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2019 RENATO BRASILEIRO DE LIMA Súmulas CRIMINAIS do STF e do STJ Comentadas 2ª edição Revista, ampliada e atualizada

Súmulas CRIMINAIS...Lima-Sumulas Criminais do STF e do STJ Com-2ed.indb 36 08/08/2019 12:07:43 56 Súmulas Criminais do STF e do STJ Comentadas • Renato rasileiro de ima quaestionis”

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2019

RENATO BRASILEIRO DE LIMA

Súmulas CRIMINAISdo STF e do STJ

Comentadas

2ª edição Revista, ampliada e atualizada

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35Súmulas Vinculantes

CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 09/06/2009, PUBLIC 21-08-2009 EMENT VOL-02370-04 PP-00811) (...) Recurso especial desprovido. Acórdão sub-metido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008”. (STJ, Corte Especial, REsp 914.253/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 02/12/2009, DJe 04/02/2010).

Súmula vinculante n. 26: Para efeito de progressão de regime1 no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado,2 o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990,3-4 sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.5-6

1. Progressão de regimes: de acordo com o art. 33, §2º, do Código Penal, as penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso. Progressão significa, portanto, a transferência de um regime de cumprimento mais severo para outro mais brando. Permite-se, assim, ao condenado que atinge determinadas metas a conquista de privilégios e uma maior aproximação da liberdade. Para ter direito à progressão, o condenado à pena privativa de liberdade deverá: a) cumprir ao menos 1/6 (um sexto) da pena no regime anterior, se condenado por crime comum; em se tratando de crime hediondo ou equiparado, 2/5 (dois quintos), se primário, ou 3/5 (três quintos), se reincidente; b) ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo di-retor do estabelecimento, passível de comprovação por exame criminológico; c) em se tratando de mulher gestante ou se condenada for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência, os requisitos para a progressão de regime, independentemente da natureza do delito (hediondo ou não), são, cumulativamente (Lei n. 8.072/90, art. 2º, §2º, com redação dada pela Lei n. 13.769/18): c.1) não ter cometido crime com violência ou grave ameaça à pessoa; c.2) não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente; c.3) ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior; c.4) ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento; c.5) não ter integrado organização criminosa; d) se condenado por crime contra a administração pública terá a pro-gressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais (CP, art. 33, §4º, acrescentado pela Lei n. 10.763/2003).1.1. (Im) possibilidade de consideração da data da prisão cautelar como termo inicial para fins de obtenção de progressão de regimes: a custódia cautelar ne-cessariamente deve ser computada para fins de obtenção de progressão de regime

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e demais benefícios executórios, desde que não ocorra condenação posterior apta a configurar falta grave. Partindo-se da premissa de que, diante da execução de uma única condenação, o legislador não impôs qualquer requisito adicional, impende considerar a data da prisão preventiva como marco inicial para a obtenção de benefícios em sede de execução penal.

Jurisprudência selecionada:

STF: “(...) 1. A custódia cautelar necessariamente deve ser computada para fins de obtenção de progressão de regime e demais benefícios da execução, desde que não ocorra condenação posterior apta a configurar falta grave, não se limitando, de toda sorte, o período de prisão provisória à detração. 2. A Súmula nº 716 do STF prevê a possibilidade de se computar o tempo da custódia provisória para fins de progressão de regime, in verbis: “Admite-se a progressão de regime de cumprimento de pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória”. 3. Destarte, partindo-se da premissa de que, diante da execução de uma única condenação, o legislador não impôs qualquer requisito adicional além dos estabelecidos no artigo 112 da Lei de Execução Penal, impende considerar a data da prisão preventiva como marco inicial para obtenção de benefícios em sede de execução penal, desde que não se tenha notícia do cometimento de falta grave pelo reeducando, servindo a sentença condenatória como parâmetro acerca do quantum de pena que deverá ter sido cumprido e não como marco interruptivo para obtenção de benefícios relacionados à progressão de regime. 4. A liberdade suprimida pela custódia cautelar não é restituível, por isso que a jurisprudência do E. STF seguiu a ratio de que “[s]urge o problema da execução. Fico a cada dia mais pasmo quando se fala, no campo penal, em execução provisória. A expressão nos vem do Direito Processual Civil, revelando a execução, na qual, sem caução não se pode chegar a atos que impliquem expropriação, em prejuízo maior para o executado. A espécie sempre pressupõe a possibilidade de retorno ao status quo ante, pelo menos no campo indenizatório. No âmbito criminal, não se devolve liberdade a quem quer que seja. Perde-se a liberdade e isso exsurge definitivo. Não se retroage no tempo para apagar-se o período de custódia ocorrido”, nos termos do voto do Ministro Marco Aurélio no HC nº 72.799. 5. No caso sub examine, diante da execução de uma única condenação, o legislador não impôs qualquer requisito adicional, além dos estabelecidos no artigo 112 da Lei de Execução Penal. Forçoso concluir que a solução juridicamente adequada e que se coaduna com o sistema progressivo de cumprimento de pena previsto na Lei de Execução Penal é a não interrupção, pela sentença condenatória, do lapso temporal para obtenção de benefícios em sede de execução penal de um único crime. 6. Recurso ordinário em habeas corpus provido”. (STF, 1ª Turma, RHC 142.463/MG, Rel. Min. Luiz Fux, j. 12/09/2017, DJe 225 02/10/2017).

2. Princípio da individualização da pena e (in) constitucionalidade do cumpri-mento da pena de crimes hediondos e equiparados em regime integralmente fechado: em sua redação original, o art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90, dispunha que o

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quaestionis” na jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal. Ressalva da posição pessoal do Relator (Ministro CELSO DE MELLO). (...)”. (STF, Pleno, ADI 4.190 MC-Ref/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, j. 10/03/2010, DJe 105 10/06/2010).

STF: “(...) A definição das condutas típicas configuradoras do crime de responsabi-lidade e o estabelecimento de regras que disciplinem o processo e julgamento das agentes políticos federais, estaduais ou municipais envolvidos são da competência legislativa privativa da União e devem ser tratados em lei nacional especial (art. 85 da Constituição da República). Precedentes. Ação julgada procedente quanto às normas do art. 48; da expressão “ou nos crimes de responsabilidade, perante Tribunal Especial” do caput do art. 49; dos §§ 1º, 2º e 3º, item 2, do art. 49 e do art. 50, todos da Constituição do Estado de São Paulo. Ação julgada parcialmente prejudicada e na parte remanescente julgada procedente”. (STF, Pleno, ADI 2.220/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/11/2011, DJe 232 06/12/2011).

