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S S O O L L O O S S M M A A N N E E J J O O I I N N T T E E G G R R A A D D O O E E E E C C O O L L Ó Ó G G I I C C O O - - ELEMENTOS BÁSICOS - - Porto Alegre, 2000

SOLOS - Manejo Integrado e Ecológico

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SOLOS - MANEJO INTEGRADO E ECOLÓGICOElementos básicos

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  • 1SSSS OOOO LLLL OOOO SSSSMMMMAAAANNNNEEEEJJJJOOOO IIIINNNNTTTTEEEEGGGGRRRRAAAADDDDOOOO

    EEEE EEEECCCCOOOOLLLLGGGGIIIICCCCOOOO

    -- EELLEEMMEENNTTOOSS BBSSIICCOOSS --

    Porto Alegre, 2000

  • 2EMATER/RS Rua Botafogo, 1051 901150-053 Porto Alegre RS Brasil fone (0XX51) 233-3144 fax (0XX51) 233-9598 http://www.emater.tche.br________________________________________________

    tiragem: 1.000

    F382s FERREIRA, T.N. (Coord.); SCHWARZ, R.A. Coord.); STRECK, E.V. (Coord.) Solos: manejo integrado e ecologico - elementos bsicos. Porto Alegre: EMATER/RS, 2000. 95p.

    CDU 631.4

  • 3PARTICIPARAM NA ELABORAO

    - Claudino Monegat- Edemar Valdir Streck- Fernando Ripalda de Freitas- Itacir Barreto de Melo- Luiz Antnio Rocha Barcellos- Jorge Silvano Silveira- Jorge Vivan- Ricardo Altair Schwarz- Soel Antnio Claro- Tabajara Nunes Ferreira

    PARTICIPARAM NA REVISO :

    - Alberto Bracagioli Neto EMATER - RS- Antoninho L. Berton EMATER - RS- Claudino Monegat EPAGRI SC- Edemar Valdir Streck EMATER RS- Ernildo Rowe EPAGRI - SC- Fernando Ripalda de Freitas EMATER RS- Francisco Roberto Caporal EMATER RS- Gervsio Paulus EMATER - RS- Itacir Barreto de Melo EMATER RS- Jackson Ernani Fiorin FUNDACEP- Jos Antnio Costabeber EMATER - RS- Leandro Wildner EPAGRI - SC- Luiz Antnio Rocha Barcelos EMATER RS- Marimnio Alberto Weingrtner CAPA So Loureno do Sul- Mrio Antnio Bianchi FUNDACEP- Ricardo Altair Schwarz EMATER - RS- Soel Antnio Claro EMATER RS- Tabajara Nunes Ferreira EMATER- RS

    COORDENAO GERAL

    Tabajara Nunes Ferreira Ricardo Altair Schwarz Edemar Valdir Streck

  • 4SUMRIO

    1 Introduo ...................................................................................................................... 07

    2 Levantamento e classificao dos solos ................................................................... 08

    2.1 Referncias Bibliogrficas .......................................................................................... 11

    3 Capacidade de uso das terras .................................................................................... 12

    3.1 Referncias Bibliogrficas .......................................................................................... 14

    4 Amostragem do solo no sistema plantio direto ......................................................... 15

    4.1 Referncias Bibliogrficas .......................................................................................... 15

    5 Correo da acidez do solo ....................................................................................... 16

    5.1 Referncias Bibliogrficas .......................................................................................... 20

    6 Adubao do solo no sistema plantio direto ................................................................ 21

    6.1 Adubao verde .......................................................................................................... 23

    6.1.1 Reciclagem de nutrientes ...................................................................................... 23

    6.1.2 Adubao somente com biomassa ........................................................................ 30

    6.2 Adubos orgnicos ...................................................................................................... 31

    6.3 Uso de cinzas vegetais ............................................................................................... 35

    6.4 Fosfatos naturais reativos .......................................................................................... 37

    6.5 Referncias Bibliogrficas .......................................................................................... 38

    7 Plantas protetoras e melhoradoras do solo .............................................................. 41

    7.1 Efeito das plantas de cobertura sobre as condies qumicas do solo ................... 42

    7.2 Efeito das plantas de cobertura sobre as condies fsicas do solo .......................... 45

    7.3 Efeito das plantas de cobertura sobre as condies biolgicas do solo .................... 47

    7.4 Outros benefcios das plantas de cobertura ............................................................... 49

    7.4.1 Apicultura ................................................................................................................. 49

    7.4.2 Forrageiras .............................................................................................................. 50

    7.4.3 Alelopatia ................................................................................................................. 50

    7.5 Espcies usadas para cobertura verde ...................................................................... 55

    7.6 Manejo das plantas de cobertura ............................................................................... 58

    7.6.1 reas com pedregosidade ....................................................................................... 58

    7.6.2 reas localizadas em terrenos mais favorveis ...................................................... 59

    7.6.2.1 Azevm ................................................................................................................. 59

    7.6.2.2 Mucuna ................................................................................................................. 59

    7.6.2.3 Nabo forrageiro ..................................................................................................... 60

  • 57.6.2.4 Aveia preta ............................................................................................................ 61

    7.6.2.5 Ervilhaca comum .................................................................................................. 61

    7.6.2.6 Gorga .................................................................................................................... 61

    7.7 Consideraes finais .................................................................................................. 62

    7.8 Referncias Bibliogrficas .......................................................................................... 63

    8 Mquinas e equipamentos para manejo das plantas de cobertura .......................... 65

    8.1 Rolo faca ..................................................................................................................... 65

    8.1.1 Manejo da operao de rolagem ............................................................................. 66

    8.2 Grade de discos .......................................................................................................... 67

    8.3 Grade de dentes ......................................................................................................... 68

    8.4 Rolo disco. .................................................................................................................. 69

    8.5 Rolo picador ................................................................................................................ 70

    8.6 Roadeira ................................................................................................................... 70

    8.7 Segadeira .................................................................................................................... 71

    8.8 Triturador .................................................................................................................... 72

    8.9 Distribuidores de calcrio e de estercos slidos ......................................................... 72

    8.10 Referncias Bibliogrficas ........................................................................................ 73

    9 Tcnicas conservacionistas complementares ............................................................... 74

    9.1 Mtodos de preparo do solo ....................................................................................... 74

    9.1.1 Preparo reduzido do solo ......................................................................................... 74

    9.1.2 Cultivo mnimo ......................................................................................................... 75

    9.2 Mtodos mecnicos e vegetativos para reduo da enxurrada ................................. 76

    9.3 Rotao lavoura-pecuria ........................................................................................... 78

    9.3.1 Sistema melhorado .................................................................................................. 79

    9.3.2 Pastagens permanentes .......................................................................................... 80

    9.3.3 Perodo de retirada dos animais .............................................................................. 81

    9.3.4 Zoneamento agroclimtico para forrageiras ............................................................ 83

    9.4 Referncias Bibliogrficas .......................................................................................... 86

    10 Florestas ecolgicas .................................................................................................... 88

    10.1 Referncias Bibliogrficas ........................................................................................ 91

    ANEXO A Caractersticas de algumas espcies protetoras e melhoradoras do solo

    no perodo de vero ...................................................................................... 92

    ANEXO B Utilizao do densmetro para estimar o teor de matria seca, N, P2O5 e K2O

    no esterco lquido de bovinos e matria seca e N no esterco lquido de

    sunos .............................................................................................................. 93

    6

  • 6SOLOS - MANEJO INTEGRADO E ECOLGICOElementos bsicos

    1 INTRODUO

    A presente publicao se prope a apontar caminhos tericos e prticos, com

    vistas a implantar sistemas de produo a partir do manejo ecolgico do solo, sem o uso de

    agrotxicos, embasados na cobertura permanente do solo e no Sistema Plantio Direto.

    As informaes contidas neste trabalho tm fundamentao cientfica, na

    tentativa de oferecer maior segurana nas discusses, debates e indicaes das tcnicas e

    procedimentos aos agricultores. Apesar das limitaes quanto disponibilidade deste tipo

    de informao, procurou-se ordenar os contedos, dando-se um sentido didtico e prtico

    para o exerccio de um trabalho melhor tecnificado na agricultura.

    Nos primeiros captulos so abordadas, de forma sucinta, as principais

    caractersticas dos solos e suas relaes com as propriedades e limitaes de uso, e que

    conduzem conceituao das categorias de capacidade de uso das terras. O uso adequado

    das terras o primeiro passo para uma agricultura sustentvel.

    Os captulos seguintes tratam de aspectos relacionados a fertilidade do solo,

    tendo como pressuposto bsico a adoo do sistema plantio direto, tendo em vista as

    diversas vantagens que o mesmo representa em relao aos outros sistemas de preparo e

    plantio. Procurou-se apresentar informaes que possam servir de subsdio s atividades

    dos extensionistas rurais, usando uma linguagem que fosse acessvel, com destaque para

    os assuntos relativos a reciclagem de nutrientes e uso de formas orgnicas de adubao.

  • 7Captulo especial foi destinado ao uso de espcies protetoras e melhoradoras do

    solo, salientando-se os seus efeitos sobre as condies fsicas, qumicas e biolgicas do

    solo e a ao aleloptica de algumas espcies vegetais, tema que ainda requer muitos

    estudos. O manejo das principais espcies de cobertura, objetivando o no uso de

    herbicidas, tambm tratado neste captulo, bem como no seguinte, onde so mostrados os

    equipamentos e mquinas mais utilizados pelos agricultores.

    Em seqncia so apresentadas tcnicas complementares para a conservao

    do solo e gua, desde sistemas de preparo do solo at a rotao lavoura-pecuria, com a

    relao das principais forrageiras indicadas para o estado do Rio Grande do Sul.

    Finalmente, salientou-se o papel da floresta no equilbrio dos ecossistemas, na influncia

    que promove sobre o clima, solo e gua, e nos reflexos que produz sobre a vida urbana e

    rural.

    Temos conscincia que o nvel e o volume de informaes da Pesquisa Oficial

    relacionadas a agricultura convencional esto sedimentadas na sua difuso, com apoio dos

    fruns tecnolgicos especficos (fertilidade, conservao do solo, etc.) formados por

    praticamente todas as instituies do estado. Acredita-se que no perodo de transio o

    contedo deva ser bastante discutido com os segmentos geradores de informaes, na

    expectativa de ver implantado o almejado manejo integrado e ecolgico do solo.

    O presente trabalho poder ser til nesta fase de transio, enquanto mais

    resultados de pesquisa e maior nmero de validaes cientficas venham a oferecer a

    necessria segurana, para que as recomendaes possam ser generalizadas,

    principalmente no mbito da agricultura familiar.

    Em consonncia com a linha ecolgica preconizada pela Secretaria da

    Agricultura e Abastecimento e EMATER/RS, espera-se que estes Elementos Bsicos

    possam nortear as aes extensionistas junto aos produtores rurais, para uma agricultura e

    produo de melhor qualidade, na trilha do desenvolvimento sustentvel no Rio Grande do

    Sul.

