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Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Espeleologia Campinas SP, 07 a 10 de julho de 2005 - Sociedade Brasileira de Espeleologia SINTESE DA DISTRIBUIÇÃO DAS CAVIDADES E FEIÇÕES CÁRSTICAS RELEVANTES EM RELAÇÃO AOS CORPOS CARBONÁTICOS DA FAZENDA URANO - LIMITE NOROESTE DO PETAR – PARQUE ESTADUAL ALTO DA RIBEIRA (GUAPIARA – SP) [RESUME OF UPDATING OF THE CAVES AND RELEVANT CARSTICS IN THE CARBONATIC BODIES OF THE FAZENDA URANO - LIMITS NORTH-WEST OF THE ALTO DO RIBEIRA STATE TOURIST PARK (PETAR) – GUAPIARA SP] Fernando José Gallo FRIGO [email protected] - Geólogo – Espeleólogo (Guano Speleo – IGC/UFMG – Área Verde Engenharia e Meio Ambiente) Rua Nicaragua, 56 – Ap 206, Sion, Belo Horizonte MG, BRASIL, CEP 30320-050 - Tel: (31) 3285-3033 RESUMO A proposta deste trabalho é resultante da avaliação cárstica – espeleológica dos corpos carbonáticos localizados na Fazenda Urano – próximo ao limite noroeste do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), no município de Guapiara – SP, de propriedade do Grupo Lafarge. Foram descritos aspectos relativos à prospecção cárstica espeleológica e hidrológico dos corpos carbonáticos conhecidos na Fazenda Urano e posterior mapeamento das cavidades selecionadas. Os corpos carbonáticos mapeados estão encaixados entre outras litologias do Grupo Açungui ou Faixa Água Clara e estão deformados e alongados segundo direção regional NNE - SSW. Foram descobertos três (03) abrigos e 21 cavidades ou reentrâncias com desenvolvimento linear até 10m, 04 com desenvolvimento linear até 20 metros, 01 com desenvolvimento linear até 40 metros e 03 com desenvolvimento até 80 metros. Oito cavidades relevantes foram mapeadas e avaliadas. Aspectos sobre cada cavidade como morfologia, controle litológico e conservação foram descritos. Sugeriu-se a criação de áreas de proteção de oito cavidades e locais cársticos significativos. Palavras-Chave: Corpos carbonáticos; Fazenda Urano; PETAR; Guapiara; exploração espeleológica. [ABSTRACT] The present report is about the evaluation carstic – speleological of the carbonatic’s bodies located in Urano Farm, near of the limit north - west of The Alto do Ribeira State Tourist Park (PETAR), in the city Guapiara – SP of property of the Lafarge Group. Relative aspects were described to the search carstic, speleological and hydrologic of the carbonatic’s bodies in Urano Farm and survey selection caves. The carbonatic’s bodies surveys are host rock in the other lithologies of the Grupo Açungui or Faixa Água Clara and are deformed have NNE – SSW regional directions. Were discovered 03 shelters and 21 caves with linear lenghts over 10 meters, 04 caves with linear lenghts over 20 meters, 01 cave with linear lenghts over 40 meters, 03 caves with linear lenghts over 80 meters. 08 caves were surveyed and available. Aspects at the cave with morphology, lithologic control and conservation were described. Suggest protect areas of the 08 caves and significations carstic places. Key words: Carbonatic bodies; Urano Farm; PETAR; Guapiara; speleological exploration. INTRODUÇÃO Esse estudo objetivou avaliar o patrimônio cárstico/espeleológico presente na Fazenda Urano (500 ha aproximadamente), de propriedade da Cimento Mauá S. A – Grupo Lafarge, no município de Guapiara, Estado de São Paulo. A presente área situa-se próximo ao limite do Parque Estadual Turístico Alto da Ribeira – PETAR, a NW do extremo N do Parque (17ª. Regional). Inicialmente, foi realizada uma visita de reconhecimento na Fazenda Urano (Bairro Fazendinha), o que determinou para as etapas posteriores o detalhamento de vários alvos espeleológicos (corpos carbonáticos), a fim de se levantar feições importantes do ponto de vista cárstico – espeleológico. Foram coletados dados bibliográficos diversos da região. Após foram desenvolvidas prospecções espeleológicas nos corpos carbonáticos denominados “DER”, “Toquinha”, “Agrião” e “Toca Feia”, “Conceição”, “Urubu” e “João Brás”. www.sbe.com.br [email protected] páginas 175-182

