6
207 1 Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR). Avenida de Brasília. 1449-006 Lisboa. 2 Faculdade de Medicina Veterinária (Universidade Técnica de Lisboa. Rua Professor Cid dos Santos. 1300-477 Lisboa. Descreve-se um caso de hiperplasia da tiróide observado num exemplar de . O exame clí- nico permitiu observar uma tumefacção branquial projectan- do-se sob o opérculo direito e provocando o seu afastamento. Paralelamente, o exame anátomo-patológico permitiu obser- var a presença de uma massa hiperplásica na região branquial ventral direita bem como na região branquial dorsal/ bucal. A observação ao microscópio óptico dos cortes realizados nas diferentes estruturas afectadas permitiu observar que, embora a unidade estrutural básica fosse o folículo da tiróide, a estru- tura microscópica não era uniforme, variando quer no tama- nho, forma e presença das células foliculares, quer ainda na riqueza do estroma interfolicular. O diagnóstico diferencial entre lesão hiperplásica e neoplasia teve como critérios os aspectos histológicos observados, a ausência de figuras de mitose e o facto de não se ter identificado tecido ectópico. Faz-se o estudo comparativo com outros casos clínicos obser- vados nesta e em outras espécies. O texto inclui sob a forma de quadro, uma compilação dos processos patológicos da tiróide observados em peixes. The present work reports a case of thyroid hyper- plasia in . The affected fish exhibited a red- dish large mass protruding beyond the right operculum and preventing the complete closure of the gill chamber. At necropsy a large mass on the left side and along the floor of the pharynx was observed. Microscopically, the mass consis- ted mainly of thyroid follicles of varying size, several of which follicles lacked a lumen. The amount of interfollicular stroma was variable. In many teleosts it is difficult to diagnose thyroid tumours because of the unencapsulated and hetero topic thyroid, which makes it difficult to distinguish whether lesions are neoplastic or hyperplastic. The thyroid tumor des- cribed here was classified as a thyroid hyperplasia. This conclusion was based on the tumour’s benign microscopic appearance, the fact that the tissue was encapsulated and no mitotic figures or metastases were identified. This condition is discussed in comparison with similar cases reported in the same and other species in the literature. A table summarising spontaneous thyroid tumours is also included. gação sobre o desenvolvimento anormal da tiróide, em diversas espécies de peixes marinhos e de água doce, selvagens (Leatherland ., 1989) ou estabu- lados, durante um determinado período de tempo (Schlumberger & Lucké, 1948; Gorbman & Gordon, 1951; Nigrelli, 1952; Lightner & Meineke, 1975; Conroy & Santacana, 1979). Contudo, os tumores da tiróide são raros na natureza (MacIntyre, 1960 Snieszko, 1972), sendo a sua frequência superior em peixes estabulados e mais nos de água doce do que nos de água salgada (MacIntyre, 1960 Harada ., 1996). O primeiro foco epizoótico de bócio em peixes, reconhecido em Portugal, data de 1969 e ocorreu num viveiro de trutas arco-íris, , na Serra da Estrela (Cruz, 1969). Posterior- mente, registaram-se alterações da tiróide no (Freitas ., 1986), no (Freitas, 1990) e, com carácter epizoótico em lingua- dos, (Ramos, 1998; 1999). A interpretação e classificação das lesões prolife- rativas observadas na tiróide nem sempre reuniram consenso, o que levou a confusões consideráveis no seu diagnóstico (Tabela 1). Esta controvérsia ter-se-á devido a uma característica anatómica da grande maioria dos peixes teleósteos que é a ausência de glândula tiróide encapsulada como nos mamíferos. As excepções são o espadarte ( ) (Hazon & Balment, 1998; Capen, 2000), o atum ( ) e o peixe-papagaio ( ) (Leatherland, 1994). Nos teleósteos, os folículos da tiróide apresentam uma distribuição anatómica difusa no tecido conjun- tivo das zonas subfaríngica e parafaríngica (Gorb- man, 1969), ao longo da aorta ventral (Lagler ., 1977) e segundas e terceiras artérias branquiais (Ashley, 1975). Podem ser observados folículos em torno do olho, veias hepáticas, tecido hematopoiético renal (Ellis 1978; Endo, 1995), baço e coração (Leatherland & Ferguson, 1997) correspondendo a tecido ectópico normal. Esta dispersão dos folículos da tiróide dificulta a sua localização tornando-os difíceis de estudar, mesmo por microscopia electró- nica (Leatherland ., 1978). Embora haja uma grande variação na localização e distribuição dos folículos da tiróide entre as diferentes espécies de vertebrados (Capen, 2000), a glândula tiróide dos peixes e dos ciclóstomos partilha com eles duas Segundo Gaylord & Marsh (1912), o primeiro registo de alterações patológicas da tiróide em pei- xes, deve-se a Bonnet (1883), embora a natureza do processo não tenha então sido identificada. Este investigador alemão descreveu um surto que vitimou mais de três mil trutas, de uma piscicultura (Schlumberger & Lucké, 1948). Desde então, publicaram-se inúmeros trabalhos de investi-

