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Sônia Maria Molan Gaban Contribuições da pedagogia para a prevenção ao HIV/AIDS: Uma revisão bibliográfica Monografia apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Especialista em Prevenção ao HIV/AIDS no quadro da Vulnerabilidade e Direitos Humanos Orientadora: Prof.ª Dra. Elizabete Franco Cruz São Paulo 2011

Sônia Maria Molan Gaban

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Sônia Maria Molan Gaban

Contribuições da pedagogia para a prevenção ao HIV/AIDS:

Uma revisão bibliográfica

Monografia apresentada à Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo para a obtenção do título de

Especialista em Prevenção ao HIV/AIDS no quadro da

Vulnerabilidade e Direitos Humanos

Orientadora: Prof.ª Dra. Elizabete Franco Cruz

São Paulo

2011

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DEDICATÓRIA

Ao meu querido esposo

Roberto, com quem pude

construir novos sentidos para

minha vida e formar nossa

família.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus por todas as oportunidades de viver a vida.

Em especial agradeço ao meu esposo Roberto e a minha filha Ana Paula pelo

apoio incondicional que me deram durante o curso. Ela sempre com muita alegria

arrumando minha mala, estimulando a viagem, vendo a vida colorida e bela. Ele

compreendendo minhas ausências e principalmente ajudando na realização desta

monografia, acompanhando-me até as madrugadas formatando o trabalho.

À minha monitora Bruna por sua atenção e disponibilidade, com quem

sempre pude contar e em especial no momento da perda do meu querido pai.

À minha orientadora, Professora Dra. Elizabete Franco Cruz, que acreditou na

minha proposta e me ensinou que com respeito, dedicação e afeto também se

constrói conhecimento. Obrigada pela generosidade com que acolheu minhas

dificuldades e ansiedades, compartilhando comigo seu saber.

A todos os professores, em especial Ausonia, Paulo Monteiro e Vera Paiva

pelo amor que demonstraram no trabalho com a AIDS.

Aos amigos queridos: Renata, Zulmira, Marco, Marcus, que sempre me

acolheram com muito carinho, dividindo comigo o fardo de carregar a “bendita”

mala, além das trocas de experiências e momentos agradáveis compartilhados,

principalmente no “Pecado da Costela”.

Finalmente, a todos que direta e indiretamente contribuíram para meu

aprendizado.

“Não julgueis segundo a aparência, mas

sim pela reta justiça” – Jesus Cristo,

segundo evangelho de São João 7:24.

Page 4: Sônia Maria Molan Gaban

SUMÁRIO

1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1.1. Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2. Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

3. Educação e prevenção ao HIV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

3.1. Teorias educacionais Acríticas, Críticas e Pós Críticas . . . . . . . . 13

3.2. Educação em saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3.3. Vulnerabilidade e direitos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

4. Procedimentos metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

5. Análise e discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

6. Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

7. Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

ANEXO Quadro 2 - Organização dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

Lista de Abreviaturas e Siglas

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

DST Doenças Sexualmente Transmissíveis

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

HND História Natural da Doença

MS Ministério da Saúde

NP Nova Prevenção

NPS Nova Promoção da Saúde

NEPAIDS Núcleo de Estudos de Prevenção da Aids Instituto de Psicologia,

Universidade de São Paulo, SP, Brasil

ONGS Organizações não Governamentais

SUS Sistema Único de Saúde

Lista de Quadros

Quadro 1 Artigos Analisados

Quadro 2 Organização dos dados

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RESUMO

Trata-se de uma revisão bibliográfica com o objetivo de compreender quais

referenciais pedagógicos são utilizados no âmbito da prevenção ao HIV/AIDS (em

práticas educativas e pesquisas relatadas nos textos analisados) e qual o diálogo que

estes referenciais estabelecem com o quadro da vulnerabilidade e dos direitos

humanos. Após a leitura e análise de 13 artigos publicados no Scientific Eletronic

Library Online, que atendem as questões norteadoras do estudo, adotando

procedimentos da análise de conteúdo, foram construídas as seguintes categorias de

análise: Descrição (formato e procedimento), Concepções de Educação (referencial

teórico citado e relação educador - educando), Vulnerabilidade e Direitos Humanos.

Avaliamos que os artigos analisados estabelecem diálogo com as perspectivas

críticas e pós criticas e que tais perspectivas educacionais, que tem como

pressuposto a criação de condições para modificação de contextos, se mostraram

pertinentes para o diálogo com o quadro conceitual da vulnerabilidade e dos direitos

humanos. Percebe-se a importância de propostas educacionais baseadas na

problematização, na reflexão, na crítica, no envolvimento e valorização dos

diferentes sujeitos que compõe o processo educativo, além da importância de novas

ações de prevenção ao HIV/AIDS que dialoguem com o quadro da vulnerabilidade e

direitos humanos.

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1. INTRODUÇÃO

O entendimento da relevância deste estudo permeia minha história

profissional, por isso, é imprescindível que ela seja descrita, mesmo que

brevemente. Há 18 anos atuo como educadora na área da saúde, desde então,

desenvolvo atividades voltadas para a educação em saúde, principalmente

propostas de prevenção às DST/HIV/AIDS. Em 2000 fui convidada, como

pedagoga, a integrar a equipe multidisciplinar do Programa de Atendimento

Integral à Saúde do Adolescente do Município de Araraquara, SP.

A equipe de profissionais era formada por médicos (ginecologista, psiquiatra),

psicólogos, assistente social e enfermeira. Minha intervenção como educadora na

área da saúde trouxe-me inquietação quanto aos referenciais teóricos que iriam

subsidiar nossos projetos de prevenção ao HIV/AIDS. Com qual concepção de

Saúde, Educação, Prevenção iríamos trabalhar? A partir da leitura que fizemos de

vários textos e documentos nacionais e internacionais fomos delimitando e

desnudando os conceitos acima mencionados.

Em 2000 desenvolvemos um Projeto de “Saúde, Prevenção e Sexualidade nas

Escolas”, fundamentados em documentos oriundos da Conferência Internacional

sobre Atenção Primária de Saúde – Declaração de Alma Ata (Buss, 2000), na

Pedagogia da Problematização (Berbel, 1998) e na Pedagogia Libertadora do

educador Paulo Freire (1983).

Freire (1983) preconizava que a tarefa do educador deve ser a de

problematizar para os educandos o conteúdo que os mediatiza e não entregá-lo

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como algo pronto. Educador e educando devem fazer parte do processo ensino

aprendizagem, pois os saberes se complementam de forma que, para Freire,

ninguém ensina nada a ninguém.

As leituras que foram feitas para subsidiar o projeto que desenvolvemos no

município de Araraquara, SP, foram de extrema importância, pois, se

configuraram como instrumental teórico e recurso fundamental para a intervenção,

oportunizando as construções conforme a definição de conceitos proposta:

Conceitos são recursos para responder a necessidades

sociais que demandam conhecimento e transformação da

realidade, que serão construídas segundo os recursos

materiais disponíveis, o estado da arte das ciências e

tecnologias, as condições político - ideológicas vigentes e

os valores éticos e morais característicos de cada época e

local (Ayres, Paiva, França Jr., 2010)

O trabalho em Araraquara foi e é importante. A partir de minha formação

acadêmica, trajetória profissional, reflexões e leituras realizadas no decorrer do

Curso de Especialização em Prevenção ao HIV/AIDS no Quadro da Vulnerabilidade

e Direitos Humanos (NEPAIDS, SP/2010), ampliei minha percepção de que a

pedagogia crítica dialoga com o quadro referencial da vulnerabilidade e dos direitos

humanos. Esta proposição se confirma com a reflexão apresentada por Seffner

(2010) que discute as aproximações entre o campo da teoria educacional e o

conjunto de referenciais teóricos e metodológicos que caracterizam as estratégias de

prevenção à AIDS na experiência brasileira. Este autor traz contribuições para

reflexão sobre o pensamento de Freire, Althusser, Silva e Foucault.

Freire é um autor muito citado na área de educação em saúde e para as

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ações de prevenção à AIDS no Brasil, promovidas pelas instituições públicas e pelas

ONGS/AIDS. Vem daí meu interesse em pesquisar as contribuições da pedagogia

crítica para as ações de prevenção ao HIV/AIDS e refletir sobre pontos em que essa

teoria abre novos horizontes para trabalhar no quadro da vulnerabilidade e direitos

humanos.

Em 2010, diferentes autores como Paiva, Ayres et al., Seffner, Meyer e Félix,

Monteiro e Donato, referenciados no Curso de Especialização vieram corroborar

meu pensamento e minha prática na área da saúde como educadora, de que as

teorias educacionais críticas favorecem os processos educativos, possibilitando a

transformação dos indivíduos e dos contextos sociais.

Desde o início da AIDS várias tecnologias de prevenção foram utilizadas para

o enfrentamento da epidemia e, além das biomédicas, fez-se necessário lançar mão

das práticas educativas. Historicamente, pesquisadores, militantes, técnicos

acreditavam que era possível ensinar às pessoas o que é o HIV/AIDS, bem como as

formas de se proteger da infecção (Ayres, 2002). A própria evolução da epidemia de

AIDS mostrou que propostas de prevenção focadas apenas na informação

(pedagogia tradicional) não foram suficientes para vencer o grande desafio de

quebrar a cadeia de transmissão do vírus HIV e reduzir a infecção.

No início da epidemia da AIDS os esforços para o enfrentamento foram

direcionados aos grupos de risco, entendendo que somente os gays, travestis,

transexuais, profissionais do sexo, hemofílicos e usuários de heroína eram afetados

pelo HIV e adoeciam. Porém, a própria evolução da epidemia mostrou que essa

estratégia não estava adequada, derrubando essa classificação estigmatizante de

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grupo de risco e adotando comportamento de risco, que culpabilizava os indivíduos

infectados por, supostamente, não se protegerem e adotarem comportamentos de

risco. Estas duas abordagens acima citadas apresentaram importantes limitações

relativas ao instrumental científico tecnológico normalmente utilizado para orientar

e avaliar ações preventivas em HIV/AIDS. Caminhamos até chegar ao conceito

de vulnerabilidade, que incorpora as diferentes situações de suscetibilidade dos

sujeitos, tanto do ponto de vista individual como na coletividade, frente à epidemia

da AIDS (Ayres et al., 2003). Apesar dos avanços conquistados do ponto de vista

de tratamento e da assistência, que colocaram o Brasil como referência, era

necessário avançar em relação às ações de prevenção ao HIV/AIDS.