SINTESE DA DISTRIBUIÇÃO DAS CAVIDADES E FEIÇÕES … · Aspectos sobre cada cavidade como morfologia, controle litológico e conservação foram descritos. Sugeriu-se a criação

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Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Espeleologia Campinas SP, 07 a 10 de julho de 2005 - Sociedade Brasileira de Espeleologia

SINTESE DA DISTRIBUIÇÃO DAS CAVIDADES E FEIÇÕES CÁRSTICAS

RELEVANTES EM RELAÇÃO AOS CORPOS CARBONÁTICOS DA FAZENDA URANO - LIMITE NOROESTE DO PETAR – PARQUE

ESTADUAL ALTO DA RIBEIRA (GUAPIARA – SP) [RESUME OF UPDATING OF THE CAVES AND RELEVANT CARSTICS IN THE CARBONATIC BODIES OF

THE FAZENDA URANO - LIMITS NORTH-WEST OF THE ALTO DO RIBEIRA STATE TOURIST PARK (PETAR) – GUAPIARA SP]

Fernando José Gallo FRIGO

[email protected] - Geólogo – Espeleólogo (Guano Speleo – IGC/UFMG – Área Verde Engenharia e Meio Ambiente)

Rua Nicaragua, 56 – Ap 206, Sion, Belo Horizonte MG, BRASIL, CEP 30320-050 - Tel: (31) 3285-3033

RESUMO A proposta deste trabalho é resultante da avaliação cárstica – espeleológica dos corpos carbonáticos localizados na Fazenda Urano – próximo ao limite noroeste do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), no município de Guapiara – SP, de propriedade do Grupo Lafarge. Foram descritos aspectos relativos à prospecção cárstica espeleológica e hidrológico dos corpos carbonáticos conhecidos na Fazenda Urano e posterior mapeamento das cavidades selecionadas. Os corpos carbonáticos mapeados estão encaixados entre outras litologias do Grupo Açungui ou Faixa Água Clara e estão deformados e alongados segundo direção regional NNE - SSW. Foram descobertos três (03) abrigos e 21 cavidades ou reentrâncias com desenvolvimento linear até 10m, 04 com desenvolvimento linear até 20 metros, 01 com desenvolvimento linear até 40 metros e 03 com desenvolvimento até 80 metros. Oito cavidades relevantes foram mapeadas e avaliadas. Aspectos sobre cada cavidade como morfologia, controle litológico e conservação foram descritos. Sugeriu-se a criação de áreas de proteção de oito cavidades e locais cársticos significativos. Palavras-Chave: Corpos carbonáticos; Fazenda Urano; PETAR; Guapiara; exploração espeleológica.

