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Organizadoras Fernanda De Negri Flávia de Holanda Schmidt Squeff SISTEMAS SETORIAIS DE INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURA DE PESQUISA NO BRASIL

SISTEMAS SETORIAIS DE INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURA …ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/livros/livro... · de pesquisa sem qualquer orientação quanto a prioridades,

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OrganizadorasFernanda De Negri

Flvia de Holanda Schmidt Squeff

SISTEMAS SETORIAIS DE INOVAO E INFRAESTRUTURA DE PESQUISA NO BRASIL

Governo Federal

Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto Ministro Valdir Moyss Simo

Fundao pbl ica v inculada ao Ministr io do Planejamento, Oramento e Gesto, o Ipea fornece suporte tcnico e institucional s aes governamentais possibilitando a formulao de inmeras polticas pblicas e programas de desenvolvimento brasileiro e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus tcnicos.

PresidenteJess Jos Freire de Souza

Diretor de Desenvolvimento InstitucionalAlexandre dos Santos Cunha

Diretor de Estudos e Polticas do Estado, das Instituies e da DemocraciaRoberto Dutra Torres Junior

Diretor de Estudos e PolticasMacroeconmicasCludio Hamilton Matos dos Santos

Diretor de Estudos e Polticas Regionais, Urbanas e AmbientaisMarco Aurlio Costa

Diretora de Estudos e Polticas Setoriais de Inovao, Regulao e InfraestruturaFernanda De Negri

Diretor de Estudos e Polticas SociaisAndr Bojikian Calixtre

Diretor de Estudos e Relaes Econmicas e Polticas InternacionaisJos Eduardo Elias Romo

Chefe de GabineteFabio de S e Silva

Assessor-chefe de Imprensa e ComunicaoPaulo Kliass

Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoriaURL: http://www.ipea.gov.br

Braslia, 2016

Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ipea 2016

As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ou do Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto.

permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte.Reprodues para fins comerciais so proibidas.

Esta publicao resultado do convnio nmero 01 13 0298 00, celebrado entre a Financiadora de Estudos e Projetos, a Fundao de Desenvolvimento da Pesquisa, a Universidade Federal de Minas Gerais e o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada e publicado no DOU no 235 de 04/12/2013.

Sistemas setoriais de inovao e infraestrutura de pesquisa no Brasil /organizadoras: Fernanda De Negri, Flvia de Holanda SchmidtSqueff. Braslia : IPEA : FINEP : CNPq, 2016. 637 p. : grfs. color.

Inclui Bibliografia.

ISBN: 978-85-7811-268-4

1. Inovaes. 2. Infraestrutura. 3. Pesquisa. 4. Cincia e Tecnologia. 5. Brasil. I. De Negri, Fernanda. II. Squeff, Flvia de Holanda Schmidt. III. Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). IV. Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq). V. Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA).

CDD 352.745

SUMRIO

ANTECEDENTES E AGRADECIMENTOS ........................................................7

APRESENTAO .............................................................................................9

INTRODUO ...............................................................................................11

CAPTULO 1O MAPEAMENTO DA INFRAESTRUTURA CIENTFICA E TECNOLGICA NO BRASIL ......................................................................................................15Fernanda De NegriFlvia de Holanda Schmidt Squeff

CAPTULO 2SISTEMA SETORIAL DE INOVAO EM DEFESA: ANLISE DO CASO DO BRASIL ........................................................................63Flvia de Holanda Schmidt Squeff

CAPTULO 3A INFRAESTRUTURA CIENTFICA EM SADE ..................................................115Thiago CaliariMrcia Siqueira Rapini

CAPTULO 4SISTEMA DE INOVAO NO SETOR AERONUTICO: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL ..............................................169Zil Miranda

CAPTULO 5CARACTERSTICAS DA INFRAESTRUTURA DE PESQUISA EM ENERGIAS RENOVVEIS NO BRASIL ...............................................................................229Gesmar Rosa dos Santos

CAPTULO 6A INFRAESTRUTURA TECNOLGICA DO SETOR DE TECNOLOGIAS DA INFORMAO E COMUNICAO NO BRASIL ..........................................271Joo Maria de Oliveira

CAPTULO 7INFRAESTRUTURA CIENTFICA E TECNOLGICA DO SETOR DE PETRLEO E GS NATURAL NO BRASIL ...................................................315Jos Mauro de MoraisLenita Turchi

CAPTULO 8INFRAESTRUTURA DE PESQUISA VOLTADA PARA A INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL ................................................................................367Jean Marlo Pepino de Paula

CAPTULO 9A ESTRUTURA DO SISTEMA DE INOVAO EM CINCIAS AGRRIAS NO BRASIL ....................................................................................................419Bernardo Campolina

CAPTULO 10INFRAESTRUTURA DE PESQUISAS E PRODUTIVIDADE CIENTFICA DOS PESQUISADORES BRASILEIROS ..............................................................465Srgio Kannebley JniorRenata de Lacerda Antunes Borges

CAPTULO 11A PRESENA DE CONHECIMENTO COM PERFIL INOVADOR NAS INFRAESTRUTURAS CIENTFICAS E TECNOLGICAS NO BRASIL .....................495Pedro MirandaGraziela Zucoloto

CAPTULO 12SERVIOS TECNOLGICOS ............................................................................519Luis Fernando Tironi

CAPTULO 13COOPERAO PARA P&D E INOVAO: EVIDNCIA EMPRICA PARA O USO DE INFRAESTRUTURA LABORATORIAL ................................................543Gilson Geraldino Silva Jnior

CAPTULO 14POLTICAS DE CT&I E FINANCIAMENTO PBLICO INFRAESTRUTURA D E C&T: COMPARAES INTERNACIONAIS E MAPEAMENTO DA INFRAESTRUTURA NACIONAL .................................................................581Marcos Arcuri

CAPTULO 15REAS DE MAIOR ESPECIALIZAO CIENTFICA DO BRASIL E IDENTIFICAO DE SUAS ATUAIS INSTITUIES LDERES ...........................617Paulo A. Meyer M. Nascimento

ANTECEDENTES E AGRADECIMENTOS

Entre 2008 e 2009 o Ipea desenvolveu, a pedido do ento Ministrio de Cincia e Tecnologia (atual Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao MCTI), um amplo diagnstico sobre o funcionamento e a efetividade dos fundos setoriais, que constituem o maior fundo pblico para o suporte cincia e tecnologia (C&T) no Brasil. Um dos fundos analisados naquele momento foi o fundo de infraestrutura (CT-Infra), criado para viabilizar a modernizao e ampliao da infraestrutura de pesquisa no pas. Uma das dificuldades no processo de avaliao do CT-Infra e de seus efeitos sobre a modernizao da infraestrutura de pesquisa foi a completa ausncia de informao sobre a infraestrutura disponvel no pas.

Essa lacuna de dados dificulta tanto o processo de avaliao das polticas p-blicas quanto a sua formulao e planejamento. Todos os anos, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) lanam editais para apoiar investimentos em infraestrutura de pesquisa sem qualquer orientao quanto a prioridades, tampouco avaliao sobre quais seriam as necessidades mais urgentes de investimento. Pesquisadores e empresrios, por sua vez, dependem unicamente de sua rede de contatos para saber quais seriam os laboratrios qualificados para realizar determinadas atividades (experimentos, anlises, projetos de pesquisa etc.).

A fim de tentar suprir tal lacuna, a primeira etapa deste projeto (etapa piloto) foi realizada em 2012, a partir de um levantamento sobre a infraestrutura disponvel nas instituies de pesquisa vinculadas ao MCTI.1 Este primeiro levantamento tinha o objetivo de fazer um diagnstico sobre as instituies vinculadas ao MCTI e de testar e validar o questionrio que seria posteriormente aplicado a um conjunto maior de instituies de pesquisa.

Esse projeto piloto deu origem a um trabalho mais extenso de diagnstico da infraestrutura de pesquisa cientfica e tecnolgica disponvel no pas, que foi ento articulado em 2013 entre o MCTI, o CNPq e a Finep, em parceria com o Ipea. Dentro desse esforo mais amplo, o mapeamento da infraestrutura do pas foi realizado incorporando, alm das unidades de pesquisa do MCTI, universidades e centros de pesquisa pblicos e privados.

1. A elaborao do questionrio e a realizao do levantamento foram feitos no mbito da Assessoria de Acompanhamento e Avaliao (ASCAV) da Secretaria Executiva do ministrio. Os resultados dessa etapa piloto foram apresentados em: De Negri, F. et al. Infraestrutura de pesquisa no MCTI: um diagnstico das instituies de pesquisa vinculadas ao Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao. Braslia: Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao, 2012. Mimeografado; e De Negri, F.; Cavalcante, L. R.; Alves, P. Relaes universidade-empresa no Brasil: o papel da infraestrutura pblica de pesquisa. Braslia: Ipea, 2013. (Texto para Discusso, n. 1901). Disponvel em: .

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil8 |

Nesse sentido, as informaes utilizadas neste trabalho so resultado de uma articulao institucional muito vasta e profcua que envolveu, durante mais de dois anos, vrios profissionais nos trs rgos envolvidos. O MCTI elaborou a primeira verso do questionrio e o testou junto aos institutos de pesquisa vincu-lados ao ministrio. O CNPq desenvolveu todo o sistema informatizado utilizado para coletar e armazenar as informaes dos laboratrios no novo diretrio de instituies , e o Ipea ficou responsvel pelo levantamento das instituies que participariam da pesquisa, pelo acompanhamento e suporte ao preenchimento do formulrio, e pelo tratamento final e anlise das informaes coletadas. Ademais, as trs instituies participaram de todo o processo de elaborao dos conceitos que norteariam o desenvolvimento do projeto, assim como das questes que fariam parte do questionrio. Esta nota a primeira entre vrias anlises que sero realizadas com base nessas informaes. Nesse sentido, os resultados apresentados aqui so fruto do esforo de toda a equipe tcnica envolvida no projeto: i) no MCTI, Gustavo Vasconcelos, Flavio Bittencourt, Pblio Ribeiro, Mrcio Bezerra e Sergio Britto; ii) no CNPq: Geraldo Sorte, Viviane Alves e Anna Karina Andrade; e iii) no Ipea: Fernanda De Negri, Flavia Schmidt Squeff, Lenita Turchi, Joo Maria de Oliveira, Marcos Arcuri, Fabio Fernandez, Debora Penha, Joo Renato Falco e Paulo Dourado, alm dos pesquisadores que faro anlises especficas utilizando as informaes coletadas no projeto.

Importante registrar tambm os agradecimentos a todas as unidades de pesquisa do MCTI que participaram do teste da primeira verso do question-rio, ainda em 2012, bem como a todos os pesquisadores que preencheram as informaes solicitadas no diretrio de instituies do CNPq durante o segundo semestre de 2013.

