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APRESENTAÇÃO Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea- lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que melhor se encaixa à organização curricular de sua escola. A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen- tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci- dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas, histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob- jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade. As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada região brasileira. Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz. Gerente Editorial História Medieval

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APRESENTAÇÃO

Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três

séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea-

lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que

melhor se encaixa à organização curricular de sua escola.

A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen-

tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci-

dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito

crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas,

histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de

dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob-

jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade.

As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante

situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos

privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de

questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada

região brasileira.

Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia

intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o

aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz.

Gerente Editorial

História Medieval

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© Editora Positivo Ltda., 2013Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora.

DIRETOR-SUPERINTENDENTE:

DIRETOR-GERAL:

DIRETOR EDITORIAL:

GERENTE EDITORIAL:

GERENTE DE ARTE E ICONOGRAFIA: AUTORIA:

ORGANIZAÇÃO:EDIÇÃO DE CONTEÚDO:

EDIÇÃO:ANALISTA DE ARTE:

PESQUISA ICONOGRÁFICA:EDIÇÃO DE ARTE:

CARTOGRAFIA:ILUSTRAÇÃO:

PROJETO GRÁFICO:EDITORAÇÃO:

CRÉDITO DAS IMAGENS DE ABERTURA E CAPA:

PRODUÇÃO:

IMPRESSÃO E ACABAMENTO:

CONTATO:

Ruben Formighieri

Emerson Walter dos Santos

Joseph Razouk Junior

Maria Elenice Costa Dantas

Cláudio Espósito GodoyNorton Frehse Nicolazzi JuniorAriete NasuliczLysvania Villela CordeiroRosana FidelixTatiane Esmanhotto KaminskiVictor Oliveira PuchalskiAngela Giseli de SouzaJulio Manoel França da SilvaAngela Giseli / André Müller / Divanzir Padilha / Nilson MüllerO

2 Comunicação

Danielli Ferrari Cruz / Expressão Digital© 2001-2009 HAAP Media Ltd/nkzs’s; © Wikimedia Commons/Spoladore; © 2001-2009 HAAP Media Ltd/theswedish’s; © Shutterstock/ilker canikligil; © Dreamstime.com/Lee SniderEditora Positivo Ltda.Rua Major Heitor Guimarães, 17480440-120 Curitiba – PRTel.: (0xx41) 3312-3500 Fax: (0xx41) 3312-3599Gráfica Posigraf S.A.Rua Senador Accioly Filho, 50081300-000 Curitiba – PRFax: (0xx41) 3212-5452E-mail: [email protected]@positivo.com.br

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@HIS1246Estandarte de Ur:

a guerra entre

os povos da

Mesopotâmia

@HIS1246

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)

(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

N641 Nicolazzi Junior, Norton Frehse.

Ensino médio : modular : história : história medieval / Norton Frehse Nicolazzi Junior ; ilustrações Angela Giseli ... [ et al. ]. – Curitiba : Positivo, 2013.

: il.

ISBN 978-85-385-7197-1 (livro do aluno)ISBN 978-85-385-7198-8 (livro do professor)

1. História. 2. Ensino médio – Currículos. I. Giseli, Angela. II. Título.

CDU 373.33

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SUMÁRIO

Unidade 1: Transição da Antiguidade para a Idade Média na Europa

Unidade 3: Árabes

Unidade 2: Império Bizantino

Unidade 4: Transição da Idade Média para a Idade Moderna

Conceito histórico 6

Feudalismo 7

Política, economia e religião 10

Outro feudalismo: o caso do Japão 14

Outra Idade Média 33

Árabes 33

Política e economia 36

Religião: o surgimento do Islam 36

Cultura e influência árabe-islâmica para

o Ocidente 40

Outra Idade Média 20

Império do Oriente 21

Política, economia e religião 23

Influências bizantinas 27

Cruzadas 46

Renascimento Comercial e Urbano 53

Formação da burguesia 55

Crise do século XIV 55

Transição do feudalismo para o capitalismo 58

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História Medieval4

Transição da Anti-guidade para a Idade Média na Europa

1

Diz a lenda que, em uma época remota, havia um Império tão grandio-

so, tão glorioso, que todas as terras às margens do Mar

Mediterrâneo estavam sob seu domínio. Aquele Império era tão rico

que nele foram construídas cidades muito sofisticadas, cidades que

pareciam metrópoles contemporâneas: com magníficas construções

e ruas de trânsito fervilhante; o comércio era ativo e diversificado; a

vida social era dinâmica, com diversas festas e torneios.

Os habitantes daquele Império estavam organizados por um conjunto

de regras e todos viviam muito bem, declarando-se os verdadeiros

homens civilizados. Isto é, eles consideravam-se mais refinados e

mais cultos do que todos os outros homens. Aliás, aqueles que não

faziam parte do Império, vistos como rudes e selvagens, eram

chamados de “bárbaros”.

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Ensino Médio | Modular 5

HISTÓRIA

Um dia, quando os moradores do Império estavam desatentos, uma horda de “bárbaros” surgiu dos bosques vizinhos, que ficavam fora dos limites imperiais, e invadiu suas cidades e propriedades rurais. Após a invasão, não sobrou “pedra sobre pedra” do Império: as cidades foram saqueadas e destruídas, as plantações foram reduzidas a cinzas. Acabava, assim, um dos mais belos e ricos impérios que já existira.

O relato acima poderia ilustrar o fim do Império Romano do Ocidente, pois se acreditou que, com as invasões dos povos “bárbaros”, todos os vestígios da civilização romana foram completamente arrasados. As invasões anunciaram o fim de um período de grandes realizações e, consequentemente, o início de um período de “trevas”.

Porém, não se pode aceitar que o Império Romano deixou de existir simplesmente devido às invasões “bár-baras”. Tampouco se deve considerar que o fim do Império Romano significou, de maneira precisa, o fim de um modelo de organização da sociedade e o surgimento de outro completamente diferente.

Apesar disso, durante muito tempo repetiu-se essa versão da História, uma versão que, se não é equivocada, é pelo menos incompleta. Por isso, nesta unidade é apresentada uma História da Idade Média vista sob outro ponto de vista, de um prisma que privilegia a Idade Média como um processo histórico no qual “as mudanças não ocorrem de uma única vez, em todos os setores da sociedade e em um só lugar”.

Assim, de acordo com o historiador medievalista Jacques Le Goff, a Idade Média é fruto de um processo de aculturação no qual, pouco a pouco, misturaram-se os costumes dos romanos e dos “bárbaros”.

Desde a fundação de Roma, em 753 a.C., seus habitantes cultivaram grãos e mantiveram criações de animais, como carneiros e ovelhas. Os “bárbaros”, nas terras ao norte das fronteiras romanas, praticavam a caça como meio de subsistência. Os costumes desses povos, ao serem continuamente misturados e adaptados, deram origem à sociedade feudal

Detalhe – Tosquia das ovelhas. Mês de julho

Detalhe – A caçada do javali. Mês de dezembro

LIMBOURG, Herman, Paul, Johan. As ricas horas do duque de Berry. 1410 -1416. Museu Condé, Chantilly. Detalhes das iluminuras dos meses de julho e dezembro.

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História Medieval6

Os historiadores Burckhardt (imagem de cima) e Michelet reforçaram a oposição entre uma Antiguidade repleta de realizações e uma Idade Média negra na qual “não houve nada verdadeiramente bom”. Michelet dizia que “não houve nenhum compromisso” durante “a noite da Idade Média”, que só acabou com o despertar do dia da Renascença. Para Burckhardt, o Renascimento surgiu para extinguir o véu que encobria os espíritos, um véu que “era um tecido de fé e de preconceitos, de ignorância e de ilusões”

Latin

Stoc

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Tradicionalmente, o início da Idade Média está situado no século V da Era Cristã. Mas o processo que provocou as modificações que transformaram a fisionomia da Europa Ocidental iniciou-se muito antes daquele século, bem como se prolongou depois dele, sendo arbitrário e falso fixar, com excessiva precisão no tempo, o seu início.

Estabelecer uma data exata para o início da Idade Média é, portanto, tarefa imprecisa e autoritária. O mesmo ocorre quando as “invasões bárbaras” são identificadas como causa que determinou o fim do Império Romano do Ocidente, anunciando o começo do Período Medieval.

A ideia de “invasões” é rejeitada por vários historiadores, que defendem que, na realidade, ocorreram deslocamentos de povos que buscavam melhores condições de vida dentro das fronteiras do Império Romano. A aculturação foi recíproca: romanos e “bárbaros” trocavam tanto produtos como costumes. É importante destacar que tais deslocamentos e trocas foram, ao mesmo tempo, pacíficos e violentos.

Outro obstáculo, recorrente nas análises da Idade Média, diz respeito às periodizações adotadas para dividir a época medieval. Geralmente, fala-se em Alta Idade Média e Baixa Idade Média, o que não deixa de ser um reflexo da própria mentalidade medieval: alto como símbolo daquilo que é antigo, um passado venerável, e baixo simbolizando o que é recente, porém decadente e imperfeito.

A periodização alto/baixo pretende caracterizar um longo período históri-co com base no juízo de valor (julgamento sem compromisso com o ideal da neutralidade) de algumas pessoas. As pessoas, no caso, eram humanistas dos séculos XIV e XV, que “tinham o sentimento de que a Idade Média era um obs-curo período intermediário entre a Antiguidade e o presente em que viviam” (LE GOFF, 2008, p. 27).

Os humanistas denominaram aquele período de medium tempus, o tempo do meio (período intermediário). É perceptível que tal denominação assumiu um caráter altamente pejorativo: a palavra meio deriva do latim medius, mesma raiz latina da palavra médio, que é sinônimo de mediano, de medíocre. De acordo com o Dicionário Aurélio, medíocre é um adjetivo que indica a qualidade daquilo que não tem importância, que é ordinário e vulgar.

Logo, para os humanistas, a Idade Média foi um período sem importância, um período medíocre. O caráter pejorativo em relação ao medievo europeu data do século XIV, mas somente no século XIX é que foram estabelecidas as balizas cronológicas que determinaram o seu fim. Historiadores oitocentistas, como Jakob Burckhardt (1818-1897) e Jules Michelet (1798-1874), contribuíram para a escolha do século XIV como o fim da Idade Média.

Conceito histórico

COUTURE, Thomas. Retrato de Jules Michelet (1798-1874). 1 óleo sobre tela. Museu Carnavalet, Paris, França.

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Ensino Médio | Modular 7

HISTÓRIA

Já foi salientado que a fixação de datas precisas para definir o início e o fim da Idade Média acaba, invaria-velmente, sendo uma tarefa falsa, incompleta e arbitrária. Para o historiador medievalista José Luis Romero, o processo de mudanças que culmina na Idade Média começa antes de 476 e continua depois dessa data.

O historiador medievalista Jacques Le Goff defende a ideia de “uma longa Idade Média”, que se estendeu muito além de 1453. A esse respeito, veja o que disse Le Goff em entrevista à revista francesa L’Histoire, publicada em outubro de 1999.

[...] Penso que o que devemos compreender como a verdadeira Idade Média é, simultaneamente, uma idade de trevas e uma idade de ouro. Acrescentemos – para estender isso até o século XIX! – que o que herdamos desse período, no que concerne ao ensino e à pesquisa, delimita a Idade Média, a qual iria da decomposição do Império Romano e do mundo antigo, no século V, até o triunfo do humanismo, no fim do século XV, um monstro cronológico!

[...] O Renascimento não é a ruptura absoluta, decisiva, que pretendeu ser: há uma longa Idade Mé-dia que iria até o fim do século XVIII. Pode-se dizer que a Idade Média só teve fim com a Revolução Francesa e a Revolução Industrial!

LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 29.

1. Para o historiador Jacques Le Goff, a Idade Média foi apenas um período de “trevas”? Justifique a res-posta.

2. Tradicionalmente, a cronologia estabelece como início e fim da Idade Média os anos de 476 e 1453, res-pectivamente. O historiador Jacques Le Goff concorda com essa periodização? Justifique sua resposta.

Já f i li

Feudalismo

A desintegração do Império Romano do Ocidente não ocorreu, exatamente, no ano de 476. Os dois séculos anteriores já indicavam que uma crise social, econômica e política se abatia sobre os territórios romanos. Desse modo, parte-se do princípio segundo o qual, desde o século III, uma transição foi, gradualmente, substituindo o modelo de organização do Império Romano por outro modelo, resultado de um processo de aculturação entre os costumes romanos e os costumes dos povos “bárbaros”.

É importante lembrar que, com as conquistas territoriais romanas, os latifúndios predominaram. Mas, para que as grandes propriedades rurais pudessem se manter, fazia-se necessária a mão de obra escrava, que foi obtida, principalmente, entre os povos conquistados. Porém, a expansão territorial e as conquistas deixaram de ocorrer a partir do século III, gerando falta de trabalhadores para abastecer os latifúndios.

Para esses historiadores, o Renascimento representou uma ruptura com a Idade Média, bastando, então, escolher uma baliza cronológica precisa para marcar o fim da “Idade das Trevas”. Decidiu-se que o ano de 1453 marcaria o fim da Idade Média, exatamente a data na qual a cidade de Constantinopla foi tomada pelos turco-otomanos, fato que representou o fim do Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino.

Portanto, tradicionalmente (veja que esse tópico começou com o emprego dessa mesma palavra), a Idade Média é concebida como o período de tempo entre o fim do Império Romano do Ocidente (476) e o fim do Império Romano do Oriente (1453).

Expansão

territorial

romana

@HIS951

Invasões

germânicas

no século III

@HIS1139

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História Medieval8

A aldeia feudal e as terras ao seu redor consistiam no núcleo da sociedade medieval. Nela, os servos que trabalhavam para os seus senhores eram a base de toda a sociedade feudal

Os agricultores ou, simplesmente, os servos, compunham o grupo dos laboratores, ou aratores, aqueles que eram ligados ao trabalho braçal

A diminuição da oferta de mão de obra foi solucionada pela progressiva libertação dos escravos e sua substituição por uma nova relação de servidão. A servidão baseava-se na distribuição de lotes de terras aos escravos “libertados”, denominados aqui de servos.