[ABSTRACT] The present report is about the evaluation carstic – speleological of the carbonatic’s bodies located in Urano Farm, near of the limit north - west of The Alto do Ribeira State Tourist Park (PETAR), in the city Guapiara – SP of property of the Lafarge Group. Relative aspects were described to the search carstic, speleological and hydrologic of the carbonatic’s bodies in Urano Farm and survey selection caves. The carbonatic’s bodies surveys are host rock in the other lithologies of the Grupo Açungui or Faixa Água Clara and are deformed have NNE – SSW regional directions. Were discovered 03 shelters and 21 caves with linear lenghts over 10 meters, 04 caves with linear lenghts over 20 meters, 01 cave with linear lenghts over 40 meters, 03 caves with linear lenghts over 80 meters. 08 caves were surveyed and available. Aspects at the cave with morphology, lithologic control and conservation were described. Suggest protect areas of the 08 caves and significations carstic places. Key words: Carbonatic bodies; Urano Farm; PETAR; Guapiara; speleological exploration. INTRODUÇÃO Esse estudo objetivou avaliar o patrimônio cárstico/espeleológico presente na Fazenda Urano (500 ha aproximadamente), de propriedade da Cimento Mauá S. A – Grupo Lafarge, no município de Guapiara, Estado de São Paulo. A presente área situa-se próximo ao limite do Parque Estadual Turístico Alto da Ribeira – PETAR, a NW do extremo N do Parque (17ª. Regional). Inicialmente, foi realizada uma visita de reconhecimento na Fazenda Urano (Bairro Fazendinha), o que determinou para as etapas posteriores o detalhamento de vários alvos espeleológicos (corpos carbonáticos), a fim de se levantar feições importantes do ponto de vista cárstico – espeleológico. Foram coletados dados bibliográficos

diversos da região. Após foram desenvolvidas prospecções espeleológicas nos corpos carbonáticos denominados “DER”, “Toquinha”, “Agrião” e “Toca Feia”, “Conceição”, “Urubu” e “João Brás”.

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Os acessos aos corpos carbonáticos são feitos por trilhas muitas vezes difíceis em função da quantidade de “mato sujo” e abandono destas. Devido as freqüentes chuvas em etapa do trabalho, as prospecções são dificultadas, ou tornam-se inviáveis. Entretanto foi possível observar várias drenagens e pequenos sistemas cársticos em funcionamento. Após a coleta dos dados geomorfológicos e espeleológicos de prospecção, foram executados mapeamentos e avaliações de cavidades significativas na área. Os resultados sumarizados são apresentados em seguida. ESPELEOLOGIA E CARSTE LOCAL A área localiza-se próxima ao extremo NW do Parque Estadual Turístico Alto da Ribeira, fora do limite do Parque (fig.1). Está inserida no domínio da Província Espeleológica Carbonática do Vale do Ribeira (Karmann e Sánchez, 1979) na unidade geológica do Grupo Açungui e a faixa Água Clara, não sendo totalmente definidas localmente, de idade Pré – Cambriana. Através dos mapeamentos geológicos regionais existentes (Projeto Calcário para Cimento – CPRM, 1972; Mapeamento Geológico do Vale do Ribeira – CPRM, 1986), verificou-se que os corpos carbonáticos para a área da Fazenda Urano encontram-se alongados, segundo a direção regional N40º - 60ºE, com largura variada; com inflecções controlando as direções das mesmas.

Figura 1:– Localização do PETAR – Parque Alto do Ribeira, INTERVALES e Parque Estadual do Jacupiranga em relação a

Fazenda Urano (figura modificada da URL UPE, www.upe.org.br, 2001).

Na área são encontradas cavidades pouco desenvolvidas e em número reduzido em relação aquelas encontradas no Parque Estadual Turístico Alto da Ribeira (PETAR). Esta característica diz respeito (segundo levantamentos geológicos locais) à relação litológica, onde são encontrados desde os calcários puros, passando para calcários silicosos, calcários dolomíticos e dolomitos e também a presença de estruturas geológicas como falhamentos em todos os corpos. O desenvolvimento de um capeamento de solo associado à cobertura vegetal pode contribuir com uma barreira ao desenvolvimento de cavidades e feições cársticas. Por outro lado, a existência de diversos córregos e nascentes oriundas dos quartzitos (Serra da Conceição – Paranapiacaba), proporciona o aparecimento de surgências, sumidouros e outras feições cársticas quando coincidentes com os afloramentos calcários ou atravessando-os. As morfologias predominantes das ocorrências carbonáticas são em forma de morros ou colinas com calcários sob a forma de paredões, blocos e meia encosta, sustentando-os. Destaca-se o paredão do “D.E.R.” (antiga pedreira com altura 30m), entre outros com alturas até 15 metros na Toca-Feia, Agrião ou Urubu. Outras ocorrências se dão sob a forma de blocos, feições residuais como “cabeças de pedra” e paredões escalonados ou então afloramentos isolados, sulcados ou lapiezados.Estes podem apresentar continuidades entre corpos de calcários não expostos. Lapiás estão presentes

