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Simulações da Previdência Social Brasileira: Estudo de Caso do Regime Jurídico Único – RJU Paula Bicudo de Castro Magalhães Mirta Noemi Sataka Bugarin

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EST. ECON., SÃO PAULO, V. 34, N. 4, P. 627-659, OUTUBRO-DEZEMBRO 2004

Simulações da Previdência Social Brasileira: Estudo de Caso doRegime Jurídico Único – RJU

Paula Bicudo de Castro Magalhães Analista de Finanças e Controle – Secretaria do

Tesouro Nacional, Ministério da Fazenda

Mirta Noemi Sataka Bugarin Professora do Departamento de Economia da

Universidade de Brasília

RESUMOO artigo apresenta uma análise das possíveis trajetórias do fluxo do saldo de caixa do Re-gime Jurídico Único dos servidores do Poder Executivo, sob as reformas institucionais/legais efetuadas e propostas, mediante a utilização de métodos atuariais. Depreende-se dos re-sultados das diversas simulações realizadas que, ainda na melhor das hipóteses, consideran-do uma taxa de crescimento de 3% do PIB real da economia, o déficit do caixa do RJU aumentaria de forma crescente até o ano 2016, a partir do qual diminuiria, atingindo em 2090 a anulação desse déficit, quando a massa de servidores nesse sistema também seria extinta, conforme as normas instituídas pela Lei Geral de Previdência Pública No 9.717, e previstas no Projeto de Lei Complementar 57/99.

PALAVRAS-CHAVERegime Jurídico Único, déficit previdenciário, projeções do déficit

ABSTRACTThe article aims to analyze several alternative paths the deficit’s flow in the Brazilian publicsector pension system (Regime Jurídico Único-RJU) can take under the implemented as well

as proposed reforms by the Congress. To this end, actuarial methods are employed under dif-ferent alternative hypothesis. The simulation show that, even under the best considered sce-

nario, in which the country’s GDP growths at an annual rate of 3%, the RJU’s deficit willcontinue to increase up to 2016. In other words, only from this date on, the deficit begins toshrink, which could be cancelled off in 2090 when the regime will be closed, according to the

recently proposed legal framework.

KEY WORDSpublic sector pension system, social security deficit, deficit projections

JEL ClassificationH55, C60

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INTRODUÇÃO

Os sistemas de previdência de vários países vêm passando por um grandeprocesso de reforma. Os principais fatores que levaram às discussões dessasreformas são comuns a todos os países, destacando-se, entre eles, os de or-dem demográfica, dados pela conjugação do aumento da expectativa de vidae da redução da taxa de fecundidade, que têm levado ao aumento acentuadoda população idosa.

O sistema de previdência adotado no Brasil é o de repartição simples, emque as contribuições previdenciárias pagas pela população ativa destinam-sea cobrir os gastos com os benefícios dos inativos, coexistindo, atualmente,dois regimes previdenciários distintos. O primeiro é o Regime Geral de Pre-vidência Social (RGPS), que rege os trabalhadores do setor privado, e o ou-tro é o Regime Jurídico Único (RJU), criado pela Constituição de 1988para os servidores públicos, havendo, ainda, a possibilidade de existência deoutros regimes próprios de previdência no âmbito da União, Estados e Mu-nicípios.

Nesse tipo de sistema, a adequação do sistema ao novo padrão demográficodo País torna-se crucial. No início, na ausência de um estoque de aposentados,os superávits do caixa da Previdência são naturais num sistema jovem.

1 Po-rém, quando a população começa a envelhecer, e o número de contribuintesdeixa de ser superior ao de inativos, não será possível manter a mesma alíquo-ta de contribuição para poder manter o equilíbrio financeiro do sistema.

No Brasil, em particular, além do novo padrão demográfico em vigor2 e dadinâmica nas relações de trabalho,3 estabeleceu-se um novo marco instituci-onal/legal, afetando, conseqüentemente, de forma direta, a evolução da arre-cadação previdenciária e o equilíbrio financeiro do sistema. Em relação àevolução desse aspecto institucional previdenciário, diversos autores têm en-

1 Cabe observar que no Brasil esses saldos superavitários também foram alocados para financiaroutras despesas, em particular, de saúde.

2 Ver ORNÉLAS (1999) para um estudo detalhado da mudança na expectativa de vida da po-pulação brasileira.

3 A este respeito, ORNÉLAS & VIEIRA (1999) e GALRÃO (2000), entre outros, desenvol-vem estudos das características informais do mercado de trabalho no País, e NAME & BUGA-RIN (2003) estimam a evolução da economia submersa brasileira no período recente.

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fatizado características particulares do caso brasileiro, que tenderam a com-prometer o equilíbrio financeiro do sistema. Dentre elas podemosmencionar, por exemplo, a expansão da cobertura previdenciária, em parti-cular até a década de 70, como apontado por Oliveira et alii (1997), a apo-sentadoria precoce por tempo de serviço e a marcante característica daConstituição de 1988, que visa assegurar o acesso de diferentes grupos e ca-tegorias aos recursos previdenciários, tal como indicadas por Giambiagi eAlém (1997 e 1999). Por sua vez, Pinheiro (1999) aponta que o modelo deprevidência, em particular do setor público do País, foi organizado segundoa relação prolabore facto, em que o direito de aposentadoria não está condici-onado à contribuição, mas à vinculação do funcionário ao Estado.4

O desequilíbrio financeiro conseqüente do sistema previdenciário do País in-centivou a discussão sobre a sua reforma, objetivando o saneamento dascontas públicas, para o qual tornou-se inevitável e essencial.

Em particular, a discussão sobre a reforma do sistema previdenciário do se-tor público brasileiro ocupou lugar de destaque, especialmente a partir de1995, quando se constatou que o principal fator explicativo da resistência àmelhora dos resultados primários das contas do governo era o déficit cres-cente desse sistema.

Devido às características particulares do regime de previdência dos servido-res públicos, diferente às correspondentes ao RGPS do setor privado, nãohá como realizar uma análise conjunta de ambos os regimes, e dada a eleva-da magnitude relativa que o déficit do regime dos servidores públicos, espe-cialmente a partir de meados da década de 90,5 optou-se, neste trabalho,por analisar os resultados obtidos com as reformas já realizadas ou ainda emandamento apenas do RJU.

4 Os servidores públicos tinham direito à aposentadoria como extensão do fato de trabalharempara o serviço público e, por isso, não contribuíam. Somando-se a esse problema, a Constitu-ição de 1988 igualou todos os funcionários do governo. Até a nova Constituição, certosserviços públicos eram regidos pelas regras do setor privado e, portanto, estavam sujeitos aoteto imposto pela previdência do setor privado. A Constituição também determinou que todosos servidores públicos, agora pertencentes ao Regime Jurídico Único (RJU), receberiam suasaposentadorias de acordo com a última remuneração.

5 Segundo dados do MPSA/SPS, o déficit do RJU de R$ 15,87 bilhões em 1996 aumentoupara R$ 19,5 bilhões em 1999, e o do RGPS de R$ 0,31 bilhões em 1996 para R$ 9,7 bi-lhões em 1999, a preços constantes de dezembro/99.

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A metodologia utilizada no presente estudo baseia-se em modelos atuariais,desenvolvidos com o intuito de projetar e analisar o comportamento do sis-tema de RJU no longo prazo.6 Dessa forma, procura-se analisar diferentesprojeções do comportamento do sistema dos servidores civis do Poder Exe-cutivo7 como um todo, sob cenários alternativos em relação à alíquota e àabrangência da contribuição, utilizando o modelo atuarial proposto por Iyer(1999), considerando os diferentes tipos de benefícios (por aposentadoria,por invalidez, por idade e por tempo de contribuição), e supondo, segundoos moldes propostos pela nova legislação, a extinção de novas entradas noRJU (massa fechada).