  • 82 LEVANTAMENTO E CLASSIFICAO DOS SOLOS

    A interveno do homem no meio ambiente tem ocorrido no sentido de usar os

    recursos naturais para a obteno de alimentos e, com a expanso populacional, na busca

    do aumento da produtividade e produo. Os preparos intensivos do solo, os

    desmatamentos e as queimadas provocaram, no passado, o desequilbrio e o

    comprometimento da flora e fauna, da gua e do solo, bem como, causaram modificaes

    no clima regional. O manejo inadequado do solo tende a alterar as caractersticas qumicas,

    fsicas e biolgicas, e acelerar o processo de degradao deste e do meio ambiente. Para

    que o solo seja usado de forma adequada importante caracteriz-lo quanto s suas

    propriedades morfolgicas, fsicas e qumicas, que normalmente feito atravs dos

    levantamentos pedolgicos. Estes levantamentos tm por objetivo sistematizar o

    conhecimento dos solos, possibilitando a sua identificao, mapeamento e recomendao

    de uso.

    As informaes sobre classificao dos solos, atualmente disponveis no Rio

    Grande do Sul, com exceo de algumas reas restritas onde foram feitos levantamentos

    mais detalhados, restringem-se a relatrios de levantamentos feitos ao nvel de

    reconhecimento. Nestes, o mapeamento pouco preciso e inadequado para o

    planejamento conservacionista em propriedades agrcolas ou em microbacias hidrogrficas.

    Esta forma de planejamento requer levantamentos detalhados dos tipos de solos e das

    caractersticas do meio fsico, como profundidade, fases de declive, pedregosidade, grau de

    eroso e condies de drenagem.

    O levantamento de solos importante para a realizao de zoneamentos

    agroecolgicos e previses quanto a utilizao e produtividade das terras de uma regio,

    sob determinadas condies de manejo. Para isso, essencial dispor-se de conhecimentos

    sobre a formao do solo, ambiente onde ele se desenvolve e sobre as alteraes que,

    eventualmente, venham ocorrer em conseqncia do uso. Estas informaes podem ser

    consubstanciadas atravs da identificao das caractersticas morfolgicas, fsicas e

    qumicas, classificao do solo, mapeamento das unidades e elaborao das interpretaes

    (Soil Survey Manual, 1951; Ranzani, 1969).

    importante conhecer e identificar as caractersticas morfolgicas do solo,

    como a presena de slickensides ou superfcies de frico, mudana textural abrupta,

  • 9contato ltico ou litide, pois atravs delas que so feitas as recomendaes de uso e

    manejo das terras.

    Denominam-se de slickensides as superfcies alisadas e lustrosas e que

    apresentam, na maioria das vezes, estriamentos marcantes na superfcie dos agregados do

    solo onde predominam as argilas expansivas (esmectitas). Estes estriamentos so

    produzidos pela movimentao, deslizamento e atrito da massa do solo devido expanso

    e contrao resultantes dos processos de umedecimento e secamento do solo,

    respectivamente, determinando a este a caracterstica vrtica(1) e alta suscetibilidade

    eroso hdrica.

    A mudana textural abrupta outra caracterstica a ser observada nas

    recomendaes de uso do solo. Ela consiste no aumento significativo do contedo de argila,

    em pequena distncia vertical, na zona de transio entre o horizonte A e B. Esta

    caracterstica tem influncia sobre a condutividade hidrulica(2) e na capacidade de

    infiltrao de gua, tornando o solo mais suscetvel eroso hdrica e passando a exigir

    prticas conservacionistas mais intensas do que aquele sem gradiente textural ou onde a

    mudana de textura do solo mais gradual (Bertoni & Lombardi Neto, 1985; Embrapa,

    1999).

    Uma outra caracterstica que deve ser observada quanto ao contato ltico ou

    litide do solo. O solo de contato litide composto por rochas fragmentadas e semi

    decompostas permitindo o livre movimento de gua no solo, enquanto aquele de contato

    ltico composto por rochas consolidadas que causam impedimento infiltrao de gua

    no solo e ao desenvolvimento das razes das plantas (Lepsch et al., 1983).

    A profundidade e a textura do solo so outras caractersticas morfolgicas de

    natureza fsica importantes de serem identificadas nos levantamentos pedolgicos.

    A caracterizao qumica do solo, em profundidade, tambm precisa ser

    considerada no levantamento para o planejamento e recomendaes de uso e manejo das

    terras. Como exemplo, o teor de alumnio, que aumenta com a profundidade do solo,

    impede o desenvolvimento das razes (Embrapa, 1999).

    A capacidade de troca de ctions (CTC) outra caracterstica a ser observada

    nas recomendaes da aptido agrcola das terras. A CTC de um solo reflete a capacidade

  • 10

    que o mesmo tem de reter ou liberar os nutrientes soluo do solo para serem

    aproveitados pelas plantas. Solos com baixa CTC, via de regra, possuem baixa fertilidade

    natural e reduzido contedo de matria orgnica, so mais suscetveis a lixiviao de

    ctions e exigem maiores investimentos na correo de acidez e adubao de manuteno

    do que aqueles solos com alta CTC. Um valor baixo de CTC decorrente da baixa atividade

    da argila e do teor reduzido da matria orgnica do solo, sendo que este ltimo pode ser

    aumentado atravs do uso da adubao orgnica, atravs das plantas de cobertura de solo

    e do plantio direto.

    A declividade uma importante caracterstica das terras, e que deve ser

    inventariada para fins de planejamento conservacionista, sendo o principal fator

    condicionador da capacidade de uso das terras agrcolas (Lepsch, 1983). As reas quase

    planas, com at 2% de declividade, sobre as quais o escoamento superficial lento e que

    oferecem poucos problemas quanto eroso hdrica, exigem prticas simples de

    conservao. medida que aumenta o grau de declive, aumentam tambm os riscos de

    eroso e a exigncia de prticas conservacionistas em reas cultivadas intensivamente.

    Assim, considerando uma tolerncia de perda de solo por eroso hdrica igual taxa de

    formao, num solo de relevo ondulado (5 a 10 % de declividade) os preparos para a

    semeadura devem ser realizados de tal forma que deixem um ndice de cobertura por

    resduos culturais de, pelo menos, 60%. Enquanto isso, uma rea com classe de declive

    fortemente ondulado (10 a 15%) deve ser utilizada sob plantio direto, procurando-se deixar

    um ndice de cobertura do solo por resduos culturais, na semeadura, prximo a 100%

    (Streck, 1992). A exigncia nas recomendaes de uso ainda maior nos solos com relevo

    fortemente ondulado ngreme (declividade >15%), uma vez que neste tipo de relevo

    observa-se, com freqncia, reduo na profundidade efetiva dos solos. Nas reas

    ngremes de regies montanhosas ocorrem solos litlicos, que apresentam contato ltico e

    litide, de profundidade rasa, alto grau de pedregosidade e com afloramentos de rochas,

    causando o impedimento no uso de mquinas agrcolas, o que leva estas reas a serem

    recomendadas para o uso com reflorestamento ou para preservao ambiental.

  • 11

    2.1 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservao do Solo. So Paulo: Livroceres, 1985.392p.

    EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificao desolos. Braslia: EMBRAPA-SPI, 1999. 412p.

    LEPSCH, I. F. Manual para levantamento utilitrio do meio fsico e classificao deterras no sistema de capacidade de uso. Campinas: Sociedade Brasileira de Cincia doSolo, 1983. 175p.

    RANZANI, G. Manual de levantamento de solos. Piracicaba: ESALQ, 1969. 167p.

    SOIL SURVEY MANUAL. Soil Survey staff. Washington, 1951. 503p. (Handbook, 18)

    STRECK, E.V. Levantamento de solos e avaliao do potencial de uso agrcola dasterras da microbacia do Lajeado Atafona (Santo ngelo/RS). Dissertao (Mestrado) -Programa de Ps-Graduao em Agronomia Cincia do Solo, UFRGS, Porto Alegre, 167p.

  • 12

    3 CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS

    A sustentabilidade da produo agrcola, no que diz respeito ao fator solo,

    depende da adoo, por parte dos agricultores, de dois princpios bsicos. O primeiro a

    utilizao das terras de acordo com sua capacidade de uso e o segundo a utilizao de

    tcnicas de manejo e de conservao do solo que mantenham suas propriedades favorveis

    elevao e manuteno da produtividade das glebas, classificadas como aptas para o uso

    agrcola.

    A avaliao da capacidade de uso das terras a etapa bsica para o

    planejamento conservacionista de propriedades rurais ou de reas maiores, como

    microbacias hidrogrficas, municpios ou regies. uma classificao que, baseada na

    interpretao das caractersticas das terras, visa indicar as possibilidades de uso agrcola

    das mesmas e as prticas de manejo e conservao necessrias para a manuteno ou

    elevao da sua produtividade, sem causar degradao dos solos e do ambiente (Schneider

    et. al., 1998).

    Para avaliar a capacidade de uso das terras so usadas as caractersticas das

    terras referidas no captulo anterior, e que tm influncia marcante sobre a resposta dos

    solos s tcnicas agrcolas. As principais caractersticas usadas esto relacionadas com

    solo, clima, relevo, hidrologia, pedregosidade e grau de degradao. Em funo de serem

    muito dinmicos, aspectos econmicos no so considerados nesta etapa, mas devem ser

    posteriormente, no planejamento da explorao da propriedade.

    Para contornar a deficincia de informaes, pode-se fazer um levantamento

    simplificado, identificando e mapeando apenas as caractersticas da terra que possam impor

    limitaes ao uso agrcola, considerando-se principalmente: declividade, profundidade

    efetiva, textura, pedregosidade, grau de degradao, complexidade do terreno,

    drenagem, riscos de inundao, consistncia e limitaes qumicas em horizontes

    subsuperficiais.

    Os sistemas de classificao da capacidade de uso das terras buscam, com

    base nas qualidades e nas limitaes das terras, indicar as suas possibilidades de uso

    agrcola e recomendar as prticas de manejo necessrios, com vistas a preservao ou

    melhoria de sua produtividade, sem que haja deteriorao dos solos e do ambiente. O

  • 13

    princpio bsico que, medida que aumentam as limitaes de uso de uma gleba, deve

    diminuir a intensidade de uso e aumentar a intensidade e o rigor das tcnicas de manejo.

    Uma vez identificadas as caractersticas limitantes das terras e avaliado o seu

    grau de limitao, procede-se a classificao da capacidade de uso das mesmas. Para isto,

    existem diversos sistemas em uso. Os mais difundidos no Brasil, so o Sistema de

    Classificao da Capacidade de Uso, denominado de Sistema Americano e o Sistema de

    Avaliao da Aptido Agrcola das Terras, conhecido por Sistema Brasileiro.

    O Sistema Americano pressupe a existncia de levantamentos detalhados de

    solos, onde as unidades de mapeamento so suficientemente homogneas para diferenciar

    as glebas de uma propriedade rural em classes, subclasses ou unidades de capacidade de

    uso, sendo adequado para planejamentos ao nvel de propriedade rural. Alm disto, este

    sistema prev o uso de um nvel tecnolgico avanado, onde as tcnicas de cultivo se

    baseiam em motomecanizao. Este aspecto restringe sua utilizao ampla no Brasil, uma

    vez que existem regies com agricultura intensiva, onde a motomecanizao dificultada ou

    impedida. o caso das encostas baslticas do Rio Grande do Sul, onde terras com bom

    potencial para culturas anuais e intensamente agricultadas tm sua capacidade de uso

    subestimada neste sistema, por serem cultivveis somente com trao animal, devido

    pedregosidade e relevo irregular (Schneider et al., 1998).