apenas quando os afloramentos estão expostos, sob formas de caneluras verticais ou sulcos, sendo o mais comum encontrar um carste coberto por solos. Dolinas são observadas em formas pequenas (raio entre 5 até 40m e profundidades não superiores a 10m), predominando as dolinas de dissolução sobre as de abatimento. Sumidouros são freqüentes e as surgências estão associadas a cavidades nos corpos carbonáticos e pequenas drenagens. Localmente foram identificadas feições endocársticas ou cavidades na maioria dos corpos calcários, destacando-se: CORPO CARBONÁTICO DA TOCA FEIA - Cavidades menores que 10m de

desenvolvimento linear (destaque para gruta Buraco dos Quatro Ovos –> DL = 8m e Sumidouro da Toca Feia DL= 10m);

- Uma gruta com desenvolvimento linear de 12m (“Toquinha do Afunilamento” - sumidouro em diáclase do afloramento Toca Feia);

- Uma gruta com extensão de 49,5m de DL (Toca do Cateto Entocado);

- Duas pequenas surgências perenes; Dois sumidouros perenes.

TOCA DO CATETO ENTOCADO Umas das cavidades deste domínio pode ser observada na prancha 1-a, representada pela “Toca do Cateto

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Entocado”. Esta cavidade está situada na continuidade do corpo carbonático da Toca Feia em maciço calcário entre córregos (afluente do córrego da Toca Feia). A gruta localiza-se na base de paredão (menor que 7m de altura) desenvolvendo-se segundo plano de fratura da rocha e foliação (Sn = N40º/85º). Possui padrão em planta baixa do tipo “net work” ou anastomosado. Um conduto apresentou-se meandrante. As morfologias dos condutos (cortes) são principalmente lenticulares horizontais a mista. Observou-se no teto, porções anastomosadas indicando o paleo-fluxo d’água. Possui 49,2m de projeção horizontal, 49,5m de desenvolvimento linear e desnível – 0,5m. A altura média é 1m podendo atingir até 2 metros (base A5-A6). Foto 1.

Foto 1: Morfologia dos condutos da Toca do Cateto Entocado. Cavidade utilizada como refúgio de animais na região do corpo

carbonático Toca Feia.

CORPO CARBONÁTICO URUBU - Abrigo sob rocha; - Reentrâncias com D.L menor ou igual a 3m; - Uma cavidade com desenvolvimento linear de

30,6m (Toca do Urubu ou do Fantasma); - Dois sumidouros perenes no córrego do afloramento

Urubu; - Duas ou mais ressurgências perenes na cabeceira do

córrego. TOCA DO URUBU ou TOCA DO FANTASMA Cavidade localizada no extremo SW do afloramento denominado Urubu em área invadida por posseiro (Fazenda Izabela). É constituída por dois salões, sendo um deles superior ao do nível de entrada (Foto 2-a,b). Observa-se abaixo do piso do nível principal, buraco ligando à entrada. A gruta possui 30,6m de desenvolvimento linear, projeção horizontal de 26,9m e desnível de – 1,89m.

FOTO 2-a e b: Entrada principal da Gruta do Urubu e interior

do nível superior do salão principal ornamentado com estalactite (lustre), estalagmite e escorrimento calcítico.

