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Sociologia dos Movimentos Sociais: Um Blanaço das Teorias Clássicas e Contemporâneas

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This article was downloaded by: [University of Connecticut]On: 30 October 2014, At: 07:52Publisher: RoutledgeInforma Ltd Registered in England and Wales Registered Number: 1072954Registered office: Mortimer House, 37-41 Mortimer Street, London W1T 3JH,UK

Canadian Journal of LatinAmerican and CaribbeanStudies/Revue canadienne desétudes latino-américaines etcaraïbesPublication details, including instructions forauthors and subscription information:http://www.tandfonline.com/loi/rclc20

Sociologia dos MovimentosSociais: Um Blanaço das TeoriasClássicas e ContemporâneasMaria Da Glória Gohna

a University of Campinas, BrasilPublished online: 06 May 2014.

To cite this article: Maria Da Glória Gohn (2011) Sociologia dos Movimentos Sociais:Um Blanaço das Teorias Clássicas e Contemporâneas, Canadian Journal of LatinAmerican and Caribbean Studies/Revue canadienne des études latino-américaines etcaraïbes, 36:72, 199-227, DOI: 10.1080/08263663.2011.10817020

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SOCIOLOGIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS:

UM BLANAÇO DAS TEORIAS CLASSICAS E

CONTEMPORÂNEAS

MARIA DA GLORIA GOHN University of Campinas, Bras il

Resumo. Este artigo focaliza dois itens basicos nas teorias dos movimentos sociais. 0 primeiro relativo aos paradigmas analiticos que orientam estas teorias, destacando-se os conceitos e as categorias utilizadas. Nomeiam-se os autores que construiram as teorias clâssicas e demarcaram o campo de estudo de uma Sociologia dos Movimentos Sociais. 0 segundo apresenta um panora­ma gerai das abordagens contemporâneas sobre os movimentos sociais e seus suportes te6rico-metodol6gicos, corn destaque para América Latina. Partindo de um breve cenario de movimentos sociais em paises latino-americanos, destacam-se os enfoques te6ricos utilizados nas analises desses movimentos. Sistematizam-se os enfoques em seis eixos tematicos: fatores culturais, justiça social, resistência, saberes colonizados, aspectos institucionais das açôes cole­tivas e a repolitizaçào dos movimentos nos protestas transnacionais e nas redes sociais de comunicaçào.

Abstract. This article focuses on two basic aspects of theories of social move­ments. The first involves the analytical paradigms that guide these theories, emphasizing the concepts and categories used. It explores the authors who built the classical theories and staked out the field of study known as the Sociology of Social Movements. Second, the article provides an overview of contempor­ary approaches to social movements and their theoretical and methodological support, especially in Latin America. Starting with a brief scenario of social movements in Latin American countries, it highlights the theoretical approaches used in the analysis of these movements. It also systematizes the approaches

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into six themes: cultural factors, social justice, resistance, colonized knowledge, the institutional aspects of collective action, and the repoliticization of protest movements and transnational social networks of communication.

Observa-se que a partir dos anos de 1960, em varias regiôes acadê­micas do mundo ocidental, o estudo dos movimentos sociais ganhou espaço, densidade e status de objeto cientifico de analise. Isso ocorreu porque, em parte, os movimentos ganharam visibilidade na pr6pria sociedade, enquanto fenômenos hist6ricos concretos. De outra parte houve o desenvolvimento de teorias sobre o social, e as teorias sobre as açôes coletivas ganharam novos patamares, em universos mais amplos, construindo novas teorias sobre a sociedade civil, e um campo especifico sobre os movimentos sociais, tratados neste artigo como Sociologia dos Movimentos Sociais. Novas teorias surgiram demarcando o espaço da abordagem que ficou conhecida como a dos N ovos Movimentos Sociais.

Na primeira década deste milênio, corn os movimentos anti ou alter-globalizaçào e os movimentos transnacionais, o escopo das lu­tas ampliou-se para dimensôes territoriais que ultrapassam o estado - naçào e a tematica voltou a despertar grande interesse acadêmico. Do final do século XX para a primeira década do XXI surgiram mo­vimentos que transitaram da antiglobalizaçào (ou alterglobalizaçào) para a negaçào da globalizaçào e seus efeitos sobre a economia e o social, especialmente ap6s a crise econômico-financeira de 2008. Ocorre o "retomo" de movimentos sociais de carater transnacional na cena social, corn os movimentos: Indignados na Europa, Occupy Wall Street, Primavera Arabe etc. Temos como hip6tese que os atu­ais movimentos estào operando uma renovaçào nas lutas sociais da magnitude que os novos movimentos sociais operaram nas décadas de 1960, 1970 e parte de 1980 (naAmérica Latina). Retomaremos a este ponto no item III deste artigo.

Quando tratamos do enfoque te6rico sobre os movimentos sociais, desde logo registramos: nào ha s6 uma teoria e sim varias, conforme o paradigma utilizado. Cada uma tem tido um entendimento sobre o que eles sào e quai o tipo de manifestaçào social se referem. Para alguns os movimentos sào fenômenos sempre empiricos; para outros, sào objetos analiticos, te6ricos, e nào necessariamente corn formatos e su­jeitos defini dos. v arios &nalistas têm afirmado que a teorizaçào sobre

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os movimentos sociais é a parte mais dificil na qual se encontram as grandes lacunas na produçào acadêmica. Por quê? Concordamos corn Melucci que anos atras ja dizia: "eles sào parte da realidade social na qual as relaçôes sociais ainda nào estào cristalizadas em estruturas, onde a açào é a portadora imediata da tessitura relacional da sociedade e do seu sentido" (Melucci 1994, 190). Ou seja, os movimentos tran­sitam, fluem e acontecem em espaços nào consolidados das estruturas e organizaçôes sociais. Na maioria das vezes eles estào questionando estas estruturas e propondo novas formas de organizaçào à sociedade civil e politica. Por isto eles sào inovadores-como ja nos indicava Ha­bermas nos anos de 1970, e sào lumes indicadores da mudança social, ou o coraçào da sociedade, seu pulsar, nos dizeres de Touraine (1984). Citando ainda Melucci "eles sào lentes por intermédio das quais problemas mais gerais podem ser abordados e estuda-los significa questionar a teoria social e tratar questôes epistemol6gicas tais como: o que é a açào social" (1994, 190). Sabemos também que a teoria da açào social tem sido pensada no interior de horizontes paradigmati­cos te6ricos diversos, tais como: o materialismo hist6rico, escola de Frankfurt, fenomenologia, interacionismo, correntes hermenêuticas, ciências da linguagem e da cogniçào, teorias da comunicaçào etc. A seguir apresentamos uma sistematizaçào destes paradigmas para as teorias classicas dos movimentos sociais.

Paradigmas Teorico-Analiticos Clâssicos sobre os Movimentos Sociais

Para n6s um paradigma é um conjunto explicativo onde encontramos teorias, conceitos e categorias, de forma que podemos dizer que o pa­radigma X constr6i uma interpretaçào Y sobre determinado fenômeno ou processo da realidade social. Kuhn (1975) o fisico responsavel pela difusào mundial do termo afirmou que na ciência um paradigma surge toda vez que é dificil envolver novos dados em velhas teorias. Analisar os paradigmas a respeito dos movimentos sociais implica abordar preliminarmente duas dificeis questôes: o proprio conceito de movimento social e as teorias a seu respeito. Quanto à primeira, pou­cos au tores se dedicaram a definir ou a conceituar o que entendem por movimentos sociais. Acrescente-se a esta lacuna a profusào de tipos e espécies de movimentos sociais que têm sido tratados da mesma for-

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ma, além da nào diferenciaçào entre movimentos propriamente ditos, lutas, protestos, revoltas, revoluçôes, quebra-quebras, insurreiçôes e outras formas de açôes coletivas. Analisando a bibliografia gerai nas ciências sociais, especialmente dicionarios, antigos manuais e textos que tratam das areas tematicas de investigaçào, vemos que usualmen­te se incluem os movimentos sociais como uma sessào, um verbete ou um capitulo especifico dos estudos sociopoliticos.

