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Capítulo 7 Estrutura social é o que define determinada sociedade. Ela se constitui da relação entre os vários fatores (econômicos, políticos, históricos, sociais, religiosos, culturais) que dão uma feição para cada sociedade. Uma das características da estrutura de uma sociedade é sua estratificação, ou seja, a maneira como os diferentes indivíduos e grupos são classificados em estratos (camadas) sociais e o modo como ocorre a mobilidade de um nível para outro. A estratificação social e as desigualdades decorrentes são produzidas historicamente e se expressam na organização das sociedades em sistemas de castas, de estamentos ou de classes. As sociedades organizadas em castas No mundo antigo, há vários exemplos da organização em castas,mas é na Índia que esse sistema se apresenta de forma mais clara. A sociedade indiana começou a se organizar em castas há mais de 3 mil anos, adotando uma hierarquização baseada em religião, etnia, hereditariedade e ocupação. Apesar de na índia haver hoje uma estrutura de classes, já que o sistema de castas foi legalmente abolido em 1950,o mesmo sobrevive pela força da tradição. Existem quatro grandes castas na índia: a dos brâmanes (casta sacerdotal, superior a todas as outras), a dos xátrias (formada normalmente pelos guerreiros, que se encarregam do governo e da administração pública), vaixás (comerciantes, artesãos e camponeses, que se situam abaixo dos xátrias) e a dos sudras (a casta dos inferiores, na qual se situam aqueles que fazem trabalhos manuais considerados servis). Os párias são os que não pertencem a nenhuma casta.O sistema de castas caracteriza-se por relações estanques.Não há, portanto, mobilidade social nesse sistema

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Captulo 7Estrutura social o que define determinada sociedade. Ela se constitui da relao entre os vrios fatores (econmicos, polticos, histricos, sociais, religiosos, culturais) que do uma feio para cada sociedade. Uma das caractersticas da estrutura de uma sociedade sua estratificao, ou seja, a maneira como os diferentes indivduos e grupos so classificados em estratos (camadas) sociais e o modo como ocorre a mobilidade de um nvel para outro.A estratificao social e as desigualdades decorrentes so produzidas historicamente e se expressam na organizao das sociedades em sistemas de castas, de estamentos ou de classes. As sociedades organizadas em castasNo mundo antigo, h vrios exemplos da organizao em castas,mas na ndia que esse sistema se apresenta de forma mais clara. A sociedade indiana comeou a se organizar em castas h mais de 3 mil anos, adotando uma hierarquizao baseada em religio, etnia, hereditariedade e ocupao. Apesar de na ndia haver hoje uma estrutura de classes, j que o sistema de castas foi legalmente abolido em 1950,o mesmo sobrevive pela fora da tradio.Existem quatro grandes castas na ndia: a dos brmanes (casta sacerdotal, superior a todas as outras), a dos xtrias (formada normalmente pelos guerreiros, que se encarregam do governo e da administrao pblica), vaixs (comerciantes, artesos e camponeses, que se situam abaixo dos xtrias) e a dos sudras (a casta dos inferiores, na qual se situam aqueles que fazem trabalhos manuais considerados servis). Os prias so os que no pertencem a nenhuma casta.O sistema de castas caracteriza-se por relaes estanques.No h, portanto, mobilidade social nesse sistemaA introduo dos padres comportamentais do Ocidente tm feito as diferentes classes se relacionarem, e no caso da ndia, o sistema de castas est sendo gradativamente desintegrado,mas ainda no desapareceu.O sistema de estamentosO sistema de estamentos constitui outra forma de estratifcao social. A sociedade feudal organizou-se dessa maneira: os indivduos eram diferenciados desde que nasciam, ou seja, os nobres tinham privilgios e obrigaes que em nada se assemelhavam aos direitos e deveres dos camponeses e dos servos, porque a desigualdade, alm de existir de fato, e ser considerada natural, transformava-se em direito. Existia assim um direito desigual para desiguais.A possibilidade de mobilidade de um estamento para outro existia, mas era muito controlada alguns