STF: “(...) A competência para dispor legislativamente sobre processo e julgamento por crimes de responsabilidade é privativa da União, que o fez por meio da Lei 1.079/50, aplicável aos Governadores e Secretários de Estado, razão pela qual são inconstitucionais as expressões dos arts. 54 e 89 da Constituição do Estado do Paraná que trouxeram disciplina discrepante na matéria, atribuindo o julgamento de mérito de imputações do tipo à Assembleia Legislativa local. Precedentes. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de considerar legítimas as normas de Constituições Estaduais que subordinam a deflagração formal de um processo acusatório contra o Governador do Paraná a um juízo político da Assembleia Legislativa local. Eventuais episódios de negligência deliberada das Assembleias Legislativas não constituem fundamento idôneo para justificar a mudança dessa jurisprudência, cabendo considerar que a superveniência da EC 35/01, que suprimiu a necessidade de autorização legislativa para processamento de parlamentares, não alterou a situação jurídica dos Governadores. Precedente. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente em parte”. (STF, Pleno, ADI 4.791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 12/02/2015, DJe 76 23/04/2015).

Súmula vinculante n. 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.1-2

1. (Im) possibilidade de manutenção de condenado em regime prisional mais gravoso na hipótese de falta de estabelecimento penal adequado: não é raro que o Estado não disponha de estabelecimentos penais adequados (ou de vagas suficientes) para o cumprimento de pena no regime semiaberto ou aberto, o que acaba comprometendo a eficiência do sistema progressivo de cumprimento de penas. Com efeito, apesar de a legislação prever 3 (três) degraus da progressão, os dois últimos teriam sido aban-donados em praticamente todos os estados da federação. Por conta disso, os presos

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57Súmulas Vinculantes

dos referidos regimes estariam sendo mantidos nos mesmos estabelecimentos que os presos em regime fechado. Todavia, essa manutenção do condenado em regime mais gravoso não se revela condizente com o princípio da individualização da pena (CF, art. 5º, XLVI) – na fase da execução penal –, nem tampouco com o princípio da legalidade (CF, art. 5º, XXXIX). De fato, se o indivíduo faz jus à progressão de regimes, haveria evidente afronta à individualização da pena se ele fosse mantido no regime mais gravoso. A violação ao princípio da legalidade seria ainda mais evidente. Conforme dispõe o art. 5º, XXXIX, da CF, as penas devem ser previamente comi-nadas em lei. A legislação brasileira prevê o sistema progressivo de cumprimento de penas. Logo, assistiria ao condenado o direito a ser inserido em um regime inicial compatível com o título condenatório e a progredir de regime de acordo com seus méritos. A manutenção do condenado em regime mais gravoso seria, portanto, flagrante hipótese de excesso de execução. Seria necessário, portanto, verificar o que fazer com os sentenciados se a situação de falta de vagas estiver configurada. A prisão domiciliar seria uma alternativa de difícil fiscalização e, isolada, de pouca eficácia. Todavia, não deveria ser descartada sua utilização, até que fossem estruturadas outras medidas. Desse modo, seria preciso avançar em propostas de medidas que, muito embora não fossem tão gravosas como o encarceramento, não estivessem tão aquém do “necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime” (CP, art. 59). As medidas em questão não pretenderiam esgotar as alternativas a serem adotadas pelos juízos de execuções penais no intuito de equacionar os problemas de falta de vagas nos regimes adequados ao cumprimento de pena. As peculiaridades de cada região e de cada estabelecimento prisional poderiam recomendar o desenvolvimento dessas medidas em novas direções. Assim, seria conveniente confiar às instâncias ordinárias margem para complementação e execução das medidas. O fundamental seria afastar o excesso da execução – manutenção do sentenciado em regime mais gravoso – e dar aos juízes das execuções penais a oportunidade de desenvolver soluções que minimi-zassem a insuficiência da execução, como se daria com o cumprimento da sentença em prisão domiciliar ou outra modalidade sem o rigor necessário. Com base nesse entendimento, o Plenário do Supremo deliberou pela aprovação do enunciado da súmula vinculante n. 56: “A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se obser-var, nesta hipótese, os parâmetros fixados no Recurso Extraordinário n. 641.320”. O Recurso Extraordinário mencionado na súmula fixou os seguintes termos: a) a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso; b) os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou estabelecimento adequado” (regime aberto) (art. 33, parágrafo 1º, alíneas “b” e “c”); c) havendo déficit de vagas, deverá determinar-se: (i) a saída antecipada de senten-ciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de

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vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado.

Jurisprudência selecionada:

STJ: “(...) RECURSO ESPECIAL. PROPOSTA DE JULGAMENTO SOB O RITO DOS RECURSOS REPETITIVOS. EXECUÇÃO PENAL. DETERMINAÇÃO DE CUMPRIMENTO DE PENA EM PRISÃO DOMICILIAR, QUANDO INEXISTENTE VAGA NO REGIME DE CUMPRIMENTO DE PENA ADEQUADO AO EXECUTADO OU ESTABELECIMENTO PRISIONAL COMPATÍVEL COM O PREVISTO EM LEI. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 117 DA LEI DE EXECUÇÕES PENAIS. APLICAÇÃO DO NOVO ENTENDIMENTO ESTABELECIDO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO JULGAMENTO DO RE 641.320/RS. 1. Recurso representativo de controvérsia, para atender ao disposto no art. 1.036 e seguintes do CPC/2015 e na Resolução STJ n. 8/2008. 2. Delimita-ção da controvérsia: “(im)possibilidade de concessão da prisão domiciliar, como primeira opção, sem prévia observância dos parâmetros traçados no RE 641.320/RS”. 3. TESE: A inexistência de estabelecimento penal adequado ao regime prisional determinado para o cumprimento da pena não autoriza a concessão imediata do benefício da prisão domiciliar, porquanto, nos termos da Súmula Vinculante n° 56, é imprescindível que a adoção de tal medida seja precedida das providências estabelecidas no julgamento do RE n° 641.320/RS, quais sejam: (i) saída antecipada de outro sentenciado no regime com falta de vagas, abrindo-se, assim, vagas para os reeducandos que acabaram de progredir; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; e (iii) cumprimento de penas restritivas de direitos e/ou estudo aos sentenciados em regime aberto. 4. Ao examinar a questão do cumprimento de pena em regime fechado, na hipótese de não existir vaga em estabelecimento adequado ao regime em que está efetivamente enquadrado o reeducando, por ocasião do julgamento do RE 641.320/RS, o Supremo Tribunal Federal assentou que “A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso” e que “Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou estabelecimento ade-quado” (regime aberto) (art. 33, § 1º, alíneas “b” e “c”)”. Concluiu, ainda, que, na ausência de vagas ou estabelecimento prisional adequado na localidade, o julgador deve buscar aplicar as seguintes alternativas, em ordem de preferência: (i) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto. Observou, entretanto, que, até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas,

