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KARINA DINIZ BAUMGARTEN Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Santa Catarina, Brasil São Paulo 2015

Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de ... · Febre Aftosa sem Vacinação em 2007(OIE, 2014), e Área Livre de Peste Suína Clássica em 2015 (OIE, 2015). Em

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KARINA DINIZ BAUMGARTEN

Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Santa

Catarina, Brasil

São Paulo

2015

KARINA DINIZ BAUMGARTEN

Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Santa Catarina, Brasil

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Departamento:

Medicina Veterinária Preventiva e Saúde

Animal

Área de concentração:

Epidemiologia Experimental Aplicada às

Zoonoses

Orientador:

Prof. Dr. José Soares Ferreira Neto

São Paulo

2015

Autorizo a reprodução parcial ou total desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO

(Biblioteca Virginie Buff D’Ápice da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo)

T.3188 Baumgarten, Karina Diniz FMVZ Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Santa Catarina, Brasil /

Karina Diniz Baumgarten. -- 2015. 33 f. : il. Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia. Departamento Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal, São Paulo, 2015.

Programa de Pós-Graduação: Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses. Área de concentração: Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses. Orientador: Prof. Dr. José Soares Ferreira Neto.

1. Brucelose. 2. Prevalência. 3. Fatores de risco. 4. Zoonoses. 4. Brasil. I. Título.

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Autor: BAUMGARTEN, Karina Diniz

Título: Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Santa

Catarina, Brasil

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências

Data: ____/_____/_______

Banca Examinadora

Prof. Dr.: ____________________________________________________________

Instituição: __________________________ Julgamento: _____________________

Prof. Dr.: ____________________________________________________________

Instituição: __________________________ Julgamento: _____________________

Prof. Dr.: ____________________________________________________________

Instituição: __________________________ Julgamento: _____________________

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família que me apoiou, em todos os

sentidos Amo vocês!!!

Aos colegas da CIDASC, grandes batalhadores a campo, que executaram

todo este trabalho a campo, enfrentando dificuldades práticas de acesso e

contenção de animais, nos mais variados tipos de propriedades existentes no

Estado. Não podendo citar todos aqui, cito os 3 que me auxiliaram no “mutirão” em

Bom Jardim da Serra, Leonardo, Marina e Marcelo, que mesmo com tempestades,

falta de luz, pneu furado e muita lama, conseguimos terminar o trabalho no prazo

estabelecido. Eu nunca conseguiria sem todos vocês!

Aos produtores de bovinos que entenderam os objetivos do estudo e

cooperaram para o andamento do trabalho a campo.

À equipe da Gerência de Defesa sanitária Animal, principalmente às colegas

da Epidemiologia, Claudia Scotti Dulcioni Matos e Renata Medtisch, que me

auxiliaram desde o princípio a organizar e coordenar o estudo epidemiológico,

desenvolvendo manuais técnicos e fluxos logísticos para que tudo saísse 100%

Ao Gerente Estadual, Marcos Vinícius Neves, ao Diretor Técnico João Manoel

Bazeti Marques e ao Presidente da CIDASC, Enori Barbieri, que entenderam a

importância da realização deste Mestrado para meu crescimento profissional e

aceitaram minha ausência neste período. Serei eternamente grata!!!

Ao meu orientador José Soares Ferreira Neto, e “co-orientadores” Fernando

Ferreira e José Grisi Filho, pela paciência e disposição em ensinar. Ao Danival, por

estar sempre de bom humor e disposto a me ajudar à distância.

À equipe do laboratório de Zoonoses Bacterianas, em especial à Léia, que

possui talento nato para ensinar, mesmo os mais inexperientes nas atividades de

laboratório. Obrigada! Aos amigos do LEB, pelas dicas, risadas e cervejadas.

Aos “Hermanos” Claudia e Sebastian, que me adotaram! Muchas Gracias!!!

Adoro vocês!!!

À Raquel Rech e Renata Ivanek-Miojevic, pela oportunidade de realizar

intercâmbio na Texas A&M University.

Ao Daniel Garcia, pelo seu carinho estar sempre presente, mesmo à

distância. Amo você!!!

À Deus, por me inserir neste meio profissional e acadêmico que tanto amo!!!

“O sucesso consiste em ir de derrota em

derrota sem perder o entusiasmo.”

