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PCB SOCIALISMO & DEMOCRACIA 90 Anos de Lutas e Mudanças CÂNDIDO FEITOSA Organizador F. INÁCIO DE ALMEIDA Prefácio Alexandre Pereira Cândido Feitosa David Saraiva Dimas Macêdo Geysla Viana Herbert Lôbo Inácio Ribeiro Luís-Sérgio Santos Oscar d’Alva e Souza Filho Oswaldo Evandro C. Martins

Socialismo & Democracia — 90 Anos de Lutas e Mudanças

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HISTÓRIA — LUTAS, EVOLUÇÃO E MUDANÇAS. Noventa Anos de Lutas e Mudanças do Partido Comunista no Brasil

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PCB

SOCIALISMO & DEMOCRACIA90 Anos de Lutas e Mudanças

CÂNDIDO FEITOSAOrganizador

F. INÁCIO DE ALMEIDAPrefácio

Alexandre PereiraCândido FeitosaDavid SaraivaDimas MacêdoGeysla VianaHerbert LôboInácio RibeiroLuís-Sérgio SantosOscar d’Alva e Souza FilhoOswaldo Evandro C. Martins

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C Â N D I D O F E I T O S A

90 Anos de Lutas e Mudanças

SOCIALISMO & DEMOCRACIA

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© COPYRIGHT 2012 Cândido Feitosa

DIREÇÃO EDITORIAL Luís-Sérgio SantosORGANIZADOR DESTA EDIÇÃO Cândido Feitosa

REVISÃO Geysla VianaCAPA Carlos Alberto Dantas

ISBN 978-85-88661-41-7 CDD 320—Ciência política 981—História do Brasil CDU 329—Partidos e movimentos políticos

Todos os direitos reservados. Este livro não pode ser reproduzido por nenhum meio mecânico ou eletrônico, incluindo fotocópia,

scanner, duplicação ou distribuição via internet, sem autorização escrita do editor.

O M N I E D I T O R A Rua Joaquim Sá, 746 FONES (85) 3247.6101 e (85) 3091.3966

CEP 60.130-050 Fortaleza, Ceará, BrasilE-MAIL [email protected]

www.omnieditora.com.br

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“Eu não fui sempre o homem que sou.” Aprendi

em toda minha vida para tornar-me o homem que

sou, mas nem por isso esqueci o homem que fui

ou, para falar mais exatamente, os homens que fui.

E se, entre esses homens e eu há contradições, se

creio ter aprendido, progredido, mudado, aqueles

homens quando, voltando-me, os vejo, não tenho

vergonha deles, são etapas do que sou, levaram a

mim, não posso dizer eu sem eles.

(Texto do poeta francês Louis Aragon,

transcrito pelo professor Oscar d’Alva em seu

livro — Ética Individual & Ética Profissional —

5ª Edição, pág. 3 e 4)

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A G R A D E C I M E N T O S

Estímulos e sugestões — Nita Arruda Feitosa

Empolgação e compromisso — David Saraiva

e Raquel Dias

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A O S M E S T R E S

Dimas Macedo, Oscar d’Alva, Oswaldo Evandro

e aos jornalistas Inácio Almeida e Luís-Sérgio

Santos, que com suas observações, sugestões e

apoio, tornaram possível a organização e edição

deste livro. A eles, minha gratidão.

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S A U D O S A H O M E N A G E M

Em memória daqueles com quem convivi, e juntos

sonhamos... e nos sonhos, outros caminhos. Eles

tinham “a certeza na frente, a história na mão”.

Aldaisa Bonavides

Aluísio Gurgel

Aníbal Bonavides

Antônio Eurico de Queiroz

Augusto Pontes

Bárbara Feitosa

Blanchard Girão

Dândalo Cunha

Durval Aires

Eloi Teles

Euvaldo Leda — “Mestre Pedro”

Euzélio Oliveira

Fernando Ferreira

Francisco Felipe Cardoso

Heitor Bastos

Jesus Batista

José dos Santos Serra

José Ferreira de Alencar

José Fleuri de Aquino

José Leandro

José Maria de Barros Pinho

Luciano Barreira

Manuel Coelho Raposo

Olga Nunes

Pedro Jerônimo

Raimundo Uchoa Diógenes

Vasco Damasceno Weyne

Vicente Pompeu

Zé Júlio Cavalcante

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SUMÁRIO

P R E F Á C I O . Uma data que é de Todos,

Francisco Inácio de Almeida. 11

1. HISTÓRIA — LUTAS, EVOLUÇÃO E MUDANÇAS. 27Noventa Anos de Lutas e Mudanças, Cândido Feitosa, 28

2. UM JOGO DE IDEIAS, 39A propriedade na evolução da Sociedade Humana, Cândido

Feitosa. 40O Constitucionalismo Social no Brasil, Dimas Macedo. 46Uma Trajetória de Lutas, Inácio Ribero. 50História e dialética, o Impacto da Internet e das Redes Sociais,

Luís-Sérgio Santos. 55As mudanças Sociais e Políticas advindas com o Estado civil

moderno. O exercício da cidadania e o controle Político do

Estado, Oscar d’Alva e Souza Filho. 59Repressão hoje, Oswaldo Evandro Carneiro Martins. 79

3. A NOVA FASE DO PPS NO CEARÁ, 83O novo PPS no Ceará, Alexandre Pereira. 84PCB/PPS — 90 anos de história, revoluções e democracia,

David Saraiva. 88Entre consensos e dissensos: algumas tessituras da atuação da

juventude no PCB e no PPS, Geysla Viana. 93Uma Visão do Ceará — Documento ao XVII Congresso Estadual

do PPS. 1124. PPS. ESTRUTURA ORGANIZACIONAL, 129

A organização do PPS no Ceará, Herbert Pessoa Lobo. 130

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Diretório Estadual do PPS-CE — Diretórios Municipais e

Comissões Provisórias. 133

A N E X O S . 143Decreto 229, assinado por Getulio Vargas considerando a ANL

como agente subversivo. 144Decretos 558 e 741 caçando patentes e postos de militares.

145 e 146Nossa Política: Prestes Aponta aos Brasileiros o Caminho

da Libertação, Luiz Carlos Prestes. 147Declaração Sobre a Política do PCB Comitê Central do Partido

Comunista do Brasil, Março de 1958. 171Os primeiros presos políticos. 202Comitê Estadual em 1964. 203Registros Provisório e Definitivo do PCdoB. 204Registros Provisório e Definitivo do Partido Popular Socialista-

PPS, antigo PCB. 205Registros Provisório e Definitivo do PCB. 206

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PREFÁCIO

UMA DATA QUE É DE TODOS

F R A N C I S C O I N Á C I O D E A L M E I D A

DESNECESSÁRIO DESTACAR A importância de re-lembrar sempre a História. Afinal, o presente é fruto do passado, o seu maior documento. Num país de

pouca tradição de vida partidária e de uma cultura política deformada como a brasileira, um partido festejar nove déca-das de existência é motivo de muita alegria. Trata-se de uma data que não é apenas dos combatentes por uma sociedade de liberdades, de progresso e de oportunidades iguais para todos, mas de muitos brasileiros, do próprio país. Esta data está incorporada à História política e cultural do Brasil.

Nesse sentido, não se pode deixar de louvar a inicia-tiva deste exemplar raro de cidadão e de militante, Cândido Feitosa, por ter organizado esta publicação, não apenas para relembrar os 90 anos de uma organização partidária que deixou um lastro de efetiva contribuição política, sobretudo com a chamada cultura pecebista, mas também para tornar públicas colaborações teóricas e práticas de lideranças po-líticas e sociais, assim como de intelectuais cearenses, com visões distintas, mas na mesma direção, em busca de uma sociedade mais livre e de maior equidade.

Francisco Inácio de AlmeidaJornalista é membro da Executiva Nacional do PPS, diretor da Fundação Astrojildo Pereira e editor executivo da revista Política Democrática

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O Partido dos Comunistas surgiu em nosso país para organizar os trabalhadores, da cidade e do campo, e cidadãos em geral, assim como para difundir as generosas ideias de liberdade, de justiça social e de fraternidade; para convocar homens e mulheres, jovens e idosos, a lutar por seus direi-tos, ao tempo em que cumprem os seus deveres para com a sociedade; para mostrar que as mudanças só acontecem se as pessoas arregaçarem as mangas e agirem em prol dos interesses coletivos, deixando de lado seus interesses parti-culares, na maior parte das vezes egoísticos.

Com o advento da Revolução Russa de 1917, que pro-jeta sobre a cena mundial uma proposta de novo tipo, for-jada nas entranhas da sociedade industrial, os setores mais conscientes ou combativos da classe operária brasileira pas-sam a olhar aquele país com enorme simpatia. Esses setores percebem que a mudança em curso naquela parte do mundo não tardaria a abrasar todo o planeta, em torno da luta por uma nova sociedade, que abolisse a exploração do homem pelo homem. E encarnavam uma mudança de paradigma que não deixaria de abalar as convicções anarquistas de ho-mens dotados de grande honestidade política e pessoal, de que são exemplo o fluminense Astrojildo Pereira, o pernam-bucano Cristiano Cordeiro e o alagoano Otávio Brandão.

Na reunião fundacional, participaram nove delega-dos (oito de extração anarcossindicalista e um socialista) re-presentando grupos comunistas de várias cidades e setenta e três militantes de diferentes regiões do país – quase todos ligados ao artesanato (sapateiro, barbeiro, alfaiate, vassou-reiro, eletricista, jornalista, professor) e nenhum à grande indústria manufatureira ou mecanizada. Isso pode ser uma mostra de que nascia franzino, mas que era também reflexo da incipiência do proletariado brasileiro da época.

Ele surge no momento mesmo em que começava a se esboçar a organização de uma sociedade civil no Brasil. É

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fundado num emblemático ano, rico em fatos e acontecimen-tos que marcam o início de um processo de mudanças que culminariam no movimento político-militar de 1930. Além da criação do PCB, nesse mesmo ano é realizada a Semana de Arte Moderna, marco cultural na difusão de novas con-cepções estéticas; há uma cisão nas oligarquias, provocando a articulação de oposições na reação republicana; eclode o levante do Forte de Copacabana, dando início ao ciclo de revoltas tenentistas; é feita a primeira transmissão radiofô-nica, que iria ampliar em muito a circulação de informações; organiza-se o Centro Dom Vital, instituição católica tradicio-nalista, de larga influência nas décadas seguintes; e é erigi-da a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, visando conscientizar as mulheres de sua condição e de seus direitos políticos, sobretudo o direito de voto; além de outros.

Isso provavelmente se deveu também ao espírito do centenário da Independência, proclamada em 1822, espíri-to este que obrigava o povo brasileiro a mergulhar profun-damente em sua rica natureza histórica. Pois os povos não vivem sem cultivar seu imaginário e refundar permanente-mente suas próprias tradições. Conosco, brasileiros, não se-ria muito diferente: soara a hora de repensar nossos valores e práticas, realizando uma espécie de balanço da nossa traje-tória social e sensitiva.

Aqueles que se debruçaram sobre a história do PCB realçaram muitas vezes sua dupla condição: trata-se de um partido profundamente brasileiro, isto é, plenamente inte-grado às lutas nacionais e populares, e, ao mesmo tempo, de uma agremiação de corte internacionalista, ou seja, solidá-ria aos povos em luta em todos os quadrantes do planeta e que se fez herdeira daquilo que as lutas dos oprimidos pelo mundo afora tinha de melhor, de mais consistente.

Vocacionado para lutar pela democracia, o PCB daria uma imensa contribuição à vida nacional. Foi o primeiro par-

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tido político a exigir, já em 1923, a implantação de uma re-forma agrária entre nós. E também o primeiro a propor uma política relativamente ampla de alianças, conforme o atesta a formação do Bloco Operário Camponês (BOC, 1928) e da própria Aliança Nacional Libertadora (ANL, 1934). Não por acaso, esses movimentos incorporaram muitas das bandei-ras e reivindicações presentes na Semana de Arte Moderna, no movimento feminista nascente e, mesmo, dos interesses que determinados grupos militares defendiam para o país. Já em 1928, por exemplo, o BOC propunha o voto feminino no Brasil e a criação de bibliotecas públicas em toda parte, a fim de beneficiar os jovens e os trabalhadores.

Juntos com outras forças, foram os comunistas os principais responsáveis pela criação, desenvolvimento e sus-tentação dos movimentos sociais, que constituíram a base do povo organizado, fosse no sindicalismo ou em outros tipos de entidades representativas, fosse nas lutas dos moradores em suas associações, bem como dos jovens e mulheres em suas entidades, e nossa participação em movimentos como a favor da entrada do Brasil na II Guerra Mundial contra o nazifascismo, ou na campanha O petróleo é nosso, da qual se originou a Petrobras.

Em 1945, no bojo do processo de redemocratização, reorganiza-se, conquista a legalidade e transforma-se num grande partido de massas, flexível e democrático. Passa a ter um porcentual eleitoral significativo, cria uma imprensa com diversos jornais diários (em Fortaleza, tivemos O Democrata, reunindo jornalistas do quilate de Aníbal Bonavides, Odal-ves Lima, Mário Pontes, Durval Aires, Morais Né, Tarcísio Holanda, dentre outros) e revistas periódicas, instala edito-ras e lança livros de teorias políticas e romances, insere-se nas grandes empresas e no proletariado urbano, conquista a simpatia e apoio de extensos setores das camadas médias e da intelectualidade. Faz-se presente na luta democrática

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procurando dar-lhe uma direção radical, visando inverter o processo histórico autoritário e excludente do país.

O período de legalidade foi, no entanto, curto. Os reflexos da Guerra Fria e as pressões da classe dominante fazem com que o PCB seja colocado na ilegalidade, após menos de dois anos de atividade aberta. Clandestino e per-seguido, isola-se e adota uma política dogmática e sectária, informada por um marxismo doutrinário e paupérrimo, cujo exemplo maior é o Manifesto de Agosto de 1950, o qual procura justificar o uso da força, “diante da violência dos dominadores” e defende a “solução revolucionária” como “a única viável e progressista dos problemas brasileiros”. Prega o “armamento geral do povo”, defende a criação de um “exército popular de libertação nacional”, para o qual conclama “operários, trabalhadores do campo, mulheres, estudantes, soldados, marinheiros e oficiais das Forças Ar-madas” e acena com “um governo democrático e popular”, etapa intermediária entre a democracia e a “ditadura do pro-letariado”. Incorrendo, mais uma vez, num erro grosseiro de avaliação da conjuntura nacional, o longo documento tenta traçar uma “linha revolucionária” para aquele momento da vida brasileira. Assim é que se refere, por várias vezes, aos “traidores e assassinos que nos governam”, e ataca, de forma grosseira, todos os candidatos à Presidência da República. Contrariando a indicação de votar em branco, o povo sufra-gou, maciçamente, a chapa encabeçada por Getúlio Vargas. Os dirigentes comunistas pretenderam fazer, uma vez mais, de seus desejos, a realidade. (Veja, nos ANEXOS, a íntegra do Manifesto, na página 147).

Porém, face ao desastre que foi a aplicação dessa po-lítica distanciada da realidade concreta e sob o influxo das mudanças na economia e na sociedade brasileiras e sobre-tudo do XX Congresso do Partido Comunista da União So-viética, em 1956, quando o movimento comunista fez sua

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primeira autocrítica, denunciando os crimes do stalinismo, fomos o primeiro partido nas Américas e um dos pouquís-simos no mundo a abrir uma rica discussão sobre novos ru-mos partidários e, nesse aspecto, o PCB no Ceará foi um dos primeiros no país a desencadear o processo dos debates, à frente o jornalista e dirigente estadual Euvaldo Rodrigues Leda, o famoso “Cabo Velho”.

Tanto na Declaração de Março de 1958 como na Re-solução do V Congresso, de 1960, há vários aspectos inova-dores, tais como a admissão de que o Estado era permeável à ação e aos interesses das classes subalternas e que, inclu-sive, seria passível de transformação (ainda nos marcos do regime vigente) sem que, necessária e obrigatoriamente, se promovesse seu assalto — descartam-se assim concepções revolucionaristas próprias da cultura política terceiro-in-ternacionalista, sob inspiração do chamado marxismo-leni-nismo; a constatação de que a democracia (ainda que numa concepção instrumental) seria fundamental aos trabalhado-res; a compreensão da revolução socialista como um longo processo de conquista da hegemonia pelos trabalhadores etc. Começava-se a rever e repensar nossas concepções e progra-ma, e a partir daí desencadear um processo de renovação e de elaboração de uma “nova política” ou ainda de “uma política para a democracia na perspectiva do socialismo”.

Ao serem apresentadas publicamente (mesmo o PCB sendo clandestino), estas ideias e propostas foram vistas, pela maioria da esquerda, com desconfiança e como sinal de “reformismo”, “revisionismo”, “pacifismo” etc. Foi jus-tamente em função dessa nova postura pecebista que um pequeno número de altos dirigentes deixou o Partido para fundar o PCdoB, continuando vinculados à tradição teórica e prática do stalinismo.

O golpe de 1964 foi a resposta da reação aos justos anseios dos brasileiros por mudanças. Mesmo enfrentando

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mais uma ditadura, o PCB soube definir uma estratégia que levou ao colapso o regime militar, afastando a aventura ar-mada e consolidando a via democrática. Ressalte-se, a bem da verdade, que fomos a única organização da esquerda bra-sileira a entender e assumir decisões audaciosas, mas acordes com nossa visão e prática democráticas, que nos conduziram a construir uma ampla frente de diversos segmentos sociais e políticos, a mobilizar lideranças, organizações e o povo, e adotar ações que permitiram inicialmente fazer resistência, para depois isolar e derrotar o autoritarismo, inaugurando uma nova fase da História do país.

Para não me estender muito, recordaria que, logo após o 1º de abril, participamos da construção da Frente Ampla, reunindo líderes democratas e até apoiadores do golpe; acei-tamos as regras do jogo e fomos responsáveis maiores pela montagem e funcionamento do Movimento Democrático Brasileiro, criado pelo regime militar para dar a impressão interna e externa de que havia democracia no país, já que existiam partidos atuando e o Congresso continuava aberto; participamos de todos os processos eleitorais e condenamos ações e campanhas em favor do voto nulo; lutamos pela anis-tia ampla, geral e irrestrita, mas não deixamos de participar da Comissão de Anistia e na difícil correlação de forças do Congresso Nacional tentamos obter qualquer avanço nessa direção (como libertar quem estivesse preso, pôr em ação os que estavam proibidos de atuar politicamente e trazer de vol-ta ao país os exilados, dentre outras conquistas); propusemos e participamos integralmente do movimento Diretas Já, mas não fizemos como outras forças que se negaram a ir ao Colé-gio Eleitoral, para eleger Tancredo Neves-José Sarney e der-rotar Paulo Maluf e a ditadura que o apoiava; lutamos por uma Assembleia Nacional Constituinte, mas não deixamos de participar do Congresso Constituinte; mesmo sendo der-rotados em alguns aspectos da nova Carta Magna, nela tra-

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balhamos e tudo fizemos para que ela fosse a mais avançada da História brasileira e a assinamos com o maior prazer.

Pode-se dizer, sem exageros e sem presunções lou-vatórias, que a “nova política” pecebista, emanada da De-claração de Março de 1958, que vai se firmando cada vez mais longe do doutrinarismo, constitui-se um divisor de águas histórico da esquerda brasileira. Essa mudança não era um desvio direitista, como muitos quiseram reduzir as suas amplas proporções, mas uma orientação que abriu a possibilidade de as esquerdas influenciarem a vida política nacional, tornando mais viável a concretização de reformas, com sentido democrático, no capitalismo. Quase todas as correntes, grupos, seitas, partidos, sejam eles comunistas, católicos de esquerda, socialistas, social-democratas etc., ou se colocariam contra ou ao menos manifestariam des-confianças daquelas concepções. Muitos deles nascidos de divisões do PCB como o PCdoB, MR-8, ALN, PCBR ou, à parte de sua tradição, como é o caso do PT. Alguns iriam, anos depois, incorporar seletivamente aspectos e elemen-tos daquela práxis política.

Mesmo nos piores anos de chumbo, ao contrário dos que achavam nada se poder fazer diante do endurecimento do regime com o AI-5, em dezembro de 1968, o PCB dizia ha-ver, na sociedade, nas suas classes e grupos sociais, energias capazes de reverter o curso dos acontecimentos. Convicto de que, para enfrentar a ditadura, o melhor caminho era o da estratégia progressiva de resistência, isolamento e der-rota dos militares por meio da política de frente única com todos os que eram contra o autoritarismo e a favor de maio-res liberdades, o PCB foi a única organização da esquerda a rejeitar o caminho armado e as ações de guerrilha urbana ou rural. Além da dissidência criada, em 1962, com o PCdoB, constituído sobretudo pelos dirigentes que não aceitaram as críticas ao stalinismo e o novo caminho que privilegiava a

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democracia, e que lançou a chamada Guerrilha do Araguaia, no fim dos anos 1960, surgiram a ALN, o PCBR, o MR-8, a VAR-Palmares, e várias outras organizações ditas revolucio-nárias. Só que a História nos daria razão.

No entanto, ressalte-se que foram os pressupostos desses dois documentos históricos (o de 1958 e o de 1960) que permitiram, por exemplo, pensar e elaborar a política de frente única democrática contra a ditadura e não se deixar cair na tentação de aventuras insurrecionais. E são eles que, no fim de seus dias e com o encerramento da época histórica do “socialismo real” e dos partidos comunistas inaugurada em 1917, autorizaram o PCB a ousar propor, em seu IX Con-gresso (julho de 1991), um novo projeto político e a criação de uma nova formação política de esquerda, democrática e socialista. É que ficou cada vez mais claro que aquele tipo de partido já tinha esgotado sua capacidade de revolucionar a sociedade, exigindo uma nova conformação.

Daí o surgimento do Partido Popular Socialista – PPS, em janeiro de 1992, como uma nova formação política e uma nova forma-partido de se buscar, por meio da organização dos vários segmentos que compõem a sociedade brasileira, a ampliação do processo democrático e a construção de uma sociedade mais justa e equânime, por meio de reformas es-truturantes.

Nas lutas maiores pela liberdade e pelo progresso do Brasil, nos anos 1920, em 1935, em 1945, nos anos 1950 e 1960, no enfrentamento da ditadura militar e com a reconquista da democracia nos últimos 27 anos, com os brasileiros, apren-demos duas dentre outras lições fundamentais: a de que o caminho da democracia é o único que possibilita fazer avan-çar a sociedade, a materializar os seus sonhos de bem-estar e oportunidades iguais para todos; e a de que a República (a res publica) precisa efetivamente ser de todos e não apenas daqueles que chegam ao poder e o privatizam.

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E já que estamos falando em História, acredito que o que caracteriza o PCB é uma espécie de tripé político. De uma parte, o Partido lutou, ao longo de décadas, para orga-nizar o mundo do trabalho, montando sindicatos na cidade e no campo, impulsionando as lutas dos trabalhadores em geral. De outra parte, ele contribuiu para estruturar a esfera da cultura, fomentando jornais, revistas, cineclubes e par-ticipando de movimentos como o Cinema Novo, a Bossa Nova e, mesmo, o Tropicalismo. Nesse plano, não se deve deixar de destacar que, além de partido político, o PCB foi uma escola permanente de formação de grandes quadros da política brasileira, e um difusor de organização da cidadania na busca por seus direitos. Não houve um movimento so-cial relevante que não tivesse a participação de seus militan-tes. Seja na discussão dos temas, seja por sua capacidade de organização, o PCB esteve diretamente envolvido nas lutas pela emancipação da cidadania frente ao Estado. Finalmen-te, o PCB buscou aprofundar cada vez mais seu compromis-so com a democracia, sem adjetivos de qualquer espécie.

Exemplos dessa inserção é que não faltam. Com efei-to, aí estão as batalhas pela reforma agrária, pela obtenção do 13º salário, a própria luta pela conquista da Anistia e o mo-vimento das Diretas-Já, acontecimentos que inegavelmente trazem a marca do PCB. E o Partido recorda, com grande orgulho, que teve em suas fileiras alguns dos melhores re-presentantes da arte, da ensaística e da ciência brasileira, e tantos outros homens e mulheres de extraordinário valor. Como afirmou o poeta Ferreira Gullar, é impossível escrever a História do Brasil sem o PCB.

Permitam-me, neste momento, expressar nosso de-sapontamento, assim como de muitos líderes políticos e de intelectuais, por todo o país, diante do comportamento do PCdoB em suas tentativas recentes de distorcer a história dos comunistas. Desde o seu programa nacional de TV, em

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novembro de 2011, e, no mês de março de 2012, em uma cara exposição na Câmara Federal e em um livreto lançado sob a responsabilidade do partido e bancado pela Câmara, o PCdoB apresenta fotos de grandes lideranças comunistas, como se estas tivessem militado em suas fileiras, o que está longe da verdade. Trata-se de atitude irresponsável, para não utilizar adjetivo mais forte, e que precisa ter um bas-ta. Como disse, muito bem, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo, “se há uma coisa em que (o PCdoB) manteve a coe-rência, é no vezo stalinista. Stalin mandava cortar das fotos dirigentes do partido caídos em desgraça. O PCdoB inclui em suas fileiras gente que lhe foi alheia. Chega ao mesmo fim de falsificar a história”.

O Partido Comunista Brasileiro criou, neste país, uma tradição de cultura política de esquerda democrática. Temos a certeza de que o Partido Popular Socialista – no qual tenho a honra de militar — dá continuidade às proposições do anti-go PCB. As ideias de ética, justiça social e liberdade também compõem um patrimônio nosso. Mas o PPS é, igualmente (eu diria até: dialeticamente), o Partido da ruptura com cer-tas práticas da esquerda brasileira, tão nocivas e ao mesmo tempo tão presentes no cotidiano brasileiro. Rejeitamos e condenamos o controle e a partidarização de entidades do movimento social, como são exemplares os casos da CUT (pelo PT) e da UNE (pelo PCdoB), assim como de máqui-nas estatais nas várias instâncias do poder público no país, da mesma forma que desaprovamos a utilização de recursos públicos para fins privados, dentro de um falso princípio de que “os fins nobres justificam os meios bandidescos”. Não há como negar esse fato.

Nesse sentido, aprofundando de forma considerável as posições estampadas na Declaração de Março de 1958, o PPS defende hoje a radicalidade democrática. Isto é, uma participação cada vez mais crescente, qualitativa e quanti-

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tativamente, da sociedade civil na administração da coisa pública. Estamos, naturalmente, a léguas de distância dessa prática – esse é mais um motivo para que insistamos nessa luta, caso não queiramos perder o trem da História.

O PPS dá mostra de ter compreendido que a socieda-de brasileira é plural, complexa, e que no caminho civiliza-tório brasileiro não há espaço para um modelo autoritário de sociedade ou de partido, como ocorreu em quase todas as experiências socialistas, apesar de seus ganhos sociais, e também na nossa própria sociedade — cuja experiência re-publicana nada tinha que ver, em muitos momentos, com uma verdadeira res publica. Toda e qualquer sociedade de qualquer país, de qualquer região do mundo, não admite mais ser dominada por um Estado autoritário e opressor, e controlada por um partido único, pretenso representante dos multifacetados interesses de milhões de cidadãos.

Nestes 90 anos do PCB, estamos diante de um olhar retrospectivo que só tem sentido se for para reavivar traços do seu pensamento político em alguma relação de proximi-dade com aquele marco de referência da esquerda democrá-tica de hoje. A revisita inicial diz respeito à primeira refun-dação do Partido, quando da Declaração de Março de 1958, com a “nova política”, então aprovada, e os seus cânones de ação democrático-reformista. Sua herança constitui um patrimônio histórico-político que continua a se fazer sentir e insiste em continuar patente e presente na cultura política, nas instituições da sociedade civil e do Estado etc., como, por exemplo, nos principais partidos políticos. A segunda se dá com o IX (o último do PCB) e o X Congressos (o de funda-ção do PPS).

Na longa trajetória do PCB, da qual o Partido Popular Socialista é herdeiro legítimo, e motivo de justo orgulho e emoção, são incontáveis as ricas contribuições feitas ao Bra-sil, nos seus mais destacados planos. A influência e a capa-

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cidade articuladora e mobilizadora da intensa e ativa inter-venção sociopolítica do PCB surpreendem os historiadores, pois ultrapassaram em muito sua grandeza e representação numérica; ou seja, sua força gravitacional e sua relevância político-ideológica foram inversamente proporcionais aos seus efetivos ou ao seu contingente orgânico. Referência política indiscutível — reconhecida em amplos círculos de opinião pública pela perspicácia e sensatez —, é possível mesmo afirmar que tenha sido uma das mais importantes instituições da história do país no século XX, sem as quais não é possível entender o Brasil, ao lado da Igreja Católica, do Exército, da universidade pública e de algumas outras agências da sociedade civil.

O PPS sabe que, nas sociedades “ocidentais” de que falava pioneiramente Gramsci, não se pode hoje – em pleno século XXI e no terceiro milênio de vida societária – falar de assalto ao poder, de guerrilhas urbanas ou rurais, numa tentativa de repetir experiências do passado que só se reve-laram desastrosas, inclusive no nosso passado imediato. O novo paradigma é o da democracia política, não mais o da revolução. É através da democracia, e no terreno por ela con-figurado em decorrência das divergências e lutas sociais, que se deve travar o moderno combate para as grandes trans-formações estruturais de que precisa o país. Na democracia, todas as forças em campo se legitimam reciprocamente e há formas variadas de elaborar o bem comum. O único requi-sito é a obediência aos preceitos de mudança estabelecidos na Constituição Cidadã de 1988. Respeitado este requisito, instaura-se o combate político entre todas as forças, e reivin-dicamos o nosso posto como esquerda moderna, democrá-tica e reformista, muito além do paradigma do marxismo--leninismo e demais legados do stalinismo. O nosso objetivo são reformas constantes, graduais e pactuadas. A nossa po-lítica requer o consenso, o convencimento, a participação do

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mundo político e da sociedade, no conjunto das suas forças. O PPS diferencia-se da esquerda hoje hegemônica por

este profundo apego ao ideal constitucional e republicano – e cabe aqui lembrar que essa esquerda votou contra o texto constitucional e se recusou posteriormente a homologá-lo, e isso há pouco mais de duas décadas. Queremos ser o germe da esquerda democrática que, infelizmente, ainda falta em nosso país ou está dispersa em vários partidos, de modo inor-gânico, ou relativamente submersa na sociedade civil. A nos-sa função, como herdeiros do PCB e nisso não nos julgamos os únicos, é atualizar para os nossos dias o programa da frente democrática e contribuir para a emergência de uma esquerda de novo tipo, contemporânea, apesar das tantas desigualda-des e injustiças que ainda nos marcam como nação.

Ressalte-se que, de 1922 para cá, o mundo mudou – e muito. O PPS entende, por exemplo, que a revolução cien-tífica e tecnológica, que hoje se espalha por todos os conti-nentes, lançou novos atores sociais sobre a cena política, os quais precisam ser representados por outras forças. Sejamos diretos: o PPS almeja ser o partido desta nova revolução, aquela que coloca o conhecimento no centro da vida social e econômica. Nesse sentido, estaremos sendo perfeitamente coerentes com nosso passado, já que mudar é uma caracte-rística dos revolucionários de sempre. Mesmice nada tem a ver com coerência.

Com essa ótica, as mudanças que o PPS deseja para o Brasil têm por eixo a pluralidade democrática, o combate por melhores condições de vida, a denúncia do preconceito racial e a luta para seu afastamento definitivo das relações sociais e interpessoais, a inclusão das mulheres e a defesa da cultura, da ciência e do meio ambiente. Uma política corajo-sa, que tenha como base a implantação de reformas dentro de um projeto estratégico de desenvolvimento que leve o Brasil ao mundo do futuro, amplie e aprofunde sua via de-

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mocrática e ofereça oportunidades iguais para todos. Uma nova política, que rompa com o atraso, com o fisiologismo e com a corrupção. Tudo interligado.

As nossas propostas e ideias são forjadas pelos pró-prios combates travados pelo povo brasileiro ao longo da sua História. Nós, do PPS, não apagamos os traços do nosso passado. Pelo contrário. Nós os integramos ao tempo pre-sente. Mas reconhecemos que a realidade nos coloca sempre novos desafios. Daí a continuidade e a ruptura, simultanea-mente. Mantemos as partes vivas do passado e descartamos aquilo que já perdeu o sentido. Por isso, somos herdeiros do PCB e, por isso, somos também PPS.

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PARTE 1

HISTÓRIALUTAS, EVOLUÇÃO E MUDANÇAS

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NOVENTA ANOS DE LUTAS E MUDANÇAS

Fatos da história pinçados por CÂNDIDO FEITOSA

SOB A INFLUÊNCIA DA REVOLUÇÃO RUSSA de 1917, e com a participação de personalidades vindas do mo-vimento anarquista, nasce a 25 de março de 1922 o

PCB — Partido Comunista do Brasil. Do Congresso de fun-dação, realizado sob a coordenação do Jornalista Astrojildo Pereira, participam delegações dos grupos comunistas do Rio Grande do Sul, de São Paulo e das cidades de Recife, Cruzeiro e Niterói. Iniciado a 25 de março na cidade do Rio de Janeiro, é concluído no dia 27 na cidade de Niterói. Já em seu congresso de fundação aceita as condições para filiar--se a Internacional Comunista. São 21 preceitos, destes o 17º afirma categoricamente: “Deve chamar-se Partido Comunis-ta de tal país – Seção da 3ª Internacional.” Neste mesmo con-gresso define seus objetivos: “o Partido da classe operária é organizado com o objetivo de conquistar o poder político pelo proletariado e pela transformação política e econômica da sociedade capitalista em comunista.”.

Em novembro do mesmo ano o Partido Comunis-ta do Brasil participa do IV Congresso da III Internacional Comunista (1919-1943), realizado em Moscou, coordenado por Leon Trotsky. Por indicação do Secretário Geral do Par-

Candido Feitosa filiou-se ao PCB — Partido Comunista do Brasil, em 1947, alguns meses depois do partido ter sido posto na ilegalidade.

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tido, Astrojildo Pereira, o jovem Antônio Bernardo Canella — membro da Comissão Central Executiva do Partido — é escolhido representante do Brasil e portador da solicitação de filiação do Partido aquela organização, porém a filiação só se efetiva em 1924. Na oportunidade do evento, Canella conhece pessoalmente o líder da Revolução Russa Vladimir Ilich — Lenin, que apesar de muito doente, participa de uma das sessões do congresso. Lenin morre em 1924 aos 54 anos.

O PCB — Partido Comunista do Brasil passa por cur-tos períodos de legalidade e enfrenta longas temporadas de clandestinidade. Mesmo assim sempre esteve presente na vida política brasileira e integrado as lutas em defesa dos interesses dos trabalhadores e dos mais humildes. Em 1927 publica Carta Aberta conclamando entidades e personalida-des a formarem um bloco operário para participar do pro-cesso eleitoral.

Em fins de 1927 Astrojildo Pereira segue para Bolívia a fim de estabelecer contato com Luiz Carlos Prestes – perso-nalidade prestigiada e admirada pelo povo brasileiro desde a época em que comandou uma longa marcha guerrilheira que percorreu mais de 24 mil quilômetros do território brasi-leiro. Ação Militar que entrou para a história como a Coluna Prestes, 1924 / 1927. Prestes ingressa no PCB — Partido Co-munista do Brasil em 1934.

Em consequência da Marcha Sobre Roma – manifes-tação fascista realizada a 28 de outubro de 1922, Benito Mus-solini assenhoreia-se do poder e instala o fascismo na Itá-lia. A ascensão do nazismo na Alemanha se expande com a chegada de Adolfo Hitler, como Chanceler em 1932, e como Chefe do Estado Alemão a partir de 1934. O nazi-fascismo faz escola no mundo. No Brasil, Getúlio Vargas assume o poder imposto pela revolução de 1930. Assim como outros governantes da América do Sul e do mundo, Getúlio segue esses novos regimes autoritários e ditatoriais.

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A 23 de março de 1935 organiza-se em nosso país a Aliança Nacional Libertadora. A 30 de março do mesmo ano, no Teatro João Caetano, a aliança é instalada e Luis Carlos Líder da histórica Coluna Prestes – 1924 / 1927, é aclama-do seu Presidente de Honra. A Aliança aglutina as forças de oposição ao fascismo; ao nazismo; e ao então pro-fascismo do Governo Vargas. Cresce no mundo e em nosso país a re-sistência ao nazi-fascismo. Em julho do mesmo ano o gover-no de Getúlio Vargas põe na ilegalidade a Aliança Nacional Libertadora – anexo Decreto nº 229.

O Partido Comunista do Brasil, impulsionador da Aliança Nacional Libertadora, organiza a insurreição, tendo como ponto de apoio os quartéis. A 23 de novembro de 1935 o levante é desencadeado em Natal/RN, através do 21º Ba-talhão de Caçadores; no dia 24 o Movimento Insurrecional estoura em Recife/PE apoiado no 29º Batalhão de Caçadores, e no dia 27 emerge no Rio de Janeiro/RJ com a sublevação do 3º Regimento de Infantaria e da Escola de Aviação Militar. A Insurreição foi rapidamente derrotada pelas forças mili-tares do Presidente da República. Já a 31 de dezembro, por sugestão do Ministro da Guerra, o Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil, publica o Decreto de número 558 “cassando a patente com consequente perda de posto” de 23 oficiais das Forças Armadas. Entre eles, Agildo Barata, Agliberto Azevedo e Ivan Ribeiro – anexo Decreto nº 558.

O ano de 1936 inicia-se com um grande número de prisões, vários assassinatos e muita gente exilada. Em 5 de março do mesmo ano são presos Luís Carlos Prestes e sua esposa e companheira de lutas, a alemã Olga Benário Pres-tes, e no dia 15 chega ao Rio de Janeiro o navio “Manaus” conduzindo 116 presos políticos. Entre eles o escritor Gra-ciliano Ramos e os membros do Governo Revolucionário de Natal — Lauro Cortez Lago, José Macedo e João Batista Gal-vão. A 9 de abril é publicado o Decreto de número 741, assi-

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nado pelo Presidente Getúlio Vargas e o Ministro da Guerra João Gomes Ribeiro, cassando “a patente e em consequência o posto, sem prejuízo de outras penalidades”, de mais 26 oficiais, entre eles o Capitão Luís Carlos Prestes e o Tenente Apolônio Pinto de Carvalho, além de reformar mais 12 mili-tares – anexo Decreto nº 741.

Um projeto originário da Câmara Federal criando o Tribunal de Segurança Nacional é aprovado pelo Senado em 8 de Setembro de 1936, e promulgado no dia 11. A 29 do mesmo mês, o Presidente da República nomeia os membros do tribunal: Presidente; Procurador e Juízes. A 24 de outubro o tribunal inicia suas atividades. A 7 de maio de 1937 julga os principais líderes da inssurreição de 1935. Prestes é con-denado a 16 anos de prisão. De 1935 a 1937 foram efetuadas 7.056 prisões registrada no Distrito Federal — anexo mais informações sobre oTribunal de Segurança Nacional.

Em 23 de setembro de 1936 Olga, grávida de sete me-ses, foi arbitrariamente deportada pelo governo de Getúlio Vargas e entregue a Alemanha Nazista. Em novembro do mesmo ano, na prisão de Barnimstrasse em Berlim, Olga ficou incomunicável e ali nasceu sua filha Anita Leocádia. Com 14 meses de idade Anita é arrancada de sua mãe e en-trego a sua avó, Dona Leocádia Prestes. Meses depois Olga é transferida para o Campo de Concentração de Ravens-bruck. Alguns anos depois, em abril de 1942, Olga Benário Prestes é assassinada numa câmara de gás no Campo de concentração de Bernburg, na Alemanha.

Em 1937 surgem as candidaturas para as eleições pre-sidenciais de 03 de janeiro de 1938. Armando Sales de Olivei-ra, então Governador de São Paulo, se candidata pela União Democrática Brasileira; o político e romancista paraibano, José Américo de Almeida se candidata pela Aliança Liberal e Plínio Salgado pela Ação Integralista Brasileira. Os comu-nistas apoiam José Américo de Almeida. A menos de 60 dias

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da realização das Eleições Presidenciais, Getúlio Vargas dá um golpe de Estado e implanta a Ditadura – é o chamado Estado Novo (1937 / 1945).

A segunda guerra mundial — 1939/1945 levou o povo brasileiro a mobilizar-se de norte a sul do país contra o nazi--fascismo e a exigir mudanças no posicionamento do ditador Getúlio Vargas, até então simpatizante da Alemanha Nazis-ta. O governo foi obrigado pela pressão popular e pela aju-da e pressão dos Estados Unidos da América do Norte, a declarar guerra à Alemanha em 22 de agosto de 1942 e a or-ganizar a FEB – Força Expedicionária Brasileira, que entrou em ação em julho de 1944 nos campos de batalha da Itália, ajudando a vencer o poderoso exército Alemão. O governo Vargas, ainda como ditador, convoca Eleições Presidenciais para dezembro de 1945.

Derrotado o nazi-fascismo, ampliam-se as lutas pela democratização e redemocratização em todo mundo. No Brasil conquista-se a anistia em 18 de abril de 1945. São li-bertados os presos políticos da insurreição de 1935 e do Es-tado Novo de 1937. Luís Carlos Prestes, após nove anos de prisão, retoma a atividade política. No Ceará, o povo em ma-nifestação pública vai ao Quartel do Corpo de Bombeiro em Fortaleza para receber e comemorar a liberdade do escritor, poeta e jornalista Jader de Carvalho que havia sido condena-do pelo Estado Novo a 20 anos de prisão.