Lorenz von Stein foi um dos pioneiros a utilizar o termo "movi­mento social," em 1842, ao postular a necessidade de uma ciência da sociedade para o estudo do socialismo emergente na França, dando­lhe o sentido de uma luta contra dada situaçào. Os primeiros estudos que tomaram como objeto central açôes sociais coletivas similares aos movimentos sociais da atualidade referiam-se a eles como disrurbios populares. Na França, ao final do século XIX, devem-se citar Taine ( 1887), Tarde ( 1898) e Le Bon ( 1895). Eles foram os pioneiros de uma sociologia das mobilizaçôes, a maioria corn anâlises conservadoras. A Escola de Chicago (area da Sociologia) produziu excelentes analises sobre os movimentos nas primeiras décadas do século: Park (1920), entre outros. A seguir, Simmel e pesquisadores que desenvolveram o interacionismo simb6lico e as formas de sociabilidade construirào marcos que serào fundamentais para uma sociologia dos movimentos sociais contemporânea. Blum er ( 1939) sera um dos primeiros a tratar especificamente dos movimentos sociais sob o prisma te6rico. Hebele ( 1951) organizou um dos primeiros livros corn o titulo especifico sobre movimentos sociais. Smelser (1962) entrou para a historia da Sociologia dos movimentos sociais como um dos primeiros a formu­lar uma teoria a respeito do comportamento social nas açôes coletivas.

0 surgimento de novas modalidades de movimentos sociais ao longo do século XX, como os dos direitos civis nos Estados Unidos nos anos de 1950, dos estudantes em varios paises europeus a partir dos anos 1960, das mulheres, pela paz, contra a Guerra do Vietnà etc. contribuiram para o surgimento de novos olhares e analises sobre a problematica. 0 paradigma acionalista, corn suas teorias culturalis­tas e identitarias, passou a destacar o lado positivo dos movimentos, como construtores de inovaçôes culturais e fomentadores de mudan­ças sociais (Touraine 1972). A produçào te6rica na sociologia a partir dos anos 1970 nos revela novos olhares sobre as açôes coletivas. Em 1978, Bottomore e Nisbet organizaram uma Historia da ami/ise

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sociol6gica (1980) corn capitulos especificos sobre a teoria da açào social, destacando os movimentos como atores importantes. Sherman e Wood ( 1989), em original manual sobre as perspectivas tradicionais e radicais da sociologia, dedicaram uma sessào inteira aos movimen­tos sociais, analisados juntamente corn as instituiçôes politicas da sociedade. Stebbins (1987), em outro manual de sociologia centrado na sociedade contemporânea, também dedicou um capitulo ao estudo dos movimentos sociais como forma de comportamento coletivo, diferenciando-os das manifestaçôes de massa, da multidào, dos pro­testos etc. Ainda no nivel dos manuais, a produçào se completou corn o Sociology de Giddens (1989), corn um capitulo de quase cinquenta paginas sobre "A revoluçào e os movimentos sociais." Outra fonte de referência que nos atesta a importância das açôes coletivas e dos movimentos sociais como objeto de preocupaçào te6rica sào as enci­clopédias de ciências sociais. 0 volume 14 da International Encyclo­pedia of the Social Sciences ja nos anos 1970 apresentava um longo paragrafo sobre os movimentos sociais escrito por Hebele e Gusfield (1972). 0 dicionario da Blackwell dos anos 1990, Twentieth-Century Social Thought, editado por Bottomore e Outhwaite em 1993 e publi­cado no Brasil em 1996, dedicava também espaço aos movimentos sociais, especialmente aos novos movimentos sociais. Mas sera no campo da ciência politica, nos anos 1980, que a bibliografia gerai sociopolitica incorporara a tematica dos movimentos sociais corn grande destaque. Bobbio, Matteucci e Pasquino (1986) criaram um espaço no Dicionario de politica para o verbete "Movimentos sociais" que tem sido um dos mais citados nos estudos que definem "o que é um movimento social."

Enfatizamos as diferenças nas areas de estudo e nos contextos hist6ricos para explicar os critérios adotados quanto à nomeaçào dos paradigmas neste artigo. 0 uso de um critério geografico-espacial é um recurso pedag6gico utilizado nào para definir o paradigma em si, mas apenas para localiza-lo diferencialmente, enquanto corrente te6rico-metodol6gica composta por teorias que foram formuladas a partir de realidades especificas. Os paradigmas utilizados para sis­tematizarmos as teorias classicas sobre os movimentos sociais sào três: o norte-americano, o europeu e o latino-americano. A América do Norte, a Europa e aAmérica Latina possuem contextos hist6ricos especificos, e lutas e movimentos sociais correspondentes a estes

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contextos. Este é o dado importante que aglutinarâ as explicaçôes. Os pesquisadores de cada um destes blocos adotaram posturas metodol6-gicas para realizar as anâlises de suas realidades nacionais, locais ou regionais. Na Europa ena América do Norte estas posturas geraram teorias pr6prias. NaAmérica Latina as posturas metodol6gicas foram hibridas, geraram muitas informaçôes, mas o conhecimento produzi­do foi orientado na maioria das vezes pelas teorias criadas em outros contextos, diferentes de suas realidades nacionais, como o caso a ser analisado da teoria europeia dos novos movimentos sociais.

Ao longo das ultimas décadas do século XX, o intercâmbio entre pesquisadores de diferentes paises fez corn que a produçào sobre as teorias se alterasse. Ela foi se intemacionalizando em funçào da glo­balizaçào da economia e das tendências gerais dos processos sociais nos anos de 1990. V ârios analistas passaram a estudar multiplas reali­dades nacionais e a recorrerem à anâlise comparativa para entender as diferenças e as semelhanças entre os processos. Uma das tarefas foi a de separar o que sào tendências gerais e o que sào especificidades das realidades nacionais, impregnadas por habitus culturais. Abordagens micro e macro começaram a intercruzarem-se, no sentido pr6ximo ao proposto por Alexander (1987).

Certamente que cada paradigma possui categorias de anâlise diferenciadas construindo universos explicativos proprios. Assim, o paradigma norte-americano possui, em suas diferentes versôes, expli­caçôes centradas mais nas estruturas das organizaçôes dos chamados sistemas sociopolitico e econômico; as categorias bâsicas de suas anâlises sào: sistema, organizaçào, açào coletiva, comportamentos organizacionais, integraçào societal etc. A partir destas categorias desenvolveram-se vârios conceitos e noçôes analiticas tais como: privaçào cultural, escolhas racionais, mobilizaçào de recursos, ins­titucionalizaçào de conftitos, confronto politico, ciclos de protestos, micro mobilizaçôes, "frames", oportunidades politicas etc. 0 para­digma norte-americano tem suas bases nas teorias da privaçào social, desenvolvidas inicialmente, entre outros, pelos interacionistas simb6-licos no inicio do século XX. A teoria da Mobilizaçào de Recursos, formulada por M. Oison (1965) corn viés bastante economicista, foi um momentos importantes nas abordagens norte-americanas.