Com o impulso às propostas da Nova Promoção de Saúde (NPS), decorrentes

das Conferências Internacionais de Saúde, foram sendo consolidados conceitos e

estratégias orientados para a melhoria das condições de saúde das populações de

todo o mundo. O s sete princípios resultantes dessas Conferências Internacionais

de Saúde (Concepção Integral de Saúde; Intersetorialidade; Empowerment;

Participação Social; Equidade; Ações-multi-estratégicas; Sustentabilidade),

passaram a ser norteadores das políticas a serem desenvolvidas pelos países

signatários (Ayres, Paiva, França Jr., 2010).

Diante dos princípios acima elencados e do impacto das estratégias de

prevenção ao HIV/AIDS alcançados em três décadas da epidemia de AIDS, a

prevenção continua sendo um grande desafio. Frequentemente nos defrontamos

com as perguntas: como vamos enfrentar esse desafio? Como operar nossa prática

em saúde para a efetiva aplicação destes princípios?

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Conforme afirmam Monteiro e Donato (2010), as ações de prevenção de

agravos e promoção de saúde e as práticas educativas apresentam uma estreita

relação no campo da saúde. O objetivo das ações educativas em saúde sempre foi a

prevenção de doenças e, apenas recentemente passou a ser a promoção da saúde dos

indivíduos e das comunidades.

Geralmente os estudos e experiências relatados neste campo mostram que as

atividades de prevenção são planejadas e desenvolvidas a partir de modelos e

estratégias escolhidas sem muita reflexão, apontando que a falta do referencial de

fundamentação em um referencial educacional ou a escolha de dado referencial vai

interferir no processo ensino aprendizagem, não alcançando necessariamente os

objetivos estabelecidos. As práticas educativas em saúde devem se pautar em eixos

norteadores, oriundos da concepção de educação adotada e sua relação com a

sociedade.

Monteiro e Donato (2010) através do texto Contribuições Teórico-práticas do

Campo da Educação para as Ações de Prevenção em DST/AIDS discutem a

pertinência de uma abordagem crítica da educação para as ações de prevenção das

DST/AIDS, pautando-se nos referenciais da vulnerabilidade e dos direitos humanos.

Estes autores pontuam que esses referenciais da vulnerabilidade e dos direitos humanos

permitem a escolha de uma pedagogia que tem como pressuposto o papel da educação

como uma das possibilidades de mudança dos contextos sociais e emancipação dos

sujeitos e da coletividade. Sob essa perspectiva, desenvolveu-se este estudo com o

objetivo de compreender quais referenciais pedagógicos tem sido utilizado no

âmbito da prevenção ao HIV/AIDS (práticas e pesquisas). Além de investigar se

estes referenciais dialogam com o quadro da vulnerabilidade e dos direitos humanos.

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JUSTIFICATIVA

A relevância deste estudo está na possibilidade de pensarmos a interface entre

as diferentes teorias pedagógicas e o quadro da vulnerabilidade e dos direitos

humanos, com vistas a criar debates e reflexões que subsidiem ações de

prevenção efetivamente transformadoras.

Os autores que trabalham com as pedagogias críticas trazem à relevância de

pensarmos nos direitos humanos e o quanto a sociedade produz situações que

aumentam a vulnerabilidade das pessoas, aproximando-as da infecção pelo HIV.

Revisitar essas teorias possibilitam-nos ressignificar nossas práticas de

educação em saúde e desenhar novas estratégias de prevenção ao HIV/AIDS.

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2. OBJETIVO

Compreender quais referenciais pedagógicos são utilizados no âmbito da

prevenção ao HIV/AIDS (em práticas educativas e pesquisas) expressos nos textos

analisados e qual o diálogo estabelecido com o referencial da vulnerabilidade e dos

direitos humanos.

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3. EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO DO HIV/AIDS

3.1 Teorias Educacionais Acríticas, Críticas e Pós-Críticas

As teorias educacionais, ou concepções de educação, podem ser divididas em

três grupos, de acordo com Monteiro e Donato (2010):

a) Teorias Não-Críticas, Acríticas ou Ingênuas, para as quais a educação

é um instrumento de equalização social, ou seja, processo de inserção dos

indivíduos, os quais devem se adequar a sociedade (esta concebida como

inquestionável). Compreende-se que somente por meio da educação as

desigualdades sociais podem ser diminuídas. A educação serve a todos os

indivíduos, tem autonomia e não sofre influência da sociedade.

Nessa perspectiva ingênua não se considera os fatores socioeconômicos e as

relações de poder presentes na sociedade, os quais são importantes geradores das

desigualdades.

Três são as escolas ou pedagogias que contemplam as teorias não

críticas: a Pedagogia Tradicional, a Pedagogia Nova ou Escolanovista e a

Pedagogia Tecnicista.

A distinção fundamental entre estas três pedagogias é quanto ao

entendimento do que é ser marginal na sociedade e o papel da escola no

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processo de inclusão social desse marginal.

Na Pedagogia Tradicional as ações estão voltadas ao conhecimento do

professor. Nessa prática pedagógica, o aluno recebe de forma passiva os

conhecimentos transmitidos pelo professor. Ele é o condutor do processo

educativo. Não há demanda para qualquer tipo de problematização, cabendo

aos educandos apropriar-se dos conteúdos transmitidos. O Aluno é considerado

como um depósito de informações. Freire (1975) denomina essa prática

pedagógica de concepção bancária da educação.

Essa perspectiva pedagógica tradicional na área da saúde é expressa

através da utilização da técnica de palestra, tendo como objetivo principal a

transmissão de determinado conhecimento à população.

Para as ações de prevenção às DST/AIDS essa concepção mostra-se

limitada, pois; apenas a aquisição de conhecimentos, que é o objetivo final

dessa pedagogia, não é suficiente para o enfrentamento de situações de

vulnerabilidade, ou mudanças de atitudes (Monteiro e Donato, 2010).

Na Escola Nova o objetivo central é o da integração, inclusão social do

marginal. O eixo principal passa a ser os interesses e as necessidades dos

alunos. Há uma mudança de foco e o centro do processo ensino-aprendizagem

passa do professor para o aluno. O professor assume o papel de facilitador da

aprendizagem. As dinâmicas de grupo, os trabalhos em grupos e a dramatização

são técnicas didático-pedagógicas características da Escola Nova. Nesta

perspectiva pedagógica é fundamental compreender os interesses individuais

dos alunos para que a aprendizagem se realize, tornando-se necessário o

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entendimento dos mecanismos psicológicos no processo de ensino-

aprendizagem.

A abordagem da Escolanovista também apresenta limitações; pois diante

das inúmeras criticas em relação à transmissão de conhecimento, abrem-se

espaços para os interesses dos alunos, há uma desvalorização dos conteúdos e

do papel do professor, não permitindo assim o acesso aos instrumentos e

conteúdos historicamente constituídos e fundamentais para a formação dos

alunos, em especial para aqueles que a escola é o único canal para acessar estes

saberes (Monteiro e Donato, 2010).

Na Pedagogia Tecnicista o objetivo do processo ensino-aprendizagem é o

aprendizado de técnicas. Nessa escola pedagógica o marginal não é mais aquele

que não sabe (Pedagogia Tradicional), nem o rejeitado (Escola Nova) e sim

aquele que é incompetente, aquele que não sabe fazer. Para ser considerado

integrado, o aluno tem que adquirir um conjunto de técnicas e procedimentos

que o capacitam a exercer uma função produtiva na sociedade, podendo assim

ser inserido no mercado de trabalho.

O papel do professor passa a ser o de arranjador das situações de ensino,

as quais foram concebidas e planejadas por especialistas sem sua participação.

O centro do processo ensino aprendizagem é a técnica de ensino. A posição

ocupada pelo professor e pelo aluno é secundária, passam a ser executores de

um processo concebido, planejado e coordenado por outros profissionais

supostamente habilitados (Saviani, 2008).

Na área da saúde, essa abordagem tecnicista se faz presente nas instruções

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Page 16: Sônia Maria Molan Gaban

feitas de forma imperativa, com informações fragmentadas, baseadas na

aquisição de procedimentos. Não se leva em conta as especificidades de cada

turma, contexto em questão e a não participação do professor na definição das

estratégias para desenvolver a prática pedagógica. Essa pedagogia tecnicista

também se mostra limitada pelo não envolvimento do aluno e do professor,

pela não consideração das especificidades do grupo, do contexto, ficando dessa

forma a técnica pela técnica. Um exemplo dessa abordagem tecnicista: folhetos

ensinando como colocar o preservativo de forma correta.

b) Teorias Críticas-Reprodutivistas, segundo os autores defensores desta

abordagem pedagógica há uma estreita relação entre a educação e a sociedade, e a

presença de condicionantes /determinantes sociais influenciam de forma decisiva a

educação.

Os autores crítico-reprodutivistas (Bourdieu e Passeron; Althusser; Baudelot

e Establet) propõem o fim da escola como instituição social. Tecem críticas à

educação em geral e em especial a instituição escolar, entendendo que a escola

através de objetivos e de um currículo definido pela classe dominante, reproduz e

reforça a estrutura de classes existente na sociedade, mantendo as desigualdades

sociais. Nessa perspectiva o marginal não é mais o individuo e sim a classe social

subordinada (marginalizada) a classe dominante.

Segundo os teóricos crítico-reprodutivistas só será possível a emancipação da

classe proletária (dominada) com a extinção das escolas como instituições sociais,

alterando o modo de produção existente.

c) Teorias Críticas e Pós-Críticas entendidas como um conjunto de teorias

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Page 17: Sônia Maria Molan Gaban

que compreendem a educação como um instrumento de transformação social e

emancipação.

Contrariando a concepção tradicional da educação surgem as Teorias Críticas,

concebidas como teorias de desconfiança, questionamento e transformação radical.

Para essas teorias a escola é um espaço privilegiado de questionamento da própria

sociedade. As teorias críticas não se limitam às questões organizacionais, ou

relacionadas à operacionalização, mas estão preocupadas com questões como “o

que” e “para que ensinar”. Essas teorias trazem questionamentos quanto ao aluno

que se quer formar e a escolha dos conteúdos (Silva, 2011).

