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Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais CESCAGE ISSN: 2175-8247 / 30ª Edição / JUL - DEZ / 2020 SISTEMA DE ATIVIDADE DE ARTESANATO E SUA RELAÇÃO COM A ECOSSOCIOECONOMIA URBANA: O CASO DA FEIRA DO LARGO DA ORDEM EM CURITIBA-PR HANDICRAFT ACTIVITY SISTEM AND ITS RELATIONSHIP WITH ECOSOCIOECONOMY: THE CASE OF LARGO DA ORDEM STREET FAIR IN CURITIBA-PR Fabíola Bevervanço Zdepski ¹ 1 Pós-Doutora em Gestão Urbana pela PUCPR. Professora das Faculdades Integradas dos Campos Gerais (CESCAGE). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8237-7201. Autora para correspondência: [email protected] Resumo: O pensamento ecossocioeconômico inova pelas especificidades que assume em diferentes campos do conhecimento, mormente pela associação de teorias e bases conceituais a partir de novos olhares para compreender a realidade. Com contribuições teóricas para a ecossocioeconomia baseadas na teoria da atividade, o presente artigo visa caracterizar o contexto social do sistema de atividade de artesanato da Feira do Largo da Ordem em Curitiba. O objetivo é analisar como a Ecossocioeconomia Urbana reflete em práticas de artesanato em uma perspectiva sociocultural e histórica. Metodologicamente, utilizou-se de observação direta (filmagens, gravações e entrevistas) das atividades e práticas de artesãos, com posterior uso do procedimento de autoconfrontação simples para instigá-los a refletir sobre suas atividades. Os resultados evidenciam que: (I) os cinco princípios da Teoria da Atividade estão associados com a ecossocioeconomia; (II) o aprendizado expansivo dos artesãos ocorre por co-configuração dinâmica do trabalho, por apropriação e transformação de conceitos, ferramentas e tecnologias; (III) o sistema de atividade é coletivo e orientado para o objeto mediado por instrumentos ou artefatos culturais; (IV) as contradições são fontes de mudanças e de desenvolvimento em e entre sistemas de atividade, e; (V) que, na perspectiva da ecossocioeconomia, as feiras livres urbanas são arranjos socioprodutivos estruturados com tessitura reticular. Conclui-se que, a exemplo da teoria da atividade, a ecossocioeconomia emerge do mundo da vida e do trabalho, em que os problemas e suas soluções acontecem por experimentações implexas na complexidade do cotidiano e em meio a contradições de mudanças paradigmáticas para superar as limitações do utilitarismo econômico por novas racionalidades. Palavras-chave: Ecossocioeconomia; Teoria da Atividade; Sistema de Atividade; Aprendizagem Expansiva; Artesanato. Abstract: Ecosocieconomic thinking innovates by the specificities it assumes in different fields of knowledge, mainly by the association of theories and conceptual bases from new perspectives to understand reality. With theoretical contributions to ecosocioeconomy, based on activity theory, the present article aims to characterize

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SISTEMA DE ATIVIDADE DE ARTESANATO E SUA RELAÇÃO COM A

ECOSSOCIOECONOMIA URBANA: O CASO DA FEIRA DO LARGO DA ORDEM

EM CURITIBA-PR

HANDICRAFT ACTIVITY SISTEM AND ITS RELATIONSHIP WITH

ECOSOCIOECONOMY: THE CASE OF LARGO DA ORDEM STREET FAIR IN

CURITIBA-PR

Fabíola Bevervanço Zdepski ¹

1 Pós-Doutora em Gestão Urbana pela PUCPR. Professora das Faculdades Integradas dos Campos Gerais (CESCAGE). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8237-7201.

Autora para correspondência: [email protected]

Resumo: O pensamento ecossocioeconômico inova pelas especificidades que assume em diferentes campos do conhecimento, mormente pela associação de teorias e bases conceituais a partir de novos olhares para compreender a realidade. Com contribuições teóricas para a ecossocioeconomia baseadas na teoria da atividade, o presente artigo visa caracterizar o contexto social do sistema de atividade de artesanato da Feira do Largo da Ordem em Curitiba. O objetivo é analisar como a Ecossocioeconomia Urbana reflete em práticas de artesanato em uma perspectiva sociocultural e histórica. Metodologicamente, utilizou-se de observação direta (filmagens, gravações e entrevistas) das atividades e práticas de artesãos, com posterior uso do procedimento de autoconfrontação simples para instigá-los a refletir sobre suas atividades. Os resultados evidenciam que: (I) os cinco princípios da Teoria da Atividade estão associados com a ecossocioeconomia; (II) o aprendizado expansivo dos artesãos ocorre por co-configuração dinâmica do trabalho, por apropriação e transformação de conceitos, ferramentas e tecnologias; (III) o sistema de atividade é coletivo e orientado para o objeto mediado por instrumentos ou artefatos culturais; (IV) as contradições são fontes de mudanças e de desenvolvimento em e entre sistemas de atividade, e; (V) que, na perspectiva da ecossocioeconomia, as feiras livres urbanas são arranjos socioprodutivos estruturados com tessitura reticular. Conclui-se que, a exemplo da teoria da atividade, a ecossocioeconomia emerge do mundo da vida e do trabalho, em que os problemas e suas soluções acontecem por experimentações implexas na complexidade do cotidiano e em meio a contradições de mudanças paradigmáticas para superar as limitações do utilitarismo econômico por novas racionalidades. Palavras-chave: Ecossocioeconomia; Teoria da Atividade; Sistema de Atividade; Aprendizagem Expansiva; Artesanato. Abstract: Ecosocieconomic thinking innovates by the specificities it assumes in different fields of knowledge, mainly by the association of theories and conceptual bases from new perspectives to understand reality. With theoretical contributions to ecosocioeconomy, based on activity theory, the present article aims to characterize

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the social context of the handicraft activity system in Largo da Ordem Street Fair in Curitiba. The objective is to analyze how the Urban Ecosocioeconomy reflects on handicraft practices from a sociocultural and historical perspective. Methodologically, we used direct observation (filming, recording and interviews) of artisan activities and practices, with subsequent use of the simple self-confrontation procedure to instigate them to reflect on their activities. The results show that (I) the five principles of the Theory of Activity are associated with ecosocioeconomy; (II) the expansive learning of artisans occurs by dynamic co-configuration of work, by appropriation and transformation of concepts, tools and technologies; (III) the system of activity is collective and oriented to the object mediated by cultural instruments or artifacts; (IV) contradictions are sources of change and development in and between systems of activity, and; (V) that, from the perspective of eco-socioeconomic, urban free trade fairs are structured social-productive arrangements with reticular texture. It is concluded that, like activity theory, ecosocieconomy emerges from the world of life and work, in which the problems and their solutions happen through experiments implemented in the complexity of daily life and amid the contradictions of paradigmatic changes to overcome the limitations of economic utilitarianism for new rationalities. Keywords: Ecosocioeconomy; Activity Theory; Activity System; Expansive Learnins; Handicraft.

