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3124 SISTEMAS COMPUTACIONAIS PARA O PODER JUDICIÁRIO: FERRAMENTAS, ACESSO E INCLUSÃO SOCIAL COMPUTER SYSTEMS FOR JUDICIARY: TOOLS, ACCESS AND SOCIAL INCLUSION Cinthia Obladen de Almendra Freitas Alexia A. Rodrigues Brotto RESUMO O avanço da tecnologia e informática alteram substancialmente os mais diversos ramos da sociedade: relações sociais, econômicas e pessoais, fazendo com que fiquemos cada vez mais dependentes da tecnologia, reveladora do progresso, rapidez, cientificidade e praticidade. Por essa razão e, com o objetivo de conferir maior adequação do Poder Judiciário na esfera digital, implantou-se sistemas judiciais para o Poder Judiciário, como o e-proc e o e-cint, viabilizando a desmaterialização dos autos de processos, com integral interação com os mesmos via Internet, inclusive para protocolo de petições, anexação de documentos, intimação via e-mail, bem como demais procedimentos possibilitados pelo sistema de processos eletrônicos. Com similar proposta, instituiu-se a Lei 11.419/2006, possibilitando a integração e utilização desses sistemas computacionais na persecução de maior celeridade, dinamismo e menor custo processual, advindo com os processos eletrônicos. Esse perfil inovador, embora atento à nova realidade virtual que assola o sistema mundial, sofre, principalmente em países subdesenvolvidos, com a questão do acesso da população não só a essa nova realidade tecnológica, mas também o acesso à informação, conhecimento, informatização e à própria Justiça. Neste diapasão, muito se tem ainda a projetar e implantar para tentar acolher a toda a população brasileira, fazendo com que essa inclusão digital não se resuma a uma exclusão social. Por isso a necessidade de cada vez mais, modernizar todas as esferas estatais, inclusive adequando-se o Poder Judiciário à essa realidade da digitalização e informatização dos sistemas adotados sem, contudo, esquecer-se das camadas menos favorecidas. PALAVRAS-CHAVES: PODER JUDICIÁRIO, FERRAMENTAS, DIREITO E TECNOLOGIA, INCLUSÃO SOCIAL. ABSTRACT Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

SISTEMAS COMPUTACIONAIS PARA O PODER JUDICIÁRIO ... · para que se possa obter um retorno satisfatório de quem utiliza os programas computacionais ... dentre as quais se explica

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SISTEMAS COMPUTACIONAIS PARA O PODER JUDICIÁRIO: FERRAMENTAS, ACESSO E INCLUSÃO SOCIAL

COMPUTER SYSTEMS FOR JUDICIARY: TOOLS, ACCESS AND SOCIAL INCLUSION

Cinthia Obladen de Almendra Freitas Alexia A. Rodrigues Brotto

RESUMO

O avanço da tecnologia e informática alteram substancialmente os mais diversos ramos da sociedade: relações sociais, econômicas e pessoais, fazendo com que fiquemos cada vez mais dependentes da tecnologia, reveladora do progresso, rapidez, cientificidade e praticidade. Por essa razão e, com o objetivo de conferir maior adequação do Poder Judiciário na esfera digital, implantou-se sistemas judiciais para o Poder Judiciário, como o e-proc e o e-cint, viabilizando a desmaterialização dos autos de processos, com integral interação com os mesmos via Internet, inclusive para protocolo de petições, anexação de documentos, intimação via e-mail, bem como demais procedimentos possibilitados pelo sistema de processos eletrônicos. Com similar proposta, instituiu-se a Lei 11.419/2006, possibilitando a integração e utilização desses sistemas computacionais na persecução de maior celeridade, dinamismo e menor custo processual, advindo com os processos eletrônicos. Esse perfil inovador, embora atento à nova realidade virtual que assola o sistema mundial, sofre, principalmente em países subdesenvolvidos, com a questão do acesso da população não só a essa nova realidade tecnológica, mas também o acesso à informação, conhecimento, informatização e à própria Justiça. Neste diapasão, muito se tem ainda a projetar e implantar para tentar acolher a toda a população brasileira, fazendo com que essa inclusão digital não se resuma a uma exclusão social. Por isso a necessidade de cada vez mais, modernizar todas as esferas estatais, inclusive adequando-se o Poder Judiciário à essa realidade da digitalização e informatização dos sistemas adotados sem, contudo, esquecer-se das camadas menos favorecidas.

PALAVRAS-CHAVES: PODER JUDICIÁRIO, FERRAMENTAS, DIREITO E TECNOLOGIA, INCLUSÃO SOCIAL.

ABSTRACT

Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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The advancement of technology and computing alter substantially the most diverse branches of society: social relations, economic and personal, so that we stay increasingly dependent on technology, reflecting the progress, speed, scientific and practical. For this reason, and with the aim of giving greater suitability of the Judiciary in the digital sphere, is deployed judicial systems for the Judiciary, as the “e-proc” and “e-cint”, allowing the dematerialization of the records of proceedings, with full interaction with them via the Internet, including the memorandum of petitions, annexation of documents, subpoena via e-mail and other procedures made possible by a system of electronic processes. With similar proposal, introduced to the Law 11.419/2006, enabling the integration and use of computer systems in pursuit of speed, strength and lower cost procedure, that comes with electronic processes. This innovative profile, although attentive to the new virtual reality system that plague the world, suffers, especially in underdeveloped countries, with the issue of population's access not only to this new reality technology, but also access to information, knowledge, computerization and Justice itself. In crotch, much has yet to design and deploy to try to accommodate the entire population, making this digital inclusion becoming nothing more than an exclusion. Hence the need for ever more, modernize all spheres state, including adjusting the Judiciary is the fact that the digitalization and computerization of the systems adopted without, however, forget the poor people.

KEYWORDS: JUDICIARY, COMPUTER SYSTEMS, LAW AND TECHNOLOGY, SOCIAL INCLUSION.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende contribuir para uma análise sucinta a respeito da revolução tecnológica operada no mundo, trazendo reflexos importantes para a área do Direito, sobretudo no que diz respeito aos procedimentos realizados pelo Poder Judiciário.

Nesse ambiente de revolução paradigmática, da sociedade complexa, informatizada, cabe relatar os avanços da tecnologia com sistemas computacionais para o Poder Judiciário, viabilizando o peticionamento eletrônico, citações, intimações via e-mail e todo o acompanhamento e anexação de documentos para propositura de demandas pela Internet. Essa foi inicialmente a proposta dos sistemas e-proc e e-cint, surtindo valiosos reflexos na aplicabilidade da Lei n°. 11.419/2006 que, dentre outras providências, aclarou a sistematização desses programas computacionais, inaugurando, legalmente, a utilização dos processos eletrônicos na seara cível, trabalhista e criminal, dantes utilizados somente no Juizados Especiais.

Disso deflui que a lei deve oferecer oportunidades para que os processos cumpram celeremente sua marcha, juntamente com a economia de custo, atos e eficiência da administração judiciária (PORTANOVA, 1999, p. 171). E note-se que neste aspecto a Lei nº. 11.419/2006 está cumprindo fielmente seu papel, eis que possibilita a garantia da celeridade da tramitação processual à luz do direito fundamental à razoável duração do processo, além de adequar-se às novas tecnologias, implementando uma nova possibilidade de atuação do advogado, perito, juiz e das próprias partes, com maior conforto, rapidez e economia material.

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De fato, reflete um enorme avanço no Poder Judiciário, no entanto, colima proporcionar que num país como o Brasil, nem todas as pessoas possuem acesso ao computador, Internet, e não raras vezes acesso à própria informação. De forma que não basta apenas o investimento em tecnologias para um Judiciário mais célere e eficaz, se não há investimento na sociedade com políticas públicas para a informação, informatização, a fim de que a inclusão digital não se resuma em exclusão social.

2. SISTEMAS COMPUTACIONAIS PARA O JUDICIÁRIO

Sendo o Poder Judiciário um prestador de serviços, essa prestação deve ser a mais eficiente possível, evitando-se não só os problemas da morosidade da Justiça, mas incorporando avanços tecnológicos, hoje previstos na quase totalidade dos objetos, mercadorias e serviços oferecidos à sociedade.

Mas a questão da implantação da tecnologia nos procedimentos do Estado não é sentida apenas no Poder Judiciário. No Brasil, se consagrou a assertiva da ineficiência dos serviços médicos públicos por ausência de medicamentos e equipamentos avançados para cirurgias e demais procedimentos. Fazendo com que a população que possui melhores condições financeiras se valha de serviços médicos particulares com clínicas modernas, informatizadas, com aparelhos de sistemas digitais, equipes de pesquisa científica e tecnológica, implantando sistemas computacionais para um procedimento avançado de angioplastia, por exemplo.

