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SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS: AVALIANDO A EFETIVIDADE DO PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO Ana Lavos Cibele Silva Selma Venco

SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS … CONSAD/paineis... · Cibele Silva Selma Venco . II ... a concepção e o desafio do Programa residem na ... profissional estão relacionadas

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SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS: AVALIANDO A EFETIVIDADE DO PROGRAMA DE

QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DE

SÃO PAULO

Ana Lavos Cibele Silva

Selma Venco

II Congresso Consad de Gestão Pública – Painel 18: O novo desenho da política pública de qualificação profissional no estado de São Paulo

SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DE EGRESSOS: AVALIANDO A EFETIVIDADE DO

PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO

Ana Lavos Cibele Silva

Selma Venco

RESUMO O presente trabalho apresenta o sistema de acompanhamento e avaliação do Programa Estadual de Qualificação Profissional promovido pela Secretaria Estadual de Emprego e Relações de Trabalho de São Paulo em 2008. O atual modelo do programa é resultado do desenvolvimento da metodologia de ensino profissional para adultos ao longo dos últimos anos na SERT. O sistema de acompanhamento e avaliação visa, por um lado, identificar e transformar inadequações relativas à realização do programa e, por outro lado, avaliar os seus resultados. O sistema de acompanhamento é composto por um diagnóstico do perfil dos alunos do PEQ, pela supervisão dos cursos que levanta avaliações dos alunos e monitores sobre as aulas e sobre o Programa e por duas pesquisas quantitativas voltadas à análise dos resultados da política em relação aos seus objetivos de (re) inserção profissional, geração de trabalho e renda e exercício da cidadania. O texto apresenta alguns dados e informações relativas ao acompanhamento desenvolvido no ano de 2008 e analisa os métodos de acompanhamento e avaliação à luz de estudos realizados na área.

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...................................................................................................... 03

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 04

O SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO.................................................................... 06

AS PESQUISAS QUANTITATIVAS........................................................................... 11

PERFIL SOCIOECONÔMICO (PEQ)........................................................................ 12

PESQUISAS COM EGRESSOS................................................................................ 20

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 23

3

APRESENTAÇÃO

“é como se eu vivesse numa caverna e o curso me fizesse começar a ver o mundo lá fora”.

(aluna do PEQ-SP)

Este texto tem como objetivo discutir os preceitos teórico-metodológicos

que orientam o sistema de acompanhamento de egressos implantados no âmbito do

Programa Estadual de Qualificação, doravante denominado PEQ, desenvolvido pela

Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do estado de São Paulo (SERT) e

implantado tecnicamente em conjunto com a Fundação do Desenvolvimento

Administrativo (FUNDAP).

O referido Programa oferece cursos de qualificação a segmentos da

população, identificados por meio de estudos específicos1, que necessitam do apoio

de uma política pública para auxiliá-los no processo de (re) inserção no mercado de

trabalho. Nesse sentido, a concepção e o desafio do Programa residem na

superação da oferta de cursos concentrados em saberes técnicos, focalizando

fundamentalmente a formação integral dos indivíduos. A opção por esse desenho

pauta-se na compreensão que essa via possibilita aos trabalhadores ampliar sua

capacidade reflexiva, sua participação efetiva na sociedade e, como veremos, o

abandono de sua situação de desalento na busca pelo emprego, bem como a

retomada dos estudos formais.

O planejamento do Programa em análise contemplou um sistema de

avaliação de forma a coadunar diversos aspectos nele envolvidos, bem como e,

particularmente, a perspectiva do próprio educando.

1 Sobre isso ver texto nesse Congresso e mesmo painel: CORDEIRO, Lucas, ABUD, Bruno e TRIZI, Ivan Amorim. Inovações na gestão do Programa Estadual de Qualificação Profissional do Estado de São Paulo. In CONSAD, 2009.

4

INTRODUÇÃO

As questões orientadoras da avaliação da política de qualificação

profissional estão relacionadas aos objetivos da política num contexto de

desemprego estrutural e crescimento das práticas de trabalho informal. (Prestes,

2006). A educação profissional neste contexto visa, por um lado, proporcionar ao

trabalhador desempregado ferramentas para sua inserção numa atividade produtiva

formal e ampliar sua percepção acerca do exercício da cidadania, de forma a

prepará-lo não apenas para auferir renda de atividades produtivas (formais ou

informais), mas posicionar-se de maneira reflexiva diante dos acontecimentos de

sua vida e ampliar sua participação em processos de fortalecimento local, por

exemplo.