1 INTRODUÇÃO

O pensamento ecossocieconômico tem avançado desde meados do século

passado, explicitando os custos sociais e ambientais representados por

“deseconomias externas” de atividades empresariais impulsionadas pela busca

desenfreada de crescimento econômico e pela ampliação do processo de urbanização

(Kapp 1963, p.xxv - xxviii), abrindo novas perspectivas de desenvolvimento mais

sustentável e com melhor qualidade de vida (Sachs 1980; 1986; 2007), buscando

novas formas de gestão que privilegiem uma outra economia no campo das

organizações (Sampaio, 2010) e procurando abordagens de planejamento com

sensibilidade capaz de reintroduzir a dimensão social, respeitando as condições

ambientais, na busca de viabilidade econômica para novos projetos de sociedade

(Sachs, 2015, p.7).

Na atualidade, alternativas inovadoras permeadas por sensibilidade social a

partir da ecossocioeconomia têm sido observadas em diferentes campos, como, por

exemplo, em estudos para o desenvolvimento sinergético de florestas urbanas sob o

governo eletrônico (Yin e Bem, 2010), compreender atividades ou resultados focados

no meio ambiente e na sua conservação (Bennett e Lemelin 2013), avançar na teoria

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da sustentabilidade com escopo produto-estrutura-interior para o Design (Kusumarini

et al., 2011), para concepção de modelos de bio-economia e eco-economia como

bases para o desenvolvimento econômico de comunidades sustentáveis (Kitchen e

Marsden, 2011), valorizar e ampliar comunidades costeiras com morfologia heliêutica

social que buscam a apropriação comunal a partir de práticas fundadas no princípio

“giving for keeping” (Collet, 2006), avaliar feiras urbanas livres com espaço

ecossocieconômico (Grimm et al., 2016; Sampaio et al., 2017) e para compreender

arranjos socioprodutivos autogeridos comunitariamente para o desenvolvimento

territorial sustentável (Autor et al., 2018).

A Ecossocioecomia tem, assim, encontrado espaços promissores para ser

analisada a partir de sua dimensão humana e da relação do homem com seu contexto

social e coletivo. Nessa perspectiva, o presente artigo visa contribuir tendo como

objetivo caracterizar o contexto social do sistema de atividade de artesanato da Feira

do Largo da Ordem em Curitiba, analisando como a Ecossocioeconomia Urbana

reflete em práticas de artesanato em perspectiva sociocultural e histórica. A

investigação se volta para compreender como se configura tal sistema de atividade a

partir da identificação de suas práticas cotidianas e de preceitos da

ecossocioeconomia, que é compreendida como um conjunto de princípios

democráticos fundamentados nos preceitos de solidariedade, igualdade e gestão

compartilhada e sustentabilidade (Autor, 2010).

O desenvolvimento da presente investigação pauta-se em perspectiva de

análise a teoria sócio-histórica que, ao caracterizar aspectos tipicamente humanos do

comportamento, revela como essas características se formaram ao longo da história

e se desenvolvem ao longo da vida do indivíduo (Joenk, 2002). Essa teoria enfoca os

campos de interação, as instituições sociais e a estrutura social, tendo o sujeito como

quem constitui e é constituído num mundo social de mudanças que demandam novas

produções, reproduções e/ou transformações. Esses sujeitos contemporâneos são,

pois, homens concretos que, “em meio a novas necessidades, recriam a realidade ou

mesmo relacionam-se com ela a partir de como a significam”. Assim, pensar a

constituição do sujeito implica “considerar a dinâmica da relação sujeito-sociedade

como fundante de similaridades que as compõem, negam, produzem, reproduzem,

enfim, constituem” (Zanella et al. 2002, p.211-212).

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Empiricamente, a análise dos sistemas de atividades de artesanato na Feira de

Arte e Artesanato do Largo da Ordem, em Curitiba foi realizada a parir da observação

direta das atividades vinculadas à prática e entrevistas. Foi utilizado o método da

autoconfrontação simples para instigar os participantes a refletir sobre a atividade

realizada, proporcionando o questionamento e o redimensionamento de sua ação e

consequentemente da atividade.

Estruturalmente, o artigo está organizado da seguinte forma: no quadro

conceitual são abordados, no quadro conceitual, os conceitos e preceitos da teoria da

atividade e do sistema de atividade proposto por Engeström (2001), bem como a

Ecossocioeconomia Urbana e a atividade de artesanato. Em seguida, são

apresentadas a metodologia e a explicação dos métodos e técnicas de pesquisa

adotados. Na seção seguinte, há a apresentação e análise de dados, com a

apresentação da Feira do Largo da Ordem e a descrição do sistema de atividade de

artesanato da Feira do Largo da Ordem, construído a partir da pesquisa realizada com

os artesãos. Finalmente, há a discussão e são apresentadas as conclusões da

pesquisa.

Quadro conceitual

A ecossocioeconomia está imbricada na discussão sobre o

ecodesenvolvimento, que utiliza dos princípios da ecologia profunda ao repensar os

atuais estilos de vida. Como perspectiva de pensamento teórico-conceitual, a

ecossocioeconomia parte das experimentações e da análise da complexidade do

cotidiano, o que permite o desenvolvimento, com possibilidade de busca por aspectos

qualitativos essenciais. Como proposta para ações práticas, a ecossocioeconomia

busca sistematizar alternativas para a solução de problemas reais de acordo com a

diversidade dos arranjos socioeconômicos e culturais e as diferenças de recursos de

cada região, prevalecendo as identidades culturais e os interesses comuns dos grupos

(Sachs, 2007; 2008; Sampaio, 2010).