Com relação ao Poder Judiciário, a escolha entre o serviço público e o privado não é possível (excetuados os casos de meios alternativos de resolução de conflitos extrajudiciais). E dessa maneira, toda a população demandante e operadores do Direito se vêem impelidos a atuar num Judiciário moroso, ineficiente e retrógrado.

Esse é um grande desafio do Direito e do próprio Poder Judiciário. Assim, se o Direito hoje não pode fechar os olhos aos novos direitos, inclusive na seara tecnológica e informática, também não pode o Poder Judiciário ser avesso à informatização, modernização de seus equipamentos, formas de proceder, desapegando-se do paradigma documental rumo à digitalização, processos eletrônicos e maior uso e acesso à Internet nesse sentido, quando possível (possibilidade esta que também deve ser prestada pelo Estado).

Em artigo publicado no XXI Congresso da Sociedade Brasileira de Computação, os pesquisadores em Engenharia da Produção e Informática (TAIT e PACHECO, Anais, 2001b, p. 17) apresentaram um projeto de arquitetura de sistemas de informação (ASI) para o setor público, observando as especificidades desse setor em termos de estrutura, tecnologia da informação e usuários.

Sabe-se do site www.justica.com.br que “Um Judiciário mais ágil, rápido e eficiente, como quer a população, será obtido também com medidas de modernização da administração do Judiciário. Neste sentido, muita coisa pode ser feita sem alterações legislativas. E, ainda que “é possível desburocratizar procedimentos, acelerar a tramitação de processos, informatizar e padronizar procedimentos, sem alterar leis”.

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Na realidade, o setor público, embora tenha essa especificidade de ser público, comporta os mesmos requisitos técnicos para um sistema computacional de uma entidade particular, quais sejam: usuários, servidores, conexão, infra-estrutura compatível, manutenção do programa, atendimento para dúvidas etc.

Sendo assim, um sistema computacional que comporte a imensa gama de usuários do Poder Judiciário, o qual não se resume nas partes, estendendo-se aos advogados, peritos, juízes e demais serventuários da justiça, poderá funcionar desde que tenha um grande suporte de base, para manutenção dos aplicativos, recepção dos documentos anexados, bem como um corpo de pessoas capacitadas para utilização de programas através detreinamentos específicos.

Exigindo-se, também, um bom investimento em equipamamentos (hardware) para que se possa obter um retorno satisfatório de quem utiliza os programas computacionais (softwares).

No Brasil, a implantação de sistemas computacionais para o Judiciário deu-se primariamente nos Juizados Especiais Federais, por intermédio da Lei 10.259/2001 que além de criar esses novos órgãos no âmbito da Justiça Federal, permitiu o serviço de intimação das partes e petições por meio eletrônico (art. 8°, §2°), marcando substancialmente o ingresso dos processos eletrônicos no âmbito dos Juizados Federais que, devido ao seu progresso e facilidades, fomentaram propostas no mesmo sentido – desenvolvendo-se sistemas computacionais de gerenciamento de processos eletrônicos – em âmbito também estadual, tomando dimensão nacional agora pela Lei 11.419/2006.

Assim, com a intenção de contribuir para o entendimento da aplicação sistemas computacionais para o Poder Judiciário, descreve-se a seguir o e-proc (Sistema de Processo Eletrônico) e o e-cint (Citação e Intimação por meio eletrônico), procurando contextualizar os aspectos tecnológicos, de acesso e inclusão social.

2.1. e-proc

O “e-proc” refere-se ao sistema de peticionamento eletrônico, que objetiva o encaminhamento de petições e documentos via Internet, chegando diretamente à Vara endereçada.

Para ALMEIDA FILHO (2007, p. 26) inexiste no Brasil, até o presente momento, um verdadeiro processo eletrônico, havendo apenas procedimentos eletrônicos – representados pelos sistemas computacionais – uma vez que adotando-se literalmente a expressão “processo eletrônico” como processo efetivamente, as questões jurisdicionais enfrentariam problemas de ordem constitucional e processual, aprioristicamente, além da impossibilidade de citação, em alguns casos, e problemas operacionais como queda de energia, por exemplo. Sabe-se que problemas como queda de energia podem ser contornados por bases de dados replicadas e estrutura técnica para suportar por um tempo de determinado o “sistema no ar” ou permitir o descarregamento de dados e informações que estejam em trânsito.

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Nada obstante, em 10 de maio de 2004, pelo Provimento n°. 1 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, restaram determinadas as normas complementares para a regulamentação do sistema e-proc, dentre as quais se explica os domínios do sistema (www.jef-pr.gov.br; www.jef-rs.gov.br e www.jef-sc.gov.br); disponibilidade do sistema (acesso diariamente, das 6h às 24h e consulta ininterruptamente); os tipos de usuários (internos e externos); como se cadastrar e ter acesso por senha; prazos para citação e intimação; anexação de documentos e a assinatura digital do juiz.

Muitas Portarias surgiram entre os meses de março e setembro de 2004, adequando a distribuição de petições (Portaria 02/2004); restrição à matérias unicamente de direito (Portaria 04/2004); regras para trâmite de recurso inominado (Portaria 07/2004); distribuição de cartas precatórias (Portaria 08/2004), dentre outros.

Além disso, o próprio sistema e-proc conta com um sistema FAQ (Frequently Asked Questions ou Perguntas Frequentes) de perguntas freqüentes e respectivas respostas no “manuseio” dos processos eletrônicos, além do Manual do e-proc disponibilizado também pela Internet.

Neste contexto, problemas como a formatação do arquivo a ser anexado, bem como o tamanho do documento são questões em desenvolvimento e aperfeiçoamento. Isso porque, obviamente o sistema e-proc, assim como todo e qualquer sistema computacional (produzido por máquinas) está sujeito à falhas e descompassos, cabendo aos idealizadores do projeto adequarem os aparelhos, formatação dos arquivos emitidos e recebidos, implementar um manual de instruções e, também, possibilitar um acesso direto para responder dúvidas, assim como o faz o e-proc da Justiça Federal. Cabe, portanto, a discussão da padronização de formatos e procedimentos, uma vez que não se pode imaginar ou conceber um sistema que esteja apto a receber ou enviar todos os formatos de arquivos de dados (sejam estes textos, imagens, vídeos, etc).

2.2 e-cint

O “e-cint” é um sistema de citação e intimação eletrônicas, dando ciência às partes e advogados que aderirem a esse canal de comunicação. É sistema interligado ao e-proc, sendo dele uma espécie, utilizada para intimar e citar igualmente as autoridades, advogados, peritos e partes que aderirem ao sistema.

Importante salientar a expressão “aderirem ao sistema” em razão da regra instituída pela Lei n°. 11.419/2006 não implicar em obrigação de citação, intimação e demais atos processuais apenas por meios eletrônicos em detrimento das outras formas processuais. Neste sentido NERY JR (2007, p. 478):

A regra do LPE 9° dá a entender que a citação eletrônica será a regra no processo em detrimento das demais formas constantes no CPC 221, que serão utilizadas quando, ‘por motivo técnico for inviável o uso de meio eletrônico’, sendo que o documento físico deverá ser digitalizado e, posteriormente, destruído.

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Na Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Paraná existe postura semelhante, o Recorte OAB/PR, dando ciência de despachos, intimações e demais decisões judiciais – aos advogados iniciantes que aderirem ao sistema – das publicações feitas em Diário da Justiça, por questões de economia de custos, tempo e praticidade.

Mas nada obstante as vitórias conquistadas pelos sistemas computacionais de intimação e citação eletrônica, muitos entraves ainda são objeto de discussões no cenário do Poder Judiciário. As questões relevantes em que pese a dificuldade de acesso à Internet, tecnologia e à própria Justiça, residem também em searas menores, como por exemplo, no caso do “e-cint” no âmbito da pessoalidade da citação, a despeito da possibilidade de citação na pessoa do advogado da parte.

Isso porque nos processos eletrônicos, a citação é feita via Internet, sendo respeitada a forma citatória apenas em relação à pessoa a quem o e-mail de citação é enviado, que será a parte ou o advogado. Mas o requisito físico (e pessoal) da citação não será acobertado pelos processos eletrônicos.