O novo modelo de organização que passou a vigorar no decadente Império Romano foi denominado de colonato, do latim colonatus, um rendeiro, que recebia um pedaço de terra pela qual deveria pagar uma renda periódica. No colonato, os agricultores, sem serem escravos, estavam perpetuamente ligados à terra, bem como os seus descendentes (a regra romana do partus sequitur ventrem, sob a qual os filhos seguiam a condição da mãe pelo nascimento, permaneceu durante a Idade Média).

Durante a Idade Média, o sistema do colonato romano mesclou-se com costumes “bárbaros”, originando outro modelo de organização econômica, política e sociocultural que, posteriormente, foi denominado de feudalismo. De maneira geral, considera-se que o feudalismo consolidou-se a partir do século XI, vigorando até o século XIII e, a partir daí, entrou em decadência.

Para Silva, como o feudalismo foi um modelo que apresentou diversas particularidades, deve ser considerado como “um conceito histórico construído com o intuito de servir de ferramenta teórica para o estudo de determinado período na formação do Ocidente”. Ou seja, serão apresentadas algumas características gerais do feudalismo, lembrando que, de acordo com a época e com a região onde ele existiu, pode haver diferenças.

Partindo do princípio de que o feudalismo é fruto da fusão de costumes romanos com costumes “bárbaros”, é fundamental lembrar que nenhuma das duas sociedades era socialmente igualitária. Logo, a sociedade feudal não foi livre das desigualdades. Aliás, a existência do sistema feudal fundou-se exatamente nas desigualdades.

Nesse sentido, a propriedade de terras, da qual dependia a sobrevivência da sociedade feudal, é uma das principais características das desigualdades do feudalismo. As relações de propriedade de terra definiam a própria organização social: dividida em ordens e estamentos de acordo com suas funções.

As três ordens que formavam a sociedade feudal eram: oratores, bellatores e laboratores ou ara-tores. Entre as três ordens imperava a dependência de homem para homem, o que definiu, de fato, a hierarquia da sociedade feudal.

Servidão é a condição daque-

le que é servo, que se prende

à obrigação de prestar serviços

e/ou tributos. Servo, do latim

servus, significa escravo. Na prá-

tica, apesar de considerados ho-

mens livres, os servos não eram verdadeiramente livres, pois eram dependentes de seus senhores.

Iluminura do século XV representando uma cena rural; Pintura a bico de pena, folha de ouro sobre papel vegetal, 21cm x 15 cm. Coleção Rothschild, Museu de Israel, Jerusalém.

Iluminura do século XIV. Lavoura com bois. Imagem retirada do livro Luttrell Psalter, [ca. 1325-1335]. Biblioteca Britânica, Londres.

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Ensino Médio | Modular 9

HISTÓRIA

Relacionados ao campo militar, aqueles que lutavam e participavam de duelos e torneios, os cavaleiros e senhores, eram chamados de bellatores

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No ritual da homenagem, o vassalo, de joelhos, estendia suas mãos para que o suserano as beijasse ou as fechasse entre as suas próprias mãos. No ritual da investidura, ao vassalo era entregue um saquinho contendo terra ou um graveto de árvore que representava o feudo outorgado

De acordo com o historiador Guy Fourquin, a dependência que gera hierarquia entre indivíduos é a base do feudalismo. Para Fourquin, “um homem, o vassalo, confia-se a outro homem, que escolhe para seu amo, e que aceita esta entrega voluntária. O vassalo deve ao amo fidelidade, conselho e ajuda militar e material. O amo, o senhor, deve a seu vassalo fidelidade, proteção, sustento”. Mas, qual o motivo que leva alguém a ser vassalo de um senhor?

A historiadora Flávia Lages de Castro afirma que o motivo de alguém estar sob o senhorio de outra pessoa é a sobrevivência. Uma sobrevivência baseada na fidelidade, na hierarquia e na honra, valores característicos da Idade Média. Esses valores são observados nas relações de dependência entre indivíduos: a vassalagem e a servidão.

A vassalagem consistia em uma relação de dependência política, que ligava um nobre ao seu senhor por meio de uma cerimônia denominada homenagem. A homenagem era um ato que simbolizava a autoentrega, pela qual o nobre se comprometia na fidelidade ao seu senhor, obrigando-se a combater ao seu lado e a prestar todo tipo de ajuda.

A servidão, que podia assumir duas formas de sujeição, a do indivíduo e a da terra, estabelecia a relação entre o servo e o senhor. Ao receber um pedaço de terra em servidão, o servo passava a dispor do usufruto da propriedade, mas devia reconhecer que ela era domínio de seu senhor. A investidura era o ritual no qual o senhor entregava simbolicamente a terra ao vassalo.

A dependência manifestada por rituais como a investidura e a homenagem eram indispensáveis em uma sociedade em que os sistemas jurídicos eram consuetudi-nários, isto é, baseavam-se nos costumes. Os rituais, portanto, eram cerimônias públicas que tornavam oficiais os contratos realizados entre vassalos e suseranos.

Tanto a homenagem como a investidura exigiam que fossem feitos juramentos: jurava-se lealdade. O juramento assumia um caráter sagrado, de pacto perpétuo, como nos casamentos. E como os casamentos naquela época, esses contratos não deveriam ser rompidos, pois se acreditava que eram eternos.

Na prática, porém, havia algumas possibilidades de se romper um contrato, como no caso de um vassalo devolver o feudo recebido (que deveria ser feito com a devolução do objeto que simbolizou o recebimento da terra) ou quando uma das partes era exco-mungada pela Igreja (pois nenhum cristão podia ter relações com um excomungado).

Assim, pode-se concluir que o feudalismo foi um sistema de organização po-lítica, econômica e social que, a despeito das diversidades existentes, baseou-se na propriedade da terra e na dependência entre indivíduos. Ou seja, a sociedade feudal estava organizada com base na desigualdade.

Iluminura do século XV. FROISSART, Jean. Crônicas de Froissart (volume IV, Parte 1). 1470-1475. Biblioteca Britânica, Londres.

Iluminura do século XV. D’ANJOU, René. Tratado da forma e especificações sobre os torneios. Biblioteca Nacional, Paris, França.

Mestre Cardeal de Bourbon. Vida e milagres do Monsenhor São Luis. Paris [ca. 1482]. Iluminura sobre pergaminho, 37 cm x 21,5 cm. Biblioteca Nacional da França, Paris. Detalhe.

Relações de

vassalidade

@HIS874

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História Medieval10

Considerando a Idade Média como o fruto de um processo de aculturação no qual, pouco a pouco, misturaram-se os costumes romanos e os “bárbaros”, deve-se salientar que a organização político- -econômica do período começou a se desenvolver a partir dos séculos IV e V, consolidando-se entre os séculos XI e XIII, para se desfazer ao longo dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. Note que o intervalo histórico privilegiado é muito mais amplo do que a tradicional periodização empregada à Idade Média, do século V (476) ao século XV (1453).

Do ponto de vista religioso, também ocorreram mudanças, como a expansão cristã na Europa (séculos IV a X), o surgimento e a expansão do islamismo (a partir do século VII), a sistemática perseguição aos “infiéis” e hereges (séculos VIII a XVIII), a divisão da Igreja Cristã (século XI) e a negação do predomínio intelectual da Igreja Católica (séculos XV a XVIII).

O processo histórico de mudanças ocorridas na Europa Ocidental entre os séculos IV e XI, período ao qual se atribui o desaparecimento das cidades e o fim das atividades comerciais, é repleto de im-portantes detalhes. Para compreender as transformações que propiciaram a consolidação do sistema feudal, devem ser levados em conta esses detalhes, que são muito esclarecedores.

A decadência das cidades, por exemplo, pode revelar muitas características do feudalismo. Nesse sentido, é importante lembrar que, no Império Romano, as cidades eram a base do próprio Estado, estando o campo diretamente vinculado aos centros municipais. O historiador Henri Pirenne chegou a afirmar que “o campo não era outra coisa que um território da cidade; que não existia sem ela, que só produzia para ela e por ela estava governado”.

Uma confluência de fatores (aproximação dos povos “bárbaros”, fragmentação do poder político em reinos feudais efêmeros, abandono dos centros urbanos, etc.) levou as cidades antigas à decadência. Porém, há que se destacar que, por mais arruinadas e despovoadas que se encontrassem, as cidades não perderam toda a sua importância.

Os templos greco-romanos haviam sido apropriados para novas funções: foram reutilizados como igrejas, ou as próprias igrejas foram construídas sobre eles. Os anfiteatros foram abandonados, pois o cristianismo proibiu o circo. Na cidade de Nimes, sul da França, os muros do anfiteatro serviram como defesa para a aldeia que passou a existir entre seus escombros.

Assim, ainda havia moradores nas cidades convertidas, basicamente, em centros religiosos. Esses poucos moradores encarregavam-se de prover a subsistência do clero. As mudanças e adaptações ocorridas nas cidades refletiram diretamente nas atividades econômicas. O comércio, propriamente dito, deixou de existir.

Sem comércio, não havia a necessidade de moedas. O escritor Oscar Pilagallo acrescenta que “se algo faltasse, ficava mais fácil dar um pulo

até a aldeia vizinha e recorrer ao velho es-cambo”, já que “não havia como nem por que produzir excedentes para comerciali-zar”. Em suma, praticava-se o que alguns economistas chamam de “economia natu-ral”, ou “economia fechada”. Nesse tipo de economia as unidades bastam-se a si mesmas porque produzem quase tudo de que necessitam, não há trocas monetárias (que envolvam dinheiro) nem de bens ou, quando existem, as trocas são diretas.

Política, economia e religião

A quase autossuficiência dos feudos implicou o fim do comércio, isto é, com cidades menos populosas e menos importantes, os produtos rurais e artesanais que eram vendidos nos mercados urbanos perderam seus consumidores. Os camponeses, sem mercado, produziam o mínimo necessário para a sua sobrevivência

Iluminura do século XV. CRESCENZI, Piero de Bolonha. Imagem original no “Livro das Profissões Rurais”. Biblioteca Britânica, Londres.

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Ensino Médio | Modular 11

HISTÓRIA

As trocas diretas, ou escambo, consistiam em permuta de grãos, ovos, queijo, carnes defumadas, tecidos ou alguma outra matéria-prima. Apesar disso, os historiadores, em geral, concordam que as moedas não deixaram de existir, apenas perderam a importância, mas continuaram servindo como instrumento de trocas e medida de valores.

Com as atividades econômicas e políticas espalhadas no espaço rural, estabeleceu-se, aos poucos, um novo modelo de organização, que culminou no sistema feudal.

O senhor feudal, ao ceder um pedaço de terra ao servo, exercia seu poder político ao mesmo tempo que as relações econômicas de tipo natural eram reforçadas. Da terra o servo tirava seu sustento e pagava seu senhor (com produtos e/ou com dias de trabalho). Não havia a necessidade de moedas. Logo, a terra, e não o dinheiro, era o principal indicador de riqueza. Da riqueza material, diga-se de passagem.

Obrigações e dependências nas relações de suserania e vassalagem:

O pagamento feito pelo servo para a utilização de propriedades do seu senhor, como forno, moinho, fer-ramentas, etc., era chamado banalidades.

A corveia era a obrigação de o servo prestar trabalho ao seu senhor.

A capitação era o imposto por cabeça, isto é, taxa paga por cada servo que morava em um feudo.

Parte da produção do servo deveria ser entregue ao senhor, consistindo na taxa da talha.

Quando um servo morria, seus filhos deviam pagar a taxa da mão-morta para garantirem o “direito” de permanecerem trabalhando nas terras do seu senhor.

Os servos também eram obrigados a prestar serviço militar em caso de guerras ou batalhas e dar hospi-talidade ao seu senhor.

Em contrapartida, o senhor cedia ao servo o direito de explorar um pedaço de terra e deveria garantir a ele segurança.

A riqueza espiritual não dependia de dinheiro, nem de terra. Entretanto, falar em riqueza espiritual não significa fazer referência à profusão de deuses que caracterizou o paganismo na Antiguidade, mas, sim, à exuberância de práticas, crenças e dogmas religiosos que caracterizaram a Idade Média. É essa riqueza que permite a reflexão a respeito da atitude religiosa dos homens e das mulheres medievais.

Os antigos romanos, assim como os povos “bárbaros”, eram politeístas. No século IV, o cristianismo foi tolerado (313) e tornou-se a religião oficial do Império Romano (380). Porém, isso não significa que o monoteísmo foi incorporado e aceito por todos. As antigas práticas e crenças não foram simplesmente abandonadas por um decreto imperial (Édito de Tessalônica).

O feudalismo tinha na propriedade rural o centro de poder político e econômico que um senhor exercia sobre os camponeses e artesãos que viviam nas suas terras. Feudos como o da imagem eram praticamente autossuficientes. Enquanto algumas mulheres se aquecem diante do fogo no interior da habitação, dois homens trabalham no corte e no transporte de lenha. Entre a habitação e a torre de estocagem de grãos, existem alguns animais confinados. Em um dos lados da baia de ovelhas estão barris de cerveja e, do outro lado, aparecem quatro colmeias de abelhas

LIMBOURG, Herman, Paul, Johan. As ricas horas do duque de Berry. 1410-1416. Museu Condé, Chantilly. Detalhe das iluminura do mês de fevereiro.

Obrigações e

dependências

dos servos

para com seus

senhores

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História Medieval12

O historiador Jacques Le Goff afirma que um monoteísmo puro não poderia se instaurar solidamente em um mundo como o europeu ocidental.

Leia, a seguir, a justificativa de Le Goff:

[...] Os homens e as mulheres dessas regiões sempre foram pessoas com o hábito de se rodear de per-sonagens sobrenaturais, para não dizer divinas. Distingamos sobrenatural e divino porque aquilo que permitiu a sobrevivência de um grande número dessas personagens no interior de um sistema cristão foi precisamente o fato de não serem de natureza divina e, por conseguinte, não fazerem sombra ao novo Deus. Em particular, o mundo antigo era cheio de demônios. Na origem, o dáimon, uma palavra grega, pode ser bom ou mau. O cristianismo medieval reclassifica essa família de bons e maus demônios em anjos e diabos.

LE GOFF, Jacques. O Deus da Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 28.