A ecossocioeconomia privilegia experiências de grupos organizados

formalmente ou informalmente, chamados de organizações (Fernandes e Sampaio,

2006), que, em suas dinâmicas de funcionamento, são ordenadas normas internas

(ou critérios intraorganizacionais). Essa dinâmica organizacional pressupõe a

necessidade de um processo de governança que conecte o contexto das ações e

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decisões internas (interorganizacionais) às externalidades das ações

(extraorganizacionais) para responder com efetividade às demandas socioambientais

do território em que a organização se insere com intencionalidades implícitas ou

explícitas; logo, estrategicamente. Isso implica a adoção de um modelo de gestão que

incorpore a sustentabilidade nas dimensões social, econômica e ambiental ao cálculo

dos resultados negociais. A extrarracionalidade, por sua vez, prevê no processo de

tomada de decisão considerar o conhecimento local (Sampaio, 2010; Sampaio et al,.

2011).

Em um contexto urbano, Sachs (2007) recomenda estratégias de

ecodesenvolvimento intensivas para configurações urbanas mais equilibradas, para

mitigar as dificuldades sociais e ambientais existentes na maioria das cidades. Desta

forma, a ecossocioeconomia urbana considera a complexidade dos subsistemas

vinculados ao território urbano e busca atender às demandas do ecodesenvolvimento

na sua acepção urbana por meio da efetividade dos critérios extraorganizacionais

(Garcia, et al. 2015).

O artesanato, em uma perspectiva que se aproxima do contexto

ecossocieconômico, pode ser entendido como um processo (político) de trabalho, pois

se apresenta como alternativa a partir de uma atividade criadora na busca de uma

melhor relação social e com o ambiente, por possibilitar uma visão de mundo para

além de uma lógica de capital (Mészários, 2011) e uma visão mais sensível (Duarte

2001). O trabalho artesanal traz, nessa perspectiva, a possibilidade de pensar, além

da atividade criadora do sujeito, na construção de sua autonomia e na transformação

da sua realidade a partir da problematização e do repensar de suas práticas,

possibilitando ir além de uma lógica societal externamente imposta. Nesse sentido, é

possível identificar o artesanato presente nas feiras urbanas como experiências

ecossocioeconômicas em curso, podendo ser identificadas como arranjos

socioprodutivos. Os arranjos estão fundamentas em uma forma de organização que

auxilia a superar barreiras de crescimento, quando fala-se em contexto econômico,

podendo assumir os mais variados tamanhos e contribuir para o surgimento de

externalidades monetárias e tecnológicas e, ao mesmo tempo, criar condições para

uma interação cooperativa e solidária (Crocco et al., 2003).

A teoria da atividade é uma estrutura filosófica e interdisciplinar que toma a

prática como unidade básica de análise (Rêgo, 1995). Para Lev Vigotski, principal

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expoente dessa teoria, o pensamento é social e pertence a um sistema coletivo de

ação, ou seja, os indivíduos não estão separados da situação cultural em que se

desenvolvem (Magalhães e Oliveira, 2011; Rêgo, 1995). A prática pode ser vista,

então, como uma forma de análise do comportamento dos atores individuais, com

suas realizações e condutas, bem como o resultado do processo de interação que é

construído histórica e socialmente a partir da sua legitimação em determinado

contexto organizacional.

A teoria da aprendizagem expansiva, formulada por Engeström (1987, 2001,

2002), baseia-se em ideias fundamentais apresentadas por Vigotski, Leontiev, Ilenkov

e Davydov, figuras-chave na escola russa histórico-cultural da teoria da atividade,

principalmente nas discussões feitas por Leontiev e no diagrama inicial de Vigotski,

que considera a tríade sujeito-objeto-mediação. Engeström incluiu à análise as regras,

a comunidade e a divisão de trabalho na análise da atividade, realçando a diferença

entre a ação individual e a ação coletiva a partir da necessidade de desenvolver

ferramentas conceituais para analisar e compreender a comunicação entre as

múltiplas perspectivas e redes dos sistemas interativos de atividade (Engeström

Seannino, 2010, p.2).

Engeström e Sannino (2010) indicam que a teoria da aprendizagem expansiva

é particularmente útil em análises de aprendizagem não tradicionais e nas

configurações híbridas e multi-organizacionais. Para os autores, o surgimento de

atividade de aprendizagem expansiva é visto como uma consequência das

transformações históricas no trabalho e gera uma demanda social e histórica por um

novo tipo de aprendizagem.

A ecossocioeconomia se pauta em três princípios: a gestão interorganizacional,

a efetividade extraorganizacional e a extraterritorialidade. O primeiro ocorre na

mediação entre os interesses público e privado, quando as decisões organizacionais

consideram as consequências de seus atos ao seu entorno territorial e aqueles que

vão sofrer as externalidades da sua ação. O segundo diz respeito a critérios

socioeconômico-ambientais integrados ao cálculo das consequências societárias para

incorporar a necessidade de responder às demandas procedentes do território onde

está instalada. Não apenas na microcomplexidade do território, mas também na

macrocomplexidade dos demais espaços associados. O território da

ecossocioeconomia é resultado da dinâmica e entrelaçamento dos fluxos econômico,

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social, geográfico e natural (território microcomplexo), que se refletem nos espaços

aos quais se correlaciona (território macrocomplexo), sejam estes locais,

microrregionais, regionais, nacionais ou internacionais. O terceiro, resulta da

operacionalização dos dois primeiros princípios, associando no processo de gestão e

tomada de decisão organizacional a socioeconomia das organizações, as demandas

sociais do seu território, por meio do emprego de uma racionalidade ou, então, uma

extraracionalidade (racionalidade restrita a um território, isto é, conhecimento local)

sustentada nas bases do ecodesenvolvimento, como forma de combater a hegemonia

da racionalidade utilitarista (Sampaio, 2010).

A análise do sistema de atividade humana deve representar as ações

individuais ou de um grupo inseridas e integradas em uma estrutura mais ampla,

denominada de sistema de atividade coletiva (Engeström, 1987). Na maioria dos

contextos humanos, as atividades são mediadas pelo uso de instrumentos que são

culturalmente estabelecidos, principalmente pelas tradições de atividades geradas

anteriormente por outros seres humanos que podem ser invocadas no presente pelo

uso desses instrumentos ou artefatos previamente estabelecidos (Engeström, 2001).

O artesanato é uma prática social, dinâmico e em constante transformação. No

núcleo da prática artesanal há uma relação indissociável entre o fazer e o pensar,

afastando-se de uma simples reprodução de habilidades e, atrelado a isso, há uma

conexão entre os materiais, natureza e o engajamento do artesão (físico e intelectual),

aliando imaginação criativa e movimentos do corpo. Na prática artesanal, para Lima

(2009, p.2), é “o gesto humano que determina o ritmo da produção. É o homem que

impõe sua marca sobre o produto.”