As teorias críticas e as teorias pós-criticas compreendem a educação como

possibilitadora de mudanças na sociedade. Essas duas vertentes se diferem

basicamente pela matriz filosófica de que partem. A primeira tem como base uma

matriz marxista, onde a questão de poder e de desigualdade, está principalmente

relacionada aos aspectos econômicos próprios da estrutura de classes da

sociedade capitalista. A segunda vertente se baseia em uma perspectiva pós-

moderna e/ou pós-estruturalista e entende que a determinação econômica por si só

não é suficiente para explicar as relações de poder existentes na sociedade. Destaca

a presença das questões de gênero, étnicas, culturais, identidades, subjetivas,

sexuais, religiosas, as quais determinam essas relações e não estão necessariamente

ligadas aos modos de produção (Monteiro e Donato, 2010).

Essas duas correntes pedagógicas partem do pressuposto de que a sociedade é

contraditória, dinâmica e mutável. Na visão dos teóricos que defendem as teorias

criticas e pós-criticas, a educação pode ser um instrumento de reprodução da

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Page 18: Sônia Maria Molan Gaban

sociedade e das desigualdades, e ou se tornar um fórum privilegiado de

problematização da própria sociedade e das relações de poder presentes nesta

sociedade. Portanto, a perspectiva educacional pode ser um instrumento de

resistência e fomento de mudanças, garantindo seu caráter dialético (Gadotti, 1983)

O foco das teorias críticas está no processo ensino-aprendizagem, nele, tanto o

professor quanto os alunos são vistos como sujeitos ativos e corresponsáveis. A

compreensão e problematização da realidade dos contextos de pertencimento dos

sujeitos ocorrem através dos conteúdos, que assumem papel fundamental no

processo de ensino aprendizagem; favorecendo assim o posicionamento crítico

dos alunos e professores diante da realidade.

Para Giroux e Simon o principal objetivo das pedagogias críticas é criar

condições para que os alunos

compreendam por que as coisas são como são e como

vieram a se tornar assim; tornar o familiar estranho e o

estranho familiar (...) assim como visualizar um mundo

que, ainda não está em ordem, para ampliar as

possibilidades de melhoria das condições de vida. (Giroux

e Simon, 2002, p.99 apud Monteiro, Donato, 2010).

Monteiro e Donato (2010), afirmam que as concepções de educação: Não

Criticas; Críticas-Reprodutivistas e as Criticas e Pós Criticas, apesar do caráter

histórico, não existem em seu estado puro e, ainda hoje se encontram traços destas

escolas nas práticas educativas. Esses autores caracterizam os pontos - chave,

possibilidades e limites de cada uma dessas teorias, apontando para as principais

diferenças existentes entre elas e como as práticas educativas no campo da saúde e

da prevenção podem ser influenciadas por essas concepções teóricas da educação.

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3.2 Educação em Saúde

A educação e a saúde são duas áreas de produção de conhecimento que buscam

o desenvolvimento dos seres humanos. Há uma interseção entre o campo da

educação e o da saúde. Considerando a trajetória histórica da construção da saúde,

percebemos que o ato de educar sempre esteve presente nas ações de saúde

influenciando o processo de cuidado dos indivíduos e da coletividade.

Na segunda metade do século XX observamos uma mudança na concepção do

cuidado e do sentido da Educação em Saúde. A prática de educar que antes era

focada na adoção de bons hábitos e disciplinamento da classe trabalhadora passou a

ser orientada por uma perspectiva pedagógica, crítica e progressista, fundada na

educação popular1 e nas ideias libertadoras do educador Paulo Freire (1983).

Na Educação Popular e na perspectiva freireana há uma dinâmica para

estimular a reflexão e a autonomia, incentivando a participação ativa dos indivíduos

na construção do processo saúde-cuidado, entendendo este cuidado como sinônimo

de qualidade de vida.

1A Educação Popular é uma estratégia de construção da participação popular no redirecionamento da

vida social. É um instrumento de construção da ação de saúde mais integral e mais adequada à

população (Vasconcelos, 2004).

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A Constituição Federal de 1988, ao consagrar a saúde como direito de todo

cidadão e dever do Estado, de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema

Único de Saúde/SUS, constantes nas leis 8.080 e 8.142 (Leis Orgânicas da

Saúde/LOS), contribuiu no processo de mudança da concepção do cuidado e no

sentido da Educação em Saúde (Brasil, 1998, 1990).

O enfoque mais crítico-pedagógico da Educação em Saúde foi fortalecido com

os princípios do SUS (universalidade, equidade, preservação da autonomia,

integralidade, direito à informação), incentivando um fazer profissional diferente,

rompendo assim com o modelo tradicional (Brasil, 1990).

No Brasil temos vários programas que envolvem a Educação em Saúde e o

Programa Nacional de DST/AIDS é um deles.

No cuidado em HIV/AIDS, o Brasil passou a lançar mão de práticas de saúde

que adotaram tanto à postura mecanicista/comportamental, quanto à postura da

promoção de saúde. Estas duas posturas ficaram evidentes na trajetória da política de

prevenção em HIV/AIDS.

Ao buscar desencadear um processo de cuidado voltado para a resolução

conjunta dos problemas de saúde, rompendo com o modelo médico mecanicista,

prescritivo, a Educação em Saúde desempenhou papel relevante na promoção da

saúde no Programa Nacional DST/AIDS.

O conceito de Educação em Saúde preconizado pelo Ministério da Saúde/MS

(Guedes e Stephan-Souza, 2009) se refere à capacitação dos grupos para resolução

das questões pertinentes ao processo saúde-doença e defesa do direito à saúde.

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A Educação em Saúde pode ser entendida como um espaço de trocar

informações, refletir e de desenvolver uma visão crítica dos problemas de saúde,

bem como da sociedade na qual os indivíduos estão inseridos. A educação em

saúde pode ser percebida como uma prática social, porque é atitude, atuação e

vivência. Tem como objetivo o envolvimento e a participação da comunidade nos

programas de saúde, na construção de políticas públicas, na compreensão de

conceitos de saúde (Vila, Vila C, 2007).

No contexto dos profissionais de saúde, praticar Educação em Saúde é

oferecer ao individuo/usuário condições para que ele próprio seja protagonista da

sua saúde/história de vida, lute por seus sonhos, reconheça seus direitos e deveres

e construa seu projeto de vida.

Com esta concepção de Educação em Saúde, a prevenção ao HIV/AIDS não é

mais focada em grupo de risco ou comportamento de risco (como no inicio da

epidemia), uma vez que as decisões sobre o comportamento sexual não podem ser

isoladas das influências sociais, culturais e econômicas que direcionam a vida

dos indivíduos. Através da perspectiva pedagógica crítica, orientada pela Educação

Popular2, pela pedagogia da problematização

3, a prevenção está além da aquisição

de informações e pressupõe o fortalecimento da autonomia e a vivência da saúde

enquanto um direito de cada cidadão.

2 O trabalho de sistematização teórica da Educação popular foi realizado por Paulo Freire. O Brasil foi

pioneiro na constituição do método da Educação Popular (Vasconcelos, 2004).

3 Pedagogia da Problematização ou pedagogia problematizadora considera a importância de

desenvolver nos alunos a capacidade de detectar problemas reais e de atuar como agentes de

transformação social, sendo protagonistas na busca de soluções originais e criativas para os problemas

(Berbel, 1998).

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Page 22: Sônia Maria Molan Gaban

Freire (1975) ao propor a educação de adultos como prática de liberdade em

oposição a uma educação como prática de dominação, defende que a educação não

pode ser uma prática de depósito de informações. A educação problematizadora

fundamenta-se na relação dialógica entre educador e educando, possibilitando a

ambos aprenderem juntos, por meio de um processo emancipatório.

As práticas educativas norteadas pela pedagogia problematizadora4,

mostram-se as mais adequadas à educação em saúde; pois além de valorizar as

hipóteses trazidas pelo educando, instrumentaliza-o para a transformação de sua

realidade e de si mesmo, favorece o acesso do usuário às informações, garantindo

efetivação de seus direitos. Cria possibilidades de participação ativa dos usuários

nas ações de saúde (Vila, VC, 2007).

Ayres (2002) aponta uma importante crise vivenciada pelas práticas de saúde

atuais. Essas práticas vêm encontrando sérias limitações para responder

efetivamente às complexas demandas de saúde de indivíduos e populações. Para

enfrentar com criatividade a crise e construir propostas de organização e práticas

de atenção à saúde em nosso país, tem se recorrido às estratégias de humanização e

integralidade no cuidado. O autor elenca os traços principais que considera

importantes na compreensão das interações entre profissionais de saúde e usuários e

também os pontos-chave para a reconstrução ética, política e técnica do cuidado em

saúde. São eles: projeto de vida, construção de identidade, confiança e

responsabilidade.

4 A Pedagogia da Problematização ou Problematizadora foi proposta inicialmente por Bordenave e

Pereira, é considerada estratégia inovadora na área de educacional, quer como método de ensino ou

estudo, fundamentada no pensamento de Paulo Freire (Vasconcelos, 2004).

22

22

Page 23: Sônia Maria Molan Gaban

3.3 Vulnerabilidade e Direitos Humanos

A vulnerabilidade pode ser compreendida como a resultante de um conjunto

de fatores e aspectos dinâmicos, os quais podem ser de ordem individual, social,

relacional, contextual. É importante compreender que estamos nos referindo ao

conjunto de aspectos individuais e coletivos relacionados à maior suscetibilidade de

indivíduos e comunidades a um adoecimento ou agravo e diretamente

relacionado à menor disponibilidade de recursos para a sua proteção. O conceito

de vulnerabilidade n ão é novo, porém emergiu recentemente como conceito na

área da saúde pública, na busca da construção de respostas á epidemia de

HIV/AIDS. As abordagens de grupo de risco e comportamento de risco, utilizadas

para o enfrentamento da epidemia na década de 80 apresentaram limitações, porém

mesmo assim, trouxeram contribuições importantes para os avanços (Ayres, Paiva,

França Jr., 2 0 1 0 ) .

