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Sobre a impossibilidade de optometristas executarem atividades privativas de médicos oftalmologistas - Revista Jus Navigandi - Doutrina e Peças

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07/07/13 Sobre a impossibilidade de optometristas executarem atividades privativas de médicos oftalmologistas - Revista Jus Navigandi - Doutrina e Peças

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Sobre a impossibilidade de optometristas executarem atividades privativas de médicosoftalmologistashttp://jus.com.br/revista/texto/17139

Publicado em 08/2010

Aldem Johnston Barbosa Araújo (http://jus.com.br/rev ista/autor/aldem-johnston-barbosa-araujo)

Resumo: Uma análise sobre os efeitos jurídicos dos Decretos nºs 20.931/1932 e 24.492/1934 nas atividades profissionais desenvolvidas pelos optometristas.

Sumário: 1 – Introdução, 2 – Da possibil idade de o optometrista exercer sua profissão, 3 - Sobre os Decretos de nºs 20.931/32 e 24.492/1934 que regulam a profissão de

optometrista, 4 - Das atividades cujas práticas são vedadas ao optometrista, 5 – Do papel das vigilâncias sanitárias na fiscalização dos Decretos nºs 20.931/1932 e 24.492/1934, 6 -

Conclusão.

Palav ras-chav e: optometristas – atividades privativas – médicos oftalmologistas – impossibil idade.

1) Introdução

Datam de 1932 e 1934 as normas jurídicas que tutelam, dentre outras coisas, o comércio e a prestação de serviços relacionados às lentes de grau. São elas os Decretos nºs 20.931

e 24.492.

Apesar de inegavelmente vetustos - já que ambos contam hoje, em 2010, com mais de 70 (setenta) anos – os Decretos nºs 20.931/1932 e 24.492/1934 continuam a provocar

reações no mundo jurídico, quer seja naqueles que acreditam que deles não podem mais emanar efeitos haja vista o hodierno figurino constitucional, quer seja nos que entendem que

tais decretos foram agasalhados pela Carta de Outubro e que devem por isso ter sua exigibil idade garantida e sua obediência fiscalizada e exigida.

Os Decretos nºs 20.931/1932 e 24.492/1934 repercutem especialmente sobre as atividades do optometrista, pois à luz de tais normas, foi relegada àquele profissional unicamente

a responsabilidade pela confecção e reparos em lentes de grau, ao passo que hodiernamente, tem o optometrista realizado tarefas que, segundo os excogitados decretos, a ele seriam

vedadas.

É tentando traçar um sucinto panorama sobre as implicações jurídicas das emanações dos Decretos nºs 20.931/1932 e 24.492/1934 que passamos a tecer os comentários que

seguem nas linhas abaixo.

2) Da possibilidade de o optometrista exercer sua profissão

É indiscutível, como podemos perceber do julgamento do Mandado de Segurança n. 9469/DF, relatado pelo Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 10/8/2005, que o

Supremo Tribunal Federal reconhece a legitimidade do exercício da profissão de optometrista:

"ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ENSINO SUPERIOR. CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM OPTOMETRIA. RECONHECIMENTO PELO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. LEGITIMIDADE DO ATO.

1. A manifestação prévia do Conselho Nacional de Saúde é exigida apenas para os casos de criação de cursos de graduação em medicina, em odontologia e em

psicologia (art. 27 do Decreto n. 3.860/2001), não estando prevista para outros cursos superiores, ainda que da área de saúde.

2. Em nosso sistema, de Constituição rígida e de supremacia das normas constitucionais, a inconstitucionalidade de um preceito normativo acarreta a sua nulidade

desde a origem. Assim, a suspensão ou a anulação, por vício de inconstitucionalidade, da norma revogadora, importa o reconhecimento da vigência, ex tunc, da norma

anterior tida por revogada (RE 259.339, Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 16.06.2000 e na ADIn 652/MA, Min. Celso de Mello, RTJ 146:461; art. 11, § 2º da Lei 9.868/99).

Estão em vigor, portanto, os Decretos 20.931, de 11.1.1932 e 24.492, de 28 de junho de 1934, que regulam a fiscalização e o exercício da medicina, já que o ato normativo

superveniente que os revogou (art. 4º do Decreto n. 99.678/90) foi suspenso pelo STF na ADIn 533-2/MC, por vício de inconstitucionalidade formal.

3. A profissão de optometrista está prev ista em nosso direito desde 1932 (art. 3º do Decreto 20.931/32). O conteúdo de suas ativ idades está descrito na

Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, editada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (Portaria n. 397, de 09.10.2002).

4. Ainda que se possa questionar a legitimidade do exercício, pelos optometristas, de algumas daquelas ativ idades, por pertencerem ao domínio próprio da

medicina, não há dúv ida quanto à legitimidade do exercício da maioria delas, algumas das quais se confundem com as de ótico, já prev istas no art. 9º do Decreto

24.492/34.

5. Reconhecida a existência da profissão e não hav endo dúv ida quando à legitimidade do seu exercício (pelo menos em certo campo de ativ idades), nada

impede a existência de um curso próprio de formação profissional de optometrista.

6. O ato atacado (Portaria n. 2.948, de 21.10.03) nada dispôs sobre as atividades do optometrista, l imitando-se a reconhecer o Curso Superior de Tecnologia em

Optometria, criado por entidade de ensino superior. Assim, a alegação de ilegitimidade do exercício, por optometristas, de certas atividades previstas na Classificação

Brasileira de Ocupações é matéria estranha ao referido ato e, ainda que fosse procedente, não constituiria causa suficiente para comprometer a sua validade.

7. Ordem denegada." (sem grifo no original)."

É inegável, portanto que, desde que alguém regularmente se habilite para tanto, será lícito a esta pessoa o exercício da função de optometrista.

Contudo, ao profissional optometrista não é permitido (dentre outras atividades) manter consultório para atendimento de clientes, nem vender lentes de grau sem prescrição

médica, devendo exercer suas funções de acordo com as limitações impostas pelos Decretos Federais nºs 20.931/32 e 24.492/34.

Jus Navigandi

http://jus.com.br

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3) Sobre os Decretos de nºs 20.931/32 e 24.492/1934 que regulam a profissão de optometrista

A atividade de optometrista está regulada no Decreto nº 20.931/32. O Decreto nº 24.492/1934, por sua vez, dispõe sobre o comércio de lentes de grau.

Os Decretos nºs 20.931/32 e 24.492/1934 têm força de lei, vez que, à época de seu ingresso no ordenamento jurídico, foram editados pelo Chefe do Governo Provisório, o que nos

leva a concluir que eles se encaixam nas lições de Uadi Lammêgo Bulos, para quem ...

"... as normas jurídicas editadas na v igência da ordem anterior são recebidas e adaptadas ao nov o ordenamento jurídico naquilo que se conformarem a este

(STF, RE 160.486, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 4-2-2005)." (Bulos, Uadi Lammêgo, Direito constitucional ao alcance de todos, São Paulo: Saraiva, 2009, pág. 43)

Diga-se que, além de possuírem força de lei, os Decretos nºs 20.931/32 e 24.492/1934 estão em vigor, pois o Supremo Tribunal Federal, na ADIN 533-2 MC, Rel. Min. Carlos

Velloso, em 07 de agosto, de 1991, suspendeu o Decreto nº 99.678, de 08 de novembro de 1990, que os havia revogado:

"CONSTITUCIONAL. ATOS NORMATIVOS PRIMARIOS. IMPOSSIBILIDADE DE SUA REVOGAÇÃO POR ATOS NORMATIVOS SECUNDARIOS.

