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%HermesFileInfo:C-8:20121014: C8 Cidades/Metrópole DOMINGO, 14 DE OUTUBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO 1961 6,4 1962 6,4 1963 8,1 1964 7,7 1965 8,3 1966 9,0 1967 9,2 1968 10,4 1969 9,9 1960 5,7 Grupos eram mais letais que a ditadura ENTRE 1960 E 1999, HOMICÍDIOS PULARAM DE 217 CASOS PARA 6.653. EM 2000, AS MORTES COMEÇARAM A CAIR ESCALADA “GUARDEI (O RELÓGIO DE UMA VÍTIMA) SÓ DE LEMBRANÇA” Bruno Paes Manso “P ara cada po- licial mor- to, dez ban- didos vão morrer”, bradou em novembro de1968oin- vestigador Astorige Correia, o Correinha, na frente de jornalistas durante o enter- ro de Davi Parré, investigador morto por um traficante da zo- na norte de São Paulo conheci- do como Saponga. O juramen- to antecipava a série de assas- sinatos praticada por poli- ciais civis do famigerado es- quadrão da morte liderado pelo delegado Sérgio Para- nhos Fleury. Na semana passada, a fa- tídica sentença voltou a as- sombrar o cotidiano dos paulistas como se as 130 mil mortes ocorridas em 52 anos tivessem sido in- suficientes para dar li- ções. O homicídio de po- liciais militares na Bai- xada Santista e em Ta- boão da Serra provoca- ram uma sequência de 20 homicídios nos bairros vizinhos. Mo- radores que viram o massacre apontaram PMs à paisana como suspeitos. Em dois momentos distantes, separados por mais de meio sécu- lo, a vingança continua fazendo a engrenagem dos homicídios gi- rar. Para compreender a violên- cia nos dias de hoje, é fundamen- tal entender a variação dos homi- cídios nos últimos 52 anos. A epi- demia dos assassinatos começa no fim dos anos 1960, depois que as mortes à bala passam a ser vis- tas como uma maneira de se manter o controle dos roubos em uma cidade que crescia desor- denadamente. Antes disso, o mundo do cri- me em São Paulo era quase ro- mântico, palco dos desviantes que vagavam na boca do lixo per- to da Estação da Luz e da velha rodoviária do centro. No chama- do Quadrilátero do Pecado, re- gião da Avenida Duque de Ca- xias, que no futuro se transfor- maria na cracolândia, em vez de revólveres, os malandros usa- vam navalhas em noitadas abas- tecidas por anfetaminas e desti- lados. Mais do que um reduto de cri- minosos violentos, o submundo paulistano era palco de contra- venções e contraventores que vendiam sexo, jogos de azar e drogas leves. Assassinatos, nes- se tempo, eram a opção dos vi- lões, malvados e loucos. “Os tem- pos eram outros. O crime que mais assustava era o furto qualifi- cado, quando o ladrão invadia um comércio ou uma casa quan- do o dono estava fora”, lembra o criminalista Roberto Von Hyde, de 82 anos, que defendeu crimi- nosos perseguidos pelo esqua- drão, além de João Acácio Perei- ra da Costa, o Bandido da Luz Vermelha, que em 1967 foi preso por assaltar casas e matar quatro pessoas. “Crimes de sangue” envol- viam geralmente histórias de ma- ridos traídos, que, movidos pelo ódio incontrolável, muitas vezes matavam a si próprios em tragé- dias passionais à la Nelson Rodrigues. Entre 1960 e 1965, em mais da metade dos assassinatos em São Paulo, corpos de vítimas fo- ram encontrados dentro de casa, revelando forte associa- ção entre esse tipo de crime e paixões domésticas mal resol- vidas. Por serem ações treslouca- das, os assassinos sofriam con- trole acirrado de instituições e da sociedade. Casos como o de Benedito Moreira de Carvalho, que ficou conhecido como o Monstro de Guaianases ao ser acusado de violentar e matar dez mulheres entre 1950 e 1953, tor- navam o homicida um pária, odiado e caçado como persona- gem de filme de terror. Mudança. A epidemia de assas- sinatos em São Paulo começou quando homicídios passaram a ser vistos como ferramenta para limpar a sociedade dos bandi- dos. Com o crescimento dos rou- bos e dos assaltos a banco no fim dos anos 1960, viraram instru- mento de extermínio ou vingan- ça para ser usado em benefício da população com medo. Em vez de monstros, os homi- cidas que alegavam agir em defe- sa da sociedade e tornar a cidade mais segura se transformaram em heróis. Os chamados “pre- suntos” eram desovados em es- tradas de São Paulo, depois de serem retirados de presídios co- mo o antigo Tiradentes. Chefe do esquadrão da morte, o delegado Fleury – que come- çou em 1968 a matar suspeitos com ajuda de outros integrantes do bando – virou um dos ídolos do período, recebendo homena- gens em letras de canções popu- lares. E os métodos cruéis do es- quadrão também ganharam pres- tígio durante o regime militar. Técnicas de tortura e assassina- tos passaram a ser usadas por in- tegrantes do Exército e da Polí- cia Militar no combate à guerri- lha e para desbaratar os grupos de esquerda. Em 1969, Fleury es- tava à frente da emboscada que levou à morte do líder comunis- ta Carlos Marighella na Alameda Casa Branca, nos Jardins. Rota. No combate ao crime co- mum, policiais das Rondas Os- tensivas Tobias de Aguiar (Rota) assumiram nos anos 1970 o pos- to de “caçadores de bandidos”, celebrados pelo povo. “Em bair- ros das periferias, a população pedia para beijar nossa mão”, lembra o coronel Niomar Cyrne Bezerra, ex-comandante da Ro- ta na época. Nos anos 1980, saiu da PM um dos principais matadores da his- tória da cidade. O soldado Floris- valdo de Oliveira, conhecido co- mo Cabo Bruno, morto há duas semanas depois de ficar 27 anos na prisão, iniciou sua carreira de justiceiro matando a soldo de co- merciantes. Logo justiceiros pi- pocaram por todos os cantos de São Paulo. De forma geral, todos alegavam matar bandidos em de- fesa dos trabalhadores. Em 1987, depois da prisão de Francisco Vital da Silva, justicei- ro conhecido como Chico Pé de Pato, a população do Jardim das Oliveiras, na zona leste, foi em peso ao Fórum de Santana pedir sua liberdade. Com o passar dos anos, no en- tanto, foi ficando mais claro que os homicídios, em vez de contro- larem o crime, acabavam provo- cando novos assassinatos, em círculos ininterruptos de violên- cia. Se por um lado eliminavam suspeitos, consolidavam tam- bém nesses bairros o medo da morte e estimulavam o desejo de vingança. É o que revela a história do ma- tador César de Santana Souza, que nos anos 1990 dizia ter mata- do mais de 50 pessoas no Grajaú, na zona sul. Ele praticou o pri- meiro homicídio por vingança, depois que um amigo foi morto em um campinho de futebol. Ju- rado de morte por inimigos que queriam vingança, passou a ma- tar por razões cada vez mais ba- nais, sempre que pressentia que corria risco de ser morto. Ele che- gou a acreditar que a violência o ajudaria a dominar o bairro. De- pois de um tempo, percebeu, no entanto, que homicídios ser- viam apenas para provocar no- vos homicídios. Em 2006, termi- nou assassinado por integrantes do Primeiro Comando da Capi- tal (PCC) que passaram a ven- der drogas em seu bairro. EPIDEMIA: www.estadao.com.br/acervo Das execuções do esquadrão da morte nos anos 1960 aos homicídios ordenados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) nos dias de hoje, a epidemia de assassinatos em São Paulo matou 130 mil pes- soas. Ao longo de 52 anos, como em um comportamento contagioso, os assassinatos começaram a crescer. De menos de um homicídio por dia em 1960, chegou a quase uma morte por hora em 1999. Nesse ano, a cidade registrou 63,5 assassinatos por 100 mil habitan- tes, taxa semelhante à dos três anos de guerra no Iraque. A partir de 2000, a exemplo das epidemias, o contágio cessou e os homicídios despencaram 77% ao longo de 11 anos. Neste ano, contudo, disputas incessantes entre policiais militares e integrantes do PCC mostra- ram que essa pacificação se sustentava sobre frágeis estruturas. Como compreender essas mudanças bruscas no comportamento dos homicidas? De hoje a quinta-feira, o Estado publica uma série de reportagens para explicar a variação dos assassinatos em São Paulo. O material é resultado de 13 anos de investigações e estudos e de mais de cem entrevistas – muitas feitas com matadores que atuaram em diferentes períodos em São Paulo. O trabalho resultou em uma tese de doutorado, defendida em 28 de agosto no Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Huma- nas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Maioria das mortes (aqui por 100 mil/hab) era passional e em casa estadão.com.br DELEGADO FLEURY Líder do esquadrão Assassinatos aumentam depois que passam a ser vistos como ferramenta de controle do crime Tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, o esquadrão da morte representou o começo da epidemia de assassinatos. Não pela quantidade de homicídios de seus integrantes, mas por co- locar em prática uma nova forma de ver o mundo e lidar com as- sassinatos em sociedades em processo de urbanização. O esquadrão começou no Rio em 1958 e serviu de modelo para o resto do Brasil, inclusive São Paulo. Policiais paulistas conver- savam com os cariocas antes de se organizar para matar. O Espíri- to Santo, Estado que liderou o ranking dos assassinatos no Bra- sil nos anos 1980 e 1990, tam- bém teve seu esquadrão. Considerando levantamentos policiais do período, entre 1963 e 1975 os grupos de extermínio formados por policiais mataram quase 900 pessoas no Rio (654) e em São Paulo (200) – mais do que os 20 anos de regime militar. O que 5 décadas de homicídios em São Paulo têm a ensinar Dos esquadrões ao PCC, 52 anos de violência mataram 130 mil pessoas Online. Áudios e músicas sobre a violência e os esquadrões www.estadao.com.br A PM só é criada em 1969. Antes, cabia à Força Pública defender o patrimônio do Estado. Pouco saía às ruas. No dia 23 de novembro de 1968, é morto Saponga, acusa- do de matar o investigador Davi Parré 9/8/1967 O delegado Fleury conversa com a mãe de Saponga, que era jurado de morte acusado de matar um policial

