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ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ SONATA ANDINA DE JAIME M. ZENAMON: ANÁLISE TÉCNICO-INTERPRETATIVA RESGATANDO A VISÃO DO COMPOSITOR SOBRE SUA OBRA Luciana Elisa Lozada Tenório Curitiba Agosto, 2010

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ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ

SONATA ANDINA DE JAIME M. ZENAMON:

ANÁLISE TÉCNICO-INTERPRETATIVA RESGATANDO A

VISÃO DO COMPOSITOR SOBRE SUA OBRA

Luciana Elisa Lozada Tenório

Curitiba Agosto, 2010

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ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ

SONATA ANDINA DE JAIME M. ZENAMON: ANÁLISE TÉCNICO-INTERPRETATIVA RESGATANDO A

VISÃO DO COMPOSITOR SOBRE SUA OBRA

Luciana Elisa Lozada Tenório

Trabalho de conclusão do projeto de

Iniciação Científica, realizado por

Luciana E. L. Tenório, Bolsista da

Fundação Araucária de apoio ao

desenvolvimento científico e

tecnológico do Paraná – 2009/2010

Orientador: Orlando Cézar Fraga

Curitiba Agosto, 2010

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AGRADECIMENTOS

Agradeço principalmente ao compositor Jaime Zenamon pela grande

disposição e colaboração neste trabalho, ao orientador Orlando Fraga pelo auxílio no

desenvolvimento da pesquisa, e ao violonista Aluísio Coelho Barros pelo intenso

envolvimento e participação em todas as gravações realizadas no trabalho. Também

agradeço ao apoio de meu pai Nelson Tenório, e especialmente à minha mãe, Isela

Anelice Lozada, que me incentivou muito a investir neste projeto. Finalmente, gostaria

de agradecer à Fundação Araucária pelo apoio financeiro e à Embap pelo apoio

organizacional para o desenvolvimento da pesquisa.

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RESUMO

Este trabalho se resume a um material de apoio ao intérprete que deseja

executar a obra Sonata Andina de Jaime M. Zenamon. Visto que não há qualquer

bibliografia sobre o assunto, o trabalho procura reunir o maior número possível de

informações sobre o contexto da obra, sua interpretação e dúvidas à respeito de sua

versão editada, trabalhando diretamente com o compositor. Todos os conhecimentos

adquiridos através do contato com Jaime Zenamon, foram utilizados em uma análise

musical com a qual foi possível identificar os elementos que compõe esta obra e assim

entender melhor seu discurso musical; resgatar a interpretação do ponto de vista do

próprio compositor; fazer algumas correções na edição e sugerir alternativas técnicas

relevantes, a fim de facilitar o trabalho do intérprete sem comprometer o sentido do

texto musical, muito pelo contrário, ressaltando-o, de acordo com a visão interpretativa

proposta.

Palavras-chave: Jaime Zenamon – Análise – Interpretação – Sonata Andina

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... pág. 4

2. JAIME ZENAMON .................................. ....................................................... pág. 5

3. SONATA ANDINA .................................. ....................................................... pág. 5

4. ANÁLISE DO PRIMEIRO MOVIMENTO .................. ..................................... pág. 7

5. ANÁLISE DOSEGUNDO MOVIMENTO .................... .................................... pág. 19

5.a. CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS E INTERPRETATIVAS ..... .................. pág. 28

5.b. CORREÇÕES REALIZADAS NA EDIÇÃO ............... ............................. pág. 30

6. ANÁLISE DO TERCEIRO MOVIMENTO .................. ..................................... pág. 32

7. CONCLUSÃO ..................................... .......................................................... pág. 43

8. BIBLIOGRAFIA ................................... .......................................................... pág. 44

9. ANEXOS......................................................................................................... pág. 46

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1. INTRODUÇÃO

Quando um intérprete aborda uma obra musical, os primeiros materiais que tem

como referência para a interpretação geralmente são: a partitura e suas indicações,

possivelmente algumas gravações e o conhecimento através de pesquisa bibliográfica

e análise, do estilo, da harmonia e outras características que lhe permitem deduzir a

interpretação de fraseio, de articulação, de dinâmica e caráter da música.

Por vezes, o intérprete se depara com situações em que estes artifícios são

escassos ou insuficientes para criar uma interpretação sólida, e compreender

realmente o discurso musical e seu contexto. Este é o caso da obra Sonata Andina, de

Jaime Zenamon.

Dessa carência surgiu a idéia de realizar este trabalho, mais precisamente, após a

realização de um masterclass com Zenamon, em que o compositor acrescentou

informações muito importantes sobre a obra, modificando completamente minha

interpretação. Cheguei à conclusão de que este trabalho seria importante para o

intérprete que, por ventura, não tenha acesso ao compositor e deseje saber mais à

respeito da Sonata Andina.

Quanto à pesquisa, este trabalho se dividiu em duas etapas: A primeira etapa

tratou de resgatar a visão do compositor sobre sua obra por meio de entrevistas,

levantando dados importantes para a contextualização da peça, questões

interpretativas e até mesmo correções na edição da partitura. Após esta coleta de

dados foi realizada a segunda etapa, na qual a obra foi analisada musicalmente pela

autora do trabalho, tendo como elemento direcionador, o grupo de informações obtido

na primeira etapa da pesquisa e a finalidade de compreender melhor o texto musical e

apresentar, quando necessário, soluções técnicas relevantes para uma melhor

execução da obra.

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2. JAIME ZENAMON

Jaime Zenamon é um compositor, violonista e regente que nasceu em La Paz,

Bolívia, no dia 20 de fevereiro de 1953; Se mudou para Curitiba com sua família no

ano de 1972, onde se naturalizou. Em 1978 fundou o curso de Bacharelado em Violão

da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, onde atuou como professor de violão,

até 1980. De 1980 até 1992, radicou-se em Berlim onde atuou como professor de

violão a convite da Escola Superior de Artes (Hochschule der Kunste. Atualmente

reside em Curitiba e trabalha como compositor, regente e ministra masterclasses,

seminários e palestras em diversos países.