Na Europa ao fa1armos sobre paradigmas temos que usar o plural porque hâ duas aborda gens te6ricas hem diferenciadas. A marxista e a

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dos novos movimentos sociais. Cada uma delas se subdivide em uma série de correntes te6ricas explicativas. A marxista centra-se no estudo dos processos hist6ricos globais, nas contradiçôes existentes e nas lutas entre as diferentes classes sociais. As categorias basicas cons­truidas por seus analistas foram: classes sociais, contradiçôes, lutas, experiências, consciência, conflitos, interesses de classes, reproduçao da força de trabalho, Estado etc. As noçôes e conceitos desenvolvidos foram: experiência coletiva, campo de forças, organizaçao popular, projeto politico, cultura politica, contradiçôes urbanas, movimentos sociais urbanos, meios coletivos de consumo etc. 0 paradigma dos novos movimentos sociais parte de explicaçôes mais conjunturais, localizadas ao nivel da politica ou dos processos micros da vida cotidiana, fazendo recortes na realidade para observar a politica dos novos atores sociais. As categorias basicas deste paradigma sao: cul­tura, identidade, autonomia, subjetividade, atores sociais, cotidiano, representaçôes, interaçao politica etc. Os conceitos e noçôes criados foram: identidade coletiva, representaçôes coletivas, micropolitica do poder, politica de grupos sociais, solidariedade, redes sociais, impac­tos das interaçôes politicas etc.

Nos anos de 1980 o paradigma norte-americano desenvolveu um intenso debate corn uma das correntes europeia - a dos novos movi­mentos sociais ao redor de uma questao central, posta como um dile­ma: qual o objetivo e o significado basico dos movimentos: construir estratégias (americanos) ou identidades (europeus). 0 resultando do debate produziu alteraçôes que afetou as duas abordagens. Nos anos de 1990 os norte- americanos abandonaram o dilema e optaram por outro eixo paradigmatico: a estrutura das oportunidades politicas, responsavel pelo surgimento dos varios ciclos de movimentos sociais, em diferentes contextos e lugares hist6ricos e o estudo dos confrontos politicos. Deu-se grande prioridade nas analises ao processo politico institucional, em especial ao jogo de poder entre a sociedade civile as estruturas govemamentais. Deste processo resultou a criaçao de uma nova corrente te6rica, a Teoria da Mobilizaçao Politica, envolvendo norte-americanos e europeus. Ela passou a predominar nos Estados Uni dos, sua grande ênfase esta no processo poli ti co das mobilizaçôes e as bases culturais que lhes dao sustentaçao ( ao invés da ênfase nas bases econômicas enfatizadas nas abordagens classicas dos ameri­canos até entao ). Portanto, es tru tura das oportunidades poli ti cas foi

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inicialmente a categoria chave desenvolvida. Mas sera "Contentious Politics" ( confrontos, disputas ou litigios politicos) desenvolvida por Tilly e colaboradores a categoria que mais se destacara a partir dos anos de 1990, se guida de "frames", ci clos de mobilizaçôes, etc. Retomaremos este ponto na terceira parte do artigo.

0 paradigma latino-americano concentrou-se, nas ultimas dé­cadas do século XX, em sua quase totalidade, nos estudos sobre os movimentos sociais libertarios ou emancipat6rios (indios, negros, mulheres, minorias em geral); nas lutas populares urbanas por bens e equipamentos coletivos, ou espaço para moradia urbana (nas as­sociaçôes de moradores e nas comunidades de base da igreja), e nas lutas pela terra, na area rural; e no movimento dos trabalhadores sin­dicalizados. As teorias que orientaram a produçào a respeito foram as dos paradigmas europeus, tendo predominância nos anos 1970 a vertente marxista e nos anos de 1980 e 1990 a abordagem dos no­vos movimentos sociais. Os estudos baseados nas teorias marxistas destacaram-se as categorias: hegemonia, contradiçôes urbanas e lutas sociais. Os estudos que aplicaram o paradigma dos nov os movimentos sociais as categorias da autonomia e da identidade foram os maiores destaques. Houve certa releitura daquelas teorias resultando também na criaçào de outras categorias de analise tais como: novos sujeitos hist6ricos, campo de força popular, cidadania coletiva, espoliaçào urbana, exclusào social, descentralizaçào, espontaneidade, redes de solidariedade, terceiro setor privado e publico etc.

As novas categorias esboçam, delineiam, e ao mesmo tempo po­derào ser o suporte para a elaboraçào de um paradigma proprio e espe­cifico à Am érica Latina, ainda a ser construido em sua plenitude, mas que esta presente no debate incipiente que se observa nas entrelinhas dos trabalhos e congressos acadêmicos. Este debate tem colocado varios dilemas. Um del es se refere à ênfase na estrutura (dada pel os marxistas--em relaçào às classes sociais) versus a ênfase na açào do ator social (dada pelos europeus dos novos movimentos sociais). Este debate é similar ao citado acima, presente na segunda metade dos anos 80 entre os norte-americanos e os europeus. Na América Latina a controvérsia que existiu foi quanto à opçào paradigmatica, divi­dindo de um lado os estruturalistas e de outro os interacionistas. Os primeiros postulavam que é necessario primeiro mapear as condiçôes estruturais, as causas, as consequências e as influências dos movimen-

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tos, a partir de uma analise que enfoca as desigualdades sociais, as discriminaçôes, a repressao e a exploraçao, dando-se atençao também às ideologias, frustraçôes, queixas, reclamaçôes e demandas, assim como as possibilidades de consciência e de organizaçao dos grupos e movimentos. Este tipo de anâlise enfatiza o potencial de transforma­çao dos movimentos sociais. 0 segundo enfatiza os conflitos politi­cos, as estratégias de mobilizaçôes, as relaçôes de poder, o papel das lideranças, as alianças, o papel das açôes estratégicas etc. Destaca-se ainda a capacidade dos movimentos de construir identidades politi­cas por meio de processos discursivos. A ênfase mais interacionista postula que é impossivel entender as açôes politicas como deduçôes diretas das estruturas econômicas.

Outro dilema presente no paradigma latino-americano diz respeito à controvérsia sobre o terreno onde se movem os movimentos sociais. Uns advogam a ênfase nos fatores sociopoliticos e outros nos politico­econômicos. Os primeiros se filiam à corrente dos novos movimentos sociais e destacam o processo de construçao da identidade politica dos movimentos e o potencial de resistência (cultural) dos mesmos. Os segundos enfatizam a questao do poder politico segundo as con­cepçôes do paradigma marxista.

A América Latina, nas ultimas duas décadas do século XX, a produçao acadêmica sobre os movimentos sociais caracterizou-se por très pontos: primeiro---uma grande vitalidade de estudos de natureza mais empirico-descritiva, centrados nas falas dos agentes. Embora pouco analiticos eles contribuiram, no campo das Ciências Sociais, para seu dinamismo e renovaçao, dando subsidios empiricos para uma Sociologia dos Movimentos Sociais. Segundo---a localizaçao da maioria destes estudos em programas de P6s Graduaçao nos paises em que este sistema estava desenvolvido (Brasil, Chile, Argentina e México), e uma divisao dos estudos nas suas areas acadêmicas. Assim, antrop6logos estudaram os movimentos indigenas; a politica, a sociologia urbana e o planejamento urbano pesquisaram sobre os movimentos sociais populares; o direito e a arquitetura acompanha­ram as questôes ligadas à terra e à moradia etc. Terceiro---a utilizaçao te6rica de paradigmas referenciais de anâlise construidos em realida­des di versas de onde os movimentos ocorriam de fato. Assim, o para­digma europeu, em suas varias vertentes para a anâlise dos dados da realidade, foi bastante utilizado no Brasil. Disto resultou: de um lado

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a utilizaçao acritica de teorias elaboradas no exterior para a amilise dos movimentos sociais, muitas vezes incorporando categorias que se opôem no debate te6rico; e de outro lado, o quase completo silên­cio sobre a produçao e o paradigma norte-americano. A Argentina e o Chile constituem-se exceçôes onde o paradigma norte-americano eraja muito utilizado nos anos de 1990. Houve também um silêncio sobre o ja citado debate entre te6ricos da abordagem norte-americana corn te6ricos europeus, nos anos 80. Destaque-se ainda a intima im­portância dada, neste debate, a produçao e a pr6pria existência dos movimentos na América Latina e no chamado "Terceiro Mundo."

