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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO: “A VEZ DO MESTRE”
SÍNDROME DE DOWN E EQUOTEPAIA
MÁRCIA CRISTINA NEVES FERREIRA
ORIENTADORA: Prof. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro Fevereiro/2003
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO: “A VEZ DO MESTRE”
SÍNDROME DE E EQUOTERAPIA
MÁRCIA CRISTINA NEVES FERREIRA
Projeto de pesquisa apresentado como requisito parcial para obtenção
do Grau de Especialista em
Psicomotricidade.
Rio de Janeiro Fevereiro/2003
Às minhas filhas Paula e Thaís, a meu
marido Paulo e a meus pais pela
confiança e tranqüilidade que me
transmitem ao acreditarem na minha
vitória.
Meus agradecimentos à Professora
Fabiane Muniz pela colaboração que
se tornou relevante para a confecção
do presente trabalho.
Melhor estar preparado para uma
oportunidade e não tê-la do que tê-la e
não estar preparado.
(W. Yong, Jr.)
SUMÁRIO
Resumo __________________________________________________ 07
Introdução ________________________________________________ 08
Capítulo I – Síndrome de Down _______________________________ 09 1.1 – Conceituação ____________________________________ 09 1.2 – Características Físicas _____________________________ 11 1.3 – Diagnostico ______________________________________ 12 1.4 – Etiologia ________________________________________ 13 1.5 – Orientações Gerais ________________________________ 13 Capítulo II – Avaliação da Síndrome de Down ___________________ 15 2.1 – Avaliação Psicológica ______________________________ 15 2.2 – Estágios de Desenvolvimento do Portador da Síndrome____ 18 2.3 – Investigação de Habilidades Específicos _______________ 22 2.3.1 – Atividade Motora _________________________________ 22 2.3.2 – Organização Auditiva _____________________________ 23 2.3.3 – A Noção do Espaço ______________________________ 23 2.3.4 – Evolução da Fala ________________________________ 24 Capítulo III – Ações Integradas na Reabilitação de Crianças Portadora de Síndrome de Down __________________________ 30 3.1 – Considerações Gerais _____________________________ 30 3.2 – Intervenção Fisioterápica __________________________ 31 3.3 – Intervenção Fonoaudiológica _______________________ 33 3.4 – Intervenção Psicoterápica _________________________ 35 3.5 – Terapia Ocupacional ______________________________ 36 Capítulo IV – A Equoterapia: Recurso Terapêutico e Educacional __ 38 4.1 – Definição e Características __________________________ 38 4.2 – Metas do Tratamento ______________________________ 39 4.3 – Efeitos da Equoterapia _____________________________ 41 4.3.1 – Ativação Sensoperceptiva _________________________ 41 4.3.2 – Estimulação Sensoriomotora _______________________ 42 4.3.3 – Tonicidade Muscular _____________________________ 43 4.3.4 – Aspecto Psicossocial _____________________________ 44 Capítulo V – Planejamento da Equoterapia _____________________ 46 5.1 – A Anamnese ____________________________________ 46 5.2 – A Equipe de Trabalho______________________________ 46 5.3 – Tempo e Duração das Sessões de Equoterapia _________ 47 Conclusão ________________________________________________ 49 Bibliografia _______________________________________________ 51
RESUMO
A presente monografia nada mais é que um trabalho de pesquisa
direcionado principalmente para criança portadora da Síndrome de Down.
Na verdade, o leitor poderá, ao avançar nos capítulos, entender melhor o
por quê de se desenvolver este trabalho voltado para o estudo dos fatores que
acometem a criança em detrimento do adulto.
Os capítulos constituintes do corpo do trabalho dão pormenores sobre os
problemas que acompanham a Síndrome de Down, mostrando, em
conseqüência, as principais deficiências que se instalam no indivíduo portador
da mesma.
Em continuação, são detalhados os principais efeitos que o tratamento
com cavalo produz nos pacientes acometidos de restrições psicomotoras.
Por fim, em vista dos problemas instalados com a Síndrome e dos
resultados esperados com a equoterapia, pode a autora se manifestar sobre a
viabilização de aplicação de tal conduta terapêutica aos pacientes portadores
da Síndrome de Down.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo verificar a ação da Equoterapia no
desenvolvimento dos movimentos corporais e melhorar a utilização das
capacidades psíquicas nas crianças portadoras da Síndrome de Down.
A equoterapia é baseada na prática de atividades e técnicas de
equitação, sendo um tratamento complementar na recuperação e reeducação
motora e mental.
A relevância da convivência corporal no desenvolvimento da
aprendizagem é de forma prazerosa e descontraída com estímulos
experimentais de sentimentos, de equilíbrio, conscientização corporal,
trabalhados através de sentimentos de liberdade, independência, capacitação,
etc...
Diminuir a agressividade, tornar o paciente mais sociável, melhorar a
auto-estima, diminuir antipatia, construir amizade e treinar padrões de
comportamento como ajudar e ser ajudado, encaixar as exigências do próprio
indivíduo com as necessidades do grupo, bem como aceitar as próprias
limitações e as limitações dos outros representam metas que o presente
trabalho pretende atingir.
Desta forma, trata-se o binômio “Síndrome de Down e Equoterapia” de
assunto de grande interesse para a Psicomotricidade pois, embora constituindo-
se de um trabalho de pesquisa bibliográfica, pretende fazer um levantamento
dando ênfase a conceitos, definições e fazendo considerações sobre o
emprego de citada terapia como tratamento coadjuvante àquela
tradicionalmente adotados.
CAPÍTULO I – A SÍNDROME DE DOWN
1.1 Conceituação
A Síndrome de Down (SD) ou Mongolismo é uma das alterações
cromossômicas mais conhecidas e freqüente em humanos, ocorrendo na
proporção de um caso para 600 nascimentos.
Conforme Lefévre (1981) a "Síndrome de Down faz parte do grupo de
encelopatias não progressivas, isto é, que a medida que o tempo passa não
mostram acentuação da lentidão do desenvolvimento, nem o agente da
doença se torna mais grave".
Referida autora relata ainda que "Síndrome não representa uma
doença, mas simplesmente um erro ou acidente biológico (alteração genética)
que ocorre no estágio inicial do desenvolvimento do bebê, na época da
concepção".
A criança com Síndrome de Down têm um cromossomo extra nas
células do seu organismo que, com certeza, é o responsável pela produção
das alterações no seu desenvolvimento físico e mental.
Os cromossomos são pequeníssimas estruturas que contêm "fatores
hereditários ou genes"; Cada cromossomo tem milhares de genes e este
material genético é absolutamente crítico para o desenvolvimento e o
crescimento de qualquer organismo.
Amabis e Martho (1995), a respeito de tais estruturas, emitem a
seguinte definição:
Cromossomos são filamentos presentes no núcleo das células formados por dois componentes principais: uma longa molécula de ácido desorribonucleico (DNA) e proteínas que lhe dão estrutura. No DNA estão inscritas as mensagens genéticas, os genes. Um cromossomo pode ser comparado a uma fita magnética, onde estão escritas, em seqüências, as instruções (genes) para as diversas características hereditárias do indivíduo. A Síndrome de Down ou mongolismo constitui uma aberração cromossômica numérica. (p.7)
Em consonância ainda com Lefèvre (1981), pode-se dizer que o número de
cromossomos presentes nas células de uma pessoa é de 46 (23 do pai e 23 da
mãe), e estes se dispõem em pares, formando 23 pares. No caso da Síndrome
de Down ocorre um erro nesta distribuição e ao invés de 46, as células recebem
47 cromossomos. O elemento extra fica unido ao par número 21. Daí, o nome
de Trissomia 21.
A Síndrome de Down foi caracterizada pela primeira vez em 1866, quando
Sir John Langdon Down descreveu um paciente no qual "o aspecto da criança
era tal, que era dificil admitir que fosse filho de europeus". Os traços fisicos
destas crianças os tornavam parecidas com os habitantes da Mongólia e foram
por isso denominadas crianças mongólicas. Esta expressão prevaleceu,
embora não seja adequada, pois há diferenças entre os pacientes com
mongolismo e as pessoas normais de referida raça. Entretanto, apenas em
1959, cientistas franceses mostraram que os pacientes com Síndrome de Down
eram dotados de um defeito na divisão dos cromossomos.
