antes da Lei 10097/2000, era a Constituio Federal de 1988, a Consolidao das Leis do Trabalho CLT e o Estatuto da Criana e do Adolescente ECA. Alm destes dispositivos legais cita-se o Decreto-Lei 8.621/1946, que criou o Servio Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e o Decreto-Lei 8.622/1946, que Dispe sobre a aprendizagem dos comercirios, estabelece deveres dos empregadores e dos trabalhadores menores relativamente a essa aprendizagem [...].

    Nascimento (2003) esclarece que o ECA determina o carter de aprendizagem a partir dos 14 anos, com direito a bolsa, e com o aspecto educativo prevalecendo sobre o produtivo. No entanto, o ECA garantiu aos aprendizes os direitos trabalhistas e previdencirios, ponto de discusso e discordncia para as empresas, que so obrigadas e recebem o aprendiz.

    Se h direitos trabalhistas assegurados h o direito de ao trabalhista aps o perodo de aprendizagem. Esta ao pode ser movida, inclusive, pelos responsveis do menor. De acordo com a acusao pode, sob o ponto de vista das empresas, provocar maiores prejuzos que a ao de um trabalhador profissional. Isso ocorre porque as protees recaem sobre o trabalho insalubre, perigoso e noturno, que tem uma repercusso maior quando se aplica a menores, em funo do apelo humano e social da situao.

    De um lado, a necessidade de garantir, ao menor, condies de aprendizagem com segurana fsica e, de outro, o interesse legtimo das organizaes na produtividade e lucro, bem como em evitar problemticas que possam gerar despesas ou prejuzos.

    Destaca-se, na Lei Federal 10097/2002, a obrigatoriedade da contratao do adolescente. A procuradoria do Ministrio Pblico do Trabalho, juntamente com a do Ministrio do Trabalho, utilizando critrios de escolha definidos em cada regio, de acordo com a estrutura econmica da cidade, indicam empresas de mdio e grande porte que devero contratar no mnimo 5% e no mximo 15% do total de seus funcionrios como aprendizes. Com a obrigatoriedade empresarial declarada, inicia-se uma discusso sobre produtividade, por iniciativa dos representantes das organizaes.

    As empresas devero, portanto, independentemente de sua aceitao e da produtividade que possa assegurar, ou no, contratar aprendizes para ensinar um ofcio em suas dependncias e sob orientao de um funcionrio efetivo.

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    2.1 Estatuto da Criana e do Adolescente ECA

    A Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que o Estatuto da Criana e do Adolescente ECA, o regulamento que cuida dos direitos dos indivduos at 18 anos. Por este motivo deve ser considerado e respeitado, em primeiro lugar, na aplicao de processos de aprendizagem tcnico-profissional dos adolescentes entre 14 e 18 anos.

    A caracterizao da relao desta norma com a lei de aprendizagem (10.097/2000) ocorre j no segundo artigo, que define Art. 2 Considera-se criana, para os efeitos desta Lei, a pessoa at doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Este artigo classifica a idade limite de adolescentes, que a mesma para a participao na aprendizagem profissional. A Lei 8.069 determina que:

    Art. 3 A criana e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes pessoa humana, sem prejuzo da proteo integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento fsico, mental, moral, espiritual e social, em condies de liberdade e de dignidade. Art. 4 dever da famlia, da comunidade, da sociedade em geral e do poder pblico assegurar, com absoluta prioridade, a efetivao dos direitos referentes vida, sade, alimentao, educao, ao esporte, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria.

    O direito ao desenvolvimento cultural dos adolescentes assegurado pelos artigos acima, iniciando pelo artigo 3, que aponta [...] o desenvolvimento fsico, mental, moral, espiritual e social [...] como necessrios ao ser humano. O que esta norma determina e pretende garantir, poder fazer parte da cultura das organizaes cotistas de aprendizes, uma vez que os adolescentes interagiro com os grupos de trabalho (social e cultural) das empresas onde aprendem. O perfil garantido a partir desta norma pode influenciar a ordem social e cultural de tais organizaes, assim como as organizaes podero influenciar a cultura e comportamento dos indivduos, neste caso adolescentes. No entanto, vale frisar que o foco deste trabalho o reflexo da presena e atividades de aprendizes na cultura das empresas.

    Percebe-se, no artigo 4, tanto quanto no artigo 3, os sinais culturais que motivam este estudo. Nesta norma, o desenvolvimento assegurado ao indivduo, mas ele, em ambiente social, em interao com o grupo onde aprende, ter possibilidade de influenciar nas atitudes deste grupo, positiva e/ou negativamente, de acordo com a forma de efetivao, em sua vida, da relao de direitos determinados pela lei. Isso se refere ao fato de seus direitos haverem ocorrido, ou no, com a liberdade e dignidade garantidas pela legislao.

    As leis fazem parte da cultura dos grupos poltico-sociais, seu contedo e as caractersticas impositivas afetam diretamente o comportamento das pessoas. O

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    adolescente, protegido pela lei, pode sentir-se seguro, ainda mais se perceber a execuo desta norma. A norma deve ser cumprida pela sociedade. Alm da famlia e do poder pblico, na sociedade esto includas as organizaes empresariais, que mais adiante, por fora da Lei 10.097/2000, se comprometem com o aprendizado profissionalizante na prtica. importante destacar tambm o artigo 6 desta lei, que discorre sobre os fins sociais a que ela se dirige [...] e a condio peculiar da criana e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. Pessoas em desenvolvimento constroem sua vida profissional a partir do conhecimento adquirido ao longo de suas vidas, alm de outras variveis que o afetam, e a lei garante isto aos indivduos com menos de 18 anos, via atuao social das empresas. A norma indica implicitamente a responsabilidade das empresas com os adolescentes, assim como a responsabilidade dos demais elementos sociais, que como podem ser classificadas as organizaes empresariais.

    O artigo 17 do ECA determina que O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade fsica, psquica e moral da criana e do adolescente, abrangendo a preservao da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idias e crenas, dos espaos e objetos pessoais. Esto declaradas neste artigo vrias caractersticas culturais que sero do indivduo, mas tambm da empresa. A lei estabelece o respeito ao adolescente como garantia de muitas caractersticas culturais como imagem, identidade, valores, idias e crenas, por exemplo. O respeito deve ser, portanto, praticado nas organizaes empresariais mutuamente, de forma que o processo de aprendizagem ocorra satisfatoriamente e que a cultura se amplie e/ou se fortalea.

    No esquecendo que o direito escolaridade assiste os adolescentes e que isto garante, no futuro, melhor mo-de-obra no mercado, importante entender que:

    Art. 53. A criana e o adolescente tm direito educao, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exerccio da cidadania e qualificao para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condies para o acesso e permanncia na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; [...]

    Na defesa aos direitos do adolescente, o artigo 53, do ECA, defende a educao escolar como parte do pleno desenvolvimento do ser humano, indicando a necessidade e importncia desta modalidade educacional (escolar) na qualificao para o trabalho. Isto demonstra a preocupao dos legisladores com o futuro profissional das crianas e dos adolescentes. possvel afirmar que, talvez, ao legislar, aperceberam-se da funo essencial do conhecimento cientfico, alm da capacidade de comunicar-se bem, na carreira do indivduo.

    Destaca-se o inciso I, sobre a igualdade de condies para o acesso e permanncia na escola, porque os aprendizes tm direito e obrigao de freqentar

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    regularmente a escola. Se no estiver matriculado e com freqncia regular, no poder participar do processo de aprendizagem em organizao de natureza alguma. Desta forma, assegura-se que haver maior interesse e preocupao com a formao escolar dos adolescentes.

    O inciso II aponta o papel dos educadores, e o direito dos adolescentes e crianas de serem respeitados por eles. Mas, no processo de aprendizagem nas empresas, a figura do educador no um profissional com formao pedaggica. No entanto, uma vez que a empresa investida de responsabilidade educacional prtica (tcnico-profissional), alm do respeito que deve ter com qualquer de seus funcionrios, como seres humanos, deve ter tambm com os adolescentes, com a diferena de que esto naquele ambiente no para trabalhar, mas para aprender, portanto devero ser tratados como aprendizes. Isto pode ser reforado pelo artigo 58 que determina: No processo educacional respeitar-se-o os valores culturais, artsticos e histricos prprios do contexto social da criana e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criao e o acesso s fontes de cultura. Esta uma imposio da lei que somente ser cumprida, por todas as empresas, mediante fiscalizao, pois, apesar da determinao legal, no h segurana de que as empresas respeitaro a legislao vigente.