I. Decreto com força de lei, assim ato normativ o primário. Impossibilidade de sua rev ogação mediante decreto comum, ato normativ o secundário.

II. Ocorrência dos pressupostos da cautelar".

Neste toar, o Superior Tribunal de Justiça (MS 9.469/DF, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/08/2005, DJ 05/09/2005 p. 197) já decidiu

que ...

"Estão em v igor, portanto, os Decretos 20.931, de 11.1.1932 e 24.492, de 28 de junho de 1934, que regulam a fiscalização e o exercício da medicina, já que o

ato normativ o superv eniente que os rev ogou (art. 4º do Decreto n. 99.678/90) foi suspenso pelo STF na ADIn 533-2/MC, por v ício de inconstitucionalidade formal."

Todavia, há de ser dito que a atividade de técnico em optometria consta do item 3223, na Portaria 397, de 09 de outubro de 2002, do Ministério do Trabalho e Emprego (v ide

nota 01), cujas funções são sinteticamente assim descritas:

"Realizam exames optométricos; confeccionam lentes; adaptam lentes de contato; montam óculos e aplicam próteses oculares. Promovem educação em saúde visual;

vendem produtos e serviços ópticos e optométricos; gerenciam estabelecimentos. Responsabilizam-se tecnicamente por laboratórios ópticos, estabelecimentos ópticos básicos

ou plenos e centros de adaptação de lentes de contato. Podem emitir laudos e pareceres ópticos-optométricos."

Porém, não se pode olvidar que a Classificação Brasileira de Ocupações - CBO2002 tem fins meramente classificatórios, sem função de regulamentação profissional.

Bom é que se diga também que a Portaria 397, de 09 de outubro de 2002, do Ministério do Trabalho e Emprego NÃO REVOGOU os Decretos n.º 20.931/32 e 24.492/1934, vez

que os mesmos, como alhures mencionado, têm força de lei e, como é de notória sabença PORTARIA NÃO REVOGA LEI. Neste sentido, vejamos trechos do Parecer nº 458/2004 da

Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco confeccionado pelo Douto Procurador João Armando da Costa Menezes:

"(a) a Portaria MTE/GM nº 397, ato administrativ o normativ o, não tem status de Lei, não podendo suplantar os ditames dos Decretos 20.931/32 e 24.492/34;

(b) o reconhecimento, na dita Portaria, do ofício de Técnico em Óptica e de Técnico em Optometria no bojo da Classificação Brasileira de Ocupações tem o condão,

tão-só, de conferir legitimidade no exercício de tais ocupações (ocupações lícitas), sem que tal reconhecimento implique superação das limitações a serem observ adas no

exercício dessas ocupações, notadamente no que tange à prática de atos médicos (priv ativ os, por normas com status de Lei, aos profissionais médicos);"

Por fim, há de ser dito que o próprio Ministério do Trabalho reconheceu que as atividades dos óticos práticos e dos optometristas (família ocupacional 3223) estão super-

dimensionadas, conforme podemos perceber do teor da Informação 1071 de 01/03/2003 da Coordenação de Identificação e Registro Profissional:

"... esclarecemos que a família ocupacional F. O. 3223, tem sido objeto de intensos debates envolvendo as partes interessadas (Conselho Brasileiro de Oftalmologia e

Conselho Brasileiro de Ópticos e Optometristas), bem como o Ministério da Educação e outros órgãos.

Segundo o que apuramos após v ários debates, a F. O. 3223 está superdimensionada agregando algumas ativ idades bem como recursos de trabalho que seriam

de exclusiv idade dos médicos oftalmologistas."

Ademais, pode-se inclusive dizer que a Portaria 397, de 09 de outubro de 2002, do Ministério do Trabalho e Emprego transbordou a competência que a Lex Mater confere a tal

tipo de norma.

O Superior Tribunal de Justiça em julgamento realizado no dia 04/05/2010, corroborou com o entendimento até aqui exposto sobre a Portaria 397, de 09 de outubro de 2002, do

Ministério do Trabalho e Emprego e os Decretos n.ºs 20.931/32 e 24.492/1934:

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"Superior Tribunal de Justiça

Processo RESP 200902399065 RESP - RECURSO ESPECIAL - 1169991

Relator(a) ELIANA CALMON

Órgão julgador SEGUNDA TURMA

Fonte DJE DATA:13/05/2010

Ementa

ADMINISTRATIVO, CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL AÇÃO CIVIL PÚBLICA DEFESA COLETIVA DE CONSUMIDORES OPTOMETRISTAS VIOLAÇÃO DO

ART. 535 DO CPC NÃO CARACTERIZADA VERIFICAÇÃO DA RECEPÇÃO MATERIAL DE NORMA PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988 INVIABILIDADE VIGÊNCIA DO DECRETO

20.931/1932 EM RELAÇÃO AO OPTOMETRISTA PORTARIA DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO 397/2002 INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL.

1. Não ocorre ofensa aos arts. 165, 458 e 535 do CPC, se o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide.

2. É inviável, em recurso especial, a verificação quanto à recepção material de norma pela Constituição de 1988, pois reforge à competência deste Tribunal Superior,

uma vez que possui nítido caráter constitucional. Precedentes do STJ.

3. Estão em v igor os dispositiv os do Decreto 20.931/1932 que tratam do profissional de optometria, tendo em v ista que o ato normativ o superv eniente que os

rev ogou (Decreto 99.678/90) foi suspenso pelo Supremo Tribunal Federal na ADIn 533-2/MC, por v ício de inconstitucionalidade formal.

4. A Portaria 397/2002 do Ministério do Trabalho e Emprego é parcialmente inconstitucional, uma v ez que extrapolou a prev isão legal ao permitir que os

profissionais optométricos realizem exames e consultas, bem como prescrev am a utilização de óculos e lentes.

5. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido

Data da Decisão 04/05/2010

Data da Publicação 13/05/2010"

Resta, por conseguinte, induvidosa a vigência dos Decretos n.º 20.931/32 e 24.492/1934.

4) Das atividades cujas práticas são vedadas ao optometrista

Pois bem, o art. 38 do Decreto Federal nº 20.931/1932 PROÍBE que o optometrista preste atendimento (leia-se atendimento médico-clínico) a pacientes:

"Art. 38 É terminantemente proibido aos enfermeiros, massagistas, optometristas e ortopedistas a instalação de consultórios para atender clientes, devendo o

material aí encontrado ser apreendido e remetido para o depósito público, onde será vendido judicialmente a requerimento da Procuradoria dos leitos da Saude Pública e a

quem a autoridade competente oficiará nesse sentido. O produto do leilão judicial será recolhido ao Tesouro, pelo mesmo processo que as multas sanitárias."

Reforça-se esta proibição ante ao que dispõe o Decreto Federal Nº 24.492 de 28 de junho de 1934 que: (a) disciplina quais atividades competem ao ótico prático (optometrista), (b)

rechaça a possibil idade do optometrista vir a exercer atividades privativas de médico e (c) veda a realização de exames oftalmológicos em estabelecimentos óticos:

"Art. 9º Ao ótico prático do estabelecimento compete:

a) a manipulação ou fabrico das lentes de grau;

b) o av iamento perfeito das fórmulas óticas fornecidas por médico oculista;

c) substituir por lentes de grau idêntico aquelas que lhe forem apresentadas danificadas:

d) datar e assinar diariamente o liv ro de registro do receituário de ótica.

