35
PLANO DE ORDENAMENTO DA ALBUFEIRA DE CRESTUMA-LEVER ESTUDOS DE BASE VOLUME 5 – SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO Fevereiro de 2004 POA C L Plano de Ordenamento da Albufeira de Crestuma-Lever Quaternaire Portugal Projecto Co-Financiado pelo FEDER

Síntese de caracterização e Diagnóstico

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Síntese de caracterização e Diagnóstico

PLANO DE ORDENAMENTO DA ALBUFEIRA DE CRESTUMA-LEVER

ESTUDOS DE BASE

VOLUME 5 – SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO

Fevereiro de 2004

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

Quaternaire Portugal

Projecto Co-Financiado pelo FEDER

Page 2: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

ii

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

ÍNDICE GERAL DE VOLUMES:

VOLUME 1 – ENQUADRAMENTO TERRTORIAL E SÓCIO-ECÓNOMICO

VOLUME 2 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

TOMO 1 - ANEXOS

VOLUME 3- CARACTERIZAÇÕES DE PORMENOR

VOLUME 4 - DESENHOS

VOLUME 5 – SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO

Page 3: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

iii

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

ÍNDICE DO VOLUME 5

Pág.

1.INTRODUÇÃO 1

2. SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO 3

3. DIAGNÓSTICO PROSPECTIVO 20

Page 4: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

1

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

1. INTRODUÇÃO

O presente relatório é constituído por uma síntese de caracterização e por um primeiro diagnóstico

da área de intervenção.

As sínteses de caracterização resultam das caracterizações produzidas, nas quais se evidenciam

os principais usos e funções do espaço territorial da albufeira de Crestuma-Lever, sistematizadas

em função de uma leitura prospectiva dos principais factores que contribuem para melhor

caracterizar a área de intervenção no seu estado actual.

O diagnóstico que se apresenta é a primeira reflexão sobre o território, que será retomado e

aprofundado no início da 2ª fase, no qual se evidenciam as principais características estáticas e

evolutivas da área de intervenção.

O primeiro produto é a ferramenta que de forma mais comum é utilizada no planeamento

estratégico, designada como análise SWOT (S de strengths (Forças); W de weaknesses

/Debilidade; O de opportunities /Oportunidades; e, T de threats /Ameaças). Por este método são

avaliados de forma integrada todos os sectores caracterizados anteriormente e separando esta

síntese entre factores internos e externos, e, dentro de cada um destes vectores, em factores

positivos e negativos:

Análise interna – a avaliação dos factores internos aos diversos sub-sistemas que

constituem o plano, descrevendo-os no que eles têm de mais marcante, pela positiva

ou pela negativa (forças /pontos fortes e debilidades/pontos fracos);

Análise externa - a avaliação dos factores exógenos à área de plano que com esta

interagem, condicionando-os ou abrindo novas perspectivas para o seu

desenvolvimento (as ameaças e as oportunidades)1.

O posicionamento desta área face ao território envolvente, a sua fragilidade e o valor estratégico

dos seus recursos, bem como as vocações existentes e os objectivos do Plano permitirão, numa

segunda fase, definir os factores nucleares do sucesso do plano, que serão enformadores das

metas e apostas que se sucederão. Este segundo produto do diagnóstico, bem como a

explicitação da análise externa, das ameaças e oportunidades, integrarão já a 2ª fase que

sistematizará o diagnóstico pelos 5 espaços-chave que caracterizam da área de intervenção:

1 Nesta fase sistematizado em Dinâmicas Actuais/Perspectivas de Evolução.

Page 5: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

2

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

espaço fortemente humanizado, espaço de recursos, espaço carenciado, espaço planeado e

espaço simbólico empobrecido.

Page 6: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

3

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

2. SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

A bacia hidrográfica do Douro abrange quase toda a extensão da Meseta Ibérica,

possuindo uma área total de 97603 Km2, 81% da qual (78960 Km2) se situa no

território espanhol e os restantes 19% (18643 Km2) em Portugal.

O Douro tem cerca de 927 quilómetros de curso, apresentando um perfil

longitudinal com saltos muito pronunciados devido à natureza geológica e

orográfica das regiões que percorre, 1600 metros na origem, 1100 metros em

Sória, 620 metros em Zamora e 125 metros em Barca de Alva.

Em todo o seu percurso consideram-se três secções: a primeira, compreendida

entre a nascente e a Serra de Urbión (Montes Ibéricos) e Zamora. Na segunda

secção (entre Zamora e Barca de Alva), o rio abandona a direcção Este/Oeste que

trazia anteriormente, inflecte para a esquerda, forma a fronteira luso-espanhola

num curso muito encaixado, com sucessivas quedas de nível o que o torna

excelente para o aproveitamento hidroeléctrico. Junto a Barca de Alva, o Douro

retorna a direcção Este/Oeste que apresenta na primeira secção.

Em território Nacional, o perfil do rio torna-se mais regular não apresentando

quedas de nível muito consideráveis. Nesta última secção, recebe tanto numa

margem como na outra grande número de afluentes.

O estuário do rio Douro desenvolve-se nos últimos 22 km do curso do rio, entre a

foz e a barragem de Crestuma-Lever que, a partir de 1985, passou a constituir o

seu limite superior.

A albufeira de Crestuma-Lever nasce 1985 com a entrada em funcionamento da

barragem com o mesmo nome, localizada no troço final do Rio Douro nos

municípios de Gondomar e Vila Nova de Gaia. É classificada como albufeira de

águas públicas de “utilização livre”, pelo DR n.º 2/88, de 20 de Janeiro, tendo uma

capacidade total de armazenamento de cerca de 110 hm3 e uma superfície

inundável, no nível pleno de armazenamento, de 1.298 ha.

Integrada na estratégia das décadas de 50 e 60, a barragem de Crestuma-Lever é

o aproveitamento hidroeléctrico mais a jusante do Rio Douro, na sequência de um

conjunto de obras que se estendem para montante até Miranda: Crestuma-Lever,

ENQUADRAMENTO GERAL

Page 7: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

4

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

Carrapatelo, Régua, Valeira e Pocinho, no Douro nacional, e Bemposta, Picote e

Miranda já no trecho do Douro internacional.

A esta importância acrescem outras funções vitais, dado que hoje a albufeira de

Crestuma-Lever é a principal origem de água para o conjunto da Área

Metropolitana do Porto, a partir da constituição da empresa de Águas do Douro e

da construção da ETA de Lever. Desde então, a importância da albufeira para

abastecimento de água adquiriu uma importância vital no conjunto dos seus usos.

O Plano de Ordenamento da Albufeira de Crestuma-Lever (POACL) abrange o

plano de água e a zona de protecção, largura de 500 m contada a partir do nível

pelo de armazenamento (LPA) - cota 13 m – e medida na horizontal, integrando

território dos municípios de Castelo de Paiva, de Cinfães, de Gondomar, de Marco

de Canavezes, de Penafiel; de Stª Maria da Feira e de Vila Nova de Gaia.

A forte humanização da área de intervenção bem marcada na paisagem pelo

coberto vegetal presente, dominado por eucaliptos e pinheiros, pela tipologia de

povoamento, de pequena dimensão mas relativamente intensa, pela presença de

múltiplas infra-estruturas e por diversas cicatrizes resultantes desta ocupação e

utilização do solo é particularmente vincada quando se confronta este espaço

territorial com as áreas a montante e a jusante, ambas Classificadas como

Património da Humanidade pela UNESCO: o Douro Vinhateiro e o Centro

Histórico do Porto-Gaia.

A norte, a ocidente e a sudoeste, a área é rodeada por uma região urbano-

industrial de grande densidade e dinamismo em oposição ao que se verifica a sul

e no interior, sobretudo aos concelhos de Cinfães e Castelo de Paiva.

Esta proximidade à maior concentração urbana do noroeste da Península Ibérica

implica algumas tensões que poderão acentuar-se com a melhoria das

acessibilidades transversais e longitudinais - tendências crescentes para

suburbanização e utilização de solo, instalação de empreendimentos lúdico-

turísticos e aumento da navegação de recreio na albufeira.