    O ECA discorre mais especificamente sobre o direito profissionalizao e proteo no trabalho, no seu captulo V. Nos artigos 60, 61 e 62, que so os iniciais deste captulo, caracteriza-se novamente a relao desta normativa com a Lei 10.097/2000, da aprendizagem de adolescentes, como segue:

    Art. 60. proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condio de aprendiz. Art. 61. A proteo ao trabalho dos adolescentes regulada por legislao especial, sem prejuzo do disposto nesta Lei. Art. 62. Considera-se aprendizagem a formao tcnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislao de educao em vigor.

    Aos 14 (quatorze) anos pode iniciar-se a aprendizagem profissional de adolescentes e deve encerrar-se no mximo aos 18 (dezoito). O nico tipo de atividade de trabalho permitido para adolescentes entre 14 (quatorze) e 16 (dezesseis) anos o da aprendizagem. Aos dezesseis anos permitido que o processo de aprendizagem seja interrompido, para a efetivao do aprendiz, se assim a empresa quiser e o aprendiz concordar. Caso contrrio, o aprendiz pode trabalhar nesta modalidade at completar 18 anos, considerando sua condio de adolescente.

    A aprendizagem tcnico-profissional, citada no artigo 62, ser realizada dentro das empresas, no que tange aprendizagem prtica do dia-a-dia empresarial. Mas, dever ter a parte terica sob a orientao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao no Brasil. O ECA

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    no determina esta orientao quanto a tempo e contedo, deixando esta funo s leis pertinentes educao escolar.

    A lei define, no Art. 63, que A formao tcnico-profissional obedecer aos seguintes princpios: I - garantia de acesso e freqncia obrigatria ao ensino regular; II - atividade compatvel com o desenvolvimento do adolescente; III - horrio especial para o exerccio das atividades. Neste texto legal, h a obrigatoriedade em respeitar e exigir, de acordo com a idade do indivduo, que freqente o ensino regular, alm do curso profissionalizante e da aprendizagem na empresa. Isto significa que a aprendizagem tcnico-profissional, referida anteriormente, no exclui a importncia e garantia da freqncia escola; ao contrrio, amplia a exigncia. As atividades a serem desenvolvidas nas organizaes, bem como o curso ministrado, devem condizer com o desenvolvimento fsico e mental do adolescente, para que este possa agregar valor ao seu futuro profissional e no alienar-se daquilo que lhe foi proposto. Ainda esta regra, resolve que o horrio das atividades de aprendizagem deve ser especial, e que dever preservar ao adolescente tempo para estudo, lazer, cultura, convvio familiar e convvio social. Estas determinaes permeiam e regem a aprendizagem nas empresas, afetando, provavelmente, os valores empresariais, uma vez que, se fossem efetivos da organizao, o horrio de trabalho seria o que se aplica a todo o grupo.

    No artigo 67 se encontram detalhes que se vinculam ao inciso II do artigo 63, que, de maneira mais ampla, decide sobre o equilbrio entre as atividades de aprendizagem e condies de desenvolvimento do adolescente. Ento, o artigo 67 amplia a definio, explicando que:

    Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola tcnica, assistido em entidade governamental ou no-governamental, vedado trabalho: I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte; II - perigoso, insalubre ou penoso; III - realizado em locais prejudiciais sua formao e ao seu desenvolvimento fsico, psquico, moral e social;

    Este artigo define com clareza os horrios, tipos de trabalhos e locais proibidos atividade de aprendiz. O trabalho noturno (entre 22h de um dia e 5h da manh do dia seguinte) vedado e pode ser que o legislador tenha cuidado da necessidade de rotina e descanso com horrios adequados ao desenvolvimento fsico e intelectual dos indivduos com idade at 18 anos. interessante observar que os trabalhos citados no inciso II so determinados pela CLT e NR (Normas Regulamentadoras), que normatizam a forma de atuao e proteo dos funcionrios efetivos nestes tipos de atividade laboral. No caso dos aprendizes, no entanto, fica vedada a atuao nestas atividades, mesmo que sob as regras das NR.

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    O ECA especifica tambm os direitos trabalhistas dos adolescentes aprendizes, afirmando, no Art. 64: Ao adolescente at quatorze anos de idade assegurada bolsa de aprendizagem e, no Art. 65: Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, so assegurados os direitos trabalhistas e previdencirios. A medida desta norma est especificada e complementada na Lei 10.097/2000, que define se tais direitos devem ser em sua totalidade, de acordo com a CLT para os funcionrios efetivos, ou proporcionais, de acordo com adequao ao processo de aprendizagem carga-horria, tipo de tarefas, aprendizagem e curso e demais caractersticas do tipo de contrato.

    Com mais detalhes sobre o processo educativo, o ECA estabelece que:

    Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob responsabilidade de entidade governamental ou no-governamental sem fins lucrativos, dever assegurar ao adolescente, que dele participe, condies de capacitao para o exerccio de atividade regular remunerada. 1 Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigncias pedaggicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo. 2 A remunerao que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participao na venda dos produtos de seu trabalho no desfigura o carter educativo.

    Nesta regra, a lei usa dois termos importantes para a aprendizagem de adolescentes. O primeiro a capacitao, que traduz a necessidade e obrigatoriedade dos envolvidos com a aprendizagem, como instituies e empresas promotoras, de habilitar os aprendizes para a realizao de atividades laborais. Deve haver o cumprimento das prerrogativas didtico-pedaggicas pertinentes ao processo de ensino-aprendizagem do ser humano, com importncia maior que a questo produtiva inerente organizao empresarial. O segundo termo a remunerao, que a lei faz questo de frisar, no descaracteriza o carter educativo deste processo. Talvez esta remunerao tenha sido concebida como incentivo ao adolescente para aprender ou, ainda, como mais uma parte deste processo de aprendizagem, que o colocar em situao similar ao efetivo. Receber sua remunerao no final de cada perodo de trabalho e dever ponderar como investir ou gastar este valor referente ao resultado de seu trabalho-aprendiz. Isto pode desenvolver neste adolescente a capacidade de avaliar a sua situao econmica e administr-la, de acordo com suas necessidades fundamentais ou de seus objetivos futuros. Mais uma vez, possvel perceber, na lei, variveis e determinaes que podem influir na cultura, aprendizagem e desenvolvimento organizacional.

    Consta do artigo 69 do ECA: O adolescente tem direito profissionalizao e proteo no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre outros: I - respeito condio peculiar de pessoa em desenvolvimento; II - capacitao profissional adequada ao mercado de trabalho. Considerando que entre 14 e 18 anos o ser humano est em desenvolvimento fsico e mental, em que mudanas hormonais influenciam demais suas

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    atitudes e sua musculatura, correto exigir cuidado especial com o tipo de tarefa designada ao aprendiz no ambiente de trabalho. Se, por exemplo, atribui-se uma atividade em que o adolescente tenha que suportar peso ou aplicar fora superior ao que sua idade fisiolgica permite, isto poder afetar seu crescimento, principalmente se for uma tarefa repetitiva. O mesmo poder acontecer, relativamente ao desempenho mental, pois se o adolescente for exposto a conhecimentos ou atividades intelectuais que no consiga compreender ou processar, talvez por falta da maturidade necessria atividade e inerente a pessoas com mais idade, ele poder ser prejudicado quanto a percepes emocionais de sua capacidade intelectual. Neste caso h tambm as alteraes de humor e responsabilidade perceptveis nesta faixa etria. Se o adolescente realizar uma tarefa de maneira relapsa, ser difcil determinar se o ocorrido foi em razo de sua faixa etria e, portanto, suas caractersticas momentneas, ou se realmente a caracterizao de uma pessoa irresponsvel.

    O mercado de trabalho movimenta-se segundo a evoluo ou involuo dos setores produtivos e econmicos. Os adolescentes devem ser preparados para as necessidades mercadolgicas, com flexibilidade que atenda s constantes mudanas da demanda de mo-de-obra. Precisam ser capacitados para funes especficas, mas tambm devem ser conscientizados da necessidade de constante capacitao. Assim, ao sair do processo de aprendizagem, ou quando j estiver na fase adulta de sua vida, ter em seus conhecimentos o registro de que no deve parar de aperfeioar-se e ao mesmo tempo, de buscar conhecimentos eclticos.