Sir Winston Churchill

RESUMO

BAUMGARTEN, K. D. Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Santa Catarina, Brasil. [Epidemiological situation of bovine brucellosis in Santa Catarina State, Brazil]. 2015. 33 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

Foi realizado um estudo para determinar a situação epidemiológica da brucelose

bovina no estado de Santa Catarina. O estado foi divido em cinco regiões conforme

as características de produção pecuária. Para cada região foi estipulado o valor

mínimo de 300 propriedades, sendo distribuídas de forma proporcional em todos os

municípios. Como unidade primária da amostra, as propriedades foram amostradas

aleatoriamente em cada município e, dentro delas, escolhida aleatoriamente uma

quantidade pré-determinada de fêmeas com idade igual ou superior a 24 meses, que

foram testadas para o diagnóstico sorológico da brucelose. Este estudo utilizou

amostras colhidas de 8.630 animais provenientes de 1.653 propriedades. Em cada

propriedade sorteada, foi aplicado um questionário epidemiológico para verificar

fatores de risco associados à infecção brucélica. O protocolo de testes utilizado foi a

triagem com o Antígeno Acidificado Tamponado, seguido do teste dos reagentes

com o 2-Mercaptoetanol (2-ME). Os animais com resultados inconclusivos no 2-ME

foram retestados após 30 dias. A prevalência de focos foi de 0,912% [0,297 - 2,11].

As prevalências de focos, conforme a região, foram de 0,322% [0 - 0,959] na região

1, de 2,134% [0,862 – 4,348] na região 2, de 1,087% [0,297 - 2,760] na região 3, de

0,325% [0,0 - 0,968] na região 4 e de 0,293% [0 – 0,875] na região 5. A prevalência

em animais em Santa Catarina foi de 1,21% [0,0951 – 4,97]. A prevalência em

animais nas regiões 1, 4 e 5 foi igual a 0%, na região 2 foi de 1,02% [0,280 – 2,57] e

na região 3 foi de 1,97% [0,106 - 8,84]. Este estudo revelou que os fatores de risco

associados à condição de foco de brucelose no Estado foram: o tamanho do

rebanho > 12 fêmeas (OR = 7,47 [2,14 - 34,34]) e a presença de áreas alagadas

(OR = 5,68 [1,62 - 26,13]). Utilizando um teste de duas proporções comparou-se as

prevalências encontradas neste estudo e no estudo anterior (2002), sendo

encontrada diferença significativa apenas na região 2, com valor de P<0,05

(P=0,031). Dada a baixa prevalência encontrada, o sistema de vigilância deve ser

incrementado visando a eliminação da doença no Estado.

Palavras-chave: Brucelose. Prevalência. Fatores de risco. Zoonoses. Brasil.

ABSTRACT

BAUMGARTEN, K. D. Epidemiological situation of bovine brucellosis in Santa Catarina State, Brazil. [Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Santa Catarina, Brasil]. 2015. 33 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

This study was planned to assess the epidemiological situation of bovine brucellosis

in Santa Catarina State, Brazil. The State was divided into five regions (regions 1 to

5) according to characteristics of animal husbandry (livestock production). A sample

size of 292 herds was predefined for each region. The herds were randomly sampled

and, within them, a preset number of females aged over 24 months were also

randomly selected for the serological diagnosis of brucellosis. A total of 8,630

animals, from 1,653 farms, were tested. In all selected farms, an epidemiological

questionnaire was applied to verify risk factors for brucellosis. The test protocol was a

screening by the Rose Bengal Test. If positive, followed by a 2-Mercaptoethanol test.

The inconclusive results were tested again after 30 days. In a total of 11 herds, 16

animals were diagnosed as brucellosis positive. The prevalence of infected herds in

the State was 0.912% [0.297 – 2.11]. The prevalence of infected herds in each of

regions were as follows: region 1, 0.322% [0 – 0.959]; region 2, 2.134% [0.862 –

4.348]; region 3, 1.087% [0.297 – 2.760]; region 4, 0.325% [0 – 0.968]; region 5,

0.293% [0 – 0.875]. The total prevalence of positive animals was 1.21% [0.0951 –

4.97]. The animal prevalence in regions 1, 4 and 5 was equal to 0.0%; in region 2

was 1.02% [0.280 – 2.57], and in region 3 was 1.97% [0.106 – 8.84]. The risk factors

associated with brucellosis were: herd size higher than 12 females over 24 months

(OR = 7.47 [2.14 to 34.34]) and drenched areas (OR = 5.68 [1.62 to 26.13]). After

using a two-proportion test to compare the prevalence in this study and in a prior

study in the same State, a statistically significant difference was found between the

prevalence results only in region 2 (P=0.031). Given the low prevalence (less than

1%), the implementation of eradication strategies, based on a surveillance system,

should be encouraged.