Embora o enfoque principal deste artigo seja aspectos da teoria dos movimentos sociais, é necessario trazermos alguns exemplos das praticas dos movimentos para melhor compreensao das inovaçôes e reformulaçôes que passaram a ocorrer nas abordagens neste novo milênio. Sendo assim, faremos uma breve panorâmica sobre alguns dos movimentos sociais na Am érica Latina para voltarmos a focalizar as teorias.

0 Novo Cenario dos Movimentos Latino-americanos no Século XXI

A primeira década deste século trouxe, nos dizeres de Touraine, o re­tomo do ator social nas açôes coletivas que se propagaram na maioria dos paises da América Latina, de forma bastante contradit6ria. Em alguns paises houve uma radicalizaçao do processo democratico e o ressurgimento de lutas sociais tidas décadas atras como tradicionais, a exemplo de movimentos étnicos - especialmente dos indigenas na Bolivia e no Equador, associados ou nao a movimentos nacionalistas como odos bolivarianos (Venezuela). Observa-se também no novo milênio a retomada do movimento popular urbano de bairros, ou o neocomunitarismo, especialmente no México e na Argentina. Todos estes movimentos têm eclodido na cena publica como agentes de novos confiitos e renovaçao das lutas sociais coletivas. Em alguns casos elegeram suas lideranças para cargos supremos na naçao, a exemplo da Bolivia. Movimentos que estavam na sombra e tratados como insurgentes, emergem corn força organizat6ria como os pique­teiros na Argentina, cocaleiros na Bolivia e Peru, zapatistas no Mé­xico. Outros ainda articulam-se em redes compostas de movimentos

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sociais globais como o MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra no Brasil e a Via Campesina. Muitos deles passaram a ser discriminados e criminalizados pela midia e alguns 6rgàos publicos. F6runs globais têm articulado estes movimentos em grandes eventos, como o F 6rum Social Mundial. Este ultimo, apesar de se apresentar como transnacional se constitui uma das novidades especificas do associativismo latino-americano deste século pelo fato de ter iniciado suas ediçôes em Porto Alegre/Brasil.

0 movimento dos piqueteiros na Argentina tem composiçao social multiforme e heterogênea (Mirza 2006). Svampa assinala que "as organizaçôes piqueteiras sao muito ambivalentes, corn diferentes in:flexôes politicas que vao da demanda de reintegraçao ao sistema à afirmaçao de uma radicalidade anticapitalista" (2008, 181).

Entre os movimentos de demandas identitârias na América Latina destaca-se o movimento de povos indigenas. Sabe-se que a luta dos povos indigenas de resistência à colonizaçao europeia/branca, é se­cular. Na atualidade, o elemento novo é a forma e o carâter que estas lutas têm assumido - nao apenas de resistência mas também de luta por direitos: reconhecimento de suas culturas e da pr6pria existência, redistribuiçao de terras em territ6rios de seus ancestrais, escolarizaçao na pr6pria lingua, defesa do meio ambiente, etc. Deve-se assinalar também que inumeros dos territ6rios indigenas passaram a ser, em vârios paises, fonte de cobiça devido aos minerais e outras riquezas de seu subsolo, assim como seus cursos d âgua, ou meramente por localizarem-se em rotas onde se planejam gasodutos e outras inter­vençôes macroeconômicas, acirrando assim a tensôes sociais. Por­tanto, questôes bâsicas que dao suporte à expansao do capitalismo, em termos de infraestrutura passaram a ser fonte de con:flitos entre a populaçào, principalmente ribeirinhos ou indigenas (que lu tarn pelos seus territ6rios por serem locais de vida e trabalho/sustento, e agentes econômicos interessados naqueles territ6rios e seus bens, como fontes de energia, ou para expandir matrizes energéticas sobre seus dominio-como os gasodutos, a exemplo dos con:flitos pela âgua em Cochabamba, na Bolivia, em 2000; o bloqueio dos Aymarâs no Lima entre 2000-2001, e a questâo do gas, também na Bolivia, nas negociaçôes corn o Brasil, entre 2003-2005. Na Bolivia, em 2011 criou-se um movimento articulado por lideranças indigenas, contra a construçao, pelo govemo, de uma rodovia de 300 km que busca

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dinamizar o comércio entre as terras baixas da Amazônia boliviana aos vales andinos. Ocorre que tai rodovia atravessani uma reserva ambiental do Parque N acional e Territ6rio Indigena, de 1,1 milhào de hectares, que abriga 13 mil indigenas de diferentes grupos. Tai area foi uma conquista dos povos indigenas quando, em 1990 realizaram a "Marcha pelo Territ6rio e Dignidade." 0 con:flito ganhou as mesas de negociaçôes intemacionais porque varias construtoras ja tinham contratos para a execuçào da obra, que devido a atrasos, foram anu­lados e o trecho que cruzava a reserva foi vetado. Mas o movimento indigena boliviano nào é homogêneo. Ha uma fraçào articulada corn camponeses que sào plantadores de coca. A esses segmentos, a estra­da interessa. 0 con:flito é complexo. Envolve interesses econômicos, politicos e culturais.

No Brasil, os confiitos de terras em zonas indigenas, na floresta amazônica se acirraram depois do novo boom e furor para a plantaçào de cana para a produçào do alcool, tido como nova altemativa energé­tica para o consumo. Nesta breve lista de movimentos sociais na Am é­rica Latina na atualidade, registre-se o movimento dos estudantes, especialmente no Chile corn a Revolta dos Pinguins (Zibas 2008) e as Marchas de 2011 por reformas na educaçào. Em Santiago do Chile, em 2011, 400 mil pessoas sairam às ruas para pedir educaçào pub li ca de qualidade gratuita para todos. 0 movimento dos estudantes no Chi­le tem sido considerado um avanço na luta latino-americana porque suas pautas nào se limitam às melhorias em suas escolas, eles deman­dam reformas na educaçào no pais, denunciam os efeitos das poli ti cas neoliberais dos ultimos anos na educaçào. Alias, nào sào apenas os estudantes que têm se mobilizado. A area da educaçào, especialmente a educaçào na escola basica, tem sido a fonte de protestos de grandes dimensôes ja faz algum tempo na Am érica Latina, a exemplo do Mé­xico, em 2006 na regiào de Oaxaca. Devemos destacar também que a area da educaçào--devido ao potencial dos processos educativos e pedag6gicos para o desenvolvimento de formas de sociabilidade e constituiçào e ampliaçào de uma cultura politica, passou a ser uma area estratégica também para os movimentos populares, a exemplo do MST no Brasil, que desenvolve pedagogias pr6prias, cartilhas e materiais pedag6gicos, tem escolas pr6prias, e busca a formaçào dos professores que atuam em suas escolas, em projetos proprios desen­volvidos em parceria corn universidades publicas brasileiras.

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A colocaçào dos problemas gerados pela globalizaçào da econo­mia na discussào do paradigma latino-americano se faz necessaria dada às consequências que a mesma tem acarretado no cenario da organizaçào da populaçào em gerai. 0 estimulo das politicas eco­nômicas dos anos de 1990 ao setor informai da economia levou ao surgimento de extensas redes produtivas comunitarias, nos paises latino-americanos, expandindo o chamado Terceiro Setor, onde ha grande presença de ONGs-Organizaçôes Nào-Govemamentais. Elas desenvolvem projetos corn as populaçôes demandatarias de bens e serviços, organizadas em redes associativas, operando por meio de projetos que necessitam de: verbas, ser qualificados, avaliados para ter continuidade etc. Ou seja, a açào coletiva, antes presente na maioria dos movimentos sociais latino-americanos, de pressào e reivindicaçào nos anos de 1980, se alterou a partir dos anos 90 e durante a primeira década de 2000 para açôes civis voltadas para a obtençào de resul­tados, em projetos de parceria envolvem corn diferentes setores pu­blicos e privados. Acrescente-se a este cenario a rede de participaçào gerada pelos conselhos, câmaras e f6runs, implementada pelo poder publico via politicas sociais, algumas para atender novas exigências constitucionais. Corn isso, a participaçào institucionalizada, regulada por normas e regras do setor publico estatal passou a ocupar o espaço associativo antes dominado pelos movimentos sociais da sociedade civil. Para Tapia (2009) para entender a construçào e a dinâmica do sujeito nas lutas e movimentos sociais na atualidade, na América Latina, temos de entender as novas politicas institucionalizadas da regiào.