Além disso, para realizar as simulações, supõe-se um crescimento do PIBreal da economia de 3% e uma taxa de desconto de 10%. Dentre os resulta-dos obtidos, sob os diferentes cenários alternativos considerados, o mais fa-vorável para as contas públicas é obtido, conforme esperado, no casoextremo em que o servidor não é contemplado com nenhum reajuste salari-al, e tanto os ativos quanto os inativos contribuem com uma alíquota de15%. No entanto, ainda nesse caso extremo, mais favorável para as finançaspúblicas, somente a partir de 2016 começar-se-ia a observar uma tendênciadecrescente na trajetória do déficit do sistema, e em termos de valor presen-te, esse fluxo do déficit do sistema de RJU representaria aproximadamente0,68% do valor presente do PIB real, que cresce, nas simulações, a uma taxahipotética de 3% anual.

Consideramos ainda oportuno ressaltar que, dessa forma, o presente estudodefine o foco de análise sobre o RJU dos servidores públicos do executivofederal, em particular, e que a metodologia empregada baseia-se no cálculoatuarial.8 Portanto, o mesmo difere, tanto em termos do escopo da análisequanto metodologicamente, de trabalhos que visam analisar o impacto so-bre o bem-estar social da previdência social de repartição mediante modelos

6 Observe que o cálculo atuarial constitui a metodologia mais apropriada dada a natureza daanálise ora proposta e as características das reformas propostas para o RJU que serão descritas aseguir.

7 Os dados existentes para os Poderes Legislativo e Judiciário e para os Militares são insuficien-tes para a aplicação da metodologia atuarial ora proposta.

8 Como exemplos de projeções atuariais para o regime de Previdência Social, vide Informe dePrevidência Social do MPS (2001).

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de equilíbrio geral, como os realizados, por exemplo, para o caso brasileiro,por Barreto (1997), Lannes Jr. (1999) e Ellery Jr. e Bugarin (2003).

O presente trabalho encontra-se organizado de forma a apresentar, na seção1, a metodologia desenvolvida especificamente para efetuar as simulaçõesdo RJU, contemplando as reformas propostas para o RJU; na seção 2, aanálise dos resultados obtidos nessas simulações, e finalmente, na última se-ção, as conclusões gerais.

1. METODOLOGIA ATUARIAL UTILIZADA PARA AS PROJEÇÕESDO SALDO DO RJU

As mudanças impostas pelas reformas previdenciária e administrativa ao Re-gime Jurídico Único motivaram a realização de novas avaliações dos resulta-dos de suas contas. Diferentes modelos buscam analisar o comportamentodos sistemas previdenciários no curto e longo prazo. Nesta seção é apresen-tado um modelo atuarial que foi desenvolvido com o intuito de projetar ocomportamento da previdência dos servidores públicos brasileiros no longoprazo.

Com base nas mudanças propostas para o RJU, procura-se analisar o com-portamento do sistema previdenciário dos servidores como um todo. Devi-do à indisponibilidade de dados, a projeção é feita apenas para os servidorescivis do Poder Executivo. Os dados existentes para os Poderes Legislativo eJudiciário, e para os Militares, são insuficientes para a aplicação da metodo-logia ora proposta. O modelo atuarial utilizado é baseado em Iyer (1999),considerando os seguintes benefícios: aposentadoria por invalidez, aposen-tadoria por idade9 e pensão por morte.

Como a nova legislação está tendendo à extinção de novas entradas no RJU,supõe-se, nas simulações, que não haverá mais novos servidores ingressandonesse regime de previdência. Portanto, analisa-se como seria o comporta-mento do déficit previdenciário com a extinção das entradas no RJU. O ob-jetivo é mostrar que, mesmo com todas as reformas efetuadas e com as

9 Considera-se incluído, nesse grupo, as aposentadorias por tempo de contribuição.

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ainda pendentes de aprovação, o efeito das mesmas para a redução do déficitsó se fará sentir no longo prazo. Ou seja, é necessário um certo tempo paraque se tenha uma redução substancial da massa de servidores que são regi-dos pela legislação atual. Estes servidores são protegidos das modificaçõesque ocorrem após seu ingresso no serviço público e, conseqüentemente, énecessário que um número expressivo deles seja extinto, considerando tam-bém seus dependentes, para que as novas regras surtam efeito nos resultadosdas contas previdenciárias.

A metodologia utilizada nesta análise baseia-se nas técnicas da matemáticaatuarial, as quais estão bem detalhadas em Iyer (1999) e Thullen (1995). Oprimeiro passo foi dividir a população em análise em quatro subgrupos: osativos (A), os aposentados por invalidez (I), os aposentados por idade etempo de contribuição (P) e os pensionistas (S). Essa divisão foi feita com ointuito de manter as características específicas de cada grupo.

Neste estudo considera-se que não haverá mais entrada de servidores no Re-gime Jurídico Único (RJU), apesar das reformas administrativa e previden-ciária efetuadas até o presente não terem ainda excluído por completo aentrada de novos participantes nesse regime. Portanto, a análise é realizadaconsiderando uma massa fechada, não havendo, portanto, fluxo de entradade ativos.

Porém, apesar do grupo como um todo ser fechado, todos os subgrupos,com exceção dos ativos, são abertos. Ou seja, o único subgrupo que não ad-mite nenhuma causa de entrada é o dos ativos.

Considerando agora as causas de eliminação, mais uma vez o subgrupo dosativos é peculiar, dado que nos demais subgrupos a única causa de elimina-ção é a morte. Nos ativos, além da morte, as entradas em invalidez e nas de-mais aposentadorias também constituem causas de eliminação. Por sua vez,esses são fatores de entrada nos demais subgrupos. Portanto, as causas deeliminação dos ativos são as responsáveis pelas entradas nos demais subgru-pos e, conseqüentemente, os torna abertos.

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Depois de feita a projeção do quantitativo dos subgrupos, foi realizada aprojeção dos gastos com os mesmos, baseando-se em coortes determinadaspela idade. Com o resultado das projeções do quantitativo e dos gastos foipossível realizar a análise da evolução do déficit. Porém, para que fosse pos-sível calcular o déficit, ainda foi necessário adotar certas hipóteses quanto àcontribuição dos servidores. Por fim, foram adotadas algumas hipóteses bio-métricas e outras econômicas, apresentadas a seguir.

(i) Hipóteses Biométricas:

Tábua de Mortalidade: AT 49

Tábua de entrada em invalidez: ÁLVARO VINDAS

Tábua de mortalidade de inválidos: IAPB 57

Em relação às hipóteses biométricas acima adotadas, cabe observar que, se-gundo Heligan e Pollard (1993), a partir dos primeiros estudos de Graunt(1662) e Halley (1693), a construção das tábuas de vida foram sucessiva-mente aprimoradas. Essas estatísticas iniciais consistiam da observação desobrevida, de um ano para outro, de um grupo de um determinado grupode pessoas. Somente com Milne (1815) a primeira tábua de vida que utilizaconceitos atuariais é encontrada na literatura demográfica.

A escolha, tanto da taxa de desconto quanto da tábua de mortalidade, é ele-mento-chave em estudos atuariais. Cabe observar que o nível e a estruturade mortalidade são variáveis no tempo e de população para população. Po-rém, não existe consenso sobre qual a tábua mais apropriada a ser utilizada.

A Portaria MPAS Nº 4992, de 5 de fevereiro de 1999, atualizada pela de Nº7796, de 28 de agosto de 2002, estabelece em seu Art. 2o que os regimespróprios de previdência social dos servidos públicos devem ser organizadoscom base em normas gerais de contabilidade e de atuária. Essas últimas nor-mas, que constam no Anexo I da referida portaria, item X – 4, explicita queas tábuas biométricas utilizadas para as avaliações atuariais deverão observar(i) a Tábua de Sobrevivência AT-49 (Male) como limite máximo de taxa de

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mortalidade; (ii) a Tábua de Mortalidade AT-49 (Male) como limite míni-mo de taxa de mortalidade; (iii) Entrada em Invalidez – Álvaro Vindas,como limite mínimo de taxa de entrada em invalidez; e (iv) Mortalidade deInválidos – experiência IAPC, como limite máximo de taxa de mortalidadede inválidos, ou alternativamente outras estatísticas reconhecidas pelas Nor-mas de Atuária do País, como é o caso do IAPB 57 adotado no presente es-tudo.