Sinopse dos processos patológicos da tiróide. · de quadro, uma compilação dos processos patoló gicos da tiróide observados em peixes. The present work reports a case of thyroid

  • Upload
    lethuan

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Sinopse dos processos patológicos da tiróide. · de quadro, uma compilação dos processos patoló gicos da tiróide observados em peixes. The present work reports a case of thyroid

207

1 Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR). Avenida de Brasília. 1449-006 Lisboa.2 Faculdade de Medicina Veterinária (Universidade Técnica de Lisboa. Rua Professor Cid dos Santos. 1300-477 Lisboa.

Descreve-se um caso de hiperplasia da tiróideobservado num exemplar de . O exame clí-nico permitiu observar uma tumefacção branquial projectan-do-se sob o opérculo direito e provocando o seu afastamento.Paralelamente, o exame anátomo-patológico permitiu obser-var a presença de uma massa hiperplásica na região branquialventral direita bem como na região branquial dorsal/ bucal. Aobservação ao microscópio óptico dos cortes realizados nasdiferentes estruturas afectadas permitiu observar que, emboraa unidade estrutural básica fosse o folículo da tiróide, a estru-tura microscópica não era uniforme, variando quer no tama-nho, forma e presença das células foliculares, quer ainda nariqueza do estroma interfolicular. O diagnóstico diferencialentre lesão hiperplásica e neoplasia teve como critérios osaspectos histológicos observados, a ausência de figuras demitose e o facto de não se ter identificado tecido ectópico.Faz-se o estudo comparativo com outros casos clínicos obser-vados nesta e em outras espécies. O texto inclui sob a formade quadro, uma compilação dos processos patológicos datiróide observados em peixes.

The present work reports a case of thyroid hyper-plasia in . The affected fish exhibited a red-dish large mass protruding beyond the right operculum andpreventing the complete closure of the gill chamber. A tnecropsy a large mass on the left side and along the floor ofthe pharynx was observed. Microscopically, the mass consis-ted mainly of thyroid follicles of varying size, several ofwhich follicles lacked a lumen. The amount of interfollicularstroma was variable. In many teleosts it is difficult to diagnosethyroid tumours because of the unencapsulated and heterotopic thyroid, which makes it difficult to distinguish whetherlesions are neoplastic or hyperplastic. The thyroid tumor des-cribed here was classified as a thyroid hyperplasia. T h i sconclusion was based on the tumour’s benign microscopicappearance, the fact that the tissue was encapsulated and nomitotic figures or metastases were identified. This conditionis discussed in comparison with similar cases reported in thesame and other species in the literature. A table summarisingspontaneous thyroid tumours is also included.

gação sobre o desenvolvimento anormal da tiróide,em diversas espécies de peixes marinhos e de águadoce, selvagens (Leatherland ., 1989) ou estabu-lados, durante um determinado período de tempo(Schlumberger & Lucké, 1948; Gorbman & Gordon,1951; Nigrelli, 1952; Lightner & Meineke, 1975;Conroy & Santacana, 1979). Contudo, os tumores datiróide são raros na natureza (MacIntyre, 1960 Snieszko, 1972), sendo a sua frequência superior empeixes estabulados e mais nos de água doce do quenos de água salgada (MacIntyre, 1960 Harada

., 1996).O primeiro foco epizoótico de bócio em peixes,

reconhecido em Portugal, data de 1969 e ocorreunum viveiro de trutas arco-íris,

, na Serra da Estrela (Cruz, 1969). Posterior-mente, registaram-se alterações da tiróide no

(Freitas ., 1986), no (Freitas, 1990) e, com carácter epizoótico em lingua-dos, (Ramos, 1998; 1999).