A região envolvente é bastante carenciada de acessibilidades de qualidade, tanto

ao nível da integração no espaço regional, como das microacessibilidades locais.

As ligações nascente-poente são garantidas, a norte e a sul, pelas EN 108 e 222,

que ligam a Área Metropolitana do Porto ao Alto Douro pelas margens do rio. O

traçado, o mau estado de conservação em alguns troços, a relativa intensidade de

ACESSIBILIDADES

Page 8: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

5

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

tráfego (incluindo pesados) na metade mais ocidental da área e o facto de

atravessarem algumas povoações, tornam estas estradas pouco adequadas a um

nível de serviço compatível com o desenvolvimento das áreas mais interiores.

A norte, a proximidade da A4 resolve parcialmente o problema, mas a sul não

existe qualquer alternativa aceitável.

As ligações norte-sul assentam também em estradas de características

semelhantes. O atravessamento do Douro faz-se, actualmente, apenas nas

barragens de Crestuma-Lever e Carrapatelo e em Entre-os-Rios.

Esta situação vai melhorar significativamente com a construção do IC24 (no

extremo ocidental, ligando ao norte e ao sul litoral da AM Porto) e do IC35, que

liga o IP4 e o IP5 através da área central da albufeira (Castelo de Paiva/Entre-os-

Rios). A área ficará ligada aos Portos de Aveiro e Leixões, ao Aeroporto e aos

principais centros empregadores da população residente por vias de grande

capacidade.

Para além destes eixos estruturantes, a área caracteriza-se pela existência de

uma rede capilar de troços de estrada que garantem o acesso aos aglomerados,

às margens da albufeira e a algumas estruturas de apoio fluvial.

Para além das acessibilidades rodoviárias, importa destacar que, para o transporte

de mercadorias, o canal navegável do Douro tem assumido alguma importância,

existindo dois portos comerciais na albufeira, cujo enquadramento em termos de

acessibilidades terrestres, actualmente bastante inconveniente, será radicalmente

melhorado com a construção do IC35.

Na área de intervenção residem (Censo 2001) 26600 pessoas, correspondentes a

35% da população das freguesias ribeirinhas e a 3,5% da população total dos

respectivos concelhos.

No extremo mais ocidental (Gaia, Feira e Gondomar) trata-se de espaços pouco

densos, e até marginais, no contexto dos respectivos territórios. Já em Cinfães e

Castelo de Paiva, mas também, em Penafiel e Marco, as áreas ribeirinhas são das

mais densamente povoadas. As áreas interiores contribuem com mais de 50% da

população que reside dentro dos limites abrangidos pelo Plano.

Embora não se registe a presença de aglomerados de grande, ou mesmo média,

dimensão, releva-se a existência de inúmeros lugares, alguns implantados na

proximidade imediata do Rio Douro, e acima de tudo a presença de um

DEMOGRAFIA E POVOAMENTO

Page 9: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

6

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

povoamento bastante disperso mas relativamente intenso, principalmente nas

áreas de mais fácil acessibilidade.

Assistiu-se, na última década, a dinâmicas demográficas bastante diversificadas

dentro da área de estudo, sem um padrão muito marcado. Regra geral, aumentou

a população nas áreas ribeirinhas dos concelhos da Feira, Castelo de Paiva,

Marco e Penafiel, tendo diminuído em todos os restantes. Globalmente, as

freguesias ribeirinhas perderam peso nos respectivos concelhos, embora em

Castelo de Paiva, Cinfães e Feira tenham aumentado.

A população residente tem uma estrutura etária relativamente jovem quando

comparada com as médias regionais (Norte) e nacional, embora de forma geral

existam indicadores que evidenciem o envelhecimento da população na área de

intervenção quando a comparação se faz com os respectivos concelhos.

A população dos concelhos interiores apresenta níveis de analfabetismo elevados,

existindo forte assimetria face aos concelhos metropolitanos, e a tendência da

última década foi a do aumento desta assimetria. Os dados sobre níveis de ensino

atingidos pela população confirmam a existência de vastos territórios, na metade

oriental, onde predominam as situações de baixa qualificação.

Existem na área pouco mais de 8100 famílias, tendo o número aumentado cerca

de 17% na década 90. A dimensão média da família baixou de 3,7 para 3,3

indivíduos, verificando-se que cerca de 29% das famílias integram pelo menos

uma pessoa com mais de 65 anos, e em 11% destas existe pelo menos uma

pessoa desempregada. Ambas as situações são mais marcadas nos concelhos

interiores a sul do Douro.

A área conta com cerca de 10000 alojamentos, dos quais 80% são de residência

habitual. Na década de 90, a dinâmica do parque habitacional foi bastante superior

à da população residente, o que em parte é explicado pela fragmentação das

famílias. Nas áreas ribeirinhas, o crescimento foi relativamente mais acentuado

nos casos de Feira, Penafiel, Castelo de Paiva e Marco, com valores superiores à

média nacional.

A maioria esmagadora dos edifícios são residenciais, e a construção em altura é

muito pouco representativa.

PARQUE HABITACIONAL

FAMÍLIAS

Page 10: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

7

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

A maioria dos alojamentos é ocupada pelos proprietários, e apenas em 16% dos

casos existe arrendamento, com maior incidência desta forma de ocupação nos

territórios centrais (áreas ribeirinhas de Marco, Penafiel e Castelo de Paiva).

O fenómeno do uso sazonal/ segunda residência está pouco presente nesta área

(apenas 10% do parque edificado), e apenas em casos pontuais a média nacional

é superada.

Também o número de alojamentos vagos (para venda/aluguer ou abandonados) é

relativamente baixo face à média nacional. A maior proporção ocorre em áreas de

parque habitacional mais envelhecido (parte ocidental do concelho de Castelo de

Paiva).

A taxa de ocupação dos alojamentos é equilibrada (1,02 famílias por alojamento,

em média). Não ocorrem situações muito extremas dentro da área de intervenção

do Plano.

As taxas de infraestruturação (electricidade, água, esgotos) têm coberturas muito

próximas dos 100%, embora se registem insuficiências nalgumas áreas interiores

ao nível da existência de equipamento (banho, retrete) no interior das habitações.

A recolha de resíduos sólidos urbanos é o domínio em que esta área apresenta

índices menos equilibrados com as médias regionais, pois em média apenas 73%

dos edifícios são servidos.

Nalgumas áreas são registadas necessidades de reparação significativas nos

edifícios e, em média, o estado de conservação do parque é mais deficitário do

que a média nacional.

O parque edificado é relativamente envelhecido, quando comparado com a média

regional, mas existem, em alguns sectores territoriais, nítidos sinais de renovação:

a proporção de edifícios com menos de 10 anos era, em 2001, superior à média

nacional.

Em termos de população activa, nota-se a pequena representatividade do sector

primário, que apenas ocupa 360 activos residentes na área de intervenção (num

total de 11000). Cerca de 60% das pessoas trabalham na indústria extractiva ou

transformadora e 37% no sector do comércio e serviços. A área de intervenção

não oferece, contudo, um número significativo de empregos.

ACTIVIDADES ECONÓMICA

Page 11: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

8

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

As freguesias envolvidas têm 1226 empresas registadas, predominando os

sectores da construção, da indústria transformadora, das indústrias extractivas, do

comércio e da hotelaria e restauração.

Numa avaliação grosseira, podem contabilizar-se em cerca de 20 mil empregos no

total, nestas freguesias, para uma população residente com cerca de 35 mil

activos, confirmando a ideia de que se trata de uma área predominatemente

residencial.

A maioria das empresas são de muito pequena dimensão, e o tecido empresarial é

relativamente jovem: uma em cada três empresas iniciou actividade a partir do ano

2000, com maior concentração nas freguesias ribeirinhas de Marco, Cinfães e

Castelo de Paiva.

A Agricultura, pecuária e silvicultura, é um sector pouco representativo, onde a

organização empresarial é rara. Cerca de 25% do total da área das freguesias

ribeirinhas é afecta a actividades agro-florestais, e desta quase metade é coberta

por matos e florestas sem culturas sob coberto. Cerca de 65% da Superfície

Agrícola utilizada é explorada por conta própria. O eucalipto é espécie claramente

dominante, ocupando 65% da área florestada. Trata-se de floresta de produção,

na sua maioria de plantação recente e ordenada.