Muitos homens e muitas mulheres medievais aceitavam o cristianismo como uma religião de iguais e que Deus, bom, grande e incorruptível, garantiria a vida eterna aos fiéis virtuosos. Porém, para os problemas da vida cotidiana aquelas pessoas buscavam ajuda junto aos outros deuses e demônios.

Na Idade Média o monoteísmo cristão conviveu com as idolatrias pagãs. O bispo de Turim, Máximo (que morreu entre 466-470), destacou que a idolatria ainda era praticada no norte da Península Itálica, “apesar de que já estava muito cristianizada”. Não só no campo, mas também nas cidades, uma parte significativa da população continuava pagã. Santo Agostinho (354-430) relatou ter ouvido fiéis dizerem que, “de fato, visito ídolos, consulto pessoas inspiradas e adivinhos, mas não abandono a Igreja de Deus. Sou católico”.

Em busca de sua hegemonia, a Igreja Cristã precisou lutar contra as práticas pagãs, que foram então consideradas como heresias. Heresias eram todas as ideias ou atos que contrariavam os dogmas do cristianismo. Assim, os hereges (aqueles que praticam heresias) foram perseguidos e punidos durante toda a Idade Média.

Pode-se compreender a religiosidade medieval e a expansão e consolidação do cristianismo por meio da crença em um único Deus, que é antropomórfico; um deus que não tem concorrentes e que, de fato, não é bom nem mal. Enfim, “quando chega o cristianismo, Deus assume um D maiúsculo”, marcando claramente a tomada de consciência da passagem do paganismo greco-romano para o monoteísmo.

O Deus cristão tem forma humana: de acordo com o Gênesis, no sexto dia da criação do mundo o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus (“e Deus criou o homem à sua própria imagem; à imagem de Deus, Ele o criou; e Ele criou macho e fêmea”). O historiador Jacques Le Goff salienta que “o Deus da Idade Média é um Deus oficial”, sem concorrentes. Le Goff afirma que o Deus da Bíblia é todo-poderoso e justo, mas é também “um Deus de cólera, um Deus de vingança”: essa imagem permaneceu presente durante toda a Idade Média.

Além da concepção medieval de Deus, é preciso atentar para o fato de que o paganismo continuou existindo, paralelamente à consolidação do cristianismo. O termo pagão deriva da palavra latina paganus, que designava o aldeão, aquele que vivia no campo. Com o tempo, pagão passou a representar aqueles que não foram batizados ou que eram adeptos do politeísmo.

O cristianismo, para assegurar sua hegemonia, passou a condenar qualquer prática ou crença que remetesse aos costumes pagãos. Mas, quais eram os “costumes pagãos”? Basicamente, a superstição, a magia e a bruxaria. Ou seja, a crença de que certos atos provocavam, de maneira oculta e automática, consequências boas ou ruins. O abade Jean-Baptiste Thiers resumiu em seu Tratado das superstições, publicado em 1679 que: “quem diz superstição, diz necessariamente pacto com o Demônio”.

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Ensino Médio | Modular 13

HISTÓRIA

À esquerda do desenho aparece uma pilha de tábuas. É bem possível que a figura ao lado, captada pelo artista no ato de carregar algumas tábuas, não tivesse boas intenções. Acusado de roubo, ele é levado ao ordálio por dois agentes de justiça em trajes cerimoniais, à direita do desenho, um dos quais segurando um pergaminho judicial enrolado. O suspeito está agora descalço e estende as mãos para o macabro teste. Terá de segurar o ferro em brasa e dar nove passos. Depois, as queimaduras serão tratadas e per-manecerão cobertas por uma semana. Se os ferimentos estiverem ficando bons, quando as bandagens forem removidas, ele será julgado inocente. Mas se os ferimentos estiverem infeccionados, o que pode muito bem resultar em sua morte de qualquer forma, ele sofrerá a penalidade para o roubo no ano 1000: o enforcamento até a morte.LACEY, Robert. O ano 1000: a vida no início do primeiro milênio. Rio de Janeiro: Campus, 1999. p.147.

A brutalidade e a selvageria dessa civilização revelam-se na maneira de punir os crimes. O castigo deve ser espetacular. A pena de morte é, com efeito, raramente aplicada, atingindo apenas um pequeno número de delitos. Geralmente, resolve-se isso pagando multas. Mas quando ela é aplicada, o é em público e com aparato; é preciso que o sangue corra e que tudo seja muito cruelmente visível.DUBY, Georges. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos. São Paulo: Fundação da Editora UNESP, 1998. p. 115.

De acordo com a imagem e com os textos, responda às questões a seguir:

1. É possível estabelecer alguma relação entre os costumes medievais abordados nos textos e os costumes culturais dos chamados povos “bárbaros”? Justifique a resposta.

2. Qual a razão que justifica as punições serem realizadas publicamente?

3. Os dois textos apresentam informações sobre costumes medievais. Assim, de acordo com essas informações, é possível afirmar que a sociedade feudal da Idade Média era pautada pela noção contemporânea de razão? Justifique a resposta.

Nesse processo histórico, a Igreja Católica se firmou como uma das mais importantes e pode-rosas instituições de toda a Idade Média. Os clérigos assumiram grande destaque social (eram os representantes de Deus na Terra) e a Igreja desfrutou de poderes consideráveis, como o recolhimento de alguns impostos e a autoridade para conduzir certos julgamentos e para excomungar cristãos desobedientes.

Ilustrações dos capítulos mensais do Calendário de Trabalho de Julius [ca. 1020], Catedral de Canterbury, cortesia da Biblioteca Britânica.

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História Medieval14

O Castelo de Himeji, construído em meados do século XIV, foi projetado para garantir a segurança contra eventuais ataques. A Garça Branca, como é conhecido, possui um complexo sistema de labirintos e passagens secretas. Por ser fortemente protegido, o castelo nunca sofreu qualquer tentativa de invasão

Outro feudalismo: o caso do Japão

Durante a Idade Média, na Europa Ocidental, vigorou um modelo de organização político-econômica e social que é denominada feudalismo. Entretanto, o mesmo termo também é empregado para designar outras realidades históricas, como o caso do Japão. Assim, em função das peculiaridades do feuda-lismo japonês em relação ao sistema feudal europeu, este tópico é intitulado de “outro feudalismo”.

No Japão do século VI, ocorreu uma tentativa de unificação política baseada na figura de um impe-rador apoiado pela aristocracia da época. Surgiu assim o reino de Yamato. Entretanto, a centralização pretendida não foi alcançada, pois várias famílias aristocráticas (proprietárias de terras) detiveram o poder em suas regiões.

Devido ao poder político espalhado entre os grandes proprietários, o Império tentou, no início do século VIII, ampliar sua esfera de ação decretando a apropriação de todas as terras pelo imperador. A reforma administrativa contribuiu para despertar uma noção de unidade nacional. Porém, na prática, o poder permaneceu espalhado nas mãos das famílias aristocráticas.

Na metade do século VIII, um decreto permitiu que os territórios ainda não ocupados, que fossem desbravados para dar lugar a plantações de arroz, tornar-se-iam propriedade privada do desbravador. Essa medida favoreceu o crescimento de propriedades que pertenciam às famílias aristocráticas.

As grandes propriedades desenvolveram-se por meio da mão de obra de pequenos camponeses, que recebiam o direito de explorar um pedaço de terra em troca de proteção. Mas, para isso, precisa-vam pagar altos impostos aos seus senhores. Essa situação tornou-se cíclica: pequenos camponeses dependiam dos grandes proprietários, que os mantinham dominados geração após geração.

A consequência desse processo foi o fortalecimento dos senhores, que exerciam seu poder em âmbito regional. Para garantir seus domínios e a submissão dos camponeses, os grandes proprietá-rios formaram suas próprias milícias. Os soldados contratados para as milícias, chamados samurais, mantinham uma relação de fidelidade para com seus senhores.

Os samurais, ao garantirem os interesses dos grandes proprietários, contribuíam para acentuar a descentralização política. O imperador continuava existindo, mas, a partir dos séculos XI e XII, estabeleceu-se o xogunato, ou governo dos chefes militares. De acordo com a cientista política Célia

Sakurai, no xogunato, “o chefe militar, o xogum, não substitui o imperador, mas exerce o poder de fato, premiando os seus seguidores mais leais com propriedades alienadas dos inimigos e garantindo a eles uma renda”.

As constantes disputas entre os diversos xoguns instalaram a desordem e a insegurança no Japão. Os camponeses não tinham alternativa a não ser trocar o seu trabalho pela proteção de um senhor. Quanto mais camponeses se submetiam a um único senhor, mais forte e poderoso ele ficava. Assim, entre os séculos XV e XVII, consolidou-se o modelo de organização político- -econômica chamado feudalismo japonês. Dentro de suas propriedades os senhores exerciam plenos poderes graças ao pagamento de impostos e à lealdade política e militar dos camponeses.

Nos séculos XVIII e XIX, os feudos japoneses, que já vinham sofrendo mudanças substanciais (expansão das manufaturas, êxodo rural, etc.), passa-ram a se modernizar e demandar outras formas de administração. O referido período corresponde, na Europa, aos primórdios da industrialização, quando os países industrializados buscaram ampliar suas fontes de matérias-primas e seus mercados consumidores. Nesse contexto histórico, o Japão sofreu muita pressão para se envolver nas relações de comércio internacional, fato que contribuiu para o fim do feudalismo japonês.

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HISTÓRIA

1.

[...] A partir dos séculos IV e V, o Império Romano tinha se tornado cristão, depois que os impera-dores romanos se converteram, o que significou o fim do paganismo – essa era a palavra usada pelos cristãos para designar a religião romana, com seus inúmeros deuses e deusas. Então, o paganismo desaparece – mais ou menos rapi-damente, sem dúvida nunca por completo – e, pouco a pouco, vai deixando lugar para o cris-tianismo. Os múltiplos deuses pagãos são subs-tituídos por um único deus, o da Bíblia (Antigo e Novo Testamento), embora o Deus dos cristãos compreenda três pessoas (o Pai, o Filho e o Es-pírito Santo). E os próprios bárbaros se batizam para se tornarem cristãos: na França, o mais fa-moso convertido é um rei franco, do qual vocês já tenham ouvido falar, Clóvis (por volta do ano de 500 depois de Cristo).

LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007. p. 14-15.

Com base no texto, analise as seguintes afirmações:

I. A Igreja Cristã, por meio de uma aliança com alguns reinos bárbaros, conseguiu consolidar seu domínio espiritual e cultural pela Europa Ocidental.

II. A conversão de Clóvis e dos francos é uma evi-dência do completo desaparecimento do paga-nismo e das práticas religiosas dos “bárbaros”.

III. A cultura cristã conseguiu se sobrepor a to-dos os rituais pagãos que existiam na Europa, tornando a Era Medieval uma época de tran-quilidade religiosa.

IV. O cristianismo, apesar de proclamar a união de “três pessoas” distintas formando um só Deus, promoveu o fortalecimento de um mo-noteísmo durante a Idade Média.

Estão corretas apenas as afirmativas:

Durante o período medieval, a estrutura familiar era bastante diferente do modelo de família contempo-râneo. Vários aspectos, como os direitos e deveres de cada membro da família e a participação das mulheres e das crianças, evidenciam essa diferença. Faça uma pesquisa a respeito da organização familiar medieval, procurando saber quem fazia parte daquela família e qual era o papel desempenhado pelas mulheres e pelas crianças. Depois de anotar as informações pertinentes no caderno, responda ao exercício a seguir.

(UFPR) Sobre a sociedade do Ocidente Medieval, considere as afirmativas abaixo:1. Na Alta Idade Média, ocorreu um acentuado processo de urbanização, seguindo o modelo da urbanidade

clássica.2. Nessa sociedade, atribuía-se às crianças uma função na organização social e familiar semelhante àquela

estabelecida para os adultos.3. A noção de solidariedade familiar é um traço essencial da sociedade medieval.4. As mulheres, na sociedade medieval, eram totalmente excluídas da sucessão. Quando casavam, recebiam

como dote bens que seriam administrados pelo marido. Assinale a alternativa correta:

a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

e) Somente a afirmativa 3 é verdadeira.

a) I e II.

b) I e III.

c) I e IV.

d) III e IV.

e) II e III.

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História Medieval16

2. Sobre a constituição da sociedade feudal, assina-le o que for correto:(01) A sociedade feudal era uma sociedade tripar-

tida, ou seja, estava dividida em três classes distintas. A cada classe era atribuída uma função social específica.

(02) Um dos grupos, cuja denominação latina era bellatores, tinha como função as atividades militares, pois seus membros pertenciam à nobreza.

(04) O grupo que recebia a denominação latina de oratores era encarregado da esfera religiosa, ou seja, cuidava dos assuntos da Igreja.

(08) Os laboratores, denominação latina dada a outro grupo, eram os pastores e agricultores, responsáveis por “sustentarem” os outros dois grupos.

3. Para o historiador Giuseppe Sergi, “a Idade Média é uma convenção cronológica que consolidou-se na cultura comum da Idade Moderna e Contemporâ-nea. Tem sua origem nas reflexões que os humanis-tas dos séculos XV e XVI, animados pela esperança de uma nova era de renascimento cultural e recu-peração geral”. Sobre a Idade Média, o historia-dor Jacques Le Goff (2008, p. 27) afirma que “esse nome foi dado ao período pelos humanistas, a par-tir do século XIV – Petrarca foi provavelmente o pri-meiro a empregar a expressão, que sobreviveu até nossos dias, medium tempus ou media tempora. Tratava-se de definir alguma coisa que havia chega-do ao fim”.

Com base nas informações acima, analise as afir-mativas a seguir:

I. A Idade Média, como período histórico, é basicamente uma construção intelectual que foi elaborada por homens que viveram entre os séculos XIV e XVI.

II. Pode-se considerar que “Idade Média” é uma denominação pejorativa, pois foi empregada pelos humanistas para qualificar um obscuro período intermediário entre a Antiguidade e o presente em que viviam.

III. Atualmente, em função das novas descobertas arqueológicas e de novas evidências históricas (como documentos até então desconhecidos), é inegável que a Idade Média foi realmente um período obscuro, uma “Era das Trevas”.

De acordo com a análise, pode-se afirmar que:

a) todas as afirmativas estão corretas.b) todas as afirmativas estão incorretas.

c) apenas as afirmativas I e II estão corretas.

d) apenas as afirmativas I e III estão corretas.

e) apenas as afirmativas II e III estão corretas.