APRESENTAO

Quantos so os laboratrios de pesquisa cientfica e tecnolgica no Brasil? Qual seu tamanho e onde esto localizados? Em que reas do conhecimento o pas possui capacidades cientficas relevantes? Em que medida os aportes de recursos pblicos no perodo recente resultaram na constituio de uma infraestrutura nacional de pesquisa atualizada e competitiva no contexto mundial?

Questes como essas direcionaram o esforo de pesquisa do Ipea ora consolidado neste livro, cujo ponto de partida foi um mapeamento, abrangente e indito, da infra-estrutura de pesquisa cientfica e tecnolgica nacional. A ausncia de um diagnstico consistente da situao atual dessa infraestrutura no pas motivou o projeto, realizado em uma profcua parceria do instituto com o Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Esforos anlogos tm sido realizados globalmente, luz do reconhecimento de que a cincia e a inovao de resultado no sculo XXI raramente decorrero de esforos individuais, sendo cada vez mais ligados existncia de grandes laboratrios e equipes de pesquisa amplas e multidisciplinares. Assim, o salto tecnolgico que o Brasil precisa dar no pode prescindir da existncia de infraestruturas de pesquisa de grande porte, robustas e organizadas. Os resultados obtidos neste trabalho ensejam uma reflexo sobre a necessidade constante de avaliar as polticas de alocao de recursos em cincia e tecnologia, notadamente em infraestrutura, para esse tipo de atividade.

A oportunidade de desenvolver esse trabalho aponta mais uma vez para a capacidade do Ipea de renovar o prprio olhar sobre a agenda de desenvolvimento do pas. J tendo realizado um volume significativo de pesquisas sobre cincia, tec-nologia e inovao, diante da constatao de que a ampliao das taxas de inovao e o fomento ao desenvolvimento tecnolgico continuam sendo desafios nacionais to centrais quanto complexos, a instituio buscou novas perspectivas analticas para o tema. Nesta publicao, o mapeamento e o debate realizados permitiram a anlise de diversos aspectos centrais constituio do Sistema Nacional de Inovao (SNI) sob a tica desse novo recorte, centrado na unidade infraestrutura de pesquisa.

Assim, com a produo e a discusso de conhecimento novo sobre uma parte importante do SNI at ento pouco avaliada, o Ipea espera que os subsdios concretos aqui reunidos contribuam para o debate da sociedade e, especialmente, dos formuladores e gestores de polticas pblicas.

Jess Souza Presidente do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

INTRODUO

Este livro apresenta os principais resultados do projeto de mapeamento da infraestrutura de pesquisa cientfica e tecnolgica brasileira. O projeto foi desenvolvido pelo Ipea e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico(CNPq), com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e criou uma base de dados indita sobre as caractersticas dessa infraestrutura, desde laboratrios de pesquisa at plantas piloto e observatrios. Foram identificados cerca de dois mil laboratrios e demais infraestruturas em mais de uma centena de universidades e instituies de pesquisa brasileiras.

Um dos principais resultados desse projeto uma base de informaes que permite saber onde esto, quais so e quais as caractersticas dos principais labo-ratrios de pesquisa disponveis no Brasil, circunscritas no somente s grandes infraestruturas abertas de pesquisa, mas tambm aos laboratrios de pesquisadores individuais espalhados pelos departamentos das grandes universidades brasileiras. Uma das concluses do trabalho, a propsito, que talvez tenhamos muitos desses laboratrios individuais e poucos grandes laboratrios abertos, de uso compartilhado.

Essa base de dados indita sobre as caractersticas dos laboratrios e demais infraestruturas de pesquisa o que d coeso ao conjunto de artigos captulos no livro. O captulo 1, redigido pelas organizadoras da obra, apresenta o projeto, des-creve a metodologia utilizada e discute os principais resultados do levantamento. Nele so analisadas as principais caractersticas da infraestrutura de pesquisa bra-sileira, em termos de sua localizao, reas cientficas predominantes, tamanho, principais atividades desenvolvidas, alm de aspectos econmicos do funcionamento da infraestrutura. Fica patente no captulo, e no livro como um todo, que o Brasil tem pouqussimas instituies capazes de aproveitar economias de escala e de es-copo que poderiam aumentar a eficincia da pesquisa cientfica no pas. A imensa maioria da nossa infraestrutura de pesquisa formada por pequenos laboratrios que, apesar de relativamente novos, no parecem ser capazes de prover, sozinhos, as mesmas condies de pesquisa existentes em outros pases.

Na primeira parte do livro, as informaes coletadas foram utilizadas para analisar os principais sistemas setoriais de inovao no Brasil. A estrutura dos captulos setoriais segue um roteiro predefinido pela coordenao do projeto, que passa pela descrio do sistema setorial de inovao em outros pases e no Brasil, seguido por uma anlise da infraestrutura de pesquisa brasileira disponvel para aquele setor. A classificao das instituies e infraestruturas relevantes para cada setor foi feita pelos prprios autores de cada captulo.

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil12 |

Assim, o segundo captulo do livro, de Flavia de Holanda Schmidt Squeff, trata do sistema de inovao no setor de defesa brasileiro. Foram analisados 44 laboratrios de instituies ligadas ao Ministrio da Defesa, todos localizados na regio Sudeste. Aqui, uma das concluses tambm ressalta a baixa escala dos laboratrios e instituies de pesquisa brasileiras em defesa vis--vis os exemplos internacionais analisados.

O captulo subsequente, de autoria de Thiago Caliari e Mrcia Rapini, analisa o sistema de inovao em sade e conclui que, embora a infraestrutura cientfica na rea tenha crescido no perodo recente, ainda possui pequena escala e baixa conexo com o setor produtivo.

Zil Miranda analisa, no captulo 4, um dos casos de sucesso brasileiro em termos de conexo entre instituies de pesquisa de ponta e uma grande empresa altamente competitiva: o sistema de inovao no setor aeronutico. Mesmo nesse caso, a autora argumenta que os novos desafios tecnolgicos do setor (sustentabi-lidade, novos materiais, segurana etc.) vo requerer o desenvolvimento de uma infraestrutura de ltima gerao para realizar pesquisa e desenvolvimento (P&D) em reas de alta complexidade.

Outro setor relevante para o pas, o de energias renovveis, foco de Gesmar Rosa dos Santos, no captulo 5. Ali se mostra que, embora as infraestruturas sejam multidisciplinares, as competncias predominantes no Brasil esto em biomassa energtica e hidroeletricidade. O autor tambm argumenta, entre outras propostas, pela necessidade de maior previsibilidade e continuidade de linhas de pesquisas prioritrias para o pas na rea.

O sistema de inovao no setor de tecnologias de informao e comunica-o(TICs) examinado no captulo 6 por Joo Maria de Oliveira, que, analisando 191 laboratrios no Brasil, mostra que eles dependem preponderantemente de recursos pblicos e que, assim como o restante da infraestrutura de pesquisa bra-sileira, so de pequeno porte. O autor chama ateno, tambm, para o papel da Petrobras no financiamento desses laboratrios.

Com efeito, a funo dessa mesma empresa no sistema de inovao no setor de petrleo objeto de anlise do captulo 7, de autoria de Jos Mauro de Morais e Lenita Turchi. Os autores descrevem a constituio do sistema de inovao no setor e o papel fundamental da Petrobras no financiamento dessa infraestrutura de pesquisa.

O captulo 8 contm a anlise de Jean Marlo Pepino de Paula sobre a infra-estrutura de pesquisa voltada para o setor da construo civil. A primeira parte do livro, dedicada aos sistemas setoriais de inovao, encerra com o captulo de Bernardo Campolina sobre outro exemplo de sucesso em termos de sistema setorial de inovao no Brasil: o setor agropecurio.

Introduo | 13

Na segunda parte esto os artigos que procuram responder a questes hori-zontais sobre a infraestrutura de pesquisa. Nesse sentido, o captulo 10, de Srgio Kannebley Jnior e Renata de Lacerda Antunes Borges, de certa forma refora a necessidade de ampliar o escopo e a escala da infraestrutura de pesquisa brasileira. Os autores concluem que o tamanho do laboratrio no qual o pesquisador atua est positivamente relacionado com a produtividade cientfica deste pesquisador. Essa evidncia corrobora, em alguma medida, uma das principais hipteses que permeia este livro: a de que a baixa escala da infraestrutura de pesquisa no pas um fator limitante da capacidade de produzir cincia de fronteira.

O captulo 11, de Pedro Miranda e Graziela Zucoloto, analisa outra questo fundamental para os sistemas de inovao: a atividade de patenteamento. Os autores identificaram 764 inventores, segundo registro de patentes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), atuando em 548 das 1.760 infraestruturas que compem a base de dados utilizada neste livro. Os autores tambm mostraram que esse tipo de conhecimento, com perfil inovador, est relativamente mais concentrado em infraestruturas com capacidade tcnica considerada avanada em relao aos padres brasileiros, localizadas na regio Sudeste e que iniciaram suas operaes nas dcadas de 1970, 1980 e 1990.

O tema dos servios tecnolgicos prestados por vrias das infraestruturas de pesquisa brasileiras tratado em detalhes no captulo 12, de Luis Fernando Tironi. Gilson Geraldino, no captulo 13, aborda a importncia das atividades de coope-rao para a P&D, com base tanto em informaes empresariais provenientes da Pesquisa de Inovao Tecnolgica (Pintec) quanto em informaes derivadas do levantamento desta pesquisa.

As polticas de investimento em infraestrutura de pesquisa so o foco do captulo 14, de Marcos Arcuri, que enriquece a anlise com algumas comparaes internacionais. Por fim, o captulo 15, de Paulo Meyer do Nascimento, analisa as reas cientficas nas quais o Brasil mais competitivo internacionalmente, e mostra quais as instituies de destaque em cada uma dessas reas. Evidencia-se ali a competitividade do pas em cincias da vida e biomedicina, mas tambm em algumas reas tecnolgicas, como a microscopia.

Esperamos que esse projeto, as informaes inditas produzidas por ele e o conjunto de captulos que compem este livro contribuam para o debate sobre as potencialidades e limitaes do sistema de pesquisa e de inovao brasileiro, assim como para seu aprimoramento.

As Organizadoras

CAPTULO 1

O MAPEAMENTO DA INFRAESTRUTURA CIENTFICA E TECNOLGICA NO BRASIL1,2

Fernanda De Negri3

Flvia de Holanda Schmidt Squeff4

1 INTRODUO

Um dos fatores cruciais para o desenvolvimento tecnolgico de um pas a existncia de um sistema nacional de inovao capaz de responder s demandas da sociedade, de forma geral, e do setor empresarial, em particular, por conhecimento, tecno-logia e inovaes. Parte substantiva desse sistema, alm de instituies e polticas, a prpria infraestrutura de pesquisa cientfica e tecnolgica. O reconhecimento desta importncia tem levado diversos pases do mundo a organizar esforos em torno de levantamentos e projetos de desenvolvimento da infraestrutura existente. Estados Unidos (Survey of science and engineering research facilities),5 Unio Europeia (Strategy report on research infrastructures),6 Austrlia (Strategic roadmap for Australian research infrastructure),7 Alemanha (Helmholtz-Roadmap for research infrastructures)8 e Finlndia (Finnish research infrastructure survey and roadmap Finnish science and technology information service)9 so alguns exemplos.

