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Simpósio Internacional de Teologia Puc-Rio - “Teologia em diálogo” 1º-3/04/2008 Comunicação: Os desafios para a Igreja no século XXI Eva Aparecida Rezende de Moraes Introdução Não é muito fácil prever o futuro. Entretanto, podemos antever algumas possibilidades. O século XXI descortina-se com suas indagações e seus desafios próprios, e a Igreja não deve se furtar a dar suas respostas. Ensaiamos algumas, seguindo as pegadas do Concílio Vaticano II (Vat II), que, com espírito de abertura, coragem e diálogo, auscultou os “sinais dos [seus] tempos”. O Vat II foi, e tem permanecido, um marco indiscutível na história da Igreja. Principalmente, na sua postura de abertura e diálogo com o diferente: as outras denominações cristãs, as não-cristãs e o próprio “mundo” em si, abrangendo as sociedades, as culturas e as ciências modernas, que inauguravam, nas décadas de 1950 e 1960, um novo impulso em suas epistemologias e fenomenologias. Após o Concílio, o “mundo” sofreu mudanças aceleradas e profundas. Neste sentido, as ciências modernas têm descortinado horizontes para o diálogo interdisciplinar, enquanto revêem suas bases científicas, suas verdades e seus métodos, inaugurando “novos paradigmas”. Na mesma direção, a globalização – principalmente na sua vertente cultural – tem apresentado o respeito ao diferente e particular, se abrindo à interlocução com culturas antigas e emergentes e, ao mesmo tempo, questionando as verdades instituídas e sedimentadas, provocando relativismos, mas também, integração com a natureza em suas diversas dimensões. Em nossas décadas pós-Vat II, as questões eco-lógicas estão na base da construção de uma nova lógica, não tanto mercadológica e utilitarista, mas relacional e integrada. Nessa construção ética contemporânea, a percepção e a lógica femininas têm sido um elemento indispensável; assim, as questões de gênero estão em pauta, ajudando a construir uma nova humanidade, centrada no amor e no respeito mútuos, alicerçando uma sexualidade mais estruturada. 1

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Simpósio Internacional de Teologia Puc-Rio - “Teologia em diálogo”

1º-3/04/2008

Comunicação: Os desafios para a Igreja no século XXI

Eva Aparecida Rezende de Moraes

Introdução

Não é muito fácil prever o futuro. Entretanto, podemos antever algumas

possibilidades. O século XXI descortina-se com suas indagações e seus desafios

próprios, e a Igreja não deve se furtar a dar suas respostas.

Ensaiamos algumas, seguindo as pegadas do Concílio Vaticano II (Vat II), que,

com espírito de abertura, coragem e diálogo, auscultou os “sinais dos [seus] tempos”. O

Vat II foi, e tem permanecido, um marco indiscutível na história da Igreja.

Principalmente, na sua postura de abertura e diálogo com o diferente: as outras

denominações cristãs, as não-cristãs e o próprio “mundo” em si, abrangendo as

sociedades, as culturas e as ciências modernas, que inauguravam, nas décadas de 1950 e

1960, um novo impulso em suas epistemologias e fenomenologias.

Após o Concílio, o “mundo” sofreu mudanças aceleradas e profundas. Neste

sentido, as ciências modernas têm descortinado horizontes para o diálogo

interdisciplinar, enquanto revêem suas bases científicas, suas verdades e seus métodos,

inaugurando “novos paradigmas”. Na mesma direção, a globalização – principalmente

na sua vertente cultural – tem apresentado o respeito ao diferente e particular, se abrindo

à interlocução com culturas antigas e emergentes e, ao mesmo tempo, questionando as

verdades instituídas e sedimentadas, provocando relativismos, mas também, integração

com a natureza em suas diversas dimensões. Em nossas décadas pós-Vat II, as questões

eco-lógicas estão na base da construção de uma nova lógica, não tanto mercadológica e

utilitarista, mas relacional e integrada. Nessa construção ética contemporânea, a

percepção e a lógica femininas têm sido um elemento indispensável; assim, as questões

de gênero estão em pauta, ajudando a construir uma nova humanidade, centrada no

amor e no respeito mútuos, alicerçando uma sexualidade mais estruturada.

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Esses são alguns dos desafios que serão apresentados em nossa Comunicação.

Eles esperam das Igrejas cristãs uma resposta madura e segura, sem descuidar do

necessário ecumenismo e da fidelidade à Tradição. O seguimento a Jesus Cristo, sob o

trabalho do Espírito, deve nos guiar na busca das urgentes e necessárias respostas

eclesiológicas. Que tenhamos o mesmo espírito conciliar, tentando corresponder, de

maneira mais plena, aquilo que Deus espera de nós: a construção do Reino e a

evangelização da humanidade, encarnando-nos na história, interculturando a fé cristã.

Para tentar levantar os possíveis desafios que o século XXI nos apresenta,

observaremos o seguinte itinerário: na primeira parte, o desafio dos modelos

eclesiológicos; a segunda parte buscará apresentar os desafios da realidade interna da

Igreja, e, a terceira e última parte, os desafios extra eclesiais.

1a. Parte: O desafio trazido pelo confronto entre modelos eclesiológicos

Sabemos que o modelo eclesiológico vigente no Vat II é o Igreja Povo de Deus;

igualmente, que o da América Latina (AL), retratado nas Conferências Episcopais de

Medellín e, Puebla, é o da Igreja dos pobres, ou libertadora.

Chamamos modelos de Igreja os modos diversos dela realizar sua missão no

mundo. A Igreja realiza o Reino de Deus na história e salvando a história. Contudo, ao

longo do tempo, percebemos que a Igreja é circunscrita por horizontes determinados e

experiências específicas, necessitando, portanto, de uma reflexão sociológica

experimental, ao lado das fundamentações teológicas (PARRA, 1991, p. 68s).

Articular e integrar essas duas fundamentações são dois grandes desafios para a

eclesiologia atual. Mais ainda pela enorme variedade de modelos eclesiológicos

existentes. Cada modelo tem seus valores, sua linguagem, sua manifestação, sua

ministerialidade, suas obscuridades e sua ética e estará inserido num determinado

contexto religioso, político, sócio-econômico e cultural. A Igreja é uma instituição

divina, mas também humana, e manifesta-se sempre em uma expressão, a partir de uma

determinada cultura, com seus valores e contra-valores (MORAES, 1999, p. 15s).

É comum existirem modelos eclesiológicos superpostos ou paralelos: a realidade

eclesial não é linear. Descobrindo seus efeitos, se sabe quais modelos se revelam, qual a

predominância de uns sobre a debilidade, insuficiência ou carência de outros. Deve-se

lembrar também de que nem sempre a preponderância de um significa a inexistência,

inecessidade ou inoperância de outro, pois, nesta vigência, deve-se questionar que

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possibilidades de sentido, resposta e proeminência são inerentes a cada modelo. Assim,

o campo dos modelos eclesiológicos implica também a eventualidade do conflito

(ALMEIDA, 1988, p. 311), visto que os membros da Comunidade eclesial se con-

formam com os modelos.