A interpretação e classificação das lesões prolife-rativas observadas na tiróide nem sempre reuniramconsenso, o que levou a confusões consideráveis noseu diagnóstico (Tabela 1). Esta controvérsia ter-se-ádevido a uma característica anatómica da grandemaioria dos peixes teleósteos que é a ausência deglândula tiróide encapsulada como nos mamíferos.As excepções são o espadarte ( ) (Hazon &Balment, 1998; Capen, 2000), o atum ( )e o peixe-papagaio ( ) (Leatherland, 1994).Nos teleósteos, os folículos da tiróide apresentamuma distribuição anatómica difusa no tecido conjun-tivo das zonas subfaríngica e parafaríngica (Gorb-man, 1969), ao longo da aorta ventral (Lagler .,1977) e segundas e terceiras artérias branquiais(Ashley, 1975). Podem ser observados folículos emtorno do olho, veias hepáticas, tecido hematopoiéticorenal (Ellis 1978; Endo, 1995), baço e coração(Leatherland & Ferguson, 1997) correspondendo atecido ectópico normal. Esta dispersão dos folículosda tiróide dificulta a sua localização tornando-osdifíceis de estudar, mesmo por microscopia electró-nica (Leatherland ., 1978). Embora haja umagrande variação na localização e distribuição dosfolículos da tiróide entre as diferentes espécies devertebrados (Capen, 2000), a glândula tiróide dospeixes e dos ciclóstomos partilha com eles duas

Segundo Gaylord & Marsh (1912), o primeiroregisto de alterações patológicas da tiróide em pei-xes, deve-se a Bonnet (1883), embora a natureza doprocesso não tenha então sido identificada. Esteinvestigador alemão descreveu um surto que vitimoumais de três mil trutas, d e u m apiscicultura (Schlumberger & Lucké, 1948). Desdeentão, publicaram-se inúmeros trabalhos de investi-

Page 2: Sinopse dos processos patológicos da tiróide. · de quadro, uma compilação dos processos patoló gicos da tiróide observados em peixes. The present work reports a case of thyroid

208

Sinopse dos processos patológicos da tiróide.

(*) cit. Mawdesley-Thomas, 1975.

(**) cit. Blasiola et al., 1981

Nota: A Classificação Taxómica apresentada foi revista pela Base de Dados electrónica do ficheiro www.fishbase.org.

Page 3: Sinopse dos processos patológicos da tiróide. · de quadro, uma compilação dos processos patoló gicos da tiróide observados em peixes. The present work reports a case of thyroid

cm de largura (Fig. 2). Na região branquial dorsal/bucal, ao nível do istmo (zona de confluência dos 1º,2º e 3º arcos branquiais), observou-se a presença deuma massa hiperplásica trilobada, de cor rosa-claro,com 1 cm de largura e 0,8 cm de comprimento, pro-jectando-se a meio da face dorsal da faringe, quaseatingindo dorsalmente o céu da boca (Fig. 3). Todosos órgãos internos foram observados, não se regis-tando lesões macroscópicas aparentes.

A observação ao microscópio óptico dos cortes re-alizados nas diferentes estruturas hiperplásicas bran-quiais ventrais (direita e esquerda) e dorsal/ bucal,permitiu observar que, embora a unidade estruturalbásica fosse o folículo da tiróide, a estrutura micros-cópica dos tecidos hiperplásicos não era uniforme.