A partir de um sistema de atividade coletivo, é possível falar em aprendizagem

expansiva, considerando que o conteúdo e os resultados de aprendizagem não são

apenas conhecimento, mas novas formas de atividades práticas e novos artefatos

construídos ao longo do processo de descoberta. O aprendizado é, então, dirigido por

verdadeiras necessidades de desenvolvimento de práticas humanas e instituições,

necessidade esta que geralmente se manifesta em perturbações, falhas, problemas e

episódios de questionar a prática existente (Engeström, 1987).

As rupturas tornam-se, então, fatores determinantes para as relações entre os

indivíduos, sendo influenciadas também por outros contextos, pois a sociedade e o

meio transformam-se a partir das relações econômicas e históricas e toda atividade

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está inserida em um contexto social, compartilhada a partir das regras sociais,

artefatos e tecnologias. Isso permite que o processo de aprendizagem prossiga

através de ciclos complexos de ações de aprendizagem, permitindo que novos objetos

e motivos sejam criados e implementados, abrindo possibilidades mais amplas para

os atores envolvidos na atividade, bem como trazendo a possibilidade do

desenvolvimento de novas ferramentas como veículos para transformar os

procedimentos da atividade. Na Feira do Largo da Ordem, a integração, a vivência e

a troca de experiências entre os feirantes e os visitantes, contribuem para a criação

de situações de aprendizado, novas técnicas e padrões institucionais de organização

e relações sociopolíticas.

Engeström (2001) desenvolveu cinco princípios da teoria da atividade,

acrescentando a elas o princípio de transformação expansiva da atividade. Em

resumo, o primeiro princípio diz respeito à unidade de análise, que é o sistema de

atividade coletivo orientado a um objeto e mediado por artefatos; o segundo é formado

pela multiplicidade de vozes, com diferentes pontos de vista, tradições e interesses; a

historicidade é o terceiro princípio; o quarto se relaciona à centralidade das

contradições como fontes de mudança e desenvolvimento; e o quinto princípio é

representado pelas transformações expansivas nos sistemas de atividade, quando há

a recontextualização do motivo e do objeto da atividade e a ampliação dos horizontes

de possiblidades.

O objeto da aprendizagem expandida “consiste no contexto da crítica, do

contexto da descoberta e do contexto da aplicação dos conteúdos (...) específicos sob

exame” (Engeström 2002a, p.197). Há, então, uma transição expansiva a partir da

auto-organização e criação de redes de aprendizagem que transcendem as fronteiras

institucionais e criam um instrumento coletivo de aprendizagem. Para Engeström

(2002), o primeiro contexto característico dos espaços de aprendizagem é o de prática

social, que surge nos espaços de aprendizagem, ou seja, no contexto de descoberta,

e que ocorre entre aprendizes no processo de aprendizagem.

O artesanato não conteria significado se observado fora do seu contexto

cultural, pois são os hábitos, costumes, tradições, conhecimentos e experiências que

geram as condições de vida que dão origem e existência ao artesanato (Pereira,

1979). A atividade de artesanato é constituída, portanto, de tenções e interações entre

as dimensões econômica e social do trabalho artesão, que revelam a complexidade e

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a dinâmica dialógica entre a produção cultural e o seu potencial econômico, entre o

tradicional e o contemporâneo.

Os elementos que permitem uma construção colaborativa do conhecimento são

os sujeitos, o objeto, os instrumentos ou ferramentas, a divisão do trabalho, as regras

e a comunidade. Os sujeitos são as pessoas, grupos ou subgrupos que são os que

realizam a atividade e que sua maneira de agir é tomada como ponto de vista para a

análise. O instrumento ou as ferramentas são responsáveis pela mediação entre o

sujeito e o objeto. Os instrumentos podem ser físicos e simbólicos, externos e internos

(Engeström, 2001). O objeto é o que se busca alcançar na atividade, ou seja, é um

convite à interpretação, fazendo sentido pessoal e trazendo transformação social,

abrangendo a “matéria-prima” e o “espaço do problema” no qual a atividade é dirigida

e desenvolvida. A divisão de trabalho revela o papel de cada sujeito na atividade,

define como as atividades são distribuídas, conscientemente ou não, entre os

indivíduos e como as ações irão configurar relações de poder com o objeto da

atividade. Com isso, tem-se a divisão horizontal de tarefas e divisão vertical de poder

e status (Engeström e Sannino, 2010). As regras definem a divisão de trabalho,

organizam a atividade e são representadas por regulamentos explícitos e implícitos,

convenções e normas que restringem as ações dentro do sistema de atividade. A

comunidade é constituída por todos aqueles que se relacionam indiretamente na

construção do objeto, ou seja, compreende os indivíduos e subgrupos que

compartilham o mesmo objeto em geral (Engeström e Sannino, 2010). Um sistema de

atividade estrutura-se conforme a Figura 1:

Figura 1: A estrutura de um sistema de atividade humano.

Fonte: Engeström (2002a, p.36).

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Ao analisar o esquema apresentado na Figura 1, Engeström (2002a, p.36)

explica que “o sub-triângulo superior [...] pode ser visto como ‘a ponta do iceberg’

representando ações individuais e grupais aninhadas em um sistema de atividades

coletivo”. Na figura, o objeto “é mostrado com a ajuda de uma figura oval” para indicar

“que ações orientadas para o objeto são sempre, explicita ou implicitamente,

caracterizadas por ambiguidade, surpresa, interpretação, busca de sentido e potencial

para mudanças.”

O processo de descoberta surge a partir da ascensão do abstrato para o

concreto. A partir desse processo os indivíduos passam a ter a oportunidade de

“analisar criticamente e sistematicamente sua atividade prática e suas conclusões

internas” para que possam então “elaborar e implementar na prática um caminho

alternativo, um modelo novo de fazer trabalho” (Engeström, 2002b, p.192).

Para a ecossocioeconomia, as cidades são resultado de um processo social no

qual o espaço produzido somente pode ser compreendido à luz das sociedades que

o habitam. Partimos, então, do pressuposto de que os espaços urbanos, ao

constituírem redes associativas ou organizações da sociedade civil, atuando de

maneira a contribuir para a concepção e implantação de políticas públicas, criam

ambiência para a emergência de arranjos sociopolíticos e/ou socioprodutivos que, por

sua vez, promovem iniciativas muitas vezes invisíveis ao Estado.