4. (UFRR) Com a decadência do Império Romano, a Europa se ruralizou. As atividades comerciais estavam reduzidas e concentradas em algumas regiões. O poder político estava pulverizado nas mãos de nobres e de proprietários rurais, que também controlavam os exércitos locais, as for-tificações e os castelos. Na Europa feudal a vida girava em torno da grande propriedade rural, o feudo, que tendia para a autossuficiência, tendo em vista que produzia quase tudo que precisava. Sobre o Feudalismo é correto afirmar:

a) Na sociedade feudal os servos, como os es-cravos, não tinham qualquer direito, viviam presos à terra e dela não podiam sair.

b) O Feudalismo desenvolveu-se da mesma for-ma e com as mesmas características em toda a Europa.

c) Na época feudal, a Igreja era uma instituição fraca, pois não tinha uma influência significa-tiva nas relações entre senhores e servos.

d) A sociedade feudal era estamental, ou seja, era fundamentada na origem e nas funções sociais exercidas pelas pessoas.

e) Ainda que o poder local fosse controlado pela nobreza, no sistema feudal a autoridade ab-soluta era exercida pelo rei.

5. (UNAMA-AM) Feudo é um termo que possivelmente veio do latim (feodum, ou do latim vulgar feudum). Ele designa a terra que o senhor feudal outorgava a seus servos ou vassalos em contrato de vassalagem. Por este contrato, comum no mundo feudal euro-peu da Idade Média, as obrigações eram: a) desiguais, pois o vassalo poderia plantar e ter

proteção na terra feudal, em contrapartida devia cumprir uma série de obrigações como a corveia, a talha e deveres militares e de hos-pitalidade para com os nobres, tornando-se seu servo.

b) parcialmente desiguais, pois os servos mora-vam nas terras senhoriais, pagavam impostos e deviam obrigações aos senhores, mas es-tavam livres para trocarem de senhores caso ocorressem abusos dos donos das terras.

c) relativamente igualitárias, porque – tanto os senhores se beneficiavam com o trabalho e impostos dos servos – como estes recebiam terra de graça, roupa, alimentos e proteção senhorial em uma relação de trabalho livre.

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HISTÓRIA

d) desigual e de trabalho obrigatório e gratuito do servo para com o senhor feudal, já que este vassalo não apenas pagava impostos e tinha obrigações como a corveia, mas era tido como escravo ou propriedade de seu senhorio.

6. (UEPG – PR) Sobre a servidão medieval, assinale o que for correto:(01) A servidão foi um tipo de relação social que

resultou exclusivamente da desagregação do Império Romano.

(02) Servidão e vassalagem foram as únicas for-mas de relação social existentes na socieda-de feudal.

(04) Tanto a sociedade romana quanto a germâ-nica eram sociedades igualitárias, e elas pro-duziram, com sua fusão, uma Idade Média basicamente livre de desigualdades.

(08) No sistema feudal, as relações de servidão, suserania e vassalagem tendiam a ligar os membros de uma sociedade em uma rede infinita de hierarquias e dependências.

(16) O servo detinha a posse útil da terra, devia obrigações e tinha o direito de ser protegido pelo senhor.

7. (UFPel – RS)

“Eis dois homens frente a frente: um que quer servir; o outro, que aceita ou deseja ser chefe. O primeiro une as mãos e assim juntas coloca- -as nas mãos do segundo [...] ao mesmo tempo a personagem que oferece as mãos pronuncia al-gumas palavras, muito breves, pelas quais se re-conhece o homem de quem está na sua frente. Depois, chefe e subordinado beijam-se na boca: símbolo de acordo e de amizade. Eram estes os gestos que serviam para estabelecer um dos vín-culos mais fortes que a época feudal conheceu.”

BLOCH, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70.

O texto aborda a cerimônia denominada “Home-nagem”, típica do sistema feudal. As principais características deste sistema foram:

a) Sociedade hierarquizada, com predomínio de uma economia agrária, que favoreceu intensa troca comercial nos burgos e cidades italianas.

b) Fraca concentração urbana, com predomínio da economia agrária sob a organização do Es-tado monárquico forte, apoiado pelo clero e pela burguesia.

c) Poder do Estado enfraquecido, ritmo de tro-cas comerciais pouco intenso, uso limitado da

economia monetária, predominando uma so-ciedade agrária.

d) Ampliação do poder do Estado, uma sociedade organizada em três camadas – clérigos, guerrei-ros e trabalhadores – e predomínio da econo-mia rural.

e) Intensificação da produção agrícola pelo uso da mão de obra escrava, poder fortemente centra-lizado e submissão dos burgos ao domínio da Igreja.

8. (UFCSPA-RS) Em relação ao feudalismo e ao perí-odo medieval, analisar os itens abaixo:

I. O modo de produção feudal, próprio do Oci-dente europeu, tinha por base a economia agrária, comercial e monetária.

II. No feudalismo, a posse da terra era o crité-rio de diferenciação dos grupos sociais, rigi-damente definidos: de um lado, os senhores, cuja riqueza provinha da posse da terra e do trabalho servil; de outro, os servos que esta-vam vinculados à terra, mas não tinham a sua posse.

III. A propriedade feudal, ou senhorial, perten-cia a uma camada privilegiada, composta pelos senhores feudais. A principal unidade econômica de produção era o feudo.

IV. Devido ao caráter monetário do sistema feu-dal, o servo se sentia estimulado a aumentar a produção, pois isso significava aumento do seu lucro e do senhor feudal.

Está(ão) correto(s):

a) somente o item II.

b) somente o item IV.

c) somente os itens II e III.

d) somente os itens I e IV.

e) somente os itens I, II e III.

9. (UNICAMP – SP) No feudalismo, a organização da sociedade baseava-se em vínculos de depen-dência pessoal como os de vassalagem e ser-vidão. Descreva o que eram e como funciona-vam, na sociedade feudal:

a) a vassalagem;

b) a servidão.

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História Medieval18

Ao fim do Império Romano do Ocidente é atribuída uma data específica: 476, quando o líder “bárbaro” Odoacro destronou o “último” imperador romano, Rômulo Augusto. Esse episódio é considerado como a baliza cronológica que encerra a Antiguidade, iniciando a Idade Média. Do Período Medieval, já foram analisadas algumas características, como o feudalismo, modelo de organização político-econômica e social que vigorou na Europa Ocidental.

1. De acordo com as informações apresentadas no parágrafo inicial, faça o que se pede:

a) Preencha os espaços a seguir com as informações solicitadas:

I. Início da Idade Média:

II. Período de vigência do feudalismo:

III. Região na qual vigorou o feudalismo:

Império Bizantino2

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HISTÓRIA

b) Observe o mapa que apresenta as máximas extensões do Império Romano:

Fonte: MCEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 17. Adaptação.

Dois Impérios Romanos: do Ocidente e do Oriente

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2. Relacionando as respostas do exercício anterior com as informações apresentadas no mapa, pode-se considerar que o feudalismo, como modelo de organização político-econômica e social, foi instituído em todo o território do Império Romano? Justifique a resposta.

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História Medieval20

Outra Idade Média

Quando se fala de Idade Média normalmente se é remetido ao período medieval europeu, não é mesmo? Mas, é possível falar de outra Idade Média? Observe a ilustração a seguir:

Assim como na ilustração, existe uma ideia de Idade Média que é recorrente à maioria das pessoas: a Idade Média europeia que sucedeu a Antiguidade e precedeu a Idade Moderna, com seus feudos, castelos e duelos de cavaleiros. No entanto, também se pode falar em outra Idade Média, que não estava geograficamente limitada à porção ocidental da Europa.

Paralelamente ao período medieval europeu, ocorreram, em outras regiões, acontecimentos históri-cos com características bem distintas daquelas que contribuíram para o aparecimento e a consolidação do sistema feudal.

Assim, nesta unidade é priorizada a História do Império Romano do Oriente, que, ao contrário do que aconteceu com o Império do Ocidente, sobreviveu às crises que levaram à decadência do Império Romano. Em função das diferenças históricas que são abordadas, será usada a denominação de Império Bizantino para se referir ao Antigo Império do Oriente.

O termo bizan-tino refere-se

à cidade de Bizâncio, que foi reformada

e passou a ser chamada de

Constantinopla. O historiador

Colin McEvedy ressalta que

“os próprios ‘bi-zantinos’ nunca

usaram eles próprios o termo dessa maneira”, pois sempre se

consideraram romanos.

A História do Império Bizantino atravessa quase todo o período que tradicionalmente considera-se como sendo a Idade Média, isto é, de 476 a 1453. Entretanto, tudo aquilo que se convencionou chamar de características medievais não é facilmente identificado nos limites territoriais bizantinos.

Portanto, conclui-se que a História medieval, assim como a História bizantina, pode ser analisada de maneiras diferenciadas, com base em pontos de vista distintos. Logo, falar em “outra Idade Média” pressupõe analisar a História por outros prismas, que resultam em outras versões de um mesmo passado.

Quando falamos em Idade

Média qual é a ima-gem que nos vem à

mente?

Feudos, as pessoas

viviam no campo...

Mas a Idade Média foi

só isso?

E não havia comércio nem cidades!

Castelos fortificados!

Andr

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Combates e duelos de cavaleiros.

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HISTÓRIA

1. Para melhor compreender o que foi exposto acima, leia com atenção os dois textos a seguir, que abordam alguns aspectos da História bizantina.

Aqueles que ainda sustentavam, no século IV, que o Império Romano viveria ainda outros mil anos, tinham razão, até o ponto em que identificavam Roma como a nova cidade de Constantino. Contudo, Bizâncio, ao vencer o parasitarismo e a desordem de Roma, criou uma carapaça na qual século após século a criatura viva diminuía de tamanho e seus movimentos se tornavam cada vez mais constritos. Na verdade, o Império Oriental se reduziu a uma província; a província, a uma região urbana: no fim, aquela própria região se contraiu aos limites da cidade, dentro de cujas muralhas, em lotes vazios, de novo se plantavam alimentos para os últimos remanescentes da sua população, antes que se rendessem aos turcos.

MUNFORD, Lewis. A cidade na História: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 265-266.

[...] Não foram os merovíngios e carolíngeos que herdaram o Império Romano, mas Constantinopla. “Visto como parte da história do mundo, o Ocidente foi reduzido a uma esquina esquecida cujo centro estava no vale do Mediterrâneo oriental, o Império Bizantino, e mais tarde, também os territórios árabes”.

[...] O colapso do Ocidente não se espalhou para o Mediterrâneo oriental, em que, em muitos aspectos, ci-dades como Constantinopla ou Alexandria, com culturas urbanas, continuaram a se desenvolver, especialmente em termos econômicos, como centros de arte, referência para a educação e entrepostos para o comércio [...].

[...] O escambo não excluía inteiramente a moeda, nem a autossuficiência interrompeu o comércio completamente. A escrita não foi esquecida. Em Constantinopla, textos científicos e literários foram persis-tentemente copiados e preservados.GOODY, Jack. O roubo da História. São Paulo: Contexto, 2008. p. 84, 86.

2. Os textos apresentam alguns aspectos da História do Império Bizantino com base em duas perspectivas histó-ricas distintas. Explique como cada fragmento de texto apresenta a importância da cidade de Constantinopla e do próprio Império Bizantino depois do fim do Império Romano do Ocidente.

Império do Oriente

A História do Império Bizantino não reflete com exatidão o período medieval europeu, em que vigorou o feudalismo. Além disso, de certa forma, o Império Bizantino também não é facilmente enquadrado nos limites cronológicos tradicionais da Idade Média, pois pode-se considerar o seu início um pouco antes do fim do Império Romano do Ocidente, em meados do século IV.

Em outras palavras, devem-se considerar outros aspectos históricos, como o empreendimento de reconstrução da cidade de Bizâncio, determinado pelo imperador romano Constantino. A cidade, que foi inaugurada em 330, deveria ser a Nova Roma, um centro urbano esplendoroso que lembrasse a capital dos primeiros anos do Império Romano.

Bizâncio oferecia algumas condições favoráveis às pretensões de Constantino, pois estava es-trategicamente localizada no entroncamento das principais rotas comerciais da época. Do oriente asiático eram levadas grandes variedades de produtos que abasteciam o Império Romano, como ma-deiras, especiarias, púrpura, tecidos e couro. Uma vez que as mercadorias invariavelmente passavam por Bizâncio, a cidade desfrutava de um intenso movimento comercial, ou seja, havia muita riqueza circulando na cidade.

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História Medieval22

Os recursos econômicos disponíveis em Bizâncio certamente empolgaram Constantino em sua escolha. Além disso, a localiza-ção geográfica também oferecia atrativos fundamentais em uma época em que a aproximação dos povos “bárbaros” constituía uma ameaça para os domínios romanos.

Bizâncio estava localizada em uma península naturalmente protegida, pois tinha três de seus lados banhados pelas águas do Mar Negro, do Mar de Mármara e do Estreito de Bósforo. Com as reformas de Constantino e de outros imperadores que o sucede-ram, a cidade converteu-se em uma verdadeira fortaleza militar, pois a quarta parte, que ligava a península ao continente, exibiu muralhas tão fortificadas que a cidade resistiu às várias tentativas de invasão por mais de um milênio.

O escritor Roger Crowley descreve Constantinopla como um lugar fascinante que, com suas proteções naturais e as muralhas construídas

pelo homem, tornou-se “a fortaleza mais esplêndida do mundo medieval”. Dentro das muralhas que rodeavam toda a cidade, pode-se

observar a Basílica de Hagia Sophia e as ruínas do Hipódromo

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Fonte: MCEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 29. DRÈGE, Jean-Pierre. Marco Polo e a rota da seda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 122-123. (As rotas da Seda, mapa de Patrick Mérienne). Adaptação.

Rotas de comércio: do Oriente para o Ocidente, passando por Bizâncio

Constantinopla. Mapa produzido a partir das descrições de Christoforo Boudelmonti [ca. 1480.] Itália. 1 aquarela opaca em pergaminho, 55 cm x 40 cm. Biblioteca Britânica, Londres.

