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Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial Ano 6 n Número 49 n Agosto de 2016 CIÊNCIA E TECNOLOGIA Pg 3 Modelos matemáticos do LAC contribuem com diversas áreas do INPE BRASIL Pgs 8 e 9 Interino Temer atua para cassar Dilma e efetivar-se no cargo NOSSA CIDADE Pg 12 São José dos Campos ganha equipamentos de difusão da ciência Defesa aposta no projeto de nova empresa estatal UNIDADE DOS SERVIDORES DE C&T OBRIGA GOVERNO A CORRIGIR CORTE DA GQ O Ministério da Defesa decidiu investir na criação da Alada Empresa de Projetos Aeroespaciais do Brasil S.A., atualmente sob análise do Planejamento. A iniciativa é controversa e coloca em xeque o PNAE. Página 7 Servidores do DCTA, INPE e Cemaden reforçaram unidade e coesão das Carreiras de C&T ao decidirem, no limite, abrir mão do reajuste salarial da C&T caso os técnicos viessem a ser prejudicados com o corte da Gratificação de Qualificação (GQ). Foi uma demonstração de maturidade e solidariedade. A posição surtiu efeito e o reajuste será pago integralmente a todos os servidores. Página 5 Fernanda Soares

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Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial

Ano 6 n Número 49 n Agosto de 2016

CiênCia e TeCnologia Pg 3Modelos matemáticos do LAC contribuem com diversas áreas do INPE

Brasil Pgs 8 e 9Interino Temer atua para cassar Dilma e efetivar-se no cargo

nossa Cidade Pg 12São José dos Campos ganha equipamentos de difusão da ciência

Defesa aposta noprojeto de novaempresa estatal

UNIDADE DOS SERVIDORES DE C&T OBRIGA GOVERNO A CORRIGIR CORTE DA GQ

O Ministério da Defesa decidiu investir na criação da Alada Empresa de Projetos Aeroespaciais do Brasil S.A., atualmente sob análise do Planejamento. A iniciativa é controversa e coloca em xeque o PNAE. Página 7

Servidores do DCTA, INPE e Cemaden reforçaram unidade e coesão das Carreiras de C&T ao decidirem, no limite, abrir mão do reajuste salarial da C&T caso os técnicos viessem a ser prejudicados com o corte da Gratificação de Qualificação (GQ). Foi uma demonstração de maturidade e solidariedade. A posição surtiu efeito e o reajuste será pago integralmente a todos os servidores. Página 5

Fernanda Soares

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Jornal do SindCT n agoSTo de 20162

A mobilização sindical que en-volveu a questão salarial das Car-reiras de Ciência & Tecnologia foi eficaz e vitoriosa. A provocação foi simples: um erro de redação (ou “erro material”) que, cometido no texto de uma lei federal, causaria redução dos salários de milhares de servidores. Situação surreal, afron-ta à lei e a qualquer lógica huma-na, não seria resolvida em poucos meses. A solução apresentada pelo governo não teria efeito reparador pleno: os valores não pagos até a tramitação de lei específica estariam perdidos, fora do alcance adminis-trativo. Restaria a via jurídica, num “estado de direito” comprometido por processos intermináveis.

O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) ad-mitiu o erro, mas só se mexeu efe-tivamente para a solução do proble-ma após mobilização na forma de paralisações e greves.

O episódio, tratado nesta edição, serve a uma reflexão maior: como poderíamos nos mobilizar reativa-mente ao desmonte das unidades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico do País? Não se trata de especulação, mas de realidade vastamente comprovada por déca-das de descaso, de incertezas e de falta de estratégia. Estamos em ex-tinção. Os centros de pesquisa pú-blicos construíram uma história de grandes realizações, muitas de des-taque internacional, que projetaram o país como referência mundial nos campos das inovações produzidas, mas não têm mais um ambiente instigador, motivador, gerador de conquistas e orgulho. Ao contrário, vivemos um estado de saudosismo e melancolia, criado a partir do go-verno Collor de Melo e perpassan-do todos os subseqüentes. É pena que este estado de coisas não tenha acontecido de forma abrupta, de um ano para outro. Gradativamente destruída a “infraestrutura” huma-na, as demais deixam de fazer senti-do, não são mantidas e/ou caem na obsolescência.

Os diretores dos institutos públi-cos de pesquisa tecnológica já prepa-

ram relatórios organizacionais, que direcionam a um MPOG esgotado ou mal instrumentalizado nas fór-mulas de planejar, que somente pode fazer ouvidos moucos aos apelos por concursos públicos e contratações. Agentes públicos já demonstram abertamente terem desistido dos institutos públicos de pesquisa, caso da Alada, empresa pública que está sendo criada pela Aeronáutica (veja p.7), numa clara tentativa de recorrer a outro modelo de gestão para execu-tar a missão do desenvolvimento téc-nico-científico aeroespacial. É ação desesperada decorrente de ausência de política estratégica de Estado vol-

tada às necessidades do País, que no entanto poderiam ser atendidas por instituições vitoriosas, construídas para esta finalidade há mais de cin-qüenta anos!

Impessoal

Ainda que técnicos de elevado conhecimento e qualidades únicas, acabamos não sendo nada diferen-tes de povo, gado marcado, que não reage às ações ou omissões dos di-rigentes burocratas, nem todos mal intencionados, mas envolvidos em um sistema impessoal que não de-fine responsabilidades, mas as usa

como bolas que batem e rebatem nos paredões das estruturas buro-cráticas burras e mal organizadas.

Apenas uma reação coordenada pelas lideranças sindicais poderia fazer frente a este desmonte. Ainda temos capacidade de mobilização, pelo menos quando o assunto diz respeito a ataque direto a salários, ainda que não seja por sua atuali-zação monetária, mas simplesmen-te para garantir direito regiamente adquirido. Entretanto, parece não nos importar mais que o objeto de nossas formações profissionais e os meios materiais de exercer nos-sa vocação sejam tão duramente desprezados, uma vez que não são assuntos salariais, de impacto ime-diato na vida dos trabalhadores. Esta situação será logo agravada por efeito de canetadas de maldade direcionadas às regras de aposenta-doria ou à extinção do Abono Per-manência.

Lamentavelmente, a fusão do MCTI ao MinCOM, que está pro-duzindo uma reestruturação minis-terial irresponsável e perniciosa à organização de C&T do país, foi recebida com desatenção e minimi-zada. Ninguém concordou com ela, nem as unidades de pesquisa nem a academia, mas ninguém fez coisa alguma, exceto protestos isolados.

A representação sindical tem que informar, conscientizar e construir mobilizações voltadas à reestruturação das unidades de pesquisa, à reconstituição de sua força de trabalho e à dotação apro-priada de recursos financeiros. Se falharmos nessa empreitada nos tornaremos associações e sindica-tos de aposentados, de unidades de pesquisas extintas ou privatizadas, que tampouco terão condições de sustentabilidade por estarem sob o mesmo ambiente omisso de pros-pecção de oportunidades, plane-jamento e políticas estratégicas, imersas em um economia sem es-cala e cheia de riscos, como hoje, totalmente dependente da ação do Estado. Perderá o Brasil e, no ní-vel pessoal, perderemos todos nós servidores públicos.