As atividades dos artesãos, então, podem se mostrar importantes para a

dinamização da vida social, econômica e cultural de contextos urbanos. Entendemos

que as iniciativas estabelecidas podem indicar perspectivas de sustentabilidade do

desenvolvimento local e constituir-se importantes meios para combater a pobreza e a

exclusão social (Grimm et al., 2018), o que é passível de ser observados nas

experiências postuladas sobre as ecossocioeconomias no debate atual.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

A análise dos sistemas de atividades de artesanato na Feira de Arte e

Artesanato do Largo da Ordem, em Curitiba, foi realizada a partir da observação direta

das atividades vinculadas à prática, o que envolveu o uso de filmagens, gravações e

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a realização de entrevistas pautadas em roteiros de coleta de dados sobre as

atividades dos artesãos que expõem seus trabalhos naquele local.

Buscou-se compreender os contextos que se materializa o sistema de atividade

analisado para identificar se é possível concebê-lo como um espaço de aprendizagem

(Engeström, 2002a; 2011; 2014), que permita ao artesão aprender e criar algo que

ainda não está posto na atividade dos artesãos e compreender como a

Ecossocioeconomia Urbana e suas manifestações poderiam perpassar suas práticas.

Para isso foi utilizado o método da autoconfrontação simples como fase em que

pesquisador e pesquisado se reúnem para assistir à sequência filmada e editada pelo

pesquisador, com o pesquisado emitindo comentários a partir do autoconfronto

estabelecido com as imagens do seu fazer (Faïta, 1997; Faïta e Vieira, 2003). Com a

autoconfrontação simples buscou-se instigar os participantes a refletir sobre a

atividade realizada, que foi observada e filmada anteriormente, proporcionando o

questionamento e o redimensionamento de sua ação e consequentemente da

atividade. Entendemos que, ao estimular os indivíduos a refletir sobre suas atividades

e o contexto em que se insere, há a possibilidade de transformação de atividades e

de ampliação das formas de vivência entre os indivíduos envolvidos nos sistemas de

atividade de artesanato e outros atores, como o turista, por exemplo. Interessa

identificar como os indivíduos resgatam as criações que são fruto de sua experiência

e do compartilhamento em comunidade, reinterpretam e expandem a atividade de

artesanato.

A pesquisa envolveu um levantamento das manifestações de artesanato da

Feira do Largo da Ordem, um mapeamento das formas de produção e técnicas,

priorizando aquelas com predominância das técnicas manuais. Foi feito um contato

inicial com os artesãos com o intuito de conhecer os seus modos de produção e

convidá-los a participar da pesquisa. Os relatos orais e a produção foram registrados

utilizando como metodologia a narrativa (Manning e Cullum-Swan, 1994) e coletados

por meio de atividade de campo. Na coleta foram também analisados documentos no

site da Prefeitura Municipal de Curitiba sobre as normas, atividades e forma de

organização da feira.

O critério para a escolha dos respondentes foi a de ser feirante legalmente

inscrito para comercializar no espaço da Feira e produzir artesanato de acordo com

as normas estabelecidas pelo Instituto de Turismo da cidade de Curitiba, além de ser

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responsável por todo o processo de produção do artesanato que comercializa. O

estudo se limitou a cinco feirantes em função da estratégia de utilização de narrativas

individuais e da autoconfrontação, que foi realizada aos domingos durante a

realização Feira, com o objetivo de captar em profundidade traços do modus vivendi

que possam ser relacionados e confrontados com a base teórico-conceitual

desenvolvida.

Os indivíduos entrevistados participaram de livre e espontânea vontade do

processo de pesquisa. Os artesãos foram informados na primeira abordagem que

poderiam, se quisessem, desistir de participar da pesquisa a qualquer momento, sem

que isso lhes trouxessem algum tipo de ônus ou prejuízo e que haveria o descarte dos

vídeos e outros materiais produzidos até então. Ao total, três feirantes desistiram de

participar da pesquisa ao longo do processo, alegando que, por causa da dinâmica da

feira, teriam medo de perder clientes durante a realização da pesquisa, já todo o

processo foi realizado in loco. O movimento de pessoas durante a feira pode ser de

fato considerado um fator limitador, principalmente pela de dispersão dos

entrevistados em alguns momentos para atender aos clientes e eventual necessidade

de retomar informações anteriores. Houve, então a necessidade de ajustar o processo

de coleta de dados à dinâmica da feira e ao seu período de duração.

Os trechos literais apresentados foram incluídos com a anuência dos

pesquisados. Cada descrição procurou preservar traços da linguagem de cada

indivíduo no uso dos termos e no significado dado a cada questão.

As entrevistas preliminares foram realizadas no período de dezembro a abril e

o processo de autoconfrontação simples ocorreu no período de abril a junho de 2018.

2.1. FEIRA DE ARTE E ARTESANATO DO LARGO DA ORDEM

O contexto do estudo é formado pela Feira de Arte e Artesanato do Largo da

Ordem, em Curitiba, que funciona aos domingos entre as 9h e as 14h, cuja trajetória

histórica remonta a década de 1970, e onde são comercializados artesanatos dos

mais variados além de alimentação e a oferta de atrações artísticas e culturais.

A Feira ocupa um espaço que começa na Rua Mateus Leme, passa pela Rua

José Bonifácio, cruza as ruas do Rosário e Duque de Caxias e vai até uma altura da

Rua Jaime Reis, contorna a Praça Garibaldi, cruza as ruas Dr. Murici, Ébano Pereira,

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Desembargador Ermiliano de Leão e termina próximo à Mesquita Muçulmana, ficando

as barracas em sua maioria no Largo São Francisco. Nesse lugar, o povo manifesta

seus usos, costumes por meio do seu artesanato, gastronomia e outros elementos

culturais típicos, sendo considerado um atrativo turístico frequentado tanto por

moradores da cidade e região quanto por turistas (Roesler et al., 2008) de diferentes

contextos nacionais e internacionais.

A feira tem aproximadamente de 1,6 km de extensão e é formada por

aproximadamente 1.400 barracas habilitadas para comercializar variados produtos e

serviços. O público circulante é de aproximadamente 22 mil pessoas. A organização

da Feira é de competência da Secretaria de Turismo de Curitiba, que regulamenta o

funcionamento e as atividades por meio do Decreto N° 797/06 e da participação de

sete feirantes que fazem parte de uma Comissão de Feira. Essa Comissão, em

conjunto com outros membros do Poder Público, Iniciativa Privada e Área

Educacional, participa das decisões sobre a gestão da feira (Grimm et al., 2016). O

objetivo do decreto é religar a exposição e comercialização de produtos provenientes

de atividades artesanais e artísticas culturais, que abrangem artes plásticas, arte

popular, artesanato, produção artesanal de pequena escala e atividades oriundas de

apresentação artística, objetos de coleção e antiguidades e arte culinária.