As 261 empresas existentes no sector da indústria transformadora absorvem 3880

empregos. A localização não privilegia a proximidade à albufeira. Não há um

padrão de especialização muito nítido, embora se destaque a existência de

algumas cadeias de valor ligadas a recursos locais (madeira e granitos) bem como

a indústria do têxtil e vestuário.

Relativamente à indústria extractiva, existem dois tipos predominantes: a

extracção de inertes do Douro e as pedreiras de granitos.

Apesar da sua importância económica e do emprego que asseguram actualmente,

são actividades geradoras de degradação e passivo ambiental, e assentam na

exploração de recursos não renováveis e com baixo valor acrescentado para a

região.

Não sendo muito representativo do ponto de vista do emprego, o sector da

produção de energia conta na área com duas centrais hidroeléctricas e uma

termoeléctrica (moderna, de ciclo combinado, alimentada a gás natural), pelo que

não pode deixar de constituir uma imagem de marca.

Page 12: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

9

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

No domínio dos transportes e comunicações, as actividades mais marcantes

relacionam-se com a navegabilidade do Douro.

O transporte de mercadorias e a navegação turística estão em crescimento. Se

neste último caso parece estar-se em presença de uma dinâmica sustentada pelos

próprios agentes privados, no caso do transporte de mercadorias a actividade

assenta quase exclusivamente na exportação de granitos da área do Marco de

Canaveses. Trata-se de um sector frágil em si mesmo, não só pela crescente

concorrência estrangeira como pelas questões ambientais que levanta, e em que

a própria melhoria das comunicações terrestres (ligações rápidas por rodovia aos

portos de Aveiro e de Leixões) coloca interrogações sobre a competitividade dos

portos e do transporte fluvial.

O sector do transporte rodoviário de mercadorias é bastante importante nesta

área, estando registadas 54 empresas nestas freguesias. Cerca de metade

concentram-se em Castelo de Paiva e Marco.

As actividades de turismo e lazer têm um espaço de crescimento assinalável, e

tem-se assistido a um crescente interesse dos operadores nas mais diversas

áreas.

Actualmente, tanto os recursos como as actividades de organização e a oferta de

alojamento hoteleiro ou outras infraestruturas de apoio estão em situação

relativamente deficitária.

Para além da superfície de água e de alguns equipamentos de apoio à navegação

de recreio, o aproveitamento dos restantes recursos é incipiente. À excepção do

mosteiro de Alpendorada, os barcos de turismo que atravessam a albufeira não

levam os passageiros a praticamente nenhum ponto de interesse, fazendo apenas

a viagem rumo ao Alto Douro.

No entanto, existe um número significativo de projectos de investimento, público e

privado, que permite antever uma dinâmica muito favorável para o sector. A

maioria desses projectos aposta em valores naturais e patrimoniais, na água e no

mundo rural, tendo presente a proximidade à Área Metropolitana.

TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES

Page 13: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

10

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

Em termos geológicos, a área de intervenção pode ser sistematizada em dois

grandes grupos litológicos:

rochas maioritariamente metassedimentares, na parte ocidental da

albufeira;

rochas graníticas, na parte oriental da albufeira.

O contacto entre estas litologias foi cartografado a cerca de 3 km a SW da foz do

rio Tâmega.

As rochas metassedimentares compreendem diversas litologias (conglomerados,

xistos de diferentes tipos, “xistos e grauvaques” e quartzitos) de idade Paleozóica

e as rochas graníticas são essencialmente granitos monzoníticos de duas micas,

predominantemente biotíticos e de idade Varisca.

Toda a região se encontra recortada por inúmeros filões de diferentes tipos: de

quartzo maciço, aplito-pegmatitos e doleritos.

Este substrato rochoso, dito cristalino, foi coberto, localmente, por depósitos

sedimentares mais recentes: terraços aluvionares, aluviões actuais e depósitos de

vertente.

As rochas metassedimentares definem uma mega estrutura regional, uma dobra

em antiforma, vergente para oeste e eixo ligeiramente mergulhante para NW. A

região foi afectada por vários sistemas de falhas dos quais se destaca o sistema

NW-SE associado ao sulco carbonífero, esquerdo e calvagante para oeste, e o

sistema NNE-SSW de movimentação esquerda e carácter frágil.

Esta matriz geológica, em interacção com os agentes erosivos, entre os quais

pontifica a instalação da rede de drenagem da bacia do rio Douro, condicionou a

evolução das formas do modelado e levou ao desenvolvimento de cristas erosivas,

vertentes e zonas de meandro. O rio Douro corre num vale encaixado em V e de

margens aproximadamente simétricas.

A geologia da região apresenta alguns afloramentos com características que

permitem a sua valorização sob a forma de Locais de Interesse Geológico,

nomeadamente, as Cristas quartzíticas do ramo oriental do Anticlinal de Valongo,

os Conglomerados intraformacionais do Complexo Xisto-Grauváquico e Complexo

Mineiro da Empresa Carbonífera do Douro (vulgo Minas do Pejão).

CONDIÇÕES GEOLÓGICASEXTRACÇÃO DE INERTES

Page 14: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

11

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

A unidade pedológica mais representada na área em estudo é a dos Regossolos

Úmbricos Espessos em Rególitos de Granitos, seguidos pelos Regossolos

Úmbricos Delgados em Xistos a que se acrescenta a presença de pequenas áreas

de Antrossolos, Leptossolos, Fluviossolos e Cambissolos.

A elaboração da carta de Erosão Potencial dos Solos teve por base a definição de

seis classes de Perda Potencial de Solo: de A - Nula ou Insignificante com <

5ton/ha de perda média de solo por ano, até F - Catastrófica, com > 3 000 ton/ha.

O efeito da topografia é determinante em grande parte nas situações de

passagem de condições de erosão moderada a condições de erosão severa.

Predominam as classes de erosão mais elevadas, sendo preponderantes as

classes D e E em mais de 50% da área total. A classe D - Erosão Severa, a mais

baixa das duas, predomina na zona este da área de estudo, em associação com

os solos de origem granítica, enquanto que a Classe E – Muito Severa, predomina

na zona oeste, em associação aos substractos xistentos. A classe A – Nula ou

Insignificante, é de reduzida expressão, surgindo apenas nas zonas planas de

altitude ou em depósitos marginais.

Em toda a área é possível identificar aspectos de degradação física que se

sistematizam em: situações de movimentações em massa na dependência da

instabilização de escombreiras mineiras; alterações da fisiografia local em

consequência da actividade extractiva; ocupação das linhas de água com

depósitos para armazenamento de inertes; cicatrizes na paisagem provocadas

pela rede viária.

A subsidência mineira que se regista na área de influência do Complexo Mineiro

do Pejão constituiu um factor de risco geológico, condicionante para as áreas

afectadas.

Este troço do vale do rio Douro é, pelas suas características morfológicas e

sedimentológicas, um curso de água em que a capacidade de transporte de carga

sólida não foi excedida e, consequentemente, toda a carga que entra na albufeira

– isto é, a carga sólida que passa na barragem do Carrapatelo – é lançada para

jusante da albufeira de Crestuma-Lever.

Aos períodos de intensa precipitação na bacia hidrográfica correspondem

situações de cheia e consequente aumento da capacidade de transporte. Em face

Page 15: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

12

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

do tipo de barragem que foi construída em Crestuma – Lever calcula-se que, em

situações de cheia, a eficiência de retenção de sedimentos na albufeira seja nula.

O aporte de sedimentos arenosos que entra na albufeira de Crestuma – Lever,

pese embora o elevado grau de incerteza do cálculo, estima-se que varie, em

função precipitação anual, entre 500.000 e 2.000.000m3, podendo ser muito

superior durante as enchentes e quase nula em anos secos. Os valores

encontrados para os sedimentos com origem na erosão das margens, em relação

directa com a erosão potencial mínima obtida para a área de estudo, apontam

para cerca de 1.200.000 m3.