A utilização da referência conceitual de comportamento de risco nas

abordagens de prevenção trouxe como vantagem a possibilidade de universalizar as

estratégias e estimular o envolvimento de todas as pessoas com a prevenção, e

aumento de iniciativas para aliviar o estigma plantado com a abordagem de grupo

de risco (grupos de maior incidência). Por outro lado apresentou aspectos negativos;

podendo ser observada a tendência a responsabilizar exclusivamente os indivíduos

pela mudança de comportamento. Surgem assim, atitudes de culpabilização,

atribuindo ao indivíduo que se infectou a responsabilidade pela ocorrência, por não

23

Page 24: Sônia Maria Molan Gaban

ter aderido a um comportamento seguro. Diante dessa realidade, grupos e

movimentos organizados (movimento pelo direito das mulheres e de homossexuais),

que se manifestaram contra a abordagem de grupos de risco, novamente se

mobilizam e criticam os modelos comportamentais e individualizantes. Esses grupos

apontaram que parte significativa das medidas preventivas propostas, como o uso do

preservativo, era de natureza complexa e estavam relacionadas a condições de

caráter interpessoal e social. Trouxeram questões significativas relacionadas à classe

social e acesso ao preservativo; questões de gênero (uso de preservativo numa

sociedade machista) dentre outras. Diante destes questionamentos,

pesquisadores, cientistas, profissionais e ativistas de diferentes países, desencadeiam

buscas para compreender as bases sociais e implicações éticas e políticas que podem

estar permeando os comportamentos de risco, iniciando a partir daí as discussões

sobre vulnerabilidade.

Ayres, Paiva, França Junior citam Leavell e Clark (2010) que a partir do

conceito de História Natural da Doença (HND) requerem a superação dos limites

disciplinares entre a clínica médica e saúde pública e entre medidas curativas e

preventivas.

Demonstram que a prevenção deve estar presente em todos os

momentos em que seja possível algum tipo de intervenção que evite

adoecimento ou suas consequências, compondo diferentes níveis de

prevenção (NP), desde transformações de condições ambientais e

sociais que predisponham ao surgimento de agravos até a redução dos

seus piores efeitos sobre aqueles que já adoeceram (Ayres, Paiva,

França Jr., 2010).

Nos anos 70, a promoção da saúde passou a expressar um poderoso

24

24

Page 25: Sônia Maria Molan Gaban

movimento de ideias e ações visando a renovação das práticas de saúde,

introduzindo mudanças significativas, apesar de guardar relação com o nível

primário de prevenção do modelo HND/NP. Nesse processo de mudança, a

reconstrução do conceito de promoção de saúde foi o exemplo mais expressivo,

porque expandiu o alcance das ações associadas ao nível primário de prevenção e

buscou também a modificação de seus fundamentos e métodos. Surge a “nova

Promoção da Saúde” (NPS) e esta tem como marco fundador o Relatório Lalonde,

de 1974, assinado pelo Ministro da Saúde do Canadá. O Relatório Lalonde

questionava o modelo de atenção à saúde do Canadá, o qual era avaliado como

dispendioso e pouco eficaz na melhoria das condições de saúde da população. As

ações de saúde estavam muito centradas na prática hospitalar e nos determinantes

biológicos do adoecimento. E o relatório recomendava que maior atenção deveria

ser dada ao meio ambiente e aos estilos de vida (Ayres, Paiva, França Jr., 2010).

De acordo com Ayres, Paiva e França Jr. (2010)

“O conceito de vulnerabilidade alinha-se em diversos aspectos com a NPS, na

medida em que ambos buscam compreender e transformar desde a perspectiva

sócio-política os processos e determinantes descritos nos modelos de HNP/NP”.

Quadro da Vulnerabilidade nos mostra que não há uma História Natural da Doença,

senão uma História Social; pois são sociais os conteúdos dessa História e também

a forma de contá-la tem um caráter social e histórico. O quadro da

vulnerabilidade é uma abordagem baseada em direitos humanos.

No Brasil, as respostas à epidemia da AIDS são construídas no âmbito do

Sistema Único de Saúde (SUS). O quadro dos direitos humanos é um ponto de

25

Page 26: Sônia Maria Molan Gaban

referência para a análise da epidemia, pois a partir desse referencial podemos

identificar situações potenciais de vulnerabilidade. O crescimento da epidemia da

AIDS possibilitou a presença e visibilidade de marcadores sociais de violação de

direitos e indicadores para o planejamento de ações. Assim, foi possível ser

identificadas populações e grupos que sofrem discriminação e restrições aos seus

direitos.

Os sujeitos (individuais e/ou coletivos) podem estar diante de diferentes

situações de vulnerabilidade e estas podem ser particularizadas pelo reconhecimento

de três componentes interligados, o individual, o social e o programático ou

institucional. Esses três componentes se articulam entre si, são indissociáveis.

Dentro dessa abordagem, considera-se que as pessoas não são vulneráveis, mas

podem estar vulneráveis a alguns agravos e não a outros, dependendo das

condições e diferentes momentos na sua trajetória de vida.

Para a identificação e superação da vulnerabilidade ao HIV/AIDS nas suas

três dimensões (individual, social e programática), passou-se a considerar cada

pessoa como sujeito de direitos. O quadro conceitual da vulnerabilidade trouxe

muitos benefícios para as práticas de educação em saúde, na medida em que traça

um novo horizonte para situar e articular riscos, trazendo a saúde, assim como a

possibilidade de adoecer, para o campo da vida real, para o cotidiano dos sujeitos

em relação. Dessa forma os processos de intervenção são singulares.

Apenas as perspectivas educacionais que tenham como pressuposto a criação

de condições para modificação de contextos se mostram pertinentes para aplicação

do quadro conceitual da vulnerabilidade (individual social e programática ou

26

Page 27: Sônia Maria Molan Gaban

institucional). Essas perspectivas são as Teorias Críticas e Pós-Críticas (Monteiro e

Donato, 2010).

Para que as ações educativas possam contribuir na redução da vulnerabilidade

ao HIV/AIDS precisam apresentar as características baseadas na problematização

da realidade, entendida como algo passível de mudança e propiciando condições

para os sujeitos se posicionarem criticamente frente a ela; compreendendo o

aprendiz como individuo e sujeito de sua aprendizagem, criando condições para a

aprendizagem (de qualquer natureza) ser significativa; assumindo como objeto as

diversas naturezas dos saberes, propondo-se a desenvolver aprendizagens de

diversas dimensões; com propósitos claros com ações educativas sempre planejadas

(Monteiro, Donato, 2010).

Segundo Paiva (2002), não há soluções mágicas, nem receitas prontas para o

desafio de fazer prevenção ao HIV/AIDS. A autora discute a necessidade de

politizar os espaços psicoeducativos e coloca a necessidade de desenvolver a noção

de emancipação psicossocial como uma das referências para a aplicação do

conceito de vulnerabilidade no campo da prevenção de novas infecções pelo HIV

e do cuidado com os portadores do vírus HIV. Faz uma crítica às propostas de

prevenção existentes, afirmando que as mesmas são construídas apenas para

cidadãos que não se infectaram com o HIV, deixando de investir na prevenção dos

portadores de HIV/AIDS.

27

Page 28: Sônia Maria Molan Gaban

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para aproximação teórica com o tema do meu estudo “contribuições da

pedagogia para a prevenção do HIV/AIDS”, realizei um estudo exploratório

utilizando inicialmente os referenciais teóricos da apostila do Curso de

Especialização em Prevenção ao HIV/AIDS no Quadro da Vulnerabilidade e Direitos

Humanos. NEPAIDS. SP-2010.

Posteriormente defini o objetivo e desenho do trabalho, definindo que faria

uma revisão da bibliografia tomando como base para análise artigos que versam

sobre a temática do estudo.

Com a finalidade de atingir o objetivo deste trabalho o procedimento

metodológico utilizado para seleção do material a ser analisado foi um levantamento

bibliográfico na base de dados do SciELO - Scientific Eletronic Libray Online

www.scielo.org/php/index.php usando as palavras chave: Pedagogia, Prevenção,

Vulnerabilidade, AIDS, Práticas Educativas.

O critério utilizado para delimitação foi selecionar artigos publicados no

SciELO no período de 2000 a 2010.

A pesquisa foi realizada de junho a outubro de 2011.

Foram identificados 33 artigos. Após a leitura dos resumos, foram

selecionados e estudados os 13 artigos especificados a seguir:

28

Page 29: Sônia Maria Molan Gaban

Quadro1 – Artigos Analisados

NOME DO ARTIGO AUTORES PERIÓDICO ANO QUANTIDADE

DE PÁGINAS

1

Práticas educativas e

prevenção

de HIV/AIDS: lições

aprendidas e desafios

atuais

Ayres, JRCM. Interface,

Comunicação,

Saúde, Educação

v.6, n.11, p.11-24,

2002.

2002 14

2

“Você aprende. A gente

ensina?” Interrogando

relações entre educação e

saúde desde a perspectiva

da vulnerabilidade.

Meyer D EE,

Valadão M M,

Mello DF, Ayres

JRCM.

Caderno Saúde

Pública, Rio de

Janeiro, 22(6):

1335-1342, junho,

2006.

2006 08

3

Sexualidade, prazeres e

vulnerabilidade:

implicações educativas.

Meyer, DEE, Klein

C.

Educação Revista,

Belo Horizonte,

2007

2007 21

4

O governo dos corpos

femininos entre as

catadoras de lixo: (re)

pensando algumas

implicações da Educação

em Saúde

Silva FF, Ribeiro

PRC.

Estudos

Feministas,

Florianópolis,

16(2): 440, maio-

agosto/2008.

2008 24

5

A mudança no discurso

educacional das

ONGS/AIDS no Brasil:

concepções e

desdobramentos práticos

(1985-1998)

Góis JBH Interface –

Comunicação,

Saúde, Educação

v7, n13, p.27-44,

agosto 2003.

2003 18

6 Tendências da produção

do conhecimento na

educação em saúde no

Brasil

Vila ACD, Vila

VSC.

Revista Latino

Americana

Enfermagem,

15(6) novembro/

dezembro 2007.

2006

Tendências da

produção do

conhecimento

na educação

em saúde no

Brasil

7

Limites e possibilidades

de uma ação

Educativa na redução da

vulnerabilidade

À violência e à homofobia

Borges ZN, Meyer

DEE.