Neste contexto, DIDIER (2007, p. 437) entende que:

A citação eletrônica, embora prevista em lei, será menos freqüente do que a intimação eletrônica, certamente de uso mais generalizado, pois dependerá, em princípio, do conhecimento, pelo autor ou pelo Poder Judiciário, do endereço eletrônico do demandado – e, ainda assim, será preciso confirmar se esse endereço é o correto, de modo a evitar fraudes

e evitar também a ausência do “ciente” ou “recebido” aposta nas citações entregues por Oficial de Justiça, ou pelo recebimento do A.R. (Aviso de Recebimento) nas citações por correio, uma vez que o conhecimento da parte em relação a citação é de extrema importância para identificar a existência, nulidade e invalidade da citação, bem como a ocorrência de ocultação do réu para não receber a citação ou sua residência em lugar incerto e não sabido.

Por essa razão, conclui o autor (DIDIER, 2007, p. 438) pela dificuldade na utilização da citação eletrônica em processos individuais autônomos[1], envolvendo litigantes eventuais, justamente pela dificuldade de acesso, muitas vezes não só à Internet computadores, mas também à informação e à própria interpretação da informação. Por isso questões como a citação e intimação eletrônicas devem ser efetivadas com extrema cautela[2].

3. LEI 11.419/2006

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A Lei n°. 11.419/2006 dispõe sobre a “informatização do processo judicial”, marcando oficialmente, o ingresso do Poder Judiciário nacional na era digital. Antes mesmo de 2006, muitos textos legislativos já concebiam uma postura tendente à implantação de reformas no sistema judiciário brasileiro no que diz respeito à aceitação de alguns atos por meios eletrônicos. Entretanto, foi somente com a Lei 11.419/2006 que se regulou o uso desses meios eletrônicos na tramitação, comunicação e transmissão dos atos processuais.

Antes de adentrar no tema, importante esclarecer que a Lei 11.419/2006 deve ser interpretada conforme a Constituição Federal de 1988.

Trata-se, na verdade, de uma forma de prevenção para que os intérpretes e destinatários da norma não a apliquem de maneira a lesar garantias constitucionais. Nesse sentido, explica WAMBIER (2007, p. 292):

Assim, embora a lei em questão vincule o legislador e o administrador a certas diretrizes para a elaboração de normas complementares e formulação de políticas públicas, respectivamente, devem ser afastadas, de plano, interpretações no sentido de que a Lei 11.419/2006 obrigaria os jurisdicionados a adotar, imediatamente, o meio eletrônico para a consecução dos atos processuais. Caso contrário haveria afronta ao princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional – correspondente ao direito de ação e de defesa – e, também, à isonomia, tendo em vista a realidade social e econômica brasileira.

Entende-se, em absoluto, que o processo eletrônico não deve e, tampouco irá, substituir de imediato o processo judicial representado por meio de Autos de papéis. Talvez a longo prazo isso seja possível, mas não simplesmente de per si, senão com uma mudança radical na sociedade brasileira, conferindo maior distribuição de renda e poderio não só econômico das camadas mais populares, mas, sobretudo acesso cultural e social, ou, ao menos acesso à informação a respeito da existência das coisas e de como e para que elas funcionam. Além disto, mecanismos de segurança e identificação humana (tais como a biometria) poderão vir a ser utilizados para garantir a validade, a autenticidade e a integridade dos dados e informações trafegados via Internet.

Outras questões além das acima citadas também dificultam e suportam dúvidas e críticas na aplicabilidade da Lei 11.419/2006. Com a implantação do sistema de peticionamento eletrônico, surge também a procuração eletrônica, constituindo a faculdade de assinar a procuração também eletronicamente, sob forma de assinatura digital, credenciada por Autoridade Certificadora. Isto, de um lado traz conforto e praticidade ao advogado e, de outro, traz questões relacionadas à segurança da assinatura digital e de qual autoridade seria legitimada a fornecer assinaturas para esse fim judicial[3].

Nessa seara e, pautada na Lei 11.419/2006, a Ministra do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, em 19 de abril de 2007, assinou a decisão do primeiro processo eletrônico

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por meio da certificação digital, eis que, por conveniência do processo eletrônico, a assinatura do juiz (em sentenças, decisões interlocutórias e despachos) é também digital.

Outras questões levantadas referem-se à figura da testemunha virtual e da prova cibernética. Em relação a primeira, é importante destacar de início suas duas espécies: uma relacionada ao depoimento testemunhal do artigo 417, § 2° do Código de Processo Civil, cuja produção e armazenamento pode ser feito de modo integralmente digital, mediante registro em termo e transcrição[4], e a outra relacionada à testemunha virtual dos contratos eletrônicos, que seria uma terceira pessoa que, virtualmente testemunharia uma compra e venda, negociação ou qualquer outra transação por meio da Internet.

Em relação a segunda questão suscitada, a prova cibernética, faz referência a um meio de prova inominado (DIDIER, 2007b, p. 32), no qual se busca a obtenção de conhecimentos sobre fatos ou coisas por outras formas que não as previstas em lei. De fato, o documento emitido em cartório competente, via Ata Notarial acompanhada de Escritura Pública, assinadas pelo Tabelião, fazem prova plena – em que pese as críticas acerca dessa nomenclatura[5] – dos atos e fatos ocorridos sob sua competência. Mas para que se possa atribuir valor probatório ao documento eletrônico, mister avaliar seu grau de segurança que ateste sua veracidade, autenticidade e integridade. O que se faz comumente é a lavratura de Ata Notarial, em cartório, conferindo como verdadeiros determinados fatos apostos na Internet, bem como autênticos e sem distorções – pelo menos naquele dado momento da lavratura da Ata. A importância da Ata Notarial assim preparada está em seu uso irrestrito, até mesmo em fatos ilícitos (exceto crimes penais, dentre outros), pois o papel primordial da Ata Notarial é materializar o fato e, se fato é ilícito, será descrito e apresentado na Ata como foi presenciado pelo tabelião, retirando a hipótese do instrumento ser deturpado com o fato ilícito. No que concerne à Internet, pode-se através da Ata Notarial pré-constituir prova sobre páginas eletrônicas ou outros documentos eletrônicos; fixar a data e existência de arquivos eletrônicos; provar fatos caluniosos (comunidades na Internet com cunho racista, por exemplo); provar fatos contendo injúrias e difamações (comunidades na Internet ou e-mails ou scraps contendo palavras chulas ou de baixo calão); provar fatos contendo uso indevido de imagens, textos e logotipos (por exemplo, pessoas não autorizadas que utilizam em suas páginas pessoais, blogs ou fotologs logotipos de empresas ou produtos famosos sem a devida autorização) e, ainda, provar infração ao direito autoral (artigos e textos divulgados como de autoria própria não verdadeira ou sem autorização). Ao se constituir prova de um determinado fato através da Ata Notarial inverte-se o ônus da prova, na medida em que a eficácia probatória desse instrumento tem respaldo seguro no artigo 364 do CPC: “documento público faz prova não só da sua formação, mas também dos fatos que o escrivão, o tabelião, ou o funcionário declarar que ocorreram em sua presença”.

O professor DIDIER (2007b, p. 131) vislumbra na expressão “seqüência de bits” um grande problema característico dos documentos eletrônicos, qual seja, “sua versatilidade, ou flexibilidade, na medida em que, em segundos, ele pode ser formado e utilizado, mediante envio pela Internet, em qualquer lugar do mundo”, sendo também “a porta para possíveis adulterações, o que infirma a sua integridade e, pois, a sua eficácia probatória”. Por essa e outras razões, o problema da certeza de veracidade e segurança ainda são muito questionados, ensejando muitas dúvidas em relação à Lei 11.419/2006. Novamente, destaca-se que existem mecanismos tecnológicos para garantir a segurança de documentos recebidos e enviados através da Internet. Cabe ao

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Poder Judiciário prover estes mecanismos, implementando-os através de protocolos de segurança.

A esse respeito e no intuito de garantir autenticidade e veracidade dos documentos eletrônicos, a Medida Provisória n°. 2.200-2/2001 instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil. Tal regulamentação almejou maior segurança nas contratações, negócios ou qualquer espécie de utilização de documentos eletrônicos.

As técnicas mais utilizadas consistem na assinatura digital; biometria; senha pessoal; criptografia e esteganografia ou registro de propriedade de imagens (JOHNSON e JAJODIA, 1998). Documentos e imagens contém dados e informações importantes e até mesmo sigilosas e, portanto, precisam ser resguardadas de alterações (sejam estas acidentais ou intencionais), fraudes, cópias e uso não autorizado. O registro de propriedades em imagens pode ocorrer de duas formas: visível ou invisível. O registro visível ocorre quando se deseja tornar evidentes, claros e visíveis os direitos de propriedade. O oposto cabe ao registro invisível. Caracterizam-se por registros visíveis as marcas d’água (watermarking) ou uma imagem translúcida que é sobreposta à imagem original, muitas vezes sendo o logotipo ou logomarca da empresa que detém os direitos da imagem original. Este tipo de registro pode ser facilmente visualizado, tal qual um carimbo (ou de maneira análoga, uma marca d’água no papel). Além disto, possui um mecanismo de inserção da marca sobre a imagem original de modo a dificultar a sua remoção. As marcas d’água digitais visíveis são usadas da mesma maneira que as marcas d’água para papel, nas quais a opacidade do papel é alterada por uma processo de impressão prévia de um plano de fundo.