A análise de secções do rio com o recurso a dados de batimetria, permite verificar

uma grande capacidade de reposição de sedimentos no canal do rio,

principalmente nos designados fundões, em relação directa com períodos de

cheia, o que torna sustentável a actividade extractiva em áreas definidas para

esse efeito.

Os poucos dados disponíveis indicam que o fundo aluvionar é constituído por

areias finas, médias e grossas, cascalheiras e seixos finos, com um valor de

2,5mm para o diâmetro mediano.

No troço do Rio Douro correspondente à albufeira da barragem de Crestuma –

Lever, a exploração de inertes até ao ano de 2001 estava concessionda a três

empresas, que representavam cerca de 147 postos de trabalho directos.

Os volumes de extracção média anual eram de cerca de 270 000 m3 que se

destinavam fundamentalmente ao abastecimento do mercado local e regional.

A albufeira de Crestuma-Lever situando-se no troço final do rio Douro reflecte, na

qualidade da sua água, as influências sofridas ao longo de toda a sua bacia

hidrográfica. A albufeira é classificada como de fins múltiplos, índice 2 (actividades

permitidas sem restrições) de acordo com o Decreto-lei nº 2/88 de 20 de Janeiro e

neste momento as principais utilizações são: consumo, rega, recreio com contacto

directo, navegação, descarga de águas residuais, e águas piscícolas.

A consulta junto de entidades autárquicas, centros de saúde, Universidades,

entidades responsáveis pelo ambiente (DRAOT-Norte, INAG, DGA), permitiu

compilar a informação disponível de forma a serem detectadas lacunas em séries

de dados ou em parâmetros específicos que seria necessário colmatar com

trabalho de campo. O trabalho de campo permitiu conhecer a qualidade da água

QUALIDADE DA ÁGUA

Page 16: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

13

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

em locais específicos tendo em consideração futuros usos e abrangeu a

caracterização da albufeira através da avaliação da qualidade física, química,

microbiológica e biológica da água. Os parâmetros avaliados foram escolhidos

tendo em consideração, não só, os usos presentes e previstos mas, também, a

legislação vigente. Sendo assim foram avaliados parâmetros contidos no Decreto-

Lei nº 236/98, na Directiva 2000/60/CE e no Decreto-Lei nº 243/2001.

Foram analisados 24 pontos dos quais existem dados de qualidade da água,

sendo de montante para justante: Ponte da Bateira (R. Paiva), Castelo (R. Paiva),

Praia do Castelo, Fornos, Foz do Tâmega (Rio Tâmega), Entre-os-Rios, Foz do

Arda (Rio Arda), Pedorido, Melres, Lomba, Foz do Inha (Rio Inha), Tapada do

Outeiro (EDP5, 6, 7 e 8, CI, CII e CIII), Crestuma (junto à barragem), com o

objectivos de avaliar a qualidade da água para os diversos usos.

Águas destinadas à produção de água para consumo humano:

As principais violações aos VMA1 e VMR2 dizem respeito, por ordem

decrescente de ocorrência aos sulfatos, matéria orgânica (CBO5 e CQO),

contaminação microbiológica de origem antropogénica (coliformes totais,

fecais, estreptococos fecais e salmonelas), cor, fenóis, mercúrio, cianetos,

arsénio, cobre, ferro e manganês.

Os sulfatos apresentam valores mais elevados nas zonas a montante até

Melres, sendo bastante mais reduzidos a partir daqui. Situação semelhante

ocorre com os valores de CBO5 e CQO. A contaminação microbiológica não

parece sofrer evolução significativa em todo o troço do rio Douro nesta

albufeira, com excepção das salmonelas, mais comuns nas zonas a montante.

A cor é um parâmetro mais elevado nas regiões a montante de Melres. No que

diz respeito a metais e metaloides, não há um padrão longitudinal marcado,

com o mercúrio a apresentar valores mais elevados e com grande variação no

Castelo e junto à barragem de Crestuma-Lever, e os cianetos elevados em

Entre-os-Rios e Pedorido. O cobre apresenta-se significativamente mais

elevado nas regiões a montante até Melres

Águas para fins aquícolas (ciprinídeos):

1 VMA – Valor máximo admissível. 2 VMR – Valor máximo recomendado.

Page 17: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

14

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

As principais violações aos VMA e VMR dizem respeito, por ordem

decrescente de ocorrência aos nitritos, oxigénio dissolvido, cloro residual

disponível, CBO5, Azoto amoniacal, pH, temperatura, cobre, fosfatos e

amoníaco.

Os nitritos não apresentam uma evolução longitudinal na albufeira muito

notória mas têm maior variação nas zonas a montante. Variação semelhante

apresenta o oxigénio dissolvido. O pH registou uma variação elevada em

todos os pontos analisados, mas apresenta valores médios mais elevados nos

pontos entre a Tapada do Outeiro e a barragem de Crestuma-Lever. A

temperatura regista variações grandes em cada ponto, típicas de um sistema

semi-lêntico, com uma tendência para um aumento dos valores médios de

montante para jusante. Os fosfatos não apresentam variação muito

significativa em todo o percurso da água nesta albufeira, com excepção dos

pontos Ponte da Bateira e Praia do Castelo, onde os valores médios são

consideravelmente mais elevados que no resto dos pontos da albufeira.

Águas balneares:

As principais violações aos VMA e VMR dizem respeito, por ordem

decrescente de ocorrência, aos indicadores de contaminação microbiológica

de origem antropogénica (coliformes totais, fecais, estreptococos fecais e

salmonelas), transparência, óleos minerais, sólidos suspensos totais e

oxigénio dissolvido.

Os valores menores de transparência registaram-se nos pontos junto à

barragem de Crestuma-Lever. Os óleos minerais apresentaram em geral uma

pequena variação de resultados em cada ponto, com excepção dos locais

Entre-os-Rios e Crestuma-Lever (barragem) onde ocorreram grandes

variações.

Águas destinadas à rega:

As principais violações aos VMA e VMR dizem respeito, por ordem

decrescente de ocorrência, aos coliformes fecais, cloretos, sólidos suspensos

totais, boro e pH.

Os cloretos apresentam-se com valores mais elevados e com maior variação a

montante de Melres e no ponto Crestuma-Lever (07G 04). O boro registou

valores mais elevados e maior variação nos locais a montante de Melres.

Page 18: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

15

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

Relativamente ao estado trófico da albufeira parece ocorrer um aumento do grau

de eutrofização de montante para jusante. Os locais até Entre-os-Rios apresentam

um índice de estado trófico médio que indica um estado oligo-mesotrófico. No

entanto, neste sector do rio Douro encontramos uma variância de resultados

bastante maior que no troço mais a jusante. De Entre-os-Rios até à Central da

Tapada do Outeiro, o estado trófico evolui da mesotrofia para a eutrofia. É junto à

Central (pontos EDP) que o estado de eutrofização é mais elevado. Os pontos

mais próximos da barragem (Crestuma-Lever 06I 02 e 07G 04) apresentam um

grau trófico um pouco menor. Esta evolução longitudinal será devida às

características físicas do sistema, uma vez que os parâmetros químicos que mais

directamente influenciam o fitoplâncton não apresentam esta dinâmica

longitudinal, com excepção do fósforo total. Nos três pontos junto à Central da

Tapada de Outeiro, o estado trófico é sempre ligeiramente menor junto ao fundo

mas em todos os casos considerou-se a água como eutrófica.

A análise da flora do território incidiu sobre os dois grandes grupos de plantas

terrestres: as briófitas (musgos e grupos afins) e as plantas vasculares (fetos e

plantas produtoras de sementes). Foram identificados, no total, 141 táxones de

briófitas e 609 táxones vasculares na área de estudo. Do ponto de vista do

interesse para conservação, destaca-se, entre as briófitas, a presença de

Plagiothecium succulentum, espécie considerada rara em Portugal que ocorre em

locais frescos, preferencialmente no interior e nas imediações de carvalhais. No

que respeita às plantas vasculares, apenas merecem referência três táxones dos

Anexos da Directiva “Habitats” (Narcissus bulbocodium, N. triandrus e Ruscus

aculeatus), típicos de carvalhais e respectivas orlas, e o endemismo ibérico de

distribuição restrita Leucanthemopsis flaveola, pontualmente observado nos

afloramentos xistosos da parte ocidental da área.