Os desafios de promover a avaliação do programa são diversos, pois a

relação entre a participação nos cursos e os eventuais ganhos na vida dos egressos

é permeada por outras variáveis. O esforço de compreensão desta relação, contudo,

é fundamental para a revisão da política de qualificação profissional.

O sistema de acompanhamento e avaliação pensado e planejado pela

equipe gestora procurou abarcar duas dimensões igualmente fundamentais da

política: o acompanhamento dos processos de implementação, com olhos inclusive

na sala de aula, e a avaliação de resultados.

Para cada um dos momentos foi pensada uma abordagem metodológica.

Isto porque a opção metodológica da natureza da pesquisa a ser realizada envolve

os objetivos previstos da pesquisa, segundo Günter, 2006. No caso da pesquisa

qualitativa realizada no âmbito do Programa Estadual de Qualificação, o propósito

era não apenas coletar dados, mas chegar ao conhecimento de situações que

pudessem ser transformadas em processo. No caso da pesquisa quantitativa, o

propósito passou a ser a avaliação dos alunos sobre os cursos e o estudo das

reverberações que o curso promoveu em suas vidas após certo tempo de conclusão.

A escolha dos métodos de pesquisa em abordagens qualitativa e

quantitativa prevê situações de coleta de dados em que as dimensões de ordem

subjetiva estão mais ou menos presentes. Tanto na pesquisa qualitativa quanto na

abordagem quantitativa, os valores e crenças do pesquisador influenciam na

observação do dado. (Günther, 2006). Esta influência é mais evidente, contudo, na

pesquisa qualitativa, em que a importância de se considerar o contexto e seus

5

aspectos estão mais presentes. Na pesquisa quantitativa, por outro lado, busca-se

controlar a influência dos contextos.

A pesquisa qualitativa produz desdobramentos e observações segundo o

ponto de vista do pesquisado. No caso do acompanhamento do Programa Estadual

de Qualificação, a abordagem qualitativa possibilitou observação de percepções e

situações de ensino-aprendizagem nas quais os acontecimentos não previstos eram

de fundamental importância para a avaliação das situações de ensino-aprendizagem

e as ações de alteração de processos.

Assim, a abordagem qualitativa pressupôs a observação participante dos

pesquisadores-supervisores. Para efeitos de registros e como orientação de conduta

destes sujeitos, optou-se pela elaboração de um roteiro de visita em que se

consolidava a visão do pesquisador-supervisor acerca dos fenômenos que ele

acompanhou.

Por outro lado, como veremos, a abordagem quantitativa possibilita um

controle mais rigoroso das informações que se buscam avaliar. Ela permite que

processos sejam configurados em pontos estanques, possibilitando uma visão geral

sobre os resultados.

6

O SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO

O sistema de acompanhamento foi compreendido no sentido estrito da

palavra originada do latim accompaniáre e cujo significado é ‘ estar ou ficar com ou

junto a (alguém), constantemente ou durante certo tempo’2. Assim, imbuídos do

sentido de analisar um conjunto de situações capaz de configurar o processo

vivenciado pelos participantes, definiu-se uma metodologia orientada pela

associação de ações complementares de caráter qualitativo e quantitativo, que

passamos a discorrer.

As abordagens de cunho qualitativo visam aprofundar percepções,

buscando compreender singularidades que envolvem o objeto. Em consonância com

Martins (2004) a metodologia qualitativa privilegia a análise de microprocessos,

abarcando a análise dos indivíduos e dos grupos. É ela que permite informar

processos e dinâmicas de difícil apreensão por meio de outras práticas.

Necessariamente, o olhar do analista parte de um local atribuído de valores (Martins,

2004). Especificamente na situação observada do PEQ, o valor fundamental é o da

universalidade da política pública e do seu compromisso com o cidadão na busca

pela busca por um posto de trabalho ou na geração de renda. O olhar do analista

busca, portanto, a “diferença que faz a diferença”, o momento em que o senso

comum é superado pela percepção do outro e pela construção coletiva de

conhecimento.

Nessa perspectiva, o acompanhamento qualitativo teve por objetivo

avaliar o cotidiano das práticas administrativas – as quais poderiam comprometer a

permanência dos trabalhadores nos cursos – e pedagógicas durante a

implementação dos cursos de qualificação profissional do Programa Estadual de

Qualificação, vivenciadas nas unidades executoras dos cursos, por meio da

observação sistematizada.