EXPEDIENTE Jornal do SindCT é uma publicação do Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial, fundado em 30 de agosto de 1989 • Matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição da entidade • Sede: Rua Santa Clara, 432, Vila Ady Anna • CEP 12.243-630 (8h30 às 17h30) • São José dos Cam-pos - SP • Tel/fax: (12) 3904-6655 • Responsabilidade editorial: Diretoria do SindCT • Tiragem: 5.000 (2.500 assinantes eletrônicos) • Editor responsável: Pedro Pomar (MTb 14.419-SP) • Reportagem: Antonio Biondi (MTb 17.486-SP) e Shirley Marciano (MTb 47.686-SP) • Diagramação: Sergio Bastos (MTb 585-PA)• http://www.sindct.org.br • [email protected]

ediTorial

Charge do Mês

A ação sindical sob análise

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Agosto de 2016 n JornAl do sindCt 3

Hoje é muito simples ter acesso à previ-são do tempo. Ela

é recebida através dos noti-ciários ou mesmo por meio de uma simples busca na Internet. Porém, para que as informações cheguem aos usuários neste formato, existe um longo caminho a ser percorrido. Por haver uma gama consideravel-mente grande de variáveis climáticas, tal tarefa torna--se muito complexa, exigin-do para tanto a aplicação de alta tecnologia.

Para obter os dados me-teorológicos, ainda sem o devido tratamento, são uti-lizados alguns dispositivos em solo, mas a maioria de-les é coletada pelos satélites posicionados no espaço. Eles enviam os dados às an-tenas terrestres, as quais re-transmitem para os centros — como o de Previsão de Tempo e Estudos Climáti-cos (CPTEC) — para serem gravados e processados.

Esse processamento nada mais é do que a decodi-ficação, por meio de softwa-res desenvolvidos e testados exclusivamente para essa

finalidade, do que foi coleta-do. Pois bem, para criar um programa que execute esse trabalho é necessário, antes de tudo, que sejam com-preendidos os fenômenos. Isto é realizado através do desenvolvimento de mode-los matemáticos e compu-tacionais. Ou seja, a partir de um episódio meteoroló-gico, num dado momento, são desenvolvidas equações matemáticas, e seu resultado será um modelo de referên-cia, que servirá para prever eventos subsequentes.

O processo de modela-gem para obtenção de da-dos meteorológicos é parte das diversas atividades de pesquisa que estão sob a responsabilidade da equipe do Laboratório Associa-do de Computação Mate-mática Aplicada do Insti-tuto Nacional de Pesquisas Espaciais (LAC-INPE), um dos quatro laborató-rios integrantes da Coor-denação de Laboratórios Associados de Tecnologias Especiais (CTE). Os outros são os de Plasma (LAP), de Sensores e Materiais (LAS) e de Combustão e Propulsão (LCP).

“Nós atendemos deman-das que nos chegam e cria-mos os modelos, mas para

isto é necessário muito co-nhecimento prévio. Por essa razão, temos que acompa-nhar as pesquisas que aqui estão, o estado da arte das diversas áreas de atuação do nosso laboratório”, destaca Elbert Einstein Nehrer Ma-cau, do LAC.

Na mesma linha do que é realizado para a meteorologia, essa equi-pe inter e multidisciplinar — composta por enge-nheiros da computação e da ciência computacional, engenheiros mecânicos, físicos, meteorologistas, físicos nucleares, cosmolo-gistas — desenvolve tam-bém modelagem matemáti-ca e computacional para as áreas de sensoriamento remoto, geofísica espacial, processamento de imagens, astrofísica e engenharia ae-roespacial.

“Para engenharia espa-cial, por exemplo, temos que testar exaustivamen-te os softwares porque, se ocorrer um erro num saté-lite, a missão pode até ser perdida. É um trabalho que exige um alto nível de con-fiabilidade”, explica NL Vi-jaykumar, um dos primeiros pesquisadores do Laborató-rio.

O LAC e os demais la-

boratórios pertencentes ao CTE desenvolvem pesquisas que atendem a diversas co-ordenações do INPE, como as de Engenharia (ETE), de Clima Espacial, de Observa-ção da Terra (OBT), além do CPTEC e outros. “As outras coordenações são temáticas. Aqui é diferente. Nós do LAC desenvolvemos me-todologias que são usadas para as áreas do INPE”, diz Haroldo Fraga de Campos Velho. “Somos como um la-boratório ‘meio’ para atingir os fins do Instituto”, com-plementa Vijay.

Pós-graduação

O LAC, junto à Divisão de Processamento de Ima-gens (DPI-INPE) e com a colaboração de pesquisa-dores do DCTA, é respon-sável pela pós-graduação do INPE em Computação Aplicada. Neste programa são ministrados cursos e desenvolvidas pesquisas nas diversas áreas de atua-ção do laboratório.

“Aqui já formamos um grande número de profis-sionais que atuam em inú-meras áreas do INPE e de outras instituições de ensi-no e pesquisa. Através de orientações de teses, a nos-

sa pós-graduação permite a difusão, o desenvolvimento e a aplicação de pesquisas com reconhecida qualidade acadêmica”, resume o pes-quisador Solon Venâncio de Carvalho.

O LAC possui vários grupos de pesquisa:

l Computação Científica - desenvolve modelos mate-máticos e computacionais.l Engenharia de Software - estuda e aperfeiçoa técni-cas destinadas à área de en-genharia de satélites.l Inteligência Artificial - desenvolve programas que permitem ao compu-tador tomar decisões por meio de critérios pré-esta-belecidos.l Processamento de Alto Desempenho - são técnicas estudadas e desenvolvidas que possuem a finalidade de prover uma maior ve-locidade de um determina-do trabalho. É o caso, por exemplo, do supercompu-tador do CPTEC, que utili-za — para os casos em que os dados não dependam um do outro — processadores separados (paralelização). l Pesquisa Operacional - desenvolve técnicas e mo-delos que visam otimizar sistemas ou processos de decisão. Por exemplo, bus-car boas localizações para antenas receptoras de dados de satélites.

“Apesar da relevante contribuição que este labo-ratório traz em termos de de-senvolvimento de pesquisa na área de modelagem mate-mática e computacional, até 2020, corremos o risco de fi-car com apenas 50% da atu-al equipe — que hoje possui 20 pessoas — em decorrên-cia de aposentadorias”, ad-verte Ezzat Selim Chalhoub, chefe do LAC.

“Apesar da contribuição em termos de pesquisa de modelagem matemática e computacional,até 2020 corremoso risco de ficar com apenas 50% da atual equipe, em decorrência de aposentadorias”, adverte Ezzat Selim Chalhoub, chefedo LAC

Shirley Marciano

CiênCia e TeCnologia

LAC desenvolve modelos matemáticos para meteorologia e outras áreas do INPE

COMPUTAÇÃO MATEMÁTICA APLICADA

Equipe do LAC

Shirley Marciano

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Jornal do SindCT n agoSTo de 20164

Os grandes jornais do país lançaram uma campanha

difamatória contra o au-mento dos servidores pú-blicos federais. Os pro-jetos de lei que tratavam do reajuste do funciona-lismo público federal (de números 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33 e 34 de 2016) já foram aprovados pelo Congresso e sancionados pelo presidente interino, Michel Temer.

A grande mídia não levou em consideração o histórico de cada carreira e muitos outros fatores determinantes, a saber: a maioria estava com o sa-lário defasado por causa da inflação e pela falta de reajuste por um lon-

go período. Além dessas questões, é salutar a ob-servância de que esses números que foram am-plamente divulgados tra-tam de um percentual de reajuste que será escalo-nado por até quatro anos. Pela forma que se coloca, parece que haverá um au-mento de uma só vez.

Até a mídia progres-sista caiu nessa história. O maior problema é que noticiaram sem qualquer análise. Deveriam ter le-vado em consideração que a maioria dessas ne-gociações ocorreu ainda na gestão da presiden-ta Dilma Rousseff, em 2015. Os servidores do setor espacial, que são representados pelo Fó-rum de C&T, do qual o SindCT faz parte, con-seguiram uma correção pífia: apenas 10, 8%, di-vididos em duas parcelas anuais. A primeira par-cela será paga em agosto deste ano e a segunda em janeiro de 2017, o que não cobre nem mesmo a inflação. Para se ter uma ideia, a inflação do perío-do medida no acumulado

do ano anterior ficou em 10,67%, segundo dados oficiais do IPCA.