Com a deposição de Vargas em 29 de outubro de 1945 encerra-se um período de 15 anos de poder pessoal e au-toritário, dividido entre o governo provisório imposto pela revolução de 1930, o regime chamado constitucional de 1934 a 1937 e a ditadura do Estado Novo de 1937 a 1945. Ainda em 1945 é extinto o Tribunal de Segurança Nacional. A 30 de outubro de 1945 assume a Presidência da República o Presi-dente do Supremo Tribunal Federal, o cearense de Baturité José Linhares, que ficou no poder até 31 de janeiro de 1946. A

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17 de novembro de 1945, após 23 anos de lutas quase sempre na clandestinidade, o Partido Comunista retorna a legalidade.

Para as eleições de dois de dezembro de 1945, Par-tidos Políticos são criados ou reativados e candidatos são lançados a Presidência da República. Serão eleitos pelo voto direto, após 19 anos sem eleições, o presidente da república e um parlamento constituinte. São candidatos: o Brigadeiro Eduardo Gomes pela UDN – União Democrática Nacional; o General Eurico Gaspar Dutra pelo PSD – Partido Social Democrata; e Yeddo Fiúza pelo PCB – Partido Comunista do Brasil. Vence as eleições o General Eurico Gaspar Dutra. Ye-ddo Fiúza obtêm 10% da votação. O Partido Comunista do Brasil elege um Senador, Luís Carlos Prestes e 14 Deputados Constituintes. Entre eles Jorge Amado e o cearense Joaquim Batista Neto que por muitos anos viveu no Ceará.

São convocadas eleições estaduais para 19 de janei-ro de 1947. Disputa o governo do Ceará o Desembargador Faustino de Albuquerque pela UDN – União Democrática Nacional; e o general Onofre Muniz Gomes de Lima pelo PSD – Partido Social Democrata. Os comunistas apoiam, contra a vontade do candidato manifestada publicamente, o Desembargador Faustino de Albuquerque, que vence as eleições. O Partido Comunista do Brasil participa dessas elei-ções com chapa própria á Assembleia Legislativa do Estado. Consegue eleger dois dos seus candidatos: o pedreiro José Marinho de Vasconcelos e o médico José de Pontes Neto.

A vitória eleitoral obtida pelo Partido nas eleições de dezembro de 1945 e nas eleições estaduais de janeiro de 1947 assusta a classe dominante e volta a crescer uma articulada campanha anticomunista. Na imprensa, nas escolas e nas igrejas, fazem cerrada campanha contra – o comunismo ateu e desagregador da família brasileira –. Na Câmara Federal, o Partido Comunista do Brasil é acu-sado de ser uma seção de Moscou.

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A sete de maio de 1947 o Partido Comunista do Brasil é mais uma vez posto na ilegalidade. Os seus militantes são caçados em todo território nacional. Já no ano seguinte, 07 de janeiro de 1948 os parlamentares eleitos na legenda do PCB tem seus mandatos cassados. O Ceará perde os deputados estaduais José de Pontes Neto e José Marinho de Vasconcelos, Os primeiros comunistas a assumirem uma cadeira na Assem-bleia Estadual do Ceará. Isto aconteceu em plena vigência do “regime democrático” do General Presidente Eurico Gaspar Dutra – 1946 a janeiro de 1951.

Mesmo na clandestinidade o partido desfralda a bandei-ra da Reforma Agrária –“Terra para os que nela queiram traba-lhar” — levando-a a toas as regiões, estados e municípios do Brasil. A partir do final da década de 40 o Partido se envolve e comanda as lutas do povo brasileiro em defesa das riquezas nacionais, destacando-se na campanha O Petróleo é Nosso, ma-terializada com a criação da Petrobrás (1954).

Em 1º de agosto de 1950 o PCB – Partido Comunista do Brasil faz uma conclamação ao povo brasileiro. O documento é assinado por Luís Carlos Prestes em nome do Comitê Nacional do Partido. Pretende a criação de uma Frente Democrática de Liberação Nacional, cujo objetivo é “libertar o Brasil do jugo im-perialista americano e substituir a atual ditadura feudal burgue-sa.” Essa conclamação de conteúdo radicalizador e imediatista ficou conhecida como o Manifesto de Agosto. Em seu longo e detalhado programa defende entre outras ações: “Confiscação e imediata nacionalização de todos os Bancos, empresas in-dustriais de serviços públicos, de transporte, de energia elétri-ca, minas, plantações etc, pertencente ao imperialismo...” “...nacionalização dos Bancos e empresas de seguros, assim como de todas as grandes empresas industriais e comercias de caráter monopolista e que exerçam influencia preponderante na econo-mia nacional.”; formação de “um exército popular de libertação nacional.” e ainda “armamento geral do povo.” — anexo o Ma-

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nifesto de Agosto. Após quase uma década do lançamento do Manifesto de

Agosto e alguns anos da realização do IV Congresso em 1954, o Partido analisa as mudanças acontecidas com o desenvolvimen-to econômico e social do País, lança a Declaração de Março de 1958. A Declaração ao mesmo tempo em que analisa a realidade brasileira também reflete e acomoda divergências existentes na Direção do Partido, e por isso mesmo contém posições vindas do Manifesto de Agosto e do Programa do IV Congresso. Porém ao avaliar as mudanças ocorridas no Brasil e no mundo alcança novos caminhos, quando diz: “o povo pode resolver pacifica-mente os seus problemas básicos com a acumulação, gradual, mas incessante, de reformas profundas e consequentes na es-trutura econômicas e nas instituições públicas, chegando até a realização completa das transformações radicais colocadas na ordem do dia pelo próprio desenvolvimento econômico e social da nação.” Esses novos caminhos, com recuos e avanços se fir-maram ao longo da história do partido. – anexo a Declaração de Março.

“Pouco mais de dois anos após a elaboração de sua nova política e de 4 meses de intensos e livres debates, o Partido re-aliza em setembro, em pleno Centro do Rio de Janeiro, o seu V Congresso de forma aberta, embora não legal, no qual são reafirmadas e desenvolvidas as concepções da Declaração de Março.”

Por ocasião da Conferência Nacional realizada em 1961 o PCB – Partido Comunista do Brasil, decide alterar o nome. Conserva a sigla PCB e passa a chamar-se Partido Comunista Brasileiro. Eis que um grupo de dirigentes – Arruda Câmara, João Amazonas, Ângelo Arroio, Pedro Pomar, Maurício Gra-bois, dentre outros, discordam da mudança, modificam a sigla para PC do B e criaram em 1962 o Partido Comunista do Brasil.

Em 1964 as forças mais reacionárias do país aliadas a mi-litares, dão um Golpe de Estado, se instalam no poder e com

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seus atos institucionais formalizam a ditadura; aumentam as perseguições, as prisões, as torturas e os assassinatos. A resistência à ditadura se organiza e se amplia. Partidos como o PCB — Partido Comunista Brasileiro, PC do B — Parti-do Comunista do Brasil, PCBR — Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, MDB — Movimento Democrático Brasileiro, e mais grupos e entidades de esquerda se mobilizam no combate à ditadura. Várias outras entidades da sociedade civil somam forças ao lado das organizações políticas, levam o povo brasi-leiro às ruas e derrotam a Ditadura Militar (1964-1985). A 22 de agosto de 1979 é aprovada a Lei de nº 6683 concedendo anistia a presos e perseguidos políticos. O PCB Partido Comunista Bra-sileiro, volta a legalidade em 8 de maio de 1985. As 2h e 45min da tarde deste mesmo dia Roberto Freire Presidente do Partido, entrega ao Diretor Geral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Dr. Geraldo Costa Manso, o manifesto, estatutos e o programa do PCB – Partido Comunista Brasileiro, para seu registro legal.

Atendendo as normas legais e exigências do TSE (Tribu-nal Superior Eleitoral), o PC do B requereu em 14 de janeiro de 1987 o seu Registro Provisório. Processo nº 86, deferido em ses-são do dia 7 de abril de 1987, nos termos da Resolução/TSE nº 13609, publicada no Diário da Justiça de 27 de fevereiro de 1989. O Registro Definitivo, processo nº 112 foi deferido na sessão do dia 23 de junho 1988, nos termos da Resolução/TSE nº 14323 e publicada no Diário da Justiça de 27 de fevereiro de 1989.

O PCB Partido Comunista Brasileiro requereu seu Regis-tro Provisório em 11 de março de 1987, processo n° 90, deferido em sessão de 17 de dezembro de 1987 no termos da Resolução/TSE nº 14026, publicada no Diário da Justiça de 10 de março de 1988. O Registro Definitivo, processo nº 172, foi deferido em ces-são do dia 6 de março de 1990, Resolução/TSE nº 16285, publica-da no Diário da Justiça do dia 1 de junho de 1990.

Derrotada a Ditadura, o Partido avalia as mudanças ocorridas no Brasil e no Mundo, particularmente no chamado

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mundo socialista, e no seu X Congresso realizado em fevereiro de 1992 em São Paulo, muda a sigla, muda o nome e passa à chamar-se PPS — Partido Popular Socialista, sem o símbolo da foice e do martelo e sem ditadura do proletariado. Logo após o X Congresso o Presidente Nacional do PCB – Partido Comu-nista Brasileiro, Roberto Freire solicita alteração de sua deno-minação e sigla para Partido Popular Socialista PPS, bem como a convalidação dos atos praticados sob a antiga nomenclatura. Processo nº 12481, sendo o mesmo deferido em sessão do dia 19 de março de 1992 nos termos da Resolução/TSE nº 17930, publi-cada no Diário da Justiça de 26 de maio de 1992.

Em seguida um grupo de comunistas liderados por Zuleide Faria de Melo e Ivan Pinheiro não concorda com a mudança do nome e solicita ao TSE (Tribunal Superior Elei-toral) em 2 de abril de 1993 o registro do PCB — Partido Co-munista Brasileiro. Registro Provisório deferido em sessão do dia 19 de agosto de 1993. Resolução/TSE nº 252 publicada no Diário da Justiça em 22 de setembro de 1993. Registro De-finitivo concedido em sessão do dia 9 de maio de 1996, nos termos da Resolução/TSE nº 19550 publicada no Diário da Justiça de 21 de maio de 1996 – anexo informações pinçadas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Como vimos neste breve relato, o velho PCB — Partido Comunista do Brasil criado em 1922 e filiado a III Internacional em 1924, aprendeu, progrediu, mudou e continuará mudando e se adaptando as novas realidades do Brasil e do mundo.

NOTA. Os fatos e as informações contidas neste relato foram pinçados: a) da obra de Hélio Silva – História da República Brasileira — vol. 10; b) do livro de Iza Salles – Um cadáver ao Sol; c) do Manifesto de Agosto de 1950; d) da Declaração de Março de 1958; e) de uma publicação do Partido Popular Socialista – Por que o PPS?

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PARTE 2

UM JOGO DE IDEIASASPECTOS POLÍTICOS

TEÓRICOS, FILOSÓFICOS

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A PROPRIEDADE NA EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA*

C Â N D I D O F E I T O S A

“ E S S A I D E I A D E M O V I M E N T O E M U D A N Ç A S

É I N E R E N T E A E V O L U Ç Ã O D A H U M A N I D A D E . ”

M I L T O N S A N T O S

A EVOLUÇÃO DA RAÇA HUMANA se deu, se dá e se dará em função da satisfação das necessidades do ser humano. Necessidades sempre crescentes,

sempre renovadas. Desde o surgimento do homem sobre a face da Terra, o pelejar para atender essas necessidades tem sido longo e difícil. Para sobreviver o homem primitivo se abrigava em grutas e cavernas e dependia dos frutos que colhia, da pesca e dos animais que caçava.

“A história da comunidade primitiva se estende por centenas de milhares de anos”, diz o historiador soviético

*Algumas das ideias aqui expostas encontram fundamentação no li-vro de Jacob Gorender — Marxismo sem Utopia.

Candido Feitosa ingressou no PCB – Partido Comunista do Brasil em 1947. Participou em agosto de 1950, no Rio de Janeiro, da Conferên-cia Nacional de reorganização da UJC – União da Juventude Comunis-ta, sendo o seu primeiro presidente no Ceará. Militou no Partido Co-munista do Brasil - PCB, até 1961 quando em congresso este altera o nome para Partido Comunista Brasileiro - PCB. Continua suas ativida-des partidárias até 1992, quando em Congresso altera-se novamente o nome para Partido Popular Socialista - PPS. Atualmente é membro do Diretório Estadual do PPS e presidente da Comissão Provisória de Organização do Partido no município de Fortaleza.

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Nicolsque Cajdan em seu livro História do Mundo – Sociedade Primitiva, e diz mais: “Na sociedade primitiva as relações de produção se baseiam na propriedade coletiva dos meios de produção” e conclui “As razões deste fato devem ser procu-rado no nível extremamente baixo das forças produtivas que não permitem aos indivíduos isolados a obtenção dos meios necessários à sobrevivência”. Para assegurar a alimentação necessária à sobrevivência da comunidade, a ação coletiva era a principal atividade exercida pelo grupo. Usando lascas cortantes de pedra e cassetes, caçavam , enfrentavam e aba-tiam animais de grande porte.

A atividade agrícola, iniciada na comunidade primiti-va, era praticada de forma rudimentar, com utensílios feitos de madeira e de pedra. Mesmo assim representou progresso em relação ao período anterior ― da coleta de frutos — e contribuiu de maneira decisiva para o posterior desenvol-vimento da comunidade, cuja característica principal era a produção e a vida coletiva. Todavia diz o autor citado: “A maior parte dos utensílios era de propriedade pessoal. As-sim os arcos e as flechas, as enxadas e os machados de pedra etc. pertencem aos que os tinham feito e os utilizavam” e acrescenta: “Já se observa entre os iroqueses um início de individualização da produção porque o emprego do arco e da flecha já permitia que um indivíduo isoladamente conse-guisse alimentação necessária para seu sustento.”

A invenção do arco e da flecha tornou possível a caça de pássaros, o que antes não estava ao alcance da comunida-de. Talvez tenha sido o arco e flecha o utensílio de trabalho que mais contribuiu para a independência do indivíduo à atividade coletiva.

Quando a sociedade primitiva descobriu e aprendeu a usar o ferro, substituiu os utensílios de madeira e pedra. O machado e a enxada de ferro constituíram avanço tecnoló-gico, possibilitando significativo aumento da produtivida-

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de agrícola, gerando sobra de alimentos; o que possibilitou a domesticação e a criação de animais, tornando possível o uso do arado já com ponta de ferro.

Diz Cajdan: “o machado de ferro e o arado puxado por bois permitiram que cada família cultivasse uma extensão de terra que antes só podia ser cultivada por uma coletividade.” O machado, a enxada e o arado, assim como o arco e a flecha, eram propriedades individuais. Com esses instrumentos de trabalho “o homem passou a ser capaz de produzir mais do que o necessário para satisfazer a si próprio e a sua família”. A renovação, o aperfeiçoamento e o desenvolvimento desses instrumentos de trabalho possibilitaram o aumento da pro-dutividade e criaram as condições indispensáveis à produção individualizada, que já começava a predominar.

A atividade agrícola, a criação de gado bovino e de outros animais exigiam, para o seu crescimento, locais apro-priados com solos férteis e clima adequado. Possivelmente nessa fase de desenvolvimento da comunidade primitiva, surgiu a necessidade de moradia fixa, assim como surgiu a necessidade da propriedade da terra — até então a terra não tinha donos. A propriedade privada emerge como direito natural do indivíduo.

O escritor inglês John Locke (1632-1704), reconhece a propriedade como direito fundamental e o escritor suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1978), diz ser a desigualdade social resultado da desigual distribuição da propriedade. Se-não vejamos:

Rodolfo Luís Vigo em sua obra Vision Crítica de la His-tória, de la Filosofia del Drecho (páginas 71 e 72) diz: “o estado de natureza Lockeano é o reino da razão e de uma liberdade medida mas, o desejo de uma maior segurança leva o ho-mem a constituir o Estado sem renunciar a seus direitos fun-damentais: a vida, a integridade física, a liberdade e a pro-priedade” (apud, Oscar D’Alva Filho in A Ideologia do Direito

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Natural, 2ª Edição, ABC Fortaleza, página 175). V. Posner, historiador soviético, em sua obra Histó-

ria de la Filosofia (página 157), comenta o contrato social de Rousseau dizendo: “nas doutrinas de Rousseau há o germe do materialismo histórico: a causa do nascimento da desi-gualdade social é o resultado da desigual distribuição da propriedade entre os homens” (apud, Oscar D’Alva Filho, obra citada na página 194).

A Propriedade privada não é, pois, particularidade do sistema capitalista, ela surgiu na Sociedade primitiva quan-do a atividade coletiva já não era suficiente para satisfazer as necessidades crescentes da comunidade. Surgiu e perpassou diversas formações sociais: o escravismo, o feudalismo, o es-cravismo colonial no Brasil e continua existindo na socieda-de capitalista vigente. Em seu livro Comentários sobre as leis da Inglaterra o jurista britânico William Blackstone diz: “O fato é que a propriedade privada subsistiu e foi institucio-nalizada no curso da história da sociedade humana. Nada mobilizou mais a fantasia humana e aprisiona as paixões, do que o direito da propriedade” (apud Edilson Santana, em seu artigo É justo o direito à Propriedade?, no Caderno de Economia do Jornal O Estado — CE). A propriedade privada tornou-se indissociável do homem.

A propriedade privada alcançou seu maior desenvol-vimento, modernidade e dominação no sistema capitalista de produção. Sistema que conseguiu enormes progressos nas diversas áreas do conhecimento humano e do desen-volvimento científico e tecnológico, o que lhe possibilitou a formação de nações poderosas tanto econômicas como mi-litarmente. Porém não alcançou a fase áurea de desenvolvi-mento da sociedade humana, como procura fazer crer.

Os grandes problemas da humanidade permanecem sem solução. A fome grassa em grandes extensões da terra vitimando milhões de seres humanos — mas de um bilhão

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de pessoas vivem em situação de extrema miséria. Quase um terço da população do mundo vive com menos de um dólar por dia.

O Brasil, líder da produção de alimentos em vários itens, maior exportador global de carnes, grande produtor de soja, trigo, milho e similares, é a sexta economia do mun-do. Mesmo assim milhões de brasileiros ainda passam fome.

Milton Santos em seu livro Por Uma Outra Globaliza-ção diz: “Ataca-se funcionalmente manifestações de pobre-za, enquanto estruturalmente se cria a pobreza ao nível do mundo. E isso se dá com a colaboração passiva ou ativa de governos nacionais” e diz mais: “a fome deixou de ser um fato isolado ou ocasional e passou a ser um dado generaliza-do e permanente.”

A concentração da propriedade e das enormes rique-zas que ela possibilita nas mãos de reduzida minoria dona dos meios de produção, dona do capital financeiro e dona dos meios de comunicação de grande alcance, garante pri-vilégios e benefícios assim como assegura o domínio do co-nhecimento e o controle da informação; o que lhe permitiu e permite exercer o controle do poder econômico e o controle do poder político. Está, pois, na concentração da proprieda-de e das enormes riquezas que ela possibilita, a causa deter-minante das grandes desigualdades existentes na sociedade capitalista.

A democratização da propriedade e/ou dos benefícios e das riquezas que ela possibilita, assim como a construção de uma nova sociedade pluralista e plenamente democráti-ca exigem a existência de condições objetivas “nenhuma for-mação social desaparece enquanto as forças produtivas que nela se desenvolveram ainda encontrem lugar para um novo movimento progressista” [...] “a sociedade não se põe tarefas para cuja solução ainda não tenha germinado as condições ne-cessárias” citação do livro Gramsci no seu Tempo (página 18).

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O sistema capitalista, parte deste processo, em seu de-senvolvimento está criando as condições necessárias – mes-mo sem o desejar – à construção dessa nova sociedade. O surgimento de forças produtivas qualitativamente novas e a rapidez com que se desenvolvem, assegurarão o atendimen-to das necessidades do mundo em que vivemos.

A prática democrática deverá ser a estrutura dessa nova sociedade: quando o conhecimento e o saber deixarem de ser exclusividade de uma minoria privilegiada e possibi-litarem a todos, o acesso ao desenvolvimento cientifico e às novas tecnologias; quando o poder político alcançar todas as camadas da população e lhes assegurar a prática da partici-pação; quando os meios de produção forem democratizados e os bens produzidos e as riquezas geradas forem de fato para beneficiar a sociedade; quando os meios de comu-nicação democratizados quebrarem o condicionamento cultural e a centralização da informação a que está sub-metida compulsoriamente a sociedade brasileira; aí sim, teremos uma sociedade com igualdade de oportunidades para todos, cujo maior valor será assegurar a satisfação das necessidades materiais, culturais e espirituais do ser humano, onde preservando a natureza seja assegurando--lhes a vida hoje e amanhã.

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O CONSTITUCIONALISMO SOCIAL NO BRASIL

D I M A S M A C E D O

EM TODO O PERCURSO do Processo Constituinte Bra-sileiro, se torna extremamente difícil e, às vezes, até certo ponto impossível, detectar um discurso que

não esteja comprometido com a retórica de alienação cons-titucional. Desvinculadas da realidade nacional, todas as nossas constituições, elaboradas antes de 1988, nada mais expressam do que um discurso autoritário e elitista, cor-respondente, aliás, à postura do poder constituinte que as elaborou.

De fato, como assegura Francisco Catão, “todas as nossas constituições nos foram outorgadas de cima e de fora, independentemente dos caminhos formais que às ve-zes encobriram a estrutura vertical da operação. Em 1891 e 1945, a Constituição brotou de uma Assembleia Consti-tuinte, mas, em ambos os casos, os seus principais fautores tinham como pontos de referência modelos estrangeiros e acabaram impondo à Nação Brasileira uma filosofia políti-ca que pouco ou nada tinha a ver com a nossa realidade na-cional”. (CATÃO, Francisco. Constituinte — Uma Abordagem Ética. São Paulo: Edições Loyola, 1985).

A Constituição de 1934, como lembra Manoel de Oliveira Franco Sobrinho, “se teve algum relevo, não con-

Dimas Macedo é Mestre em Direito e Professor da UFC

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seguiu contornar fatos políticos. Colcha de retalhos, essa Constituição tentava esconder uma Nação transformada, como se nada tivesse acontecido em 1930 e 1932. A de 1937, antecipando rigores autoritários, não tendo vida jurídica, não teve vida política. A de 1934, marcada de algum ide-alismo, desfez-se diante de dificuldades emergentes. A de 1937, personalizando o poder, autorizou-se engenhosamente quebrando tradicional pacto social”.

Na Constituição de 1946, também segundo Manoel de Oliveira Franco Sobrinho, “a divisão de poderes, no sentido trinitário clássico, não obstante emendas distorcivas, permi-tiu um equilíbrio de forças que deram sustentação normal ao regime até o momento em que a economia adoecia, re-percutindo sobre fatos políticos, enfraquecia as instituições, exigindo prerrogativas governamentais capazes de conter turbações sociais”. (FRANCO SOBRINHO, Manoel de Olivei-ra. Regimes Políticos. Rio: Forense, 1984).

Em 1945, tal como aconteceu em 1889, foi a mudança dos personagens da elite aquilo que mais fundamentalmen-te concorreu para sua continuação. A Constituinte não passa de um apelo desesperado de continuidade que os detentores do poder fazem à consciência reprimida e desorganizada da nação, que a rigor não sabia até onde sua criatividade podia conduzir a efetividade da Constituição.

Contudo, mesmo considerando-se os condicionamen-tos políticos que acima pretendemos desenhar, não podemos esquecer as palavras de César Saldanha de Souza Júnior, no sentido de que “O regime de 1946 nasceu sob o embalo das mais puras esperanças de que, enfim, encontraríamos um processo político que realizasse, no plano do funcionamen-to do poder, a irreprimível vocação brasileira à Democracia. Mas a nossa elite, ainda presa demasiadamente aos precon-ceitos constitucionais de 1891, desperdiçou, mais uma vez, a oportunidade de criar um modelo novo, adequado à nossa

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realidade e que possibilitasse remédios constitucionais aos inevitáveis conflitos, abusos e crises, inseparáveis da vida po-lítica. E, ao sucumbir em 1964, a impressão que se teve foi a de que o regime ainda durara muito. Na verdade, nos dezoi-to anos incompletos assistiu, afora alguns levantes militares e a muitas agitações, a pelo menos duas deposições presiden-ciais, e mais ao suicídio de Vargas e à renúncia de Quadros”. (SOUZA JÚNIOR, César Saldanha de. A Crise da Democracia no Brasil. Rio: Forense, 1978, p. 41).

O Poder Constituinte de 1967 e 1969, a par de profun-damente autoritário e discriminador, não levou em conta nossas possibilidades nacionais de estabilidade democrática e de modernização. Emergente de uma conjuntura político--militar que o resgatou em nome de um projeto de estabiliza-ção institucional, terminou por se converter em instrumento de um novo Estamento Social de, há muito, ansioso por ver cristalizada a sua proposta de Constituição. Serviu enfim de pretexto para que uma nova elite social se pudesse consolidar no controle do aparelho do poder, a fim de que, assim, pudes-se veicular uma nova retórica constitucional, completamente desvinculada da realidade política e econômica da Nação.

O discurso constituinte veiculado pelo poder militar certamente não considerou a violência que perpetrou quan-do, em 25 de novembro de 1965, através do Ato Institucional nº 2, extinguiu os partidos políticos nacionais. Se a demo-cracia, como garante o preâmbulo de referido Ato Institu-cional, efetivamente supõe o exercício da liberdade e nasce das aspirações mais lúcidas e representativas da popula-ção, nada mais lógico do que no contexto se possam posi-cionar os canais de comunicação existente entre o povo e a organização política do poder.

Efetivamente, não se pode construir qualquer proje-to democrático sem que se leve em conta a organização das funções do poder, estruturadas a partir do seu enraiza-

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mento social e da criatividade do corpo eleitoral que lhe fornece os pressupostos de sustentação.

Contudo, torna-se necessário ponderar que a crise par-tidária brasileira não se resume unicamente ao legado que o Poder Constituinte de 1967/1969 nos quis transmitir. No Bra-sil, como lembra a argumentação de José Lindoso, “os par-tidos, com raríssimas exceções, se escravizam ao jogo emu-lativo nos seus órgãos de comando, exaurindo nisso as suas potencialidades criativas; formam um corpo de filiados geral-mente anêmicos, nada participativo, para atender aos impera-tivos legais das convenções. E, tomados por certa timidez, não mergulharam em profundidade no meio comunitário para um trabalho sistemático, quer na classe pobre das periferias, quer nas áreas da burguesia remediada, mobilizando-o para os seus problemas peculiares e capacitando-o para a atuação política lúcida e garantidora da perenidade da Democracia”. (LINDOSO, José. Estado, Constituinte e Constituição. São Pau-lo, Saraiva, 1986, p. 3).

Finalizando, cumpre considerar que, com a Constitui-ção de 5 de outubro de 1988, no entanto, fica exposto e conti-nua lançado o desafio do exercício da cidadania e da partici-pação como forma de viabilizar a eficácia da Constituição, à margem o conteúdo e os caminhos de sua revisão ou de sua reforma. Sem a defesa da efetividade da Constituição e sem a busca incessante da sua legitimidade e do seu controle, com certeza permaneceremos incapacitados para o equaciona-mento da nossa crise institucional.

Não é mistificando periodicamente o exercício do Po-der Constituinte que chegaremos à estabilidade e à efetivida-de requeridas pela interpretação e a doutrina da Constituição. Pelo contrário, é decifrando a retórica do Discurso Constitu-cional Brasileiro que complementaremos a realização da nos-sa tão sonhada utopia constituinte e, por conseguinte, a supe-ração da nossa marginalidade política e social.

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UMA TRAJETÓRIA DE LUTAS

I N Á C I O R I B E I R O

O GRANDE AMIGO E COMPANHEIRO Cândido Fei-tosa traz de volta neste livro a história de um parti-do que eu sempre respeitei e principalmente admi-

rei pela coragem que seus membros tinham de lutarem por seus ideais e por aquilo que consideravam justo. Muitas ve-zes esta luta implicava em sérios riscos para a própria vida.

Com 90 anos de história, o Partido Popular Socialista — PPS tem suas origens no antigo Partido Comunista Brasi-leiro — PCB também conhecido como o Partidão ou Pecebão e Cândido Feitosa é seu filiado desde 1947, um ano que não foi propriamente de conquistas para o partido uma vez que foi justamente neste ano que o PCB foi posto na ilegalidade e todos os seus mandatários foram cassados! Ou seja, Cân-dido tem 65 anos de luta em defesa dos ideais de uma Socie-dade mais justa, dos quais 38 foram militando na ilegalidade e na semi clandestinidade pois somente em 1985 os partidos comunistas brasileiros tiveram reconhecidos o seu direito de atuarem legalmente.

Neste livro, Cândido Feitosa conta a trajetória daque-le que foi até hoje seu único e exclusivo partido, algo que é motivo não apenas de admiração mas principalmente de es-

Inácio Ribeiro e professor da UVA — Universidade Vale do Acarau

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panto uma vez que fidelidade a um ideário não se constitui uma regra na política brasileira mas a exceção das exceções. Um partido que nasceu com a bandeira do Socialismo cien-tífico de Marx e Lenin, que acreditava que a estatização dos fatores de produção representava o caminho ideal para asse-gurar aos cidadãos melhores condições de vida mas, que ao longo dos anos foi evoluindo junto com a Sociedade fazendo suas inflexões e autocríticas sem, no entanto, abdicar da bus-ca por uma Sociedade mais humana, mais fraterna e menos desigual.

Um ponto especialmente rico do livro é quando temos a oportunidade de lermos na íntegra alguns documentos do Partido ao longo da sua trajetória, mais interessante ainda é quando comparamos esses documentos, especialmente o de 1950 em relação ao de 1958. No primeiro, o então Secretá-rio Geral do Partido o “Cavaleiro da Esperança” Luiz Carlos Prestes convoca o povo brasileiro à revolução com um ma-nifesto bastante radical. Tal fato ocasionou o afastamento de muitos membros do Partido que não viam naquele momento nenhuma viabilidade de se fazer a revolução, entre eles o fu-turo Senador, Ministro e Governador do Ceará, Beni Veras, considerado o “guru” das lideranças do Centro Industrial do Ceará — CIC que chegaram ao poder no Estado em 1986.

Já o documento de março de 1958 denominado “De-claração sobre a Política do Partido Comunista do Brasil” o PCB já apresenta uma linha mais conciliatória, reconhecendo avanços e defendendo o Regime Democrático Brasileiro e a transição pacífica para o Socialismo. Apesar deste documen-to conter críticas ao então presidente Juscelino Kubischeck isso não foi impedimento para que em 1959 no ato em que o Brasil rompia com o Fundo Monetário Internacional – FMI, Luiz Car-los Prestes posasse ao lado de Juscelino neste momento histórico.

Com relação ao político Luiz Carlos Prestes, peço per-missão para fazer um parêntese e manifestar minha opinião

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a respeito deste grande brasileiro. Um homem de uma cora-gem ímpar que nos anos 20 percorreu o Brasil defendendo através de sua coluna a moralização dos costumes políticos; que em 1935 juntamente com sua esposa Olga Benário pro-moveu a Intentona Comunista, fato que lhe rendeu dez anos de prisão e a deportação de Olga para a Alemanha Nazis-ta, não impedindo-o, quando saiu da prisão em 1945 aderir ao Movimento Queremista, que defendia a permanência de Vargas no poder. Prestes era sem dúvida um homem voca-cionado para herói nacional mas sem habilidade e argúcia política, alguns adversários do antigo PCB como Roberto Campos argumentavam que o comunismo não se instalou no Brasil por conta da inabilidade de Prestes.

Somente para citar alguns fatos que revelam o que disse no parágrafo acima: Em 1935 durante o ato de ade-são de Luiz Carlos Prestes à Aliança Nacional Libertadora – ANL, este fez um discurso duríssimo contra Getúlio Var-gas, discurso este lido pelo então comunista Carlos Lacerda — tempos depois Lacerda se tornaria um dos mais ferozes anti-comunistas e um dos líderes civis do golpe de 1964 – o que deu a Vargas que já sonhava com o golpe, o pretex-to para colocar a ANL na ilegalidade. Em 1947 já senador, quando indagado por Juraci Magalhães se em caso de uma guerra entre o Brasil e a União Soviética de que lado ficaria, Prestes não respondeu convincentemente o que contribuiu para que o PCB perdesse o registro no TSE e mergulhasse novamente na clandestinidade. Em 1964, Prestes declarou que os comunistas já estavam no governo só lhes faltando naquele momento o poder, assanhando ainda mais os gol-pistas e aumentando a desconfiança dos setores médios em relação ao governo de João Goulart que acabou deposto. Já em 1974, Prestes deu uma declaração no exílio dizendo que os senadores do MDB foram eleitos graças aos votos dos co-munistas, fazendo com que a ameaça de cassação pairasse

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sob a cabeça desses parlamentares.Em 1961, a antiga União soviética passava por um

processo de revisionismo onde Nikita Kruschev, sucessor de Stalin, cinco anos antes durante o XX Congresso do Partido comunista da União Soviética havia denunciado os crimes de seu antecessor e o culto à sua personalidade. No Brasil, a cor-rente reformista do partido realiza uma Conferência Nacional Extraordinária aprovando um novo Programa, novo Estatuto e adotando o nome de Partido Comunista Brasileiro – PCB, como já era popularmente conhecido. A ala mais dogmática do partido, fiel a Stálin, organiza então em 1962 o Partido Co-munista do Brasil – PC do B.

Voltando ao Partido. Sempre alguém poderá questio-nar o porquê de sucessivas transformações internas, mudan-ças estas que ocorreram inclusive no nome, tendo em 1992 o PCB passado a se chamar PPS. Não seria uma incoerência? O partido não abandonou seus ideais? são algumas perguntas que eventualmente são formuladas às lideranças do nosso partido. A resposta é sempre a mesma. Não! O partido mu-dou mas não mudou de lado. Continua a defender a redução das desigualdades, o desenvolvimento do Brasil e a se posi-cionar em defesa da produção e contra o capital especulati-vo, exatamente como fazia há 50 ou 60 anos atrás.

As mudanças ocorreram porque o mundo também mudou. No passado, os grandes fatores de produção eram a terra, o capital e a mão de obra, sendo as relações de tra-balho extremamente injustas. Os operários e camponeses trabalhavam até 14 horas por dia sem direito a nenhum am-paro dos patrões ou do Estado. Os nobres ideais políticos do liberalismo revelavam seu lado cruel quando levado para a economia. A lógica era simples, os patrões eram livres para oferecer o salário e as condições de trabalho que desejassem e os trabalhadores por sua vez eram livres para aceitarem ou não o que lhes eram oferecidos. Não é preciso ser “PHD

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em economia” para saber que isso não funciona e o que se obtêm quando se leva o liberalismo ao extremo é exclusão, fome e exploração do homem pelo homem.

Foi dentro deste cenário que surgiram os partidos comunistas na Europa e posteriormente em outros lugares, como o Brasil. Acreditava-se que a estatização dos fatores de produção eram o melhor caminho para assegurar uma maior qualidade de vida a todos os homens. Essa experiên-cia foi posta em prática em vários países e durou de 1917 até 1989. A história porem demostrou que esse modelo de organização social não é viável e o que se obteve foi inefici-ência econômica e falta de liberdade política. Nosso partido foi sensível a esta realidade e tratou de buscar outros cami-nhos sem no entanto abdicar dos ideais de justiça social e desenvolvimento.

Hoje as relações de trabalho estão mais justas por con-ta da intervenção do Estado e o grande fator de produção não é mais a terra, o capital ou a mão de obra, e sim o conhe-cimento. Somente ele é capaz de promover a prosperidade e a melhoria das condições de vida do povo e o PPS é cons-ciente de que o conhecimento se dissemina e como resultado se transforma na riqueza de uma Sociedade aberta, demo-crática e plural.

Fiquei muito feliz com a decisão de Cândido Feitosa em relatar a longa trajetória do seu partido. Por isso, este livro é uma leitura para recordação dos que viveram aqueles tempos e principalmente uma revelação para os mais jovens, que não tem a menor idéia do que era ser comunista em de-terminados períodos da história do Brasil. Neste livro, ele nos contempla com uma espécie de túnel do tempo.

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HISTÓRIA E DIALÉTICA, O IMPACTO DA INTERNET E DAS REDES SOCIAIS

L U Í S - S É R G I O S A N T O S

A GRANDE REVOLUÇÃO SOCIAL do século passado teve como base a Tecnologia. A massificação da In-ternet e a popularização do preço do computador

ampliaram e vem ampliando a base de usuários de modo a colocar em xeque um abissal paradigma, a quebra do mono-pólio da emissão de informação, antes privilégio de poucas dúzias de “iluminados” em decorrência da concentração de conhecimento e de riquezas.

As novas tecnologias tem exercido uma influência es-sencial nas mobilizações sociais e certamente exerceram pa-pel importante no declínio e queda do regime de 30 anos de Hosni Mubarak no Egito e estimularam o acirramento que culminou no trágico final de Muammar Kadhafi. Há quem afirme que Redes Sociais como o Twitter se tornaram meios de comunicação mais democráticos hoje. De fato, os micro-blogs e, neste caso, a comunicação tem que se dar em 140 caracteres, são instantâneos como disseminadores de infor-mação, opinião e até como meios de guerrilha considerando que muitos usuários-emissores preferem tê-los para disse-minar agenda negativa ou contrainformação.

A mobilização ficou mais fácil mas a Internet ainda

Luís-Sérgio Santos é Professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará

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tem muito terreno a percorrer. Trata-se de um meio ainda de acesso restrito e caro sendo que hoje, grandes corporações debatem em como controlá-la, como restringi-la e como tor-ná-la em negócio rentável. As Redes Sociais, no que pesa seu caráter democrático, são um excepcional caso de mais-valia. Na verdade, todo o conteúdo provém dos seus usuários e o volume de tráfego e a quantidade de usuários impulsionam as redes como negócio. O caso emblemático é a do Facebook, uma rede social mais complexa que o Twitter e, hoje, com excepcional valor de mercado.

O banco de dados com informações pessoais e de há-bitos gerados pelos usuários do Facebook são a moeda de troca no mercado. Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso concordará que as informações lá contidas são usadas estrategicamente pelos controladores do Facebook. Esse cru-zamento de informações consolidado em Perfil do Usuário é fator essencial para o valor de mercado do negócio. Como em toda relação aqui também há uma troca e a mais-valia é toda consentida nos moldes que Marx nunca imaginou.

A hipótese agora colocada é um exercício meramente intelectual. Haveria Guerra Fria num cenário de Internet? O mundo fervilhava nos final dos anos 1950, a ameaça nucle-ar, duas superpotências medindo forças num cenário onde a mídia mundial era controlada por três ou quatro grandes agencias de noticias e onde a dicotomia bem e mal eram os grandes estereótipos construidos pela Política e Imprensa.

O acesso restrito à informação, a informação divulga-da totalmente parcial, o aparelhamento político e ideológico dos grandes emissores mundiais e, principalmente, a con-trainformação e o boato eram, na verdade, um anti-ilumi-nismo, um obscurantismo programado a serviço da Política.

A tecnologia de ponta neste cenário eram o telex, o teletipo e o rádio. A mídia de massa só iria explodir mesmo com a consolidação da televisão como meio desta

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o que só veio acontecer a partir dos anos 60 e, no Brasil, a partir dos anos 70.

O acesso à informação era restrito e controlado e, mes-mo esta, sujeita à distorções de apuração e ao aparelhamen-to do emissor. Vivíamos, portanto, uma guerra de informa-ção e contra-informação e este cenário era perfeito para a Guerra Fria.

O mais visionário dos teóricos da comunicação, Mar-shall McLuhan cunhou a Aldeia Global, em seu livro “A Galáxia de Gutenberg”, em 1962. Antecipou, em tese, todo o fenômeno de horizontalidade comunicacional que vivencia-mos hoje. O foco de McLuhan eram a mídias tradicionais considerando que a Internet ainda estava por vir. Ele atirou no que viu — a televisão, e a CNN seria uma expressão ini-cial desse tribalismo global — e acertou no que não viu, a Internet, um advento potencialmente anarquista que de-sorganizava o conceito acadêmico dicotômico de emissor e receptor, cada um no seu quadrado. Na verdade, os papéis estão cada vez mais embaralhados e isso tem estimulado os grandes monopolistas da comunicação a desenvolverem formas de controle e de domínio. Quando não conseguem um pequeno sucesso, a parte que lhes cabe neste latifúndio, partem para a fusão.

Além de fatores estéticos graves, as mídias eletrônicas fundam novos processos cognitivos, avançam como opção à cultura impressa, tátil e tangível. McLuhan é, sem dúvida, um visionário da rede mundial.

E o que muda em nossas vidas? A Aldeia Global é um caos organizado pelo Google. Antes do advento das ferra-mentas de busca, a Internet era um paliteiro. É ela quem cria uma incrível oportunidade de negócio, os buscadores clas-sificam, organizam e distribuem a informação publicada na Internet. Aqui, outro caso de mais-valia que determina outra forte correlação de forças na esfera de poder empresarial. As

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empresas jornalísticas veem agora o Google como um con-corrente que se apropria de suas informações para aumentar exponencialmente seu fluxo de acesso.

A cada dia, a novidade gera a obsolescência de ferra-mentas, de blogs, microblogs e de outros canais na Internet e impõem uma renovação constante e a busca de inovações que se superam — e são superadas — continuamente. Redes guerrilheiras como Anonymous, publicam cartilhas hackati-vista e desafiam estruturas de poder. Eles invadem sites “se-guros” e publicam seus manifestos. Essa face ativista abre um enorme abismo na rede e mostra o quanto estamos inse-guros também no mundo virtual.