Para o cumprimento dessa etapa, uma equipe de quinze técnicos

especialmente capacitados para esse fim e munidos de roteiros para a coleta de

dados, realizou 351 visitas no período compreendido entre agosto de 2008 e janeiro

de 2009, em 89 municípios em todo o estado de São Paulo. É importante destacar

que esta equipe configura-se, portanto, como mais um elemento diferencial na

2 Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Disponível em: < http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=acompanhar&cod=4354>. Acesso em 4. Abril. 2009.

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construção da política pública paulistana de qualificação profissional, cujo papel

distancia-se do caráter meramente fiscalizador e passa a ser um coadjuvante e um

articulador de soluções.

A programação previu, no mínimo, três visitas por unidade executora em

momentos diferenciados do processo, reafirmando o sentido de acompanhamento.

O roteiro abarcava aspectos relacionados:

1. à manutenção das condições físicas das instalações, a adequação das

salas de aula ao número de alunos, o mobiliário, as condições dos

equipamentos disponíveis nos laboratórios, a disponibilidade de

equipamentos didáticos, condições de higiene e, ainda, o livre acesso

dos participantes a outras dependências das escolas, como bibliotecas,

espaços comuns de convivência e salas de informática;

2. à observância dos procedimentos administrativos que implicassem na

ausência dos alunos no Programa, tais como: a entrega do auxílio-

transporte e do material didático de conhecimentos gerais e

específicos, a oferta diária de lanche;

3. às condições de desenvolvimento dos procedimentos pedagógicos; e,

4. à adequação metodológica ao princípio de educação de adultos,

didática dos monitores e desenvolvimento dos conteúdos.

Para além dos registros acima apontados, é importante ressaltar que a

cada visita eram entrevistados 5 alunos de diferentes turmas e cursos, bem como os

monitores atuantes no dia da visita. Foram realizadas 451 visitas, sendo 106 na

Grande São Paulo e Região Metropolitana de São Paulo e 345 nas cidades do

interior paulista. Foram realizadas cerca de 2000 entrevistas com alunos do interior

do estado e cerca de 500 entrevistas com alunos da GSP. Este número corresponde

a cerca de 10% dos alunos participantes do Programa em 2008. Tendo em vista que

a cada visita era entrevistado ao menos um monitor, foram realizadas 451

entrevistas.

Apreendeu-se por meio das entrevistas realizadas junto aos alunos que a

recuperação e ou a ampliação da autoconfiança, por meio da construção do

conhecimento, é uma das condições importantes no retorno ao mercado de trabalho.

Para eles a somatória de condições propícias à participação nos cursos associadas

à qualidade do material didático, das aulas, das instalações surpreendeu-os

positivamente como prática de política pública.

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”eu achei que por ser coisa do governo não seria um curso com qualidade” (participante do PEQ, 2008)

De uma forma geral, os relatos dos alunos evidenciam satisfação com o

Programa, sobretudo na percepção de conhecimentos previamente adquiridos que,

contudo, eles próprios desconheciam. Um depoimento é paradigmático desta

vivência dos alunos sobre o conhecimento ‘esquecido’:

“eu não sabia que eu sabia tanta coisa” (participante do PEQ, 2008)

O curso também é visto pelos alunos como um reforço para o retorno ao

mercado de trabalho, reforço este associado aos conteúdos presentes no material

didático:

“Bom curso, vai aperfeiçoar e capacitar para o mercado de trabalho o material é bem completo” (participante do PEQ, 2008)

Entre os aspectos metodológicos apontados como interessantes e

satisfatórios pelos alunos está o trabalho em grupo estimulado pelas atividades

propostas:

“O trabalho em equipe para mim é importante, ajuda eu me soltar.” (participante do PEQ, 2008)

O curso é percebido como um movimento de estímulo ao aprendizado,

pois evidencia o prazer pelo conhecimento, Diversos alunos entrevistados nas

visitas de supervisão manifestaram este aspecto positivo do curso, como no relato

de uma aluna participante:

“Abre um horizonte novo. Apesar de eu ter escolaridade, estava afastada, com o curso estou me recuperando. Estava alheia, voltar qualifica, está sendo importante. Todo dia é uma nova descoberta. (participante do PEQ, 2008)

A articulação entre o auto-conhecimento e o conhecimento do mundo do

trabalho, uma das propostas do material didático, foi bem recebida pelos alunos. O

pressuposto deste método de ensino é demonstrar em ato a relação dialética entre o

indivíduo e o mundo3.

3 Os pressupostos metodológicos do Programa foram descritos e analisados no terceiro texto deste painel. Ver LIMA, Maria Helena de Castro, Schalch, Lais e Oliveira, Alan Pereira de, 2009.