    Segundo a Classificao Americana, adotada pelo INCRA e utilizada pela

    EMATER nos Programas Especiais, embasadas em microbacias hidrogrficas, as classe de

    capacidade de uso esto agrupadas em quatro categorias de capacidade de uso, conforme

    Tabela 1.

    Tabela 1. Relao entre classes e categorias de capacidade de uso.

    Classe I, II e III Categoria A

    Classe IV Categoria B

    Classe V, VI e VII Categoria C

    Classe VIII Categoria D

    Fonte Zoneamento Agrcola, 1978.

  • 14

    A conceituao das categorias est na seguinte ordem:

    Categoria A: Terras cultivveis de forma continuada e intensivamente e capazes deproduzir boas colheitas das culturas anuais adaptadas, sem limitaes srias mecanizao. Exigem o emprego de prticas de manejo, das simples s complexas eintensivas, visando o controle da eroso, manuteno ou melhoramento da fertilidade e aconservao e controle da gua. Abrange as classes I, II e III de capacidade de uso e defineas melhores terras para a explorao agrcola.

    Categoria B: Terras que no se prestam ao cultivo continuado com culturas anuais, mas

    que podem ser usadas com culturas especialmente adaptadas, com extremo cuidado paraneutralizar as limitaes, principalmente relacionadas com o controle da eroso, ao manejoda gua ou topografia. So terras especialmente indicadas para a explorao permanente,atravs de pastagens e de algumas frutferas perenes. Abrange a classe IV.

    Categoria C: Terras que no so cultivveis com culturas anuais devido intensidade defatores restritivos, ou do risco de destinao do solo, mas que permitem o cultivo comculturas permanentes adequadas, com pastagens ou com espcies florestais. Anecessidade do emprego de uma ou vrias prticas especiais de manejo, ou de prticas decontrole eroso hdrica, de natureza e complexidade variveis, condicionada pelaspeculiaridades de fatores restritivos (encharcamento, declividade, profundidade dos solos,etc.) e pela intensidade de uso que se lhe pretenda atribuir. Abrange as classes V, VI e VII.

    Categoria D: Abrange terras da classe VIII que no se prestam ao estabelecimento de

    qualquer tipo de agricultura, pecuria ou silvicultura, podendo ser adaptadas para refgio defauna, conservao da flora, ou para fins de recreao ou turismo.

    Nota: Com a cobertura permanente do solo e praticado o sistema plantio direto,

    dentro da linha ecolgica preconizada, os fatores restritivos e os riscos de destruio

    dos solos nas Categorias B e C, tornam-se reduzidos ou at neutralizados.

    3.1 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    SCHNEIDER, P.; GIASSON, E.; KLAMT, E.; KAMPF, N. Avaliao da capacidade de usodas terras: manual tcnico - Pr-Rural. Porto Alegre, 1998.ZONEAMENTO AGRCOLA. Coordenadoria Estadual de Planejamento Agrcola. PortoAlegre: Secretaria da Agricultura RS, 1978.RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Agricultura. CEPA. Zoneamento agrcola:indicao de culturas disponibilidade de solo a nvel de municpio. Porto Alegre, 1978.219p.

  • 15

    4 AMOSTRAGEM DE SOLO NO SISTEMA PLANTIO DIRETO

    O passo inicial para a correo da acidez e adubao a amostragem do solo.

    Levando-se em conta a permanente cobertura do solo e o sistema plantio direto, a coleta

    das amostras deve observar a seguinte metodologia:

    a. Em reas com adubao a lano :

    A amostragem igual ao do sistema convencional, ilustrada no Boletim da Comisso de

    Fertilidade do Solo RS/SC (1994).

    b. Em reas com adubao em linha, na fase de implantao da cultura :

    Realizar a amostragem com p-de-corte a uma profundidade de 0 20 cm;

    Na cultura de maior espaamento do ltimo ano, iniciar a coleta do meio da linha

    seguindo-se em direo perpendicular linha da cultura (adubada), prolongando-se a

    amostragem at a metade da outra linha, conforme Figura 1.

    Coleta em torno de 10 pontos por gleba ou tipo de solo.

    c. Em reas com adubao em linha, na fase estabelecida :

    Amostragem semelhante a anteriormente citada (da metade de uma linha at a

    metade de outra linha).

    De 0 10 cm para recomendaes de adubao

    De 10 20 cm em caso de acompanhamento mais detalhado ou monitoramento.

    Coleta em torno de 10 pontos por gleba ou tipo de solo.

    Fileiras de plantas rea de amostragem

    Figura 1: Esquema de coleta de amostra de solo em plantio direto.

    4.1 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    COMISSO DE FERTILIDADE DO SOLO RS/SC. Recomendaes de adubao e decalagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 3.ed., Passo Fundo:SBCS Ncleo Regional Sul, 1994. 224 p.

  • 16

    5 CORREO DA ACIDEZ DO SOLO

    Com base na pesquisa oficial do Rio Grande do Sul, a aplicao de calcrio na

    superfcie mostrou ser uma tcnica alternativa eficiente em relao incorporao no solo,

    para o controle dos fatores da acidez, tanto em reas de lavouras cultivadas sob sistema

    plantio direto, como em reas de campo natural e destinadas a culturas anuais.

    Para que a correo da acidez do solo proporcione ao agricultor os retornos

    econmicos e ambientais esperados, em sua execuo devem ser seguidas algumas

    normas tcnicas, que se referem principalmente escolha, quantidade necessria, poca e

    modo de aplicao do corretivo no solo (Comisso ..., 1994) Por exemplo, o teor de

    magnsio (Mg) considerado como fator importante na qualidade do corretivo. Portanto,

    desejvel que o corretivo apresente um teor de magnsio entre 1/5 e 1/2 do teor de clcio

    (Ca), como ocorre nos calcrios dolomticos. Entretanto, para a maior parte das culturas, o

    teor de Mg do corretivo pode variar dentro de limites muito amplos.

    A calagem em lavouras com sistema plantio direto pode ser feita nas

    seguintes situaes :

    - em aplicao ou reaplicao quando:

    pH em gua < 5,5

    ou saturao de bases < 60%

    presena de alumnio em ndices altos- na dosagem de 1/2 SMP para pH = 5,5

    na linha pode ser usado de 200 a 300 kg/ha

    - quando nova amostragem, a cada trs anos, indicar.

    Observao: monitorar a 0 5 cm, para evitar excesso, quando julgar conveniente.

    A calagem em campo nativo pode ser realizada em duas situaes :

    a. No sistema de sucesso lavoura pecuria :

    - Calagem de 1/2 SMP para pH = 5,5

    - Calcrio na linha, de 200 a 400 kg/ha no sistema plantio direto.

    b. Para o melhoramento do campo nativo:

    - Calagem de 1/2 SMP a lano (pH = 5,5), no devendo ser usado na linha.

  • 17

    Tipo do produto

    fundamental que na deciso de quanto e que tipo de calcrio aplicar,

    dolomtico (> 12% MgO), magnesiano (de 5 a 12% de MgO) ou calctico (< 5% MgO), todos

    os fatores inicialmente mencionados sejam criteriosamente considerados e avaliados na

    interpretao da anlise de solo. Inclusive os teores de micronutrientes podem influir na

    deciso, porque a disponibilidade deles depende tambm do pH do solo.

    poca de aplicao do calcrio

    Na correo da acidez do solo deve-se levar em considerao, alm da

    distribuio e da qualidade do produto, tambm a poca de aplicao e as culturas

    subseqentes. A aplicao do calcrio no outono pode potencializar seus efeitos na

    correo da acidez, com posterior implantao de algumas espcies vegetais de inverno,

    influindo diretamente na mobilizao do clcio e complexao do alumnio.

    O Carbono orgnico originado dos resduos vegetais na superfcie do solo o

    mais importante componente da soluo do solo em plantio direto, participando de inmeros

    processos qumicos no ecossistema, principalmente na mobilidade e toxidade de metais. No

    caso, os resduos de aveia so mais ativos na mobilizao do Ca e os de nabo na

    complexao de alumnio (Pavan, 1997).

    Os cidos orgnicos solveis desempenham um papel fundamental no solo, dos

    quais destacam-se o ctrico, oxlico, frmico, actico, mlico, succnico, malnico, lctico,

    acontico e fumrio. A natureza e a concentrao desses cidos determinam a extenso

    pela qual o processo afetado. Por exemplo, a mobilidade do Ca no solo afetada pela

    presena do cido succnico, liberado pelos resduos da aveia, enquanto que a quelatizao

    do Al realizada pelo cido ctrico, liberado pelo resduo do nabo (Pavan, 1997). O mesmo

    autor afirma que a aveia o vegetal que proporciona a maior lixiviao de Ca, evidenciado

    pelo aumento gradativo na sua concentrao, em profundidade, no solo. Por outro lado,

    ocasiona a maior reteno de potssio (K) no solo, com a remoo de Ca sendo

    proporcional ao aumento da reteno de K na presena de resduos vegetais na superfcie

    do solo.

    A cultura do nabo a que desenvolve a maior capacidade de lixiviao dos ons

    de alumnio. A qumica do Al em soluo est envolvida com a extrao do Ca na presena

  • 18

    do resduo de nabo. A imobilizao do Al originada pelos resduos de nabo, ocorreu

    principalmente na forma orgnica. J, os resduos de aveia, quando manejados em solo que

    recebeu calagem superficial, como em plantio direto, apresentam um potencial para o

    transporte do Ca para subsuperfcie. O resduo de nabo teria a vantagem de imobilizao do

    Al txico. O uso de ambos em sistemas de rotao de culturas permite a reciclagem,

    reduzindo as perdas de Ca por lixiviao, aumentando a reteno de K e a imobilizao do

    Al (Pavan, 1997).

    Calagem na fruticultura

    Segundo Claro (1999), de modo geral e, principalmente em fruticultura, a

    calagem deve considerar a inter-relao entre os diversos componentes da anlise de solo

    completa e promover o ajuste destes, conforme os seguintes parmetros :

    a) O pH em gua deve, preferencialmente, ser de 5,3 a 6,5. Entretanto h casos em que

    mesmo com o pH abaixo de 5,3 a calagem pode tornar-se desnecessria, em funo de

    outros fatores como os teores de Ca e Mg, porcentagem de saturao da CTC com

    bases e valores das relaes Ca/Mg, Ca/K e Mg/K.

    b) O teor de clcio deve oscilar entre 4,0 e 10,0 cmolc L-1 e a saturao da CTC com este

    elemento ser igual ou maior que 65%.

    c) O teor de magnsio deve situar-se entre 1,2 e 1,8 cmolcL-1 e a saturao da CTC com

    este mineral ser de 10 a 15%.

    d) A CTC deve ser superior a 10,0 cmolcL-1 , e preferencialmente, acima de 15,0.

    e) As relaes de Ca/Mg, Ca/K e Mg/K devem, preferencialmente, estar entre 3 e 4; 9 e 12

    e, 3 e 4, respectivamente.

    f) O teor de Al deve ser inferior 0,5 cmolcL-1, em regra geral, com exceo de algumas

    culturas que toleram ou at exigem teores elevados deste elemento, como mandioca e

    batata doce. H situaes que, mesmo com teores de Al acima de 0,5 cmolcL-1, no

    preciso aplicar calcrio, ou seja, quando a percentagem dele em relao s bases Ca,

    Mg e K no for superior a 16%. Esta percentagem calculada atravs da frmula :

    % Al = Al x 100

    Al + Ca + Mg +K

    A unidade para os teores de Al, Ca, Mg e K que compe a frmula CmolcL-1.