Quanto à sua formação, teve aulas de violão erudito com Abel Carlevaro

(Uruguai), Almosnino (Hungria) e Avber Brender (discípulo de Andrés Segovia –

Israel); aulas de composição com Guido Santórsola (Itália), Alceu Bocchino (Brasil),

Nicola Flagello (Itália/E.U.A), Wladimir Nokolovsky (discípulo de Shostakovich –

Calendônia/Rússia); aulas de regência com Carlos Prates (Brasil), Guido Santórsola

(Itália/Uruguai) e frequentou como ouvinte, as aulas do maestro Hebert Von Karajan

(Alemanha).

3. SONATA ANDINA

A Sonata Andina é uma obra para duo de violões, composta em 1982. Foi

publicada pela Editora Margaux, em 1988. É constituída de três movimentos: I.Vivo,

II.Lento e III.Bien animado. Segundo Jaime Zenamon, esta peça foi composta quando

ele residia na Alemanha, para um duo de violões que o compositor mantinha com a

violonista norte-americana Laurie Randolph. Zenamon avalia esta obra como sendo

descritiva:

Eu morava naquela época na Alemanha e imaginava bons tempos quando eu estudava no Uruguai. As pampas, as estepes, os churrascos, aquela coisa de andar à cavalo... Isso não existe na Europa, aquelas estepes, aquelas pampas, e aí você tem a parte Andina, ter a parte Andina na mente facilita a sua fantasia, você começa a associar a música às montanhas, aos cavalos. Por isso, essa peça se chama música descritiva, ela esta descrevendo alguma passagem, algum momento que te influenciou muito na vida[...]1

Pode-se perceber que é de grande valia que o intérprete tenha em mente este

tipo de imagem e reconheça os elementos musicais que criam essa atmosfera andina.

1 Entrevista realizada com Jaime Zenamon, no dia 29 de setembro de 2009.

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Para ilustrar o depoimento do compositor, a figura 1 mostra a foto de uma paisagem

tipicamente andina:

Fig. 3.12

Em entrevista, o compositor fez um pequeno relato dos momentos e

influências que foram significativos para a criação desta peça:

Eu tive professores uruguaios e argentinos[...]Os seminários de Porto Alegre abriram uma perspectiva enorme e a gente teve ajuda de pessoas fantásticas, que nem pais da gente, mães, uma coisa assim, absurda. A família Zarate, o Jorge Martinez Zarate3 e a mulher dele, eram mais do que família, porque o apoio que eles deram era muito sério, muito grande e então você vê que isso tem uma influência para toda a vida, e esses momentos que a gente passava nos ambientes dos alunos, tinha muita influência do folclore argentino e uruguaio e foi o momento em que eu conheci alguns personagens como Mercedes Sosa, Cacho Tirao, que era um violonista, Eduardo Falú, Juan Falú, Atahualpa Yupanqui.4 Enfim, essa parte me influênciou muito, influênciou esses cantos, essa maneira de fazer música.5

2 Foto disponível em <http://www.visitingargentina.com/blog/wp-content/uploads/andes,_patagonia,_argentina.jpg>

3 Importante violonista e professor de violão, que juntamente com outros professores criou um dos mais

atuantes centros violonísticos da atualidade, na Argentina. (DUDEQUE, Norton Eloy, História do Violão. Curitiba: Ed. Da UFPR, 1994, p. 99).

4 Mercedes Sosa, Cacho Tirao, Eduardo Falú, Juan Falú e Atahualpa Yupanqui são importantes nomes de músicos “folcloristas” que contribuiram e participaram de um período que ficou conhecido, na Argentina, como o “boom del folklore” (1960-70). As décadas de 1960 e 1970 foram períodos prolíferos em termos de experimentação estética com zambas, chacareras, cuecas, bailecitos, vidalas, milongas, estilos, etc. (RUIZ, Irma. The New Grove Dictionary of Music and Musicians. 2ª ed. New York: Oxford University Press, 2001. Vol. 1, p. 881.) 5 Entrevista realizada com Jaime Zenamon, no dia 05 de outubro de 2009.

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Foram encontradas algumas gravações desta obra, no entanto, a mais

importante e significativa para este trabalho, foi a gravação do duo de Jaime Zenamon

e Laurie Randolph no álbum Gitarrenmusik des 20 Jahrhunderts, gravado em LP, em

Berlin, 1988.

4. ANÁLISE DO PRIMEIRO MOVIMENTO

Andamento: Vivo

Sugestão de tempo: = 100

Forma: A – B – A’

Segundo o próprio compositor, o ponto de partida para a composição do

primeiro movimento de Sonata Andina foi o primeiro acorde da peça, executado pelo

violão 2, representado na figura 4.1, que surgiu de forma intuitiva. Jaime Zenamon

gostava do som desse acorde e improvisava utilizando-se do ligado entre a nota la e

sol, cujo efeito lhe agradava:

Fig 4.1

Logo depois teria surgido a idéia do ritmo 6/8, cuja base está nos ritmos

folclóricos sul-americanos como o malambo6 e a chacarera7, que apresentam como

forte característica a sobreposição e justaposição dos ritmos 6/8 e 3/4. Como se vê

nos compassos 5 e 6 da figura 4.2, essa característica polirritmica é explorada no

movimento I da Sonata Andina.

A seção A, compreende o primeiro compasso até o compasso 72, e no que se

refere à melodia, encontramos duas visões diferentes a respeito de sua primeira frase:

6 Malambo é o nome que se dá na Argentina a uma dança entre dois homens, em que cada um, por turno e competencia, faz diferentes tipos de sapateado desafiando-se mutuamente. Sua música é executada pelo violão e seu caráter é vivo. ((MAYER-SERRA, Otto. Música y músicos de Latinoamerica.México, DF; Nova Iorque: Atlante: W.M. Jackson, 1947. p.574 e 575)

7 A chacarera é uma dança argentina, realizada por casais que dançam separados. Sua forma musical cosiste, no geral, em uma introdução instrumental e a parte vocal. A música toca-se geralmente com violão, acordeon e bombo. É uma dança de ritmo ágil, em 6/8, e caráter muito alegre e festivo. (MAYER-SERRA, Otto. Música y músicos de Latinoamerica.México, DF; Nova Iorque: Atlante: W.M. Jackson, 1947. p.273 e 274)

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como se vê na figura 4.2, a primeira visão esta notada na partitura por meio da

ligadura de frase, que sugere que a frase a inicia-se no compasso 5 e termina no

compasso 14, refletindo a opinião do compositor Jaime Zenamon sobre o trecho.