Os estudos mostraram a existência de 3 tipos de Trissomia 21, a saber:
• Trissomia 21 simples (ou padrão), a pessoa possui 47 cromossomos em
todas as células (ocorre em 95% dos casos de Síndrome de Down).
• Trissomia em mosaico: a alteração genética compromete apenas parte das
células, ou seja, algumas células têm 47 e outras 46 cromossomos. Esse
tipo ocorre em 2% dos casos de Síndrome de Down.
• Trissomia por translocação: o cromossomo extra do par 21 está grudado
em outro cromossomo. Assim, o indivíduo apresenta 46 cromossomos mas
é portador da Síndrome de Down (cerca de 3% dos casos de Síndrome de
Down). A translocação pode ocorrer durante a formação das células que
dão origem à criança (óvulo e espermatozóide).
A Síndrome de Down reveste-se de importância em relação ao problema
de deficiência mental como um todo, já que se sabe que ela é encontrada em
10 a 18% dos indivíduos portadores de retardo mental.
1.2 - Características Físicas
Os indivíduos com Síndrome de Down apresentam certos traços típicos,
como cabelo liso e fino, olhos com linhas ascendentes, nariz pequeno e pouco
achatado, rosto redondo, orelhas pequenas, baixa estatura, pescoço curto e
grosso, flacidez muscular, mãos pequenas com dedos curtos e prega palmar
única.
O Crânio, além de achatado na parte posterior, pode apresentar retardo
no fechamento das fontanelas (as "moleiras"). Pode haver defeitos de postura
no tórax, seja na coluna ou na região anterior do peito.
Os genitais geralmente são pouco desenvolvidos e os músculos da parte
central do abdome muitas vezes se apresentam separados.
As mãos, como já foi referido acima, denotam um aspecto bastante
característico: a prega palmar única, que está na maioria dos casos de
mongolismo.
Os pés também são bastante típicos, em virtude do grande afastamento
do primeiro dedo, lembrando o que se passa com o polegar e indicador da mão
normal.
A hipotonia muscular é um dos sinais mais encontrados e vai
acompanhar o paciente durante toda a infância e às vezes por toda a vida,
responsabilizando-se por importante retardo no desenvolvimento motor.
A partir das características acima discriminadas o médico pode levantar a
hipótese de que o bebê tenha a Síndrome de Down e, nesse caso, deve pedir o
exame de cariótipo (estudo de cromossomos) para fazer a confirmação da
Síndrome.
Os portadores de Síndrome de Down podem apresentar doenças
cardíacas numa proporção de 40% deles.
Já com respeito à expectativa de vida dos portadores de citada
Síndrome, Lefèvre (1981) deixa transparecer que aproximadamente 25%
morrem nos primeiros 6 meses de vida, 31% no primeiro ano, 50% atingem 30
anos e somente 4% chegam a idade de 50 anos. As causas mais comuns
de óbito são a pneumonia e as cardiopatias congênitas, que respondem por
15% dos óbitos.
1.3 - Diagnóstico
Os diagnósticos levam em conta os sinais puramente clínicos, que
compreendem um número muito amplo de aspectos. A impressão geral,
especialmente o aspecto da facies, é muito útil.
Contudo, a confirmação do diagnóstico só é dada através do cariótipo
(exame cromossômico das células do sangue). O cariótipo, ou análise
citogenética, é capaz de detectar o tipo de acidente genético ocorrido e
poderá indicar um dos três tipos da Síndrome de Down. Atualmente, com a
utilização da ultra-sonografia e da amniocentese principalmente, pode-se
detectar a Síndrome durante a gravidez.
1.4 - Etiologia
A Síndrome de Down tem como anormalidade básica, conforme
relatado anteriormente, a presença de uma quantidade extra de material do
cromossomo 21. (Lefèvre, 1981, p.19).
É uma patologia genética em sentido de que toda condição do paciente
é causada por um excesso de material genético.
Essa adição de um cromossomo extra perturba todo o processo de
desenvolvimento, de tal forma que o indivíduo resultante irá diferir muito de
seus pais: tanto que ele geralmente não mostrará a semelhança que se
espera entre os membros de uma família.
Os riscos de ocorrência de Síndrome de Down, segundo o autor acima
citado, aumentam com a idade materna, destacando-se entre 35 e 39 anos a
proporção de 1 portador de Síndrome para 260 nascimentos, entre 40 e 44
anos, 1 para 100 e entre 45 e 49 anos 1 para 50.
1.5 - Orientações Gerais
A primeira consulta deve ser realizada assim que a criança nascer.
Alguns problemas podem e devem ser vistos bem cedo, como os cardíacos,
os hematológicos e respiratórios Por isso, é importante o exame imediato do
médico. Alguns problemas aparecem até o primeiro ano de idade, como o de
vista ou o de ouvido. Outros são vistos mais adiante (entre 1 e 12 anos), como
a obesidade e a subluxação atlanto-axial, dentre outros.
CAPÍTULO II - AVALIAÇAO DA SÍNDROME DE DOWN
2.1 - Avaliação Psicológica
O exame psicológico tem como objetivo principal verificar o estágio geral
de desenvolvimento da criança. Esse levantamento avaliativo traz certa
ansiedade aos pais que, certamente, esperam ouvir que seu filho está muito
próximo do normal.
Essa avaliação deve ser efetuada o mais cedo possível, já que as
pesquisas mais recentes mostram que o processo de aprendizagem é maior
desde que a criança seja solicitada desde os primeiros meses.
Logo, uma criança que comparece pela primeira vez ao exame
psicológico em torno dos 8 ou 9 anos tem muito menores possibilidades de se
beneficiar de um plano terapêutico bem orientado. Contribui muito para o
sucesso do tratamento uma relação familiar afetuosa e tranqüila que aceita bem
a criança e é capaz, intuitivamente, de realizar a interação mãe e filho de modo
a tornar a criança independente, calma e feliz, sabendo resolver bem os
problemas da vida prática. Já um casal intranqüilo, instável e inseguro pode
limitar o interesse e a cooperação da criança em qualquer atividade,
despertando atitudes de teimosia e negativismo que se encontram em alguns
casos..
Daí, subentende-se que o carinho e o amor formam um binômio
primordial para um desenvolvimento satisfatório.
Por outro lado, os testes clássicos de desenvolvimento global medem o
rendimento e a execução, ou seja, o que a criança é capaz de fazer, mas não
analisam os processos do pensamento. Eles não investigam a competência da
criança e, por conseguinte, os pais não devem exigir, nem desejar o resultado
do exame psicológico em termos quantitativos com um quociente intelectual
definido, no qual se presume o prognóstico ulterior. Desta forma, o que se deve
esperar do exame psicológico serão os dados qualitativos que se referem às
possibilidades atuais de ação, ou seja, como funciona sua atenção, quais as
habilidades que ela pode desenvolver, como deve ser estimulada e qual o tipo
de escola mais indicada nesse momento. Lefèvre (1981 salienta que:
Nossa posição ao analisar o pensamento infantil, no caso da criança mongólica, foi evitar a comparação dos nossos resultados com os da criança normal, principalmente em testes quantitativos como os Standford-Binet ou WISC. Estes testes nunca foram estandardizados em nosso meio, mas sim adaptados de traduções inglesas, americanas ou francesas, cujos resultados revelam já discrepâncias entre si. Ora, num país como o nosso, onde não existe escola para uma grande faixa da população infantil, seria inútil concluir que essa análise quantitativa possa significar correspondência real com as crianças. da mesma idade. (p. 25).
Por fim, acrescenta a referida autora:
Consideramos muito insuficiente a avaliação em termos de QI, embora nós mesmos algumas vezes mencionássemos uma avaliação quantitativa com este critério, principalmente quando precisamos comparar resultados em uma pesquisa. É preciso muito cuidado para evitar a ansiosa pergunta da mãe: quanto deu de QI, aumentou ou diminuiu? Se alguém lhe comunica um número mais baixo que o anterior, ela se sente culpada e desanimada. (p. 25).
Citada autora pondera ainda que o que se deve interessar ao adulto que
lida com criança é uma atitude realista, evitando dar rótulos de deficiente, mas,
ao contrário, procurando se informar nesta sua fase atual qual a sua
possibilidade de progresso.