A última atualização de perdas salariais das carreiras de C&T acon-teceu em junho de 2009, após 12 anos sem corre-ção. Depois, um acordo em 2012estabeleceu uma correção dividida em três anos (jan de 2013, 2014 e 2015), totalizando 15,8%. Ocorre que, de ju-nho de 2009 a dezembro de 2012 o IPCA acumu-lado foi de 23,16%, perda esta elevada a 32,5%, em dezembro de 2015, por acréscimo da diferença da inflação para os 15,8% concedidos. Ou seja, para zerar as perdas inflacio-nárias desde junho de 2009, os servidores da C&T deveriam ter em agosto deste ano um rea-juste de 33%.

“Embora estejamos num momento de cri-se, acredito que nenhum trabalhador, de nenhum setor, deve pagar essa conta”, ressalta Ivanil Elisiário Barbosa, presi-dente do SindCT e secre-tário executivo do Fórum

de C&T, colegiado que congrega representantes de sindicatos e associa-ções dos servidores de C&T de todo o país.

Conforme as planilhas apresentadas pelo Mi-nistério do Planejamen-to, Orçamento e Gestão (MPOG), de 2016 a 2018, haverá um gasto em torno de R$ 67 bilhões a mais com a folha de pagamen-to. Porém, o reajuste que escandalizou a todos foi o dos magistrados, desem-bargadores e ministros de tribunais superiores, no valor de 41,5%. Até mesmo esse aumento é resultante da soma de per-centuais, que foram esca-lonados em quatro anos, em oito vezes. Mas não deixa de ser um reajuste impactante, considerada a atual crise do País.

Os reajustes

O PLC 27/2016 eleva o subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para R$ 36.703,88, a partir de 1º de junho de 2016, e para R$ 39.293,32, a partir de

1º de janeiro de 2017. O PLC 28/2016 eleva para os mesmos valores e nos mesmos períodos o sub-sídio do procurador-geral da República.

Já o PLC 30/2016 con-cede reajuste escalonado, começando por 5,5% a partir de janeiro de 2016, aos servidores da Câmara dos Deputados. Na sequ-ência, o PLC 31/2016 fixa aumento para os servido-res efetivos do Tribunal de Contas da União (TCU) de 12,98% em 2016. E o PLC 32/2016 reajusta o subsí-dio do defensor público federal para R$ 31.557,21 a partir de 1º de julho de 2016, prevendo outros aumentos até chegar a R$ 33.763 a partir de 1º de ja-neiro de 2018.

Por fim, o PLC 33/2016 procura recom-por perdas com a infla-ção de diversas catego-rias ligadas ao Poder Executivo, enquanto o PLC 34/2016 altera re-gras de remuneração, promoção e incorporação de gratificação de servi-dores públicos da área de educação.

Carreira teve perdas de 33% desde 2009 e nos próximos dois anos terá somente 10,8% de correção. Mas a mídia finge ignorar isso: quer mais e mais arrocho salarial

REAJUSTE SALARIAL DA CATEGORIA

nosso TraBalho

Shirley Marciano

Correção dos servidores federais de C&T está aquém da inflação, mas há quem ache muito!

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Agosto de 2016 n JornAl do sindCt 5

nosso TraBalho

Em 2015 os servidores públi-cos federais que atuam na área de Ciência e Tecnologia firmaram um acordo com o governo pre-vendo, dentre outros pontos, um reajuste salarial de 10,8% par-celado em duas vezes (5,5% em agosto de 2016 e 5,0% em janeiro de 2017). Atuam nesta catego-ria pesquisadores, engenheiros, técnicos, pessoal de gestão e de apoio de institutos públicos de pesquisa ligados ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), e a ou-tros ministérios nas áreas de saú-de, cultura, defesa, dentre outros (veja p. 4).

Os termos deste acordo foram incorporados ao Projeto de Lei Complementar PLC-33/16, que tramitou em regime de urgência pela Câmara dos Deputados e Se-nado Federal. Quando o projeto se encontrava no Senado foram detectados erros em sua redação, dentre os quais um que afetava di-retamente a categoria dos técnicos e auxiliares técnicos da carreira de C&T. Por falha na reprodu-ção de uma tabela, esta catego-ria ficaria impedida de receber a integralidade de sua Gratificação de Qualificação (GQ), podendo representar um corte de até 40% no salário destes servidores.

Assim que o erro foi detecta-do, o Fórum de C&T, que reúne a representação dos servidores das carreiras de C&T em todo o país, elaborou duas emendas de correção ao PLC-33 encampadas pela senadora Vanessa Grazzio-tin (PCdoB-AM), que acabaram sendo rejeitadas tanto nas comis-sões quanto no plenário do Se-nado. Com isso o projeto seguiu para sanção presidencial com os erros de redação, mantendo a

ameaça de corte no salário dos técnicos e auxiliares técnicos da carreira.

Mobilização e unidade

Com o PLC-33 aprovado no Congresso e aguardando apenas sanção presidencial para entrar em vigor, o corte da GQ dos ser-vidores técnicos passou a ser imi-nente. Foi quando toda a catego-ria se uniu como poucas vezes na história na defesa de seus interes-ses. Por meio de assembleias cada vez mais cheias, os servidores do Departamento de Ciência e Tec-nologia Aeroespacial (DCTA), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Centro de Mo-nitoramento de Riscos e Desastres Naturais (Cemaden) deliberaram, por unanimidade, por encaminhar ao Fórum de C&T a proposta de lema “MP ou VETO”, por meio da qual foi exigido que o governo editasse uma Medida Provisória (MP) corrigindo todos os erros de redação do PLC-33 ou, caso isso não se concretizasse, que as car-reiras de C&T fossem então reti-radas integralmente do escopo do projeto de reajuste.

Tratou-se de uma medida ex-trema mas necessária, de forma a não se cometer injustiça contra uma parcela importante das car-reiras de C&T. Os servidores de

C&T estão organizados em tor-no de uma carreira unitária, que engloba profissionais de nível superior, intermediário e auxi-liar de três carreiras (pesquisa, desenvolvimento tecnológico e gestão). Para o Fórum de C&T seria inadmissível que um projeto de lei autorizasse reajustes sala-riais para uma parte dos servido-res, ao mesmo tempo que reduzia drasticamente os salários de ou-tros servidores. Esta medida, ao mesmo tempo que evitou perdas salariais severas para cerca de 8 mil servidores técnicos e auxilia-res-técnicos, manteve a unidade das Carreiras de C&T, segundo a máxima “mexeu com um, mexeu com todos”.

Os servidores se mobiliza-ram para pressionar o governo a solucionar o problema que ele próprio criou por meio de mani-festações, atos públicos, pressão sobre técnicos do MPOG e Casa Civil e até greve. Enquanto os servidores do Instituto de Pes-quisas Energéticas e Nucleares (IPEN) paralisaram suas ativi-dades, os servidores do DCTA, INPE e Cemaden deliberaram por dar início a uma greve que só não chegou a ser implementada pelo fato do governo ter firmado entendimento, técnico e jurídico, de que seria possível implemen-tar o pagamento integral da GQ

aos técnicos independentemente dos erros presentes no PLC-33.