Key words: Brucellosis. Prevalence. Risk fators. Zoonosis. Brazil.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1- Divisão do Estado de Santa Catarina em 5 regiões de produção pecuária

distintas. No detalhe, mapa do Brasil mostrando a localização do Estado

............................................................................................................... 17

Mapa 2 - Distribuição espacial das propriedades amostradas, e propriedades foco

de brucelose nas 5 regiões de produção pecuária ................................ 20

Quadro 1 - Fórmulas para definição de peso da unidade primária (propriedade)

e secundária (animal) no estudo de prevalência .................................. .18

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Prevalência de propriedades positivas para brucelose em Santa Catarina por Circuito Pecuário. .. ............................................................20

Tabela 2 - Prevalência de fêmeas com idade igual ou superior a 24 meses

positivas para brucelose em Santa Catarina por Circuito Pecuário ........ 21 Tabela 3 - Resultados de prevalência de brucelose em rebanhos no ano de

2002 e 2012, nas diferentes regiões, e resultado (valor de p) do Teste de Duas Proporções para os referidos valores ............................ 21

Tabela 4 - Variáveis resultantes na análise univariada como possíveis fatores

de risco associados à infecção por brucelose em propriedades de Santa Catarina, 2012 ............................................................................. 22

Tabela 5 - Modelo final de regressão logística dos fatores de risco associados

à condição de foco de brucelose em rebanhos do Estado de Santa Catarina, 2012. ....................................................................................... 23

Tabela 6 - Demonstração dos valores do peso dos animais positivos em cada

propriedade foco, e respectivo peso das propriedades em cada região ..................................................................................................... 24

LISTA DE ABREVIATURAS

AAT – Antígeno Acidificado Tamponado.

CIDASC – Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina.

LANAGRO – Laboratório Nacional Agropecuário.

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

PNCEBT – Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e

Tuberculose Animal.

2-ME – 2 – Mercaptoetanol.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO GERAL .................................................................................. 13

2 SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA BRUCELOSE BOVINA NO

ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL ................................................... 14

2.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

2.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 14

2.3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 16

2.4 RESULTADOS ....................................................................................................... 19

2.5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 24

2.6 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 26

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 27

3 CONCLUSÃO GERAL ................................................................................... 31

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 32

13

1 INTRODUÇÃO GERAL

O Estado de Santa Catarina possui apenas 1,12% do território nacional

(IBGE, 2014), porém sua produção animal é expressiva, sendo o maior exportador

de suínos do país e segundo maior exportador de aves (IBGE, 2015). A sanidade

animal do Estado é destacada pelo reconhecimento internacional de Área Livre de

Febre Aftosa sem Vacinação em 2007(OIE, 2014), e Área Livre de Peste Suína

Clássica em 2015 (OIE, 2015).

Em 2012 o rebanho bovino contava com 4.072.960 cabeças, distribuídas em

aproximadamente 200 mil propriedades (IBGE, 2014a). Com característica de

minifúndios, a produção leiteira é a quinta maior do país, com cerca de 7,8% da

produção nacional (EMBRAPA, 2012). É uma atividade realizada em praticamente

todo território estadual, com concentração em 3 bacias leiteiras, sendo a maior

localizada na região oeste, com cerca de 70% da produção. Nesta região a atividade

é geralmente desenvolvida por pequenos produtores, com mão de obra familiar,

sendo assim considerada a atividade regional de maior importância social e

econômica (HEIDEN, 2014).

Devido a estes fatores, o governo estadual tem como uma de suas metas a

eliminação da brucelose bovina nos próximos anos, reduzindo as perdas

econômicas no campo e preservando a saúde pública (SANTA CATARINA, 2012). O

estudo epidemiológico realizado em 2012 foi o passo inicial para se decidir as

ferramentas a serem utilizadas no controle e eliminação da doença no Estado.

14

2 SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA BRUCELOSE BOVINA NO ESTADO DE

SANTA CATARINA, BRASIL

2.1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo foi caracterizar espacialmente a prevalência da

brucelose em Santa Catarina, e detectar fatores de risco associados à infecção por

brucelose, para melhor direcionamento das futuras ações de eliminação da doença

no Estado.

2.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A Brucelose é causada por uma bactéria Gram negativa do gênero Brucella,

sendo uma das mais importantes doenças infecciosas, distribuída mundialmente,

causando perdas econômicas na produção pecuária, e também considerada a

zoonose de maior transmissão por contato direto com animais e/ou secreções, e

pelo consumo de leite e produtos lácteos (ADONE; PASQUALI, 2013).

Existem 10 espécies conhecidas de Brucella, mas apenas 4 delas infectam

animais de produção. Dentre estas a B. melitensis, que infecta principalmente

caprinos e ovinos, é a mais virulenta, provocando perdas econômicas significativas

devido a ocorrência de abortos e também é a que causa a doença mais séria no

homem (DÍAZ APARÍCIO, 2013). Esta espécie nunca foi registrada no Brasil, sendo

considerada exótica no território (BRASIL, 2004a).

A B. abortus é a espécie mais encontrada em bovinos e pode infectar também

o homem, é endêmica no Brasil (BRASIL, 2004a), e seu controle é normatizado pelo

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através do Programa

Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT),

15

desde 2001(BRASIL, 2001), com a execução realizada por médicos veterinários

habilitados, sob supervisão e controle dos órgãos estaduais de Defesa Sanitária

Animal (BRASIL, 2004a).