A mesma autora menciona a educadora francesa Lurçat (1976) que, a
respeito do exposto acima, enfatiza que a "rotulagem" prejudica o
desenvolvimento de qualquer criança. Segundo ela é tão importante saber falar
como saber agir, pois a ação e a palavra devem ser trabalhadas sem que
nenhuma delas seja superestimada. Referida educadora salienta que ao se
marcar uma criança classificando-a quantitativamente, ao medir sua produção,
poderá haver a limitação de suas possibilidades e que ainda, baixa produção
verbal, poderá significar pouco.
Lefèvre (1981) afirma que um dos grandes erros da atual civilização
reside na supervalorização do raciocínio abstrato, com a desvalorização do
prático e, que cabe lutar contra isto, trabalhando com a criança nos dois
campos de produção, sem superestimar os valores culturais em detrimento do
restante.
Todavia, retrocitada autora, ressalva que Luria (1963) considera o
cérebro da criança mongólica diferente do normal, tanto na atividade elétrica
como em peculiaridades do dinamismo da atividade nervosa superior. Nota que
há um queda substancial nas habilidades para analisar e sintetizar o que vem
do mundo exterior, pois é a fala que irá regular o comportamento e ela fica
comprometida em sua interação com outros sistemas. A investigação da
inteligência nestes casos deve ser feito com uma análise completa do
funcionamento do sistema nervoso. Ele considera que há menor tamanho e
desenvolvimento das circunvoluções, sendo que no sexto e sétimo meses de
vida fetal, além da lentidão do desenvolvimento, há células que desaparecem. A
deficiência mental é explicada pela lesão difusa e superficial dos hemisférios
cerebrais, a pobreza e a inércia das conexões corticais.
Lefèvre (1981), acredita que aquilo que vem do exterior sob a forma de
sons atinge áreas temporais, enquanto se forem figuras atingirão a área
occipital através das vias visuais e os estímulos sensitivos à área parietal.
Relata ainda que os distúrbios não se localizam em uma área específica, mas
que as crianças podem ouvir e enxergar bem, ter movimentos e sensibilidade
normais, mas o aprendizado requer, para a formação de novas conexões, a
discriminação e relação dos sinais importantes com a ignorância do que é
acidental. E explica que toda criança para aprender coisas novas precisa estar
alerta e vigilante. Com esta capacidade de atenção ela se concentra no
problema apresentado e tenta resolvê-lo. É o "reflexo de orientação" que
permite à atividade nervosa superior adquirir novas habilidades. Segundo citada
autora, o cérebro está permanentemente recebendo sons, formas e estímulos
sensitivos e se a criança não for capaz de eliminar de sua atenção os estímulos
acidentais ela não conseguirá aprender com facilidade. Ela afirma que este
parece ser para Luria (1963) o ponto crucial da dificuldade de aprendizado na
criança mongólica, já que ela se cansa facilmente e a fadiga das conexões
corticais não permite que a atenção se mantenha durante muito tempo. Há uma
grande dificuldade para atividades prolongadas, pois o cérebro tem conexões
mais pobres e não tem a capacidade de criar novas ligações e, por isto,
mantém, em funcionamento as conexões primárias. Daí surgem estereotipias e
atividades automáticas que fazem a criança esquecer a ordem dada.
2.2 - Estágios de Desenvolvimento do Portador da
Síndrome.
As desordens no desenvolvimento podem acarretar inúmeras
dificuldades, que atingem, no caso da criança com Síndrome de Down, não só
as áreas motoras mais elementares como as praxias, o trabalho cognitivo e a
linguagem.
Entretanto, as pesquisas demonstram que o cérebro da criança
mongólica está sempre amadurecendo já que esta Síndrome não ocasiona
pioras, mas, ao contrário, leva a melhoras progressivas, pois, à medida que o
meio ofereça estímulos, o organismo da criança os recebe, adapta-se a eles e
vai criando ações num contínuo equilíbrio. Isto denota um permanente
amadurecimento das funções cerebrais.
Cada vez que a inteligência se adapta a uma situação nova, está
realizando uma construção. Quando a mãe oferece a mamadeira na mão da
criança, quando lhe dá um chocalho, uma bolacha, quando toca uma sineta
para ela ouvir, mostra um avião passando, a água caindo do chuveiro, a água
molhando seu corpo, ela estará constituindo estímulos para o cérebro da
criança funcionar, descobrir e sentir coisas novas. Tais elementos e situações
dão subsídios ao psicólogo para avaliar como a criança está reagindo a esse
mundo, o que ela faz diante dessas situações e, com o resultado dessas
observações, mostrar aos pais o nível de desenvolvimento da criança.
Lefèvre (1981), evocando Piaget, um grande estudioso da inteligência
infantil, descreveu os diversos estágios de pensamento e praxias que servem
para orientar a conduta no que diz respeito à compreensão e conseqüente
estimulação da criança com Síndrome de Down. Os estágios sensório-motores
iniciam-se nas condutas reflexas do recém-nascido até o aparecimento da
linguagem, que é uma função simbólica.
Tais estágios podem ser descritos da forma como se segue:
Primeiro estágio:
A criança só tem movimentos reflexos e se alguém põe um dedo ou
objeto em sua mãozinha ela aperta sem conseguir soltar. Nessa fase é difícil
para a criança sugar o seio materno com a força necessária, engolir e segurar a
cabeça, pois ela faz tudo de maneira fraca, sem forças, porque a Síndrome de
Down causa uma hipotonia generalizada.
Esta hipotonia tão grande nos primeiros meses de vida vai diminuindo
com a solicitação motora da criança, pois com exercícios adequados aos
reflexos vão desaparecendo e em seu lugar começa, a surgir os atos
voluntários, com movimentos práxico, aprendidos.
Segundo estágio
Como os movimentos da criança vão se tornando voluntários e com o
desenvolvimento inicial das praxias motoras a criança já é capaz de colocar o
dedo na boca, o que significa evolução e enriquecimento. Ela inicia a
exploração do seu corpo, olha para tudo, acompanhando o que se passa,
escutando os sons que se fazem a sua volta. É o início da coordenação
visuomotora, tão necessária para a realização dos futuros atos mais complexos.
Terceiro estágio
Agora a criança coordena os movimentos da mão com a visão e repete,
muito interessada, as novas atividades que descobre fazer: sacode e puxa
objetos, aperta-os na mão, procura o que derrubou. Se a mamadeira está com
o bico do outro lado ela chora, mas não sabe corrigir a posição para por o bico
no lado da boca: estes são atos pré-inteligentes que ela ainda não sabe
planejar.
É importante que se respeitem suas novas capacidades, para lhe
oferecer coisas que sejam interessantes e aumentem sua vontade de explorar e
experimentar o mundo que a rodeia.
Quarto estágio
A criança agora tem um objetivo, uma finalidade. Apesar de não saber
realizar todos os movimentos necessários para uma ação, a criança já sabe
aproveitar esquemas anteriores e quando pega um objeto sabe bater, sacudir,
jogar. A inteligência começa a surgir. Ela consegue até imitar os movimentos
que viu alguém fazer anteriormente. Se o objeto desaparece ela o procura, mas
se desorienta nesta busca. Ela já sabe imitar os sons de que gosta e que a
interessam.
Quinto estágio
Neste momento sua experiência vai-lhe servir para inventar modos de
buscar, observando o que acontece. Levanta o objeto, deixa-o cair, levanta
outro e faz o mesmo, joga a bola alto ou longe, para um lado ou outro. Se o
brinquedo está longe ela puxa o fio ou pano, ou empurra com o bastão. Ela age
sobre os objetos. Um pauzinho pode se transformar em cigarro. Aí se inicia a
imitação verbal surgindo as primeiras palavras.
Sexto estágio:
Finalmente, a criança é capaz de inventar jogos, explorando os
brinquedos ativamente e fazendo combinações mentais. Usando todos os
esquemas que já conhece, ela é capaz de segurar algo para enfiar dentro de
um cubo.