No caso do Brasil, nos ltimos anos, a infraestrutura de cincia e tecnologia (C&T) do pas teve aportes significativos de recursos de vrias fontes, especialmente dos fundos setoriais, por meio do Fundo Setorial de Infraestrutura, conhecido

1. Este captulo uma verso revista e ampliada da Nota Tcnica no 021/Diset/2014 e se beneficiou de uma srie de documentos preparados pela equipe envolvida no projeto, entre os quais o relatrio estatstico elaborado pelos seguintes estatsticos do Ipea: Debora Luzia Penha, Joo Renato Falco e Paulo Henrique Dourado da Silva. 2. As autoras agradecem o apoio de Debora Luzia Penha, Joo Renato Falco, Lucas Benevides Dias e Paulo Henrique Dourado da Silva na construo da base de dados que subsidiou os artigos elaborados no projeto.3. Tcnica de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Polticas Setoriais de Inovao, Regulao e Infraes-trutura (Diset) do Ipea. 4. Tcnica de Planejamento e Pesquisa da Diset/Ipea.5. Disponvel em: .6. Disponvel em: .7. Disponvel em: .8. Disponvel em: http://www.helmholtz.de/fileadmin/user_upload/publikationen/pdf/11_Helmholtz_Roadmap_EN_WEB.pdf>. 9. Disponvel em: .

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil16 |

como CT-Infra.10 Recursos significativos foram ainda aportados pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior do Ministrio da Educao (Capes/MEC), pelas fundaes estaduais de amparo pesquisa e por empresas como a Petrobras (De Negri, Cavalcante e Alves, 2013). De fato, estima-se, pelos investimentos realizados, que a infraestrutura de pesquisa cientfica e tecnolgica disponvel no pas esteja, hoje, muito mais atualizada do que h alguns anos.

A despeito disso, inexistia no pas, at recentemente, um esforo articulado para realizar um diagnstico consistente da situao atual da infraestrutura de pesquisa cientfica e tecnolgica no pas, em suas universidades e centros de pesquisa, tampouco da infraestrutura existente nas instituies de pesquisa vinculadas ao Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI). Esse trabalho visa preencher essa lacuna ao analisar o sistema de C&T no Brasil a partir da infraestrutura disponvel nesse sistema.

Os principais objetivos do projeto so, portanto:

levantar a situao e as condies de uso da infraestrutura de pesquisa no pas, a fim de identificar quais os principais gargalos e carncias de investimento;

subsidiar os formuladores de polticas com informaes detalhadas que possam guiar os investimentos governamentais na rea;

fornecer comunidade cientfica e tecnolgica e s empresas o acesso, pela internet, a informaes sobre as infraestruturas de pesquisa existentes, sua localizao, possibilidades e condies de uso;

fomentar parcerias entre instituies, instituio cientfica e tecnolgica (ICT) e empresas;

fornecer elementos para a avaliao e o acompanhamento das polticas voltadas ampliao e recuperao da infraestrutura de pesquisa;

criar um instrumento de gesto para as prprias instituies de pesquisa e universidades brasileiras; e

construir um banco de dados dinmico que permita o acompanhamento sistemtico e a produo de relatrios peridicos sobre o parque nacional de pesquisa.

Os resultados obtidos so apresentados neste livro sob diversas abordagens, e buscam contribuir para o melhor conhecimento, por parte do Estado, da comunidade cientfica e da sociedade, da capacidade de pesquisa existente nas instituies brasileiras.

10. O CT-Infra foi criado para viabilizar a modernizao e ampliao da infraestrutura e dos servios de apoio pesquisa desenvolvida em instituies pblicas de ensino superior e de pesquisas brasileiras, por meio, por exemplo, de criao e reforma de laboratrios e compra de equipamentos, entre outras aes.

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 17

Este captulo apresenta os aspectos metodolgicos do projeto e os principais resultados alcanados com o levantamento. Alm desta introduo, o captulo est dividido em trs sees. Na prxima seo, expem-se as definies e a metodologia utilizada para o levantamento dos dados junto s instituies de pesquisa, a par de detalhes sobre o questionrio aplicado. Na seo 3, aps uma descrio do universo de anlise e do escopo da pesquisa, so apresentadas informaes que ajudam a melhor caracterizar a infraestrutura de pesquisa cientfica e tecnolgica brasileira. A ltima seo busca sumariar os resultados da pesquisa.

2 ASPECTOS METODOLGICOS DO PROJETO

Um trabalho como esse, realizado em parceria entre diversas instituies e cujo ob-jetivo gerar dados primrios e inditos sobre infraestruturas de pesquisa, a respeito das quais se tem pouca ou nenhuma informao, envolve uma srie de definies.

Em primeiro lugar, preciso definir claramente os conceitos utilizados, uma vez que o objeto de anlise novo, pelo menos para o pas. Nesse sentido, a prxima subseo apresenta alguns dos principais conceitos empregados no projeto, bem como consideraes sobre a representatividade da amostra analisada.11 A subseo seguinte apresenta o processo de coleta e tratamento das informaes usado para a construo da base de dados.

2.1 Escopo do levantamento12

O primeiro conceito relevante, o qual serviu de base a esse levantamento, diz respeito unidade de anlise do projeto. Ela ser a infraestrutura de pesquisa, considerada como o conjunto de instalaes fsicas e condies materiais de apoio (equipamentos e recursos) utilizados pelos pesquisadores para a realizao de atividades de P&D.13 Esse conceito envolve desde as instalaes fsicas (imveis) que abrigam os equipamentos at recursos de tecnologia da informao (TI), alm dos prprios equipamentos e instrumentos empregados. Os laboratrios so as infraestruturas mais comuns, e por isso foram o foco inicial do projeto, mas tambm so consideradas como infraestruturas de pesquisa as plantas-piloto, biotrios, salas limpas, redes de informtica de alto desempenho, bases de dados,

11. Os conceitos adotados neste trabalho e que eram essenciais ao preenchimento do formulrio de coleta de dados foram explicitados no glossrio preparado pela equipe do projeto para esclarecer os respondentes do questionrio. 12. O processo de preparao do questionrio envolveu um esforo da equipe do projeto em definir claramente os conceitos que seriam utilizados no decorrer do questionrio. Nesse sentido, foi preparado um glossrio, que ficou disposio do respondente (coordenador ou responsvel pela infraestrutura), a fim de esclarecer eventuais dvidas sobre o processo de preenchimento. 13. Essa definio foi elaborada pela equipe envolvida no projeto a partir do conceito empregado no projeto Mapping of the European Research Infrastructure landscape (Meril), patrocinado pela Comisso Europeia no mbito do Framework Programme 7 (FP 7).

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil18 |

colees, bibliotecas especializadas, observatrios, telescpios, navios de pesquisa, reservas e estaes experimentais, entre outras.

Muito provavelmente, o conjunto de informaes relevantes para caracterizar um biotrio diferente daquele que melhor caracteriza uma biblioteca, um labo-ratrio, ou ainda uma coleo biolgica. No caso de um biotrio, mais relevante saber informaes sobre quais so e qual a procedncia dos animais criados, alm das condies sanitrias do local certificaes, por exemplo. No caso de uma co-leo biolgica, importante saber sobre as espcies catalogadas; enquanto no caso de um laboratrio mais pertinente saber quais equipamentos esto disponveis e qual o perfil da equipe de pesquisadores do laboratrio. Em sntese, no possvel que um questionrio nico caracterize infraestruturas to diferentes quanto essas.

Por essa razo, essa diversidade de tipos de infraestruturas de pesquisa levou ao primeiro recorte relevante no escopo do projeto. Na sua primeira fase, ele foi ajustado para compatibilizar alguns tipos de infraestruturas cujas similaridades, do ponto de vista das informaes relevantes a serem levantadas, permitissem a aplicao de um questionrio nico. Sendo assim, foram levantadas apenas infor-maes de laboratrios; estaes ou redes de monitoramento; navios de pesquisa ou laboratrios flutuantes; e plantas ou usinas-piloto. Todas essas infraestruturas possuem elementos similares que as caracterizam e que poderiam ser captados pelo questionrio nico.

Outro recorte importante diz respeito rea do conhecimento, dado que algumas reas so mais intensivas em infraestrutura laboratorial e equipamentos do que outras. Dessa forma, o questionrio foi aplicado em infraestruturas de pesquisa nas reas de cincias exatas e da terra, cincias biolgicas, engenharias, cincias da sade e cincias agrrias. Mesmo com a informao explcita desse foco, verificou-se que algumas respostas foram de laboratrios de pesquisa nas reas de cincias humanas ou sociais. Essas observaes foram, portanto, retiradas da anlise feita neste livro.

O ltimo recorte relevante diz respeito ao tipo de instituio convidada a responder o questionrio da pesquisa. O projeto teve como foco as infraestruturas de pesquisa sediadas no pas, em universidades e instituies de pesquisa, pblicas e privadas, o que tambm inclui as unidades de pesquisa vinculadas ao MCTI.14

Assim, a populao de interesse desse mapeamento foi definida como infraes-truturas de pesquisa sediadas no Brasil, em universidades e instituies de pesquisa, pblicas e privadas, nas reas das cincias exatas e da terra, cincias biolgicas,

14. Essas instituies participaram do projeto-piloto, em 2012, quando a Assessoria de Acompanhamento e Avaliao do MCTI realizou o que seria a primeira etapa desse projeto. Essa etapa consistiu no levantamento de informaes sobre a infraestrutura disponvel nas instituies de pesquisa do MCTI (De Negri et al., 2013).

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 19

engenharias, cincias da sade e cincias agrrias e, por fim, que fossem do tipo: i) laboratrio; ii) estao ou rede de monitoramento; iii) navio de pesquisa ou laboratrio flutuante; e iv) planta ou usina piloto.

Aps essas definies, a etapa seguinte seria elencar as infraestruturas de pesquisa que se enquadrassem nesse escopo. Como se trata de um levantamento absolutamente indito, no existe um registro do universo de infraestruturas de pesquisa no pas. No se dispe de uma listagem ou base de dados oficial que con-solide essas informaes no pas e permita a identificao mais precisa possvel das infraestruturas que seriam alvo da pesquisa. Reside neste ponto uma dificuldade operacional real, tanto para a estimao do tamanho da populao de infraestruturas de pesquisa do pas quanto para o levantamento de quais infraestruturas seriam convidadas a responder o questionrio.