(...)

Art. 13 É expressamente proibido ao proprietário, sócio gerente, ótico prático e demais empregados do estabelecimento, escolher ou permitir escolher, indicar ou

aconselhar o uso de lentes de grau, sob pena de processo por exercício ilegal da medicina, além das outras penalidades prev istas em lei.

(...)

Art. 17 É proibida a existência de câmara escura no estabelecimento de v enda de lentes de grau, bem assim ter em pleno funcionamento aparelhos próprios

para o exame dos olhos, cartazes e anúncios com oferecimento de exame da v ista."

Assim, especialmente nos termos do Decreto Federal Nº 24.492 de 28 de junho de 1934, falece de competência o optometrista para desempenhar quaisquer atividades que não

sejam as que estão expostas no art. 9º do já mencionado decreto.

Corroborando com o que foi até aqui exposto, ou seja: que é vedado ao optometrista exercer atividades típicas do médico vejamos abaixo trechos das sentenças exaradas nos autos

do processo nº 2006.83.00.012654-0 (v ide nota 02) e no processo n° 2007.83.00.005098-8 (v ide nota 03) ambas de lavra do Juiz da 21ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de

Pernambuco.

Em primeiro lugar, vejamos a decisão prolatada no processo nº 2006.83.00.012654-0:

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"(...) Observ o que os Decretos 20.931/32 e 24.492/34 foram recepcionados pela CF/88, ao contrário do alegado pela parte autora. O ato normativo superveniente

que os revogou (art. 4º, do Decreto n.º 99.678/90) foi suspenso pelo STF, na ADI n.º 533-2/MC, por vício de inconstitucionalidade formal. A inconstitucionalidade opera

geralmente ex tunc, ou seja, o preceito normativo inconstitucional não produziu efeitos jurídicos legítimos, muito menos o efeito revocatório da legislação anterior.

Parece-me de interesse reproduzir o teor da decisão proferida no Agravo de Instrumento nº 121770-9 (recurso interposto contra 'decisum' proferido nestes autos):

"Assiste razão ao Agrav ante. Com efeito os Decretos nºs 20.931/32 e 24.492/34 v edam aos optometristas a possibilidade de realizar exames de refração e

prescrição de receitas de lentes de óculos e de contato, sendo certo que tais normas ainda encontram-se em v igor em nosso ordenamento jurídico, e a liberação de tal

exercício poderá causar lesão a população. Vislumbrando relev ância nessa argumentação, e a possibilidade de a decisão atacada causar lesão grav e ou de difícil

reparação, defiro, o pedido de suspensiv idade da decisão atacada, até ulterior deliberação deste juízo."

O problema da questão está no que diz respeito aos limites de atuação dos optometristas e de ev entuais excessos ou interferências indev idas de suas

ativ idades com as próprias e exclusiv as de médicos oftalmologistas, considerando o que dispõem os Decretos 20.931/32 e 24.492/34.

A Constituição da República elegeu como direito fundamental o l ivre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão (artigo 5.º, inciso XIII). Ao positivar essa

liberdade, exigiu-se o atendimento da qualificação profissional eventualmente imposta por lei. Assim, a previsão do artigo 5.º, inciso XIII, da Constituição é norma de eficácia

contida. Isso significa dizer que a regra é o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão. Essa regra somente cede espaço, ou seja, deixa de viger de forma ampla,

quando sobrevier lei que estabeleça, para certas profissões ou atividades, a necessidade de qualificação profissional.

Entendo que a Constituição, por não disciplinar retroativamente as exigências formais da legislação, conferiu autoridade às disposições dos artigos 3º, 38, 39, 40 e 41

do Decreto n.º 20.931/32.

Os Decretos n.º 20.931/32 e n.º 24.492/34 foram editados de acordo com a norma constitucional v igente à época e foram recepcionados pela CF/88, tendo força

de lei até hoje, não havendo que se falar em inconstitucionalidade formal superveniente. Assim, inexistindo o instituto da inconstitucionalidade formal superveniente, o

conflito entre normas, sob o ângulo material, resolve-se com a revogação tácita, o que não aconteceu no caso em tela, estando ambos os Decretos em vigor.

Inclusive, tomo como exemplo o Decreto n.º 20.910/32, referente à prescrição, que apesar de ter sido editado na época Vargas, foi recepcionado pelas Constituições

posteriores e está em pleno vigor, com força de lei, tendo sido devidamente recepcionado pela CF/88.

(...)

Observo, ainda, que a profissão de optometrista está descrita na Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, editada pelo Ministério do Trabalho e Emprego-TEM

(Portaria nº 397, de 09.10.2002).

(...)

Em que pese a supramencionada classificação mencionar dentre as atribuições do optometrista a de realizar "exames, anamnese e adaptar de lentes de

contato", trata-se de disposição infralegal sobre o assunto que contrasta com a legislação existente sobre a matéria. É certo que a profissão de optometrista está prevista

na legislação brasileira, entretanto não foi regulamentada, apenas existindo a regulamentação da atividade do óptico prático, restrita a fabricação e ao comércio de lentes de

grau.

Assim, já estando legalmente prev isto que a prescrição de uso de lentes de grau é ato priv ativ o de médico, a prev isão de que o profissional de optometria

possa realizar exames optométricos é flagrantemente ilegal. Nesse sentido, semelhantemente às limitações impostas pela lei à ativ idade do "óptico prático", concluo

que aos optometristas é v edada a prática de diagnóstico ocular e de solução para a correção de doença ou do campo v isual (como exames de refração, de v ista ou

testes de v isão em pacientes e prescrição ou mesmo aconselhamento de óculos e lentes de contato de grau, bem como adaptação de lentes de contato).

(...)

Assim, resta claro que as atribuições de prescrição de lentes para correção v isual (óculos ou lentes de contato), e todos os atos que lhe são correlatos

(exames de refração, por exemplo), são de exclusiv a responsabilidade de profissional médico, e não do optometrista.

(...)

Por fim, reputo que a continuidade da prática de ativ idades priv ativ as de médico por profissionais de optometria fere não apenas a legislação acima referida,

mas também constitui perigo à saúde pública."

E agora, trechos da sentença prolatada no processo n° 2007.83.00.005098-8:

"(...) o fato inarredáv el é que no ordenamento jurídico atualmente v igente impera uma norma proibitiv a que, malgrado desatualizada, é de caráter cogente e

força obrigatória.

Como bem assentado pelo douto Procurador da República Dr. Antonio Carlos Barreto Campelo, diante do panorama normativ o atual a discussão a respeito da

delimitação do campo de atuação profissional dos optometristas não tem cabimento no âmbito de uma ação judicial, devendo este pleito ser perseguido "mediante

debate no congresso nacional, dando-se oportunidade de colheita de elementos dos vários setores da sociedade envolvidos na questão" (fls. 338/341).

É dizer, cabe aos personagens sociais diretamente interessados na questão exercer gestões junto aos parlamentares, que são os representantes da vontade popular, a

fim de que a profissão seja regulamentada ou, quando menos, para que sejam revogadas as normas que proíbem o desempenho dessas funções pelos optometristas.