A Tábua AT-49 foi desenvolvida por Lumsdem (1949), do Mortality Com-mitty (EUA), observando a taxa de sobrevivência e mortalidade, no períodode 1941 a 1946, do grupo de referência, projetando a tábua para cobrir asrespectivas probabilidades de 0 a 109 anos. Já a estatística biométrica refe-rente à entrada em invalidez Álvaro Vindas consiste dos resultados de umestudo elaborado pelo mesmo em 1957 para o Departamento Actuarial yEstadístico de la Caja Costarricense de Seguro Social (CCSS). Finalmente, atábua de mortalidade de inválidos IAPB 57 consiste de resultados obtidospelo Retirement and Pension for Bank Workers Institute (1934) e o IAPCpelo Retirement and Pension for Commerce Workers Institute (1934).

Neste estudo adotamos como hipótese de trabalho, que não será testada,que as hipóteses biométricas adotadas pela legislação brasileira constituemboa aproximação da evolução futura efetiva das quantidades.10

(ii) Hipóteses Econômicas:

Demais causas de eliminação: 0,0%

Crescimento do PIB real: 3,0%

Por outro lado, para analisar as dinâmicas das quantidades e dos gastos, con-sideraram-se as categorias de ativos, aposentados e pensionistas, na sua clas-sificação de inválidos, pensionistas e aposentados, por gênero e por coortede idade do ano 1999 como correspondente ao período inicial das simula-ções. Esses dados primários foram obtidos dos dados primários do Boletim

10 Uma elaboração detalhada de Tábuas de Vida para o Brasil elaboradas a partir de dados daSusep pode ser encontrada em BELTRÃO & PINHEIRO (2002).

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Estatístico de Pessoal da Secretaria de Recursos Humanos do Ministério doPlanejamento.11 Cabe ainda observar que as despesas foram obtidas como oproduto entre o salário médio e a quantidade de servidores em cada coortede idade.12

Para o entendimento do modelo adotado, são apresentadas as equações quegeraram as projeções do quantitativo dos participantes do RJU e, posterior-mente, a receita e despesa gerada por esses servidores. Portanto, as equaçõesestão separadas em dois grandes grupos. O primeiro tenta capturar a dinâ-mica das quantidades, e o segundo a dinâmica dos valores utilizando os re-sultados do primeiro conjunto de equações.

1.1 Dinâmica das Quantidades

Com relação ao primeiro grupo de equações, que permitem o cálculo daevolução do quantitativo da população analisada, elas estão divididas emsubgrupos para refletir o fato de que a população divide-se em subgrupos,de acordo com as características de cada um deles: ativos, aposentados porinvalidez, aposentados regulares e pensionistas. Em todos os subgrupos sãoutilizadas tábuas que fornecem as probabilidades de morrer, de se aposentar,de se tornar inválido, e a partir dessas probabilidades são montadas as plani-lhas que fornecem a dinâmica das quantidades de todos os subgrupos. Ain-da dentro de cada subgrupo, a diferenciação por sexo dos participantes écontemplada mediante a inclusão da variável g, que assumirá o valor 1quando se considera apenas o sexo masculino, 2 o feminino, e 3 ambos ossexos de forma conjunta.

11 Em 1999 a média das quantidades de ativos chega a 504.081 e o de aposentados e pensionistasa 583.479, dos quais 30.679 correspondem à categoria de inválidos, 189.601 de pensionistas e363.199 de aposentados.

12 As despesas com ativos em 1999 corresponde a R$ 11.598.272.196 e com inativos e pensio-nistas de R$ 12.759.041.797.

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(a) Evolução da Quantidade de Ativos

Dentre os diferentes subgrupos, o correspondente aos ativos é o que possuio maior número de variáveis incluídas, dado que constitui o subgrupo quefornece causa de entrada para todos os outros subgrupos. Os ativos são osúnicos que podem sofrer todas as causas de eliminação consideradas no mo-delo, quais sejam: morte, invalidez, aposentadoria por idade ou tempo decontribuição, e outras causas de eliminação.

A equação (1), abaixo, é utilizada para calcular a quantidade de ativos de gê-nero g no ano t+1, A(g ,t+1). No entanto, ela também pode ser expressacomo em (1a), onde, de forma mais clara, reflete que a variação do estoquede ativos de gênero g é igual ao fluxo de entrada menos o fluxo de saída, ouseja, o fluxo líquido de ativos de gênero g no ano t+1, FE(g,t+1) – FS(g ,t+1).

A (g,t+1) = A(g,t) – FS (g,t+1) + FE (g,t+1) (1)

A (g,t+1) – A(g,t) = FE (g,t+1) – FS (g,t+1) (1a)

Porém, para se ter uma formulação mais precisa da quantidade de ativos, énecessário introduzir a distribuição desses indivíduos por coortes de idade.Para se obter a quantidade de ativos na idade x e gênero g no ano t, A(x ,g ,t),

a equação (2), abaixo, multiplica a quantidade de ativos existentes no anoanterior, t-1, pela probabilidade do ativo não ter morrido, não ter se torna-do inválido e não ter se aposentado. Ou seja, são excluídos todos os indiví-duos que eram ativos em t-1 e, devido à ocorrência de morte ou deaposentadoria nesse intervalo de tempo, não podem mais continuar em ati-vidade no ano t.

Portanto, a probabilidade do indivíduo continuar em atividade no ano t foicalculada retirando todas as probabilidades de ele sofrer alguma das causasde eliminação, sendo elas: a probabilidade de morte de um não-inválido naidade x – 1, q(x -1), a probabilidade de entrada em invalidez na idade x – 1, i(x

-1), a probabilidade de entrada em aposentadoria por idade ou tempo decontribuição na idade x – 1 e gênero g, o(x –1,g), e a probabilidade de outrascausas de eliminação na idade x – 1, r(x – 1). Dessa forma, obtêm-se os ativos

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remanescentes de idade x e gênero g no ano t e, adicionando o fluxo de entra-da de novos ativos com a mesma idade, gênero e ano considerado, FE(x ,g ,t), omontante total de ativos do ano t .

A(x,g,t) = A(x-1,g,t-1) (1 – q(x-1) – i(x-1) – o(x-1,g) – r(x-1) ) + FE(x,g,t) (2)

Para o cômputo do fluxo de saída de ativos na idade x e gênero g no ano t,FS(x, g ,t), são consideradas novamente todas as causas de eliminação. Porém,o objetivo da equação (3) é exatamente o oposto da equação (2). Ou seja,na equação (2) o objetivo é calcular os ativos remanescentes, enquanto quena (3) o objetivo é obter todos os ativos que são eliminados. Para isso, mul-tiplica-se a quantidade de ativos pela soma de todas as probabilidades que otornam incapaz de continuar em atividade, qx –1: probabilidade de morte deum não-inválido na idade x-1; ix -1: probabilidade de entrada em invalidezna idade x-1; o(x-1,g): probabilidade de entrada em aposentadoria por idadeou tempo de contribuição na idade x-1 e gênero g, e rx -1: probabilidade deoutras causas de eliminação na idade x-1.

FS(x,g,t) = A(x-1,g,t-1) ( q(x-1) + i(x-1) + o(x-1,g) + r(x-1) ) (3)

Por sua vez, a equação (4) é uma variação da equação (3), obtida medianteuma manipulação para calcular o fluxo de entrada de ativos de gênero g noano t, (FE(g ,t)). Nessa equação tem-se que o fluxo FE(g ,t) é igual à soma davariação do estoque de ativos, A (g,t) – A(g,t-1), e do fluxo de saída de ativosde gênero g no ano t , FS(g ,t).