9

“O curso tem sido muito bom para a gente se conhecer como pessoa e profissionalmente. Tudo muito bem utilizado.” (participante do PEQ, 2008)

Os depoimentos dos alunos também contribuem para a percepção de

resultados esperados do Programa enquanto os dados quantitativos não forem

ainda mensurados. Um deles é o estímulo ao retorno à escolarização formal:

“O curso assim para mim eu não sabia que eu sabia, eu aprendi. Estou tendo um ponto de visão melhor. Estou pensando em voltar a estudar.” (participante do PEQ, 2008)

Além da satisfação com os aspectos de ensino e aprendizagem as

condições de apoio para a realização dos cursos também foram consideradas

positivas na realização do curso.

“Vejo de bom tudo. Ajuda incentivando, dando o passe. Não tem como falar que não tem dinheiro para vir ao curso” (participante do PEQ)

“O lanche ajuda porque eu moro sozinho.” (participante do PEQ)

A abordagem qualitativa previu a coleta e o registro da percepção de

outros atores envolvidos no processo, além dos alunos.

As entrevistas realizadas com os monitores dos cursos revelam as

diversas situações de ensino-aprendizagem e as tensões de naturezas diversas que

surgem em sala de aula. Estas são previsíveis quando a população-alvo abarca

pessoas desempregadas, mas, também, há outros segmentos que se encontram em

condições de exclusão na sociedade por outras razões. O caso mais concreto a ser

exemplificado pode ser ilustrado a partir do convênio estabelecido entre SERT e

Administração Penitenciária, o qual garante uma cota de vagas para ex-detentos ou

em liberdade assistida. Este tem como objetivo construir possibilidades para a

reinserção na sociedade, via trabalho. Foi possível constatar por meio da

observação recorrente nas escolas a premência em incorporar ao programa de

formação dos monitores este tema.

Durante as entrevistas, os monitores eram convidados a refletirem sobre a

qualidade do material didático, o grau de envolvimento dos alunos e as

possibilidades de melhoria do curso e do trabalho. Eram também convidados a

pensarem criticamente sobre o programa e colaborarem com sugestões.

10

De uma forma geral os monitores avaliaram positivamente o material

didático, tanto os cadernos quanto os vídeos. Houve uma parcela de monitores, no

entanto, que consideraram o material didático como de difícil compreensão para os

alunos. Este dado demonstra um aspecto a ser trabalhado na formação dos

monitores, a saber, a sua compreensão e abertura para o aluno que ele recebe.

Habitualmente os monitores contratados pelas executoras trabalham com jovens

alunos de cursos de ensino médio e mesmo com alunos de cursos superiores. Seus

grupos do Programa Estadual de Qualificação colocam a eles desafios no sentido de

adequação das práticas didáticas e percepções da importância dos conteúdos para

a formação dos alunos. Entre os monitores que compreendem a estratégia

metodológica do Programa destaca-se um depoimento como o que segue:

“Os alunos possuem um nível de conhecimento ruim, contudo os recursos pedagógicos possibilitaram construir conhecimento. Eu fui construindo esta compreensão através de exemplos da vida deles.” (monitor do PEQ, 2008)

Destaca-se aqui a importância da abordagem qualitativa no bojo de um

sistema de acompanhamento e ou avaliação em políticas públicas. A gama de

observações propiciada pela observação sistemática, pelas entrevistas realizadas

com alunos e monitores, revelou a adequação desta opção metodológica. As

situações identificadas seriam de difícil apreensão via instrumentos padronizados e

que, por este caminho, puderam ser contornadas imediatamente e ou, dependendo

da complexidade, estão sendo reformuladas para o planejamento do biênio 2009-

2010.

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AS PESQUISAS QUANTITATIVAS

Se a abordagem de caráter qualitativo propiciou, por um lado, identificar

problemas, soluções, percepções acerca do Programa, dos alunos, dos monitores e

das instituições, por outro, não permite constatar quantos retomaram o estudo formal

e obtiveram emprego após o curso.

Os formulários quantitativos, como veremos, buscam informações

precisas sobre a inserção dos alunos no mercado de trabalho ou a eventual

ampliação de sua renda. Eles devem ser analisados à luz de pesquisas sobre as

dinâmicas conjunturais do mercado de trabalho e dizem da eficácia do programa em

relação a um dos seus objetivos, qual seja, a (re) inserção de trabalhadores

desempregados no mundo do trabalho.

