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1 SOPHIA-FEIRA 1 Pedro Olaia PPLSA-UFPA-Bragança/PA RESUMO Este trabalho científico, que cria uma construção narrativa através da narrativa performática diluída em um suplemento de textos e imagens, propõe descrever as saídas da drag queen Sophia às feiras paraenses desde 2010, quando a drag queen Sophia atravessa a feira do Ver-o-Peso derramando leite, até a atualidade, em que Sophia se monta na feira de Bragança-PA e sai tirando selfies em busca de sua amiga “Aura Perdida”. O início de toda esta frequência nas feiras se dá quando Sophia percebe a potência do discurso poético-político que dialoga sobre práticas de resistência ao controle hegemônico sobre nossos corpos-amazônia, e se estende pelo estudo científico de Sophia quando percebemos a vivência e relação estreita da drag com a feira e as possibilidades de registro-narrativa etnográfica de um tempo atual no espaço geográfico feira por um pensamento local na Amazônia que dialoga sobre questões de gênero e sexualidade. Palavras-Chave: performance, feira, amazônia A minha drag queen Sophia é prática de guerrilha estética a partir de micropolítica do desejo (GUATTARI, 1985, p. 176-179) pensando a guerra como combate de ideias e negociações discursivas através da arte e a favor da diversidade de corpos-amazônia (nascidos e criados no contexto territorial amazônico), onde nós (eu, a minha drag Sophia, e pessoas que se relacionam com a drag direta e/ou indiretamente), através do jogo cênico de improviso, interagimos e compartilhamos diálogos sobre a desconstrução do discurso binário e de sexo unívoco (BUTLER, 2015, p. 219-222), e como estes discursos hegemônicos influenciam nossos corpos-amazônias; bem como as possíveis táticas de resistência poética e política que são praticadas no cotidiano por travestis, trans, monstrxs, e tantas outras possibilidades de corpos diferentes do padrão 1 Trabalho apresentado no III Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre os dias 19 e 21 de setembro de 2018, Belém/PA.

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SOPHIA-FEIRA1

Pedro Olaia

PPLSA-UFPA-Bragança/PA

RESUMO

Este trabalho científico, que cria uma construção narrativa através da narrativa

performática diluída em um suplemento de textos e imagens, propõe descrever as saídas

da drag queen Sophia às feiras paraenses desde 2010, quando a drag queen Sophia

atravessa a feira do Ver-o-Peso derramando leite, até a atualidade, em que Sophia se

monta na feira de Bragança-PA e sai tirando selfies em busca de sua amiga “Aura

Perdida”. O início de toda esta frequência nas feiras se dá quando Sophia percebe a

potência do discurso poético-político que dialoga sobre práticas de resistência ao

controle hegemônico sobre nossos corpos-amazônia, e se estende pelo estudo científico

de Sophia quando percebemos a vivência e relação estreita da drag com a feira e as

possibilidades de registro-narrativa etnográfica de um tempo atual no espaço geográfico

feira por um pensamento local na Amazônia que dialoga sobre questões de gênero e

sexualidade.

Palavras-Chave: performance, feira, amazônia

A minha drag queen Sophia é prática de guerrilha estética a partir de

micropolítica do desejo (GUATTARI, 1985, p. 176-179) – pensando a guerra como

combate de ideias e negociações discursivas através da arte e a favor da diversidade de

corpos-amazônia (nascidos e criados no contexto territorial amazônico), onde nós (eu, a

minha drag Sophia, e pessoas que se relacionam com a drag direta e/ou indiretamente),

através do jogo cênico de improviso, interagimos e compartilhamos diálogos sobre a

desconstrução do discurso binário e de sexo unívoco (BUTLER, 2015, p. 219-222), e

como estes discursos hegemônicos influenciam nossos corpos-amazônias; bem como as

possíveis táticas de resistência poética e política que são praticadas no cotidiano por

travestis, trans, monstrxs, e tantas outras possibilidades de corpos diferentes do padrão

1 Trabalho apresentado no III Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre os

dias 19 e 21 de setembro de 2018, Belém/PA.

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normativo que habitam na Amazônia e desde sempre resistem ao controle colonizador –

iniciado no século XVI com a invasão dos europeus a este território (FERNANDES,

2016).

Deste modo – a partir de um pensamento de corpo-resistência, ou seja, de um

corpo que está pintado para a festa e para a guerra, e também retornando ao histórico de

ações performáticas que a drag queen Sophia pratica nas ruas com propostas de ações

coletivas de improviso – percebemos que o ciclo de performances de identidade e

resistência (CARLSON, 2009, p. 163-210) com Sophia se incia em 2010 a partir da

performance “deleite”, que acontece na feira do Ver-o-Peso em Belém-PA, e desde aí

até as práticas coletivas atuais a feira perpassa a vida de Sophia.