De acordo com a segunda visão, a frase a inicia-se no primeiro compasso,

com um intervalo de quinta que atua como um eco e, ao mesmo tempo, um gesto

melódico, numa seqüência de quatro compassos e após desenvolver-se é finalizada

no compasso 14. Esta visão é sugerida pela observação das funções harmônicas e

melódicas do trecho, dessa forma, a frase a apresenta um sentido coerente pois inicia

com o primeiro grau da tonalidade de Sol Maior, tanto harmonicamente quanto

melodicamente, e após se desenvolver tendo como base o acorde vizinho de La Maior

(uma espécie de “bordadura harmônica”) a melodia e harmonia retornam à tônica.

Fig. 4.2

O compositor fez comentários sobre a interpretação desta primeira frase, visto

que as indicações da partitura são subjetivas e podem resultar diferentes dependendo

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da idéia de cada intérprete. Primeiramente o compositor citou a importância do arpejo

no primeiro acorde, a fim de aumentar sua ressonância, logo, fez um comentário à

respeito da indicação de dinâmica forte, notado na partitura:

[...]Isso é o que eu quis dizer com forte, é uma entrada magistral. Não um grito, sabe, que assusta a pessoa, porque o forte para mim não quer dizer estridente[...]Tinha um grande pianista que falava isso, como ele me abriu os olhos... Ele dizia: “forte não quer dizer gritante, forte quer dizer – vou tentar traduzir – com força, não um grito desesperado, quer dizer sólido”[...] No forte você usa a inércia, e é muito mais fácil tocar forte do que gritante, tenso. E nessa entrada isso faz muita diferença, a entrada sólida. E ainda, isso dá mais segurança, em qualquer música que comece assim, você entra com absoluta confiança, te deixa mais seguro do que pensar: “vou ter que tocar forte”, aí você se amarra, você fica nervoso.8

Apesar de haver apenas a indicação forte, Jaime Zenamon sugeriu que os

intervalos de quinta repetidos no início melodia fossem tocados com um gradual

diminuendo, assim como sinos, ou como um eco. Também discorreu sobre a leveza

que implica o acompanhamento executado pelo violão 2 e o cuidado com os acentos

no decorrer do movimento, a fim de não haver exageros, já que se trata de uma peça

extremamente violonística, que não necessita muito esforço para soar bem no

instrumento.

Continuando com a análise, podemos identificar no período que acabamos de

observar, um motivo que será importante no decorrer da peça, o chamaremos de

motivo 1. O motivo que acabamos de citar está implícito em outros motivos que na

verdade são derivados dele, como o exemplo no compasso 6, mostrado na figura 4.3:

Motivo 1:

Fig.4.3

Na figura 4.4, observamos que do compasso 15 ao compasso 18 ocorre uma

seqüência e uma escala que se caracterizam como uma ponte para a frase b .

8 Entrevista realizada com Jaime Zenamon, no dia 29 de setembro de 2009.

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Observa-se que uma imitação à quinta inferior do motivo 1 é utilizada como uma

ligação entre a frase b e a frase c , que virá a seguir:

Fig. 4.4

Observe na figura 4.5, os compassos 28 a 31 onde ocorre a frase c no violão

1. A nova frase é formada pelo motivo 1, que por sua vez é imitado mais adiante pelo

violão 2. Nesse trecho há uma inversão de papéis entre os violões, o que segundo

Jaime Zenamon não teria ocorrido, não fosse por uma sugestão de Laurie Randolph,

uma vez que o compositor tinha a idéia de que em um duo de violões, um violão

deveria executar a melodia e o outro a harmonia, delimitando-se bem os papéis de

cada um, em um mesmo trecho, como ele próprio afirma neste depoimento:

Eu morava com uma moça naquela época e ela me deu muitas boas idéias, era uma americana, muito boa violonista e ela me disse: ”Eu gosto muito quando um violão dá pro outro”. E eu achava que um violão deveria acompanhar e o outro fazer a melodia, ou as vezes trocar, mas não assim, no meio. E através dela eu abri a “cuca” um pouco, porque a crítica é ótima, e ela me criticava, dizia: “Por que você não faz isso? Por que não faz aquilo?”. Foi uma convivência muito legal, ela tocava muito bem e como ela era de fora, me dava idéias.9

9 Entrevista realizada com Jaime Zenamon, no dia 29 de setembro de 2009.

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Fig. 4.5

Apesar da inversão de papéis, o compositor enfatiza que o momento da

mudança deve ser auditivamente imperceptível, pois se trata da continuação de uma

mesma idéia musical.

Logo após uma seção rítmica, surge uma ponte constituída de arpejos em que

se observa uma imitação literal e duas inversões retrógradas, destacadas na figura

4.6. A ponte leva à frase a’ , iniciada no compasso 44, chamada assim por retomar

elementos da seção A, presentes no motivo rítmico-melódico do acorde inicial

circulado no compasso 44, na figura 4.7:

Fig. 4.6

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Fig.4.7

Na figura 4.8 observamos a frase c’ , que utiliza os mesmos motivos

melódicos dos compassos 28 a 31 transpostos e imitados de forma não literal. A

escala que antecede a frase funciona como um levare10, novamente o motivo 1 é

imitado e ocorre a inversão de papéis entre os violões.

Fig. 4.8

10 “Levare é o gesto do regente que antecede e serve para preparar o tempo forte a seguir” (DOURADO, Henrique A. Dicionário de termos e expressões da música. São Paulo: Editora 34, 2004). Nesta análise, adaptamos este termo para definir um trecho musical que antecede e serve para preparar ou atingir, a frase musical principal.