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HISTÓRIA

Constantinopla também foi um importantíssimo entreposto comercial, onde prevaleceu uma sociedade heterogênea que falava mais o grego do que o latim. Entre os muros da cidade foram conservadas as bases da cultura clássica greco- -romana, assim como o Império Bizantino serviu, após o século VII, de baluarte do cristianismo diante do avanço islâmico. O historiador Mário Curtis Giordani resumiu a civilização bizantina em três palavras: “foi oriental, grega e romana. Mais greco- -romana que oriental”

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Décadas depois da inauguração de Constantinopla, a cidade tornou-se a capital do Império Romano do Oriente. A divisão tinha como objetivo assegurar a sobrevivência do Império Romano, que, desde o século III, já exibia sinais de debilidade administrativa e econômica: muitas disputas pelo controle do poder político e o gradativo êxodo urbano decorrente da ameaça “bárbara”.

Além da divisão de Teodósio, é importante considerar que, no decorrer do século IV, outras medidas foram adotadas com o intuito de preservar o Império Romano. Nesse sentido, deve-se lembrar que o cristianismo, uma religião que era perseguida pelos romanos, passou a ser tolerado por meio de dois decretos imperiais, o Édito de Tolerância, de 311, e o Édito de Milão, de 313. Pelo Édito de Tessalônica, em 380, Teodósio declarou o cristianismo a religião oficial do Império Romano. Além da oficialização, o édito de 380 acabou com a tolerância defendida quase setenta anos antes, já que proibiu todos os ritos pagãos.

A divisão do Império Romano e a adoção do cristianismo como religião oficial representavam as esperanças de que o império sobrevivesse. Mas não sobreviveu, pois o líder “bárbaro” Odoacro destronou o imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, em 476. Desse modo, o Império Romano do Ocidente deixou de existir.

Assim, a inauguração de Constantinopla, em 330, a divisão do Império, em 395, e o fim do Império Romano do Ocidente, em 476, são três acontecimentos históricos que podem indicar o nascimento do Império do Oriente ou Império Bizantino. Já a data do fim do Império Bizantino é bem mais precisa: a primavera de 1453, quando, depois de mais de cinquenta dias de intensos bombardeios, os bizantinos sucumbiram diante da ofensiva turco-otomana.

BRAUN, George; HOGENBERG, Franz. Bizâncio, Constantinopla. (a partir de Orbis Terrarum civitates), 1572. Gravura colorida a bico de pena, 32 cm x 48,5 cm. Colônia, Alemanha.

Política, economia e religião

Desde a divisão do Império Romano, a administração do Império do Oriente assumiu, gradual-mente, características distintas do modelo até então adotado no Ocidente. Enquanto no Ocidente o poder imperial procurou atender as demandas oriundas da crise que se abatia no Império, no Oriente os imperadores criaram um governo autocrata que nasceu fundado nas tradições romanas, mas cada vez as reconhecia menos.

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História Medieval24

Sumo pontífice, do latim pontifex

maximus, era a denominação

dada aos cidadãos romanos respon-

sáveis pelos cultos estatais, que deve-

riam promover a paz com os deuses, pax deorum. Do final do século IV em diante,

o cargo passou a ser desempenhado

pelo papa, bispo de Roma e chefe

supremo da Igreja Cristã.

Patriarcado era uma diocese, região

administrativa nas antigas províncias

romanas, que estava sob a jurisdição de

um patriarca. Os patriarcados podem

ser comparados com as administrações

regionais do antigo Império Romano, que gozavam de

relativa autonomia, mas deviam se

reportar ao poder central.

Islamismo refere- -se ao Islam, uma

religião monoteísta que se originou

na Península Arábica, no início

do século VII. Entre os fundamentos

do islamismo, há o expansionismo

religioso, fato que permite compreen-

der o processo de ampliação territorial empreendido pelos

seguidores do Islam. O Islam também não

permite a adoração de imagens.

Para compreender as mudanças políticas, faz-se necessário levar em conta a contínua ascensão do cristianismo. No século IV, a conversão de Constantino e a oficialização de Teodósio alteraram a organização política, que se tornou predominantemente monoteísta e cristã.

O monoteísmo parece ter sido uma exigência muito mais política do que religiosa, pois, à medida que o governo imperial não conseguia mais aglutinar as massas, os imperadores precisaram reunir em suas mãos todo o poder. O estabelecimento da aliança entre a Igreja e o Império originou um sistema político que pode ser denominado monarquia monoteísta.

O Império Bizantino revestiu a monarquia monoteísta de características tão peculiares, que é conhecido como um governo autocrata e despótico. Ou seja, os imperadores bizantinos concentraram em suas mãos o poder de maneira absoluta, conjugando os poderes temporal e religioso. Por isso, a autocracia bizantina também é designada de cesaropapista, um termo que combina césar e papa, o soberano político e o chefe supremo da Igreja, respectivamente.

O sumo pontífice, que era o papa, estava no topo da hierarquia eclesiástica e exercia na Igreja poderes semelhantes aos do imperador político. Em outras palavras, o papado concentrava em Roma o controle administrativo de toda a Igreja.

A divisão do Império Romano despertou uma tensão dentro da Igreja, que foi pressionada a também dividir o até então centralizado poder papal. O papa partilhou seu poder com os diversos patriarcados existentes, como os de Cartago, Salônica, Alexandria, Jerusalém, Antioquia e Constantinopla. Todos os patriarcados deveriam estar sob o controle direto do papa.

Entretanto, os imperadores bizantinos, que governavam fundados no cesaropapismo, reclamavam a subordinação do patriarca de Constantinopla diretamente a eles, e não ao papa. Obviamente, tal exigência por parte dos imperadores bizantinos acabou gerando o desentendimento com o papa. Aliás, os problemas entre a Igreja, representada pelo papa, e os imperadores bizantinos não se resumiram à simples disputa por poder.

O imperador bizantino Justiniano (483-565), que governou de 527 até sua morte, contribuiu para consolidar o cesaropapismo e acentuar a rivalidade com a Igreja. O ideal político de Justiniano pode ser sintetizado na fórmula “Um Estado, uma Lei, uma Igreja”. Nesse sentido, os objetivos do papado romano e do Império Bizantino se opunham ferrenhamente.

Séculos depois de o imperador Justiniano ter exacerbado a discórdia com a Igreja, as querelas continuavam minando a relação entre o papado e o Império Bizantino. No século VIII, o imperador bizantino Leão III (675-741) reacendeu a contenda ao implantar a doutrina iconoclasta, que pregava a destruição de ícones religiosos – pinturas e estátuas.

O objetivo de Leão III era impedir a idolatria dos ícones religiosos entre os bizantinos. A origem das preocupações do imperador estava no assédio à cidade de Constantinopla pelos sarracenos, grupo de origem árabe adepto do islamismo.

Na tentativa de se evitar a invasão dos sarracenos, foi organizada uma procissão religiosa com a exposição de alguns ícones religiosos. Como as intenções dos sarracenos foram frustradas, atribuiu-se à intervenção divina a proteção recebida. De acordo com o papa Bento XVI (1927-), “convenceu-se de que a intervenção de Deus devia ser considerada uma aprovação evidente da piedade demonstrada pelo povo em relação aos santos ícones”.

Os adoradores das imagens consideradas sagradas buscaram ajuda junto ao papa, que decidiu protegê-las e excomungou o imperador bizantino e o patriarca de Constantinopla. A crise da querela das imagens, iniciada por Leão III, perdurou por mais de um século. Era cada vez mais evidente a divisão entre a Igreja do Ocidente e a do Oriente, que se concretizou em meados do século XI. No ano de 1054, depois de intensas disputas teológicas entre o papa Leão IX (1002-1054) e o patriarca de Constantinopla, Miguel de Cerulário (1000-1059), a cristandade foi oficialmente separada.

O legado papal, representante do papa em terras estrangeiras, de Leão IX excomungou o patriarca de Constantinopla que, em represália, excomungou o papa, seu enviado, e a própria Igreja ocidental. O resultado dessa briga foi o Cisma do Oriente (1054), deixando de um lado a Igreja Cristã Latina ou Igreja Católica Apostólica Romana liderada pelo papa e, de outro, a Igreja Cristã Ortodoxa Grega, subordinada ao patriarca de Constantinopla, sob proteção do imperador bizantino.

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HISTÓRIA

Enquanto duravam as disputas entre os papas e os imperadores bizantinos, Constantinopla foi constantemente descrita como um cenário de riquezas e prosperidade. Um cronista do século XIII relatou, maravilhado, que não devia haver em todo o mundo uma cidade tão rica. As atividades rurais e as manufaturas eram complementadas pelo intenso intercâmbio comercial e a grande circulação de mercadorias.

Constantinopla destacou-se pela diversidade de suas manufaturas, que apinhavam as ruas daquela cidade em uma época em que os poucos centros urbanos ocidentais eram pobres e medíocres. O his-toriador Colin McEvedy retrata a situação afirmando que entre as poucas cidades remanescentes da cristandade ocidental, destacava-se Roma, que “reduzira-se a uma constelação de aldeias separadas umas das outras por campos pedregosos. Onde outrora Augusto contara com um contingente de 200 mil cidadãos, o papa a muito custo conseguia alimentos para uma centena”.

A expansão do islamismo pelo Mar Mediterrâneo não afetou drasticamente o comércio bizantino. A localização geográfica de Constantinopla e suas muralhas, aliadas com uma eficaz frota produzida em seus próprios estaleiros, assegurou vida longa ao Império Bizantino. Porém, os muçulmanos, em especial os turcos, insistiam em sucessivas tentativas de invasão. O escritor Roger Crowley afirma que as fortificações que protegiam a cidade eram “um osso na garganta de Alá” – um problema psicológico que assolava as ambições e limitava os sonhos de conquista dos turcos.

No final do século XI, apesar do Cisma do Oriente, os bizantinos enviaram uma missão ao papa Urbano II (1042-1099), solicitando auxílio dos cristãos ocidentais para conter os turcos. O papa não só apoiou os bizantinos, afinal era uma oportunidade de salvaguardar a cristandade no Oriente, como decidiu empreender uma luta religiosa de todos os cristãos contra os muçulmanos que ocuparam a região do Oriente Médio. Iniciavam-se assim as Cruzadas, expedições religiosas, de caráter militar, com o objetivo de recuperar a Terra Santa do domínio dos muçulmanos, chamados pela cristandade de “infiéis”.

As Cruzadas ocorreram até o final do século XIII, mas não alcançaram seu objetivo principal. Nesse meio tempo, as fronteiras do Império Bizantino foram se reduzindo progressivamente. Os turco-otomanos, em compensação, expandiram seus domínios até que, no início do século XV, o Império Bizantino resumiu-se à própria cidade de Constantinopla. A fortaleza do Império Romano do Oriente, ainda aguentou as ofensivas turcas por mais cinco déca-das. Em 1453, Constantinopla caiu e com sua queda encerrou-se uma parte da História bizantina.

A imagem representa vários episódios da derradeira batalha pela manutenção da capital do Império

Bizantino, em 1453. De acordo com o escritor Roger Crowley, as forças bizantinas, em menor número

diante do poderoso exército otomano, “chegaram mais perto do sucesso do que possivelmente

imaginavam”. A vitória otomana foi acompanhada, segundo os relatos cristãos, de “terríveis e lastimáveis

atrocidades”: as pessoas que não conseguiram fugir, como os incapazes, idosos, leprosos e enfermos, foram massacradas; as crianças recém-nascidas,

arremessadas nos muros e nas calçadas

BROQUIÈRE, Bertrandon de la. Viagens ao estrangeiro. 1455. Biblioteca Nacional da França, Paris.

Ensino Médio | Modular 25

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Entre as diversas Cruzadas, a Quarta Cruzada representou um duro golpe contra Constantinopla e o Império Bizantino. No ano de 1204, a cidade foi invadida e saqueada pelos cruzados e, segundo o cavaleiro medieval Robert de Clari, que participou da Cruzada, “tudo o que foi estocado durante tantos séculos, tão grandes bens, nem os nobres, nem os ricos, ninguém pôde impedir sua conquista”.

O cronista e historiador bizantino Niketas Choniates, também conhecido como Niketas Acominatus, vivenciou a tomada de Constantinopla que, de acordo com seus relatos, foi exageradamente violenta. Niketas chegou a comparar a bondade dos muçulmanos com a violência dos cristãos, “que trazem a cruz de Cristo nas costas”.

O historiador Cécile Morrison afirma que a Quarta Cruzada arruinou a “rainha das cidades”. Assim, aquela expedição religiosa acabou se desviando dos seus propósitos originais. O papa Inocêncio III (1160- -1216) atribuiu o “desvio” aos venezianos: “Vós desviastes e fizestes desviar o exército cristão da boa rota e o colocastes na má”.1. Faça uma pesquisa a respeito da Quarta Cruzada, anotando as informações que considerar mais relevantes

no caderno. Sua pesquisa deve ser suficiente para poder explicar as seguintes questões:

a) Qual foi a participação dos venezianos na Quarta Cruzada?

b) Quais motivos levaram os venezianos a “desviar” o “exército cristão da boa rota”?

c) Quais foram as consequências da Quarta Cruzada para a cidade de Constantinopla e para o Império Bizantino?

2. Com base na sua pesquisa e no mapa a seguir, explique a razão pela qual o papa Inocêncio III reclamou do “desvio” da Quarta Cruzada e acusou os venezianos como sendo os principais responsáveis pela inter-ferência.

A rota da Quarta Cruzada

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Fonte: DUBY, Georges: Atlas historique. Paris: Larousse, 2007. p. 105. Adaptação.

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HISTÓRIA

Ensino Médio | Modular 27

Influências bizantinas

O baluarte cultural do antigo Império Romano, durante a Idade Média, foi, sem sombras de dúvi-da, o Império Bizantino. Constantinopla conservou, por séculos, muitos traços da civilização romana. Porém, os romanos do Oriente imprimiram suas próprias características na diversidade cultural que foi incorporada do Ocidente.

As especificidades bizantinas refletem, portanto, a miscelânea de hábitos e costumes do Ocidente e do Oriente, dos romanos propriamente ditos e dos gregos. Nas artes, a produção de mosaicos é o grande destaque dos bizantinos. A técnica, caracterizada pela incrustação de pequenas peças coloridas sobre uma superfície, foi amplamente utilizada nos domínios do antigo Império Romano. Mas, foi somente com os bizantinos que o mosaicismo ganhou projeção e refinamento.