Resulta que, na primeira década do século XXI o cenario do associativismo latino-americano se altera aos poucos, novos tipos de açôes coletivas e de movimentos sociais emergem no final da dé­cada. Ha novidades nas: demandas, identidades, repert6rios e perfil dos participantes. Proliferam movimentos multi e pluriclassistas. Surgiram movimentos transnacionais - que ultrapassam fronteiras do estado/ naçào, vào além do movimento alter ou antiglobalizaçào, a exemplo da CLOC-Coordinadora Latino-americana de Organiza­çôes do Campo. As Marchas e as ocupaçôes tomaram-se o modelo basico de protesto. Este modelo sera retomado ao final da primeira década, aliado a outras inovaçôes na forma do protesto, que é o uso das novas tecnologias, especialmente as redes digitais e redes sociais

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como Facebook, YouTube, Orkut, Linkedin etc. Sào os movimentos inspirados nos Indignados europeus, ou no Occupy Wall Street. Estes movimentos estào reformulando a pauta das demandas, de demandas identitarias, para demandas grupais focadas em problemas da vida cotidiana-emprego, finanças/salario, dividas, serviços sociais como educaçào e saude, terra para vi vere plantar (demanda ja secular, agora em confronto corn o agroneg6cio e outros) maioria destes movimen­tos é composto por jovens.

0 novo cenario dos movimentos sociais altera o quadro das teo­rias apresentadas no item I deste artigo. Novos aportes te6ricos sào desenvolvidos ou reelaborados, especialmente na América Latina; novas ênfases ocorrem nas teorias ja existentes; teorias que tinham hegemonia na América do Norte, difundiram-se na realidade latino­americana e passaram a ser eixos referenciais importantes. 0 mar­xismo ressurge renovado, ao lado de outros aportes te6ricos como o socialismo libertario e o novo humanismo holistico.

Teorias Contemporâneas no campo analitico sobre os Movimentos Sociais

A seguir apresentaremos uma sintese dos marcos te6ricos basicos que tem orientado a analise dos pesquisadores sobre os movimentos sociais na atualidade. Estamos denominando estes referenciais de eixos porque nem todos eles foram construidos enquanto teorias para explicar ou analisar os movimentos sociais. Alguns foram apropria­dos pelos analistas ou pelos proprios movimentos para legitimarem demandas e requerimentos nos processos de negociaçôes corn 6rgàos publicos ou privados, ou para atuarem nas esferas publicas de conse­lhos, f6runs e câmaras institucionalizadas pelo poder publico.

Na primeira década do século XXI, de forma geral, observam-se seis eixos analiticos nas teorias sobre os movimentos sociais, a saber: eixos culturais, centralidade no tema da justiça social, resistência como foco basico, a questào da colonizaçào dos saberes, as teorias corn ênfase nos aspectos institucionais das açôes coletivas, e aborda­gens sobre os protestos transnacionais e corn o uso das redes sociais da atualidade. As caracteristicas de cada eixo sào.

Teorias construidas a partir de eixos culturais, relativas ao pro­cesso de construçào de identidades ( atribuidas ou adquiridas ), onde

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diferentes tipos de pertencimentos sao fundamentais-a um dado ter­ritorio, grupo étnico, religiao, faixa etaria, comunidade, redes e laços de con:fiança ou grupo de interesses etc. Criam-se vinculos e as açôes sao frutos de processos de reflexividade- os sujeitos participantes constroem sentidos e significados para suas açôes a partir do proprio agir coletivo (Melucci, Touraine, Wieviorka entre outros ). A aborda­gem cultural sobre os movimentos sociais cresceu neste novo milênio. Aspectos da subjetividade coletiva e dimensôes da cultura de um grupo ou das pessoas predominam, assim como o desenvolvimento de inovaçôes culturais. 0 crescimento da corrente do pos-modemismo contribuiu para que a abordagem das identidades culturais também crescesse. Aspectos fenomenologicos, reflexivos e relacionais sao destacados nos movimentos sociais.

Teorias focadas no eixo da Justiça Social. Elas destacam as ques­tôes do reconhecimento (das diferenças, das desigualdades) e nas questôes da redistribuiçao (de bens ou direitos, como forma de com­pensar as injustiças historicamente acumuladas ). As teorias cri ti cas, herdeiras da Escola de Frankfurt dao sustentaçao a estas abordagens, desenvolvidas por Honneth (2003) e Fraser (2001). Embora estas teorias nao tenham sido construidas corn a finalidade de explicar movimentos ou mobilizaçôes sociais, elas foram apropriadas por atores e analistas de varios movimentos sociais, discursivamente, para justificar seus pleitos e demandas no piano das praticas de interaçao corn agentes institucionalizados, a exemplos de conselhos, forum e câmaras de discussao e elaboraçao de politicas publicas. Um exemplo é a questao das cotas para afrodescendentes e indigenas no Brasii,·ou a luta de indigenas na Bolivia por suas terras, conforme citamos aci­ma. A teoria do reconhecimento passou a serum apoio argumentativo para lideranças e assessores dos movimentos e incorporada no acervo das bases de uma racionalidade cientifica que justifica e legitima as demandas.

Teorias que destacam a capacidade de resistência dos movimentos sociais. Essa abordagem prioriza o tema da autonomia, das novas formas de lutas em busca da construçao de um novo mundo, de novas relaçôes sociais nao focadas/orientadas pelo mercado e a luta contra o neoliberalismo. Critica-se veementemente a ressignificaçao das lutas emancipatorias e cidadas pelas politicas publicas que buscam apenas a integraçao social, a construçao e produçao de consensos- concla-

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mando para processos participativos, mas deixando-os inconclusos, os resultados sendo apropriados por um s6 lado- que detêm o controle sobre as açôes desenvolvidas. Sao as cidadanias tuteladas, geradas nos processos de modemizaçao conservadora. Trocam-se identidades politicas- construidas e tecidas em longas jomadas de lutas, por politi­cas de identidades- tecidas em gabinetes burocratizados. NaAmérica Latina pesquisadores do CLACSO- Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais, é um born exemplo de produçao te6rica neste eixo, ao fazer o acompanhamento dos movimentos e politicas sociais e criticar a integraçao conservadora em marcha em inumeros paises da América Latina (ver Seoane, Taddei e Algranati, 2006), Seoane (2003), Seoane e Taddei (2001), Boron e Lechini (2006), Sader (2005), Cattani e Cimadamore (2007), e Di Marco e Palomino (2004). 0 CLACSO criou um "Observat6rio Social da América Latina" (2006a, 2006b, 2007) para registrar e fazer avaliaçôes peri6dicas das lutas e dos movimentos da regiao; criou também publicaçôes impor­tantes para subsidiar o debate como a Revis ta Cri tic a y Emancipacion.

Teorias P6s Colonial também denominada por alguns como das racionalidades altemativas. Ele inclui autores da Europa, Estados Unidos, América Latina e Asia. 0 leque de autores é vasto destacan­do-se: Santos (2006, 2009), Quijano (2004), Dussel (2002, 2005), Mignolo (2003), Spivak et ali (2008), Hall (2003), Gilroy (2007), Glissant (2005), Gruzinski (2003); além de precursores como Fanon (1968), Fals Borda (1986), Bhabha (1994), Said (1993), e Ribeiro (1978).