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A partir do compasso 62, como mostra a figura 4.9, o compositor insere um

novo material melódico e harmônico, que funciona como uma transição para a seção

B, pois nela aparecem notas alteradas criando uma tensão modulatória que conduz à

próxima seção, que por sua vez apresenta as aterações citadas em sua armadura de

clave:

Fig.4.9

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A seção B (compassos 73 a 107) apresenta dois momentos distintos

separados por uma fermata. As principais características do primeiro momento, que

abrange os compassos 73 a 96, são a utilização de padrões de arpejo mostrados na

figura 4.9 e 4.10, e a finalização com uma melodia que surge no compasso 86 e é

executada pelo violão 2 (figura 4.11). É interessante notar que novamente o

compositor inverte os papéis melódico-harmônico dos violões no meio da frase

melódica como se vê no compasso 93, na figura 4.11.

Fig.4.10

Fig. 4.11

O segundo momento da seção B inicia-se no compasso 97, com um pequeno

contraponto a duas vozes realizado pelo violão 1, que segue como uma breve melodia

para encerrar a seção B. O violão 2 por sua vez realiza um acompanhamento que

revela uma estrutura ritmica-intervalar semelhante ao acompanhamento feito pelo

acorde inicial da peça, já apresentado nas frases a e a’, um fator que reforça a

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semelhança entre os trechos é a articulação das tercinas, que é a mesma nos três

momentos (frase a, frase a’ e compassos 101 a 105 da seção B), como se pode

observar na figura 4.12, na comparação entre o acompanhamento destacado da

seção B e o acompanhamento da frase a’ , que todavia possuem semelhança entre a

alternância da acentuação rítmica em 6/8 e 3/4.

Fig. 4.12

Agora, analisaremos a seção A’ (compassos 108 a 149), assim chamada por

retomar elementos do início da obra, como a armadura de clave que volta à sua forma

inicial mas desta vez atuando em Mi Menor, em princípio, e retornando em seguida à

tonalidade de Sol Maior. Outro elemento que retorna é a citação e imitação motívica já

apresentada na seção A , como se vê na figura 4.13. Apesar da fórmula de compasso

estar notada em 3/4, o ritmo se alterna entre o ritmo ternário e o ritmo binário em 6/8,

como ocorre na seção A :

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Fig. 4.13

A figura 4.14 mostra que a partir do compasso 114 há uma sequência que

entra em destaque, o que, segundo Zenamon, deve ser feito preferencialmente por

meio do timbre e não por intensidade, como podem sugerir os acentos que aparecem

na partitura. Novamente encontramos uma referência ao motivo ritmico-melódico do

acompanhamento feito pelo acorde que inicia a peça, uma referência já feita

anteriormente, mostrada na figura 4.12, acima:

Fig. 4.14

A seguir, na figura 4.15 podemos ver a frase c” , transposta e com algumas

pequenas modificações intervalares em relação à frase c . Ao invés da esperada

imitação do motivo 1 que se seguiu nas frases c e c’ , é apresentada uma nova frase

que completa o período, a chamaremos de frase d :

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Fig. 4.15

Na figura 4.16, após o trecho considerado como um levare, observa-se um

retorno à frase a , ligeiramente modificada, mas ainda assim com a presença do

motivo 1 e suas variações, que estão circulados na figura. A fórmula de compasso

volta a ser 6/8, como no início da peça. Nos compassos 146 e 147 ocorre uma

liquidação11 que causa a impressão de finalização da peça.

11

Liquidação é privar gradualmente as formas-motivo de seus elementos característicos, dissolvendo-as em forma amorfas, tal como as escalas e acordes arpejados. Segundo Schoenberg, um dos propósitos da liquidação é neutralizar a extensão ilimitada. (SCHOENBERG, A. Fundamentos da composição musical. São Paulo: EDUSP, 1993, p. 186)

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Fig. 4.16

Apesar da liquidação dar a impressão de constituir o final da peça, este se dá

por meio do sufixo que surge em seguida, como mostra a figura 4.17. O sufixo, em

forma de um motivo já apresentado na frase d , tem a função de causar surpresa e

contraste em relação ao “falso fim” que o precede, isso se comprova tanto pela

respiração que ocorre antes do sufixo, quanto pelo contraste entre as dinâmicas mp e

f, e as indicações de andamento rallentando e a tempo. Esta interpretação do final

é reforçada pela sigestão de interpretação do póprio Zenamon: “bem seco”.12

12

Entrevista realizada com Jaime Zenamon, no dia 29 de setembro de 2009.

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Fig. 4.17

5. ANÁLISE DO SEGUNDO MOVIMENTO

Andamento: lento

Forma: A-B-A´

Logo no primeiro compasso da seção A (compassos 1 ao 51), o compositor

lança um elemento que caracteriza a obra: a sonoridade da escala pentatônica.

Abaixo, a figura 5.1 representa o primeiro compasso da obra, apresentando uma

pequena correção na última nota do violão 2. Ao invés da nota sol, como está escrito

na edição da editora Margaux, a nota correta é um fá sustenido, como se pode ouvir

na gravação feita pelo duo do compositor com a violonista Laurie Randolph e como foi

confirmado em entrevista com Jaime Zenamon.13

Fig. 5.1

13 Entrevista realizada no dia 1º de outubro de 2009.

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Nota-se que o segundo movimento inicia com o sinal de dinâmica p (piano).