Na região branquial ventral direita, que correspon-dia à massa hiperplásica visível exteriormente, o te-cido hiperplásico era menos denso que nas outrasestruturas. Nesta zona os folículos surgiam separa-dos por amplos espaços claros de tecido conjuntivolaxo, constituídos por uma fina estrutura fibrosa desuporte, na qual era possível identificar cavidadescom revestimento endotelial (Fig. 4). Algumas des-sas cavidades continham hemáceas, correspondendoa capilares sanguíneos, em estreito contacto com ascélulas foliculares. A pequena ampliação, estes espa-ços claros assemelhavam-se mesmo a tecido adiposo.Observou-se alguma heterogeneidade relativamenteao tamanho dos folículos bem como na coloração docolóide interfolicular. Pequenos folículos constituídospor células cilíndricas e repletas de colóide forte-

209

características, a unidade estrutural básica, o folículo,e a capacidade deste tecido para captar e incorporariodo inorgânico nas hormonas que sintetiza (Matty,1985).

O caso em estudo, observou-se num exemplar de, vulgarmente conhecido por “Ser-

rano” ou “Ferreiro”. Este exemplar foi mantido numaquário de água salgada, onde coabitou com outrospeixes selvagens da mesma espécie e de espéciesdiferentes, durante um período de dois anos. A s u aalimentação consistiu essencialmente em “camarinha”e “berbigão”. O controlo dos parâmetros físico-quí-micos da água foi feito através da avaliação semanalde nitritos, nitratos e amónia. A adição de águasalgada era esporádica, apenas para compensar asperdas normais por evaporação.

O exemplar em causa não manifestava alteraçõesde comportamento nem alimentar. O exame clínicopermitiu observar uma tumefacção branquial de co-loração avermelhada, projectando-se sob o opérculodireito e provocando o seu afastamento (Fig. 1).Apenas um outro exemplar da mesma espécie apre-sentou idêntica sintomatologia, mas morreu sem quetivéssemos tido oportunidade de o observar.

A occisão foi realizada imediatamente antes da ne-crópsia com uma sobredosagem do anestésico Feno-xietanolmonofenileter.

O material colhido para exame histopatológico foifixado em formol salgado a 10 % e tamponado,incluido em parafina e os cortes com 5 µm foramcorados com hematoxilina e eosina (H&E), segundoa metodologia descrita por Lillie & Fullmer (1976).

O exame anátomo-patológico do sistema bran-quial, permitiu registar a presença de uma massatecidular hiperplásica de consistência firme e aspec-to nodular. Na região branquial ventral direita, amassa tecidular, com dimensões aproximadas de 1 X1 cm, era visível exteriormente enquanto que no ladoesquerdo, a massa tecidular era difusa, com dimen-sões aproximadas de 1 cm de comprimento por 0,5

Exemplar de . Observar uma tume-facção projectando-se da região sub-opercular direita.

O exemplar da figura anterior, observado num planoaxial.

Formação hiperplásica na zona faríngica, projectando-se para o interior da cavidade bucal.

Page 4: Sinopse dos processos patológicos da tiróide. · de quadro, uma compilação dos processos patoló gicos da tiróide observados em peixes. The present work reports a case of thyroid

210

mente eosinofílico, foram identificados entre grandesestruturas quísticas (Fig. 5). Estas estruturas quísticaseram constituídas por células foliculares cúbicas, porvezes apresentando contornos irregulares (Fig. 6). O lú-men continha material eosinofílico heterogéneo, compequenas gotículas e ocasionalmente hemáceas. No ci-toplasma das células foliculares, observou-se a presen-ça de gotículas eosinofílicas, semelhantes ao colóide.

Na região branquial ventral esquerda, a imagemhistológica dominante, consistia na presença deestroma ricamente vascularizado no qual se encon-travam folículos da tiróide repletos de colóide forte-mente eosinofílico e constituídos por célulasepiteliais cilíndricas.

Histologicamente, a estrutura hiperplásica na re-gião branquial dorsal/ bucal, caracterizou-se pelapresença de massas compactas de folículos da tiróide(Fig. 7), evidenciando alguma heterogeneidadequanto ao tamanho e forma (microfolículos, folícu-los alongados e quistos repletos de colóide heterogé-neo), separadas por trabéculas de tecido conjuntivolaxo. Observou-se a presença de gotículas eosinofílicasno citoplasma das células foliculares (Fig. 8).