Em qualquer que seja a instituição social – como, evidentemente, na Igreja

Cristã - há uma identificação e uma defesa de determinado modelo, no qual a pessoa ou

o grupo se reconhece: os modelos, assim, são também papéis sociais (BERGER, 19852,

P. 27). Os modelos eclesiais são manifestações carregadas de expressividade do que se

crê e do como se crê e surgem carregados de objetividade e subjetividade, em um

processo dialético. Essa con-vivência de modelos eclesiológicos pode ser geradora de

conflito, se determinado modelo não possui o espaço necessário de automanifestação,

devendo, assim, existir na Igreja um espaço para este processo dialético.

Apesar da enorme força e presença que os modelos exercem na Igreja, não

podemos reduzi-la a determinado modelo: a Igreja faz uso dos modelos, mas não é, em

sua natureza, nenhum deles em particular.

1.1 – Confronto entre os modelos na AL: o profético-libertador, o

institucional-hierárquico e o carismático-neo-pentecostal

O modelo institucional-hierárquico impõe o aspecto estritamente institucional

da Igreja, reforçando seus três centros principais: a cúria romana, a diocese e a

paróquia. Esse modelo insiste na visibilidade institucional, dá maior relevância ao

Direito Canônico, à lei, às normas, às regras, aos ritos, às rubricas (LIBÂNIO, 1999, p.

15). Esse modelo – também conhecido como Igreja-sociedade perfeita – estava

presente em vários setores da Igreja Católica antes do Vat II e manteve-se vigente após

o mesmo (KÜNG, 1995, p. 310-322).

No modelo de Igreja definida como sociedade perfeita, a hierarquia exerce um

poder decisivo; a unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade são entendidas

como notas apologéticas. São, assim, ofuscadas as dimensões escatológica e

sacramental da Igreja, sobressaindo a organizativa e jurídica. Não há uma relação

saudável com o mundo moderno, predominando, muitas vezes, um forte dualismo. A

relação da hierarquia com os leigos e as leigas também fica prejudicada, pois são

tratados e tratadas como objetos passivos e apenas receptores dos Sacramentos.

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O modelo profético-libertador nasceu na América Latina antes do Vat II, mas

recebeu dele força e plausibilidade eclesiais. Como sabemos, esse Concílio privilegiou a

noção bíblica de Mistério para designar a Igreja, o que impõe uma consideração

trinitária, e não mais apenas cristológica. Uma eclesiologia apenas cristológica,

desarticulada da pneumatologia, se deturpa em um cristomonismo, que reforça apenas o

aspecto visível da Igreja: suas estruturas (= membros) e superestruturas (organizações,

movimentos, setores, etc). O modelo eclesiológico do Vat II – Igreja Povo de Deus –

valoriza a dimensão comunitário-carismática, no qual a Igreja compreende que ela não

é o Reino de Deus, mas caminha na sua força, é seu gérmen e início (LG 5) e necessita

de constante conversão e reforma (LG 8,4; GS 43,6). O modelo eclesiológico que vinha

sendo gestado na América Latina antes do Vat II não era o que o Concílio viria a adotar,

mas, sim, o profético-libertador; porém, recebeu, do Concílio, plausibilidade e força.

Na história nascente de nosso Continente, não houve uma profunda

evangelização, mas uma cristianização – ou seja, foi importado para nossas terras o

modelo eclesiológico de Roma. Na verdade, os verdadeiros responsáveis por uma

primeira evangelização, ao lado dos ousados, raros e autênticos missionários de diversas

Ordens Religiosas, foram os leigos e as leigas. No tocante ao protagonismo desses

leigos, houve uma história, muitas vezes subsumida, que precisa ser resgatada.

Faustino Teixeira (1988), Bruneau (1974) e Cavalieri (1999) nos ajudam a

compreender que foram os colonos portugueses e os leigos e as leigas pobres os

primeiros a atuarem na catequese e evangelização, pelo menos, no Brasil. Os cristãos

leigos e leigas souberam manter viva a chama da fé cristã, transmitiram a reta doutrina,

e, com criatividade litúrgica popular, celebraram a memória de Jesus em suas vidas.

Do período colonial até a metade do século XIX, tivemos a vigência do sistema

de padroado, com sua aliança Igreja-Estado. Entretanto, isto não impediu uma atuação

leiga ativa, principalmente no tocante à prática devocional, no âmbito das confrarias e

irmandades. Durante este período, não existiu um antagonismo entre a “religião dos

leigos e leigas” e a “religião do padre”: os contatos entre o padre eles eram esporádicos,

mas de grande impacto. Assim, o aparelho eclesiástico formava uma “rede”: padres e

missionários ensinavam doutrinas e práticas rituais aos capelães; estes, as passavam aos

rezadores, que passavam aos agentes locais. Muito conhecidos e conhecidas no Brasil

foram os leigos chamados beatos e beatas, que chegavam a renunciar ao casamento

para se dedicarem exclusivamente à pregação e ao serviço dos pobres, doentes, órfãos e

abandonados (FAUSTINO, 1988; BRUNEAU, 1974; CAVALIERI, 1999).

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Esse processo espontâneo de fé e religiosidade popular sofreu, na segunda

metade do século XIX, o duro impacto do processo de romanização. Acontecia, na

época, uma restauração católica na Europa, com o Concílio Vaticano I (1870), que

afetou nosso Continente: mais uma vez, sofremos a importação do modelo

eclesiológico de Roma, que não coadunava absolutamente com a realidade latino-

americana da época.

Na virada para o século XX, com o fim do padroado (durou quatro séculos), a

tutela do Estado sobre a Igreja cedeu lugar ao direto controle por parte de Roma, que

cuidou mais da formação do clero e desenvolveu uma espiritualidade mais individual e

centrada na prática sacramental. Os líderes religiosos leigos populares foram

substituídos por novas organizações leigas européias, como Conferência Vicentina,

Congregação Mariana, Cruzada Eucarística, etc. Antigas festas religiosas populares

foram substituídas por outras consideradas mais litúrgicas. Ao longo de todo esse

processo, houve reações e resistências.

O século XX foi um grande referencial, não somente para a Igreja universal,

como para a da AL. O início do século assistiu, no Continente, à continuidade de uma

proliferação de movimentos religiosos, visando uma inserção da Igreja na sociedade,

agora não mais garantida pela união Igreja-Estado. Destaque especial foram as décadas

de 1940-1960, quando membros da hierarquia, juntamente com religiosos, leigos e

leigas, se revelaram comprometidos com o povo e a realidade do continente latino-

americano, ainda colonial e dependente do hemisfério norte.