0 enfoque p6s-colonial nao foi construido para explicar especifi­camente mobilizaçôes sociais, mas ele tem si do uma das vertentes que tem revitalizado o debate te6rico sobre os movimentos sociais por­que foca pontas centrais nas lutas e movimentos sociais da América Latina: a apropriaçao do saber dos povos nativos, a expropriaçao de suas terras e cultura, e os processos de dominaçao que as metropoles impuseram aos colonizados. Os oprimidos desenvolveram culturas de resistência--ora se calam, ora se insurgem, porque a situaçao se perpetua, corn mudanças hist6ricas no cenario politico e econômico. A teoria p6s-colonial, teve sua elaboraçao inicial na Europa em re­laçao ao tema da colonizaçao, especialmente na Africa e as formas coloniais ainda hi existentes (ver Spivak 2008). Na América Latina recuperou-se do periodo de sua formaçao hist6rica, a matriz do poder

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colonial no século XVI. Destaca que a fundamentaçâo deste poder esta no controle do conhecimento, fazendo deste controle as bases do dominio politico, econômico, cultural e social. Corn isto, o saber dominante, colonial, desqualificou-se outros conhecimentos e saberes que nâo o do colonizador, europeu, do hemisfério Norte, advindo dos brancos etc. Corn isto, o problema central da América Latina seria a descolonizaçâo do saber e do ser ( enquanto reposit6rio de prâticas e val ores que mantém e reproduzem subjetividades e conhecimentos ), saberes estes que "sâo mantidos por um tipo de economia que ali­menta as instituiçôes, os argumentos e os consumidores" (Mignolo 2009, 254). Na mesma linha de argumentos Sirvent (2008) afirma que um dos grandes problemas sociais contemporâneos é: o fenômeno da naturalizaçâo da injustiça, a exploraçâo e a pobreza nas mentes da populaçâo, inibindo o desenvolvimento do pensamento critico. Corn isto, o poder dominante foi se transformando em nosso sentido comum. Sirvent preconiza a necessidade de se construir poder por meio do conhecimento e isto implica em "construir categorias para pensar a realidade que possam gerar açôes de mobilizaçâo coletiva em confrontaçâo corn os significados que desmobilizam e paralisam" (Sirvent 2008, 22).

Dussel (2002) contribui para novos olhares sobre os movimentos sociais ao analisar uma pedagogia cri ti ca que contribui para a emanci­paçâo dos oprimidos, numa abordagem que une Paulo Freire, a Escola de Frankfurt ( especialmente Marcuse), anâlises de Freud, Nietzsche, Lévinas, etc. para criar uma Ética da Libertaçâo a partir da constru­çâo da identidade das vitimas. A ética da libertaçâo realiza-se corn a consciência ética de ser vitima, ela se transforma em sujeito pela comunidade. 0 comunitarismo e o neocomunitarismo é um veio ana­litico utilizado em algumas vertentes das teorias da descolonizaçâo. As interpretaçôes contemporâneas sobre os movimentos sociais que se apoiam nas teorias p6s-coloniais reforçam o questionamento dos paradigmas e teorias hegemônicas. 0 que a maioria dessas anâlises nâo tem considerado é a questâo das classes sociais porque elas filiam­se a modelos de explicaçâo da realidade social que desconsideram as explicaçôes estruturais, os conflitos de interesses econômicos.

Teoria da Mobilizaçâo Politica. Ela canaliza todas as atençôes para os processos de institucionalizaçâo das açôes coletivas. Preo­cupa-se corn os vinculos e redes de sociabilidade das pessoas, assim

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como o desempenho das pessoas em instituiçôes, organizaçôes, espaços segregados, associaçôes. 0 paradigma te6rico que embasa toda a elaboraçào 1 construçào e desenvolvimento desta abordagem baseia-se nas teorias classicas do paradigma norte-americano citadas no item 1 deste artigo. A teoria da Mobilizaçào Politica da ênfase às oportunidades politicas, as condiçôes favoraveis à mobilizaçào, as disputas e litigios que criam ciclos de pressôes, levando ou nào a formas institucionais de participaçào. Os autores referenciais dessa teoria sào: McAdam, McCarthy, e Zald (1996), Tarrow (1994, 2005), Meyer e Minkoff (2004) e Tilly (2005, 2006, 2007). Na anâlise dos processos de mobilizaçào politica se confrontam atores de movimen­tos e organizaçôes, e atores politicos dos govemos constituidos. Eles criam repert6rios de açôes coletivas que dependendo do contexto edo regime politico vigente, podem ser presentas, toleradas ou proibidas (Tilly 2006). Esta abordagem difundiu-se nos Estados Unidos, na In­glaterra e Holanda desde os anos de 1980, chegando mais tardiamente à América Latina, especialmente no Bras il. A grande maioria dos pes­quisadores que publicaram nas décadas de 1980 e 1990, formaram-se ou foram influenciados mais pela produçào advinda da França, Italia e Espanha, sob a orientaçào de Touraine, Melucci, Castells, e Borja.

0 livro Power in Movement de Tarrow (1994), s6 foi traduzido para o português em 2008. É importante assinalar que o programa de pesquisa norte-americano articulado em tomo à noçào de contentious politics envolve diferentes formas e combinaçôes da açào coletiva, inclui revoluçôes, rebeliôes, nacionalismos e terrorismo, entre outros ternas, deslocando o estudo dos movimentos sociais em si para um segundo plano, ou até mesmo sugerindo desconsidera-los pois as novas formas nào incluiriam mais a forma movimento propriamente dito. Contentious politics categoria inicialmente desenvolvida por Tilly, reconfigurada em trabalho corn Tarrow, recebeu contribuiçôes posteriores de McAdam et al. (1996). No novo século ela foi adotada por outros autores da mesma corrente como Diani e McAdam (2003), Meyer e Minkoff (2004), Johnston e Almeida (2007), e Goodwin e Jasper (2003).

Registre-se ainda que a pauta de debates acadêmicos, nos ultimos anos, especialmente no Brasil, esteve mais focada em tomo das poli­ticas publicas, trazendo preocupaçôes muito mais relacionadas corn a "institucionalizaçào" das praticas coletivas civis que os "novos"

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atores de rnovirnentos sociais apresentarn, agora incorporados à 16-gica politica institucionalizada, bern corno ternâticas sobre as novas formas de gestao social e às formas de participaçao poli ti ca no ârnbito de diferentes instâncias estatais. Isso explica, ern parte, a adoçao da teoria da Mobilizaçao Politica no Brasil. Bntretanto, usualrnente os estudos que adotarn esta abordagern, os atores aparecerarn desligados de urna dirnensao associativa que os enquadrern ern cenârios de con­fiitualidade politica e social; criadores de instâncias coletivas de açào ern constante ressignificaçao e ern eventual situaçao de antagonisrno perante o cenârio politico institucional.

Na prirneira década deste novo século, o tema dos rnovirnentos sociais deixa de ser objeto de pesquisa apenas da acadernia. ONGs e outras entidades do terceiro setor, assirn corno entidades do poder publico adrninistrativo, iniciarn pesquisas ernpiricas sobre alguns rnovirnentos sociais a firn de obter dados para seus pianos e projetos de intervençào na realidade social.