A inteligência prática e a causalidade se desenvolvem nestas ações,
proporcionando uma melhora constante de suas percepções bem como a
consciência de que seu corpo e sua ação se situam em um mundo no qual ela é
objeto permanente e causa de ações. Surge então a função simbólica,
diferenciando significantes e significados, os símbolos e os sinais. Diversas
pesquisas revelam como somente depois da criança vencer este sexto estágio
ela se torna capaz de compreender e expressar-se através da linguagem.
Lefévre (1981), evocando Woodward (1963) em seu trabalho com
mongólicos, infere que apenas com o desenvolvimento do sexto estágio a
criança se torna capaz de adquirir a fala com significado e, além disto, de
realizar os desenhos requeridos no início da solicitação escolar, como copiar
linhas e círculos. Ela aconselha a não tentar ensinar estas praxias mais
complexas antes do sexto estágio, exemplificando, que mesmo para comer
sozinha, torna-se necessária a execução combinatória de colher e prato que só
acontece depois de vencido referido estágio.
Em relação aos seis estágios de autoria de Piaget, pode-se amostrar a
seguinte correlação com a idade:
· Do nascimento até 5 ou 6 meses a criança está nos estágios I e II e ainda
não sabe brincar com os objetos.
· Dos 6 aos 11 ou 12 meses a criança está no estágio III e gosta de tocar,
morder bater nos objetos.
· Dos 12 aos 24 meses a criança está no estágio IV e percebe que um objeto
pode ser posto dentro de outro. Ela sabe juntar objetos e colocar dentro de um
copo.
· Dos 24 meses aos 3 anos a criança começa a combinar os objetos
separando os parecidos, distribuindo em coleções, o que mostra que ela está
no estágio V.
· Depois dos 3 anos ela entra no estágio VI e além de colecionar os objetos
semelhantes, sabe fazer correspondências agrupando, por exemplo, grandes e
pequenos.
Aliás, experiências demonstram que a criança com Síndrome de Down,
de dois a cinco anos, interage com o objeto apresentado, transformando-o.
2.3 – Investigação de Habilidades Especificas:
2.3.1 – Atividade Motora
A atividade motora, tanto do corpo todo como dos membros, se
desenvolvem mais rapidamente do que a coordenação entre olhos e
movimentos, o conhecimento visual, táctil, auditivo e a fala.
Lefévre (1981) relata que estes dados foram confirmados através de
levantamentos efetuados com dois grupos de mongólicos de nível sócio-
econômico diferente. O grupo mais carente produziu abaixo da média na área
motora, em comparação com o grupo de melhores condições. Estes últimos
eram solicitados desde os primeiros meses por exercícios de fisioterapia que
facilitavam o desenvolvimento do controle postural. As crianças de meio mais
pobre eram deixadas grande parte do dia no berço, com limitadas
possibilidades de atividade motora. Woodward (1963) em seu estudo
comparativo de crianças mongólicas com outras não mongólicas mas com
atraso mental encontrou uma diferença significativa no desenvolvimento motor
em relação à fala, apesar de que os dois grupos não diferiram na área motora.
Entretanto, como todas elas viviam em centros residenciais hospitalares pode-
se supor que a estimulação da fala fosse menor, enquanto haveria uma
solicitação maior, colocando a criança de pé, com o que se estimularia o
controle motor.
Do exposto, pode-se ressaltar que o desconhecimento de que o
progresso motor precede o de outras habilidades, bem como ele é mais
facilmente estimulável, pode conduzir a falsas interpretações quanto ao
desenvolvimento da criança mongólica.
2.3.2 Organização Auditiva
A psicóloga Beatriz Helena Lefèvre afirma que podem ser observadas as
capacidades de diferenciação de sons, da imitação de ritmos e da dança.
Referida autora mostra que devem ser avaliadas, através de provas simples, a
apreciação d música, a repetição da melodia e de ritmo. Destaca ainda que
geralmente as mães informa que as crianças com a síndrome gostam muito de
ouvir música e que, numa investigação realizada, constatou-se que ao ouvir
música elas dançam e fazem movimentos.
2.3.3 – A Noção de Espaço
Estudos efetuados por Piaget relatam que a evolução e construção da
noção do espaço na criança pequena está intimamente ligado a um trabalho
relativo à função de coordenação visual-motora. Essa função nervosa superior,
que implica num trabalho cerebral muito complexos se desenvolve em vários
estágios que se iniciam com o conhecimento das formas e das relações simples
de proximidade, separação, estar dentro ou fora, fazer uma ordenação. Aos
poucos a criança vai percebendo as relações espaço e torna-se capaz de
desenhar formas complexas, fazer nós, copiar objetos em ordem ou de acordo
co dimensões graduais do maior para o menor, por exemplo.
2.3.4 – Evolução da Fala
Para qualquer criança o estímulo e a solicitação da fala têm grande
influência no desenvolvimento. No Trabalho de Lefévre e Coh (1953) mostrou-
se que as crianças asiladas, quando comparadas com aquelas que viviam com
mais famílias, tinham um atraso maior no setor da fala.
Referido autor relata que as pesquisas efetuadas com 42 crianças com
síndrome de 4 a 14 anos revelam que aquelas pertencentes a nível sócio-
econômico baixo em geral falavam só palavras e 50% formavam frases,
enquanto que no grupo mais solicitado 84% das crianças falavam frases,
comunicando-se com vocabulários mais rico e expressando-se de maneira mais
satisfatória. Para Luria (1973), para que surja a abstração e geralização é
necessário que se desenvolva a comunicação pela fala. Os exercícios
sistemáticos irão facilitar as conexões cerebrais necessárias para o seu
desenvolvimento. Algumas vezes a articulação é deficiente, o que traduz
mecanismos cerebrais imperfeitos, dificultando a fluência e o ritmo da fala.
Lenneberg (1967) afirma que a articulação é pobre quando falta motivação para
falar e a criança é solicitada apenas para a simples repetição servil.
Lefèvre (1981) afirma, com base em experiências próprias, que é difícil
teorizar sobre este aspecto, pois a evolução da fala varia muito de uma criança
para outra mesmo quando solicitados adequadamente. Estudos efetuados pela
pesquisadora envolvendo três crianças pertencentes a famílias de bom nível
cultural, em que as mães de duas delas eram professoras e estavam
interessadas em solicitar adequadamente os filhos, denotaram que:
Caso 1 – Menino Observado a partir dos 5 anos até completar 13
3 anos – A compreensão era boa, entendendo ordens simples, como ir
buscar algo, dar. Começou a falar as primeiras palavras com 2 anos. Na época
deste exame falava quatro palavras mal articuladas que eram entendidas
apenas pela mãe.
5 anos – Iniciou o emprego de verbos, formando frases com um máximo
de três palavras. As frases eram agramaticais, como por exemplo, “carro papai”,
ou algumas gramaticais simples como “é meu”, “não quero”.
6 anos – O vocabulário se ampliou. Diante de uma figura temática
descreve os detalhes mas não dá uma descrição global.
7 anos - Começa a freqüentar classe especial e desenvolve a formação
de frases embora com muitas dislalias de troca e supressão. Exemplo “minino
xitado no chão”.
8 anos – Aperfeiçoa a sintaxe mas as frases ainda são curtas, sem
fluência, com ritmo “sacadé”. Este tipo de fala persiste aos nove anos. Nesta
idade procura chamar a atenção e emprega muitos palavrões. As frases são
curtas. Exemplo: Examinador: “Para que servem os olhos?” resposta “Pa oiá”. A
compreensão ainda é deficiente, pois no teste columbia não consegue entender
a noção de semelhanças e diferenças.
10 anos – Tem um vocabulário bastante grande, mas ainda emprega
dislalias principalmente com as consoantes “L” e “R”. Nas palavras mais
extensas fazia inversões de sílabas. Exemplo: “motoclicetá”. Já é capaz de
contar uma história ou descrever o que aconteceu na escola. Suas frases ainda
são imperfeitas, pois a sintaxe é pobre com inversões. Exemplo: “Quero
brincar”, eu”.
12 anos – As frases são mais longas. Exemplo: “O fusca de meu pai é
branco, e o seu?”, ou “Todo o mundo foi dormi no chão”. Ainda havia dislalias e
a articulação não era clara.
13 anos - Sabe conversar, mantendo um diálogo com frases
gramaticais. É um tanto taquilálico e o fluxo de idéias é contínuo sem
interromper sua história quando passa para outro assunto. É este o estado
atual.