Por outro lado, as marcas d’água invisíveis são uma sobreposição de imagens que não se pode ver, mas que pode ser determinada através de algoritmos de detecção. Existem dois tipos de marcas invisíveis: a marca frágil e a marca robusta. Como o próprio nome diz, a marca frágil pode ser destruída quando a imagem original é manipulada digitalmente. Tais marcas são utilizadas para garantir a autenticidade de uma imagem, bem como, podem garantir a integridade de evidências, baseadas em imagens, em processo judiciais. As marcas robustas, são muito resistente às mutilações provocada por manipulações, por exemplo, edição, subtração ou adição de informações e alterações nas cores. Podem ser utilizadas em caso de suspeita de uso não autorizado (desrespeito ao copyright).

Tudo isto está relacionado com a necessidade do homem de escrever mensagens cifradas, ou esconder uma mensagem dentro de outra mensagem. Atualmente, o interesse é esconder uma imagem dentro de outra imagem. A esteganografia é a técnica que permite este tipo de operação, garantindo assim a autenticidade de textos, imagens e até mesmo músicas. Esta técnica não é nova, tendo sido utilizada por Heródoto, o pai da Historia. Outros relatos, mostram que os nazistas criaram o que se denomina de micro-ponto, ou seja, o ponto final (.) de uma sentença continha uma imagem reduzida de algo secreto a ser transmitido dentro de uma mensagem aparentemente sem importância (cover message). Atualmente, as mensagem de cobertura podem ser: textos (cover text) , imagens (cover image) ou áudio (cover audio) (ROCHA, COSTA e CHAVES, s.d.).

Esteganografia não é criptografia, é uma forma comunicação. A primeira técnica não torna a mensagem ilegível ou a imagem distorcida ou sem significado, incompreensível. A criptografia faz exatamente isto. Portanto, a esteganografia é mais eficiente, uma vez

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que os usuários não percebem que a imagem contém este tipo de controle. Quando se aplica a esteganografia à uma imagem gera-se o que é denominado de esta estego-imagem. Na prática, existem algoritmos que trabalham com a substituição de determinados elementos da imagem por outros elementos, ou seja, a imagem secreta. Normalmente, os bits de cobertura são os considerados os menos significativos (LSB - Least Significant Bits) do objeto de cobertura. Porém, podem, ainda ser aplicadas técnicas baseadas em filtragem e mascaramento ou algoritmos de transformações.

Nesta seara, o governo norte-americano, visando a guarda e proteção de dados pertinentes ao Estado, desenvolve, freqüentemente, novos padrões de criptografia avançada, à exemplo do sistema utilizando o algoritmo Rijndael, em 2001, (ZIGIOTTO; D’AMORE e CUNHA, Anais, 2001, p. 45) a fim de prover maior segurança de dados.

Mas sem o intuito de especificar todas as formas de proteção aos documentos virtuais, apenas cabe esclarecer que ainda há muito estudo e muito aprofundamento para compreensão, desenvolvimento e, principalmente, implantação, dessas e de novas técnicas de segurança.

Assim, não obstante sejam salutares os objetivos visados pelo legislador, principalmente no tocante à celeridade dos processos judiciais e à formação de um Poder Judiciário condizente com a nova realidade digital, a lei em questão ainda carece de regulamentação e, mais importante, de providências administrativas e condições materiais para a sua implantação.

Além disso, por meio das exigências da Lei n°. 11.419/2006, um novo ramo de mercado se expande[6], principalmente em relação aos equipamentos portáteis de digitalização de documentos, bem como as certificadoras de certificação digital, o que exige muito preparo dos operadores, adquirentes e usuários dessas novas tecnologias.

4. ACESSO À REALIDADE PRESENTE

4.1 Princípio do Acesso à Justiça

O direito subjetivo de ação[7], comumente reconhecido na doutrina brasileira como o

“direito de acesso à justiça” (CINTRA, GRINOVER, DINAMARCO, 2006, p. 87) para defesa de seus direitos foi ampliado pela Constituição Federal de 1988[8], passando a abranger não somente a lesão, mas também a ameaça de lesão a direito, colocando o Poder Judiciário e, conseqüentemente, o processo como instrumento de viabilização dessa relação entre o lesionado e/ou ameaçado e o juiz.

Dizia DINAMARCO (2003, p. 372-373) que falar-se em instrumentalidade do processo ou em sua efetividade significa falar dele como algo posto à disposição das pessoas, com vistas a fazê-las mais felizes (ou menos infelizes) mediante a eliminação dos conflitos que as envolvem, com decisões justas.

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O princípio do acesso à justiça, nas palavras de CAPPELLETTI (1974, p. 67), foi um dos grandes problemas processuais vividos desde o século passado[9], tendo obtido sua primeira vitória com a supressão das jurisdições privilegiadas e com a proclamação da gratuidade da justiça.

Entretanto, a revolução jurisdicional acerca do acesso à justiça não eliminou todas as demais cargas patrimoniais necessárias para ingressar em juízo, e pior: criou um sistema tão amplo de acesso ao judiciário – com a gratuidade da justiça, ausência de advogado nos Juizados Especiais – fazendo com que se solucionasse o problema do ingresso à justiça, mas, devido ao sobranceiro número de demandas, não viabilizou o acesso à adequada prestação da tutela jurisdicional, que também é componente do princípio do acesso à justiça. A respeito lecionam CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO (2006, p. 39-40):

Acesso à justiça não se identifica, pois, com a mera admissão ao processo, ou possibilidade de ingresso em juízo. (...), para que haja o efetivo acesso à justiça é indispensável que o maior número possível de pessoas seja admitido a demandar e a defender-se adequadamente, sendo também condenáveis as restrições quanto a determinadas causas (pequeno valor, interesses difusos); mas, para a integralidade do acesso à justiça, é preciso isso e muito mais. (...). O acesso à justiça é, pois, a idéia central a que converge toda a oferta constitucional e legal desses princípios e garantias. Assim, (a) oferece-se a mais ampla admissão de pessoas e causas ao processo (universalidade da jurisdição), depois (b) garante-se a todas elas a observância das regras que consubstanciam o devido processo legal, para que (c) possam participar intensamente da formação do convencimento do juiz que irá julgar a causa, podendo exigir dela a (d) efetividade de uma participação em diálogo – tudo isso com vistas a preparar uma solução que seja justa, seja capaz de eliminar todo o resíduo de insatisfação.

Em análoga linha de pensamento, prescreve MARINONI (2006, p. 65):

O direito de acesso à justiça, que na verdade garante a realização concreta de todos os demais direitos, exige que sejam preordenados procedimentos destinados a conferir ao jurisdicionado o direito à tutela adequada, tempestiva e efetiva. Nesse sentido, por direito de acesso à justiça entende-se o direito à preordenação de procedimentos realmente capazes de prestar a tutela adequada, tempestiva e efetiva.

Isso porque o acesso à justiça não deve ser compreendido como o mero ingresso em juízo (DINAMARCO, 2005a, p. 134), mas como a pretensão endereçada ao Magistrado para que produza um julgamento efetivo, adequado aos valores da sociedade, de modo a propiciar à parte litigante não só sua admissão em juízo, mas também sua admissão a participar ativamente do processo.

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O princípio do acesso à justiça – intimamente ligado aos princípios da inafastabilidade e indeclinabilidade do Judiciário, consagrados constitucionalmente – é a síntese de todos os princípios e garantias do processo (DINAMARCO, 2003, 373), informando o princípio da inafastabilidade, na medida em que se buscam métodos idôneos de fazer atuar os direitos sociais e uma justiça mais humana, simples e acessível (PORTANOVA, 1999, p. 84).

Atualmente se busca evitar que pessoas menos favorecidas fiquem à margem do Poder Judiciário, inclusive implementando-se as “tutelas parajurisdicionais” (DINAMARCO, 2005a, p. 137) – meios alternativos de acesso à justiça – com vistas à conferir efetividade a esse princípio. Todas as medidas com vistas à universalidade do processo e da jurisdição (DINAMARCO, 2003, p. 373) consubstanciam a garantia constitucional do controle judiciário e o primeiro passo para o acesso à justiça.