Aqui no Brasil, citaríamos diversas experiências, onde essa Igreja-Comunhão

pôde ser vivenciada, sendo destaque a Ação Católica da década de 1950. Um gérmen

das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) começava a se formar através das

experiências de catequese e liturgia populares no Estado do Rio de Janeiro, do Espírito

Santo e do Rio Grande do Norte, onde as comunidades começaram a se aglutinar em

torno da Palavra de Deus, agora relacionada profundamente com a realidade sofrida do

mundo rural e das nossas periferias. Ao lado dessas e outras experiências populares, se

gestava, igualmente, uma teologia, que era a base da futura teologia da libertação, um

suporte teórico-teológico para a busca de libertação das bases populares.

A primeira Conferência Episcopal latino-americana de Medellín foi o

receptáculo dessas experiências e, a segunda, a de Puebla, a sua confirmação. Alguns

autores, entretanto, testemunham, já em Puebla, a ausência da linha de unidade

eclesiológica presente em Medellín. Toda a discussão gerada no Continente na

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preparação da Conferência de Puebla, já revela, aliás, a presença que começava a se

acentuar do modelo eclesiológico institucional-hierárquico. Não foi suficiente, porém,

para abafar a confirmação da opção pelos pobres, a ratificação das CEBs, ao lado das

opções pela cultura e pelos jovens.

Entretanto, na década de 1980, com o pontificado de João Paulo II, alguns

elementos já começavam a se manifestar, fortalecendo o modelo institucional, como

também a crise do socialismo, que chegou a sua expressão paradigmática na queda do

muro de Berlim. Isso frustrou, de certa forma, as esperanças libertárias de muitos

membros da Igreja latino-americana. Apesar de muitos teóricos da libertação tentarem

desarticular o projeto popular latino-americano da expressão socialista, essa ligação

estava já implícita no esquema simbólico de muitas lideranças, que se sentiram

frustradas e em crise de sentido religioso; outras lideranças, nascidas das classes

desfavorecidas, foram cooptadas, lentamente, pelo poder dominante civil.

Assim, encontramos, na década de 1990, uma realidade que se refletiu na

terceira Conferência latino-americana, a de Santo Domingo: a preocupação mais intra

do que extra-eclesial. No início da década, com a nova importação de movimentos

neopentecostais protestantes e católicos, se fortaleceu uma descentralização de foco

teológico-pastoral: da reflexão e ação sobre a realidade latino-americana a partir da

fé, para a preocupação com a espiritualidade, a subjetividade e as experiências mais

tradicionais da fé cristã. Uma preocupação especial com o seguimento a Jesus Cristo

refletiu-se na última Conferência Episcopal, a de Aparecida, que se manifestou sobre o

mundo globalizado, a ecologia (com acento especial na Amazônia), os povos indígenas,

as questões de gênero e dos afro-descendentes. A nível teológico, Aparecida apresentou

a mística da comunhão, o seguimento pessoal a Jesus Cristo, a missionaridade da Igreja,

a eucaristia como centro da comunidade eclesial e o ministério ordenado.

Alguns autores, portanto, apresentam, na América Latina, a vigência atual do

modelo carismático neo-pentecostal, de formato não somente protestante como também

católico. Subsistem, ainda, as CEBs e teologias remanescentes da teologia da

libertação, como a teologia feita por mulheres, a teologia da negritude, a eco-teologia,

a espiritualidade da libertação, entre outras.

2a. Parte: Desafios atuais ad-intra eclesiais

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2.1 – Renovar a eclesiologia, reanimar a pastoral e apoiar as CEBs

Para Clodovis Boff, a Igreja necessitará ser pneumática, e não somente

cristológica: mais sopro que eficiência, mais inspiração que instituição. Deverá ser

orante e adorante, à escuta da Palavra, à mesa do banquete eucarístico. Uma Igreja

amorosa, de comunhão e alegria, e mistagógica, que caminhe sempre para o encontro

vivo com Cristo. Uma Igreja pneumática não significa uma intimista, mas profética,

dialetizando espiritual e social. A Igreja deverá recordar que o núcleo ético da

mensagem de Cristo é o amor agápico. Deverá falar de Cristo de modo ardoroso,

entusiasmado e radiante – o que não significa proselitismo religioso e marketing da fé.

Ela deverá ser Igreja de diálogo, que acolha as diferenças, includente, aberta, larga,

magnânima e generosa, e deverá ser a Igreja da misericórdia, especialmente com o

sofredor, o excluído, o perdido e, até, o inimigo (BOFF, Clodovis, 1998, passim).

Refletindo José Comblin, percebemos a necessidade de uma revisão ou

revigoramento da pastoral da cidade – que engloba o centro, a periferia, o bairro, a

favela. O mundo não é mais ruralizado: por um lado, amplia-se a aprendizagem da

cidadania, mas os problemas e os valores urbanos, antes da cidade, agora afetam todos

os lugares. A situação atual nos obriga a re-organizar a vizinhança, as diversas relações

afetivas, o combate ao individualismo e ao consumismo, resgatar o bairro como lugar

da cultura popular. Outro resgate necessário deverá ser o dos intelectuais, que deverão

somar-se à pastoral. Os Institutos e as Faculdades Teológicas deverão incluir a teologia

feita pelos leigos e leigas. Na AL, uma teologia própria é fundamental, visto que não

encontramos entre nós um ateísmo que requeira nova evangelização, mas cristãos que se

encontram oprimidos (COMBLIN, 1996, p. 361s).

Cabe uma palavra especial sobre as CEBs que, segundo autores como Luiz

Alberto Gómez de Souza, continuam firmes e determinantes – segundo informações das

próprias Igrejas particulares. Elas nos lembram que a transformação da sociedade não se

faz de cima para baixo, mas se prepara dentro da sociedade. As CEBs são uma rede de

experiências eclesiais diversificadas, respondendo com criatividade aos desafios da

história. As CEBs são “novos jeitos de ser Igreja”, uma pluralidade na comunhão com

toda a Igreja; são a Igreja que se experimenta na base, sem perder sua identidade de fé

cristã católica, com práticas que procuram seus caminhos. Segundo ainda Luiz Alberto,

novos horizontes se descortinam para as CEBs, que priorizam hoje os temas de gênero,

subjetividade, raça, corpo, inclusão e ecologia (SOUZA, 2004, p. 131-147).

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Também Faustino Teixeira opina que as CEBs propiciam condições para a

formação de fiéis sensibilizados na prática do diálogo. São seguidoras de Jesus, que teve

abertura macroecumênica, na sua acolhida aos diferentes, excluídos e marginalizados

(MESTERS, 1999, passim). As grandes celebrações vivenciadas nos Intereclesiais são

marcos singulares. Hoje, elas enfrentam dificuldades, como a atual conjuntura

eclesiástica católica voltada para as paróquias e o acirramento fundamentalista de

alguns núcleos pentecostais e carismáticos. Na carta ao povo das CEBs, apresentada

pelos membros das Igrejas não católicas romanas presentes no X Intereclesial, as CEBs

foram identificadas como o "embrião do novo jeito da Igreja", de uma Igreja una e, ao

mesmo tempo, permeável à singularidade da diversidade. Os evangélicos sinalizaram

que, nessa convivência, aprenderam que o ecumenismo implica três dimensões essenciais:

envolve conversão do coração para acolher a diferença, aciona novas relações entre as

pessoas, que, mediante a convivência fraterna, rompem com preconceitos enraizados, e,

encoraja ao compromisso de assumir ações em comum na defesa da vida.