chegavam a conseguir ttulos de nobreza, o que, no entanto, no significava obter o bem maior, que era a terra. A pro priedade da terra definia o prestgio e o poder dos indivduos. Os que no a possuam eram dependentes, econmica e politicamente, alm de socialmente inferiores. O que explica, entretanto, a relao entre os estamentos a reciprocidade. No caso das sociedades do perodo feudal, existia uma srie de obrigaes dos servos para com os senhores (trabalho) e destes para com aqueles (proteo), ainda que camponeses e servos estivessem sempre em situao de inferioridade. Entre os proprietrios de terras, havia uma relao de outro tipo,a de suserania e vassalagem.Tambm poderia acontecer de um nobre virar pobre e mesmo assim valeria mais que um pobre que j nasceu em tal situao.Hoje, muitas vezes o termo estamento utilizado para determinar uma categoria ou atividade profissional que tem regras muito precisas para que se ingresse nela ou para que o indivduo se desenvolva nela, com um rgido cdigo de honra e de obedincia.PobrezaA pobreza a expresso mais visvel das desigualdades em nosso cotidiano. Ao longo da histria, ela recebeu diferentes explicaes. No perodo medieval, no eram critrios econmicos ou sociais que definiam a pobreza, mas a condio d e nascena,como pregava a Igreja Catlica. Outra explicao paralela, corrente no mesmo perodo, atribua a pobreza a uma desgraa decorrente das guerras ou de adversidades como doenas ou deformidades fsicas.Isso tudo mudou a partir do sculo XVI, quando se iniciou uma nova ordem, na qual o indivduo se tornou o centro das atenes. O Estado herdou a funo de cuidar dos pobres, antes atribuda aos ricos. Com o crescimento da produo e do comrcio, houve necessidade crescente de mo de obra, e a pobreza e a misria passaram a ser interpretadas como resultado da preguia dos indivduos que no queriam trabalhar, uma vez que havia muitas oportunidades de emprego. Essa justificativa tinha por finalidade fazer com que as grandes massas se submetessem s condies do trabalho industrial emergente. No final do sculo XVIII, com o fortalecimento do liberalismo, outra justificativa foi formulada: as pessoas eram responsveis pelo prprio destino e ningum era obrigado a dar trabalho ou assistncia aos mais pobres.Em meados do sculo XIX, difundiu-se a ideia de que os trabalhadores eram perigosos por duas razes: eles poderiam no s transmitir doenas por que viviam em condies precrias de saneamento e de sade, como tambm se rebelar, fazer movimentos sociais e revolues, questionando os privilgios das outras classes, que possuam riqueza e poder.Captulo 8A sociedade capitalista dividida em classes e nela est muito evidente que as relaes e estruturas de apropriao (econmica) e dominao (poltica) definem a estratificao social. Os outros fatores de distino e diferenciao, como a religio, a honra e a hereditariedade, apesar de existirem, no possuem a fora que tm nos sistemas de castas e de estamentos. A produo e o mercado tornaram-se os elementos mais precisos de classificao e mobilidade sociais. Assim, as classes sociais expressam a forma como as desigualdades se estruturam na sociedade capitalista.Hierarquizao e mobilidadeExistem duas grandes maneiras de pensar a questo das classes: considerando a posio dos indivduos e grupos no processo de produo ou considerando a capacidade de consumo como fator de classificao. No primeiro caso, pode-se ter uma hierarquizao dos grupos como a seguinte: classes dos proprietrios de terras, burguesa, pequeno-burguesa ou mdia, trabalhadora ou operria. No segundo, tem-se: classes alta, mdia e baixa ou, ento, variaes como classes A, B, C, D e E. As desigualdades nas sociedades modernas so expressas na pobreza e na misria. A mobilidade social nas sociedades capitalistas maior do que nas divididas em castas ou estamentos, mas no to ampla quanto parece.Quando os trabalhadores comearam a lutar por melhores condies de trabalho, procurou-se difundir a ideia de que todo indivduo competente pode vencer na vida. Esforando-se, os trabalhadores qualificados teriam a possibilidade de se converter em capitalistas. Como j vimos, nas sociedades divididas em castas ou estamentos, os indivduos nascem desiguais e assim vivem. Na