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59Súmulas Vinculantes

poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado e que a adoção de uma solução alternativa não é um direito do condenado. 5. Somente se considera a utilização da prisão domiciliar pouco efetiva, como alternativa à ausência de vagas no regime adequado, quando ela restringe totalmente o direito do executado de deixar a residência, não permitindo, assim, o exercício de trabalho externo, ou quando, estando o reeducando no regime aberto, a prisão domiciliar puder ser substituída pelo cumprimento de penas alternativas e/ou estudo. Não há óbices à concessão de prisão domiciliar com monitoração eletrônica ao sentenciado em regime semiaberto, quando não há vagas no regime específico ou quando não há estabelecimento prisional adequado ou similar na localidade em que cumpre pena. 6. Não há ilegalidade na imposição da prisão domiciliar, mesmo a pura e simples em que o executado não tem direito de deixar a residência em momento algum, em hipóteses não elencadas no art. 117 da Lei de Execuções Penais, máxime quando não houver vagas suficientes para acomodar o preso no regime de cumprimento de pena adequado, tampouco estabelecimento prisional similar, e não for pos-sível, no caso concreto, a aplicação de uma das hipóteses propostas no RE n. 641.320/RS. 7. CASO CONCRETO: Situação em que o reeducando cumpria pena em regime semiaberto e obtivera, do Tribunal de Justiça, o direito de cumpri-la em prisão domiciliar, nas condições a serem fixadas pelo Juízo da execução. Entretanto, após a afetação do presente recurso especial, obteve progressão de regime para o aberto e, atualmente, cumpre pena em prisão domiciliar na qual deve permanecer nos domingos (com permissão para comparecimento a eventual culto religioso ma-tutino) e feriados, assim como nos dias úteis no horário compreendido entre as 19 horas até as 6 horas do dia seguinte, além de cumprir outras restrições. 8. Recurso especial do Ministério Público do Estado de Minas Gerais provido, em parte, apenas para determinar ao Juízo da Execução que examine a possibilidade e conveniência de, no caso concreto e observadas as características subjetivas do réu, bem como seu comportamento ao longo do cumprimento da pena, além de todos os requisitos legais, converter o restante da pena a ser cumprida pelo executado, no regime aberto, em pena restritiva de direitos ou estudo, em atenção ao enten-dimento exarado no RE 641.320/RS”. (STJ, 3ª Seção, REsp 1.710.674/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 22/08/2018, DJe 03/09/2018).

1.1. (Im) possibilidade de cumprimento das penas no regime semiaberto em estabelecimento que não se caracteriza como colônia de trabalho: para a 2ª Turma do STF, se o indivíduo cumpre pena em ala de penitenciária destinada exclusivamente a internos do regime semiaberto, sendo lhe assegurados todos os benefícios inerentes ao respectivo regime, não há falar em concessão de prisão domiciliar, nem tampouco antecipação do regime aberto.

Jurisprudência selecionada:

STF: “RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME: POSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DAS PENAS DO REGIME SEMIABERTO

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EM ESTABELECIMENTO QUE NÃO SE CARACTERIZA COMO COLÔNIA DE TRABALHO. AUSÊNCIA DE CONTRARIEDADE AO VERBETE VINCULANTE 56 DESTE SUPREMO TRIBUNAL. RECLAMAÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. I – É certo que a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, entretanto, não há que se descartar a possibilidade de cumprimento das penas do regime semiaberto em estabelecimento que não se caracteriza como colônia de trabalho, desde que respeitados os parâmetros estipulados por esta Suprema Corte. II - Não há que se falar em desrespeito ao enunciado da Súmula Vinculante 56, pois a decisão combatida harmoniza-se com a orientação jurisprudencial desta Suprema Corte. III – Reclamação à qual se julga improcedente”. (STF, 2ª Turma, Rcl 25.123/SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 18/04/2017, DJe 168 31/07/2017).

2. (Im) possibilidade de aplicação da súmula vinculante n. 56 ao preso provi-sório: a Súmula Vinculante n. 56/STF destina-se com exclusividade aos casos de efetivo cumprimento de pena. Em outras palavras, aplica-se tão somente ao preso definitivo ou àquele em cumprimento provisório da condenação. O seu objetivo não é outro senão vedar o resgate da reprimenda em regime mais gravoso do que teria direito o apenado pela falha do Estado em oferecer vaga em local apropriado. Não se pode estender a citada súmula vinculante ao preso provisório, eis que se trata de situação distinta. Por deter caráter cautelar, a prisão preventiva não se submete a distinção de diferentes regimes. Assim, sequer é possível falar em regime mais ou menos gravoso ou estabelecer um sistema de progressão ou regressão da prisão. Nesse sentido: STJ, 5ª Turma, RHC 99.006/PA, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 07/02/2019, DJe 14/02/2019.

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191Súmulas do STF com reflexos no Direito Penal, no Direito Processual Penal e na Execução Penal

sual penal, constituindo simples regra de conduta administrativa. A exaustão do prazo de 15 dias fixado nesse dispositivo não tem efeito sobre a viabilidade dos procedimentos policial ou judicial consequentes”. (STF, 2ª Turma, RHC 56.600/SP, Rel. Min. Décio Miranda, j. 29/09/1978, DJ 10/11/1978).

Súmula n. 610 do STF: Há crime de latrocínio,1 quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima.2