[SP - 8] ESTADO/CIDADES/PÁGINAS 14/10/12pt.braudel.org.br/.../downloads/epidemia-5-decadas-de-homicidios.pdf · sombrar o cotidiano dos paulistas como se as 130 milmortesocorridasem

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C8 Cidades/Metrópole DOMINGO, 14 DE OUTUBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

1961

6,4

1962

6,4

1963

8,1 1964

7,7

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8,3

1966

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1968

10,4 1969

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1960

5,7

Gruposeram maisletais que aditadura

ENTRE 1960 E 1999, HOMICÍDIOSPULARAM DE 217 CASOSPARA 6.653. EM 2000, AS MORTESCOMEÇARAM A CAIR

ESCALADA

“GUARDEI (O RELÓGIODE UMA VÍTIMA) SÓ DELEMBRANÇA”

Bruno Paes Manso

“Para cada po-licial mor-to, dez ban-didos vãom o r r e r ” ,bradou emn o v e m b r ode 1968 o in-vestigadorA s t o r i g e

Correia, o Correinha, na frentede jornalistas durante o enter-ro de Davi Parré, investigadormorto por um traficante da zo-na norte de São Paulo conheci-do como Saponga. O juramen-to antecipava a série de assas-sinatos praticada por poli-ciais civis do famigerado es-quadrão da morte lideradopelo delegado Sérgio Para-nhos Fleury.

Na semana passada, a fa-tídica sentença voltou a as-sombrar o cotidiano dospaulistas como se as 130mil mortes ocorridas em52 anos tivessem sido in-suficientes para dar li-ções. O homicídio de po-liciais militares na Bai-xada Santista e em Ta-boão da Serra provoca-ram uma sequência de20 homicídios nosbairros vizinhos. Mo-radores que viram omassacre apontaram PMs àpaisana como suspeitos.

Em dois momentos distantes,separados por mais de meio sécu-lo, a vingança continua fazendoa engrenagem dos homicídios gi-rar. Para compreender a violên-cia nos dias de hoje, é fundamen-tal entender a variação dos homi-cídios nos últimos 52 anos. A epi-demia dos assassinatos começano fim dos anos 1960, depois queas mortes à bala passam a ser vis-tas como uma maneira de semanter o controle dos roubosem uma cidade que crescia desor-denadamente.

Antes disso, o mundo do cri-

me em São Paulo era quase ro-mântico, palco dos desviantesque vagavam na boca do lixo per-to da Estação da Luz e da velharodoviária do centro. No chama-do Quadrilátero do Pecado, re-gião da Avenida Duque de Ca-xias, que no futuro se transfor-

maria na cracolândia, em vez derevólveres, os malandros usa-vam navalhas em noitadas abas-tecidas por anfetaminas e desti-lados.

Mais do que um reduto de cri-minosos violentos, o submundopaulistano era palco de contra-venções e contraventores quevendiam sexo, jogos de azar edrogas leves. Assassinatos, nes-se tempo, eram a opção dos vi-lões, malvados e loucos. “Os tem-pos eram outros. O crime que

mais assustava era o furto qualifi-cado, quando o ladrão invadiaum comércio ou uma casa quan-do o dono estava fora”, lembra ocriminalista Roberto Von Hyde,de 82 anos, que defendeu crimi-nosos perseguidos pelo esqua-drão, além de João Acácio Perei-ra da Costa, o Bandido da LuzVermelha, que em 1967 foi presopor assaltar casas e matar quatropessoas.

“Crimes de sangue” envol-viam geralmente histórias de ma-ridos traídos, que, movidos peloódio incontrolável, muitas vezesmatavam a si próprios em tragé-

dias passionais à la NelsonRodrigues. Entre 1960 e1965, em mais da metade

dos assassinatos em SãoPaulo, corpos de vítimas fo-

ram encontrados dentro decasa, revelando forte associa-

ção entre esse tipo de crime epaixões domésticas mal resol-vidas.

Por serem ações treslouca-das, os assassinos sofriam con-

trole acirrado de instituições eda sociedade. Casos como o de

Benedito Moreira de Carvalho,que ficou conhecido como oMonstro de Guaianases ao seracusado de violentar e matar dezmulheres entre 1950 e 1953, tor-navam o homicida um pária,odiado e caçado como persona-gem de filme de terror.

Mudança. A epidemia de assas-sinatos em São Paulo começouquando homicídios passaram aser vistos como ferramenta paralimpar a sociedade dos bandi-dos. Com o crescimento dos rou-bos e dos assaltos a banco no fimdos anos 1960, viraram instru-mento de extermínio ou vingan-ça para ser usado em benefícioda população com medo.

Em vez de monstros, os homi-cidas que alegavam agir em defe-sa da sociedade e tornar a cidademais segura se transformaramem heróis. Os chamados “pre-suntos” eram desovados em es-tradas de São Paulo, depois deserem retirados de presídios co-mo o antigo Tiradentes.

Chefe do esquadrão da morte,o delegado Fleury – que come-çou em 1968 a matar suspeitoscom ajuda de outros integrantesdo bando – virou um dos ídolosdo período, recebendo homena-gens em letras de canções popu-lares. E os métodos cruéis do es-quadrão também ganharam pres-tígio durante o regime militar.Técnicas de tortura e assassina-tos passaram a ser usadas por in-

tegrantes do Exército e da Polí-cia Militar no combate à guerri-lha e para desbaratar os gruposde esquerda. Em 1969, Fleury es-tava à frente da emboscada quelevou à morte do líder comunis-ta Carlos Marighella na AlamedaCasa Branca, nos Jardins.

Rota. No combate ao crime co-mum, policiais das Rondas Os-tensivas Tobias de Aguiar (Rota)assumiram nos anos 1970 o pos-to de “caçadores de bandidos”,celebrados pelo povo. “Em bair-ros das periferias, a populaçãopedia para beijar nossa mão”,lembra o coronel Niomar CyrneBezerra, ex-comandante da Ro-ta na época.

Nos anos 1980, saiu da PM umdos principais matadores da his-tória da cidade. O soldado Floris-valdo de Oliveira, conhecido co-mo Cabo Bruno, morto há duassemanas depois de ficar 27 anosna prisão, iniciou sua carreira dejusticeiro matando a soldo de co-merciantes. Logo justiceiros pi-pocaram por todos os cantos deSão Paulo. De forma geral, todosalegavam matar bandidos em de-fesa dos trabalhadores.

Em 1987, depois da prisão deFrancisco Vital da Silva, justicei-ro conhecido como Chico Pé dePato, a população do Jardim dasOliveiras, na zona leste, foi em

peso ao Fórum de Santana pedirsua liberdade.

Com o passar dos anos, no en-tanto, foi ficando mais claro queos homicídios, em vez de contro-larem o crime, acabavam provo-cando novos assassinatos, emcírculos ininterruptos de violên-cia. Se por um lado eliminavamsuspeitos, consolidavam tam-bém nesses bairros o medo damorte e estimulavam o desejo devingança.