sociedade capitalista, a desigualdade constitutiva, mas h um discurso segundo o qual todos tm as mesmas oportunidades e pelo trabalho podem prosperar e enriquecer.A desigualdade constitutiva da sociedade capitalistaSeguindo o pensamento de Karl Marx, pode-se afirmar que existem duas classes fundamentais: a burguesia e o proletariado. Elas so contraditrias, mas tambm complementares, pois uma no pode existir sem que a outra exista. Contudo, afirmar que nas sociedades capitalistas essas duas classes so as fundamentais no quer dizer que se pode reduzir toda a diversidade das sociedades a uma polaridade. O processo histrico de constituio das classes e a forma como elas se estruturaram determinaram o aparecimento de uma srie de fraes, bem como de classes mdias ou intermedirias, que ora apoiam a burguesia, ora se juntam ao proletariado, podendo ainda, em certos momentos, desenvolver lutas particulares. E por luta de classes entende-se no somente o confronto armado, mas tambm todos os procedimentos institucionais, polticos, legais e ilegais de que a classe dominante se utiliza para manter o status quo. nesse processo que aparecem as caractersticas e os interesses de classe, tanto das fundamentais como das intermedirias. Portanto, para Marx, no h uma classificao apriori das classes em dada sociedade. necessrio analisar historicamente cada sociedade e perceber como as classes se constituram no processo de produo da vida social. A questo das desigualdades entre as classes real e se expressa no cotidiano. Para Marx, a estrutura de classes na sociedade capitalista o prprio mo vimento interno dessa estrutura, sendo o antagonismo entre a burguesia e o proletariado a base da transformao social. Desigualdades de riqueza, prestgio e poderMax Weber, ao analisar a estratificao social em uma sociedade, parte da distino entre as seguintes dimenses: econmica quantidade de riqueza (posses e renda) que as pessoas possuem; social status ou prestgio que as pessoas ou grupos tm, seja na profisso, seja no estilo de vida; poltica quantidade de poder que as pessoas ou grupos detm nas relaes de dominao em uma sociedade.Partindo dessas trs dimenses, ele afirma que muitas pessoas podem ter renda e posses, mas no prestgio, nem status , nem posio de dominao. Outras podem ter poder e no ter riqueza correspondente dominao que exercem. Outras pessoas, ainda, podem ter certo status e prestgio na sociedade, mas no possuir riqueza nem poder. Para Weber, os membros de uma classe tm as mesmas oportunidades de acesso a bens e uma posio social.Max Weber tambm escreve sobre as lutas de classes, mas, diferentemente de Marx, afirma que elas ocorrem tambm no interior de uma mesma classe. Se houver perda de prestgio, de poder ou at de renda no interior de uma classe ou entre classes, podero ocorrer movimentos de grupos que lutaro para mant-los e, assim, resistiro s mudanas.Oportunidades e estratificao H um conjunto de autores que caracterizam a sociedade moderna como desigual, mas declaram que h possibilidades de ascenso social de acordo com as oportunidades oferecidas aos indivduos. Alguns aproveitam as oportunidades e outros no, tendo xito aqueles que dispem de mais talento e qualificao.Sobre a ideia de excluso-induso A excluso social pode ser entendida com base em duas orientaes opostas: uma transformadora e uma conservadora. A orientao transformadora utilizada de forma inadequada para caracterizar a situao daqueles que esto na condio da classe trabalhadora. Entretanto, isso questionvel, porque o trabalhador est includo no sistema, s que em condies precrias de vida. A orientao conservadora se expressa na ideia de que necessrio adotar medidas econmicas e polticas que permitam integrar os excludos na sociedade que os exclui. Captulo 9Analisando historicamente a questo das desigualdades sociais no Brasil, percebe-se que inicialmente os povos indgenas que habitavam o continente foram vistos pelos europeus como seres diferentes. Depois se alterou essa concepo, mas ainda h quem veja os indgenas preconceituosamente. Mais tarde, houve a introduo do trabalho escravo negro e at hoje seus descendentes sofrem discriminao e preconceito. medida que a sociedade brasileira se