O advento da televisão digital e sua convergência com a Internet é outro cenário que desorganiza e ameaça o con-trole monopolista daquele meio. Também aqui cada usuário da Rede Mundial é potencialmente um emissor de informa-ção audiovisual, como já acontece hoje via YouTube.

Na Política, todas essas possibilidades podem ser alia-das em ações de informação, transparência, esclarecimento e sedução. Barack Obama é um caso de sucesso neste sentido em sua primeira campanha presidencial. Os que preferem usá-las como meio de contrainformação podem estar contra-tando enorme risco — o efeito bumerangue.

Os partidos políticos podem e devem se apropriar do potencial da Internet e das redes sociais como meios de informação e de relacionamento com o eleitor. Na verdade todos eles tem usado a Internet como meio de comunicação e de interação. No entanto, as redes sociais têm tido uso meramente pontual, eleitoral, fisiológico e, são poucos os políticos que se mantém estáveis como usuários do Twitter, por exemplo.

O fato revolucionário em tudo isso, e que o cidadão é potencialmente emissor, dono do seu próprio canal. Mas para ganhar força precisa se organizar e criar sua própria rede.

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AS MUDANÇAS SOCIAIS E POLÍTICAS ADVINDAS COM O ESTADO CIVIL MODERNO. O EXERCÍCIO DA CIDADANIA E O

CONTROLE POLÍTICO DO ESTADO

O S C A R D ´ A L V A E S O U Z A F I L H O

1. A BURGUESIA COMO CLASSE DIRIGENTE DA SOCIEDADE MODERNA

A SOCIEDADE MODERNA PODE ser apresentada por muitos aspectos que lhe são singulares. Primeiro por uma economia nova, o mercantilismo, fato his-

tórico que impulsionou os novos burgueses para aventuras comerciais singrando mares “nunca d´antes navegados”, em “perigos e em guerras esforçados, mais do que prometia a força humana”, como registrou Luiz Vaz de Camões, na epopéia dos Lusíadas.

O resultado desse esforço foi bastante positivo: a na-

Oscar d´Alva e Souza Filho é Membro do Instituto Brasileiro de Filo-sofia – Secção do Ceará, Mestre em Direito Público pela Universidade Federal do Ceará – UFC, Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado do Ceará, Diretor da Escola Superior do Ministério Público do Ceará (03/2003 a 02/2008), Editor da Revista Cearense Indepen-dente do Ministério Público – RCIMP, Co—Editor da Revista Jurídica do Instituto dos Magistrados do Ceará – IMC: Livre Docente em Filo-sofia do Direito pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú – UVA, Doutorando em Ciências Jurídicas pela Universidad del Museo Social Argentino- UMSA, Professor de Ética, Deontologia, Sociologia do Di-reito e Filosofia do Direito – UNIFOR. E-mail: [email protected] – Telefones: (03185) 3239.20.04 e 8862.9917

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vegação costeira da África e o seu contorno sul no Cabo das Tormentas que possibilitou a descoberta do Caminho Marí-timo para as Índias, com Vasco da Gama, a circunavegação do Mundo com Fernando Magalhães, a descoberta da Amé-rica em 1492, com o genovês Cristóvão Colombo, o Desco-brimento do Brasil, com Pedro Álvares Cabral, a colonização do México com Fernão Cortez e do Peru, com Francisco Pi-zarro, para citarmos os acontecimentos principais. Deve-se frisar como novidade a posição ativa de uma nova classe so-cial, a burguesia.

A Economia Comercial desenvolvida pela classe bur-guesa possibilitou o crescimento geográfico do mundo até então conhecido, em muitas dimensões. Pode-se dizer que a Geografia e a Cartografia ganharam novo status ante a re-alidade física e geopolítica que passaram a representar. A arte da navegação exigiu novos conhecimentos cartográficos e astronômicos do mundo novo, tantas vezes maior e agora explorado em todas as suas dimensões na África, na Ásia e nas Américas.

2. AS MUDANÇAS NOS PARÂMETROS DE CONHECIMENTO NA MO-

DERNIDADE

Pode-se falar de uma ciência nova, de uma física mo-derna (com Newton) de uma matemática cartesiana (com René Descartes), de uma astronomia nova de base heliocên-trica (com Galileu e Copérnico), e de uma postura científica empírica (com Francis Bacon), que preconizava a necessi-dade de uma “Instauratio Magna” (uma grande restauração) nas bases medievais do saber.

Essas mudanças operadas pelas grandes navegações e pelas grandes descobertas burguesas (pólvora, bússola e im-prensa) propiciaram modificações nas concepções relativas ao papel do homem na História e quanto ao seu relacionamento com povos desconhecidos e com as autoridades de seu país.

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Surgiram muitos problemas. A Igreja Católica, en-tão senhora feudal poderosa na vida econômica e política, entrou em choque com alguns Príncipes que insistiam em associações comerciais com os burgueses. Começou a rea-gir negando o seu apoio ideológico às Monarquias que se associassem com projetos burgueses de exploração de ouro e prata e de povos colonizados e escravizados da África, da Ásia e das Américas.

Os burgueses trouxeram a pólvora da China e deram aos Príncipes a possibilidade de organizarem suas milícias particulares. O poder político passaria a ser uma expressão da própria força militar do Rei, do seu poder material e de sua vontade, independente da intervenção divina e do apoio ideológico da Igreja Católica.

Nesse contexto de mudanças, com Economia e classe social novas, com um mundo novo bem maior, agora desco-berto e colonizado, e mais, com Reis e Príncipes poderosos que se aventuravam em expedições colonizadoras em busca de riquezas e expansões territoriais, o conceito de poder po-lítico e de autoridade do soberano, tudo isso passou por uma mudança estrutural significativa.

3. INFLUÊNCIA DA ÉTICA PROTESTANTE NO DESENVOLVIMENTO

DO CAPITALISMO BURGUÊS

Os protestantes, Lutero, (1473-1546) Calvino, (1509-1564) e Zuinglio (1484-1531), rompem com a Igreja Romana de tradição católica e feudal que pregava uma atitude de re-núncia à vida mundana e prometia aos homens uma vida fe-liz após a morte. Ao contrário desta, pregam a conquista do mundo terrenal como forma de qualificação do homem para merecer o Reino da glória divina. Desse modo o pensamento protestante favorece o desenvolvimento das atividades da burguesia comercial e se caracteriza pela defesa intransigen-te do direito do Príncipe de submeter ao seu modo, os povos

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colonizados, inclusive escravizando-os. Esse pensamento se desenvolve especialmente na Alemanha, na Bélgica, na Ho-landa e na Suíça. Os protestantes não admitem o direito de resistência ao tirano e dizem que o bom cristão deve supor-tar os excessos do Príncipe ou se submeter à sua espada.

Os católicos participam também ao seu modo, das empresas colonizadoras, no Brasil, graças aos Reis católicos Fernando, de Aragão, e Isabel, de Castela, mas desenvolvem uma ética cristã que dificulta a justificação da escravidão e do autoritarismo absolutista dos Príncipes. Nesse sentido os católicos são mais humanistas e assinalam pela primeira vez com o espanhol Francisco Suárez, a pregação do direito de resistência à lei injusta e ao tirano, chegando a dizer que qual-quer um do povo tem o direito de matar o tirano. Suárez contraria assim, com sua obra “Corpo Místico”, a velha lição de Tomás de Aquino, que no Século XIII aceitou o direito de resistência, desde que autorizado pelo Bispo ou pelo Papa, mas não admitiu o tiranicídio ou regicídio, que considerava um pecado inexpiável.

A época moderna é bastante rica em acontecimentos novos e desestruturantes das bases gnosiológicas do passa-do. Duas grandes preocupações avultam a modernidade: a descoberta de um método científico rigoroso (isso signifi-ca dizer não abstrato-dedutivo ou escolástico) e uma nova compreensão do fato político (relação entre o homem e o seu governante). Questiona-se, pois, o poder, a autoridade, a lei e o fundamento destas. Seria Deus ou o Povo?

4. O PENSAMENTO POLÍTICO AUTORITÁRIO

As primeiras doutrinações políticas da modernida-de estão presentes na obra O Príncipe (1513), do florentino Nicolau Maquiavel, escrita em louvor ao Príncipe Piero de Médici e que lança as bases da Política para o Novo Mundo. Maquiavel leciona a partir do exame dos fatos empíricos da

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História civil dos antigos e dos exemplos medievais. Obser-va que a política é uma técnica de persuasão utilizada pelos partidos ou grupos visando à conquista do Poder, e depois se converte numa técnica de manutenção do aparelho do Es-tado. Enquanto não conquista o poder o grupo político ou partido é generoso, humanitário e progressista, tudo prome-te e tudo admite. Quando assume o poder, converte-se em governo, e assim passa a ser reacionário às mudanças, con-servador em seus atos e cruel com seus oponentes. Maquia-vel postula pela separação entre as atitudes éticas, religiosas e políticas. A primeira buscaria o bem, a segunda preocupar--se-ia com o mundo sagrado ou metafísico, enquanto que a Política trataria objetivamente e rigorosamente das relações com o Poder, entre governantes e súditos.

Maquiavel narra as lições que apreendeu da História concreta ou empírica e, assim, mostra como os homens, che-fes de Estado, Papas, Generais e comandantes militares tem agido. Descreve o modo de ser dos políticos com toda a rea-lidade, e não o dever-ser.

Por isso, por não tratar do homem político ideal (que deveria agir sempre preocupado com o bem da comunidade humana, como preconizou Aristóteles) e sim com o homem político real, Maquiavel, adotou o chamado “Realismo Polí-tico” onde postulou pela utilização de todos os meios possí-veis para que o Príncipe mantivesse sempre em suas mãos o controle do poder político. Para isso, tudo é válido e justo. Vale mentir, prometer, comprometer, corromper, roubar e aniquilar vidas, contanto que o poder seja mantido. O fim é o poder, e para tal finalidade, todos os meios empregados serão tidos como justos. “Os fins justificam os meios”. Essa é síntese do pensamento de Maquiavel.

Maquiavel tem a vantagem de falar com clareza sobre os objetivos do Príncipe. Ensina que é melhor ser temido e odiado, do que amado e respeitado. Diz que o Príncipe odia-

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do e temido será bem aceito com o pouco que realizar, pois o povo não espera muito de um tirano. Já um Príncipe querido e respeitado, por mais que realize deixará no seio do povo a esperança de que realize mais e mais.

Maquiavel considerava o Direito Positivo como um instrumento de ordenação da sociedade, conforme os inte-resses do Príncipe. A lei é um decreto da vontade política do Soberano. (Lex, voluntas Regis est). A autoridade legal resulta da força militar do Príncipe. Ao povo deve ser dado “pão e circo”, conforme faziam os imperadores romanos. Um pou-co de pão e diversão. Assim o povo se manterá cativo e sub-misso à autoridade.

Outro pensamento político moderno, de grande re-percussão foi o do francês Jean Bodin, autor de uma obra denominada “De la Republique”. Também fiel a uma verten-te autoritária, tal qual a seguida por Maquiavel, Jean Bodin ensinava que o Direito Positivo é uma expressão política do poder e da vontade do Soberano. Admitia que o Rei é o fei-tor da Lei, mas que a dirige aos súditos que lhe deveriam total obediência. Ensina Bodin que a Lei obriga apenas aos súditos e nunca ao Rei, pois sendo ela uma expressão de seu humor e de sua vontade, pode ser modificada, alterada e re-vogada por ele, quando assim o desejar.

As doutrinas de Nicolau Maquiavel e de Jean Bodin consagram o que se denominou de autoritarismo político, onde o poder do governante se justifica pela própria per-sonalidade do Príncipe. O poder autoritário se justifica e se limita pela força efetiva do mandante. Essa doutrina se revelou falha por lhe faltar elementos morais no seio da comunidade governada capazes de justificar a necessida-de da manutenção da autoridade política. Sendo o Rei a única fonte de sua força e autoridade, a tendência seria o seu distanciamento do corpo político e o seu isolamento ou aniquilamento.

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5. A SUPERAÇÃO DO AUTORITARISMO PELO CONTRATUALISMO

Foi o inglês Thomas Hobbes, um outro pensador au-toritário, quem melhor percebeu a fraqueza doutrinária e ideológica do autoritarismo como doutrina política capaz de persuadir o povo sobre a necessidade da permanência do Governo Civil na comunidade política.

Hobbes escreveu várias obras, tais como “De Cive”, “De homine” “De Corpore” e “Leviathan”, onde tratou das questões relacionadas à cidadania, aos deveres e obrigações políticas do cidadão e de suas relações com o Soberano.

Defendeu a existência anterior ao Governo Civil ou Estado de Direito Positivo, de um Estado primitivo de Direi-to Natural onde não haveria governo formal, lei escrita ou qualquer instância de autoridade. Nesse Estado de Natureza predominavam as vontades sem freios, os instintos e a for-ça física dos indivíduos. Tudo seria permitido, pois o limite das ações era a própria força daquele que a praticava. Por isso, segundo Hobbes esse estado primitivo se transformou em um Estado de Guerra, onde todos disputavam entre si, com violência e egoísmo os melhores lugares sociais e os me-lhores bens úteis. Havia, pois, uma “guerra de todos contra todos” (bellum omnes erga omnes) e isso gerava insegurança e intranquilidade geral. O homem se converteu no maior ini-migo, o lobo do próprio homem (homo homini lupus).

Foi para sair dessa condição de guerra e de inseguran-ça que os homens, segundo diz Hobbes, em seu “Leviathan” resolveram fazer um “pacto social”, mediante o qual renun-ciaram à liberdade absoluta e aos seus direitos naturais e ou-torgaram ao Soberano, a quem caberia a responsabilidade de gerir politicamente tais direitos individuais (antes incon-troláveis) sob forma civilizada de direito positivo. Hobbes escreve sob a influência da Monarquia Absoluta inglesa e se converte no seu maior defensor. O poder do Soberano é absoluto porque é absoluta a sua responsabilidade. Sua au-

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toridade é legítima, não em razão de sua força econômica ou militar, mas em razão da anuência da sociedade civil. O Rei é a fonte do direito que regula a vida dos cidadãos, é administrador e juiz, além de legislador. Mas, mesmo assim, diz que seu poder é legítimo porque tem o consentimento do povo. A ideia de que o povo é a fonte do poder político já havia sido exaltada em Santo Tomás de Aquino, que, to-davia, não dispensava a interferência da Igreja Católica na condução do corpo político místico (o povo de Deus).

A ideia hobbesiana de que o Estado Civil e o Governo Civil advieram de um pacto social recebeu o nome de Contra-tualismo e foi desenvolvida por diversos pensadores europeus como Hugo Grotius, (1583-1645) Samuel Pufendorf (1632-1694), Baruch Spinoza, (1632-1677) Christian Thommasius, (1655-1728) John Locke, (1632-1704) Jean Jacques Rousseau (1712-1780) e Emanuel Kant 1724-1804). Todos esses filósofos do Estado e do Direito, partem da premissa de que o poder político é legítimo porque nasceu de um consenso, de um pacto hipotético cele-brado entre os homens. Fica assim evidente a compreensão de que toda autoridade política exerce seu múnus em virtude do consentimento do corpo político. A finalidade do Estado e do Governo instituídos pelo Contrato é a paz e a segurança de to-dos, como asseverava Pufendorf (pax et securitas communis).

Destacaremos, porém, quanto aos posicionamentos contratualistas, as versões do inglês John Locke, autor das obras: Tratado do Governo Civil, Segundo Tratado do Governo Civil, Tratado de Direito Natural e Cartas Sobre a Tolerância; e por fim, do suíço de Genebra Jean Jacques Rousseau, autor de obras notáveis e influentes em sua época como: Tratado sobre a origem das desigualdades dos homens, Emílio ou Educa-ção, e Contrato Social.

Locke produziu suas ideias na época da expansão da sociedade burguesa na Inglaterra. Defendeu o Parlamento Bur-guês, o voto representativo por mandato certo e a responsa-

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bilidade política dos governantes para com os representados, ou seja, o povo. Sua ideia de “pacto ou contrato” sugere que os indivíduos elegeram como seus governantes, não o Rei, mas uma Assembleia Legisladora representativa de todas as catego-rias da sociedade existente. Para ele o Estado de Natureza, antes existente, era diferente do que concebera Hobbes, não era um estado de guerra e sim um estado de razão e de paz naturais. Todavia esse estado de paz desequilibrou-se ecologicamente em razão da ação impensada e egoísta de alguns homens que devastaram a fauna e a flora. Daí resultou a escassez, a fome e a luta de todos pelos poucos bens de subsistência. O Estado na-tural de paz se converteu num segundo instante em um estado de guerra. Por tal motivo os homens, racionalmente resolveram criar um governo civil republicano, representativo e temporário (com mandatos eletivos) cuja finalidade é garantir a paz social e os direitos naturais dos indivíduos, que ele enumera como o di-reito à vida, à liberdade e à propriedade privada burguesa. Lo-cke considera que o Governo Civil pode ser derrogado e subs-tituído por outro, caso perca a sua legitimidade, ou seja, deixe de representar os interesses da comunidade governada, fonte original do poder político. Pela primeira vez Locke falou das funções executivas, legislativas e judiciárias do Governo Civil, antes, portanto de Montesquieu.

Se é verdade que Locke destacou as ideias modernas de república, de representatividade e de responsabilidade política e, ainda, de mandato parlamentar temporário determinado, foi, todavia com Jean Jackes Rousseau que a ideia de soberania do povo e de democracia mais se desenvolveram.

Rousseau escreveu sob a influência da Revolução Fran-cesa, e por isso acentuou mais as ideias relativas aos direitos pessoais do indivíduo frente à máquina do Estado. É um de-fensor do Estado de Direito Positivo, pois acredita que o Direito produzido pelo Estado resultaria de uma vontade de todos os indivíduos. Para ele o direito estatal significaria o retorno dos

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direitos individuais que foram outorgados ao Governo Civil, e que agora os devolve ao povo sob a forma de direitos políticos. A autoridade republicana deriva inevitavelmente do consenti-mento popular. Todos os mandatos representativos, todas as normas legais e todos os atos de governo deverão ser pautados pelo interesse geral da população do Estado Civil. Em Rousseau delineia-se a diferenciação entre legalidade (que significa agir rigidamente em conformidade com as prescrições legais) e legitimidade, valor ainda maior e que significa agir em consonância com as aspirações e os interesses gerais da comuni-dade. Um poder que se constituiu nos termos da lei é um poder legal, mas se o dirigente do Estado, por qualquer razão se afasta dos parâmetros do Contrato Social, perderá a legitimidade e o próprio poder, pois em última instância a razão suprema da so-berania é a “volanté genèrale” (a vontade geral).

Patenteia-se a partir das ideias políticas e jurídicas de Lo-cke e de Rousseau uma vinculação inafastável entre o Governo Civil e o Povo. O primeiro nasce do consensus populi e só com a contínua ratificação popular adquire dia a dia a legitimidade ne-cessária. Diferentemente do que acontecia na Monarquia, onde o Governante se confundia com o Estado, na República rousse-auniana o governante é um agente do povo, o seu representan-te maior na administração da coisa (res) do povo (publicae). Por isso, a ideia de que o representante político da comunidade lhe deve contas e que deve ser transparente em seus atos, tudo é uma decorrência dos postulados filosóficos da concepção repu-blicana de Estado.

6. O CONTRATO SOCIAL (CONJETURAL) É SUBSTITUÍDO PELO CA-

DERNO DA CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA

Com o advento da Revolução burguesa de 1789, onde se preconizava a substituição da antiga forma de Estado (unitária, autoritária e monárquica) por um novo regime, no qual fosse instituída uma sociedade produtora de “liberté, egalité et frater-

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nité”, surgiu como novidade política o instrumento republicano que se denominou de Constituição.

Deve-se assinalar a ocorrência de uma gradação, de uma evolução política que se iniciou com o autoritarismo, assumiu a forma do contratualismo e finalizou com a proposta constitu-cionalista.

A Sociedade Capitalista Burguesa, após realizar suas re-voluções infra-estruturais (comercial e industrial) passou agora a positivar a sua revolução ideológica ou superestrutural que significou a formalização jurídica de suas relações de produção, de livre comércio, de associações em geral, de família, de suces-sões, de eleições dos poderes políticos e da forma ou regime de sua alternância entre os cidadãos.

O resultado formal dessa afirmação de vida burguesa de-senvolvida e civilizada foi a Constituição. Neste instrumento ju-rídico e por meio dele o hipotético Contrato Social se converteu em realidade. Aqui um capítulo especial da Carta Magna trata da ordem econômica capitalista, das relações de propriedade, de comércio e de indústria, das relações de trabalho, consagran-do ipso facto o sistema econômico da propriedade privada e da não intervenção do Estado na economia liberal burguesa (laissez faire et laissez passer). Garantida a essência capitalista do Estado burguês, a Constituição tratará da forma organizativa do Esta-do, de seus Poderes Políticos (Executivo, Legislativo e Judiciá-rio) e da investidura dos cidadãos nesses mesmos poderes, sua duração e alternância.

Será ainda a Constituição do Estado Nacional, unitário ou federativo, que disporá filosoficamente sobre os valores que animam a ética estatal e sobre a relação política entre o indiví-duo e o Estado.

Aqui verificar-se-á uma antinomia de difícil solução en-tre os interesses individuais e os interesses públicos e do Estado, como aparelho político dirigente da Sociedade. O Estado será inevitavelmente controlado em sua burocracia administrativa,

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política e jurídica pelos grupos socioeconômicos mais fortes e atuantes em cada época determinada. Revelará em cada mo-mento crítico uma postura de tolerância ou de intolerância com relação aos movimentos sociais reivindicadores de um melhor tratamento às classes menos favorecidas no processo produtivo da riqueza social.

7. O ESTADO BURGUÊS ENTRA EM CRISE ECONÔMICA E SOCIAL

A pauperização crescente da classe operária trará com o desemprego e a subvida da Sociedade fabril, o fenômeno da marginalização e da prostituição, o que obrigará as clas-ses dirigentes do Estado a organizar suas polícias e exércitos recrutando para tais contingentes a mão-de-obra carente e ociosa então marginalizada. Parte do povo pobre é armada para reprimir a grande massa popular pobre e desarmada.

Em meados do século XIX , movimentos sociais de base popular e operária contestam o Estado burguês com pregações sindicalistas, cooperativistas, socialistas, anar-quistas e comunistas. As ideias de Proudhon (A Propriedade e depois a Filosofia da Miséria), de Saint Simon, (A Indústria) e o Manifesto Comunista de Marx e Engels, demonstram que um espectro de revolta e de fome ronda a Europa.

Os marxistas rechaçam as pregações idealistas da filo-sofia alemã do Estado, enunciadas por Kant e por Hegel que sacralizavam o Estado, apresentando-o como a realização da ideia do bem, e insistindo que a ordem jurídico-positiva do Estado era uma ordem imparcial e justa baseada na ideia de justiça, e posicionada acima dos interesses das classes sociais em conflito. Para esses filósofos e políticos alemães o Estado burguês havia se constituído como um instrumento burocrá-tico militar e jurídico a serviço da burguesia vitoriosa, que usaria tudo, inclusive o Direito, a Ética e a Religião, além da Polícia e dos Exércitos, para subjugar o povo jurisdicionado.

Marx e Engels desmascaram as Teorias do Estado e do

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Direito instituídas pela burguesia vitoriosa (antes humanis-ta e esclarecida que pregava a defesa dos direitos humanos e individuais e da cidadania) e chegam a pugnar pelo fim do Estado através de um processo social revolucionário tão violento como foi o terror da revolução francesa.

Edificam-se, pois duas, propostas: uma real e efeti-va preconizada pela burguesia e seu Estado constitucional que promete uma Sociedade juridicamente organizada pelo Direito Positivo racional e imparcial, baseado na ideia gre-ga de isonomia ou igualdade formal dos cidadãos perante a lei estabelecida. Esse é o ideal burguês pregado a todos como verdade ideológica do Estado. Formalmente todos são iguais, embora materialmente o processo de produção da riqueza (que foi liberal e sem intervenção estatal, baseado na livre iniciativa privada) tenha propiciado a formação de uma sociedade materialmente desigual. Mas tal seria uma contingência da realidade humana, onde os mais aptos ven-cem a livre concorrência. Seria esse um fato comum a toda história civil.

A outra proposta, mais generosa e humanista, preco-niza a criação de uma Sociedade Socialista, onde os meios econômicos de produzir a riqueza sejam estatizados e con-trolados pela burocracia política governante. O Estado ha-veria de ser intervencionista definindo técnicas, táticas e estratégias de produção e distribuição da riqueza social e produzindo um Direito Positivo de cunho social, dirigido ao interesse de todos os que compõem a coletividade.

8. A EXPERIÊNCIA DO SOCIALISMO SOVIÉTICO

Essa proposta resultou na experiência da Revolução Russa de 1917 que deu margem ao modelo socialista sovi-ético de administração econômica e política. O Leninismo (de Wladimir Lenin) e o Stalinismo (de Josef Stálin), depois reformados por Nikita Kruschev, Leonid Brenev, Nicolai

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Podgorni, Chernhenko e finalmente por Gorbatchov. O mo-delo soviético predominou até 1990, quando tal experiência capitulou por motivos que merecem uma análise mais deta-lhada em outra oportunidade. O fracasso objetivo da expe-riência anticapitalista e antiburguesa propiciou, contudo, o retorno a uma concepção agressiva e autoritária do capita-lismo norte-americano, (Doutrina Bush) que investe em uma nova era de guerras e de conflagrações (Guerra do Golfo, Invasão do Afeganistão, do Iraque e fomentação de conflitos no Líbano e na faixa de Gaza).

Vivenciamos hoje uma atitude realista e crítica que nos orienta a buscar procedimentos, mesmo parciais e refor-mistas, (antes sequer admitidos como possibilidade teórica) mediante os quais seja possível melhorar o padrão de vida política individual e social, nos Estados contemporâneos. A realidade econômica multinacional transcendeu situações geopolíticas concretas e produziu com isso novos valores e valorações relativas a cada espaço social e político da comu-nidade internacional e nacional.

O sonho utópico de uma revolução estrutural de uma sociedade humana determinada deu lugar a um propósito menos absolutista, e mais realista, onde as reformas pon-tuais e as atitudes estratégicas em determinados setores da vida social (econômico, político, educacional ou jurídico) podem propiciar alterações significativas e quantitativas na existência social e histórica de um povo, de um país, ao ponto de posteriormente assumir uma mudança qualitati-va substancial.

A crença no poder local, no exercício militante da cida-dania, por associações comunitárias e profissionais, por par-tidos políticos e por profissionais da educação, da medicina e do direito, por exemplo, pode atingir índices significativos de alteração nas formas sociais de existência. O profissional do Direito, por exemplo, (advogado, juiz e promotor de jus-

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tiça) pode partir da lei positiva criada pelo Estado burguês como diretriz de seu trabalho, mas cumpre-lhe ter uma atitu-de crítica, ativa e recriadora da lei legislada, através de uma interpretação (hermenêutica) sociológica e democrática, na qual humanizará os dispositivos legais e os compatibilizará com os interesses sociais do Estado Democrático de Direito.

A preocupação com a transparência, com a clareza de atitudes dos agentes públicos pode resultar em práticas re-vitalizadoras da vida cidadã e, dessa forma, num processo pontual e quantitativo preparar uma sociedade do futuro, que podemos com toda racionalidade, acreditar que seja mais humana, mais justa e mais feliz.

9. A CRENÇA NOS PROCEDIMENTOS DA DEMOCRACIA DIRETA

O Estado Constitucional Brasileiro, advindo da Carta Magna de 1988 definiu-se como Republicano, representati-vo, federativo e democrático. É essa, pois, a sua definição ideológica e principiológica. Devemos lembrar que a formu-lação jurídico-filosófica do Estado Constitucional Brasileiro nasceu em momento especial de convulsão sociopolítica. Vivenciávamos a transição democrática proposta por Ernes-to Geisel e levada a efeito por João Baptista Figueiredo em passos cuidadosos ao lado da Sociedade Civil, então agitada com a chegada dos exilados anistiados a partir de 1979.

Com efeito, a presença de personalidades políticas marcantes, de volta ao País, como Luiz Carlos Prestes, Fran-cisco Julião, Miguel Arraes de Alencar, Leonel de Moura Brizola, Fernando Henrique Cardoso e José Serra, dentre outros, movimentaram um conjunto explosivo de ideolo-gias mudancistas e socializantes, provocando movimentos sociais constantes e cada vez mais organizados em prol da Anistia Política e da Redemocratização.

O Congresso Nacional assumiu postura de Assem-bleia Constituinte e após criar comissões legislativas espe-

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cíficas ligadas aos diversos setores da Sociedade Civil Brasi-leira, passou a receber as mais arrojadas propostas jurídicas para a elaboração de uma Constituição redentora e cidadã, como proclamava o grande dirigente desse processo, De-putado Presidente da Câmara Federal Ulysses Guimarães. Superficialmente a Sociedade Brasileira, através de sua in-telectualidade e sua juventude, bem como setores da Igre-ja Católica (CNBB) e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da combativa OAB Nacional introduziram ideias e princípios democráticos, socializantes e cristãos, que foram assimilados pela classe dirigente, sem que, contudo, mudas-se qualquer dos pilares econômicos da Sociedade Burguesa então vigente, e que apenas, naquele instante histórico, acer-tava socialmente a alteração na forma de governo do Estado.

Em outras palavras, como acentua Luciana Bruno, em sua obra Raízes Gregas da Teoria Moderna dos Direitos Hu-manos (Fortaleza: ABC, 2009) o Estado Brasileiro apresentou ao mundo um avançado modelo jurídico-político de Esta-do Democrático (sobretudo no que concerne à consagração principiológica dos Direitos Fundamentais e dos Direitos e Garantias Individuais), conservando, todavia, incólume a propriedade privada dos meios de produção e a Ordem Eco-nômica Constitucional da Carta Magna anterior, outorgada pelo Regime Militar.

Tem razão a professora da FAECE, pois as conquistas preconizadas pelo Estatuto Constitucional de 1988 consagra-ram na verdade uma intencionalidade e uma vontade social de justiça, digamos uma “democracia formal”, permanecen-do, outrossim, os mesmos entraves legais da ordem jurídica anterior, no que concerne à efetividade de direitos sociais e individuais. Foi pratica comum do legislador constituinte, admitir um direito social e colocá-lo no texto constitucional como um princípio, quase sempre, sujeito à ratificação de uma lei complementar posterior... Resultado: os princípios

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dificilmente foram positivados pelas casas legislativas fede-rais e fizeram com que as conquistas jurídicas e populares, se quedassem no texto da Carta Magna como meras inten-ções ou recomendações. O que, convenhamos, para a vida burguesa, nada significa. “De boas intenções o inferno anda cheio,” diz o adágio popular.

10. A DEMOCRACIA DIRETA COMO ASPIRAÇÃO...

Sempre que se fala em Democracia vem à tona a discussão do modelo grego, para muitos o exemplo mais ideal dessa forma de governo. Todos referem-se ao Século V antes da Era Cristã, o Século de Péricles, onde a Demo-cracia foi caracterizada pelos institutos da isonomia, da isagoria e da isotimia.

Na verdade os atenienses apresentaram uma legis-lação democrática que igualava formalmente todos os ci-dadãos (era a igualdade perante o nomos ou lei positiva da Polis). Mas essa igualdade não se quedaria numa abstração lógica, pois efetivamente esses mesmos cidadãos poderiam reunir-se na Ágora (praça pública) e ali teriam oportunida-des iguais de questionar as medidas políticas e administra-tivas do governo democrático. Havia sim, um certo controle social com relação aos atos dos governantes, pois estes anun-ciavam ou publicavam suas medidas, primeiro sob forma oral, comunicando aos cidadãos da Polis que se reunissem na Ágora. Uma multidão estimada entre 3500 a 6500 pesso-as. Qualquer cidadão da Polis democrática poderia, na praça pública, exercer a isagoria, ou seja, pedir a palavra e questio-nar esta ou aquela medida, que em seguida era submetida a uma votação pela assembleia popular. Foi exatamente em razão dessa prática cidadã que a retórica, a oratória e a dia-lética passaram a fazer parte da formação intelectual e cívica de cada homem livre de Atenas. Essa igualdade se comple-mentava através do instituto da isotimia, ou seja, a possibi-

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lidade jurídica de qualquer dos cidadãos exercer um cargo administrativo na vida da cidade.

Os críticos do modelo grego geralmente procedem a partir de valores e conceitos modernos e por isso conde-nam a experiência grega por não admitir escravos e mulhe-res como cidadãos, além de restringir os direitos políticos dos estrangeiros.

Esquecem, contudo, que a liberdade de pensar e de expressão nas praças e nos mercados públicos possibili-tou a pensadores de outras cidades, no caso os sofistas, a trabalhar na Polis Ateniense, ensinando direito, política e retórica, e a pregar ideias progressistas e humanistas que se chocavam até mesmo com os interesses da Cidade-Es-tado ateniense. Lembremos dos jovens sofistas: Antifonte, Licófron e Alquidam, que pela primeira vez no Ocidente condenaram a escravidão, apregoaram a igualdade natural de todos os homens, condenaram o direito positivo (por se revelar a expressão da vontade dos mais fortes) e sob pro-testos de Aristófanes proclamaram a igualdade de direitos e de dignidade entre homens e mulheres.

Em outras palavras, não é correto exigir-se da expe-riência grega a vivência de valores que somente se concreti-zaram na história humana a partir do Século XIX, como é o caso da escravidão, abolida no Brasil, por exemplo, apenas em 1888. Lembremos que todas as Sociedades da época: egípcia, persa, turca, etíope, grega e romana se organiza-vam economicamente sob a forma escravocrata. Filósofos como Sócrates, Pitágoras, Platão e Aristóteles acreditaram como natural a existência de homens considerados mais ap-tos e destinados pela formação e intelecto (aristós) a dirigir os menos capazes e inaptos para tomar decisões ( idiothés).

Lembremos, com Luciana Fernandes Bruno2 (in Raí-zes Gregas da Teoria Moderna dos Direitos Humanos, Fortale-za: ABC, 2009) que na própria França, após a Declaração

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Universal dos Direitos do Cidadão de 1786, quando foi ela-borado o Novo Código Civil Francês, em 1804 (O Código de Napoleão) as mulheres foram excluídas civilmente da ci-dadania e os homens sem propriedade, da mesma forma ficaram à margem das decisões da República Francesa.

Observemos, pois, que somente após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU de 1948, foi re-conhecida à mulher a igualdade de direitos civis e políti-cos. E em nosso país tal igualdade apenas se positivou com a publicação da Carta Magna de 1988.

Temos que concluir que as intenções jurídicas resul-tam de ideias e valores que animam o espírito das nações desde o exemplo grego acima referido, mas, para que os princípios e valores sejam convertidos em normas jurídicas, em regras de ação, tal revela uma dificuldade prática bem maior. Uma coisa, por exemplo, é a igualdade formal ou abstrata que a Constituição Federal assegura a todos (bra-sileiros e estrangeiros que habitam o Território Nacional), outra bem diferente é a igualdade material que significa a participação efetiva dos indivíduos nos frutos da produção de bens econômicos e nos processos sociais de educação, trabalho, saúde e habitação digna.

11. COMO SUPERAR AS CONTRADIÇÕES DO SISTEMA E DO REGIME

POLÍTICO DO ESTADO?

Para superar-se tais antinomias ou contradições a So-ciedade Civil Contemporânea tem apostado nos institutos constitucionais da Democracia Direta, de modo a transpor a crise do nosso sistema representativo (uma vez que depu-tados e senadores cada vez mais se revelam desacreditados e sem qualquer compromisso efetivo com os interesses do Estado Democrático de Direito).

O plebiscito, o referendum e a iniciativa legislativa po-pular são procedimentos de Democracia Direta que visam

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a revitalizar a ordem democrática, e realizar de modo real e efetivo os ideais previstos na Carta Constitucional de 1988.

O desenvolvimento das práticas cidadãs, de inves-tigação e de denúncias, através da imprensa, de ONGs e das Defensorias Públicas e dos Ministérios Públicos esta-duais, federais e especiais (ligados aos Tribunais de Contas dos Estados e dos Municípios) tem possibilitado um maior controle social dos atos dos governantes de todas as ins-tâncias administrativas. A transparência da isagoria grega tem sido um fantasma que atormenta autoridades corrup-tas e que escondem suas atitudes ilícitas sob o argumen-to de “segredo de Estado”. Se é impossível reunir o povo numa Ágora imensa (pela impossibilidade material ou físi-ca), é possível, no entanto, que todos os cidadãos e órgãos políticos, administrativos, privados ou públicos, tenham acesso via internet dos contratos, compras, diários oficiais e negócios públicos em geral, e assim efetivem um contro-le democrático da administração de sua cidade, estado ou da União. Hoje está assentado definitivamente o direito do cidadão de conhecer todos os meandros da vida admi-nistrativa, negocial e política do Estado. O governante em qualquer nível é um mandatário do povo, seu procurador e representante. Todo o proceder político há que ser claro, lúcido, transparente, sem segredos.

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REPRESSÃO HOJE

OSWALDO EVANDRO CARNEIRO MARTINS

A REPRESSÃO POLÍTICA é a palavra de ordem da metrópole ianque a promover a derrubada de gru-pos nacionalistas que se haviam estabilizado no

poder. É que eles em alguns países ainda não se desvenci-lharam de instrumentos ideológicos que estavam ultrapas-sados pelo progresso econômicossocial. Não se trata mais da prioridade que as teorias socialistas e desenvolvimentistas concediam ao setor de bens de produção em detrimento do setor de bens de consumo.

Não se compreende que foram abolidos os segredos industriais, a patente de invenção, o monopólio do saber. Já se pode afirmar que o indivíduo conquistou a liberdade de informação. É esse o drama comum do Capitalismo e do So-cialismo Hodiernos, que concomitantemente estão em crise de perecimento com suas criações, problemas e equívocos.

Esses restos ideológicos, até nos costumes funerários pela vontade expressa do sujeito estão sendo dispersos na Terra, nem sequer nela — na própria terra – respeitosa-mente inumados, pois estão sendo literalmente reaprovei-tados, postos em circulação como mercadoria, reciclados recorrentemente.

Oswaldo Evandro Carneiro Martins é advogado é Presidente de Honra do Partido Popular Socialista do Ceará

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A Ordem dominante converteu o homem em troço, produto, objeto sendo esquecidos o valor do indivíduo, a pessoa humana, o sentimento humanizante. A fonte disso é ignorada, embora emane dela, resida nela e reste dentro dela uma essência. Esta essência é o indivíduo que se liber-tou intelectualmente. Eis que “cada um está na sua”, sem nenhuma conotação política.

É arcaico, ridículo e cafona brandir hoje Socialismo con-tra Capitalismo, portanto estão ambos a trilhar a mesma estra-da. No entanto, é mister confessar e criticar esta impresciência mediante a evidenciação das contingências do passado, a for-mulação das ideologias em que se incorreu, e a argumenta-ção literária até, como o fazemos em contos já publicados em “Dissídio Escolar” e “O Anistiado”.

Uma ciência eis que se vislumbra. Descredenciam-na, contudo, como opinião errônea, dogmática e irrealista que transuma misticismo ou que com este confina. Trata-se de Caracterologia, que já é saber científico. Procura-se na mes-ma elementaridade, mede-se o caráter humano, valoriza-se o indivíduo que recusa otonlogicamente a repressão sob a qual tem vivido historicamente.

O Estado reluta, porém, sua postura milenar e agora encampa a formação de agentes, biliínguens e repressores, mas – o que é pior — encomenda pesquisa sobre tecnologia da repressão em empresas — privadas, mistas ou estatais – acompanhadas, monitoradas e subsumidas à organizações do tipo da Gestapo, da Cia e dos Sistemas Oficiais de Inteli-gência. Um arsenal enorme prosperou sobre a égide doutri-nária da segurança, em cujo nome foi deflagrado no mundo e no Brasil, a repressão mais refinada e mais recente.

Não se impute, porém, ao Socialismo nenhum contri-buto à repressão. É que então lhe faltou Caracterologia — e ainda lhe míngua – à qual cabe ou caberá por excelência a função de racionalizar a revolução e sustar os surtos depres-

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sivos que se desenvolvem contra o indivíduo. Essa realidade ou possibilidade exige a atitude crítica do carecterologista, que pode ponderar o que ocorre ou ocorrerá no prístino, hesterno, presente ou próspero. Se se reprime, é que se criou uma circunstância.

Àquela época escrevemos “A Compreensão da Cri-se”, artigo sobre o IX Congresso do Partido. Publicou-se no Voz da Unidade, nº 511, na data de 1º de março de 1991. Hoje mantemos ainda a mesma posição, que consideramos con-tribuição à historiografia de Cândido Feitosa em Noventa Anos de Lutas e de Mudanças. Roberto Freire está nessa rota desde o X Congresso do PCB, quando se decidiu mudar de sigla. Antes se ajuizava precariamente as mudanças, desde os descaminhos do obreirismo que destituiu Astrogildo Pe-reira por ocasião, do Bloco Operário e Camponês; desde o culto da personalidade de Prestes, a partir da chamada In-tentona de 1935; desde o esquerdismo durante a cassação dos parlamentares comunistas na Constituinte antigetulista; desde enfim a arregimentação das tendências contra parti-dárias nas seitas que vicejaram após o X Congresso do PCB.

Repercute a crise do socialismo soviético, que se implantou internacionalmente há menos de meio século aquento da destituição de Kruchov em 1964, ano de Golpe Militar no Brasil, denominado oportunísticamente por seus fautores da “Revolução”. As teses do IX Congresso do PCB (1991), respectivamente as de números 2-3-4, ressentiram-se de uma incisiva análise marxista da realidade que rejeita o velho e assume o novo.