No entanto, aflui-se a insuficiência do tão só alargamento do âmbito de pessoas e causas capazes de ingressar em juízo, de forma a ser imprescindível o aprimoramento da ordem processual, apta a disponibilizar resultados satisfatórios e tempestivos às partes. Neste diapasão, traz-se à baila importante lição de Cármen Lúcia Antunes Rocha (TEIXEIRA,1993, p. 34):

A jurisdição é direito de todos e dever do Estado, à maneira de outros serviços públicos que neste final de século se tornaram obrigação positiva de prestação afirmativa necessária da pessoa estatal. A sua negativa ou a sua oferta insuficiente quanto ao objeto da prestação ou ao tempo de seu desempenho é descumprimento do dever positivo de que se não pode escusar a pessoa estatal, acarretando a sua responsabilidade integral.

Mas o acesso aos órgãos prestadores da jurisdição por parte do cidadão depende de um desempenho prévio do Estado, que se desdobra em dois comportamentos complementares: de um lado, impõe-se a facilitação do exercício do direito à jurisdição pela sua declaração normativa expressa, e, de outro, deve-se dar a saber ao povo deste como de todos os direitos fundamentais que lhes são assegurados. Estes comportamentos públicos são pressupostos imprescindíveis a serem cumpridos para que o direito à jurisdição não seja uma mentira legal ou uma possibilidade oficial, somente exercida por aqueles que dispõe de condições econômicas bastantes para saber de seus direitos e poder pagar o preço de seu exercício.

Bem acolhendo a postura da Ministra do STF, DINAMARCO (2005a, p. 133) entende que, “não basta que o processo produza decisões intrinsecamente justas e bem postas mas tardias ou não traduzidas em resultados práticos desejáveis; nem sendo desejável uma tutela jurisdicional efetiva e rápida, quando injusta”. Compreende o ilustre processualista que a plenitude do acesso à justiça importa remover os males resistentes à universalização da tutela jurisdicional[10] e aperfeiçoar internamente o sistema processual. Inclusive com o uso adequado da tecnologia, processos eletrônicos e, fundamentalmente, informação e acesso à população desses novos meios utilizados pela Justiça brasileira.

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Acrescendo, GRINOVER (1990, p. 244) doutrina acerca da necessidade de presteza da prestação jurisdicional, como corolário do princípio do acesso à justiça:

É necessário acentuar o conteúdo da idéia de acesso à Justiça que não há de significar simplesmente o acesso ao Poder Judiciário; não só porque também existe o direito à assistência pré-processual, mas também num sentido mais amplo: é que acesso à Justiça significa, e deve significar, não apenas o acesso aos tribunais, mas o acesso à um processo justo, o acesso ao devido processo legal, àquele conjunto de garantias tão importantes que fez com que Mauro Cappelletti dissesse constituir o mais importante dos direitos, na medida em que dele depende a viabilização dos demais direitos.

Dessa forma, é insuficiente assegurar o simples acesso aos órgãos jurisdicionados para que se obtenha a tutela de seus direitos, fazendo-se necessário que a jurisdição seja prestada com a qualidade e efetividade que a situação fática lhe impõe. Afinal, nas palavras da Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha (TEIXEIRA, 1993, p. 37), “às vezes a justiça que tarda, falha. E falha exatamente porque tarda”.

Assim, mister a composição de sistemas que viabilizem uma maior celeridade na tramitação dos feitos processuais, conferindo além da adequação tecnológica com os sistemas mundiais digitais, um maior acesso da população à Justiça, à Informação e ao conhecimento e desenvolvimento científico para que possa receber o bem da vida pretendido em tempo hábil, com presteza e adequação do serviço público judiciário.

4.2 Dificuldade de padronização do acesso nas Varas e Fóruns Judiciais

Antes de trabalhar a respeito da padronização no uso da informática e Internet nos diversos órgãos judiciais da Nação, cabe levantar a questão da diversidade de equipamentos, de estruturas judiciais, órgãos e orçamentos aplicados, os quais contribuem, significativamente para a não padronização da tecnologia aplicada e investimentos em relação à equipamentos, campanhas e acesso.

De fato, a adoção do meio eletrônico para a consecução dos atos processuais não é e não deve ser entendida como obrigatória. Porém, quando há a interação de mais órgãos judiciais em um único processo que, originariamente, adotara o meio eletrônico, em contato com os outros órgãos que não disponham nem de equipamentos para leitura de depoimento testemunhal por mídia eletrônica, por exemplo, as questões problemáticas se avolumam. Não somente na seara dos fóruns com equipamentos divergentes, mas de partes com realidades social e econômica diferentes.

Analisando essa questão, ATAIDE JR. (Em artigo publicado no Jornal O Estado do Paraná, em 15/08/2004):

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Sei muito bem que esse avanço gerencial do Poder Judiciário não é uniforme em todo o Brasil. Não é preciso ir muito longe para encontrar cartórios judiciais ainda movidos à máquina de escrever e a fichinhas de controle processual, obviamente na contra-mão de todos os esforços empreendidos pela administração judiciária para combater as causas da morosidade da prestação jurisdicional. Vê-se que há Brasis e há Poderes Judiciários.

Na mesma balada, REIS e GEUS (Anais, 2001, p. 79), reportando-se aos procedimentos de forense computacionais ensinam:

Devido à grande variedade de exames que podem ser requisitados e a variantes impostas pela diversidade de tecnologias, que evoluem constantemente, o nível de padronização pode não ser completo. Nesse sentido, a padronização pode restringir-se aos níveis de princípios (legais e técnicos) e políticas de análise, permitindo que sejam utilizadas técnicas e soluções não padronizadas, contudo, coerentes com os níveis padronizados.

Disso constata-se que as técnicas e soluções até podem não ser padronizadas, mas desde que comportem, na essência, correlação com os níveis de padronização, o que não remonta os sistemas disponibilizados no Brasil. Algumas regiões, até pelo seu avanço tecnológico em nível maior, possuem determinado sistema de processo eletrônico que contradiz os sistemas utilizados nas regiões menos desenvolvidas, as quais ainda se utilizam de papel, carimbo, caneta e das velhas fichas processuais, com o nome das partes, demanda e número do processo guardados em arquivos (fichários), sem qualquer equipamento eletrônico que facilite a consulta.

Isso, além de inviabilizar a celeridade e penetração da tecnologia no Poder Judiciário, inviabiliza também a comunicação com os demais órgãos da Justiça de outras cidades e estados. Neste sentido, SENA e GEUS (Anais, 2001, p. 194):

Para que duas ou mais entidades se comuniquem de forma segura, utilizando algoritmos criptográficos de autenticação, integridade e/ou cifragem, um conjunto de parâmetros deve ser pré-estabelecido. Entre eles, os algoritmos a serem utilizados, seus modos de operação, as chaves criptográficas e o tempo de vida destas chaves. Tal conjunto é denominado associação de segurança (AS). Uma entidade pode estabelecer diversas associações de segurança com diversas outras entidades.

Assim, muito embora vários tribunais brasileiros e Juizados Especiais estejam utilizando procedimentos computacionais de intimações, citações e trâmite processual eletrônicos, os sistemas adotados ainda são diferentes, desenvolvidos de maneiras diferentes, uns mais avançados, outros mais retrógrados, uns com petições e documentos salvos em formato doc, outros docx e outros, , pdf (deve-se mencionar que

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os arquivos em formato pdf são mais seguros e imunes à vírus, pois quando um arquivo em formato doc trafega pela Internet diferentes vírus podem ser agregados ao arquivo e, portanto, gerar danos à quem recebe os respectivos arquivos).

A idéia, portanto, é unir todas as regiões por meio da unificação e padronização dos procedimentos e formas (maneiras) de se operar ou realizar tais procedimentos, incluindo os dados e informações. No entanto, ainda que se estabeleçam tais critérios e se implemente um sistema efetivamente seguro[11] e padronizado, ainda permanecerá o problema de inadequação tecnológica de algumas varas judiciais, diferenciação de Estado para Estado, inevitáveis no nosso Brasil de tamanha extensão geográfica e investimentos, infelizmente, localizados nas áreas de interesse.

4.3 Dificuldade de acesso da população à Tecnologia e Internet – Inclusão ou Exclusão digital?

Corroborando o que já foi sumariamente explicitado no item anterior, a universalização da Internet e procedimentos nela realizados constitui um grande avanço tecnológico, além de promover o acesso e a integração.

Ocorre que nada obstante à barreira enfrentada em relação a ausência de padronização dos sistemas computacionais judiciários, outros entraves como o alto custo da plataforma computacional (GUEDES NETO, Anais, 2001b, p. 12) aliado ao diminuto índice de informação da população, ao invés de proporcionar a inclusão digital pode vir a estabelecer uma verdadeira exclusão social – a info-exclusão devido a existência dos denominados info-analfabetos.