O estudo fitossociológico da vegetação natural da área de estudo permitiu

identificar grande parte dos tipos de formações vegetais característicos dos

territórios não litorais e não montanhosos do Noroeste de Portugal. É notável a

diversidade de bosques (carvalhais, amiais-salgueirais), matagais pré-florestais

(louriçais, matagais espinhosos) e matos (tojais e urzais-tojais), ainda que o seu

estado de conservação seja bastante variável. Os diversos tipos de bosques,

matagais e matos organizam-se, segundo processos comuns de sucessão

ecológica, em séries de vegetação que se dispõem na paisagem em resposta a

gradientes ambientais direccionais. A maioria das áreas actualmente emersas

FLORA E VEGETAÇÃO

Page 19: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

16

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

possui carvalhais de Quercus robur ricos em espécies termófilas (Quercus suber,

Laurus nobilis) como vegetação natural potencial. Apenas constituem excepção a

esta potencialidade os biótopos ripários ou palustres, em que bosques higrófilos

de amieiros (Alnus glutinosa) e salgueiros (Salix atrocinerea) se dispõem em

mosaico com comunidades helofíticas dominadas por tabúas (Typha latifolia).

As características da flora autóctone e da vegetação natural, valoradas segundo

critérios ecológicos, legais (Directiva “Habitats”) e florístico-fitocenóticos,

permitiram identificar dez áreas com vocação para conservação do património

botânico da área de intervenção. Estas áreas incluem maioritariamente bosques

mais ou menos extensos de carvalhos e respectivos matagais pré-florestais

(habitats 5230* e 9230 da Directiva 92/43/CEE), bosques ripícolas ou paludícolas

(habitat 91E0*) e/ou biótopos rochosos com vegetação rupícola (habitat 8220).

Grande parte das áreas mais significativas situa-se no troço mais oriental da área

de estudo (concelhos de Marco de Canavezes e Cinfães). As restantes áreas

coincidem fundamentalmente com os cursos terminais dos principais afluentes da

margem esquerda do Rio Douro (Arda e Paiva).

No decurso do presente estudo, foram também identificados os factores

antrópicos que mais determinam o estado de conservação dos habitats naturais.

Constatou-se que a exploração antrópica dos recursos naturais (nomeadamente

através da silvicultura e da agricultura), o crescimento desregrado dos núcleos

urbanos e da rede viária secundária e a construção da barragem de Crestuma-

Lever (com a submersão dos vales e das porções basais das encostas)

constituem actualmente os factores que mais determinam negativamente a

representação da vegetação natural no território. A protecção eficaz das áreas

prioritárias acima referidas, o combate às espécies vegetais exóticas como as

acácias (Acacia dealbata, A. melanoxylon) e a erva-da-fortuna (Tradescantia

fluminensis), e o desenvolvimento de acções integradas de recuperação de áreas

ambientalmente degradadas deverão constituir as linhas-mestras de acção com

vista à preservação da fitodiversidade e dos habitats naturais neste troço do vale

do Rio Douro.

A comunidade de vertebrados terrestres da zona de intervenção do plano

compreende um total de 105 espécies: 10 espécies de anfíbios, 17 de répteis, 68

de aves e 10 de mamíferos.

Apesar da maioria das espécies presentes não se encontrarem ameaçadas a nível

VERTEBRADOS TERRESTRES /CAÇA

Page 20: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

17

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

nacional (91% possuem uma classificação de NT - “Não Ameaçada” - segundo o

Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal), 17% são espécies de ameaçadas a

nível europeu (Anexos A-I da Directiva Europeia das Aves, e B-II/IV/V, da Directiva

Europeia dos Habitats). As espécies cinegéticas compreendem 16% das espécies

de aves e mamíferos presentes.

Os répteis e anfíbios representam os grupos de vertebrados com maior proporção

de espécies classificadas a nível europeu (11 em 27, ou seja, 41%). As espécies

emblemáticas deste grupo (Anexo B-II) são: a Salamandra-lusitânica (Chioglossa

lusitanica), a Rã-ibérica (Rana iberica), o Discoglosso (Discoglossus galganoi), o

Cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa) e o Lagarto-de-água (Lacerta

schreiberi). Outras seis espécies incluídas nos Anexos B-IV/V são Sapo-corredor

(Bufo calamita), Rã-ibérica (Rana iberica), Sapo-parteiro-comum (Alytes

obstetricans), Tritão-de-ventre-laranja (Triturus marmoratus), Cobra-de-pernas-

pentadáctila (Chalcides bedriagai), Cobra-de-ferradura (Coluber hipocrepis) e Rã-

verde (Rana perezi).

Das 68 espécies de aves, apenas três (4% do total) estão incluídas no Anexo A-I

da Directiva Europeia das Aves: Guarda-rios (Alcedo atthis), Andorinha-do-mar

comum (Sterna hirundo) e Felosa-do-mato (Sylvia undata). Contudo, ocorrem na

zona outras espécies ameaçadas a nível nacional, como a Rola (Streptopelia

turtur) e o Melro-de-água (Cinclus cinclus) (classificados como em situação de

“Vulnerável” pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal), e mais quatro cujo

estatuto, em termos nacionais, ainda não está definitivamente estabelecido: Açor

(Accipiter gentilis), Gavião (A. nisus), Galinhola (Scolopax rusticola) e

Escrevedeira-amarela (Emberiza citrinella).

Relativamente aos mamíferos, contam-se quatro espécies ameaçadas a nível

europeu (Anexos B-II, B-IV e B-V): Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus),

Lontra (Lutra lutra), Ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) e Geneta (Genetta

genetta) –, o que representa 40% do total de espécies presentes na área. Destas

espécies, as duas primeiras estão também ameaçadas a nível nacional

(classificação de “Vulnerável”, segundo o Livro Vermelho).

As espécies cinegéticas representam 22% do total de espécies de aves e

mamíferos identificados na área de estudo. As aves são as espécies cinegéticas

dominantes (82% do total de espécies cinegéticas).

Em consequência de um coberto vegetal bastante degradado, constituído em

Page 21: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

18

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

grande parte por monoculturas de pinheiros e eucaliptos, e uma pressão humana

(perturbação, destruição de habitats, poluição) muito forte, os habitats favoráveis à

ocorrência de muitas espécies encontram-se muito fragmentados. Foram

identificados vinte e cinco locais com habitats potencialmente favoráveis para os

vários grupos faunísticos. Destes, seis locais foram considerados como

apresentando ainda boas condições para a fauna, nomeadamente: Concas,

Leverinho, Bouça, Areja, rios Inha e Paiva. Apenas o Rio Paiva é considerado um

sítio classificado (Rede Natura 2000, Sítio Rio Paiva - PTCON0059).

São pouco conhecidos os recursos piscícolas da albufeira de Crestuma-Lever. Os

ciprinídeos abundam na albufeira, com particular relevo para o barbo (Barbus

bocagei). Esta espécie predomina no corpo principal da albufeira, enquanto nas

zonas menos profundas e próximas dos afluentes, a boga (Chondrostoma

polylepis) e o escalo e (Leuciscus cephalus) aparecem em maior número. Estão

presentes, ainda, espécies como a carpa (Cyprinus carpio), a enguia (Anguilla

anguilla), a achigã (Micropterus salmoides), o peixe-sol (Lepomis gibbosus), a

gambusia (Gambusia holbrooki), a taínha (Liza ramada), o gobio (Gobio gobio

(gobio), o peixe-rei (Atherina boyeri), o pimpão (Carassius auratus), a truta-fário

(Salmo trutta) e a pardelha (Rutilus arcasii). A introdução de espécies exóticas, em

especial predadoras, como o achigã e a perca-sol potencia o desaparecimento

das espécies autóctones. Até ao momento, confirmou-se a presença da pardelha,

peixe-sol e enguia. Importa referir que o escalo, a boga, a pardelha e o barbo são

endemismos ibéricos.

A pesca desportiva é uma actividade com algum significado na albufeira. A

construção da barragem veio limitar a deslocação de espécies migradoras

diádromas, de grande interesse económico, como o sável, a enguia e a lampreia.