FE (g,t) = A (g,t) – A(g,t-1) + FS (g,t) (4)

Para se obter a distribuição do fluxo de entrada de ativos nas diferentes ida-des foram calculadas, a partir dos dados dos servidores do Executivo Civilque ingressaram no último concurso, as proporções de ingressos nas dife-rentes coortes de idade. Conhecendo essas proporções, para se obter o fluxode entrada de ativos na idade x e gênero g no ano t, FE(x ,g ,t), basta multipli-car o fluxo de entrada de ativos de gênero g no ano t, FE(g ,t), pela propor-ção de ingressos na idade x e gênero g no ano t, f(x ,g ,t). Calculando a

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equação (5), abaixo, para todas as coortes, obtém-se a dinâmica da quanti-dade de servidores públicos em atividade.

FE(x,g,t) = f(x,g,t) FE(g,t) (5)

Vale ressaltar que a metodologia apresentada nesta seção poderia ser utiliza-da para análise tanto de massa fechada como de massa aberta, dado que adiferença entre elas consiste apenas no valor utilizado como fluxo de entradade novos ativos. Porém, não é objeto desse trabalho a análise com massaaberta, sendo toda a análise, aqui realizada, baseada nos cálculos com massafechada, supondo, portanto, que o fluxo de entrada de ativos é sempre iguala zero.

(b) Evolução da Quantidade de Aposentadorias por Invalidez

A análise da dinâmica da quantidade desse subgrupo é simplificada pelo fatode que somente há uma causa de entrada e uma de saída. Para se obter aquantidade de novos aposentados por invalidez é utilizada a tábua de entra-da em invalidez Álvaro Vindas, enquanto que para se calcular a saída utiliza-se a tábua de mortalidade de inválidos IAPB 57.

A entrada em invalidez na idade x e gênero g no ano t, NI(x ,g ,t), representa-da pela expressão (6) abaixo, é obtida pela multiplicação dos ativos no anoanterior t-1, e conseqüentemente em idade também anterior em um perío-do, e a probabilidade de um indivíduo nesse idade se tornar inválido, i(x -1).

NI(x,g,t) = A(x-1,g,t-1) i(x-1) (6)

Para se obter o estoque de aposentados por invalidez, como na equação (9)abaixo, é necessário calcular os aposentados que não foram eliminados e adi-cionar as novas entradas calculadas na equação (6) acima. A quantidade deinválidos remanescentes é obtida pela multiplicação da quantidade de inváli-dos do ano anterior, I(x-1, g ,t-1), e a probabilidade desse inválido não morrer,1 - qi

(x –1), ou seja, um menos a probabilidade dele morrer, como descrita naexpressão abaixo.

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I(x,g,t) = I(x-1,g,t-1) (1 – qi(x-1) ) + NI(x,g,t) (7)

(c) Evolução da Quantidade de Aposentados

A seguir serão descritas as equações que fornecem a entrada no subgrupodo aposentados e, posteriormente, o total de participantes desse subgrupo,excluindo-se os aposentados por invalidez.

No cálculo de entrada em aposentadoria na idade x e gênero g no ano t, P(x ,g , t),

conforme a expressão (8) abaixo, multiplica-se a quantidade de ativos na

idade x-1 e gênero g no ano t –1, A(x -1, g ,t -1) pela probabilidade dele se apo-

sentar com idade x-1 , o(x –1 ,g) ou a probabilidade de entrada em aposenta-

doria por idade ou tempo de contribuição na idade x –1 e gênero g.

NP(x,g,t) = A(x-1,g,t-1) o(x-1,g) (8)

Uma vez calculado o número de novos aposentados no ano t, NP(x ,g , t), e

somando a este número a multiplicação da quantidade total de aposentados

na idade x-1 e gênero g no ano t-1 pela probabilidade destes não morrerem,

obtém-se a quantidade total de aposentados na idade x e gênero g no ano t,

P(x ,g , t), como apresentada na expressão (9), a seguir.

P(x,g,t) = P(x-1,g,t-1) (1 – q(x-1) ) + NP(x,g,t) (9)

(d) Evolução da Quantidade de Pensionistas

O último subgrupo a ser considerado é composto pelos pensionistas, no

qual encontram-se os representantes dos componentes de todos os outros

subgrupos. Diferentemente dos outros subgrupos, este é formado pelos

pensionistas que não morreram no ano anterior, S(x-1,t-1)(1 – q(x-1)), e pelos

dependentes dos participantes do RJU que faleceram e deixaram a pensão

para esses dependentes. Ou seja, nesse subgrupo o que interessa é a soma

de: (i) dos contribuintes não-inválidos que se tornam instituidores de pen-

são, dados pelo produto da quantidade de ativos na idade x + k e ano t e a

probabilidade de morte de um não-inválido na idade x –1, A(x + k, t) q(x -1);

(ii) do montante dado pela quantidade total de aposentados por invalidez

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Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

na idade x + k e ano t multiplicado pela probabilidade de morte de um não-

inválido na idade x + k, I(x + k, t) qi(x + k); e (iii) o montante da quantidade

total de aposentados na idade x + k e ano t multiplicado pela probabilidade

de morte de um não-inválido na idade x +k, P(x + k, t) q(x +k). A correspon-

dente somatória é dada pela expressão (10) abaixo. Cabe observar, ainda, a

introdução da variável k, que constitui uma particularidade desse subgrupo,

e que indica a diferença de idade entre o instituidor da pensão e o pensionis-

ta. Como não há informação disponível sobre o perfil da família dos contri-

buintes, adotou-se a hipótese de que os pensionistas são cinco anos mais

novos que os instituidores de pensão. Por isso, neste modelo, assume-se que

a variável k possui valor 5.

S(x,t) = S(x-1,t-1)(1 – q(x-1)) + A(x+k,t)q(x+k) + I(x+k,t)qi(x+k) + P(x+k,t)q(x+k) (10)

1.2 Dinâmica dos Gastos

A análise da dinâmica do valor é feita de forma semelhante à realizada para a

evolução do quantitativo da massa de servidores. Porém, neste item, o foco

principal das equações é o gasto monetário com cada subgrupo. Com isso,

para obter o valor despendido com cada um deles, é essencial o uso dos re-

sultados obtidos na dinâmica das quantidades acima.

(a) Evolução dos Gastos com Ativos

(11)

A primeira equação da evolução dos gastos com ativos busca capturar a evo-

lução do salário médio, considerando uma determinada faixa de idade. Ou

seja, a idéia da equação (11) é que o salário médio da coorte, determinada

pela idade x e gênero g no ano t, W(x ,g ,t), é igual ao salário inicial da análi-

se, t0, da mesma coorte, multiplicado pelo produto de todos os reajustes sa-

lariais reais, em porcentagem, concedidos ao pessoal ativo, considerando o

intervalo de t0 até t. Por sua vez, a variável λj representa o reajuste salarial

real, em porcentagem, concedido ao pessoal ativo no ano j.

, )1(*0

0),,(),,( ∏=

+=t

tjjtgxtgx WW λ

Paula Bicudo de Castro Magalhães, Mirta Noemi Sataka Bugarin 641

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

Portanto, a evolução do salário médio de todas as coortes é essencial para o

cálculo da evolução do gasto com os ativos. Sendo conhecido o valor do salá-

rio médio da coorte determinada pela idade x e gênero g no ano t, W(x ,g ,t),

basta multiplicá-lo pelo número de ativos na mesma idade, gênero e ano,

A(x ,g ,t), obtendo-se o total de pagamento dos ativos na idade x e gênero g

no ano t, WB(x ,g ,t), como expresso em (12), a seguir.

WB(x,g,t) = A(x,g,t) W(x,g,t) (12)

(b) Evolução dos Gastos com Aposentados por Invalidez

Por sua vez, os aposentados por invalidez têm o direito de receber os mes-

mos vencimentos que recebiam quando estavam em atividade. Assim sendo,

para o cálculo do gasto com os inválidos a variável de despesa continua sen-

do o salário médio pago aos ativos.