Repiso que, ao decidir pela impossibilidade de estes profissionais manterem consultório médico e realizarem exames optométricos, não está o Judiciário a

externar juízo de v alor quanto à conv eniência ou à utilidade pública que hav erá em possibilitar a prática desses atos pelos optometristas. O que se decide é pela

legalidade ou não da conduta, e no atual estágio da legislação não há como reconhecer-se legítimo o pleito deduzido pelo réu mercê da existência de diplomas legislativos

que expressamente dispõem em sentido contrário."

A posição adotada pela Justiça Federal de Pernambuco nas sentenças exaradas nos processos nºs 2006.83.00.012654-0 e 2007.83.00.005098-8 é também albergada pelos

sodalícios pátrios, conforme se vê abaixo:

"Superior Tribunal de Justiça

"O optometrista, todav ia, não resta habilitado para os misteres médicos, como são as ativ idades de diagnosticar e tratar doenças relativ as ao globo ocular, sob

qualquer forma." (Recurso Especial n.º 975.322/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, publicado em 03 de novembro de 2008)

Acordão

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Origem: TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUARTA REGIÃO

Processo AC 200871100036780

AC - APELAÇÃO CIVEL

Relator(a) MARGA INGE BARTH TESSLER

Órgão julgador QUARTA TURMA

Fonte D.E. 03/11/2009

Ementa

ADMINISTRATIVO. OPTOMETRISTA. EXERCÍCIO DE ATIVIDADES PRIVATIVAS DE MÉDICO OFTALMOLOGISTA. IMPOSSIBILIDADE. DECRETO 20.931/1932 E

24.492/1934.

Não há qualquer v ício de ordem material a macular os artigos dos Decretos 20.931/32 e 24.492/34, inexistindo as inconstitucionalidades apontadas pelo autor.

Ademais, não está em questão o reconhecimento do curso de optometria, mas os limites legais para o exercício da referida profissão, sendo indiscutív el que o exame para

diagnóstico de alterações v isuais é ato priv ativ o de médico.

Data da Decisão 21/10/2009

Data da Publicação 03/11/2009

Acordão

Origem: TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUARTA REGIÃO

Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL

Processo: 200570140019327 UF: PR Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA

Data da decisão: 12/02/2008 Documento: TRF400162039

Fonte D.E. 27/02/2008

Relator(a) MARCELO DE NARDI

Ementa

ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. OPTOMETRISTA. EXERCÍCIO DE ATIVIDADES PRIVATIVAS DE MÉDICO OFTALMOLOGISTA. IMPOSSIBILIDADE. D

20.931/1932 E 24.492/1934. INC. XIII DO ART. 5º E ART. 196 DA CF 1988.

1. Nos termos dos arts. 13 e 14 do D 24.492/1934, é de competência exclusiv a de médico o diagnóstico de alterações v isuais e a prescrição de lentes de grau.

2. O art. 38 do D 20.931/1932 v eda aos optometristas a instalação de consultórios para atender clientes.

3. A CF 1988 estabelece a necessidade de políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos (art. 196) e garante o livre

exercício da profissão somente se atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer (inc. XIII do art. 5º).

4. Hipótese em que a continuação das ativ idades dos optometristas constitui perigo à saúde pública, por ausência de habilitação suficiente, além de

interferência indev ida na esfera de procedimentos priv ativ os dos médicos oftalmologistas.

Data Publicação

27/02/2008

Acordão

Origem: TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA QUARTA REGIÃO

Classe: AG - AGRAVO DE INSTRUMENTO

Processo: 200704000285475 UF: PR Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA

Data da decisão: 29/01/2008 Documento: TRF400160928

Fonte D.E. 13/02/2008

Relator(a) MARCELO DE NARDI

Ementa

AGRAVO DE INSTRUMENTO. OPTOMETRISTA. DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES PRIVATIVAS DE MÉDICO OFTALMOLOGISTA. IMPOSSIBILIDADE. D

20.931/1932 E 24.492/1934.

1. Nos termos dos arts. 13 e 14 do D 24.492/1934, é de competência exclusiv a de médico o diagnóstico de alterações v isuais e a prescrição de lentes de grau.

2. O art. 38 do D 20.931/1932 v eda aos optometristas a instalação de consultórios para atender clientes.

Data Publicação

13/02/2008

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. OPTOMETRIA. ALVARÁ SANITÁRIO.

1. É parte legítima para figurar no polo passivo da ação de mandado de segurança a Diretora da Vigilância Sanitária do Município que indefere pedido de alvará para

o exercício da Optometria.

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2. A confecção e comercialização de lentes de grau dependem de prescrição médica. O técnico em optometria não pode se instalar em consultório para atender

clientes para prescrev er próteses e órteses oftalmológicas. Tais ativ idades são priv ativ as de médico. Art. 38 e 39 do Decreto n.º 20.931/32. Art. 14 do Decreto

24.492/34.

Recurso provido. Reexame necessário prejudicado. (Apelação e Reexame Necessário Nº 70034614115, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,

Relator: Maria Isabel de Azevedo Souza, Julgado em 29/04/2010)

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO COMINATÓRIA. PRELIMINAR DE NULIDADE DA CITAÇÃO. OPTOMETRIA. PRÁTICA DE ATOS PRIVATIVOS DE MÉDICO.

ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.

1. Preliminar de nulidade da citação. Em que pese a citação tenha ocorrido durante as férias forenses, é de ser considerado sanado o vício, pois preenchidas as

condições de sanabilidade da nulidade relativa, arroladas nos artigos 244 e 249, § 1º, do CPC, na medida em que o ato atendeu a sua finalidade sem causar prejuízo às

partes.

2. Antecipação de tutela. Optometria. Prática de atos priv ativ os de médicos. O profissional formado em optometria não pode prescrev er, indicar ou aconselhar a

utilização de lentes de grau, pois se trata de mister exclusiv o aos médicos oftalmologistas, conforme determinado pelos artigos 38 do Decreto nº 20.931/32 e 14 do

Decreto nº 24.492/34. Além do mais, de acordo com o art. 13 do Decreto nº 24.492/34, é expressamente proibido ao proprietário, sócio-gerente, ótico prático e demais

empregados do estabelecimento escolher ou permitir escolher, indicar ou aconselhar o uso de lentes de grau, sob pena de ser processado por exercício ilegal da

medicina. Deve ser mantida, portanto, a l iminar concedida pelo juízo de primeiro grau, pois corretamente proibiu a prática, por parte dos agravantes, dos atos que

evidentemente são privativos do médico, mas preservou o exercício da atividade para a qual o agravante logrou qualificação no curso oficial de optometria, reconhecido pelo

Ministério da Educação e Cultura MEC. Preliminar de nulidade de citação afastada. Agravo de instrumento não-provido. (Agravo de Instrumento Nº 70010901957, Nona

Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em 23/03/2005).

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL

DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. MANDADO DE SEGURANÇA. REEXAME NECESSÁRIO. EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ SANITÁRIO. CONSULTÓRIO DE

OPTOMETRIA. PROFISSÃO NÃO REGULAMENTADA. IMPOSSIBILIDADE.

Não é possív el a expedição de alv ará sanitário para a instalação de consultório de optometria, tendo em v ista que a profissão não é regulamentada. A proibição

não implica a inv iabilizar o exercício profissional do optometrista, mas tão-somente a instalação de consultório. Precedentes deste Tribunal. MODIFICARAM A

SENTENÇA EM REEXAME E DENEGARAM A SEGURANÇA. (Reexame Necessário Nº 70011858404, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Arno

Werlang, Julgado em 04/10/2006)

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO COMINATÓRIA. OPTOMETRIA.