1. Latrocínio: está previsto no art. 157, § 3º, II, do Código Penal, incluído pela Lei n. 13.654/18, restando caracterizado quando, da violência empregada durante e em razão da prática do crime de roubo, ocorrer a produção do resultado morte, hipó-tese em que a pena a ser aplicada será de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo da multa. Apesar de o Código Penal não utilizar essa rubrica, só se pode falar em latrocínio quando ocorrer a produção do resultado morte durante e em razão da execução do crime de roubo, seja ele próprio (CP, art. 157, caput) ou impróprio (CP, art. 157, § 1º). Na verdade, essa expressão latrocínio consta apenas da Lei n. 8.072/90, que, ao rotular esse crime como hediondo, faz menção expressa ao art. 157, § 3º, in fine, do Código Penal, onde o referido delito estava previsto pelo menos até o advento da Lei n. 13.654/18, que o deslocou para o inciso II do §3º do art. 157 do CP. Por isso, se da violência resultar apenas lesão corporal de natureza grave (art. 157, § 3º, I, incluído pela Lei n. 13.654/18) –, expressão esta que deve ser interpretada em sentido amplo para abranger tanto as lesões graves (CP, art. 129, § 1º) quanto as gravíssimas (CP, art. 129, § 2º) –, não há falar em latrocínio, muito menos em crime hediondo. Trata-se, o latrocínio, de crime qualificado pelo resul-tado. Isso significa dizer que o resultado morte pode ser atribuído ao agente tanto a título de dolo (direto ou eventual) quanto a título de culpa. Não se trata de crime preterdoloso (dolo no antecedente e culpa no consequente), pois o resultado agra-vador pode ser atribuído ao agente a título doloso ou culposo. Logo, se a morte da vítima for produzida dolosamente pelo agente durante a subtração patrimonial, seja porque a desejou (dolo direto), seja em virtude do emprego de violência exagerada (dolo eventual), deverá responder pelo crime de latrocínio, o que também irá ocor-rer caso o resultado morte tiver sido produzido a título culposo (v.g., disparo aci-dental da arma durante o assalto). Em ambas as situações – resultado morte atribuído a título de dolo ou a título de culpa –, o crime de latrocínio será considerado he-diondo, já que o art. 1º, II, da Lei n. 8.072/90, refere-se ao crime do art. 157, § 3º, II, sem fazer qualquer ressalva. De mais a mais, é perfeitamente possível que um delito preterdoloso seja considerado hediondo. Basta ver o exemplo do crime he-diondo (Lei n. 8.072/90, art. 1º, VII) de epidemia com resultado morte (CP, art. 267, § 1º), no qual a morte é provocada a título de culpa. Logo, o coautor que, de ma-neira consciente, participa de um crime de roubo armado, responde pelo latrocínio ainda que o disparo fatal tenha sido efetuado por seus comparsas. Afinal, se tinha

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consciência de que o crime de roubo seria executado com o emprego de arma de fogo, era no mínimo previsível a superveniência do resultado morte. Ademais, como todos os coautores e partícipes respondem pelo mesmo fato delituoso, salvo quan-do há desvio subjetivo de conduta (CP, art. 29, § 2º), prevalece o entendimento de que é desnecessário saber qual dos coautores desferiu o tiro. No entanto, caso o resultado morte não possa ser atribuído ao agente a título de dolo nem mesmo a título culposo (v.g., superveniência de resultado objetivamente imprevisível), não há falar em latrocínio, sob pena de verdadeira responsabilidade penal objetiva e consequente violação ao princípio nulla poena sine culpa, o que é expressamente vedado pelo art. 19 do CP: “Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente”. A título de exemplo, o resultado morte não pode ser imputado ao coautor quando há rompi-mento do nexo causal entre a conduta dele e a de seu comparsa, como ocorre quando o coautor é preso pela Polícia antes da realização do disparo do tiro fatal pelo comparsa e ainda em local diverso da prática do roubo. A lei penal deixa claro que o resultado morte deve ser proveniente da violência praticada pelo agente du-rante a subtração patrimonial, compreendida esta como a vis corporalis, leia-se, o emprego de violência física contra a pessoa. Por isso, se, durante a execução de um crime de roubo, cometido com o emprego de grave ameaça (vis compulsiva) – arma de fogo –, a vítima vier a óbito em virtude de uma parada cardiorrespiratória, não há falar em latrocínio, visto que a morte da vítima não terá sido causada pelo em-prego de violência, mas sim de grave ameaça. Nesse caso, o agente deverá ser res-ponsabilizado pela prática do crime de roubo majorado pelo emprego de arma de fogo (CP, art. 157, § 2º-A, inciso I, incluído pela Lei n. 13.654/18) – sem a incidên-cia do art. 157, § 3º, II, do CP, que, aliás, não admite a aplicação das causa de au-mento de pena dos §§ 2º e 2º-A do art. 157 –, e pelo delito de homicídio, que po-derá ser doloso ou culposo, a depender das circunstâncias fáticas e do elemento subjetivo do agente (v.g., se o agente conhecia os problemas cardíacos da vítima, e agiu com consciência e vontade, deverá responder pelo homicídio a título doloso). O crime de latrocínio somente restará caracterizado quando o resultado morte decorrer da violência empregada durante e em razão do crime de roubo. É neces-sário, pois, que a violência tenha sido empregada durante a execução do crime de roubo (fator temporal) e em razão dele (relação causal). Em síntese, no contexto do crime patrimonial, a violência deve ser usada para subtrair coisa alheia móvel, para garantir a detenção da res furtiva ou até mesmo para assegurar a impunidade pela subtração, e dela deve resultar a morte. Por isso, se o dolo ab initio do agente era o de causar apenas a morte da vítima, resolvendo subtrair seus bens após a consuma-ção do crime de homicídio, deverá responder pelo crime de homicídio em concur-so formal impróprio com o delito de furto. Nesse caso, em virtude do princípio da saisine, constante do art. 1.784 do CC, os herdeiros do falecido figuram como víti-mas do furto. Da mesma forma, se, durante a execução de um crime de roubo, um dos criminosos resolver matar o outro para ficar com o dinheiro subtraído, não há falar em latrocínio, visto que o resultado morte atingiu o próprio sujeito ativo do

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crime de roubo. Evidentemente, se o agente efetuar um disparo para matar uma das vítimas, porém, por erro na execução, atingir e matar um dos coautores, deverá responder pelo crime de latrocínio. Afinal, quando se trata de aberratio ictus (CP, art. 73), o agente responde como se tivesse atingido a pessoa que pretendia ofender. Esta violência a que se refere o art. 157, § 3º, II, do CP, tanto pode ser praticada contra a vítima da subtração, como contra terceiro, como acontece normalmente no crime de roubo próprio (ou impróprio). Logo, ainda que ocorra a morte de outra pessoa que não a dona da coisa subtraída, haverá crime único de latrocínio. Na hipótese de diversidade de vítimas fatais, com subtração de apenas um patrimô-nio, prevalece na doutrina o entendimento de que se trata de crime único de latro-cínio, sem concurso formal, devendo a pluralidade de vítimas ser avaliada por ocasião da dosimetria da pena, nos termos do art. 59 do CP. Afinal, cuida-se, o latrocínio, de crime contra o patrimônio, e não de crime contra a vida. Com esse entendimento: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 3: parte especial – dos crimes contra o patrimônio até dos crimes contra o sentimento religioso e o respeito aos mortos. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 121. Em sentido diverso, entendendo que, no caso de latrocínio, uma única subtração patrimonial com dois resultados de morte caracteriza concurso formal impróprio, nos termos do art. 70, parte final, do Código Penal: STJ, 5ª Turma, HC 56.961/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/12/2007, DJ 07/02/2008. Evidentemente, se restar constatado que houve a pluralidade de mortes e a subtração de mais de um patrimônio mediante uma só ação, ainda que desdobrada em diversos atos, deverá o agente responder por 02 (dois) crimes de latrocínio em concurso formal, e não por crime único, pouco im-portando o fato de as vítimas serem marido e mulher. Com efeito, o fato de serem as vítimas casadas civilmente não leva obrigatoriamente à conclusão de que os bens deles subtraídos num mesmo contexto fático necessariamente constituem um pa-trimônio comum indivisível, pois, mesmo no regime de comunhão universal – em que há a comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges (art. 1.667 do CC) – há os que por lei são considerados patrimônio exclusivo do cônjuge que o recebeu, os denominados bens personalíssimos. Outrossim, é possível que, a despeito de ter ocorrido apenas uma única subtração patrimonial e dois resultados de morte, tenha o criminoso agido com a intenção de lesar mais de um patrimônio, objetivo este não alcançado por circunstâncias alheias a sua vontade. A título de exemplo, basta imaginar duas pessoas sendo assaltadas com o emprego de arma, oportunidade em que os criminosos pedem que os pertences de ambos lhes sejam entregues: se as duas vítimas forem mortas, tendo os criminosos logrado êxito na subtração de apenas um patrimônio, não há falar em crime único de latrocínio, mas sim em dois crimes de latrocínio, porquanto evidenciada a presença de desígnios autônomos em relação a cada uma das subtrações patrimoniais, o que autoriza o reconhecimento do concurso formal impróprio, previsto na parte final do art. 70 do Código Penal. Nesse caso, quanto à vítima morta, cujo patrimônio foi subtraído, haverá um crime de latrocínio consumado. Quanto à outra vítima morta, cuja sub-tração restou na modalidade tentada, também haverá outro crime de latrocínio