Lei 13.324/16 e PL

Finalmente, diante a pressão e mobilização dos servidores da C&T em todo o país, o governo assumiu o compromisso de que o pagamento integral aos servido-res será feito apesar dos erros de redação detectados. Por enquanto, o PLC-33/16 foi sancionado, con-vertendo-se na Lei n° 13.324/16, que não trouxe nenhuma das cor-reções pleiteadas pelas carreiras de C&T. Mas, paralelamente, o governo interino elaborou pro-jeto de lei que implementa todas as correções necessárias à Lei 13.324, o qual passará a tramitar em rito ordinário nas duas casas do Congresso Nacional.

Com isso ficou garantido o pa-gamento — integral e reajustado — da GQ a todos os servidores que fazem jus a esta gratificação. Outro erro contido na Lei 13.324/16 diz respeito à inclusão das carreiras de C&T no dispositivo que concede direito à incorporação da chama-da Gratificação por Desempenho em Atividades de C&T (GDACT) aos vencimentos de aposentadoria dos servidores que estão para se aposentar, de forma parcelada ao longo de três anos, até se atingir a incorporação integral.

Trata-se de uma conquista im-portante para muitas carreiras do funcionalismo federal, mas que as carreiras de C&T já haviam con-quistado em campanhas salariais passadas, quando seus servido-res passaram a perceber a inte-gralidade da GDACT nos seus proventos de aposentadoria. O governo entendeu não ser neces-sário corrigir este dispositivo da lei uma vez que a adesão do ser-vidor é facultativa. Assim, bastará que o servidor que esteja se apo-sentando não opte por fazer jus a este “direito” para que a GDACT seja incorporada integralmente à sua aposentadoria.

Após greve e mobilizações, servidores daC&T garantem reajuste a toda a categoriaErro de redação no PLC-33 ameaçou corte na GQ e prejuízo de até 40% nos vencimentos dos servidores técnicos

Aprovação de greve em 25/7/2016, em frente ao INPE

Fernanda Soares

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Jornal do SindCT n agoSTo de 20166

DEDICAÇÃO COMPENSA FALTA DE PESSOAL, MAS CENÁRIO TENDE A SE AGRAVAR

CiênCia & TeCnologia

SMD a todo vapor para entregar sistemas e dispositivos do CBERS-4A e Amazônia-1

Todo satélite é cons-tituído por uma es-trutura formada por

placas, sistemas e disposi-tivos mecânicos específi-cos. Por essa razão, é pre-ciso que essas peças sejam projetadas e fabricadas ex-clusivamente para atender cada objetivo. O setor res-ponsável por esse trabalho entrega vários conjuntos, porque são realizados pelo menos três tipos de testes com o satélite integrado ou simuladamente monta-do: o elétrico, o térmico e o de voo. No elétrico pra-ticamente só haverá uma carcaça do satélite, mas nos testes térmicos e de voo todos os componentes precisam estar presentes. Na maioria dos casos, o material utilizado nessa estrutura é o alumínio ae-ronáutico, matéria-prima que consiste de uma liga mais leve, mais dura e mais resistente aos extre-mos de temperatura.

Todo esse processo de engenharia mecânica no desenvolvimento de proje-to, usinagem (torneamento, fresagem, retífica e ajusta-gem) e soldagem elétrica é realizado pela equipe do Setor de Manufatura e De-

senho (SMD), vinculada à Coordenação-Geral de Engenharia (ETE) do Insti-tuto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A SMD atende a todas as demandas do instituto, mas em es-pecial às da ETE. No mo-mento, os carros-chefe são os satélites CBERS-4A e o Amazônia-1, além do Mi-rax, um satélite científico.

Os pedidos chegam à SMD já com as especi-ficações técnicas, e suas equipes encarregam-se de elaborar o projeto, o dese-nho e a fabricação. Para o Amazônia-1, por exemplo, já estão trabalhando no modelo de voo.

O ritmo de trabalho é intenso: a equipe não parou um minuto sequer enquanto a reportagem es-teve no local.

Ritmo acelerado

Por intermédio dos computadores são previa-mente realizadas as pro-gramações de corte das peças, linha por linha. Assim, é feita uma si- mulação virtual. Se estiver tudo correto, é enviado a uma das três máquinas, que deve cumprir a referi-da missão. Os desenhos

com os respectivos co-mandos são enviados para computadores ligados às máquinas, que são opera-das por especialistas.

“Estamos num ritmo bem acelerado. Só para se ter uma ideia, temos de en-tregar cerca de 500 roscas postiças para o CBERS--4A num tempo exíguo. Ou seja, o volume de tra-balho é grande e contamos com uma equipe bastante reduzida. São 18 pesso-as, sendo que somente sete são do INPE, porque as demais são bolsistas”, explica Laércio Siqueira, chefe do SMD.

De acordo com ele, o grupo, que inclui os bol-sistas, é muito unido, com-prometido e trabalha com notável força de vontade, mas tende a tornar-se ain-da menor nos próximos meses. No final de 2016 a SMD deverá perder seu único soldador, por apo-sentadoria.

“Não é qualquer sol-dador. Temos aqui profis-sionais com treinamento específico para a área es-pacial. As soldas têm uma precisão absolutamente fina, porque as fazemos para vácuo, por exemplo, e isso significa que qualquer

microfuro pode causar pro- blema”, conta. O problema é ainda mais grave: “Hoje, se não tivéssemos mecânico bolsista, não daria para fa- zer o trabalho”.

Reservatórios

Como mencionado, o SMD também atende de-mandas de outras coorde-nações. É o caso dos proje-tos sob a responsabilidade da Coordenação de Ob-servação da Terra (OBT). “Aqui projetamos e fabrica-mos plataformas de moni-toramento dos reservatórios brasileiros, como os de Fur-nas, Mamirauá, Itaipú, Fu-nil e muitos outros, através do projeto Sistema Integra-do de Monitoramento Am-biental (SIMA)”, explica Geraldo Orlando Mendes, único soldador especializa-do do SMD.

O SIMA vale-se de plataformas flutuantes ancoradas, nas quais são instalados sensores meteorológicos e de qualidade da água. Um sistema eletrônico realiza o controle, o armazena-mento e a transmissão via satélite (CBERS, SCD e NOAA) das informações. Numa torre instalada no

centro das plataformas são afixados os painéis solares para carregar baterias, sensores meteorológicos e antena para transmissão dos dados. No vão central, um compartimento abriga a eletrônica do sistema, baterias e transmissor de satélite.

A equipe da SMD rela-ta a necessidade de fazer manutenção preventiva e também corretiva das di-versas máquinas da oficina mecânica. De acordo com eles, algumas estão com “vícios” e, por essa razão, exigem vigilância maior de quem opera e conhece tais problemas. Caso con-trário, acabam executando o trabalho com falhas.

“Temos dispositivos com ranhuras muito finas, com espessura equivalente a um fio de cabelo, então qualquer imprecisão de uma máquina pode exi-gir um retrabalho. Além disso, o alumínio exige, além de uma capacitação profissional maior, máqui-nas muito bem ajustadas, principalmente para peças menores que precisam ser transformadas em forma-tos mais detalhados”, ex-plica Laércio.

Outra questão levanta-da pelo setor é a neces-sidade da compra de uma máquina que funciona so-bre cinco eixos, em sub-stituição de uma com três, de forma a modernizar a atividade no que tange à qualidade e à velocidade de fabricação.

Veja mais detalhes: http://jornaldosindct.sindct.org.br/index.php?q=node/282.

Setor de Mecânica e Desenho depende de bolsistas para completar equipe e logo perderá seu único soldador. Também precisa de uma máquina mais moderna, com cinco eixos

Shirley Marciano Equipe do SMD

Shirley Marciano

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Agosto de 2016 n JornAl do sindCt 7

Em meio ao cenário de turbulência e in-definição política, o

Ministério da Defesa (MD) atua em Brasília pela cria-ção de uma nova empresa estatal, a Alada - Empresa de Projetos Aeroespaciais do Brasil S.A., voltada ao desenvolvimento de inicia-tivas no âmbito do Progra-ma Nacional de Atividades Espaciais (PNAE).