Por último, um aspecto interessante a referir, é ofacto de, apesar de as estruturas hiperplásicas nãoserem encapsuladas, apresentavam uma periferiar e g u l a r, sob o epitélio que revestia as estruturas ana-tómicas anexas.

Da observação histológica dos órgãos colhidos,destaca-se a presença de inúmeros centros melano-macrofágicos (CMM) no baço que ocupavam grandeparte do parênquima, bem como a presença degranulomas (reacção inflamatória crónica) rodeadospor CMM. No miocárdio do também foiobservada a presença de CMM. As brânquias apre-

Massa hiperplásica na região branquial ventral direita.Folículo quístico repleto de colóide esosinofílico com hemáceas.Observar folículos pequenos e amplos espaços claros de tecidoconjuntivo laxo. (H&R, x20).

Massa hiperplásica na região branquial ventral direita.Folículos pequenos repletos de colóide. Observar os amplos espa-ços claros nos quais se identificam cavidades de revestimento en-dotelial, contendo hemáceas. (H&E, x 50).

Formação hiperplásica na região branquial dorsal/bucal. Massa compacta de folículos da tiróide de tamanho variado.(H&E, x 20).

Folículo quístico de contornos irregulares resultantesda pressão exercida pelas estruturas vesiculosas dos amplos espa-ços claros. (H&E, x 50).

Formação hiperplásica na região branquial dorsal/bucal. Presença de gotículas eosinofílicas no citoplasma das célu-las foliculares. (H&E, x 100).

Page 5: Sinopse dos processos patológicos da tiróide. · de quadro, uma compilação dos processos patoló gicos da tiróide observados em peixes. The present work reports a case of thyroid

211

sentavam alterações de natureza hiperplásica e fusãodos filamentos branquiais. Não foram identificadasfiguras de mitose nem a presença de tecido tiroideuectópico, nos órgãos observados.

Em Portugal, uma alteração patológica da tiróidena mesma espécie, foi anteriormente referida porFreitas (1990). Em termos anátomo-patológicos, oexemplar do caso mencionado, apresentava umamassa hiperplásica unilateral esquerda, não havendoreferência a estruturas hiperplásicas projectando-seda faringe para dentro da cavidade bucal, comoobservado no caso em estudo e em outras espéciestais como: (Blasiola . ,1981), (Moccia ., 1981),

(Gorbman & Gordon,1951), (Ramos, trabalho nãopublicado) e (Gaylord & Marsh,1912). No caso presente, a conformação corporalfusiforme de permitiu identificarfacilmente a hipertrofia da tiróide devido ao afasta-mento dos opérculos, comparativamente com asituação registada em ( R a m o s ,1998). Associado à localização anatómica das estru-turas hiperplásicas da tiróide, tem sido descrito umquadro sintomatológico, não observado neste exem-plar, e que inclui disfagia e dificuldade respiratória.

Da descrição histológica das lesões observadas porFreitas (1990) em , destacam-sedois aspectos estruturais: o grande número de folículosde tamanho variado, a maioria contendo colóide noseu interior, e a presença de neovasos. Estas duasimagens histológicas constituem igualmente a basedas alterações por nós observadas. No presente caso,a imagem histológica dos amplos espaços claros detecido conjuntivo laxo observados na massa hiper-plásica visível do exterior, foi igualmente descritanuma lesão tumoral da tiróide localizada na regiãobranquial dorsal/ bucal de (Gorbman & Gordon, 1951). Não foram identifica-das figuras de mitose, contrariamente ao descritorelativamente à patologia da tiróide em

(Blasiola ., 1981), em (Harada ., 1996) e em (Freitas,1990). A pesquisa de tecido tiroideu ectópico no sis-tema branquial, revelou-se negativa tanto no casopresente como no relatado por Freitas (1990), con-trastando com a exuberância proliferativa de tecidotiroideu, nos filamentos branquiais referida em