2.2 – Redescobrir e renovar as relações micro estruturais

Nos inspiramos na Comunhão trinitária para ensaiar novas relações. A reflexão

trinitária deve garantir a comunhão já criada pela Trindade entre nós, mas ainda carente

de plena experiência, encarnação e testemunho de nossa parte. A seguir, passamos a

refletir as diversas situações que interpelam hoje a comunhão na Igreja.

Desde a década de 1960, Yves Congar afirmava: “As relações continuam ainda

muito exteriores, percebidas ao nível, seja das estruturas, seja dos

exercícios” (CONGAR, 1968, p. 61). A verdadeira relação é sempre um êxodo – buscar

e ir ao “tu” do outro, por cima dos próprios interesses ou, até, contra eles. É isso que

aprendemos de Jesus Cristo: uma quênose encarnatória. Jesus Cristo (Jo 1,17) entrou no

mundo sob uma forma corporal; salvos pelo Ressuscitado, somos membros de Seu

Corpo.

Assim, o criado possui um corpo, uma “carne” - somos corpos que se

relacionam na afetividade. Primeiramente, a afetividade é integradora: devemos lutar

contra um dualismo que destrói a pessoa humana. Em segundo lugar, é imprescindível

não dissociar a afetividade da caridade: ela é amor afetuoso. Em terceiro lugar, devemos

estabelecer a insuficiência do compromisso sem a gratuidade – ambos são essenciais,

mas geram desequilíbrios quando desarticulados. O quarto ponto é a relação

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cristianismo e ética: devemos tabular uma nova relação com Deus, com afetividade,

inclusive na oração. É insuficiente, igualmente, o conhecimento racional sem a

afetividade: a caridade, o amor, a afetividade são o que estruturam a pessoa humana

(GAMARRA, 1997, passim).

Rosemary Ruether nos descortina o desafio da corporeidade: o cristianismo foi

moldado, entre outros dogmas de fé, pela crença na ressurreição do corpo (1 Cor

15,42-44), que, na primeira criação (Gn 3,21), caiu desfigurado em finitude. Com o

passar do tempo, alguns membros e setores da Igreja tentaram eliminar tal finitude

através de rigores ascéticos. O mundo medieval valorizou o material-corporal e os

corpos virginais e martirizados dos santos, mas, apenas, como manifestações que

apontavam para um corpo liberto da “escória” mortal (RUETHER, 2002, passim).

A Renascença, a Reforma e o início da ciência moderna, por sua vez,

constituíram a natureza como esfera humana de poder e controle, perdendo a noção de

corpo sacramental. Este processo se deu através da aplicação tecnológica do

conhecimento científico, trazendo grandes lucros na revolução industrial dos séculos

XVIII-XIX, precedidos desde o século XVI pela abertura, pelo colonialismo, de novas

fontes de riqueza das Américas, Ásia e África, reduzindo suas populações à escravidão.

O que aconteceu num breve período de 3/4 de século de progresso já o sabemos bem.

Ruether nos alerta que, repensar nossa relação com o corpo e com a natureza,

implica também repensar as relações com os grupos de pessoas que, segundo nossa

visão estereotipada, são identificadas com o corpo (e, não, com a mente): mulheres,

negros, indígenas, classe trabalhadora e pobres. Urge uma nova ética de reciprocidade,

que orientará as relações entre as pessoas, como também com nosso corpo e com o

mundo corpóreo de plantas e animais, terra, ar e solo: este mundo nosso é,

metaforicamente, corpo de Deus (MC FAGUE, Sallie, 2002, passim). A doutrina da

criação não se refere, primariamente, ao poder de Deus, mas ao Seu amor: vivemos

como corpo, em relação com outros corpos, dentro do “corpo” de Deus. Encontramos

Deus na carne do mundo ao alimentar o faminto, curar o doente, libertar o oprimido,

relativizar os conflitos, ter caridade com o incapaz, perdoar o inimigo,...

O corpo é o único objeto do mundo que pode ser dirigido diretamente pela

consciência. O corpo é, ele próprio, a primeira expressão da cultura (WIEGERLING,

2002, passim). D. Kamper afirma que, com o predomínio das codificações escritas,

ocorreu um distanciamento entre o mundo visível e o corpo. Com a mídia, por sua vez,

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aconteceu uma superficialização do corpo, que passou a ser um pedaço de matéria

manipulável, expulsando o humano de seu próprio corpo. E, por fim, no mundo virtual,

não temos mais necessidade do corpo: é a neo-cultura do “cyborg”, a negação do corpo,

uma cyberexistência: as existências cibernéticas não precisam de nenhuma ética, pois

não existem corpos, e, portanto, não existem relações (KAMPER, 1988, passim).

Assim, no processo de libertação integral, precisamos libertar nossos corpos (nosso ser-

estar no mundo), nossas relações interpessoais e com a natureza.

Para isto, Mário de França Miranda nos propõe a libertação da liberdade: com

relação à lei (Rm 7,10.13s; Gl 3,12), ao pecado (Rm 7,18-20) e à morte (Rm 6,8.10.23;

8,10). Cristo nos liberta para sermos libertos (Rm 8,2; 2Cor 4,7b). Este estado

ontológico de liberdade possibilita a liberdade de opção (= ética) e, diríamos, de

relação. Essa liberdade, no NT, recebeu vários nomes: metanóia (sinóticos), fé (Paulo)

ou amor (João) – uma adesão que reivindica a totalidade da pessoa (Mt 22,37; Mc

12,30; Lc 10,27). Onde há Amor, há salvação. Deus, o Transcendente, que capacita

nossa liberdade para o Amor (cf. 2Cor 3,6; Rm 8,2; Gl 5,1-13), só pode ser “atingido”,

experimentado, no Amor, que possui sua razão no “outro”: encontrando o outro, nos

encontramos e encontramos Deus (MIRANDA, 1991, p. 97-104).

Muito se tem dito, pela Igreja, da importância da mulher, mas, geralmente,

pouco vivido. Nos contextos-micro de relações eclesiais, somos maioria; nos contextos-

macro, ainda invisíveis ou não respeitadas em nossa plena dignidade. Se assumidas ou

reconhecidas pelas estruturas visíveis, muitas vezes somente o somos devido à

introjeção do masculino em nossos mecanismos mentais e comportamentais. Mulheres

com pulsão feminina, que assumiram integralmente o seu ser mulher, ainda

surpreendem (muitas vezes negativamente) os homens (não somente os das Igrejas). A

Igreja é, estruturalmente masculina; apesar desse fato não impedir, evidentemente, de

sermos filhas de Deus e irmãs de nossos irmãos na fé, por sua vez ofende a comunhão

trinitária, nega uma riqueza ministerial imprescindível (pois o ministério e a teologia da

mulher só podem ser feitos pela mulher) e inibe a salvação do mundo, que fica, assim,

privado de uma visibilidade comunional.