Anunciado pelo MD de modo mais assertivo no fi-nal de 2015 (quando o pro-cesso de impeachment da presidenta Dilma Rousseff ainda não havia sido inicia-do), o projeto ganhou novo impulso nos últimos meses, a partir de gestões da De-fesa junto à Casa Civil do governo interino de Michel Temer. Em novembro de 2015, por exemplo, o Pro-grama “FAB Entrevista”, do canal da Força Aérea Brasileira (FAB TV), en-trevistou o comandante da Aeronáutica, tenente-briga-deiro Nivaldo Luiz Rossa-to, que destacou a perspec-tiva de criação da Alada.

O caminhar da iniciati-va, atualmente sob análise do Ministério do Planeja-mento, Orçamento e Ges-tão (MPOG), dialoga não somente com as disputas

mais gerais da política na-cional, mas reflete, sobre-tudo, as indefinições da política nacional para o se-tor. Compreender e debater melhor o projeto da Alada pode colaborar, nesse sen-tido, para lançar luz sobre a pergunta que precede a própria criação da empre-sa: o que o Brasil deseja do PNAE e como pretende chegar a esse objetivo?

De acordo com a As-sessoria de Imprensa da Força Aérea Brasileira, a Alada, que se vincularia ao MD por meio do Coman-do da Aeronáutica (Coma-er), “tem como objetivo principal atuar no âmbito de projetos e tecnologias aeroespaciais sensíveis, atendendo a imperativos de segurança nacional”. A empresa visa, nesse senti-do, “ao desenvolvimento do mercado de produtos de defesa, que envolve várias outras empresas e segmen-tos, que farão parte também dessa cadeia produtiva, com a consequente geração de novos empregos de alta qualificação”.

Questionado se a em-presa estatal terá como objetivo principal comer-cializar o foguete VSB-30 e se também se destinará à comercialização de satéli-tes, o Centro de Comunica-ção Social da Aeronáutica (CCS) declarou ao Jornal do SindCT que “a Alada po-derá participar de projetos inseridos no PNAE, em es-pecial, no desenvolvimento de veículos lançadores de satélites e microssatélites”.

Além dos itens citados acima, a Alada terá como objetivo “estimular e apoiar técnica e financeiramente as atividades de pesquisa e de desenvolvimento cientí-

fico, tecnológico e de ino-vação do setor aeroespacial ou setores afetos ao seu ob-jeto social, inclusive pela prestação de serviços; em busca da autossuficiência nacional nas áreas espacial e aeronáutica”. A criação da empresa também passa pela expectativa de se “re-verter a indesejável situa-ção atual, de forte depen-dência dos fornecedores estrangeiros, especialmente para materiais que envol-vem tecnologias sensíveis e sofrem restrições para ex-portação”.

“Velhos vícios”

Matias Spektor, profes-sor de Relações Internacio-nais da Faculdade Getúlio Vargas (FGV) e colunista da Folha de S. Paulo, afir-mou, em texto publicado em 23 de junho (“Caiu do Céu”), que a ideia da cria-ção da estatal aeroespacial pela Aeronáutica “reproduz os velhos vícios que con-denaram o programa es-pacial brasileiro ao atraso: um cheque em branco para uma empreitada de resulta-do duvidoso e sem garan-tia de receitas, que ainda incentiva a canibalização entre Aeronáutica, Instituto Nacional de Pesquisas Es-paciais, Telebras e outras”, que possuem anos de expe-riência e vasta expertise em projetos no setor.

Por outro lado, empre-sas privadas como Avibras e Embraer (esta, uma ex--estatal privatizada na era FHC), por exemplo, que atuam na área e são parcei-ras estratégicas do governo (dispondo de livre acesso a polpudos recursos públi-cos), encontram-se entre os outros atores do setor espa-

cial que podem ser afetados pela perspectiva de criação da Alada.

A Embraer é sócia do governo federal na Visiona (ao lado da Telebras), ten-do como principal projeto nesse primeiro momento da empresa mista a construção do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC). Já a Avibras atua em uma série de projetos e iniciativas com o MD, entre as quais o desenvolvimen-to do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM-1), e recebe recursos da Finan-ciadora de Estudos e Proje-tos (Finep), agência federal de fomento.

Ao nos depararmos com todas essas questões, im-possível ao leitor atento não indagar, por exemplo, qual a relação entre a criação da Alada e o fracasso da par-ceria entre Brasil e Ucrânia na Alcantara Cyclone Spa-ce (ACS), empresa binacio-nal hoje em processo oficial de extinção. Ou mesmo se há algum vínculo entre a ideia da Alada e a “morte” do projeto Veículo Lança-dor de Satélites-1 (VLS-1), anunciada no início de 2016. Ou, ainda, se o pro-jeto de criação da nova es-tatal tem algo a ver com as dificuldades verificadas nos contratos sob responsabili-dade da Mectron-Odebre-cht. E, a pergunta principal, mais uma vez a martelar: que modelo será aplicado no setor aeroespacial brasi-leiro, afinal?

Quanto à capitaliza-ção inicial da empresa e ao questionamento sobre quem responderá pela in-jeção inicial desses recur-sos, o CCS informou que a Alada será uma empresa pública não dependente,

com aporte de capital ini-cial feito por integralização prevista na Lei Orçamentá-ria Anual (LOA) — ou seja, o montante inicial dessa ca-pitalização deve ter origem em recursos da União. A partir desse primeiro movi-mento, “com a implantação escalonada de suas ativida-des, a Alada terá também como fonte de recursos os potenciais contratos co-merciais e convênios que venham a ser firmados com outras instituições públicas e civis, nacionais e estran-geiras que demandem seus produtos”.

Segundo o ministro interino da Defesa, Raul Jungmann, a criação da Alada é “parte de um eixo muito mais amplo para tra-balhar fontes alternativas e novos modelos de financia-mento” (que pode passar, ainda, pela criação de uma outra empresa pública liga-da à Aeronáutica).

O Jornal do SindCT perguntou à Aeronáutica, por fim, como será a ges-tão da empresa e se já es-tão definidos os nomes de sua diretoria e conselho de administração. O CCS afirmou que, quando fo-rem definidos os quadros de diretores e do conselho de administração, a Alada seguirá o preconizado na Lei 13.303/2016, conheci-da como “Lei de Respon-sabilidade das Estatais”. Promulgada em 30 de ju-nho de 2016, sob o governo interino de Michel Temer, essa lei dispõe sobre o esta-tuto jurídico das empresas públicas, das sociedades de economia mista e de suas subsidiárias, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-nicípios.

PROJETO ENCONTRA-SE SOB ANÁLISE DO MPOG

CiênCia & TeCnologia

Defesa encaminha criação da Alada, empresa estatal do setor aeroespacialCompreender e debater o projeto da Alada pode colaborar para lançar luz sobre a questão que precede a própria criação da empresa: o que se deseja do PNAE e como chegar a esse objetivo?

Antonio Biondi

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Jornal do SindCT n agoSTo de 20168

O mês de agosto, tão definitivo para o Brasil em outros

períodos, pode voltar a marcar a história nacional. Agosto de 1954 foi revira-do pela comoção popular gerada pelo suicídio de Getúlio Vargas, que adiou o golpe. Agosto de 1961 (renúncia de Jânio Qua-dros e golpe dos ministros militares contra a posse do vice João Goulart) seria a primeira etapa da tomada do poder por militares e elites que se desenhava desde os anos 1930. Em 2016, agosto pode vir a marcar o fim definitivo do segundo mandato da pre-sidenta Dilma Rousseff (PT), escolhida por maio-ria popular na eleição pre-sidencial de 2014.