, (Ramos, 1998, 1999) e ainda em(Lightner & Meineke, 1975),

em (Gorbman & Gordon,1951; Aronowitz ., 1952), em

(Blasiola ., 1981) e em (Nowak & Harshbarg e r, 1999). Folículos da

tiróide ectópicos foram ocasionalmente observadosno baço, intestino e glândula coróide de

(Backer ., 1955) e (Hoover, 1984); no intestino de salmonídeos

(Gaylord & Marsh, 1912); no estômago de

(Ramos, 1999); no rim de todos osexemplares anteriores e ainda em (Harada 1996), em e em

spp. (Bond, 1996); no miocárdio doe/ou dos ventriculos de

(Ramos, 1999), (Hoover, 1984)e em (Blasiola 1 9 8 1 ) ;no fígado, pâncreas, gordura mesentérica e ovário de

( H o o v e r, 1984). No exemplarem estudo não foram identificados folículos da tiróideectópicos. As massas tecidulares hipertrofiadas apre-sentavam imagens histológicas sugerindo uma res-posta variável dos folículos à hiper-estimulação.

O diagnóstico diferencial entre lesões h i p e r p l á s i c a se neoplasias da tiróide é frequentemente difícil. Aausência de verdadeira cápsula envolvente da tiróidenão permite avaliar, com rigor, se ocorreu invasãodos tecidos vizinhos, como seria de esperar emprocessos neoplásicos. Por outro lado, estimar aocorrência de difusão metastática torna-se parti-cularmente difícil dada a existência de tecido ectópicoda tiróide em vários órgãos (Budd & Roberts, 1978;Smith, 1993; Leatherland, 1994).

Usando como critério de diagnóstico os aspectoshistológicos observados (Sonstegard & Leatherland,1976; Leatherland & Sonstegard, 1981; Ham & Cor-mak, 1983) designadamente a semelhança entre ascélulas foliculares da tiróide alterada e as do mesmoórgão na maioria dos vertebrados, a coloração e he-terogeneidade do colóide dos folículos, a ausênciade figuras de mitose, a ausência de invasão dos teci-dos vizinhos e o facto de não se ter identificado teci-do ectópico, permitem concluir que as alteraçõesobservadas no exemplar de em es-tudo correspondiam a hiperplasia da tiróide e não aum processo de natureza neoplásica. A h i p e r p l a s i apoderá ter sido devida a estimulação anormal, cujaetiologia não é possível esclarecer com os dados dis-poníveis, nomeadamente os relativos à possível defi-ciência em iodo do meio ambiente.

À Técnica Profissional de Laboratório, A u g u s t aMoledo (D.A.Q.) a colaboração no exame histopato-lógico e a Constança Pasadas (D.D.C.T.- Laboratóriode Fotografia) a macrofotografia.

AMLACHER, E. (1970). Tumors. In:. Editores: D.A. Conroy & R.L. Herman. T.F.H. Publications,

Inc., New Jersey, U.S.A., 266-279.

ARONOWITZ, O., EDGAR, M. & GORDON, M. (1952). Pro-gressive Growth Stages in the Development of SpontaneousThyroidal Tumors in the Swordtail

., , 245.

A S H L E Y, L.M. (1975). Comparative Fish Histology. In: . Editor: William E. Ribelin & George Miga-

ki. The University of Wisconsin Press, Madison, Wi s c o n s i n ,U.S.A., 3-30.

BACKER, K.F., BERG, O., GORBMAN, A., NIGRELLI, R.F. &GORDON, M. (1955). Functional Thyroid Tumors in the Kidney`s

Page 6: Sinopse dos processos patológicos da tiróide. · de quadro, uma compilação dos processos patoló gicos da tiróide observados em peixes. The present work reports a case of thyroid

212

of Platyfish. ., , 118-123.

BERG, O., EDGAR, M., GORDON, M. (1953). ProgressiveGrowth Stages in the Development of Spontaneous T h y r o i dTumors in Inbred Swordtails,

., , 1-8.

BLASIOLA, G.C. JR., TURNIER, J.C. & HURST, E.E.(1981). Metastatic Thyroid Adenocarcinomas in a Captive Popu-lation of Kelp Bass, .

, , 51-59.