    Entidades e instituies filantrpicas e educacionais que desenvolvem atividades com adolescentes podem aplicar a lei de aprendizagem e ofertar cursos profissionalizantes. Esta aplicao atender ao inciso II do artigo 90 do ECA, que dispe sobre a responsabilidade destas organizaes sobre o apoio scio-educativo.

    Art. 90. As entidades de atendimento so responsveis [...] pelo planejamento e execuo de programas de proteo e scio-educativos destinados a crianas e adolescentes, em regime de: [...] II - apoio scio-educativo em meio aberto; [...] Pargrafo nico. As entidades governamentais e no-governamentais devero proceder inscrio de seus programas, especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, junto ao Conselho Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente, o qual manter registro das inscries e de suas alteraes, do que far comunicao ao Conselho Tutelar e autoridade judiciria.

    O processo de aprendizagem de adolescentes, previsto pela Lei 10.097/2000, pode ser considerado um meio de promover a insero econmica e social no ambiente organizacional, onde pode aprender a relacionar-se, entre outras coisas. E, ainda, um processo educativo, j que pretende ensinar um ofcio ao indivduo.

    importante destacar que o poder pblico, atravs de seus rgos fiscalizadores e de defesa, tem responsabilidade sobre o registro e acompanhamento do cumprimento desta

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    regra, atravs dos programas e projetos registrados pelas entidades proponentes. Isto reafirmado no artigo 191, que determina que O procedimento de apurao de irregularidades em entidade governamental e no-governamental ter incio mediante portaria da autoridade judiciria ou representao do Ministrio Pblico ou do Conselho Tutelar, onde conste, necessariamente, resumo dos fatos. No que se aplica aos projetos de aprendizagem, a irregularidade citada neste artigo pode ser, por exemplo, o desvio de funo do adolescente no ambiente de aprendizagem empresarial (prtica), ou ainda o desrespeito ao artigo 67, incisos I, II e III. Neste caso o Ministrio Pblico do Trabalho e o Ministrio do Trabalho que devem fiscalizar e punir irregularidades. A punio pode estender-se a empresa que apresente irregularidade com as normas de proteo ao adolescente, como regulamenta o artigo 193 do ECA, pargrafo 4:

    Art. 193. Apresentada ou no a resposta, e sendo necessrio, a autoridade judiciria designar audincia de instruo e julgamento, intimando as partes. [...] 3 Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciria poder fixar prazo para a remoo das irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigncias, o processo ser extinto, sem julgamento de mrito. 4 A multa e a advertncia sero impostas ao dirigente da entidade ou programa de atendimento.

    O pargrafo 3 deste artigo aponta o procedimento que pode ser adotado para a entidade ou instituio regularizar a situao do aprendiz. A conotao dada s irregularidades tambm aponta a possibilidade de as organizaes e seus dirigentes se regenerarem perante a lei e a sociedade. No entanto, necessrio perceber que as irregularidades podem ser de cumprimento dos direitos trabalhistas registrados na carteira de trabalho do aprendiz e que pode ter a resistncia ao cumprimento, originria da prpria resistncia inicial figura e presena do aprendiz na empresa. Este fato no justifica o descumprimento da norma, da a definio da punio.

    Os artigos 194 at 198 do ECA tratam da apurao de infrao administrativa s normas de proteo criana e ao adolescente e dos recursos possveis ao acusado. Discorre sobre a representao feita pelo poder pblico para iniciar a imposio de penalidade e os procedimentos legais para a defesa.

    Art. 201. Compete ao Ministrio Pblico: [...] VI - instaurar procedimentos administrativos e para instru-los: [...] c) requisitar informaes e documentos a particulares e instituies privadas; [...] VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados s crianas e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabveis; [...] XI - inspecionar as entidades pblicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessrias remoo de irregularidades porventura verificadas;

    Quanto explicao das competncias do Ministrio Pblico na proteo ao direito do adolescente, o ECA aponta as atribuies e forma de ao deste rgo no artigo 201,

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    reforando o uso de medidas judiciais e extrajudiciais, quando necessrio. Mas, o que mais interessa aqui so as referncias a organizaes privadas, pois indica a forma de atuao do Poder Pblico na busca por informaes que comprovem irregularidades no trato dos programas criados para promover benefcios aos adolescentes. Para isto, este artigo, em seu inciso VI, alnea c, e no inciso XI, determina o direito e dever do Ministrio Pblico em solicitar documentao e informaes das instituies particulares, bem como inspecion-las, como forma de investigao de provveis atos irregulares.

    Nesta anlise pode-se verificar que, inicialmente, as empresas no desenvolvem uma atividade social, por iniciativa prpria, ao participar do projeto Adolescente Aprendiz, mas h uma ao coercitiva do poder pblico, tanto no ato da contratao do aprendiz, quanto no cumprimento das atividades pedaggicas que a lei determina. O no cumprimento deve ser fiscalizado e punido por rgos competentes como mostra o ECA, novamente frisando o poder coercitivo do estado no inciso XII, pargrafo 3, que determina que O representante do Ministrio Pblico, no exerccio de suas funes, ter livre acesso a todo local onde se encontre criana ou adolescente.

    2.2 Consolidao das Leis do Trabalho CLT e Lei 10.097/2000

    A CLT (Consolidao das Leis do Trabalho), como lei que trata dos direitos e deveres dos trabalhadores, tambm zela pelo trabalho no processo de aprendizagem e dispe, no captulo IV, sobre a proteo do trabalho do menor, discernindo, na seo I, sobre as disposies gerais para que haja a possibilidade de trabalho como aprendiz. Na seo II, sobre a durao do trabalho e, na seo IV, dos deveres dos responsveis legais de menores e dos empregadores da aprendizagem.

    Ao sancionar, em 19 de dezembro de 2000, a Lei 10.097, que alterou dispositivos da Consolidao das Leis Trabalhistas CLT o governo determinou que os menores de 16 anos no poderiam trabalhar, a menos que fossem contratados como aprendizes, a partir dos 14 anos. A Lei obriga a que empregadores assegurem a formao tcnico-profissional do adolescente maior que quatorze anos e menor que dezoito. Isto faz com que o Ministrio Pblico do Trabalho e o Ministrio do Trabalho e Emprego cuidem para que as normas, que tratam da aprendizagem e do adolescente trabalhador, sejam cumpridas.

    Esta Lei esclarece que, em concordncia com a CLT, o adolescente a partir dos 16 anos poder fazer parte do quadro de efetivos das organizaes. Porm, antes disto, e a partir dos 14 anos, s poder trabalhar se fizer parte de um processo de aprendizagem, que aqui ser compreendido, para anlise cientfica, como parte da educao do indivduo em formao da personalidade e formao profissional.

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    A lei deixa em aberto algumas questes operacionais de implantao, ficando a cargo da Procuradoria do Ministrio do Trabalho e do Ministrio Pblico do Trabalho as determinaes de sua execuo. No entanto, determina que os direitos reservados aos adolescentes pelo ECA devem ser preservados e, ainda, d aos adolescentes, neste processo, os direitos trabalhistas aplicveis a todos os trabalhadores, com diferenas de valores, mas no de contedo, caracterizando uma das diferenas fundamentais entre a aprendizagem adolescente e os processos de estgios remunerados.

    Tal instruo afirma que, para que tenha validade, um contrato de aprendizagem deve respeitar a obrigatoriedade de um programa de aprendizagem e que escolas tcnicas ou entidades sem fins lucrativos podero oferecer tal formao para garantir os direitos dos adolescentes.

    A CLT regulamenta, no art. 403, que proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condio de aprendiz, a partir dos quatorze anos. (Alterado pela Lei n. 10.097, de 19/12/00, DOU 20/12/00) restringindo a faixa etria do trabalho, alm do tipo de atividade permitida (aprendizagem). Cita, ainda, a lei de aprendizagem adolescente, que direciona a forma do processo de contratao e prtica da aprendizagem. A CLT e a Lei 10.097 garantem os direitos do trabalho e aprendizagem, enquanto a atribuio do cuidado dos direitos do adolescente fica a cargo do ECA.

    O pargrafo nico do artigo 403 confirma as determinaes de proteo do adolescente, j garantidas no ECA e, posteriormente, reforadas pelas normas de aprendizagem. Deste pargrafo consta que O trabalho do menor no poder ser realizado em locais prejudiciais sua formao, ao seu desenvolvimento fsico, psquico, moral e social e em horrios e locais que no permitam a freqncia escola. [...]. Este contedo tambm encontrado nos artigos 3 e 4 do ECA, j discutidos neste trabalho, e que vem reforar o devido respeito fase do desenvolvimento humano pela qual passa o adolescente, no esquecendo que, no caso do trabalho aprendiz, isto ser dever das organizaes empresariais, que tero que se adaptar sua nova funo: educadora. Probe-se a realizao do trabalho do menor em locais que possam causar-lhe qualquer espcie de dano, citando os danos morais, fsicos, psquicos e sociais. E, tambm proibe local e hora de trabalho que o impeam de estudar. Aqui o direito a educao escolar garantido.