Portanto, a despesa com o fluxo de entrada em invalidez na idade x e gênero

g no ano t, DNI(x,g,t), é obtida com o multiplicação do salário médio da

mesma coorte, considerando o mesmo ano, pela entrada em invalidez na

idade x e gênero g no ano t, NI(x,g,t), obtida na dinâmica da respectiva quan-

tidade (6) acima. Assim, esta categoria de despesa fica expressa como em

(13) abaixo.

DNI(x,g,t) = NI(x,g,t) W(x,g,t) (13)

Por outro lado, a despesa com o estoque de aposentados por invalidez, na

idade x e gênero g no ano t, DI(x ,g ,t), expresso em (14) abaixo, é a soma do

resultado obtido na equação (13) e os inválidos que não morreram, repre-

sentados por DI(x ,g ,t) 1 - qi(x –1): despesa com inválidos na idade x e gênero

g no ano t multiplicado pela probabilidade do inválido não morrer na idade

x-1. Além disso, para calcular o valor correto gasto com os inválidos que

não morreram é necessário reajustar seus salários no mesmo montante do

reajuste concedido a todos os inativos,13 θt.

13 Até a realização desse trabalho, a regra de reajuste dos inativos é a mesma dos ativos. Este tam-bém é um ponto que o governo quer modificar, desvinculando o reajuste dos ativos e dos ina-tivos. Neste trabalho ainda se considera a vinculação do reajuste.

642 Simulações da Previdência Social Brasileira

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

(14)

(c) Evolução dos Gastos com Aposentadorias

Este item objetiva quantificar o gasto com os demais aposentados, ou seja, a

despesa com o fluxo e com o estoque de aposentados.

O raciocínio para o cálculo da despesa com o fluxo de aposentadorias na

idade x e gênero g no ano t, DNP(x ,g ,t), é idêntico ao da equação (13) aci-

ma, mudando apenas a variável de entrada em aposentadoria, neste caso re-

presentada pela variável NP, como consta da equação (15), abaixo.

DNP(x,g,t) = NP(x,g,t) W(x,g,t) (15)

Por sua vez, a despesa com o estoque de aposentados, expresso em (18),

abaixo, segue o mesmo raciocínio da equação (14), sendo a análise focada

no subgrupo de pessoas que atingiram a idade exigida ou o tempo de con-

tribuição para se aposentarem, e não porque se tornaram inválidos. Com is-

so, para se obter a probabilidade desse aposentado não morrer, deve-se

substituir a probabilidade de morte de um inválido, qi(x –1), usada na equa-

ção (14), pela probabilidade de morte de um não-inválido, q(x -1). Além dis-

so, ao invés de somar o resultado obtido na equação (13), soma-se o

resultado obtido na equação (15), observando que o reajuste dado é o mes-

mo para todos os inativos, não importando o tipo de aposentadoria.

(16)

(d) Evolução dos Gastos com Pensionistas

Finalmente, o gasto com os pensionistas, expresso em (17), é calculado ba-

seando-se nos pensionistas do ano anterior que não faleceram, com o res-

pectivo reajuste, e em todos os falecidos dos outros subgrupos que irão

gerar pensões para os seus dependentes.

(17)

) 1(*)1(* ),,(t)1()1,,1(),,( tgxixtgxtgx DNIqDIDI ++−= −−− θ

) (1 *)1(* ),,(t)1()1,,1(),,( tgxxtgxtgx DNPqDPDP ++−= −−− θ

* *

* ) (1 *)1(*

)(),()(),(

)(),(t)1()1,1(),(

kxtkxi

kxtkx

kxtkxxtxtx

qDPqDI

qWBqDSDS

++++

++−−−

+

+++−= θ

Paula Bicudo de Castro Magalhães, Mirta Noemi Sataka Bugarin 643

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

em que DS(x ,t) representa a despesa com pensionistas na idade x e ano t; q(x

-1) a probabilidade de morte de um não-inválido na idade x –1; t0 o ano ini-

cial da análise; θj o reajuste real em porcentual concedido aos inativos no

ano j; WB(x +k ,t) o total de pagamento dos ativos na idade x+ k e ano t; k a

diferença de idade em anos entre o instituidor da pensão e o pensionista;

DI(x +k ,t) a despesa com inválidos na idade x + k e ano t; qi(x + k) a probabi-

lidade de morte do inválido na idade x+ k; e DP(x +k ,t) a despesa com apo-

sentados na idade x + k e ano t.

De posse de todas as equações que descrevem a dinâmica tanto da quantida-

de quanto das despesas acima apresentadas, procede-se à realização das si-

mulações cujos resultados serão apresentados na seção a seguir.

2. RESULTADO DAS SIMULAÇÕES PARA O RJU

Os resultados obtidos com as simulações, utilizando as equações acima des-

critas, partem do pressuposto de que não haverá mais nenhuma entrada no

RJU, ou seja, a presente análise diz respeito a uma massa fechada.

Portanto, considerando a população-alvo como massa fechada, a análise é

baseada, como pode ser observado no Gráfico 1, abaixo, na evolução da

quantidade de ativos e inativos do executivo federal civil até a extinção de

ambos os subgrupos ativos e inativos (aposentados e pensionistas). Verifica-

se que a extinção da massa ocorre em 2090, sendo que a partir de 2072 os

valores encontrados são insignificantes.14

Infere-se, ainda do Gráfico 1, que o número de inativos é sempre maior do

que o de ativos. Essa conclusão era previsível, já que no ano inicial da análi-

se o número de inativos supera o número de ativos em mais de 120%, e

considerando que não haverá mais entrada de ativos, não há nenhum meca-

nismo para reverter essa situação inicial.

14 Os valores serão considerados insignificantes na análise da quantidade de ativos e inativosquando forem inferiores a mil.

644 Simulações da Previdência Social Brasileira

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE DE ATIVOS E INATI-VOS DO EXECUTIVO CIVIL – MASSA FECHADA, 2000/2090

O número máximo de ativos atinge 488.369 participantes no ano inicial,

2000. A partir do ano 2001 esse subgrupo vai diminuindo, sempre a taxas

decrescentes, e a partir de 2052 o número de ativos passa a ser nulo. Ou se-

ja, esse ano marca a mudança de toda a população para o subgrupo de apo-

sentados e pensionistas.

Já o número de aposentados e pensionistas começa a análise no ano 2000

com 1.080.405 participantes, e é crescente até 2014. Este é o ano em que os

inativos atingem seu máximo de participantes, chegando a um total de

1.662.741. A partir de 2014 o número de inativos começa a decrescer, sen-

do fácil constatar no Gráfico 4 a respectiva inversão da curva da evolução

desses participantes.

Esse comportamento também pode ser explicado por ser uma análise de

massa fechada. Nos anos em que há crescimento do número de inativos,

pode-se dizer que o número de ativos que estão passando à inatividade está

sendo superior ao falecimento dos inativos já existentes. Porém, após qua-

torze anos, além da quantidade de ativos que passam à inatividade ser me-

-

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

2.00

0

2.00

3

2.00

6

2.00

9

2.01

2

2.01

5

2.01

8

2.02

1

2.02

4

2.02

7

2.03

0

2.03

3

2.03

6

2.03

9

2.04

2

2.04

5

2.04

8

2.05

1

2.05

4

2.05

7

2.06

0

2.06

3

2.06

6

2.06

9

2.07

2

2.07

5

2.07

8

2.08

1

2.08

4

2.08

7

2.09

0

A tivos Aposentados e pensionistas

Paula Bicudo de Castro Magalhães, Mirta Noemi Sataka Bugarin 645

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

nor, a população inativa também está mais velha e, com isso, com maior

probabilidade de morrer. O ano em que haverá essa inversão dependerá ba-

sicamente da idade de entrada no serviço público e da tábua de mortalidade

da população geral.