2.2 DESCRIÇÃO DO SISTEMA DE ATIVIDADE DE ARTESANATO

Nesta seção são apresentados os relatos dos artesãos obtidos a partir das

entrevistas e do processo de autoconfrontação, que organizados com vistas a

configurar o sistema de atividade de artesanato proposto por Engeström (2001). Os

relatos dos participantes buscam relacionar os achados durante o processo de

pesquisa com os elementos do sistema de atividade de artesanato construído a partir

da análise do contexto estudado.

2.2.1 Constituição do Sistema de Artesanato da Feira do Largo da Ordem

A análise do sistema de atividade de artesanato foi realizada a partir da análise

da atividade dos indivíduos que produzem e vendem artesanato em bancas de feira e

que oferecem o resultado de sua produção diretamente ao

turista/morador/frequentador na Feira do Largo da Ordem aos domingos, sendo

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regularmente autorizado para tal. A atividade de artesanato aqui é entendida como

toda a produção resultante da transformação de matérias-primas, predominantemente

realizada de forma manual ou de pequenas máquinas, por indivíduos que tenham o

domínio integral de uma ou mais técnicas artisticamente articuladas.

Os artesãos participantes da pesquisa foram: Júlio, pintor e entalhador de

profissão, vende esculturas feiras de pneus na Feira do Largo da Ordem há dois anos,

junto com seu irmão; Marcelo era proprietário de uma oficina de lateria e pintura,

tornou-se artesão há 7 anos e comercializa esculturas em metal na Feira há

aproximadamente 3 anos; Elke, que é professora de profissão e começou a fazer

trabalhos manuais após se casar e começou a fazer as peças em tecido para cozinha

exclusivamente para participar das feiras, sendo que atua na Feira do Largo da Ordem

há dois anos e há sete anos na Feira do Passeio Público. Izabel, que trabalha na Feira

do Largo da Ordem há 19 anos e que começou a atuar na feira em uma barraca de

lanches e hoje produz e vende peças com madeira de reaproveitamento com seu

marido; Henry, que era funcionário de uma empresa multinacional quando resolveu

sair do emprego para ficar mais tempo com a família e então resolveu fazer cursos

sobre produção de móveis de madeira e de marchetaria em busca nova alternativa de

renda e também como terapia após descobrir uma doença, e atua na Feira há 7 anos.

Os sujeitos envolvidos na atividade de artesanato na Feira tinham outras

atividades antes de empreender na Feira e hoje têm, no artesanato, sua principal fonte

de sustento. Júlio, por exemplo, vem de família artesã enquanto Marcelo tinha

interesse em artes em metal desde a infância e antes de ser artesão tinha uma oficina

de lataria e pintura e relata refletir sobre as peças que descartava e a possibilidade de

criar a partir delas: “(...) tinha essa oficina de lataria e pintura e eu via essas peças

que iam ser jogadas fora e pensei, puxa, o que eu posso fazer com isso? E comecei

a brincar.” “A partir dali comecei a me interessar mais, mais, até que chegou um

momento que eu parei com a oficina e me dediquei só a esse trabalho” (Marcelo,

artesão). Na maioria dos casos, há um aproveitamento das experiências anteriores

pelos artesãos. Todos já participam da Feira há, pelo menos, dois anos e seus relatos

apontam terem já conhecimento parcial de técnicas e ferramentas de trabalho que

permitiram a transição das atividades anteriores para o artesanato, tendo, então, o

aprendizado facilitado por essa trajetória e práticas. Há, também, uma preocupação

premente com a sustentabilidade, fato que presente na fala de artesãos Marcelo, Julio,

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Izabel e Henry, que usam madeira e outros materiais de descarte em suas peças e

que fizeram dessa preocupação uma prática, além de uma fonte de renda.

Em relação ao objeto, eles são diversos e se transformam pela interação dos

artesãos com o público, redes sociais e internet. A internet é utilizada como fonte de

inspiração, local de venda e divulgação por alguns deles. Marcelo relata que pesquisa

fotos de instrumentos musicais e barcos vikings na Internet, mas, segundo ele, o

próprio processo de transformar aqueles materiais que iriam ser jogados fora já fazem

o objeto ser bem diferente da foto, pois ao procurar aproveitar todos os objetos que

tem para fazer uma escultura, cada escultura acaba sendo feita de forma diferente

porque ele nem sempre tem as mesmas peças.

Já Elke se diz autodidata quando se refere ao aprendizado das técnicas que

utiliza para produzir as peças, “vou procurando, vou pesquisando, vou fazendo”. Ela

afirma que a inspiração para fazer as peças vem das revistas e da Internet (Pinterest),

bem como das aulas de artesanato que leciona, e relata que chega a sonhar com as

peças. Os turistas e visitantes também são fonte de inspiração quando trazem

informações que a ajuda a repensar alguma peça: “algumas pessoas olham o produto

e dizem, ah, por que você não põe o botão assim? E então eu penso como essas

mudanças podem dar mais praticidade à peça”. Ao falar sobre suas como cria novas

peças, Elke relata: “eu vi na televisão que várias pessoas levam marmita de casa para

o trabalho então eu pensei em fazer essa peça como uma opção”. “Eu não crio todas

as peças iguais, eu faço cada uma de um jeitinho diferente, porque eu acho que o

artesanato não é indústria.” “Eu vou combinando as cores e decidindo o que eu vou

fazer enquanto eu vou fazendo.”

Ao descrever como busca ideias para produzir, Izabel diz: “se eu te contar que

vem tudo dessa cabeça aqui...eu deito à noite e já fico imaginando e aí levanto e vou

fazer”, e complementa: “é tão gostoso trabalhar com a madeira que você vai criando”,

algumas inspirações vem do cotidiano, como uma peça que ela vê numa novela, mas

“daquilo ali a gente já faz outras coisas também”.

Henry começou produzindo peças representativas do Estado do Paraná, como

as peças com figuras de araucária e pinhão, com o objetivo de servir como souvenir

para os turistas. Hoje, além de manter alguns produtos nessa linha, ele busca a

inspiração em imagens e outros produtos que não são feitos de marchetaria “vejo fotos

de pinturas, de entalhes em madeira”, ele fala, “vi um trabalho de entalhe em madeira

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na casa da minha mãe, achei bonito e agora vou tentar fazer em marchetaria.”

“Algumas coisas eu crio, outras eu me inspiro em coisas já feitas.”