Aclarando o sentido da expressão, NAZARENO, BOCCHIO, MENDES e PAZ FILHO (2007, p. 14):

Embora na sua acepção original o termo “inclusão digital” tenha sido utilizado somente para distinguir situações de desigualdade no acesso à Internet (o “provimento assimétrico na sociedade de instrumentos de acesso a serviços na web”), recentemente a expressão vem sendo mais bem lapidada, tendo sua abrangência ampliada. Atualmente, ela é empregada para indicar “falhas no provimento pelos governos de acesso universal a serviços de informação e comunicação, indistintamente, a todos os cidadãos”.

De fato, com o avanço da informática e tecnologia, bem como da relação destas com o meio em que vivemos, ímpeto natural do homem foi a atribuição de um status especial a esse sistemas digital. A esse respeito leciona BEHRENS (2005, p. 12):

A evolução tecnológica torna ainda mais evidente a diferença de acesso a recursos eletrônicos e informacionais, aumentando a distância entre as diferentes classes sociais, deixando transparecer os problemas econômicos e não apenas comerciais. A exclusão digital é uma realidade que precisa ser pelo Direito combatida, para que se possa manter

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o equilíbrio social e proporcionar a todos as mesmas oportunidades de acesso e desenvolvimento cultural.

Por isso diz-se que o desafio político global do mundo não está em superar a exclusão digital, mas expandir o acesso e o uso da tecnologia para a promoção da inclusão social (WARSCHAUER, 2006. p. 282). Isso porque, no Brasil e no mundo, a discrepância desse acesso e desenvolvimento cultural é flagrante. Na seara da tecnologia há autores que defendem até um “apartheid digital” entre as regiões geográficas brasileiras (NAZARENO, BOCCHIO, MENDES e PAZ FILHO, 2007, p. 33) e as demais regiões do globo terrestre – países desenvolvidos e subdesenvolvidos[12]. E as razões para tal disparidade envolvem questões de economia, infra-estrutura, política, educação e cultura (WARSCHAUER, 2006, p. 80).

Atento à essa proposta de inclusão digital, o Governo Nacional intentou alguns projetos neste sentido. O Programa Nacional de Informática na Educação – ProInfo, criado em 1997, objetivou a informatização das escolas de nível fundamental e médio. O Programa Sociedade da Informação – Socinfo, lançado em 1999, disseminava a adaptação da sociedade às novas tecnologias, bem como a implantação de projetos piloto nesse sentido. O Computador Popular, iniciado em 2000 no DCC-UFMG, permitia o acesso à Internet a partir de linha discada ou rede local e a execução de aplicativo Linux neste caso. O Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão – Gesac, criado em 2002, promoveu a instalação de pontos de acesso público à Internet, gratuitamente, estabelecendo conexão com o Programa Casa Brasil, que visa não só a inclusão digital, mas sobretudo a social. Tem ainda os Telecentros, criados também nesta época; o Projeto Aliança para a sociedade da Informação – Alis; o Projeto Paraná-Digital; o Governo Eletrônico ou E-Governo e os Centros Vocacionais Tecnológicos implantados a partir de 2003, promovendo o ensino e a profissionalização no conhecimento científico e tecnológico.

E nesta mesma linha, a criação da Frente Parlamentar do Software Livre, com o intuito de modificar a cultura de uso de software no Brasil, conscientizando as pessoas das vantagens sociais e econômicas da disseminação do uso de sistemas livres no país. Entende-se por software livre aqueles que independem de comercialização para seu uso, seguindo preceitos próprios e adequados a disponibilização, alterações e modificações de softwares já existentes.

Assim, o Governo brasileiro objetivou não só a inclusão digital e social, mas promoveu ainda outros projetos[13] nesse sentido, utilizando-se de ferramentas tecnológicas acessíveis e orçamento compatível.

Ocorre que, em que pese a consciência e fomento da inclusão digital, a própria sociedade brasileira ainda é incipiente nos debates acerca da segurança, acesso e informatização[14], por exemplo. Embora a sociedade tenha passado pelos estágios revolucionários da imprensa, energia elétrica e criação dos computadores, alguns conceitos básicos de informação e interpretação da informação dada ainda são muito complexos e de difícil assimilação para as camadas menos favorecidas. Algumas delas, tampouco entendem porque devem aderir ao programa governamental e aprender a

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utilizar a internet. Para essas pessoas o próprio computador é muito distante de sua realidade.

E ainda subsistem os problemas oriundos do custo da info-inclusão que, no Brasil estima-se uma média de US$ 6,00 por habitante, adicionando-se outros custos a título de manutenção, capacitação e treinamento (NAZARENO, BOCCHIO, MENDES e PAZ FILHO, 2007, p. 105), o que indica a necessidade de investimentos em infra-estrutura, orçamento e políticas públicas para a inclusão de toda a parcela populacional info-excluída.

De fato, a inclusão digital não se resume no binômio “equipamento – conectividade”, pois nem sempre o recurso físico (computador) e digital (Internet) compreende os recursos humanos e sociais[15]. Até porque a questão do acesso à Internet não diz respeito somente ao campo das oportunidades que poucos possuem, mas essencialmente “pela sua lógica comercial, por sua política de difusão e pelo próprio desenvolvimento tecnológico em si” (GUERREIRO, 2006, p. 151) que, fatalmente, acaba por excluir várias camadas sociais. Neste sentido BEHRENS (2005, p. 94-95):

Portanto, frutos dessa nova realidade, nasceram os “excluídos digitais”. Ou seja, enquanto indivíduos de classes sociais mais altas, passam seus dias interagindo, informando-se e criticando situações e conteúdos de sites, os indivíduos de classes mais pobres estão, muitas vezes, longe desta realidade informática e informacional.

Analisando-se as premissas da exclusão digital para a inclusão social, WARSCHAUER (2006, p. 31) aponta a nova economia da informação e a nova sociedade de rede, o papel decisivo da tecnologia em todos os aspectos dessa nova economia e sociedade, bem como o acesso a essa tecnologia que, “pode ajudar a determinar a diferença entre a marginalização e inclusão nessa nova era socioeconômica”.

Em 2004, o Instituto Brasileiro de Direito Eletrônico, realizou o I Congresso de Direito Eletrônico, em Petrópolis-RJ, debatendo as diretrizes para uma política de inclusão digital e respeito aos Direitos Humanos. Na III edição do Congresso, a ser realizada em Maringá-PR, em outubro/2008, terá como enfoque o processo eletrônico e suas possibilidades de aperfeiçoamento; o comércio eletrônico; o software livre e a aplicação do Direito nas atuais formas de pensar na cybercultura, dentre outros temas[16]. E há mais propostas futuras no sentido da inclusão digital como a disseminação do ONID (Observatório Nacional de Inclusão Digital), com informatização inclusive de escolas indígenas, a exemplo da parceria entre a Secretaria de Educação e o Governo do Maranhão; e o Projeto “Freqüência Digital” para controle de presença de alunos das escolas públicas brasileiras, bem como a proposta de um cadastro único da população brasileira para fins de localização e identificação de todo cidadão.

À par dessas perspectivas de inclusão digital-social, conclui GUERREIRO (2006, p. 203):

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A inclusão digital é uma necessidade caracterizada pelo fato de a maior parte da sociedade mundial não ter acesso aos benefícios tecnológicos difundidos na sociedade mundial de informações. A necessidade, por sua vez, é uma condição primordial no ser humano – e, portanto, sempre existirá como estrutura que impulsiona a sociedade para o futuro.

De forma a afirmar-se a inevitabilidade de uma mudança social que possa garantir uma adequação tecnológica sem esquecer da adequação social, com educação, acesso e informação. Isso, num primeiro momento pode parecer um tanto utópico, mas como já disse MORIN (In “Uma Mundialização Plural”, MORAES, 2005, p. 366), “é possível manter a esperança na desesperança”.

E é nessa desesperança atual de um avanço tecnológico cada vez maior e populações cada vez mais miseráveis, desculturalizadas e desinformadas que coloca-se a esperança de uma sociedade atual, desenvolvida econômica e tecnologicamente, mas garantindo a tão sonhada inclusão digital e, principalmente, social.

5. CONCLUSÃO: CENÁRIO FUTURO[17]

Questionando-se o direito vigente por não atender a realidade social e complexa e olvidando-se da prestação de serviços pelo Estado coloca-se o Direito e todo o arcabouço judiciário em crise perante a sociedade, perante o Estado, perante seus próprios órgãos, estruturas e funções, como se o Direito e a Justiça fossem os únicos vilões do freio à democracia, direitos fundamentais, acesso à informação, justiça e tecnologia, desburocratização etc.