O salão principal possui a morfologia do tipo mista com predomínio de lenticular vertical. Na entrada, observa-se a formação de coluna, estalactite e estalagmite, além de

escorrimento calcítico. No salão principal observam-se os seguintes espeleotemas: estalactite na forma de lustre (teto), cortinas, paleopiso suspenso, escorrimentos calcíticos (paredes e piso), microtravertinos e ninho de pérolas. No conduto superior, observou-se piso estalagmítico, escorrimentos calcíticos (paredes e piso), estalactite (lustre), estalagmite (centimétrica), cortinas, além de paleopisos suspensos (dois níveis). Ver mapa Prancha 1-b. CORPO CARBONÁTICO DA TOQUINHA - Reentrâncias com D.L menor ou igual a 3m; - Uma gruta com desenvolvimento linear de 55,8m

com córrego associado - surgência perene (Gruta Toquinha);

- Bioespeleologia importante (presença de aegla – crustáceo cavernícola).

GRUTA TOQUINHA Cavidade localizada em base de paredão, com altura inferior a 15m (Foto 3-a, b). Apresenta desenvolvimento linear e projeção horizontal de 55,8m e desnível desprezível. Seu padrão de planta baixa é meandrante a reticulado e as morfologias de conduto consistem em: mistas (interseções de retangulares na base e lenticulares verticais no topo), ocorrendo ainda lenticulares verticais e inclinadas. Observa-se ainda morfologia de conduto mista caracterizada por tipo “gladiforme” (Llopis Lladó –1970). –Foto 4-a,b,c, forma de erosão fluvial por circulação forçada seguida de circulação livre (próximo da base T3). Este tipo de morfologia é característica da interseção de planos de estratificação com diáclase.

FOTO 3-a e b: Zona de entrada da gruta Toquinha próximo de surgência. Na foto da esquerda, aspecto do paredão com lapiás

horizontais na entrada da gruta. Uma ressurgência atravessa a caverna e deságua na cabeceira de um afluente formador do córrego do Mato Preto.

FOTO 4-a, b, c: Morfologia de conduto lenticular mista ou

gladiforme. Conduto principal da gruta da Toquinha com curso d’água. Apresenta sedimento argiloso onde foi encontrado o

crustáceo Aegla sp. Os espeleotemas não ocorrem em grande quantidade, sendo encontrados escorrimentos calcíticos, coralóides, canudos de refresco, estalactites, cortinas serrilhadas,

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lustres e couves-flores. Alguns espeleotemas encontram-se quebrados (salão de entrada). O abrigo da entrada da cavidade tem evidências de utilização por caçadores locais, pois foi possível observar um fogão escavado no sedimento da caverna e notou-se a presença de lixo jogado nas proximidades (garrafa plástica e latas vazias). Quanto ao meio biótico no interior da caverna destaca-se a ocorrência de um pequeno crustáceo – caranguejo do gênero Aegla sp. (Foto 5-a) endêmico da bacia do Paraná, próximo às bases T2, R0 e T3 e diplópodes (zona de entrada). Ainda foram encontrados depósitos de guano (base da parede na interbase T3-T5), além da colônia de morcegos (interior e zona de entrada) (Foto 5-b).

FOTO 5-a e b: Crustáceo Aegla sp. encontrado no sedimento

argiloso do interior da cavidade. Outros elementos da biota cavernícola comumente encontrados são os opiliões,

mariposas, aranhas, morcegos frugívoros e insetívoros, entre outros.

AFLORAMENTO JOÃO BRÁS Afloramento no extremo NE da área em forma alongada semelhante ao afloramento “Urubu”, em meia encosta de Colina e também ao longo das nascentes do córrego do Araçaeiro. - Observa-se a formação de dolinas métricas em meia

encosta de colina (área de recarga); - Sumidouros no córrego do Araçaeiro, segundo

planos de foliação da rocha subverticalizada; - Reentrâncias associadas a sumidouros efêmeros ou

não; - Uma cavidade com 74,9m de desenvolvimento

linear (porém no limite ou fora do polígono – área de influência direta) atravessada pelo córrego do Araçaeiro.