Governo interino e a presidenta afastada tra-vam uma batalha silen-ciosa, de bastidores, por votos no Senado. Aber-tamente ninguém ousa falar em números de vo-tação — como ocorreu tanto durante o processo da Câmara. Segundo um dos assessores do PT no Senado, isso faz parte da tática de não chamar atenção ao processo. Mas também porque os núme-ros são muito divergentes

entre os mais otimistas e pessimistas.

Certo apenas que os argumentos jurídicos que supostamente sustenta-vam a base para o impe-achment estão cada vez mais fracos. Um parecer do Ministério Público Fe-deral (MPF), consultado sobre o tema, apontou que os atrasos em repasses do Tesouro ao Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BN-DES) “não foram emprés-timos ilegais”. Também perícia da assessoria téc-nica do Senado informou à Comissão do Impeach-ment que não houve par-ticipação direta da presi-denta Dilma nas chamadas “pedaladas fiscais”.

“Essas duas conclu-sões somadas mostram que não há pressuposto jurídico para o afastamen-to”, afirma Gabriel Sam-

paio, um dos advogados de defesa de Dilma Rous-seff. “Ficam cada vez mais robustas as provas de que a presidenta é inocente”.

A própria prática do governo interino mostra que os argumentos sobre “irresponsabilidade fis-cal” tiveram apenas uso político momentâneo con-tra Dilma. Em menos de três meses da gestão pro-visória de Michel Temer (PMDB), o Tribunal de Contas da União (TCU) deu quatro permissões para que ele editasse Me-didas Provisórias (MPs) com crédito suplemen-tar. As editadas por Dil-ma, porém, foram usadas como alegações favorá-veis ao seu impeachment.

Se formalmente o pedi-do de cassação tem perdi-do muito de seus argumen-tos jurídicos, a coligação político-midiática que o

sustenta segue operando para garantir legitimidade ao afastamento. O último passo foi a pesquisa Da-taFolha que deduziu que metade da população bra-sileira quer “Temer como presidente até 2018”, sem nem ter colocado a per-gunta como opção, como registrou o jornalista Glenn Greenwald.

O bote...

Enquanto não estão claras as peças no tabulei-ro da última e decisiva vo-tação, o governo interino de Temer tem fomentado suas pautas a fogo brando. O próprio interino anun-ciou em entrevista que não tem medo de tomar “medidas impopulares”. Em paralelo, chovem os chamados “balões de en-saio” — notícias vagas em jornais, sem fontes especí-

ficas, apenas citando “go-verno planeja”, e apontan-do medidas genéricas. É a forma clássica de preparar terreno para o que virá.

“Serão medidas im-populares, que precisarão desse contexto político de caos para despistar o povo”, declarou o advo-gado Ricardo Gebrim, da Consulta Popular, em entrevista ao Jornal do SindCT. Pelos próprios “balões de ensaio” já é possível se ter uma ideia do ‘saco de maldades’ que virá por aí (ver quadro). Na visão de Gebrim, o pa-cote de medidas tem duas frentes principais: a redu-ção da Previdência e de direitos trabalhistas, para permitir ao governo fe-deral pagar mais juros da dívida pública; e a venda de estatais e reservas na-turais a empresas estran-geiras. g

Desfecho da batalha do impeachment será decisivo para direitos e conquistas sociaisÀ espera de um sinal definitivo do Senado sobre o futuro da presidenta Dilma Rousseff, o governo interino encabeçado por Michel Temer prepara o bote para retomar o projeto neoliberal

PARECERES DO MPF E PERITOS DO SENADO ENFRAQUECEM ACUSAÇÕES CONTRA DILMA

Daniel Merli

Brasil

Manifestações pelo "Fora Temer" perderam algum fôlego, mas continuam a multiplicar-se

Rovena Rosa/Agência Brasil

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Agosto de 2016 n JornAl do sindCt 9

Brasil

Direitos trabalhistas:- Apoio a projetos de terceirização- Apoio ao “negociado sobre o le-

gislado”.Previdência Social:- Reforma e reajustes dos benefí-

cios. Proposta de idade mínima e des-vincular os reajustes do salário mínimo

- Medida Provisória 739. Permite a realização de perícia médica para rea-valiação de todos que recebem o auxí-lio-doença.

Serviços públicos:- PEC 241/2016- A proposta visa

instituir um novo regime fiscal ou um novo teto para o gasto púbico, que terá como limite a despesa do ano anterior corrigida pela inflação. A regra de con-gelamento do gasto público em termos reais valerá por 20 anos.

* O Brasil teria deixado de inves-tir R$ 3,2 trilhões na área social entre

2003 e 2015 se a PEC 241 estivesse em vigência nesse período, segundo esti-mativa do professor de economia Da-niel Arias Vazquez, da Unifesp.

Educação:Conselho Nacional de Educação:

dos seis nomes indicados pelo presi-dente interino, quatro estão ligados à iniciativa privada. Ele também vetou quatro nomes que haviam sido indica-dos anteriormente por Dilma.

Economia:O novo presidente da Petrobras,

Pedro Parente, vendeu à empresa no-rueguesa Statoil, por R$ 2,5 bilhões, o campo de petróleo de Carcará, avalia-do em pelo menos R$ 22 bilhões. Além disso, os golpistas pretendem abrir to-talmente as reservas do Pré-Sal ao ca-pital externo e reduzir a participação da Petrobras, além de acabar com a políti-ca de componentes nacionais.

Os ataques do governo Temer

A ampliação da Des-vinculação de Recursos da União (DRU), que per-mite usar dinheiro da saú-de e educação para, entre outras frentes, pagar juros da dívida, é uma das pro-postas que Temer conse-guiu aprovar no Congres-so. “Enquanto as pessoas estiverem falando de ‘cor-rupção’ e pensando nos vilões escolhidos, como Eduardo Cunha, a DRU será aprovada”, avaliava Gebrim, que falou à re-portagem antes de o pro-jeto ir a voto. E acertou a previsão.

Por outro lado, a venda de patrimônio e reservas nacionais é outra parte do plano. Gebrim lembra que 46% do parque elétrico brasileiro ainda é estatal, e que poderia ser vendido a empresas estrangeiras. Bem como as reservas do Pré-Sal, que, com a lei proposta pelo senador José Serra (PSDB), inte-rinamente no Ministério das Relações Exteriores, pode sair das mãos da Pe-trobras.

O sociólogo Giovanni

Alves, professor da Uni-versidade Estadual Pau-lista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), vê o gol-pe brasileiro dentro do movimento internacional do capitalismo para ten-tar recuperar a vivacida-de da economia mundial, abalada desde a crise de 2008/2009, nos Estados Unidos e Europa. Giovan-ni atribui a esse movimen-to os ataques a governos populares na América La-tina, por meio de “golpes brancos”, como ele chama os corridos em Honduras, Paraguai e Brasil.

“Presenciamos um mo-vimento geopolítico que se compõe com o cenário de reordenação do Impé-rio neoliberal pós-crise financeira de 2008/2009”, avalia. Segundo o profes-sor Alves, o que está em jogo é a manutenção do poder de grandes empre-sas transnacionais sobre a economia brasileira. Re-cursos naturais e o orça-mento público estarão sob ataque dessas empresas na próxima quadra da histó-ria brasileira.