Este trabalho buscou minimizar essa limitao pela utilizao de buscas nos stios na internet das principais universidades e centros de pesquisa, pbli-cos e privados, do pas. Com esta finalidade, ao longo do primeiro semestre de 2013, foi conduzido, pelo Ipea, um trabalho exploratrio por meio de buscas documentais para a identificao das infraestruturas de pesquisa que pudessem participar do levantamento. Nessa explorao inicial, foi possvel perceber que so rarssimos os casos no pas de instituies de pesquisa ou universidades que dispem de um levantamento exaustivo e atualizado sobre o nmero e as carac-tersticas de seus laboratrios.

Alm da visita aos sites das principais universidades e instituies de pesquisa brasileiras, a busca dessas infraestruturas tambm se concentrou em instituies cujas pesquisas pudessem ser de interesse de algumas das reas prioritrias definidas nos documentos oficiais do MCTI.15 Entre as reas selecionadas como prioritrias esto: petrleo e gs; sade; defesa; tecnologias da informao e comunicao (TICs); aeronutica; agropecuria; e energias renovveis.16 Para tanto, pesquisadores do Ipea com experincia em cada uma dessas reas indicaram instituies e departamentos prioritrios para a busca, com base nas pesquisas sobre esses temas.

Foram identificadas inicialmente 1.920 infraestruturas, vinculadas a apro-ximadamente 180 diferentes universidades e instituies de pesquisa, pblicas ou privadas. Para cada infraestrutura, foram buscadas as seguintes informaes: instituio e departamento de vnculo, cdigo da instituio no Diretrio de Insti-tuies e Infraestruturas de Pesquisa (DIIP) do CNPq, cadastro nacional de pessoa jurdica (CNPJ) da instituio, nome completo, telefone e e-mail do coordenador,17

15. Entre os quais pode ser citada a Estratgia Nacional de Cincia e Tecnologia 2012-2015 (Encti).16. Mesmo no sendo definida como rea prioritria na Encti, a rea de construo civil foi inserida no escopo do projeto ao longo do processo de buscas.17. As informaes sobre os coordenadores eram fundamentais, uma vez que estes seriam os respondentes da pesquisa.

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endereo do currculo do coordenador na Plataforma Lattes () e endereo do stio da infraestrutura na internet quando existente. Esses primeiros dados compilados pelo Ipea foram remetidos ao CNPq e constituram a amostra inicial que o sistema de coleta de dados do DIIP recebeu para o mapeamento.18

Para complementar esse primeiro levantamento, em agosto de 2013, foi encaminhada, pelo CNPq, uma carta aos dirigentes de pesquisa19 de todas as uni-versidades e instituies de pesquisa que se encontravam cadastradas no diretrio. A carta informava os dirigentes sobre a realizao do mapeamento e, ao encaminhar a relao de laboratrios e infraestruturas identificadas na instituio, solicitava que cada dirigente corrigisse, atualizasse e/ou complementasse a relao enviada. Os dirigentes tiveram cerca de um ms para complementar a relao de laboratrios.

As respostas recebidas nessa etapa alimentaram novas cargas de dados com-plementares e correes no sistema de coleta de dados do DIIP. Esse processo de ajuste da base de dados alimentada no sistema, realizado pelo Ipea e pelo CNPq, ocorreu ao longo de quase todo o perodo de preenchimento do mapeamento, e resultou em um nmero total de 4.857 infraestruturas20 convidadas a participarem da pesquisa, em 185 universidades e instituies distintas.

Nem todas as instituies complementaram a relao inicial de laboratrios encaminhada pela equipe do projeto, assim como nem toda universidade ou ins-tituio de pesquisa foi contemplada pelo levantamento inicial. Portanto, sabe-se que esse nmero no o universo dos laboratrios e demais infraestruturas de pesquisa existentes no Brasil. Entretanto, dado que foram consultadas todas as principais instituies brasileiras, bastante razovel supor que esse nmero no esteja muito distante do total.

Outra evidncia de que esse nmero bastante significativo a compara-o com outros pases. Um mapeamento similar feito nos Estados Unidos nos anos 1990 (Crow e Bozeman, 1998), por exemplo, identificou mais de 15 mil laboratrios. O critrio para o levantamento norte-americano era, contudo, mais restritivo e levava em conta apenas laboratrios com uma equipe de, no mnimo, vinte profissionais. Ainda assim, como a infraestrutura de pesquisa estadunidense muito maior que a brasileira, o nmero obtido pelo levantamento feito para o Brasil no parece estar muito distante da realidade do pas.

18. Por razes de segurana, o sistema no era aberto, e apenas os coordenadores ou responsveis pelas infraestruturas previamente cadastradas podiam, por meio de login e senha, acessar o formulrio.19. No caso de universidades, pr-reitores de pesquisa e, no caso de instituies de pesquisa, o dirigente mximo da instituio (diretor ou presidente).20. Embora os dirigentes de pesquisa tenham sido informados que o escopo inicial do projeto era apenas focado em infraestruturas das reas de cincias exatas e da terra, cincias biolgicas, engenharias, cincias da sade e cincias agrrias, em alguns casos as relaes retornadas incorporaram laboratrios de pesquisa das reas de cincias sociais aplicadas, cincias humanas, lingustica, letras e artes. As anlises desse livro no consideram estas infraestruturas.

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 21

Apesar de se acreditar que o conjunto das instituies e infraestruturas con-vidadas a participarem da pesquisa corresponda muito proximamente ao universo da infraestrutura de pesquisa brasileira, no possvel, do ponto de vista estatstico, considerar esse conjunto como o universo. Sendo assim, tambm no possvel afirmar categoricamente que no exista algum vis amostral, ou mesmo qual seria a taxa de resposta real obtida pela pesquisa.

possvel, sim, que existam algumas lacunas importantes, especialmente quando se consideram setores ou reas de atuao especficas. Essas lacunas podem afetar a descrio da infraestrutura de pesquisa instalada no pas nessas mesmas reas.21 Entretanto, provavelmente no afetam de modo significativo os resultados estatsticos obtidos nos artigos sobre as relaes entre infraestrutura laboratorial e produtividade ou entre a infraestrutura laboratorial e a interao com empresas, por exemplo.

No obstante, o que se pode afirmar com convico que a taxa de resposta obtida em relao ao total de instituies e infraestruturas convidadas a participarem do levantamento foi bastante significativa. Entre as 185 instituies convidadas, 130 participaram do levantamento, o que significa uma taxa de resposta prxima a 70% entre as instituies. Em termos da unidade de anlise, a infraestrutura de pesquisa, 2.119 responderam ao questionrio, o que corresponde a pouco mais de 40% do total.22 Em sntese, mesmo que o universo das infraestruturas laboratoriais de pesquisa no Brasil seja muito maior do que o estimado no pri-meiro levantamento o que no provvel , ainda assim, ter-se-ia uma amostra bastante representativa.

2.2 O questionrio e a coleta de informaes

O questionrio foi construdo segundo recomendaes j expressas na literatura, com o objetivo de minimizar o erro de medida23 e reduzir o ndice de no resposta. Neste sentido, foram adotadas, na elaborao do formulrio, as etapas a seguir enumeradas.

1) Foram fornecidas aos respondentes informaes sobre a amostra e o con-texto em que a pesquisa era conduzida (tema e instituies responsveis).

21. Um exemplo de lacuna importante nesse levantamento a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa), que, embora tenha sido convidada a participar reiteradas vezes, teve algumas dificuldades em incorporar todos os seus laboratrios ao levantamento. Em virtude disso, apenas uma pequena parcela de seus laboratrios preencheu o questionrio.22. A relao das instituies presentes no levantamento com suas respectivas infraestruturas encontra-se disponvel no apndice 2 deste captulo. 23. O erro de medida ou de mensurao o desvio das respostas dadas pelos seus verdadeiros valores de medida. Erros de medida em surveys autoadministradas podem surgir do respondente (falta de motivao, problemas de compreenso, distoro deliberada) ou do instrumento (m redao ou design, problemas tcnicos).

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2) O instrumento foi redigido em linguagem clara e concisa, de modo a propiciar a leitura correta das questes e das alternativas de resposta, quando era o caso.

3) Foi realizado um pr-teste em duas etapas. Em primeiro lugar, foi feito o pr-teste do contedo do questionrio por ocasio da prpria etapa--piloto com as unidades de pesquisa do MCTI (De Negri et al., 2013),24 de tal modo que a equipe responsvel, de um lado, tivesse condies de observar como as questes foram interpretadas pelos respondentes e, de outro, como as sugestes para melhoria do instrumento recebidas poderiam ser incorporadas nesta etapa do projeto.

4) Por ocasio da implementao do instrumento como web survey, foram realizados novos pr-testes em relao ao mtodo de coleta de dados. A aplicao do pr-teste nesta fase permite: estimar a distribuio das principais questes; checar a consistncia do leiaute; checar o survey com diferentes browsers, configuraes, servidores de e-mail e sistemas operacionais; e identificar questes que pudessem estar gerando dvi-das de maior ou menor gravidade junto aos respondentes. No caso de web surveys, esta etapa de fundamental importncia, uma vez que, ao transpor o material para a web, possvel que o contedo funcione bem em uma plataforma mas no em outra. Esse pr-teste foi realizado pelas equipes do MCTI e do Ipea envolvidas nos projetos entre os meses de maro e junho de 2013, e os ajustes solicitados foram realizados pela equipe responsvel pelo desenvolvimento no CNPq. O web survey foi redesenhado tantas vezes quanto necessrio antes de ser disponibilizado para o preenchimento da amostra ampla.

5) Tambm nesse mesmo perodo as equipes do MCTI e CNPq atuaram na redao de um mdulo de frequently asked questions (FAQ), de um glossrio e de um manual do usurio, os quais foram tambm hospedados no stio do CNPq ().

6) O design adotado para o web survey aproveitou-se da identidade corporativa da Plataforma Lattes do CNPq, j bastante conhecida dos pesquisadores do pas, e identificou as instituies envolvidas.

7) Todas as questes condicionadas a respostas prvias tiveram os saltos necessrios preestabelecidos via programao, evitando assim que o respondente tivesse que passar por telas sem uso para eles.

24. Na etapa-piloto o questionrio foi aplicado e preenchido em papel, de tal modo que esta fase serviu apenas como teste do contedo do questionrio, e no da plataforma informatizada.

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 23

8) Com objetivo de passar confiabilidade ao respondente, no e-mail de convite participao foram informados os objetivos da pesquisa e fornecidas informaes de contato da equipe de coordenao para sanar eventuais dvidas.

9) Como o controle de acesso foi feito via senha de cada coordenador para acesso Plataforma Lattes, a qual contava com um pr-cadastro dos res-pondentes j associados s infraestruturas das quais eram coordenadores, assegurou-se assim a existncia de um mecanismo de autenticao que evitasse respostas mltiplas.