Ensaio: Avaliação

Políticas Públicas

Educacionais, Rio

de Janeiro, v. 16,

n. 58, p. 59-76,

janeiro/março

2008.

2008

17

8

Aconselhamento na

prevenção do HIV: olhar

dos usuários de um centro

de testagem

Souza V, Czeresnia

D, Natividade C.

Caderno Saúde

Pública, Rio de

Janeiro, 24(7):

1536-1544, julho,

2008.

2008

09

9

Desenvolvimento de uma

proposta de educação

sexual para adolescentes

Alencar R A, Silva

FA, Diniz RES.

Ciência &

Educação, v. 14,

n. 1, p. 159-168,

2008

2008

10

29

continua

Page 30: Sônia Maria Molan Gaban

Quadro1 – Artigos Analisados conclusão

10

Estigma e discriminação

vividos na escola por

crianças e jovens órfãos

por AIDS

Zucchi EM, Barros

CRS, Paiva VSF,

França Jr I.

Educação e Pesquisa,

São Paulo, v.36, n.3, p.

719-734,

setembro/dezembro

2010.

2010

20

11

Plantões Jovens:

acolhimento e cuidado por

meio da educação entre

pares para adolescentes e

jovens nos Centros de

Testagem e

Aconselhamento-CTA

Calazans G, Kiss L,

Capellini S,

Siqueira D, Vieira

RM, França Jr I.

Saúde e

Sociedade v.15,

n.1, p.22-36,

janeiro/abril 2006. 2006

15

12

Gênero, saúde reprodutiva

e vida cotidiana em uma

experiência de pesquisa-

ação com jovens da Maré,

Rio de Janeiro.

Barbosa, RS, Giffin

K..

Interface -

Comunicação

Saúde, Educação,

v.11, n.23, p.549-

67, setembro

/dezembro 2007.

2007

20

13

Promoção da saúde

sexual: desafios no Vale

do São Francisco

Sampaio J, Santos

R C, Paixão LA,

Torres T S.

Psicologia &

Sociedade; 22 (3):

499-506, 2010

2010

08

De acordo com a representação do Quadro 1 – Artigos Analisados,

podemos observar que as publicações aparecem na seguinte ordem de periódicos

indexados:

Quatro (04) artigos na área de Saúde, distribuídos: dois (02) nos

Cadernos de Saúde Pública, um (01) na Revista Latino Americana de

Enfermagem, um (01) na Saúde & Sociedade.

Três (03) artigos, na revista Interface-Comunicação, Saúde, Educação.

Quatro (4) na área da Educação, distribuídos assim: um (01)

Educação e Pesquisa; um (01) Educação Revista – Belo Horizonte, um

(1) Ensaio: Aval. Pol. Públ. Educ., Rio de Janeiro; um (1) Ciência e

Educação.

Um (01) na Revista Psicologia e Saúde.

Um (01) Estudos Feministas, Florianópolis, 16(2): 440 maio-

agosto/2008.

30

Page 31: Sônia Maria Molan Gaban

Para organização e análise do material coletado utilizei os procedimentos de

análise de conteúdo, fazendo sistemáticas leituras dos artigos criando

categorias que permitissem a análise. A princípio fiz uma leitura vertical do

material (com um resumo de cada artigo) e posteriormente fiz uma leitura horizontal

com a organização de um quadro que permitisse a sistematização do conjunto de

textos analisados.

31

Page 32: Sônia Maria Molan Gaban

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO

A partir da leitura dos artigos, foram construídas as categorias de análise

bibliográfica:

a) Descrição (formato e procedimento) – nesta categoria observamos se o

artigo era um ensaio, relato de experiência e/ou pesquisa e quais os

procedimentos metodológicos foram utilizados;

b) Concepções de Educação – esta categoria inclui a observação do

referencial teórico citado e relação educador/educando;

c) Vulnerabilidade, Direitos Humanos – nesta categoria observamos se os

artigos faziam menção ao referencial teórico da vulnerabilidade e dos

direitos humanos.

Observando o quadro – Organização dos Dados – em anexo, podemos dizer

que a maioria dos artigos utilizados nesta revisão são relatos de pesquisa (9) e

alguns artigos são ensaios (4).

Os artigos que relatam pesquisas utilizaram procedimentos metodológicos

ligados à pesquisa qualitativa. Apenas um artigo (artigo 10) refere ser

desdobramento de estudo populacional (quanti-quali).

Todos os artigos dialogam com práticas educativas, principalmente voltadas à

prevenção do HIV/AIDS e a maioria estabelece diálogos com questões ligadas à

sexualidade e relações de gênero.

Como observamos no quadro um os artigos foram publicados em periódicos

que contemplam questões de saúde, educação e sociedade. Nenhum artigo desta

32

Page 33: Sônia Maria Molan Gaban

seleção foi publicado em periódicos que tem concepções mais tradicionais de saúde

(fundamentadas exclusivamente no modelo biomédico).

Em relação às concepções de educação podemos afirmar que a concepção de

educação predominante nos artigos selecionados é a da Teoria Educacional Crítica

(crítica e pós-crítica). A presença da abordagem construcionista, abordagens de

estudos Culturais e de Gênero pautados nas vertentes pós-estruturalistas, e algumas

proposições do pensamento de Foucault, revelam a importância das teorias pós-

críticas e o avanço nas propostas educativas de prevenção.

Os textos analisados dialogam com a pedagogia libertadora do educador Paulo

Freire (que é o autor mais citado no conjunto dos textos), o qual acredita ser

possível transformar a sociedade a partir da educação. Todos os autores dos

artigos dialogam com a pedagogia crítica, reflexiva, problematizadora,

emancipadora proposta por este educador. Quanto à relação estabelecida entre

educador/educando prevalece uma relação de simetria, dialógica, onde há a

valorização das hipóteses trazidas pelos sujeitos (alunos, usuários, profissionais da

saúde/educação).

No que se refere à abordagem conceitual da vulnerabilidade, podemos

observar que nos artigos analisados, a maioria estabelece diálogo com o conceito de

vulnerabilidade, porém, nem todos os autores dialogam na mesma intensidade com

o quadro da vulnerabilidade e dos direitos humanos.

Observamos também que o diálogo com a vulnerabilidade é mais aprofundado

do que o diálogo com os direitos humanos. E que, embora nos estudos analisados a

maioria dos autores dialoga com direitos humanos, aqueles que adotam a abordagem

conceitual da vulnerabilidade estabelecem um diálogo mais profundo.

33

Page 34: Sônia Maria Molan Gaban

A partir da análise dos artigos um ponto destacado pelos autores é que os

componentes da vulnerabilidade (individual, social e programático ou

institucional) estão intimamente interligados e remetem às seguintes questões:

vulnerabilidade de quem? Vulnerabilidade a que? Vulnerabilidade em que

circunstâncias? Para responder as questões acima é fundamental considerar os

marcadores sociais (estigma, discriminação, preconceito, misoginia) produtores das

desigualdades sociais.

O quadro dos direitos humanos oferece um ponto de referência para a análise

da epidemia porque este identifica situações potenciais de vulnerabilidade. As

pessoas que apresentam piores perfis de saúde, sofrimento, doença e morte, são

aquelas que tiveram seus direitos violados (Ayres, Paiva, França Jr, 2010).

O material analisado também permite supor que as práticas educativas

pautadas na pedagogia crítica trouxeram resultados favoráveis, pois as estratégias

utilizadas têm possibilitado mudanças a partir do fortalecimento dos sujeitos e/ou

grupos para saírem da cultura do silêncio e adentrarem como protagonistas na

transformação da sociedade e de seus projetos de vida. A epidemia da AIDS

fomentou a discussão sobre os princípios do SUS (universalidade, equidade,

integralidade) e os direitos humanos. A AIDS deixou de ser vista apenas como um

evento biológico promovido por um vírus e passou a ser tratada como um fenômeno

social.

Portanto, a educação problematizadora, capacita os indivíduos (excluídos,

marginalizados, oprimidos) a perceberem criticamente as injustiças sociais

estimulando a reflexão sobre os problemas.

Concordo com Paulo Freire (1983) que a educação tem caráter libertador.

34

Page 35: Sônia Maria Molan Gaban

Contudo, apesar do conhecimento ser indispensável para a luta popular, somente ele

[conhecimento] não é suficiente. Esse conhecimento acontece com a reflexão,

através das pessoas resistindo, lutando, portanto aprendendo e participando

ativamente na (re) construção de uma sociedade mais justa.

Vale ressaltar o pensamento de Foucault que embasou pesquisas

selecionadas neste estudo, por exemplo, no artigo quatro em que a proposta foi

analisar os discursos acerca da saúde sexual e reprodutiva das mulheres (20

mulheres, faixa etária de 20 a 60 anos). No estudo foi problematizado como esses

discursos inscrevem diferentes marcas nos corpos, ensinando diferentes maneiras de

se perceber mulher, de pensar sua atuação com relação ao próprio corpo. Buscou-se

compreender o quanto as mulheres são interpeladas pelos discursos nas práticas

educativas, especialmente nas políticas e campanhas dirigidas às mulheres, focadas

nos corpos femininos.

Importante revisitar a definição de Foucault quanto ao significado de

discursos5, para compreendermos que as proposições e discursos que normatizam as

politicas de educação em saúde, são tomados como tecnologia de poder que regula a

sexualidade da população através de mecanismos de controle e intervenção, como

natalidade, prevenção às DST, AIDS. Dessa forma as práticas educativas com a

finalidade de promover saúde e prevenir doenças, atuam como instrumentos que

governam a população e disciplinam os corpos.

Considerando ser a via sexual a principal forma de transmissão, não se pode

mais preservar o silêncio em relação às estas questões da sexualidade, da vida

5 Para Foucault, os discursos, mais do que conjunto de signos que remetem a conteúdos ou

representações, são “práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam” (Foucault, 1995

apud Silva F, Ribeiro C, 2008).

35

Page 36: Sônia Maria Molan Gaban

sexual dos sujeitos. Posturas normatizadoras, coercitivas não são recomendadas,

uma vez que podem ter efeitos contrários, conforme mostram os estudos e o

próprio caminhar da epidemia.