É o que revela a história do ma-tador César de Santana Souza,que nos anos 1990 dizia ter mata-do mais de 50 pessoas no Grajaú,na zona sul. Ele praticou o pri-meiro homicídio por vingança,depois que um amigo foi mortoem um campinho de futebol. Ju-rado de morte por inimigos quequeriam vingança, passou a ma-tar por razões cada vez mais ba-nais, sempre que pressentia quecorria risco de ser morto. Ele che-gou a acreditar que a violência oajudaria a dominar o bairro. De-pois de um tempo, percebeu, noentanto, que homicídios ser-viam apenas para provocar no-vos homicídios. Em 2006, termi-nou assassinado por integrantesdo Primeiro Comando da Capi-tal (PCC) que passaram a ven-der drogas em seu bairro.

EPIDEMIA:

www.estadao.com.br/acervo

Das execuções do esquadrão da morte nos anos 1960 aos homicídiosordenados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) nos dias dehoje, a epidemia de assassinatos em São Paulo matou 130 mil pes-soas. Ao longo de 52 anos, como em um comportamento contagioso,os assassinatos começaram a crescer. De menos de um homicídiopor dia em 1960, chegou a quase uma morte por hora em 1999.

Nesse ano, a cidade registrou 63,5 assassinatos por 100 mil habitan-

tes, taxa semelhante à dos três anos de guerra no Iraque. A partir de2000, a exemplo das epidemias, o contágio cessou e os homicídiosdespencaram 77% ao longo de 11 anos. Neste ano, contudo, disputasincessantes entre policiais militares e integrantes do PCC mostra-ram que essa pacificação se sustentava sobre frágeis estruturas.

Como compreender essas mudanças bruscas no comportamentodos homicidas? De hoje a quinta-feira, o Estado publica uma série de

reportagens para explicar a variação dos assassinatos em São Paulo.O material é resultado de 13 anos de investigações e estudos e de

mais de cem entrevistas – muitas feitas com matadores que atuaramem diferentes períodos em São Paulo. O trabalho resultou em umatese de doutorado, defendida em 28 de agosto no Departamento deCiência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Huma-nas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

Maioria das mortes (aqui por 100mil/hab) era passional e em casa

estadão.com.br

DELEGADO FLEURYLíder do esquadrão

Assassinatos aumentam depois que passam a servistos como ferramenta de controle do crime

● Tanto no Rio de Janeiro quantoem São Paulo, o esquadrão damorte representou o começo daepidemia de assassinatos. Nãopela quantidade de homicídiosde seus integrantes, mas por co-locar em prática uma nova formade ver o mundo e lidar com as-sassinatos em sociedades emprocesso de urbanização.

O esquadrão começou no Rioem 1958 e serviu de modelo parao resto do Brasil, inclusive SãoPaulo. Policiais paulistas conver-savam com os cariocas antes dese organizar para matar. O Espíri-to Santo, Estado que liderou o

ranking dos assassinatos no Bra-sil nos anos 1980 e 1990, tam-bém teve seu esquadrão.

Considerando levantamentospoliciais do período, entre 1963 e1975 os grupos de extermínioformados por policiais mataramquase 900 pessoas no Rio (654)e em São Paulo (200) – mais doque os 20 anos de regime militar.

O que 5 décadas de homicídiosem São Paulo têm a ensinar

Dos esquadrões ao PCC, 52 anos deviolência mataram 130 mil pessoas

Online. Áudios e músicas sobrea violência e os esquadrões

www.estadao.com.br

A PM só é criada em 1969.Antes, cabia à Força Públicadefender o patrimônio doEstado. Pouco saía às ruas.

No dia 23 de novembro de1968, é morto Saponga, acusa-do de matar o investigadorDavi Parré

9/8/1967

O delegado Fleury conversacom a mãe de Saponga, queera jurado de morte acusadode matar um policial

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 14 DE OUTUBRO DE 2012 Cidades/Metrópole C9

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11,2 1973

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1978

10,01970

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Um delegado ligava para os jor-nalistas anunciando que haviaum “presunto” na estrada. A fon-te secreta tinha o apelido de Lí-rio Branco e passava a ficha cri-minal do morto. Em alguns ca-sos, os matadores deixavam aolado do corpo desenhos de cavei-ra do esquadrão da morte. Nãobastava matar. Era preciso avi-sar o público, pelos jornais, queos assassinos tentavam livrar omundo dos bandidos.

Entre 1969 e 1971, mais de 200suspeitos foram executados peloesquadrão. O efeito dessas mor-tes, no entanto, transcenderamas vítimas. Aplaudidos pela popu-lação e respaldados pelas autori-dadespaulistas e nacionais, os as-sassinos consolidaram em SãoPaulo a ideia de que os homicí-dios podiam ser usados comouma ferramenta eficaz para lim-par a sociedade dos bandidos, aomesmo tempo em que aplaca-vam o desejo de vingança de umapopulação amedrontada.

“Os efeitos dos assassinatospraticados pelo esquadrão sãosentidos até hoje. A limpeza so-cial continuou sendo defendidae praticada por grupos de exter-mínio hoje localizados principal-mente na Polícia Militar”, afir-ma o padre Agostinho DuarteOliveira, de 81 anos, na sede doInstituto Brasileiro de CiênciasCriminais, em São Paulo.

Amigo de infância do delega-do Sérgio Paranhos Fleury, comquem jogava futebol no mesmoclube da Vila Mariana, padreAgostinho conseguiu, em 1969,autorização do secretário da Se-gurança Pública, Hely Lopes Mei-relles, para ingressar no antigoPresídio Tiradentes, em São Pau-lo, onde a presidente DilmaRousseff também cumpriu penacom outros presos políticos, se-parada dos presos comuns.

Conversando com os deten-tos, padre Agostinho descobriucomo o esquadrão da morte agia.Os presos comuns eram retira-dos das celas nas madrugadas pa-ra serem exterminados e teremo corpo cheio de balas jogado emalguma estrada. Para provar oque falava, o religioso conseguiua lista oficial dos presos. Comoeles apareciam nas estradas comsuas identidades divulgadas nosjornais, bastava checar a lista ever quem deveria estar nas celas.“Eu comprava o antigo jornal No-tícias Populares e lia o nome dosmortos para saber se eram osque estavam no Tiradentes.”

Vingança. Depois da morte deSaponga, em vingança ao crimecontra o investigador Davi Par-ré, as execuções do esquadrãopassaram a se tornar corriquei-ras e banais. Jornais da épocacontabilizavam o total de mor-tos anunciados pelo esquadrão.Havia uma certa tolerância comessas ações, cujas investigaçõeseram inexistentes. Afinal, aque-les que deveriam investigareram os mesmos que matavam.

O jornalista Afanásio Jazadji,que cobria o assunto no período,lembra quando, certa noite, aten-deu um telefonema na sala de im-prensa da central de polícia queexistia no Pátio do Colégio e lhedisseram que havia quatro cor-pos jogados em um matagal emGuararema, na Via Dutra. Ini-ciante, ele foi apurar o crime embusca de um furo sem falar paraos outros jornalistas, que conti-nuaram jogando baralho. Paraevitar que concorrentes depoischegassem ao local e reportas-sem a informação aos seus jor-nais, mudou os corpos de lugarpara despistar os outros colegas.“Imagina. Naquele tempo issoera possível. Foi quando deixeide ser foca.”

A situação dos integrantes doesquadrão mudou em 17 de julhode 1970, depois da morte de ou-tro investigador. O suspeito daautoria da morte do policialAgostinho Gonçalves de Carva-lho era um jovem de 20 anos co-nhecido como Guri. No mesmodia da morte do investigador, oi-to corpos baleados foram leva-dos ao Instituto Médico-Legal.

O promotor Hélio Bicudo, quepassaria a atuar no caso do esqua-drão, descobriria, com a ajudaposterior do padre Agostinho,que quatro mortos tinham sidoretirados do Presídio Tiraden-tes. Nos dias que se seguiram, pa-ra achar Guri, Fleury e seus ho-mens foram acusados de tortu-rar os pais do suspeito para que

eles o entregassem.Guri acabou sendo encontra-

do na mata fechada de uma fazen-da no Parque do Carmo, na zonaleste. Os policiais chegaramacompanhados de jornalistasque descreveram a cena nos diasseguintes nos jornais. Guri foimorto com mais de 100 tiros emseu corpo, que ficou desfigura-do. O homicídio, anunciado aosquatro ventos pelos policiais,provocou a reação das institui-ções como o Tribunal de Justiça.