    As empresas podero determinar o horrio de trabalho dos adolescentes, respeitando o artigo 404 da CLT: Ao menor de 18 (dezoito) anos vedado o trabalho noturno, considerado este o que for executado no perodo compreendido entre as 22 (vinte e duas) e as 5 (cinco) horas. Sendo assim, ainda h uma grande parte do dia em que o trabalho adolescente poder ser realizado. As empresas que fazem turnos constantes (24h

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    seguidas) que devero ter maior cuidado, no colocando o aprendiz exposio do horrio de descanso determinado pela lei.

    Quanto atividade desenvolvida pela empresa e s funes a serem realizadas pelos aprendizes, as autoridades e entidades promotoras do programa de aprendizagem devero cuidar da seleo, respeitando as determinaes do artigo 405: Ao menor no ser permitido o trabalho: [...] I - nos locais e servios perigosos ou insalubres, constantes de quadro para esse fim aprovado pela Secretaria de Segurana e Medicina do Trabalho; [...] II - em locais ou servios prejudiciais sua moralidade. As questes relativas periculosidade e insalubridade, que so temas da CLT para com os cuidados com o trabalhador efetivo, so ainda mais delicadas quando se trata de trabalho de adolescentes. No se trata de tomar os cuidados e precaues necessrias para evitar acidentes ou doenas do trabalho, mas de no expor o indivduo a estes locais. proibida por esta norma a presena de adolescentes nestes ambientes para aprendizagem. Este artigo tambm cuida das condies psquicas, ao preocupar-se com a realizao de atividades, ou mesmo local de trabalho, que afetem seus princpios morais, causando prejuzo ou dano pessoa. O pargrafo 3, em suas alneas a, b, c e d explicita tipos de trabalhos prejudiciais moralidade do menor:

    a) prestado de qualquer modo em teatros de revista, cinemas, boates, cassinos, cabars, dancings e estabelecimentos anlogos; [...] b) em empresas circenses, em funes de acrobata, saltimbanco, ginasta e outras semelhantes; [...] c) de produo, composio, entrega ou venda de escritos, impressos, cartazes, desenhos, gravuras, pinturas, emblemas, imagens e quaisquer outros objetos que possam, a juzo da autoridade competente, prejudicar sua formao moral; [...] d) consistente na venda, a varejo, de bebidas alcolicas. [...].

    Porm, o artigo 406 abre uma exceo, afirmando que o juiz da infncia e da juventude poder autorizar ao menor o trabalho a que se referem as letras a e b do 3 [...], citado acima, determinando as condies em que o juiz poder faz-lo nos incisos I e II do referido artigo (406). E, retornando ao pargrafo 2, do artigo 405, encontra-se a mesma situao de autorizao para trabalho realizado em ruas, praas e outros logradouros, sempre destacando a proteo da formao moral do indivduo.

    As implicaes da lei quanto ao bem estar do adolescente, seu desenvolvimento fsico, psquico e moral, mostram a preocupao com o ser humano e pode prevenir a formao de profissionais irresponsveis. Mas, o excesso de proteo pode ser prejudicial ao indivduo, se este perceber apenas seus direitos, e os deveres no lhe forem esclarecidos. Alm disto, o adolescente precisa compreender que esta uma situao temporria, em decorrncia de sua faixa etria, e que seus direitos e deveres para com sua prpria vida, a sociedade e empresa se alteraro, quando que ele chegar maturidade.

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    Para as organizaes cotistas de aprendizes, este esclarecimento se torna importante, medida que a empresa se interessa pela efetivao dos adolescentes aps o perodo de aprendizagem. Portanto, a lei tambm deve preocupar-se em esclarecer quais as obrigaes dos aprendizes e, neste contexto, suas responsabilidade para com as empresas que os empregam.

    Algumas funes e atividades so consideradas prejudiciais ao desenvolvimento do adolescente, porque o obrigam a esforar-se alm do que seu organismo est pronto para suportar. Outras porque afetam sua moral como o trabalho em cabars tirando-lhe a noo social predominante do certo e errado e da postura tica necessria ao ser humano. Algumas, ainda, podem ter complexidade para a qual o adolescente ainda no tem conhecimento nem maturidade para realizar e podem frustr-lo e influir em seu desempenho e desenvolvimento psquico em sua auto-estima provocando desnimo, desinteresse e afetando tambm o grupo de trabalho no qual foi inserido.

    Art. 407 - Verificado pela autoridade competente que o trabalho executado pelo menor prejudicial sua sade, ao seu desenvolvimento fsico ou sua moralidade, poder ela obrig-lo a abandonar o servio, devendo a respectiva empresa, quando for o caso, proporcionar ao menor todas as facilidades para mudar de funes. Pargrafo nico - Quando a empresa no tomar as medidas possveis e recomendadas pela autoridade competente para que o menor mude de funo, configurar-se- a resciso do contrato de trabalho [...]

    A obrigatoriedade de abandonar o trabalho para a preservao de direitos deve ser aplicada mesmo contra a vontade do prprio adolescente, para que este tenha a finalidade da aprendizagem sem prejuzo psicolgico, fsico ou moral. Da forma como determinado pela autoridade, a aplicao desta regra deve ser respeitada pela empresa e, quando possvel, o adolescente deve ter sua funo substituda por outra que no seja prejudicial ao seu desenvolvimento. Caso a empresa no disponha de funo para atender norma ou encontre outro tipo de impedimento para tal, o contrato ser rescindido nos moldes do artigo 483 da CLT: O empregado poder considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenizao quando: a) forem exigidos servios superiores s suas foras, defesos por lei, contrrios aos bons costumes, ou alheios ao contrato; A alnea a deste artigo aponta a preocupao generalizada com o excesso de fora realizada pelos funcionrios, independentemente de serem aprendizes, portanto, aos aprendizes ela ser aplicada com o mesmo rigor. Neste primeiro fator, citado por esta alnea, pode-se lembrar a existncia de regras de ergonomia contempladas pelas Normas Regulamentadoras (NR) e que determinam exatamente como trabalhos perigosos e insalubres devem ser realizados. As alneas c e d tambm caracterizam situaes relacionadas com o artigo 407 quanto resciso do contrato: c) correr perigo manifesto de mal considervel; d) no cumprir o empregador as obrigaes do contrato; Nestes casos o artigo 408 tambm cita a ao do

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    responsvel pelo adolescente, afirmando que poder solicitar o fim do contrato, se perceber que o trabalho pode causar danos ao aprendiz.

    Flexibilizando e dando autoridade ao Ministrio do Trabalho, o artigo 410 determina que, este rgo fiscalizador, pode rever sua deciso inicial, que proibia o menor de trabalhar em um dado ambiente, por insalubridade ou periculosidade, desde que verifique que j no haja mais os fatores proibitivos no ambiente ou na atividade desenvolvida pelo indivduo.

    Na seo II, do captulo IV, a CLT esclarece sobre a durao do trabalho do aprendiz, que dever inicialmente seguir as regras gerais e depois as restries dos artigos 412 e 413:

    Art. 412 - Aps cada perodo de trabalho efetivo, quer contnuo, quer dividido em 2 (dois) turnos, haver um intervalo de repouso, no inferior a 11 (onze) horas. Art. 413 - vedado prorrogar a durao normal diria do trabalho do menor, salvo: [...] I - at mais 2 (duas) horas, independentemente de acrscimo salarial, mediante conveno ou acordo coletivo nos termos do Ttulo VI desta Consolidao, desde que o excesso de horas em um dia seja compensado pela diminuio em outro, de modo a ser observado o limite mximo de 48 (quarenta e oito) horas semanais ou outro inferior legalmente fixado; [...] II - excepcionalmente, por motivo de fora maior, at o mximo de 12 (doze) horas, com acrscimo salarial de pelo menos 50% (cinqenta por cento) sobre a hora normal e desde que o trabalho do menor seja imprescindvel ao funcionamento do estabelecimento. [...]