Caso 2 – Menino observado a partir de 21 meses até 13 anos
21 meses – Começa a falar duas palavras: “Aga” e “Naná”.
3 anos – Empregava quatro palavras e palavras-frase: “Ticá” significa
“está aqui”. Acrescentou “Nenê” e “Dá”. A compreensão era bastante boa para
ordens simples. Ainda havia articulação muito deficiente de sons que não eram
compreensíveis.
4 anos – O vocabulário aumentou e era capaz de combinar palavras,
embora sempre com muitas dislalias. Obedece a muitas ordens, parecendo ter
boa compreensão.
5 anos e meio – Procura se expressar por gestos. Quando tenta falar
frases mais longas confunde sílabas e sons. Levantou-se a hipótese de
disacusia, tendo sido submetido a audiometria, que foi normal. O ritmo
respiratório era muito alterado, o que interferia no ritmo das frases.
6 anos e meio – As frases tornaram-se mais curtas, parecendo haver
uma regressão. Hesita muito, dando a impressão de gagueira. Nasceu um
irmão e isto pareceu interferir em sua deficiente comunicação.
8 anos – A fala espontânea continua difícil de ser entendida,
principalmente quando emite frases mais longas. As palavras isoladas são mais
facilmente inteligíveis. Diante de uma figura percebia o tema global. Nesta
época estava sendo trabalhado com exercícios respiratórios e relaxamento. A
hesitação se reduziu.
10 anos – A fala era melhor articulada, mas ainda com muitas dislalias,
como por exemplo: “Caião” por caminhão, “colala” por toalha, “Agula” por
agulha, “Preme” por creme.
11 anos – Conta histórias longas com sintaxe muito precária. Exemplo:
“Tem mais carro pra por aqui?”
Caso 3 – Menina examinada dos 6 meses aos 10 anos.
6 meses – Sua expressão facial era de alegria , gritando e sorrindo à
interação com a mãe.
13 meses – Inicia a imitação de sílabas: ma, na, da. Gosta de reproduzir
estes sons.
25 meses – Fala: “Papai”, “Mamãe”, “Dá”. Entende quando se pede para
mostrar as partes de seu próprio corpo ou para pegar, dar ou olhar qualquer
coisa. Tenta reproduzir palavras, mas o faz de maneira imperfeita.
4 anos – Freqüenta um jardim de infância normal, com o que se
enriquece o seu vocabulário. Boa articulação. Início de frases agramaticais.
Exemplo: “Que otra bola”.
5 anos – Começa a contar histórias com frases longas. A linguagem
surge espontaneamente, mas nota-se que tenta imitar o irmão mais velho sem
perceber.
6 anos – Fala com sintaxe bastante correta. Exemplo: “Eu faço comida”.
Tem alguns erros semânticos. Diz fechar a porta quando quer dizer abrir,
apagar a luz quando quer dizer acender.
7 anos – Depois do nascimento da irmã e com a dificuldade que está
encontrando na escola torna-se negativista, começa a gaguejar e tem um difícil
contato verbal. Apresenta inversões. Por exemplo: “Cama minha está lá”; este
quadro persiste aos 8 anos.
9 anos – Muda para a classe especial. Continua apresentado gagueira
mas sabe contar histórias, embora a seqüência não seja muito boa. Nas
sessões de ludoterapia expressa-se bastante verbalmente, ainda com algumas
dislalias e frases agramaticais. Exemplo: “Ele vai pegar eu. Não. Vai pegar o
irmão. Ele brinca jogar bola. Pega a bola. Eu brinco com ela, comigo”.
10 anos – As dilalias persistem apesar de estar sendo submetida a
treinamento com fonoaudióloga. Parece imitar a irmã pequena. Ainda gagueja e
hesita. Começa a ler as vogais. Emprega frases longas e sabe contar o que
acontece em casa.
A autora relata que o primeiro caso representa o de um menino
hiperativo, hipervigil, enquanto que o segundo e o terceiro eram crianças com
grande carência afetiva, variando sua produção de acordo com as variações
afetivo-emocionais. Relata ainda que estes casos parecem confirmar a hipótese
de Lenneberg (1967) de que à fala evolui na criança mongólica de acordo com
a idade cronológica, bem como há variação de um caso para outro e que deve
ser promovida uma solicitação adequada, não apenas no terreno da
comunicação como também procurando resolver os problemas emocionais que
vão surgindo na evolução.
Em suma, a autora afirma que a melhora da fala acompanha uma melhor
produção industrial. Nos caos estudados, ela salienta que os dois meninos
(caso 1 e 2) apresentam menor avanço nas etapas cognitivas se comparadas
com a menina no caso 3.
Nos casos em questão, Luria (1972) recomenda que se estimule a
criança a responder a perguntas para que aumentando o vocabulário consiga
expor espontaneamente as suas idéias.
Estudos recomendam ser importante que ambiente familiar facilite o
desenvolvimento da linguagem desde o começo da vida da criança, não só
estimulando os sons emitidos, como a conversação inicialmente simples
aumentando seu vocabulário, expandindo as pequenas frases, e reforçando
aquelas palavras importantes (quer, dá, pega, olha). A família bem informada
substitui o técnico educador em casa. Deve conversar com a criança, responder
a suas perguntas com calma e iniciar o diálogo.
CAPÍTULO III – AÇÕES INTERPRETADAS NA
REABILITAÇÃO DE CRIANÇAS PORTADORAS DA
SÍNDROME DE DOWN
3.1 – Considerações Gerais
As ações integradas indicadas nos planos de terapia visão tão somente
acelerar e melhorar as condições motoras e intelectuais do portador da
Síndrome de Down.
Sabe-se que não há drogas, vacinas, remédios, escolas ou técnicos
milagrosos que levam à cura.
Desta forma, o portador de Síndrome de Down deve ser assistido por
uma equipe multidisciplinar, com técnicos graduados, de forma a auxiliar seu
desenvolvimento de maneira completa, atacando todas as áreas deficitárias.
Daí, cada função era estimulada numa seqüência cuidadosamente planejada
por especialistas. A fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e
psicoterapia pertencem a esse grupo de atividades específicas indicados por
médicos, psicólogos e professores.
Entretanto a Psicóloga Beatriz Helena Lefévre, em seu livro Mongolismo
– Estudo Psicológico e Terapêutico Multiprofissional da Síndrome de Down
(1981), chama a atenção para o fato da maioria das cidades brasileiras não
possuírem clinicas psicopedagógicas ou de reabilitação especializada, bem
como da maioria dos pais se sentirem perdidos, sem saber onde procurar
orientação sobre como iniciar os estímulos adequados.
De uma maneira geral, referida Psicóloga ressalta que as entidades
públicas ou particulares possuídas de pessoal especializado devem estabelecer
uma seqüência de atividades de estimulação que podem ser realizadas em
casa, bem como encontrar meios de proporcionar uma orientação simples onde
a imaginação e o bom senso da mãe mais pobre, muitas vezes operária,
possam gerar meios de solicitar o filho portador da Síndrome.
3.2. Intervenção Fisioterápica
A fisioterapia refere-se à motricidade global e apendicular onde, através
de técnicas especiais, procura-se eliminar as reações patológicas. A criança
com paralisia cerebral requer uma continuidade de tratamento que pode durar a
vida toda, enquanto aquela que apresenta somente um atraso no
desenvolvimento motor, demorando para segurar a cabeça, sentar ou andar,
pode seguir um tratamento mais curto até o momento que seu controle postural
e dos membros adquiram um desenvolvimento normal.
Em geral, a criança com Síndrome de Down apresenta uma hipotonia
generalizada, sendo que, desde o nascimento, seu corpo é flácido e custa para
adquirir a força e o tono muscular adequados para se manter firme e seguro
nas diversas posições: daí, a importância da fisioterapia desde o primeiro mês
de vida. A orientação de como segurar o bebê e estimular suas reações
motoras acelera o desenvolvimento motor. Torna-se importante saber que a
postura de bruços na cama ou no chão é primordial para reforçar os músculos
da coluna e facilitar a cabeça ereta.