A repolitizaçào dos rnovirnentos sociais. A crise financeira glo­bal de 2008 darâ suporte para o nascirnento de novos rnovirnentos sociais, tanto no rnundo ocidental (Occupy Wall Street e Indignados na Buropa), corno no Oriente (Prirnavera Ârabe e outros). Passararn da antiglobalizaçao (ou alterglobalizaçao) para a negaçào da glo­balizaçào e seus efeitos sobre a econornia e o social, especialrnente ap6s a crise econôrnico-financeira de 2008. Bstao tornando escala global corno Movirnentos de Indignados contra a globalizaçao. A indignaçao, categoria que pode ser analisada ern vârios pianos, es­pecialrnente o da moral, dos val ores, da ética e da jus ti ça social, tern ganhado centralidade nas açôes coletivas dos jovens e atuado corno urn dos principais parârnetros de avaliaçao dos cornportarnentos dos grupos dorninantes-tanto econôrnicos corno os politicos. No inicio deste texto jâ enunciarnos nossa hip6tese: os atuais rnovirnentos estào operando urna renovaçào nas lutas sociais da magnitude que os nov os movirnentos sociais operararn a partir dos anos de 1960. Bles estào reformulando a pauta das demandas, de demandas identitârias, para demandas grupais focadas ern problernas da vida cotidiana-ernprego, finanças/salârio, dividas, serviços sociais corno educaçao e saude, terra para vi ver e plantar (demanda jâ secular, agora ern confronto corn o agroneg6cio e outros ). Bles es tao politizando as demandas socioeconôrnicas e politicas, independente de estruturas partidârias.

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A maioria destes movimentos é composta por jovens e a forma de comunicaçào predominante é On Line, que ganhou status de ferramenta principal para articular as açôes coletivas. Por isso, os recursos analiticos tem de incorporar esta importante alteraçào nas relaçôes que se estabelecem e estruturam os movimentos. A transna­cionalizaçào advém destas mudanças a exemplo da ja citada CLOC­Coordinadora Latino-americana de Organizaçôes do Campo. É um tipo de movimento virtual, sem sede ou grupo organizador de grande visibilidade. A comunicaçào nào ocorre s6 via os computadores e a Internet. Celulares e diferentes formas de midia m6vel passaram aser o meio de comunicaçào basico, o registra instantâneo de açôes trans­formaram-se em arma de luta, açôes que geram outras açôes coma resposta. Twitter, Facebook, YouTube, Linkedin, Groupon, e Zynga acionados principalmente via aparelhos m6veis sào ferramentas do ciberativismo que se incorporaram ao perfil do ativista. A preocupa­çào corn as redes sociais e digitais leva às abordagens que as tomam camo processos em andamento e buscam construir metodologias para captar as conexôes entre o global e o local, suas interaçôes cognitivas a partir de rastros dadas pela comunicaçào e mi dias digitais. 0 traba­lho do pesquisador é cognitivo e politico porque ele deve realizar um rastreamento para elaborar uma cartografia de processos sociais "se fazenda" e nào ja dadas, prontos ou acabados. Recomenda-se retraçar os percursos captando-se as inquietaçôes, os conflitos e as controvér­sias porque as redes sào polissêmicas, diversas e nào univocas. Os estudos destacam coma os atores tecem seus percursos na rede, mas o pesquisador continua esta tessitura ao elaborar suas cartografias. Algumas das questôes que se colocam sào: quais espaças cognitivos e poli ti cos utilizam, que saberes constroem, camo se auto representam, quai a cartografia de seus embates coletivos (Latour 2005)?

Novas teorias estào sendo construidas a respeito desses novissi­mos movimentos, advindas de autores de varias paradigmas te6ricos, destacando: o marxismo, o socialismo libertario e o humanismo holis­tico. Dentre os marxistas, encontramos varias subgrupos, filiados ao marxismo tradicional ou ao neo-marxismo, onde o pensamento critico agrupa-se em dois grandes blocos. 0 primeiro acentua o sistema e o segundo os sujeitos da açào. No primeiro bioco, muitos autores nào analisam especificamente os movimentos mas referem-se a eles, tais coma: Negri e Hardt, ( e a analise da multidào ); Cox, Therbom, Harvey

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(destaca dimensôes espaciais); Wallerstein (sistema-mundo); Jarne­son, Arrighi, e Eagleaton (para esse ultimo, as denilncias e o combate à exploraçao, à desigualdade e à exploraçao sao centrais hoje como no século XIX). No segundo bioco temos autores que tem analisado e inspirado açôes de movimentos como Rancière, Zizek (fil6sofo e psicanalista lacaniano, fonte de inspiraçao para jo v ens do movimento Occupy Wall Street), Linera (Vice Presidente da Bolivia), e Badiou. Um legado comum a todos eles sao os estudos sobre movimentos sociais de Hobsbawm, Thompson e Rudé. Alguns observam que ha sempre um substrato, um legado do passado que se traduz em mem6-ria e aprendizados, muitas vezes sufocados e calados como formas de resistência, que em dadas ocasiôes, reaparecem, e se articulam corn os fatos do presente, reagrupam forças sociopoliticas, reconstroem a identidade dos grupos e movimentos, rompendo corn formas de dominaçao. No passado Thompson chamou este processo de interpre­taçao da realidade, isto porque os movimentos surgem a partir de uma refiexao por parte de seus integrantes sobre sua pr6pria experiência; isto é, eles sao em ultima instância, movimentos de reinterpretaçao.

David Harvey, o fil6sofo neomarxista Slavoj Zizek, e o urbanis­ta Mike Davis afirmam que falta aos movimentos atuais definiçôes estratégicas, programaticas e te6ricas (ver Ali, Alves, Davis, Harvey, Zizek, et ali 2012). Destacam também o cenario sombrio- crise eco­nômica e desemprego. Mas muitos destes movimentos nao têm pianos programâticos por convicçao, se inspiram mais nos ideais do socialis­mo libertârio do século XIX do que da esquerda tradicional (Di Cintio 201 0); assim como se inspiram também em teorias do humanismo, versôes que combinam corn visôes holisticas. Por isso é interessante resgatar alguns dos principios do anarquismo do século XIX, na figura de Proudhon e Kropotkin, para vermos as similaridades. Nas mani­festaçôes de estudantes na França na década de 2010 e no Chile, em 2011, as teorias libertârias tiveram grande vigor. Elas têm recriado as utopias, movem os estudantes e incendeiam as paixôes dos jovens, nas respectivas geraçôes. Contestam o status quo, propôem um novo modelo de sociedade, destacam os individuos e suas açôes.

0 pensamento humanista cresceu e espalhou-se entre os ativistas da cibercultura. Stéphane Hesse!, que esteve em campos de concentra­çao de judeus duran te o periodo nazista, salvou-se e depois participou da Resistência Francesa, escreveu em 2011, corn 93 anos um livreto

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"Indignai- vos!" 0 livro em poucos meses vendeu 1.500.000 exem­plares e foi publicado em varias linguas. Ele "fez a cabeça" da maioria dos jovens que estào se indignando pelo mundo no inicio desta nova década. A indignaçào é vista como um valor humano, essencial para a justiça social. Nào se preconiza a violência ou atos terroristas, ao contnirio-eles sào condenados.

A abordagem humanista/holistica pode ser observada também no caso dos povos indigenas da Bolivia. Dentre os principios que dao suporte a nova Constituiçào e a lei boliviana de Participaçào e Controle Social de 2010 esta o do "vivir bien," ou Suma Kamana, que envolve a ideia holistica de viver hem e em equilibrio entre os seres humanos e corn a natureza. A incorporaçào desta categoria no universo de reconstruçào do Estado e naçào boliviana (a qual foi também incorporada na nova Constituiçào do Equador) promove uma mudança paradigmatica por estimular a interculturalizaçào no pais. A populaçào é convidada a pensar e agir corn principios de seus ancestrais, num movimento de descolonizaçào de ideias e praticas. 0 eixo articulat6rio desta abordagem é dado por uma concepçào de desenvolvimento-antes associada a desenvolvimento e cres­cimento econômico, para uma concepçào humanista, que enfatiza o individuo e a qualidade de vida--denominada por alguns como "desenvolvimento humano integral e sustentavel." Esta mudança de foco-a primeira vista inovadora, podera trazer sérios problemas porque certas abordagens associam o bem-estar e a qualidade de vida ao desempenho dos individuos. Obter o bem-estar é responsabilidade dos individuos e seu grupo de pertencimento, desresponsabilizando o estado e a sociedade. 0 progresso seria obtido quando os individuos têm controle sobre suas vidas, quando atuam sobre suas condiçôes de vida. Walsh (2010) assinala que os principios-individuo e qualidade de vida, presentes do modelo do "bien vivir" sào sustentados por quatro critérios: liberdade, autonomia, coexistência e inclusào social.