    A diferenciao dada ao aprendiz nesta regra decorre da condio em que se encontra na empresa processo de aprendizagem e que poder de algum modo influenciar os demais funcionrios. Poder ter conotao positiva ou negativa, de acordo com o perfil cultural do grupo de trabalho e de sua liderana.

    Da maneira como fica explicitada a regra sobre a carga-horria do adolescente, percebe-se a possibilidade de trabalho de 40 horas semanais, porm, de acordo com a regulamentao este adolescente dever estar, obrigatoriamente, estudando e tendo sua freqncia e desempenho acompanhado pelo programa de aprendizagem. O artigo 427, da CLT, determina que O empregador, cuja empresa ou estabelecimento ocupar menores, ser obrigado a conceder-lhes o tempo que for necessrio para a freqncia s aulas. Assim, h uma limitao de tempo para que este aprendiz possa estudar e esta uma caracterstica do processo que no tem similar com os funcionrios efetivos das empresas. Mais uma vez percebe-se a diferenciao que pode alterar elementos culturais nas organizaes. Esta diferena na preocupao e tratamento que a empresa deve ter com o adolescente ganha mais destaque no pargrafo nico do artigo 427. Este trecho da lei afirma que, em caso de impossibilidade ou dificuldade de acesso do menor escola, pela distncia (maior que dois quilmetros), e caso a empresa tenha mais de 30 aprendizes analfabetos, dever manter um local em suas dependncias para que sejam alfabetizados. Em concordncia com o ECA, o artigo 425, da CLT, alude garantia de direitos bsicos dos adolescentes: Os empregadores de menores de 18 (dezoito) anos so obrigados a velar

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    pela observncia, nos seus estabelecimentos ou empresas, dos bons costumes e da decncia pblica, bem como das regras de higiene e medicina do trabalho. Observa-se nestas duas regras (artigos 425 e 427) que a organizao empresarial passa a responder por uma atividade para a qual, em sua maioria, no esto preparadas tecnicamente nem culturalmente, pois no foram criadas com este fim: a educao.

    Empresas so elementos sociais com vocao mercadolgica e quando fundadas, sua misso normalmente privilegia a produtividade empresarial, mesmo que seu planejamento contemple aes ou a responsabilidade social. Para estas organizaes atenderem aos preceitos legais de aprendizagem em seu ambiente, com um grupo de trabalho que no formado de professores, ser necessrio o dispndio de tempo em treinamento e, conseqentemente, dinheiro, para a recepo e trabalho adequado com o aprendiz. A questo aqui saber se as empresas os faro cumprir, com a excelncia que a lei determina, uma vez que no so preparadas pedagogicamente e, ainda, como aceitam esta nova funo. O conceito do contrato de aprendizagem dado pelo artigo 428 da CLT, alterado pela Lei n 11.180, de 23/09/2005 DOU 26/09/2005, que institui a escola de fbrica. Alm de obrigaes das empresas, tais como garantia da aprendizagem tcnico-profissional, esta norma amplia a idade dos aprendizes para 24 anos, em concordncia com a lei do primeiro emprego:

    Art. 428. Contrato de aprendizagem o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de 14 (quatorze) e menor de 24 (vinte e quatro) anos inscrito em programa de aprendizagem formao tcnico-profissional metdica, compatvel com o seu desenvolvimento fsico, moral e psicolgico, e o aprendiz, a executar com zelo e diligncia as tarefas necessrias a essa formao. [...]

    Neste texto h um compromisso do empregador em garantir a aprendizagem dos adolescentes e que este processo deve ser condizente com a fase de seu desenvolvimento humano (fsico, moral e psicolgico). Esta norma reafirma o que o ECA e o artigo 425, da CLT, j haviam disposto. O artigo 428, em seus pargrafos 1 a 4, continua abordando situaes que afetam o dia-a-dia da empresa, bem como os valores e hbitos empresariais.

    1 - A validade do contrato de aprendizagem pressupe anotao na Carteira de Trabalho e Previdncia Social, matrcula e freqncia do aprendiz escola, caso no haja concludo o ensino fundamental, e inscrio em programa de aprendizagem desenvolvido sob a orientao de entidade qualificada em formao tcnico-profissional metdica. [...] 2 - Ao menor aprendiz, salvo condio mais favorvel, ser garantido o salrio mnimo hora. [...] 3 O contrato de aprendizagem no poder ser estipulado por mais de dois anos. [...] 4 A formao tcnico-profissional a que se refere o caput deste Art. caracteriza-se por atividades tericas e prticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade progressiva desenvolvidas no ambiente de trabalho. [...]

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    As garantias e direitos trabalhistas dos adolescentes devem ser observados e cumpridos pelas empresas, alm do investimento na aprendizagem propriamente dito. A tarefa de verificar o vnculo e a freqncia regular escola, por exemplo, uma atividade nova s organizaes empresariais, mas, como faz parte da obrigao no processo de aprendizagem de adolescentes, tero que criar estrutura prpria para tal e realizar periodicamente esta verificao. O adolescente ser remunerado proporcionalmente s horas trabalhadas por dia, incluindo o tempo de aprendizagem terica. Quanto ao contrato de apenas dois anos, ele se assemelha regra de estgios remunerados, mas para a aprendizagem profissionalizante deve ser questionado se esse tempo suficiente para dar aos adolescentes noes tcnico-profissionais bsicas e para a empresa equilibrar-se quanto ao cumprimento do ensino prtico.

    Sobre a garantia de estudo regular, a obrigatoriedade est vinculada aprendizagem na empresa. Isso significa dizer que s trabalhar como aprendiz o adolescente que freqentar o ensino regular, promovendo o retorno ou a incluso de muitos adolescentes evadidos da escola.

    Duas informaes includas nos pargrafos 1 e 4 devem ser destacadas, por caracterizarem novamente a funo educacional que a lei impe s empresas. A primeira a necessidade da inscrio dos adolescentes em um programa de aprendizagem elaborado por uma instituio qualificada em formao tcnico-profissional metdica, o que revela a necessidade de um responsvel pedaggico e tcnico de outra entidade que no seja a empresa. J a segunda informao afirma que as tarefas devero ser realizadas no ambiente de trabalho, e isto coloca o responsvel pedaggico dentro da empresa. Esta outra influencia externa que poder alterar alguns valores e hbitos empresariais. Inicialmente pode causar rechao, porque uma pessoa estranha no ambiente e dinmica organizacional. Depois, poder haver preocupaes com a possibilidade de esta pessoa, responsvel pedaggico e tcnico, resolver caracterizar sua presena na empresa como vnculo trabalhista.

    O artigo 429 trata da quantidade de adolescentes aprendizes que as empresas cotistas devero incluir em seu quadro funcional. Este artigo determina o mnimo de 5% e o mximo de 15% do quadro de funcionrios, considerando as funes que necessitam de formao profissional. Isto significa que, se uma organizao tiver 150 funcionrios, dos quais apenas 100 ocupam funes com conhecimento que exijam formao tcnico-profissional por meio de cursos, treinamentos, e outros, esta empresa dever contratar no mnimo 5 e no mximo 15 adolescentes, ou seja, de 5% a 15% das 100 funes com necessidade de formao tcnica.

    O aprendiz poder trabalhar at seis horas dirias, segundo a determinao do artigo 432 da CLT, e no podero ocorrer prorrogao nem compensao do trabalho. Mas,

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    o pargrafo 1 da mesma regra amplia para oito horas o tempo dirio de aprendizagem quando o aprendiz j houver concludo o ensino fundamental e, neste caso, devero ser acrescentadas s horas da parte terica do processo.

    Sobre a extino do contrato de trabalho, o artigo 433 que define que ele se cessar no tempo determinado ou com a chegada da idade final de aprendizagem (24 anos) ou ainda, em caso de antecipao, nas seguintes hipteses: [...] I desempenho insuficiente ou inadaptao do aprendiz; [...] II falta disciplinar grave; [...] III ausncia injustificada escola que implique perda do ano letivo; ou [...] IV a pedido do aprendiz. [...]. Percebe-se o mnimo de poder de gesto da empresa, conferido pela lei, sobre o desempenho do adolescente nos incisos I, II e III.

    Para penalizar as empresas que no cumpram as determinaes da CLT quanto aos contratos de aprendizagem, os artigos 434 e 435 determinam uma multa de 30 valores-de-referncia da regio onde a organizao esteja situada. Esta multa deve ser aplicada para cada menor em situao irregular.