A literatura estudada ressalta a importância de não deixar o bebê
continuamente deitado de bruços no berço, numa posição inadequada, pois a
criança ficará olhando um teto liso ou manipulando alguns brinquedos ao seu
alcance, sem possibilidade de perceber o que se passa à sua volta. Já de
bruços, num colchão, ele será solicitado pelo movimento dos familiares, pelos
objetos que rolam, se distanciam e se aproximam. Nesta posição o seu corpo
luta no espaço e vive as suas experiências. Lefévre (1981) revela que Piaget
(1975) chama a atenção para como a criança tenta alcançar o que está longe
usando intermediários, puxando aquilo que prende o brinquedo, ou usando o
bastão que o arrasta para perto. Essas novas descobertas no conhecimento do
espaço, na seqüência temporal e na organização visuomotora decorrem do
simples fato da criança poder explorar mais o mundo à sua volta.
A mesma autora, relata que Coriat (1967) sugere as seguintes medidas
de controle postural nos primeiros meses: se a criança está deitada de costas
deve-se estimular a flexão e a adução das pernas e se está deitada de bruços
colocá-la com a cabeça virada para o lado. Ao segurá-la no colo evitar a
posição horizontal. Segurá-la verticalmente.
Outras atitudes como falar com a criança, acariciá-la e chamar sua
atenção servem para despertar na mesma o desejo de responder ao afeto
estimulador.
Lefèvre (1981) ressalta ser espantoso verificar como o início da marcha
nas crianças com Síndrome de Down é mais rápido naquelas orientadas pela
fisioterapeuta. Referida autora ressalta ainda que é importante que a mãe tome
conhecimetno de que ela tem condições de melhorar o déficit motor e tônico de
seu filho, desde que realize um esforço no sentido de participação no
treinamento. A mesma autora informa, que para Diament (1976), tudo indica
que a estimulação adequada traz maior riqueza nas dezenas de milhares de
sinapses que se estabelecem de neurônio para neurônio e que são mais pobres
quanto a atividade psicomotora é pouco estimulada.
Lefévre (1981), em seu livro Mongolismo. Orientação para familiares,
estabelece a seguinte seqüência do desenvolvimento motor:
· Sucção e marcha reflexas (movimentos de sugar e de andar com caráter
automático, não voluntário) logo ao nascer.
· Ereção da cabeça (levantamento da cabeça pela força muscular do
pescoço)
· Capacidade de sentar-se apoiadas (encostada em um travesseiro)
· Sustentação firme da cabeça
· Capacidade de sentar-se mesmo sem apoio: a criança vira-se de bruços e,
apoiando-se nas mãos, Põe-se sentada.
· Capacidade de ficar de pé, apoiada numa grade da cama ou em um móvel
· Início do engatinhamento: no começo, arrastando-se sobre os braços e
depois firmando o peso nos joelhos.
· Capacidade de andar segura pelas duas mãos e depois por uma só mão
· Capacidade de andar, sem apoio, sozinha
Conforme a autora, esta é a seqüência normal que deve ser respeitada,
ou seja, não se pode fazer a criança começar a andar se ela não consegue
ainda sentar-se sem apoio. Então, forçar os movimentos pode trazer
insegurança para a criança e ocasionar medo, como conseqüência dos tombos
e falta de equilíbrio.
3.3 Intervenção Fonoaudiológica
A fonoaudiologia vai cuidar do desenvolvimento da fala. A criança com
Síndrome de Down apresenta distúrbios relacionados com a comunicação,
mormente no que se refere à expressão. É difícil sugar, deglutir, mastigar,
controlar os movimentos dos lábios e da língua. Estas dificuldades de praxia
bucofacial ocasionam atraso na articulação, retardando a fala expressiva.
Cornwell (1974), ao estudar o desenvolvimento da linguagem nos seus
aspectos funcional e expressivo, verificou que a execução verbal é melhor
quando o nível mental é mais alto, enquanto o comportamento gestual e a
mímica prevalecem quando não se consegue expressar verbalmente a palavra.
A fonoaudiologia contribuiu não somente para o progresso das
habilidades verbal e de articulação, mas também oferece para a mãe a maneira
certa de solicitação, que deve permanecer durante grande parte da vida, pois a
fala pode manter-se inarticulada e pobre por um longo período. Nesse caso, a
mãe será orientada de acordo com os distúrbios apresentados:gagueira,
respiração, articulação e praxia bucolingual, entre outras.
Luria (1963) considera a fala da criança com atraso mental de modo
muito peculiar , pois o significado das palavras em suas pesquisas se revelam
incomparavelmente inferiores e muito elementares, já que existem distúrbios de
funções cognitivas que resultam na desorganização da análise e síntese,
discriminação e generalização, essenciais para o desenvolvimento de relações
complexas e mais abstratas do pensamento.
Estudos efetuados por Lefévre, segundo as experiências de Luria sobre
generalização e abstração, com um grupo portador da Síndrome de Down, a fim
de verificar o número de objetos que podiam combinar, revelam a importância
da fonoaudióloga. A fonoaudióloga, nesses casos, promove a estimulação
verbal auxiliando a criança a encontrar o sentido de figuras temática. A autora
sugere que, no caso de um figura de um menino dando milho para os patos, o
profissional de fonoaudiologia diga: “patos, o menino, o balde aqui”. Mais tarde
surge a ação “O menino andando aqui; este andando com ele; os patos olhando
o menino”, até que finalmente, chega-se a uma descrição com sentido global:
“O menino tá levando coisas para os patos. Os patos vão comer comida e o
menino vai dar, e depois ele vai embora”. Neste caso há um sentido da figura
que é parecido, indicando o trabalho programador de áreas pré-frontais que
organizaram os elementos recebidos pela visão, posição no espaço e tempo da
ação realizada. Chiristensen (1975), ao interpretar a compreensão das figuras
temáticas, mostra que esta região é responsável pela compreensão da figura,
na metida em que o sujeito é capaz de perceber as conexões entre os dados
individuais ilustrados no quadro e pode explicar as relações existentes, com a
sua coerência lógica.
Dessa forma, a criança com Síndrome de Down já atingiu uma certa
maturidade nessa área cerebral, de analisar o tema geral e compreendê-lo.
3.4 – Intervenção Psicoterápica
A psicoterapia visa solucionar os problemas emocionais que as crianças
apresentam.
Ela deve ser procurada sempre que a criança apresentar distúrbios de
personalidades e de comportamento que a família não consegue resolver.
A bibliografia consultada revela que o trabalho psicoterápico visa atingir
as seguintes metas.
· Orientar a família em relação às dificuldades emocionais encontradas na
criança, interpretando aos pais as necessidades de seus filhos, seus medos,
conflitos, hostilidades e desejos.
· Proporcionar à criança meios de expressão, possibilidade de sucesso e
valorização, ao mesmo tempo ajudá-la na aceitação de suas dificuldades
problemas reais.
· Ressaltar aos pais os aspectos positivos da criança, para que haja reforço
nas atividades mais maduras, normalizando o nível de exigência de acordo com
a possibilidade da criança.
· Orientar familiares (parentes mais próximos) no sentido de que apóiem o
esforço dos pais, compreendendo o que se realiza com a criança, sem assumir
a atitude crítica que ocasiona muita insegurança e sentimento de culpa.
Os levantamentos efetuados revelaram que a psicoterapia, em grupo ou
individual vai depender do grau de verbalização da criança. Outro ponto
importante, que vale a pena salientar, é a qualidade do ambiente familiar: se o
casal é instável e ansioso, com relacionamento ruim, haverá o agravamento do
quadro de uma criança insegura com distúrbios emocionais.
Neste caso, a terapia familiar, incluindo psicoterapia e aconselhamento,
são algumas vezes indispensáveis contribuindo para a solução de muitos
problemas.
3.5 – Terapia Ocupacional
A Terapia ocupacional está intimamente ligada não só aos estímulos
sensório-motores, perceptivos, espaciais e temporais, como também aos
hábitos de atividade da vida diária.
Estudam-se os gestos praticados em atividades como o vestir, o lavar as
mãos, tirar as meias, levando em conta a sucessão lógica necessária à
execução dessas tarefas. Entre tirar a meia e desamarrar um fio de sapato
para tirá-lo há uma elaboração de programas diferentes que dependem de
aprendizado envolvendo o conhecimento do objeto, coordenação olho-mão e
manipulação eficiente e correta do material. No programa que se organiza, a
rapidez irá também sendo lentamente trabalhada, obedecendo à seqüência
necessária de atos elementares.