O questionrio foi elaborado em cinco mdulos. O primeiro, de caracterizao, buscava trazer informaes gerais sobre a infraestrutura, como identificao, nome do coordenador, descrio e linhas de pesquisa, alm do tipo de infraestrutura se laboratrio, estao ou rede de monitoramento, navio de pesquisa ou laboratrio flutuante, e planta ou usina-piloto.

O segundo mdulo, sobre a atuao da infraestrutura, era voltado para iden-tificar tanto a(s) grande(s) rea(s) do conhecimento de atuao da infraestrutura quanto suas reas e subreas, assim como as linhas de pesquisa.

O terceiro mdulo do web survey era dedicado identificao da equipe atuante no laboratrio, incluindo pesquisadores, tcnicos e estudantes. Para preencher as informaes sobre os pesquisadores, bastava que os respondentes buscassem pelo nome ou pelo cadastro de pessoas fsicas do Ministrio da Fazenda (CPF/MF) em uma janela integrada base Lattes, de modo que o survey coletava na verdade o endereo de currculo Lattes de cada pesquisador. Uma vez selecionados os endereos devidos, o coordenador deveria ainda informar para cada um dos pesquisadores o tipo de vnculo existente com o laboratrio isto , se servidor, celetista, bolsista ou pesquisador visitante e o tempo semanal de dedicao de cada um deles infraestrutura. Para a indicao da equipe tcnico-administrativa, foi solicitado apenas que fosse informado o quantitativo de membros da equipe por nvel de qualificao (doutor, mestre, especialista, graduado ou nvel mdio/tcnico) e por tipo de vnculo (servidor/funcionrio, prestador de servio ou terceirizado, ou outros tipos de vnculos). Havia uma indicao expressa no questionrio para que bolsistas de iniciao pesquisa (Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica Pibic/CNPq etc.) e de formao e qualificao (aperfeioamento/especializao/treinamento, doutorado, doutorado sanduche no pas, mestrado ou ps-doutorado) fossem contabilizados como estudantes, os quais deveriam ter o seu quantitativo total informado to somente por nvel de formao.

Informaes sobre os principais equipamentos e softwares da estrutura de-veriam ser detalhadas no quarto mdulo do formulrio. Optou-se por considerar exclusivamente equipamentos com valor superior a R$ 100 mil. Alm de algumas

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informaes sobre os equipamentos (tipo, nome e custo de aquisio, por exemplo), os respondentes foram ainda solicitados a indicar a situao atual do equipamento (em instalao, em operao ou inoperante), seu estado (atualizado, desatualizado e obsoleto) e a entidade financiadora de sua aquisio. Para o caso dos softwares, eram obrigatrias as questes sobre o tipo de licenciamento, classificao, nome, custo de licenciamento e tambm entidade financiadora.

Por fim, o ltimo mdulo focava a avaliao da situao atual da infraestru-tura. Procurou-se nesta etapa levantar informaes sobre as principais atividades desenvolvidas (pesquisa, ensino, desenvolvimento de tecnologias, prestao de servios tecnolgicos, extenso tecnolgica) e a intensidade de uso da infraestrutura para cada uma dessas atividades (contnua, alguns dias da semana, alguns dias do ms, ou espordica). Neste mesmo mdulo, os coordenadores deveriam indicar se o laboratrio era aberto utilizao por usurios externos e se existiam polti-cas de acesso e procedimentos para sua utilizao. Os respondentes foram ainda questionados em relao quantidade de usurios externos da infraestrutura no ano de referncia (2012).

Os tipos de cooperao desenvolvidos com a participao relevante da infra-estrutura e o grau de importncia de cada tipo tambm foram questionados neste mdulo do questionrio, assim como a prestao de servios tcnico-cientficos por parte do laboratrio. O mdulo seguiu indagando os usurios sobre a acredi-tao do laboratrio, bem como sobre as modalidades para as quais o laboratrio seria acreditado.

Informaes sobre o valor estimado da infraestrutura, bem como dados so-bre suas fontes de receitas e custos operacionais tambm foram levantados nesse quarto mdulo.25 Por fim, o questionrio tambm buscou trazer uma avaliao mais subjetiva do coordenador sobre as condies atuais da infraestrutura pesquisada. Nesse sentido, foi perguntado ao coordenador como ele avaliava a infraestrutura em relao s melhores infraestruturas mundiais do gnero, quais as condies de equipamentos e equipe tcnica e quando foi realizado o ltimo investimento de vulto naquela infraestrutura.

Os dados foram coletados por meio de um questionrio do tipo web survey autoadministrado pelos respondentes, o qual foi hospedado no Diretrio de Instituies da Plataforma Lattes do CNPq.

25. Verificou-se grande dificuldade dos coordenadores dos laboratrios para responder s questes sobre os custos operacionais e as fontes de receitas dessas infraestruturas. De fato, os laboratrios no constituem centros de custos em grande parte das instituies da amostra e, portanto, tanto receitas como custos de operao so tratados de forma mais agregada pela instituio.

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 25

Em relao coleta, a primeira considerao relevante diz respeito a quem prestaria as informaes relativas aos laboratrios e demais tipos de infraestrutu-ras de pesquisa. Partiu-se do pressuposto de que, em toda infraestrutura, haveria um coordenador ou responsvel capaz de prestar tais informaes, necessrias ao levantamento. O coordenador seria, portanto, o respondente do questionrio.

Para efeitos do projeto, o coordenador o responsvel, junto administra-o superior da instituio, pelo gerenciamento do laboratrio/infraestrutura.26 O coordenador , dessa maneira, o sujeito responsvel pelo gerenciamento do laboratrio, pela superviso da equipe, pela interlocuo com outras instituies, e pela organizao dos projetos de pesquisa executados no laboratrio.

Em 16 de setembro de 2013, foram enviadas aos coordenadores as mensa-gens com convite participao no mapeamento. Assim como no caso da carta aos dirigentes de pesquisa, a mensagem informava os objetivos do mapeamento e transmitia orientaes sobre o acesso ao questionrio usado para a coleta de dados. O ano de referncia da pesquisa era 2012, de modo que os coordenadores foram informados de que deveriam considerar os dados referentes a este ano-base em todas as suas respostas.

Como as informaes que associavam cada infraestrutura de cada instituio a seu coordenador j estavam pr-carregadas no sistema, para preencher o formulrio bastava que cada coordenador acessasse o link , informasse seu CPF, sua senha do currculo Lattes e seguisse as instrues dispo-nveis no sistema e nas pginas de suporte. Alm dos cones de ajuda e tooltips disponveis no prprio sistema de coleta, a estrutura de suporte ao preenchimento inclua ainda um telefone de helpdesk no CNPq e um e-mail especfico, para que as dvidas fossem sanadas pela equipe do Ipea envolvida diretamente no projeto.

O prazo inicialmente estabelecido para o preenchimento do formulrio era 30 de outubro de 2013, mas decidiu-se prorrogar para o dia 15 de dezembro do mesmo ano, como informado em mensagem enviada no dia 3 de novembro. Ao longo desse perodo, mensagens com orientaes quanto s principais dvidas encaminhadas aos canais de atendimento foram enviadas, assim como lembretes quanto ao prazo final de preenchimento. Ao fim deste perodo, 2.119 infraestruturas de 130 diferentes instituies concluram o preenchimento e realizaram o envio eletrnico dos formulrios completos ao CNPq. A construo da base de dados resultante desse processo foi feita ao longo do primeiro quadrimestre de 2014, sobre a qual mais detalhes so expostos na prxima subseo.

26. Definio elaborada pela equipe do projeto e que est presente no glossrio que ficou disponvel para consulta no site do CNPq (apndice 1, grifo nosso).

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil26 |

2.3 A base de dados e as tabulaes setoriais

Encerrado o perodo de coleta de dados, o CNPq remeteu ao Ipea e ao MCTI um conjunto de tabelas em formato xml27 que reunia as informaes coletadas sobre as infraestruturas brasileiras. Essas informaes diziam respeito aos 2.119 questionrios que foram preenchidos na sua totalidade28 e serviram de suporte para a construo da base de dados.

TABELA 1Nmero de infraestruturas que participaram do levantamento segundo tipo

Tipo de infraestrutura Nmero de questionrios

Estao ou rede de monitoramento 8

Estufa, cmara de crescimento ou viveiro 1

Laboratrio 1.785

Navio de pesquisa ou laboratrio flutuante 1

Observatrio 13

Planta ou usina-piloto 20

Total das infraestruturas de interesse 1.828

Base de dados 3

Biblioteca ou acervo 6

Biotrio 5

Centro de computao cientfica, datacenter ou infraestrutura de TI 56

Coleo de recursos biolgicos 16

Coleo de recursos minerais 4

Estao ou fazenda experimental 7

Laboratrio de informtica para uso didtico 58

Outro 136

Total 2.119

Fonte: Dados da pesquisa.

Alguns recortes foram feitos na base de dados utilizada nas anlises elaboradas neste livro. Em primeiro lugar, entre as 2.119 infraestruturas cadastradas, 1.828 pertenciam s categorias de interesse da pesquisa, como indica a tabela 1. Assim, foram excludas as 291 infraestruturas classificadas em categorias que no poderiam ser caracterizadas adequadamente pelo questionrio elaborado (bases de dados,

27. Do ingls eXtensible Markup Language, uma linguagem de marcao para a criao de documentos com dados organizados hierarquicamente, tais como textos, banco de dados ou desenhos vetoriais.28. Casos de coordenadores que apenas iniciaram o processo de preenchimento mas que no selecionaram a opo enviar ao CNPq no foram considerados nessa anlise.

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 27

colees, bibliotecas, biotrios, entre outros). Fica claro que, embora se tenha em mente aqui um conceito amplo de infraestrutura de pesquisa, na prtica esta diz respeito, principalmente, a laboratrios, os quais formam a grande maioria (84%) das infraestruturas de pesquisa existentes.

Alm desse recorte inicial, entre as 1.828 infraestruturas restantes, foram retiradas 68 infraestruturas distintas, pertencentes exclusivamente a grandes reas de conhecimento que estavam alm do escopo dessa primeira etapa do levantamento.29 Portanto, aps a aplicao desses filtros, restaram 1.760 infra-estruturas, que compuseram a base principal utilizada para as anlises do pro-jeto. Essa base contava, portanto, com 1.760 registros (linhas) e 110 variveis criadas a partir do questionrio e que tinham a infraestrutura de pesquisa como unidade de anlise.

Outras tabelas auxiliares, que focalizavam aspectos especficos do questionrio, foram construdas para essas 1.760 infraestruturas. A caracterstica principal dessas tabelas auxiliares e a razo de elas ficarem separadas da base principal que poderia haver mais de um registro associado a cada infraestrutura de pesquisa. Todas essas tabelas que compunham a base de dados eram relacionadas por uma chave de ligao nica para cada uma das 1.760 infraestruturas da amostra.