A partir de então, diversos Estados brasileiros têm realizado estudos

transversais para caracterização da prevalência de brucelose bovina, provendo

informações epidemiológicas para embasar a escolha de melhores estratégias de

controle e monitoramento das ações de combate à doença (POESTER et al., 2009).

Juntos eles fornecem informação epidemiológica de 90% da população bovina do

país (SANTOS et al., 2013). E demonstraram uma diversidade na prevalência da

brucelose no país, onde os mais altos índices estão localizados nas regiões Norte e

Centro–Oeste, e os índices mais baixos, menores de 4,2% foram encontrados no

Distrito Federal, Bahia e nos três Estados da região Sul (MINERVINO et al., 2011;

BORBA et al., 2013; SANTOS et al., 2013).

O estudo realizado em Santa Catarina, em 2002, detectou prevalência de

0,32% de focos (SIKUSAWA et al., 2009). Esta condição sanitária levou o MAPA a

retirar a vacinação obrigatória neste Estado (BRASIL, 2004b). Apesar da baixa

prevalência, a doença é endêmica e mensalmente o serviço veterinário estadual da

Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola (CIDASC) recebe notificação de

novos focos, encontrados por médicos veterinários habilitados, em diferentes regiões

do Estado (CIDASC, 2015). Os animais positivos são sacrificados conforme normas

do PNCEBT e indenizados pelo Estado através do Fundo Estadual de Sanidade

Animal (FUNDESA) (SANTA CATARINA, [2007?]).

A presença do Fundo de Indenização é o fator principal para o sucesso do

PNCEBT e de outros programas sanitários no Estado. Iniciado em julho de 2004, até

outubro de 2014 o FUNDESA já havia indenizado 2.225 produtores de bovinos, no

valor total de R$ 16.791.189,00, eliminando 13.185 bovinos e bubalinos, sendo

5.575 deles acometidos por brucelose (RAMOS et al., 2014). Em 2012 o Estado

publicou legislação específica para erradicação da doença, a qual prevê o

saneamento adequado dos focos de brucelose e implantação de ações de vigilância

ativa para esta enfermidade (SANTA CATARINA, 2012). A vigilância ativa está

sendo implantada gradativamente pela CIDASC, principalmente utilizando-se

16

exames de diagnóstico em leite para a detecção de rebanhos infectados (SANTA

CATARINA, 2015).

Devido ao fator zoonótico da doença, a CIDASC notifica a ocorrência de focos

bovinos à Secretaria da Saúde, através da Diretoria de Vigilância Epidemiológica

(DIVE) sendo realizada investigação de casos humanos (DIVE, 2011). Em 2012 a

DIVE implantou o Protocolo Estadual de Vigilância e Manejo Clínico de Brucelose

Humana, que até o final de 2013 havia investigado 1.487 casos suspeitos,

confirmando 29 casos da doença, os quais receberam acompanhamento médico e

tratamento do Estado (MELO et al., 2014).

2.3 MATERIAIS E MÉTODOS

O Estado de Santa Catarina foi dividido em cinco regiões conforme as

características de produção e manejo animal, sendo elas: região 1 – Serrana, com

predominância da pecuária de corte; região 2 – Grande Florianópolis e Sul

Catarinense, pecuária leiteira e mista, produção de suínos e aves; região 3 – Oeste

Catarinense, alta produção de aves e suínos, entremeados com alta produção de

leite; região 4 – Norte Catarinense, predomínio da pecuária de corte; e região 5 –

Vale do Itajaí, pecuária leiteira entremeada com pecuária mista, conforme

demonstrado no mapa 1. O cálculo do tamanho da amostra considerou a

capacidade operacional do Serviço Veterinário Oficial e os recursos financeiros

disponíveis, designando um erro de 2,5%, intervalo de confiança de 95% e a

prevalência esperada de 5%.

17

Mapa 1 Divisão do Estado de Santa Catarina em 5 regiões de produção pecuária distintas. No detalhe, mapa do Brasil mostrando a localização do Estado

Fonte: (SIKUSAWA, S. et al., 2009).

O cálculo foi feito utilizando a fórmula de amostragem simples para estimar

prevalência de doença (THRUSFIELD, 1997), resultando em 292 propriedades a

serem amostradas em cada região. Este valor mínimo de propriedades, com fêmeas

em idade reprodutiva, foi distribuído de forma proporcional em todos os municípios,

por regra de três simples, baseado no número de propriedades existentes em cada

município, sendo feito arredondamento para cima quando o resultado era fração.

Como unidade primária da amostra, as propriedades foram selecionadas, utilizando

uma tabela de número aleatórios, onde foi feito o sorteio na sequência de cadastro

no banco de dados da CIDASC. Quando a propriedade possuía mais de um rebanho

bovino/bubalino, com finalidades e/ou manejo diferentes, era escolhido o rebanho de

maior importância econômica para a propriedade.