A primeira etapa da sistematização de dados relativos aos participantes

do PEQ consistiu num levantamento junto ao total de alunos com a finalidade de

constituir um quadro diagnóstico de sua situação sócio-econômica. Por meio da

investigação do perfil dos alunos é possível re-orientar o planejamento do programa

com vistas à atenção à realidade dos trabalhadores que buscam a qualificação

profissional, por um lado, e realizar um quadro em função do qual se poderá compor

um estudo comparativo a partir das pesquisas com egressos. Apresentam-se abaixo

os dados relativos a uma amostra dos participantes do PEQ em 2008. Os dados

referem-se a 4.821 questionários respondidos. Destes apenas 16% foram originados

na Região Metropolitana de São Paulo.

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PERFIL SOCIOECONÔMICO (PEQ)

Os alunos respondentes estão concentrados numericamente em cursos

vinculados ao setor de serviços: 61% optaram por participar destas modalidades, o

que hipoteticamente pode ser compreendido como uma possível percepção que este

segmento da economia tem ampliado sua oferta de postos de trabalho, ou, ainda, a

gama de cursos esteve mais concentrada em serviços, limitando a opção para

outros campos de formação.

Os cursos apresentados na tabela 1 representam a matrícula de metade

do universo de respondentes, sendo que os demais constituem quantidades

irrelevantes estatisticamente para fins de análise.

Tabela 1 – Distribuição dos alunos PEQ, principais cursos freqüentados (em no abs)

Atendente/recepcionista/atendimento ao cliente 275 Auxiliar administrativo/assistente administrativo 514 Informática/básica/avançada 458 Gestão empresarial 249 Padeiro/confeiteiro/pizzaiolo 122 Gestão em vendas/negócios 448 Técnicas em atendimento e segurança em condomínio 173 Secretariado 163 Manutenção/montagem de microcomputadores 84 Total 2486

As mulheres participaram em maior número no PEQ em relação aos

homens: praticamente 7 em cada grupo de 10 eram do sexo feminino, confirmando a

tendência apontada em outras pesquisas (Segnini, 1998, Lombardi, 2005, Venco,

2006) que apresentam uma maior busca por escolarização e qualificação

profissional por mulheres.

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A distribuição etária reflete a intencionalidade por parte da SERT em

atender um público que apresentasse maior fragilidade em termos de inserção no

mercado de trabalho. As matrículas foram priorizadas pautando-se em dados do

diagnóstico paulista sobre o mercado de trabalho, elaborado pela Fundação SEADE,

indicando uma oferta prioritariamente ao público com idade entre 30 e 59 anos.

A concentração etária apreendida na pesquisa correspondente a 54% dos

alunos com idade superior a 30 anos e mostra-se coerente com a política adotada e

indica rigor na aplicação dos procedimentos adotados, tanto pelos Postos de

Atendimento ao Trabalhador (PATs) que encaminharam trabalhadores às unidades

de ensino, quanto pelas próprias executoras, que efetuaram as matrículas.

Tabela 2 – Distribuição dos alunos PEQ, segundo faixa etária (em %)

Alunos por idade alunos % 16 a 20 anos 628 13,0 21 a 24 anos 788 16,3 25 a 29 anos 797 16,5 30 a 39 anos 1.296 26,9 40 a 49 anos 921 19,1 50 a 59 anos 357 7,4 60 anos e ma 22 0,5 não respondeu 8 0,2 em branco 4 0,1 Total 4.821 100,0

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A escolaridade declarada pelos alunos revela a participação de um

segmento da população diverso dos tradicionalmente presentes em programas de

qualificação de nível básico, conforme verificado em pesquisas realizadas no próprio

âmbito da SERT, por ocasião da execução de outros programas a exemplo dos

praticados pelo Programa Aprendendo a Aprender: ou seja, observou-se que pouco

mais da metade (54%) dos alunos possuem o ensino médio completo ou incompleto

e, ainda mais especificamente: 4 em cada 10 completou o ensino médio.

Surpreende, ainda, a participação de pessoas com nível superior

completo ou incompleto na ordem de 6% e até mesmo 11 pessoas que estão

cursando ou terminaram programas de pós-graduação. Deste dado pode-se inferir

que: talvez os cursos de nível superior por eles frequentados não apresentem

qualidade e ou reconhecimento no mercado para colocação no mercado; ou, ainda,

o desemprego afeta, também, trabalhadores cujo grau de escolaridade é elevado, os

levando a recorrer aos programas de qualificação profissional vinculados, ou não, à

sua área de formação.

Por outro lado, o público alvo priorizado pelo PEQ em 2008, e que, por

suposição, deveria recorrer preferencialmente aos programas de qualificação

profissional de nível básico, qual seja, os que cursaram o ensino fundamental I ou II

completo ou incompleto, representaram pouco mais de ¼ dos participantes (26%).