GRUTA DO ARAÇAEIRO Cavidade situada nas proximidades do afloramento João Brás no extremo NE da Fazenda Urano, junto ao córrego do Araçaeiro. A gruta possui morfologia em planta baixa do tipo meandrante à retilínea (vide figura na página seguinte), largura de conduto de 1,2m até 4,0m. Predominam a morfologia de conduto do tipo lenticular vertical ou inclinada, condicionada por plano de fratura ou pela foliação da rocha (Sn = N40º-55º e subvertical – (Foto 6-a e b). A altura dos condutos é variável de 2,0m até 6,5m no conduto principal. As principais direções de condutos são N-S, EW, além de NW -SE e NE – SW. O córrego do Araçaeiro atravessa a gruta, aproveitando da foliação da rocha e de planos de fratura. A cavidade possui pelo menos 5 entradas, ligando aos condutos e também algumas clarabóias (vide Planta da Gruta- Prancha 2). A caverna possui: 74,9m de

desenvolvimento linear, 73,4m de projeção horizontal e desnível – 1,5m.

FOTO 6-a e b: Conduto de entrada da Gruta do Araçeiro. À

esquerda (seta) detalhe de uma estalagmite mista (helegmite??).

Observam-se vários conjuntos de espeleotemas, principalmente em porções da rocha mais calcítica condicionado pelos planos de foliação inclinados ou verticalizados, e fraturas. Ocorrem conjuntos de estalactites no teto dos condutos, escorrimentos nas paredes, além de cortinas a partir do teto. Próximo às bases A3 e A4, ocorrem associadas às estalactites e cortinas, estalagmites centimétricas até 0,70m de altura, e base até 20cm (observa-se ainda uma estalagmite mista ou helegmite(?) com forma de cabeça de cavalo (Foto 6-a). Conjunto de escorrimentos calcíticos, cortinas, estalactites e coluna (até métrica são observados após a base A4 até a saída da cavidade em porção mais alta do conduto – nível superior de paleo-fluxo). O piso é constituído por pequenos blocos de rocha (acima de 2cm) e sedimentos ao longo do curso do rio que corta o conduto principal. Em conduto secundário, ocorrem piso calcítico (estalagmítico) e sedimentos argilosos. São observadas algumas clarabóias ao longo do conduto principal, e principalmente em conduto secundário (bases B0 – B1). Foram observados opiliões (dois tipos), além de mariposas e morcegos (frugívoros). CONCLUSÕES Na área da Fazenda Urano, município de Guapiara, foram prospectas três abrigos sob rocha, 21 cavidades e/ou reentrâncias com desenvolvimento linear menor que 10m, quatro cavidades com desenvolvimento entre 10m e 20m, uma cavidade com desenvolvimento linear entre 20m e 40m e três cavidades com desenvolvimento linear entre 40m e 80m. As cavidades ocorrem em corpos carbonáticos segundo padrões estruturais definidos, estando estes corpos carbonáticos limitados por quartzitos, filitos, rochas básicas e ultramáficas e solos associados. O carste se desenvolve somente nas ocorrências carbonáticas expostas com o desenvolvimento de dolinas, paredões, sumidouros e surgências, lapiás e feições residuais. A tabela 1 sumariza as cavidades selecionadas e mapeadas nos limites da fazenda, nos corpos carbonáticos aflorantes. Foi sugerida a criação de Zona de Preservação no entorno da Gruta Toquinha, Gruta do Araçaeiro, Gruta (ou Toca) do Urubu, Toca do Cateto Entocado, Gruta Buraco dos Quatro Ovos, Gruta Sumidouro da

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Conceição, Toquinha do Afunilamento e Toca Feia e também nas áreas de surgências e sumidouros ou locais com pequenos sistemas fluvio- cársticos ativos ou intermitentes. Há de se considerar que a presença de fauna significativa exemplares de flora (em recuperação) nos limites da Fazenda Urano, atestam para a conservação não só das cavidades mas de todo o

entorno. A região é considerada como uma importante zona “tampão” que protege o extremo NNW do PETAR. Uma das sugestões propostas foi a criação de uma RPPN para os limites da Fazenda Urano, de modo a conservar esta importante área.