No novo cenario, analistas como Tariq Ali (20 12) reconhecem: "as pessoas estào buscando altemativas, agora sem os partidos politicos" (em Ali et ali 2012, 69). Um ponto unânime na maioria dos analis­tas: estes movimentos têm conseguido "alterar o discurso mundial, levando-o para longe dos mantras ideol6gicos do neoliberalismo, para ternas como a desigualdade, injustiça e descolonizaçào" (Wallerstein emAli et ali 2012, 75).

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Conclusôes

Este artigo buscou demonstrar que hâ um campo especifico no estu­do dos movimentos sociais. Trata-se da Sociologia dos Movimentos Sociais, uma ârea clâssica de estudo da sociologia e das ciências sociais desde seus prim6rdios via o estudo das açôes coletivas que depois se consolidou corn nome pr6prio-movimentos sociais. Ela nao é apenas um momento da produçao sociol6gica, como pensam alguns, reduzindo as manifestaçôes empiricas, corn seus fluxos e refluxos, e confundindo a produçao acadêmica dos diferentes ciclos dos movi­mentos corn a pr6pria existência concreta do fenômeno.

0 foco principal do artigo é a questao das teorias. A primeira parte fez um estudo sobre os suportes te6rico-metodol6gicos que configu­ram as abordagens sobre os movimentos sociais e seus respectivos paradigmas analiticos. Agrupamos as abordagens em três grandes paradigmas ( o norte-americano, o europeu e o latino-americano) se­gundo as teorias que abrigam, destacando-se os conceitos e as catego­rias utilizadas nas mesmas. Concluimos que o conceito "movimento social" tem sofrido, historicamente, uma série de alteraçôes, até no seio de uma mesma corrente te6rica.

Observa-se que a maioria dos autores que estudaram os movimen­tos sociais até os anos 70 do século XX os incluiram numa teoria da açao social (Smelser 1962; Tilly 1978; Touraine 1965, 1973). A partir dos efeitos dos movimentos sociais da década de 1960---direitos ci vis e estudantes, o campo dos movimentos sociais se amplia e afirma-se como estudo de movimentos e nao apenas açôes coletivas. Destaca­mos que a América do Norte, a Europa e a América Latina possuem contextos hist6ricos especificos, e lutas e movimentos sociais corres­pondentes a estes contextos. Europa e América do Norte formularam teorias pr6prias. NaAmérica Latina as posturas metodol6gicas foram hibridas, geraram muitas informaçôes mas o conhecimento produzido foi orientado basicamente por teorias criadas em outros contextos, diferentes de suas realidades nacionais, como a teoria europeia dos novos movimentos sociais.

A segunda parte deste artigo destacou os movimentos sociais na América Latina nos ultimos anos. Partindo de breve caracterizaçao de seu cenârio, apresentamos os eixos te6ricos que tem orientado os estudos a seu respeito. Dentre eles destacam-se aqueles que buscam

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aliar a especificidade do processo hist6rico latino-americano corn mudanças e transformaçôes globais. Resistência e autonomia sào ca­tegorias chaves, especialmente nas abordagens sobre os movimentos dos povos indigenas, camponeses etc. Entretanto, o desenvolvimento do processo democnitico em vârios paises tem levado a politicas publicas formuladas a partir de diâlogos e parcerias corn a sociedade civil organizada, de forma despolitizada, deixando muitos movi­mentos sociais corn pouco espaço para suas açôes. Neste cenârio, as abordagens advindas das teorias da Mobilizaçào Politica, corn suas categorias ( estruturas de oportunidades, "contentious politics", fra­mes) tem ganhado espaço porque elas focalizam menos os confiitos, e mais as negociaçôes, a "engenharia do social" tecida nas estruturas institucionalizadas. 0 movimento dos afrodescendentes, especial­mente no Bras il, tem si do analisado sob este enfoque ( aliada à teoria do reconhecimento ), dado a atuaçào do poder pub li co na ultima dé­cada em questôes como a dos "quilombolas" (terras de ex-escravos), cotas para acesso na Universidade, pub li cas e privadas ( essas ultimas corn o PROUNI-Programa Universidade para Todos).

Concluimos a segunda parte do artigo corn uma volta ao gerai ao tratarmos como ultimo eixo temâtico da contemporaneidade os movimentos transnacionais do século XXI, especialmente as mobili­zaçôes: Primavera Arabe, Indignados na Europa, Occupy Wall Street em varias regiôes do mundo, e estudantes. 0 cenârio das mobilizaçôes se alterou: passou da antiglobalizaçào (ou alterglobalizaçào) para a negaçào da globalizaçào e seus efeitos sobre a economia e o social. Pensando em termos de uma Sociologia dos Movimentos Sociais, concluimos que os atuais movimentos estào operando uma renova­çào nas lutas sociais da magnitude que os novos movimentos sociais operaram nas décadas de 1960, 1970 e parte de 1980 Eles estào re­formulando a pauta das demandas e repolitizando-os de forma nova, na maioria das vezes independente das estruturas partidârias.

A nova etapa das lutas sociais se faz aliando inovaçôes tecnol6gi­cas e retomo às teorias do século XIX, totalmente revisadas. De um lado, os neomarxistas, de outro, o socialismo libertârio e o humanis­mo holistico, em certos segmentos dos povos indigenas da realidade latino-americana como a teoria do "bien vivir." No plano das anâlises, nào se trata mais de contrapor os novos movimentos sociais- nucle­ados em tomo de questôes identitârias, tais como sexo, etnia, raça,

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faixa etaria etc., aos "velhos" movimentos, dos trabalhadores, como Clauss Offe, e outros fizeram na década de 1980, por exemplo. Nao se trata, portanto, de contrapor tipos de movimentos ou açôes coleti­vas, e nem paradigmas te6ricos interpretativos como mais ou menos adequados, até porque, todos eles continuam a coexistir corn os novos. Trata-se de reconhecer a diversidade de movimentos e açôes civis coletivas, suas articulaçôes e os marcos interpretativos que tem lhes atribuidos sentidos e significados novos, o que eles têm trazido à luz no campo da investigaçao de uma Sociologia dos Movimentos Sociais. Resulta do novo cenario que movimentos sociais voltaram a ter visibilidade e centralidade na nova década do século XXI, como atores que pressionam por processos de mudança social e rein ven tarn as formas de fazer politica. Eles também se transformaram bastante, realizaram deslocamentos em suas identidades e incorporaram outras dimensôes do pensar e agir social. Alteram seus projetos politicos. Mas como sao muitos e heterogêneos, parte deles fragmentou-se, perdeu ou redefiniu sua identidade, ideias e pontos de vistas centrais, alterando o projeto e a cultura politica existente. Outros se redefini­ram segundo as mudanças de outros atores sociais em cena. Outros ainda aproveitaram brechas e se conectaram corn as possibilidades dadas pela globalizaçao, econômica (geradora de resistências e pro­testos) e cultural (geradora de novas sociabilidades, novas interaçôes e aprendizagens baseadas na pedagogia do exemplo- aprender via observaçao-nos grandes eventos transnacionais, ou via conexao na rede Internet). 0 perfil dos participantes alterou-se-de militante para um ativista. As Marchas tomaram-se o modelo basico de protesto. As redes sociais substituiram os "muros de Paris," como divulgado­ra das demandas, palavras de ordem e articuladora das açôes em si, lembrando e comparando corn 1968.

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