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1. Roubo circunstanciado: com redação dada pela Lei n. 13.654/18, o § 2º do art. 157 do Código Penal elenca cinco causas de aumento de pena aplicáveis ao roubo próprio (CP, art. 157, caput) e ao roubo impróprio (CP, art. 157, § 1º). De acordo com o referido dispositivo, a pena aumenta-se de um terço até metade: I – revogado pela Lei n. 13.654/18; II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância; IV – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade; VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego (incluído pela Lei n. 13.654/18). A localização topográfica dessas ma-jorantes – art. 157, § 2º, do CP – revela a intenção do legislador em não permitir sua incidência ao roubo qualificado pela lesão corporal grave ou pela morte (CP, art. 157, § 3º, incisos I e II). Tecnicamente, o art. 157, § 2º, do Código Penal, deve ser denominado de roubo circunstanciado (ou majorado), jamais roubo qualificado. Explica-se: as qualificadoras funcionam como verdadeiros tipos penais – derivados – com novos limites, mínimo e máximo, enquanto as majorantes, como simples causas modificadoras da pena, somente estabelecem sua variação, mantendo os mesmos limites, mínimo e máximo. Ademais, ao contrário das qualificadoras, que fixam novos limites, mais elevados, dentro dos quais será estabelecida a pena-base – veja o exemplo do furto qualificado (CP, art. 155, § 4º), ao qual é cominada pena de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa –, as majorantes funcionam como modificadoras somente na terceira fase do cálculo da pena.2. Quantum de aumento de pena do roubo circunstanciado diante da eventual presença de duas ou mais causas de aumento de pena: na prática, é relativamente comum que o crime de roubo seja cometido com a presença de duas ou mais ma-jorantes. Discute-se, então, acerca do critério a ser utilizado para fins de fixação do quantum de aumento de pena. Sobre o assunto, há 3 (três) correntes distintas: a) procede-se a um único aumento com base em uma das majorantes, sendo que as demais devem ser levadas em consideração como circunstâncias agravantes, ou, não havendo previsão legal, como simples circunstâncias judiciais, valoráveis, pois, na fixação da pena-base, nos termos do art. 59 do CP; b) o quantum de aumento deve ser proporcional ao número de majorantes presentes. Logo, se o crime de roubo for praticado com o emprego de arma, o aumento pode se limitar ao mínimo legal, é dizer, 1/3 (um terço). Por outro lado, se, além do emprego de arma, restar caracterizado o concurso de duas ou mais pessoas, o quantum de aumento deve ser maior, podendo atingir inclusive o máximo de majoração permitido pelo art. 157, § 2º, do CP, ou seja, ½ (metade); c) a existência de mais de uma majorante não autoriza, de per si, a elevação da pena acima do mínimo legal. Na verdade, por força do art. 68, parágrafo único, do CP, o quantum de aumento da pena em razão da existência de mais de uma majorante pressupõe a análise fundamentada do aspecto qualitativo do crime, revelando o maior grau de reprovabilidade da conduta do agente e a necessidade de rigorismo na reprimenda. Não se admite,

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pois, a exasperação da pena no crime de roubo acima do limite mínimo em razão da simples existências de duas ou mais causas especiais de aumento da pena. Aliás, uma única causa de aumento pode revelar, a depender da gravidade do caso, quadro de maior reprovação penal do que outro em que tenha incidido duas majorantes, cuja ofensividade tenha se revelado mínima. Enfim, é justamente o exame das circunstâncias especiais da causa que materializa os princípios da individualização da pena (CF, art. 5º, XLVI) e da obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais (CF, art. 93, IX). É nesse sentido o teor da súmula n. 443 do STJ, segundo a qual, por ocasião da terceira fase de aplicação da pena, o aumento decorrente do reconhecimento do roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, que não pode ser suprida pela simples referência ao número de majorantes.

Jurisprudência selecionada:

STF: “(...) Para a escolha da fração de aumento prevista no § 2º do art. 157 do Códi-go Penal, exige-se decisão fundamentada em elementos concretos dos autos, não sendo suficiente a mera referência ao número de majorantes indicadas na sentença condenatória. Incidência dos princípios da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da CF) e da obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais (art. 93, IX, da CF). Precedentes do STF e Súmula 443/STJ. Habeas corpus concedido”. (STF, 2ª Turma, HC 128.338/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 10/11/2015, DJe 237, 24/11/2015).