A sensibilidade para com as mulheres nem sempre é manifesta nas e pelas

Igrejas cristã. Para tal, precisamos des-construir e re-construir as relações masculinas-

femininas no âmbito eclesial. Essa reconstrução teológico-pastoral diz respeito a toda a

Igreja e a qualquer teologia, mas, principalmente, à da libertação (RUSSEL, M., 1976,

p. 5-16). O problema de fundo das relações homem-mulher não se refere às diferenças

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biológicas, mas às construídas pela cultura e, portanto, passiveis de mudança

(BRANDÃO, M. L. R., 1997, passim). A necessidade de uma reflexão aprofundada

acerca das dificuldades trazidas pelos condicionamentos culturais às relações entre os

sexos, fez surgir a teologia feminista; mas, em 1975, os estudos da mulher ganharam

grande impulso com os escritos da antropóloga Gayle Rubin, que introduziu uma nova

categoria analítica: gênero, que nos ajudou a descobrir que as relações entre os sexos

eram socialmente construídas. Foi a historiadora J. Scott quem atualizou a relação de

poder entre homens e mulheres (TOMITA, L. E., 1997, passim). Frente aos estudos de

gênero, Luiza E. Tomita seleciona algumas pautas da agenda atual: desconstruir as

relações assimétricas socialmente estabelecidas; privilegiar a experiência de Deus

vivida pelas mulheres; ressaltar um novo modo de falar de Deus a partir de uma

experiência subjetiva; mostrar uma mística inspirada na relação amorosa; articular a

teoria com a prática do cotidiano das mulheres.

2.3 – Valorização da experiência de ser Comunidade libertadora

Ser Igreja é formar Comunidade. E o mais importante é que a construção seja

coletiva. Como, aliás, aconteceu com Jesus e seu grupo. Ana Maria Tepedino (2002,

passim) observa que Jesus nunca está só, mas circundado (sinal da circuminsessio?) por

homens e mulheres, que ousaram incorporar em seus sentimentos, práticas e vidas, a

transformação estrutural que Jesus era.

A realidade da presença das mulheres no movimento de Jesus aparece em todos

os evangelhos: não só havia muitas mulheres no grupo, como atuavam. São

mencionadas junto aos Doze, possuem nome, colaboram financeiramente com o grupo

(cf. Lc 8,1-3), suas casas são lugar de reunião da comunidade cristã (cf. Jo 11,1-42;

12,1-8; Lc 12,38-42), algumas foram enviadas e testemunharam a morte de Jesus e seu

túmulo (cf. Mc 15,40-41), estiveram com Jesus desde a Galiléia até Jerusalém, e,

depois, continuaram a sua causa. São requisitos para o apostolado (cf. At 1,21), que elas

preenchem muito bem. L. M. Russel ( 1976, p.102) também concorda, ao afirmar que,

com a Samaritana e em outras passagens, fica evidente que Jesus autorizava as mulheres

a segui-Lo como discípulas (cf. Lc 24,1-11). Paulo mostra que os “dons do Espírito

Santo” eram recebidos tanto por homens quanto por mulheres e encorajava a ambos a

pregar, orar e trabalhar como servidores do Cristo (cf. 1 Cor 12; 14,26-36) e afirmava

11

que seus membros não deviam fazer distinções (cf. Gl 3,28). Certos Padres falaram

dessas mulheres como apóstolas e, Maria Madalena, “apóstola dos apóstolos”.

Ana Maria Tepedino prossegue a reflexão, com a ajuda de Elizabeth Johnson

(1992, p. 224), observando que Jesus era includente em suas relações e em seu

movimento, destoando das práticas de sua época; mas percebe que, infelizmente, a

história da cristologia foi assimilada segundo uma visão patriarcal de mundo, e seus

importantes conteúdos libertadores foram tergiversados e distorcidos para justificar a

dominação. Entretanto, percebe que subjaz uma dimensão comunitária de um projeto de

vida nova, que nos convida e nos desafia; para este movimento, ela retoma Gálatas 3,28,

onde se condensa uma nova antropologia, uma nova espiritualidade e uma nova ética,

que postulam uma paridade entre as pessoas e um profundo respeito e cuidado pela

natureza. Os prosseguidores do movimento de Jesus, após a experiência radical que

fazem, transbordam essa novidade para fora, ao mesmo tempo em que constroem

relações para dentro, numa dialética em síntese – um trabalho do Espírito de Deus.

Tal busca por uma cidadania plena das mulheres, das raças e classes dominadas,

se insere nos múltiplos movimentos e processos das chamadas “minorias”, que se

tornam emergentes para uma nova ordem. Assistimos hoje a uma “feminização da

pobreza” e a uma “feminização da emigração”, em situações que reclamam a

construção de uma humanidade nova. Ser diferente não significa ser desigual: por isso,

diversidade e paridade são princípios da ética política pós-moderna. Somente sobre

esta base democrática, a humanidade se torna abarcadora, inclusiva e justa

(TEPEDINO, A. M., 2000, p. 61-75).

Essa dialética da libertação, a respeito das superestruturas ou estruturas mentais

da cultura, é descrita por Rosemary Ruether como uma “luta contra a opressão

cultural”. Porque é um processo dialético humano, deve comportar uma busca contínua

de novos modos de vida, incluindo opressores convertidos e oprimidos. A ordenação

das mulheres, a nosso ver, seria também um sinal do futuro de libertação e de igualdade

(BOFF, Leonardo, 1977, p. 81-106; VV.AA., 1999, passim; CHITTISTER, J., 1983,

passim; COLLINS, J., 1990, passim; ROSSI, M. A., 1991, p. 73-94).

2.4 – Renovar as relações macro-estruturais

Toda a história do Vat II provou que não basta a doutrina para garantir a

comunhão: necessitamos encarná-la (ALBERIGO, G. (direção); BEOZZO, passim). No

12

campo pastoral, emerge o desafio das superestruturas (órgãos institucionais) da Igreja.

Segundo já dizia Yves Congar: “Não é mais suficiente manter, adaptando, aquilo que

houve; é preciso reconstruir. Tal reconstrução só pode ser feita validamente a partir de

uma revisão muito corajosa” (CONGAR, 1972, p. 312). Muitos autores advertem a

necessidade de articular a Igreja “do Espírito” (das fontes bíblicas) com a

“visível” (estruturada): a inexistência dessa articulação ainda é fundante de práticas em

nossa Igreja como o rigorismo, a irresponsabilidade, a absolutização de uma doutrina

ou de uma forma cultual ou de um modo de distribuir o poder; ausência de espírito

crítico e de criatividade; sufocamento de tensões; repressão,...