  • 19

    g) A saturao da CTC com bases (Ca+Mg+K) deve ser em torno de 70 a 80%. Tambm o

    teor de matria orgnica pode influir na deciso de quanto calcrio aplicar. A frmula para

    o clculo da necessidade de calcrio pelo mtodo de saturao de bases a seguinte :

    NC = CTC x (V2 V1)

    100

    NC = necessidade de calagem (em t ha-1 de calcrio com 100% de PRNT).

    V2 = saturao de bases desejada

    V1 = saturao de bases atual

    CTC = H+Al+Ca+Mg+K , em CmolcL-1

    No modelo em referncia, ainda segundo Claro (1999), no aplica-se mais de 4 t

    ha-1 de calcrio de uma s vez quando incorporado, assim com, no mais de 2 t ha-1

    quando aplicado na superfcie sem incorporao. Se for necessrio maior quantidade,

    aplica-se metade na pr-implantao da adubao verde de vero e a outra metade na de

    inverno. Em pomar em produo, se for necessrio calcrio, a dosagem deve ser a menor

    possvel, preferencialmente menos de 1,0 t ha-1 . ano e no mximo 2 t, em duas vezes. A

    melhor poca em maro/abril, pouco antes da semeadura de aveia e leguminosas,

    realizando-se posteriormente a roada e/ou leve escarificao.

    Outras formas de correo do solo

    Pesquisa desenvolvida em casa de vegetao (Adubos verdes X Alumnio, 1992)

    mostrou que a matria orgnica fresca adicionada ao solo pode, a curto prazo, substituir a

    ao do calcrio na reduo do alumnio solvel e no aumento da produo. O experimento

    avaliou o potencial de trs espcies vegetais como adubo verde para desintoxicao de

    solos cidos: o feijo caupi (Vigna unguiculata), a leucena (Leucaena leucocephala) e o

    capim colonio (Panicum maximum), comparando com o efeito da adio de calcrio, em

    quatro nveis. Como planta indicadora de melhoria do solo cultivaram a sesbania (Sesbania

    cochinchensis), que uma leguminosa muito sensvel toxidade do alumnio e usaram o

    seu crescimento como uma medida de desintoxicao do solo. Entre os adubos verdes, a

    leucena foi o mais eficiente em aumentar o pH e, consequentemente, reduzir a solubilidade

    do Al. O capim colonio causou um efeito negativo sobre o crescimento da sesbania,

    provavelmente pela imobilizao de nutrientes do solo durante a decomposio das folhas

    dessa gramnea que, ao natural, j so pobres em nutrientes. Mas, uma adio mais pesada

    de capim colonio produziu um leve aumento no crescimento da sesbania.

  • 20

    A discrepncia de eficincia dos diferentes adubos verdes sugere que a relao

    entre o pH e o Al solvel varia significativamente de acordo com a fonte de matria orgnica

    incorporada. As mudas de sesbania produziram mais biomassa nos tratamentos de nveis

    mais altos de incorporao de caupi e leucena, do que nos tratamentos de maiores nveis de

    calcrio, apesar dos tratamentos com adubao verde apresentarem maiores concentraes

    de Al solvel. Isso significa que as formas de Al solvel nos solos onde houve incorporao

    de adubao verde, provavelmente, diferem daquelas encontradas nos solos com calcrio.

    E, provavelmente, a fitotoxidade do Al tambm diferente nos dois casos. As anlises de

    solo revelaram que, com a incorporao da leucena e do caupi, os solos continham cerca de

    10 vezes mais carbono solvel do que os solos com calcrio. Tambm, foram encontrados

    vrios complexos orgnicos com Al que no so fitotxicos.

    O trabalho concluiu que a adubao verde pode substituir a adio de calcrio

    quando utilizado para reduzir a fitotoxidade do Al solvel, pelo menos em tempo

    hbil que permita o estabelecimento de mudas jovens. A adio de matria orgnica

    fresca pode reduzir o alumnio solvel e aumentar a produo.

    5.1 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    CLARO, S. A. Pessegueiro e ameixeira em sistema de cultivo agroecolgico -manejo ecolgico do solo. Sobradinho: EMATER/RS, 1999. 15p. Apostila. Nopublicada.

    COMISSO DE FERTILIDADE DO SOLO RS/SC. Recomendaes de adubao ecalagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 3.ed. PassoFundo: SBCS Ncleo Regional Sul, 1995. 224p.

    PAVAN, M. A. Ciclagem de nutrientes e mobilidade de ons no solo sob plantiodireto. Plantio Direto,. Aldeia Norte Editora, Passo Fundo, 1997, n.41, p.8 12,set./out. 1997.

    ADUBOS VERDES X ALUMNIO. Informativo Agroflorestal REBRAF, Rio de Janeiro,v.4, n.1, p. 11-12, mai. 1992. Original publicado em International AG-Sieve, RodaleInstitute, Emmaus, Pa., v.4, n.4, p.6

  • 21

    6 ADUBAO DO SOLO NO SISTEMA PLANTIO DIRETO

    O sistema de recomendao de adubao e calagem no Rio Grande do Sul e

    Santa Catarina incorpora resultados de pesquisa de trs dcadas. A finalidade do mesmo

    servir como referncia para a indicao da quantidade de fertilizante necessrio para a

    mxima eficincia econmica das culturas, com base nas necessidades nutricionais. Aliado

    a isto, deve-se considerar nas recomendaes finais o histrico de produtividade das

    culturas na gleba, o histrico de adubao e calagem, a experincia do tcnico local, o nvel

    de produtividade almejado, as condies sociais e econmicas do agricultor, o impacto

    ambiental, o manejo da cultura e o clima local.

    A configurao das curvas de respostas das culturas adubao similar no

    sistema convencional e sistema plantio direto. As doses de adubao recomendadas nos

    dois sistemas tm mantido elevadas as produtividades das culturas (Anghinoni & Salet,

    1998). Cabe lembrar o qumico alemo Justus von Liebig, que em 1840 criou a conhecida

    Lei do Mnimo, onde afirma que o rendimento de uma safra ser limitado pela deficincia

    de qualquer um dos nutrientes essenciais, embora todos os outros estejam presentes em

    quantidades adequadas.

    A partir do conhecimento das necessidades de nutrientes das plantas e das

    reaes qumicas dos solos, dentro dos princpios de manejo ecolgico do solo, deve-se

    buscar a melhor, mais eficiente e adequada, mais econmica e mais ecolgica fonte de

    nutrientes. Nas alternativas para o suprimento dos nutrientes de maior consumo (N-P-K)

    encontram-se:

    a) na forma mineral (na soluo do solo e adsorvidos nas argilas);

    b) as plantas protetoras e melhoradoras do solo pela reciclagem e fixao

    simbitica;

    c) os adubos orgnicos de origem animal;

    d) as cinzas;

    e) os adubos minerais.

    A Tabela 2 mostra as necessidades nutricionais da soja, do milho, do milheto, e

    de gramneas e leguminosas diversas.

  • 22

    Tabela 2 : Necessidades de nutrientes para a produo de 1,0 t de gros,mais 1,0 t de resduos culturais de soja e milho e de 1,0 t de matria secade espcies forrageiras gramneas e leguminosas (valores mdios).

    Espcie N P K Ca Mg S Zn B Mn Cu

    kg t -1 g t -1

    Soja 82 6,7 32 12,2 6,7 15,4 61 77 130 26

    Milho 25 5,9 27 6,6 7,9 2,5 67 21 85 21

    Gramneas 13 3,0 18 5,0 2,5 3,0 71 28 - 27

    Leguminosas 15 1,5 20 10,0 1,7 1,5 27 40 - 8

    Milheto 12 0,6 16 1,0 - - - - - -

    Fonte: Haas, 1999.

    Os quatro elementos mais trabalhados na agricultura, em razo de sua

    importncia e limitaes em sua disponibilidade no solo, merecem que sejam destacadas as

    suas funes nas plantas, como vemos a seguir:

    Nitrognio

    Promove a formao das protenas que fazem parte dos tecidos vegetais. Confere cor verde

    s folhas. Sem nitrognio a planta no cresce.

    Fsforo

    Estimula o desenvolvimento das razes e aumenta o perfilhamento. Contribui para a

    formao dos gros e melhora seu valor nutritivo. Tem alta mobilidade na planta e baixa

    mobilidade no solo.

    Potssio

    Provoca o espessamento dos tecidos conferindo s plantas maior resistncia ao

    acamamento e s doenas. Reduz a perda de gua nos perodos secos.

    Clcio

    Faz parte da parede celular das plantas, dele dependendo vingar os frutos jovens. Move-se

    somente das razes para a parte area. Sem clcio no subsolo as razes param de crescer,

    no absorvendo gua e nutrientes nesta camada.

  • 23

    6.1 ADUBAO VERDE

    Dentro da premissa de manter o solo permanentemente coberto, apresentam-se

    como prioridade as plantas protetoras e melhoradoras do solo, funcionando tambm como

    adubos verdes. Isto ocorre pela deposio sobre o solo de plantas no maduras, cultivadas

    exclusiva ou parcialmente para esta finalidade. uma prtica que mantm os resduos

    vegetais na superfcie do solo, protegendo-o e liberando nutrientes para as culturas

    subsequentes, alm de aumentar a estabilidade dos agregados.

    Em regra, qualquer espcie vegetal pode ser utilizada como cultura de cobertura.

    Porm, considerando as caractersticas desejadas, algumas espcies devem ser prioritrias

    para integrar um sistema de produo que inclua a adubao verde, destacando-se as

    seguintes caractersticas :

    - Ter sistema radicular profundo para facilitar a reciclagem dos nutrientes;

    - Ter elevada produo de massa seca, tanto da parte area como na radicular;

    - Ter velocidade de crescimento e cobertura do solo;

    - Ser agressiva e rstica;

    - Possuir baixo custo de sementes;

    - Apresentar facilidade na produo de sementes;

    - Possuir, preferencialmente, efeitos alelopticos e/ou supressores em relao s

    plantas no cultivadas.

    No sistema plantio direto, alm da quantidade de palha, comea-se a avaliar

    tambm a qualidade da palha, ou seja, sua capacidade em permanecer protegendo o solo e

    suprindo de nutrientes a cultura em sucesso (Tabela 3).