Nos gráficos a seguir é apresentado o comportamento simulado dos déficits

do caixa previdenciário dos servidores do Executivo Civil. Primeiramente,

para calcular o déficit desses servidores até a extinção da massa fechada, fo-

ram considerados quatro cenários diferentes. Esses cenários conjugam hipó-

teses de contribuições de 11% e 15% com base nos ativos e inativos,

conforme o quadro a seguir. Vale relembrar que a taxa adotada de cresci-

mento real do PIB é de 3% para todos os casos.

Nos Gráficos 2 e 3 são apresentados os resultados obtidos nos diferentes ce-

nários de contribuições alternativas consideradas, supondo que os servidores

terão reajuste salarial real de 3%, acompanhando o crescimento real do PIB.

Observa-se que nos primeiros anos haverá um aumento do déficit em todos

os cenários. Esse aumento é explicado pelo aumento do número de inativos,

já que os ativos já existentes irão gerar aposentadorias e pensões, e não ha-

verá contrapartida de novos contribuintes devido à inexistência de novas en-

tradas. Como o RJU funciona como um regime de repartição simples, são

os ativos do período considerado que pagam os vencimentos dos inativos

do mesmo período. Portanto, não há como evitar esse aumento observado

do déficit do caixa em todos os cenários.

Vale enfatizar que mesmo havendo contribuição dos inativos, como nos ce-

nários 2 e 4, ainda haveria o aumento do déficit nos primeiros anos. Estima-

se que os déficits serão máximos, em valores absolutos, no ano de 2029, a

saber:

•Cenário 1: R$ 29,3 bilhões

Cenário 1: contribuição de 11% dos ativosCenário 2: contribuição de 11% dos ativos e inativosCenário 3: contribuição de 15% dos ativosCenário 4: contribuição de 15% dos ativos e inativos

646 Simulações da Previdência Social Brasileira

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

•Cenário 2: R$ 26 bilhões

•Cenário 3: R$ 29,2 bilhões

•Cenário 4: R$ 24,8 bilhões

Observando os valores acima, constata-se que a contribuição dos inativos

não impede o crescimento do déficit, mas torna-o mais suave. Esta é a me-

dida que tem o maior impacto na contenção do déficit no curto prazo.

GRÁFICO 2 – EVOLUÇÃO DO DÉFICIT DO EXECUTIVO CIVIL EMR$ MILHÕES – MASSA FECHADA COM 3% DE REAJUS-TE SALARIAL REAL, 2000/2090

MASSA FECHADA COM 3% DE REAJUSTE SALARIAL REAL,

2000/2090

O Gráfico 3 apresenta os mesmos resultados do Gráfico 2, porém com os dé-

ficits como porcentual do PIB. Verifica-se que os valores máximos dos déficits

como porcentual do PIB são encontrados no ano de 2016. Essa mudança do

ano correspondente ao máximo é explicada pela inclusão de mais uma variável

estimada, qual seja, o valor do PIB, com o pressuposto de aumento real da

mesma de 3% ao ano. Os gráficos abaixo ilustram que, sob as hipóteses ado-

tadas, o aumento do déficit nos primeiros anos é inevitável.

-

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

2.00

0

2.00

3

2.00

6

2.00

9

2.01

2

2.01

5

2.01

8

2.02

1

2.02

4

2.02

7

2.03

0

2.03

3

2.03

6

2.03

9

2.04

2

2.04

5

2.04

8

2.05

1

2.05

4

2.05

7

2.06

0

2.06

3

2.06

6

2.06

9

2.07

2

2.07

5

2.07

8

2.08

1

2.08

4

2.08

7

2.09

0

R$

milh

ões

Cenário 1: 11% de contribuição dos Ativos Cenário 2: 11% de contribuição dos Ativos e Inativos

Cenário 3: 15% de contribuição dos Ativos Cenário 4: 15% de contribuição dos Ativos e Inativos

Paula Bicudo de Castro Magalhães, Mirta Noemi Sataka Bugarin 647

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

G RÁFICO 3 – EVOLUÇÃO DO DÉFICIT DO EXECUTIVO CIVILCOMO % DO PIB – MASSA FECHADA COM 3% DE RE-AJUSTE SALARIAL REAL, 2000/2090

Os cenários do Gráfico 4 são os mesmos da análise anterior, porém o reajus-

te salarial dos servidores reduziu-se para 1,5%. Com o reajuste menor e

mantendo o crescimento do PIB em 3%, o déficit é menor do que o corres-

pondente ao mesmo cenário da análise anterior, porém o seu aumento, nos

primeiros anos, continua inevitável.

Com o reajuste menor, os déficits atingem seu máximo no ano de 2023,

mais cedo do que no caso de reajuste salarial de 3%. Além disso, os valores

não são tão elevados, sendo eles:

•Cenário 1: R$ 19,8 bilhões

•Cenário 2: R$ 17,6 bilhões

•Cenário 3: R$ 19,6 bilhões

•Cenário 4: R$ 16,6 bilhões

0,0%

0,2%

0,4%

0,6%

0,8%

1,0%

1,2%

1,4%

1,6%

2.00

0

2.00

3

2.00

6

2.00

9

2.01

2

2.01

5

2.01

8

2.02

1

2.02

4

2.02

7

2.03

0

2.03

3

2.03

6

2.03

9

2.04

2

2.04

5

2.04

8

2.05

1

2.05

4

2.05

7

2.06

0

2.06

3

2.06

6

2.06

9

2.07

2

2.07

5

2.07

8

2.08

1

2.08

4

2.08

7

2.09

0

% P

IB

648 Simulações da Previdência Social Brasileira

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

O Gráfico 4 apresenta os déficits como porcentual do PIB, sendo 2009 o

ano de máximo atingido. Verifica-se, comparando o Gráfico 3 e 4, que para

diminuir o tempo de percepção do resultado das reformas sobre o déficit

não é recomendável equiparar o crescimento dos salários ao crescimento do

PIB da economia.

GRÁFICO 4 – EVOLUÇÃO DO DÉFICIT DO EXECUTIVO CIVILCOMO % DO PIB – MASSA FECHADA COM 1,5% DEREAJUSTE SALARIAL REAL, 2000/2090

O cenário 4 do Gráfico 4 acima é o mais favorável para as contas públicas,

já que a alíquota de contribuição é aumentada para 15% e incide também

sobre os inativos. Além disso, os servidores terão reajuste de 1,5%, enquan-

to que a economia terá sua taxa de crescimento mantida em 3%. Mesmo

nesse cenário favorável, o déficit máximo atinge 0,975% do PIB em 2010 e

só a partir desse ano é que começará a diminuir.

Mesmo adotando todas as reformas propostas, não há como reduzir o défi-

cit da previdência do setor público no curto e médio prazo. Esse fato pode

0,0%

0,2%

0,4%

0,6%

0,8%

1,0%

1,2%

1,4%

2.00

0

2.00

3

2.00

6

2.00

9

2.01

2

2.01

5

2.01

8

2.02

1

2.02

4

2.02

7

2.03

0

2.03

3

2.03

6

2.03

9

2.04

2

2.04

5

2.04

8

2.05

1

2.05

4

2.05

7

2.06

0

2.06

3

2.06

6

2.06

9

2.07

2

2.07

5

2.07

8

2.08

1

2.08

4

2.08

7

2.09

0

% P

IB

Cenário 1: 11% de contribuição dos Ativos Cenário 2: 11% de contribuição dos Ativos e Inativos

Cenário 3: 15% de contribuição dos Ativos Cenário 4: 15% de contribuição dos Ativos e Inativos

Paula Bicudo de Castro Magalhães, Mirta Noemi Sataka Bugarin 649

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

ser explicado pelo tamanho do estoque de inativos. Além disso, até que haja

a extinção total do subgrupo de ativos, fato que só ocorrerá em 2051, have-

rá novas entradas no subgrupo de aposentados.