industrializou e se urbanizou, novos contingentes populacionais foram absorvidos pelo mercado de trabalho nas cidades.Com as transformaes que ocorreram a partir de ento, houve um crescimento vertiginoso das grandes cidades e um esvaziamento progressivo da zona rural. Como nem toda a fora de trabalho foi absorvida pela indstria e pelos setores urbanos foi-se constituindo nas cidades uma grande massa de desempregados. Hoje, com os avanos tecnolgicos, essa massa de indivduos praticamente no encontra chance de emprego, por tratar-se de mo de obra desqualificada. ela que evidencia como o processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil foi criando as desigualdades.A desigualdade analisada no Brasil A primeira tentativa de explicar a pobreza no Brasil, a partir do final do sculo XIX, consistiu em relacion-la influncia do clima e riqueza das matas e do solo. Afirmava-se que o brasileiro era preguioso, indolente, supersticioso e ignorante porque a natureza tudo lhe dava: frutos, plantas, solo frtil, etc. Era to fcil obter ou produzir qualquer coisa que no havia necessidade de trabalhar., a maioria dos cientistas, polticos, juristas e intelectuais desenvolveram teorias racistas e deterministas para explicar os destinos da nao brasileira. A pobreza seria sempre um dos elementos essenciais dessa explicao, e uma decorrncia da escravido ou da mestiagem.Fome e coronelismoA partir da dcada de 1940 a questo das desigualdades sociais era vista com base na explorao das desigualdades econmicas e sociais entre os povos que, no passado, tinham sido alvo da explorao colonial no mundo capitalista. Era defendido que a educao e a reforma agrria eram elementos essenciais para resolver o problema da fome no Brasil. Alguns autores apresentavam o coronel vinculado grandes propriedades rurais, principalmente no Nordeste, mantendo os trabalhadores em situaes de fome e subsistncia.Raa e classesA relao entre as desigualdades e as questes raciais voltou a ser analisada na dcada de 1950. Alguns autores abordaram essa questo do ponto de vista das desigualdades sociais, procurando desmontar o mito da democracia racial brasileira, e colocaram o tema da raa no contexto das classes sociais. Vrios estudiosos demonstraram que os ex-escravos foram integrados de forma precria, criando-se uma desigualdade constitutiva da situao que seus descendentes vivem at hoje.Formao das classes sociais e mudanas sociaisA partir da dcada de 1960, outras temticas que envolviam as desigualdades sociais foram abordadas, com nfase na anlise das classes sociais existentes no Brasil. Procurou-se entender como ocorreu a formao do empresariado nacional, das classes mdias, do operariado industrial e do proletariado rural. Nas dcadas seguintes, a preocupao situou-se nos novos movimentos sociais e no novo sindicalismo. Buscava-se entender como os trabalhadores e deserdados no Brasil organizavam-se para fazer valer seus direitos como cidados, mesmo que a maioria ainda estivesse vivendo miseravelmente. Mercado de trabalho e condies de vidaN dcada de 1990,ganharam destaque os temas: emprego e desemprego, mercado formal e informal de trabalho e mensurao da pobreza e linha de pobreza. A questo racial continuou presente e a questo de gnero ganhou espao, destacando principalmente a situao desigual das mulheres em relao dos homens.ndices de desigualdadeJ na dcada de 1990, organismos nacionais e internacionais criaram ndices sobre as desigualdades e a pobreza. Esses ndices apontam as mais variadas formas de desigualdade, deixando de lado a questo das classes sociais e a explorao existente. O fundamental quantificar os pobres, os ricos, os setores mdios e como vivem, pois o objetivo central descrever a realidade em nmeros e grficos. Foi assim que nasceram vrios programas governamentais o Fome Zero, o Bolsa Famlia, o Bolsa Gs e outros tantos. O estudo sobre desigualdades se expressa por meio do preconceito e se apresenta em evidncias tais quais: os negros e pardos em nossa sociedade recebem salrios menores e tm poucas condies de acesso a melhores condies. Percebe-se que a anlise marxista foi perdendo espao para dados demogrficos, o que pode em muitas vezes no explicar a real situao do pas.