As tabelas auxiliares so:

rea do conhecimento. Constam nessa tabela as informaes das reas de conhecimento, subreas, especialidades e subespecialidades informadas por cada infraestrutura. A mesma infraestrutura pode ter informado mais de uma rea (subrea ou especialidade) de atuao.

Modalidade de acreditao. Contm as variveis relacionadas acreditao da infraestrutura para diversos tipos de atividades. Assim como na tabela anterior, uma mesma infraestrutura pode ser acreditada em mais de uma modalidade. Por isso essa questo ficou na tabela auxiliar.

Coordenador. Com informaes sobre a titulao e origem (pas de nas-cimento) dos coordenadores das infraestruturas da amostra.

Equipamentos. Consolida informaes sobre os equipamentos existentes nas infraestruturas e reportados no formulrio de coleta de dados, tais como tipo de equipamento, situao e estado atual. Nessa tabela, cada equipamento acima de R$ 100 mil constitui um registro.

29. Como a mesma infraestrutura poderia se enquadrar em mais de uma grande rea do conhecimento, permaneceram na base os casos em que uma mesma infraestrutura se enquadrava em cincias humanas e em cincias agrrias ao mesmo tempo.

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Pesquisador. Assim como na tabela Coordenador, rene informaes sobre a titulao e origem (pas de nascimento) dos pesquisadores em atuao nas infraestruturas da amostra e indicadas pelos respondentes no questionrio. Constavam adicionalmente informaes sobre o tem-po efetivo de dedicao semanal dos pesquisadores infraestrutura e o tipo de vnculo existente com a instituio que abriga a infraestrutura. A tabela, na qual cada registro um pesquisador, foi, posteriormente, reunida com as informaes provenientes da Plataforma Lattes. Dessa forma, foi possvel analisar o perfil e a produo dos pesquisadores asso-ciados s infraestruturas.

Prestao de servios. As variveis indicam os tipos de servios prestados pelas infraestruturas e quais os clientes indicados para cada um desses servios.

Software. Informaes sobre os principais softwares utilizados nas in-fraestruturas sobre o seu desenvolvimento, tipo de licenciamento e classificao.

Setor de aplicao. Esta tabela continha quais seriam, na viso do coorde-nador da infraestrutura, os setores de atividade econmica nos quais as pesquisas conduzidas pelo laboratrio poderiam ser aplicadas, segundo a Classificao Nacional de Atividades Econmicas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (CNAE/IBGE).

Alm das informaes coletadas por meio do formulrio eletrnico, algumas dessas tabelas foram associadas a duas outras bases de dados existentes e ligadas cincia e tecnologia no pas: Plataforma Lattes e a base de patentes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).30 A partir da associao das bases Coordenador e Pesquisador, buscou-se identificar os dados de produo cientfica de cada pesquisador e coordenador na base da Plataforma Lattes e os pedidos de patentes efetuados no INPI. Para as associaes com a Plataforma Lattes, foi usado o id CNPq dos pesquisadores e coordenadores. J a identificao dos inventores e sua associao a cada uma das infraestruturas analisadas foram realizadas por meio do cruzamento das informaes contidas na base de dados de depsito de patentes do INPI e da DIIP em duas etapas, inicialmente pelo nmero do CPF dos pesquisadores e coordenadores e, em seguida, por busca lexicogrfica, em metodologia desenvolvida por Miranda e Zucoloto (2014).

Uma vez concludo o trabalho de constituio e checagem da base de dados, foram geradas as tabelas que caracterizam as infraestruturas de pesquisa brasileiras, algumas delas analisadas na prxima seo.

30. Foi usado o perodo entre 2007 e 2011.

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 29

Alm disso, a fim de realizar uma anlise sobre alguns dos principais sistemas setoriais de inovao no Brasil sob a tica da infraestrutura de pesquisa disponvel, as infraestruturas foram classificadas segundo setor de atividade no qual suas pes-quisas poderiam ser aplicadas. Optou-se por analisar alguns sistemas setoriais de inovao, particularmente nos seguintes setores: i) defesa; ii) sade; iii) leo e gs; iv) tecnologias da informao e da comunicao; v) aeronutico; vi) agropecurio; e vii) energias renovveis. Ao longo do projeto, durante os debates da equipe, tambm foi sugerida uma anlise dos laboratrios de interesse para o setor de construo civil, que foi assim inserido no conjunto dos setores analisados.

A classificao dos laboratrios e demais infraestruturas nos setores de atividade foi feita a partir de duas abordagens complementares.31 A primeira consistiu em selecionar as infraestruturas que responderam ser suas pesquisas aplicveis quele setor de atuao. O respondente da pesquisa enumerava, num primeiro momento, as diferentes linhas de pesquisa conduzidas naquela infraestrutura. Depois disso, para cada uma delas, o coordenador selecionava qual o setor de aplicao daquela pesquisa, a partir de uma tabela de setores predefinida com base na CNAE. Para alguns setores em particular, como defesa, cujos produtos esto dispersos no setor de mquinas e equipamentos e aeronutico, entre outros, essa abordagem foi pouco til.

A segunda abordagem utilizada foi a seleo das infraestruturas nas insti-tuies de relevo para cada setor: o Instituto Tecnolgico de Aeronutica (ITA), no caso da aeronutica; a Embrapa, no setor agropecurio; a Fundao Oswaldo Cruz(Fiocruz), na sade; os institutos de pesquisa ligados s Foras Armadas, no caso da defesa etc. No caso do setor de petrleo e combustveis, tambm foi aproveitado um levantamento anterior32 de laboratrios e instituies que desenvol-veram projetos de pesquisa em conjunto com a Petrobras. Alm disso, os prprios especialistas responsveis pela redao de cada um dos estudos setoriais realizaram, com base no seu conhecimento prvio do setor, a anlise e a seleo de laboratrios e infraestruturas de interesse que porventura estivessem de fora da seleo anterior. O nmero de infraestruturas selecionadas depois dessa anlise, em cada setor de atividade, apresentado na tabela 2.

31. Mais detalhes sobre a metodologia de classificao esto disponveis nos respectivos captulos setoriais. 32. O levantamento foi realizado pelo Ipea a partir do cadastro de projetos de pesquisa realizados pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento(Cenpes) da Petrobras, em parceria com universidades e institutos de pesquisa no Brasil (Turchi, De Negri e De Negri, 2013).

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TABELA 2Nmero de infraestruturas de interesse para a anlise dos sistemas setoriais de inovao

reas Nmero de infraestruturas

Sade 412

Petrleo e gs 117

Defesa 44

Aeronutico 204

TIC 191

Energias renovveis 100

Agropecuria 284

Construo civil 52

Fonte: Dados da pesquisa.

Uma vez definida a relao de infraestruturas que seriam analisadas em cada um dos captulos setoriais, a coordenao do projeto elaborou e encaminhou um conjunto padro de tabulaes para os autores. A elaborao centralizada desse conjunto de tabelas garantiria um mnimo de homogeneidade metodolgica aos trabalhos, fundamental para a comparao entre os diferentes captulos setoriais. Alm desse conjunto de informaes, a coordenao do projeto tambm sugeriu um roteiro de anlise a ser seguido por estes autores, dentro do possvel, que incluiu os elementos descritos a seguir.

1) Anlise sobre o sistema setorial de inovao em outros pases.

2) Seo com a descrio desse sistema no Brasil, que deveria trazer uma breve abordagem histrica, alm de uma anlise dos principais agentes (empresas e instituies de pesquisa) e polticas.

3) luz desses elementos, a ltima seo deveria conter a anlise da infra-estrutura de pesquisa disponvel nas instituies de pesquisa brasileiras ligadas com aquele sistema setorial. Essa anlise conteria caractersticas gerais da infraestrutura, recursos humanos e equipamentos disponveis, atividades desenvolvidas, a par da avaliao subjetiva dos coordenadores de laboratrios sobre a situao daquelas infraestruturas.

3 INFRAESTRUTURA CIENTFICA E TECNOLGICA NO BRASIL: ANLISES PRELIMINARES

Nesta seo so expostas as anlises elaboradas a partir da base de dados composta pelas 1.760 infraestruturas da amostra final utilizada no projeto.

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3.1 Caracterizao geral

Inicialmente, oportuno destacar que a maior parte dos laboratrios (56,7%) afirma ter tido suas atividades iniciadas nos anos 2000. Esse dado parece estar relacionado ao ciclo recente de investimentos do pas em cincia, tecnologia e inovao.33 Ou seja, boa parte da infraestrutura de C&T no Brasil foi cons-tituda nas ltimas duas dcadas, sugerindo uma infraestrutura relativamente nova. Chama ateno nesse sentido que, entre 2010 e 2012, foi inaugurada aproximadamente metade do nmero de laboratrios inaugurados durante toda a dcada anterior.

TABELA 3Nmero de infraestruturas mapeadas segundo ano de incio de operao

Incio de operao Nmero de infraestruturas (%)

Antes de 1970 50 2,8

De 1970 a 1979 110 6,3

De 1980 a 1989 193 11,0

De 1990 a 1999 410 23,3

De 2000 a 2009 654 37,2

De 2010 a 2012 343 19,5

Total 1.760 100

Fonte: Dados da pesquisa.

Outro dado que aponta para o mesmo sentido a indicao do ltimo ano no qual cada infraestrutura teve investimentos significativos em ampliao ou modernizao.34 Conforme mostra o grfico 1, mais de 70% dos respondentes informaram que as infraestruturas passaram por investimentos significativos h menos de cinco anos, e boa parte destes informou que o ltimo investimento significativo foi feito h menos de um ano.

33. De forma mais especfica, o Fundo de Infraestrutura, CT-Infra, foi institudo pela Lei no 10.197, de 14 de fevereiro de 2001, e regulamentado pelo Decreto no 3.087, de 26 de abril de 2001, com o objetivo de fortalecer a infraestrutura e servios de apoio pesquisa tcnico-cientfica desenvolvida em instituies pblicas de ensino superior e de pesquisa brasileiras, criando um ambiente competitivo e favorvel ao desenvolvimento cientfico e tecnolgico equilibrado, e capaz de atender s necessidades e oportunidades da rea de C&T. 34. No questionrio, deixava-se claro para o respondente que investimentos significativos eram entendidos como aqueles no valor de, pelos menos, 10% do valor estimado para a infraestrutura.

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil32 |

GRFICO 1Nmero de infraestruturas segundo perodo de realizao do ltimo investimento significativo em modernizao ou ampliao

0

100

200

300

400

500

600

700

800

At 1 ano Entre 1 e 5 anos Entre 5 e 10 anos Entre 10 e 15 anos No houve

Fonte: Dados da pesquisa.