Em agosto de 1970, o depoi-mento do padre Agostinho, desobreviventes e de presos do Ti-radentes ajudaram o então pro-motor Hélio Bicudo, hoje procu-rador aposentado, e o juiz corre-gedor Nelson Fonseca a inicia-rem o processo que levaria ao in-diciamento de 35 pessoas. Sóseis foram condenadas. Apesarda dificuldade em punir, os au-

tos trouxeram à luz informaçõespreciosas.

Vieram à tona, por exemplo,daods de que traficantes de SãoPaulo eram beneficiados pormortes praticadas pelo grupo. Apromiscuidade de policiais e ban-didos da boca do lixo motivouvárias mortes do esquadrão, queprotegia traficantes amigos de ri-vais, como revelaram depoimen-tos do processo.

“A violência era tolerada por-que aparentemente ocorria emdefesa da sociedade, mas na ver-dade era usada para acobertar ou-tros tipos de crime”, lembra Bi-cudo, um dos principais respon-sáveis pelas investigações do pe-ríodo, hoje com 92 anos. “Os es-quadrões da morte acabaram se-guindo o caminho do crime. É oque costuma ocorrer. Engana-sequem acredita em um assassi-no”, diz.

● Em maio de 1970, o tenente daPolícia Militar Alberto MendesJúnior foi assassinado a coronha-das pelos guerrilheiros do grupode Carlos Lamarca depois decair em uma emboscada no Valedo Ribeira. A informação só che-gou ao Exército quatro mesesdepois, quando um integrante daVanguarda Popular Revolucioná-ria (VPR) foi torturado e apontouonde estava o corpo do oficial.

A “ameaça comunista” estavano auge. Um dos responsáveispelo cerco mal sucedido a Lamar-ca era o coronel do Exército Eras-mo Dias. Em companhia do dele-gado Sérgio Paranhos Fleury, eleparticipou da caçada à VPR, umdos grupos da guerrilha urbana.Três anos depois, em 1974, Diasassumiria a Secretaria da Segu-rança para combater o crime co-mum. Os bandidos seriam seusnovos inimigos e alvos. A torturae os assassinatos continuariamsendo as ferramentas de traba-lho de alguns policiais.

“Desde aqueles anos, as simu-lações de resistências seguidasde morte se tornariam uma dasformas de disfarçar execuções”,afirma Ivan Seixas, que hoje pre-side uma entidade de direitoshumanos. Em abril de 1971, aos16 anos, Ivan foi preso com opai, o operário Joaquim AlencarSeixas, do Movimento Revolucio-nário Tiradentes. Ambos foramlevados ao Destacamento de Ope-rações e Informações – Centrode Operações de Defesa Interna(DOI-Codi), formado por integran-tes do Exército e das Polícias Ci-vil e Militar. O pai de Ivan foi mor-to no dia seguinte, durante ses-sões de tortura. Oficialmente,policiais informaram que ele ha-via morrido em um tiroteio no diaanterior.

A caçada aos bandidos co-muns, iniciada pelo esquadrãoda morte no fim de 1968 e adapta-da na luta contra a guerrilha, le-varia tensão e medo para as peri-ferias em formação ao longo dadécada de 1970. Os novos agen-tes dos homicídios seriam gru-pos de policiais militares.

O enfrentamento era incentiva-do pelo secretário Erasmo Dias,que premiava com medalhas eelogios PMs envolvidos em tiro-teio, como conta o coronel JoãoPessoa Nascimento.

ANOS 60

O ASSASSINO

ASSASSINATOSVariação se acelera a partir demeados de 1975 e a capitalregistra em 1999 quase 1homicídio por hora. Em 1960,era menos de 1 por dia

129.278

Como secretário da Seguran-ça, coronel Erasmo Dias pre-miava policiais que se envol-viam em confrontos

O esquadrão retirava as vítimasdos presídios e, por isso, não sevinculava aos territórios. Quandoa PM passa a matar, a partir dosanos 1970, as mortes começama se concentrar nas periferias

LOCAL

EFEITOS

Com o crescimento dos assaltose o medo da população, policiaisdo esquadrão da morte passa-ram a matar sob a justificativa deque tornavam a sociedade maissegura e livre dos ladrões

O homicida deixa de ser umpária para se tornar um herói aomatar em defesa da sociedade

CABEÇA

Em vez de coibirem os roubos,os homicídios provocam a rea-ção daqueles que se sentem víti-mas dos assassinos. Vinganças edisputas territoriais criam círcu-los viciosos de violência

Vingador oficial, Fleuryinicia a onda de mortesPoliciais retiravam vítimas de presídio para executá-las até que um padre,um promotor e um juiz desvendaram o que havia por trás dos crimes

60● A epidemia começouno fim dos anos 1960 ecresceu principalmentedepois de 1975

“TINHA DE MANTER AORDEM. NÃO ACEITAVADESOBEDIÊNCIA”

CORONEL ERASMO DIASSecretário de Segurança

10A CURVAEntre 1900 e 1960, São Paulo nunca havia ultrapassado abarreira dos 10 casos por 100 mil habitantes. Os homicídioseram endêmicos e não criavam círculos de vingança

80 90 0070

● Apoio popular

● RuaSob o discursoda defesa dasociedade, poli-ciais da Rotaassumem oposto de“caçadores debandidos”

No dia 17 de julho de 1970,policiais do esquadrão encon-tram Guri, que seria mortocom mais de 100 tiros

60%da população de SP em 1970apoiavam esquadrão (Marplan)

49%apoiavam o esquadrão por consi-derarem bandidos irrecuperáveis

38%achavam que a Justiça não erasuficiente para coibir o crime

Tiroteio com apolícia é disfarcepara execuções

As mortes do esquadrãoEM 21 MESES

NOV

3

DEZ

12

FEV

12

JUL

13

JAN

8

MAR

4

ABR

6

MAI

9

JUN

2

JUL

3

AGO

4

OUT

10

SET

2

NOV

3

DEZ

9

JAN

3

ABR

2

MAR

5

JUN

5

FEV

6

1968 1969 1970

123mortos

2.351tiros

CRESCIMENTO DAS PERIFERIAS

SERRA DACANTAREIRA

PARQUEANHANGUERA

PARQUEDO IBIRAPUERA

PARQUEDO ESTADO

ÁREA URBANIZADA ATÉ 1949

ÁREA URBANIZADA ATÉ 1962

ÁREA URBANIZADA ATÉ 2002

LIMITE DA ÁREA DE PROTEÇÃODOS MANACIAIS

A EXPANSÃO DE SP

PARQUEESTADUAL

GUARAPIRANGA

PARQUEESTADUAL

DO JARAGUÁ

PARQUEECOLÓGICO

DO TIETÊ

VILAMEDEIROS

PIRITUBA

ITAIMPAULISTA

TATUAPÉ

CIDADETIRADENTES

SAPOPEMBA

VILAMARIANA

CAMPOLIMPO

MORUMBI

BUTANTÃ

LAPA

GRAJAÚ

MARSILAC

INFOGRÁFICO/AE

%HermesFileInfo:C-5:20121015:

O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 15 DE OUTUBRO DE 2012 Cidades/Metrópole C5

1981

21,7

1984

37,9 1985

36,9

1987

40,1

1986

36,5 1988

36,2

1989

41,7

1982

20,41980

18,5

1990

44,1

1983

30,5

Os homicídios passaram a seconcentrar nas periferias de nor-te a sul de São Paulo. Nos anosque viriam, os mesmos bairrosdas periferias vão liderar os ran-kings de assassinatos.

A ação territorial dos justiceiros e dos policiais militaresprovocam disputas localizadas e concentradas na periferia

Depois da PM,mortes migrampara a periferia

Bairros em área nobre da zonasul, como o Jardim Paulista, ti-nham taxa de homicídio europeia(3 por 100 mil), enquanto mortesno Jardim Ângela ultrapassavam100 casos por 100 mil.

HOMICÍDIOSforam praticados por anodurante a década de 1980 emsupostos casos de resistênciaseguida de morte envolvendopoliciais militares.

Contando com a omissão e o in-centivo da polícia, justiceiros pas-saram a matar suspeitos nosanos 1980 acreditando agir emdefesa dos trabalhadores do bair-ro e bancados por comerciantes.

A violência migra para os territórios periféricos dacidade nos anos 1980, década em que o crescimentodas taxas de homicídio alcançou 144%.

ANOS 60

Justiceiros imitam policiais ematam suspeitos para tentarmanter a ordem no bairro

ENTRE 1975 E1989, A EPIDEMIASE ACELERA:PASSA, EM 1979, ABARREIRA DOSMIL CASOS. DEZANOS DEPOIS,ALCANÇA 3.850

A recente eleição para vereadorde dois oficiais da reserva da Ron-das Ostensivas Tobias de Aguiar(Rota) mostra como, até hoje, odiscurso truculento de combateao crime tem apelo popular.Quando na ativa, o coronel Pau-lo Telhada se envolveu em 36 re-sistências seguidas de morte e ocapitão Conte Lopes, em 41.