STJ: “(...) Consoante reiterada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a presença de duas qualificadoras no crime de roubo (concurso de agentes e empre-go de arma de fogo) pode agravar a pena em até metade, quando o magistrado, diante das peculiaridades do caso concreto, constatar a ocorrência de circunstâncias que indicam a necessidade da elevação da pena acima do mínimo legal. Assim, não fica o Juízo sentenciante adstrito, simplesmente, à quantidade de qualifica-doras para fixar a fração de aumento, pois, na hipótese de existência de apenas uma qualificadora, havendo nos autos elementos que conduzem à exasperação da reprimenda – tais como a quantidade excessiva de agentes no concurso de pessoas ou o grosso calibre da arma de fogo utilizada na empreitada criminosa –, a fração pode e deve ser elevada, acima de 1/3, contanto que devidamente jus-tificada na sentença, em observância ao art. 68 do CP. O mesmo raciocínio serve para uma situação inversa, em que o roubo foi praticado com arma branca (faca ou canivete) e a participação do corréu foi de menor importância, hipótese em que pode o magistrado aplicar a fração mínima, apesar da dupla qualificação. In casu, o Tribunal de origem não fundamentou o acréscimo da reprimenda em 3/8, motivo por que o percentual de aumento da pena pelas qualificadoras previstas no art. 157, § 2º, I e II, deve ser fixado em apenas 1/3. A gravidade do delito em abstrato não é causa suficiente para a imposição de regime mais severo que aquele fixado em lei (art. 33, § 2º, do Código Penal). Súmulas 718 e 719 do STF. Ordem parcialmente concedida para redimensionar a pena do paciente para 5 anos e 4 meses, em regime inicial semi-aberto, e 12 dias-multa”. (STJ, 5ª Turma, HC 97.134/SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 27/11/2008, DJe 19/12/2008).

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511Súmulas do STJ com reflexos no Direito Penal, no Direito Processual Penal e na Execução Penal

AUTOMÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. [...] INCIDÊNCIA DOS ARTS. 90 DO CP E 146 DA LEI N. 7.210/1984. EXTINÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. 1. Inexistindo suspensão cautelar do livramento condicional, o transcurso do respectivo prazo, sem revogação, implica a extinção da pena, diante da impossibilidade de prorro-gação automática do período de prova. [...]” (STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 277.161/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 01/10/2013, DJe 10/10/2013).

STJ: “[...] LIVRAMENTO CONDICIONAL. FIM DO PERÍODO DE PROVA. AUSÊNCIA DE SUSPENSÃO, REVOGAÇÃO OU PRORROGAÇÃO DO BENEFÍCIO. EXTINÇÃO DA PENA. [...] Consolidou-se nesta Corte Superior de Justiça entendimento no sentido de que, cumprido o prazo do livramento condicional sem a suspensão, prorrogação ou a revogação do benefício pelo Juiz da Execução, a pena deve ser declarada extinta - como fez, na espécie, o Juízo da instância primeira -, nos termos do art. 90 do Código Penal e 145 da Lei de Execuções Penais. [...]”. (STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 350.006/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 18/08/2016, DJe 26/08/2016).

STJ: “[...] LIVRAMENTO CONDICIONAL. BENEFÍCIO REVOGADO NO PERÍODO DE PROVA. EXTINÇÃO DA PENA PELO DECURSO DO PRAZO. [...] A jurisprudência desta Corte firmou o entendimento de que o livramento condicional deve ser suspenso ou revogado de forma expressa durante o período de prova. Do contrário, a pena será extinta, nos termos dos artigos 90 do Código Penal e 146 da Lei de Execução Penal. [...]”. (STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 372.575/PR, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, j. 06/06/2017, DJe 13/06/2017).

STJ: “[...] LIVRAMENTO CONDICIONAL. MEDIDA CAUTELAR. SUSPENSÃO. EX-TINÇÃO DA PUNIBILIDADE. COMETIMENTO DE NOVO DELITO NO CURSO DO BENEFÍCIO. [...] Apesar de compulsória a revogação do livramento condicional, no caso de o liberado ser condenado mediante sentença irrecorrível à pena privativa de liberdade por crime cometido durante a vigência do benefício (art. 86, I, do Código Penal), necessária se faz a suspensão do seu curso, por medida cautelar (art. 732 do CPP e 145 da LEP). [...] II - Não havendo qualquer óbice, suspendendo ou revogando o benefício, deve ser declarada extinta a pena, nos termos do art. 90 do Código Penal. [...]”. (STJ, 5ª Turma, HC 370.004/SP, Rel. Min. Felix Fischer, j. 02/02/2017, DJe 10/02/2017).

Súmula n. 630 do STJ: “A incidência da atenuante da confissão espontânea1 no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio”.2 (Terceira Seção, julgado em 24/04/2019, DJe 29/04/2019).

1. Confissão espontânea perante a autoridade: consoante disposto no art. 65, III, alínea “d”, do Código Penal, a pena deve ser atenuada quando houver a confissão

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espontânea, perante a autoridade, da autoria do crime. A circunstância atenuante da confissão espontânea é de caráter subjetivo, pessoal. Logo, não se pode esten-der a minoração da pena pela confissão a outros acusados que não confessaram.2. (Im) possibilidade de incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico de drogas quando o acusado admite tão somente a posse ou propriedade para uso próprio: para que o acusado faça jus à circunstância atenu-ante do art. 65, inciso III, alínea “d”, do Código Penal, deve assumir a prática do delito que lhe é imputado na peça acusatória. Revela-se indevida, pois, a incidência da referida atenuante genérica nas situações em que o acusado buscar minimizar indevidamente sua responsabilidade penal. Por conseguinte, se a denúncia versar sobre um crime de roubo, não se pode admitir a incidência da referida atenuante na eventualidade de o acusado admitir tão somente a subtração, para si ou para outrem, de coisa alheia móvel, negando, porém, o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa. Na mesma linha, em se tratando de denúncia pela prática de tráfico de drogas, se o acusado reconhecer a propriedade da droga com ele apre-endida, afirmando, porém, ser mero usuário, também não será cabível a aplicação da atenuante sob comento. Portanto, para fins de incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico de drogas, é de rigor o reconhecimento da traficância pelo acusado, não sendo apta para atenuar a pena a mera admissão da propriedade para uso próprio. É exatamente nesse sentido o teor da súmula n. 630 do STJ.

Jurisprudência selecionada:

STJ: “[...] TRÁFICO DE DROGAS. ART. 33, § 4º, DA LEI N. 11.343/06. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA AFASTADA. TRANSPORTADOR DE DROGAS. MULA. INTE-GRANTE DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. ART. 65, III, D, DO CÓDIGO PENAL - CP. CONFISSÃO ESPONTÂNEA. ATENUANTE QUE NÃO SE APLICA PARA CONDENADO POR TRÁFICO DE DROGAS QUE RECONHECE APENAS O USO DE DROGAS. [...] A confissão espontânea pela prática de uso de drogas não enseja a aplicação da referida atenuante se o réu foi condenado por tráfico de drogas, conforme juris-prudência desta Corte. [...]”. (STJ, 5ª Turma, AgRg no AgRg no AREsp 1.053.604/AC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 01/06/2017, DJe 09/06/2017).