Congar preconizava que o significado mais promissor do Vat II seria a

articulação do episcopado (CONGAR, 15/10/1962, p. 76). As Conferências Episcopais

surgiram como que por geração espontânea e, antes do Concílio, estavam privadas de

sólido fundamento teológico. Além das Conferências Episcopais, pôde-se notar no

Concílio a formação de grupos para além das fronteiras nacionais, como o da “Igreja

dos Pobres”, o do “Bloco centro-europeu”, etc – os Bispos estavam aprendendo a se

organizar enquanto grupo e, assim, estruturaram melhor a comunhão.

A renovação teórica no concílio levou a uma renovação prática na Igreja local:

abertura aos leigos, fraternidade com os padres e colegialidade entre os bispos – embora

alguns, ao retornarem, tenham sucumbido ao peso do aparelho administrativo. Outro

fruto foi a relação entre o papa e os bispos: João XXIII criou condições para os padres

se exprimirem livremente: ele compreendeu que havia idéias, problemas, perspectivas,

conflitos e experiências que deviam vir à tona e acreditava que os bispos deviam

conhecer-se entre si (ALBERIGO; BEOZZO, p. 195-207).

O Vat II afirmou diversas vezes a necessidade do respeito à diversidade dos

ministérios e à unidade de missão, algo concretamente necessário para a

desclericalização de nossa visão da Igreja. Antes de sermos uma classe ou um grupo

específico ministerial, somos pessoas batizadas, com identidade e protagonismo

próprios; enquanto carismáticos, exercemos ministérios específicos; e, quando temos

ministérios comuns, somos um rosto grupal. Quanto mais um grupo ministerial reforça

sua identidade e seu protagonismo, mais os outros ministérios descobrem sua

identidade e seu protagonismo.

Dentre os membros da Igreja, o laicato carece de uma definição clara, o que

ainda traz problemas; mas, para Yves Congar, quem precisa ser definido é o clérigo e o

religioso, pois o leigo é um cristão batizado, simplesmente (CONGAR, 1964, p.

13

138-139). A palavra “leigo”, em nosso idioma, não traduz o que somos teológica e

eclesialmente. O Vat II esforçou-se em definir o leigo, mas não o fez no sentido exato: o

aspecto acentuado foi o exclusivo. LG, sem eu capítulo IV, sobre os leigos, apresentou

uma definição que não se encontra no NT e aplicou o termo leigo a todos os membros

do povo fiel sem exceção (FAIVRE, 1986, p. 11).

Nessa definição conciliar de leigo, que é mais tipológica que teológica, se

percebem três elementos: o leigo e a leiga são, antes de tudo, incorporados em Cristo e

na Igreja pelo batismo e, neste aspecto, eles são iguais a todos na Igreja; não recebem o

sacramento da Ordem, nem assumem o estado da vida religiosa – e, nisto, se distinguem

negativamente dos ordenados e dos-as religiosos-as. E o terceiro e positivo aspecto: os

leigos e as leigas estão mais presentes no mundo e, por isto, mais empenhados com o

mundo (ANTONIAZZI, 1986, p. 8).

Quando se afirma, no capítulo IV de LG, que o fundamento do apostolado leigo

é a consagração batismal e a confirmação, novamente se instala a confusão: todos os

cristãos são batizados e crismados, ambos sacramentos são a base de qualquer

apostolado. E, se todos somos leigos na Igreja, a diferenciação vem com a ordenação e

o estado religioso: estes, então, é que precisam ser definidos. Parece-nos, portanto, que

a base de uma in-definição ou errada definição não advém de nossa existência como

leigos, mas de uma in-compreensão acerca da teologia sacramental.

No campo batismal, advém a questão da tríplice participação nos múnus

(sacerdote-profeta-rei): o problema emerge quando se afirma que a hierarquia participa

nas funções messiânicas de Cristo, como forma de vida e poder, enquanto que nós,

leigos, participamos nela somente como forma de vida – nossa participação não é

constitutiva da Igreja (CONGAR, 1965, p. 319-320). Quando se afirma que a Igreja é

constituída de dois pólos, um hierárquico e outro comunitário, os ordenados são

associados ao primeiro e os leigos ao segundo – tal binômio ofende a integridade da

Igreja, que é toda hierárquica: todos os seus membros, pelo batismo, possuem uma

igualdade ontológica; a diferença entre os membros não advém de uma não-

constituição ou a uma participação, mas, exatamente, dos carismas dados a cada

batizado e batizada pelo Espírito. Na eclesiologia de comunhão, se e quando há

polaridade, ela é integrada: o modo como os ordenados participam do tríplice múnus e

o modo como os não-ordenados participam, são modos diferentes, mas devido ao

ministério que cada membro possui.

14

Outra dificuldade foi a afirmação conciliar de que a índole secular é vocação

própria dos leigos (LG 31; GS 4; 7; 43; AA 7; 13): LG afirma que ela é própria e

peculiar e não, específica e exclusiva; mas isto não foi compreendido e ainda é motivo

de um dualismo: o campo eclesial é o dos ordenados, e, o secular, dos leigos. Nós,

leigas e leigos, possuímos uma dupla índole: a eclesial (âmbito de ação dentro da

Igreja) e secular (âmbito de ação no mundo). As pessoas que confundem ambas as

índoles a nível teórico-teológico, o fazem também na prática eclesial. Alguns leigos e

leigas se identificam ainda com a Igreja clerical, são dependentes demais dos ordenados

e incapazes de uma presença cristã eficaz no mundo. Outros, ao contrário: são atuantes

na comunidade eclesial, mas, quando se engajam na realidade do mundo, o fazem com

critérios meramente seculares, sem valores cristãos.

A questão, então, de fundo, a nosso ver, tem sido, tanto da parte da hierarquia,

quanto da parte dos leigos, estabelecer corretamente a unidade entre fé cristã e

engajamento temporal. Nós vemos, nas páginas da história da Igreja, o quanto essa

oposição expulsou o leigo e a leiga da Igreja e de seu poder, visto que estes estão no

mundo e o mundo está separado da Igreja: muitos leigos e leigas se sentiram

desobrigados de ser um fermento na massa ao se engajar no mundo, visto que este era

separado da Igreja. Um desencontro pastoral funesto, provocado por uma eclesiologia

errônea, que provocou danos por todos os lados: o mundo perdeu – porque, sem valores

evangélicos não se transforma – e a Igreja perdeu – porque, com um laicato invisível,

os valores positivos do mundo não penetram na Igreja, dificultando sua missão, que é

evangelizar o próprio mundo.

Indiscutivelmente, a vida religiosa teve um impulso extraordinário com o Vat II.