    Este avano legal, ocorrido com a Lei 10.097/2000 alterando o texto da CLT sobre a aprendizagem, poder fazer com que a sociedade do futuro tenha maiores oportunidades, uma vez que o crescimento scio-econmico est relacionado ao desenvolvimento cultural da populao e que o desenvolvimento cultural compreende tambm a formao profissional.

    Em contraste com o avano legal, supra mencionado, um projeto que atenda s leis, normas criadas por uma elite do governo de um pas, no pode necessariamente ser considerado um projeto que atender as necessidades e carncias da sociedade deste pas. Para elaborar uma lei, os critrios dos juristas ou dos parlamentares podem no atender proposta metodolgica, pois uma pesquisa se faz necessria para descobrir o que, de fato, ter efeito sobre a realidade social.

    O intuito dos legisladores, ao determinar os critrios do processo de aprendizagem de menores nas organizaes empresariais, parece ser o de proteo do indivduo e de preservao de valores sociais. O respeito pelos dois fatores coerente e louvvel, mas h que se avaliar a profundidade de conhecimento sobre tais questes e sua relao com a realidade scio-econmica do pas e, principalmente, das famlias mais carentes. Afinal, no Brasil v-se explorao escrava de mo-de-obra infantil em tenra idade, enquanto, em contrapartida, a fiscalizao e a punio desta situao no parece to eficaz.

    O ser humano um dos meios para se alcanar um fim lucrativo. A legislao que obriga, reafirma e comprova isto, e torna imprescindvel para as organizaes uma adaptao sua nova obrigao, de forma que seja proveitosa para sua estrutura capitalista. Tendo em vista o ttulo da lei, que contempla o aprendizado, as organizaes podem buscar o equilbrio, acompanhando o conhecimento desenvolvido neste perodo

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    contratual com cada adolescente e, com isto, beneficiar-se, verificando inclusive a influncia da presena deste novo elemento cultural na equipe de trabalho e em seu processo contnuo de aprendizagem organizacional.

    2.3 Lei 11.180/2005 e Decreto 5.598/2005

    Aps a redao e aplicao das alteraes da CLT pela Lei 10.097/2000, o governo atualizou as implicaes do processo de aprendizagem com o decreto 5.598 de 01 de dezembro de 2005, determinando, no Art. 1o: Nas relaes jurdicas pertinentes contratao de aprendizes, ser observado o disposto neste Decreto. Como aprendiz, neste artigo, considerado o adolescente entre 14 e 18 anos, com aprendizagem tcnico-profissional regulamentada pela Lei 10.092, e o aprendiz do Projeto Escola de Fbrica, regulamentado pela Lei 11.180 de 23 de setembro de 2005, contempla os adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos, existe uma relao sobre a natureza da aprendizagem, por ambas tratarem de profissionalizao, mas ainda assim so distintas porque devem ser aplicadas a diferentes faixas etrias.

    H dois elementos importantes na Lei 11.180 que tm ligao com a aprendizagem de adolescentes entre 14 e 18 anos, pois apesar de esta norma ser especfica para a Escola de Fbrica, determina o novo texto que conceitua a aprendizagem no artigo 428 da CLT, j analisado neste trabalho. O primeiro elemento consta na conceituao de aprendizagem que amplia a faixa etria do aprendiz para 14 a 24 anos, salvaguardando a natureza do projeto, se adolescente aprendiz, escola de fbrica ou outra modalidade. O segundo elemento est contido no artigo 10, que fixa que A vinculao de estabelecimento produtivo ao Projeto Escola de Fbrica no o exime do cumprimento da porcentagem mnima de contratao de aprendizes, nos termos do art. 429 da Consolidao das Leis do Trabalho CLT [...]. O artigo 429 da CLT o que estabelece a cota de aprendizes entre 5% e 15%, e esta norma no a desautoriza. Ao contrrio, no artigo 10, reafirma a obrigatoriedade do cumprimento da cota de aprendizagem.

    O decreto 5.598/2005 foi elaborado para regulamentar a contratao de aprendizes entre outras providncias necessrias aprendizagem tcnico-profissional. E, para definio de quem pode ser aprendiz, o artigo 2 marca a termo que Aprendiz o maior de quatorze anos e menor de vinte e quatro anos, que celebra contrato de aprendizagem, nos termos do Art. 428 da CLT.

    Sobre o contrato de aprendizagem, o artigo 3 deste decreto difere do artigo 428 da CLT apenas no que diz respeito idade. No primeiro, no h meno da idade, no lugar aparece a palavra aprendiz, ficando, portanto: Contrato de aprendizagem o contrato de

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    trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado no superior a dois anos, em que o empregador se compromete a assegurar ao aprendiz, [...].

    As empresas tm, sob sua responsabilidade, a aprendizagem prtica do adolescente, e dever estar includa juntamente com a do aprendiz num programa que respeite as regras legais, tais como o artigo 6, do decreto 5.598/2005, que define:

    Entendem-se, por formao tcnico-profissional metdica, para os efeitos do contrato de aprendizagem, as atividades tericas e prticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade progressiva, desenvolvidas no ambiente de trabalho. Pargrafo nico. A formao tcnico-profissional metdica de que trata o caput deste artigo realiza-se por programas de aprendizagem, organizados e desenvolvidos sob a orientao e responsabilidade de entidades qualificadas em formao tcnico-profissional metdica, definidas no art. 8o deste Decreto.

    Esta lei utiliza as mesmas linhas textuais das legislaes anteriores, evidenciando a aplicao dos moldes iniciais, adaptando-os apenas aos novos processos de aprendizagem, como a Escola de Fbrica e outros projetos que privilegiem adolescentes com aprendizado tcnico-profissional. O artigo 7 desta lei tambm mostra esta tendncia textual e delimita princpios para que projetos deste gnero possam ser realizados. Tais princpios tm a mesma linha mestra do ECA e da CLT e assegura o direito de ensino fundamental regular, horrio especial para a realizao das atividades do projeto e adequao do contedo da aprendizagem ao contexto mercadolgico de trabalho. Por ltimo, este artigo assegura o direito ao respeito condio de desenvolvimento humano que os aprendizes entre 14 e 18 anos tm.

    O que pode determinar uma reao mais defensiva das organizaes empresariais, e que denota o poder coercitivo do governo sob a gesto das empresas so as regras que explicitam suas obrigaes. A seo I, do captulo IV, deste decreto 5.598/2005, apresenta a explicao e determinaes da obrigatoriedade da contratao, mantendo o percentual da cota mnima e mxima, alm de serem calculadas sobre as funes que tem necessidade de formao profissional. No artigo 10 esclarece que Para a definio das funes que demandem formao profissional, dever ser considerada a Classificao Brasileira de Ocupaes (CBO), [...]. Mas, na seqncia, o texto da lei exclui da base de clculo as funes que tenham necessidade de habilitao tcnica ou superior e os cargos de direo, gerncia ou de confiana. As demais funes que precisem de formao profissional, mesmo que sejam proibidas para menores de 18 anos, devero ser includas no clculo que determina o nmero de aprendizes que a empresa dever contratar.

    No h privao da aprendizagem com relao s funes que ofeream riscos ao adolescente. As funes que ofeream risco ao adolescente entre 14 e 18 anos, que sejam funes com proibio j prevista por lei para esta faixa etria ou que possa atrapalhar o

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    desenvolvimento do indivduo, devero ter a aprendizagem aplicada aos maiores de 18 e menores de 24 anos.

    A prioridade na contratao de aprendizes para os adolescentes entre 14 e 18 anos apesar de a lei tambm beneficiar os entre 18 e 24 anos. Isto o que delimita o artigo 11, do decreto 5.598/2005:

    Art. 11. A contratao de aprendizes dever atender, prioritariamente, aos adolescentes entre quatorze e dezoito anos, exceto quando: I - as atividades prticas da aprendizagem ocorrerem no interior do estabelecimento, sujeitando os aprendizes insalubridade ou periculosidade, sem que se possa elidir o risco ou realiz-las integralmente em ambiente simulado; II - a lei exigir, para o desempenho das atividades prticas, licena ou autorizao vedada para pessoa com idade inferior a dezoito anos; e III - a natureza das atividades prticas for incompatvel com o desenvolvimento fsico, psicolgico e moral dos adolescentes aprendizes. Pargrafo nico. A aprendizagem para as atividades relacionadas nos incisos deste artigo dever ser ministrada para jovens de dezoito a vinte e quatro anos.