Analisa-se a seguir o caso extremo onde a economia continua com o cresci-

mento de 3% ao ano e os servidores não têm reajuste real durante todo o

período analisado. Mesmo assim, o déficit em valores absolutos apresentará

um aumento nos primeiros anos, atingindo seu máximo no ano de 2016,

como pode ser observado no Gráfico 5, abaixo.

GRÁFICO 5 – EVOLUÇÃO DO DÉFICIT DO EXECUTIVO CIVIL EMR$ MILHÕES – MASSA FECHADA SEM REAJUSTE SA-LARIAL REAL, 2000/2090

-

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

2.00

0

2.00

3

2.00

6

2.00

9

2.01

2

2.01

5

2.01

8

2.02

1

2.02

4

2.02

7

2.03

0

2.03

3

2.03

6

2.03

9

2.04

2

2.04

5

2.04

8

2.05

1

2.05

4

2.05

7

2.06

0

2.06

3

2.06

6

2.06

9

2.07

2

2.07

5

2.07

8

2.08

1

2.08

4

2.08

7

2.09

0

em R

$ m

ilhõ

es

Cenário 1: 11% de contribuição dos Ativos Cenário 2: 11% de contribuição dos Ativos e Inativos

Cenário 3: 15% de contribuição dos Ativos Cenário 4: 15% de contribuição dos Ativos e Inativos

650 Simulações da Previdência Social Brasileira

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

Ou seja, por mais favorável que seja o cenário, supondo que não haverá

mais entrada de novos servidores e, conseqüentemente, não haverá novas

contribuições, o déficit aumentará em valores absolutos no curto prazo. Os

déficits encontrados neste caso são, considerando o ano de máximo: R$

14,6 bilhões (cenário 1); R$ 13 bilhões (cenário 2); R$ 14,4 bilhões (cená-

rio 3); e R$ 12,2 bilhões (cenário 4).

Por último, os resultados acima são apresentados como porcentual do PIB

no Gráfico 6, a seguir. Este constitui o único caso onde haverá uma queda

contínua da participação do déficit no PIB, independentemente do cenário

analisado, observando que, como conseqüência de todos os parâmetros ado-

tados, também é o caso que apresenta os menores déficits.

GRÁFICO 6 – EVOLUÇÃO DO DÉFICIT DO EXECUTIVO CIVILCOMO % DO PIBASSA FECHADA SEM REAJUSTE SA-LARIAL REAL, 2000/2090

0,0%

0,2%

0,4%

0,6%

0,8%

1,0%

1,2%

2.00

0

2.00

3

2.00

6

2.00

9

2.01

2

2.01

5

2.01

8

2.02

1

2.02

4

2.02

7

2.03

0

2.03

3

2.03

6

2.03

9

2.04

2

2.04

5

2.04

8

2.05

1

2.05

4

2.05

7

2.06

0

2.06

3

2.06

6

2.06

9

2.07

2

2.07

5

2.07

8

2.08

1

2.08

4

2.08

7

2.09

0

% P

IB

Cenário 1: 11% de contribuição dos Ativos Cenário 2: 11% de contribuição dos Ativos e Inativos

Cenário 3: 15% de contribuição dos Ativos Cenário 4: 15% de contribuição dos Ativos e Inativos

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Porém, para que este movimento descendente da curva representativa da re-

lação déficit/PIB seja contínuo, é necessário que a economia tenha um cres-

cimento satisfatório e que os servidores não recebam reajuste real algum,

apesar do bom desempenho da economia. Esta é uma suposição forte, por-

quanto os servidores não receberam reajuste desde a implementação do Real

até janeiro de 2002. Além disso, nenhuma categoria organizada aceita ter

uma economia tão próspera, com taxa de crescimento real de 3% ao ano, e

continuar recebendo o mesmo salário.

Por fim, na Tabela 1, a seguir, apresenta-se a comparação dos maiores défi-

cits alcançados em todas as simulações efetuadas e, conseqüentemente, o

ano que começará o declínio dos déficits.

TABELA 1 – VALORES MÁXIMOS DOS DÉFICITS – CENÁRIOS AL-TERNATIVOS (EM R$ MILHÕES)

Na Tabela 1 é fácil visualizar a diferença do montante dos déficits quando há

uma diminuição do reajuste salarial dado. Além da variação do déficit, o ta-

manho do reajuste também altera o ano de pico, sendo eles: 2029 (reajuste

de 3%), 2023 (reajuste de 1,5%) e 2016 (sem reajuste). Ou seja, quanto

menor o reajuste, mais rápido será atingido o máximo e, conseqüentemente,

mais cedo começa a diminuição do déficit.

Reajuste salarial de 3%

Reajustesalarial de 1,5%

Sem reajuste salarial

Cenário 1: 11% de contribuição dos Ativos 29.295(2.029)

19.777(2.023)

14.603(2.016)

Cenário 2: 11% de contribuição dos Ativos e Inativos

26.049(2.029)

17.567(2.023)

12.943(2.016)

Cenário 3: 15% de contribuição dos Ativos 29.218(2.029)

19.662(2.023)

14.429(2.016)

Cenário 4: 15% de contribuição dos Ativos e Inativos

24.792(2.029)

16.649(2.023)

12.175(2.016)

652 Simulações da Previdência Social Brasileira

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

Ainda podemos observar que, como esperado, em todos os reajustes consi-

derados o máximo déficit atingido será menor no cenário 4, em que tanto

os ativos quanto os inativos contribuem com uma alíquota de 15%. Neste

sentido, com um reajuste salarial de 3%, correspondente à taxa hipotética de

crescimento do PIB real da economia, esse cenário produz um déficit máxi-

mo 15,37% inferior ao gerado pelo cenário 1, em que somente os ativos

contribuem com 11%. Já no caso extremo, em que os salários do funciona-

lismo sob o RJU não são reajustados, o cenário 4 produz um déficit máxi-

mo 16,63% inferior ao cenário 1. Portanto, quanto maior e mais abran-

gente a contribuição ao RJU, e menor o reajuste salarial contemplado, mais

forte será o impacto sobre o déficit do RJU. Quantitativamente, passando

no mesmo cenário 4 de um reajuste salarial de 3% a um reajuste nulo, gera-

se uma redução do máximo déficit de mais de 50% e uma diminuição de 13

anos para começar a observar o declínio do déficit do RJU.

Finalmente, na Tabela 2 são apresentados os valores presentes dos déficits,

calculados para todos os cenários e reajustes, assim como as respectivas par-

ticipações no valor presente do PIB, considerando todos os anos até a extin-

ção da massa em 2090, utilizando uma taxa de desconto de 10%, e supondo

uma taxa de crescimento do PIB real de 3%.

TABELA 2 – VALORES PRESENTES DOS DÉFICITS – CENÁRIOS AL-TERNATIVOS (EM R$ BILHÕES)

Último ano da série: 2090.Taxa de crescimento do PIB real: 3% anual.Taxa de desconto: 10%.

Reajuste salarial de 3%

Reajustesalarial de 1,5%

Sem reajustesalarial

Cenário 1: 11% de contribuição dos Ativos 200,5(1,17%)

167,3(0,98%)

141,9(0,83%)

Cenário 2: 11% de contribuição dos Ativos e Inativos

177,2(1,04%)

147,8(0,87%)

125,4(0,74%)

Cenário 3: 15% de contribuição dos Ativos 196,5(1,15%)

163,7(0,96%)

138,7(0,81%)

Cenário 4: 15% de contribuição dos Ativos e Inativos

164,7(0,97%)

137,1(0,81%)

116,1(0,68%)

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Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

A Tabela 2 demonstra que, com um reajuste salarial de 3%, similar à taxa

anual hipotética de crescimento do PIB real, o déficit do RJU, em termos

de valor presente, diminui aproximadamente 17,86% quando a contribui-

ção aumenta de 11%, somente dos ativos (cenário 1), para 15%, imposta

tanto sobre ativos quanto inativos. Observa-se também que, neste caso, a

participação do valor presente do déficit no valor presente do PIB real cai,

ceteris paribus, de 1,17% para 0,97%. Um impacto ainda maior se obtém

caso o funcionalismo sob o RJU não seja contemplado com nenhum reajus-

te salarial e com uma alíquota de contribuição dos ativos e inativos de 15%.