Ora, não é possível falar-se em crise do Direito e do Poder Judiciário sem falar em crise do Estado[18]. A instabilidade dos entes governamentais e da própria sociedade está ligada a uma crise generalizada (ou “endêmica” como denomina MORIN, 1973, p. 185).

A crise que se atribui somente ao Poder Judiciário não é exclusiva deste, mas também do próprio Estado que não consegue atender às propostas emancipatórias e demais anseios sociais, remetendo-se somente à regulação, ainda que a gestão de bens e interesses públicos não se dê de forma transparente e adequada.

Em Political order in changing societies, HUNTINGTON (Apud MOURA, 1989, p. 73) definiu os problemas políticos com os quais as nações em desenvolvimento se defrontam em termos de efetividade e capacidade governamental de governar:

A diferença política mais importante entre países diz respeito não a sua forma de governo mas a seu grau de governo. As diferenças entre democracia e ditadura são menores que as diferenças entre aqueles países cuja política reúne consenso, comunidade, legitimidade, organização, eficácia, estabilidade e aqueles países cuja política é deficiente nessas qualidades.

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De fato, nos países carentes de consenso, efetividade, organização e estabilidade, a comoção social traz reflexos de insatisfação e desejo de melhora, aliados ao avanço tecnológico sentido em outras áreas do conhecimento. Ante a ineficácia do governo – entendida esta como a relação equilibrada entre instituições políticas e forças sociais – a solução apresentada vem com singelas melhorias que aumentem a confiança no Estado, mas que intimamente nada resolvem os problemas da sociedade. Segundo ALMEIDA FILHO (2007, Prefácio), nesse contexto de preocupações de efetividade e transformação:

Informatizar, em dimensão máxima, o nosso sistema de prestação jurisdicional passa a ser assim um imperativo inadiável, indispensável para a solução de boa parte dos problemas que hoje vivenciamos na aplicação do direito. Teorizar sobre este nascente cenário, debater sobre as implicações jurídicas e novas realidades conceituais que esta nova modalidade de interação social propicia passa a ser um dos grandes desafios da modernidade.

A perspectiva de expansão da internet no mundo é imprevisível (GUERREIRO, 2006, p. 150). O padrão de mudança social normal, dependente de mecanismos nacionais e êxito na acumulação de capital, asseguram de certa forma as aspirações humanas por meio de paliativos concedidos pelo Estado de melhora do Judiciário, melhora da Educação, melhora do acesso, mas não rompem efetivamente com conceitos e estruturas sedimentadas pela modernidade, implementando o gerenciamento, a (re)organização e estruturação dos procedimentos judiciais para atingir efetivamente o acesso e a garantia da tutela jurisdicional pretendida.

Por essa vertente, verifica-se a ausência de uma dissensão entre os paradigmas[19] da modernidade e pós-modernidade, eis que inexistiu uma ruptura total com o sistema antigo, havendo momentos de rompimento e momentos de continuidade. De fato, uma transição paradigmática.

Transição apta a enfrentar modificações nas estruturas e procedimentos antes utilizados, mas que não deve se esquecer de conferir informação e acesso à todas as camadas sociais, fazendo prevalece os ideais de um Estado Democrático. Para WAMBIER (2007, p. 295-296):

A utilização de meio eletrônico pelo Poder Judiciário deverá, gradativamente, provocar a modificação de normas processuais e procedimentais. Por essa razão, embora os objetivos do legislador sejam louváveis (celeridade processual e, em última instância, aumento da eficiência da prestação dos serviços jurisdicionais), é imprescindível que as alterações sejam cuidadosamente planejadas de modo a evitar que preceitos constitucionais sejam violados.

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Neste mesmo sentido e prevendo ainda maiores mudanças devido às dúvidas e críticas que possam surgir do sistema computacional implantado pelo Judiciário na tramitação de processos eletrônicos, ATAIDE JR. (Em artigo publicado no Jornal O Estado do Paraná, em 15/08/2004) esclarece:

Esse embrião do novo processo judicial vai crescer e se reproduzir. Certamente vai gerar medo, discussões, controvérsias, oposições, como toda mudança cultural produz. Serão necessários aperfeiçoamentos e reforços de segurança, como toda inovação requer. Mas não vejo como se possa voltar atrás. É o futuro do Poder Judiciário. É o caminho da celeridade processual, da tão almejada rapidez na prestação dos serviços jurisdicionais. Não dou dez anos para que a face do Judiciário brasileiro esteja mudada em função dos novos avanços tecnológicos.

Chegará o tempo em que os processos de papel serão apenas peças de museu, para visita dos interessados na história do Poder Judiciário. Mais importante que isso, será o dia em que apenas guardaremos na memória ou nos livros a idéia de um Judiciário lento, ineficiente e desmoralizado.

E nesta seara da inovação, CADOZ (1997, p. 96) explica que:

Progressos tecnológicos ainda estão por vir. As décadas futuras mostrarão, é certo, transformações que hoje nem sequer podemos imaginar. Não devemos, contudo, vislumbrar um estágio definitivo, ainda que longínquo, no qual teríamos, no que chamamos aqui a máquina, uma representação total do universo.

Assim, compreende-se salutar as inovações tecnológicas por que passa o Poder Judiciário, por meio da implantação de sistemas capazes de gerenciar dados e processos judiciais, trazendo agilidade, facilidade, menor tempo, menor custo e adequação tecnológica. No entanto, as modificações permanecerão existindo, tanto interiormente – com modernização dos equipamentos, procedimentos e do próprio sistema computacional – como exteriormente, com propostas de maior acesso da população, almejando uma efetiva inclusão digital e social. Assim, para que o digital e o social estejam cada vez mais próximos, necessita-se que a tecnologia e os sistemas computacionais sejam elementos facilitadores desta aproximação e, para tanto, necessita-se padronizar para informatizar, consequentemente, desburocratizar para acelerar, lembrando que qualquer sistema é feito por organizações e pessoas que necessitam andar no compasso da tecnologia.

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[1] Para o autor, “a principal utilidade do novo instituo (citação eletrônica pela Lei n. 11.419/2006) será, ao que parece, para os casos de: a) ‘citação’ (comunicação de uma demanda) em demandas incidentais, em que se possa fazê-la diretamente ao advogado da parte, como no caso da oposição, reconvenção, liquidação de sentença, embargos de terceiro, cumprimento da sentença e embargos à execução; b) citação de litigantes habituais (bancos, concessionárias de serviço público etc.) que firmem com o Poder Judiciário um convênio para estabelecer o endereço eletrônico em que receberão as citações; c) entes públicos, que tenham também firmado convênio com o Poder Judiciário, como já ocorre, por exemplo, nos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado da Bahia”. (DIDIER, 2007, p. 437-438).

[2] Aclarando a questão da dificuldade da citação eletrônica, NERY JR (2007, p. 478): “Muito embora a intenção do legislador tenha sido louvável, no sentido de evitar o acúmulo de papel e agilizar o trâmite processual, é de se notar que a idéia também te os seus inconvenientes, notadamente no que diz respeito à citação (imaginamos que ela deverá se realizar por e-mail, forma de comunicação que não está à disposição de todos os brasileiros, e que está sujeita a percalços, como caixas de entradas cheias, encerramento da conta não informado etc.)”.

[3] Isso porque não são todas as Autoridades Certificadoras que podem fornecer assinaturas digitais para qualquer fim. Por exemplo, para se obter uma assinatura digital credenciada para a finalidade de encaminhar à Receita Federal a comprovação do Imposto de Renda, a única Autoridade Certificadora credenciada para emitir assinaturas com essa finalidade é a Caixa Econômica Federal. De forma que se o usuário detém uma assinatura digital de outra Autoridade Certificadora, não poderá dela lançar mão para encaminhar sua declaração de Imposto de Renda.

[4] “A transcrição do depoimento gravado é sempre necessária, ainda que o par. ún. do CPC 417 só indique essa necessidade quando houver recurso da sentença. Isso porque pode ser tomado o depoimento de uma testemunha numa audiência, ou por precatória, e decidida a causa posteriormente, inclusive por outro juiz. Nestes casos, o magistrado sentenciante não teria condições de avaliar o depoimento da testemunha, se não estivesse reduzido a termo escrito” (NERY JR., 2007, p. 647).