    O contrato de aprendizagem pode ser de duas espcies como explica a seo II, do captulo IV, que no artigo 15 indica com preciso A contratao do aprendiz dever ser efetivada diretamente pelo estabelecimento que se obrigue ao cumprimento da cota de aprendizagem ou, supletivamente, pelas entidades sem fins lucrativos mencionadas no inciso III, do art. 8o, deste Decreto. No caso de a empresa fazer a contratao do aprendiz de maneira direta, ela ser o empregador e se responsabilizar pela inscrio do aprendiz num programa de aprendizagem. Quando houver a figura da entidade, esta dever formalizar o um contrato com as empresas cotistas antes da contratao dos adolescentes e oferecer a formao tcnico-profissional terica aos aprendizes. A responsabilidade trabalhista tambm recai sobre a entidade, tendo que registrar e anotar em carteira todos os movimentos de aprendizagem, sendo a entidade considerada, neste caso, como empregadora.

    Aprendizes tambm podem ser contratados por empresas pblicas e sociedades de economia mista, sendo este processo de forma direta, sem a intermediao de entidades sem fins lucrativos, havendo edital e o devido processo seletivo.

    Os aprendizes tm direitos trabalhistas que tratam da remunerao, da jornada de trabalho, das atividades tericas e prticas, do fundo de garantia por tempo de servio, das frias, dos efeitos dos instrumentos coletivos de trabalho, do vale-transporte e da extino e resciso do contrato de aprendizagem, todos contemplados pelo decreto 5.598/2005.

    O decreto supra mencionado repete o texto, j analisado, da CLT, quanto garantia de salrio-mnimo-hora. Explicita, na seo II, do captulo V, que a carga-horria de trabalho no dever ser maior que 6 horas dirias para os aprendizes que no concluram o ensino fundamental e at 8 horas para aqueles que j concluram o ensino fundamental, somando as horas de aprendizagem terica. A carga horria semanal que for menor que 25

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    horas se refere aos direitos dos aprendizes e no caracteriza, portanto, trabalho em tempo parcial (art. 58-A da CLT).

    Os artigos 22 e 23 desta norma garantem ao indivduo condies didtico-pedaggicas e fsicas necessrias aprendizagem. As aulas podem ser no ambiente de trabalho, desde que seja em carter demonstrativo e ficam proibidas atividades que caracterizem trabalho dos aprendizes. Devem ser respeitados os programas de aprendizagem, no podendo o aprendiz realizar atividades diferentes do programado. Assim, a entidade que elaborou e responsvel pelo programa, dever fornecer uma cpia do Projeto Pedaggico de aprendizagem s empresas e ao Ministrio do Trabalho e Emprego, sempre que solicitado.

    Se as aulas prticas forem realizadas na empresa, haver um funcionrio monitor para coordenar as atividades do aprendiz no estabelecimento, sempre de acordo com o programa de aprendizagem. Se a empresa tiver mais de uma unidade na mesma cidade, poder concentrar toda a aprendizagem prtica em uma nica filial.

    O pargrafo nico, do artigo 24, decide que A Contribuio ao Fundo de Garantia do Tempo de Servio corresponder a dois por cento da remunerao paga ou devida, no ms anterior, ao aprendiz. No seu caput, este artigo menciona a Lei 8.036, de 11 de maio de 1990, como norma que se aplica questo do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Servio) dos aprendizes, alm do pargrafo nico.

    As frias dos aprendizes devem coincidir com o perodo de frias escolares e atender s definies do programa de aprendizagem. Alm disto, do artigo 27 consta que assegurado ao aprendiz o direito ao benefcio da Lei 7.148, de 16/12/1985, que institui o vale-transporte.

    Sobre a extino e resciso contratual este decreto, em seu artigo 28, reitera as determinaes da CLT (artigo 433), j alterado pela Lei 10.097. Ficam os mesmos motivos estipulados para a extino e resciso contratual do aprendiz. Se houver justificativa prevista em lei para a resciso ou extino contratual, a empresa poder faz-la, no entanto, fica obrigada a contratar novo aprendiz para o cumprimento de sua cota. O artigo 29 determina como sero os procedimentos comprobatrios dos motivos de resciso do contrato, tais como o desempenho insuficiente ou inadaptao do aprendiz, por exemplo.

    A legislao aqui apresentada e estudada tem por primcias regulamentar o processo de aprendizagem, mas, para fazer cumprir a norma, aplica o poder coercitivo do estado nas aes de gesto empresarial. Este poder do estado influi no poder da gesto e pode agir sobre a formao e delimitao cultural da organizao, considerando que o poder parte fundamental cultura.

    Analisando o histrico e evoluo das leis de aprendizagem, e apontando as principais regras que se interligam diretamente gesto empresarial das organizaes que

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    contratam aprendizes, encontram-se vrias passagens que denotam a ligao de aprendizagem organizacional com a aprendizagem de adolescentes. Isto pode ser exemplificado com a determinao da existncia de um funcionrio tutor, que dever aprender a ensinar, j que sua profisso no a de educador, mas passa a ter obrigao de coordenar as atividades de adolescentes aprendizes.

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    3 APRENDIZAGEM TCNICO-PROFISSIONAL E ORGANIZACIONAL: GESTO, PODER E LEGALIDADE

    Ao ser humano, a aprendizagem um processo necessrio e constante. Ao adolescente, a adaptao da aprendizagem escolar, estudos tcnico-tericos e prtica organizacional so fundamentais para a construo de um cidado. A legislao deve garantir o desenvolvimento humano atravs do estudo, sem ater-se a ideologias protecionistas que, de tanto proteger, podem prejudicar.

    Um projeto que une interesses organizacionais, governamentais (polticos) e sociais ideal numa realidade em que as condies econmicas no so as mais favorveis e muitas crianas e adolescentes encontram-se pelas ruas merc dos acontecimentos, principalmente quando este projeto tenha em seu cerne a aprendizagem.

    A adolescncia uma fase humana de muito questionamento e, por isso mesmo, de grande capacidade para o aprendizado e produtividade criativa. As empresas, de outro lado, no tm vocao filantrpica nem educacional, no entanto, a elas foi imputada a responsabilidade pelo aprendizado prtico de adolescentes entre 14 e 18 anos, como informa a legislao apresentada no captulo 1.1 deste estudo.

    Aprendizagem carece de matria-prima adequada, material e contexto didtico propcio. Pode-se dizer que a matria-prima, estudada neste caso, so os adolescentes, os empresrios e o estado. E o material didtico a realidade das empresas, suas ferramentas de trabalho, sua equipe, suas mquinas e seu conhecimento prvio. A dificuldade do processo encontra-se em sua aceitao e compreenso, tendo em vista ser algo novo, desconhecido na forma como determina a lei.

    Vrias podem ser as dvidas sobre este processo e em destaque neste captulo esto as questes sobre as oportunidades organizacionais vinculadas ao aprendizado de adolescentes, o uso do poder como regulador da relao estado-adolescente-organizao. o estudo de uma situao nova para a legalidade e para as organizaes, no que tange ao processo de aprendizado. Porm, na evoluo do trabalho do menor essa uma discusso de longa data e ser apresentada tambm neste contexto histrico da proteo da criana e adolescente.

    Inicialmente, possvel questionar a satisfao do ser humano no ambiente de trabalho e verificar se realmente a aprendizagem e o poder dentro de organizaes empresariais so benficas para o homem. Depois, identificar este processo com a participao e presena de adolescentes.

    importante avaliar a aplicao dos diversos poderes exercidos dentro da empresa por funcionrios, de alto a baixo nvel hierrquico, pelos proprietrios, pelo governo e at por clientes e fornecedores. Este o universo de stakeholders mais prximos das organizaes e que podem fazer parte de seu contexto de aprendizagem, de poder e de

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    cultura. Como este grande grupo formado por pessoas, possvel tratar a questo do aprendizado e poder organizacional sob a tica da felicidade e satisfao humana. Tamayo (2004, p.12) afirma [...] que o tempo consagrado ao trabalho, que representa uma parte significativa da vida de uma pessoa, seja um componente fundamental para a construo e o desenvolvimento do bem-estar pessoal e da felicidade. O trabalho est to presente na vida do ser humano, tanto com relao ao tempo que dedicado a ele, como com a forma e preocupaes inerentes, que o autor faz apontamento desta atividade como fundamento da felicidade humana. Sendo assim, possvel afirmar que a aprendizagem organizacional e o poder experimentado nas organizaes podem auxiliar o ser humano a alcanar sua auto-realizao.