Codex Constitutiorum:

Código.Institutiones:

Institutas.Novellae:

Novelas.

Dos romanos, os bizantinos também adotaram um conjunto de práticas jurídicas. Tais conhecimentos jurídicos foram motivo de grande preocupação para o imperador bizantino Justiniano, que determinou a completa preservação das leis e jurisprudências dos romanos.

Dos esforços do Imperador Bizantino surgiu o Corpus Iuris Civilis, uma demonstração prática do cesaropapismo. Ao pretender unificar todos os dispositivos legais do mundo romano, Justiniano al-mejava criar um ordenamento jurídico capaz de ser aplicado a todos os bizantinos.

O Corpus Iuris Civilis é formado por quatro partes: Codex Constitutiorum, reunião de toda a legislação romana; Digesto ou Pandectas, conjunto da jurisprudência romana; Institutiones, os ele-mentos fundamentais do Direito; e Novellae constitutiones post codicem, conhecido simplesmente por Novellae, que são as leis promulgadas pelo próprio Justiniano.

Com a sistematização dos saberes jurídicos, a correta aplicação das leis, com base na razão e na justiça, seria atemporal. Ao menos, era esse o desejo de Justiniano, o imperador cesaropapista que determinou a construção de um templo cristão que, assim como o Corpus Iuris Civilis, sobrevivesse ao tempo.

Mosaico no interior da Hagia Sophia. A influência dessa técnica artística, que era conheci-da desde a Antiguidade, foi aperfeiçoada pelos bizantinos, depois, novamente, embelezou o mundo ocidental. No mosaico da imagem abunda o dourado, obtido com folhas de ouro. A tonalidade representa a luz divina. Pode-se ler IC XC, um anagrama do nome de Cristo. Atente também para a mão e os dedos: os três dedos juntos podem simbolizar a Trindade

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A obra mais importante dos romanos, tanto se considerarmos pelos seus próprios méritos intrínsecos como por sua influência na história do mundo é, sem dúvida alguma, o direito. “Não há problema de jurisprudência – disse Lord Bryce – que ele não aborde; apenas ficou um pequeno espaço na ciência política que ele não tratou”. “Daquilo que hoje está mais necessitado o direito estadunidense – disse um jurista estadunidense –, é a eterna influência revigoradora do direito romano”. E o mesmo escritor afirma que, ainda que a população do Império Romano não tenha ultrapassado os 50 milhões, atualmente 870 milhões de pessoas vivem de acordo com sistemas que podem ser atribuídos ao direito romano.BARROW, R. H. Los romanos. México: FCE, 2008. p. 209. Tradução livre.

[…] Todo o conjunto é o monumental Corpus Iuris Civilis, segundo a denominação imposta pelos juristas medievais.

A pretensão de Justiniano era promover a unificação, reunir em um texto único todo o direito romano, o histórico e o atual [...].

O ordenamento jurídico [...] que promulgou Justiniano estava destinado a funcionar sem um limite estabelecido de tempo, como se fosse uma expressão da razão e da justiça eternas desconectadas das contingências do tempo histórico.

SIPERMAN, Arnoldo. La ley romana y el mundo moderno: juristas, científicos y uma historia de la verdad. Buenos Aires: Biblos, 2008. p. 88. Tradução livre.

De acordo com os textos apresentados, responda em seu caderno:

1. Explique de que maneira a elaboração do Corpus Iuris Civilis, pelo imperador bizantino Justiniano, con-tribuiu para que parte significativa do mundo ocidental contemporâneo tenha sua organização jurídica baseada em tal documento:

2. Estabeleça uma relação entre a elaboração do Corpus Iuris Civilis e o fato de que parte significativa do mundo ocidental contemporâneo tem sua organização jurídica baseada no Direito Romano.

Na imagem, a Hagia Sophia vista da praça do antigo hipódromo. No ano de 1453, com a invasão turca, a igreja foi transformada em mesquita. Mais de cinco séculos depois, em 1935, o edifício foi considerado Patrimônio Universal da Humanidade. Atualmente, a igreja é aberta à visitação pública, funcionando como um museu

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No ano de 532, um incêndio pôs abaixo a igreja Hagia Sophia do impe-rador Teodósio. No mesmo ano, Justiniano ordenou a construção de uma nova basílica no mesmo lugar. O poder do líder bizantino, que concentrava poderes temporais e religiosos, fez com que a nova igreja fosse construída em apenas cinco anos, sendo aberta ao público em 1537. A Basílica de Hagia Sophia, a Sagrada Sabedoria, foi referência da grandiosidade do Império Bizantino durante toda a Idade Média.

As dimensões da igreja, com seu domo central de 31 metros de diâmetro a 56 metros do solo, e sua ornamentação de mosaicos asseguraram o des-taque da Hagia Sophia, ou Santa Sofia, como é conhecida em português.

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HISTÓRIA

1. Observe com atenção o mapa:

Fonte: McEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 41. Adaptação.

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Jurista A profissão de jurista ou juriscunsulto teve sua origem no sistema jurídico romano e está ligada à Ad-

vocacia. É um especialista em leis e que presta serviços no estudo e na análise dos códigos legais. Para ingressar no exercício da magistratura, o interessado deve possuir o diploma de bacharel em Direito e ser aprovado em concurso público. A profissão é regulamentada pela Lei no. 8.906, de 4 de julho de 1994, que revogou todos os decretos-leis e leis anteriores.

Qual a importância de as leis serem bem redigidas? E qual a importância do cumprimento da legislação por todos os cidadãos?

A profissão d

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História Medieval30

Agora, responda à questão proposta:

I. No século VIII, uma das características da cristandade era a sua unidade absoluta.

II. O mapa indica que a cristandade detém o domínio religioso em todas as regiões que pertenceram ao antigo Império Romano.

III. O mapa apresenta a união da Igreja Cristã e a adoção de Constantinopla como sede de toda a cristandade.

De acordo com a análise das afirmações, está correto afirmar que:

a) todas as afirmativas estão certas.

b) todas as afirmativas estão erradas.

c) apenas a afirmativa II está certa.

d) as afirmativas I e III estão certas.

e) apenas as afirmativas II e III estão certas.

2. Sobre a organização política bizantina, assinale a alternativa correta:

a) Permitiu a participação política de todas as clas-ses que compunham a sociedade bizantina.

b) Favoreceu o desenvolvimento do modelo de or-ganização política que se conhece como demo-cracia.

c) Contribuiu para o aparecimento de uma po-derosa classe de estrangeiros, que tomava to-das as decisões políticas.

d) Restringiu todas as relações comerciais exis-tentes com Constantinopla, pois passou a va-lorizar apenas a política.

e) Caracterizou-se por concentrar nas mãos do im- perador os poderes temporais e espirituais.

3. Sobre o cesaropapismo, assinale a alternativa correta:

a) Era a denominação do modelo de organiza-ção religiosa das tribos árabes durante os sé-culos XV e XIV a.C.

b) Era a denominação do modelo de organiza-ção da sociedade medieval ocidental, também conhecido como feudalismo.

c) Contribuiu para o aparecimento de uma pre-ocupação permanente para com os direitos humanos e a igualdade entre os homens.

d) Era o modelo de organização política dos ro-manos durante o período monárquico, pois foi instituído por Rômulo e Remo.

e) Era a concentração dos poderes temporais e espirituais nas mãos dos imperadores bizanti-nos, caracterizando um despotismo teocrático.

4. (UFAC) O chamado “Cisma do Oriente” se deu em 1054, quando:

a) o Papa da Igreja Católica da Europa Ocidental fez aliança com o cristianismo de Constantinopla.

b) o Papa do ocidente se rendeu aos dogmas do mundo americano.

c) o Patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, proclamou a autonomia total da Igreja Oriental em relação à Igreja Católica Ocidental.

d) os religiosos do ocidente ficaram desconfia-dos dos hereges.

e) os senhores feudais romperam com os dog-mas da Igreja Católica na Europa Ocidental.

5. (UNESP-SP) O culto de imagens de pessoas di-vinas, mártires e santos foi motivo de seguidas controvérsias na história do cristianismo. Nos sé-culos VIII e IX, o Império Bizantino foi sacudido por violento movimento de destruição de ima-gens, denominado “querela dos iconoclastas”. A questão iconoclasta:

a) derivou da oposição do cristianismo primitivo ao culto que as religiões pagãs greco-romanas devotavam às representações plásticas de seus deuses.

b) foi pouco importante para a história do cris-tianismo na Europa Ocidental, considerando a crença dos fiéis nos poderes das estátuas.

c) produziu um movimento de renovação do cristianismo empreendido pelas ordens men-dicantes dominicanas e franciscanas.

d) deixou as igrejas católicas renascentistas e barrocas desprovidas de decoração e de os-tentação de riquezas.

e) inviabilizou a conversão para o cristianismo das multidões supersticiosas e incultas da Idade Média europeia.

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Ensino Médio | Modular 31

HISTÓRIA

6. (UFPE) Um estudo da economia bizantina no pe-ríodo medieval:

a) Atesta um grande desnível social, com a presen- ça da servidão, de latifundiários aristocratas e de uma Igreja de grande poder político.

b) Registra a falta de prestígio dos comerciantes, que levavam uma vida urbana simples e sem ostentação.

c) Mostra uma atividade comercial pouco desen-volvida e muito semelhante à do feudalismo europeu.

d) Revela a força dessa economia, em razão das pequenas propriedades administradas com o apoio do poder estatal.

e) Evidencia a falta de apoio do Estado na ges-tão dos negócios, devido à presença soberana da Igreja.

7. (UEPG-PR)“Onze séculos de História. Através deste longo período, Bizâncio conheceu dezenas de impera-dores, de patriarcas, de santos, de heresias, de guerras, de momentos economicamente próspe-ros, de crises agrícolas e comerciais. [...] Bizâncio, desde seus primeiros momentos, agarrou-se a dois elementos que garantissem sua sobrevivên-cia psicológica e política: o cristianismo e a sua autocracia.”

(FRANCO Jr.; ANDRADE F°., 1987, p. 96-97.)

Sobre a civilização bizantina, assinale o que for correto:

(01) As concepções políticas de Bizâncio estavam intimamente ligadas à sua visão religiosa do Universo; o imperador foi sempre visto pelo seu povo como um vice-Deus, uma manifes-tação visível da divindade.

(02) A importância central da religião pode ser demonstrada através de três fatores: a in-fluência das estruturas eclesiásticas, a exal-tada religiosidade popular e as numerosas controvérsias religiosas.

(04) Em princípio, o imperador era eleito pelo Sena- do, pelo exército e pelo povo de Constantinopla; no entanto, como não havia uma regra suces-sória claramente definida, o imperador coroa-va seu sucessor em vida, para não ser poste-riormente contestado.

(08) As artes plásticas preocuparam-se em expres-sar, basicamente, a alma do povo oriental, re-velando realismo, sobriedade e equilíbrio.

(16) O Império Bizantino desenvolveu a caracte-rística de ser intermediário entre a cultura greco-helenística e a posteridade, depois de ter exercido uma ação predatória inicial, quando, em nome da fé, combateu e procu-rou destruir os principais produtos do pensa-mento antigo, considerando, então, expres-são do paganismo.

8. (PUCPR) O Corpus Juris Civilis, organizado por ordem de Justiniano, no século VI, era composto de quatro partes:

a) “Mos Majorum”, “Digesto”, “Éditos Pretórios” e “Pandectas”.

b) “Código”, “Digesto”, “Institutas” e “Novelas”.

c) “Jus Naturales”, “Novelas”, “Jus Gentium” e “Lei das Doze Tábuas”.

d) “Institutas”, “Mos Majorum”, “Responsa” e “Digesto”.

e) nda.

9. (UNESP-SP) A civilização bizantina floresceu na Idade Média, deixando, em muitas regiões da Ásia e da Europa, testemunhos de sua irradiação cultural. Assinale a importante e preponderante contribuição artística bizantina que se difundiu, expressando forte destinação religiosa:

a) Adornos de bronze e cobre.

b) Aquedutos e esgotos.

c) Telhados e beirais recurvados.

d) Mosaicos coloridos e cúpulas arredondadas.

e) Vias calçadas com artefatos de couro.

10. A respeito da organização política bizantina, é feita a seguinte afirmativa: A política bizantina pode ser caracterizada pelo cesaropapismo, siste-ma no qual os poderes políticos estavam concen-trados nas mãos do imperador e os poderes reli-giosos nas mãos do patriarca de Constantinopla. Com base em seus conhecimentos, pode-se con-firmar que a afirmativa é verdadeira? Justifique a sua resposta.

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História Medieval

As línguas, os costumes, as lendas, enfim, a cultura árabe sempre despertou atenção e curio-sidade no Ocidente. Parte do interesse advém do fato de que foi a cultura árabe que ajudou o Ocidente a construir sua própria identidade. Em outras palavras, foi pelo contraste de ideias, de personalidades, de experiências e de imagens que o Ocidente olhou para o Mundo Árabe.

O contraponto se ampliou com o aparecimento do Islam, uma religião monoteísta que surgiu na Península Arábica, no início do século VII. O Ocidente enxergou no islamismo exatamente o seu oposto, o “outro”. Ou seja, do ponto de vista cultural, político e social do Ocidente, o Mundo Árabe era completamente diferente.

Muitas vezes, tal diferença foi percebida como sinal de inferioridade e de atraso. A visão do Ocidente não poderia estar mais equivocada, pois a cultura árabe e islâmica, com toda a sua di-versidade, faz parte da própria História do Ocidente.

Portanto, mais do que perceber as diferenças, faz-se necessário compreendê-las. Para isso é preciso conhecer a cultura árabe-islâmica, objetivo principal desta unidade. E para iniciar o processo de conhecimento e de compreensão, leia a história a seguir:

O Ocidente deve ser conside-

rado como o Ocidente euro-

peu, que primei-ramente entrou

em contato com o Mundo Árabe. Depois, a partir dos séculos XVI e XVII, o termo

também passou a englobar as Amé-ricas e a designar

um conjunto, nem sempre

homogêneo, de características socioculturais.

Em um reino distante, o rei Xariar, um nobre descendente dos antigos monarcas persas, descobriu que sua esposa traía-o repetidamente. Inconformado, Xariar determinou que a rainha fosse estrangulada.