A distribuio regional dessas infraestruturas exposta na tabela 4, que possui tambm a rea fsica instalada por regio. H uma concentrao expressiva entre as infraestruturas respondentes no Sudeste (57%) e Sul (23%) do pas. Este mesmo cenrio se repete em relao ao total de rea fsica, com 87% da rea fsica total indicada nas respostas nas regies mencionadas. Nesse mesmo item, observa-se que a rea fsica mdia nessas regies maior que nas demais, indicando possivelmente que as infraestruturas nacionais de maior escala esto no eixo Sul-Sudeste.

TABELA 4Nmero de infraestruturas e rea fsica total por regio geogrfica

Regio Nmero de infraestruturas rea fsica (m)

Centro-Oeste 113 16.211,18

Nordeste 170 22.828,88

Norte 54 8.990,16

Sudeste 1.004 237.438,27

Sul 419 76.045,48

Total 1.760 361.513,97

Fonte: Dados da pesquisa.

Ainda nas questes iniciais de caracterizao, os respondentes foram solicita-dos a indicar a que grandes reas do conhecimento as atividades da infraestrutura sob sua responsabilidade estariam associadas, tendo sido permitida a indicao de mais de uma grande rea. Isso explica o fato de que a soma nessa tabela maior

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 33

que o total de infraestruturas. Mais de 30% das infraestruturas pesquisadas (658) situam-se na rea das engenharias. Em seguida, destacam-se as cincias exatas e da terra, com 26% das infraestruturas, e as cincias biolgicas, com 22%.

TABELA 5Distribuio das infraestruturas por grande rea do conhecimento

Grande rea Nmero de infraestruturas (%)

Cincias agrrias 277 13,30

Cincias biolgicas 459 22,05

Cincias exatas e da terra 545 26,18

Cincias da sade 143 6,87

Engenharias 658 31,60

Total1 2.082 100,00

Fonte: Dados da pesquisa.Nota: 1 A soma desta tabela maior do que o nmero total de infraestruturas, pois, nessa questo, os coordenadores poderiam

escolher mais de uma rea do conhecimento como rea predominante naquela infraestrutura.

O nmero total de pesquisadores distintos atuando nessas 1.760 infraestru-turas de 7.090, o que j evidencia uma das caractersticas mais contundentes da infraestrutura de pesquisa no Brasil: o tamanho limitado dos laboratrios. Em mdia, cada laboratrio abriga apenas cerca de quatro pesquisadores. A titulao desses pesquisadores est disposta na tabela 6. Mais de 88% desses pesquisadores possuem ps-graduao (mestrado acadmico ou profissionalizante ou doutorado), e 72% so doutores.

TABELA 6Nmero de pesquisadores atuando nas infraestruturas de pesquisa segundo titulao

Titulao mxima Total (%)

Curso de curta durao 17 0,2

Doutorado 5.137 72,5

Ensino mdio (2o grau) 92 1,3

Ensino profissional de nvel tcnico 40 0,6

Especializao 123 1,7

Especializao residncia mdica 2 0,0

Extenso universitria 5 0,1

Graduao 492 6,9

MBA 12 0,2

Mestrado 1.123 15,8

Mestrado profissionalizante 19 0,3

Outros 2 0,0

No informado 26 0,4

Total 7.090 100,0

Fonte: Dados da pesquisa.

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil34 |

Na tabela 7 apresenta-se a distribuio dos pesquisadores por tipo de vnculo com a respectiva instituio.35 A maior parte possui vnculos formais com as ins-tituies: 60% so servidores pblicos e 14% so celetistas, no sendo desprezvel na amostra, contudo, a quantidade de bolsistas.

TABELA 7Nmero de pesquisadores nas infraestruturas de pesquisa por tipo de vnculo com a instituio

Tipo de vnculo Total (%)

Bolsista 1.331 17

Celetista 1.098 14

Outro 535 7

Pesquisador visitante 227 3

Servidor pblico 4.867 60

Total 8.058 100

Fonte: Dados da pesquisa.

Os coordenadores tambm foram solicitados a indicar qual a carga horria semanal de dedicao dos pesquisadores infraestrutura. importante ressaltar que se buscou aqui verificar o tempo de efetivo exerccio de atividades nos labora-trios, no tendo sido consideradas, para essa resposta, as horas semanais dedicadas regncia de classe ou atividades administrativas de coordenao, por exemplo. As respostas dispostas na tabela 8 foram polarizadas: a maior parte dos pesquisa-dores atua por mais de trinta horas semanais na infraestrutura (54%), sendo este grupo seguido por aqueles que atuam apenas por at dez horas semanais (29%).

TABELA 8Nmero de pesquisadores nas infraestruturas de pesquisa, por tempo de dedicao infraestrutura

Tempo de dedicao Total (%)

At 10h semanais 2.311 29

Mais de 10h a 20h semanais 906 11

Mais de 30h semanais 4.371 54

Total 8.058 100

Fonte: Dados da pesquisa.

O funcionamento de infraestruturas de pesquisa no pode prescindir de equipes de apoio tcnico e administrativo para o desenvolvimento da atividade

35. Como alguns desses 7.090 pesquisadores atuam em mais de uma infraestrutura com diferentes vnculos possveis entre elas, o total da tabela 7 e da tabela 8 excede 7.090.

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 35

finalstica. Existem, nas infraestruturas de pesquisa que compem esse levantamento, aproximadamente 6 mil pessoas ocupadas em atividades de suporte pesquisa. Essas atividades vo desde a operao e manuteno de instalaes e equipamentos at atividades jurdicas e administrativas necessrias ao bom funcionamento dos laboratrios e demais infraestruturas de pesquisa. A maior parte (66%) composta por funcionrios ou servidores pblicos vinculados prpria instituio que abriga o laboratrio. Existem 15% de funcionrios terceirizados ou prestadores de servio, alm de 19% de pessoas com outros tipos de vnculo.

TABELA 9Nmero de membros das equipes de apoio tcnico e administrativo nas infraestruturas de pesquisa por tipo de vnculo

Tipo de vnculo Nmero (%)

Outro 1.137 19

Prestador de servio/terceirizado 891 15

Servidor/funcionrio 3.886 66

Total 5.914 100

Fonte: dados da pesquisa.

3.2 Principais atividades

Como um dos objetivos do projeto envolve analisar a relao das infraestruturas de pesquisa com empresas e sua atuao no desenvolvimento tecnolgico, uma das questes buscou investigar se a infraestrutura costumava prestar servios tecnolgicos para empresas, para outras instituies, ou mesmo para pesquisa-dores. Neste levantamento, considerou-se enquanto prestao de servios pelos laboratrios/infraestruturas a prestao de servio tecnolgico, de pesquisa ou de apoio inovao por meio de instrumento formal (acordo/convnio) e/ou mediante remunerao (grifo nosso).36

Quando questionadas de forma ampla, 69% das infraestruturas afirmaram que prestavam algum tipo de servio para algum dos clientes mencionados no questionrio (empresas, governos ou pesquisadores), como indica o grfico 2, o que um nmero bastante elevado, especialmente se levada em conta a definio de prestao de servios adotada no questionrio. Quando se trata de prestao de servios a empresas, esse nmero cai para 43% dos laboratrios, o que continua sendo um nmero bastante significativo.

36. Definio encontrada no glossrio e na ajuda do questionrio eletrnico por meio do qual foi feita a captao das respostas.

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil36 |

GRFICO 2Nmero de infraestruturas que prestam servios para empresas e para outros tipos de clientes

69

43

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Prestao de servios Prestao de servios a empresas

Fonte: Dados da pesquisa.

Uma questo adicional verificou em detalhes quais eram os servios tcnicos cientficos e os pblicos usualmente atendidos pelas infraestruturas em cada um desses servios. O questionrio permitia que fosse marcada pelo respondente mais de uma opo, tanto entre os servios como entre os diferentes pblicos (tabela 10).

Entre os servios prestados a empresas, o tipo mais citado, por 402 laborat-rios, foram os de consultoria e assessoria. A seguir, 364 laboratrios declararam que realizam ensaios e testes para empresas, servio este que tambm frequentemente prestado para pesquisadores. O nmero de laboratrios que declararam prestar esse servio para outros pesquisadores atingiu o total de 427. O desenvolvimento de produtos e processos tambm um servio muitas vezes prestado pelos laboratrios, seguido de perto pela anlise de materiais.

Para outros pesquisadores, os servios mais prestados pelos laboratrios so ensaios e testes, com 427 laboratrios afirmando que desenvolvem essa atividade; e anlise de materiais, servio prestado por 343 laboratrios.

A descrio desses servios importante para qualificar a resposta anterior, que dizia apenas sim ou no prestao de servios pelo laboratrio. Mesmo que se considere que alguns tipos de servios mencionados pelos laboratrios, tais como consultoria e assessoria, sejam conceitos mais vagos, ainda assim o nmero de la-boratrios prestadores de servios de ensaios, testes, desenvolvimento de produtos e processos, anlise de materiais etc. bastante expressivo.

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 37

TABELA 10 Prestao de servios tecnolgicos pelas infraestruturas de pesquisa, segundo clientes do servio prestado

Tipo de servio tcnico-cientfico Empresas Governo Pesquisadores Outro

Consultoria e assessoria tcnico-cientficas 402 227 338 59

Ensaios e testes 364 149 427 43

Desenvolvimento e aperfeioamento de processos 244 89 228 24

Desenvolvimento e aperfeioamento de produtos 236 66 162 22

Anlise de materiais 230 88 343 28

Anlise de propriedades fsico-qumicas 177 67 232 26

Elaborao e testes de prottipos 160 52 130 9

Informao tecnolgica 144 71 149 28

Exames laboratoriais 113 74 177 32

Servios ambientais 93 60 95 17

Calibrao 65 33 70 9

Metrologia 50 37 51 10

Certificao 47 12 23 4

Inspeo 45 24 28 3

Scale up (escalonamento) 30 4 13 1

Outros 30 29 40 20

Manuteno de equipamentos cientficos 20 8 51 5

Acesso a banco de clulas, microrganismos etc. 12 8 71 5

Fonte: Dados da pesquisa.

Embora seja grande o nmero de laboratrios de pesquisa que dizem realizar atividades de prestao de servios, essa uma atividade espordica entre eles. O grfico 3 mostra os resultados de uma questo sobre a intensidade do uso das instalaes e equipamentos da infraestrutura para cada uma das atividades reali-zadas. Claramente, e como era esperado, os laboratrios analisados so voltados preponderantemente pesquisa e ao ensino. Os resultados expostos indicam que as atividades de prestao de servios tecnolgicos, extenso tecnolgica e de desenvolvimento de novas tecnologias ocorrem em intensidade bem menor no mbito dessas infraestruturas que as atividades de ensino e pesquisa: 35% dos respondentes afirmam realizar desenvolvimento de tecnologias de forma contnua e 18% apontam a prestao de servios tecnolgicos nessa mesma intensidade. Enquanto isso, as atividades de pesquisa ocorrem continuamente em 81% da amostra, e as de ensino, em 40% dos respondentes.