Vários estudos apontam que projetos que se sustentam na transmissão de

informação são insuficientes e parecem impactar bem pouco os processos de

diferenciação e de exclusão, nas quais as pessoas portadoras do HIV estão

envolvidas e que esses projetos deixam intocadas condições e relações sociais

produtoras de vulnerabilidade. O que predomina são processos educativos com

ênfase no saber científico teórico e pouco se relacionam com o saber do outro, um

saber unilateral, eu ensino através do conhecimento e da informação e o outro

“aprende”. Um aprendizado baseado na dimensão individual, do risco, sem

considerar as questões subjetivas, culturais, contextuais e políticas.

Ayres (2002) em seu artigo Práticas educativas e prevenção: lições

aprendidas faz uma critica em relação às teorias utilizadas de modelos importados,

os quais eram limitados e limitantes. Esses modelos são baseados na ideia de

aprendizado como simples aquisição de informação.

Na pedagogia crítica de Freire há uma valorização do cenário sócio-político e

as desigualdades sociais eram apontadas, trazendo em suas obras e discursos a

necessidade de se conhecer a realidade dos sujeitos, seus comportamentos, valores,

bem como instrumentalizá-los, educá-los para se posicionarem criticamente frente

às injustiças sociais.

Para Freire e demais teóricos críticos e pós-críticos, a educação tem como

missão formar sujeitos cidadãos, emancipados socialmente, missão também

preconizada por Ayres e Paiva (2010) em seus ensaios reflexivos sobre prevenção

36

Page 37: Sônia Maria Molan Gaban

ao HIV/AIDS.

Vários autores dos artigos analisados questionam suas experiências enquanto

profissionais, referentes ao conhecimento e operacionalização (conhecer/fazer) e

colocam o quadro conceitual da vulnerabilidade como possibilidade para

problematizar e reconstruir as propostas de prevenção ao HIV/AIDS.

A educação em saúde envolve fatores e aspectos subjetivos, sendo assim

considerada uma prática social constituída por atitudes, encontros e vivencias. É um

processo dinâmico que possibilita ao individuo compreender o que ocorre na

sociedade, ampliando sua visão do mundo no qual está inserido.

Portanto, o incentivo à educação e à saúde oferece oportunidades de

transformar, desenvolver ideias, criar meios para o crescimento e desenvolvimento

da sociedade. Bem sabemos que o caminho a ser percorrido é longo para a

construção da sociedade democrática que queremos; pois ainda no Brasil a

desigualdade social está muito presente e produz situações que levam ao sofrimento

e ao adoecimento.

É de extrema importância que os profissionais de saúde compreendam que

educação em saúde é um campo necessário para que uma sociedade possa se

desenvolver e que as práticas educativas são espaços privilegiados para aplicação

dos saberes, espaços onde os saberes vividos, sentidos dos usuários vão se

somar aos saberes técnico cientifico dos profissionais da saúde/educação. Só

assim podemos perseguir o crescimento social e uma qualidade de vida saudável.

(Vila, Vila C, 2007).

Devemos considerar como um divisor de águas o rompimento da pedagogia

tradicional e a adoção de uma nova proposta pedagógica fundada na certeza de que

37

Page 38: Sônia Maria Molan Gaban

educando (aluno, usuário, profissional de saúde e educação) é sujeito ativo no

processo de construção do conhecimento, cabendo ao professor/profissional da

saúde o papel de mediador nos processos de ensino e aprendizagem, possibilitando

a expressão do pensamento do aluno/usuário, a integração de novos

conhecimentos às experiências prévias que compõem o repertório de vida desses

sujeitos.

38

Page 39: Sônia Maria Molan Gaban

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o advento da AIDS, houve uma ressignificação no conceito de sexo e

sexualidade, não sendo mais vistos apenas como algo isolado e passível de receber

apenas orientações prescritivas, tais como: use camisinha e faça sexo seguro.

Sexo e sexualidade passaram a ser concebidos através de uma pluralidade de

olhares que iam além da visibilidade das questões políticas presentes, incluindo

também à dinâmica das relações de poderes que envolvem as relações afetivas e

seu papel na constituição dos sujeitos. Diante disso as intervenções de prevenção

na área de educação em saúde foram sendo construídas a partir da relevância de

temas como relações de Gênero, negociações, autoestima, emoções, diversidade

sexual, identidades.

Essas construções foram realizadas a partir dos estudos, discussões e

reflexões de autores como Fernando Seffner, Dagmar Meyer, Monteiro e Donato,

Paiva, Ayres, França Junior, Elizabete Franco, os quais na busca de novas

tecnologias passaram a dialogar com as teorias educacionais, pensamento

pedagógico e suas relações com as estratégias de prevenção na experiência

brasileira de luta contra a AIDS.

Observamos, a partir do material analisado, que as teorias críticas e pós-

criticas, abrem possibilidades para o questionamento dos currículos vigentes. A

questão central, diante do desafio de fazer prevenção ao HIV/AIDS, é saber qual

conhecimento deve ser priorizado para compor o currículo. Quais os conteúdos

dos programas educativos? O que os sujeitos/usuários/alunos devem se tornar?

39

Page 40: Sônia Maria Molan Gaban

Segundo Silva (2011):

uma teoria define-se pelos conceitos que utiliza para conceber a

“realidade”. Os conceitos de uma teoria dirigem nossa atenção

para certas coisas que sem eles não “veríamos”. Os conceitos de

uma teoria organizam e estruturam nossa forma de ver a

“realidade” (Silva, 2011, p.17).

A partir das teorias crítica e pós criticas de currículo a educação pode ser

vista dentro de uma nova perspectiva. Estas teorias deslocam a ênfase dos

conceitos pedagógicos de ensino e aprendizagem para outros conceitos

importantes como, por exemplo, ideologia e poder. Silva (2011) em sua obra

Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo nos convida a

pensar o quadro que resume as grandes categorias de teorias e os respectivos

conceitos que enfatizam:

Teorias Tradicionais: ensino, aprendizagem, avaliação,

metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência,

objetivos;

Teorias críticas: ideologia, reprodução cultural e social, poder,

classe social, capitalismo, relações sociais de produção,

conscientização, emancipação e libertação, currículo oculto,

resistência;

Teorias Pós-críticas: identidade, alteridade, diferença,

subjetividade, significação e discurso, saber-poder,

representação, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade,

multiculturalismo (Silva, 2011).

Não é objeto deste trabalho e não vamos nos ater aqui a aprofundar as

diferenças entre as teorias críticas e pós-criticas, apenas sinalizamos que a

utilização destas perspectivas parece abrir novas possibilidades para o campo da

prevenção.

40

Page 41: Sônia Maria Molan Gaban

Com a utilização destes referenciais as intervenções passaram a incidir mais

na modificação dos cenários socioculturais onde as práticas sexuais ocorrem. Essa

proposta de reorganização e mudança de foco, ou seja, considerar o contexto

social ao pensar a prevenção e buscar diálogos com perspectivas educacionais que

rompam com o modelo tradicional de educação foi motivada também pelo limite e

fracasso das estratégias educacionais simplistas até então utilizadas para a

realização de ações de prevenção.

O movimento social brasileiro e os profissionais das universidades e serviços

de saúde não mediram esforços, continuaram e continuam apontando a

necessidade urgente de buscar novos patamares de análise e intervenção junto à

epidemia da AIDS.

Diante da evolução da epidemia e da mobilização tanto das instituições

governamentais e das Organizações Não Governamentais, a AIDS deixou de ser

vista apenas como um evento viral e passou a ser tratada como um fenômeno

social.

Avaliamos que apenas as perspectivas educacionais que tenham como

pressuposto a criação de condições para modificação de contextos, como as

Teorias Críticas e Pós- Críticas em educação mostram-se pertinentes para dialogo

com o quadro conceitual da vulnerabilidade e dos direitos humanos.

Justamente porque tais referenciais tem compromisso com a problematização

e a mudança social. Contudo ainda é necessário ampliar e fomentar os diálogos

destes referenciais com o quadro da vulnerabilidade e dos direitos humanos,

buscando um novo jeito de fazer, mais efetivo para a redução da vulnerabilidade

ao HIV/AIDS.

41

Page 42: Sônia Maria Molan Gaban

A partir da análise dos artigos refletimos também que na amostra selecionada

já existe a apropriação do conceito de vulnerabilidade e que isto se deve

principalmente à formação dos autores e autoras e ao período de publicação (a

partir de 2000 quando já trabalhávamos no Brasil com o conceito de

vulnerabilidade). Contudo observamos que há espaço para maior problematização

da questão dos direitos humanos ligados a vulnerabilidade (os artigos exploram

mais a ideia de vulnerabilidade do que de Direitos Humanos). Observamos que a

maioria dos trabalhos publicados são ligados à academia (o que é compreensível

pelo âmbito de atuação), mas interpelamo-nos a respeito de como estes saberes

chegam e são apropriados por profissionais que estão em serviços de saúde e

escola.

Embora iniciativas governamentais, institucionais, sociais tenham avançado,

encontramos desafios como recursos humanos insuficientes, ausência de políticas

que contemplem e priorizem formação nesta área, tempo escasso para o

desenvolvimento de processos reflexivos. Tais dificuldades com frequência

resultam em manter invisível o direito dos sujeitos seja no âmbito da saúde, seja

no âmbito da educação.

Outro aspecto importante a ser considerado é a formação dos profissionais de

saúde e educação, onde o currículo deve contemplar não só os aspectos

biomédicos da saúde sexual e reprodutiva, mas investir na reflexão das múltiplas e

complexas dimensões da sexualidade, das relações de gênero e da AIDS

assumindo que somente a informação não é suficiente para dar conta do domínio

da saúde e da sexualidade. O currículo tem um papel fundamental nos processos

educativos de prevenção ao HIV/AIDS, podendo facilitar ou dificultar a

42

Page 43: Sônia Maria Molan Gaban

aprendizagem, têm o poder de intervir nos sujeitos a quem pretendem formar.

Portanto, uma adequação curricular voltada para os direitos humanos e

vulnerabilidade pode trazer grandes contribuições para a formação de profissionais

da saúde e da educação no campo das DST/AIDS.

Para construção de uma sociedade melhor, construção de políticas públicas,

fica evidente a importância da participação do sujeito/usuário, com seus saberes

práticos vividos e sentidos dialogando com o saber técnico cientifico dos

profissionais de saúde.