STJ: “[...] TRÁFICO DE DROGAS. OFENSA AOS ARTS. 59, CAPUT, E 64, I, AMBOS DO CP. [...] ATENUANTE CONFISSÃO ESPONTÂNEA. POSSE PARA USO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. [...] ‘É firme nesta Corte Superior o entendimento de que a incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não sendo apta para atenuar a pena a mera admissão da propriedade para uso próprio. Nessa hipótese, inexiste, sequer parcialmente, o reconhecimento do crime de tráfico de drogas, mas apenas a prática de delito diverso’ [...]” (STJ, 6ª Turma, AgRg no AREsp 1.263.525/MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 12/06/2018, DJe 22/06/2018).

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513Súmulas do STJ com reflexos no Direito Penal, no Direito Processual Penal e na Execução Penal

STJ: “[...] TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. DOSIMETRIA. CONFISSÃO ESPON-TÂNEA. APLICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. RECONHECIMENTO DA PROPRIEDADE DA DROGA PARA USO PESSOAL. DESCABIMENTO. ILEGALIDADE NÃO EVIDENCIADA. [...] Sabe-se que nos casos em que a confissão do agente é utilizada como fundamento para embasar a conclusão condenatória, a atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea d, do CP, deve ser aplicada em seu favor, pouco importando se a admissão da prática do ilícito foi espontânea ou não, integral ou parcial ou se houve retra-tação posterior em juízo. 2. Entretanto, in casu, não obstante o agravante tenha admitido a propriedade da droga, não reconheceu a traficância, afirmando que o estupefaciente encontrado seria para uso pessoal, sendo, portanto, insuficiente para reconhecer a incidência da referida atenuante. [...]”. (STJ, 5ª Turma, AgRg no AREsp 1.308.356/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 07/08/2018, DJe 17/08/2018).

STJ: “[...] TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. CONFISSÃO ESPONTÂNEA. INCIDÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. RECONHECIMENTO DA PROPRIEDADE DA DRO-GA PARA USO PESSOAL. TRAFICÂNCIA NÃO CONFESSADA. [...] Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, se a confissão do réu, ainda que parcial (qualificada) ou retratada, for utilizada pelo magistrado para fundamentar a condenação, deve incidir a respectiva atenuante [...] 2. Todavia, no caso dos autos, embora o réu tenha reconhecido a propriedade da droga apreendida, não confessou a prática do crime de tráfico de drogas, afirmando ser mero usuário. 3. É firme nesta Corte Superior o entendimento de que a incidência da atenuan-te da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não sendo apta para atenuar a pena a mera admissão da propriedade para uso próprio. Nessa hipótese, inexiste, nem sequer parcialmente, o reconhecimento do crime de tráfico de drogas, mas apenas a prática de delito diverso. [...]”. (STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp 1.417.551/SC, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, j. 24/10/2017, DJe 12/12/2017).

Súmula n. 631 do STJ: “O indulto1 extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais”.2 (Terceira Seção, julgado em 24/04/2019, DJe 29/04/2019).

1. Indulto: o indulto propriamente dito, ou indulto coletivo, tem como destinatário um grupo indefinido de condenados, sendo delimitado pela natureza do crime e quantidade de pena aplicada, além de outros requisitos objetivos e subjetivos porventura listados em Decreto expedido pelo Presidente da República, sobre quem recai a competência para sua concessão (CF, art. 84, XII), a qual, todavia, pode ser delegada a seus ministros (CF, art. 84, parágrafo único). Há quem se refira à outra modalidade de indulto, o indulto parcial, também conhecido como comutação de pena, que não tem o condão de causar a extinção da punibilidade, provocando apenas a diminuição da pena a ser cumprida.

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2. Efeitos decorrentes do indulto: como exposto anteriormente, no indulto total extinguem-se as sanções penais mencionadas no decreto presidencial, subsistindo os demais efeitos, penais ou extrapenais. Dar-se-á, portanto, a extinção dos efeitos primários da condenação, isto é, da pena privativa de li-berdade (ou da medida de segurança), ora de forma plena (indulto total), ora de forma parcial (indulto parcial), subsistindo, todavia, os efeitos secundários da condenação, tais como a reincidência, a inclusão do nome do réu no rol dos culpados, a obrigação de indenizar o dano causado pelo delito, etc. Daí os dizeres da súmula n. 631 do STJ.

Jurisprudência selecionada:

STJ: “[...] TRÁFICO DE DROGAS. REINCIDÊNCIA. CONCESSÃO DE INDULTO. EFEITOS SECUNDÁRIOS DA CONDENAÇÃO MANTIDOS. [...] Ao contrário do entendimento do acórdão recorrido, a condenação definitiva do recorrente por crime de roubo qualificado é fundamento apto a justificar o afastamento da causa de diminuição, porquanto a reincidência não é afastada com a concessão do indulto, uma vez que persistem os efeitos secundários da condenação. [...]”. (STJ, 5ª Turma, AgRg no AREsp 682.331/MG, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 07/11/2017, DJe 14/11/2017).

STJ: “[...] POSSE DE ARMA DE FOGO. DOSIMETRIA. REINCIDÊNCIA REGULARMEN-TE APLICADA. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. [...] Ausente qualquer ilegalidade na dosimetria da pena, sendo regularmente aplicada a agravante da reincidência em razão de condenação anterior, com prazo depurador inferior a cinco anos. A extinção da punibilidade pelo indulto não afasta os efeitos da condenação, dentre eles a reincidência, uma vez que só atinge a pretensão executória. [...]”. (STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 409.588/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 12/12/2017, DJe 19/12/2017).

STJ: “[...] PENA RECLUSIVA. SUBSTITUIÇÃO POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. BENEFÍCIO NEGADO. REINCIDÊNCIA. CONFIGURAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIAS JU-DICIAIS DESFAVORÁVEIS. [...] Subsiste, para fins de reincidência, condenação anterior em que foi concedido o benefício do indulto, vez que esse perdão apaga apenas os efeitos executórios da condenação, mas não os secundários. [...]”. (STJ, 5ª Turma, HC 186.375/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 21/06/2011, DJe 01/08/2011).

STJ: “[...] PORTE DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO. [...] IRRELEVÂNCIA DA CONCESSÃO DE INDULTO EM RELAÇÃO À CONDENAÇÃO ANTERIOR. [...] ‘A con-cessão de indulto em relação às condenações anteriores não indica o retorno do condenado à condição de primário nem afasta a presença de maus antecedentes, permanecendo intactos os fundamentos que justificaram a prisão preventiva, ante a necessidade de evitar a reiteração delitiva pelo recorrente’ (RHC 61.803/TO, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Quinta Turma, julgado em 20/04/2017, DJe 03/05/2017). [...]”. (STJ, 5ª Turma, HC 438.408/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 20/03/2018, DJe 02/04/2018).