BOND, C. (1996). Nervous and Endocrine Systems. In: . Editor: Carl E. Bond. Second Edition. Saunders

College Publishing, 241-258.

BUDD, J. & ROBERTS, R.J. (1978). Neoplasia of Teleosts. In:. Editor: R.J. Roberts. Bailliére Tindall, London,

U.K., 105-113.

BUDD, J., SCHRODER, J.D. & DUKES, K.D. (1975). Tumorsof the Yellow Perch. In: Editors: Willi-am E. Ribelin & George Migaki. The University of Wi s c o n s i nPress, Madison, Wisconsin, U.S.A., 902-903.

CA P E N, C.C. (2000). A n a t o m y. Comparative Anatomy andPhysiology. In:

. Editors: Lewis E. Braverman & Robert D. Uti-ger. Eighth Edition. Lippincott Williams & Wilkins, Philadelphia,U.S.A., 20-43.

CONROY, D.A. & SANTACANA, J.A. (1979). A case of goi-tre and its treatment in a goldfish (L.). .

. , 555-556.

CRUZ, J.A.M. (1969). Sur un Focus Épizootique de GoîtreDans Des Populations de Truite Arc-en-Ciel ( gib.).

. Secção Agricultura. Secretaria deEstado da Agricultura. Direcção Geral dos Serviços Florestais eAgrícolas. Lisboa, Portugal, 11 p.

ELLIS, A.E., ROBERTS, R.J. & TYTLER, P. (1978). The Ana-tomy and Physiology of Teleosts. In: . Editor: Ro-nald, J. Roberts. Baillière Tindall, London, U.K., 13-54.

ENDO, M. (1995). KIDNEY. In: . Editors: Takashima, F. & Hibi-

ya, T. Second Edition. Kodansha, Ltd. Tokyo, Japan, 11 6 - 1 2 7 .

FREITAS, M.S.G, CRUZ E SILVA, M.P. & VENTURA, M.T.(1986). Patologia de Peixes Marinhos. Casos Estudados no Labo-ratório Nacional de Investigação Veterinária. . L.N.I. V.,

, 61-66.

FREITAS, S.G. (1990). Um caso de adenoma em «Serranus he-patus». . L.N.I.V., , 23-26.

GAYLORD, H.R. & MARSH, M.C. (1912). Carcinoma of thethyroid in the salmonoid fishes. . , 363-524.

GORBMAN, A. (1969). Thyroid function and its control in fis-hes. In: . Editors: Hoar, WS & Randall DJ. Aca-demic Press, New York, U.S.A., 241-274.

GORBMAN, A. & GORDON, M. (1951). SpontaneousThyroidal Tumors in the Swordtail .

. , 184-187.

HAM, A.W. & CORMACK, D.H. (1983). Sistema EndócrinoIn: . Oitava Edição. Guanabara Koogan S.A. , 735-761.

HARADA, T., ITOH, H., HATANAKA, J., KAMIYA, S. &ENOMOTO, H. (1996). A morphological study of a thyroid carci-noma in a medaka, ( Temminck & Schlegel). .

. , 271-277.

HAZON, N. & BALMENT, R.J. (1998). Endocrinology. In:. Editor: David H. Evans. Second Editi-

on. CRC Marine Science Series, 441-463.

HONMA, Y. & ISHIYAMA, M. (1982). A Case of Adenoma-tous Goiter Developed in the Thyroid of a Serpentine Goby,

, Reared in the Aquarium. . . .. ., . , 27-31.

HOOVER, K.L. (1984). Hyperplastic thyroid lesions in fish.In: , , 275-289.

J O H N S TON, J. (1924). Malignant tumours in fishes. . .. , 447-467.

LAGLER, K.F., BARDACH, J.E., MILLER, R.R. & MAYPASSINO, D.R. (1977). Integration. In: . Second Editi-on. John Wiley & Sons, Inc., New York, U.S.A., 311-377.

LEATHERLAND, J.F. (1994). Reflections on the thyroidologyof fishes: from molecules to humankind. In:

. T.F.H. Publications, Inc., Neptune City, New Jersey forthe Institute of Ichthyology, University of Guelph, Ontario, Cana-da, 6-10.