Atos priv ativ os de médicos oftalmologistas não podem ser desempenhados por profissionais da área da optometria. A posse de equipamentos que auxil iem a

atividade do optometrista não pode ser impedida, pois a profissão de optometrista não é ilegal. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA (Apelação Cível Nº 70015403983,

Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Bayard Ney de Freitas Barcellos, Julgado em 27/06/2007).

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL

AÇÃO COMINATÓRIA. OPTOMETRIA. APLICAÇÃO DO DECRETO 20.931/32 E DECRETO 24.492/34. SENTENÇA MANTIDA.

O profissional formado em optometria não pode exercer atos priv ativ os de médicos oftalmologistas, por exemplo, prescrev er, indicar ou aconselhar a utilização

de lentes de grau. A posse dos equipamentos util izados na atividade do optometrista não pode ser impedida, pois esta profissão não é ilegal. RECURSOS DESPROVIDOS.

(Apelação Cível Nº 70024283608, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Renato Alves da Silva, Julgado em 25/06/2008)

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM MANDADO DE SEGURANÇA - RECOLHIMENTO DE ALVARÁ SANITÁRIO DE

OPTOMETRISTA - PRESCRIÇÃO DE RECEITAS E DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS REFRATÁRIAS - IMPOSSIBILIDADE - ATIVIDADE INERENTE À MEDICINA -

OBSERVÂNCIA DO DECRETO 20.931/1932 - RELEVÂNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO QUE NÃO SE VERIFICA - RECURSO NÃO PROVIDO.

A profissão de optometrista encontra-se prev ista no Decreto 20.931/1932, sendo v edado a este profissional o exercício de ativ idades médicas, como a

prescrição de receitas e diagnóstico de doenças refratárias e do globo ocular. Tendo o recolhimento de alvará sanitário sido efetivado em observância à notificação da

Vigilância Sanitária que veda o exercício de atividades médicas pelo optometrista, é de se reputar ausente, em juízo não-exauriente de cognoscibil idade, a relevância da

fundamentação exigida pelo art. 7º, inc. II da Lei 1.533/51, para fins de deferimento de medida liminar. Recurso ao qual se nega provimento (Processo nº 1.0024.08.136227-

9/001(1), Rel. Des. DÍDIMO INOCÊNCIO DE PAULA, j. 28/05/2009). (v ide nota 04)

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS

AGRAVO DE INSTRUMENTO - LIMINAR PLEITEADA PARA SE ORDENAR A SUSPENSÃO DA NOTIFICAÇÃO Nº 221/2008, QUE TRATA DO EXERCÍCIO DA

PROFISSÃO DE OPTOMETRISTA - INDEFERIMENTO - ANÁLISE EXCLUSIVA DOS ELEMENTOS QUE AUTORIZAM A CONCESSÃO DA LIMINAR.

1) Alvará cassado com base na notificação nº 221/2008 ANTR/SVS.

2) O optometrista não pode exercer ativ idades exclusiv as de médicos oftalmologistas, conforme determinação do artigo 38, do Decreto nº 20.931/32.

3) O Ministro Luiz Fux, quando do julgamento do Recurso Especial nº 975.322/RS, publicado em nov embro de 2008, assev erou que a função do optometrista é

apenas adaptar lentes de contato, compreendendo uma ""série de testes v isuais"", para melhorar ""a performance v isual do interessado"", razão pela qual este

profissional pode ""identificar, diagnosticar, corrigir e prescrev er soluções ópticas, excetuadas aquelas exclusiv as dos médicos oftalmologistas"".

4) O agravante não comprovou o ""fumus boni júris"" relativamente à alegação de que a notificação ANTR/VS nº 221/2008, expedida pela Gerência Colegiada da

Superintendência de Vigilância Sanitária do Estado de Minas Gerais, não pode sobre ele incidir. Se o alvará concedido ao agravante foi cassado, com base na referida

notificação, é porque ele se enquadra em uma das situações nela descritas.

5) A concessão de medida liminar, ordenando a suspensão dos efeitos da Notificação ANTR/VS nº 221/2008, é capaz de gerar danos à sociedade. 6) Nego provimento

ao recurso (Processo nº 1.0024.08.140314-9/001(1), Rel. Des. BRANDÃO TEIXEIRA, j. 07/04/2009).

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS

DIREITO ADMINISTRATIVO - ALVARÁ SANITÁRIO - EXERCÍCIO DA OPTOMETRIA NAS DEPENDÊNCIAS DE ÓTICAS - DECRETOS 20.931/32 E 24.492/34 -

IMPOSSIBILIDADE. - Os decretos 20.931/32 e 24.492/34 não deixam dúv ida de que, nas dependências de óticas, não pode ser realizado qualquer tipo de exame

oftalmológico, bem como é v edada a comercialização de lentes corretiv as sem prescrição médica. Dessa forma, impossív el se afigura a prática da optometria nas

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dependências de estabelecimentos que comercializam lentes de contato e lentes corretiv as. (Processo nº 1.0702.04.188518-8/001(1) Numeração Única 1885188-

63.2004.8.13.0702 Rel. Des.MOREIRA DINIZ, j. 12/01/2006)

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MATO GROSSO

APELAÇÃO CÍVEL. OPTOMETRIA. EXERCÍCIO DE ATIVIDADES PRIVATIVAS DA MEDICINA OFTALMOLÓGICA. VEDAÇÃO. RECURSO DESPROVIDO.

O optometrista não é habilitado para realizar consultas médicas, diagnosticar debilidades oculares em geral, prescrev er o tratamento correspondente e receitar

o uso de lentes de grau(Inteligência dos arts. 38/39 do Dec. 20.931/32 e 13,14,16 e 17 do Dec 24.492/34) (TJMT, RAC n.53079/2006, de Campo Verde, Sexta Câmara Cível,

rel. Des. Juracy Persiani, j. em 13-12-2006).

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE GOIÁS

APELAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA. TÉCNICO EM OPTOMETRIA. EXAME DE ACUIDADE VISUAL.

I - A pretensão de obter prov imento no sentido de permitir ao técnico em optometria a realização de exames de acuidade v isual com o intuito de prescrev er

óculos ou lentes de contato a terceiros sem a prev ia consulta ao médico oftalmologista não pode ser alcançada judicialmente por contrariar as normas que

disciplinam a ativ idade de referidos técnicos [...] (TJGO, Ap. Cív. n. 91489-3/188, Proc. n. 200501862891, de Firminópolis, Quarta Câmara Cível, rel. Des. Carlos Escher, j.

em 16-2-2006).

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA

Agravo de Instrumento n. 2009.055049-2

Relator Des. Sérgio Roberto Baasch Luz, j. 09/03/2010

AÇÃO COMINATÓRIA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA - OPTOMETRIA ALVARÁ SANITÁRIO PARA EXAMES DE ACUIDADE VISUAL E PRESCRIÇÃO DE

LENTES DE GRAU ATIVIDADES AFETAS À ESPECIALIZAÇÃO MÉDICA OFTALMOLÓGICA AUSÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA LIMINAR DENEGADA - RECURSO

IMPROVIDO.