Estas constatações se consolidam como importante elemento de

planejamento de ações futuras para o Programa Estadual de Qualificação seja em

termos de capacitação dos formadores para lidarem adequadamente com a

heterogeneidade das turmas; seja a adoção de estratégias mais eficazes para

alcançar o público pretendido. Os critérios de acesso ao PEQ em 2009 prevêem a

focalização da política para um público de maior idade e menor escolaridade.

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Tabela 3 – Distribuição dos alunos PEQ, segundo grau de escolaridade (em %)

% Ensino Fundamental I (1ª a 4ª séries) incompleto 1,5 Ensino Fundamental I (1ª a 4ª séries) completo 2,5 Ensino Fundamental II (5ª a 8ª séries) incompleto 10,0 Completo – Ensino Fundamental II (5ª a 8ª séries) 11,9 Ensino Médio incompleto 10,9 Ensino Médio completo 42,7 Técnico Profissionalizante incompleto 1,5 Técnico Profissionalizante completo 7,3 Ensino Superior incompleto 3,8 Ensino Superior completo 2,1 Pósgraduação incompleto 0,1 Pósgraduação completo 0,2 Educação de Jovens e Adultos (EJA)/Alfabetização) incompleto

1,6

Educação de Jovens e Adultos (EJA)/Alfabetização) completo 1 Não respondeu 2,7 Total 100

Apreendeu-se, ainda, que quase metade dos alunos (45%) já havia

participado de programas de qualificação profissional, sem, contudo, especificar se

de natureza pública ou privada. Este é um dado relevante para a análise da

efetividade das políticas de qualificação profissional de um modo geral.

A despeito de a concentração etária ser elevada a maior parte dos

participantes declarou não ser o responsável financeiro pelos domicílios. Tal

constatação remete a ao menos algumas hipóteses a serem investigadas em outra

oportunidade: sendo a maioria dos alunos do sexo feminino, é possível que as

mesmas não sejam ou não se reconheçam como ‘chefes’ de família; ou, ainda, que

o emprego masculino estivesse, no momento da investigação, em níveis mais

elevados de contratação em detrimento ao da mulher.

Tabela 4 – Distribuição dos alunos PEQ, por responsabilidade financeira do domicílio (em %)

% Sim 28,2 Não 48,2 não respondeu 0,5 em branco 23,1 Total 100

É possível afirmar que a maior parte dos alunos do PEQ reside em casa

própria, de alvenaria e com abastecimento dos serviços públicos de coleta de lixo,

iluminação pública e rede de esgotos.

16

Do conjunto de alunos participantes da pesquisa apenas 17% emitiram

opinião sobre o risco da moradia. Entre estes – totalizando 839 respondentes – 31%

residem em favelas e outros 31% informaram que residem em locais com risco de

propagação de incêndio ou inundação. Outros 23% apontaram problemas com a

moradia de outra natureza, sendo que, destes, 9% citaram risco de desabamento e

3,6% indicaram a violência como fonte de insegurança no bairro em que residem.

Outros 15% declararam não perceber nenhum tipo de ocorrência que sugira risco na

moradia.

É possível afirmar que a política de qualificação profissional logrou um de

seus principais objetivos, qual seja: oferecer formação ao público desempregado: 8

em cada 10 pessoas encontravam-se nessa situação no momento em que

participaram do curso. Pode-se visualizar no gráfico 3 a distribuição dos alunos do

PEQ por situação de trabalho.

17

Dentre os 16% que se declaram ocupados, apenas 1652 responderam a

posição que se encontram. Deste grupo de respondentes, 37% fazem bicos e 8 %

trabalham sem carteira assinada. Dois em cada 10 destes respondentes declararam

estar vinculados ao mercado formal. Há ainda uma parcela significativa de 17% que

se auto-declararam como trabalhadores autônomos; os demais (18%) exercem as

seguintes ocupações: empregada doméstica, babá, faxineiros, entre outros.

Entre os desempregados que responderam há quanto tempo encontram-

se nessa situação (70%), metade deles não vivenciava emprego formal ou informal

há menos de 1 ano e 20% estavam desempregados entre um e 2 anos.

18

Gráfico 4 – Distribuição dos alunos PEQ, por tempo de desemprego (em %)

Apreende-se que a maior parte dos respondentes da pesquisa apresentou

respostas sobre a renda individual na mesma proporção entre ‘não ter renda’ e ter

renda equivalente a ‘1,1 a 2 salários mínimos’.