Já não se trata de Consciência de Estado, mas de Consci-ência de Indivíduo: a ciência da primeira aliena, enquanto a da segunda humaniza. A novidade é que aí se identifica a pessoa humana, na qual não se subsume a nenhuma outra, a qual é incomovível, a qual “está na sua”, a qual, quer isso por sua in-trínseca vontade, concretamente e não abstratamente. n

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PARTE 3

PARTIDO POPULAR SOCIALISTAA NOVA FASE

DO PPS NO CEARÁ

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O NOVO PPS NO CEARÁ

A L E X A N D R E P E R E I R A

O PARTIDO POPULAR SOCIALISTA – PPS, sucessor do Partido Comunista Brasileiro – PCB, fundado em 25 de março de 1922, tem consolidado sua atu-

ação no Ceará como um autêntico motor das ideias e do de-bate em torno de rumos que assegurem o desenvolvimento com sustentabilidade, com transparência na gestão publica e intransigente compromisso com o social.

Entrei na política movido por ideias de transforma-ção. E os partidos políticos progressistas são o caminho para dar forma às ideias, em nome da sociedade. Sinto uma in-quietação ante o que pode e precisa ser mudado — e a nossa sociedade, que deu grandes saltos, está a exigir investimen-tos agressivos em educação e saúde, só para citar dois itens estratégicos para o desenvolvimento humano.

O Brasil ainda amarga péssimos indicadores princi-palmente em educação, saúde, saneamento e segurança pú-blica. Nossa infraestrutura em estradas e outros modais tira a competitividade da produção e nossa carga tributária inibe a formalidade e rouba as margens de quem produz.

Identifiquei no PPS todo esse estímulo que nosso gru-po político precisava para fazer a verdadeira política. En-

Alexandre Pereira é Presidente do PPS no Ceará.

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contrei em Roberto Freire, homem digno, um brasileiro de história exemplar, a pessoa certa para nos nortear e debater a verdadeira social democracia no Brasil.

A eleição presidencial de Tancredo Neves em 1984 pelo Colégio Eleitoral marcou o fim da Ditadura Militar e iniciou um novo ciclo no Brasil. Mas as utopias perma-necem. Grandes respostas às demandas de qualidade na-cionais se arrastam lentamente e muitas políticas públicas e investimentos estruturantes sucumbem à burocracia e à corrupção. A vigilância e contribuição do PPS tem sido uma referência de planejamento, equilíbrio e transparên-cia. E em nome da coerência o PPS entrou e saiu do Gover-no recente do PT.

Iniciei na política classista muito jovem, com menos de 30 anos. Fui presidente do SINDPAN — Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria no Estado do Ceará, do Centro Industrial do Ceará, hoje sou presidente da As-sociação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeita-ria — ABIP. Esta experiência classista e sindical me ajudou a consolidar uma visão crítica das distorções nacionais e do que precisa ser feito para o que o Brasil, um país tão rico, seja de fato um país mais igual, desconcentrado e justo. Jus-tiça social decorre da correção das distorções nacionais, da formação racional da máquina pública, sem inchaço, apa-drinhamentos e clientelismos.

Eu sempre achei que meu papel de estimular mudan-ças na sociedade se daria a partir da a política empresarial. No entanto, quando no exercício da presidência do CIC, ao realizarmos um Ciclo de Debates com os candidatos à prefeitura de Fortaleza, comecei a me apaixonar pela causa pública. Percebi que a forma de estimular e realizar essas mudanças seria através de um partido político e, dentre esses, junto àquele onde o compromisso social e doutrina fossem coerentes.

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No final de 2008, fui procurado pelo presidente do PPS, Roberto Freire, que conhecia a história política do Ce-ará e me convidou para construir um novo PPS no estado. Receber o convite de uma pessoa que participou de todo processo de redemocratização do Brasil foi uma honra, mas o que mais me motivou foi a possibilidade de discutir um projeto nacional.

Não tinha identidade com o antigo PPS no Ceará. Mas hoje tenho uma profunda afinidade com o pensamen-to desse novo PPS que ajudo a construir e com a revisão da moderna esquerda que entende não ser possível desenvol-vimento econômico sem sustentabilidade. O Brasil ascende à sexta posição no ranking das economias globais mas pade-ce de grandes dividas sociais. Os investimentos em educa-ção estão aquém do ideal e mesmo o Governo em exercício não consegue implementar suas metas de campanha.

Devemos ter todo respeito para com as liberdades democráticas e com as funções básicas do Estado mas é preciso sabermos que direitos impõem deveres e que o Es-tado brasileiro deve reciprocidade ao cidadão que o finan-cia através de uma excessiva carga tributária.

A social-democracia, esta ideologia política que sur-giu no final do século XIX, sob a tese de que a transição para uma sociedade socialista poderia ocorrer sem uma revolu-ção, mas por meio de uma evolução democrática, inova na relação com a sociedade. Esta ideologia prega uma gradual reforma legislativa do sistema capitalista a fim de torná-lo mais igualitário.

Eu me identifico com essa nova visão. O PPS hoje está à esquerda da social democracia. Como eu sou empre-sário, oriundo de micro e pequenas empresas, estou muito distante do capitalismo selvagem. Nosso grupo tem uma relação com o trabalhador muito próxima e idem com rela-ção ao pensamento do novo PPS.

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E, finalmente, Roberto Freire é um ícone para a nossa geração. Exemplo de político correto e coerente, de opini-ões firmes e retórica consistente. Cresci ouvindo falar de suas posições políticas corajosas. Acompanhei um Roberto Freire tendo a coragem de questionar a forma de se fazer política de esquerda no Brasil e se consolidar como um dos maiores ícones da política brasileira. Agora, no PPS, estou aprendendo muito sobre a arte da Política ainda mais com a rica convivência com Roberto Freire.

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PCB/PPS — 90 ANOS DE HISTÓRIA, REVOLUÇÕES E

DEMOCRACIA

D A V I D S A R A I V A

ESTA LUTA COMEÇA EM 1922 quando o partido apos-tou na revolução mundial e numa organização polí-tica do proletariado e também na luta e na ação pela

compreensão mútua internacional dos trabalhadores. Ainda na perspectiva de um partido único da classe operária, or-ganizado com o objetivo de conquistar o poder político pelo proletariado, pela transformação política e econômica da sociedade capitalista em comunista, através da insurreição popular.

Passando por 1950 onde em resposta ao extraordiná-rio desempenho dos comunistas nas eleições de dezembro de 1945, nas quais o seu candidato a presidente da Repú-blica, Yeddo Fiúza, obtém cerca de 10% do total de votos, ficando em terceiro lugar e ao papel de destaque do PCB na Assembléia Nacional Constituinte com uma bancada composta pelo senador Luís Carlos Prestes e 14 deputados federais (dentre eles, Jorge Amado), no dia 7 de janeiro de 1948, os parlamentares do PCB têm seus mandatos cassados; a polícia invade e depreda as redações de mais de uma deze-na de jornais comunistas, nas principais capitais brasileiras. O Partido é jogado na clandestinidade. Esta atitude levou o

David Saraiva é secretário Geral do PPS Fortaleza

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PCB a se enrijecer tornando-se cada vez mais estreito e vo-luntarista, convocando a organização de uma Frente Demo-crática de Libertação Nacional no Manifesto de Agosto de 1950, cujo braço armado seria um exército popular em res-posta ao que considerava um Governo de traição nacional comandado por Dutra.

Já em 1958, apesar de uma visão ainda muito estrei-ta, vários fatores levam ao PCB a rever sua atuação e posi-cionamento político, entre elas, a morte trágica de Getúlio e os fracassos nas eleições parlamentares e de governadores e, finalmente o histórico XX Congresso do PCUS, no qual o secretário-geral do Partido e primeiro-ministro da União So-viética, Nikita Khruschev, lê o seu relatório secreto denun-ciando o “culto à personalidade” e fazendo sérias acusações a Stalin, o todo-poderoso dirigente soviético que falecera em 1953. Os comunistas de todo mundo a partir deste congresso se vêem numa encruzilhada: continuar apoiando o modelo soviético Stalinista ou partir para novos caminhos e entendi-mento da realidade.

A Declaração de Março de 58 salienta que o proces-so histórico de desenvolvimento do capitalismo no Brasil favorece a luta pela democracia e que se impunha formar uma frente única ao mesmo tempo nacionalista e democrá-tica, pois nossa revolução era antiimperialista e antifeudal. O documento defende o caminho pacífico para a democra-cia, e rejeita o desvio da insurreição armada. Trata-se de um primeiro ajuste de contas do PCB com o stalinismo e seus dogmas. As armas já não eram o único caminho.

Fazemos questão de salientar estes importantes fatos: O nascimento do partido em 22, o Manifesto de Agosto de 50, ainda numa perspectiva de um partido único e revolu-cionário e as inevitáveis reflexões oriundas de 58, para uma melhor compreensão do leitor dos motivos que levaram grande parte do PCB fundar o PPS em 1992 em São Paulo.

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Um partido que tem em seu nascedouro a defesa in-transigente da democracia, pautando sua atuação nestes 90 anos, mesmo ainda quando PCB. Foi assim quando não enveredou pelo caminho da insurreição armada em 64 que, apesar de valoroso, não passaria de voluntarismo, por ter a compreensão que precisaria por meio do movimento de massas, “isolar e derrotar a ditadura e conquistar um gover-no amplamente representativo das forças anti-ditatoriais”. Em janeiro de 1985, quando apoiamos a disputa mesmo no terreno espúrio imposto pelo inimigo, o Colégio Eleitoral, garantindo a vitória de Tancredo Neves, do PMDB.

Após a eleição, Tancredo morre e o Brasil perde a grande chance de recomeçar sua vida democrática sob o co-mando de um grande estadista. Em 1988 na Constituinte, apesar de contar com apenas três parlamentares (deputados Augusto Carvalho, Fernando Sant’Anna e Roberto Freire), é tão ativa e articulada, e oferece tal nível de colaboração, que “valia como se tivesse trinta membros”, como disse o deputado Ulisses Guimarães. Destaca-se também que o PCB na esquerda, é o primeiro partido a se manifestar positiva-mente pela aprovação da nova Carta Magna, mesmo reco-nhecendo nela algumas deficiências. Alguns dos partidos, como o PT, chegam a ser veementes na condenação do novo texto constitucional, a ponto de ameaçarem não assiná-la e até rasgá-la em praça pública. Graças aos esforços dos bra-sileiros que sempre acreditaram na democracia o texto da “Constituição Cidadã de 1988” foi aprovada.

Em 1989 na primeira eleição presidencial no Brasil, pelo voto direto após a ditadura militar, o PCB audaciosa-mente lança candidato próprio — Roberto Freire — mos-trando ser possível uma esquerda democrática e de van-guarda para o Brasil. Em 1991 com a derrocada do chamado “socialismo real” pela sua ineficiência de entender a subje-tividade humana e, sobretudo a falta de liberdades imposta

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pelo sistema, os debates entre as alas conservadoras e pro-gressistas do partido foram intensos até desembocarem no IX Congresso, em junho, no campus da UFRJ. Sua Resolução Política, aprovada por expressiva maioria, traz a marca da renovação, rompendo com concepções dogmáticas e supera-das pela realidade. A viragem aí iniciada lembra em muito o ocorrido em 1958. A semente do PPS começa a florescer numa primavera socialista e democrática.

E assim a nova direção pecebista, com amplo respal-do das direções estaduais, decide convocar o X Congresso, extraordinário, para janeiro de 1992, em São Paulo, o qual dando sequencia as profundas mudanças iniciadas altera o nome de Partido Comunista Brasileiro – PCB para Partido Popular Socialista – PPS. Dá se início a uma nova alternativa de esquerda e democrática para o Brasil. Após o impeach-ment de Fernando Collor, o PPS, apoia de imediato o Gover-no Itamar Franco compreendendo que ele não possuía nada com o anterior (tivemos nosso Presidente Nacional Roberto Freire como líder do Governo) e que mudou a história do Brasil com o plano real e a tão propalada estabilidade eco-nômica onde governos que o sucederam — Fernando Hen-rique, PSDB (1994-2002) e Lula e Dilma ambos do PT (2002 -2012) puderam avançar e governar o país.

Apesar de nossas críticas a ambas as gestões, o que queremos referendar aqui é que sem a estabilidade econô-mica conquistada no Governo Itamar Franco nada do que vivenciamos hoje seria possível; sem o controle da inflação e dos gastos públicos, não poderíamos fazer planejamentos de longo prazo e muito menos remover da miséria milhões de brasileiros como temos visto até então.

O PPS não é o partido do quanto pior melhor, o PPS denuncia, fiscaliza e propõe seja qual for o governo de plantão, pois nosso único compromisso é com a sociedade brasileira. Por isso em 2011, junto com a OAB, não apenas

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apoiamos o projeto de iniciativa popular “Ficha Limpa” re-sultado da união de quase 2 milhões de brasileir@s cansad@s da corrupção que toma conta de nossa política, fomos além com a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC 29) proposta pelo PPS para a lei ser aplicada em condenações e renúncias que ocorreram antes da sua promulgação, em junho de 2010 aceita integralmente pela Corte.

Além disso, em nosso último Congresso Nacional al-gumas resoluções aprovadas demonstrem claramente um partido em constante evolução sem medo do novo e sem perder seus fundamentos históricos:

— A criação da Universidade Itamar Franco de For-mação Política;

— A #Rede23 – Fóruns de debates permanentes entre simpatizantes, militantes e direção;

— A criação do Núcleo Ambiental do PPS;— Investimentos anuais de 30% do orçamento de cada

município em Educação, com regime de tempo integral em todas as escolas dos Municípios administrados pelo PPS;

— A indicação de uma candidatura própria para 2014;

São com estes desafios que conclamamos aos militan-tes, simpatizantes, amig@s e leitores a se juntarem a nós, na construção de um pensar e fazer política diferente, priman-do pelo desenvolvimento com sustentabilidade, efetiva par-ticipação popular e, sobretudo, ética.

Parabéns a todos que fazem parte dessa história!

FONTES: Manifesto de Agosto, 1950; Declaração de Março, 1958; Manifes-to de Fundação do PPS, Janeiro de 1992; Portal Nacional do PPS, 2012

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ENTRE CONSENSOS E DISSENSOS: ALGUMAS TESSITURAS DA ATUAÇÃO DA JUVENTUDE

NO PCB E NO PPS

G E Y S L A V I A N A

1. ATIVISMO E POSSIBILIDADES

É COMUM VERMOS NOS MEIOS de comunicação de massa ou ouvir entre nossos amigos (geralmente em épocas de campanhas eleitorais) que “todo político é

ladrão”, “ano eleitoral é tempo de se dar bem” ou que mili-tância partidária acabou - “jovem que se mete em partido ou em campanha é pra ganhar dinheiro ou ter cargos”. Eu sem-pre respondo: a corrupção é uma via de mão dupla - existe o político corrupto e há o eleitor corruptível onde, muitas vezes, o eleitor que busca “tirar vantagem” desse período instiga políticos à corrupção. E quanto à militância, meu his-tórico de quinze anos de militância sem locupletar-me, pode silenciar a qualquer um.

Porém, não sem razão, pois fatos repetidamente os fazem consensuar a essa visão. Acerca disso Paulo Freire na obra Pedagogia da Esperança: Um Reencontro com a Peda-

Geysla Viana é Graduanda em Pedagogia. Educadora Social. Militan-te dos Direitos Humanos especialmente de crianças e adolescentes. Articuladora institucional da Rede de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente relacionada ao uso de Álcool e outras Drogas de For-taleza - Rede Fortaleza. Coordenadora Política da JPS - Ceará. Co-ordenadora - Região Nordeste da JPS Brasil. Membro da Fundação Astrogildo Pereira e da Executiva do Diretório Estadual do PPS Ceará.

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gogia do Oprimido (pág.05) afirmara: “É que a ‘democrati-zação’ da sem vergonhice que vem tomando conta do país, o desrespeito à coisa pública, a impunidade se aprofundaram e se generalizaram tanto (...) Por outro lado, sem sequer po-der negar a desesperança como algo concreto e sem desco-nhecer as razões históricas, econômicas e sociais que a expli-cam, não entendo a existência humana e necessária luta para fazê-la melhor, sem esperança e sem sonho”.

Talvez, o que incomoda a muitos é a mudança do per-fil dos jovens militantes que já não “queimam mais bandeira em praça pública”, raramente faz passeata e panfletagem, mas que, a meu ver, não significa dizer que tenha perdido sua radicalidade democrática, abandonado suas lutas, se acomodado ou mesmo se institucionalizado (o que não é de toda inverdade).

A militância juvenil de fato mudou, e não mudou somente em relação àqueles movimentos sufragista, comu-nista, pacificador ou revolucionário do século XIX, ou em relação aos dos anos 1960, 1970, até mesmo aos 1980 e 1990. Na verdade, vem mudando cotidianamente, a cada enfren-tamento, a cada conquista, a cada nova demanda, em uma dinâmica talvez imperceptível aos que tendem a um olhar tradicionalista e rígido e/ou por quem não a vivencia em suas entranhas.

No entanto, como militante inserida nesse contexto, este escrito é também um exercício de reavaliação e de auto--reflexão de nossa prática e é por isso que o mesmo tem como peculiaridade o fato de sua autora ser também sujeito dessa ação. Participo ativamente da Juventude Popular Socialista e, portanto, sou parte do próprio objeto de reflexão/informação, no qual é impossível separar a vida cotidiana da jovem mu-lher militante, com minhas aspirações, sonhos, frustrações e expectativas sobre os rumos do movimento e de nosso país.

Acredito que a juventude (militante partidária ou não)

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associa-se à potencialidade de construção de uma socieda-de melhor, apesar de muitas vezes ser vista como problema pelos elevados índices de infrações cometidas por jovens; a abordagem da juventude por meio de perspectivas possibi-litadoras nos leva à constatação de que “o jovem é revolucio-nário, porque é dele que saem as novas propostas”.

A juventude trabalhadora, estudiosa, solidária, idea-lista, etc. busca de forma orgânica ou inorgânica - na criati-vidade das suas diversas tribos - saltar o abismo existente entre a realidade social e os direitos consagrados na Consti-tuição; entre os valores proclamados pela sociedade e a prá-tica que os nega; entre as carências do presente e as infinitas possibilidades da vida pela frente; entre a precariedade das condições de subsistência e a miragem das prateleiras da so-ciedade de consumo abarrotadas de produtos inacessíveis; enfim, entre o sonho e a realização.

Mesmo sendo aparentemente beneficiada transversal-mente por políticas universais de educação, saúde, habitação e assistência social, etc., a população atualmente conceituada como juventude – ou juventudes – tangenciou historicamen-te uma espécie de hiato, em termos de direitos específicos e ações focais do governo ao longo do século XX.

Afirmo que, para satisfazer as necessidades de nós, jo-vens (e de qualquer indivíduo), devem-se criar as condições que nos permitam adquirir capacidades efetivas de minimi-

1 O ANALFABETO POLÍTICO de Bertold Brecht: “O pior analfabeto/ É o analfabeto político,Ele não ouve, não fala, nem participa dos aconte-cimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e o lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.

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zação de danos, privações ou sofrimentos graves, e não so-mente isso, mas também oportunidades e condições objeti-vas favoráveis para que possamos desenvolver plenamente nossas potencialidades. Para que isso ocorra, a pré-condição indispensável é o Ativismo político, o tal protagonismo ju-venil. Chega de “Analfabetos políticos”1. O futuro do Brasil depende dos avanços da juventude hoje. O jovem deve dei-xar de ser visto (e se ver) como hipossuficiente e passar a ser visto (idem) como uma pessoa que pode exercer plenamente a sua cidadania.

Contudo, a fragilidade da população, jovem ou não, no desafio do controle social faz lembrar-me de célebre frase do grande líder, Martin Luther King: “O que mais me preo-cupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desones-tos, dos sem caráter, dos sem ética! O que mais me preocupa é o silêncio dos bons”.

2. FRAGMENTOS DE UM PERCURSO NADA APAZIGUADO:

DE UJC A JPS

2.1 A JUVENTUDE DA RESISTÊNCIA – UJC**

No segundo Congresso Nacional, o Partido Comunis-ta do Brasil, PCB2, procura cumprir a orientação de orga-nizar sua juventude comunista. O encarregado dessa tarefa é o jovem Leôncio Basbaum (1907 – 1969), convidado por Astrogildo Pereira. Ainda em 1926, de maneira embrionária, a União da Juventude Comunista – UJC começa a intervir no seio da Sociedade fazendo um trabalho de recrutamento

2 No decorrer do trabalho farei inúmeras vezes a utilização da abre-viatura PCB como forma de reduzir a expressão Partido Comunista do Brasil filiado até então à SBIC – Sessão Brasileira da Internacional Comunista, até o ano de 1961 quando então passa a denominar-se Partido Comunista Brasileiro. 3 Também farei algumas vezes a utilização da abreviatura UJC como forma de reduzir a expressão União da Juventude Comunista.

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entre jovens operários e organizando os primeiros diretórios acadêmicos do país.

Em 1927, fundou-se a União da Juventude Comunista, UJC3 e, no mesmo ano lançou-se o semanário “O Jovem Pro-letário”, que circulou regularmente até abril de 1928, sendo fechado para auxiliar na publicação do órgão oficial do PCB. Neste ano ainda, a organização contava com células em mais de dez dos principais estados brasileiros. Seu 1o Secretário Geral foi Leôncio Basbaum, de vinte anos de idade.

Em 1929, Carlos Lacerda ao ingressar aos quinze anos na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro (atual UFRJ), abandona o curso em 1932, pois participa ativamente do mo-vimento estudantil de esquerda e torna-se um militante co-munista. Dois anos depois lê o Manifesto que lançou a ANL — Aliança Nacional Libertadora4 no país todo.

Em 1935, a insurreição comandada pelo partido é der-rotada e inicia-se a perseguição aos comunistas e democra-tas. Partido e UJC são postos na ilegalidade.

Em 1945, com a derrota do nazifacismo na segunda guerra mundial, o PCB e a União da Juventude Comunista voltam à legalidade. Porém, em abril do ano de 1947, no go-verno do Presidente Dutra, um decreto presidencial suspen-de a UJC, a mais antiga organização jovem de esquerda do país. Assim, PCB e UJC voltam à ilegalidade.

Em agosto de 1950, o PCB realiza Conferência Na-cional com a participação de jovens de todos os estados. Os

4 Criada no Rio de Janeiro, a Aliança Nacional Libertadora é uma am-pla frente de esquerda com o objetivo de combater o fascismo e fazer oposição ao governo Vargas.** Fonte: Baseado em escritos do Sr. Candido Feitosa (PPS e FAP CE e a Agenda Jovem - Iniciativa da Fundação Astrogildo Pereira lançada no ano de 2011 retratando diversos episódios que marcaram e cons-truíram a história de nosso país, tendo o jovem como protagonista.

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jovens comunistas do Ceará foram representados por Fran-cisco Cândido Feitosa. Nesta ocasião, sob o comando de Apolônio de Carvalho, foi reorganizada a União da Juven-tude Comunista.

Neste mesmo ano, no Ceará, inicia-se a organização da UJC. Cândido Feitosa, Elmo Moreno e Erasmo Pereira dedicam-se a esse trabalho. A UJC é organizada em vários municípios cearenses, destacando-se no município do Crato, com os jovens Aldovandro Dantas e José de Brito Filho.

O município de Fortaleza foi o principal centro de ati-vidade da UJC no Estado: distribuição de volantes; comícios relâmpagos nas praças públicas e nas escolas; pichamentos; campanha de assinatura pela paz no mundo — Apelo De Estocolmo; bandeiras no alto dos edifícios em saudação ao aniversário de Luis Carlos Prestes e outras agitações consti-tuíram as atividades da UJC.

Ao final da década de 50, o PCB e a UJC chegaram à conclusão de que os membros da UJC deveriam ser filiados ao partido e assim encerrou-se a atividade da União da Ju-ventude Comunista, tornando-se a “Ala Jovem” do PCB.

Nomes de outros militantes dessa época devem ser rememorados: a socióloga Aspásia Camargo (RJ); o historia-dor Caio Prado Jr. (SP); o sociólogo Clóvis Moura (PI); Mª Brandão dos Reis (MG); Aparecida Azedo (SP); Anibaldo Miranda (AL), Eneida de Moraes (PA);o cartunista Cláudio Oliveira - que com 19 anos passou a colaborar com o Jornal “Voz da Unidade”(RN); Cabo Dias que esteve à frente da Rebelião Aliancista no Rio Grande do Norte com apenas 22 anos (RN); Pedro Albuquerque (CE); Stepan Nercessian (RJ); Dina Lida Kinoshita (SP); Zuleika Alambert (SP) dentre tan-tos outros.

2.2 NOVOS MODOS, RECENTES DESAFIOS – JPS

Quando da alteração do nome e da sigla de Partido

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Comunista Brasileiro – PCB para Partido Popular Socialista – PPS5

, a Juventude achou por bem mudar de nome e foi for-mada uma CPTJ (Comissão Provisória dos Trabalhos da Ju-ventude), onde participaram Adriana Oliveira (RJ), Cláudio Carraly (PE), Alexandre Paoli (SP) e Rosângela Hermes (SE). Realizaram um encontro político em Salvador com represen-tantes de 14 estados para organizarem o primeiro congresso.

Assim, abre-se em Recife no mês de janeiro do ano de 1994, o I Congresso Nacional da Juventude do então consolidado, Partido Popular Socialista (transição bem retratada em outro texto desta publicação), no qual con-tou com a presença de delegad@s de vários estados. No dia 23, após longa discussão, aprovou-se criar um órgão jovem, sua política e normas. Escolhido o seu nome: Ju-ventude Popular Socialista, JPS6 — elegeu-se sua dire-ção, estando à frente Alexandre Paoli (SP).

5 Ver detalhes nos capítulos seguintes pertencentes à esta edição li-terária.6 Também farei várias vezes a utilização da abreviatura JPS como forma de reduzir a expressão Juventude Popular Socialista.7 Segundo Aurélio “Órgão dirigente cujos membros tem poderes idênticos”. Esta gestão e seu novo modelo de governança quebra paradigmas e pela primeira vez a Juventude não contém um repre-sentante supremo. O colegiado é uma engrenagem que só funciona plenamente quando tod@s que o integram estejam cientes que, junto com os cargos, status e direitos que os mesmos possuem, vem deve-res, responsabilidades e, sobretudo compromisso para com o cole-tivo. Ficou assim a Juventude Popular Socialista constituída: Coor-denação Política - Tiago Toledo (SP), Coordenação de Organização - Dérick Vasconcelos (MT), Coordenação de Comunicação - Thiago Simão (RJ), Coordenação de Formação Política e Movimentos Sociais - Raquel Dias (CE), Coordenação sobre Mulheres - Brannca (AM).8 Esta discussão teve vários momentos de tensão dentro do seio par-tidário, onde apenas dois anos mais tarde compreendeu-se seu intui-to por parte do Diretório Nacional do Partido, sendo suas propostas aprovadas no XVII Congresso Nacional do PPS em São Paulo. Afinal era hora de sermos protagonistas de uma nova política.

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Foram eleitos também posteriormente como presi-dentes da JPS: Adão Cândido (RS) que esteve na presidên-cia entre os anos de 2000 a 2003; Gadelha (PE) que assume a presidência no V Congresso da Juventude Popular Socia-lista realizado em Minas Gerais, em março de 2003 e, em seguida, Mayko Vieira (PR), permanecendo na mesma até o ano de 2009.

Neste período, a JPS firmou oposição programática ao governo vigente, por sentir a continuidade aprimorada do governo anterior no que dizia respeito à política econômica e sua relação com as instituições democráticas de nosso país.

Em 2009, em Brasília, o VII Congresso: “Verás que um Filho teu não Foge à Luta”, fora marcado por influências, re-velando tensões entre os presentes, congruências e conivên-cias. Findou numa mudança no formato da gestão passando de presidencialismo para sistema colegiado7.

Vê-se como a maior dificuldade desta gestão, a cons-cientização dos que a compunham que a atuação do órgão JPS não dependia mais de representante “A” ou “B”, mas da co-participação de todos. Quebrar a esta formação triangu-lar, de “chefetes”, que os partidos leninistas nos dogmatiza-ram por décadas foi a maior vitória, rumo a uma democracia interna verdadeiramente participativa.

Esta mesma Juventude apesar das dificuldades ine-rentes ao desafio citado acima, ainda contribui com o PPS e com o Brasil com ações nacionalizadas, a se destacar:

•A construção do Movimento SOU + PPS8 onde de-fendemos um maior protagonismo do PPS nas eleições de 2010, como forma de fortalecermos o partido visando uma maior participação nas eleições de 2012 e a tão sonhada can-didatura própria em 2014.

•Junto com outras juventudes mobilizamos o movi-mento Fora Sarney! Reforma Política Já! E a Captação de as-sinaturas para o Projeto de Iniciativa Popular Ficha Limpa!

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•Elaboramos o documento político da JPS (ampla-mente elogiado por José Serra candidato a presidência com apoio do PPS em 2010) entregue à Coligação: “O Brasil Pode Mais!” formada pelos partidos PSDB-DEM-PPS-PMN, foca-do na juventude, mas numa abordagem ampla que contem-plava toda a Sociedade.

•Com a elaboração da tese “Ainda há Tempo de Mudar!Diretas na UNE Já!” denunciamos a cooptação da entidade, que se tornara um verdadeiro braço político do Governo do PT, silenciando-se aos diversos casos de corrup-ção patrocinados pelo mesmo. Exigimos maior transparên-cia dos gastos desta e conclamamos forças progressistas a se unirem para por fim ao domínio de mais de 27 anos da UJS – União da Juventude Socialista (PC do B) no comando da entidade. Decidimos não aceitar qualquer negociação em terreno tão espúrio, pois estaríamos referendando tudo que combatemos: a cooptação dos movimentos Sociais pelo go-verno e a Corrupção9.

Durante o VIII Congresso Nacional da JPS “Ousar lutar, Ousar Vencer”, ocorrido entre os dias 07 a 09 de de-zembro de 2011, foi realizada a reforma estatutária da JPS; um Estatuto já consolidado, com as reformas apresentadas e aprovadas já inclusas em seus texto. Contou com a expo-sição de Ricardo Young sobre o “Movimento Nova Polí-tica”10, da vereadora Renata Bueno (PR) que falou sobre a importância da participação de jovens no parlamento e do Vice-presidente Nacional da União Geral dos Trabalhadores Betinho, que falou sobre a relação dos sindicatos e juventu-de e Inácio Almeida representando o Diretório Nacional do Partido para tratar sobre a Relação da Juventude e o PPS.

Além da eleição de coordenações e conselhos, houve a analise e criação de resoluções para o Congresso do PPS e a discussão sobre o Planejamento e Resoluções da JPS Brasil que irá delinear a nova gestão11.

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Já entre suas atribuições no ano de 2012, reuniu-se com alguns deputados federais do PPS e com representantes do Gabinete de Liderança do PPS na Câmara Federal para apresentar algumas demandas legislativas da JPS junto aos parlamentares do partido e criar um canal de direto de co-municação para com os mesmos12.

2.3 NA TRILHA DA JPS CEARÁ

Ao me reportar à Juventude Popular Socialista do Ce-ará posso quase que relatar como em meu memorial, pois pouco após sua formação – quase que em consonância com

9 Como definido no seu VII congresso, a gestão não aceita qualquer

tipo de acordo ou aliança por entendermos que há uma distorção do

poder político que só contribui para estimular a corrupção e silenciar

aqueles que deveriam diligenciar e zelar pelo bem comum; soterran-

do as perspectivas de melhoria de vida de nossa juventude, quando

conscientemente entidades pseudorepresentativas dos estudantes se

omitem do cumprimento de seus papéis para agir em favorecimento

quase que exclusivo aos interesses do eventual “padrinho político”.

10 O Movimento Nova Política foi iniciado por Marina Silva logo após

a sua campanha presidencial (2010) sob ótica que um dos principais

problemas que enfrentamos hoje como cidadãos é a pouca represen-

tatividade política trazida por aqueles candidatos que elegemos. As

ações que queremos que sejam realizadas e defendidas por nossos

representantes são muitas vezes ignoradas e postas de lado dentro

de um cenário onde disputas de poder e lobby empresarial acabam

tendo prioridade. É devido a este tipo de distorções em nosso siste-

ma político que iniciativas se formam, para que a população possa ter

aquilo que é realmente relevante para ela. O movimento Nova Política

é uma tentativa de reunir todas estas iniciativas para realizar, de fato,

uma nova política no Brasil.

11 Foram eleitos: Coordenação Política – Raquel Dias (CE). Coordena-

ção de Movimentos Sociais – Danilo dos Santos (AM), Coordenação

de Organização – Thiago Simão (RJ), Coordenação de Comunicação

– Tiago Bernardino (PB), Coordenação de Finanças – Flávio Ferreira

(PR), Coordenação de Mulheres – Katlin Calmon (MT) Coordenação de

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o movimento nacional – lá estava eu, integrando o grupo que fortemente se destacava na capital junto ao Movimento Estudantil Secundarista.

Inúmeros foram os percursos nos quais passamos as-sim como os atores que fizeram a história da JPS em nosso Ceará, especialmente na capital. Não tentarei elencar todos, pois sei que falharei em tamanha missão, contudo, cito abai-xo alguns momentos importantes e/ou significativos afeti-vamente e politicamente.

Em meados da década de 90, além de estarmos em mais de dez escolas de relevância de nossa capital, seja com

Formação Política – Juan Fuscaldo (SP). Coordenadores Regionais:

Região Norte: Manoel Almeida (AM), Região Nordeste: Geysla Viana

(CE), Região Sul: João Ricardo (SC), Região Sudeste: Wanderson Han-

ddyn (RJ). Região Centro-Oeste: Itamar Montalvão (MT). Conselho de

Ética – Titulares: Wesley Uchiyama (AM), Michel Lins (CE), Kauan Sil-

va (SP). Suplentes: Plácido (RJ) e Ana Paula Souza (MT); Conselho

Fiscal – Titulares: Fernando Gaebler (SP), Daniel Batista (RJ), Lucas

Curvo (MT). Suplentes: Thiago Gonçalves de Sousa (MA) e Jordana

Lima (MA).

12 Entre as propostas apresentadas pela JPS à Bancada do PPS na

Câmara Federal estão: Pedido de reformulação do texto da Lei Geral

da Copa para que fique claro que não haverá possibilidade de mo-

nopólio da UNE na confecção das Carteiras de Estudantes para os

estudantes terem acesso à meia-entrada nos jogos da copa; Acom-

panhamento do Projeto de Lei do Senado n. 204/2011 que mudará

redação da lei de Crimes Hediondos, incluindo a previsão dos deli-

tos de concussão, corrupção, corrupção passiva e corrupção ativa

como crimes e hediondos e aumentando a pena prevista para estes

delitos; O acompanhamento da tramitação e votação do Estatuto

da Juventude no Senado; Informações sobre a atuação da Bancada

do PPS no Plano Nacional de Educação; Proposição de criação de

programas para regulação e qualificação da entrada de Haitianos

no Brasil; pedido de informações sobre a situação dos Programas

Governamentais lançados nos últimos governos para geração de

novos empregos para jovens.

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movimentos culturais de oposição às gestões dos grêmios vigentes seja na direção destes, integramos a diretoria da União Municipal dos Estudantes Secundaristas – UMES; mobilizamos diversas manifestações por uma melhoria da qualidade na Educação, pela meia passagem estudantil ili-mitada, pela meia cultural (com esse foco, repetidas vezes foram as realizações destas passeatas) e contra o aumento de passagem do transporte público.

Participamos de movimentos como: “Fora FHC” e “ Você conta nos dedos o que FHC fez por você”; articulamos a tiragem de delegados local e, em parceria com outras JPSs de alguns estados do Nordeste, fizemo-nos presentes com tese própria – para disputa em vários congressos da UBES porém, como a instituição já iniciava sua partidarização des-de o início da década referida, embatíamos de forma desi-gual contra o controle de caráter exclusivista da juventude do PC do B na mesma, sendo, portanto em apenas dois mo-mentos, possível a inclusão na diretoria desta – o que para mim constituía uma grave deformação de nosso grupo.

Participávamos dos ciclos de debates do PPS local, in-titulado “Vermelho 23” onde a meu ver, instigou candidatu-ras jovens nas eleições de 1998; e, lembrando-a sob viés elei-toral, a JPS CE elencou representantes nas eleições e, no ano de 2008 chegou a compor a chapa majoritária (na vice prefei-tura) da capital; enviamos representante ao I Curso de For-mação Política do PPS em 2003, em Valparaíso/Go; e, em pa-ralelo, com nossa atuação no movimento estudantil (quando este infelizmente veio a fragilizar-se) estivemos inseridos no movimento comunitário do bairro Praia de Iracema – local que sempre nos acolheu e que, em contrapartida (pelo bairro possuir comunidades em situação de vulnerabilidades so-cial e estrutural, diferente do mero “cartão postal” que se divulga) o abraçamos como mais um território de atuação.

Assim, para além de ações beneficentes às famílias de

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menor posse financeira, mobilizamos e coparticipamos sig-nificativamente em defesa do boêmio bairro Praia de Irace-ma contra a proliferação desregrada de bares e restaurantes que confluíam na exploração sexual de crianças e adolescen-tes. Integramos o “Comitê de Defesa da Praia de Iracema” que realizou em parceria, várias manifestações pelo bairro, articulou e mobilizou várias associações existentes, restau-rantes e hotéis tradicionais do local para a luta (até a impren-sa) para uma forte pressão junto ao poder público local.

Em resposta à nossa forte inserção no bairro por inte-grantes da JPS/moradores do mesmo, fomos convidados a compor chapa que disputou a diretoria da Associação dos Moradores da Praia de Iracema – AMPI, compondo após eleição, a diretoria executiva da mesma.

Com a forte ascensão do terceiro setor no país, prin-cipalmente suscitando o protagonismo juvenil, fundamos o Instituto Jovem XXI – IJ21 e, através deste, participamos da copromoção da Future: Feira de Rumos e Atitudes, concei-tuada nacionalmente como um dos mais destacados eventos de/para juventude; desenvolvemos o projeto de formação nos bairros de Conselhos Comunitários de Juventude – os CCJs, executando a formação destes nos bairros da Colônia, do Mucuripe e o da Praia de Iracema; executamos também o projeto de formação de grêmios livres nas escolas do Esta-do financiado pela Secretaria de Esporte e Juventude recém instituída (2002), onde também integramos seu quadro de profissionais.

Após mudança de dirigentes nos diretórios Municipal e Estadual do PPS CE, por não concordarmos com algumas práticas dos mesmos, nossa relação com o partido veio a se fragmentar mais, o que ocasionou na longa dispersão e apa-tia do grupo de juventude.

Em 2009, com a reestruturação de nosso partido ver-dadeiramente sob viés socialista, radicalmente democrático

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e participativo é dado o desafio de reorganização da Juventu-de Popular Socialista do Ceará – a JPS CE aos companheir@s David Saraiva (atual Secretário Geral do PPS Fortaleza) e Raquel Dias e a mim.

A partir desse momento, alguns militantes que con-tribuíram ao longo da história do órgão retornam para o desafio posto pelo então presidente do Diretório Estadual, Alexandre Pereira.

Ainda em 2009, mesmo em processo de reconstitui-ção no Estado, participamos do debate no VII Congresso Nacional da JPS Brasil em Brasília e integramos o novo sis-tema de direção do órgão. Daí em diante nossa grande mis-são fora a da reconstrução da JPS Brasil colaborando e ten-cionando, quando necessário, na busca de um partido que respeite a sua Juventude e que em suas ações, estejam fin-cadas as nossas origens socialistas advindas do PCB, “an-tenadas” às novas demandas da sociedade: a informação, a sustentabilidade, a ética e a basilar de todas elas, defendida visceralmente por todos nós, a Democracia.

Nossa organicidade e atuação voltaram a ter maior efetividade na capital, destacando: a organização do I Se-minário sobre e Juventude e Cultura da JPS do Nordeste além de travarmos as lutas “Fora Luiziane”, “Pra Frente Fortaleza”, “Fora Sarney! Reforma Política Já!”; a captação de assinaturas para o Movimento “Ficha Limpa”; o envio de representantes ao II Encontro Eleitoral de Mulheres do

12. Como candidato ao senado – Alexandre Pereira nosso presidente do Diretório Estadual do PPS-CE obteve quase meio milhão de votos.13. Fonte: Administrativo do PPS CE. Participamos da Reunião do Di-retório Nacional para o pré-lançamento de nossa coligação nacional à última candidatura (maio/2010) à presidência da República em São Paulo e fomos coparticipes na elaboração da tese de propostas da

JPS Brasil ao candidato José Serra.

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PPS em Brasília/2010; em março de 2010 publica na Revis-ta Política Democrática nº26, ano IX, artigo sobre os povos indígenas: “Povos indígenas no Brasil: de objetos do pater-nalismo governamental à cidadãos atuantes da vida polí-tica”; inda neste ano eleitoral, apoia candidaturas para o Governo do Estado do Ceará e ao Senado12, sendo a JPS CE, protagonista com a execução do projeto “Coletivo 234” apoiando e discutindo a Coligação “Para Fazer o Ceará Bri-lhar” (PR-PPS), onde além de entregar nosso documento político à coligação acompanhou os candidatos majoritá-rios em suas visitas ao interior do Estado.

Esta campanha oportunizou ainda, contribuirmos na reconstrução dos diretórios do partido, que findou o ano, presente em 120 municípios no Estado com seus 7.124 filia-dos13. No mesmo ano a JPS CE entrega seu documento polí-tico para o candidato à presidência da República - José Ser-ra, quando o mesmo veio ao CE e citou-nos como exemplo de juventude a ser seguido pelos partidos PSDB e o DEM.