O excesso de violência virouuma das características da corpo-ração, postura que acabou se es-tendendo a outros batalhões. Se

durante o período do esquadrãoda morte as vítimas eram tiradasde presídios, quando os homicí-dios se tornaram ferramentas dopoliciamento ostensivo os assas-sinatos migraram para os territó-rios das periferias de metrópole.

Matar se transformou em ins-trumento de trabalho de partedos PMs que tentavam controlaro crime de norte a sul de São Pau-lo. Nos anos 1980, em Guaiana-ses, na zona leste, um tenenteque pediu para ser identificadoapenas como Pereira passou amatar quando percebeu que ossuspeitos eram rapidamente sol-tos nos distritos policiais. Na zo-na sul, depois de 11 anos agindode forma violenta ao longo da dé-cada de 1980, com inúmeros ca-sos de resistência seguida de

morte, o sargento David Montei-ro conta que se enxergava comoum policial modelo. Só percebeuque estava agindo de forma equi-vocada quando o comando oafastou da rua para trabalhos bu-rocráticos. “Nesse momento a fi-cha caiu”, recorda. Ele já haviarecusado o convite de um justi-ceiro para matarem juntos.

Em 1960, quando os homicí-dios em São Paulo ainda eram en-dêmicos e as autoridades de se-gurança se dividiam entre ForçaPública, Guarda Civil e PolíciaCivil, oficialmente foi registradoapenas um óbito cometido pelasforças policiais no Estado. Cincoanos depois, em 1965, foramduas mortes.

A situação começou a mudarem 1970, no regime militar. A

PM foi criada e passou a ser co-mandada por oficiais do Exérci-to. Nesse ano, as mortes subi-ram para 28, pulando para 59 em1975, no auge da repressão.

A execução de suspeitos nãoparou de crescer, revelando odespreparo dos policiais. Só nadécada de 1980, foram 4.093 mor-tes. Longe de diminuir o crime, atruculência aumentou a desor-dem na cidade e acendeu o sinalde alerta. Em vez de aplauso, oexcesso pediria ajustes.

EPIDEMIA:

Boa parte dos justiceiros costu-mava afirmar que tinham come-çado a matar depois que familia-res foram ameaçados ou violenta-dos por bandidos locais.

A CURVA

O que 5 décadas de violência têm a ensinar

CURVA DE HOMICÍDIOS

LOCAL

JUSTIFICATIVA

L. GEVAERD/AE

70 80 90 00 10

PAULO CERCIARI/AE

Justiceiros ePMs fazemparceriapara matarEm 1987, Cabo Bruno tentou assassinarsobrevivente de chacina feita por policiais

MEDO DA MORTE E VINGANÇASPROVOCAM MAIS HOMICÍDIOS

Corpos amanhecidos no chãoviraram rotina nas periferias.Cabo Bruno (à esquerda) agiuem parceria com PMs

Nos anos 1980, a vida do justi-ceiro Clidenor Ancelmo Bri-lhante, que atuou em São Ber-nardo, acabou virando filme.

60

ABISMO

estadão.com.br

CABEÇA

Bruno Paes Manso

Opadre irlandês Jai-me Crowe chegouem fevereiro de1987aoJardim Ânge-la, na zona sul da ci-dade, para coman-dar a Igreja SantosMártires, um dos pi-lares da pacificaçãodo bairro nos anos

2000. O prédio ainda estava emconstrução quando, em dezem-bro, no ano de sua chegada, ummenino veio chamá-lo para aten-der a um homem armado, combigodes negros e grossos.

Diante dele, estava o mais fa-moso justiceiro da zona sul: Flo-risvaldo de Oliveira, ex-policialconhecido como Cabo Bruno,que não se identificou e pediu pa-ra dormir na igreja. “Era Dia dos

Direitos Humanos, 10 de dezem-bro, eu nunca me esqueço. Eunão sabia que era o Cabo Bruno.”

Em tese, Cabo Bruno deveriaestar no Romão Gomes, presídioda Polícia Militar onde cumpriapena por seus crimes. Mas, na-quela madrugada, ele buscava Pi-rulito, filho de dona Luzia, mora-dora do Jardim Ângela.

Três anos antes, Pirulito haviasido o único sobrevivente deuma chacina praticada por PMscontra quatro jovens. E testemu-nharia nos próximos dias. Paraque ficasse em silêncio, levou 15tiros. Cabo Bruno fugiria oficial-mente do Romão Gomes depoisdo atentado, na noite de Natal.“Essa é a história de Pirulito queme revelou a parceria entre osPMs e justiceiros”, diz o padre.Os detalhes da parceria foram pa-ra o túmulo de Florisvaldo de Oli-veira, morto há duas semanas.

Assassinatos praticados porpoliciais para coibir roubos aca-ram incentivando as escolhas ho-micidas dos justiceiros. Comoeram tolerados pelas autorida-des, viraram opção popular. Osjusticeiros eram bancados por

comerciantes, assim como, nadécada anterior, industriais pau-listas já haviam financiado açõesnos porões do regime militar.

A estimativa é de que os justi-ceiros tenham matado pelo me-nos mil pessoas na Grande SãoPaulo.

Conforme os assassinatoscresciam, a população das perife-rias começava a reagir aos cor-pos no meio da rua e às pequenastragédias cotidianas. Em vez deaumentar a sensação de seguran-ça, as ações homicidas acabavamarmando os espíritos e produzin-do novos assassinatos. Cada no-vo caso instigava a compra de re-vólveres, a formação de grupos

rivais e círculos de vingança.Comerciante em Diadema

nos anos 1980, Laércio Soares an-dava com duas armas na cinturapara se proteger nos campinhosde várzea da cidade. Ele e outrospequenos empresários tambémpagavam advogados para defen-der os justiceiros locais.

Com raras exceções, os justi-ceiros eram migrantes ruraisapegados aos valores tradicio-nais das pequenas cidades ondenasceram. Chegavam acre-ditando nas oportunida-des oferecidas por São Pau-

lo.Matavam aqueles que viam co-mo “bandidos”, integrantes dageração de jovens urbanos, des-cendentes de migrantes, que ne-gavam os valores dos pais e bus-cavam uma identidade própria.Jovens de uma geração que aca-bou sendo dizimada na São Pau-lo dos anos 1980 e 1990.

TV Estadão. Confira análisesobre homicídios

www.estadao.com.br/

O ASSASSINO

Boinas pretas.Truculência nasperiferias

409

● Acompanhe até quinta-feiraa série especial sobre seis dé-cadas de homicídios em SP.

● Em todos os cantos de SPDa esquerda para direita: JoãoBalaio, Jonas Félix, Diógenes eÍndio, justiceiros que durante adécada de 1980 atuaram nas dife-rentes regiões da Grande SãoPaulo. Omissão ou parceria compoliciais acabou incentivando acarreira dos matadores.

INFOGRÁFICO/AE

MORTOS PELA PM

229

1991 20120

300

600

900

1200

1500

%HermesFileInfo:C-6:20121016:

C6 Cidades/Metrópole TERÇA-FEIRA, 16 DE OUTUBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

1991

45,5

1992

40,7

1995

54,81996

55,2

1998

58,3

1999

65,3

1993

40,4

1997

54,0

1994

45,51990

44,1

2000

59,4

Nos anos 1990, nos territórios violentos, o excesso de armas ede riscos induzem a escolha homicida até em conflitos banais

Os homicídios se concentramnos bairros das periferias. Noano 2000, a taxa em Parelheiros(106 por 100 mil habitantes) é 28vezes maior do que no JardimPaulista (3,6 casos por 100 mil).

O resultado da matança de jo-vens viciados em crack é a craco-lândia no centro, que se torna umrefúgio dos jovens que queremfugir das chacinas das periferiasda cidade.

CHACINASocorreram entre 1998 e 2000.Casos em que morrem três pes-soas ou mais no mesmo evento,elas começaram a crescer de-pois de meados dos anos 1990.

EFEITO DOMINÓ:QUANTO MAISHOMICÍDIOS EMUM TERRITÓRIO,MAIOR ACHANCE DENOVAS MORTESOCORREREM

ANOS 90

O alto grau de risco, o medo ex-cessivo e a grande quantidade dearmas em circulação transforma-ram qualquer conflito em riscode vida para os jovens que se sen-tiam ameaçados.