A pretensão de obter alv ará sanitário para prestar serv iço de av aliação v isual para o público em geral, diagnosticando, corrigindo e prescrev endo soluções

ópticas para compensar ametropias, como miopia, hipermetropia e astigmatismo,esbarra nos dispositiv os dos Decretos Federais ns. 20.931/32 e 24.492/34, pois

essas ativ idades dizem respeito à especialização médica oftalmológica, não estando o optometrista habilitado para a realização de exames de acuidade v isual.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Embargos de Declaração 994092478370

Relator(a): Guerrieri Rezende Comarca: Jacareí Órgão julgador: 7ª Câmara de Direito Público Data do julgamento: 12/04/2010 Data de registro: 16/04/2010

Ementa:

I - Embargos declaratórios. Inocorrência de contradição. Falta dos requisitos legais do artigo 535 do Código de Processo Civil.

II - Mandado se segurança Exercício de optometria. Indeferimento do alvará de funcionamento Admissibil idade. O Decreto Federal n° 20.931/32 encontra em plena

v igência, proíbe os profissionais optometristas de instalação de consultórios para atender clientes. Não se vislumbrando ilegalidade alguma no ato das autoridades

locais. Recurso conhecido para afastar a extinção do processo sem julgamento do mérito, com supedâneo no § 3o do artigo 515 do Código de Processo Civil. No mérito,

denega-se a segurança. Recurso improvido III - Embargos rejeitados.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Apelação Com Revisão 994051555781 (5131285800)

Relator(a): Urbano Ruiz

Comarca: Guarulhos

Órgão julgador: 10ª Câmara de Direito Público

Data do julgamento: 03/08/2009

Data de registro: 27/08/2009

Ementa:

EXERCÍCIO PROFISSIONAL - Optometrista - Interdição de consultório -Admissibilidade - Habilitação em curso reconhecido pelo MEC que não implica

possibilidade de exercício de ativ idade priv ativ a de médico. Segurança denegada. Recurso não provido.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Agravo de Instrumento 994071475066 (7116275900)

Relator(a): Ferreira Rodrigues

Comarca: Sertãozinho

Órgão julgador: 4ª Câmara de Direito Público

Data do julgamento: 01/06/2009

Data de registro: 02/07/2009

Ementa:

Agravo de instrumento - Ação cominatória - Deferimento de tutela antecipada para determinar se abstenha técnico optometrista de exercer em ótica referida

ativ idade priv ativ a de médico oftalmologista (exame de olhos com prescrição de lentes), com ordem também de recolhimento de equipamentos - Presença dos requisitos

do art. 273 do CPC - Inocorrência de ilegalidade manifesta na determinação judicial- Recurso improvido

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SERGIPE

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ACÓRDÃO: 2007694

AGRAVO DE INSTRUMENTO 1135/2006

PROCESSO: 2006209822

RELATOR: DESA. JOSEFA PAIXÃO DE SANTANA

EMENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CAUTELAR INOMINADA. OPTOMETRIA. PRÁTICA DE ATOS PRIVATIVOS DE MÉDICO. Atos priv ativ os de médicos

oftalmologistas não podem ser desempenhados por profissionais da área da optometria. DECISÃO MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO."

Sobre esta vedação de o optometrista exercer atividades privativas de médicos oftalmologistas, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (CREMEPE) entende que o

exame oftalmológico É UM ATO MÉDICO E QUE, PORTANTO, SÓ DEVE SER REALIZADO POR PROFISSIONAIS DA MEDICINA (o aludido Conselho Profissional se manifestou por meio

do Ofício CREMEPE nº 000598/2009 de 02/02/2009, enviado à Diretoria de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde do Recife como resposta ao Ofício nº 012/2009-

JURIDICO/DVS/SMS):

"O exame oftalmológico realizado por um médico é a oportunidade única de diagnóstico e tratamento precoce de doenças grav es. Com efeito, caso a prática da

medicina seja permitida a profissionais não médicos, a saúde da população correrá graves riscos. Trata-se, portanto, de ato médico, nos termos da Resolução CFM nº

1.627/2001.

(...)

Sem a menor eiva de dúvidas, a Optometria é a própria Refratometria, cadeira ministrada na residência médica de oftalmologia, sob o título ‘Refração e Ótica Clínica’.

A refração e ótica clínica prestam-se a diagnosticar e tratar as doenças reconhecidas internacionalmente pela Organização Mundial de Saúde, constando da Classificação

Internacional de Doenças um capítulo específico para tratar dessas moléstias, tais como, transtornos dos músculos oculares, do movimento binocular, da acomodação e da

refração (ver CID).

Na realidade, o optometrista jamais estará habilitado para os misteres médicos, porque o único curso universitário que se encontra dimensionado no Brasil, na sua

duração e na sua forma, para o exercício da Oftalmologia, é a Medicina, nos termos da lei em vigor.

A saúde visual e a saúde ocular são uma coisa só e encontram-se estreitamente relacionadas com s patologias que afetam todas as estruturas do olho, desde as

pálpebras até os centros visuais corticais, passando pela córnea, íris, lente, vítreo e retina. Esse binômio saúde visual/saúde ocular depende, naturalmente, das condições de

higidez de todo o organismo e das condições de saúde de cada órgão humano.

Daí porque optometristas não podem cuidar da saúde v isual, saúde ocular, saúde sistêmica, v ez que eles, por limitações curriculares, têm apenas uma v isão

limitada, canhestra e rudimentar dos princípios básicos da fisiopatologia sistêmica ocular.

Mostra-se, portanto, ingênua a idéia de que prescrev er lente de grau é algo alheio à saúde da pessoa, restringindo-se o problema à qualidade de v isão do

paciente, porque um problema v isual não implica apenas prescrição de grau para lentes, pois env olv e determinar-se com precisão as suas causas, para combatê-las,

o que está fora das perspectiv as de qualquer profissional que não seja médico."

Neste mesmo toar, mais uma vez tragamos à baila trechos do Parecer nº 458/2004 da Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco:

"Não se insere nos misteres do técnico em óptica (optometristas e contatologistas) ativ idades que transcendam ao estudo, concepção, manuseio, fabrico,

manutenção e conserto de lentes, instrumentos e equipamentos ópticos, a e a respectiv a distribuição e comercialização."

Sem destoar de tais posicionamentos, também a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já teve oportunidade de se manifestar pela impossibil idade de os

optometristas exercerem ofícios privativos dos médicos oftalmologistas, in casu, tal momento se deu quando da elaboração do parecer nº 1110/2000-PROC/ANVS/MS:

"A par dessas considerações, tem-se que os v etustos Decretos nºs 20.937/32 e 24.492/34 ainda imperam, obrigando o seu cumprimento pela Administração e, com

fulcro em suas prescrições é possível asseverar que a profissão de nível médio de técnico de óptica para montar e preparar lentes de óculos, bem assim ajustar, trocar, consertar

e reproduzir óculos prev iamente prescritos pelo oftalmologista encontra-se devidamente regulamentada.

E mais: Nos termos taxativos da legislação citada dessume-se que a receita de óculos e de lentes de contato é ato médico, constituindo exercício ilegal da

medicina a sua prática por outros profissionais que não o médico oftalmologista."