    6.1.1 RECICLAGEM DE NUTRIENTES

    A reciclagem de nutrientes possibilitada devido ao processo de mineralizao

    dos resduos que esto na superfcie do solo, especialmente em reas com o sistema

    plantio direto. A reciclagem acontece em funo do sistema radicular profundo das plantas

    de cobertura que retiram os nutrientes de camadas subsuperficiais do solo, transformando-

    os em material orgnico, posteriormente liberados na superfcie. Os nutrientes so

    mineralizados e disponibilizados em doses contnuas para o aproveitamento das lavouras

  • 24

    cultivadas em sucesso, sendo que a permanncia dos resduos de gramneas mais

    duradoura.

    Tabela 3: Rendimento de palha e percentual de cobertura da superfcie do solo, aos60, 120 e 180 dias aps a semeadura da soja.

    rea coberta por resduos ( % )Espcie Palha (kg ha-1)

    60 dias 120 dias 180 dias

    Aveia preta 8.231 51 42 36

    Aveia branca 7.400 52 39 34

    Centeio 4.062 74 73 61

    Azevm 4.007 40 31 21

    Cevada 3.239 59 51 41

    Triticale 3.025 61 50 40

    Trigo 2.965 66 59 58

    Fonte: Embrapa-Trigo 1989/90 e Roman, 1990, citados por Haas, 1999.

    Outro efeito importante da adubao verde a mobilizao de nutrientes

    lixiviados ou pouco solveis e que se encontram em maiores profundidades do perfil.

    Dependendo da qualidade do material em termos de relao C/N (acima de 30) pode

    ocorrer inicialmente um processo de imobilizao dos elementos pelos microorganismos do

    solo, para mais tarde serem mineralizados.

    A mineralizao da matria orgnica um processo lento, a partir do qual sero

    retornados ao solo os nutrientes que foram retirados dele pelas plantas de cobertura,

    acrescentado do nitrognio (N) fixado de forma simbitica (no caso de leguminosas).

    Considerando-se ainda os baixos teores dos principais nutrientes existentes na composio

    das plantas, no se deve deixar de usar outras fontes de nutrientes, e sim buscar a sua

    complementao, de forma a possibilitar a obteno de maiores produes.

    O nitrognio um dos principais elementos necessrios ao desenvolvimento das

    plantas e, do total existente no solo, cerca de 95% encontra-se na forma de N-orgnico. A

    maior fonte de N o ar atmosfrico (78%) e existem duas formas principais pelas quais o N

    transferido de forma natural ao solo. Uma atravs das descargas eltricas que agem

  • 25

    sobre a gua da chuva, e a outra pela fixao biolgica e simbitica do N atmosfrico por

    microorganismos (Raij, 1991). Destaca-se em importncia a simbiose que ocorre entre

    leguminosas e bactrias, especialmente do gnero Rhizobium, com o aproveitamento do

    nitrognio elementar (N2) do ar sendo transferido para as plantas em formas assimilveis em

    quantidades bastante significativas (Tabela 4), e que variam de acordo com a espcie e

    condies de solo e clima (Tisdale et al.,1985 ).

    Segundo Kluthcouski (1980) podem ser fixadas quantidades de at 400 kg ha-1.

    ano de N em espcies perenes como a leucena. O autor obteve maior rendimento de feijo

    com a incorporao de 5,0 t ha-1 de matria seca de leucena do que com o uso apenas de

    adubao mineral, s sendo superado quando houve a combinao das adubaes

    orgnica e mineral (Tabela 5). Ainda, com uma produo de 5,3 t ha-1 de matria seca de

    leucena podem ser incorporadas ao solo quantidades equivalentes a 210, 21, 70 , 45 e 29

    kg ha-1 de N , P2O5 , K2O , Ca e Mg, respectivamente, sendo que, com exceo do N, os

    demais nutrientes j encontravam-se no solo mas possivelmente em camadas profundas e

    inacessveis s razes das plantas cultivadas. Esta espcie apresenta a vantagem de poder

    ser cultivada de forma isolada (solteira) com o objetivo de forragem para o gado ou para

    produo de adubo verde, ou de forma consorciada com espcies de finalidade econmica,

    atuando tambm como quebra-vento.

    Tabela 4: Quantidades anuais de nitrognio fixado por algumas leguminosas.

    Valores observados Valores mdiosCultura

    ------------------------- kg ha-1 --------------------------

    Alfafa 50 - 450 194

    Trevo vermelho 76 - 169 114

    Caupi (feijo mido) 58 - 116 90

    Ervilhaca 80 - 138 80

    Ervilha forrageira 30 - 140 72

    Soja 58 - 160 100

    Fava 51 - 148 130Fonte : Tisdale et al., 1985.

  • 26

    Tabela 5: Resultados mdios de produtividade de feijo em funo de adubaoverde e mineral.

    Tratamento Rendimento ( kg ha-1 )

    Leucena + 30 kg ha-1 N + 120 kg ha-1 P2O5 2.394

    Leucena + 30 kg ha-1 N 2.206

    Leucena + 120 kg ha-1 P2O5 2.134

    Leucena 2.151

    Somente com 30 kg ha-1 N 1.944

    Com 30 kg ha-1 N + 120 kg ha-1 P2O5 1.713

    Somente com 120 kg ha-1 P2O5 1.582

    Testemunha 1.381

    Fonte : Kluthcouski, 1980.

    Resultados de pesquisa (Da Ros, 1993) tm mostrado que possvel reduzir

    em, pelo menos, 50% a adubao nitrogenada na cultura do milho, quando cultivado em

    sucesso a leguminosas de inverno ou nabo forrageiro, considerando o N-total acumulado

    na parte area e nas razes de algumas espcies de inverno (Tabela 6).

    Tabela 6: Quantidade de N-total acumulado pela parte area e razes das espciesde inverno. Mdia de 4 repeties. (1990 e 1991).

    Parte Area Razes

    1990 1991 1990

    Tratamentos

    --------------------------- kg ha-1 -----------------------

    Ervilha forrageira 117 66 3,8

    Ervilhaca comum 84 78 6,0

    Chcharo 118 94 12,4

    Tremoo azul 131 117 16,6

    Aveia preta 46 38 5,2

    Pousio invernal* 27 20 2,2Fonte: Da Ros, 1993.

    *A quantidade acumulada de N-total se refere s plantas silvestres de inverno.

  • 27

    A utilizao de ervilhaca, tremoo, nabo forrageiro, aveia mais ervilhaca e aveia

    preta como plantas de cobertura do solo no inverno, antecessoras ao milho, tem

    proporcionado, alm de uma alta produo de fitomassa, grandes quantidades de nutrientes

    fixados e/ou reciclados (Tabela 7).

    Tabela 7: Produo de massa seca, reciclagem de nutrientes e relao C/N decultivos de cobertura do solo no inverno. Mdia de dois anos.

    Espcies MassaSeca

    N P K Ca Mg C/N

    kg ha-1

    Ervilhaca 4879 148 20 198 47 16 13

    Tremoo 5252 129 21 168 65 27 16

    Nabo 5917 138 22 204 96 35 16

    Aveia + ervilhaca 6058 139 21 202 43 16 18

    Aveia preta 5151 72 14 125 18 10 34

    Fonte: Fiorin , 1999 (Adaptado).

    Da Ros (1993) demonstrou que tanto as leguminosas de inverno como a aveia

    preta, acumularam quantidades significativas de fsforo e potssio, principalmente na parte

    area, em estudo desenvolvido sobre solo arenoso (Argissolo Vermelho Amarelo arnico),

    conforme apresentado na Tabela 8.

    A quantidade de nitrognio liberada ao solo depende da taxa de decomposio

    dos resduos pelos microrganismos, de fatores relacionados ao solo e ao prprio material. A

    decomposio dos resduos influenciada pela temperatura, aerao, umidade, reao do

    solo, quantidade de nutrientes inorgnicos, relao C/N e quantidade de lignina do material.

    Em termos gerais pode-se contar com 20 kg de N para cada 1% de matria orgnica no solo

    (Haas, 1999).

    Deve-se levar em considerao a influncia do perodo de manejo das plantas

    de cobertura do solo. No incio da adoo do sistema plantio direto e no plantio sobre

    grande volume de palha de gramneas, deve-se aumentar em at 30% o volume de N

    mineral aplicado, especialmente se a cultura em sucesso tambm for uma gramnea, a fim

    de compensar a imobilizao do N pelos microrganismos do solo. Este fato mais uma

    razo para alternar o uso de leguminosas, gramneas e outras espcies.

  • 28

    Tabela 8: Quantidades de P2O5 e K2O absorvidos pela parte area e razes deespcies de inverno. Mdia de 4 repeties. (1990 e 1991).

    Parte area Razes

    1990 1991 1990

    P2O5 K2O P2O5 K2O P2O5 K2O

    Tratamentos

    ------------------------------- kg ha-1 -----------------------------

    Ervilha forrageira 50 92 19 79 0,8 3,5

    Ervilhaca comum 25 116 29 93 1,4 5,8

    Chcharo 34 167 25 107 4,2 12,6

    Tremoo azul 34 202 26 154 3,7 31,2

    Aveia preta 21 123 22 93 2,0 8,3

    Pousio invernal * 16 16 11 49 1,7 7,5

    Fonte: Da Ros, 1993.

    *As quantidades absorvidas de P2O5 e K2O se referem s plantas espontneas de inverno.

    importante planejar o perodo de semeadura das espcies de vero

    sucedendo o manejo das espcies de inverno, em funo da liberao de nitrognio, fsforo

    e potssio para as culturas, e do efeito aleloptico e/ou supressor. O nitrognio das

    leguminosas ou crucferas (nabo forrageiro) comea a ser liberado logo aps o manejo das

    espcies com mtodos mecnicos. Atravs de trabalho de Da Ros (1993), possvel

    recomendar aos agricultores a semeadura do milho at 30 dias aps o manejo das

    leguminosas de inverno, porque 60% do N liberado at este perodo, enquanto que no

    caso de gramneas, somente 30% do N liberado. Segundo o mesmo autor, em relao a

    P2O5 e K2O, a maior parte tambm mineralizada nos primeiros 30 dias. Confirmando os

    dados, Aita et al. (1991) observaram que a mineralizao do N nas leguminosas foi em

    mdia de 64% e de 37% na aveia, aos 30 dias aps o manejo das espcies.

    No caso de aveia preta, em que a relao C/N alta, haver imobilizao do

    nitrognio do solo pelos microrganismos logo aps o manejo, sendo necessrio adicionar N

    mineral na base da cultura em sucesso, como milho ou sorgo.

    A imobilizao do nitrognio realizada pelos microrganismos do solo que, a

    partir do momento da interrupo do ciclo vegetativo da planta, passam a atuar na

    decomposio dos resduos vegetais. No incio da decomposio, principalmente de

  • 29

    espcies com alta relao C/N, h um pico de imobilizao (imobilizao maior que

    mineralizao), ocorrendo o consumo de N mineral do solo, dos restos vegetais, da matria

    orgnica e da adubao. Com o passar do tempo ocorre o restabelecimento gradativo das

    transformaes que acontecem no solo (imobilizao igual a mineralizao) e, a partir deste

    momento, os processos de transformao comeam a liberar o N, ora imobilizado, para a

    soluo do solo.

    Alguns autores observaram que a liberao do N acumulado no tecido de aveia

    preta, aps a mesma ser manejada como planta de cobertura, somente ocorre a partir do

    florescimento do milho. Com isto, o manejo deste tipo de resduo vegetal deve ser de

    maneira a proporcionar um maior espao de tempo em relao a semeadura do milho.