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil38 |

GRFICO 3Intensidade de uso das instalaes e equipamentos por atividade

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

Atividadede pesquisa

Atividadesde ensino

Desenvolvimentode tecnologias

Prestao deservios tecnolgico

Atividade de extensotecnolgica

Contnuo Alguns dias da semana Alguns dias do ms Espordico

Fonte: Dados da pesquisa.

Um fator que pode contribuir e que algumas vezes um pr-requisito para a realizao de alguns tipos de servios a acreditao. Segundo oInstituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial(Inmetro), Acreditao o reconhecimento formal por um organismo de acreditao, de que um organismo de avaliao da conformidade OAC (laboratrio, organismo de certificao ou organismo de inspeo) atende a requisitos previamente definidos e demonstra ser competente para realizar suas atividades com confiana (grifo nosso). Um laboratrio pode ser acreditado para: i) realizar servios de calibrao; ii) realizar ensaios; ou iii) em outras modalidades.

Os servios de calibrao podem ser divididos em quatorze grupos, entre os quais: fora, torque e dureza, fsico-qumica, dimensional, acstica e vibraes etc. Os ensaios, por sua vez, so divididos em nove grupos, que incluem ensaios de vibraes e choque, ensaios biolgicos, qumicos, trmicos etc.37 As demais modalidades compreendem, por exemplo, boas prticas laboratoriais, organismos de certificao, ou produtores de material de referncia.

37. A definio e a relao completa de servios de calibrao e ensaios, bem como a relao de laboratrios brasileiros acreditados nessas modalidades, pode ser encontrada no site do Inmetro ().

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 39

Na amostra analisada, existem 152 laboratrios (pouco mais de 9%) acredi-tados em alguma dessas modalidades (grfico 4), sendo a maior parte deles (125 laboratrios) acreditada para a realizao de ensaios. Os ensaios mais comuns para os quais os laboratrios possuem acreditao so os ensaios qumicos e biolgicos. Mais de setenta laboratrios so acreditados em outras modalidades, com destaque para a de boas prticas laboratoriais e para aqueles acreditados como organismos certificadores. Por fim, 31 so acreditados para a realizao de servios de calibrao.

GRFICO 4Nmero de laboratrios acreditados segundo a modalidade de acreditao

31

125

73

152

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Calibrao Ensaio Demais modalidades Total de infraestruturasacreditadas

Fonte: Dados da pesquisa.

Dados os resultados sobre a prestao de servios por parte dos laboratrios pesquisados, a questo que segue naturalmente em quais setores de atividade estariam os potenciais demandantes desses servios. Assim, perguntou-se aos coordenadores dos laboratrios qual a atividade econmica na qual suas linhas de pesquisa poderiam ser aplicadas.38 Entre as atividades citadas, destaca-se a seo da CNAE atividades profissionais, cientficas e tcnicas, em que se encontra a diviso pesquisa e desenvolvimento cientfico, com mais de 36% de indicaes entre os respondentes. Embora a indstria de transformao aparea em segundo lugar, com 28% de indicaes, esses resultados permitem supor que os respondentes ainda no associam prioritariamente as suas atividades a uma atividade econmica estritamente ligada ao setor produtivo, identificando-se predominantemente como atuantes em pesquisa e desenvolvimento.

38. Havia a possibilidade de indicar mais de uma atividade, razo pela qual os nmeros somados terem excedido 1.760.

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil40 |

TABELA 11Setores de atividade econmica mais frequentemente citados como potenciais usurios das pesquisas realizadas pelas infraestruturas

Seo de atividade econmica (CNAE) Nmero de infraestruturas que mencionou o setor

Atividades profissionais, cientficas e tcnicas 648

Indstrias de transformao 500

Agricultura, pecuria, produo florestal, pesca e aquicultura 250

Sade humana e servios sociais 217

Educao 182

Indstrias extrativas 162

Eletricidade e gs 92

Informao e comunicao 78

gua, esgoto, atividades de gesto de resduos e descontaminao 52

Construo 45

Transporte, armazenagem e correio 26

Administrao pblica, defesa e seguridade social 14

Atividades administrativas e servios complementares 13

Artes, cultura, esporte e recreao 9

Comrcio, reparao de veculos automotores e motocicletas 5

Outras atividades de servios 5

Alojamento e alimentao 4

Atividades financeiras, de seguros e servios relacionados 2

Atividades imobilirias 1

Fonte: Dados da pesquisa.

A maior abertura das infraestruturas a usurios externos39 um fator relevante tanto para a excelncia acadmica quanto para a ligao da pesquisa bsica com o desenvolvimento tecnolgico do pas. Nesse sentido, investigou-se se os laboratrios so abertos utilizao por usurios externos e quem seriam esses usurios. Na tabela 12 possvel constatar, em primeiro lugar, que a maioria dos usurios externos das infraestruturas nacionais do Brasil. Merece destaque ainda o fato de que os laboratrios encontram-se predominantemente abertos utilizao de alunos de ps-graduao (970), pesquisadores da mesma instituio (957) e a pesquisadores de outras instituies (814). Um nmero reduzido de infraestruturas (menos de 20% da amostra) informou ter recebido pesquisadores de empresas em 2012. Estes tambm foram o tipo menos frequente de usurios externos: em torno de 6% dos usurios, tanto no que se refere ao pas como ao exterior.

39. Entende-se por usurios externos aquele pesquisador que utilizou os servios ou os equipamentos do laboratrio no ano-base e no faz parte da equipe de pesquisadores, tcnicos ou estudantes do prprio laboratrio e/ou infraes-trutura. Assim, so pesquisadores vinculados a outras instituies, no Brasil ou no exterior, ou a outros departamentos da prpria instituio, e que no fazem parte da equipe do laboratrio e/ou infraestrutura.

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 41

TABELA 12Nmero de usurios externos atendidos pelas infraestruturas de pesquisa segundo procedncia e vnculo com a instituio de origem

Vnculo do usurioUsurios do

BrasilUsurios do

exteriorNmero de laboratrios

Alunos de graduao 10.405 118 765

Alunos de ps-graduao 12.056 426 970

Pesquisadores da mesma instituio (exceto a equipe da infraestrutura) 7.166 203 957

Pesquisadores de empresas 2.321 102 321

Pesquisadores de outras instituies 5.021 869 814

Fonte: Dados da pesquisa.

Talvez a constatao mais relevante da tabela 12 seja a ainda baixa intera-o dos laboratrios nacionais com pesquisadores e estudantes de fora do pas. Essa percepo foi confirmada em uma questo que solicitava que os coordenadores das infraestruturas apontassem que graus de importncia atribuam a cada um dos tipos de cooperao indicados pelo questionrio. Em todos os casos, o grau alto de importncia foi muito mais frequentemente atribudo a instituies, empresas e agncias de fomento nacionais, em detrimento das estrangeiras.40 Outro resultado indicado pelo grfico 5 refere-se ao menor grau de importncia atribudo coo-perao com empresas em relao a instituies e agncias de fomento.

GRFICO 5Atividades de cooperao realizadas pelas infraestruturas segundo o grau de importncia atribudo pelo responsvel

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

Agncias de fomento brasileiras

Agncias de fomento internacionais

Empresas brasileiras

Empresas estrangeiras

Instituies brasileiras

Instituies estrangeiras

Baixo Mdio Alto

Fonte: Dados da pesquisa.

40. Ressalte-se que o questionrio no forava uma escolha nica para os respondentes, de modo que eles poderiam ter atribudo, por exemplo, alta importncia cooperao com empresas nacionais e estrangeiras simultaneamente.

Sistemas Setoriais de Inovao e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil42 |

3.3 Aspectos econmicos

Os aspectos econmicos do funcionamento das infraestruturas de pesquisa custos de operao, fontes de receitas, valores estimados da instalao, entre outros foram objeto de uma seo especfica do questionrio. Como era previsto, a maior parte das infraestruturas no faz a gesto das suas finanas diretamente, e seus custos, em grande medida, so cobertos pelo oramento da instituio (universidade ou centro de pesquisa) qual esto vinculadas. Talvez por essa razo, muitas vezes o pesquisador responsvel pela infraestrutura no tem informaes suficientes sobre aspectos econmicos do laboratrio. Apesar disso, o fato de os seus responsveis no terem condies de afirmar precisamente quanto vale sua infraestrutura e qual o seu custo operacional revelador das dificuldades de gesto dessas infraestruturas. Essas variveis seriam a chave para realizar qualquer estimativa sobre custo de um servio prestado; analisar usos alternativos dos recursos de pesquisa disponveis; tecer consideraes sobre a eficincia dos recursos alocados; e analisar a viabilidade de novos investimentos, entre outros. A constatao dessa dificuldade foi feita durante as entrevistas realizadas para testar uma verso preliminar do formulrio de coleta de dados. Na verso final, portanto, muitas das questes monetrias abertas foram substitudas por questes fechadas que continham faixas de valores, assumindo que os coordenadores seriam capazes de estimar esses valores de forma aproximada. Nesse sentido, na maior parte das questes, os valores expressos no levantamento correspondem a valores aproximados.

Uma das questes econmicas relevantes diz respeito s principais fontes de financiamento das infraestruturas.41 Nesse caso, foi perguntado qual o valor das receitas provenientes das principais fontes de financiamento das pesquisas realiza-das na infraestrutura. Em 2012, as infraestruturas participantes do levantamento foram capazes de captar, segundo declarao dos seus coordenadores, mais de R$ 1,4 bilho em recursos para financiar suas pesquisas.

As principais fontes mencionadas, em termos de frequncia, foram o CNPq, as fundaes estaduais de amparo (FAPs), o oramento das prprias instituies a que esto vinculadas as infraestruturas e a Capes. Contudo, quando a avaliao das respostas passa a considerar os valores recebidos, outros atores passam a ser mais relevantes: em primeiro lugar, a Petrobras, seguida pela prpria instituio, pela Finep e pelas FAPs. Essa relevncia da Petrobras como um dos principais fi-nanciadores da C&T no Brasil j havia sido constatada em Turchi, De Negri e De Negri (2013) 42 para reas especficas do conhecimento. O levantamento realizado aqui pde ratificar o tamanho e a importncia da empresa para as instituies com as quais desenvolve atividades conjuntas.

41. Nas respostas, era possvel indicar mais de uma fonte de financiamento.42. Disponvel para download em: .

O Mapeamento da Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica no Brasil | 43

TABELA 13 Principais fontes de receita das infraestruturas de pesquisa segundo a entidade financiadora e o valor dos recursos obtidos em 2012

Entidade financiadora Nmero de infraestruturas Rec