PCC surge do mata-mata em SPe tenta criar hegemonia no crime

No auge do caos, 1 morte levava a 150Jovens moradores de bairros violentos iniciavam conflitos incessantes contra vizinhos e disseminavam os assassinatos pelas periferias

Nunca São Paulo registrou tantos homicídios quantoos 6.653 casos de 1999. O total é 30 vezes maior doque os 217 ocorridos nos anos 1960.

A mística em torno das facçõesno Rio de Janeiro começou em1981, quando Zé Bigode, cofunda-dor do Comando Vermelho, refu-giou-se no Conjunto dos Bancá-rios, na Ilha do Governador, tro-cando tiros com 400 policiaispor 10 horas até ser morto.

Com um bom fornecedor decocaína, entre 1983 e 1986 o Co-mando dominou as bocas de fu-mo tradicionais, tocadas por pe-quenos traficantes de maconha.Em 1985, já detinha 70% dos pon-tos de venda em um grande e lu-crativo mercado.

Em São Paulo, desde os anos1970, quando as taxas de crimecomeçaram a crescer, pequenascélulas isoladas de criminososse equilibravam parcamente,correndo o risco de serem caça-das por justiceiros, policiais e cri-minoso rivais.

O roubo sempre foi o negócioprincipal. O tráfico de drogas sóse fortaleceria em São Paulo de-pois dos anos 1990, com a chega-

da do crack.Entre 1981 e 1996, o roubo em

São Paulo cresceu em média 9%ao ano. Enquanto no Rio os cri-minosos se vinculavam a fac-ções que dominavam territóriosnos morros, em São Paulo os in-tegrantes do mundo do crime serelacionavam de igual para igual,como indivíduos, pisando emovos e disputando poder em ter-ritórios conflagrados, onde vi-viam sob risco de matar ou mor-rer a qualquer momento.

Nessa estrutura criminal semhierarquia, horizontal, sobra-vam oportunidadese motivospa-ra vinganças e assassinatos ba-nais. “Ninguém é melhor do queninguém” sempre foi uma fraserepetida nesse cenário igualitá-rio e instável das redes criminaispaulistas. Na prática, jovens des-confiavam de outros jovens, vis-tos como homicidas em poten-cial, e matavam motivados às ve-zes por conflitos banais.

Origem. É nesse contexto demata-mata e desordem que o Pri-meiro Comando da Capital co-meçou a se formar nas prisõesem 1993. E a se fortalecer, comdiscurso que propunha fim dasmortes de integrantes do crimee incentivo a negócios ilegais.

DE NORTE A SUL, RIXAS CRIAM AGERAÇÃO DE JOVENS MORTOS

EPIDEMIA:

Bruno Paes Manso

Aos 21 anos, César deSantana Souza sabiaque seu tempo estavase esgotando. Em1999, como ele pró-prio dizia, estava fa-zendo “hora extra naterra”. Juntamente

com os “aliados” José Idel-van dos Santos e João Car-los Queiroz, ele tentava

preservar a integridade do grupode amigos e a hegemonia nos vá-rios tipos de negócios criminaisem uma pequena área do Grajaú,na zona sul.

Depois de cinco anos de confli-tos com jovens rivais, ele calcula-va que já tinha matado mais de50 pessoas. Narrou pelo menostrês chacinas. A primeira morteque praticou foi por vingança deum colega no campinho de fute-bol. Vários conflitos se sucede-ram. “Os problemas vão brotan-do e parece que não acabammais”, explicou.

Em 2006, César e João Carlosforam queimados dentro do car-ro com outras três pessoas. A po-lícia apurou que os autores eramintegrantes do Primeiro Coman-do da Capital (PCC) que passa-ram a vender drogas no bairro.Idelvan morreu no mesmo ano,assassinado na frente do filho de6 anos.

As periferias da São Paulo dosanos 1990 são o resultado das

mortes praticadas por poli-ciais e justiceiros nas déca-das anteriores. Em 1999, osassassinatos na cidade al-cançariam seu ponto maisalto na curva, com 65 mor-tes por 100 mil habitantes,

semelhante à guerra do Iraque.Corpos nas ruas, rodinhas em

torno dos defuntos, enterros deamigos e parentes, conversas so-bre tiroteios e crimes faziam par-te da rotina e popularizaram asescolhas homicidas. No leque dealternativas dos moradores dosbairros violentos, o homicídiotornou-se ao mesmo tempo umaameaça real e uma opção de rea-ção. Foi nos anos 1990 que a en-grenagem de homicídios se azei-tou e passou a girar com maisforça. As mortes dos anos1980 chegaram como uma bo-la de neve.

Em 1990, aos 15 anos, Ale-xandreRodrigues da Silva ini-ciou sua trajetória no crimeno Jardim Ângela, na zonasul. Ele e os amigos ti-nham rivais em bairrosvizinhos. A maior dasrivalidades começouem 1995, contra osNinjas, moradoresdo Jardim Tupi.

Segundo apu-rações da polí-cia e do Minis-

tério Público, entre 1993 e 1998as rivalidades entre grupos noJardim Ângela provocaram 156mortes, sobretudo de jovens.

Mudança. A trajetória de Ale-xandre no crime terminou quan-do ele foi preso, em 1998. Repen-sou a vida e hoje está em liberda-de provisória. Virou evangélicohá quase uma década. Aos 38anos, trabalha com decoração e

é pai de duas meninas. O jovemmatador que ele foi nos anos1990 cresceu em um contextoviolento e foi resultado dasescolhas erradas que to-mou. “Eu, de verdade,sou essa pessoa que vo-cê conhece hoje. Empaz”, resume.

● No começo dos 1990, o crack– droga feita a partir da pasta decocaína com bicarbonato de só-dio e vendida em pequenas pe-dras que tornavam a dose barata– aumentou o giro das bocas e aquantidade das biqueiras nasperiferias de São Paulo. Viciadosem crack, chamados de noias,mergulharam de cabeça no con-sumo, fazendo de tudo por novasdoses. Eles se tornaram um dosalvos preferenciais dos matado-res. “Noia se mata com pedrada,não precisa nem gastar balas detão tranqueira”, dizia César Sou-za em 1999, matador do Grajaú.

As chacinas – casos em quetrês ou mais vítimas são assassi-nadas – alcançaram 95 casosanuais em 2000. E eram o retra-to da desordem generalizada. Namaior ocorrência do Estado, em1998, 12 pessoas foram mortasem Francisco Morato. Os auto-res, PMs que também faziam se-gurança, buscavam uma meninaque testemunharia contra elesna Justiça. Mataram os outrospara evitar o risco de sobraremmais testemunhas.

“É aquela coisa. Está de ma-drugada, bebendo com quemnão presta, coisa boa não deveser”, explicava José Idelvan dosSantos sobre as três chacinasque praticou nos anos 1990.

Nesse contexto de extermínio,as periferias passaram a expur-gar os consumidores para o cen-tro de São Paulo. A cracolândiase tornaria uma zona neutra, umrefúgio onde se podia traficar sobos olhos da polícia e consumir adroga sem o risco de ser assassi-nado.

Nas periferias, com revólverese medo em excesso, conflitosbanais podiam provocar esco-lhas homicidas. O aluno de umaescola em Diadema explicou oassassinato praticado por umamigo. Ele ia toda manhã levar airmã à aula e um jovem o encara-va do lado de fora da escola. Noterceiro dia, atirou e matou o jo-vem sem questionar. “Está certo.Desacreditou, tem de morrer.”

HEITOR HUI/AE 4/10/1992

60A CURVA

O que 5 décadas de violência têm a ensinar70 80 00

LOCAL

10

AGLIBERTO LIMA/AE 1/12/1998

FREDERIC JEAN/EDITORA ABRIL

REPRODUÇÃO

Em 1992, 111 são mortos porPMs na Casa de Detenção doCarandiru. Episódio vai mudara política carcerária em SP.

A chegada do crack nas bocasdas periferias aumenta a quan-tidade de pontos de venda ede conflitos.

CABEÇA

estadão.com.br

REFÚGIO

Episódio da Favela Naval, emDiadema, em 1997, revela des-preparo da PM e força coman-do a mudar a gestão da tropa.

90

TV Estadão. Confira análisessobre homicídios

www.estadao.com.br

O ASSASSINO

Chacina e crackrevelam ápice dadesordem nos 1990

Enquanto o crime no Rioera tocado por facçõesdesde 1980, só no fim dos1990 uma organizaçãomarcou presença em SP

● Acompanhe até quinta-feiraa série especial sobre seisdécadas de homicídios em SP.