    Porm este perodo no pode ser to longo que acarrete implicaes negativas em relao

    a necessidade de controle de ervas e insetos e semeadura fora da poca mais

    recomendada para o milho. Na sucesso gramnea de inverno/milho, uma ateno maior

    deve ser dada ao manejo da adubao nitrogenada, principalmente a maior dose de N no

    momento da semeadura, resultando numa maior oferta de N-mineral para a planta e

    reduzindo o efeito na imobilizao de N no solo (Fiorin,1999).

    A otimizao no aproveitamento dos nutrientes, somente poder ser atingida se

    houver uma boa sincronizao entre a velocidade em que o nutriente liberado dos

    resduos culturais e a velocidade em que o mesmo absorvido pelas culturas subsequentes

    ( Giacomini & Aita, 1999).

    Ferro (1989) verificou o efeito residual de diferentes espcies de adubos verdes

    de inverno sobre o rendimento do milho, sendo que no tratamento que no recebeu

    adubao nitrogenada em cobertura as respostas foram mais expressivas, com os

    melhores rendimentos sendo obtidos aps as leguminosas e crucferas, na seguinte ordem :

    tremoo, nabo forrageiro e ervilhaca. Pesquisa realizada por Aita et al. (1991) concluiu que

    possvel suprir totalmente a demanda de nitrognio no milho, atravs de leguminosas de

    inverno. Wildner et al. (1992) destacam Crotalria juncea e C. spectabilis como excelentes

    plantas recicladoras de nutrientes do solo, principalmente de K2O, CaO e MgO.

  • 30

    6.1.2 ADUBAO SOMENTE COM BIOMASSA

    De acordo com Claro (1999), o suprimento de nutrientes para pomares de

    pessegueiro e ameixeira pode ocorrer atravs do manejo da vegetao espontnea e de

    espcies melhoradoras de inverno e vero, mas as respostas, em termos de produtividade,

    so mais demoradas, principalmente se o solo for pobre em matria orgnica e nutrientes.

    Dependendo do tipo de solo, ou seja, do tipo de rocha que o originou, poder haver a

    necessidade de importao de biomassa para o pomar. Plantar o capim cameron em reas

    marginais, roar sua vegetao por 3 a 4 vezes durante o ciclo de primavera vero -

    outono e colocar sobre a projeo da copa das rvores do pomar uma forma de suprir com

    mais rapidez as necessidades nutricionais do pomar, alm de ajudar no controle ou manejo

    ecolgico de ervas nativas, bem como os demais benefcios que a cobertura morta

    proporciona. Segundo o mesmo autor, o corte de apenas 0,3 ha deste capim fornece massa

    verde para a cobertura de solo de um hectare de pomar em um s corte. Devem ser plantas

    bem desenvolvidas, com um mnimo de dois anos de idade. Aps o corte do Cameron,

    deve-se esperar de 15 a 20 dias para coloc-lo no pomar, visando evitar o enraizamento

    deste no solo. Segundo Claro (1999), a produo de um hectare de cameron, num ciclo de

    aproximadamente seis meses, pode fornecer no mnimo dez toneladas de massa seca, 90 a

    200 kg de N, 60 a 250 kg de P2O5 e 250 a 500 kg de K2O. Na impossibilidade do uso desta

    espcie, pode-se utilizar outras gramneas, como sorgo forrageiro, milheto e teosinto, sendo

    importante incluir a biomassa de leguminosas de porte alto e rsticas como crotalrias,

    guand e leucena.

    Um pomar de pessegueiro e ameixeira com espaamento de 6m x 4m (em torno

    de 400 a 420 plantas por hectare) deve ser suprido com 14 , 27 e 40 kg ha-1 de N,

    respectivamente, para o 1, 2 e 3 ano de idade (Comisso ..., 1994). Esta quantidade de N,

    de acordo com Claro (1999), pode ser completamente suprida com massa verde de plantas

    recuperadoras do solo (mistura de gramneas com leguminosas) colocando-se uma camada

    de massa verde sobre o solo, na rea da projeo da copa. No primeiro ano, deve-se

    fornecer para cada planta uma quantidade de massa verde equivalente a roada de 3m,

    roando-se, preferencialmente, a massa verde das reas mais prximas das rvores, para

    facilitar o transporte. importante que a massa verde roada seja aquela resultante de

    adubao verde previamente implantada no prprio pomar, corretamente trabalhada para

    fornecer uma exuberante biomassa.

  • 31

    No segundo ano a quantidade de massa verde fornecida a cada planta deve ser

    o dobro da do primeiro e no terceiro o triplo, ou seja, 9 m2 por planta. Se com estas

    quantidades de biomassa for constatada deficincia de N, a rea de 1 ha de pomar coberta

    com massa verde permite o corte de uma rea de biomassa trs vezes maior que 9 m2

    /planta, para suprir tal deficincia. No primeiro ano coloca-se a massa verde na projeo da

    copa, em torno de 15 a 30 dias aps a brotao (agosto/setembro) e, no segundo e terceiro

    ano, no incio dela, tolerando-se aplicao at 40-50 dias aps. Mais sensato colocar

    metade da biomassa no incio da brotao e o restante 45 dias depois. Caso necessrio,

    pode-se complementar o N, via biomassa, at 100 dias aps o incio da brotao. Para

    viabilizar esta forma de adubao necessrio que a adubao verde seja implantada em

    maro/abril ou, no mximo, em maio.

    O nitrognio tambm pode ser fornecido atravs do uso dos dejetos de animais

    sem a necessidade da utilizao de leguminosas, sendo importante a manuteno do solo

    coberto com a vegetao cultivada ou espontnea, a qual deve ser roada ou acamada na

    pr-florao ou incio dela, e em perodos de estiagem.

    6.2 ADUBOS ORGNICOS

    Adubos orgnicos so resduos utilizados na agricultura e que contm elevados

    teores de componentes orgnicos, como lignina, celulose, lipdios, graxas, carbohidratos e

    leos, principalmente. O carbono o elemento principal existente nestes compostos, mas

    destaca-se tambm a presena de N, P, K, Ca, Mg e micronutrientes. A adubao orgnica

    pode ser definida como a deposio de resduos orgnicos de diferentes origens sobre o

    solo com o objetivo de melhorar as propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do mesmo.

    Em termos gerais os adubos orgnico podem ser agrupados em:

    a) Origem animal (esterco de bovinos, aves, sunos e outros animais)

    b) Origem vegetal (adubos verdes e coberturas mortas)

    c) Resduo urbano (lixo slido e lodo de esgoto)

    d) Resduos industriais (cinzas e outras)

    e) Compostos orgnicos (vermicomposto).

    f) Biofertilizantes (enriquecidos ou no)

    g) Adubos orgnicos comerciais

  • 32

    A adubao orgnica apresenta importantes vantagens: (i) aumenta a matria

    orgnica do solo, (ii) melhora a estrutura do solo, (iii) aumenta a capacidade de reteno de

    gua para as plantas, (iv) aumenta a infiltrao da gua da chuva, (v) aumenta a CTC, (vi)

    complexa ou solubiliza alguns metais txicos ou essenciais s plantas (Fe, Zn, Mn, Cu, Co,

    Mo, Pt, Pb), (vii) diminui os efeitos txicos do Al e (viii) aumenta a atividade microbiana do

    solo.

    No entanto, a acumulao dos dejetos orgnicos de origem animal nas

    propriedades rurais onde predominam a bovinocultura de leite, suinocultura e confinamentos

    de gado de corte, podem gerar srios danos ao meio ambiente se os materiais gerados

    pelos animais no forem armazenados de forma correta, atravs de reservatrios

    revestidos.

    As guas superficiais e subsuperficiais podem ser contaminadas pelos dejetos

    devido a excessiva presena de poluentes, entre os quais o nitrato. De acordo com a

    portaria n 36/90 do Ministrio da Sade, a concentrao limite de nitrato nas guas de

    10mgl-1. Acima disto considerado txico tanto para animais como para o homem. Outro

    problema que pode ocorrer com extrema gravidade a eutroficao das guas

    superficiais, onde esto includas, lagoas, audes e rios, em funo do excesso de fsforo

    proveniente do esterco dos animais. Este processo facilita o crescimento exagerado de

    algas, as quais, quando em processo de decomposio, consomem o oxignio da gua e

    reduzem a sua disponibilidade para os peixes, podendo ocasionar a mortandade dos

    mesmos. Em funo destes problemas fundamental que os dejetos dos animais passem a

    ser armazenados corretamente em reservatrios revestidos, impedindo a contaminao

    qumica e biolgica das guas do meio rural (Barcellos, 1997).

    Os resduos orgnicos utilizados na agricultura geralmente contm uma pequena

    frao mineral (solvel em gua, cidos diludos ou solues salinas), enquanto a maior

    parte constituda de compostos orgnicos, os quais devem ser transformados

    enzimaticamente, para tornar os nutrientes disponveis s plantas. Este processo

    denominado de mineralizao, sendo influenciado de acordo com o suprimento de oxignio,

    com as caractersticas do material orgnico e com as condies ambientais. Considerando-

    se que a relao C/N da microbiota decompositora de resduos no solo apresenta valor

    aproximado de 10:1, e que sejam liberadas duas molculas de CO2 para cada carbono

    incorporado biomassa microbiana, a mineralizao de N pode ocorrer com a adio de

    resduos com relao C/N menor que 30:1. Esta relao de C volatilizado e C incorporado

  • 33

    biomassa pode entretanto ser muito varivel, dependendo principalmente da temperatura,

    do suprimento de oxignio e da umidade (Tedesco et al., 1999).

    Resduos com altos teores de celulose e lignina so decompostos mais

    lentamente do que os restos vegetais com baixos teores (folhas e razes). A incorporao de

    resteva com alta relao C/N no imobiliza o N do solo porque o nitrognio liberado na

    decomposio mais rpida das folhas (com C/N prxima a 30:1) j suficiente para suprir

    as necessidades dos microorganismos decompositores, e tambm devido lenta

    decomposio lenhosa (Peruzzo, 1982, citado por Tedesco et al., 1999). Consideraes

    semelhantes podem ser feitas para a liberao de fsforo orgnico. O potssio nos resduos

    considerado prontamente disponvel, para fins de recomendaes de adubao.

    A composio fsico-qumica dos estercos apresentada em seqncia, de

    acordo com trabalho de Barcellos (1997) e de Claro (1999), onde algumas caractersticas

    importantes so destacadas. A matria seca dos estercos tem grande variao nos

    reservatrios das propriedades rurais em funo da chuva, local de coleta do esterco

    (estbulo ou pocilga), temperatura ambiente e excesso de gua da lavagem diria. A

    quantidade de nutriente, especialmente de N, P2O5 e K2O, est diretamente relacionada com

    o teor de massa seca dos estercos. O esterco considerado slido se a matria seca for

    maior que 20%, pastoso se for de 8 a 20% e lquido se for menor de 8%. No Rio Grande do

    Sul a maior parte dos estercos dos animais manejada na forma lquida, em funo da

    suinocultura e bovinocultura de leite serem sistemas de produo usados em grande escala

    e onde a gua usada sistematicamente na limpeza das instalaes.