5) Do papel das vigilâncias sanitárias na fiscalização dos Decretos nºs 20.931/1932 e 24.492/1934

Em primeiro lugar, há de se registrar que as vigilâncias sanitárias são competentes para fiscalizar e l icenciar as atividades desenvolvidas tanto pelos optometristas, quanto pelos

estabelecimentos óticos:

"Decreto N° 20.931 de 11 de janeiro de 1932 - Regula e fiscaliza o exercício da medicina, da odontologia, da medicina veterinária e das profissões de farmacêutico,

parteira e enfermeira, no Brasil, e estabelece penas

Art. 3º Os optometristas, práticos de farmácia, massagistas e duchistas estão também sujeitos à fiscalização, só podendo exercer a profissão respectiv a se

prov arem a sua habilitação a juízo da autoridade sanitária."

Decreto N° 24.492 de 28 de junho de 1934 - Baixa instruções sobre o decreto n. 20.931, de 11 de janeiro de 1932, na parte relativa á venda de lentes de graus

Art. 5º A autorização para o comércio de lentes de grau será solicitada à autoridade sanitária competente, em requerimento assinado pelo proprietário ou sócio,

ficando o requerente responsável pelo fiel cumprimento deste decreto."

Assim, deverão as vigilâncias sanitárias impedir que optometristas executem as atividades previstas no art. 38 do Decreto Federal nº 20.931/1932 e no art. 13 do Decreto Federal Nº

24.492 de 28 de junho de 1934, bem como exerçam tarefas que não as que são permitidas pelo art. 9° do Decreto Federal Nº 24.492 de 28 de junho de 1934, aplicando a eles, em caso

de desobediência a tais normas, as penas previstas na legislação sanitária (in casu, alternativa e eventualmente, os incisos XXV e XXIX do artigo 10 da Lei Federal n° 6.437/77):

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"Lei Federal nº 6.437 de 20 de agosto de 1977 - Configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece as sanções respectivas, e dá outras providências.

Art. 10. São infrações sanitárias:

XXV - exercer profissões e ocupações relacionadas com a saúde sem a necessária habilitação legal:

Pena - interdição e/ou multa.

XXIX - transgredir outras normas legais e regulamentares destinadas à proteção da saúde:

pena - advertência, apreensão, inutil ização e/ou interdição do produto; suspensão de venda e/ou fabricação do produto, cancelamento do registro do produto;

interdição parcial ou total do estabelecimento, cancelamento de autorização para funcionamento da empresa, cancelamento do alvará de licenciamento do estabelecimento,

proibição de propaganda e/ou multa; (Redação dada pela MP nº 2.190-34, de 23 de agosto de 2001)"

Já no licenciamento e na fiscalização dos estabelecimentos óticos (casas de ótica), deverão as vigilâncias sanitárias observar o seguinte:

"Decreto N° 20.931 de 11 de janeiro de 1932 - Regula e fiscaliza o exercício da medicina, da odontologia, da medicina veterinária e das profissões de farmacêutico,

parteira e enfermeira, no Brasil, e estabelece penas

Art. 39 É v edado às casas de ótica confeccionar e v ender lentes de grau sem prescrição médica, bem como instalar consultórios médicos nas dependências

dos seus estabelecimentos.

Decreto N° 24.492 de 28 de junho de 1934 - Baixa instruções sobre o decreto n. 20.931, de 11 de janeiro de 1932, na parte relativa á venda de lentes de graus

Art. 12 Nenhum médico oculista, na localidade em que exercer a clínica, nem a respectiva esposa, poderá possuir ou ter sociedade para explorar o comércio de

lentes de grau.

(...)

Art. 14 O estabelecimento de v enda de lentes de grau só poderá fornecer lentes de grau mediante apresentação da fórmula ótica de médico, cujo diploma se

ache dev idamente registrado na repartição competente.

Art. 15 Ao estabelecimento de v enda de lentes de grau só é permitido, independente da receita médica, substituir por lentes de grau idêntico aquelas que forem

apresentadas danificadas, v ender v idros protetores sem grau, executar concertos nas armações das lentes e substituir as armações quando necessário.

Art. 16 O estabelecimento comercial de v enda de lentes de grau não pode ter consultório médico, em qualquer de seus compartimentos ou dependências, não

sendo permitido ao médico sua instalação em lugar de acesso obrigatório pelo estabelecimento.

§ 1º É v edado ao estabelecimento comercial manter consultório médico mesmo fora das suas dependências; indicar médico oculista que dê aos seus

recomendados vantagens não concedidos aos demais clientes e a distribuir cartões ou vales que dêem direito a consultas gratuitas, remuneradas ou com redução de preço.

§ 2º É proibido aos médicos oftalmologistas, seja por que processo for, indicar determinado estabelecimento de venda de lentes de grau para o aviamento de suas

prescrições."

Em caso de inobservância a tais normas, também os estabelecimentos óticos estarão sujeitos as penas previstas na legislação sanitária:

"Lei Federal nº 6.437 de 20 de agosto de 1977 - Configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece as sanções respectivas, e dá outras providências.

Art. 10. São infrações sanitárias:

III - instalar ou manter em funcionamento consultórios médicos, odontológicos e de pesquisas clínicas, clínicas de hemodiálise, bancos de sangue, de leite humano,

de olhos, e estabelecimentos de atividades afins, institutos de esteticismo, ginástica, fisioterapia e de recuperação, balneários, estâncias hidrominerais, termais, climatéricas,

de repouso, e congêneres, gabinetes ou serviços que util izem aparelhos e equipamentos geradores de raios X, substâncias radioativas, ou radiações ionizantes e outras,

estabelecimentos, laboratórios, oficinas e serv iços de óticas, de aparelhos ou materiais óticos, de prótese dentária, de aparelhos ou materiais para uso odontológico, ou

explorar atividades comerciais, industriais, ou fi lantrópicas, com a participação de agentes que exerçam profissões ou ocupações técnicas e auxil iares relacionadas com a

saúde, sem licença do órgão sanitário competente ou contrariando o disposto nas demais normas legais e regulamentares pertinentes:

Pena - advertência, intervenção, interdição, cancelamento da licença e/ou multa; (NR) (redação dada pela lei 9695, de 20 de Agosto de 1998)"

6) Conclusão

Desta feita, em consonância com as lições acima espraiadas podemos afirmar que aos optometristas é proibido: a) instalar consultórios para atender clientes, b) fazer exames de

vista e prescrever lentes de grau e de contato e c) escolher ou permitir escolher, indicar ou aconselhar o uso de lentes de grau. Contudo, é permitido ao optometrista: a) manipular ou

fabricar lentes de grau, b) o aviamento perfeito das fórmulas óticas FORNECIDAS POR MÉDICO OCULISTA e c) substituir por lentes de grau idêntico àquelas que forem apresentadas

danificadas.

Será por sua vez proibido aos Estabelecimentos Óticos: a) confeccionar e vender lentes de grau, sem prescrição médica, b) instalar consultórios médicos nas dependências dos seus

estabelecimentos, c) possuir câmara escura (gabinete oftalmológico), d) ter em pleno funcionamento aparelhos próprios para o exame dos olhos, e) ter cartazes e anúncios com o

oferecimento de exame de vista e f) escolher ou permitir escolher, indicar ou aconselhar o uso de lentes de grau. Por exclusão, aos Estabelecimentos Óticos caberá tão somente

comercializar lentes de grau mediante a apresentação de fórmula ótica DE MÉDICO.

Por fim, constata-se que os órgãos e entes que compõem o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária do devem fiscalizar o cumprimento, por parte das casas de Ótica e dos

optometristas, dos Decretos Federais nºs 20.931/1932 e 24.492/1934, impedindo que ambos realizem atividades privativas dos profissionais da medicina.