19

Concentração semelhante observa-se quando perguntados sobre a renda

familiar: a incidência na resposta ‘renda zero’ é irrelevante estatisticamente mas, por

outro lado, praticamente 4 em cada 10 pessoas declaram que a renda familiar é de

1,1 a 2 salários mínimos.

Não se pode desconsiderar que uma parcela de quase 6% possui renda

familiar de cerca de R$ 2500,00 ou mais.

Outros dados:

� Entre os participantes do PEQ é possível afirmar que grande parte

realiza o curso que esperava: mais de 7 em cada 10 fez tal declaração;

� 66% estavam procurando emprego antes de iniciar o Programa;

� 80% pretendem voltar a procurar emprego ao término do curso; e

� 82% irão procurar emprego na área correlata ao curso freqüentado no

PEQ.

20

PESQUISAS COM EGRESSOS

As investigações quantitativas foram realizadas com egressos do

Programa Estadual de Qualificação. A definição de egressos, contudo, é

controversa, como analisa Pena, 2000. No âmbito educacional há instituições que

consideram egressos os discentes concluintes, os desistentes, os transferidos e os

jubilados. Outras organizações voltadas ao ensino consideram como egressos

somente os discentes concluintes. No entendimento de Pena, 2000, o

acompanhamento de egressos deve considerar não apenas os concluintes, mas

também os discentes que se afastaram da instituição de ensino. Desta forma seria

possível ter um quadro de informações também sobre o afastamento, de forma a

avaliar a instituição de ensino. As pesquisas quantitativas do Programa Estadual de

Qualificação têm objetivos mais precisos, contudo. Seu primeiro objetivo é fazer com

que o aluno avalie o curso e, nesta dimensão, esta pesquisa está voltada aos alunos

concluintes dos cursos.

O sistema integrado de duas pesquisas quantitativas foi planejado de

forma a lograr dois objetivos principalmente: avaliação do Programa em sua

amplitude e (re) inserção no mercado de trabalho formal ou informal.

As duas pesquisas são realizadas com egressos do PEQ, sendo que a

segunda pesquisa será realizada também com um grupo de controle, de forma a

possibilitar comparações entre os alunos que concluíram o PEQ e aqueles com o

mesmo perfil que não frequentaram o curso (inscritos no PEQ e que não foram

chamados para fazer o curso).

Contudo, as questões que se inscrevem nesse processo são de solução

complexa. Qual seria o intervalo de tempo após o término do curso mais afeito à

mensuração do retorno ao trabalho? Este seria igualmente adequado para a

realização de uma avaliação sobre aspectos específicos do curso?

Questões desta ordem nortearam o planejamento de duas pesquisas

quantitativas junto ao público participante do Programa Estadual de Qualificação.

Optou-se pela realização de uma pesquisa três meses após o término do curso,

cujo objetivo era identificar a inserção deste segmento no mercado de trabalho,

mas, especialmente nesse momento, submeter o Programa à avaliação do seu

público-alvo.

21

Nesse sentido, foi elaborada uma amostra capaz de contemplar a opinião

de alunos tanto do interior paulista quanto da Região Metropolitana de São Paulo,

com aplicação de um questionário padronizado contendo cerca de cinquenta

questões relativas à opinião dos alunos sobre aspectos do Programa distribuídos em

4 blocos, os quais foram aplicados por entrevistadores capacitados para esse fim.

Uma caracterização socioeconômica foi feita de forma a identificar a

participação nos cursos por sexo, idade, escolaridade, renda familiar e individual.

Para além desses aspectos, foram ainda coletados dados neste bloco a cidade de

origem, objetivando analisar os ciclos migratórios por regiões do estado de São

Paulo, se a responsabilidade econômica pelo domicílio é, ou não, compartilhada e,

ainda, outra sobre o analfabetismo funcional. Isto é, em que medida a escolarização

dessa população permite, por exemplo, preencher uma ficha de emprego.

Um segundo bloco, intencionava que os entrevistados avaliassem os

aspectos pedagógicos do curso: material didático, dinâmica e didática das aulas,

quais os conteúdos que mais contribuíram para sua formação em geral, bem como

aqueles que, segundo eles, não aportaram conhecimentos novos e ou significativos

frente às suas expectativas.

Outro grupo de questões abordava as transformações perceptíveis em

sua vida cotidiana a partir do curso, complementadas por outros aspectos que,

talvez, não estivessem, ainda, no plano consciente de cada um dos entrevistados.

Por fim, uma caracterização do que faz atualmente para obter renda.