Criar, problematizar, debater, constituem estratégias extremamente

importantes para as nossas práticas cotidianas na saúde. Observamos a presença da

pedagogia critica/pós critica, tanto nas pesquisas, reflexões, como nas práticas e

experiências educativas analisadas neste estudo e a predominância dessa

abordagem pedagógica sinaliza um avanço com a apropriação dessa concepção de

educação, qualificando as ações de prevenção ao HIV/AIDS.

Enfim, não pretendemos esgotar o tema, apenas abrimos aqui, algumas

reflexões que podem nos levar a pensar em novas propostas. Sinalizamos para a

relevância do fomento à apropriação do conceito de vulnerabilidade e para o

aprofundamento do entrelaçamento com os direitos humanos, bem como para a

necessidade de maior aproximação com os profissionais que estão prestando

atendimento direto à população.

40

43

Page 44: Sônia Maria Molan Gaban

7. REFERÊNCIAS

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47

Page 48: Sônia Maria Molan Gaban

ANEXO

Quadro 2: Organização dos Dados

AR

TIG

OS

DESCRIÇÃO

(FORMATO E PROCEDIMENTO)

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO VULNERABILID

ADE

DIREITOS

HUMANOS REFERENCIA

L

TEÓRICO

CITADO

RELAÇÃO EDUCADOR

EDUCANDO

1 Ensaio reflexivo para sistematizar as lições aprendidas com as práticas

preventivas desenvolvidas principalmente no Brasil, no período de duas décadas da epidemia de Aids. Sintetiza as implicações dessas lições enfatizando a necessidade de pensar

as estratégias de prevenção

considerando a vulnerabilidade dos contextos, os quais são produtores ou

não de vulnerabilidades (social,

pessoal, programáticaou institucional).

As contribuições desse ensaio vão

possibilitar o desenho de novas estratégias de prevenção. O foco não pode ser grupo populacional, nem

adotar uma atitude modeladora,

prescritiva e sim emancipadora. O centro das políticas, programas e ações

deve ser direcionado para as relações

sociais estabelecidas entre os diversos sujeitos e suas identidades. Cita a

educação de pares como uma prática

educativa de sucesso.

Pedagogia crítica e pós-

critica (educação emancipadora) (definição identitária

definida por sua continua

reconstrução e interação).

Simétrica, dialógica.

Saberes técnico científico soma- se aos saberes dos sujeitos usuários.

Profissional de

Saúde mediador do saber.

Interação

intersubjetiva.

O autor dialoga profundamente

com o quadro conceitual da vulnerabilidade.

Nosso saber / fazer deve

considerar os valores e os direitos humanos.

2 Reflexão pautada no conceito de vulnerabilidade visando identificar as interfaces com o processo educativo e apontar os resultados alcançados,

através da articulação entre saúde e

estudos da vulnerabilidade (do ponto de vista teórico-prático e político). As

autoras apresentam elementos da

cultura e da educação para reflexão e apropriação de nova concepção de

educação em saúde, que vai além da

dimensão comportamental. Temos que reconhecer as dimensões

contraditórias e transitórias dos

comportamentos, ditos saudáveis.

As práticas de saúde e de educação

precisam ser renovadas e o referencial

da vulnerabilidade é de grande valia, uma vez que abre novos caminhos

trazendo a saúde/doença para o campo da vida real, para o cotidiano dos sujeitos em relação. O modelo de

saúde deixa de ser prescritivo e os

sujeitos são atendidos dentro de suas reais necessidades, sendo

corresponsáveis no processo.

Pedagogia crítica e pós- critica (educação

(emancipadora) (definição

identitária

definida por sua continua

reconstrução e

interação).

Teorias de

Foucault (poder

autoridade e controle social)

Simétrica, dialógica. Saberes técnico

científico soma- se aos saberes dos sujeitos

usuários.

Profissional de Saúde mediador

do saber.

Interação intersubjetiva

Dialoga e recomenda pensar em outras formas de

prevenção. Encontrar eco nesse quadro

conceitual, adotando-o como eixo rearticulador

de práticas de educação em saúde.

Reconhece os sujeitos como construções sócias- culturais

sujeitos de

direitos.

Continua

Quadro dois: Organização dos Dados

48

Page 49: Sônia Maria Molan Gaban

continuação

AR

TIG

OS

DESCRIÇÃO (FORMATO E PROCEDIMENTO)

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO VULNERABILID

ADE

DIREITOS

HUMANOS REFERENCIA

L

TEÓRICO

CITADO

RELAÇÃO

EDUCADOR EDUCANDO

3 Reflexão, revisão de conceitos, Repensar as práticas educativas, a

partir do contexto cultural e pautando-

se nos estudos de gênero e culturais. pós-estruturalistas. Diante desta realidade está posto um grande desafio para os educadores/as

trabalhar na escola, temas sobre

questões de gênero, sexualidade, adotando a abordagem da

vulnerabilidade. Com o advento da

AIDS, não podemos ficar presos aos modelos acabados e inquestionáveis.

Temos que investir em processos

educativos que permitam a problematização, a desnaturalização

de verdades e crenças.

Deve-se considerar a variabilidade e a dinâmica dos

significados sociais envolvidos nas

dimensões do adoecimento e da saúde. Através de múltiplas questões as

autoras provocam o fazer cotidiano,

ficando evidente que os discursos produzidos para a construção do

conhecimento ainda deixam a desejar.

As relações sociais (de gênero e sexualidade) e a produção de

intersubjetividades precisam ser

integradas na produção dos discursos na escola. Ao entrar na sala de aula,

os desejos, curiosidades dos jovens

não ficam para fora. Esses diferentes discursos que atravessam a escola vão

contribuir para produzir modos de ser

e de viver a sexualidade de forma singular e não hegemônica. A

dinâmica escolar deve ser construída a

partir de uma nova concepção de currículo, ou seja, lugar privilegiado

para a produção e reprodução das

diferenças de gênero, sexualidade, raça, classe social, religião, geração.

Tudo deve ser questionado. Nada está

pronto e acabado, questionar, por

exemplo, o que eles ensinam? É

possível incluir no planejamento temas para discutir com os jovens sobre

prazer, sexualidade, corpo, saúde? Será

importante e possível? Educadores devem se apropriar do conceito de

vulnerabilidade.

Pedagogia

crítica e

pós-critica

(educação

emancipadora)

Relação

simétrica.

Dialógica

O quadro conceitual da

vulnerabilidade

como novo horizonte para recriar as práticas

educativas, possibilitando

contemplar os diferentes

aspectos

constituintes de identidades,

sexualidades

apresentam também limites

dessa abordagem para a redução da

infecção pelo

HIV.

O referencial

dos direitos

humanos

Possibilita identificar as

situações que

violam ou

restringem os

DH e aumentam

a

vulnerabilidade individual,

programática e

social.

4 Pesquisa Qualitativa– método de investigação: narrativa. Metodologia: grupo focal formado por 20 mulheres

(faixa etária entre 18 e 60 anos). Encontros no Curso Mulher e

cidadania – espaço onde as mulheres

produziam suas narrativas - discussão e reflexão relativas ao corpo, ao gênero

e a sexualidade (falas, cartazes,

desenhos, ações, expressões).

Problematização, Vertentes pós- estruturalistas e

proposições de Michel Foucault

Relação dialógica, construção

coletiva do conhecimento

através da

problematização.

É valorizado o Saber e as vivencias das

mulheres pesquisadas e os

fatores sociais,

individuais e programáticos que

as tornam mais

vulneráveis à violência e às

infecções às

DST/HIV/AIDS.

1ª Conferencia Nacional Direitos da

mulher;

Acesso

universal a saúde

sexual e reprodutiva

continua

49

Page 50: Sônia Maria Molan Gaban

Quadro 2: Organização dos Dados continuação

AR

TIG

OS

DESCRIÇÃO (FORMATO E PROCEDIMENTO)

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO VULNERABILID

ADE

DIREITOS

HUMANOS REFERENCIA

L

TEÓRICO

CITADO

RELAÇÃO

EDUCADOR EDUCANDO

5 Exame dos discursos e ações educacionais defendidas pelas

ONG/AIDS Brasil no período de 1985

a 1998 (período de 13 anos). Análise da influência desses discursos

na elaboração dos projetos de intervenção.

Identifica duas fases importantes do

discurso: a universalista e a focalista,

havendo um intercambio de características entre uma e outra.

Combateram propostas de conteúdo

moral (redução de parceiros, monogamia, abstinência).

Desenvolveram projetos de prevenção

de forma interativa, participativa,

direcionado aos diferentes segmentos da população. (não recomendavam

receitas prontas de intervenção). A

receita mais indicada é criar cada programa com o envolvimento da

população.

Deram vez e voz ao sujeito afetado/

usuário.

1ª fase Educação

antiaids –

ensino da alteração/ eliminação de

práticas que podem levar à

infecção pelo HIV.

2ª fase

Pedagogia antiaids –

conteúdo

ensinado produz a conversão de

sexo comum em

sexo perigoso e este em sexo

seguro, ou seja,

sanitário e oficial (ensino

aprendizagem).

3ª fase

Pedagogia

crítica e

pós-crítica

Foco na mudança de

comportamento

do individuo.

Estratégia ainda focada na

mudança

comportamental

Não dialogam com o quadro

conceitual da

vulnerabilidade, porém já clamavam pela importância de

entender e intervir

nos determinantes sociais, os quais

produziam

situações de risco nos contextos,

expondo.

indivíduos e determinados

grupos sociais.

Essas avaliações

contribuíram para

que o conceito de vulnerabilidade

social se firmasse

no Brasil;

O movimento ativista foi

fundamental na

construção de políticas públicas. Saúde

é um direito de todos.

Deram vida aos

princípios do SUS.

6 Trata-se de revisão de literatura - visa identificar o conceito de educação em

saúde sua aplicação por pesquisadores em Saúde Coletiva. Principais tendências e referenciais pedagógicos.

Exemplifica estudos construídos para promoção em saúde com a participação ativa da comunidade.

Definem educação em saúde no Brasil.

Elencam as práticas educativas, entendidas pelos

pesquisadores como espaços de

produção e aplicação de saberes para o desenvolvimento humano. Essas

práticas devem facilitar o processo

ensino-aprendizagem, embasados na pedagogia crítica.