Na AL, com suas contextualizações em Medellín e Puebla, e suas inseparáveis opção

pelos pobres, Teologia da Libertação e CEBs, a vida religiosa ofereceu testemunhos

proféticos – como o de D. Hélder Câmara – e respostas martiriais – como a de D. Oscar

Romero -, entre outros. Estruturas de poder e dominação foram denunciadas, a luta pela

justiça foi evidenciada, empobrecidos e marginalizados se sentiram solidarizados.

Religiosas e religiosos – ou profetas e profetisas – deram sua vida porque encarnaram

em si mesmos o Projeto de Deus.

A gratuidade é uma marca forte desse carisma que é a vida consagrada e precisa

ser revalorizada por alguns setores. Um testemunho muito claro dessa gratuidade

existencial dos religiosos e das religiosas são os votos de pobreza, obediência e

castidade – ou, valores evangélicos, que também devem ser revitalizados. O voto de

15

pobreza leva a partilhar os bens e trabalhar pela justiça. A partilha, na forma da vida

comunitária e-ou inserida, soa como um escândalo para uma sociedade fortemente

centrada na competição, na acumulação, no prestígio pessoal e no poder. O voto de

obediência revela o respeito profundo pela vida comunitária. Por ser Comunidade, a

vida consagrada se manifesta como a decisão descentralizada e compartilhada - que é,

geralmente, a mais sábia, a mais equilibrada e a mais proveitosa. Esse voto é,como os

demais, sinal de vida e de coerência jesuânica – Ele, o primeiro obediente do Pai, até à

morte e morte de cruz. Se a castidade, enquanto dom do Espírito, é um valor por sua

sublimação e desprendimento, a castidade consagrada assume, hoje, também, um

testemunho essencial. No mundo hoje – globalizado, midiático, além-fronteiras –,

muitas vezes, a sexualidade e a corporalidade se vêem alijadas de sua dimensão

vivificadora e amorosa. Nessa sociedade, por vezes desequilibrada, testemunhamos

profundas expressões de uma sexualidade desintegrada. A castidade consagrada, vivida

em sua plenitude e em sua integridade equilibrada, revela um verdadeiro sinal do que

seja a aliança mais solidária que existe na expressão humana – que é o amor.

Porém, é necessário, ainda, superar um dualismo também presente neste estado

de vida: na linguagem comum, vida religiosa diz respeito mais a sentimentos e práticas

de cunho espiritual, e, não tanto, de vida concreta. Outras dificuldades são os contra-

valores do mundo moderno e algumas experiências desanimadoras dentro da Igreja,

como a concentração de poder clerical e sacral, o conservadorismo e o afastamento

desse estado de vida da opção pelos pobres, além dos escândalos de alguns ordenados e

religiosos na área da sexualidade. São igualmente desanimadores as divisões, os ciúmes

e as discriminações na vida interna comunitária, além da discriminação que por vezes

sofrem as religiosas na vida da Igreja (FABRI DOS ANJOS, 2004, p. 9; 51-52).

Parece a Yves Congar que um novo tipo de bispo foi afirmado no Vat II

(CONGAR, 1968, p. 81-82), tendo alargada a idéia de seu rebanho e sua missão.

Considerou-se os bispos mais no de um serviço evangélico e profético do que no de

poder. Quanto aos sacerdotes, muitos se disseram esquecidos pelo Vat II e necessitam

de uma re-construção de identidade, autonomia e protagonismo. Congar já nos

perguntava: num mundo tecnicizado, urbanizado, para que serve um padre? E sugere

pistas no âmbito do exercício da missão: primeiramente, é preciso desclericalizar o

sacerdote; em seguida, redescobrir que o sacerdócio não é uma “carreira”, mas um

ministério, de caráter indelével, é constitutivo da essência da Igreja.

16

Finalmente, percebemos uma necessária des-construção e re-construção do

ministério do diácono permanente. Para G. Lafont, quase todas as tarefas oficialmente

confiadas aos diáconos podem ser cumpridas pelos leigos. Numa visão e numa prática

de Igreja fundada sobre os carismas e sua instituição, o diaconato permanente poderia

talvez se reaproximar mais de suas origens. O autor sugere reservar a ordem do

diaconato àqueles que, em volta do bispo, são responsáveis pelo bom andamento das

diaconias na Igreja (os que suscitam, organizam, verificam e, sobretudo, promovem os

carismas). Ele – ou ela – seria colaborador – ou colaboradora do bispo na administração

dos “serviços” (diaconias) (LAFONT, 1995, p. 193-194). Assim, a re-descoberta da

ministerialidade pelo Vat II provocou uma profunda crise, tanto no ministério ordenado,

quanto nos religiosos e nos diáconos permanentes. Vez ou outra lemos ou ouvimos que

o motivo da “crise” foi o laicato – o problema não é o laicato, mas uma inautêntica

teologia da ministerialidade da Igreja.

3a. Parte: Desafios ad extra eclesiais

3.1 – Solidariedade da Igreja na construção do projeto político de

defesa da vida

Chegamos, hoje, a um mundo globalizado. A globalização é um fenômeno

difícil de ser definido e analisado, mas facilmente perceptível em seus sintomas no

mundo moderno. A globalização, em sua vertente cultural, trouxe elementos positivos,

como a valorização da natureza, das minorias, do particular, da subjetividade;

entretanto, na sua vertente econômica, trouxe a automação, novas tecnologias,e xigindo

cada vez mais especialização e gerando desemprego. O abismo entre ricos e pobres –

pessoas, grupos, países, nações – aumenta cada vez mais...

Encontramos os elementos constitutivos desse projeto político a favor da vida

no “Memorandum” de D. Luciano Mendes de Almeida para o G-8 em Gênova, em

nome dos fracos da Terra. D. Luciano foi por muito tempo Presidente da Conferência

Episcopal dos Bispos do Brasil (CNBB), a mais numerosa do mundo, distinguido como

porta-voz dos sem voz. Seu “memorandum” afirma que “a pessoa humana deve estar

no centro das preocupações do G-8” e que o respeito aos direitos e à dignidade de cada

ser humano deverá guiar as ações dos grandes da Terra. Bruno Forte nos adverte que

devemos solucionar os conflitos através da intervenção decisiva e honesta sobre as suas

17

causas. É sinal de construção política solidária com os excluídos a inteira ação de D.

Luciano e de tantos como ele - pobres no estilo de vida e dedicados, sem medida, ao

serviço dos pobres. Esse despojamento desmascara a hipocrisia e acaba com os

interesses – verdadeira causa dos conflitos.

São seis os pontos apresentados no “memorandum”, que se apresentam hoje

como um desafio: 1) a pobreza extrema, que reclama a redistribuição dos bens; 2) o

cancelamento da dívida dos países pobres; 3) o desenvolvimento de uma cultura

universal dos direitos humanos, que suscite uma ação solidária contra o racismo, a

xenofobia, a intolerância e a discriminação; 4) o empenho pela educação, que forneça a

todas as crianças e aos jovens oportunidades paritárias de atingir o saber; 5) a questão

África, continente marcado do maior cúmulo de pobreza em todos os campos; e, 6) a

luta contra a AIDS, da percentual altíssimo entre os empobrecidos e excluídos sociais.