Facção. Em1993, Geleiãocria o PCC comoutros presos

273

Matadores do Grajaú.Em conflitos com jovensrivais, disputas eramtravadas na periferia

PA

ULO

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/AE

7/11

/20

02

%HermesFileInfo:C-5:20121017:

O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 17 DE OUTUBRO DE 2012 Cidades/Metrópole C5

2001

57,8

2003

47,7

2004

37,3

2006

23,5

2007

17,7

2005

24,3

2008

14,8

2009

15,3 2010

14,52011

12,5

2002

50,9

2000

59,4

2012

13,3

2001

57,8

Quando todos podem matar, o homicida deixade ter poder e fica sujeito a ser assassinado.Ganham força, assim, soluções alternativas

Apesar de os homicídios teremcaído em bairros da periferia,eles continuam liderando os ran-kings de assassinato. O total decasos, contudo, cai acentuada-mente ao longo da década.

INTERVENÇÃOANTIVIOLÊNCIADO ESTADO FOIEFICAZ PORQUEMORADORES DAPERIFERIAAPRENDERAMCOM TRAGÉDIAS

O Cemitério São Luís, na zonasul, que ficou conhecido comoo “cemitério dos jovens” porenterrar muitas vítimas de ho-micídio, passou a ter áreasvagas e arborizadas.

A surpreendente queda ininterrupta dos homicídiossalvou mais de 30 mil vidas entre 2000 e o anopassado, quando as 6.653 mortes caíram para 1.403.

ANOS 2000

HOMICÍDIOSocorreram na capital em 2011.Esse número é inferior ao totalde 1980, quando 1.470 pessoasforam assassinadas em SãoPaulo.

O MESMO OCORREU EM OUTRASCAPITAIS BRASILEIRAS

Bruno Paes Manso

Natalino Pereira dos San-tos chegou a São Paulo,vindo da pequena Jar-dim Alegre, no Paraná,em 1989. Veio para traba-lhar em um frigorífico.

Separado da mulher, com ajudadas irmãs conseguiu criar os doisfilhos, Leandro e Edmar, dandoduro em diferentes empregos.No ano passado, seu filho maisnovo, Leandro Damião, foi con-vocado para a seleção brasileirade futebol, aos 22 anos.

A trajetória de Damião no es-porte está associada à pacifica-ção não só do Jardim Ângela, nazona sul, como de toda a cidade,onde homicídios despencaram apartir de 2000. Leandro Damiãofez primeira comunhão e crismana Paróquia Santos Mártires, on-de o padre Jaime Crowe passou aliderar, em meados dos anos1990, uma caminhada em defesada vida. A queda nas taxas de ho-micídio em mais de 80% permi-tiu que ele seguisse sua trajetó-ria em paz.

Em 2006, Damião jogou no ti-me de várzea do Família TupiCity, antes de se destacar no Atlé-

tico de Ibi-rama,de San-ta Catarina, echamar a atençãodo Internacional, quan-do em 2010 marcou o golque deu ao clube o títuloda Libertadores.

O presidente do FamíliaTupi City é o motoboy PauloEnoc. Em outubro de 2001,ele havia sido ameaçado demorte por integrantes da Gan-gue dos Ninjas, um dos gruposmais perigosos do bairro na épo-ca, protagonista de rixas que pro-vocaram mais de 150 assassina-tos no Jardim Ângela de 1990.

Para lidar com a situação,Enoc comprou uma arma e foiconversar com Luizinho, umdos líderes da gangue. Chegou aum pagode, assustou-se e atirou,matando Luizinho e outra pes-soa. Sumiu por um tempo, foi aju-dado pelos patrões e acabou ino-centado na Justiça por atirar emlegítima defesa.

Enoc montou o Família TupiCity para tentar ajudar as crian-ças do bairro. Entidades do Jar-dim Copacabana, como o Cio daTerra, ajudaram a levar Damiãoao time de várzea do bairro vizi-nho, visto como violento. “Mon-tamos a escolinha de futebol, or-ganizamos festas, distribuímosleite e tentamos ajudar as crian-ças daqui. A pacificação a partirdo ano 2000 foi fundamental pa-ra isso”, diz Enoc.

PCC. A queda acelerada dos as-sassinatos a partir da virada doséculo ocorreu com o aumentoda venda de drogas e da influên-cia do Primeiro Comando da Ca-pital (PCC) na região. Mas a ten-são permanece na cidade, queainda sofre ameaça de retomadada epidemia. Mesmo que ocorrapela ação de outro tipo de vírus.

O PCC de Marcola (acima) nãofoi causa da queda dos homicí-dios, mas resultado de políticasantiviolência. A facção ganhouforça por conseguir, dentro e foradas prisões, mediar mortes.

EPIDEMIA: O que 5 décadas de violência têm a ensinar

Todos perderam comhomicídios e ação doEstado surtiu efeito

70 8060A CURVA

TIAGO QUEIROZ/AE

90

LOCAL

10

VIVI ZANATTA/AE 21/11/2005 NIGEL RODDIS/REUTERS EVELSON DE FREITAS / AE 7/8/2006

No auge dos homicídios, em1999, José Idelvan, matador doGrajaú, autor de dezenas de as-sassinatos e de pelo menos trêschacinas, explicava que parariade matar se pudesse. “Mas nãotem como. Se eu parar, aquelesque querem me pegar teriam vi-da fácil e eu morreria rapidi-nho”, disse. Idelvan morreu em2006, assassinado depois que ou-tros cinco colegas foram queima-dos dentro de um carro.

A queda dos assassinatos ocor-reu porque, depois que os homi-cídios se disseminaram e se po-pularizaram, todos se prejudica-ram, incluindo os assassinos,que passaram a ser jurados demorte. Nos anos 1970 e 1980, osassassinos ainda tinham a ilusãode que seus crimes podiam exer-cer algum controle no território.

Vinte cinco anos demortes ensinaramque não era bem as-sim: a desordem ten-de só a aumentar.

Os homicídios eos assassinos, no en-

tanto, não mudaram sozinhos.Dependeram de uma força exter-na, capaz de induzir potenciaishomicidas a optar por soluçõesalternativas. Só o Estado tinha acapilaridade e a capacidade deagir com abrangência suficientepara reverter as taxas de homicí-dios em quase todas as cidadespaulistas a partir de 2000.

As políticas mais importantescomeçaram a ser executadas nosanos 1990, provocadas por acon-tecimentos trágicos. Depois des-sas ações, o mundo do crime nun-ca mais seria o mesmo.

O massacre do Carandiru,quando 111 presos morreram em1992, foi um desses episódiostransformadores.

Cinco meses depois, foi criadaa Secretaria da AdministraçãoPenitenciária, que ganhou auto-nomia em relação à Secretaria daSegurança e ampliou as vagas nosistema. Entre 1988 e hoje, o cres-cimento de presos por 100 milhabitantes foi de 770%. Passoude 51 por 100 mil habitantes noEstado para 418 por 100 mil nosdias de hoje.

Paralelamente, o sucesso dasmedidas implantadas em Nova

York, que pela primeira vez con-seguiu reduzir homicídios emcurto prazo, incentivou a mudan-ça no patrulhamento dos poli-ciais militares, que passaram aagir nos lugares com taxas maio-res de homicídio. Um dos focosera retirar armas frias das ruas,aproveitando o rigor de novasleis contra o porte.

Organização. No mundo do cri-me, o impacto dessas políticaspúblicas levou a mudanças radi-cais no comportamento de seusintegrantes. Como o homicídioprejudicava os criminosos – queestão interessados em ganhar di-nheiro roubando e traficando –,as medidas induziram a escolhasdiferentes.

O Primeiro Comando da Capi-tal foi também uma das conse-quências das políticas públicas.Com o aumento de presos e a or-ganização da facção, os debatesnas “quebradas” também aca-bou ajudando a controlar os as-sassinatos a partir de 2006.

O círculo virtuoso entrou emação. Assim como no período deascensão, no qual um homicídiopodia produzir outros homicí-dios, um assassinato a menostambém provocava redução emescala.

As caminhadas contra a vio-lência até o Cemitério SãoLuís, na região do Jardim Ân-gela, continuam até hoje.

CABEÇA

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EFEITOS

TV Estadão. Confira análisessobre homicídios

www.estadao.com.br

Os ataques praticados peloPCC em 2006 evidenciaramao público a força da facção,principalmente nas prisões.

Após desordem edor, mortes caemaceleradamente

Homicídios se tornam estorvo para todos,até para assassinos, e abrem espaço para aintervenção do Estado no crime

O ASSASSINO

● Acompanhe até amanhã asérie especial sobre seisdécadas de homicídios em SP.