LEATHERLAND, J.F. & FERGUSON, H.W. (1997). Endocri-ne and Reproductive Systems. In:

. Editor: Hugh W. Ferguson. 195-214.

L E ATHERLAND, J.F., LIN, L., DOWN, N.E. & DONALD-SON, E.M. (1989). Thyroid Hormone Content of Eggs and EarlyDevelopment Stages of Three Stocks of Goitred Coho Salmon(Oncorhynchus kisutch) from the Great lakes of North A m e r i c aand a Comparision with stock from British Columbia.

., , 2146-2152.

L E ATHERLAND, J.F., MOCCIA, R. & SONSTEGARD, R.(1978). Ultrastructure of the Thyroid Gland in Goitered Coho Sal-mon ( ). . , 148-158.

L E ATHERLAND, J.F. & SONSTEGARD, R.A. (1981).Thyroid function, pituitary structure and serum lipids in Great La-kes coho salmon walbaun, “jacks” compa-red with sexually immature spring salmon. . ,643-653.

LIGHTNER, D.V. & MEINEKE, D.A. (1975). A thyroid tumorin a sheepshead minnow ( ) from the Gulfof Mexico. , , 138-139.

LILLIE, R.D. & FULLMER, H.M. (1976). In:. Editors: J. Dereck Jeff e r s

& Anne T. Vinnicombe. Fourth Edition. McGraw- Hill, Inc., 942 p.

M A RTOJA, M. & LEQUAN, M. (1984). L’ H y p e r p l a s i eThyroidienne des Poissons Marins d’Ornement Provoquée parune Carence en Iode. Comptes Rendues Des Journées Aquariolo-giques de L’Institut Océanographique (16-17 Décember, 1983).Marine Aquariology. (Resumo). . , 575.

MATTY, A.J. (1985). The Thyroid Gland. In:. Croom Helm Ltd, London & Sydney. Tymber Press, Por-

tland, Oregon, U.S.A., 54-83.

MAWDESLEY-THOMAS, L.E. (1975). Neoplasia in Fish. In:. Editors: Ribelin, W.E. & Migaki, G.

U n i v. Wisconsin Press, Madison, Wisconsin, U.S.A., 805-870.

MOCCIA, R.D., LEATHERLAND, J.F. & SONSTEGARD,R.A. (1977). Increasing frequency of thyroid goiters in coho sal-mon ( in the Great Lakes. . ,425-426.

MOCCIA, R.D., LEATHERLAND, J.F. & SONSTEGARD,R.A. (1981). Quantitative interlake comparision of thyroid patho-logy in Great Lakes Coho ( ) and chinook( ). . , 2200-2210.

NIGRELLI, R.F. (1952). Spontaneous Neoplasms in Fishes.VI.Thyroid Tumors in Marine Fishes. . , 286.

NOWAK, B. & HARSHBARGER, J. (1999). Gill Pathology inGreenback Flounder, . 9th

. Greece. pp. 27.

RAMOS, P. (1998). Adenoma da Tiróide em Linguado (, Kaup). , 40-50.

RAMOS, P. (1999). Thyroidal Adenoma of Sole, , Kaup. . 9th

.Greece, pp. 30.

SCHLUMBERGER, H.G. (1957), Tumors Characteristic forCertain Animal Species: A Review. . , 823-832.

SCHLUMBERGER, H.G. & LUCKÉ, B. (1948). Tumors ofFishes, Amphibians and Reptiles. . , 657-712.

SMITH, C.E. (1993). Neoplasia in Salmonids. In:. Editor: Stoskopf, M.K. W.B. Saunders Company, 428-432.

SNIESZKO, S.F. (1972). Nutritional Fish Diseases. In:. Editor: Halver, J.E. New York and London. Academic

Press, 404-437.

SONSTEGARD, R. & LEATHERLAND, J.F. (1976). The Epizo-otiology and Pathogenesis of Thyroid Hyperplasia in Coho Salmon( ) in Ontario. . , 4467-4475.

TILK, K. (1981). Hiperplasie de la thyroïde chez . . , pp. 33.