O que dá força a essas palavras é a vida de quem as escreve. D. Hélder Câmara –

o Bispo dos pobres do Brasil e do mundo inteiro – repetia, com os lábios e com a vida,

esta verdade simples e grande: “Bem-aventurados aqueles que sonham: levaram a

esperança a muitos corações e correrão o doce risco de ver o seu sonho realizado.” E o

mesmo D. Hélder acrescentava que os protagonistas desta realização deverão ser, antes

de tudo eles, os pobres da terra: “Creio - ele amava repetir – que o mundo será melhor

quando o menor que sofre aprenderá a Ter confiança no pequeno”.

3.2 – Acolher a secularidade e evangelizar o secularismo

À medida que a modernidade secularizada foi amadurecendo-se historicamente,

a solicitação do “outro” foi se insinuando, aparecendo, inclusive, na discussão acerca do

sentido de uma história carregada com o peso imenso de tantas vítimas (QUEIRUGA,

2003, p. 112-119). Ao nascer de um descontentamento ou de uma falta de conexão com

as ofertas religiosas tradicionais, a tendência geral é renová-las ou recriá-las de outra

forma: a reação apologética extremada seria um caminho equivocado. Iniciativas foram

tomadas frente à Modernidade e à Pós-Modernidade; entretanto, hoje, se exige um

passo a mais. Segundo Queiruga, hoje, o que constitui o núcleo mais determinante e o

dinamismo mais irreversível do processo moderno é a progressiva autonomia alcançada

por distintos estratos ou âmbitos da realidade. Entretanto, ainda subsistem, por um lado,

conservadorismo eclesiástico e teológico e, de outro, crítica secularista e atéia –

necessitamos urgentemente de um equilíbrio (QUEIRUGA, 2003, p. 112-119; 22-25).

18

A Ilustração, com sua forte crítica à religião, anunciou o lento, constante e

implacável desaparecimento de qualquer fenômeno religioso na humanidade; tal onda

cresceu após a Segunda Guerra Mundial. Contribuíram significativamente para o

desgaste das instituições religiosas o avanço da tecnologia e o bem-estar social

promovido pelos “milagres econômicos” (LIBÂNIO, 2002, p. 11). O auge do fenômeno

da secularização, nas décadas de 1960-1970 provocou uma vasta literatura teológica.

Duas linhas fundamentais demarcaram os extremos das interpretações: uma de

cunho apologético, que identificava secularização, secularismo e ateísmo; e, outra, que

introduzia uma distinção fundamental entre secularização e secularismo. A favor da

secularidade. temos o texto inicial de Gn, onde o mundo foi desdivinizado por Deus;

também Jesus teria testemunhado a favor da secularidade com suas atitudes de conflito

crescente com os poderes religiosos de sua época, que sugerem um cristianismo de

seguimento, de prática (GAUCHET, 1985, p. 133).

Entretanto, na década de 1990, vários autores detectaram o deslocamento do

secular para o religioso: uma “virada” que influenciaria, inclusive, o mundo político, e,

aliás, já predita, em 1970, por W. Hennis. Outras vozes também prenunciavam a “volta

do Sagrado”, como a de Karl Rahner: “Já se disse que o cristão do futuro ou será um

místico ou não o será...” (RAHNER, 1980, p. 375).

Alguns autores relacionam esse fenômeno com o desmoronamento repentino da

ideologia marxista, nitidamente simbolizada pela “queda do muro de Berlim”, que teria

deixado um vazio. Os Estados Unidos seguiram em frente, visibilizando e

simbolizando, em grau máximo, a vitória e o senhorio do neoliberalismo. Em reação,

desde o final da década de 1970, com a revolução religiosa islâmica do aiatolá Imam

Khomeini, o fundamentalismo vem crescendo e ganhando força nos países muçulmanos,

cujo símbolo forte foi o atentado de 11 de setembro às torres gêmeas (LIBÂNIO, 2002,

passim).

Os frutos do secularismo nós já conhecemos bem. Na modernidade, o ser

humano – antropocêntrico – divorciou-se da natureza e de sua relação com o meio

ambiente – provocando o que hoje se sente como ameaça de catástrofe sobre todo o

planeta. Colocou-se à parte de toda e qualquer aliança e verdadeira relação – com as

coisas e com os outros seres humanos. Um claro sintoma disso são os perversos frutos

do antropocentrismo moderno, que demonstram claramente a distância e separação no

interior da humanidade: racismo, etnocentrismo, machismo, etc. O ser humano moderno

19

sentiu dolorosamente uma falência de sentido das estruturas sociais e de suas

referências simbólicas: falindo o sentido da existência, o ser humano faliu a si mesmo.

Com a sociedade secularista, o sagrado e o religioso encontraram-se como que

varridos para a periferia da história, caracterizados como pré-científicos e pré-

modernos: as respostas para a humanidade se encontrariam no século e, não mais, no

sagrado e no transcendente. Entretanto, o primado da razão instrumental não se mostrou

homogêneo e sem conflitos: cada vez mais, no ocidente contemporâneo, começaram a

emergir questionamentos profundos à pretensão ingenuamente onipotente da razão.

A razão instrumental não é a razão dos filósofos ou a dos homens e mulheres

das ciências em geral, mas, quase sempre, é a razão dos técnicos. Além das novas

descobertas científicas, que se deram, principalmente, a partir da Física, na década de

1920, outras vozes somaram-se no questionamento da modernidade: os valores

existenciais, como o desejo, a afetividade, o poético, a gratuidade, a relacionalidade,

entre outros. Delineou-se, em várias partes do Ocidente contemporâneo, uma retomada

ou uma nova visibilização do interesse pela religião, pela transcendência, obrigando a

modernidade a confrontar-se com seu próprio modelo.

As formas que assume hoje a busca religiosa vêm expressas nos chamados

“novos movimentos” e em uma atração pelas filosofias e religiões orientais. Há,

também, um ressurgir das grandes Tradições religiosas monoteístas, especialmente a

religião muçulmana. Nas últimas décadas, as estatísticas apontam para um aumento das

religiões – outra coisa é saber se os membros dessas religiões freqüentam as mesmas ou

simplesmente encontram nelas espaço para suas vivências religiosas, até mesmo em

choque doutrinal com elas. A resposta para esse desafio é promover, realmente, um

diálogo inter-religioso.

Conclusão

Enfim, em um tempo muito reduzido – é apenas uma Comunicação – buscamos

apresentar alguns desafios que, na nossa visão e na dos autores aqui citados, se

avizinham no horizonte religioso do novo século XXI. Esperamos ter atendido, pelo

menos, a algumas das expectativas, e ter despertado os leitores e as leitoras para a

necessidade de uma reflexão mais profunda acerca da atual missão das Igrejas Cristãs.

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