Notas

(Nota 01) "EMPREGO, Ministério do Trabalho e. Classificação Brasileira de Ocupações. Disponível em: <http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTitulo

Resultado.jsf>. Acesso em: 05 mar. 2010. As atividades são as seguintes:

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07/07/13 Sobre a impossibilidade de optometristas executarem atividades privativas de médicos oftalmologistas - Revista Jus Navigandi - Doutrina e Peças

jus.com.br/revista/texto/17139/sobre-a-impossibilidade-de-optometristas-executarem-atividades-privativas-de-medicos-oftalmologistas/print 10/10

"A- REALIZAR EXAMES OPTOMÉTRICOS

1. Fazer anamnese; 2. Medir acuidade visual; 3. Analisar estruturas externas e internas do olho; 4. Mensurar estruturas externas e internas do olho; 5. Medir córnea

(queratonometria, paquimetria e topografia); 6. Avaliar fundo do olho(oftomoscopia); 7. Medir pressão intraocular (tonometria); 8. Identificar deficiências e anomalias visuais; 9.

Encaminhar casos patológicos a médicos; 10. Realizar testes motores e sensoriais; 11. Realizar exames complementares; 12. Prescrever compensação óptica; 14. Recomendar auxílios

ópticos; 15. Realizar perícias optométricas em auxílios ópticos.

B - ADAPTAR LENTES DE CONTATO.

1. Fazer avaliação lacrimal; 2. Definir tipo de lente; 3. Calcular parâmetros das lentes; 4. Selecionar lentes de teste; 5. Colocar lentes de teste no olho; 6. Combinar uso de lentes

(sobre-refração); 7. Avaliar teste; 8. Retocar lentes de contato; 9. Recomendar produtos de assepsia; 10. Executar revisões de controle.

C - CONFECCIONAR LENTES

1. Interpretar ordem de serviço; 2. Fundir materiais orgânicos e minerais; 3. Escolher materiais orgânicos e minerais; 4. Separar insumos e ferramentas; 5. Projetar lentes (curvas,

espessura, prismas); 6. Blocar materiais orgânicos e minerais; 7. Usinar materiais orgânicos e minerais; 8. Dar acabamento às lentes; 9. Adicionar tratamento as lentes (endurecimento, anti-

reflexo, coloração, hidratação e fi ltros); 10. Aferir lentes; 11. Retificar lentes.

(omissis)

F - PROMOVER EDUCAÇÃO EM SAÚDE VISUAL

1. Assessorar órgãos públicos na promoção da saúde visual; 2. Ministrar palestras e cursos; 3. Promover campanhas de saúde visual; 4. Promover a reeducação visual; 5. Formar

grupos multiplicadores de educação em saúde visual.

G - VENDER PRODUTOS E SERVIÇOS ÓPTICOS E OPTOMÉTRICOS.

1. Detectar necessidades do cliente; 2. Interpretar prescrição; 3. Assistir cliente na escolha de armações e óculos solares; 4. Indicar tipos de lentes; 5. Coletar medidas

complementares; 6. Aviar prescrições de especialistas; 7. Ajustar óculos em rosto de cliente; 8. Consertar auxílios ópticos.

H - GERENCIAR ESTABELECIMENTO

1. Organizar local de trabalho; 2. Gerir recursos humanos; 3. Preparar ordem de serviço; 4. Gerenciar compras e vendas; 5. Controlar estoque de mercadorias e materiais; 6.

Controlar estoque de mercadorias e materiais; 6. Controlar qualidade de produtos e serviços; 7. Administrar finanças; 8. Providenciar manutenção do estabelecimento.

Y. COMUNICAR-SE

1. Manter registros de cliente; 2. Enviar ordem de serviço a laboratório; 3. Orientar cliente sobre o uso e conservação de auxílios ópticos; 4. Orientar família do cliente; 5. Emitir

laudos e pareceres; 6. Orientar a ergonomia da visão; 7. Solicitar exames e pareceres de outros especialistas (...)".

(Nota 02) Informamos que atualmente tal ação está sendo questionada pela ação rescisória 0004180-34.2010.4.05.0000 (AR6392-PE) intentada pelo Conselho Regional de Óptica

e Optometria de Pernambuco junto ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região.

(Nota 03) Informamos que atualmente tal ação está sendo questionada pela apelação 0005098-72.2007.4.05.8300 (AC453762-PE) que está a tramitar no Tribunal Regional

Federal da 5ª Região.

(Nota 04) Em Minas Gerais, a Gerência Colegiada da Superintendência de Vigilância Sanitária Notificação editou a Notificação ANTR/SVS nº 221/2008, datada de 25 de março

de 2005, que assim versa sobre a questão da optometria: "O Subsecretário de Vigilância em Saúde, Presidente da Gerência Colegiada da Superintendência de Vigilância Sanitária as

Secretaria de Estado de Minas Gerais, no uso de suas atribuições legais e de acordo com o disposto no inciso IV, do art. 3º da Resolução SES nº 860, de 22 de março de 2006 e

considerando que é dever do Estado de promover à saúde individual e coletiva, que o exercício de qualquer atividade, ofício é permitido desde que exista lei regulamentando, as

denúncias referentes a agravos a saúde visual oriundo de exames procedidos por optometristas, que a profissão de optometrista é catalogada pelo CBO - Código Brasileiro de Ocupações

instrumento meramente informativo, uma vez que este só tem fins meramente classificatórios, sem função de regulamentação profissional, que o exame ocular vai além de uma consulta

para óculos, que o exame ocular possibil ita a avaliação de numerosas doenças que comprometem outros setores do corpo humano, que o exame realizado por profissional que não detém

os conhecimentos médicos sobre o olho deixa de detectar várias doenças oculares ou sistêmicas graves, com alto risco de morbidade e letalidade, que o profissional optometrista compete

a confecção de lentes de grau sob receita médica e sua substituição sendo vedado aos optometristas a prescrição de óculos e adaptação de lente de contato, que são atos privativos do

oftalmologista, NOTIFICA aos Coordenadores de Vigilância Sanitária que é v edado o licenciamento de consultórios de optometria nos termos do art. 30 do Decreto 30931/32, o

av iamento de receitas prescritas por optometristas, a presença de equipamentos para realização de exame ocular em estabelecimento ótico dev endo os notificados ao

constatarem a ocorrências das proibições acima citadas tomarem as medidas sanitárias cabív eis."

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Informações sobre o texto

Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT):

ARAÚJO, Aldem Johnston Barbosa. Sobre a impossibil idade de optometristas executarem atividades privativas de médicos oftalmologistas. Jus Nav igandi, Teresina, ano 15

(/revista/edicoes/2010), n. 2596 (/revista/edicoes/2010/8/10), 10 (/revista/edicoes/2010/8/10) ago. (/revista/edicoes/2010/8) 2010 (/revista/edicoes/2010) . Disponível em:

<http://jus.com.br/revista/texto/17139>. Acesso em: 7 jul. 2013.

Aldem Johnston Barbosa Araújo (http://jus.com.br/rev ista/autor/aldem-johnston-barbosa-araujo)

Advogado da UEN Contencioso Especializado de Lima e Falcão Advogados. Consultor Jurídico do Departamento de Vigilância Sanitária de Olinda. Professor de Direito Administrativo

na Faculdade dos Guararapes. Ex-Assessor Jurídico da Diretoria de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde do Recife. Especialista em Direito Público pela Faculdade Estácio

Recife.