Com o fim da gestão de David Saraiva (nosso últi-mo dirigente ainda intitulado como presidente na gestão 2009/2011), sou eleita a nova coordenadora estadual da JPS CE em novembro de 2011. No oitavo congresso da JPS Brasil, fui também eleita Coordenadora da Região Nor-deste juntamente com Raquel Dias, a primeira Coordena-dora Política do órgão. Nós também fomos protagonistas no Encontro Regional do PPS Cariri realizado na cidade de Barbalha em março de 2012, quando aproveitando a presença do Presidente nacional do partido, Roberto Frei-re, obtivemos a assinatura do mesmo no documento ela-borado pela JPS Brasil, lançando a Campanha “Onde tem PPS tem JPS”14.

A JPS Brasil e a JPS CE a partir de 2009 se reinven-tam, tendo em seu DNA a pluralidade de idéias e a ho-rizontalidade das suas decisões como valores basilares de

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sua existência.Esta história mais do que vivenciada enseja-me a ex-

teriorizar o pensamento de Karl Marx: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam direta-mente, legadas e transmitidas pelo passado”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Além das expectativas de mudanças que um ano elei-toral instiga é preciso voltar o olhar para o que foi feito e, principalmente para o que não foi feito para se evitar prá-ticas que reiterem os desacertos evidentes nos/dos manda-tos anteriores. Considerando que convivemos com alguns poucos avanços nas mudanças das políticas públicas15 de/para/com a juventude, mais do que nunca nós jovens e, em especial, a Juventude Popular Socialista, precisamos afluir para o nascimento de novas percepções em torno dos direi-tos de juventude, a partir de uma concepção democrática de realização da política e de uma clara defesa dos jovens como sujeitos de direitos, sem protecionismos e/ou pater-nalismo – sujeitos com autonomização suficiente para se-rem agentes de suas transformação.

O que aspiro que apreendam com tudo que fora exposto acima é de que ao falarem da juventude de hoje (principalmente sabendo pelo último censo que a juventu-de brasileira compreende mais de 50 milhões de pessoas) — “se evitem as simplificações fáceis, as comparações pre-conceituosas e as generalizações infundadas”.

Neste texto, não tive a pretensão de apresentar nem tampouco avaliar cronologicamente e descritivamente as ações e formações das juventudes do PCB/PPS, UJC/JPS, ao longo de suas atuações ainda que este fosse o objetivo ide-al para esta publicação, porém, tal empreitada fora dificul-tada pela ausência em quase sua totalidade de informações

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públicas e confiáveis sobre o desempenho das ações reali-zadas e de seus atores. Por essa razão, trouxe aqui alguns dados que foram por mim angariados e, peço que ao se em-preenderem a qualquer análise crítica, é preciso evidencia-rem a baixa atividade das coordenadorias destes (UJC/JPS) em relação à compilação e publicação de seus atos sistema-ticamente e organizadamente.

Não pretendi comparar as experiências apresentadas pela UJC e pela JPS, mas destacar as singularidades de cada uma no tempo e espaço social a que pertenceram. À vista do exposto trago para o cerne da questão que a realidade não se altera em um único momento, até chegar aqui foi um longo e, muitas vezes, tortuoso caminho de mudanças, dilemas, enfrentamentos, ajustes, derrotas e também vitó-

14 Campanha esta que visa que onde seja formado o PPS, nos Estados

ou nos municípios, também seja formada a JPS. Garantindo uma am-

pliação da Juventude de nosso Partido por todo o Brasil,e garantin-

do uma efetiva participação da juventude nas decisões tomadas pelo

nosso Partido. Fonte: Blog da JPS Brsil – www.jps23.blogspot.com.

15 Marília Pontes Sposito e Paulo Carrano (2003) na obra: «Juventude

e políticas públicas no Brasil» trazem a definição para Políticas públi-

cas na qual acredito ser mais coerente com o propósito deste texto:

“a idéia de políticas públicas está associada a um conjunto de ações

articuladas com recursos próprios (financeiros e humanos), envolve

uma dimensão temporal (duração) e alguma capacidade de impacto.

Ela não se reduz à implantação de serviços, pois envolve a dimensão

de projetos de natureza ético-política e compreende níveis diversos de

relações entre o Estado e a sociedade civil na sua constituição. Situa-

se, também, no campo de conflitos entre atores que disputam na esfe-

ra públicas orientações e os recursos destinados à sua implantação. É

preciso não confundir políticas públicas com políticas governamentais.

Órgãos legislativos e judiciários também são responsáveis por dese-

nhar políticas públicas. De toda forma, um traço definidor característi-

co é a presença do aparelho público-estatal na definição de políticas,

no acompanhamento e na avaliação, assegurando seu caráter público,

mesmo que em sua realização ocorram algumas parcerias”.

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rias. A juventude do nosso partido enfrentou o autori-tarismo da ditadura militar construindo novos espaços democráticos, ao mesmo tempo em que rebelava con-tra certo autoritarismo patriarcal presente em seu seio partidário. Descobriu que não era impossível manter a autonomia ideológica e organizativa e interagir com outros partidos políticos, com os sindicatos, com outros movimentos sociais, com o Estado e até mesmo com or-ganismos supranacionais.

Rompe fronteiras, criando, em especial novos es-paços de interlocução e atuação possibilitando o florescer de novas práticas, novas iniciativas e identidades. Reivin-dica, propõe, pressiona, monitora a atuação do Partido e do Estado, não só com vistas a garantir o atendimento de suas demandas, mas acompanhar a forma como estão sendo atendidas na perspectiva de construção de um país mais equânime, democrático e participativo.

Finalizando, parece-me que estamos no início do desvendamento e publicização das práticas interconexas (ou não) relacionadas à constituição da memória histórica de nosso partido no que diz respeito à formação/atuação do grupo de juventude no PPS, de suas lutas, de sua cul-tura e, em particular, de como seus diferentes integrantes participaram na construção desta história.

Contudo, ressalto que não podemos falar da histó-ria do partido sem considerar seus órgãos de cooperação, nem deixar de refletir sobre a importância da diferencia-ção de suas práticas, particularmente no que concerne à constituição de relações de autonomia em detrimento de relações de tutela e/ou dominação. Afinal, um silencia-mento destes órgãos pela construção homogênea e paci-ficada (ou amedrontada) é, sem dúvida, uma forma de opressão, mais sutil e menos visível.

Como bem se posiciona Vasquez: “A teoria em si

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não transforma o mundo. Pode contribuir para sua trans-formação, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em pri-meiro lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos, reais, efetivos, tal transformação”.

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UMA VISÃO DO CEARÁ

DOCUMENTO COORDENADO E APRESENTADO PELO PROFESS0R

LAÉRCIO NORONHA AO XVII CONGRESSO ESTADUAL DO PARTI-

DO POPULAR SOCIALISTA (PPS-CE) REALIZADO EM 06 DE NO-

VEMBRO DE 2011

1. O CEARÁ NOS ÚLTIMOS 25 ANOS

HÁ EXATAMENTE 25 ANOS, em 1986, o Centro In-dustrial do Ceará (CIC) organizou um modelo ad-ministrativo para o nosso Estado, cujas transfor-

mações se fazem sentir até a atualidade como um “projeto político de longo prazo”.

Naquela época, havia no Ceará um governo inefi-ciente, patrimonialista e clientelista com descontrole nas contas públicas, inchaço de servidores e salários atrasados do funcionalismo público em até 4 meses. Os péssimos in-dicadores socioeconômicos do Ceará rivalizavam com os dos Estados mais pobres da Federação em termos de misé-ria, baixo crescimento e precário quadro de infraestrutura. O Ceará não tinha um projeto estratégico regional, sendo caracterizado por:

a) afrouxamento fiscal e isenção desregrada de impos-tos;

b) mão de obra abundante, barata e sem capacitação;c) processos produtivos tradicionais;d) reduzido nível de incorporação tecnológica;e) diminuto grau de exportações e primordialmente

de produtos primários;

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f) baixa produtividade agropecuária; g) alto processo migratório do interior para Fortaleza

e cidades de outros Estados; h) 66% da População Economicamente Ativa (PEA)

sobrevivendo com até 1 salário mínimo num processo brutal de concentração de renda;

i) 48% da população até 15 anos analfabeta;j) mortalidade infantil atingindo 77 óbitos para cada

1.000 crianças que nasciam; k) 71% dos domicílios em condições degradantes ou

rústicas; l) 93% da população urbana sem saneamento básico; m) debilitado quadro de infraestrutura (água, energia,

estradas e comunicações) na maioria das cidades cearenses.O projeto iniciado em 1987, com o governador Tas-

so Jereissati e denominado Governo das Mudanças, implantou um modelo político-administrativo marcado por 4 verten-tes: austeridade fiscal e combate ao clientelismo; ampliação da taxas de crescimento da economia para fortalecer a distri-buição de renda; política de investimentos simultâneos nos setores primário, secundário e terciário; melhoria da eficiên-cia das políticas públicas e redução da pobreza absoluta. Os instrumentos utilizados para as mudanças viam a adoção de um sistema de planejamento. Foram eles a melhor relação entre o Estado e a Sociedade Civil, a modernização adminis-trativa, o reordenamento das finanças públicas e a utilização da informática.

O Ceará cresceu economicamente, ficou mais justo so-cialmente, amealhou importância política e tornou-se uma referência administrativa nacional e internacional, justa-mente porque todos os governadores, independentemente de orientações partidárias, seguiram o processo de avan-ços iniciado em meados da década de 1980: Tasso Jereissati (1987-1990), Ciro Gomes (1991-1994), Tasso Jereissati (1995-

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2002), Lúcio Alcântara (2003-2006) e Cid Gomes (2007-2010 2011...).

Conforme o Censo IBGE/2010 (cf. site ibge.gov.br), o Ceará possui 184 municípios e concentra uma população de 8.448.055 habitantes, sendo o 8º estado mais populoso ao reunir 4% da população brasileira, distribuída numa área de 146.348 km² (9,37% da área do Nordeste e 1,7% da superfí-cie do Brasil) e apresentando uma densidade demográfica de 57,72 habitantes por km². A sua Capital e maior cidade é Fortaleza, também cidade-sede da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), uma conurbação que engloba 15 municí-pios. Outras cidades importantes como Caucaia, Maracanaú e Maranguape estão localizadas na RMF, além de Juazeiro do Norte e Crato situadas na Região Metropolitana do Cariri (RMC), que conta com 9 municípios. Destacam-se ainda, So-bral na Região Noroeste, Itapipoca na Região Norte, Iguatu no Centro-Sul e Quixadá no Sertão Central.

Em 2010, o PIB cearense foi estimado em R$ 75 bi-lhões (cerca de 2% do PIB brasileiro), dos quais 47,17% estão concentrados em Fortaleza. O Ceará é o 12º Estado mais rico do país, sendo considerado o 2º Estado com melhor qualida-de de vida do Norte-Nordeste segundo o Índice FIRJAN de Desenvolvimento. Em 2010, bateu recorde em investimen-tos, sendo o 4° Estado que mais investiu em infraestrutura (mais de R$ 3 bilhões), ficando à frente de Estados importan-tes como Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Pernambuco. Há sinalizações de um suave processo de desconcentração da riqueza no Estado, visto que, em 2004, a capital Forta-leza representava 47,80% do PIB estadual. Por outro lado, as cidades mais ricas, no geral, seguem aumentando sua proporção em relação ao PIB total. Destacam-se além da ca-pital: Maracanaú (5,19%), Juazeiro do Norte (3,31%), Cau-caia (3,25%), Sobral (2,83%), Eusébio (1,56%), Horizonte (1,39%), Maranguape (1,07%), Crato (1,07%) e São Gonçalo

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do Amarante (1,02%). Os 5 municípios com PIB per capita mais altos no Ceará são: Eusébio (R$ 23.205), Horizonte (R$ 15.947), Maracanaú (R$ 15.620), São Gonçalo (R$ 14.440) e Fortaleza (R$ 11.461), todos muito acima da média estadu-al, que é de R$ 7.112. Tal é o nível de concentração de rique-za, que os 10 municípios de maior PIB abrangem 67,86% do PIB total.

Em 2011, embora sendo ainda uma economia “subin-dustrializada” em relação a vários Estados do Brasil, a eco-nomia cearense deixou de ser baseada nas atividades agro-pecuárias, sendo preponderante o setor terciário (comércio e serviços), com grande destaque para o turismo. Apesar dis-so, aquelas ainda possuem grande relevância na economia estadual, em especial, a pecuária, mas há também crescente importância de cultivos não-tradicionais, como a produção de frutas e legumes no Vale do Rio Jaguaribe e de flores na Serra da Ibiapaba e no Cariri. Desde 2004, a economia ce-arense vem crescendo continuamente, entre 3,5% e 5% ao ano. Em 2007, o crescimento foi de 4,4%, e em 2008 de 6,5%, sendo o primeiro inferior à média brasileira para aquele ano e o segundo bastante superior, principalmente, devido à forte recuperação da agropecuária cearense (24,59%) aliada à manutenção em níveis altos do crescimento da indústria (5,51%) e do setor de serviços (5,21%). Em 2009, apesar da crise econômica internacional e de perdas no setor primário, o PIB cearense cresceu 3,1%, bastante acima do resultado do PIB brasileiro (-0,2%), sobretudo devido ao bom desempe-nho do setor de serviços. Uma estimativa feita pelo Instituto de pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), em 2010, mostra que o PIB do Ceará teve um crescimento nomi-nal recorde, quando cresceu 10 bilhões se comparado o ano de 2010 com o de 2009. Em 2010, também foi registrado o recorde de participação da economia cearense na economia nacional. Tal participação que era de 1,89% em 2007, subiu

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para 2,04% em 2010 (cf. site ipece.ce.gov.br).Pesquisa do IPECE constatou que a população urbana

do Ceará apresentou um aumento de 1.028.672 habitantes, alcançando uma taxa igual a 1,78%, confirmando assim, um razoável processo de crescimento urbano. A análise do IPE-CE foi baseada no Censo IBGE/2010, e destacou também o aumento da participação populacional do Estado em relação ao Brasil e a Região Nordeste. Na última década, em núme-ros absolutos, a população do Ceará registrou um aumento de 1.017.394 habitantes, o que equivale a um crescimento re-lativo de 13,69%. Ou seja, em 2000, o Ceará tinha 7.430.661 habitantes, e em 2010, esse quantitativo chegou a 8.448.055. Em termos percentuais, a população estadual correspon-deu a 15,92% da população da Região Nordeste, que é de 53.078.137, e a 4,43% da população do Brasil (190.732.694), em 2010 (cf. Diário do Nordeste: 31.03.2011, p. 9).

Fortaleza foi considerada, em 2010, a capital brasilei-ra com maior densidade populacional: 7.769 habitantes por km². Segundo informações do Censo IBGE/2010, em Fortale-za sobram habitantes e faltam espaços: 2.447.409 moradores para 315 km² territoriais. Superando até São Paulo, com seus 11.244.369 cidadãos morando em 1.530 km², com uma média de 7.349 para cada km² (cf. O Povo: 31.01.2011, p. 10). Os indicadores comprovam um inchaço demográfico acelerado em Fortaleza. No Censo IBGE/2000, a cidade era a 2ª capital mais densa, com 6.841 habitantes por km². E, mesmo que por uma diferença pequena, perdia justamente para São Paulo, com 6.855 pessoas por km². No caso da capital cearense, o alto índice demográfico é fruto de dois aspectos: a acentuada favelização e a concentração de serviços privados e políticas públicas. Para favela, vale o conceito de construções irregu-lares, sem infraestrutura básica e cujos donos vivem em si-tuação de pobreza. Nas áreas de favela, a população cresce mais do que nas outras regiões da Capital. A alta densidade

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de Fortaleza também resulta da extrema concentração de serviços privados e políticas públicas de saúde, educação, habitação e saneamento em relação a outras localidades inte-rioranas, sem que os poderes públicos municipais e estadual consigam controlar os movimentos migratórios.

Ademais, existe um movimento migratório significa-tivo dentro do próprio Ceará, ou seja, a saída dos habitantes da zona rural para a zona urbana, ocasionando uma super-lotação desses conglomerados, principalmente de Fortale-za e Maracanaú. A população rural cearense registrou uma taxa negativa de crescimento geométrico (-0,50%) na última década, significando a perda de 11.278 habitantes. Para se ter uma idéia, 106 cidades do Estado apresentaram queda na taxa de crescimento da população rural. Ou seja, 57,60%. En-tende o IPECE, que um maior investimento em infraestrutu-ra nos centros urbanos e políticas públicas direcionadas para fixar a população rural na sua região se fazem necessárias em curto prazo. Caso contrário viver nos grandes conglo-merados do Ceará ficará bastante difícil, com o aumento da violência e da desigualdade social (cf. Diário do Nordeste: 31.03.2011, p. 9).

Nosso Estado ainda congrega índices que represen-tam verdadeiros desafios administrativos, tais quais:

— mais de 4,4% da população brasileira e pouco mais de 2% do PIB nacional;

— 80% das cidades sem “economia de produção”, ou seja, com renda fundada nos programas assistenciais gover-namentais, transferências dos fundos constitucionais e ver-bas da Previdência Social (aposentadorias e pensões);

— déficit comercial contínuo com uma balança que mais importa do que exporta;

— elevados graus de miséria, pobreza, desigualdade de renda, numa esfera comparativa nacional;

— aumento do número de homicídios e da violência

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na última década. O relatório O Ceará em Números do IPECE, de 2009,

aponta que o Ceará conta com 69% da população ocupada com rendimentos mensais inferiores a 2 salários mínimos e renda domiciliar per capita real de R$ 293,28. Fortemen-te concentrada, 12,84% da renda gerada no Estado está nas mãos de apenas 1% das pessoas mais ricas, enquanto 44,71% são pobres e dispõem de renda familiar per capita de apenas R$ 73,26 por mês. Desse contingente de pobreza, 19,3% ain-da se encontra em situação de indigência. Comparativamen-te com o Nordeste, o relatório mostra que a renda domiciliar per capita cearense é 7% inferior à da Região Nordeste e 45% menor que a média do País, que é de R$ 513,55. O relatório revela ainda que a taxa de analfabetismo das pessoas acima de 15 anos é de 20,6%, ante 20,74% no Nordeste e 10,38%, no Brasil (cf. Diário do Nordeste. Negócios: 15.04.2009, p. 7). A situação de pobreza extrema, com renda familiar inferior a 1/8 de salário mínimo mensal, atinge mais de 900 mil cea-renses (10,6% da população). Para erradicar a pobreza extre-ma no Ceará seria necessário utilizar 0,75% da proporção da renda familiar. Ou seja, a cada R$ 100 do consumo geral dos cearenses, R$ 0,75 precisaria ser transferido a essas famílias. Na média nacional, o valor é menor: R$ 0,29 a cada R$ 100 deveria ser distribuído para cerca de 10 milhões de brasilei-ros, numa cifra total de R$ 4,08 trilhões.

O estudo Uma Caracterização da Extrema Pobreza no Brasil, elaborado pelo Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) da Universidade Federal do Ceará, em 2011 (cf. O Povo: 20.02.2010, p. 30), mostra que seriam necessários R$ 24,26 milhões mensais para transferir renda às famílias no Ceará. Anualmente, a cifra representaria R$ 291,15 milhões. O valor é um dos maiores do Brasil, superado apenas por São Paulo (R$ 476,5 milhões), Pernambuco (R$ 347,9 mi-lhões), Maranhão (R$ 332,2 milhões) e Minas Gerais (301,1

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milhões). Santa Catarina teria mais facilidade em erradicar a pobreza extrema, precisando transferir somente 0,35% da renda estadual para os mais pobres. A situação de extrema pobreza coloca o Ceará em 3º lugar, atrás apenas de Bahia e Pernambuco, entre os estados com maior quantidade de pessoas com renda de até R$ 58 por mês, e sabe-se que 17,7% da população cearense subsistem com renda entre R$ 1 e R$ 70. O número de pessoas extremamente pobres vinha dimi-nuindo ano após ano. Em 2008, chegou ao patamar mínimo de 660 mil, mas voltou a subir em 2009, auge da crise econô-mica. A situação é ainda pior entre crianças e adolescentes. De cada 100 pessoas com faixa etária entre 0 e 14 anos, 18 vi-vem em situação de extrema pobreza no Ceará. É preciso po-tencializar a economia cearense, criando condições para que, através do crescimento da renda, as pessoas possam suprir necessidades básicas. Portanto, o desafio é salvar ou perder toda uma geração (cf. Diário do Nordeste: 10.06.2011, p. 4).

O modelo administrativo do Ceará, mesmo com boas condições de investimento próprio do erário estadual e razo-ável percentual de dívida pública líquida, aponta, em 2011, um distanciamento do PIB de Pernambuco (2°) e da Bahia (1°). Ou seja, ainda que o Ceará continue como 3° maior PIB nordestino as diferenças econômicas vem ampliando ano a ano em relação aos referidos Estados nordestinos. Sem men-cionar a falta de obras infraestruturais patrocinadas pela União no Ceará nos últimos 8 anos e, que, conforme o DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), en-tre os 100 parlamentares brasileiros com influência nas duas casas federais (Câmara dos Deputados e Senado Federal) o Ceará tem apenas 1 parlamentar incluso, fato que demonstra a nossa baixa representatividade política.

Tarefa das mais árduas para o desenvolvimento des-tes municípios carentes do Ceará é descobrir a fórmula de calibrar o crescimento econômico em harmonia com a evo-

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lução social, de modo a eliminar as defasagens demográfi-cas. Programas, planos e experimentos têm sido intentados por governos de diversas matizes, esbarrando, porém, na ausência de instrumentos eficazes para eliminar a apatia prevalecente e os obstáculos originados nos próprios apa-relhos estatais. Indicadores econômicos e sociais levantados pelo IPECE comprovam o atraso material predominante no Estado, apesar do surgimento de algumas “ilhas de cresci-mento num oceano de dificuldades”. Dos 184 municípios do Ceará, apenas 20 (11%) revelam condições satisfatórias de infraestrutura, economia pujante e índices sociais relativa-mente favoráveis, sendo que 10 deles se localizam na Região Metropolitana de Fortaleza. As 164 cidades restantes, onde vive a metade da população, estão abaixo do admissível pe-los indicadores econômicos e sociais (cf. Diário do Nordeste: 15.04.2010, p. 2). O IPECE construiu um Índice de Desenvol-vimento Municipal (IDM) para avaliar, tecnicamente, os es-tágios de desenvolvimento de cada cidade, e, suas estatísti-cas setoriais, não deixam dúvidas sobre a realidade cearense contrastante e perversa. Apoiado em indicadores demográ-ficos, socioeconômicos, fisiográficos, fundiários, agrícolas e de infraestrutura, o IPECE estabeleceu um ranking com-provando ter o Ceará uma forte concentração econômica em poucas cidades e o restante mergulhado num quadro geral de carência.

O Ceará tem no “desequilíbrio regional de suas ci-dades”, um de seus maiores problemas, com a Região Me-tropolitana de Fortaleza (15 cidades) detendo cerca de 60% do PIB e 40% da população. Caso seja feita uma junção da Região Metropolitana de Fortaleza com a Região Metropo-litana do Cariri (9 cidades), teremos 24 cidades com quase 75% do PIB cearense. Vale ainda frisar, que não existe um projeto/órgão que viabilize o planejamento e a administra-ção conjunta destas duas regiões metropolitanas e, muito

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menos, das outras regiões administrativas. Apenas 8 cidades têm população acima de 100 mil habitantes, sem necessaria-mente apresentarem os maiores percentuais de PIB (Forta-leza, Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Maranguape, Sobral, Crato e Itapipoca).

É preciso que o Ceará adote uma Governança Demo-crática sob pena de transformarmos o Ceará numa oligar-quia, ou seja, do Ceará tornar-se um “Maranhão”. Apóiam o Governo do Estado, os 3 senadores, quase a totalidade dos partidos políticos e dos deputados estaduais e federais, a maioria dos prefeitos e vereadores. Sem mencionar a coop-tação de grande parte das entidades da Sociedade Civil, da Mídia e do Poder Judiciário.

2. O PPS E AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2012

Para viabilizarmos esta proposta de Governança De-mocrática em nível estadual é crucial que o PPS cresça em todo o Ceará. Portanto, 2012, torna-se um ano fundamental para o PPS.

É necessário que os representantes do PPS tomem a dianteira em cada Município na propositura e na confecção de um Programa de Governo politicamente amplo, tecnica-mente fundamentado e administrativamente exequível.

Nosso partido deve buscar eleger um número ex-pressivo de representantes públicos e participar com maior ênfase das administrações municipais. Mais prefeitos, vice--prefeitos, vereadores e secretários farão do PPS uma força política com maior importância e visibilidade a partir de 2012. Sem mencionar que em pouco mais de 3 anos o PPS vem con-seguido sair da condição de “partido-satélite” do poder cons-tituído ou de “partido- apêndice” de lideranças políticas para um partido cada vez mais democrático, reformista e sintoni-zado com os corações e mentes de nosso povo.

Em 2012, o PPS deve priorizar candidaturas ou alian-

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ças que tenham um projeto de cidade, demonstrem que se-rão governos profissionais e venham a privilegiar gestões democráticas. Para tanto, nossos dirigentes e candidatos buscarão ter uma atuação eleitoral propositiva, articulada e harmonizada com os anseios, demandas e desejos dos dife-rentes munícipes de cada cidade onde estivermos organiza-dos, através da:

a) mobilização da Sociedade Civil Organizada, em especial, dos segmentos sociais, acadêmicos e empresariais, para manifestação de suas preocupações, anseios e propos-tas sobre diferentes temas das cidades, em especial a luta pela ética na política e o combate à corrupção;

b) contribuição com a próxima administração muni-cipal através da formulação de um plano de governo e, em caso de vitória, do planejamento da gestão administrativa;

c) projeção política das cidades dentro das bases con-ceituais do ‘Desenvolvimento Sustentável’, ou seja, capaz de equilibrar cenários democráticos, atividades econômicas, prudência ambiental, inovações tecnológicas e justiça social como requisitos para a melhoria na qualidade de vida dos seus habitantes.

d) busca da eficácia administrativa nos investimen-tos, definindo prioridades e estimulando a convergência das ações a serem empreendidas.

O “Projeto de Cidade” do PPS deve, necessariamente, incluir os seguintes temas e propostas:

INFRA-ESTRUTURA E URBANISMO: confecção/atualização do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano; pavimentação, sinalização e/ou abertura de vias; urbanização e requalifica-ção de espaços urbanos degradados; construção, manuten-ção e/ou reforma das praças públicas; ampliação do sane-amento básico (drenagem, estação de tratamento da água, rede coletora de esgoto, definição do destino final do esgo-

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tamento); instalação de iluminação pública, construção de poços profundos e semi-profundos, estruturação das estra-das vicinais nos distritos e localidades da Zona Rural; cons-trução de casas populares em substituição às de taipa ou em péssimas condições de habitação.

INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS E TURISMO E GERACAO DE EM-

PREGO E RENDA: atração de investimentos regionais, nacio-nais e internacionais para instalação de empreendimentos industriais, comerciais e turísticos visando ampliar as opor-tunidades de emprego, produção e arrecadação, com incen-tivos fiscais e urbanísticos; apoio ao trade turístico (hotéis, pousadas, restaurantes, bares, barracas, balneários, lojas), com qualificação da mão-de-obra e capacitação gerencial; valorização, apoio técnico-financeiro e melhoria dos designs do artesanato local; além da idéias descritas, fundamental-mente, o PPS, nos municípios, deve defender o fortalecimen-to das economias municipais através de indução do desen-volvimento das cadeias produtivas locais e microrregionais, da economia solidaria, da organização da produção e do consumo local, e do estimulo ao empreendedorismo e das micro e pequenas empresas;

MEIO AMBIENTE: criação da política e plano municipal do meio-ambiente; criação de parques ambientais; elaboração do Plano Municipal de Arborização de ruas e avenidas; de-finição de novos paisagismos temáticos das ruas e avenidas; criação do Programa Municipal de Educação Ambiental en-volvendo órgãos públicos, sociedade civil e população em geral. Nos municípios onde existirem corpos d’água, riachos e rios, deve-se promover a limpeza e conservação dos mes-mos, bem como preservar e recompor as matas ciliares.

EDUCAÇÃO E CULTURA: reformas estruturais de todas as esco-

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las de ensino público municipal e plano de valorização/gra-tificação por metas atingidas pelos professores municipais; suprir e qualificar o transporte escolar municipal; apoio técni-co-logístico e divulgação das tradições, costumes, danças fol-clóricas e cultura locais como reisado, violeiros, emboladores, quadrilhas juninas, reveillon, carnaval; criação de uma festa anual de caráter cultural e gastronômica que insira o even-to no calendário turístico do Ceará; criação e/ou ampliação do número de bibliotecas municipais e dos seus acervos, com abertura nos finais de semana para oficinas, exibição de fil-mes, clubes de leitura e acesso à Internet. Importante enxergar a educação e a cultura como instrumentos fundamentais para formação da cidadania, bem como diferenciais competitivos de nossos municípios frente à globalização.

ESPORTE: criação da política e plano municipal do esporte; criação de um calendário permanente de competições, jogos, atividades e eventos desportivos em níveis escolar e ama-dor; aterramento de terrenos para estruturação de campos gramados de futebol cercados por arame liso, iluminados artificialmente e com quadras de vôlei de areia e futvôlei anexas, com localizações definidas pelas comunidades; cria-ção das escolinhas de Futebol, Handbol, Basquete, Vôlei, dentre outros esportes, nos ginásios, escolas públicas, pra-ças e áreas de praia com acompanhamento de profissionais desportivos e de Educação Física; qualificação via parceria com diferentes órgãos em línguas, informática, marcenaria, eletrotécnica, construção civil dos extratos urbanos e rurais da juventude local. Importante ressaltar o papel do esporte como instrumento de socialização comunitária, de fortaleci-mento da cidadania e promoção da saúde, logo, tal atividade não pode nem deve ser vista como uma política secundaria;

JUVENTUDE: criação da política e plano municipal da juventu-

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de. Nesse campo fundamentalmente deve-se compreender as juventudes existentes em nossos municípios e suas pecu-liaridades, desenvolvendo programas, projetos transversais que congreguem e articulem ações de saúde, esporte, cultu-ra, qualificação profissional, dentre outras, voltados para o publico em questão;

SAÚDE: melhorias físicas, técnicas e de recursos humanos nas Unidades Básicas de Saúde (postos, centros, ambulatórios), com ampliação das equipes do Programa Saúde da Família; atenções prioritárias nas áreas médica, odontológica e psi-cológica à Primeira Infância (Zero a 7 anos) para redução da taxas de mortalidade infantil, desnutrição e níveis de violên-cia doméstica; ampliação da quantidade de programas, con-vênios, campanhas, seminários e programas gerais de saúde pública como vacinação, informação, prevenção e controle de doenças e epidemias, com aumento da cobertura via re--mapeamento territorial da saúde.

AGRICULTURA, RECURSOS HÍDRICOS E PESCA: construção de es-paço público visando à vacinação e medicação animal, consul-tas veterinárias, distribuição de sementes e adubos orgânicos e abrigo de animais; instalação de viveiros de plantas, hortas e pomares comunitários nas escolas e associações comunitárias; incentivo para o aumento percentual da produção agrícola privada de diferentes culturas; criação do Plano Municipal de Recursos Hídricos para aumento em qualidade e quantidade da disponibilidade das capacidades hidrográficas superficiais e subterrâneas que drenam o território.

AÇÃO SOCIAL E TRABALHO: incentivos através de compras e de licitações públicas da variada produção local como me-renda escolar, bolsas, cadernos, calçados, móveis, fardamen-tos, dentre outros; contatos para instalação de agências ban-

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1 2 6 S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A

cárias de instituições como CAIXA, Bradesco, BNB, Banco do Brasil no município; ampliação da capacitação para os representantes dos conselhos municipais setoriais, como COMDICA, CMAS, CMDS e Conselho Tutelar.

FINANÇAS E ADMINISTRAÇÃO: geração das condições para que o município avance em educação, saúde e renda, melhorando sua posição na tabela dos municípios de melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) no Ceará; criação e/ou ampliação dos projetos, convênios e parcerias municipais com os governos federal e estadu-al, ministérios, empresas públicas, entidade do Terceiro Setor, iniciativa privada e órgãos financeiros multilate-rais (BIRD, BID e UNESCO); adoção de um calendário de visitas mensais do Prefeito e Secretários às localidades; realização de uma reforma administrativa com criação de secretarias e/ou gerências administrativas de Habi-tação, Terceiro Setor, Ciência e Tecnologia; contratação de consultorias de profissionais em caráter temporário para a qualificação do quadro de servidores públicos e o atendimento à sociedade civil organizada e à popula-ção em geral, como arquitetos, engenheiros, advogados, assistentes sociais, contadores, economistas, jornalistas, publicitários, veterinários; adoção de instrumentos de participação popular como Audiências Públicas, Deba-tes, Consultas Públicas.

SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA CIVIL: criação da Secreta-ria Municipal de Segurança Pública para a assunção da responsabilidade municipal na temática, através de po-líticas preventivas, intersetoriais e prioritárias em comu-nidades com baixo IDH e alto nível de violência, crimi-nalidade e marginalidade, utilizando-se da mediação de conflitos, mobilização do empresariado e Terceiro Setor,

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S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A 1 2 7

planejamento urbano, organização de Conselhos Comu-nitários de Defesa Social, videomonitoramento, rondas es-colar e rural, dentre outros.

3) CRESCIMENTO MUNICIPAL DO PPS

O PPS, fundamentalmente, é um partido que crer no municipalismo e no empoderamento popular com forma de fortalecer a cidadania e democracia em âmbito municipal, logo os militantes e detentores de mandato do PPS devem primar pelo estimulo a participação popular nas decisões políticas, participando diretamente da definição dos rumos dos municípios cearenses, seja fazendo parte da gestão ou mesmo na oposição.

O CRESCIMENTO ESTADUAL DO PPS depende dos avan-ços realizados em âmbito municipal. Tanto do ponto de vista organizacional partidário (criação de diretórios provisórios e definitivos, aumento do número de filiados, em especial, personalidades locais), como demonstrando clareza e com-promisso político nas alianças a serem realizadas e profis-sionalismo e boa representação na gestão pública e no parla-mento, em caso de vitórias eleitorais.

O PPS somos nós, todos os dias e em quaisquer lo-cais...

Bom Congresso a todos!

Executiva Estadual do PPS—CE

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S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A 1 2 9

PARTE 4

PARTIDO POPULAR SOCIALISTAESTRUTURA ORGANIZACIONAL

S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A 1 2 9

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1 3 0 S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A

A ORGANIZAÇÃO DO PPS NO CEARÁ

H E R B E R T P E S S O A L O B O

O PARTIDO POPULAR SOCIALISTA, da segunda metade da década de 1990 para primeira metade da década dos anos 2000, experimentou um processo

de crescimento contínuo no Brasil e no Ceará. Tal crescimen-to, em muito, se deveu as suas candidaturas próprias do PPS à presidência da república, quando o partido ofereceu ao país um conjunto de ideia e proposta apresentadas ao povo brasileiro pelo então candidato a Ciro Ferreira Gomes.

No caso específico do Ceará, o PPS, potencializado pelas candidaturas do conterrâneo Ciro Gomes, bem como pelo fato de ser aliado histórico do então governador Tasso Ribeiro Jereissati e estar presente em importantes e estraté-gicos cargos dos governos do PSDB cearense. No referido período, sob a liderança da família Ferreira Gomes, o PPS, teve presença na Assembleia Legislativa e comando dezenas de prefeituras em todas as regiões do Ceará.

A partir de fevereiro de 2005, com a saída dos Ferreira Gomes, e seus liderados, do seio do PPS cearense, o partido iniciou um processo contínuo de declínio, perdendo deputa-dos, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e lideranças políti-cas por todo os Estado.

Herbert Pessoa Lobo é secretário Geral do PPS Ceará

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S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A 1 3 1

Entre os anos 2004 e 2009, o PPS cearense, teve outras direções no Estado, mas, mesmo com esforço, não conseguiu reverter o processo continuo de desidratação partidária.

Em 2009, mais especificamente a partir do dia 25 de julho, por determinação da direção nacional do partido, as-sume a direção do PPS Ceará um grupo formado por empre-sários, profissionais liberais, acadêmicos, estudantes, lide-ranças comunitárias e membros históricos do PPS, liderados pelo empresário Alexandre Pereira.

Já em 2010, o PPS Ceará, define, ser fundamental reco-locar o partido no debate político-eleitoral, a fim de recons-truir a imagem do partido, apresentar suas ideias e fortale-cer-se, através de suas lideranças, no processo eleitoral de âmbito estadual.

Para o PPS Ceará, era estratégico apresentar candi-datura própria a um cargo majoritário, seja ao governo do Estado ou ao senado federal. Após um intenso processo de articulação e negociação política, em aliança proporcional e majoritária com o Partido da República-PR, o PPS Ceará, lança para apreciação do eleitorado cearense o nome do seu presidente, Alexandre Pereira, ao senado da república.

Mesmo não elegendo seu candidato ao senado fede-ral, o partido saiu maior do pleito eleitoral de 2010, não só por obtido a confiança e voto de quase meio milhão de cea-renses, mas, sobretudo, por ter se reinserido no debate políti-co estadual e angariado a simpatia de milhares de cidadãos, aonde muito desses cidadãos vieram a se filiar e militar no PPS em vários municípios espalhados por todo o Ceará.

Hoje, o PPS Ceará está presente e consolidado em 113 municípios cearenses. Importante ressaltar que a meta par-tidária era estar presente em 90 municípios até outubro de 2011, portanto, a meta pretendida foi batida em mais de 25%.

Nas eleições municipais de 2012, o Partido Popular Socialista, no Ceará, lançará mais de três dezenas de candi-

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1 3 2 S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A

datos a prefeito e vice, além de algumas centenas de candi-datos a vereador.

Nós que fazemos o PPS temos a firme convicção que sairemos fortalecidos do processo político-eleitoral, e, sobre-tudo, que criaremos as condições necessárias para enfrentar os desafios presentes, bem como para construirmos coletiva-mente uma perspectivas de futuro para o partido.

Estamos cientes que o crescimento do PPS no Ceará está diretamente vinculado à entrega pessoal dos que fazem o partido, da nossa capacidade de trabalho, dedicação e de interpretação das novas demandas da sociedade.

Vamos juntos.