Como unidade secundária da amostra, os animais amostrados foram fêmeas

com idade igual ou superior a 24 meses. O tamanho da amostra foi pré-estabelecido

conforme o número destas fêmeas na propriedade, sendo: para propriedades com

até 99 fêmeas, foram amostradas 10 fêmeas; para propriedades com 100 ou mais

18

fêmeas, foram amostradas 15 fêmeas. Dentro de cada propriedade, as fêmeas

amostradas foram escolhidas aleatoriamente.

Para o diagnóstico sorológico de brucelose, foi utilizado o teste de triagem

utilizando o Antígeno Acidificado Tamponado, realizado nos laboratórios oficias da

CIDASC, seguido do teste das amostras reagentes com o 2-Mercaptoetanol (2-ME),

no LANAGRO-MG. Os animais com resultados inconclusivos no 2-ME foram

retestados após 30 dias, sendo o resultado inconclusivo por duas vezes,

considerado positivo. A presença de pelo menos um animal com resultado positivo,

ou inconclusivo por duas vezes, considerou a propriedade positiva.

Os dados foram analisados para se encontrar o valor de prevalência

aparente da brucelose, em propriedades e em animais. A prevalência foi calculada

levando em consideração os pesos de cada amostra, propriedade e animal,

conforme fórmula preconizada por Dohoo et al. (2012), demonstrada no quadro 1. O

peso da unidade amostrada demonstra o quanto aquela unidade representa na

população total (DOHOO et al., 2012). O software livre R foi utilizado para calcular o

peso das amostras, as prevalências de propriedade e de animais, e também a

diferença entre as prevalências encontradas através do teste de duas proporções.

Quadro 1 - Fórmulas para definição de peso da unidade primária (propriedade) e secundária (animal) no estudo de prevalência

Cálculo do Peso da Propriedade Amostrada Cálculo do Peso do Animal Amostrado

Pp = N° de propriedades existentes

na região Pa =

Fêmeas ≥ 24 meses existentes na propriedade X

Fêmeas ≥ 24 meses na região

N° de propriedades amostradas na

região

Fêmeas ≥ 24 meses amostradas na

propriedade Fêmeas ≥ 24 meses nas

propriedades amostradas

Fonte: (DOHOO et al., 2012).

Em cada propriedade sorteada, foi aplicado um questionário epidemiológico

para verificar fatores de risco associados à infecção brucélica. As questões

levantaram informações sobre: tipo de exploração, tipo de criação, uso de

inseminação artificial, volume e característica da produção leiteira, número de

fêmeas com idade igual ou superior a 24 meses, número total de bovinos na

propriedade, presença de outras espécies domésticas criadas na propriedade,

19

contato dos animais com espécies silvestres, ocorrência de aborto, destino dos

produtos de aborto; compra e venda de animais, e também especificamente de

reprodutores; local de abate de animais; aluguel de pastos; compartilhamento de

pastos, aguadas, equipamentos e/ou funcionários; pastos comuns com outras

propriedades; áreas alagadas; piquete de parição; assistência veterinária;

característica da propriedade (rural clássica, aldeia indígena, assentamento ou

periferia urbana). Questões sobre produção caseira de produtos lácteos para venda

ou consumo, e o consumo de leite e derivados crus, também foram feitas para

avaliar o risco da brucelose, de origem alimentar, para a saúde pública.

Cada resposta do questionário foi tabulada formando uma coleção de

variáveis. Foi realizada uma tentativa de não-associação entre cada variável e o

status sanitário do rebanho (positivo ou negativo para brucelose) sendo o resultado

quantificado utilizando o Teste do qui-quadrado e Exato de Fischer, por meio do

software livre R. Algumas variáveis foram categorizadas para melhor análise. As

variáveis com resultado p ≤ 0,20 seguiram para a etapa seguinte de análise, onde foi

composto um modelo de Regressão Logística, a fim de se obter os fatores de risco

associados à doença. O modelo de regressão logística foi construído utilizando o

software livre R.

2.4 RESULTADOS

Este estudo utilizou amostras colhidas de 8.630 animais provenientes de

1.653 propriedades. 16 animais foram diagnosticados positivos para brucelose,

estando distribuídos em 11 rebanhos, dentro de apenas duas regiões do Estado,

conforme demonstrado na tabela 1. A distribuição dos focos nas regiões está

demonstrada no mapa 2. E a prevalência de animais demonstrada na tabela 2.

20

Tabela 1 - Prevalência de propriedades positivas para brucelose em Santa Catarina por Região

Região Propriedades Existentes

Propriedades Amostradas

Propriedades positivas

Prevalência aparente (%)

Intervalo de Confiança a 95% (%)

1 15.373 309 0 0,322* 0* 0,959*

2 40.975 328 7 2,134 0,862 4,348

3 86.598 368 4 1,087 0,297 2,76

4 12.826 308 0 0,325* 0* 0,968*

5 43.402 340 0 0,293* 0* 0,875*

SC 199.174 1.653 11 0,912 0,297 2,11

Fonte: (BAUMGARTEN, K.D., 2014). * O cálculo de Intervalo de Confiança foi feito utilizando a distribuição beta.