    Para Tamayo (2004, p.12), h uma "[...] significao psicossocial [...] do trabalho na vida humana e como [...] determinante fundamental do homem, inseparvel da sua existncia. Mas, a importncia do trabalho para a subsistncia psicossocial do homem no a nica que se considera nas empresas, pois h tambm a necessidade de se atender demanda de consumo humano. O que a populao consome precisa ser produzido e, desta forma, todo tipo de profissional importante para o mercado. Na escassez de determinado conhecimento tcnico, o profissional que o possui tem maior poder de barganha; por outro lado, se h abundncia de mo-de-obra, a empresa possui o poder na negociao de condies de trabalho. Esta realidade uma pequena parte da dinmica empresarial e mercadolgica, capaz de ilustrar a realidade sistmica em que as organizaes e os profissionais se encontram. Isso fica claro ao apresentar-se a Teoria Geral dos Sistemas, segundo Bertalanffy (1945, p.60):

    [...] na cincia contempornea aparecem concepes que se referem ao que chamado [...] totalidade, isto problemas de organizao, fenmenos que no se resolvem em acontecimentos locais, interaes dinmicas manifestadas na diferena de comportamento das partes quando isoladas ou quando em configurao superior, etc.

    Nesta obra h referncia ao comportamento, traando um paralelo com o existencialismo, que afirma a falta de sentido da vida - uma lacuna a ser preenchida -, mas que o comportamento conjuga muito mais que as necessidades fsicas e psicolgicas das pessoas. H mais elementos envolvidos neste sistema e que so necessrios para se obter o equilbrio. Sob esta viso possvel questionar quais os elementos mais importantes para a assimilao de mudanas em um sistema com a aprendizagem e aplicao de poder, seja organizacional ou social.

    A anlise feita no trata da estruturao do aprendizado dentro das empresas como um processo tcnico, mas como parte da filosofia organizacional. Tambm no trata do exerccio do poder, quando h sua aplicao coercitiva, como fator limitante do

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    progresso, da criatividade, do aprendizado ou at mesmo da evoluo do capital, mas como elemento que contribui em todas as dimenses, quando utilizado buscando a homeostase.

    3.1 Aprendizagem profissionalizante e aprendizagem organizacional: reflexos na gesto do conhecimento organizacional

    A aprendizagem organizacional parece ser um tema novo para as empresas e talvez, seja discutido sem relao com a adolescncia ou com o trabalho do menor, sem vnculos com a responsabilidade social ou a profissionalizao de pessoas ainda em fase de desenvolvimento fsico e mental (se possvel afirmar que as pessoas param de desenvolver-se diante do conceito de aprendizagem). Essa discusso precisa ser estudada e acompanhada, para que haja um direcionamento no sentido de beneficiar empresas, funcionrios e adolescentes.

    Pode ser normal que o foco dos estudos sobre aprendizado nas organizaes empresariais, por sua natureza capitalista, atinja os objetivos de produtividade, competitividade e lucratividade, os quais se pretende alcanar utilizando tambm o conhecimento organizacional. Com a insero da modalidade de aprendizado adolescente, determinado pelo poder legal do estado, as empresas devem preocupar-se com um novo sistema de aprender, sem isolar o novo indivduo, mas aproveitando as oportunidades que a situao oferece, como a capacidade criativa e de absoro de novos conhecimentos do adolescente.

    A busca pelo aprendizado est diretamente vinculada ao desejo e necessidade do homem pelo conhecimento. Sendo assim, importante compreender o conhecimento e suas implicaes, estudando sua teoria. Hessen (2003, p.20) afirma que No conhecimento defrontam-se conscincia e objeto, sujeito e objeto. O conhecimento aparece como uma relao entre esses dois elementos. Nessa relao, sujeito e objeto permanecem eternamente separados. [...] Para este autor, a relao entre o sujeito e o objeto gera uma reciprocidade, em que um s o que para o outro. O objeto s o ser para o sujeito, enquanto o sujeito s o ser para o objeto. O sujeito tem funo de apreender e o objeto de ser apreendido pelo sujeito. Ainda afirma que, ao apreender, o sujeito que se altera e o objeto permanece transcendente a ele. Diz Hessen (2003, p.20) que [...] No no objeto, mas no sujeito, que algo foi alterado pela funo cognoscitiva. Surge no sujeito uma figura que contm as determinaes do objeto, uma imagem do objeto. O ser humano absorve o contedo do objeto formando o saber sobre este. Nele (homem) haver alterao cognitiva, enquanto o objeto, sem sofrer ao humana, permanece inalterado.

    O homem adquire conhecimento medida que tem contato com os objetos que emanam um determinado contedo de interesse para o indivduo. Conhecer necessrio

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    para a vida humana se perpetuar, e fundamental para a prtica empresarial. Para a estratgia organizacional, a criao de cenrios, por exemplo, baseada em conhecimento do passado e de tendncias. Este conhecimento s pode ser concretizado porque o indivduo teve contato com o fato (objeto) e o absorveu, formatando uma imagem dele em sua cognio. As empresas que tomam o conhecimento como fonte ou elemento primordial para sua estratgia tm pessoas que apreendem este conhecimento, lembrando que no a estrutura que apreende e desenvolve o conhecimento, mas as pessoas.

    Davenport e Prusak (1998) discorrem sobre as questes funcionais do conhecimento para as empresas e analisam a questo do seu significado. Para ser vlido para uma empresa, ou mesmo para o homem, o indivduo deve ser capaz de extrair significado do conhecimento e transform-lo em ao. A obteno de conhecimento excessivo, quantitativamente, pode confundir e criar barreiras para a tomada de deciso nas organizaes. Para ser til, o conhecimento precisa ser aplicvel e para ser aplicvel, as pessoas precisam saber articul-lo e at descartar o que no plausvel necessidade.

    Sob o prisma do homem como sujeito do conhecimento, Hessen (2003) explica que o sujeito comporta-se receptivamente ao objeto e espontaneamente ao conhecimento. Davenport e Prusak (1998, p.8), sobre acmulo de conhecimento que pode acabar sendo intil, afirmam que O conhecimento pode movimentar-se tambm para baixo, na cadeia de valor, voltando a ser informao e dado. A razo mais comum para aquilo a que chamamos des-conhecimento ou reverso do conhecimento o excesso de volume. Confrontando as duas reflexes, pode-se crer que o indivduo recebe todo o contedo dos objetos com os quais tem contato e estuda, gerando espontaneamente um conhecimento, mas como pela receptividade e espontaneidade a absoro pode ser excessiva, este contedo poder ficar subutilizado e voltar ao estado de informao ou at dados, no tendo utilidade empresa. Ento, as organizaes poderiam estar esforando-se e desgastando os seus membros em busca de conhecimento sem filtro, o que improdutivo. Isto ocorre porque [...] a empresa pode ser vista como um conjunto de relaes que cria valor, um organismo que funciona a partir de um processo permanente de aprendizagem de mo dupla, que se alimenta das transaes que realiza com o ambiente [...] Carbone et al. (2006, p.36). As empresas tm uma dinmica de aprendizagem contnua a partir da troca de dados e informaes com todo seu ambiente e stakeholders internos e externos, que criam valor e que podem ser considerados estratgicos. Um conhecimento tcnico-operacional tem valor na esfera estratgica, medida que irradia as conseqncias da competncia aplicada s tarefas realizadas a partir dele.

    Com base na discusso feita sobre o conhecimento, afirma-se que a garimpagem de conhecimento feita pelas organizaes empresariais necessria, mas o processo de aprendizagem deve ser direcionado aos conhecimentos significativos para a ao

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    empresarial, evitando-se o excesso. Neste caso pode evitar-se tambm a frustrao dos indivduos e grupos, pois, para o ser humano, importante a utilidade do conhecimento.

    A ao do ser humano no processo de aprendizagem para aquisio ou ampliao de conhecimento central e dela depende o desempenho das organizaes. Carbone et al. (2006, p.38) salienta que:

    [...] entra em cena o conhecimento humano, aplicado no contexto empresarial, visando oferta de solues para problemas concretos, e que no se desgasta com o uso, mas que se renova e se potencializa, o que permite a gerao dinmica de inovaes. Neste momento, deve-se ressaltar o trabalho humano como questo central, num contexto em que as pessoas so percebidas como atores crticos dos processos de criao de conhecimento, aqueles agentes ativos que vo dar empresa a sua identidade prpria, na medida em que permitem organizao o estabelecimento de inmeras combinaes de co