    O teor de nitrognio, fsforo e potssio est diretamente relacionado com

    alimentao e tamanho dos animais, e com parmetros fisiolgicos. Quanto mais excedente

    em nutrientes for a alimentao, em relao s exigncias nutricionais dos animais, melhor

    a qualidade dos estercos. Em mdia, 75% do N, 80% do P2O5 e 85% do K2O presentes nos

    alimentos so excretados nas fezes. Portanto, a formulao da dieta influencia diretamente

    na composio dos estercos. O N o parmetro principal que usado na recomendao de

    adubao, em funo de ser o nutriente que as plantas mais necessitam. O nitrognio

    amoniacal, que o disponvel para a planta no momento da aplicao dos estercos, est

    presente em maior quantidade no esterco de suno em relao ao de bovino. Isso faz com

    que as plantas adubadas com os biofertilizantes de sunos, especialmente as gramneas,

    tenham uma resposta mais rpida em termos de crescimento vegetativo. O aproveitamento

  • 34

    da urina nos estbulos ou pocilgas fundamental porque, em mdia, 50% do N existente

    nos dejetos animais proveniente da mesma.

    O pH outro parmetro importante para ser avaliado nas esterqueiras porque

    auxilia o extensionista a decidir se o biofertilizante pode ser aplicado em cobertura nas

    culturas, especialmente nas forrageiras. A aplicao de materiais com pH cido pode

    provocar danos s culturas, principalmente nos estgios iniciais de desenvolvimento,

    especialmente nas horas mais quentes do dia. Para estimar os valores de pH do esterco, a

    campo, o tcnico pode fazer uso de papel indicador ou tornassol. Nas esterqueiras onde o

    material bem fermentado o pH deve variar entre 6,5 e 7,5, o que d segurana suficiente

    para o tcnico recomendar a aplicao do biofertilizante em cobertura nas plantas.

    O efeito dos estercos no rendimento das culturas funo da dosagem a ser

    utilizada, a qual, para ser definida, depende diretamente da densidade ou massa seca dos

    estercos que so disponveis na propriedade rural. O esterco de sunos apresenta um efeito

    imediato superior ao esterco de bovinos em funo do seu maior potencial fertilizante,

    especialmente em relao ao N e P2O5. A estimativa do potencial fertilizante dos estercos,

    ao nvel da propriedade, pode ser obtida atravs de um mtodo fcil e rpido, utilizando-se

    um densmetro, conforme mtodo desenvolvido por Barcellos (1994). Aps feita a

    determinao da densidade do material e correlacionando-a com o teor de nutrientes,

    possvel recomendar a adubao orgnica isolada ou associada a adubao mineral

    (Anexo 2).

    A distribuio do esterco no solo merece alguns cuidados, os quais esto

    relacionados com os horrios de aplicao no solo e sua incorporao ou no. Os horrios

    para a aplicao devem ser at 10 horas da manh, principalmente em dias quentes ou

    tardinha. O esterco no incorporado ao solo pode perder, em mdia, 30% do nitrognio.

    Com o sistema de plantio direto este deve ser colocado na superfcie do solo, em contato

    com a palha, mesmo que ocorram perdas significativas de amnia. Alm disso, preciso

    lembrar que a taxa de mineralizao do nitrognio de 50% durante o primeiro ano,

    devendo este fator ser levado em conta para o clculo do N na adubao orgnica

    (Comisso..., 1994).

    As fontes de matria orgnica podem apresentar teores bastante diferenciados

    de N, P2O5 e K2O, como pode ser observado na Tabela 9. No clculo da quantidade de

    nutrientes contidos em uma tonelada de esterco slido, ou 1000 litros de esterco lquido,

  • 35

    deve-se considerar a concentrao de nutrientes na matria seca e o ndice de eficincia de

    liberao do nutriente, da forma orgnica para a mineral, que, no primeiro ano, de 50%

    para o nitrognio, 60% para o fsforo e 100% para o potssio. No ano seguinte aplicao

    dos estercos, ainda podem ser disponibilizados para a cultura 20% de N e 20% de P2O5 do

    total que eles continham. Este residual deve ser descontado nas aplicaes de estercos nos

    anos subsequentes (Comisso..., 1994).

    Tabela 9: Concentrao mdia de N, P2O5 e K2O de alguns adubos orgnicos deorigem animal, calculada com base na matria seca do material.

    EstercoNutriente Cama defrango(1 lote) slido de

    sunosfresco debovinos

    lquido debovinos

    lquido desunos

    ---------------- % ---------------- -------- kg m 3 --------

    N 3,0 2,1 1,5 1,4 4,5

    P2O5 3,0 2,8 1,4 0,8 4,0

    K2O 2,0 2,9 1,5 1,4 1,6

    Fonte : Comisso ... , 1994.

    de se salientar que os adubos orgnicos constituem-se em excelente fontes

    para o aporte de microelementos, via de regra no contemplados nas formulaes qumicas

    convencionais que se limitam aos macroelementos.

    6.3 O USO DE CINZAS VEGETAIS

    Determinados setores industriais (olarias, secagem de gros, indstrias de

    calcrio, etc.) produzem elevadas quantidades de cinzas, resultantes da queima de material

    vegetal (lenha) como fonte de energia. O uso de cinzas na agricultura, alm de minimizar o

    potencial poluente, pode servir como corretivo do solo para beneficiar a produtividade das

    culturas. No entanto, antes de ser utilizada como corretivo, importante realizar a anlise

    qumica para conhecer a quantidade de nutrientes nela contida e seu potencial corretivo,

    pois a concentrao de nutrientes varia de acordo com o tipo de material vegetal queimado.

    Apenas como referncia, a Tabela 10 apresenta teores de nutrientes e potencial corretivo de

    cinzas de material vegetal com predominncia de bracatinga (Darolt et al., 1993).

  • 36

    Tabela 10: Resultado da anlise qumica de cinzas de material vegetal compredominncia de bracatinga.

    pH P2O5 K2O CaO MgO PRNT

    -------------------------------------- % ----------------------------------

    10,6 1,5 7,1 23,2 7,1 43,8

    Fonte: Darolt et. al., 1993.

    Os mesmos autores, com o objetivo de avaliar o efeito deste material como

    fertilizante de reas olercolas e corretivo do solo, na regio metropolitana de Curitiba PR,

    incorporaram a cinza vegetal (de bracatinga, principalmente) ao solo, em quantidades

    equivalentes a 0, 10, 15, 20 e 30 t ha-1. Os valores de pH apresentaram praticamente uma

    relao linear com as dosagens de cinza, com aumentos de pH proporcionais s

    quantidades de cinza adicionadas. Este aumento pode ser atribudo, especialmente,

    liberao de carbonato de potssio quando da reao da cinza no solo, o qual representa

    mais da metade da parte solvel do material. A reduo do teor de alumnio trocvel

    tambm comportou-se de modo proporcional s doses de cinzas, com uma diminuio

    substancial j na primeira dose (Tabela 11). Estes resultados evidenciaram que, para as

    condies do experimento, a incorporao de cinzas ao solo nas doses de 10 e 20 t ha-1

    pode ser considerada como um substituto ao calcrio na reduo do Al txico do solo, bem

    como contribuir para a elevao do pH. O uso desta alternativa na pequena propriedade

    poder ser vivel, devendo-se atentar para algumas questes importantes, tais como: a

    disponibilidade de cinzas vegetais, a qualidade do material (realizar anlise qumica), a

    distncia da fonte do material propriedade (frete) e o custo de distribuio e incorporao.

    A elevao dos teores de ctions acompanhou as doses de cinza, especialmente em

    potssio, sugerindo um certo desequilbrio em relao a clcio e magnsio. O aumento do

    teor de K no solo foi to expressivo que os autores sugerem que todo o K fornecido pela

    cinza ficou em forma trocvel no solo. A mesma considerao pode ser feita para o caso do

    fsforo, que apresentou um aumento significativo nos teores, em especial na dose de 10 t

    ha-1, considerando que o teor inicial j estava num patamar relativamente alto para aquele

    tipo de solo (Darolt et al., 1993).

  • 37

    Tabela 11: Teores de pH, Al trocvel, P, K e Ca + Mg extravel e CTC do solo, aps100 dias da incorporao de doses crescentes de cinza vegetal.

    Dose pH P K Ca + Mg Al CTC

    t ha-1 (CaCl2) ------- mg L-1 ------ -------------- cmolc dm-3 -------------

    0 4,4 41 403 9,25 1,48 19,0

    10 5,0 86 1216 10,50 0,50 20,3

    15 5,4 67 1865 10,53 0,30 20,2

    20 5,6 54 2002 13,80 0,10 21,6

    30 6,5 69 3441 12,06 0,00 23,3

    Fonte : Adaptado de Darolt et al., 1993

    Pauletto et al. (1990) tambm constataram elevao do pH e de teores de P e K

    no solo devido a aplicao de cinzas de casca de arroz em Planossolo e Argissolo Vermelho

    Amarelo Distrfico tpico da regio de PelotasRS. O aumento do pH em ambos os solos foi

    de 0,01 unidade por tonelada aplicada, o que foi considerado pelos autores como pouco

    expressivo, em termos prticos. Amostras desta cinza foram analisadas, e se observaram os

    seguintes resultados : pH = 10,0 ; P = 187 ppm ; K = 1.665 ppm. A grande diferena destes

    valores com aqueles relativos ao estudo anteriormente citado refora a necessidade de

    avaliao analtica da qualidade das cinzas, tendo em vista a diversidade dos materiais de

    origem.

    6.4 FOSFATOS NATURAIS REATIVOS

    So considerados fosfatos naturais os compostos fosfatados de clcio, que

    apresentam flor, cloro, hidroxila ou carbonato na molcula, de ocorrncia na quase

    totalidade, em depsitos naturais. Quando eles so de origem gnea, com estrutura cristalina

    bem definida, tm-se as apatitas, e quando de origem sedimentar amorfa, as fosforitas. As

    apatitas so duras, bastante estveis e insolveis em gua (Cooke, 1967). Devido a estas

    caractersticas, no geral, so utilizadas como matria prima para a obteno dos fosfatos

    acidulados solveis (superfosfato simples, superfosfato triplo e fosfatos de amnio). A

    maioria dos fosfatos naturais brasileiros so desse tipo (Peruzzo et al., 1999).

  • 38

    Os fosfatos de origem sedimentar so brandos, menos estveis que as apatitas,

    possuindo alto grau de substituio na molcula e, consequentemente, maior solubilidade.

    So conhecidos atualmente como fosfatos naturais reativos ou fosfatos moles. Muitas

    pesquisas tm mostrado que, quando usados diretamente na lavoura, proporcionam

    aumento no rendimento das culturas.

    A reatividade qumica de um fosfato natural avaliada com base no grau de

    substituio do fosfato pelo carbonato em sua estrutura qumica. Quanto mais elevado for o

    grau de substituio, maior ser a solubilidade em citrato de amnio e a eficincia

    agronmica (Ferreira, 1978). Os estudos de solubilidade dos fosfatos naturais, independente

    da sua origem, salientam a lenta reao dos mesmos no solo, a curto prazo. Em vista disto

    procura-se, atravs de tratamentos com cidos ou calor, aumentar a solubilidade do

    material. Os fosfatos naturais reativos usados no Brasil, so o de Gafsa, da Tunsia, o

    Carolina do Norte, dos EUA e, Arad, de Israel.