Por outro lado, a pesquisa revelou a importância que se deve dar aos
atos bem feitos, ainda que o progresso seja lento, através do elogio e
valorização de pequenos avanços conseguidos.
Atitudes como estas podem acelerar o planejamento elaborado pelo
terapeuta ocupacional aumentando, com isso, as perspectivas de sucesso.
CAPITULO IV – A EQUOTERAPIA: RECURSO
TERAPÊUTICO E EDUCACIONAL
4.1 – Definição e Características
A Ande (1999) define a equoterapia como um método terapêutico e
educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas
áreas de Saúde, Educação e Equitação, buscando o desenvolvimento
biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência e/ou de necessidades
especiais.
A Equoterapia constituiu um tratamento complementar de reabilitação
física e mental, cuja prática se dá em pleno contato com a natureza e que se
utiliza de aplicação de exercícios de psicomotricidade, de recuperação e
integração, utilizando, para tanto, o cavalo como instrumento de trabalho em
uma abordagem multi e interdisciplinar.
O cavalo é utilizado como um meio de se alcançar os objetivos
terapêuticos, sendo que, tal atividade, exige a participação de corpo inteiro, de
todos os músculos e de todas as articulações, trabalhando e desenvolvendo a
coordenação motora, a postura, o ritmo, o equilíbrio, a flexibilidade, o tônus
muscular e a estética, entre outros, de forma extremamente descontraído e
prazerosa.
A revista Cotfito (2001) ressalta a opinião da Doutora Tânia Frazão,
fisioterapeuta que dirige o Centro de Equoterapia da Escola de Equitação do
Exército localizada no Regimento Escola de Cavalaria Andrade Neves, no Rio
de Janeiro (RJ), quando a mesma estabelece que “A terapia age através dos
movimentos tridimensionais do cavalo (látero-lateral/antero-posteior e
longitudinal), que transmitem uma grande quantidade de diferentes impulsos
para os pacientes”. Mencionada revista ressalta ainda as declarações de citada
pesquizadora, quando a mesma revela que “Os movimentos transmitidos por
um cavalo, ao passo, são similares aos movimentos do andar de um homem
saudável, existindo ainda, a rotação da cintura pélvica, em ângulo maior que o
registrado durante a marcha humana”.
Com relação ao binômio cavalo-cavaleiro, tal revista se utiliza também do
pensamento de referida fisioterapeuta:
A interação cavalo-cavaleiro propicia ganhos na parte
biológica: controle e postura, normalização do tônus muscular, melhoria da coordenação motora, redução de espasmos e estimulação tátil vestibular... na parte psicológica, provoca o aumento da autor-estima, da auto-confiança e da auto-determinação. Na parte social, a maior integração com a família, que geralmente participa do processo de forma ativa, e também com os amigos, ditos normais e com os pacientes com outros problemas.(Tânia Frazão).
4.2 – Metas do Tratamento
Medeiros Milena e Dias Emília (2003) ressaltam que o sistema nervoso
central é um órgão de reação, ao invés de ação, e reage aos estímulos que
para ele convergem a partir de fora e de dentro do corpo.
Sendo assim, a capacidade mais importante do sistema nervoso central
passa a ser a sua capacidade de inibir a atividade incoordenada ou indesejada
e facilitar as funções utilitárias simultaneamente, para assim tornar possível o
armazenamento de informação, em outras palavras, a capacidade de aprender.
Os autores retrocitados estabelecem, como possíveis de serem
atingidos, os seguintes objetivos que se aplicam as crianças portadoras de
Síndrome de Down:
· Desenvolver uma base estável e eficiente permitindo realizar atividades
mais habilidosas.
· Favorecer a maturação de respostas posturais e mecanismos
proprioceptivos relacionados.
· Facilitar reações de endireitamento e equilíbrio estático e dinâmico.
· Favorecer a integração neural especialmete dos sistemas vestibular e tácil.
· Reduzir defensivas táteis.
· Reduzir o medo do movimento (insegurança gravitacional).
· Favorecer a percepção, imagem e esquema corporal.
· Desenvolver a capacidade de planejamento motor.
· Encorajar a interação dos dois lados do corpo e do espaço.
· Aumentar a velocidade, precisão e força das habilidades de manipulação.
· Melhorar a coordenação visuomanual.
· Promover preparo físico, incluindo força muscular, flexibilidade, velocidade
e agilidade.
· Promover boa postura.
· Promover estruturação do ambiente (ex. equipamento adaptativo) para
facilitar o desempenho ideal da criança.
· Aumentar a auto-estima através do bom desempenho de atividades físicas.
4.3 – Efeitos da Equoterapia
4.3.1 – Ativação Sensoperceptiva
Em nível sensoperceptivo o cavalo irá contribuir na estimulação dos
sistemas vestibular , somatossensorial, proprioceptivo, visual e auditivo no
paciente.
No sistema visual, o cavalo promoverá a mudança do ponto de
observação do paciente, pois montado, sua visualização do ambiente é
totalmente diferente do habitual. O paciente perceberá o “mundo” no mínimo a
180º (graus), olhando no mesmo nível ou por cima, nunca por baixo, o que taz
benefícios psíquicos que serão posteriormente, e, principalmente, a visão
tridimensional (figura-fundo), garantindo melhor aprendizado GNOSIO visual.
No sistema auditivo e vestibular, a audição está relacionada com a
cinética, pois, da mesma forma que a visão, a percepção auditiva modifica-se
também com o movimento. A ritmicidade do passo vestibulolabirintico, o que
além de melhorar o equilíbrio, auxilia, junto com a percepção visual, a
“construção” da organização espaço-temporal.
No sistema somatossensorial, a estimulação tátil em todo corpo do
paciente, desencadeada pelo cavalo e pelo movimento, possibilita uma nova
concepção de sua consciência corporal e uma nova percepção do movimento.
4.3.2 – Estimulação Sensoriomotora
A equoterapia proporciona ao paciente melhora do equilíbrio, pela
estimulação constante que o movimento tridimensional do cavalo realiza sobre,
os sistemas vestibular, cerebelar e reticular do paciente.
Esse movimento tridimensional do cavalo leva a um deslocamento
constante do centro de gravidade de quem está sobre o seu dorso,
ocasionando ativação do sistema vestibular, que é acionado pelos movimentos
da cabeça.
Convém salientar que a função tônica representa um aspecto
imprescindível para o desenvolvimento da função de equilibração. E a função
tônica é responsável por todas as complexas estruturas do sistema nervoso
central, desde a medula até o cérebro.
Outrossim, a manutenção da postura de pé é operada por diversas
excitações reflexas que nascem nos receptores labirínticos e profundos,
provocados pela ação constante da gravidade. Dentre tais excitações,
destacam-se as labirínticas (canais semicirculares, utrículo e sáculo), as
propriocetivas (articulações, músculos e tendões), as exteroceptivas (de origem
perceptiva) e as visuais.
Desta forma, os movimentos do cavalo ao promover a ativação do
sistema vestibular, que é formado pelo utrículo e sáculo, geram informações
sobre a aceleração linear, e os canais semicirculares, que são responsáveis
pela captação de aceleração angular, e, desta forma, informam ao cérebro os
diferentes posicionamentos da cabeça no espaço, em resposta, os sitemas
motores vestibular, cerebelar e reticular exciitam os músculos posturais
apropriados para a manutenção do equilíbrio adequado, levando, assim, a um
aprimoramento das reações de equilíbrio e endireitamento.
Tais reações de equilíbrio podem ser incrementadas com a utilização de
alguns recursos como a retirada dos estribos (apoio para os pés) durante a
terapia, através das trocas posturais nos diversos planos, e também pela
modificação da velocidade e o sentido dos deslocamentos com o cavalo, por
exemplo, andar e parar e realizar movimentos serpenteados e em oito.
Uma outra forma de reforçar os estímulos é solicitar que o paciente feche
os olhos, por um tempo preestabelecido, durante a terapia, pois com a
eliminação dos estímulos visuais a criança se vale das informações de origem
somatossentitiva (proprioceptiva e tátil) e vestibular.