Neste caso, o valor presente do déficit diminui para R$ 116,1 milhões, que

representa, aproximadamente, 0,68% do valor presente do PIB real simula-

do da economia.

CONCLUSÃO

A discussão da reforma previdenciária brasileira não é nova, tampouco é re-

cente o problema do déficit do sistema. Vários motivos levaram à existência

desse saldo negativo e crescente, podendo ser destacado a Constituição de

1988. Apesar desta ter sido um avanço no campo dos direitos sociais, não

foram considerados os meios para poder viabilizar financeiramente os au-

mentos resultantes dos gastos do governo.

Embora a Constituição tenha sido promulgada em 1988, as leis que regula-

rizaram as mudanças do regime previdenciário foram sancionadas somente

em 1991, retardando, assim, o impacto fiscal que estas vieram a causar.

No caso dos servidores públicos, a Constituição instituiu o RJU, transferin-

do um grande número de servidores, que antes pertenciam ao RGPS, para o

novo regime previdenciário. Essa mudança foi responsável por uma grande

transferência de ônus para o governo, estendendo a todos os servidores o re-

cebimento da aposentadoria correspondente ao último salário do servidor.

Por fim, destaca-se a falta de adaptação dos regimes ao novo padrão demo-

gráfico encontrado no País. Este foi um problema enfrentado por vários paí-

ses, principalmente países como o Brasil, que adotaram o sistema de repar-

654 Simulações da Previdência Social Brasileira

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tição simples. Esse sistema entra em colapso com o envelhecimento da po-

pulação, que vem sendo verificado em todo o mundo.

Portanto, era clara a necessidade de reforma de todo o sistema previdenciá-

rio brasileiro. Porém, além de ser um problema difícil de se solucionar, exis-

tem também interesses políticos que dificultam ainda mais a implementação

de uma reforma eficaz. A discussão dessa reforma se iniciou em 1995, e até

o presente momento existem pontos pendentes, dependendo de aprovação

do Congresso Nacional.

Este trabalho foi realizado com o objetivo de analisar o impacto das refor-

mas, tanto efetuadas quanto propostas, sobre os resultados das contas do

RJU. Esse regime foi escolhido pelo tamanho do seu déficit e, conseqüente-

mente, pelo seu maior impacto financeiro nas contas públicas do governo.

O mesmo foi desenvolvido por meio de simulações envolvendo unicamente

o sistema previdenciário do executivo federal - RJU, enfocando análises di-

nâmicas deste regime, considerando que o mesmo não terá novas entradas.

Ou seja, supondo que a partir de agora só existirá o RGPS e que o RJU só

contará com os participantes que já fazem parte do regime.

Nesta análise coletiva foi aplicado um modelo atuarial no qual os servidores

do Executivo Civil foram divididos em quatro subgrupos: os ativos, os apo-

sentados por invalidez, os aposentados por idade e tempo de contribuição, e

os pensionistas. Após feita a separação dos grupos, que respeita as caracte-

rísticas de cada um deles, adotou-se a idéia de que não haverá mais entradas

no RJU. A análise passa a ser então do comportamento do grupo já existen-

te e seu respectivo custo para o governo.

De todas as simulações realizadas, a que apresentou o melhor resultado para

as contas públicas supõe que o PIB cresce 3% ao ano, e durante o mesmo

período os servidores não terão nenhum reajuste real dos salários. Mesmo

com esse cenário favorável e extremo desde o ponto de vista salarial dos fun-

cionários sob o RJU, dado que serão extintas as novas entradas e que, con-

seqüentemente, também serão extintas novas contribuições, como o sistema

é de repartição simples, não há como impedir um crescimento do déficit,

em valores absolutos, num primeiro período. Assim, ainda nesse caso, so-

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Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

mente a partir do ano de 2016 é que começará a se observar uma queda do

déficit do sistema.

Observa-se também, nas simulações efetuadas, que as reformas, por mais

eficazes que sejam, requerem um certo tempo para surtir efeito devido ao

fato de que o problema do déficit previdenciário é de estoque, dado pela

quantidade muito grande de servidores que já possuem o direito adquirido à

aposentadoria seguindo as regras antigas. Portanto, não há como esperar re-

sultados favoráveis no curto e médio prazo. Da mesma forma que existe

uma demora para se observar os efeitos das reformas implementadas para

equacionar os problemas existentes na estrutura do sistema previdenciário

de forma geral, também demandará tempo para se obter os efeitos positivos

das reformas propostas para o RJU que poderiam ter um impacto positivo

sobre as contas públicas.

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Este artigo corresponde a uma versão simplificada da Monografia homônima, terceira colocada noVI Prêmio do Tesouro Nacional (2001), em Tópicos Especiais de Finanças Públicas.

As autoras agradecem a Marcelo Abi-Ramia Caetano pela contribuição na modelagem atuarial, eOsmar Lannes Jr. e Roberto de Góes Ellery Jr. pelos cuidadosos comentários recebidos.

e-mail: [email protected]

e-mail: [email protected]

(Recebido em março de 2002. Aceito para publicação em julho de 2004).

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ANEXO

TABELA 1 - PREVIDÊNCIA DO SERVIDOR PÚBLICO – UNIÃO (EMR$ BILHÕES)

* Valores estimados pelo MPAS/SPS, **1995 a 1998, a preços de dez/1998; 1999 preçoscorrentes.

TABELA 2 - VALORES MÁXIMOS DOS DÉFICITS – CENÁRIOS AL-TERNATIVOS - EM R$ MILHÕES

1995 1996 1997 1998 1999*

Contribuição dos Servidores 2,1 2,58 2,58 2,63 5,4

Despesa com Benefícios 15,46 17,39 19,68 20,95 24,9

Déficit** -15,59 -15,87 -17,53 -18,32 -19,5

Var. % do Déficit 2 11 5 4

Reajuste

salarial de 3%

Reajuste

salarial de 1,5%

Sem reajuste

salarial

Cenário 1: 11% de contribuição dos Ativos 29.295

(2.029)

19.777

(2.023)

14.603

(2.016)

Cenário 2: 11% de contribuição dos Ativos

e Inativos

26.049

(2.029)

17.567

(2.023)

12.943

(2.016)

Cenário 3: 15% de contribuição dos Ativos 29.218

(2.029)

19.662

(2.023)

14.429

(2.016)

Cenário 4: 15% de contribuição dos Ativos

e Inativos

24.792

(2.029)

16.649

(2.023)

12.175

(2.016)

Paula Bicudo de Castro Magalhães, Mirta Noemi Sataka Bugarin 659

Est. econ., São Paulo, 34(4): 627-659, out-dez 2004

TABELA 3 - VALORES PRESENTES DOS DÉFICITS – CENÁRIOS AL-TERNATIVOS - EM R$ BILHÕES

Último ano da série: 2090Taxa de crescimento do PIB real: 3% anualTaxa de desconto: 10%.

Reajuste

salarial de 3%

Reajuste

salarial de 1,5%

Sem reajuste sal-

arial

Cenário 1: 11% de contribuição dos Ativos 200,5

(1,17%)

167,3

(0,98%)

141,9

(0,83%)

Cenário 2: 11% de contribuição dos Ativos

e Inativos

177,2

(1,04%)

147,8

(0,87%)

125,4

(0,74%)

Cenário 3: 15% de contribuição dos Ativos 196,5

(1,15%)

163,7

(0,96%)

138,7

(0,81%)

Cenário 4: 15% de contribuição dos Ativos

e Inativos

164,7

(0,97%)

137,1

(0,81%)

116,1

(0,68%)