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S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A 1 3 3

Diretório Estadual

TitularesAlexandre Pereira Silva

Ana Naira Campelo De Queiroz

Angela Maria Madeiro Leitão

Antonio Augusto Fernandes Coelho

Argemiro Sampaio Neto

Bernardeth Martins Carvalho

Claudio Henrique Do Vale Viera

David Saraiva Costa

Francisco Candido Feitosa

Francisco Gilson Gomes De Arruda

Francisco Gomes Ximenes

Francisco Jose Lopes De Oliveira

Francisco Magno Magalhães

Francisco Robson Assunção

Geysla Do Nascimento Viana

Herbert Pessoa Lobo

Jesualdo De Oliveira Pinho

Jose Mozart Martins Da Silva

Laecio Noronha Xavier

Leonardo De Bayma Rebouças

Luiz Eliandos Bezerra De Lima

Luiz Melo Machado

Maria Stela Gomes Rocha

Michel Lins Cavalcante

Paulo Roberto Marques Sombra

Pedro De Freitas

Raimundo Inacio Ribeiro Neto

Raimundo Orlando Cavalcante Filho

Raquel Nascimento Dias

Regis Nogueira de Medeiros

Ricardo Pereira Sales

SuplentesFrancisco Claudio Rocha Dos Santos

Francisco Murilo Andrade Braga

Gilson Gomes De Arruda

Maria do Socorro Guerreiro Freire de Andrade

Pedro Beal De Freitas Vasconcelos

Raimundo Coelho Bezerra de Farias Filho

Tarcisio Melo Rodrigues

Tiago Brito Almeida

Luís Eduardo Stuard Junior

Conselho de ÉticaTITULARES

Fernando Pereira Nedefh

Luís Melo Machado

Régis Nogueira De Medeiros

SUPLENTES

Armando Costa

Francisco Emetério De Souza Sales

Conselho FiscalTITULARES

Maria Vanuza Assunção

Raimundo Orlando Cavalcante

Ricardo Pereira Sales

SUPLENTES

Eronildo Alexandre Nogueira

Maria Estela Gomes Rocha

Diretórios MunicipaisCOREAÚ

Abdias Filho Ximenes Gomes

Antonia Regina Flávia Cavalcante Ximenes

Carine Carmo Cavalcante

Clarice Gomes Ximenes

Fernandes Moreira De Carvalho

Francisco Elias Ximenes

Francisco Gomes Ximenes

Francisco Tiago Ximenes

Luzia Ximenes De Aragão

Manoel Ximenes Carvalho

Maria Lêda Ximenes Da Silva

Paulo César Ximenes

GROAIRAS

Antonio Ximenes Azevedo

Benedito Albedes Ximenes

Felisardo Jose Frota Prado Azevedo

Jose Vandick de Azevedo

Liduina Azevedo Maciel

Manoel Azevedo Matos

Page 134: Socialismo & Democracia  — 90 Anos de Lutas e Mudanças

1 3 4 S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A

Manoel Ximenes Azevedo

Manoel Ximenes Azevedo Filho

Manoel Ximenes Sobrinho

Maria de Fatima Azevedo Sousa

Maria de Fatima de Melo Ximenes

Maria do Socorro Frota Prado Azevedo

Raimundo Azevedo Prado

Raimundo Nonato Azevedo Melo

Raimundo Nonato Santos Damasceno

Vladia Maria Frota Parado Azevedo

JUAZEIRO DO NORTE

Antonia Alves Dantas

Antonio Severino da Silva

Cicera Susetti de Almeida Gomes

Damiao Felipe Gomes

Emanuela Dealcan Freitas

Eunice Celsa De Souza Cristo

Expedito Alves Dantas

Expedito Caetano Da Silva

Francisco Eudo Mendes

Francisco Luiz da Silva Filho

Izabella Gomes Duarte de Oliveira

Janyketchuly de Sousa Cristo

Joao Landim Cruz

Jose Damasio Soares Costa

Jose de Freitas Subrinho

Jose Firmino da Silva

Jose Jocimar da Silva

Jose Pedro Araujo dos Santos

Josefa de Alcantara Freitas

Maria da Conceicao Alves

Maria de Fatima Ferreira Torres

Maria Edileide Lira Nobre

Maria Eridan de Almeida

Maria Selma Bandeira de Almeida

Maria Zuita Rogerio de Oliveira

Maurilio Miguel dos Santos

Noberto Luis de Almeida

Pedro de Freitas

PARAMOTI

Antonio Carlos de Oliveira Castro

Antonio Gomes Sobrinho

Eliziane Silva Ferreira

Francisco Almeida Santos

Francisco Carlos Luz Sampaio

Francisco Glailson Ferreira Castro

Francisco José Lopes de Oliveira

Francisco Jose Lopes de Sousa

Francisco Mauro Barbosa Maciel

Francisco Orleans Souto Gomes

Francisco Reginaldo Castro Ferreira

Francisco Uilton dos Santos Rodrigues

Joao Bosco de Castro

Jose Solon Ferreira Rocha

Luiz Antonio Cardoso Marques

Marcos Pedro Ricardo Silva

Maria Aurilene de Sousa

Maria Lucileide Sampaio Oliveira

PINDORETAMA

Alisson Rodrigues Da Silva

Angela Maria Madeiro Leitão

Armando Rodrigues da Silva Junior

Artur Batista da Silva

Girlane Costa e Silva

Jose Luiz Alves Vieira

Marcio Batista da Silva

Marcio Delmiro da Silva

Marcus Antonio A. do Nascimento Filho

Maria Lourdes Costa Silva

Marineis Delmiro da Silva

Quezia Queiros Silva

Sebastiao Alves Farias

Zilson Alves Vieira

Comissoes Provisorias ACARAPE

Alexandre Pinheiro de Andrade

Claudio Nascimento Costa

Elizangela da Silva Moreira

Francisco Jose Costa Soares Filho

Jose Wilson Duarte de Sousa

Maria Nascimento de Castro Sousa

ACOPIARA

Cícero Francisco Ramos

Emídio José de Almeida Neto

Francisco Silva Cavalcante

Francisco Williams Cabral Filho

Lúcia Alves de Almeida

ANTONINA DO NORTE

Francisca Mendes Gomes

Page 135: Socialismo & Democracia  — 90 Anos de Lutas e Mudanças

S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A 1 3 5

Orlando de Oliveira Morais

Raimundo Alves Bezerra

Raimundo Fernandes da Silva

Rita Rufino Bezerra

ARACATI

Clecio Ferreira de Almeida

Eleni Lima da Costa Guedes

Erandi da Silva Barbosa

Joao Evandro Silva

Jose Raimundo Calixto Pinheiro

Kose Arnaldo Silva

ARATUBA

Adriano Cordeiro da Nobrega Botelho

Carlos Alberto Colares Menezes

Frabcisco Rair Angelo da Silva

Glédio Marcio Maciel de Oliveira

Jesualdo de Oliveira Pinho

Jose Nilton Barbosa Belém

Maria Pereira do Nascimento

Pedro Denis da Silva Santos

Raimundo Jose Menezes Paiva

Raimundo Nonato Alves de Lima

Rayllane Roberta Ângelo da Silva

ARNEIROZ

Antonia Natalia Rodrigues Feitosa

Jarlandia Castro da Silva

Jose Rodrigues Feitosa Pinheiro

Maria De Fatima Petrola Olinda

Randal Fernandes Olinda

ASSARÉ

Cicero Alves da Silveira

Edilberto Teles de Lima

Francisco Borges da Silva

Francisco Evilardo Palacio Salaes

Jose Carlos de Carvalho

AURORA

Fabiola Frazao Lira

Marcolino Ferreira Lira

Maria Celiane Pinheiro

Petrucya Frazao Lira

Terezinha de Jesus Frazao Lira

BARBALHA

Argemiro Sampaio Neto

Carlos André Feitosa Pereira

Hugo José Amorim Callou

José Kennedy Amaral Pereira

Rafael Sá De Quintal

BARREIRA

Andre Alexandre da Silva Neto

Jose Gustavo Gomes Da Silva

Jose Wellington Gomes Araujo

Judicael de Almeida Nascimento

Raimundo Evanildo Maia

Valderlan Fechine Jamacarú

BARROQUINHA

Auricelia Firmino De Brito

Fca das Chagas Teles Dionisio

Luciano da Costa Alves

Maria dos Navegantes Da Costa

Ozanan da Silva Dionisio

BATURITE

Elisandro dos Santos Nascimento

Fco Bonaldo Braga Filho

Fco Evaristo da Silva

Jose Renato Freitas da Silva

BEBERIBE

Francisco Claudio Filgueira

Manoel Soares da Silva

Olinto Facó

Roberio Facó Miranda da Paula Pessoa

Vicente Junior Fernandes Maia

BELA CRUZ

Edilson Carvalhedo Sampaio

Fabio Rogerio Rocha

Joao Carneiro dos Santos

Luiz Jacauna Vasconcelos

Sandra Maria Silveira

BOA VIAGEM

Adriano Alves Da Silva

Anna Nayara Evangelista Abreu

Edson Alves da Silva

Fca Lopes de Souza

Maria das Graças do Nascimento Teixeira

BREJO SANTO

Euclides Gomes do Nascimento Filho

Francisco Ambrosio Sampaio

Francisco de Lucena Cabral

Igor Madeiro de Lucena

Tercio Rufino Costa

CAMOCIM

Page 136: Socialismo & Democracia  — 90 Anos de Lutas e Mudanças

1 3 6 S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A

Doiles Bento de Oliveira

Jairo Honorário Filho

Jarbas Araujo Ferreira

Jose Serafim De Vasconcelos

Manoel de Carvalho

CANIDÉ

Arnaldo Lima Santos

Celso Gois Almeida

Francisco Antonio de Sousa Freitas

Francisco Diones Santos Gomes

Maria Mirella Soares Castelo

Tiago Brito Almeida

Victor Diogo de Sampaio

CAPISTRANO

Anizio Pereira Dos Santos

Antonio Arimateia Sousa Sales

Benizio Pereira Dos Santos

Francisco Emeterio Sousa Sales

Francisco Pereira dos Santos

Liduina Alves Borges

Maria de Nazaré Alves Borges

CARIDADE

Almir De Oliveira Ricardo

Anto Genildo Lopes Tavares

Fco Gustavo De Souza Oliveira

Gedson De Oliveira Mendonça 430

Joao Paulo Ferreira Menezes

Luciana Almeida Nunes Dos Santos

Ma Jose De Paula Saraiva

CARIRIAÇU

Antonia Roberta Pereira De Araujo

Antonio Roberto Pereira De Araujo

Heriberto Vieira Silva

Jose Vieira Lunguinho Neto

Maria Jose Freitas De Souza

CARNAUBAL

Antonio Correia Araujo

Antonio Jean Brito Sampaio

Benedito Mendes Do Nascimento

Bruna Maria Fontenele Araujo

Cleiciane Nogueira De Souza

Francisco Evandro Correia Araujo

Maria Vanir Araujo Do Nascimento

CAUCAIA

Edna Rocha Ribeiro

Francisca de Fatima R. Costa Hulck

Janaina Mara Barros

Lamarck Mesquita Guimaraes

Luciana Moreira De Brito

Manoel Barbosa Neto

Marlucia R. de Fatima de Sousa Gomes

Patricia Dias De Maia

CASCAVEL

Eduardo Moreira Cruz

Egberto da Silva Soares

Eronildo Alexandre Nogueira

Jose Maria da Silva Junior

Luciano Pereira de Souza

Nallyson Costa Machado

Rafael E Oliveira Silva

Reginaldo Galdino De Castro

Vicentede Paula Da Silva

CATUNDA

Anto Odacir Rodrigues De Oliveira

Fernanda Sheyla Oliveira Lobo

Luiz Gonzaga De Souza Silva Filho

Ma Jaqueline Pereira Lopes

Raimilson Chaves Gomes

Raylla Chaves Gomes

CEDRO

Francedilson Lima Teixeira

Joacir Lima Torres

Jose Ivan Fernandes Diniz

Luiz Fernandes Diniz Junior

Sara Jeyne Pinheiro Silva

CHORÓ

Flavio Costa da Conceição Junior

Flavio Vidgal de Barros Penteado

Liliane Matias Dinelly

Maria do Socorro M. Dinelly Carneiro

Maria Liduina Toscano de Oliveira

Maria Regilandia do N. Nogueira

Terezinha Matias Dinelly Penteado

CRATEÚS

Edivaldo Costa dos Santos

Gilvan Melo Marques

Nailton Greyek de Castro Fernandes

Raimundo Gilson Melo Marques

Tarcisio Melo Rodrigues

Waetan Ferreira Moreira

Page 137: Socialismo & Democracia  — 90 Anos de Lutas e Mudanças

S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A 1 3 7

CRATO

Benivaldo Alves Pontes

Daniela Gomes Pinheiro

Francisco Adailton Pereira Silva

George Ney Gomes Pinheiro

Mansueto Linhares de Moraes

Raimundo Coelho B. de Farias Filho

CROATÁ

Ana Tereza Rodrigues Barbosa

Elizeuda Nobre da Silva

Idaiana Ribeiro Leite

Joao Bezerra de Sousa

Maria Gorete de Sousa

EUSÉBIO

Aline Vidal

Francisco Wellington dos Santos

Jefti Alves Silva

Jose Mozart Martins da Silva

Maria Campina de Sousa

FORQUILHA

Benedito Joel de Sousa Pinto

Francimar Felicio de Almeida

Francisco Loiola Rodrigues

Francisco Sillas Cavalcante

Maria Jose Martins de Loiola

FORTALEZA

Bernadeth Martins Carvalho

David Saraiva Costa

Fco Candido Feitosa

Geysla do Nascimento Viana

Michel Lins Cavalcante

FORTIM

Ednaldo Jorge dos Santos

Fco Robson Assunção

Kelvia Erlane Gondim da Silva

Luiz Ribeiro da Silva

Maria de Nazare Silva Souza

Marcia Rocha Guedes Assunção

GENERAL SAMPAIO

Antonio Irineu Barbosa de Pinho

Francisco Edineudo B. de Pinho

Francisco Orzete Rocha Alves

Jose Valdir Neres

Maria do Socorro dos Santos Moura

GRANJA

Alvaro Mota Dias

Alvaro Mota Dias Filho

Haroldo Barros de Aguiar

Leandro Antonio Pereira Fontenele

Teresa Neuma de Lima

GUAIÚBA

Alan Rosario Nogueira

Celso Roberio de Castro

Gervasio Teixeira Junior

Maria Selma Ferreira Campos

Maria Valnice Ribeiro da Silva

GUARACIABA DO NORTE

Francisco J. Rodrigues Bezerra de Menezes

Jane Maria Catunda Soares Furtado

Lyvia Patricia Soares Mesquita

Marden Saraiva Rabelo Pontes

Maria Jose Ferro Bruno

GUARAMIRANGA

Aline de Souza Franco

David Marciel de Almeida

Luis Fernando de Souza Gomes

Ma Cristina Paz Rodrigues

Maria Ivoneide Afonso Jorge

HIDROLÂNDIA

Francisco Antonio Freitas Martins

Ivanildo Pereira Negreiros

Jose Valdemir Mesquita Mourão

Paulo Roberto Pereira Martins

Raimundo Rodrigues Leopodino

HORIZONTE

Franklin Pereira Melo

Gentil Ferreira de Melo

Jurailson Rozeno de Araujo

Maria Jose Pereira de Sousa

Maria Jose Pereira de Sousa

Maria Regilene de Lima

Raimundo Oliveira de Freitas

IBARETAMA

Anderson Camurça da Silva

Aucilene Nicolau da Silva

Cicero Ferreira da Silva

Francisca Janaina C. Mendes aa Silva

Jose Ribamar Viana Pereira

IBIAPINA

Anto Romao De Sousa

Page 138: Socialismo & Democracia  — 90 Anos de Lutas e Mudanças

1 3 8 S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A

Clessivaldo Lima Fontenele

Fco Esio Rodrigues de Silva

Jose Tupinamba Camelo

Ma Diva do Nascimento Pereira

Raimunda da Silva Camelo

Ricardo Da Silva Neto

ICÓ

Cicero Gilson Soares dos Santos

Gilberto Pereira da Cruz

Maria Lucicleide da Silva Gadelha

Nilson Klebenn Ferreira Dos Santos

Silvano Alves De Araujo

IGUATU

Erica Araujo de Oliveira

Francisco da Chagas Lavor

Francisco didiê Cavalcante

Francisco Murilo Andrade Braga

José Antônio Macena Filho(Gurí)

Luciano de Mendonça Sudário

Sívio Correira dos Santos

IPU

Ana Maria Alves de Faria

Magela Alves Feitosa

Maria do Socorro Batista Barbosa

Thiago Soares Pereira

Yana Talitta Mororo Martins

IPUEIRAS

Antonio Carlos Rodrigues

Elton Sousa Pereira Da Silva

Francisco Altemir Matias Pinho

Francisco Mendes De Sousa

Klever Henrique Timbo Nunes

Wilson Evaristo Nunes Junior

IRAUÇUBA

Antonio Carlos Aevedo Barroso

Marlim Felix Braga

Miguel Cesar Azevedo Barbosa

Rogerio Barbosa Mesquita

Simas Pedro Rodrigues Azevedo

Wlamar De Andrande Braga Filho

ITAIÇABA

Charliane Lima Alves

Diana D’arc De Castro Saboia

Fca Michele Gomes Da Silva

Fco Everaldo Silva Barros

Ma Eliete Paula Gomes

ITAITINGA

Francisco Gerre de Lima Sampaio

Ismael Serpa Rangel

Jeymson Xavier da Silva

Jose Pereira de Sousa

Magna Maria Ferreira Lima

Pedro Henrique Barros Dantas

Rayane Alves Fernandes

Zandra Maria Barros

ITAPAGÉ

Claudia Gomes Bastos Cruz

Eygo Freitas Vieira

Filomena Eliza Mesquita Freitas

Francisco das Chagas Cruz

Ma Eliete Viana Cruz

Ricardo Ferreira Gois

ITAPIPOCA

Carlos Magno Teixeira Barroso

Jose Aldir Moreira

Jose Aldir Moreira Junior

Jose Wedson Eufrasio Chaves

Rita Joanice Moreira

ITAPIÚNA

Carlos Caike Fernandes Correa

Cesar Augusto Cesarino Correia

Francisca Ribeiro de Castro

Magla Maria Martins da Silva

Raimundo Rodrigues de Freitas

ITAREMA

Ariadina Chaves Nobre

Jose Mauro Rios

Juliana Santanna Bueno

Maria Daiane dos Santos

Paulo Cesar Junior Rios

ITATIRA

Anastacio Ribeiro Filho

Antonio Abreu Batista

Gutemberg Barros Dias

Jose Ilo Barros Dias

Jose Valdir da Silva

Maria Ednar Felix Macedo

JAGUARIBE

Ana Claudia Jales de Lima

Fco Flavio de Lima

Page 139: Socialismo & Democracia  — 90 Anos de Lutas e Mudanças

S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A 1 3 9

Fernando Anto Holanda Pinheiro

Glauce Ma Gomes Diogenes

Jose Rodrigues Peixoto

JUAGUARUANA

David Amora de Oliveira

Francisco Jose Gomes

Geralda Leandro Silva

Herbenia M Gurgel Monteiro Rodrigues

Jose Terceiro Gomes

Marcia Cristiane Gomes Santiago

Maria Edna Celedorio

JARDIM

Ernandes de Sousa Oliveira

Eternito Lopes de Sousa

Jacinta Coelho de Freitas Lopes

Maria Das Graças Filgueira Piancó

Maria Neide Filgueira Piancó Pinheiro

JATI

Agostinho Neto Sampaio

Antonio Marcos Sampaio

Damião Filgueira Sampaio

Sebastião Militão Da Silva

Sonara dos Santos Pereira

JUCÁS

Fco Caetano Delmondes

Jose Ari Costa de Souza

Luiz Gonzaga Leite Sobrinho

Maria Duarte da Silva

Rita de Cassia da Silva Delmondes

Lavras da Mangabeira

Cicero Erismar Roudão de Araujo

Ciron Alexander Bezerra

Liduina Leandro da Silva

Manoel Leite Rolim

Vicente Lacerda da Silva

LIMOEIRO DO NORTE

Bruno Jose de Araujo

Jorge Luiz Nogueira Ribeiro

Jose Reginaldo Sousa Costa

Luis Lopes de Oliveira

Marcia Maria Freire Bezerra

MARACANAÚ

Abdias Florencio Bezerra

Carlos Fco Ribeiro

Emanuela Batista Lima

Geraldo Fernandes Da Silveira

Jose Geraldo de Queiros Fernandes

Jucelino Ferreira dos Santos

Luis Gonzaga Neto

Luiz Eliandos Bezerra de Lima

Neton Alves de Lacerda

Oriel De Oliveira Valentim

MARTINOPOLÉ

Cristiano Barros Cardoso

Diana Cris Cardoso De Oliveira

Fco Kilber Frota Linhares

Francisca Onesia Cardoso Barros

Maria Erilandia Pereira Miranda

MASSAPÊ

Antônia De Souza Arruda

Armado Cesar Romero Barros

Edison Lopes De Vasconcelos

Francisco Gilson Gomes Arruda

Raimundo Nonato Julio

Mauriti

Cicaro Joao Dos Santos

Francisco Auricelio Vieira

Francisco Rogerio Leite

Jose Adomilton Felix Sales

Jose Carlos Teixeira da Silva

Vicente De Paulo Pereira De Morais

MILHÃ

Ana Virginia Pinheiro

Carlos Andre Pinheiro

Francisco Erivan da Silva

Francisco José Pinheiro

Rubens Cesar Parente Nogueira

MISSÃO VELHA

Francisca Lucia da Silva

Francisco José da Silva

Josevan de Sá Santos

Maria Pinheiro Roberto

Sebastião Coelho De Souza

MOMBAÇA

Anto Fernades Martins

Fco Neurandir De Souza

Gerson Cavalcante Vieira Neto

Walderez Diniz Vieira Neto

Monsenhor Tabosa

Cristiano Dias Leitão

Page 140: Socialismo & Democracia  — 90 Anos de Lutas e Mudanças

1 4 0 S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A

Fernanda Lopes de Melo Araújo

Francisco Soares Magalhães

Jesus Soares Costa Magalhães

Leonardo Rodrigues de Araújo

MORADA NOVA

Fco Reginaldo Da Costa

Juscelino Damasceno Girão

Perseu Bessa Madeira

MUCAMBO

Daniel Alves Neri

Eugenia Da Silva Morais

Giselle Ma Lima Ferreira

Manoel Canuto De Souza

Marcelo De Castro Araujo

NOVA RUSSAS

Claudio Martins Bezerra

Fco Araujo Martins

Gabriel Martins Bezerra

Manoel Correia Nunes

Suzana Bezerra Sabino Martins

NOVO ORIENTE

Antonio Sousa Martins

Evaldo Alves Martins

Isabel de Sousa Martins

Joel Pedrosa das Chagas

PACATUBA

Francisca Lindalva Holanda Renovato

Ma Edisia Teixeira Novais

Ma Rutilene Ferreira Lima

Maria Veronica De Oliveira Coelho

PACOTI

Edilson Alves De Sousa

Gerardo Cesar Pimenta

Jose Airton De Oliveira

Jose Anilson Alves De Souza

Valmir Saraiva Maciel

PACUJÁ

Diego Rodrigues da Silva

Diego Rodrigues da Silva

Fco Clerto Furtado De Araújo

Manoel de Jesus Brito

Maria Marcia Jorge Damasceno

Milena Lopes de Souza

PARACURU

Djailde Bernardo Da Silva

Elton Figueiredo Teixeira

Elzer Figueiredo Teixeira

Francisco Joao da Silva

Francisco Sidney Andrade Gomes

PARAIPABA

Anto Vandelio Barbosa

Ma Eunice Bento Do Nascimento

Maria Ierene Barbosa

Raimundo Vanderley Barbosa

Talita Dos Santos Gonçalves

PIQUET CARNEIRO

Antonia Vanuza De Souza Magalhães

Camila Neuma Peixoto de Magalhães

Haroldo Oliveira de Magalhães

Maria Alves de Andrade

Raimunda de Moraes Ferreira

Taíse Soares Costa

QUITERIANOPOLIS

Cicero Vieira de Souza

Fco Costa de Lacerda

Jose Mario Alves Macedo

Maria Clara Cavalcante de Lacerda

Maria Valbene Cavalcante de Melo

QUIXADÁ

Francisco de Meneses Queiroz

Francisco Geliarde da Silva Soares

Francisco Helder da Silva Barbosa

Laércio Oliveira Lima

Raimundo Nonato C. Damasceno

QUIXARAMOBIM

Francisco Helialdo Sousa De Oliveira

Izabela De Souza Paulino

Maria Rosicler Barros

Raimundo Roque Nogueira

Vanderlete Almeida De Oliveira

QUIXERÉ

Fco Giuvan de Souza

Maria Geane de Souza

Michelle Rafaela de Brito

Valdetrudes Paz Junior

REDENÇÃO

Antonia Rosania da Silva M. Pereira

Antonio Nailton da Silva Oliveira

Brena Girleia Oliveira Morais

Francisco de Assis Castelo Branco de Lima

Page 141: Socialismo & Democracia  — 90 Anos de Lutas e Mudanças

S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A 1 4 1

Natiane Dos Santos Freire

Rosana Reis Ferreira Batista

RERIUTABA

Fco Daniel Araujo

Joyce Yara De Paiva de Souza

Leila Ma Rocha Rocha Carvalho

Ma Regiane de Araujo

Raimundo Fco de Souza

RUSSAS

Davi Rebouças Matos

Eugenio Pacelli Santiago Fontes

Giovanni Dantas Nunes

Ricardo Alves Campos

Silvio Roberto Matos

SABOEIRO

Fco Ildon Siebra

Francisca Ferreira da Silva

Joao Pereira de Lima

Manoel Ferreira Filho

Maria Sueli Rodrigues de Lima Ferreira

SANTA QUITÉRIA

Alex Jose Farias Protasio

Antonio Arnaldo Sales Protásio

Antonio Augaci Sales Protasio

Cristiane Viana de Oliveira

Francisca Eliane Farias Protasio

Joelina Pereira Sousa

Paulo Ricardo Farias Protasio

SÃO BENEDITO

Francisca Nunes de Farias

Lucielma Rodrigues de Medeiros Lopes

Paulo Sergio de Sousa

Raimundo Orlando Cavalcante Filho

Raimundo Rejane de Souza

São Gonçalo do Amarante

Carlos Eduardo Correia

Fca Audenes Carneiro

Luciano Felix Lima

Maria Bernadeth C. Albuquerque

Maria Natividade De Moura Oliveira

São João Do Jaguaribe

Alfredo Davi Gomes De Almeida

Jose Elbio De Almeida Chaves

Lenira Mendes De Almeida

Ma Ivanete Chaves Nogueira

SENADOR POMPEU

Antonio Neto de Araujo

Francisco Claudio Rocha dos Santos

Francivaldo Batista Fernandes

José Lira Neto

José Ribeiro Oliveira

Manoel Marcelo Lima do Nascimento

SENADOR SÁ

Antonio Nilson Moreira

Francisco Das Chagas Lima Freire

Hilario Ferreira Lima

Raimundo Rodrigues Bastos

Rosilene Magalhaes Praxedes da Silva

SOBRAL

Caio Lucas Cordeiro Bispo

Fco Jose Fontenele de Azevedo

Fco Roberto Felix Rodrigues

Galdino Bezerra de Araújo Neto

Raimundo Inacio Ribeiro Neto

Victor Mateus Cordeiro Bispo

SOLONOPOLE

Emanuela Cristina Oliveira

Francisca Naiara Caetano de Araujo

Jose Gedeon Targino Oliveira

Maria de Fatima Oliveira

Regia Lucia Caetano de Oliveira

TABULEIRO DO NORTE

Ciro Winston Carneiro Alves

Jair Guerreiro Freire

Jose Garibalde Guerreiro Freire

Maria do Socorro Guerreiro F. de Andrade

Maria Marlene Alves de Freitas

TAUÁ

Antonio Junior Batista De Lima

Estevão Moreira Patricio

Flavio Gonçalves Batista Filho

Francisco Assis Do Nascimento

Jose Alves Lima

TEJUÇUOCA

Anto Fernandes Brito

Carla Emanuele Alves Eufrasio

Fco Erivaldo Paiva Barbosa

Jose Edson Teixeira De Queiroz

Marciano Silva Alves

Ricardojulio Alves Da Silva

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1 4 2 S O C I A L I S M O E D E M O C R A C I A

TIANGUÁ

Claudio Junior Fernandes Ramos

Edmilson de Sousa Pereira

Jose Helter Cardoso de Vasconcelos

Manoel Joaquim de Morais

Samuel Andrade Pessoa

TRAIRI

Fco Magno Magalhães

Fco Valdenir Braga

Gustavo Freitas de Oliveira

Magda Praciano Magalhães

Raimundo Nonato Pires Benigno

TURURU

Carlos Serpa Menezes Barroso

Maria Ednilça Menezes Barroso

Raimunda Claudenia Freitas Barroso

Valmilton Braga Teixeira

Vicente Barroso Serpa

UBAJARA

Ana Claudia Fernandes De Lima

Carlos Eduardo Marques Romano

Glaucilene Leocadio da Silva

Isaisas Inácio Loiola

Jose George Macedo

URUBURETAMA

Eveline Aline Pinheiro Cunha

Jose Gervasio Rocha

Luciana Rodrigues Barroso Braga

Maria Stela Gomes Rocha

Mariana Gomes Dutra

VARZEA ALEGRE

Alexandre Caldas de Oliveira

Maria Meirilandia de Souza

Miguel Orlando Vieira

Raimundo Satiro

Raimundo Ubirajara Correia de Oliveira

VIÇOSA DO CEARÁ

Carlos Alberto Freire Carneiro

Francisca Vanuza Carneiro Passos

Franscisca Adriana Carneiro Passos

Maria Luciana Carneiro De Araujo

Maria Zelia Fontenele Carneiro

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A N E X O S

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Decreto assinado por Getulio Vargas considerando a ANL como agente subversivo. Nas páginas seguintes, Decretos 558 e 741 caçam patentes e postos de militares

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NOSSA POLÍTICA: PRESTES APONTA AOS BRASILEIROS O CAMINHO

DA LIBERTAÇÃO

L U I Z C A R L O S P R E S T E S

1 de Agosto de 1950

Primeira Edição: Fonte: Problemas — Revista Mensal de Cultura Política

nº 29 - Ago-Set de 1950. Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.

Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é

livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documen-

tation License.

Ao Povo Brasileiro!A Todos os Patriotas e Democratas!Concidadãos! Trabalhadores!

É EM NOME DOS COMUNISTAS brasileiros que me di-rijo a todos vós na certeza de que minhas palavras hão de ser compreendidas pelo que valem, como

mais um brado de alerta, mais um apelo à união e à ação, já que traduzem os sentimentos mais profundos daqueles que não se conformam com a crescente colonização de nos-sa pátria, daqueles que não se submetem aos traidores e as-sassinos que nos governam, daqueles que sempre lutaram e jamais deixarão de lutar pela liberdade e o progresso e a independência do Brasil.

Atravessamos um dos momentos mais graves da vida de nosso povo. Já não se trata somente da miséria crescente e da fome crônica em que se debate a maioria esmagadora da nação, já não se trata apenas da brutalidade da exploração a que se acham submetidos os que trabalham e produzem

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em nossa terra, é o sangue do povo, sem distinções de sexo ou de idade, de homens, mulheres e crianças, que corre nas ruas de nossas cidades e nos cárceres da reação, e denuncia as intenções sinistras do bando de assassinos, negocistas e traidores que hoje governa o país.

É a guerra que nos bate às portas e ameaça a vida de nossos filhos e o futuro da nação. Sentimos em nossa própria carne, através do terror fascista, como avançam os imperia-listas norte-americanos no caminho do crime, dos preparati-vos febris para a guerra, como passam eles à agressão aberta e à intervenção armada contra os povos que lutam pelo pro-gresso e a independência nacional!

Na Coréia, os aviões norte-americanos já trucidam a mulheres e crianças e bombardeiam povoações pacíficas. É que, premidos pela crise econômica em que se debatem querem precipitar o desencadeamento da guerra mundial, já proclamam cinicamente suas bárbaras intenções e ameaçam matar com suas bombas atômicas a mulheres e crianças, a jovens e velhos, indistintamente, para impor ao mundo sua dominação escravizadora.

E é por meio do terror fascista, procurando criar um clima de guerra civil, que o governo de traição nacional de Dutra quer levar o país à guerra e fazer de nossa juventude carne de canhão para as aventuras bestiais de Truman.

Os acontecimentos se precipitam e é evidente que se aproximam dias decisivos que exigem de todos nós mais ação e vigilância. A indiferença e o silêncio, o conformismo e a passividade já constituem, no momento que atravessamos, um crime de lesa pátria, diante das ameaças que pesam so-bre os destinos da nação.

BRASILEIROS!

ESTAMOS em face de um governo de traição nacional que entrega a nação à exploração total dos grandes bancos, trustes e monopólios anglo-americanos, governo que consti-

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tui a maior humilhação até hoje imposta à nação, cujas tra-dições de altivez, de independência, de convivência pacífica com todos os povos são brutalmente negadas e substituídas pelo servilismo com que esse governo se submete à políti-ca totalitária e guerreira do Departamento de Estado norte--americano. A dominação imperialista assume, dia a dia, em nossa terra, aspectos mais violentos e sombrios. Marchamos no caminho da escravidão colonial e da perda total de nossa soberania nacional.

As posições-chaves da economia do país são domina-das pelos monopólios anglo-americanos, o comércio de nos-sos principais produtos de exportação está sob o controle de firmas norte-americanas, a indústria nacional, quando já não pertence aos monopólios ianques, está sob a constante ameaça de total aniquilamento e no próprio comércio inter-no avança o controle dos grandes consórcios e monopólios americanos. O petróleo continua sob a ameaça avassaladora da Standard Oil, que faz às escancaras a mais despudora-da campanha de suborno e corrupção. O ferro, o manganês, as areias monazíticas, os minérios rádios-ativos já se encon-tram em poder dos monopólios ianques que saqueiam a na-ção. Simultaneamente, crescem de ano para ano os lucros das grandes empresas estrangeiras que, como a Light por exemplo, se apoderam de uma boa parte do valor ouro de nossas exportações paro remeter para o estrangeiro o fruto do trabalho e da vida de nosso povo, brutalmente explora-do. Sob os mais variados pretextos, grandes extensões do território nacional passam à propriedade dos magnatas ian-ques, como Rockefeller, ou são entregues pelo governo aos «especialistas”do imperialismo com direito de extra-territo-rialidade, como acontece no caso da Hiléia Amazônica.

Mas é especialmente no setor das forças armadas que agem com maior desenvoltura e cinismo, por meio das mis-sões militares que subordinam ao comando americano todas

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as forças armadas do país, controlam e ocupam as bases mi-litares aéreas e navais, tudo no sentido da preparação aberta para a guerra. A Estação rádio-telegráfica do Pina em Recife, já se encontra completamente sob ocupação dos mercenários de Truman. E a recente vaga de terror policial desencadeado naquela capital do Nordeste sob a direção imediata dos ge-nerais fascistas que exigiram inclusive a cassação dos man-datos dos vereadores comunistas, componentes da bancada majoritária eleita pelos trabalhadores do Recife, precede e anuncia a chegada de novos contingente de soldados ian-ques para ocupação da base do Ibura na mesma capital.

É a preparação para a guerra que se intensifica no país. À medida que crescem no mundo inteiro as forças da democracia e do socialismo, que a União Soviética, cada vez mais poderosa, amplia seu prestigio mundial, que os povos da Ásia com o grande povo chinês à frente libertam-se do jugo imperialista, que os partidários da paz organizam-se em todo o mundo e unem suas forças, que cresce o movimento operário e a influência do Partido Comunista, as forças do imperialismo do mundo capitalista minado por contradi-ções cada vez maiores desesperam, tornam-se mais agressi-vas, preparam-se abertamente para a guerra, cujo desfecho querem precipitar e exercem pressão cada dia maior sobre os governos dos países dominados, dos quais exigem sub-missão e obediência crescentes. O atual ataque norte-ameri-cano à Coréia é a comprovação prática mais recente e brutal dessa política de agressão aberta de aventura e desespero, por meio da qual pretendem os trustes e monopólios anglo--americanos arrastar os povos a mais uma carnificina guer-reira de proporções jamais vistas.

A ameaça de guerra pesa sobre o país. É cada dia maior e mais iminente o perigo que ameaça a vida de nossa juventude e a segurança de toda a população do país. Os provocadores de guerra exigem o nosso sangue para suas

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aventuras guerreiras. Querem dois milhões de brasileiros para serem incorporados às suas forças armadas e milhares de operários para que participem no trabalho escravo de suas usinas de guerra distribuídas pelo mundo inteiro. E, diante de tais exigências o governo Dutra, que não sabe se-não ceder diante do patrão imperialista, trai como sempre os interesses da nação. É o caminho já praticamente trilhado com a recente nota do Itamaraty de adesão e apoio à decisão ilegal do Conselho de Segurança da ONU sobre a Coréia e com a qual o governo do sr. Dutra pensa poder empurrar o país pouco a pouco, sem que as grandes massas o percebam, para a fogueira da guerra que o governo norte-americano se esforça por acender no mundo inteiro.

E é a iminência desse perigo de guerra e a intensi-ficação da preparação para a guerra que explica funda-mentalmente o clima de terror crescente em que já nos encontramos.

Os dominadores não vacilam no emprego da violên-cia e do crime contra o povo. As últimas aparências de uma democracia de fachada são rapidamente postas de lado e to-das os conquistas populares, os mais elementares direitos do cidadão e do trabalhador, tudo é violentamente eliminado pelos governantes que avançam como feras brutas no cami-nho do fascismo, da ditadura aberta, da completa entrega do país aos monopólios americanos, da submissão total à política totalitária e guerreira do Departamento de Estado norte-americano.

Avança no país a reação fascista que se torna cada dia mais brutal e sanguinária. Cresce o número de per-seguidos políticos e nos cárceres da reação são barbara-mente espancados, torturados, ensandecidos e assassina-dos os melhores filhos do povo, todos aqueles que não se conformam com a colonização do Brasil, que aspiram por uma pátria livre e que lutam pela paz contra o crime de

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mais uma guerra imperialista.O caminho do crime, iniciado com a chacina do Largo

da Carioca em 1946, ganha o país inteiro e passa à prática generalizada de todos os governantes por mais diversos que sejam os títulos ou legendas dos partidos políticos que os elegeram. A polícia udenista do Ceará, de mãos dadas com os bandidos integralistas, fuzila em plena rua a Jaime Calado o bravo anti-fascista e jornalista do povo, como os facínoras de Adroaldo Lima Câmara matam à Zélia Maga-lhães em plena Capital da República. O assassino Ademar de Barros, o novo aliado do tirano Vargas e patrono de sua candidatura, esmera-se no assalto de Tupã, onde caem ví-timas do ódio das classes dominantes aos camponeses que lutam pela paz , pela terra os três heróis de nosso povo — Pedro Godoi, Afonso Marma e Miguel Rossi. Já a 1.º de Maio, é na cidade do Rio Grande que o sr. Jobim manda atirar contra o povo, e mais de uma dezena de operários homens e mulheres, caem mortos ou feridos sob as balas assassinas dos policiais do governo pessedista. É o terror sangrento contra a classe operária.

É esta a política do governo Dutra e de todos os que o apóiam inclusive aqueles que, hoje, em vésperas de elei-ções, fingem uma posição em palavras para mais uma vez enganar o povo e facilitar assim a marcha para o fascismo e para a guerra e a defesa de seus interessei de exploradores desalmados.

As classes dominantes utilizam-se também da reação policial para enfrentar a situação de miséria crescente em que se debate o nosso povo. Com o terror fascista procuram os dominadores descarregar sobre as grandes massas traba-lhadoras todo o peso da crise crônica de nossa agricultura e da crise industrial de superprodução que já se anuncia com os estoques que se avolumam e o desemprego que aumenta. A política de inflação crescente, em benefício dos grandes

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capitalistas e dos negocistas do governo, determina o enca-recimento do custo de vida a um ritmo cada vez mais acele-rado e a conseqüente baixa catastrófica do salário real que já é de fome para as mais amplas massas trabalhadoras, desde operários e camponeses até as camadas médias que já se encontram em rápido processo de pauperização. Além dis-so, a política de preparação para a guerra determina gastos cada vez maiores, que já representam mais de 50 por cento do orçamento federal, cuja bancarrota a ninguém mais é possível ocultar, apesar dos impostos indiretos que cres-cem no país inteiro.

Marchamos assim para o aniquilamento físico pela fome, pela tuberculose que mata em proporções nunca vis-tas e ameaça a vida de nossos filhos, pelas endemias que de-vastam as populações sub-alimentadas do país inteiro. As crianças nascem para morrer antes de completar o primeiro ano de vida, em proporção que atinge, em muitas regiões do país, a 50 por cento e mesmo mais. Nas grandes cidades, a maioria da população é obrigada a viver amontoada, quase ao relento, na promiscuidade imunda das favelas e cortiços, porque as casas são cada vez mais um privilégio dos ricos, como privilégio dos ricos já é igualmente a instrução, mes-mo a primária mais elementar.

E esta situação de fome e desolação, só comparável à de países devastados pela guerra, ameaça agravar-se ainda mais e assumir proporções de catástrofe com a crise econô-mica que avança nos Estados Unidos, tão grande é a depen-dência em que o atual governo já colocou a economia do país como complementar e caudatária da economia norte-ameri-cana.

É neste ambiente de miséria e de fome, de terror po-licial, de pregação aberta para a guerra imperialista que se inicia no país a campanha política para as eleições gerais de 3 de Outubro. Os mesmos políticos que estiveram sempre

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unidos contra o povo, que sempre apoiaram a política de traição nacional de Dutra, os mesmos politiqueiros agora do acordo interpartidário e da cassarão de mandatos acentu-am agora diante das massas populares suas divergências e formam em bandos aparentemente contrários e irreconciliá-veis. Muitos deles fingem agora de oposicionistas. Os papéis são assim distribuídos para a nova farsa que visa engatar o povo e arrastá-lo atrás do «salvador», do novo Dutra, para que este possa, mais facilmente que o atual, prosseguir no caminho da venda do país ao imperialismo e da preparação acelerada para a guerra. Mas, diante do povo que luta contra a miséria, contra a colonização do país, que manifesta com vigor cada dia maior seu ódio aos atuais dominadores, que quer paz e já se levanta contra os vendilhões da pátria e os provocadores de guerra, diante do povo que luta, os politi-queiros vacilam ainda entre o golpe de Estado, entre a subs-tituição violenta de Dutra por um outro general qualquer e a realização de eleições em regime ditatorial, sem liberdade de imprensa, sem direito de reunião, sem direito de associa-ção política para a classe operária. Incapazes de encontrar qualquer solução para a situação a que já chegou o país, com medo crescente do povo, e divididos na defesa de seus inte-resses egoístas e vorazes, lutam pelas posições, pela posse do Tesouro e do Banco do Brasil, pelos governos estaduais e municipais, sempre com o mesmo objetivo de consolidar sua dominação de classe e prosseguir na venda do país aos monopólios anglo-americanos.

Sob o jugo imperialista, como nos encontramos, nem eleições nem golpes de Estado «salvadores» poderão modi-ficar a situação. O que pretendem as classes dominantes é substituir Dutra por outro Dutra, Seja ele um sr. Cristiano Machado, o politiqueiro do P. S. D., que espera ser eleito com a força do governo e que proclama por isso, às escancaras, sem um mínimo de pudor patriótico, sua fidelidade à polí-

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tica de traição nacional do sr. Dutra, ou seja o sr. Eduardo Gomes, que sempre silenciou diante de todos os crimes da ditadura, o mesmo Brigadeiro que defende a entrega do pe-tróleo à Standard Oil, que se alia cinicamente aos traidores do nazi-integralismo e que, inimigo da paz e do progresso, inimigo do povo que despreza, já defende com servilismo a guerra de Truman na Coréia e a total entrega de nossas forças armadas ao comando norte-americano. Nessa compe-tição resta ainda o candidato do facínora Ademar de Barros e é fácil de imaginar o que significaria a volta ao poder do velho tirano, do latifundiário Getulio Vargas, pai dos tuba-rões dos lucros extraordinários, que já demonstrou em quin-ze anos de governo seu ódio ao povo e sua vocação para o fascismo e para o terror sangrento contra o povo.

É evidente, pois, que qualquer que seja a saída que possam tentar neste momento, as classes dominantes se en-caminham para a liquidação dos últimos vestígios de liber-dade, para a mais sangrenta repressão contra o povo, para a ditadura fascista. É o caminho da entrega completa do país aos monopólios anglo-americanos e da preparação acele-rada para a guerra imperialista. E desta forma agravam-se todas as causas da miséria e do atraso em que se debate o nosso povo e que estão fundamentalmente na estrutura arcaica de nossa economia, na miséria da renda nacional, nos restos feudais e no monopólio da terra que impedem a ampliação do mercado interno e o desenvolvimento da indústria, nacional.