A riqueza em espécies de macroinvertebrados bentónicos é baixa. O habitat

dominante é o de águas profundas, verificando-se uma ausência dos grupos de

maior sensibilidade – EPT (Ephemeroptera, Plecoptera e Tricoptera). A

comunidade bentónica encontra-se, assim, pouco desenvolvida, devido à natureza

arenosa dos fundos, à profundidade da massa de água e à sua grande renovação,

não se conhecendo o impacto da extracção de inertes sobre os diferentes

compartimentos biológicos.

ICTIOFAUNAPESCA

Page 22: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

QuaternairePortugal

19

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

Surgem com frequência resíduos sólidos urbanos nas linhas de água de menor

dimensão, caso do ribeiro do Couço, ribeira de Longras, rio Sardoura e ribeira de

Conça. Esta última apresenta valores elevados de sólidos totais em suspensão.

A fruição do plano de água como espaço de recreio e lazer é sobretudo importante

para a população local. As infra-estruturas de apoio ao recreio náutico são na sua

maioria muito simples, com excepção das existentes em Boialvo, Melres/Ribeira e

Vila Cova que têm uma capacidade instalada superior a 50 embarcações. As

zonas de recreio balnear são escassas, de dimensão reduzida e sem infra-

estruturas, com excepção as que se localizam na Lomba, Melres/Ribeira e

Concas.

Page 23: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

20

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

3. DIAGNÓSTICO PROSPECTIVO

COMPONENTE POPULAÇÃO

PONTOS FORTES: • Residem na área de intervenção 26600 habitantes, correspondentes a 35% da população das

freguesias ribeirinhas e a 3,5% da população dos concelhos envolvidos. Globalmente, a população residente cresceu muito ligeiramente entre 1991 e 2001 para estas freguesias (de 73 para 75 mil habitantes).

• A densidade populacional é variável, mas equilibrada ao longo das margens, sendo que no extremo ocidental (concelhos de Gaia, Feira e Gondomar) verificando-se a presença de áreas relativamente pouco densas nos respectivos concelhos, enquanto no interior esta área concentra proporções mais significativas de residentes.

• A população residente na área é jovem quando comparada com a média nacional e regional (Norte).

• Nestas freguesias residem 8100 famílias, tendo a dimensão média da família diminuído de 3,7 para 3,3 indivíduos na década de 90

PONTOS FRACOS: • Globalmente, estas áreas (freguesias) perderam peso demográfico no total dos respectivos

concelhos. Nas freguesias de Gondomar, Gaia e Cinfães houve mesmo diminuição efectiva de população entre 1991 e 2001.

• Os indicadores referentes ao analfabetismo, frequência do ensino secundário e superior revelam uma população com índices de qualificação escolar bastante inferiores à média nacional.

• No caso do analfabetismo, e apesar do progresso, notou-se um aumento das assimetrias internas na área e uma perda relativamente à média nacional

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO: • Tratando-se de uma área essencialmente residencial, existem condições, favorecidas pela

proximidade e melhoria das acessibilidades à Área Metropolitana, para reforçar a procura de habitação por população mais jovem e qualificada

Page 24: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

21

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE AGLOMERADOS POPULACIONAIS

PONTOS FORTES:

• Proximidade ao centro metropolitano; • Grandes parcelas das áreas urbanas e urbanizáveis desocupadas; • Núcleos edificados com valor patrimonial de conjunto (pitorescos); • Núcleos populacionais com população residente permanente e sem grandes variações

sazonais; • Proximidade do rio Douro e forte interacção física e visual com o plano de água.

PONTOS FRACOS:

• Morfologia do terreno desfavorável à implantação de edifícios e vias, responsável por

volumetrias com impacto na paisagem e tecido urbano com uma estrutura viária condicionada; • Escassez de espaços públicos de convivência; •• Conflitos urbanos resultantes do sistema viário de atravessamento e do movimento de

pesados.

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO:

• Melhoria das acessibilidades e consequente crescimento da procura de habitação e 2ª

habitação. • Grandes espaços em transformação; • Elaboração de PMOT que permitirão requalificar e consolidar os espaços urbanos.

Page 25: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

22

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE HABITAÇÃO

PONTOS FORTES: • Na zona de intervenção concentram-se cerca de 10000 alojamentos, dos quais cerca de 80%

são de residência habitual. A taxa de crescimento entre 1991 e 2001 aproximou-se da média nacional, embora bastante inferior ao da região envolvente (concelhos abrangidos).

• A taxa de ocupação famílias/ alojamento é equilibrada, sendo raras as situações de sobreocupação.

• Predomina claramente a ocupação dos alojamentos pelos proprietários, sendo o arrendamento apenas utilizado em 15% dos casos.

• As redes públicas de electricidade, abastecimento de água e esgotos têm coberturas próximas do total.

PONTOS FRACOS: • Ainda é pouco representativo o mercado local para segunda habitação/ uso sazonal. • Há uma proporção significativa dos alojamentos que não dispõe de algumas comodidades

(14% banho, 8% retrete, 27% recolha de resíduos sólidos urbanos). • Contrastando com a situação global favorável, nalgumas áreas mais montanhosas no interior

registam-se diversos casos de cobertura por redes públicas de saneamento básico inferior a 80% dos alojamentos.

• Deficiências em matéria de estado de conservação dos edifícios bastante superiores à média nacional.

• O parque edificado é relativamente envelhecido, com algumas áreas a apresentar situações mais extremas (parte ocidental do concelho de Castelo de Paiva).

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO: • O desenvolvimento de um conjunto de projectos de urbanização, apostando na vocação de

espaço de lazer, podem levar não só à melhoria do estado e da qualidade do parque edificado e das infraestruturas públicas, como também revitalizar o mercado de primeira e segunda habitação.

• As redes públicas no domínio do saneamento básico (+agua e esgotos) continuam a ser domínio prioritário de investimento em Portugal, pelo que tendencialmente a situação irá melhorar.

• Continuam a manifestar-se tendências para a fragmentação das famílias, pelo que outras tipologias de alojamento irão emergir no futuro.

• As áreas mais próximas do centro metropolitano, principalmente a norte do Douro (Gondomar) sofrem pressão para densificação da urbanização.

Page 26: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

23

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE ACESSIBILIDADES

PONTOS FORTES: • Nova ponte sobre o Rio Douro em Entre-os-Rios favorece ligação entre as margens norte e

sul. Esta ponte integra o traçado do IC35, que ligará o IP4 (em Penafiel) e o IP5 (em Sever do Vouga).

• Parte da área, a noroeste, é servida na proximidade por caminho-de-ferro (suburbano Porto-Marco), criando uma alternativa de transporte que deve ser valorizada.

• Via navegável do Douro tem demonstrado ser uma alternativa eficiente para o transporte de mercadorias. Na albufeira localizam-se dois portos comerciais fluviais que essencialmente movimentam carga de exportação de recursos locais (granitos). A utilização para navegação turística está em pleno crescimento.

PONTOS FRACOS: • As ligações leste-oeste, estruturantes do povoamento e da coesão territorial desta área, são

garantidas por duas estradas nacionais (EN 108 e EN 222) com deficiências diversas (atravessamento de aglomerados, traçado, perfil e estado de conservação) e alguns troços com volumes de tráfego assinaláveis (nomeadamente no extremo ocidental, nos concelhos da Feira, Gondomar e Gaia). Deve ainda referir-se a área dos portos de Sardoura (C. Paiva) e Várzea do Douro (M. Canaveses), com elevada carga de pesados de mercadorias (granitos).

• As ligações a grande número de povoações e infraestruturas de apoio à navegação de recreio e outras actividades de lazer são garantidas, na maioria dos casos, por vias rodoviárias sem condições de piso e perfil aceitáveis.

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO: OPORTUNIDADES • Construção dos eixos IC24 e IC35 permitirá integração plena da área na maior concentração

urbana e de serviços do noroeste da Península Ibérica, ligando-a ao centro metropolitano, a um aeroporto internacional (FS Carneiro) e a dois portos marítimos (Aveiro e Leixões).