Como 3 regiões obtiveram número de focos igual a zero, o cálculo da

prevalência aparente e do intervalo de confiança nestes casos foi realizado

utilizando a distribuição beta.

Mapa 2 - Distribuição espacial das propriedades amostradas, e propriedades foco de brucelose nas 5 regiões de produção pecuária

Fonte: (BAUMGARTEN, K. D., 2015).

21

Tabela 2 - Prevalência de fêmeas com idade igual ou superior a 24 meses positivas para brucelose

em Santa Catarina por Circuito Pecuário

Região Nº fêmeas existentes

Nº Fêmeas amostradas

Nº animais positivos

Prevalência aparente (%)

Intervalo de Confiança a 95%

1 283.064 2.042 0 0 - -

2 275.401 1.331 10 1.02 0.280 2.57

3 1.107.212 2.646 6 1.97 0.106 8.84

4 96.917 1.369 0 0 - -

5 266.871 1.242 0 0 - -

SC 2.029.465 8.630 16 1.21 0.0951 4.97

Fonte: (BAUMGARTEN, K. D., 2015).

Foi utilizado o teste de duas proporções para detectar possíveis diferenças

entre as prevalências encontradas neste estudo e no estudo anterior realizado em

2002. Obtendo-se valor estatisticamente significativo apenas na região 2 (p =

0,03112), conforme demonstrado na tabela 3.

Tabela 3 Resultados de prevalência de brucelose em rebanhos no ano de 2002 e 2012, nas diferentes regiões, e resultado (valor de p) do Teste de Duas Proporções para os referidos valores

Porcentagem em 2002 Porcentagem em 2012 Valor de p

Região 1 0,0% 0,0% -

Região 2 0,0% 2,134% 0,03112

Região 3 0,0% 1,087% 0,1145

Região 4 0,336% 0,0% 0,9868

Região 5 0,0% 0,0% -

Fonte: (BAUMGARTEN, K. D., 2015).

As variáveis obtidas pelo questionário epidemiológico foram analisadas em

relação à condição de foco de cada propriedade, resultando em 17 variáveis para

construir o modelo logístico. As variáveis com resultado p ≤0,20 pelo Exato de

Fischer estão demonstradas na tabela 4.

22

Tabela 4 Variáveis resultantes na análise univariada como possíveis fatores de risco associados à infecção por brucelose em propriedades de Santa Catarina - 2012

Variável Expostos/Focos Expostos/Não

focos Valor de P

Chi2 Valor de P

Fischer

Tipo de Exploração

0.067 0.073 Corte 7/11 542/1632

Leite 3/11 477/1632 Misto 1/11 613/1632 Tamanho do Rebanho)*

0.001 0.002 < 12 fêmeas com idade ≥ 24 meses 3/11 1195/1642

≥ 12 fêmeas com idade ≥ 24 meses 8/11 447/1642 Cria suínos

0.124 0.142 Não 8/11 812/1642

Sim 3/11 830/1642 Gatos na propriedade

0.048 0.065 Ausência 8/11 707/1642

Presença 3/11 935/1642 Capivaras na propriedade

0.021 0.044 Ausência 7/11 1431/1642

Presença 4/11 211/1642 Aquisição de Animais

0.013 0.014 Não 1/11 751/1620

Sim 10/11 869/1620 Aquisição de Animais de Comerciante

0.0000 0.007 Não 6/10 798/869

Sim 4/10 71/869

Aquisição de Animais Diretamente de Fazendas

0.012 0.012 Não 4/10 83/869

Sim 6/10 786/869 Abate na Fazenda

0.130 0.156 Não 5/9 384/1203

Sim 4/9 819/1203 Abate c/ inspeção

0.142 0.162 Não 4/9 812/1203

Sim 5/9 391/1203 Pasto comum

0.136 0.148 Não 8/11 1425/1626

Sim 3/11 201/1626 Áreas Alagadas

0.005 0.008 Não 3/11 1084/1611

Sim 8/11 527/1611 Produz Queijo/manteiga

0.118 0.137 Não 9/11 942/1610

Sim 2/11 668/1610 Consome leite cru

0.066 0.110 Não 10/11 1028/1599

Sim 1/11 571/1599 Aquisição de Reprodutores

0.025 0.031 Não 3/11 979/1618

Sim 8/11 639/1618 Aquisição de Reprodutores de Comerciante

0.098 0.147 Não 6/8 585/639

Sim 2/8 54/639 Piquete de Parto

0.098 0.109 Não 7/11 1338/1619

Sim 4/11 281/1619

Fonte: (BAUMGARTEN, K. D., 2015). * Variável categorizada até o 3º quartil.