Mas, para os senhores das classes dominantes — os grandes comerciantes e industriais, os banqueiros e latifun-diários — não há outra saída para os problemas brasileiros senão através dessa submissão crescente ao dominador ame-ricano e, quando pedem dólares, pedem também a interven-ção estrangeira no país, na esperança de conseguirem assim prolongar sua dominação sobre o povo, impedir que se re-

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alizem as profundas modificações já inadiáveis e indispen-sáveis ao livre desenvolvimento econômico, social e políti-co de nossa pátria. Classes caducas e impotentes, incapazes de resolver qualquer problema nacional, de tirar o país do atraso crônico em que perece, passam todos esses senhores, com seus políticos e governantes, à traição aberta, e lançam--se com fúria e desespero contra os patriotas que lutam pelo progresso e a independência do Brasil.

Nosso povo enfrenta assim um dilema que se torna cada mais agudo e evidente. A paz ou a guerra, a indepen-dência ou a colonizarão total, a liberdade ou o terror fascista, o progresso ou a miséria e a fome para as grandes massas trabalhadoras. Ou o povo toma os destinos da nação em suas próprias mãos para resolver de maneira prática e deci-siva seus problemas fundamentais, ou submete-se à reação fascista, à crescente dominação do imperialismo ianque, à ignomínia da pior escravidão que o levará à mais infame de todas as guerras.

São duas políticas que se defrontam, num antagonis-mo que se torna dia a dia mais claro para todos, que não ad-mite uma terceira posição e que obriga a todos, seja qual for sua posição social, sua crença religiosa ou opinião política a se definir num ou noutro sentido. De um lado, o sr. Dutra, com a sua maioria parlamentar, com os latifundiários e gran-des capitalistas que o apóiam, com os dirigentes de todos os partidos políticos das classes dominantes, que quer a guerra, a colonização, o terror e a fome para o povo. De outro, as grandes massas trabalhadoras, operários e camponeses, os intelectuais honestos que não se prostituem aos opressores estrangeiros ou a seus agentes no pais, o funcionalismo po-bre civil e militar, os estudantes, os pequenos comerciantes e industriais, a maioria esmagadora de nosso povo enfim, que luta contra a miséria, que quer paz e liberdade que luta pela independência da pátria do jugo imperialista.

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É o povo que luta porque não está disposto a ser redu-zido à condição de escravo. Diante da violência dos domina-dores, a violência das massas é inevitável e necessária, é um direito sagrado e o dever inelutável de todos os patriotas. É o caminho da luta e da ação, o caminho da revolução.

Este o caminho do povo que nos últimos anos em ár-duas lutas já demonstrou sua imensa vontade de paz, que desperta, e já começa a mostrar aos provocadores de guerra que não se deixará arrastar em suas aventuras criminosas, que não trabalhará para a guerra, nem admitirá que o san-gue de nossa juventude seja derramado em benefício dos banqueiros anglo-americanos, nem jamais participará de qualquer guerra de agressão, muito especialmente contra a União Soviética, baluarte da paz e do socialismo, para o qual se voltam cheios de esperança os povos oprimidos do mun-do inteiro.

Nosso povo saberá honrar suas gloriosas tradições e lutará agora pela paz e a independência da pátria com a mesma bravura com que soube lutar em todos os mo-mentos decisivos de nossa história, com que lutou contra a dominação portuguesa e contra todos os invasores estran-geiros, com que sempre lutou pela liberdade contra todos os tiranos. Em cada região do pais continua viva no cora-ção do povo, das grandes massas sofredoras, a memória de seus mártires e heróis, de Tiradentes a Frei Caneca, dos cabanos, dos farrapos e dos balaios, dos jovens soldados e alfaiates de 1798, dos heróis pernambucanos de 1817 e 1824, dos negros que lutaram durante séculos contra a es-cravidão, como vivem os exemplos mais recentes de todos aqueles que tombaram na luta contra o integralismo, dos heróicos lutadores de 1935, dos que morreram nos cárceres getulistas e dos bravos da FEB que combateram na Europa para ajudar com o sacrifício de suas jovens vidas a libertar o mundo da escravidão nazista.

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Nós, comunistas, não vacilamos — sempre lutamos pela libertação nacional, contra o jugo do opressor estran-geiro, pelo progresso do Brasil. Nenhuma reação conseguiu quebrar nossa vontade de luta, e hoje, apesar da brutalidade de todas as perseguições, lutamos com energia redobrada pelos mesmos objetivos, convencidos de que, nas condições atuais do mundo e do país, nunca foram tão grandes como agora os fatores favoráveis ao sucesso de nosso povo na sua luta pela independência nacional e pelo progresso social.

E é justamente por isso que, hoje, mais uma vez, nos dirigimos a todos vós, democratas e patriotas e, diante dos perigos que ameaçam os destinos da nação, apresentamos a única solução viável e progressista dos problemas bra-sileiros — a solução revolucionária — que pode e há de ser realizada pela ação unida do próprio povo com a classe operaria à frente.

É este o caminho da independência e do progresso, da e da paz. Precisamos libertar o país do jugo imperialista e por abaixo a ditadura de latifundiários e grandes capitalistas, substituir o governo da traição, da guerra e do terror contra o povo pelo governo efetivamente democrático e popular. Para isso, é indispensável liquidar as bases econômicas da reação, o que significa a confiscação das empresas imperia-listas e dos grandes monopólios estrangeiros e nacionais, a nacionalização dos bancos, dos serviços públicos, das minas, das quedas d’água, e, igualmente, a confiscação das grandes propriedades latifundiárias que devem passar gratuitamen-te para as mãos dos que nelas vivem e trabalham. Só um governo da democracia popular, um governo do bloco de todas as classes e camadas sociais que lutem efetivamente pela libertação nacional sob a direção do proletariado, será capas de garantir no país um regime de liberdade para o povo e de impulsionar o desenvolvimento independente da economia nacional, de assegurar a marcha rápida no cami-

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nho do progresso, da melhoria efetiva das condições de vida das grandes massas trabalhadoras, dar saúde e instrução para o povo, igualdade econômica e jurídica para a mulher, deslocar, enfim, o país do campo da reação e da guerra para o campo da paz e da democracia e do socialismo.

Este o caminho revolucionário que apresentamos e propomos a todos os compatriotas, que não querem ser escravos, que não estão dispostos a aceitar a submissão ao terror fascista, a todos que almejam o progresso do Brasil, que querem ver o nosso povo livre do atraso, da miséria, da ignorância em que até agora vegeta.

Neste momento de tanta gravidade para a vida e o futuro de nosso povo, o que precisamos fazer, todos os patriotas e democratas, é unir nossas forças e lutar para impor a vontade do povo, derrotar a política de traição nacional de Dutra e fazer triunfar a política oposta, a po-lítica do povo. O caminho não será fácil, exigirá duros combates. É necessário lutar com energia e audácia e não perder tempo, não permitir que a reação prossiga sem maior resistência de nossa parte, não permitir que conti-nue a venda do país ao imperialismo, nem que a ditadura dê novos passos no caminho da preparação para a guerra e da implantação do terror fascista no país.

Para realizar esta tarefa histórica, saibamos organizar e unir nossas forças em ampla FRENTE DEMOCRÁTICA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL, organização de luta e de ação em defesa do povo, com raízes nas fábricas e nas fa-zendas, nas escolas e repartições pública nos quartéis e nos navios, em todos os locais de trabalho, enfim, no bairros das grandes cidades e nas aldeias e povoados.

É indispensável e urgente unir e organizar as forças do povo em amplos comitês da FRENTE DEMOCRÁTICA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL nos locais de trabalho e de residência. Nesse grande esforço de organização e unificação

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popular cabe ao proletariado um papel dirigente e funda-mental. Mas a classe operária precisa simultaneamente, or-ganizar-se e unificar suas próprias forças para que constituir a grande força motriz capaz de mobilizar e dirigir as demais camadas populares na grande luta pela libertação nacional do jugo imperialista e pela conquista da democracia popular.

É através da luta diária, da ação e do trabalho pertinaz, que conseguiremos organizar o povo para essa grande bata-lha. É nessa luta diária, pelas reivindicações mais imediatas e sensíveis, sempre em íntima ligação com a luta pela paz e pela independência nacional, que se reforçará e ampliará no país inteiro a FRENTE DEMOCRÁTICA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL.

Unamo-nos, todos, democratas e patriotas, acima de quaisquer diferenças de crenças religiosas, de pontos de vista políticos e filosóficos homens e mulheres, jovens e ve-lhos, operários, camponeses, intelectuais pobres, pequenos funcionários, comerciantes e industriais, soldados e mari-nheiros, oficiais das forças armadas, em ampla FRENTE DE-MOCRÁTICA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL para a ação e para a luta com o seguinte programa:

PROGRAMA

1 — POR UM GOVERNO DEMOCRÁTICO E POPULAR

— Substituição da atual ditadura feudal-burguesa, serviçal do imperialismo, por um governo revolucionário, emanação direta do povo e legítimo representante do bloco de todas as classes e camadas sociais1, de todos os setores da população do país que participem efetivamente da luta revolucionária pela libertação nacional do jugo imperialista, sob a direção do proletariado.

2 — PELA PAZ E CONTRA A GUERRA IMPERIALISTA

— Interdição absoluta da arma atômica, rigoroso controle internacional dessa interdição e condenação como

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criminoso de guerra do governo que primeiro utilizar essa arma de agressão e extermínio em massa. Luta efetiva pela paz, contra os provocadores de guerra e todas as medidas de preparação guerreira. Contra a política reacionária e guer-reira do governo norte-americano, por uma política de paz e de luta efetiva pela paz no mundo inteiro e de apoio à luta anti-imperialista e de libertação nacional de todos os povos. Contra o Tratado do Rio de Janeiro e todos os demais tratados internacionais de guerra. Contra qualquer concessão de bases militares em nosso solo ao governo norte-americano. Imedia-to estabelecimento de relações comerciais e diplomáticas com a União Soviética, com a China Popular, com a Alemanha De-mocrática e todos os povos amantes da paz.

3 — PELA IMEDIATA LIBERTAÇÃO DO BRASIL DO JUGO IM-

PERIALISTA

— Confiscação e imediata nacionalização de todos os bancos, empresas industriais, de serviços públicos, de trans-porte, de energia elétrica, minas, plantações etc., pertencen-tes ao imperialismo. Imediata anulação da divida externa do Estado e denuncia de todos os acordos e tratados lesivos aos interesses da nação. Imediata expulsão do território nacional de todas as missões militares ianques, de todos os técnicos, agentes e espiões norte-americanos, como de todos os desta-camentos militares ianques que ocupam nossa terra.

4 — PELA ENTREGA DA TERRA A QUEM A TRABALHA

— Confiscação das grandes propriedades latifundiá-rias com todos os bens móveis e imóveis nelas existentes, sem indenização, e imediata entrega gratuita da terra, má-quinas, ferramentas, animais, veículos, etc., aos camponeses sem terra ou possuidores de pouca terra e a todos os demais trabalhadores agrícolas que queiram se dedicar à agricultu-ra. Abolição de todas as formas semi-feudais de exploração da terra, abolição da «meia», da «terça», etc., abolição do vale e obrigação de pagamento em dinheiro a todos os traba-

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lhadores. Imediata anulação de todas as dívidas dos campo-neses para com o Estado, bancos, fazendeiros, comerciantes e usurários.

5 — PELO DESENVOLVIMENTO INDEPENDENTE DA ECONO-

MIA NACIONAL

— Completa nacionalização das minas, das quedas d’água e de todos os serviços públicos. Nacionalização dos bancos e empresas de seguro, assim como de todas as gran-des empresas industriais e comerciais de caráter monopo-lista ou que exerçam influência preponderante na economia nacional, com ou sem indenização, conforme a posição de seus proprietários na luta pela libertação nacional do jugo imperialista. Controle estatal do comércio externo, controle dos lucros dos grandes capitalistas, abolição dos impostos indiretos e instituição do imposto fortemente progressivo sobre a renda e ampla liberdade para o comercie interno. Ajuda estatal técnica e financeira para o cultivo da terra, es-tímulo ao cooperativismo e garantia de preço mínimo para a produção dos pequenos agricultores.

6 — PELAS LIBERDADES DEMOCRÁTICAS PARA O POVO

— Efetiva liberdade de manifestação do pensamento, de imprensa, de reunião, de associação, de organização sin-dical, etc. Direito de voto para todos os homens e mulheres maiores de 18 anos inclusive analfabetos, soldados e mari-nheiros. Abolição de todas as desigualdades econômicas e jurídicas que ainda pesam sobre a mulher. Completa sepa-ração da Igreja do Estado e ampla liberdade para, a prática de todos os cultos. Abolição de todas as discriminações de raças, cor, religião, nacionalidade, etc. Ajuda e proteção es-pecial aos indígenas, defesa de suas terras e estímulo à sua organização livre e autônoma. Justiça rápida e efetivamente gratuita com juízes e tribunais eleitos pelo povo.

7 — PELO IMEDIATO MELHORAMENTO DAS CONDIÇÕES DE

VIDA DAS MASSAS TRABALHADORAS

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— Aumento geral dos salários inclusive, do salário mínimo familiar, que devem ser colocados no nível já atin-gido pelo custo da vida. Escala móvel de salários. Salário igual para igual trabalho, para homens, mulheres e menores. Abolição imediata da assiduidade de cem por cento. Apo-sentadorias e pensões que satisfaçam as necessidades vitais dos trabalhadores e suas famílias, e ajuda aos desemprega-dos. Democratização da legislação social, sua ampliação e extensão aos assalariados agrícolas. Assistência social custe-ada pelo patrão e pelo Estado. Fiscalização dos direitos dos trabalhadores, bem como a administração da assistência so-cial, entregue aos próprios trabalhadores por intermédio de seus sindicatos. Imediata melhoria da situação econômica dos soldados e marinheiros.

8 — INSTRUÇÃO E CULTURA PARA O POVO

— Ensino gratuito para todas as crianças entre 7 e 14 anos de idade e redução de todas as taxas e impostos que pe-sem sobre a instrução secundária e superior. Trabalho para a juventude que termina seus estudos. Apoio e estímulo à atividade científica e artística de caráter democrático.

9 — POR UM EXÉRCITO POPULAR DE LIBERTAÇÃO NACIONAL

— Expulsão das forças armadas de todos os fascistas e agentes do imperialismo e imediata reintegração em suas fileiras dos militares delas afastados por motivo de sua atividade democrática e revolucionária. Livre acesso das praças de pré ao oficialato e suas respectivas corporações. Armamento geral do povo e reorganização democrática das forças armadas na luta pela libertação nacional e para a defesa da nação contra os ataques do imperialismo e de seus agentes no país.

A maioria esmagadora da nação não pode deixar de concordar com este programa revolucionário, de luta con-creta e ação imediata, que sintetiza as aspirações de todos e que oferece a todos os verdadeiros democratas e sinceros

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patriotas uma perspectiva de liberdade, de paz, de indepen-dência e progresso para o Brasil.

Saibamos levar esse programa às mais amplas mas-sas da população do país. Através da imprensa do povo, em comícios e assembléias populares, saibamos abrir a mais ampla discussão em torno de seu conteúdo precisa ser co-nhecido de todos os brasileiros. Mas é fundamentalmente através da luta pelas diversas reivindicações nele contidas que o programa se tornará conhecido do povo, ganhará as massas e transformar-se-á na grande bandeira e na força po-derosa capaz de libertar o país do jugo imperialista. Nesse processo, organizando para lutar e aproveitando a luta para organizar, unificar-se-ão as forças populares e rapidamente crescerá e estruturar-se-á, a partir das organizações de base, a grande e poderosa FRENTE DEMOCRÁTICA DE LIBER-TAÇÃO NACIONAL.

As diferenças de crenças religiosas, de pontos de vista políticos e filosóficos não podem impedir a união de todos os democratas e patriotas em torno desse programa democráti-co de libertação nacional. Os esforços que fazem os agentes do imperialismo, assim como particularmente o Vaticano e a alta hierarquia da Igreja católica, para dividir nosso povo e arrastar, especialmente os católicos, na luta contra o proleta-riado mais consciente e revolucionário, contra os comunistas em particular, não pode ter sucesso, porque nem as calúnias do anti-comunismo, nem a exploração dos sentimentos re-ligiosos do povo poderão impedir que os democratas e pa-triotas participem da luta pela paz e libertação da pátria do jugo imperialista, que marchem conosco contra os traidores nacionais e os provocadores de guerra.

Chamamos a todos os trabalhadores das cidades e do campo, manuais e intelectuais, homens e mulheres, para a ação e para a luta esse programa revolucionário e a todos convocamos para organizarem, sem perda de tempo, no país

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inteiro, amplos COMITÊS DEMOCRÁTICOS DE LIBERTA-ÇÃO NACIONAL.

Dirigimo-nos a todas as personalidades de prestigio popular, aos dirigentes políticos efetivamente democráti-cos, aos intelectuais antifascistas e anti-imperialistas, aos verdadeiros lideres populares, e, a todos eles convocamos para que venham participar da FRENTE DEMOCRÁTICA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL e lutar pelo seu programa. Dirigimo-nos igualmente a todas as organizações operárias, as organizações de camponeses, de mulheres, de jovens, a todas as organizações populares e democráticas de qualquer caráter, e apelamos para que venham organizadamente en-grossar as fileiras nacional-libertadoras, aderindo à FRENTE DEMOCRÁTICA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL e partici-pando ativamente da luta pela vitória de seu programa.

Avançamos com coragem e audácia no caminho das lutas revolucionárias de massa. É este o caminho que de nós exigem os superiores interesses nacionais. À medida que se agrava a situação do país e aumenta o perigo de guerra no mundo inteiro, aumentam a radicalização e a combativida-de das massas trabalhadoras. À frente delas não devemos recear as formas de luta mais altas e vigorosas, inclusive os choques violentos com as forças da reação e os combates parciais que nos levarão à luta vitoriosa pelo Poder e à liber-tação nacional do jugo imperialista.

Diante da campanha eleitoral em andamento e das ameaças, que não cessam, de golpes de Estado, o que preci-samos fazer é acelerar a organização de nosso povo, desen-cadear lutas de massas, greves, demonstrações, etc., e inten-sificar, através das lutas parciais, a mobilização popular para a grande luta pela libertação nacional. O voto é um direito do povo que reclamamos. Já vimos como a justiça eleitoral e o parlamento, instrumentos servis das classes dominantes, atentam contra os mandatos dos verdadeiros representantes

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do povo, mas lutemos para conquistar tribunas parlamenta-res que devemos utilizar de maneira revolucionária. Saiba-mos utilizar a oportunidade para desmascarar sistematica-mente os demagogos agentes da reação e do imperialismo e só votemos nos melhores filhos do povo que participem ativamente da grande luta pela paz e a libertação nacional, naqueles que sejam capazes, nos postos eletivos a que forem alçados de prosseguirem com energia redobrada a luta pela vitória revolucionária do programa da FRENTE DEMO-CRÁTICA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL.

Mas o essencial é saber aproveitar a atual campanha eleitoral para organizar o povo, esclarecê-lo, alertá-lo diante dos perigos que o ameaçam e levá-lo à luta. Só assim estare-mos preparados para enfrentar a eventualidade dos golpes «salvadores», que exigem resposta imediata das massas. Só à frente das massas e com a força das massas organizadas estaremos em condições de transformar os golpes de Estado reacionários, que visam a implantação imediata e brutal do fascismo em nossa terra, em luta armada pela libertação na-cional, contra a ditadura terrorista, pela vitória da revolução e a conquista da democracia popular.

CONCIDADÃOS! TRABALHADORES!

NÃO VOS deixeis esfomear e massacrar sem luta; não vos deixeis arrastar como gado de corte para a carnificina de uma nova guerra imperialista! Nas condições atuais, o es-sencial é lutar, não capitular diante das dificuldades, não te-mer que as lutas mais elementares se desenvolvam e levem aos combates parciais. Lutai com firmeza contra a ditadura policial e terrorista de Dutra, por um governo democrático popular que liberte o país do jugo imperialista! A luta con-tra a guerra e o imperialismo ê fundamentalmente uma luta pela derrocada das atuais classes dominantes, uma luta pelo Poder, que, quando alcançado, mesmo transitoriamente ou em âmbito restrito, deve sempre servir para mostrar às mas-

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sas populares o que lhes pode dar o governo democrático popular — especialmente, pão, terra e liberdade.

COMPATRIOTAS!

Lutai em defesa da paz! Exijamos a interdição absolu-ta da arma atômica. Que milhões de brasileiros subscrevam o Apelo de Estocolmo e imponham sua vontade contra o emprego da bomba atômica, arma de terror e de extermínio em massa.

OPERÁRIOS!

Organizai vossas forças nos locais de trabalho e uni-ficai vossas fileiras em âmbito local, regional e nacional. Lu-tai contra a carestia da vida, por maiores salários, contra a assiduidade de 100 por cento, que diminui arbitrária e bru-talmente os salários. Vossas mulheres e filhos não podem morrer de fome para que enriqueçam os patrões e o governo consiga dinheiro para a guerra. Defendei na prática o direito de greve e lutai pelas liberdades civis, pela liberdade sindi-cal, contra o roubo do imposto sindical que engorda os trai-dores da classe operária. Lutai pela paz e a independência nacional!

TRABALHADORES DO CAMPO!

Assalariados, peões, meeiros, parceiros, colonos, ar-rendatários, trabalhadores do eito! Organizai-vos nas fazen-das e nas aldeias. Lutai pelos vossos interesses econômicos, Por maiores salários, pelo pagamento do salário em dinheiro e quinzenalmente, contra o vale e os preços extorsivos do armazém ou barracão. Lutai pela completa liberdade de or-ganização e de locomoção dentro do latifúndio, contra a ex-pulsão da terra, pelo direito de prorrogação de todos os con-tratos, por uma menor taxa de arrendamento, pela liberdade para a venda no mercado de toda a produção. Lutai contra a guerra imperialista, em defesa da paz e pela posse da terra; por um governo democrático popular que vos ajude a tomar a terra dos latifundiários e a distribuí-la sem indenização en-

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tre os trabalhadores do campo. MULHERES DO BRASIL!

Sois as primeiras e as maiores vitimas da guerra e do terror fascista. Operárias e camponesas, donas de casa, mães e esposas! Sois vós que primeiro sentis as agruras produzi-das pela fome em vossos lares. Com vossa tradicional cora-gem e decisão impedi o crime de mais uma guerra imperia-lista! Organizai-vos para a luta contra a fome e a carestia da vida. A libertação nacional do jugo imperialista exige vossa participação ativa — é a bandeira por que já tombaram Zélia e Angelina, e que continua em vossas mãos.

JOVENS TRABALHADORES E ESTUDANTES!

Lutai pela vida,contra o crime de mais uma guerra imperialista. Lutai por um Brasil livre e progressista, que vos possa assegurar um futuro melhor, diferente da dura realidade atual. Depende muito de vós, do vosso patriotis-mo generoso e audaz, da vossa energia e capacidade de luta, do vosso espírito de organização, do vosso esforço no sen-tido de levantar e unir toda a juventude brasileira contra a mais infame de todas as guerras, está em vossas mãos o futuro do Brasil e o destino de seu povo. Lutai pelo progresso social, lutando pela democracia de verdade, sem latifundiários e tubarões capitalistas e seus políticos venais. Lutai pela independência nacional do jugo impe-rialista, como única maneira que efetivamente nos resta para livrar o país da guerra imperialista e do terror fas-cista que já ameaçam o nosso povo.

SOLDADOS E MARINHEIROS!

Os operários e camponeses são vossos irmãos — não vos presteis a instrumento de um governo de traição nacio-nal que manda atirar no povo para poder mais facilmente entregar o Brasil aos imperialistas. Lutai dentro do quartel e do navio contra as brutalidades e as perseguições, contra a disciplina fascista, pelo direito de reunião e de discussão

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de vossos problemas, pelo direito a melhor alimentação, por um soldo que vos permita uma vida digna. Lutai pelo go-verno democrático popular que vos assegurará o direito à instrução e ao livre acesso ao oficialato do Exército Popular de Libertação Nacional. Lutai contra a guerra imperialista e não participeis como instrumento dos generais fascistas na perseguição e na ação terrorista contra os filhos do povo que estão lutando pela independência do Brasil.

COMPATRIOTAS!

Exijamos a imediata denúncia do Tratado do Rio de Janeiro, da Carta de Bogotá e demais compromissos do pan--americanismo reacionário, em que se baseia a ditadura para tentar arrastar nosso povo nas aventuras guerreiras do im-perialismo americano. Exijamos a imediata anulação de to-das as concessões e de todos os acordos internacionais lesi-vos aos interesses da nação.

Lutemos pela expulsão imediata do território nacio-nal de todas as missões militares ianques, assim como de todos os destacamentos militares ianques que ocupam nossa terra e ofendem nossa soberania, saiam do Brasil esses intru-sos e criminosos e todos os agentes, técnicos, especialistas, policiais e espiões norte-americanos que nos querem reduzir à condição infame de povo colonizado e escravo.

Lutemos pela paz contra qualquer participação na criminosa intervenção guerreira de Truman na Coréia e na China. Nada, mas absolutamente nada para a guerra impe-rialista! Nenhum soldado do Brasil para ajudar a agressão americana na Coréia. A luta dos povos asiáticos contra o imperialismo é parte integrante de nossa própria luta pela independência do Brasil do jugo imperialista. Que os norte--americanos saiam imediatamente da Coréia.

Lutemos pela liberdade e a democracia! Contra a Lei de Segurança! Contra o terror policial, exijamos a punição dos assassinos do povo! Abaixo a ditadura sanguinária de

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Dutra, por um governo democrático popular! Viva a União Soviética e os povos que lutam pela paz! Viva a união dos povos da América Latina livres do

jugo do imperialismo norte-americano! Viva a união do povo brasileiro e sua organização de

luta — a FRENTE DEMOCRÁTICA DE LIBERTAÇÃO NA-CIONAL!

“Viva o Brasil livre, independente e progressista! L U I Z C A R L O S P R E S T E S

(Pelo Comitê Nacional do Partido Comunista do Brasil) Rio, 1º de Agosto de 1950

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DECLARAÇÃO SOBRE A POLÍTICA DO PCBCOMITÊ CENTRAL DO PARTIDO

COMUNISTA DO BRASILMARÇO DE 1958

PRIMEIRA EDIÇÃO: declaração sobre a política do pcb voz operária,

22-03-1958. FONTE: http://www.Marxists.Org/portugues/temati-

ca/1958/03/pcb.Htm TRANSCRIÇÃO: Daniel Domigues Monteiro HTML:

fernando a. S. Araújo. DIREITOS DE REPRODUÇÃO: a cópia ou distribui-

ção deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos

da gnu free documentation license.

O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO BRASIL

MODIFICAÇÕES IMPORTANTES têm ocorrido, du-rante as últimas décadas, na estrutura econômica que o Brasil herdou do passado, definida pelas

seguintes características: agricultura baseada no latifúndio e nas relações pré-capitalistas de trabalho, predomínio ma-ciço da produção agropecuária no conjunto da produção, exportação de produtos agrícolas como eixo de toda a vida econômica, dependência da economia nacional em relação ao estrangeiro, através do comércio exterior e da penetra-ção do capital monopolista nos postos-chave da produção e da circulação.

Nos quadros desta estrutura atrasada, foi-se proces-sando um desenvolvimento capitalista nacional, que cons-titui o elemento progressista por excelência da economia brasileira. Este desenvolvimento inelutável do capitalismo consiste no incremento das forças produtivas e na expansão, na base material da sociedade, de novas relações de produ-ção, mais avançadas.

Por sua própria natureza e ainda por se chocar com

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a resistência de elementos econômicos atrasados e sofrer a pressão do imperialismo, o desenvolvimento capitalista na-cional vem-se realizando num ritmo bastante desigual, se bem que tenha se acelerado nos últimos vinte anos.

O desenvolvimento capitalista nacional já trouxe re-sultados que modificaram sensivelmente a vida econômica e social do país. Assim é que foi construído no Brasil um parque industrial, que abastece o mercado interno da qua-se totalidade de artigos de consumo comum. A indústria de meios de produção elevou a sua participação de 20 a 33% no conjunto da produção industrial, entre os anos 1939 a 1956. Num prazo relativamente breve, de 1944 a 1956, o volume físico da produção industrial total foi duplicado. Surgiu e se fortaleceu no setor da indústria pesada um capitalismo de Estado de caráter nacional e progressista, que abrange em-presas poderosas como a Petrobrás e a Companhia Siderúr-gica Nacional. Embora mais lentamente, também na agricul-tura vem-se desenvolvendo o capitalismo, que se traduz no crescimento do número de assalariados e semi-assalariados, bem como na multiplicação da quantidade de máquinas e instrumentos agrários. Ampliou-se de modo acentuado o mercado interno, sendo que o volume do comércio de cabo-tagem entre 1921 e 1955 aumentou de cinco vezes.

Em conseqüência do desenvolvimento capitalista, cresceram os efetivos do proletariado industrial e aumen-tou o seu peso específico no conjunto da população. En-quanto esta duplicou de 1920 até hoje, o número de operá-rios industriais aumentou de sete vezes no mesmo período, passando de 275.000 a cerca de dois milhões. Simultanea-mente surgiu e se fortaleceu cada vez mais uma burguesia interessada no desenvolvimento independente e progres-sista da economia do país.

O desenvolvimento capitalista, entretanto, não con-seguiu eliminar os fatores negativos, que determinam as

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características do Brasil como país subdesenvolvido. Ao tempo em que se incrementam as forças produtivas e pro-gridem as novas relações de produção capitalistas, conser-vam-se em vastas áreas as relações atrasadas e permanece a dependência diante do imperialismo, particularmente o norte-americano.

Com a penetração do capitalismo na agricultura, com-binam-se, em proporção variável, os métodos capitalistas à conservação do monopólio da terra e das velhas relações se-mifeudais, o que permite um grau mais elevado de explo-ração dos trabalhadores do campo. O Brasil continua a ser um país de grande concentração latifundiária: em 1950, os estabelecimentos agrícolas com 500 hectares e mais constitu-íam 3,4% do número total de estabelecimentos e abrangiam 62,3% de toda a área ocupada. As sobrevívências feudais obstaculizam o progresso da agricultura, que se realiza, em geral, lentamente, mantêm o baixíssimo nível de vida das massas camponesas e restringem de modo considerável as possibilidades de expansão do mercado interno. As sobrevi-vências feudais são um dos fatores que acentuam a extrema desigualdade de desenvolvimento das diferentes regiões do país, especialmente entre o sul e parte do leste, que se indus-trializam, e o resto do país, quase inteiramente agrário.

Apesar de detida sua penetração em algumas impor-tantes esferas da economia brasileira, o imperialismo con-tinua a dominar posições-chave em ramos fundamentais. Esta penetração é realizada em elevado grau, sobretudo pe-los monopólios norte-americanos que, a partir da Segunda Guerra Mundial, alcançaram o predomínio absoluto sobre os seus competidores. Os investimentos diretos norte-ame-ricanos aumentaram de 193,6 milhões de dólares, em 1929, para 1.107,0 milhões de dólares em 1955. Cerca de 60% dos financiamentos estrangeiros procedem dos Estados Unidos, Mais de um terço do comércio exterior brasileiro é realizado

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com os Estados Unidos, que, além disso, dominam o merca-do internacional de nossos principais produtos de exporta-ção e podem, assim, fazer do comércio exterior um instru-mento de controle da vida econômica e política do país.

Mantendo embora o seu predomínio, o imperialismo norte-americano enfrenta no Brasil a crescente concorrência de outras potências imperialistas, principalmente da Alema-nha Ocidental e da Inglaterra.

A exploração imperialista impõe pesado tributo à na-ção, transferindo para o exterior considerável parte do valor criado pelos trabalhadores brasileiros, o que reduz, em con-seqüência, a taxa de acumulação capitalista no país, diminui o ritmo do seu progresso e influi no baixo nível de vida da sua população.

A independência política do Brasil sofre sérias restri-ções em virtude da situação de dependência econômica. À medida que a nação se desenvolve, aguça-se o seu antago-nismo com o imperialismo norteamericano. O desenvolvi-mento capitalista nacional exige cada vez mais, como seu instrumento, uma independência política completa, que se traduza numa política exterior independente e na proteção conseqüente do capital nacional contra o capital monopolis-ta estrangeiro.

Enquanto altera a velha estrutura econômica e cria uma nova e mais avançada, o desenvolvimento capitalista nacional entra em conflito com a exploração imperialista e a estrutura tradicional, arcaica e em decomposição. Este desenvolvimento se processa através de contradições, de avanços e recuos, mas é a tendência que abre caminho e se fortalece.

A DEMOCRATIZAÇÃO DA VIDA POLÍTICA NACIONAL

O desenvolvimento capitalista do país não podia dei-xar de refletir-se no caráter do Estado brasileiro, em seu re-

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gime político e na composição do governo.O Estado brasileiro atualmente representa os interes-

ses dos latifundiários, dos setores de capitalistas ligados ao imperialismo, particularmente ao norte-americano, e tam-bém da burguesia interessada no desenvolvimento inde-pendente da economia nacional. Daí surgem contradições e tipos diversos de compromisso de classe no seio do próprio Estado. Os diferentes interesses de classe reapresentados nos órgãos do Estado encontram pontos de contato e de acordo, mas, ao mesmo tempo, lutam entre si para impor determi-nados rumos à política estatal, chegando por vezes a conflito aberto, como em agosto de 1954 e em novembro de 1955.

As forças novas que crescem no seio da sociedade bra-sileira, principalmente o proletariado e a burguesia, vêm im-pondo um novo curso ao desenvolvimento político do país, com o declínio da tradicional influência conservadora dos latifundiários. Este novo curso se realiza no sentido da de-mocratização, da extensão dos direitos políticos a camadas cada vez mais amplas.

A democratização do regime político do país, que tomou impulso com os acontecimentos de 1930, não segue o seu curso em linha reta, mas, enfrentando a oposição das forças reacionárias e pró-imperialistas, sofre, em cer-tos momentos, retrocessos ou brutais interrupções, como sucedeu com o Estado Novo, com a ofensiva reacionáría de 1947 ou por ocasião do golpe de 1954. Mas o proces-so de democratização é uma tendência permanente. Por isto, pode superar quaisquer retrocessos e seguir incoer-civelmente para diante. Vem-se firmando assim, em nosso país, a legalidade democrática, que é defendida por am-plas e poderosas forças sociais.

A Constituição promulgada em 1946 encerra traços reacionários que resultaram da correlação de forças existen-te na época de sua elaboração e expressam aspectos retró-

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grados da estrutura econômico-social brasileira. Ao mesmo tempo, a Constituição consagra as liberdades democráticas e os direitos sociais das massas alcançados após a derrota mundial do nazi-fascismo e do Estado Novo em nosso país: as liberdades de expressão, inclusive de imprensa, de reu-nião e de organização, o direito de greve etc. As massas tra-balhadoras das cidades têm obtido vitórias na justa luta pela concretização de seus direitos já consolidados em lei, como a liberdade sindical, a previdência social e outros. A demo-cratização do país também influi, menos acentuadamente, nas zonas rurais, onde o despotismo dos grandes senhores de terra é obrigado a ceder terreno, conquanto ainda perdu-re. Os atentados cometidos pelos elementos reacionários do aparelho do Estado encontram a resistência cada vez mais eficiente das massas na defesa das liberdades e direitos cons-titucionais. Tudo isso explica por que, no curso da vida po-lítica recente do país, as forças nacionalistas e democráticas se colocaram ao lado da Constituição, como sucedeu a 24 de agosto de 1954 e a 11 de novembro de 1955, ao passo que as forças golpistas pró-imperialistas atentaram contra ela.

O processo de democratização se reflete no parla-mento. É verdade que os setores reacionários e entreguis-tas ainda possuem poderosas posições naquela instituição e conseguem impor decisões opostas aos interesses nacionais, a exemplo da aprovação do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, da rejeição de uma legislação social para os traba-lhadores do campo e da cassação do direito de representação parlamentar para o Partido Comunista. É igualmente inegá-vel, porém, que vem aumentando nas sucessivas legislaturas o número de parlamentares nacionalistas e democráticos, in-tegrantes dos mais variados partidos. Isto indica o aumen-to da influência da burguesia nesses partidos e a utilização do voto por grandes setores das massas, particularmente do proletariado, para apoiar uma política nacionalista e demo-

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crática. Se bem que o processo eleitoral ainda esteja submeti-do a restrições antidemocráticas, as massas têm conseguido influir na composição do parlamento e pressionando sobre ele com a ação extraparlamentar, já o levaram a adotar de-cisões positivas para a emancipação nacional, a exemplo do monopólio estatal do petróleo e da política nacionalista dos minerais atômicos.

O processo de desenvolvimento capitalista e a partici-pação da burguesia no poder do Estado se refletem também na composição do atual governo. Em decorrência da coli-gação de que surgiu, o governo do Sr. Juscelino Kubischek tomou um caráter heterogêneo, com um setor entreguista ao lado de um setor nacionalista burguês.

A composição do governo do Sr. Juscelino Kubischek é, em virtude disso, o resultado de um compromisso entre as duas alas que o integram. Este compromisso é frágil, não anula as contradições internas do governo e não impede a luta que lavra no seu seio. Apoiado nas massas, na Frente Parlamentar Nacionalista e no setor nacionalista das forças armadas, o setor nacionalista do governo tem influído para importantes decisões positivas. Disto são exemplos expressi-vos a defesa do monopólio estatal do petróleo e a manuten-ção de um clima de legalidade constitucional na vida polí-tica. Por outro lado, sob a pressão do setor entreguista e do imperialismo norte-americano, os elementos nacionalistas do governo têm sido levados a vacilações, derrotas e mesmo a graves capitulações, como foi o caso da cessão do arquipé-lago de Fernando de Noronha aos Estados Unidos.

As contradições existentes no seio do governo se ma-nifestam em todas as esferas de sua atividade.

A política exterior permanece em geral caudatária do Departamento de Estado norte-americano, mas se fortalece a pressão do setor nacionalista por importantes modifica-ções como a exigência do estabelecimento de relações com a

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União Soviética e demais países socialistas.O governo tem desenvolvido, apoiado no povo, for-

mas nacionais e progressistas de capitalismo de Estado, a exemplo da Petrobrás e de Volta Redonda. O capitalismo de Estado vem sendo um elemento progressista e antiim-perialista na política econômica do governo, mas este ain-da permite que empresas de capitalismo de Estado realizem uma política favorável ao imperialismo, como no caso dos financiamentos do BNDE ou da distribuição, pelos trustes, da energia produzida nas centrais elétricas estatais.

Enquanto toma medidas de interesse nacional, ao defender o café contra a especulação das firmas norte--americanas no mercado interno e mundial, o governo continua a propiciar inversões imperialistas à base de excepcionais privilégios, que suscitam protestos dos cír-culos mais representativos da burguesia. As medidas de reforma agrária não figuram sequer nos planos governa-mentais. A inflação e a carestia de vida continuam sendo fatores de instabilidade da economia nacional e de cres-centes dificuldades para as massas.

A política do governo do Sr. Juscelino Kubischek não atende, assim, aos interesses nacionais e às aspirações das massas populares em questões essenciais, contendo, entre-tanto, aspectos positivos de caráter nacionalista e demo-crático. À medida que os aspectos negativos da atuação do governo se tornam mais evidentes, acentua-se a luta por mo-dificações na sua composição e na sua política num sentido favorável aos interesses nacionais e populares. Esta luta é apoiada pelo setor nacionalista do próprio governo e apro-funda as suas contradições com o setor entreguista.

É na luta contra o imperialismo norte-americano e os seus agentes internos que as forças progressistas da socieda-de brasileira podem acelerar o desenvolvimento econômico independente e o processo de democratização da vida polí-

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tica do país. Para atingir este objetivo, as forças progressistas têm interesse em defender, estender e consolidar o regime de legalidade constitucional e democrática.

Crescem no mundo inteiro as forças da paz, da demo-cracia e do socialismo

Na situação do Brasil, no desenvolvimento de suas forças antí-imperialistas e democráticas, influem podero-samente as modificações essenciais verificadas na situação internacional, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial.

A característica nova e principal de nossa época, o seu conteúdo fundamental, é a transição do capitalismo ao socialismo, iniciada pela Grande Revolução Socialista de Outubro na Rússia. O socialismo ultrapassou os marcos de um só país e se transformou num sistema mundial vigoro-so e florescente, que exerce influência positiva na evolução política e social de todos os povos. São enormes os êxitos econômicos e culturais dos países socialistas, e em primeiro lugar da União Soviética, que já assumiu a vanguarda em importantes ramos da ciência e da tecnologia, marchando para superar, em breve prazo histórico, o país capitalista mais adiantado, os Estados Unidos, quanto aos índices fun-damentais da produção por habitante. Estes êxitos crescen-tes atraem para a idéia do socialismo a consciência das gran-des massas de todos os continentes. Aplicando com justeza os princípios do marxismo-leninismo às condições nacionais específicas, fortalecem-se os partidos comunistas e operários de numerosos países do mundo capitalista. O movimento comunista mundial elevou a novo nível a sua unidade. A luta da classe operária obtém grandiosas vitórias e constitui uma força decisiva na situação internacional.

Fato novo de imensa significação é o adiantado pro-cesso de desagregação do sistema colonial do imperialismo. Populações de mais de um bilhão de pessoas se libertaram do jugo colonial e alcançaram a independência política, en-

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quanto os povos ainda submetidos àquele jugo intensificam a sua luta de libertação, colocando em situação cada vez mais difícil as potências imperialistas. Surgiu no mundo uma vasta zona de paz, que abrange os países socialistas e os países da Ásia e da África amantes da paz e promotores de uma política de defesa da sua soberania e de emancipa-ção econômica.