• Estas novas ligações permitirão descongestionar as actuais vias rodoviárias, que estão subdimensionadas para tráfego de pesados e mercadorias.

• Melhoramento generalizado das acessibilidades locais, quer por intervenção das autarquias, quer pelo investimento privado em infraestruturas e equipamentos no domínio do turismo

Page 27: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

24

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE NAVEGABILIDADE DO DOURO

PONTOS FORTES: • A utilização do canal navegável para navegação turística está em crescimento sustentado pela

dinâmica do investimento privado. • No caso da navegação comercial (mercadorias) tem-se assistido a uma consolidação com

aumento de eficiência- diminuição do número de embarcações mas crescimento da carga transportada

PONTOS FRACOS: • A navegação turística que atravessa a albufeira tem essencialmente como pontos de interesse

as áreas a montante (Douro Vinhateiro) e a jusante (Porto-Gaia), sendo de pequena importância os destinos dentro da área da albufeira.

• Os portos comerciais de Sardoura e Várzea do Douro são quase exclusivamente utilizados para exportação de um recurso regional (granito) que não só sofre grande concorrência internacional, como implica degradação e passivos ambientais. Esta dependência de um único tipo de produto gera grande fragilidade neste domínio, até porque o porto de Régua-Lamego não apresenta volumes movimentados equivalentes a estes.

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO: • Crescimento da importância da navegação de turismo, devendo reforçar-se os pontos de

atracção na área da albufeira, registando-se já alguns projectos de investimento relevantes. • A proximidade a áreas com dinamismo económico e fortes densidades populacionais (Sousa,

Área Metropolitana do Porto, Entre Douro e Vouga) cria condições muito favoráveis para o desenvolvimento da navegação de recreio e desportos náuticos.

• As ligações rápidas aos portos de Leixões e de Aveiro, através do IC35/IP4/IP5 coloca interrogações sobre o papel e a estratégia de desenvolvimento para a navegação comercial através do Douro, pois isso significa concorrência acrescida aos portos fluviais..

Page 28: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

25

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE ACTIVIDADES ECONÓMICAS

PONTOS FORTES: • A área de intervenção é essencialmente residencial, integrando uma bacia de emprego mais

ampla, composta pela Área Metropolitana do Porto e pelas regiões urbano-industriais do Sousa/ Baixo Tâmega (a norte) e do Entre Douro e Vouga (a sudoeste). As deslocações pendulares são frequentes.

• Alguns recursos de elevado potencial: superfície de água, gastronomia, áreas rurais, património.

• Crescimento do turismo em espaço rural. • O sector primário é pouco representativo (3,3% dos activos residentes), ocupando as

actividades agro-florestais cerca de 25% da área total. No entanto, a exploração florestal é uma actividade importante, principalmente nos concelhos de Gondomar, Penafiel e Castelo de Paiva.

• Na indústria não existe uma especialização clara, embora se revele significativa a fileira em torno de recursos locais (artigos de granito, betão, madeira e mobiliário) e ainda as indústrias têxteis e do vestuário.

PONTOS FRACOS: • Apesar da localização na albufeira de três grandes infraestruturas produtoras de energia

eléctrica (Crestuma-Lever, Carrapatelo e Tapada do Outeiro), tanto ao nível do emprego como para a economia local os contributos do sector não são muito significativos.

• O sector do turismo-lazer está relativamente desorganizado e desqualificado, não existindo na área um número suficiente de atractivos para gerar número significativo de visitantes.

• Oferta hoteleira diminuta e de baixa qualidade média. • Em algumas áreas, a economia é muito dependente das indústrias extractivas (areeiros e

pedreiras), sectores com sustentabilidade duvidosa (questões ambientais e de mercado).

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO: • Apetência dos investidores turísticos tem aumentado, associando valores locais (água,

qualidade ambiental) a uma procura crescente de espaços de lazer (pesca, desportos náuticos, navegação de recreio).

• As dinâmicas turísticas induzidas pela navegabilidade do Douro podem ser significativas. • Ordenamento industrial decorrente das iniciativas autárquicas e do novo enquadramento de

acessibilidades regionais pode atrair novos investimentos no sector, gerando empregos qualificados e riqueza

Page 29: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

26

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE CONDIÇÕES GEOLÓGICAS

PONTOS FORTES: • Formas naturais potenciadoras de enquadramento regional único e com características

empáticas • Conhecimento pormenorizado das formações geológicas aflorantes na área • Morfologia do leito favorável à reposição de depósitos de inertes.

PONTOS FRACOS: • As explorações mineiras abandonadas constituem uma ameaça para a albufeira na medida

em que a existência de escombreiras localizadas nas margens são focos geradores de poluição

• Formações geológicas aflorantes em grande parte da albufeira são monótonas e não possuem valor patrimonial intrínseco

• Ocupação espacial das margens condicionada pela topografia a que se junta um elevado risco de movimentos em massa, potencialmente mais elevada nas zonas de maior declive e substrato rochoso mais incompetentes

• Reduzida apetência na população para a fruição dos valores geológicos

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO: • Explorações mineiras abandonadas as quais não foram objecto de medidas de minimização e

recuperação • Risco de se virem a verificar movimentos em massa nas áreas de maior declive • Existência de alguns afloramentos com potencialidade para serem classificados como LIG –

Locais de Interesse Geológico • Antigas áreas mineiras com possibilidade de musealização pelas características únicas a nível

nacional.

Page 30: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

27

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE EXTRACÇÃO DE INERTES

PONTOS FORTES: • Matéria prima com elevada procura no mercado local e regional • Existência na região de estruturas e know-how necessário à exploração • Actividade com importante valor sócio-económico a nível local

PONTOS FRACOS: • Actividade potencialmente geradora de impactes ambientes, directos e indirectos, negativos • Actividade susceptível de ser socialmente pouco aceitável após a ocorrência da queda da

ponte • Infraestruturas de apoio às explorações reflectem falta de ordenamento

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO: • Imagem das empresas de explorações de inertes • Ausência de controle de qualidade dos inertes • Exploração excessiva e sem controlo • As empresas de exploração de inertes, pese embora a elevada procura no mercado e a

existência de know-how local para operacionalizar a exploração, deverão levar a cabo um processo de certificação do produto, de modo a responder a mercados cada vez mais exigentes

• Certificação do produto explorado

Page 31: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

28

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE QUALIDADE DA ÁGUA

PONTOS FORTES: • Ausência de estratificação térmica acentuada evita fenómenos de ressuspensão de

compostos de azoto e fósforo com origem no sedimento. • Elevado caudal, diminui o tempo de retenção da água, reduzindo o desenvolvimento

excessivo de algas face à carga orgânica e de nutrientes azotados e fosfatados.

PONTOS FRACOS: • Elevado grau de eutrofização especialmente nas regiões mais a jusante • Elevada contaminação microbiológica de origem antropogénica quer em locais origem de

água para consumo, quer em locais utilizados para recreio e/ou rega. • Monitorização deficiente da qualidade da água nomeadamente a montante de Castelo • Valores elevados de cloretos e coliformes fecais são factores de risco no uso da água para

rega. • Áreas usadas como praias fluviais muito contaminadas microbiologicamente, inclusive com

salmonelas e óleos minerais. • Elevados níveis de nitritos e matéria orgânica podem condicionar a fauna piscícola • De um modo geral as águas de abastecimento apresentam problemas de contaminação

microbiológica, matéria orgânica e sulfatos.

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO:

• Evolução da qualidade dependente da eliminação ou diminuição das fontes poluentes e do

caudal do Rio. • Possibilidade de aumento de contaminação por óleos e matéria orgânica com aumento de

utilização da albufeira por barcos de recreio, graneleiros e de turismo.