23

A aquisição de animais foi identificada como fator de risco, sendo que dentro

deste fator, os casos positivos estavam vinculados à aquisição de animais

diretamente de outras fazendas e de comerciantes de gado

O modelo logístico foi construído manualmente de duas formas, forward e

backward, ou seja, primeiramente montado com as variáveis uma a uma e retirando

a que se tornava não significante, até ter se testado todas as variáveis resultando

apenas as significantes no modelo final. Posteriormente foram colocadas todas as

variáveis no modelo, retirando uma a uma as menos significantes, até se ter o

modelo final. As duas formas resultaram em um modelo final contendo as mesmas

variáveis. A seleção das variáveis retiradas de cada modelo foi realizada avaliando

as variáveis com interação e as confundidoras, conforme preconizado por Dohoo et

al. (2012), e podem ser visualizadas na tabela 5.

Na regressão logística a aquisição de animais de comerciantes e fazenda,

assim como a aquisição de reprodutores de comerciantes foram retiradas do modelo

pois eram dependentes das variáveis – Aquisição de animais e Aquisição de

Reprodutores. A variável tipo de exploração foi recategorizada de forma dicotômica e

reanalisada, porém não permaneceu no modelo final de regressão logística.

Tabela 5 - Modelo final de regressão logística dos fatores de risco associados à condição de foco de brucelose em rebanhos do Estado de Santa Catarina - 2012

Variável Categoria Odds IC 95% valor de p

Tamanho do rebanho

< 12 fêmeas em idade reprodutiva

≥ 12 fêmeas em idade reprodutiva 7.47 2.14 34.34 0.0031

Áreas alagadas Ausência Presença 5.68 1.62 26.13 0.0108

Fonte: (BAUMGARTEN. K. D., 2015).

24

2.5 DISCUSSÃO

A prevalência de focos no Estado se manteve abaixo de 2%, o que era

esperado. As regiões com maiores índices de prevalência (Região 2 e 3) são as

mesmas que possuem histórico de maior ocorrência de focos encontrados

mensalmente por meio de exames para movimentação animal (CIDASC, 2015).

Sendo regiões com grande concentração animal, intensa atividade pecuária e

também com maior concentração de médicos veterinários habilitados.

Curiosamente o valor de prevalência de animais neste estudo foi superior ao

valor de prevalência de focos, o que não é comum nos estudos de prevalência

conhecidos. Isto ocorreu pelo fato de uma das propriedades foco possuir 3 animais

positivos, sendo que esta propriedade possuía um rebanho muito maior que a média

geral do Estado. Adicionado à localização da propriedade no estrato que possuía

maior número de propriedades, levou ao peso de cada animal testado/positivo ser

multiplicado por estes fatores, elevando o valor de prevalência encontrado.

Mais especificamente, a média do peso de cada animal positivos nas outras

propriedades foi de 326, e o peso de cada animal na propriedade em questão foi de

6.698. A tabela 6 mostra os valores e pesos calculados para cada propriedade foco.

Tabela 6 - Demonstração dos valores do peso dos animais positivos em cada propriedade foco, e respectivo peso das propriedades em cada região

Fonte: (BAUMGARTEN, K.D., 2015).

Foco Região

Fêmeas ≥24

meses existentes

na região

Fêmeas ≥24 meses

nas prop

amostradas na

região

Peso na

região

Fêmeas ≥24

meses

existentes na

propriedade

Total de

fêmeas

amostradas

Peso de cada

animal

amostrado na

propriedade

Nº de animais

positivos em

cada

propriedade

foco

Peso dos

animais

positivos na

prevalencia

geral

Resultado 2-ME

1 2 275401 2451 112 9 4 2.25 1 252.82 Positivo

2 2 275401 2451 112 10 9 1.11 3 374.54 Positivo

3 2 275401 2451 112 41 4 10.25 1 1151.72 Positivo

4 2 275401 2451 112 14 8 1.75 1 196.63 Positivo

5 2 275401 2451 112 3 2 1.50 1 168.54 Positivo

6 2 275401 2451 112 14 9 1.56 1 174.79 Positivo

7 2 275401 2451 112 12 10 1.20 2 269.67 Positivo

8 3 1107212 6376 174 600 15 40.00 3 20838.37 Positivo

9 3 1107212 6376 174 32 10 3.20 1 555.69 2x Inconclusivo

10 3 1107212 6376 174 22 10 2.20 1 382.04 2x Inconclusivo

11 3 1107212 6376 174 13 10 1.30 1 225.75 PositivoTotal 24590.56

25

A prevalência de animais infectados no Estado foi calculada somando-se os

pesos dos animais infectados sobre o total de fêmeas com idade igual ou maior de

24 meses existentes no Estado (24.590,56/2.029.465) x 100 = 1,21%.