Acredito que é interessante fazer uma citação de Zenamon,à respeito de sua visão

sobre este tipo de dinâmica:

[...]Tinha um grande pianista que falava isso, como ele me abriu os olhos... ele dizia: “[...]piano, não quer dizer fraco, sabe fraco de saúde, quer dizer suave, com muita delicadeza”. São coisas diferentes, então quando vocês vão fazer um piano, ao contrário, é preciso um peso do corpo enorme, o Carlevaro falava pra mim “as maiores carícias se fazem com o corpo inteiro”. Se você quer fazer uma carícia, não vai fazer um movimento fraco, assim você vai estar limpando sujeira. No caso de uma carícia você usa muita energia, por incrível que pareça [...]14

Segundo o compositor, esta peça foi escrita, principalmente em seu aspecto

melódico, com base em uma escala pentatônica menor, conhecida como hirajoshi, e

por meio de análise podemos perceber que ele também utiliza muito outra escala

pentatônica, muito similar, chamada kumoi.15 A figura 5.2 nos mostra as duas escalas

citadas, partindo da nota dó, para fins de comparação:

Fig. 5.2

14 Entrevista realizada com Jaime Zenamon, no dia 29 de setembro de 2009.

15 Segundo Shigeo, As escalas hirajoshi e kumoi-joshi foram criadas inicialmente como modos de afinação do koto, instrumento japonês, baseadas na escala japonesa in. Desde então, se popularizaram no Japão. (SHIGEO, Kishibe. The traditional Music of Japan. Tokyo, Japan: Ongaku No Tomo Sha Edition, 1984.) A nomenclatura uitlizada neste trabalho é a mesma utilizada pelo autor Persichetti, em um de seus livros. Nele, ele afirma que as escalas kumoi e hirajoshi estão entre as escalas pentatônicas mais utilizadas na música erudita do século XX. (PERSICHETTI, Vincent. Armonia del Siglo XX. Madrid: Real Musical, 1985, p. 48).

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21

A música tipicamente andina geralmente utiliza em suas melodias a escala

pentatônica16, Zenamon afirma que o objetivo da escolha da sonoridade do modo

menor foi a expressão de um caráter melancólico, que remete à realidade humilde e

sofrida das pessoas que habitam a região montanhosa dos Andes.

Falaremos mais tarde sobre como Zenamon utiliza estas escalas em sua

música. Neste momento, voltaremos nosso foco a uma frase iniciada no segundo

compasso que é executada pelo violão 1 e acompanhada por um cromatismo

descendente executado pelo violão 2. Esta frase, que chamaremos de frase a , será

um dos dois elementos melódicos recorrentes em todo o segundo movimento, e é

representada na figura 5.3:

Fig. 5.3

A figura 5.3 nos mostra que no compasso 5 ocorre uma espécie de elisão em

que o final da frase a tocada pelo violão 1 serve como apoio harmônico para que o

violão 2 repita o início da mesma frase. Outra observação a ser feita é uma pequena

correção na articulação da edição que no terceiro compasso não apresenta ligadura

entre as duas notas si do terceiro e quarto tempo, não obedecendo ao padrão de

articulação observado nas notas repetidas, no restante da frase. É interessante

16

BAUMANN, Max Peter. The New Grove Dictionary of Music and Musicians. 2ª ed. New York: Oxford

University Press, 2001. Vol. 2, p. 824.

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22

comentar que a frase possui um caráter descritivo muito forte, como descreve

Zenamon, neste depoimento:

Esta frase é bem expressiva e calma, é quase um caminho e isso eu me lembro bem, por que as pessoas do altiplano têm um andar melancólico, amargurado, elas andam encurvadas, com um peso enorme. Elas são baixinhas, tem umas costas enormes por causa do pulmão, porque lá é muito alto, e são muito judiadas, muito sofridas, parece que você vê as fendas da terra no rosto das pessoas, pela ação do sol, é uma coisa muito impressionante. Então, nesse sentido, associei a frase com esse caminhar.17

A utilização deste tema se dá por meio da imitação de seus fragmentos. A

figura 5.4 demonstra de que forma estas imitações são realizadas:

Fig. 5.4

O segundo material temático que será utilizado no decorrer da peça, é

apresentado claramente nos compassos 6, pelo violão 2 e nos compassos 10 e 11,

pelo violão 1, trata-se da escala kumoi, já citada anteriomente, iniciando com a nota

mi, como mostra a figura 5.5:

17

Entrevista realizada no dia 1º de outubro de 2009.

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23

Fig. 5.5

Este tema, que nada mais é do que a escala kumoi em 1º modo, é imitado

literalmente em vários momentos, como se pode ver na figura 5.6. Porém, por se tratar

de uma escala pentatônica levaremos em consideração outros tipos de uso deste

material e também observar a utilização da escala hirajoshi, muitas vezes apresentada

em conjunto com a escala kumoi.

Fig. 5.6

De acordo com o autor Vincent Persichetti, pode mos obter cinco modos de

uma escala pentatônica iniciando uma nova escala de cinco sons a partir de cada grau

da escala principal (1º modo)18, como exemplifica a figura 5.7, logo abaixo,

18

PERSICHETTI, Vincent. Armonia del Siglo XX. Madrid: Real Musical, 1985, p. 49.

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apresentando a escala hirajoshi a partir da nota si, que por sua vez é apresentada em

alguns momentos da seção A do segundo movimento, mostrados mais adiante pela

figura 5.8:

Fig. 5.7

Na figura 5.8, podemos observar que além de serem utilizadas em seus

diversos modos, incrementando a melodia, alguns graus das escalas são utilizados na

forma de um arpejo constante, o que não possui tanto apelo melódico, mas cria uma

sonoridade peculiar ora com função de acompanhamento quando o outro violão

executa uma melodia, ora formando uma massa sonora em conjunto com o outro

violão, quando este também executa um arpejo.

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25

Fig. 5.8

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26

O compositor também utiliza um acorde de quarta em primeira inversão

(compassos 35 a 38), que reforça a sonoridade pentatônica do trecho, segundo a

afirmação de Persichetti: “Os acordes de três, quatro e cinco sons por quartas justas

tem um sabor pentatônico. A forma com cinco sons contém todos os graus da escala

pentatônica diatônica.” Na figura 5.9, pode-se observar o acorde em questão e suas

formas de apresentação na peça:

Fig. 5.9

A seção B abrange os compassos 52 a 59 e é caracterizada por sua divisão

rítmica em compasso ternário e por arpejos executados simultaneamente pelos dois

violões criando uma massa sonora em que se destaca uma melodia, indicada na

partitura por meio do sinal “>” . A melodia resultante é mostrada na figura 5.10:

Fig. 5.10

Uma linkagem é utilizada para conectar a seção B com a seção A’ , ela é feita

através do acorde de quarta em primeira inversão já utilizado anteriormente na peça,

mostrado na figura 5.9.