Tabela 1 - PRINCIPAIS CAVIDADES MAPEADAS NA ÁREA DA FAZENDA URANO

Nome da Cavidade

Localização UTM/Ponto

Mapa

Projeção Horizontal

(PH)

Desenvolvimento Linear (DL)

Desnível Observações – Localidade -

Significância

Gruta do Araçaeiro

7312.505 0747.674 73,4m 74,9m -1,50m

Afloramento João Brás. Córrego do Araçaeiro atravessa-a.

Muito significativa.

Toca do Urubu ou do Fantasma

7310.709 0746.603 26,9m 30,6m -1,89m

Afloramento Urubu. Cavidade em dois níveis. Significativa.

Gruta Toquinha 7310.352 0745.895 55,8m 55,8m -

Afloramento Toquinha. Cavidade com água / Presença de fauna bioespeleológica significativa.

Muito significativa.

Toca do Cateto Entocado

7309.664 0743.940 7309.651 743.955

49,2m 49,7m -0,5m

Continuidade afloramento Toca-Feia. Bioespeleologia

significativa. Significativa.

Gruta Buraco dos Quatro

Ovos

7309.621 0743.916 8,0m 8,0m -

Continuidade Afloramento Toca-Feia. Bioespeleologia

significativa / Ovos de cobra-entrada.Significativa.

Gruta Sumidouro da

Conceição

7309.344 0744.528 17,5m 17,5m -

Afloramento Conceição / sumidouro de pequeno córrego.

Significativa.

Toca-Feia 7309.505 0743.996

T12 10,0m 12,0m -2,0m

Afloramento Toca-Feia. Constitui sumidouro de pequeno

córrego. Significativa.

Toquinha do Afunilamento

7309.248 0743.752

T7 9,2m 11,0m -1,8m

Afloramento Toca-Feia. Cavidade com sumidouro associado (pequeno curso

d’água). Significativa. AGRADECIMENTOS Ao amigo geólogo e espeleólogo Alexandre Pereira Pizarro (Guano Speleo) e ao espeleólogo Jéfferson Luis (Espeleo Grupo Pains) durante as fases de mapeamentos, confecção de mapas e relatórios. Ao Engenheiro Agrônomo Paulo José Gallo Frigo – Área Verde Meio Ambiente e Engenharia – Coordenação dos Trabalhos Ambientais /apoio logístico. Ao geólogo da DT (Lafarge), Sr. Andrei pelo apoio prestado. Ao Engenheiro de Minas Sr. Rodrigo Xavier (Lafarge - Itapeva) pelo apoio prestado na fase de reconhecimento da área (início dos trabalhos). Ao Técnico de Mineração Sr. Adriano pelo apoio prestado na fase de reconhecimento da área (início dos trabalhos). Aos Mateiros /empregados da Fazenda Urano pelo conhecimento da região e serviços prestados: Sr. Alcides, Sr Egídio e Sr. Lindolfo.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ÁREA VERDE MEIO AMBIENTE E ENGENHARIA (2001): Relatório Preliminar de Estudos Espeleológicos da Fazenda Urano – Grupo Lafarge - Município de Guapiara – SP. Complementação de R. A. P. - Inédito. BARBOUR, A. P., BRITO NEVES, B. B. & MEDEIROS, A. M. (1990): Algumas implicações tectônicas na Gênese das Mineralizações Sulfetadas do Tipo Panelas no Vale do Ribeira, SP e PR. Revista Brasileira de Geociências, 20(1-4):46-54, março/dezembro de 1990. SBG/FAPESP. BERBERT BORN, M. Teoria e prática para o cadastramento de cavernas no sistema “Cave”. 1996. Informativo SBE n.67, p. 12-14.

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