Há relativamente pouca interação dos feirantes entre si. Esse fato se explica

porque a interação é vista, por muitos, como fonte de conflito, principalmente pelo uso

do espaço e eventuais semelhanças entre produtos de diferentes feirantes, o que

causa certa concorrência.

A divisão do trabalho é influenciada pela forma como o trabalho é organizado,

pelo exercício de atividade manual essencialmente individual e em pequena escala.

A maioria dos artesãos trabalham individualmente ou com a ajuda de familiares.

Segundo Júlio, o trabalho tanto de produção quanto de venda é dividido entre ele e o

irmão. Júlio explica: “por exemplo, enquanto um corta o outro pinta. Ou enquanto um

corta, o outro lava o pneu.” Ambos podem fazer todo o processo, mas dividem o

trabalho para “não ficar repetitivo.” Ele relata, ainda, que os custos e ganhos são

divididos igualmente entre os dois e eles se revezam semanalmente para vender os

produtos na barraca, para gerenciar a página do Facebook e para fazer as entregas

ou o envio das peças.

Outros feirantes exercem concomitantemente outras atividades relacionadas

quando o tempo permite. Elke ensina costura em sua casa. Ela relata que tentou

ensinar sua filha para que ela a ajudasse na produção, mas sua filha escolheu não

seguir a atividade da mãe.

Sobre as ferramentas de trabalho, o artesanato é produzido em casa,

preservando as características conceituais que o define como tal, com produção

predominantemente manual a partir de insumos locais, utilizando-se de pequenas

máquinas e de ferramentas específicas.

É possível identificar o uso instrumentos externos na fala de alguns feirantes.

Julio, por exemplo, participa de um grupo de artesãos nas redes sociais e desse grupo

retira grande parte da informação sobre técnicas, materiais e procedimentos para

elaborar as peças que produz, sendo uma ferramenta externa de aprendizagem, pois

essa interação influencia na forma como as peças são produzidas. Marcelo relata que,

por causa do peso das peças, foram necessárias adaptações para atender o turista.

Então, ao longo do processo, ele tenta deixar a peça mais leve sem tirar as

características artísticas e, pelo fato de trabalhar com peças improváveis, ele tenta

adaptar as peças que ele encontra nas esculturas que têm mais saída. Além de

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sempre repensar a questão de materiais que nunca são os mesmos, Marcelo

complementa: “eu não tenho como produzir em série porque cada escultura é feita

com as peças que tenho à disposição no momento”, entretanto, ele procura não sair

do padrão estabelecido e da gama de produtos, pois entende que já é conhecido pelo

estilo das esculturas que produz.

As regras versam em torno da forma e da qualidade no atendimento aos

clientes, principalmente aos turistas, havendo uma grande preocupação em informá-

los sobre as características das peças que são oferecidas. Em termos

organizacionais, há uma preocupação expressiva dos artesãos em seguir as normas

impostas pela prefeitura para a permanência na Feira, principalmente ao respeito à

oferta de produtos aprovados quando da obtenção da licença para atuar na feira, bem

como assiduidade e cumprimento de horários para montagem e encerramento da

feira. Quanto ao controle externo, os artesãos não demonstraram perceber uma

fiscalização mais intensiva do que a assinatura da presença em lista que é passada

pelos fiscais da prefeitura, mas todos se veem na obrigação de cumprir as regras pré-

estabelecidas.

Em relação as regras para a produção das peças, os artesãos que utilizam de

ferramentas e máquinas para sua produção mostram-se preocupados com normas de

segurança durante o processo de produção das peças. Alguns feirantes, criam

algumas regras próprias para a produção da peça. Henry ele relata que na segunda-

feira, após ver peças que foram vendidas na feira no domingo e ele vai precisar repor,

ele estabelece quantas peças vai fazer na semana. “Primeiro eu vou cortando as

lâminas e às vezes eu já sinto que não vai dar para fazer tudo aquilo. E, então, eu já

separo uma parte porque sei que não vou fazer tudo.” Ao repensar a meta que foi

estabelecida anteriormente ele vai mudando, pois sabe o tempo que leva para

produzir as peças para que sejam comercializadas no domingo. “Segunda e terça eu

tenho que cortar, até no máximo quarta, aí na quinta eu tenho que colar, lixar, passar

selador, então conforme eu vou cortando, eu já vou vendo se vou conseguir terminar

algumas coisas ou não.” Ele adapta sua rotina se tem encomendas, por exemplo.

A relação com a comunidade é marcada internamente pela interação com os

turistas, outros feirantes e com a prefeitura. Nenhum artesão participante da pesquisa

faz parte de associações ou cooperativas, sejam elas relacionadas à participação na

Feira ou não. A relação com outros feirantes é vista com certa harmonia,

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principalmente com os mais próximos, que são considerados como “família”.

Entretanto, há relatos de conflitos entre feirantes por questão de uso do espaço e

oferta de produtos semelhantes. Izabel relata saber que “lá embaixo, que dizem que

tem muita guerra”, mas que não se envolve. “Esse lado é o melhor que tem, todos se

dão muito bem”. Ela diz não perceber troca de informação entre os feirantes, pois

“cada um trabalha com seus produtos, cada um vê a sua parte” e que “coma correria

do atendimento da Feira não dá tempo de conversar com ninguém”. Um problema

percebido por ela, é que muitos feirantes revendem e não produzem o que vendem, o

que, para ela, descaracteriza o que é o artesanato e é uma fonte de brigas e

discussões entre os feirantes. Externamente, alguns artesãos, como o Júlio, Marcelo

e Henry fazem parte de grupos e têm perfis nas redes sociais para troca de informação

e para a divulgação de seus produtos.

3 DISCUSSÃO

Durante o desenvolvimento da pesquisa com os artesãos foi possível identificar

a os cinco princípios da atividade propostos por Engeström (2001) e relacioná-los com

a Ecossocioeconomia Urbana.

Em relação ao aprendizado expansivo (Engeström, 2001) entre artesãos que

atuam na Feira do Largo da Ordem de Curitiba, evidenciou-se ocorre por co-

configuração dinâmica do trabalho a partir da apropriação e transformação de

conceitos e ferramentas, como uma aprendizagem transformadora capaz de ampliar

radicalmente os resultados trabalho em função de influências culturais e tecnológicas.

Todos os entrevistados exerciam outro tipo de atividade econômica antes de

participarem da Feira ou introduziram novas ferramentas, explicitamente objetivadas

e articuladas para criar modelos e conceitos novos de trabalho. Com isso, verificou-

se a configuração necessária para a identificação da aprendizagem expansiva, dado

que houve a aprendizagem necessária para a transformação do conceito de uma

atividade de um tipo histórico para outro na transição entre as atividades exercidas

anteriormente e aquela exercida na Feira.