A seção A’ (compassos 60 a 85) retoma os elementos característicos da

seção A , como a frase a , mostrada na figura 5.11:

Fig. 5.11

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27

Citando também as escalas pentatônicas e acordes de quarta, mostrados nas

figuras 5.12, 5.13 e 5.14:

Fig. 5.12

Fig. 5.13

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Fig. 5.14

5.a. CONSIDERAÇÕES SOBRE ASPECTOS TÉCNICOS E INTERP RETATIVOS

Por apresentar situações peculiares, este movimento merece um subcapítulo à

parte que trate de questões técnicas e interpretativas como as que virão à seguir:

Logo no início da seção A, a partir do segundo compasso, o violão 2 realiza

harmônicos que são tocados com a mão direita utilizando o dedo indicador e o anular.

Para uma maior clareza dos harmônicos o intérprete deve procurar tocar na região

mais próxima à ponte possível. O próprio Jaime Zenamon afirma que por vezes

utilizava o dedo mínimo, ao invés do anular para realizar esse tipo de passagem, a fim

de tocar mais próximo à ponte do violão, e consequentemente com mais clareza.

É interessante fazer um comentário à respeito da técnica utilizada para realizar

o efeito tambora, presente nos compassos 17-18 e 77-78. Este efeito pode ser

realizado tanto com a parte lateral esquerda do polegar direito que percute as cordas

em uma região próxima à ponte19 do violão, mas também pode ser realizado da

19 Também chamada cavalete, em instrumentos de cordas, é uma espécie de barra localizada entre o tampo e as cordas. A ponte tem a função de levantar as cordas para estabelecer uma certa distância acima do tampo ou escala, e transmitir as vibrações das cordas para o corpo do instrumento, serve também como um dos dois pontos terminais do comprimento vibrante da corda. (BOYDEN, David D; COOKE, Peter; WALLS, Peter. The New Grove Dictionary of Music and Musicians. Disponível em http://hemingways-studio.org/dictionary/grove_main.htm )

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mesma forma com as “costas” do polegar. Deste modo, o contato da unha com as

cordas favorece a sonoridade plena dos harmônicos dos acordes e ainda destaca a

nota da primeira corda.

O arpejo executado pelo violão 1, no compasso 18, apresenta uma digitação

sugerida pelo compositor. No entanto, ela apresenta uma dificuldade técnica

considerável para a mão esquerda, visto que exige uma abertura grande entre os

dedos 3 e 4, posicionados na 11 ª casa, e o dedo 2, posicionado na 8ª casa. Uma

sugestão de digitação tecnicamente mais fácil para este trecho, sem que se perca a

fluidez do arpejo, pode ser observada na figura 5.a.1:

Fig. 5.a.1

Nos compassos 19 a 22 o violão realiza um trecho solo. Está implícita certa

liberdade ao intérprete que realiza o trecho sozinho, porém não há nenhuma indicação

na partitura. Para que não haja dúvidas, uma sugestão para a edição seria a

incorporação da indicação “livre e molto expressivo”, revelando a interpretação

concebida pelo compositor Jaime Zenamon que afirma: “Esta parte é muito livre, é

uma parte extremamente lírica, não há tempo.”20

No compasso 23, exclusivamente, há uma mudança no padrão de arpejo

executado pelo violão 2. Jaime Zenamon não se recorda se isso foi um erro de edição,

mas pelo fato de haver alteração em várias notas, deduz que ele deva ter feito essa

pequena mudança conscientemente para chamar a atenção do intérprete. Mesmo

assim, segundo o próprio compositor, não há uma razão musical nessas alterações,

portanto, fica a critério do intérprete decidir o arpejo que deseja fazer. Tomando como

exemplo a recorrente repetição de padrões rítmicos, melódicos e harmônicos que

20

Entrevista realizada no dia 1º de outubro de 2009.

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podemos observar no decorrer da peça, acredito que a melhor opção neste caso seja

repetir o padrão de arpejo utilizado desde o princípio.

Uma curiosidade sobre este movimento chama a atenção do intérprete que

escuta a gravação do duo de Zenamon e Randolph. Nesta gravação, o trecho dos

compassos 63 a 73, que se trata de uma repetição ligeiramente modificada dos

compassos 39 a 49, é omitido. Segundo Jaime Zenamon, isso foi, provavelmente,

mais uma sugestão de Laurie Randolph, pois lhe pareceu que o trecho tornava a

música um pouco repetitiva e longa. A idéia original do compositor prevê esta

repetição, da forma que está editada na partitura, mesmo assim, o compositor acredita

que o intérprete deve escolher a versão que mais lhe agrade.

Se o intérprete opta pela realização do trecho citado pode levar em

consideração a inversão de conteúdo entre os dois violões, no compasso 74, para

facilitar a execução técnica, evitando grandes saltos, como mostra a figura 5.a.2

Fig.5.a.2

5.b. CORREÇÕES REALIZADAS NA EDIÇÃO

Além da correção já realizada no início do capítulo 5, mostrada pela figura 5.1,

há uma pequena correção na articulação do compasso 6. A figura 5.b.1 destaca a

ligadura que falta à edição:

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Fig. 5.b.1

Nos compassos 43 e 67, o violão 1 realiza uma linha melódica de baixos, o

compositor conferiu o manuscrito da peça e constatou que a seguinte correção de

notas deveria ser feita, como mostra a figura 5.b.2:

Fig. 5.b.2

Em relação ao compasso 69, a figura 5.b.3 mostra que há um pequeno erro na

edição: a quintina presente no primeiro tempo do violão 2, na realidade é uma sextina

idêntica às outras que preenchem o compasso.