    Com o objetivo de avaliar a eficincia agronmica dos fosfatos naturais de Arad

    e de Gafsa em relao ao superfosfato triplo (SFT), em culturas seqenciais de soja, trigo e

    milho, e utilizando idnticas dosagens de P2O5, Peruzzo et al. (1997) obtiveram

    produtividades mdias em torno de 3% menores nas reas com fosfatos naturais.

    Considerando os valores de P2O5 total nos fosfatos de Arad (33%) e de Gafsa (29%), o autor

    concluiu que, se os preos desses fosfatos, por tonelada de produto, forem menores que

    67% do preo do superfosfato triplo, estas fontes podem tornar-se alternativas

    economicamente viveis para as referidas culturas.

    Se o superfosfato triplo responde com maior produtividade, por outro lado causa

    alguma acidificao ao solo. O retorno econmico entra em choque com a preservao

    ambiental. Este fato na agricultura em geral, merece ser avaliado pelos agricultores para a

    tomada de decises.

    6.5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AITA, C.; DA ROS, C. O.; CERETTA, C. A.; AMADO, T. J. C. Leguminosas de inverno comofonte de nitrognio para o milho no sistema plantio direto. In: REUNIO CENTRO-SUL DEADUBAO VERDE E ROTAO DE CULTURAS, 3., Cascavel, 1991. Resumos.Cascavel: OCEPAR, 1991. p. 132.

  • 39

    ANGHINONI, I.; SALET, R. L. Amostragem do solo e as recomendaes de adubao ecalagem no sistema plantio direto. In: NEUERNGERG, N.J., Conceitos e fundamentos dosistema plantio direto. Lajes: Sociedade Brasileira de Cincia do Solo Ncleo RegionalSul, 1998. p.27-52.

    BARCELLOS, L.A.R. Manejo e utilizao do esterco de bovinos e sunos. In: PR-GUABA.Manual Tcnico Manejo e Conservao do Solo. Porto Alegre: EMATER/RS, 1994. p. 133-148

    BARCELLOS, L. A. R. Manejo e utilizao do esterco lquido de bovinos e sunos. SantaMaria, EMATER/RS, [1997]. 9f. (no publicado).

    CLARO, S.A. Pessegueiro e ameixeira em sistema de cultivo agroecolgico. Sobradinho-RS, EMATER/RS, 1999, 15 p.. Apostila, no publicado.

    COMISSO DE FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC. Recomendaes de adubao e decalagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 3 ed. Passo Fundo: SBCS Ncleo Regional Sul, 1994. 224p.

    COOKE, G. W. Phosphate Fertilizers. In: THE CONTROL OF SOIL FERTILITY. London,Crosby Lockwood & Son, 1967, p. 122 38.

    DAROLT, M. R.; NETO, V. B.; ZAMBON, F. R. A. Cinza vegetal como fonte de nutrientes ecorretivo de solo na cultura da alface. Horticultura Brasileira. Braslia, v.11, n.1, p. 38-40,1993.

    Da ROS, C. O. Plantas de inverno para a cobertura do solo e adubao nitrogenada aomilho em plantio direto. 1993. 85f. Dissertao (Mestrado em Agronomia Solos) Programa de Ps-Graduao em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria. SantaMaria.

    FERREIRA, T. N. Eficincia agronmica dos fosfatos naturais de Patos de Minas e GafsaPuros, em mistura com Superfosfato Triplo e modificados por acidulao e calcinao.Santa Maria. 1978. 71f. Dissertao (Mestrado em Agronomia Solos) Programa de Ps-Graduao em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.

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    FIORIN, J. E. Plantas recuperadoras da fertilidade do solo. In: CURSO SOBRE ASPECTOSBSICOS DE FERTILIDADE E MICROBIOLOGIA DO SOLO EM PLANTIO DIRETO,Fertilidade do solo em Plantio Direto, 1999, Cruz Alta, RS. Resumos. Passo Fundo: Ed.Aldeia Norte,.1999. p.39-55.

    GIACOMINI, S.J. & AITA, C. Liberao de nitrognio durante a decomposio de plantas decobertura em cultura pura e em consrcio. Santa Maria, maio de 1999. Trabalhoapresentado na disciplina Seminrio de Solos I no Programa de Ps-graduao emAgronomia Curso de Ps-Graduao em Cincia do Solo - CCR, UFSM. No publicado.

    HAAS, F. D. Aspectos bsicos de fertilidade sob plantio direto. In: CURSO SOBREASPECTOS BSICOS DE FERTILIDADE E MICROBIOLOGIA DO SOLO EM PLANTIO

  • 40

    DIRETO, 1999: Fertilidade do solo em Plantio Direto. Cruz Alta, RS. Resumos., PassoFundo: RS, Ed. Aldeia Norte 1999, p.19-31.

    KLUTHCOUSKI, J. Leucena: alternativa para pequena e mdia agricultura. Goinia:EMBRAPA-CNPAF, 1980. 23 p. (Circular Tcnica, 06)

    PAULETTO, E. A.; NACHTIGALL, G. R. & GUADAGNIN, C. A. Adio de cinza de casca dearroz em dois solos do municpio de Pelotas, RS. R. bras. Ci. Solo, Campinas, n.14, p.255-58, 1990.

    PERUZZO, G.; PTTKER, D.; WIETHLTER, S. Avaliao da eficincia agronmica dosfosfatos naturais reativos de Arad e de Gafsa. In : SEMINRIO INTERNACIONAL DOSISTEMA PLANTIO DIRETO, 2., 1997, Passo Fundo, RS. Anais. Passo Fundo :EMBRAPA-CNPT, 1997. p. 259-61

    PERUZZO, G.; WIETHLTER, S. Fosfatos Naturais Reativos: Resultados obtidos no suldo Brasil. In : CONGRESSO BRASILEIRO DE CINCIA DO SOLO, 27. Braslia, 1999.Anais ... Braslia : EMBRAPA CERRADO, 1999. CD-ROM

    RAIJ, B. van. Fertilidade do Solo e Adubao. So Paulo: Ed. Ceres, 1991. 343 p.

    TEDESCO, M. J. ; CAMARGO, F. A. de O.; GIANELLO, C. Resduos orgnicos de origemagrcola, urbana e industrial. In : CONGRESSO BRASILEIRO DE CINCIA DO SOLO, 27,Braslia, 1999. Anais ... Braslia : EMBRAPA CERRADO, 1999. CD-ROM

    TISDALE, S. L.; NELSON, W. L.; BEATON, J. D. Soil Fertility and Fertilizers. 4.ed. NewYork, Macmillan, 1985, 754 p.

    WILDNER, L. P. & DADALTO, G. G. Avaliao de espcies de vero para adubao verde,cobertura e adubao do solo na regio oeste Catarinense: I. Espcies anuais. In:REUNIO CENTRO-SUL DE ADUBAO VERDE E ROTAO DE CULTURAS, 3.,Cascavel, 1991. Resumos. Cascavel: OCEPAR 1991. p. 148.

  • 41

    7 PLANTAS PROTETORAS E MELHORADORAS DO SOLO

    Entre as diversas medidas conhecidas para o controle da eroso, uma das mais

    importantes a cobertura do solo, com vegetao viva ou seus resduos, de forma a impedir

    o impacto direto das gotas de chuva sobre as partculas do solo. O controle da eroso

    significa a manuteno e a possibilidade de melhoria das condies de fertilidade do solo,

    com repercusso em melhores produes agrcolas. Por isso a importncia do uso de

    sistemas de cultivo que priorizem a cobertura do solo e o seu mnimo revolvimento, como

    o caso do sistema plantio direto.

    Assim sendo, a busca de produes mais estveis e eficazes, que preservem os

    recursos naturais e que sejam de custo mais baixo, passa necessariamente por um sistema

    de rotao de culturas. Em seu conceito mais amplo significa o uso de plantas em rotao

    ou consorciao de culturas, sendo depositadas na superfcie do solo, visando a proteo e

    a melhoria das suas condies fsicas, qumicas e biolgicas. Os termos, culturas de

    cobertura e adubao verde, embora erroneamente, s vezes so caracterizados como

    sinnimos, sendo que o primeiro ressalta mais o aspecto de proteo do solo aos agentes

    climticos, enquanto no segundo a nfase quanto ao aspecto fertilizante. As culturas de

    cobertura so responsveis por uma srie de benefcios para a agricultura, cujos resultados

    perduram ao longo do tempo. Em sntese, podemos citar algumas funes que so

    desempenhadas pelas plantas protetoras e melhoradoras do solo:

    a) Protege o solo das chuvas de elevada intensidade, evitando a desagregao

    do solo e o selamento superficial;

    b) Facilita a infiltrao da gua no solo pela reduo da velocidade de

    escoamento da enxurrada e a formao de canalculos aps a decomposio das razes;

    c) Permite a manuteno e elevao do teor de matria orgnica do solo pelo

    aporte contnuo de material vegetal;

    d) Reduz as oscilaes de temperatura da camada superficial do solo, com

    reflexo em menor evaporao e maior disponibilidade de gua s plantas;

    e) Rompe as camadas adensadas de solo, atravs do sistema radicular

    agressivo de algumas espcies, funcionando como uma subsolagem biolgica;

    f) Melhora a estrutura do solo em funo da massa de razes produzidas e das

    substncias orgnicas por elas liberadas, resultando num processo de cimentao,

    aumentando o tamanho dos agregados do solo;

  • 42

    g) Aporta nitrognio a partir do uso de leguminosas, possibilitando a reduo do

    uso deste nutriente na cultura em sucesso;

    h) Recicla nutrientes atravs do sistema radicular profundo de algumas espcies

    de cobertura.

    i) Reduz a lixiviao de nutrientes, em especial do nitrato ( NO-3);

    j) Diminui a populao de plantas espontneas atravs de efeito aleloptico e/ou

    supressor.

    l) Fornece substrato para os microorganismos do solo, considerados como os

    principais agentes na formao e estabilizao dos agregados.

    Alm destes aspectos, que posteriormente sero abordados com mais detalhes,

    as culturas de cobertura ainda podem trazer benefcios econmicos diretos quando

    utilizados na alimentao animal, devido ao elevado valor nutritivo de algumas espcies.

    7.1 EFEITOS DAS PLANTAS DE COBERTURA SOBRE AS CONDIESQUMICAS DO SOLO

    A matria orgnica (MO) indispensvel para a manuteno da micro e

    mesovida do solo e tem forte influncia sobre a estrutura e a produtividade do solo. Com as

    plantas de cobertura, incorporadas ou depositadas sobre a superfcie, tem-se como

    benefcio a manuteno do teor de MO e a possibilidade de aument-lo. No entanto, para

    este fim, so requeridas grandes quantidades e por um longo tempo. Se, por exemplo,

    adiciona-se ao solo 2.400 kg ha-1 de matria seca de determinada espcie, cerca de 2/3 do

    carbono perdido na forma