Índice dehomícidiospor 100 milhabitantes

Damião. DoJardim Ângelapara a seleçãobrasileira

1.403

Jardim Ângela. Enoc com crianças do bairro: dono do time em que Leandro Damião jogou

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ENTENDER ANATUREZA DOSCONFLITOS ÉIMPORTANTEPARA DEFINIR SEESSA EXPANSÃOÉ CONJUNTURALOU ESTRUTURAL

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� Todos os homicídios registrados na capital paulista em cada um dos anos

VIOLÊNCIA

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INFOGRÁFICO/AE

ASSASSINATO COMO CONTROLEINTENSIFICA A VIOLÊNCIA

Antes do esquadrão da morte, oassassino era o pária e louco queassustava e provocava repulsa.A epidemia começou quando poli-ciais do esquadrão passaram amatar alegando defender a socie-dade. Com a ação da PM nosanos 1970, a morte de suspeitosse concentrou na periferia, mes-mo lugar onde os justiceiros ma-tavam nos anos 1980. A engrena-gem da violência passou a funcio-nar, com círculos de vingança eassassinatos. Todos perdiam. Apartir do ano 2000, com a socie-dade saturada de tragédias,abriu-se espaço para que as polí-ticas públicas tivessem mais efei-to. Os homicídios, então, caíram.

EPIDEMIA:

Homicídioretoma altacom embate‘PM x PCC’Antes em queda, índice volta a crescer apósatentados a policiais e mortes de suspeitos

Bruno Paes Manso

Oprimeiro trabalho dosoldado Paulo CesarLopes Carvalho na Po-lícia Militar foi na ba-se comunitária do Jar-dim Ângela, na zonasul, em 1998. Carva-lho tinha 26 anos e nos

anos seguintes faria parte de umdos projetos mais premiados dacorporação paulista.

Antes de começar a funcionar,a base comunitária organizoudiscussões na Paróquia SantosMártires, do padre Jaime Crowe,onde os PMs conheceram maisde 200 lideranças da zona sul noFórum em Defesa da Vida. O gru-po se juntou para reverter o qua-dro do bairro que, em 1995, haviasido considerado o mais violen-to do mundo, com 108 homicí-dios por 100 mil habitantes.

Uma das ideias surgidas foi acriação da Caminhada em Defe-sa da Vida, feita no Dia de Fina-dos, até o Cemitério São Luís, co-nhecido como o “cemitério dosjovens” pelo número de vítimasde homicídios. Os PMs da baseestavam sempre presentes.

Carvalho fazia cooper unifor-mizado pelas ruas do bairro parainteragir com a população. NaPáscoa, ele e outros policiais dis-tribuíam ovos para as crianças,concorrendo com o crime queusava a mesma estratégia. PMstambém abriram a base para inte-grantes do hip-hop organizaremcursos e oficinas.

Em 21 de junho, aos 40 anos deidade, Carvalho foi assassinadoenquanto fazia compras. O poli-cial estava de folga. Antes de ma-tá-lo, um jovem mexeu nos paco-tes do supermercado para des-viar sua atenção. Outros três che-garam atirando.

Nos dias seguintes, oito pes-soas foram mortas nos arredo-res, em crimes com característi-cas parecidas. Na morte do co-peiro Eleandro Cavalcante deAbreu, testemunhas disseramque homens com toucas ninjasem carro e moto mataram compistolas silenciosas e de calibre12 de cano serrado.

Retomada. Assim como ocor-reu em 2009, neste ano as dispu-tas sangrentas envolvendo mor-tes de policiais e de suspeitos vol-taram a mudar a tendência dacurva de homicídios, que vinhacaindo aceleradamente. Em2009, na Baixada Santista, o em-bate envolvendo matadores nin-jas já havia causado leve aumen-to de homicídios no Estado.

Neste ano, a situação come-çou a degringolar em março.Nos oito primeiros meses, os ho-micídios cresceram 15,4% na ca-pital e 6,3% no Estado. Até on-tem, 81 policiais haviam sido as-sassinados. Desses, segundo apu-ração da Polícia Civil, 39 homensda ativa e 4 da reserva foram exe-cutados. Outros 27 foram mor-tos em ocorrências esclarecidas

como roubos. Grampos mostra-ram integrantes do Primeiro Co-mando da Capital (PCC) dandoordens para matar PMs – as cha-madas “xeque-mate”.

Sequências suspeitas de mor-tes ocorreram logo após assassi-nato de policiais. Em Osasco, oi-to morreram dois dias depois doatentado a um soldado que so-breviveu. Duas semanas mais tar-de, seis pessoas foram executa-das em Guarulhos após um PMdas Rondas Ostensivas Tobiasde Aguiar (Rota) levar um tiro.

Moradores disseram que osPMs da Rota passaram na regiãoordenando toque de recolher.Parte dos assassinatos ocorreu a200 metros do atentado. Até ago-ra, os casos não foram esclareci-dos. Na semana passada, 20 mor-tes ocorreram na Baixada Santis-ta e na região de Taboão da Serradepois de atentados a PMs.

Ainda é cedo para afirmar so-bre o futuro, se a tendência é pa-ra valer ou apenas um espasmo,como explica o economista JoãoManoel Pinho de Mello (PUC-RJ), que estuda a curva de homi-cídios em São Paulo. “Isso podeser conjuntural – uma onda deconflitos fora do nível de equilí-brio – ou estrutural – quando,por alguma razão, aumenta o nú-mero e a letalidade dos confli-tos”, afirma. “Será importanteestudar a natureza desses confli-tos para evitar que algo conjuntu-ral se torne estrutural.”

Conclusões. É importante, con-tudo, prestar atenção aos ensina-mentos que os 52 anos de assassi-natos oferecem. Para os especia-listas, o principal deles é que oshomicídios não podem ser maisaceitos como resposta de autori-dades de segurança pública.

A grande quantidade de resis-tências seguidas de morte reve-lam – segundo eles – despreparoda Polícia Militar e incapacidadede prender criminosos com es-tratégias e métodos inteligen-tes. Dão brecha também paraque agentes de segurança aca-bem se tornando assassinos e in-tegrantes de grupos de extermí-nio e outras quadrilhas.

Como esta série de reporta-gens mostrou de domingo a ho-je, homicídios provocam novoshomicídios. Em vez de funciona-rem como ferramenta de contro-le, eles aumentam a desordem efazem o vírus da epidemia se es-palhar rapidamente.

O que 5 décadas de violência têm a ensinar

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A CURVA

TV Estadão. Assista aodocumentário ‘12 Tiros’

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FRASES | Leia a íntegra: www.estadao.com.br

TULIO KAHNCIENTISTA POLÍTICO“É possível apontar acontinuidade da queda nacionaldas taxas de homicídio nospróximos anos em razão defatores como a diminuição dejovens na população, oaumento do investimento emsegurança e a queda dadesigualdade no País.”

JOÃO MANOELPINHO DE MELLOECONOMISTA DA PUC-RIO“Para atingir níveis mais baixosde homicídios, seria precisomelhorar a distribuição derenda e aumentar um pouco aspenas nas idades entre15 e 18 anos. A segundaopção não me parece estardisponível.”

SÉRGIO ADORNOSOCIÓLOGO DA USP“A questão da segurança públicanão mais se restringe aoaparelho repressivo. Outraspolíticas, com apoio dasociedade civil, devem alcançaros cidadãos comuns nos bairros,solidificar laços de cooperação econtribuir para um redesenhourbano com maior equidade.”

LEANDRO PIQUETCIENTISTA POLÍTICO DA USP“As instituições do sistema deJustiça criminal de São Pauloconseguiram deter asengrenagens que tornaram oEstado um dos mais violentos doPaís. O ciclo virtuoso da políticase inicia quando o crime, queantes recompensava, deixou deser uma alternativa viável.”

ADÍLSON PAES DESOUZACORONEL DA RESERVA DA PM“(Muitos policiais) desconhecema realidade social em que vãotrabalhar, confundem autoridadecom truculência, exercício dopoder com superpoderes, comos quais podem agir segundosuas próprias regras, cujoresultado é mais arbitrariedade.”

● Zonade perigoSozinhos,quatro DPsda zona sul(92º, 47º, 37ºe 100º) regis-traram 789homicídios,ou 14,9%do total dacidade.

● AlívioCom diminui-ção geral doíndice de homi-cídios, algunsbairros quaseconseguiramse livrar total-mente dos cri-mes, mas ain-da há bolsões.

● Zonade perigoNo bolsãoda zona sul,o total demortes caipara 180, masisso ainda re-presenta 12%dos homicídiosda capitalpaulista.

● MapavermelhoCidade tinhahomicídiosespalhadospor todos osdistritos, combolsões deviolência naszonas sul,norte, lestee central.

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