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515Súmulas do STJ com reflexos no Direito Penal, no Direito Processual Penal e na Execução Penal

Súmula n. 636 do STJ: “A folha de antecedentes criminais1 é documento suficiente a comprovar os maus antecedentes e a reincidência”.2 Terceira Seção, julgado em 26/06/2019, DJe 27/06/2019.

1. Folha de antecedentes criminais: é a ficha que contém a vida pregressa criminal do investigado, de onde constam dados como a relação dos inquéritos policiais já instaurados contra sua pessoa e sua respectiva destinação. De acordo com o art. 20, parágrafo único, do CPP, com redação dada pela Lei n. 12.681/12, “nos ates-tados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à instauração de inquérito contra os requerentes”. Em sua redação anterior, o dispositivo ressalvava a possibilidade de constar da folha de antecedentes eventual condenação anterior.2. (Im) possibilidade de comprovação dos maus antecedentes e da reincidência pela folha de antecedentes criminais: por possuir fé pública, tendo, pois, valor probante para o reconhecimento das informações nela certificadas, a folha de an-tecedentes criminais é suficiente, de per si, para comprovar os maus antecedentes e a reincidência do acusado. Revela-se desnecessária, portanto, a juntada de certidão cartorária (certidão de objeto e pé) do juízo de origem de suas condenações pre-téritas. Logicamente, deve constar da folha de antecedentes não apenas a correta qualificação do acusado, mas também informações quanto aos crimes pelos quais foi condenado, assim como a data do trânsito em julgado de eventuais sentenças condenatórias. É exatamente nessa linha o teor da súmula n. 636 do STJ. Também há precedentes do Supremo Tribunal Federal no mesmo sentido. A propósito: STF, 2ª Turma, HC 103.571, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Dje de 16-03-2011; STF, 1ª Turma, HC 103.970, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 05/10/2010, Dje de 30-11-2010; STF, Pleno, HC 70.873, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 23-09-1994; STF, 1ª Turma, HC 107.274, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Dje de 25-04-2011.

Jurisprudência selecionada:

STF: “(...) REINCIDÊNCIA. RECONHECIMENTO DA AGRAVANTE COM BASE NA FO-LHA  DE  ANTECEDENTES CRIMINAIS.  VIABILIDADE. APLICAÇÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO ART. 33, § 4º, DA LEI DE DROGAS. PACIENTE QUE SE DEDICA AO COMÉRCIO DE ENTORPECENTES. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. NÃO CUMPRIMENTO DO REQUISITO OBJETIVO PREVISTO NO ART. 44, I, DO CP. PENA DE RECLUSÃO SUPERIOR A QUATRO ANOS. RECURSO IMPROVIDO. 1. A folha de antecedentes criminais é documento idôneo para comprovação da reincidência, sendo desne-cessária a juntada de certidão da sentença condenatória transitada em julgado para o reconhecimento da agravante. Precedentes. 2. O afastamento da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 foi alicerçada em

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elementos concretos, que indicam a dedicação do paciente à atividade criminosa relacionada ao comércio de drogas. 3. Não é viável proceder à substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direito, pois a pena imposta ao pa-ciente – seis anos de reclusão – afasta o requisito objetivo previsto no art. 44, I, do Código Penal. 4. Recurso ordinário improvido”. (STF, 2ª Turma, RHC 118.380/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 04/02/2014, DJe 31 13/02/2014).

STJ: “[...] DIREITO PENAL. MAUS ANTECEDENTES. ACRÉSCIMO DA SANÇÃO BÁSICA. COMPROVAÇÃO POR CERTIDÃO CARTORÁRIA. DESNECESSIDADE. 1. Consoante reiterada jurisprudência desta Corte, a ausência de certidão cartorária não impede o reconhecimento dos maus antecedentes, o que pode ser legitimamente feito com base na folha de antecedentes. 2. Havendo referência no acórdão recorrido quanto à existência nos autos de folha de antecedentes do recorrente que registra condenação definitiva anterior, não se pode falar em afronta ao art. 59 do CP ou ao enunciado do verbete n. 444 da Súmula do STJ. [...]”. (STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp 1.417.107/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 06/05/2014, DJe 13/05/2014).

STJ: “[...] É assente neste Sodalício o posicionamento de que a folha de antece-dentes criminais é documento hábil e suficiente à comprovação da existência de maus antecedentes e reincidência, não sendo, pois, imprescindível a apresentação de certidão cartorária. [...]”. (STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp 1.716.998/RN, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 08/05/2018, DJe 16/05/2018).

STJ: “[...] REINCIDÊNCIA. CERTIDÃO CARTORÁRIA. NÃO OBRIGATORIEDADE. [...] 3. O registro de condenação transitada em julgado em folha de antecedentes criminais é suficiente para a caracterização da reincidência, não sendo obrigatória a apresentação de certidão cartorária. [...]”. (STJ, 6ª Turma, HC 212.789/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 07/10/2014, DJe 21/10/2014).

STJ: “[...] DOSIMETRIA. CONDENAÇÕES ANTERIORES E DEFINITIVAS. FOLHA DE ANTECEDENTES. VALOR PROBATÓRIO. MAUS ANTECEDENTES E REINCIDÊNCIA. CARACTERIZAÇÃO. [...] A folha de antecedentes criminais possui fé pública e valor probante para o reconhecimento das informações nela certificadas. [...]”. (STJ, 6ª Turma, HC 272.899/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 18/09/2014, DJe 02/10/2014).

STJ: “[...] RÉU REINCIDENTE. FOLHA DE ANTECEDENTES CRIMINAIS. DOCUMENTO APTO A COMPROVAR A REINCIDÊNCIA. [...] No que se refere ao pleito de afas-tamento da agravante da reincidência, é firme a jurisprudência desta Corte de Justiça ‘no sentido de que a folha de antecedentes criminais é documento hábil e suficiente a comprovar os maus antecedentes e a reincidência, não sendo, pois, obrigatória a apresentação de certidão cartorária’ (HC 175.538/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, DJe 18/04/2013).

STJ: “[...] REINCIDÊNCIA. COMPROVAÇÃO. FOLHA DE ANTECEDENTES CRIMINAIS EXPEDIDA PELO INSTITUTO NACIONAL DE IDENTIFICAÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL. POSSIBILIDADE. [...] A folha de antecedentes criminais expedida pelo INI contém a identificação do Recorrido, o crime que o condenou e a data do trânsito em julgado da condenação. Informações essas bastantes e suficientes para o reconhecimento da agravante da reincidência, prevista nos arts. 61, I, e 63 do CP. [...]”. (STJ, 5ª Turma, REsp 285.750/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 07/10/2003, DJ 08/03/2004).

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