Fig. 5.b.3

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6. ANÁLISE DO TERCEIRO MOVIMENTO

Andamento: Bien Animado (Sugestão de tempo: = 176);

Forma: A – B – A’ – Coda

Tonalidade: la menor

O terceiro movimento volta a ressaltar a polirritmia, sobrepondo e intercalando

os ritmos ternário e binário, sobre este ritmo o compositor comenta: “É um galope

mesmo. Porque esta peça é realmente andina, e tem muito a ver com os pampas, com

o galope dos cavalos. Ela tem essas paisagens bem claras”. A figura 6.1 mostra como

é feita essa sobreposição de ritmos:

Fig. 6.1

A seção A (compassos 1 a 72) se caracteriza melodicamente por um período

formado por antecedente e conseqüente, o período a , mostrado na figura 6.2, o trecho

esta escrito na tonalidade de lá menor e a harmonia se alterna entre acordes menores,

maiores, diminutos, com notas acrescentadas de sexta, sétima e nona, e acordes de

quarta, todos em forma indireta:

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Fig. 6.2

A figura 6.3 mostra que esse período é ligeiramente modificado, o que o

transforma em período a’ . Este período é apresentado em sua forma completa, na

tonalidade de fá menor:

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Fig.6.3

Em seguida, o antecedente do período a’ é citado novamente, desta vez na

tonalidade de mi menor, como mostra a figura 6.4:

Fig. 6.4

A articulação destas frases não está notada na partitura, mas o compositor faz um

comentário interessante sobre o assunto: “É muito fluente, muito ligado, é cantado

mesmo. Se eu fosse escrever isso hoje para algum instrumento, seria para cello, muito

bem cantado até o fim. Praticamente, o acompanhamento é suave, não muito

marcado”.

Outros elementos são identificados nesta seção como coadjuvantes dos temas

principais, pois atuam como ligações entre as citações dos períodos a e a’. Dentre

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eles observa-se entre os compassos 20 e 26 o motivo 1 e suas imitações que estão

representados na figura 6.5:

Fig. 6.5

Ainda há outros dois motivos com a mesma função que podem ser observados

na figura 6.6:

Fig. 6.6

Além dos motivos citados acima, o compositor utiliza, assim como no primeiro

movimento, escalas para ligar uma idéia musical à outra. Uma sugestão de

interpretação é a realização de um leve rallentando no último tempo do compasso, a

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fim de criar uma expectativa para a entrada da nova idéia musical que virá em

seguida.

A seção B (compassos 73 a 101), conforme afirmação do compositor foi

baseada ritmicamente na Zamba21:

A segunda parte seria um zamba argentino, que não tem nada a ver com o samba brasileiro. É o três por quatro argentino, que chamam de zamba, o andamento é quase melancólico, mas a influência é tipicamente folclórica, folclore de Córdoba, Argentina.22

A partir do compasso 92 o próprio compositor afirma que há influência européia

na utilização de melodias por intervalos sextas, quartas e quintas, aludindo à pratica

orquestral das trompas, como ilustra a figura 6.7:

Fig. 6.7

A seguir, a figura 6.8 apresenta uma novidade: a utilização de efeitos

percussivos utilizados como uma transição para a seção A’. Os golpes percussivos

devem ser realizados em lugares diferentes do tampo, por isso as figuras rítmicas

estão localizadas em lugares diferentes do pentagrama. Os acentos indicados no

primeiro compasso do trecho devem ser aplicados aos demais compassos, como se

vê na figura 8, que apresenta as células rítmicas utilizadas na transição:

21 É uma variante da Zamacueca, e como esta dança, sua origem remonta ao Peru, porém foi difundida pelo Chile, Bolívia e Argentina. Reúne em seu jogo coreográfico as características de um poema , onde sintetiza todo o proceso amoroso, desde as primeiras tentativas de aproximação, até a conquista.(MAYER-SERRA, Otto. Música y músicos de Latinoamerica.México, DF; Nova Iorque: Atlante: W.M. Jackson, 1947, p. 1124 e 1125)

22 Entrevista realizada no dia 1º de outubro de 2009, com o compositor Jaime Zenamon.

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Fig. 6.8

As células rítmicas realizadas neste trecho deixam clara a influência da música

folclórica das regiões andinas, já citada anteriormente. O trecho (compassos 102 a

127) remonta à utilização do bombo23 nas músicas tradicionais como o malambo e a

chacarera. No caso das figuras que requerem o efeito tambora, as cordas devem ser

abafadas com a mão esquerda para que o efeito soe o mais próximo possível ao som

de um bombo. Visto que neste caso, a realização do golpe nas cordas utilizando a

unha não se faz necessário, pois não há notas que precisem ser destacadas, os

golpes próximos à ponte podem ser realizados com a parte lateral esquerda do

polegar direito.

Juntamente com o efeito da percussão, a ponte reapresenta o período a , como

se pode ver na figura 6.9:

23 Nome onomatopéico e genérico para várias formas de grandes tambores da Espanha, Portugal e América do Sul. Dois tipos principais de construção são comuns: faces de largo diâmetro (50-70 cm) e um relativo corpo pequeno e os que possuem um corpo longo e cilíndrico, e faces de pequeno diâmetro, com ou sem cordas ou arcos para tensionar e esticar as peles, como o bombo argentino, utilizado por grupos urbanos de folclore andino, onde as peles são seguradas e tensionadas por cordas conectadas a arcos de madeira . Tanto a forma de extenso diâmetro quanto a forma cilíndrica são encontradas na Argentina. A primeira se refere ao bombo chato e a segunda ao bombo tubular. Há também outras formas diferentes de bombo, que geralmente são tocados de pé, andando ou sentado, ou em que o instrumentista senta-se montado sobre o instrumento que toca com as mão ou duas pequenas baquetas. As técnicas para se tocar o bombo variam entre a utilização de longas e duras baquetas e entre a utilização de batedores de cabeça macia para golpear as várias partes da pele ou armação. Na região dos Andes boliviana também são utilizados bumbos de largo diâmetro e forma cilíndrica para acompanhar grupos de flautas. (STOBART, Henry. The New Grove Dictionary of Music and Musicians. Disponível em http://hemingways-studio.org/dictionary/grove_main.htm )