Olímpíadas: abertura "brindou" Temer com vaia fenomenal

O vice no exercício da Presidência em cerimônia de apresentação de novos oficiais generais

Comissão do Impeachment no Senado: alegações jurídicas da acusação não convencem

Roberto Castro/Agência Brasil

Marcos Correa/Agência Brasil

Antonio Cruz/Agência Brasil

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Jornal do SindCT n agoSTo de 201610

Ela foi uma luz em meio a um perí-odo de sombras.

Pagou o preço por desa-fiar a pobre lógica dos opressores durante o governo Vargas — e por enxergar humanidade em pessoas desprezadas pela sociedade, os doen-tes mentais. Há noventa anos, na Faculdade de Medicina da Bahia (na qual ingressou com ape-nas 16 anos), foi a única mulher entre 157 alunos. Despertou a atenção de um dos papas da psicaná-lise, Carl Jung. E deixou para a ciência brasileira um legado de abnega-ção, inovação e coragem. Esses foram alguns dos feitos da alagoana Nise da Silveira, cuja obra ga-nhou as telas de cinema com Nise – O Coração da Loucura, de 2015. O filme, dirigido por Ro-berto Berliner, traça o re-trato da médica psiquia-tra que deixou Alagoas na década de 1930, antes de completar trinta anos de idade, para encarar um período de eferves-cência política no Rio de Janeiro, então capital fe-deral, além do preconcei-to dos seus colegas médi-cos. À época, a principal prática no tratamento aos diagnosticados com

problemas mentais era a lobotomia, cirurgia em que se remove um pe-daço do cérebro do pa-ciente, limitando suas reações. Nise, vivida no filme pela atriz Glória Pires, propôs diálogo onde só existia força. “Não era a esquizofre-nia, era uma coisa po-lítica. Suas excelências pensam que trabalham com a cabeça. Pensam. Então não pode um mé-dico fazer operações terríveis de lobotomia e depois estudar o que os doentes faziam”, contou Nise em entrevista fei-ta pelo documentarista Leon Hirszman em 1986. Ela então propôs que os pacientes fossem ouvi-dos e que lhes fossem dadas ferramentas, para que expressassem suas sensações em trabalhos de arte. O trabalho acal-mava a esquizofrenia e permitia acesso aos comportamentos dos do-entes que, mesmo mui-tas vezes sem perspec-tivas de cura, ganhavam condições de convívio. Seus relatos chegaram ao renomado psicotera-peuta suíço Carl Jung, de

quem se tornou discípula e principal representan-te no Brasil. Muitas das obras produzidas pelos pacientes de Nise acaba-ram no Museu de Ima-gens do Inconsciente, com um acervo que fez parte da mostra “Brasil 500 anos”, no ano 2000.

Repressão

Nise foi além do seu tempo e acabou dura-mente reprimida pelo Es-tado Novo. Denunciada por uma enfermeira, aca-bou presa em 1936 pela polícia política de Getú-lio Vargas, que perseguia implacavelmente os co-munistas. Foi considera-da “subversiva” quando encontraram duas obras de Karl Marx em sua bi-blioteca.

Ficou atrás das grades por 18 meses no Presídio Frei Caneca, no Rio de Janeiro, onde dividiu a cela com Olga Benário. O escritor Graciliano Ra-mos, que também esteve preso no local à mesma época, relatou com de-talhes sua convivência com a psiquiatra no acla-mado Memórias do Cár-

cere, de 1953. Um trecho em especial se destaca: o descritivo de Ramos quanto ao que enxergou em Nise da Silveira. “A figura de Nise entrara--me fundo no espírito. Apesar de havermos fi-cado momentos difíceis um diante do outro, con-fusos, aturdidos, em vão buscando uma palavra, aquela fisionomia doce e triste, a revelar inteligên-cia e bondade, impres-sionava-me”, relatou.

Livre, Nise foi afas-tada do serviço público. Quase uma década de-pois, em 1944, conse-guiu voltar às atividades profissionais no Centro Psiquiátrico Pedro II. Lá, enfrentou novas difi-culdades, mas que não a impediram de consolidar suas ideias e implementar suas propostas. Entrou em atrito com o comando da casa por se recusar a fazer o tratamento pa-drão, que envolvia cho-ques, camisas de força e isolamento, entre outros métodos. Em sua luta, conseguiu criar a Seção de Terapia Ocupacional, na qual os pacientes dis-punham de um atelier

que dava aos pacientes a chance de se tratar com psicologia não-verbal.

“Não havia médicos vestindo jalecos, não ha-via enfermeiras. As mo-nitoras estavam ao lado dos doentes e apenas os ajudavam, trabalhavam com eles”, relatou no documentário ‘Olhar de Nise’, de 2015”, conti-nuando: “As portas e as janelas sempre abertas”. Com essa cultura, criou a Casa das Palmeiras, tam-bém no Rio de Janeiro, ativa até hoje no bairro de Botafogo. “O que me fascinava era o que acon-tecia dentro da ‘cuca’ do esquizofrênico, debaixo daquele aspecto miserá-vel, de alienado,” dizia.

Reconhecimento

Reconhecida inter-nacionalmente, Nise da Silveira escreveu diver-sas obras sobre Terapia Ocupacional e Psicanáli-se, além de ser uma das maiores representantes das teorias de Jung no Brasil. Sua vertente de-safiadora já podia ser vis-ta na primeira delas, g de 1926, sua tese de con-

Inteligência e bondade de Nise

Napoleãode Almeida*

Arquivo pessoal de Nise da Silveira Filme Nise – O Coração da Loucura/Reprodução

eduCação e CulTura

A Nise real e a personificada pela atriz Glória Pires no filme de Roberto Berliner

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Agosto de 2016 n JornAl do sindCt 11

“Eu senti meu coração acelerado, como se fal-tasse ar, uma pressão na cabeça, meu corpo tremia, tive dor no peito e fraque-za nas pernas. Cheguei ao hospital achando que iria morrer. Pouco depois pas-sou e é como se não tives-se tido nada”

Esse é um típico qua-dro de atendimento hospi-talar em que toda a família chega gritando, querendo atendimento urgente, pois o parente está morrendo — porém, minutos após, o desespero vai embora e “milagrosamente o pa-

ciente está curado”, ain-da que possa não ter sido usado nenhum tratamento medicamentoso.

O transtorno do pâni-co é um distúrbio de an-siedade que leva a crises de medo e desespero, que ocorrem em ataques ines-perados, durante 10 a 20 minutos em média. Pode ocorrer em qualquer idade, porém com uma predomi-nância maior em mulheres entre 18 e 35 anos.

A pessoa apresenta pal-pitação ou coração acele-rado, falta de ar, pressão na cabeça, ondas de calor ou frio, tonturas, tremores, fraqueza nas pernas, sen-sação de que vai morrer de

asfixia ou de desmaio, dor ou desconforto no peito, náuseas ou dor abdomi-nal, medo de enlouquecer, adormecimentos ou formi-gamentos.

Psicoterapia

Também pode ter medo de fazer as atividades mais simples como tomar ba-nho (por medo de morrer afogada), medo de sair de casa, de estar entre pesso-as, de estar em lugares fe-chados.

O tratamento médico com o uso de medicamen-tos é essencial para que o paciente tenha tranqüili-dade, organize seus pen-

samentos e emoções e possa — com a ajuda da psicoterapia — identificar e corrigir os fatores deter-minantes ou agravantes.

O não tratamento ade-quado pode levar a uma pior qualidade de vida, podendo ainda haver evo-lução para a depressão. Há ainda o risco de de-pendência química, espe-cialmente do álcool já que este funciona como um inibidor temporário da an-siedade.

Ainda que o tratamento médico seja importante, a psicoterapia é imprescin-dível.

*O autor é médico.