Xerazad conta uma de suas mil e uma histórias para o rei Xariar. Esses relatos revelaram para o Ocidente um mundo até então desconhecido. Personagens, como Simbad, o marujo, e Ali Babá e os quarenta ladrões, até hoje despertam a curiosidade e o fascínio de leitores do mundo inteiro

Xariar decidiu que nunca poderia confiar em uma mulher novamente e, para evitar novas traições, resolveu casar cada dia com uma mulher diferente. Porém, depois de passar uma única noite com a nova esposa, ela deveria ser estrangulada na manhã seguinte.

E assim foi. A ordem real foi seguida à risca, despertando o medo e a resigna-ção de todas as moças e famílias do reino. A cada dia, um novo casamento. Pela manhã, uma jovem estrangulada. A sucessão macabra só foi interrompida quando Xariar casou-se com a bela, corajosa e inteligente Xerazad.

Xerazad tinha uma memória espetacular e queria acabar com a crueldade do rei. Para isso, despertou a curiosidade do insensível Xariar contando-lhe uma emocionante história. Porém, pouco antes do dia raiar, quando o seu triste fim se aproximava, Xerazad parou seu relato na parte mais interessante da história.

O rei, curioso para saber o desfecho da história, deixou Xerazad viva para que continuasse na noite seguinte. Passaram-se mil e uma noites. Em cada uma delas Xerazad finalizava o relato da noite anterior e começava a contar outra história, ainda mais interessante. E sempre, pouco antes do dia amanhecer, Xerazad inter-rompia sua história em um momento decisivo.

Com o tempo, Xariar esqueceu-se da mágoa que nutria pelas mulheres e abdicou do seu plano maligno, permanecendo casado e feliz com a bela Xerazad.

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BRUNDAGE, Frances. Sherazade inicia sua história, [ca. 1893]. In: Histórias das noites da Arábia. Akron: Saralfield, 1924.

Árabes3

32

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Outra Idade Média

Existe uma ideia de Idade Média que faz lembrar castelos e fortalezas, cavaleiros e duelos, donzelas e misticismos. Uma Idade Média que é eminentemente europeia e ocidental, com senhores feudais e seus vassalos, com a Igreja Católica e sua visão de mundo.

Mas há outras Idades Médias. A Idade Média bizantina, por exemplo, com o intenso comércio que manteve a cidade de Constantinopla um importante centro financeiro e cultural durante quase todo o Período Medieval.

E há uma Idade Média árabe-islâmica, diferente das outras duas, mas não de menor importância. Foi nesse período que, em terras árabes, o Islam surgiu e se dissipou juntamente com a língua e a cultura árabe. O processo histórico de expansão árabe-islâmico medieval não é apenas paralelo às Idades Médias europeia e bizantina, como se entrecruzam em diversas ocasiões, complementando- -se mutuamente.

Em outras palavras, a Idade Média é um período importante, em que diferenças e semelhanças, permanências e rupturas do passado “se interligam e constroem um emaranhado de ações que constituem a História”.

Os povos que viviam nas desérticas regiões da Península Arábica eram chamados, generica-mente, de árabes. O termo servia para designar os beduínos ao norte do deserto de Rub’ al Khali, o “quarteirão vazio”, que eram grupos nômades que habitavam tendas e deslocavam-se no lombo de dromedários.

Havia também árabes sedentários, estabilizados na região costeira banhada pelo Oceano Índico e pelo sul do Mar Vermelho. No entanto, esses grupos que viviam em abrigos naturais nos vales bem irrigados do sudoeste arábico nunca se denominaram árabes.

O relato apresentado foi popularizado no Ocidente a partir do século XVIII, quando o orientalista Antoine Galland (1646-1715) adaptou, para o francês, um conjunto de histórias e contos de origem incerta, mas basicamente oriundos do folclore árabe, persa e indiano.

Os contos e as histórias, popularmente conhecidos como As mil e uma noites, aparecem em registros variados desde os séculos VIII ou IX, sendo impossível precisar seus autores e a quanti-dade exata de relatos. Há, porém, um aspecto em comum na maioria das versões: a narradora de todas as histórias é Xerazad.

As fabulosas histórias contadas por Xerazad encantaram o mundo, tornando As mil e uma noites uma das portas de entrada que revelou o Mundo Árabe ao Ocidente.

Árabes

HISTÓRIA

Ensino Médio | Modular 33

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História Medieval34

O território ocupado pelos antigos árabes apresenta três fronteiras bem definidas: o Mar Vermelho, o Oceano Índico e o Golfo Árabe ou Golfo Pérsico. Os limites ao norte nunca foram bem estabelecidos, mas pode-se considerar que sempre oscilaram próximo ao paralelo 30º.

A natureza inóspita da região dos árabes certamente influenciou muitos aspectos da vida cotidiana. Os vendavais nos desertos arábicos mantinham em quase permanente suspensão uma camada de pó microscópico, forçando os árabes a protegerem seus rostos com panos, véus, para evitar o contato direto da areia com os olhos, o nariz, a boca e os ouvidos.

Entre os beduínos praticava-se a bigamia e/ou a poligamia, prática favorecida pelas longas ausências daqueles que percorriam o deserto em caravanas ou pastoreavam rebanhos em busca de alimento.

A domesticação de animais foi fundamental para o desenvolvimento dos povos árabes. A adoção do camelo e do dromedário supriu a necessidade de deslocamento rápido e eficaz nas desérticas areias arábicas, servindo tanto para o transporte de mercadorias como para o combate. Além disso, há inúmeros relatos de que esses animais também serviam de alimento.

Além do camelo e do dromedário, os árabes também utilizavam cavalos. Mas duras condições impostas pelo clima desértico faziam com que os camelídeos fossem preferidos para o transporte de cargas. Enquanto um cavalo precisa ser alimentado, beber e comer, diariamente, um dromedário pode beber, de uma só vez, água o suficiente para aguentar até dezessete dias de marcha. Considerando que um dromedário pode percorrer até 300 quilômetros em um dia e levar mais de 200 quilos de carga, entende-se perfeitamente a preferência dos árabes por tais animais.

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Fonte: ATLAS geográfico Melhoramentos. São Paulo: Melhoramentos, 2009. Adaptação.

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Ensino Médio | Modular 35

HISTÓRIA

Com os constantes deslocamentos, os grupos árabes entraram em contato com as rotas comerciais que ligavam o Oriente e o Ocidente. Na Península Arábica, o comércio manteve estreitos vínculos com a religiosidade. Majoritariamente politeístas, os árabes cultuavam dezenas de divindades e ídolos, que eram agraciados com santuários e festividades.

A diversidade de deuses contribuiu para o desenvolvimento comercial, uma vez que os santuários de culto e adoração localizavam-se, via de regra, superpostas às principais rotas comerciais e às feiras. As feiras ou mercados também eram palco de duelos e desafios poéticos.

Como a honra e a hombridade determinavam o caráter de um árabe, qualquer calúnia ou difama-ção poderia originar uma briga que era disputada nas feiras e, invariavelmente, acabava em morte. A desonra pessoal, familiar ou tribal não era aceita entre os árabes, que se organizavam socialmente de maneira hierarquizada. De acordo com o historiador Juan Vernet, os árabes davam maior importância “ao homem livre que ao escravo; ao homem que à mulher; ao nobre que ao humilde”.

Nesse sentido, o escritor Jamil Almansur Haddad indica algumas características dos árabes que, modi-ficadas, estiveram presentes na Arábia islâmica: era um povo que, eticamente, associava os conceitos de honra e virilidade; o homem, figura central da sociedade árabe, tinha que ser forte e combativo; as mulheres eram inferiorizadas e consideradas bens, primeiro do pai e depois do marido; a vida no deserto impunha o hábito da hospitalidade e favoreceu o desenvolvimento de um espírito de grupo e de solidariedade.

Consegues imaginar o deserto? O autêntico deserto, aquele de areia, percorrido por longas caravanas de camelos com cargas pesadas e mercadorias raras. A areia está espalhada por todas as partes. Apenas muito longe se avistam algumas palmeiras que se levantam em direção ao céu, separadas por grandes distâncias. É até elas que se dirigem as montarias, pois ali existe um oásis com uma fonte e um pouco de água lamacenta. Logo, a marcha continua. E, finalmente, a caravana chega a um oásis maior, onde há toda uma cidade e suas casas brancas em forma de cubos, onde vivem pessoas de pele morena vestidas também de branco, gente de cabelos negros e olhos escuros e brilhantes. Os homens, logo se percebe, são acostumados com as lutas. Percorrem o deserto em seus cavalos, maravilhosamente rápidos, saqueiam caravanas e brigam entre si; oásis contra oásis, cidade contra cidade, tribo contra tribo. É isso que ainda vemos na Arábia atualmente; e assim deve ter sido, sem dúvida, há milhares de anos. [...]

GOMBRICH, Ernst H. Breve historia del mundo. Barcelona: Ediciones Península: Oceano, 2004. p. 140. Tradução livre.

Converse com seus colegas a respeito das condições de vida dos povos que vivem em regiões desérticas. Procure identificar possíveis semelhanças e diferenças entre esse estilo de vida e o seu.

No passado, os pastores beduínos das regiões desérticas da Arábia, com suas criações de ovinos e camelídeos,

asseguraram comida e transporte para as tribos árabes. Naquela região, práticas semelhantes de

pastoreio nômade são empregadas até hoje

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HARARI, Muhammed Al Kasim. Schefersh Hariri, 1237. Bagdá. Biblioteca Nacional da França, Paris.

Israel. Deserto de Negev. Pastor beduíno da tribo Azazme. 1995. Foto de Harry Gruyaert.

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Religião: o surgimento do Islam

Ao contrário de outras religiões, o islamismo tem “certidão de nascimento”, ou seja, sabe-se quando e onde ele surgiu: foi entre 16 de julho e 23 de setembro de 622, na zona costeira ocidental da Península Arábica, denominada al-Hijaz, mais precisamente entre as cidades de Meca e Medina.

Política e economia

Nos desertos arábicos, no período que antecede o surgi-mento do Islam, espalhavam-se diversos grupos de beduínos, nômades que percorriam as principais rotas comerciais da região em busca de um butim que pudesse ser repartido com o restante da tribo. Além das pilhagens, os árabes também procuravam fontes de água e alimento para seus rebanhos.

Duas das atividades econômicas mais difundidas entre os árabes, os saques e o comércio, influenciaram o modelo de organização política daqueles grupos. Devido à necessidade de assegurar a proteção e segurança das tribos e caravanas, os árabes protagonizaram um processo de mudanças que transformou o senhor da tribo em xeque, verdadeiro líder político e militar.

As disputas, que não se limitaram ao acesso aos verde-jantes, porém temporários, oásis, também se estenderam ao controle aos diversos grupos. Como não havia nenhuma regra que estabelecesse a sucessão de um xeque, os enfren-tamentos eram constantes. Na tentativa de desmerecer um determinado líder, a ele eram dirigidos inúmeros impropérios, fato que gerava dúvidas em relação à sua honra e hombri-dade, dando origem às brigas.

De maneira geral, pode-se dizer que os árabes, no período que antecede o surgimento do Islam, tinham sua economia baseada nas pilhagens e no comércio. A agricultura era praticada em pequena escala, principalmente nas áreas litorâneas, mas não era suficiente para abastecer toda a população da região. Politicamente, viviam organizados em clãs e tribos que, até o advento do Islam, nunca atenderam a uma autoridade centralizada.

Assim, tem-se um panorama histórico de uma Arábia que vários autores concordam em chamar de pré-islâmica, isto é, antes do Islam. Entretanto, é fundamental levar em conta que o Islam não surgiu de maneira natural e voluntária, alterando completamente o Mundo Árabe, dividindo-o em dois, o de antes e o de depois.

Historicamente, mudanças, de fato, ocorreram, mas muito mais pela retomada de hábitos e costumes que já existiam e que foram, gradativamente, tanto mantidos como trans-formados. Portanto, é primordial considerar como viviam os árabes para melhor apreender o processo de expansão da cultura árabe-islâmica.

Arábia de desertos, oásis e beduínos:

o berço do Islam

Divanzir Padilha/Nilson Müller. 2011. Digital.

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Ensino Médio | Modular 37

HISTÓRIA

Porém, é preciso recuar um pouco na História para entender como o Islam tem uma data de sur-gimento tão precisa. Para isso, torna-se imprescindível conhecer um pouco da vida de Muhammad (entre 567 e 572-632).

Muhammad, que em árabe significa “o louvado”, nasceu em Meca, uma próspera cidade, que, em função dos seus santuários religiosos, atraía inúmeros fiéis em peregrinações periódicas. Por isso, a feira de Meca era uma das mais conhecidas e importantes de toda a Arábia. Órfão prematuramente, Muhammad foi cuidado pelo seu avô – chefe da tribo dos coraixitas e, na época, guardião do santuário da Kaaba – e, depois da morte dele, pelo seu tio.d

[...] O conjunto [da Kaaba] formava

um panteão no qual se havia colocado

todo tipo de estátuas e pedras sagradas. Havia até um ícone de

Jesus e de Maria, segundo certos

textos. Esse templo era o centro de

um culto pagão, com adoração de pedras sagradas,

de divindades estelares etc.

Todavia, um Deus supremo – Allah

em árabe –, o Deus criador, dominava os outros deuses.JOMIER, Jacques.

Islamismo: história e doutrina. Petrópolis:

Vozes, 1992. p. 15.

Lê, em nome de teu Senhor, que criou, Que criou o ser humano de uma aderência. Lê, e teu Senhor é O mais Generoso, Que ensinou a escrever com o cálamo, Ensinou ao ser humano o que ele não sabia. (Sura 96, 1-5).

Com 12 anos, acompanhou seu tio em sua primeira caravana fora dos limites da Arábia, para a Síria. Apesar de, na Península Arábica, predominarem os cultos politeístas, não devia ser difícil encontrar tribos monoteístas espalhadas ao norte da região. Assim, em suas viagens comerciais, Muhammad entrou em contato com o judaísmo e o cristianismo, presentes no Oriente Médio.