Selecionaram três pesquisas que

desenvolveram ações educativas em

saúde aplicando a pedagogia critica.

Nessas experiências práticas realizaram grupos educativos,

programas em rádio comunitária; ludo

terapia construíram material educativo com participação dos sujeitos

envolvidos nas atividades educativas.

Pedagogia tradicional ou condicionada

Pedagogia

crítica ou renovada, conhecida

também como

pedagogia da problematização

e ou libertadora.

Professor é o centro do

processo de ensino- aprendizagem.

O aluno recebe passivamente o conteúdo

(educação

bancaria).

Professores e alunos são

mediatizados

pela realidade que apreendem e

dela extraem o

conteúdo da aprendizagem.

Estudo selecionado foi a

Intervenção comunitária e redução da

vulnerabilidade de mulheres às

DST/AIDS em São Paulo.

Acesso à informação,

insumos de prevenção.

Construção Sujeito de

direitos

continua

50

Page 51: Sônia Maria Molan Gaban

Quadro 2: Organização dos Dados continuação

AR

TIG

OS

GO

DESCRIÇÃO

(FORMATO E PROCEDIMENTO)

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO VULNERABILID

ADE

DIREITOS

HUMANOS REFERENCIA

L

TEÓRICO CITADO

RELAÇÃO

EDUCADOR EDUCANDO

7 Pesquisa visando analisar os limites e possibilidades de uma ação educativa na redução da vulnerabilidade à

violência e à homofobia no espaço escolar. Objetivo entender a

percepção dos professores/as quanto às

dificuldades e problemas referentes às questões de sexualidade e

homofobia, e identificar os fatores que

os motivaram a buscar a capacitação no curso “Educando para a

Diversidade” e o impacto dessa

formação no cotidiano da escola.

Metodologia: grupos de discussão e entrevistas com professoras (alunas)

do curso.

Identifica medo, preconceito

Perspectiva construcionista;

pedagogia pós- crítica.

Relação de simetria.

Construção coletiva do conhecimento.

Dialoga com as três dimensões da

vulnerabilidade e sua interligação.

Hipótese de Entendimento

das profissionais mais jovens

de tratar a sexualidade

no âmbito dos

DH

8 Pesquisa qualitativa de caráter Exploratório (analítico descritiva), realizada em um CTA, Minas Gerais

(nov.2005 a mar.2006). Participaram

do estudo 32 indivíduos.

Utilizou-se a técnica de entrevista em profundidade e uma adaptação do

método de análise de conteúdo

privilegiando-se a modalidade temática.

Para Fairclough aconselhamento é uma prática ambivalente – aspectos de emancipação e democratização.

Resultados: A expectativa inicial por um atendimento precário, associado à

ideia de que o SUS expõe os usuários

a filas, burocracia e demora foi reconsiderada; diante da agilidade do

atendimento, da presteza do

diagnóstico e especialidade dos profissionais.

Pedagogia pós- crítica. Processo de

democratização

dos discursos (Fairclough) e

tecnologias de

poder

disciplinar e

confissão de

Foucault.

Dialógica entre usuários e profissionais do

serviço

(simetria).

Relação direta e personalizada,

linguagem que

busca a informalidade e conversação.

Dialoga principalmente com a dimensão

pessoal ao

desenvolver a escuta e analisar as

situações de risco

do usuário.

Quanto à dimensão

programática, a

pesquisa está buscando levantar

a percepção dos usuários em

relação ao serviço

prestado.

Dialoga de forma mais

superficial quando se

refere aos aspectos dominação.

Emancipação.

Direito de Acesso aos Serviços de saúde.

9 Pesquisa experimental qualitativa. Autores da pesquisa:

2 enfermeiras 1 licenciado em

ciências biológicas; 58 adolescentes

(42 meninos e 16 meninas) do Programa SOS Bombeiros de

Botucatu-SP.

a)Investigação exploratória (demanda dos adolescentes sobre sexualidade

DST/AIDS);

b) construção da proposta educativa a

partir do conteúdo trazido pelos jovens;

c) aplicação proposta pedagógica.

Trabalho é desenvolvido na

perspectiva de mudança de comportamento

Pedagogia Crítica

/

Problematizador

a / Libertadora

Relação de simetria.

Construção

coletiva do conhecimento

Dialoga na medida em que

reconhecem as

hipóteses trazidas pelos sujeitos da pesquisa,

contextos familiar, social.

Liberdade de escolha,

direito dos

adolescentes

de participar em qualquer momento do

processo educativo.

continua

51

Page 52: Sônia Maria Molan Gaban

Quadro 2: Organização dos Dados continuação

AR

TIG

OS

DESCRIÇÃO

(FORMATO E PROCEDIMENTO)

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO

VULNERABI-

LIDADE

DIREITOS

HUMANOS

REFERENCIA L

TEÓRICO CITADO

RELAÇÃO EDUCADOR

EDUCANDO

10 Pesquisa com objetivo de analisar episódios de estigma e descriminação ao HIV/AIDS.

Restrição no ambiente escolar que se tornam obstáculos para o exercício do

direito à educação, sociabilidade e

vida afetiva dos alunos órfãos.

Episódios presentes diferem daqueles encontrados na literatura sobre o

estigma da AIDS e educação.

Educadores podem se vir no direito de intervir no namoro de jovens soro

discordante. O estudo mostra ausência

de atividades de prevenção no campo da AIDS entre a população jovem

infectada pelo HIV.

Metodologia: entrevistas profundas pautadas em 5 eixos e realizadas com

coordenadores de 6 escolas públicas e

provadas da cidade de São Paulo.

Episódios indicam a influência

negativa do estigma aprofundando a

desigualdade social já instalada no

âmbito da educação e cria obstáculos referentes ao direito à educação, a

convivência familiar, ao lazer, a

privacidade ao sigilo e confidencialidade e a vida afetiva dos

jovens. Homofobia e racismo

aparecem como potencializadores do estigma.

Pedagogia crítica

Relação dialógica entre

pesquisadores e educadores.

Dialoga na medida na qual

identifica as circunstâncias e os elementos do

processo de estigmatização

Relacionam direitos e princípios afetados: não

discriminação

, sexuais e reprodutivos,

sobrevivência. e participação,

direito a informação.

Portaria Interministeri

al 769,

29/05/1992

11 Plantões Jovens – Educação entre pares - Pesquisa descritiva – coleta

de dados através de grupos focais/roteiro para condução dos

grupos/ encontros gravados/ material coletado de acordo com categorias analíticas da teoria do trabalho em

saúde e técnica de análise de conteúdo

como 2º procedimento da análise.

Intervenção individual e coletiva junto aos pares na comunidade de

pertencimento.

Ênfase no aprendizado prático e enfoque no encontro e no entendimento do outro.

Pedagogia da problematização , crítica.

1ª vertente Relação de assimetria.

2º vertente

Relação

dialógica/ simétrica.

Construção coletiva do conhecimento

Estratégia implantada em

CTA de regiões periféricas de alta

exclusão social Enfoque nos aspectos culturais,

econômicos,

políticos e morais, buscando

condicionar os comportamentos. de risco para

produzir uma

resposta social capaz de transformar os

contextos que favorecem tais comportamentos.

Dialoga à medida que adota a

abordagem da

vulnerabilida de, sendo os

direitos

humanos o

referencial

norteador dos

direitos violados e,

portanto,

condições que aumentam a

vulnerabilida

de social, individual e

programática.

continua

52

Page 53: Sônia Maria Molan Gaban

Quadro 2: Organização dos Dados conclusão

AR

TIG

OS

DESCRIÇÃO

(FORMATO E PROCEDIMENTO)

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO

VULNERABILID

ADE

DIREITOS

HUMANOS

REFERENCIA

L

TEÓRICO CITADO

RELAÇÃO

EDUCADOR EDUCANDO

12 Conceituação da Pesquisa- ação (Articulando a pedagogia de Paulo

Freire com a proposta reflexiva e

prática do movimento das mulheres. Pesquisa-ação realizada em 2002 a 2004).

Concepção pesquisa-ação pretende

gerar com e pelos sujeitos

pesquisados, novos conhecimentos e ações coletivas visando

transformar uma sociedade marcada

pelas injustiças sociais.

Técnicas utilizadas: grupos de reflexões, dramatizações, jogos

teatrais, exercícios corporais,

dinâmicas de grupo.

Pedagogia Crítica

/

Problematizado-

ra/ Libertadora

Relação de simetria.

Construção

coletiva do

conhecimento

Foram consideradas as

dimensões

socioculturais

e políticas

que afetam a

vida dos jovens

que vivem em

contextos de

pobreza,

violência e

exclusão de

direitos.

Dialoga com direitos

reprodutivos,

direitos

humanos

elementares

como direito a

vida e a

liberdade de ir e

vir

13 Pesquisa – instrumentos de coleta de dados, observação Participante,

grupos focais. Dados coletados

entre os anos de 2007 e 2008.

Pesquisa fundamentou-se na

perspectiva da abordagem

qualitativa em saúde, buscando trabalhar com o universo de

significados atribuídos pelos sujeitos aos seus processos de saúde-

doença.

Modelo teórico metodológico

utilizado para a análise dos dados - Práticas Discursivas e Produção de Sentido no Cotidiano (Spink&

Medrado, 1999).

Foram realizados grupos focais com

360 adolescentes, 72 entrevistas com

profissionais de saúde e 1024 horas

de observação participante em oito dispositivos da ESF.

Resultados: inexistência de proposta de prevenção dirigida aos adolescentes.

Os adolescentes só procuram a

unidade quando estão doentes.

Modo de funcionamento dos serviços, fundamentado em um

modelo médico e ambulatorial, que vai de encontro à noção de cuidado

realizado pela rede básica. Não se

apropriaram da proposta do Programa de Saúde da família.

Pedagogia Crítica

Relação de simetria.

Dialógica.

Construção

coletiva do conhecimento

Estratégia implantada

em

CTA em regiões

de alta exclusão

social, maior

com grande

concentração de

jovens

(maior

vulnerabilidade

social).

Dialoga na medida em que os

jovens são

encorajados a

participar de ações concretas de

prevenção

(direito a

informação, acesso

aos insumos

de prevenção).

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