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Fig. 6.9

A seção A’ compreende os compassos 128 a 165, seu início reapresenta o

período a de forma literal, tanto melodicamente como harmonicamente. Logo depois,

surge uma linha melódica que utiliza elementos dos períodos a e a’, assim como o

ritmo e inflexões melódicas, mostrados na figura 6.10. O final do trecho sofre uma

alteração na armadura de clave que prepara a entrada da Coda na tonalidade de La

maior:

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Fig 6.10

A Coda (compassos 166 a 197) cita motivos dos três movimentos. A figura 6.11

mostra as citações referentes ao primeiro movimento:

Fig. 6.11

Logo após estas citações, os violões seguem desenvolvendo estas idéias

musicais, criando outras novas frases como respostas para a frase a e a” do primeiro

movimento. A figura 6.12 nos mostra isso:

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Fig. 6.12

O compositor também cria uma variação sobre as frases principais, como se

pode ver na figura 6.13:

Fig. 6.13

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Com relação a esse trecho, uma sugestão é que o rasgueado24 seja feito com o

dedo indicador e que se inverta os papéis de cada violão, a fim de anular o grande

salto exigido ao violão 2 pela relação do compasso anterior com o compasso de início

dessa frase, como mostra a figura 6.14:

Fig. 6.14

Seguindo com o assunto das citações referentes aos outros movimentos da

obra, a figura 6.15 apresenta as citações referentes ao segundo movimento da Sonata

Andina. Nesta parte da Coda, Jaime Zenamon dá uma sugestão de interpretação ao

trecho que compreende os compassos 190 a 193: Apesar da notação “rápido” que

sugere a partitura desde o começo do trecho, o compositor acha interessante que a

velocidade aumente gradualmente, começando lento e terminando rápido.

24 Termo utilizado para descrever a técnica de dedilhar as cordas do violão com um movimento descendente ou ascendente do polegar, ou outros dedos da mão direita. (STRIZICH, Robert; TYLER, James. The New Grove Dictionary of Music and Musicians. Disponível em http://hemingways-studio.org/dictionary/grove_main.htm )

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Fig. 6.15

A figura 6.16, apresenta a citação referente ao terceiro movimento da obra,

onde o compositor utiliza efeitos de percussão no instrumento, estes três compassos

funcionam como elemento surpresa, semelhante ao utilizado no final do primeiro

movimento.

Fig. 6.16

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7. CONCLUSÃO

Através deste trabalho conclui que a visão de interpretação, o contexto e

demais informações obtidas com o compositor de uma obra, são muito relevantes para

o processo da construção de uma interpretação concisa e coerente. Porém, a meu ver

não seria o objetivo deste trabalho, traçar um modelo absoluto que deva ser seguido

por todos os intérpretes, pois acredito que o intérprete deve ter liberdade para colocar

em prática suas próprias idéias, já que as diferentes interpretações de uma mesma

obra são o que dá riqueza e sentido ao trabalho do artista, tanto o artista criador,

quanto o que irá reproduzir a obra. Mas, mesmo que a individualidade e personalidade

sejam importantes na interpretação, o papel deste trabalho, que além de um material

de auxílio interpretativo, se trata de um registro histórico, será o de promover uma

interação entre o intérprete e o compositor, quase como uma conversa, na qual as

duas partes discutem idéias e as conciliam na forma de uma interpretação que tenha

presente tanto a individualidade do intérprete, quanto os fundamentos oferecidos pelo

compositor.

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8. BIBLIOGRAFIA

Entrevistas:

Entrevistas realizadas com o compositor Jaime M. Zenamon, pela autora, nos dias

29/09/2009, 01/10/2009 e 05/10/2009.

Livros e trabalhos acadêmicos:

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<http://hemingways-studio.org/dictionary/grove_main.htm>

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Dissertação. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2002.

SLATTA, Richard W. Los gauchos y el ocaso de la frontera. Buenos Aires, Argentina:

Editorial Sudamericana, 1985.

WILCZEK, Leonardo Allen. Jaime Mirtenbaum Zenamon. Trabalho acadêmico.

(Graduação) Curitiba: EMBAP, 2002.

ZENAMON, Jaime M. Sonata Andina. Berlin: Edition Margaux, 1988.

Gravações:

RANDOLPH, Laurie; ZENAMON, Jaime. Gitarrenmusik des 20 Jahrhunderts. Encarte

de LP. Berlin, 1988.

ZANON, Fábio. Estrangeiros III: Jaime Zenamon e Conrado Paulino. Programa n.123

da série “O Violão Brasileiro” transmitido no dia 06/08/08 pela Rádio Cultura FM de

São Paulo. Disponível em <http://vcfz.blogspot.com/2009/05/depois-de-tanto-tempo-

sem-atualizacoes.html> Acesso em 10/07/09.

Page 48: SONATA ANDINA DE JAIME M. ZENAMON: ANÁLISE · PDF fileescola de mÚsica e belas artes do paranÁ sonata andina de jaime m. zenamon: anÁlise tÉcnico-interpretativa resgatando a visÃo

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Sites:

http://www.oni.escuelas.edu.ar/olimpi97/Musica-Folkorica/dan_esp/zamba.htm

http://www.camdipsalta.gov.ar/INFSALTA/chacarera.htm

http://www.visitingargentina.com/blog/wp-

content/uploads/andes,_patagonia,_argentina.jpg

9. ANEXOS:

Os anexos deste trabalho compreendem:

• Três CDs que contêm gravações em áudio referentes às três entrevistas

realizadas com o compositor Jaime Zenamon, pela autora do trabalho e

por Aluísio C. Barros;

• Um DVD contendo a gravação em áudio e vídeo da obra Sonata

Andina, interpretada pelos violonistas Aluísio Coelho Barros e Luciana

E. Lozada Tenório antes do desenvolvimento da pesquisa;

• Um CD contendo a gravação em áudio da obra Sonata Andina realizada

após a finalização do trabalho de pesquisa, utilizando-o na interpretação

dos mesmos violonistas que realizaram a versão anterior ao trabalho.