Page 32: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

29

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE FLORA E VEGETAÇÃO

PONTOS FORTES: • Complexidade litológica e geomorfológica, e benignidade climática; • Presença da generalidade dos tipos de vegetação natural das áreas não litorais e não

montanhosas do Noroeste de Portugal; • Ocorrência de biótopos ripários e palustres com bosques higrófilos e de louriçais reliquiais,

tipos de vegetação reconhecidos como habitates prioritários à escala Comunitária; • Existência de extensões apreciáveis de bosques naturais, que, além de constitutirem o

principal suporte da biodiversidade no território, protegem os solos contra os fenómenos erosivos e são mais resistentes aos fogos do que as matas de produção dominadas por espécies exóticas;

• Reduzida pressão antrópica na parte oriental da área (concelhos de Marco de Canavezes e Cinfães), onde um mosaico paisagístico diversificado alberga ainda representações consideráveis de bosques naturais;

•• Presença de uma dezena de áreas com vocação para a conservação da fitodiversidade..

PONTOS FRACOS: • Elevada pressão antrópica, mais acentuada na parte ocidental da área, com predomínio, na

paisagem vegetal, de povoamentos florestais de espécies exóticas (pinheiro-bravo e eucalipto);

• Ausência de um ordenamento florestal efectivo, o que favorece a ocorrência de incêndios e, consequentemente, propicia eventos erosivos importantes e promove a perda de biodiversidade e da qualidade da paisagem;

• Presença marcante de espécies vegetais exóticas com carácter infestante; • Desenvolvimento desregrado dos núcleos urbanos e respectiva rede viária; • Ausência de alguns tipos importantes de vegetação devido à submersão dos principais vales

pela albufeira.

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO:

• Aumento previsível da presença humana no território e da sua influência na paisagem; • Intervenções várias a nível de acessibilidades, influenciando negativamente algumas

formações vegetais naturais; • Dinâmica quase inexistente nas formações de exploração florestal, estando a maioria votada a

um relativo abandono; • Evolução positiva da vegetação natural apenas se registará no caso de diminuir a pressão

antrópica nas áreas com vocação para a conservação da fitodiversidade.

Page 33: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

30

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE VERTEBRADOS TERRESTRES /CAÇA

PONTOS FORTES: Herpetofauna: • Ocorrência (ou potencial ocorrência) de uma comunidade de répteis e anfíbios muito

diversificada, incluindo várias espécies ameaçadas a nível comunitário (Anexo B-II), como a Salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), a Rã-ibérica (Rana iberica), o Discoglosso (Discoglossus galganoi), o Cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa) e o Lagarto-de-água (Lacerta schreiberi).

• Presença de zonas húmidas (linhas de água, terrenos alagados, poços, tanques) com potencial para a ocorrência de um elevado número de anfíbios, com especial destaque para a foz do Paiva, Conca, Leverinho e Areja.

Aves e Mamíferos: • Ocorrência ou (potencial ocorrência) de um elevado número de espécies de aves, entre as

quais estão confirmadas três espécies ameaçadas a nível europeu: Andorinha-do-mar-comum (Sterna hirundo), Guarda-rios (Alcedo atthis) e Felosa-do-mato (Sylvia undata). Ocorrência do Melro-de-água (Cinclus cinclus), espécie com estatuto de “Vulnerável” a nível nacional;

• Comunidade de mamíferos importante, abrigando duas espécies de conservação prioritária a nível europeu (Anexo B-II): Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus) e Lontra (Lutra lutra), e duas também incluídas na Directiva Europeia dos Habitats (Anexos B-IV ou B-V): Ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) e Geneta (Genetta genetta);

• Presença de zonas com especial interesse para a conservação da fauna ornitológica e mamológica, como a foz do Rio Paiva, que possui ainda uma extensa área de vegetação ribeirinha autóctone, e abriga espécies prioritárias como a Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), a Lontra (Lutra lutra) e o Melro-de-água (Cinclus cinclus). Outras áreas com potencial para aves e mamíferos são a foz do Rio Inha, Conca, Leverinho, Areja e Bouça.

PONTOS FRACOS: • Alteração dos habitats, decorrente do abandono dos campos agrícolas e da urbanização

crescente; • Poluição dos cursos de água; • Proliferação das monoculturas de eucalipto, em detrimento da vegetação autóctone, que

atinge também as galerias ripícolas junto às margens; • Utilização crescente do espelho de água para fins turísticos, com a implantação de infra-

estruturas anexas, por vezes em zonas ambientalmente sensíveis (por exemplo, em Leverinho).

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO: • A crescente pressão populacional em toda a zona envolvente da área de intervenção, com o

consequente desenvolvimento urbanístico, industrial (sobretudo extracção de inertes) e turístico, associado à degradação progressiva da vegetação ribeirinha e à eucaliptização, são os principais factores de ameaça à conservação da riqueza faunística da área abrangida pelo Plano de Ordenamento da Albufeira de Crestuma-Lever.

Page 34: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

31

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE ICTIOFAUNA/PESCA

PONTOS FORTES: • Elevada potencialidade para a pesca desportiva; • Existência de endemismos; • Favorável estado de preservação de algumas linhas de água que afluem à Albufeira (ex: rio

Sardoura); • Manutenção do interface ribeirinho de algumas áreas dada a dificuldade de acesso.

PONTOS FRACOS: • Sistema de transposição ineficaz para peixes migradores diádromos, de elevado valor

económico, na Barragem de Crestuma-Lever, impedindo a sua migração para montante, contribuindo para a diminuição efectiva de algumas populações piscícolas, caso do sável e savelha;

• Evidente alteração da qualidade da água dos ribeiros de Conça e de Casas Novas, com forte indício de impacto sobre a fauna aquática e cuja origem do distúrbio é a actividade de uma pedreira e contaminação orgânica, respectivamente;

• Diminuição da importância da pesca profissional devido à redução dos efectivos populacionais das espécies piscícolas com maior valor económico;

• Presença de espécies exóticas, algumas das quais predadoras; • Ausência de informação sobre o eventual efeito da actividade da Central da Tapada do

Outeiro no ecossistema aquático; • Intenso tráfego de veículos náuticos motorizados durante o Verão; • Ausência de informação sobre o estado das populações endémicas; • Ausência de monitorização da actividade da extracção de inertes e eventual impacto sobre os

diferentes compartimentos biológicos da Albufeira; • Zonas de acentuada degradação do interface ribeirinho, particularmente em áreas de fácil

acesso para depósito de resíduos sólidos; • Descontinuidade de habitat provocada pela barragem do Torrão (rio Tâmega); • Ausência de estratégia de compensação de perda de habitat resultante da construção da

barragem, particularmente para espécies migradoras que crescem nas águas interiores, caso de Anguilla anguilla.

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO:

• Possível diminuição dos efectivos populacionais de espécies piscícolas autóctones; • Aumento da dominância de espécies exóticas; • Manutenção da interrupção do movimento de peixes migradores diádromos e potamódromos; • Tendência para um melhor controlo da extracção de inertes; • Tendência para o aumento da pesca desportiva.

Page 35: Síntese de caracterização e Diagnóstico

Estudos de Base Volume 5 SÍNTESE DE CARACTERIZAÇÃO

E DIAGNÓSTICO

Quaternaire Portugal

32

POA C LPlano de Ordenamento da Albufeirade Crestuma-Lever

COMPONENTE INSTRUMENTOS DE GESTÃO TERRITORIAL

PONTOS FORTES: • Espaço territorial planeado • Existência de diversos instrumentos de gestão territorial, PROZED, PDH do Douro e PDM • Elaboração dos PDM sob a orientação do PROZED • Existência de áreas disponíveis para edificação no interior dos perímetros urbanos delimitados

nos PDM. • Existência de uma entidade única que tem desenvolvido acções de programação das infra-

estruturas de apoio ao recreio náutico (IPTM)

PONTOS FRACOS: • Sobredimensionamento das áreas urbanas e urbanizáveis definidas no âmbito dos PDM • Permissão de construção em quase toda a área de intervenção que conduz a uma grande

dispersão com consequências ao nível da qualidade da paisagem, infra-estruturas e proliferação de acessos

DINÂMICA ACTUAL /PERSPECTIVAS DE EVOLUÇÃO:

• Aumento da pressão para edificação nas áreas com maior relacionamento visual e/ou

funcional com o plano de água (quer se localizem, ou não, no interior dos perímetros urbanos); • Aumento da tendência para dispersão da edificação fora dos perímetros urbanos; • Construção de novos espaços turísticos; • Em inicio processos de revisão dos PDM.