4.3.3 – Tonicidade muscular
A função tônica é a chave da articulação cortico-posturomotora, tendo,
por conseguinte, um papel importante na tomada de consciência de si
(formação do eu) e na edificação do conhecimento do mundo e do outro.
Medeiros, M. e Dias, E (2003) ressaltam que no diálogo corporal que o
indivíduo estabelece com o mundo, o tônus integra toda a dialética das
informações exteriores, e interrelaciona-as para dar origem à fenomenologia do
comportamento humano.
Nesse caso, a equoterapia pode ser aplicada para se obter uma melhor
resposta no tônus muscular do paciente com Síndrome de Down. Pode-se
escolher um animal que apresente um maior numero de passadas por minuto
(antepistar) quando houver necessidade de ativar os receptores proprioceptivos
intrafurais, que só respondem a estímulos rápidos, como também os receptores
articulares que respondem à pressão, gerando aumento do tônus muscular,
sendo, tal procedimento, indicado para pacientes hipotônicos.
De outra forma, visando intensificar os estímulos para aumentar o tônus
muscular e a co-contração, deve-se realizar o tratamento em solo rígido
(batido), pois, provocando maior impacto ao cavalo, transmitirá maior
propriocepção ao paciente, fazendo com que ocorra ajustamento do seu tônus
muscular.
O ajustamento da tonicidade muscular e estimulação do sistema
vestibular, causados pelos movimentos tridimensionais do cavalo, ativarão
também, a musculatura de sustentação do tronco e cabeça melhorando, em
contra-partida, o alinhamento corporal. Os estímulos proprioceptivos articular de
pressão, somatossensorial e visual também contribuirão para o ajuste postural
adequado, estabilizando, assim, os membros superiores e cintura escapular
para que possam existir movimentos seletivos e controlados, assim como para
ligar a pelve e os membros inferiores, promovendo alinhamento, estabilidade,
movimentos harmônicos, facilitando a execução da função.
4.3.4 – Aspecto Psicossocial
Os estudos, efetuados na pesquisa bibliográfica, demonstram que os
benefícios psicossociais, proporcionados pela Equoterapia, são adquiridos
através da motivação que impulsiona o indivíduo pelo desejo e prazer,
conseguindo atrair a atenção e, com isso, aumentar o grau de concentração,
participação e interação e, desta forma, com o progresso de suas conquistas,
acaba deixando o medo e a insegurança de lado. Assim, o paciente sentido-se
mais confiante e certo de suas potencialidades, tem como conseqüência uma
melhora da auto-estima e autocontrole e demonstra, em contrapartida, mais
iniciativa e independência, o que certamente provocará a melhora da interação
social.
CAPÍTULO V – PLANEJAMENTO DA EQUOTERAPIA
5.1 – A Anamnese
A anamnese é o ponto de partida para a definição das etapas, da
estrutura das sessões e o tempo de tratamento do paciente com Síndrome de
Down.
O paciente se enquadrará de acordo com as capacidades físicas e/ou
mentais demonstradas por ocasião da anamnese feita inicialmente. Então, após
esses levantamentos preliminares, é traçado um plano terapêutico
individualizado, o qual será constantemente avaliado.
Em suma todo paciente que vai iniciar o tratamento deve ser submetido a
uma avaliação multidisciplinar que, em função dos resultados obtidos, poderá
libera-lo ou não para freqüentar a equoterapia.
Na Síndrome de Down em especial, torna-se indispensável o parecer do
Ortopedista que irá estabelecer se o paciente é portador de instabilidade
atlanto-axial, que é a mobilidade excessiva da coluna cervical entre a primeira e
segunda vértebras. Em caso positivo, o paciente não deverá freqüentar a
Equoterapia.
5.2 – Equipe de trabalho
A equoterapia é aplicada por uma equipe técnica multiprofissional e
interdisciplinar composta basicamente por fisioterapeuta, psicólogo,
fonaudiológo, pedagogo, professor de educação física, instrutor de equitação,
veterinário, entre outros.
A fonoaudióloga Érica Pinto Veneroni (2002), em seu artigo exposto na
rede mundial de computadores – Internet, ressalta a importância do profissional
de fonoaudilogia na Equoterapia. Referida fonoaudióloga relata como
praticamnte tudo em nosso dia-a-dia necessita de ritmo (a fala, a mastigação, o
batimento cardíaco, a respiração, etc), o fonoaudiólogo aproveita-se do andar
ritmado do cavalo para trabalhar alguns destes aspectos alterados como: a fala,
respiração, e mastigação, no ambiente equoterápico. Utiliza-se também, do
estimulo que o cavalo e o ambiente proporcionam ao paciente (ou praticante)
trabalhando a linguagem e os aspectos cognitivos deste.
Já Medeiros M. e Dias E. (2003) relata que “o fisioterapeuta tem um
papel fundamental nos casos de distúrbio de aprendizagem acompanhado de
déficits motores, pois compete a este profissional avaliar, eleger, traçar os
objetivos terapêuticos, realizar condutas especificas, manter a evolução
atualizada e a interação com a equipe de atuação paralela”
5.3 – Tempo e Duração das Sessões de Equoterapia
As sessões de equoterapia podem durar de 30 a 45 minutos.
Tais sessões abrangem as seguintes fases: hopoterapia,
educação/reeducaçõ equestre, pré-esportivo e esportivo. Retrocitadas fases
são a seguir explicitadas:
· Primeira fase (hipoterapia): O paciente não tem condições físicas e/ou
emocionais para se manter sozinho sobre o animal, necessitando de um
auxiliar-guia para conduzir o cavalo, e do terapeuta montado (trabalho cerrado)
para a execução das condutas específicas. O cavalo atua principalmente como
agente cinesioterapeutico.
· Segunda fase (educação/reeducação eqüestre): O paciente possui
condições de executar alguma atuação sobre o cavalo e conduzi-lo,
dependendo em menor grau do auxiliar guia, necessitando do auxiliar lateral
(terapeuta).
O cavalo propicia benefícios não só pelo seu movimento tridimensional,
mas também como facilitador do processo ensino-aprendizagem.
· Terceira fase (pré-esportista): O paciente possui total domínio sobre o
animal. A ação do profissional de equitação é mais efetiva, porém a orientação
e acompanhamento de profissionais de área de saúde continuam necessários.
· Quarta fase (esportista) : Traduz-se como o momento da alta, sendo o
paciente inserido na escola de equitação. Porém deve ficar claro que o paciente
só receberá alta após ter alcançado todos os objetivos terapêuticos.
CONCLUSÃO
O presente trabalho foi gerado a partir de exaustivos estudos
bibliográficos e intervenções na Rede Mundial de Computadores – Internet,
onde sua autora procurou os assuntos abordados sob o ponto de vista de vários
pesquisadores, para só depois disso, dar preferência àqueles que mais se
encaixassem sob o seu ângulo de visão. Desta forma, a presente obra
procurou, a princípio, promover a conceituação de Síndrome em questão,
mostrando as características físicas mais marcantes e fazendo uma avaliação
mais abrangente, enfocando os aspectos psicomotores, a noção de espaço e o
estado evolutivo da fala.
Nesses estudos, constatou-se que o termo “mongolismo”, par identificar
os portadores de Síndrome de Down, chega a ser preconceituoso, devendo, por
conseguinte, se preterido.
Constata-se ainda que a Síndrome de Down não pode ser considerada
uma doença, já que a mesma representa uma alteração genética que ocorrre
na época da concepção do bebê.
Entretanto, tal síndrome, como ressalta Booner e Plante, E. (1994, p.
205), provoca atraso em todas as áreas desenvolvimentais, mormente naquelas
relacionadas às habilidades motoras, de linguagem, sócio-adaptativas, dentre
outros.
Com isso, o presente trabalho tentou buscar um método complementar
de reabilitação física e mental que pudesse melhorar, ou mesmo diminuir, o
déficit psicomotor do portador da Síndrome de Down.
Para tanto, foram efetuados levantamentos que resultaram nos dados
consignados nos capítulos IV e V que, com certeza, são mais que suficientes
para indicar a Equoterapia como método terapêutico capaz de promover
melhoras no aspecto biopsicosocial dos pacientes portadores da Síndrome de
Down e, conseqüentemente, influenciar positivamente na qualidade de vida dos
mesmos.
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