A partir da análise das falas dos feirantes, é possível identificar a aprendizagem

expandida a partir do momento em que os feirantes analisam sua prática, transformam

os objetos que produzem a partir da interação com os visitantes da feira e

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compradores, da busca e aplicação de novas técnicas e na tentativa e erro na criação

e venda das peças. É possível identificar o contexto de transição expansiva conforme

apregoado por Engeström (2002) na Feira do Largo da Ordem, pois os feiram buscam

ressignificar sua prática e seus produtos a partir da auto-organização e criação de

redes de aprendizagem, fazendo da feira um espaço coletivo de aprendizagem.

O sistema de atividade é coletivo e orientado para o objeto e mediado por

instrumentos ou artefatos culturais. Na análise dos sistemas de atividade de

artesanato foi possível perceber que a agência é dividida entre os indivíduos em parte

dos casos descritos, seja pela participação da família e da interação com os turistas e

pelas redes sociais. Nesse sistema, o conhecimento é repassado em partes ou

indiretamente e, ao mesmo tempo, o sujeito agente se configura como fonte de

informação e conhecimento.

A multiplicidade de vozes considera que os artefatos (ferramentas), regras e

divisão do trabalho trazem consigo e permitem a análise das história, valores e

posições dos sujeitos que moldam a atividade e demandam diferentes ações de

negociação e colaboração. A multiplicidade de vozes é explicitada nas diferentes

origens dos indivíduos, nas suas relações com a Feira e na forma como os artesãos

utilizam a sua história na condução e dinamização da própria atividade. A

multiplicidade de vozes também é percebida nas relações dos indivíduos com a

comunidade, bem como na busca de relações de parceria para divulgar e oferecer os

seus produtos. Desta forma, entendemos que o sistema de atividade deve ser visto à

luz das histórias dos indivíduos, pois sua historicidade é construída e transformada ao

longo do tempo em função de condicionantes territoriais e a trajetória dos artesãos

demonstra que suas práticas vêm sendo construídas e descontruídas espaço-

temporalmente.

As contradições são fontes de mudança e de desenvolvimento resultam de

construção histórica em e entre sistemas de atividade, pois ao promoverem tensões

em tais sistemas motivaram o desenvolvimento pela necessidade de adequação a

novos contextos. A fonte de contradição primária identificada foi a situação

econômica, que motivou a busca por novas opções de renda em que o artesanato se

configurou como oportunidade. A força motriz das mudanças foi a preocupação de

que a configuração dos produtos tenha valor de troca no mercado a partir de

elementos como originalidade, preço e atratividade.

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Os novos usos atribuídos às ferramentas de trabalho existentes apresentaram-

se como fontes de contradição secundária, pois permitiram a modificação e a

construção dos objetos das atividades analisadas no sistema de atividade. A

contradição terciária ocorre quando se introduz uma forma culturalmente mais

avançada no sistema de atividade central, causando, assim, um desconforto entre o

objeto ou motivo da atividade central com o objeto ou motivo que foi inserido. A

inserção artesanato como atividade econômica mostrou a geração de contradição

terciária pelo surgimento da necessidade de capacitação e treinamento para o

desenvolvimento da atividade. A contradição quaternária, que ocorre entre a atividade

central e suas atividades circunvizinhas na rede de sistemas é identificada nas

relações entre os feirantes, principalmente nos conflitos e mal-entendidos entre os

indivíduos e grupos constituídos para tratar das questões da Feira em termos de

espaço e oferta de produtos, conforme relatos.

Analisando o contexto da Ecossocioeconomia Urbana, a Feira, vista como um

arranjo socioprodutivo representado pela organização da feira, pode, de acordo com

Grimm et el. (2018), ser considerada uma tessitura de rede interorganizacional por

caracterizar-se como uma experiência de empreendimento socioeconômico

compartilhado, coordenada por instituições governamentais e que resulta da

combinação de diferentes lógicas, como a solidária presente na autogestão

compartilhada, a utilitária e econômica relacionadas a interesses individuais. Os

artesãos, então, valem-se e se apropriam da racionalidade instrumental, mas

privilegiando ganhos coletivos imediatos no âmbito individual e intraorganizacional

partilhados, sendo reflexos do e gerando reflexos no ambiente extraorganizacional que

se desenvolve dinâmica e historicamente, como sugere a ecossocioeconomia.

O estudo mostrou que o sistema de atividade de artesanato da Feira do Largo

da Ordem pode abranger dimensões socioculturais, econômicas, ambientais e

político-espaciais, configurando-se, assim, como uma atividade que permite a

participação cidadã, o empoderamento local, o sentimento de pertencimento, a

geração de trabalho e renda (Grimm et al., 2018) e, especificamente o sistema de

artesanato que nela se insere, é potencializado a partir da geração de valor com base

na criatividade dos artesãos aplicada com a mediação de ferramentas e tecnologias

sobre materiais para geração de artefatos ambientalmente sustentáveis.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo se propôs a caracterizar o contexto social e coletivo do

sistema de atividade de artesanato dos artesãos do Largo da Ordem e analisar como

ecossocioeconomia repercute nas práticas de artesanato.

Entendemos que a teoria da atividade, percebida como uma teoria cultural da

ação, pode fornecer um modelo de análise da prática social, vista aqui como prática

ecossocioeconômica. A ecossocioeconomia urbana no contexto analisado converge

para uma nova ação social norteada para o desenvolvimento mais sustentável por

preocupar-se com formas de produção menos suscetíveis a desperdícios e por pautar-

se em critérios e normas extraorganizacionais de práticas sustentáveis passíveis de

serem aplicadas via a autogestão, preservando o direito à liberdade individual e a

capacidade de revelar e aplicar saber tradicional historicamente criado e aplicado.

A análise da relação entre a teoria da atividade e a ecossocioeconomia urbana

permitiu extrair e sistematizar o contexto de aprendizagem no âmbito da objetividade

coletiva e a dimensão tácita do conhecimento no âmbito da intersubjetividade. Da

mesma forma como acontece na teoria da atividade, a ecossocioeconomia emerge do

mundo da vida e do trabalho onde problemas e suas soluções acontecem a partir de

lógicas preponderantemente de não-mercado. É também pensada a partir das

experimentações, das complexidades do cotidiano, das contradições inerentes à

mudança paradigmática que se deseja, principalmente quando se pensa nas limitações

do utilitarismo economicista.

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