Deste aspecto são desdobrados outros cuja intenção é conhecer o grau de

formalidade e informalidade do trabalho para esse grupo; a relação estabelecida

entre a atividade profissional exercida e o curso realizado; em que medida o curso

auxiliou na obtenção deste posto. E, ainda, dados comparativos sobre a renda

obtida no último emprego regular e atualmente.

Se, nesse momento, privilegiou-se a avaliação sobre o Programa, uma

outra pesquisa foi planejada de forma a ser aplicada após seis meses a contar do

término do Programa. Essa contempla um aspecto bastante focalizado e diz respeito

exclusivamente à inserção, ou não, no mercado de trabalho e, nos casos positivos,

de que forma ela ocorreu.

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Estes dados fornecerão um panorama da aceitação dos cursos pelos

alunos, e de sua percepção acerca da qualidade da qualificação profissional

oferecida pelo Estado. A política pública contempla, dessa forma, uma esfera

frequentemente afastada da avaliação sobre a implantação de determinados

programas de cunho público: os próprios cidadãos. A eles, nesse caso, é dada a voz

para que as ações do Programa possam ser reavaliadas em sua condução e

implantação, bem como suas estratégias metodológicas possam ser revistas ou

reafirmadas, considerando a opinião dos que dela usufruem.

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REFERÊNCIAS

BULHÕES, M. da G. P. Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador – PLANFOR acertos, limites e desafios vistos do extremo sul. São Paulo em Perspectiva, 18(4): 39-49, 2004. CORDEIRO, L.; ABUD, B.; TRIZI, I. A. Inovações na gestão do Programa Estadual de Qualificação Profissional do Estado de São Paulo. CONSAD, 2009. Mimeo. GÜNTHER, H. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Psicologia: Teoria & Pesquisa, maio-ago de 2006, vol. 22 n. 2, pps. 201-210 LIMA, M. H. C.; SCHALCH, L.; OLIVEIRA, A. P. de. Procedimentos metodológicos na construção de uma nova política pública de qualificação profissional no Estado de São Paulo. CONSAD, 2009. Mimeo. LOMBARDI, M. R. Perseverança e resistência: a engenharia como profissão feminina. Tese de doutorado em educação. Unicamp, 2005. MARTINS, H. H. T. de S. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educ. Pesqui., Ago 2004, vol.30, no.2, p.289-300. ISSN 1517-9702 OLIVEIRA, R. V. de. (Org.) Qualificar para quê? Qualificação para quem? Do global ao local: o que se espera da qualificação profissional hoje. São Paulo: Fundação UNITRABALHO; Campina Grande: EDUFCG, 2006. PENA, M. D. C. Acompanhamento de egressos: análise conceitual e sua aplicação no âmbito educacional brasileiro. Texto extraído da dissertação de mestrado intitulada Acompanhamento de Egressos no Âmbito Educacional Brasileiro: análise da situação profissional nos cursos de Engenharia Industrial Elétrica e Mecânica do CEFET/MG em 2000 apresentada ao Programa de Educação Tecnológica do CEFET/MG. PRESTES, E. M. da T. Considerações sobre o PLANFOR e suas experiências de avaliação. In. OLIVEIRA, R. V. (Org.) Qualificar para quê? Qualificação para quem? Do global ao local: o que se espera da qualificação profissional hoje. São Paulo: Fundação UNITRABALHO; Campina Grande: EDUFCG, 2006.

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Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho – SERT. Aspectos da História e da Atualidade da Educação Profissional Paulista – Plano Decenal. Mimeo, 2008. SEGNINI, L. R. P. Relações de gênero no trabalho bancário informatizado. Cadernos Pagu (UNICAMP), Campinas, v.10, n.10, p. 147-168, 1998. VENCO, S. Borghi. Tempos Moderníssimos nas engrenagens do telemarketing. Tese de Doutorado em Educação. Unicamp, 2006. ___________________________________________________________________

AUTORIA

Ana Lavos – Mestre em arquitetura e urbanismo pela Escola de Engenharia de São Carlos. Funcionária da Secretaria de Emprego e Relações de Trabalho de São Paulo. E-mail:.

Endereço eletrônico: [email protected] Cibele Silva – Graduada em Tecnologia da Informação. Funcionária da Secretaria de Emprego e Relações de Trabalho de São Paulo.

Endereço eletrônico: [email protected] Selma Venco – Pós-doutora em sociologia do trabalho – Université Paris X e IFCH/Unicamp. Consultora Fundação do Desenvolvimento Administrativo, FUNDAP, no Programa de Qualificação Profissional da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do estado de São Paulo. E-mail:.

Endereço eletrônico: [email protected]