Arquivo pessoal de Nise da Silveira/Museu de Imagens do Inconsciente

clusão de curso, que aca-bou editada sob o nome Ensaio sobre a criminali-dade da mulher no Brasil. Entre os livros mais im-portantes, estão Terapia Ocupacional: Teoria e Prática e Casa das Pal-meiras, A Emoção de Li-dar, além de Jung: Vida & Obra, até hoje usado nas faculdades de psico-logia do País.

Nise recebeu do gover-no brasileiro a Ordem de Rio Branco pelo conjun-to de sua obra. Do Gru-po Tortura Nunca Mais, recebeu a Medalha Chico Mendes. Na França, foi homenageada pela cria-ção da Associação Nise da Silveira – Imagens do Subconsciente (Ima-ges de L’Inconscient, em francês), na Itália, com o Museo Attivo dele Forme Inconsapevoli e em Por-tugal, na Universidade do Porto, com o Centro de Estudos de Imagens do Inconsciente.

eduCação e CulTura

Outra paixão de Nise eram os animais. Ela de-senvolveu técnicas de re-lacionamento com cães e, especialmente, com gatos, aos quais era mais afeita. O livro Gatos, A Emoção de Lidar trata de como a responsabilidade em cui-dar de um animalzinho e compreender suas neces-sidades pode auxiliar do-entes a se recuperarem

Em 1999, Nise da Sil-veira descansou. Após um mês hospitalizada não resistiu a uma pneumonia e, aos 94 anos, morreu de insuficiência respiratória. Foi sepultada no Cemité-rio São João Batista, em Botafogo, perto da sua Casa das Palmeiras. Suas ideias seguem sendo im-portantes para o desen-volvimento da Terapia Ocupacional em todo o mundo.

*O autor é jornalista. Especial para o Jornal do SindCT

João Batistade Oliveira*

saúde

Síndrome do Pânico

Acima e à esquerda: Nise com seus pacientes.À direita: já bem idosa, com um dos gatos de que tanto gostava

Arquivo pessoal de Nise da Silveira/MII Filme Olhar de Nise/Reprodução

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Jornal do SindCT n agoSTo de 201612

Quando se fala em produção científica e desenvolvimento

tecnológico no Brasil, es-pecialmente no setor aero-espacial, uma cidade nunca deixa de ser citada: São José dos Campos. Todo o conhe-cimento que circula dentro das instituições de ensino e pesquisa que dão este status à cidade ganhará, em breve, mais dois espaços para serem compartilhados com a popu-lação. Mais especificamente, com as crianças e jovens, es-tudantes do Vale do Paraíba.

Até o fim do ano, o cam-pus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) deve abrir as primeiras exposições do Parque de Ciência e Tec-nologia. E em meados de 2017 deverá ser inaugurado o Centro Integrado de Educa-ção, um dos vários da Prefei-tura de São José dos Campos que farão parte do Complexo Maestro Sérgio Weiss.

O Parque de Ciência e Tecnologia é uma iniciati-va dos docentes do campus de São José dos Campos da

Unifesp. Em 2013, preocu-pados com a ausência de um espaço voltado ao ensino de ciências na ci-dade, um grupo decidiu apresen-tar um projeto ao Conselho Nacional de Desenvolvimen-to Científico e Tecnológico (CNPq) para criar o centro. “A maioria dos professores sentia falta de que, na cidade da ciência e tecnologia, hou-vesse uma estrutura voltada para a difusão científica”, co-menta o diretor do campus, Luiz Leduíno.

As estruturas do parque já foram construídas. Agora, professores e bolsistas tra-

balham na montagem dos experimentos que farão par-te da exposição permanente. Serão atividades nas áreas de Física, Química, Matemá-tica, Biologia e Engenharia — todas elas relacionadas aos cursos oferecidos pela universidade no campus lo-cal. “Os professores do curso de Ciência da Computação desenvolveram experimen-tos em realidade virtual que

serão o grande diferencial do parque e chamarão muita atenção”, acredita Leduíno.

Para o diretor do cam-pus, a criação de um cen-tro de difusão científica dialoga com a história do município, mas principal-mente ajuda a universi-dade a cumprir seu papel:

“É um direito das pessoas entenderem como funcionam as tecnologias que estão na sua vida: um celular, um com-putador. A ‘alfabetização cien-tífica’ faz parte da cidadania”.

Centro municipal

O Centro de Ciências do Complexo Maestro Sérgio Weiss será mais um espaço dedicado a esta “alfabetiza-ção” tão especial quanto im-portante.

Ele é apenas um dos vá-rios equipamentos públicos que estão sendo construídos no espaço da Vila Industrial que, por 34 anos, esteve ce-dido, irregularmente, ao São José Esporte Clube.

Um acordo entre Pre-feitura e clube permitiu que 70% do terreno de 74 mil metros quadrados, incluindo o antigo ginásio de esportes, tivessem novo destino. Ago-ra, o Teatrão dará lugar, além do Centro de Ciências, a es-paços de lazer e práticas de esportes, um Centro de Edu-cação (incluindo uma creche para atender 400 crianças) e um Centro de Eventos, que será usado para atividades re-

lacionadas à rede municipal de ensino e também alugado para terceiros, gerando renda que será destinada a um fun-do a ser investido na educa-ção do município.

No espaço dedicado às atividades de difusão cientí-fica, serão construídos quatro laboratórios de ciências, um herbário dedicado ao cultivo de espécies nativas da região e um museu com exposições permanentes e temporárias que devem abranger todas as áreas: biológicas, exatas e humanas. As atividades oferecidas serão realizadas pela Secretaria Municipal de Educação e pelas insti-tuições de ensino superior e de pesquisa instaladas em São José dos Campos: Ins-tituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto Tecnológico deAeronáutica (ITA), Universidade do Vale do Paraíba (Univap) e a pró-pria Unifesp. “São parcerias para fazer esta ponte entre a universidade e a educação básica”, afirma o secretário municipal de Educação, Luiz Carlos de Lima.

O Centro de Ciências também contará com um pla-netário e uma torre para a ins-talação de um observatório astronômico. “O planetário, além de permitir a observa-ção do universo e seu uso para a disseminação dos co-nhecimentos da astronomia, também poderá ser usado para outras projeções de in-teresse educativo e cultural”, explica Lima.

São José dos Campos ganha dois centros dedicados à difusão do conhecimento científico. Um deles funcionará em área ocupada durante 34 anos pelo São José Esporte Clube

Ciênciapara ser vista

CAMPUS DA UNIFESP IMPULSIONA NOVO PARQUE

nossa Cidade

Cristina Charão

Para ver o céu

Campus da Unifesp, onde seráinstalado o Parque de Ciência

Obras do novo complexo da Prefeitura: construção da nova cobertura metálica no antigo Teatrão

A população de São José dos Campos e Vale do Pa-raíba já conta com três observatórios astronômicos:

Miniobservatório Astronômico do INPEInaugurado em 2003, é vinculado ao projeto “Teles-

cópios na Escola”, cujo objetivo é estabelecer no país uma rede de observatórios astronômicos que possam ser operados remotamente por estudantes de todos os níveis. Escolas podem agendar visitas presenciais. Con-tato: [email protected], (12) 3208-7209

Observatório da UnivapPromove eventos gratuitos e regulares de observação

do céu. Acontecimentos — chuva de meteoros, eclipses, passagens de cometas — também podem ser acompanhados. Contato: http://www.univap.br/

Observatório Astronômico do IAE-DCTAAberto à visitação às terças-feiras a partir das 19h

(com céu limpo). Visitas escolares ou de grupos podem ser agendadas. Contato: (12) 39474987/5246 www.iae.cta.br/observatorio

Claudio Capucho

Jorge Hirata