O tamanho do rebanho foi identificado como fator de risco, o que vem se

repetindo em diversos estudos (CRAWFORD; HUBER; ADAMS, 1990). No Brasil,

estudos demonstram este fator de risco nos Estados do Mato Grosso (NEGREIROS,

et al., 2009), Mato Grosso do Sul (CHATE et al., 2009), São Paulo (DIAS et al.,

2009), Rio de Janeiro (KLEIN-GUNNEWIEK et al., 2009), Sergipe (SILVA et al.,

2009), Tocantins (OGATA et al., 2009) e Maranhão (BORBA et al., 2013). Em Santa

Catarina o maior risco de infecção está em rebanhos que possuem mais de 12

fêmeas maiores de 24 meses, o que não é um rebanho considerado grande na

maioria dos outros Estados brasileiros. Porém é o tamanho de rebanho incluído no

4º quartil, ou seja, representa os 25% de rebanhos catarinenses com maior número

de fêmeas em idade reprodutiva.

O fator tamanho de rebanho está associado a 3 fatores epidemiológicos: 1)

Maior taxa de reposição de animais, sendo o fator crítico para a entrada da doença

na propriedade, caso não sejam tomados os cuidados sanitários necessários; 2) A

dificuldade no manejo sanitário e no controle de doenças é maior quanto maior o

tamanho do rebanho; 3) Rebanhos maiores possuem maior interação entre

infectados e susceptíveis, facilitando a disseminação da doença (CRAWFORD;

HUBER; ADAMS, 1990).

A aquisição de animais foi identificada como fator de risco na análise

univariada, exceto as aquisições realizadas em feiras, leilões e exposições. Isto se

explica pelo controle sanitário que há neste tipo de evento para comercialização de

bovinos.

As áreas alagadas foram consideradas fator de risco neste estudo o que está

de acordo com a característica do agente infeccioso, que pode permanecer até 150

dias viável na água, e tem maior sobrevivência em solo úmido comparando-se com

solo seco (CRAWFORD, 1990). Apesar da bactéria não existir de forma comensal ou

ser encontrada vivendo de forma livre no meio ambiente, ela pode ser isolada de

amostras ambientais quando há presença de animais infectados (OLSEN et al.,

2010). Porém este tipo de infecção ocorre quando o contato entre os animais

26

infectados e susceptíveis é próximo (OLSEN et al., 2010). Mesmo que uma fonte de

água seja infectada em uma determinada propriedade, a diluição do agente no meio,

associado ao fluxo contínuo de um córrego, torna improvável a infecção de outros

rebanhos ao longo de um curso de água corrente. Sendo este provavelmente um

fator mais relacionado à manutenção da doença em um rebanho infectado, do que

um fator de transmissão entre rebanhos (CRAWFORD; HUBER; ADAMS, 1990).

2.6 CONCLUSÃO

A baixa prevalência encontrada é uma informação favorável à manutenção do

Estado fora da obrigatoriedade da vacinação com a amostra B19. Porém o aumento

da prevalência na região 2, estatisticamente significativo (p=0,0311), leva o alerta

para o desenvolvimento mais intenso das atividades de vigilância ativa,

principalmente nas regiões de maior prevalência, freando a disseminação da

doença, e posteriormente eliminando-a.

Devido aos dois últimos estudos apresentarem resultados de prevalência

menores que 1%, a realização de novos estudos transversais para se encontrar e

medir fatores de risco para brucelose não é recomendada, pois serão encontrados

poucos casos para se comparar aos não casos. Para este cenário de baixa

prevalência, o estudo mais efetivo seria o de caso controle, onde se partiria de um

número consistente de casos de brucelose sendo realizada a comparação com os

controles selecionados.

Em virtude do alto custo de um estudo transversal abrangendo todo o Estado,

a orientação para estas situações de baixa prevalência são as atividades de

vigilância ativa, ou de monitoramento com obtenção de dados espaciais e

quantitativos tomados ano a ano. E após um período mínimo de 5 anos, orienta-se

realizar um estudo em série, para verificar redução ou aumento da ocorrência da

doença, não sendo recomendado novo estudo transversal de prevalência.

27

REFERÊNCIAS

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THRUSFIELD, M. Veterinary epidemiology. 2nd ed. Oxford: Blackwell Science, 1997. p.183.

31

3 CONCLUSÃO GERAL

O estudo de prevalência apesar de possuir um alto custo é essencial para

iniciar um programa sanitário, oferecendo um conhecimento amplo da situação da

doença no Estado, e seus fatores de risco.

O fato de envolver os médicos veterinários executores destes programas

sanitários, em estudos epidemiológicos que avancem para projetos de pós-

graduação faz destes estudos uma importante ponte de transferência de

conhecimento entre a Universidade e o Serviço Público. Esta aproximação

interinstitucional traz enriquecimento intelectual tanto para o profissional em si como

para o Órgão de Defesa envolvido, à medida que novas ideias e soluções surgem ao

longo dos projetos executados com a Universidade, que por sua vez cumpre um dos

seus papéis, o de Extensão.

32

REFERÊNCIAS

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