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[5] “O art. 215 do CC-002 repete o que dizia o art. 134, §1°, do CC-1916, quanto ao fato de a escritura pública fazer ‘prova plena’. Essa expressão deve ser bem compreendida e interpretada à luz do princípio do livre convencimento motivado (art. 131, CPC). Primeiramente, deve-se observar que o dispositivo apenas se refere à escritura pública, que é uma espécie de documento público (THEODORO JR, Comentários ao novo Código Civil, v. 3, t.2, 2003, p. 433), escrito em língua nacional (art. 215, §3°, CC), cuja forma deve indicar, além de outros requisitos que lei específica eventualmente lhe imponha, os dados indicados no §1° do art. 215 do CC. Em segundo lugar, não se quer com isso dizer que esse tipo de documento ou meio de prova, como ocorre no direito italiano (MARINONI; ARENHART, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 5, t. 2, 2005, p. 267-268). A interpretação a ser dada é a de que a sua autenticidade e a veracidade do seu conteúdo são presumidas, embora essa presunção seja relativa. Só isso”. (DIDIER, 2007b, p. 115).

[6] Conforme Artigo publicado na Revista Boletim Jurídico, In Assinatura Digital impulsiona a Justiça sem Papel, em 25/04/2007: “De olho no mercado que está sendo criado pelas exigências da Lei nº 11.419, a Macdata Tecnologia Jurídica antecipou-se e firmou acordo com a Plustek, empresa internacional líder de mercado no segmento de scanners portáteis, com o objetivo de colocar à disposição da classe jurídica equipamentos de última geração para a digitalização de todos os documentos e petições que irão integrar o processo judicial eletrônico”.

[7] “O direito à jurisdição é o direito público subjetivo constitucionalmente assegurado ao cidadão de exigir do Estado a prestação daquela atividade. A jurisdição é, então, de uma parte, direito fundamental do cidadão, e, de outra, dever do Estado. O direito à jurisdição apresenta-se em três fases que se encadeiam e se completam, a saber, a) o acesso ao poder estatal prestador da jurisdição; b) a eficiência e prontidão da resposta estatal à demanda de jurisdição; e c) a eficácia da decisão jurisdita. A dicção, mesmo que constitucional, do direito à jurisdição não basta para que o cidadão tenha a segurança de ver assumido e solucionado pelo Estado o conflito que, eventualmente, surja na aplicação do direito. (...). Por isso, é insuficiente que o Estado positive a jurisdição como direito, enunciando-o na fórmula principiológica da inafastabilidade do controle judicial, mas não viabilize as condições para que este direito seja exercido pelos seus titulares de modo eficiente e eficaz”. (ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. In O Direito Constitucional à Jurisdição. TEIXEIRA,. 1993. p. 31).

[8] “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

[9] Inclusive com o episódio que envergonhou o direito brasileiro, a exemplo do que ocorreu no sistema jurídico dos estados totalitários da primeira metade deste século, que proibiam o acesso à justiça por questões raciais. (NERY JR. 1996. p. 94).

[10] Imperioso ressaltar que o acesso à justiça não diz respeito ao acesso à direitos. A tutela jurisdicional é a tutela a pessoas ou grupo de pessoas, sendo conferida ora ao

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autor, ora ao réu, e não necessariamente àquele[10], posto que sempre se refere à pessoas e não à direitos. Nesse sentido DINAMARCO (2005. p. 126).

[11] Para ser considerado seguro, um sistema deve levar em consideração as seguintes propriedades: “Confidencialidade: apenas as entidades envolvidas podem ter acesso ao conteúdo dos danos que estão trafegando na rede; Integridade: a informação transmitida em um ponto é a mesma recebida em outro; Autenticação: as entidades envolvidas em uma comunicação devem ter meios de confirmarem mutuamente suas identidades; Controle de Acesso: serve para restringir o acesso aos recursos. Assim, apenas entidades autorizadas poderão acessá-los; Não-Repudiação: previne que entidades neguem suas ações. Assim, se uma entidade enviou uma mensagem, ela não poderá negar o que fez; Disponibilidade de Serviços:garante que entidades autorizadas acessem determinados serviços”. (LINHALIS e MOREIRA, Apud CHIN, Anais, 2001, p. 243).

[12] Conforme dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil,“A diferença numérica de acesso, uso e produção de conteúdos entre os países ricos e países pobres é assustadora. Atualmente 10% da população mundial possui acesso à web. Desse percentual, a maior parte está localizada nos Estados Unidos e Canadá, que concentram mais da metade dos usuários, ou seja, 68% e 64% da sua população, respectivamente. No lado inverso desses números estão países do continente africano e o Brasil. No começo do século XXI, na África o número de internautas não chegava a 0,01% da população. No Brasil do ano 2000, segundo dados do Livro Verde Brasil, de Tadao Takahashi (2000), 10% da população possuía computadores e apenas cerca de 2,5% tinha acesso à internet, sendo que, desse percentual, apenas 16% pertencia à classe C e 4%, à classe D.

Um ano depois, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2001 mostravam que 12,46% da população brasileira possuía acesso ao computador e, desse percentual, 8,31% tinha acesso à internet, mas cerca de 97% dos incluídos digitais vivem em centros urbanos. Uma outra informação importante dizia respeito às etnias: os amarelos (descendentes de orientais) são o grupo de maior acesso proporcional – 41,66%, seguidos pelos brancos – 15,14% e pardos – 4,06%. Esses dados, entre outros, deram origem ao Mapa da Exclusão Digital, publicado em 2003, o primeiro estudo nos diversos segmentos da sociedade relacionados às tecnologias de informação e comunicação (TICs), que levam em consideração o capital físico (máquinas e softwares) e o capital humano, através da capacitação e da educação para o desenvolvimento social. Números mais recentes (2004) revelam que o Brasil está na oitava posição entre os países com maior número de hospedagens na internet e é o décimo país com maior número de internautas, mas ainda assim esse número representa apenas 0,8% da população” (BARBOSA FILHO, CASTRO e TOMÉ, 2005, p. 274-275).

[13] Exemplos de Projetos de Lei em tramitação do Parlamento brasileiro que versam sobre tecnologia e acesso à população. PL n°. 4.275/2001; 1.739/2003; 2.066/2003; 2.417/2003; 2.427/2003; 2.521/2003; 3.280/2004; 3.684/2004; 3.785/004.

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[14] “É nessa perspectiva que se exerce a pressão para que se aba um debate público sério sobre o papel da comunicação e da mídia em nossas sociedades. E paradoxal que, enquanto o discurso oficial não pára de repetir que as NTIC transformaram profundamente as nossas vidas, não tenham se estabelecido, ao mesmo tempo e conseqüentemente, mecanismos e espaços para que a sociedade se pronuncie a respeito”. (MORAES, 2005, p. 414).

[15] Para WARSCHAUER: “O letramento e a educação afetam o acesso on-line tanto nos níveis macro como nos micro. No macronível, o letramento e a educação em massa servem para acelerar a força motora do desenvolvimento econômico, e, assim, criar condições para uma tecnologização maior da sociedade (...). A educação e o letramento também são importantes no micronível individual, já que as habilidades de leitura, escrita e pensamento continuam sendo decisivas para a capacidade de utilização da internet. A educação também ajuda a determinar como as pessoas usam a internet e os benefícios que elas obtêm disso”. Além disso, “para as pessoas cuja rede social não inclui usuários de computador, os desafios de comprar, configurar e aprender a utilizar um computador podem ser opressivos”. (WARSCHAUER, 2006, p. 151-152 e 212).

[16] Disponível em: http://www.ibde.org.br.

[17] “A rede é uma tendência concreta que aponta para o futuro” (GUERREIRO, 2006, p. 313).

[18] Destacando o discurso da crise do Estado pela vertente da globalização e de como as questões econômicas se sobrelevam às sociais, Muniz Sodré “O fenômeno da crise do Estado é real e só pode ser efetivamente compreendido a partir das relações financeiras do país periférico (caso do Brasil) com potências centrais (caso dos Estados Unidos). Faz-se então, no discurso público, uma interferência causal, absolutamente arbitrária, entre o fenômeno da crise e os ‘imperativos’ de desregulação cambial, privatização e corte das despesas estatais. Uma segunda interferência é ainda possível: a política impediria o mercado de deixar aflorar a sua virtude intrínseca ou ‘natural’, supostamente capaz de resolver a crise do Estado. A mídia globalista, vetor de um processo radical de desarticulação do vínculo orgânico da cultura co o território nacional, é hoje o principal lugar de produção retórica de um real compatível com a lógica circular do mercado e com a ideologia da globalização. Aí os aspectos humanos e sociais têm peso imensamente inferior aos aspectos tecnoeconômicos no equacionamento dos problemas do desenvolvimento societário” (MORAES, 2005, p. 38).

[19] “A formação de um novo paradigma ocorre nas entranhas do anterior. E este, por sua vez, nunca desaparecerá totalmente”. (CARDOSO, 1995, p. 17).