A luta contra o imperialismo norte-americano, pela democracia e pela paz eleva o seu nível na América Latina. As ditaduras terroristas a serviço dos monopólios dos Es-tados Unidos, estão sendo derrubadas, o que abre caminho para o avanço do processo democrático e emancipador. A política de chantagem guerreira praticada pelos círculos de Washington vem fracassando na América Latina, à medida que se acentua o alívio da tensão internacional.

Em conseqüência do impetuoso ascenso do socia-lismo e das vitórias do movimento de libertação nacional, acelerou-se o processo de debilitamento e decomposição do imperialismo. Não só se reduziu drasticamente a área do seu domínio, como se agravaram as contradições entre os países imperialistas e dentro de cada um deles. Aumentam as difi-culdades econômicas nos Estados Unidos, onde a produção vem caindo, enquanto cresce o número de desempregados, o que delineia uma perspectiva de crise econômica.

O imperialismo norte-americano é o centro da reação mundial. Segue uma política de atentados contra a sobera-nia nacional de todos os povos, de corrida armamentista e preparativos de uma terceira guerra mundial, que seria a mais terrível catástrofe para a humanidade.

As guerras de agressão continuam a encontrar terreno na existência do imperialismo e este ainda tem desencadea-do bárbaros atentados contra numerosos povos. Em virtude, porém, da correlação de forças favorável ao socialismo e às forças amantes da paz, surgiu em nossa época a possibili-

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dade real de impedir as guerras. A luta pela paz — tarefa primordial de todos os povos — tem condições para ser ple-namente vitoriosa. A política conseqüente de coexistência pacífica praticada pela União Soviética e pelos demais países socialistas ganha a simpatia dos povos, desfaz as manobras da “guerra fria” e consegue resultados concretos no senti-do do alivie da tensão internacional. A rápida cessação da agressão imperialista ao Egito mostrou mais uma vez que a causa da paz e da libertação nacional tem a seu favor forças mais poderosas do que os agentes da guerra.

As modificações na arena internacional criam con-dições mais favoráveis para a luta pelo socialismo, tornam mais variados os caminhos da conquista do poder pela clas-se operária e as formas de construção da nova sociedade. A possibilidade de uma transição pacífica ao socialismo se tornou real numa série de países.

O ascenso do socialismo, da causa da paz e do mo-vimento de libertação nacional no mundo inteiro influi de modo positivo no crescimento das forças políticas antiim-perialistas e democráticas no Brasil. A nova situação in-ternacional cria condições favoráveis ao desenvolvimento econômico de nosso país, a libertação da dependência em relação ao imperialismo, à democratização da vida políti-ca nacional. Estas condições são especialmente favoráveis à aplicação de uma política externa independente e de paz, em benefício da emancipação econômica da nação. Uma política desta ordem, que muitos países do mundo capita-lista já praticam, encontra o apoio de poderosas forças que atuam no cenário mundial.

Conquanto se beneficie da influência dos fatores po-sitivos da situação internacional, o povo brasileiro é obri-gado a enfrentar a pressão e os atentados do imperialismo norte-americano, que ocupa posições-chave na economia de nosso país e interfere nas questões de sua política interna e

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externa. Não obstante as derrotas que tem sofrido, não cessa a penetração econômica dos monopólios norte-americanos. Os círculos dirigentes dos Estados Unidos, com o apoio dos setores entreguistas, tomam medidas para vincular o Brasil aos preparativos bélicos e aos planos de uma terceira guerra mundial. Esta é a mais grave ameaça que pesa sobre a nossa Pátria e contra esta ameaça tendem a unir-se todos os brasi-leiros favoráveis à manutenção da paz.

A luta contra o imperialismo norte-americano, pela independência nacional do Brasil é parte integrante da luta pela paz mundial. As vitórias da causa da paz no mundo inteiro contribuem para os êxitos da luta emancipadora de nosso povo. Existem condições para derrotar a política de dependência ao imperialismo norte-americano e anular suas ameaças. A situação internacional é favorável às forças que lutam pela paz, pela emancipação nacional e pela democra-cia no Brasil.

Aprofunda-se a contradição entre a nação brasileira e o imperialismo norte-americano

As modificações na situação econômica e política do país, bem como na situação internacional, determinam importantes alterações na disposição das forças sociais e definem o caminho para a solução dos problemas da re-volução brasileira.

Como decorrência da exploração imperialista norte--americana e da permanência do monopólio da terra, a sociedade brasileira está submetida, na etapa atual de sua história, a duas contradições fundamentais. A primeira é a contradição entre a nação e o imperialismo norte-americano e seus agentes internos. A segunda é a contradição entre as forças produtivas em desenvolvimento e as relações de pro-dução semifeudaís na agricultura. O desenvolvimento eco-nômico e social do Brasil torna necessária a solução destas duas contradições fundamentais.

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A sociedade brasileira encerra também a contradição entre o proletariado e a burguesia, que se expressa nas vá-rias formas da luta de classes entre operários e capitalistas. Mas esta contradição não exige uma solução radical na etapa atual. Nas condições presentes de nosso país, o desenvolvi-mento capitalista corresponde aos interesses do proletariado e de todo o povo.

A revolução no Brasil, por conseguinte, não é ainda socialista, mas antiimperíalista e antifeudal, nacional e de-mocrática. A solução completa dos problemas que ela apre-senta deve levar à inteira libertação econômica e política da dependência para com o imperialismo norte-americano; à transformação radical da estrutura agrária, com a liquida-ção do monopólio da terra e das relações pré-capitalistas de trabalho; ao desenvolvimento independente e progressista da economia nacional e à democratização radical da vida po-lítica. Estas transformações removerão as causas profundas do atraso de nosso povo e criarão, com um poder das forças antiimperialistas e antifeudais sob a direção do proletaria-do, as condições para a transição ao socialismo, objetivo não imediato, mas final, da classe operária brasileira.

Na situação atual do Brasil, o desenvolvimento eco-nômico capitalista entra em choque com a exploração im-perialista norte-americana, aprofundando-se a contradição entre as forças nacionais e progressistas em crescimento e o imperialismo norte-americano que obstaculiza a sua expan-são. Nestas condições, a contradição entre a nação em de-senvolvimento e o imperialismo norte-americano e os seus agentes internos tornou-se a contradição principal da socie-dade brasileira.

O golpe principal das forças nacionais, progressistas e democráticas se dirige, por isto, atualmente, contra o im-perialismo norte-americano e os entreguistas que o apóiam. A derrota da política do imperialismo norte-americano e de

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seus agentes internos abrirá caminho para a solução de to-dos os demais problemas da revolução nacional e democrá-tica no Brasil.

Para realizar a sua política de exploração e de vincula-ção de nosso país aos seus planos guerreiros, o imperialismo norte-americano conta com o apoio de setores de latifundiá-rios e de setores da burguesia. Servem ao imperialismo nor-te-americano os latifundiários que estão ligados, por seus interesses, à exploração imperialista, numerosos intermediá-rios do comércio exterior, os sócios de empresas controladas pelo capital monopolista norte-americano e determinados agentes de negócios bancários e comerciais.

Estes setores — minoria verdadeiramente ínfima — constituem as forças entreguistas que, dentro e fora dos ór-gãos de Estado, sustentam a política de dependência ao im-perialismo norte-americano.

Ao inimigo principal da nação brasileira se opõem, porém, forças muito amplas. Estas forças incluem o prole-tariado, lutador mais conseqüente pelos interesses gerais da nação; os camponeses, interessados em liquidar uma estru-tura retrógrada que se apóia na exploração imperialista; a pequena burguesia urbana, que não pode expandir as suas atívidades em virtude dos fatores de atraso do país; a bur-guesia, interessada no desenvolvimento independente e progressista da economia nacional; os setores de latifundi-ários que possuem contradições com o imperialismo norte--americano, derivadas da disputa em torno dos preços dos produtos de exportação, da concorrência no mercado inter-nacional ou da ação extorsiva de firmas norte-americanas e de seus agentes no mercado interno; os grupos da burguesia ligados a monopólios imperialistas rivais dos monopólios dos Estados Unidos e que são prejudicados por estes.

São forças, portanto, extremamente heterogéneas pelo seu caráter de classe. Incluem desde o proletariado, que tem

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interesse nas mais profundas transformações revolucioná-rias, até parcelas das forças mais conservadoras da socieda-de brasileira. A sua conseqüência na luta contra o imperialis-mo norte-americano não pode ser evidentemente a mesma, porém todas essas forças possuem motivos para se unirem contra a política de submissão ao imperialismo norte-ameri-cano. Quanto mais ampla for esta unidade, maiores serão as possibilidades de infligir uma derrota completa àquela polí-tica e garantir um curso independente, progressista e demo-crático ao desenvolvimento da nação brasileira.

A frente única e a luta por um governo nacionalista e democrático

As tarefas impostas pela necessidade do desenvolvi-mento independente e progressista do país não podem ser resolvidas por nenhuma força social isoladamente. Disto decorre a exigência objetiva da aliança entre todas as forças interessadas na luta contra a política de submissão ao impe-rialismo norte-americano. A experiência da vida política bra-sileira tem demonstrado que as vitórias antiimperialistas e democráticas só puderam ser obtidas pela atuação em frente única daquelas forças.

A frente única se manifesta nas múltiplas formas con-cretas de atuação ou de organização em comum, que sur-gem no país, por iniciativas de diferentes origens e de acor-do com as exigências da situação. Entre estas formas, a mais importante atualmente é o movimento nacionalista. O seu desenvolvimento expressa um grau mais elevado de unida-de e concentração das forças antiimperialistas. Constituiu um fato novo, resultante não só de fatores objetivos, entre es quais o desenvolvimento do capitalismo, que fortaleceu as posições da burguesia, como também das lutas patrióticas de massas, que se travaram durante muitos anos com a par-ticipação combativa do proletariado e de sua vanguarda co-munista. Tendem a unír-se e podem efetivamente unir-se no

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movimento nacionalista a classe operária, os camponeses, a pequena burguesia urbana, a burguesia e as setores de lati-fundiários que possuam contradições com o imperialismo norte-americano.

O movimento nacionalista vem exercendo influên-cia para elevar a consciência antiimperialista das massas e para agrupar os setores nacionalistas dos partidos políticos, do parlamento, das forças armadas e do próprio governo. Superando as divergências que existem entre os seus par-ticipantes, o movimento nacionalista atrai para a sua frente de luta entidades, partidos, correntes e personalidades do mais variado caráter social e orientação política. Assim é que a Frente Parlamentar Nacionalista, cujo aparecimento tem notável significação em nossa vida política, unificou a ação de grande número de parlamentares pertencentes aos mais diversos partidos com representação no Congresso, quer se-jam governistas ou oposicionistas.

O movimento nacionalista vem surgindo nas diferen-tes regiões com plataformas que, ao lado de pontos comuns, apresentam questões variadas, de acordo com a influência de determinadas forças políticas e da maior sensibilidade, por motivos locais, a esta ou aquela reivindicação antiimperia-lista. Os comunistas consideram que é necessário tudo fazer, dentro do mais alto espírito de unidade, para impulsionar o movimento nacionalista, ampliar seu caráter de massas e ajudar sua coordenação em escala nacional. Isto contribuirá para acelerar a polarização em processo entre as forças an-tiimperialistas e democráticas, de um lado, e as forças entre-guistas, do outro lado.

Os comunistas devem ser um fator por excelência uni-tário dentro da frente única nacionalista e democrática. Por isso, não condicionam a sua permanência na frente única à total aceitação de suas opiniões. Os participantes da frente única poderão aceitar essas opiniões somente como resulta-

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do de sua justeza, de sua força persuasiva e, acima de tudo, da sua comprovação pela experiência política concreta. De-fendendo firmemente suas opiniões, os comunistas conside-ram que, se forem justas, tais opiniões acabarão sendo acei-tas pelas massas e pelos aliados, vindo a prevalecer através de processos democráticos, dentro da frente única. Os comu-nistas não são exclusivistas e, ao mesmo tempo que encaram com espírito autocrítico a sua própria atividade, aceitam e valorizam as opiniões corretas procedentes das outras forças da frente única.

Sendo inevitavelmente heterogênea, a frente única nacionalista e democrática encerra contradições. Por um lado, há interesses comuns e, portanto, há unidade. Este é um aspecto fundamental e explica a necessidade da exis-tência da frente única, a sua capacidade de superar as con-tradições internas entre os seus componentes. Por outro lado, há interesses contraditórios e, portanto, as forças so-ciais integrantes da frente única se opõem no terreno de certas questões, esforçando-se para fazer prevalecer seus interesses e pontos de vista.

O proletariado e a burguesia se aliam em torno do objetivo comum de lutar por um desenvolvimento indepen-dente e progressista contra o imperialismo norte-americano. Embora explorado pela burguesia, é do interesse do proleta-riado aliar-se a ela, uma vez que sofre mais do atraso do país e da exploração imperialista do que do desenvolvimento capitalista. Entretanto, marchando unidos para atingir um objetivo comum, a burguesia e o proletariado possuem tam-bém interesses contraditórios.

A burguesia se empenha em recolher para si todos os frutos do desenvolvimento econômico do país, intensifican-do a exploração das massas trabalhadoras e lançando sobre elas o peso das dificuldades. Por isto, a burguesia é uma for-ça revolucionária inconseqüente, que vacila em certos mo-

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mentos, tende aos compromissos com os setores entreguis-tas e teme a ação independente das massas.

O proletariado tem interesse no desenvolvimento an-tiimperialista e democrático conseqüente. A fim de assegu-rá-lo, ao mesmo tempo que luta pela causa comum de todas as classes e camadas que se opõem à exploração imperialista norte-americana, o proletariado defende os seus interesses específicos e os das vastas massas trabalhadoras e bate-se por amplas liberdades democráticas, que facilitem a ação in-dependente das massas. O proletariado deve salvaguardar, por isto, a sua independência ideológica, política e organiza-tiva dentro da frente única.

É indispensável, entretanto, jamais perder de vis-ta que a luta dentro da frente única é diferente, em princí-pio, da luta que a frente única trava contra o imperialismo norte-americano e as forças entreguistas. Neste último caso, o objetivo consiste em isolar o inimigo principal da nação brasileira e derrotar a sua política. Já a luta do proletariado dentro da frente única não tem por fim isolar a burguesia nem romper a aliança com ela, mas visa defender os interes-ses específicos do proletariado e das vastas massas, simulta-neamente ganhando a própria burguesia e as demais forças para aumentar a coesão da frente única. Por se travar dentro da frente única, esta luta deve ser conduzida de modo ade-quado, através da crítica ou de outras formas, evitando ele-var as contradições internas da frente única ao mesmo nível da contradição principal, que opõe a nação ao imperialismo norte-americano e seus agentes. Assim, é preciso ter sempre em vista que as contradições de interesses e divergências de opinião dentro da frente única, embora não devam ser ocul-tadas e venham a causar dificuldades, podem ser abordadas e superadas sem romper a unidade.

Os comunistas de modo algum condicionam a sua participação na frente única a uma prévia direção do movi-

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mento. Tendo por objetivo a ampliação e a coesão da frente única, os comunistas trabalham para que as forças antiimpe-rialistas e democráticas, principalmente as grandes massas da cidade e do campo, aceitem a direção do proletariado, uma vez que esta direção é, do ponto de vista histórico, a única capaz de dar à frente única firmeza e conseqüência política. A conquista da hegemonia do proletariado é, po-rém, um processo de luta árduo e paulatino, que avançará à medida em que a classe operária forjar a sua unidade, es-tabelecer laços de aliança com os camponeses e defender de modo acertado os interesses comuns de todas as forças que participam da frente única.

Para a unidade da classe operária tem grande impor-tância o fortalecimento do movimento sindical. Este alcan-çou numerosas vitórias nos últimos tempos, possibilitando aos trabalhadores defender o seu nível de vida, restabelecer a liberdade sindical e elevar o seu grau de unidade e organi-zação. As organizações intersindicais têm contribuído para a unidade da classe operária, mas a experiência vem demons-trando que o movimento sindical tem avançado igualmente à medida que se fortalece a unidade de ação dos trabalha-dores nos sindicatos, federações e confederações, isto é, nos quadros da organização sindical existente no país. O movi-mento sindical tem avançado igualmente à medida em que os trabalhadores aprendem a utilizar as conquistas da legis-lação social vigente e procuram concretizá-la e aperfeiçoá-la, influindo no Parlamento, com a pressão de massas, para a aprovação de novas leis. Os sindicatos e as demais organiza-ções profissionais não devem servir a objetívos partidários, mas precisam ser instrumentos da unidade dos trabalhado-res de todas as tendências ideológicas e políticas, na luta por suas reivindicações imediatas, pelo direito de greve, pelo melhoramento da previdência social etc. Simultaneamente, cabe aos sindicatos um grande papel no amplo movimento

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nacionalista e democrático.Os camponeses constituem a massa mais numerosa

da nação e representam uma força cuja mobilização é indis-pensável ao desenvolvimento conseqüente das lutas do povo brasileiro. O movimento camponês se encontra, entretanto, bastante atrasado, sendo baixíssimo o seu nível de organi-zação. Para impulsionar o movimento camponês, é preciso partir do seu nível atual, tomando por base as reivindicações mais imediatas e viáveis, como o salário mínimo, a baixa de arrendamento, a garantia contra os despejos e evitando, no trabalho prático, as palavras de ordem radicais que ainda não encontram condições maduras para a sua realização. Também no campo, a experiência demonstra que a atuação através de formas legais de luta e de organização é aquela que permite alcançar êxitos para as massas. Assim é que tem progredido, além das associações rurais e cooperativas, a organização dos assalariados e semi-assalariados em sindicatos, que já obti-veram vitórias em contendas com fazendeiros. Tem grande importância a defesa jurídica dos direitos já assegurados aos camponeses. A ação de massas se mostra indispensável para vencer a resistência dos latifundiários no Parlamento e con-quistar a aprovação de leis que correspondam aos interesses dos trabalhadores agrícolas, inclusive a elaboração de uma le-gislação trabalhista adequada ao campo.

As camadas médias urbanas são extremamente sensí-veis às reivindicações de caráter nacionalista e democrático. Aos pequenos negociantes, ao funcionalismo civil e militar e a outros setores da pequena burguesia cabe um posto desta-cado nas lutas do povo brasileiro. Importante papel desem-penha a intelectualidade, que em sua esmagadora maioria está interessada no progresso e na emancipação nacional. Como setor mais combativo da intelectualidade, o movimen-to estudantil tem dado importante contribuição às lutas do povo brasileiro. A unidade dos estudantes das mais diversas

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tendências doutrinárias e políticas é um fator essencial para o fortalecimento das organizações estudantis, universitárias e secundárias, que têm sido baluartes da frente única nacio-nalista e democrática. Seguindo o exemplo dos estudantes, a juventude dos sindicatos, dos clubes esportivos e recreativos pode unir-se e obter vitórias na luta por suas reivindicações.

A formulação dos objetivos comuns, num processo de discussão democrática, vai-se tornando necessária para a frente única à medida que aumenta a envergadura de suas tarefas. Os comunistas são de opinião que uma pla-taforma de frente única deve incluir os seguintes pontos fundamentais:

1. Política exterior independente e de paz — Estabe-lecimento de relações amistosas com todos os países, acima de diferenças de regime social, na base do respeito mútuo da integridade territorial e da soberania, de não agressão, da não intervenção nos assuntos internos e da igualdade de direitos e vantagens recíprocas. Desvinculação de compro-missos com quaisquer blocos militares, denúncia de tratados belicistas e de ajustes antinacionais como o da cessão de Fer-nando de Noronha. Apoio às propostas que visem ao alívio da tensão internacional e ao término da “guerra fria”. Apoio às lutas de libertação nacional de todos os povos.

2. Desenvolvimento independente e progressista da economia nacional — Intercâmbio comercial com todos os países, inclusive os países socialistas. Desenvolvimento da iniciativa estatal nacionalista nos setores do petróleo, ener-gia elétrica, siderurgia, minerais estratégicos e outros setores básicos. Proteção e estímulo da iniciativa privada nacional. Execução de um programa federal para o desenvolvimento das regiões mais atrasadas do país e, em particular, incenti-vo à industrialização do nordeste. Revogação dos privilégios cambiais ou de qualquer outra ordem concedidos ao capital estrangeiro, selecionando suas inversões de acordo com os

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interesses do desenvolvimento do país e sem prejuízo dos empreendimentos nacionais. Dar preferência aos financia-mentos em geral, governamentais ou não, sempre que não condicionados a exigências políticas e escolhendo livremen-te aqueles que, seja qual for sua procedência, ofereçam me-lhores condições no que se refere a juros, prazos de amorti-zação e assistência técnica.

3. Medidas de reforma agrária em favor das massas camponesas — Redução das taxas de arrendamento e pro-longamento dos seus prazos contratuais. Defesa dos cam-poneses contra a grilagem e os despejos. Facilitar aos cam-poneses o acesso à terra, particularmente junto aos centros urbanos e vias de comunicação. Garantia da posse da ter-ra e entrega de títulos de propriedade aos atuais posseiros. Aplicação dos direitos dos trabalhadores do campo já con-solidados em lei. Legislação trabalhista adequada ao campo. Facilitar aos camponeses o crédito bancário, particularmente do Banco do Brasil, os transportes, a armazenagem e a assis-tência técnica.

4. Elevação do nível de vida do povo — Combate enérgico à inflação e à carestia. Equilíbrio orçamentário e política tributária que não sacrifique as massas nem preju-dique as atividades produtivas. Salários e vencimentos que assegurem melhores condições de vida aos trabalhadores e ao funcionalismo. Democratização dos órgãos governa-mentais de controle do abastecimento e dos preços, de tal maneira que possam servir efetivamente aos interesses das massas populares. Aumento das verbas destinadas à edu-cação e saúde do povo. Estímulo ao desenvolvimento da cultura nacional. Aplicação efetiva e melhoria da legislação trabalhista.

5. Consolidação e ampliação da legalidade demo-crática — Garantia dos direitos democráticos contidos na Constituição. Abolição completa das discriminações políti-

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cas e ideológicas. Garantia do direito de greve e dos direitos sindicais dos trabalhadores. Direito de voto aos analfabetos, bem como aos soldados e marinheiros.

Os comunistas apresentam esta plataforma para um amplo debate do qual possa resultar a formulação unitária dos objetivos comuns das forças nacionalistas e democráticas.

A frente única nacionalista e democrática acumula forças à medida que luta por soluções positivas para os pro-blemas colocados na ordem do dia, realizando-as na propor-ção de sua capacidade e das condições favoráveis de cada momento. A exigência dessas soluções positivas para os pro-blemas brasileiros conduz, inevitavelmente, à necessidade de um governo que possa aplicar com firmeza em todas as esferas da política interna e exterior a política de desenvolvi-mento e de emancipação reclamada pelo povo brasileiro. A luta das correntes nacionalistas e democráticas para alcançar modificações na composição e na política do governo atual assume, e tende a assumir cada vez mais, o caráter de luta por um governo de coligação nacionalista e democrática.

Um governo nacionalista e democrático pode ser con-quistado pela frente única nos quadros do regime vigente e aplicar uma política externa de independência e de paz, as-segurar o desenvolvimento independente e progressista da economia nacional, tomar medidas em favor do bem-estar das massas, garantir as liberdades democráticas.

O desenvolvimento da situação no país indica que esta orientação política pode vir a ser gradualmente reali-zada por um ou por sucessivos governos que se apóiem na frente única nacionalista e democrática.

Um governo nacionalista e democrático dependerá fundamentalmente do apoio das massas e, por isto, o ascen-so do movimento de massas não poderá deixar de influir no sentido da radicalização de sua composição e de sua políti-

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ca. Esta radicalização será também resultado da necessida-de inevitável de medidas mais enérgicas e profundas diante dos atentados do imperialismo norte-americano e das forças entreguistas e reacionárias no país.

O curso dos acontecimentos no Brasil indica, por con-seguinte, a possibilidade real de um processo em que, sob a pressão das ações independentes das massas e diante da necessidade de medidas mais conseqüentes contra o inimigo principal da nação, um governo de coligação nacionalista e democrática abrirá caminho para uma nova correlação de forças, que possibilite completar as transformações revolu-cionárias exigidas pelo desenvolvimento econômico e social de nossa Pátria.

Ainda que dispostos a participar dos governos de ca-ráter nacionalista e democrático, os comunistas os apoiarão de modo resoluto, mesmo que não venham a fazer parte de sua composição.

O CAMINHO PACÍFICO DA REVOLUÇÃO BRASILEIRA

Os comunistas consideram que existe hoje em nosso país a possibilidade real de conduzir, por formas e meios pacíficos, a revolução antiimperialista e antifeudal. Nestas condições, este caminho é o que convém à classe operária e a toda a nação. Como representantes da classe operária e patriotas, os comunistas, tanto quanto deles dependa, tudo farão para transformar aquela possibilidade em realidade.

O caminho pacífico da revolução brasileira é possível em virtude de fatores como a democratização crescente da vida política, o ascenso do movimento operário e o desen-volvimento da frente única nacionalista e democrática em nosso país. Sua possibilidade se tornou real em virtude das mudanças qualitativas da situação internacional, que resul-taram numa correlação de forças decididamente favorável à classe operária e ao movimento de libertação dos povos.

O caminho pacífico significa a atuação de todas as cor-

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rentes antiimperialistas dentro da legalidade democrática e constitucional, com a utilização de formas legais de luta e de organização de massas. É necessário, pois, defender esta legalidade e estendê-la, em benefício das massas. O aperfei-çoamento da legalidade, através de reformas democráticas da Constituição, deve e pode ser alcançado pacificamente, combinando a ação parlamentar e a extraparlamentar.

0 povo brasileiro pode resolver pacificamente os seus problemas básicos com a acumulação, gradual, mas inces-sante, de reformas profundas e conseqüentes na estrutura econômica e nas instituições políticas, chegando até à rea-lização completa das transformações radicais colocadas na ordem do dia pelo próprio desenvolvimento econômico e social da nação.

A fim de encaminhar a solução de seus problemas vi-tais o povo brasileiro necessita conquistar um governo na-cionalista e democrático. Esta conquista poderá ser efetuada através dos seguintes meios mais prováveis;

1. Pela pressão pacífica das massas populares e de to-das as correntes nacionalistas, dentro e fora do Parlamen-to, no sentido de fortalecer e ampliar o setor nacionalista do atual governo, com o afastamento do poder de todos os en-treguistas e sua substituição por elementos nacionalistas.

2. Através da vitória da frente única nacionalista e de-mocrática nos pleitos eleitorais.

3. Pela resistência das massas populares, unidas aos setores nacionalistas do Parlamento, das forças armadas e do governo, para impor ou restabelecer a legalidade demo-crática, no caso de tentativas de golpe por parte dos entre-guistas e reacionários, que se proponham implantar no país uma ditadura a serviço dos monopólios norte-americanos.

O complexo desenvolvimento da vida política nacio-nal é que determinará como será realizada a conquista de um governo nacionalista e democrático.

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Sejam quais forem as vicissitudes que o povo brasi-leiro tiver de enfrentar para resolver pacificamente os seus problemas, será sempre necessário o amplo desenvolvimen-to da luta de classes do proletariado, dos camponeses e das camadas médias urbanas em defesa dos seus interesses es-pecíficos e dos interesses gerais da nação.

A escolha das formas e meios para transformar a so-ciedade brasileira não depende somente do proletariado e das demais forças patrióticas. No caso em que os inimigos do povo brasileiro venham a empregar a violência contra as forças progressistas da nação é indispensável ter em vista outra possibilidade — a de uma solução não pacífica. Os so-frimentos que recaírem sobre as massas, em tal caso, serão da inteira responsabilidade dos inimigos do povo brasileiro.

Quanto aos comunistas, tudo farão para alcançar os objetivos vitais do proletariado e do povo um caminho que, sendo de luta árdua, de contradições e de choques, pode evi-tar o derramamento de sangue na insurreição armada ou na guerra civil. Os comunistas confiam em que, nas circunstân-cias favoráveis da situação internacional, as forças antiim-perialistas e democráticas terão condições para garantir o curso pacífico da revolução brasileira.

Pela vitória da frente única nacionalista e democrática nas eleições

A experiência política do país vem demonstrando que o povo já alcançou importantes vitórias dentro do Parlamen-to e dos órgãos legislativos nos Estados e municípios. Esta experiência também já demonstrou que ê possível eleger na-cionalistas e democratas para os postos executivos. As elei-ções constituem, portanto, um acontecimento de excepcio-nal importância em nossa vida política.

As eleições, no Brasil, ainda estão submetidas a sérias restrições antidemocráticas. Certas destas restrições deri-vam do poder econômico e político concentrado em mãos

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das classes exploradoras e são inevitáveis mesmo nas me-lhores condições da democracia burguesa. Outras, porém, são restrições possíveis de eliminar ainda no regime atual, à medida que avança o processo de democratização. Os comu-nistas lutam, por isto, pela extensão do direito de voto aos analfabetos, bem como aos soldados e marinheiros. Lutam, igualmente, pela restituição da legalidade ao Partido Comu-nista, fazendo cessar uma discriminação anticonstitucional, consumada numa conjuntura reacionária e mantida até hoje em flagrante desrespeito aos postulados da Carta Magna.

As restrições antidemocráticas que ainda pesam so-bre o processo eleitoral não impedem, porém, a afirmação da sua crescente importância para determinar os rumos da vida política do país. Combinadas a outras formas pacíficas e legais de lutas de massas, as eleições podem dar vitórias decisivas ao povo. Massas de milhões vêm utilizando o voto para expressar a sua vontade e influir nos destinos da nação. A participação mais entusiástica nas eleições é, assim, um dever para os comunistas.

Esta participação não visa exclusivamente obter pe-quenos proveitos imediatos e utilizar uma oportunidade para fazer agitação de palavras de ordem. O objetivo fun-damental da participação dos comunistas nas eleições con-siste em eleger para os postos executivos e legislativos os candidatos da frente única, que possam fortalecer os setores nacionalistas do Parlamento e do governo. Todo o trabalho eleitoral dos comunistas, seja em âmbito nacional como em estadual e municipal, deve ser considerado uma parte do tra-balho geral de formação e desenvolvimento da frente única, visando sempre a mudança da correlação de forças políticas e a conquista de um governo nacionalista e democrático.

Os comunistas se empenham, por este motivo, em contribuir para a constituição de amplas coligações eleito-rais, que tenham força para levar à vitória os candidatos da

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frente única. A ação independente dos comunistas se realiza-rá, não fora, mas dentro da frente única. Lutando, na medida de suas possibilidades, para eleger seus próprios candida-tos, os comunistas não adotam, porém, uma posição exclusi-vista, colocam acima de tudo a necessidade de desenvolver e fortalecer a frente única e consideram que a vitória de candi-datos não comunistas da frente única é também sua vitória. Esta orientação contribuirá para aprofundar nacionalmente e em cada local a polarização em processo entre nacionalis-tas e entreguistas, a fim de isolar e derrotar os candidatos comprometidos com o imperialismo norte-americano.

Buscando formar amplas coligações eleitorais, que levem à vitória os nacionalistas e os democratas, é necessá-rio ter em vista a composição de classe mais ou menos hete-rogênea dos partidos políticos brasileiros, sem, entretanto, estabelecer identidade entre eles. Os comunistas apóiam os elementos nacionalistas e democratas que existem em todos os Partidos. Tais elementos constituem uma ala considerável do PSD, a qual tem lutado com relativo êxito contra a ala re-acionária do mesmo partido, ligada aos latifundiários mais retrógrados e a interesses imperialistas. Em proporção me-nor, existem elementos nacionalistas na UDN que se chocam com a alta díreção nacional do seu partido, ainda dominada por conhecidos golpistas e porta-vozes do imperialismo nor-te-americano. Partidos como o PTB, o PSP e o PSB, que pos-suem maior base popular nos centros urbanos, apresentam uma tendência nacionalista e democrática mais acentuada. O PTB, cujo maior contingente eleitoral provém das massas trabalhadoras, de modo geral orienta-se por uma política nacionalista e popular. O mesmo ocorre com o PSB, cuja base social repousa em setores da pequena burguesia urbana e, em particular, da intelectualidade. Tanto o PTB como o PSB já defendem plataformas nacionalistas e democráticas.

À medida que se desenvolve o capitalismo no país,

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os partidos políticos brasileiros adquirem um caráter cada vez mais estável e nacional. Em virtude, porém, da extrema desigualdade de desenvolvimento que se verifica entre as diferentes regiões, os partidos políticos não puderam ainda superar as divergências, por vezes agudas, que lavram entre as suas seções estaduais e até mesmo municipais. Esta cir-cunstância não pode deixar de ser levada em conta, a fim de distinguir, com justeza, as variações de orientação entre os diretórios nacionais, estaduais e municipais.

Os comunistas apóiam nas eleições os partidos, alas e seções de partidos e personalidades de atuação nacionalista reconhecida, não os confundindo, porém, com os falsos na-cionalistas, que procuram enganar o povo com a sua dema-gogia eleitoreira.

É com esta visão das eleições e de suas perspectivas essenciais que comunistas se mobilizam para tomar parte nos pleitos de 1958 e 1960.

FORTALECER O PARTIDO PARA A APLICAÇÃO DE UMA

NOVA POLÍTICA

O proletariado brasileiro necessita uma vanguarda marxista-leninista organizada e combativa a fim de realizar sua política de classe. O Partido Comunista do Brasil, que é esta vanguarda, deve ser capaz de cumprir o seu papel na ação política concreta.

Isto exige que o nosso Partido se depure de persisten-tes defeitos e adquira qualidades novas. O subjetivismo, que exerceu longo domínio em nossas fileiras, deve ser combati-do em profundidade, através da reeducação dos dirigentes e militantes no espírito de uma nova política, que emane dire-tamente das condições objetivas de nosso país e seja a correia aplicação dos princípios universais do marxismo-leninismo, às originais particularidades concretas do desenvolvimento histórico-nacional. O abandono dos princípios universais do

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marxismo-leninismo, como síntese científica da experiência do movimento operário mundial, conduz inevitavelmente à desfiguração do caráter de classe do Partido, e à degeneres-cência revisionista. Mas o desconhecimento das particulari-dades concretas do próprio país condena o Partido, irreme-diavelmente, à impotência sectária e dogmática.

As concepções dogmáticas e sectárias, que nas con-dições atuais de nosso Partido constituem o perigo funda-mental a combater, se opõem de modo radical ao próprio caráter da missão que os comunistas têm a cumprir. À frente da classe operária deve estar um Partido que saiba dirigir a luta pelos objetivos revolucionários na ação política corren-te, diária, determinada pelas próprias exigências do movi-mento real das massas, das classes e das forças políticas. A esta característica essencial se subordinam as atividades de agitação e propaganda, do trabalho de massas e de organi-zação do Partido.

Para que os comunistas possam cumprir sua impor-tante tarefa, devem estar a serviço das massas e lançar-se decididamente à atividade junto às massas. Ao invés de se voltarem apenas para o trabalho interno do Partido, preci-sam dedicar o fundamental de suas energias à atuação legal nas organizações de massas e aí exercer uma função emi-nentemente construtiva. É indispensável, por conseguinte, tomar as medidas adequadas para que o maior número pos-sível de quadros, militantes e dirigentes, realizem atividades legais entre as massas. Participando das lutas de massas nos movimentos reivindicativos, nas campanhas políticas, nas eleições, os comunistas não têm outro fim senão o de tor-nar vitoriosas as aspirações das massas, aprender com elas e educá-las a partir do nível de consciência que já atingiram. Os comunistas devem ser em toda parte batalhadores isen-tos de exclusivismo, abnegados e conseqüentes, pela cons-trução da frente única nacionalista e democrática.

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O Comitê Central concita a todos os militantes a em-penharem-se no fortalecimento do Partido para torná-lo o instrumento adequado à execução vitoriosa da nova política traçada nesta Declaração, que deve guiar, de agora em dian-te, toda a atividade do Partido.

Rio, março de 1958. O COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL

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•Aluísio Gurgel do Amaral

•Amadeu Arrais

•Américo Barreira

•Américo Silvestre

•Aníbal Bonavides

•Antônio Emérito

•Arquimedes Bruno (Padre)

•Astrolábio Batista

•Augusto Pontes

•Blanchard Girão

•Calos Augusto de Lima

•Caubi Damasceno

•Cláudio Regis Quixadá

•Elízio Arimatéia

•Euzélio Oliveira

•Francisco Cândido Feitosa

•Francisco Cláudio Medeiros

•Francisco Farias Melho

•Francisco Felipe Cardoso

•Francisco Inácio de Almeida

•Francisco Pereira da Silva

•Gouvan Cavalcante de

Magalhães

•João Farias de Sousa

•Joaquim Eduardo Alencar

•Jonas Daniel

•Jorge Ferreira Nobre

•José Alberto Carneiro

Monteiro

•José de Moura Beleza

•Jose de Pontes Neto

•José dos Santos Serra

•José Elias Gonzaga

•José Ferreira de Alencar

•José Fiuza Gomes

•José Jatayh

•José Lopes Barbosa

•José Maria de Barros Pinho

•José Marinho de

Vasconcelos

•José Paderewski

•José Valdir de Aquino

•Josias Nepomuceno da Silva

•Manoel Aguiar de Arruda

•Manoel Coelho Raposo

•Manoel Gracindo Macedo

•Marfan Cavalcante de

Magalhães

•Miguel Cunha Filho

•Milton Ferreira da Silva

•Moisés Pimentel

•Olavo Sampaio

•Oseas Duarte

•Osvaldo Evandro Carneiro

Martins

•Osvaldo Oliveira Silva

•Pedro Albuquerque

•Peixoto de Alencar

•Petrônio Sá Benevides

•Tarcísio Leitão de Carvalho

•Hugo Brito

•Vicente Pompeu

•Willian Nogueira Sá

OBSERVAÇÃO: Relação elaborada de memória por Cândido Feitosa em 2012, podendo ocorrer a ausência de alguns nomes.

OS PRIMEIROS PRESOS RECOLHIDOS AO

QUARTEL DO 23º BATALHÃO DE CAÇADORES, EM

FORTALEZA, LOGO APÓS O GOLPE MILITAR DE 1964

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•Amário Batista de Carvalho

•Aníbal Bonavides

•Antônio Eurico de Queiroz

•Bárbara Feitosa

•Cândido Feitosa

•Carlos da Costa Jatahy

•Edmilson de Sousa Costa

•Euvaldo Leda

(Mestre Pedro)

•Fernando Ferreira

•Francisco Felipe Cardoso

•Francisco Pereira

•Jesus Batista

•José dos Santos Serra

•José Ferreira de Alencar

•José Leandra Bezerra

•José Marinho de Vasconcelos

•José Valdir de Aquino

•Leda Santos

•Luciano Barreira

•Manoel Aéri Ferreira

•Tarcísio Leitão

COMISSÕES DE TRABALHO

ORGANIZAÇÃO

•Cândido Feitosa

•Anário Batista de Carvalho

•Francisco Felipe Cardoso

SINDICAL

•Antônio Eurico de Queiroz

•Carlos Jatahy

•Francisco Pereira

CAMPO

•Zé Leandro

•Jesus Batista

•Manoel Aéri

ELEITORAL

•Aníbal Bonavides

•Luciano Barreira

•Tarcísio Leitão

•Santos Serra

FINANÇAS

•Francisco Felipe Cardoso

•Fernando Ferreira

•Aluísio Gurgel

•Raimundo Uchoa Diógenes

MOVIMENTO UNIVERSITÁRIO

•Pedro Leda

•José Ferreira de Alencar

•Tarcísio Leitão

MOVIMENTO FEMININO

•Bárbara Feitosa

•Edmilsa de Sousa Costa

•Olga Nunes

•Vera Nepomuceno

•Leda Santos

COMITÊ ESTADUAL DO PARTIDO COMUNISTA

BRASILEIRO-CE, QUANDO DO GOLPE MILITAR DE

1964

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Documentos com solicitação de registro junto do Tribunal Superior Eleitoral dos partidos comunistas no Brasil

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Page 207: Socialismo & Democracia  — 90 Anos de Lutas e Mudanças

Livro composto na fonte Palatino Linotype Regular —

desenhado inicialmente por Hermann Zapf, 1948, para a

fundidora Linotype — corpo 12 entrelinha 16 e títulos, notas

e créditos em Gotham Bold Regular e em Gotham Medium. O

Gotham é uma família de sans-serif geométricos desenhados

pelo designer americano Tobias Frere-Jones, em 2000

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ISBN 978-85-88661-41-7

O sonho utópico de uma revolução estrutural de uma sociedade humana determinada deu lugar a um propósito menos absolutista, e mais realista, onde as reformas pontuais e as atitudes estratégicas em determinados setores da vida social (econômico, político, educacional ou jurídico) podem propiciar alterações significativas e quantitativas na existência social e histórica de um povo, de um país, ao ponto de posteriormente assumir uma mudança qualitativa substancial.

A crença no poder local, no exercício militante da cidadania, por associações comunitárias e profissionais, por partidos políticos e por profissionais da educação, da medicina e do direito, por exemplo, pode atingir índices significativos de alteração nas formas sociais de existência.

A preocupação com a transparência, com a clareza de atitudes dos agentes públicos pode resultar em práticas revitalizadoras da vida cidadã e dessa forma num processo pontual e quantitativo preparar uma sociedade do futuro, que podemos com toda racionalidade, acreditar que seja mais humana, mais justa e mais feliz. OSCAR d’ALVA

97 8858 86 6141 7 04