O espaço feira – onde a cidade fervilha e as cenas do dia a dia se dão através de

signos e códigos locais específicos – é encantado pela drag Sophia, que em

performances cênicas se aproxima dos povos que não tem costume de frequentar

espaços artisticamente instituídos, como por exemplo, teatros e muses, porém

institivamente vivenciam a cena teatral do cotidiano em negociações e jogos de poder

estabelecidos através da arte de viver.

E como as ações artístico-performáticas são momentos efêmeros em que o

registro imagético é muito mais apropriado como processo narrativo para detalhar o

instante único em que Sophia adentra a feira, estaremos logo abaixo desta narrativa

textual seguindo com uma narrativa imagética que detalha três momentos de Sophia no

espaço feira: o primeiro momento, relacionado ao sonho de minha mãe em que derramo

um balde de leite, na feira do Ver-o-Peso, onde a drag queen Sophia se monta na

“Escadinha”, atravessa a “Estação das Docas”, encontra um balde de leite, derrama este

leite ao longo da feira do Ver-o-Peso em seis objetos resignificando-os, e termina a ação

na “pedra do Ver-o-Peso” com os pescadores em um simbólico banho de leite deleite; o

segundo momento na feira de Bragança-PA em 2017, na performance “Sophia Flaneur:

em busca da Aura Perdida” (OLAIA, 2017), em que a drag queen está vestindo

materiais que conquistam o feirante, pois são CD’s que se transformam em uma saia e

uma rede de pesca que é o seu cabelo, e Sophia atravessa a feira de Bragança chamando

por sua amiga “Aura Perdida” que está perdida em meio a tantos sefies tirados com os

feirantes e fregueses num jogo cênico de afeto e conquista; e para suplemento da

narrativa imagética após o ensaio etnofotográfico é indicado o acesso ao link que nos

leva ao terceiro momento em que Sophia pulsa e fricciona ações performáticas na feira:

neste link compartilhamos um vídeo disponível no youtube em que Sophia, em outra

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ação (desta vez à noite), juntamente com sua amiga Byxa do Mato carregam pelas ruas

uma rede onde simulam velar o corpo de uma travesti assassinada por crime de

transfobia quando ao chegarem na feira de Bragança encontram com o “poeta-palhaço”

e este artista cria uma rima e declama sua poesia em choques de dor e prazer, como a

uma reação criativa à ação processual provocada (CONCEIÇÃO; OLAIA, 2017).

E, para uma melhor leitura imagética desta narrativa estreitada entre textos e

imagens, sugiro que o leitor perceba o foco central deste trabalho como sendo o

questionamento a respeito das práticas de Sophia como construções e registros

etnográficos visuais da contemporaneidade que detalha as relações de gênero e

sexualidade construídas historicamente e socialmente por um povo no território

Amazônia.

BIBLIOGRAFIA

BUTLER, Judith. 2015. Problemas de Gênero. feminismo e subversão da identidade.

Trad. Renato Aguiar. 8ª ed. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 2015

CARLSON, Marvin. Performance. Uma introdução crítica. Trad. Thais Diniz; Maria

Pereira. UFMG. Belo Horizonte, 2009.

CONCEIÇÃO, Alexandra Castro; OLAIA, Pedro. Sophia e Palhaço: dos reencontros e

outras performances. In: FERNANDES, D. S.; SARAIVA, L. J. C.; CORRÊA, J. S. L.

Câmeras Subjetivas: imagens em transito sobre o nordeste paraense. Pedro & João

Editores. São Carlos, 2017. Disponível em:

<https://pt.slideshare.net/Antropologist/cmeras-subjetivas-imagens-em-trnsito-sobre-o-

nordeste-paraense-80672960>. Acesso em: 01/09/2018

FERNANDES, Estevão Rafael. Homossexualidade indígena no Brasil:

Um roteiro histórico-bibliográfico. In: Revista Aceno. Vol. 3, n. 05. 2016. pp. 14-38.

GUATTARI, Felix. Revolução Molecular. Pulsações políticas do desejo. Trad. Suely

Rolnik. 2ª ed. Editora Brasiliense. São Paulo, 1985.

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OLAIA, Pedro. Sophia Flaneur: Em busca da Aura Perdida. In: Revista Visagem. v.

03, n. 01. 2017. pp. 240-249

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LINK PARA ACESSO AO VÍDEO DO POETA PALHAÇO

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https://youtu.be/0RvadDRowZY