Em suas caravanas, Muhammad valorizava a honestidade, pelo que passou a ser conhecido como Al Amin, “o confiável”, “fiel”. Esse traço que marcou a carreira comercial de Muhammad despertou o interesse em Khadija, uma rica comerciante, que estava viúva e propôs um casamento. Aproximadamente 15 anos mais velha que Muhammad, que tinha 25 anos na época, Khadija lhe deu filhos e condições para que pudesse cuidar dos negócios da família sem precisar se ausentar nas caravanas.

Depois, quando Muhammad beirava os 40 anos, em um dos seus, cada vez mais constantes, retiros de meditações solitárias, ele teve uma visão. De acordo com a tradição islâmica, diante de Muhammad surgiu o arcanjo Gabriel pedindo-lhe que lesse um pequeno texto. Muhammad alegou ser analfabeto, que não sabia ler. O arcanjo insistiu tanto que, depois de algumas tentativas, Muhammad leu as seguintes palavras:

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O santuário da Kaaba, que já foi reconstruído

cinco vezes, atualmente tem dimensões aproxi-madas de 15 metros de altura e laterais de 12 e 10 metros. A construção

cúbica, que abriga em seu interior a Pedra

Negra, fica coberta por um manto preto e atrai,

anualmente, mais de três milhões de peregrinos

para o Hajj. O quinto pilar do islamismo, o Hajj,

estabelece que todo mu-çulmano deve realizar ao menos uma peregrinação a Meca durante sua vida

O trecho apresentado é a primeira revelação feita a Muhammad, que foi alertado pelo arcanjo Gabriel que muitas outras viriam. Temeroso, Muhammad contou o ocorrido apenas para as pessoas mais próximas, como sua esposa Khadija. Passaram-se mais alguns anos antes que fosse revelada a missão de Muhammad: ele deveria pregar não apenas para seus parentes e amigos, mas para todo o mundo.

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História Medieval38

Os fundamentos religiosos que Muhammad deveria propagar baseavam-se na crença em um único Deus, do qual ele era o único mensageiro. Entretanto, deve-se lembrar que os árabes eram majorita-riamente politeístas. Além disso, parte significativa de sua economia advinha do comércio realizado nas cidades, que abrigavam os santuários religiosos.

Como Muhammad passou a pregar contra a diversidade de deuses e ídolos, criou-se um impasse: como convencer as pessoas a se submeterem, voluntariamente, a um Deus único, se a cidade prati-camente vivia em função das peregrinações religiosas politeístas?

Ao apresentar-se como o vaticinador de um Deus único, Muhammad despertou a insegurança entre os ricos comerciantes de Meca e os sacerdotes. Os primeiros viam na pregação monoteísta o fim de seus prósperos negócios, os segundos enxergavam em Muhammad um inimigo perigoso, que poderia subtrair o relativo poder que desfrutavam como líderes religiosos.

Inicialmente, a oposição ao monoteísmo de Muhammad foi tolerante. Com o tempo, tornou-se agressiva, a ponto de proibir sua família e seus poucos seguidores de negociar com os outros habi-tantes de Meca. A punição imposta pelos comerciantes e sacerdotes equivalia a um banimento, pois significava que não poderiam vender nem comprar, ficando sujeitos à fome e às necessidades.

Assim, em 622, Muhammad deixou a cidade de Meca e partiu em direção à cidade de Yathrib, que oferecera asilo ao profeta declarado. Talvez os anseios por unidade política entre os habitantes de Yathrib tenham favorecido a aceitação de uma doutrina religiosa única, que pudesse acabar com as disputas na cidade. O episódio denominado de hégira, hijra, que significa migração, é considerado o marco inicial do calendário islâmico.

O calendário islâmico é

orientado pelo ciclo lunar,

compondo um ano de 354

dias, enquanto o calendário

gregoriano (cristão),

baseado no ciclo solar, conta

com 365 dias. A defasagem

entre um e outro explica, por exemplo, a progressiva

antecipação de datas religiosas

islâmicas.

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O segundo pilar do islamismo estabelece que o muçulmano deve orar cinco vezes ao dia em dire-ção a Meca. No interior dos templos islâmicos, as mesquitas, o mihrab indica a quibla, a direção da reza, voltada para a Kaaba em Meca. Nas imagens, o mihrab da Mesquita Azul e o da Basílica de Santa Sofia, localizadas na cidade de Istambul

Os cinco pilares do islamismo1. Testemunhar “que não há divindade senão Deus e que Muhammad é o mensageiro de

Deus”.2. Orar cinco vezes ao dia em direção a Meca – berço do islamismo e lugar sagrado.3. Pagar para caridade um tributo que corresponde a 2,5% da renda anual do muçulmano.4. Jejuar no mês do Ramadã, época em que comer, beber e manter relações sexuais são

atividades proibidas entre a alvorada e o anoitecer.5. Fazer uma peregrinação (o Hajj) a Meca, pelo menos uma vez na vida, para aqueles

que têm condições físicas e financeiras.

FARAH, Paulo Daniel. O Islã. São Paulo: Publifolha, 2001. p. 24-25.

Os cinco

pilares do islã

@HIS1200

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HISTÓRIA

Ensino Médio | Modular 39

Jihad, de acordo com o historiador Peter Demant, é o “esforço em favor de Deus”, é o compromisso pessoal

que orienta a vida do fiel muçulmano de acordo com as leis prescritas por

Deus. O historiador David Levering Lewis ressalta esse significado da

Jihad, de “luta” ou “empenho”, mas uma “luta consigo mesmo” e o “em-

penho contra os inimigos”.O professor de língua e literatura

árabe, Paulo Daniel Farah, salienta que o Corão, apesar de desenvolver “a noção de uma guerra de autode-

fesa para proteger os valores que considera nobres”, “não santifica a

guerra”, já que condena a agressão e o assassinato.

Entretanto, assim como em outras religiões, o termo árabe Jihad foi, inúmeras vezes, apropriado com o

sentido de Guerra Santa. Esse tipo de interpretação prestava-se, na maioria

das vezes, a justificar as batalhas travadas pelos muçulmanos, para

legitimar o uso da violência.

Muhammad foi bem acolhido em Yathrib e continuou suas pregações, arrebanhando um número crescente de seguidores. De acordo com o historiador Ernst Gombrich, ao compartilhar as revelações recebidas, Muhammad contava “como Deus manifestou-se para os judeus por meio de Abraão e Moisés, como doutrinou os humanos pela boca de Cristo e como, naquele momento, ele, Muhammad, foi escolhido para ser seu profeta”.

O profeta também pregava que era preciso temer somente a Deus e que o destino de todas as pessoas já estava traçado por Ele desde o início. Com isso, Muhammad difundia a ideia de que o fiel deve se entregar totalmente à vontade divina, que isso é o Islam. Aliás, o significado de Islam transmite exatamente a ideia de “entrega”, de “submissão”.

O muadhin, aportuguesado para muezim, é o muçulmano que, do alto de um minarete, anuncia a hora do adhan, a reza. A iluminura apresenta uma representação de um muadhin no alto da Kaaba, conclamando os fiéis do islamismo para uma oração

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A entrega, para ser completa, deveria contemplar um esforço para propagar os ensinamentos de Deus. O esforço, Jihad, consiste em tudo o que o muçulmano deve fazer para difundir e proteger o islamismo. Muhammad pregou, ainda, que a morte de um fiel em defesa de Deus e do próprio profeta seria recompensada com o paraíso. Então, a mistura do esforço e da recompensa originou equivocadas inter-pretações, sendo a mais comum a que relaciona Jihad com a ideia de Guerra Santa.

A promessa de um paraíso pode ter motivado muitos seguidores a empreender uma luta contra os habitantes da cidade de Meca, que, de certa forma, haviam expulsado Muhammad. No décimo ano da hégira, os muçulmanos de Yathrib marcharam em direção a Meca, onde foram recebidos quase sem resistência.

Por determinação do profeta, todos os ícones religiosos existentes no santuário da Kaaba foram destruídos, com exceção da Pedra Negra. Apesar das inúmeras versões a respeito de sua origem, a mesma ainda permanece obscura.

Muhammad morreu em 632 e, como havia sido revelado ao profeta, o Islam foi difundido não só em Meca e Yathrib, mas em todo o mundo. Nos primeiros anos da hégira, o islamismo foi responsável por unir as diversas tribos árabes ao redor de um elo em comum, a religião. Em poucas décadas, os limites da Península Arábica foram ultrapassados e, além deles, espalhou-se a cultura árabe-islâmica.

Atualmente, o Islam é a religião que, no mundo todo, mais cresce em número de adeptos. No entanto, de acordo com o sociólogo Ali Kamel, muitas vezes os fiéis do Islam ainda são vistos, pelo mundo ocidental, como o “outro”, “como estranhos, como estrangeiros, como exóticos”.

O Muezim Balil na Kaaba em Meca. Miniatura do turco manuscrito “Sijer i” (Vida do Profeta Maomé, no século XVI). Biblioteca do Palácio de Topkapi, Istambul, Turquia.

Expansão

islâmica

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História Medieval40

A colonização da América Latina, durante os séculos XVI e XVII, foi possível, em parte, graças às contribuições culturais dos mouros que, durante a sua longa permanência na Península Ibérica, in-fluenciaram portugueses e espanhóis. Atualmente, essa influência está tão disseminada no cotidiano das populações ocidentais que, muitas vezes, não se percebe a origem cultural árabe-islâmica de certos hábitos ou conhecimentos.

Os constantes deslocamentos dos povos árabes permitiram que eles entrassem em contato com diversas culturas, tanto do Oriente como do Ocidente. Sábios, os árabes souberam aproveitar os conhecimentos adquiridos para melhorar suas atividades comerciais e, adaptando algumas ideias estrangeiras, desenvolveram hábitos e costumes bastante originais.

No Oriente, os árabes conheceram instrumentos para observar e determinar a altura dos astros; aprenderam a utilizar um sistema numérico hindu, muito mais simples do que os algarismos romanos; com os chineses, conheceram o uso de um tipo de papel e da pólvora. Com o tempo, tais conhecimentos foram aperfeiçoados pelos árabes e apropriados por outros povos.

Os conhecimentos astronômicos permitiram o estudo dos corpos celestes e o desenvolvimento da bússola e do astrolábio. A criação dos algarismos arábicos, com o acréscimo do zero, foi feita por matemáticos árabes, que também estudaram álgebra e trigonometria.

No campo da medicina, no Período Medieval, os árabe-islâmicos destacaram-se por práticas cirúrgicas inovadoras e pelo emprego da anestesia. O domínio de conhecimentos de Química permitiu que descobrissem e fabricassem inúmeros produtos farmacêuticos. É de origem árabe a utilização, na prática clínica, de medicamentos, como a cânfora, o sândalo e o mercúrio, assim como também é árabe a identificação dos sais e dos ácidos.

Cultura e influência árabe-islâmica para o Ocidente

Mouros: habi-tantes do norte

da África, antiga província romana

da Mauritânia.

“Os árabes são muçulmanos, e os muçulmanos são árabes?” A esta “ideia preconcebida” é necessário opor o conjunto da realidade: nem todos os árabes são muçulma-

nos, e nem todos os muçulmanos são árabes! De fato, em um total de aproximadamente um bilhão e meio de muçulmanos ao redor do mundo no início do século XXI, existem somente uns trezentos milhões de árabes. Desse número, temos de descontar cerca de 8% de cristãos, que conservam a religião adotada por seus antepassados desde o início de nossa era. Os dois maiores países muçulmanos são a Indonésia (com 230 milhões de habitantes, país de maioria muçulmana [87%]), seguida pelo Paquistão (150 milhões), cujos habitantes absolutamente não são árabes!BALTA, Paul. Islã. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 52.

De acordo com o fragmento de texto acima, converse com seus colegas a respeito da “ideia preconcebida” de que todos os árabes são muçulmanos e de que todos os muçulmanos são árabes. Mesmo estando equivocada, quais fatores justificam o emprego dessa “ideia preconcebida”? Para iniciar a conversa, considere alguns aspectos, como a geografia, a religião, a história e a língua árabe.

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HISTÓRIA

As influências árabe-islâmicas também podem ser observadas no dia a dia, em uma conversa ou na leitura de um jornal ou uma revista. Muitas palavras em português têm origem árabe. Leia, a seguir, um pequeno exemplo de algumas palavras que foram apor-tuguesadas graças ao convívio dos árabes na Península Ibérica:

Um fulano, funcionário da alfândega, resolveu aproveitar uma propriedade da família e montar um alambique para produzir álcool. Porém, interessado nos consumidores estran-geiros, decidiu fabricar cachaça artesanal, que vai ser temperada com alecrim, laranja, limão e damasco. Depois de envasada, as garrafas de cachaça serão expostas em um armazém todo revestido por azulejos coloridos, onde o produto poderá ser apreciado acompanhado de um javali assado que é receita da família, elaborado com arroz, azei-tonas, alcaparras e azeite. Assim, ele espera que seus lucros atinjam cifras elevadas em pouco tempo.

Todas as palavras destacadas foram aportuguesadas e indicam não apenas a influência árabe no vocabulário, mas também algumas das principais características culturais árabes. Alfândega (al-fundaq, alojamento de mercadores e mercadorias) e armazém (al-mahazán, entreposto, celeiro) referem-se às atividades comerciais. Álcool (al-kohol) e alambique (al-’anbíq, aparelho para destilação) relacionam-se à química e cifra (sifr ) à matemática.

Por séculos, os árabes haviam sido os donos absolutos desse comércio [de especiarias orientais], mantendo segredo sobre suas rotas. Em ótima posição geográfica, entre os três continentes, saíam dos portos da Península da Arábia e ganhavam o mundo. [...]

Buscavam ouro no Sudão, cultivavam, na Arábia, o café da Etiópia e o difundiam por onde andavam, também seus costumes alimentares: a bebida feita dos grãos de café, o hábito de regar as comidas com azeite da oliveira, a paixão pelos pratos vermelhos de açafrão, o consumo extravagante do alho e da cebola. Nesse périplo, levaram a cana-de- -açúcar asiática para o Egito e a todo o norte da África, ilha de Creta, Sicília e Espanha. [...]

NEPOMUCENO, Rosa. O Brasil na rota das especiarias: o leva e traz de cheiros, as surpresas da nova terra. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005. p. 20.

A vida nas cidades árabe-islâmicas exigia um controle administrativo para evitar a desordem. Algumas instituições municipais foram simplesmente adotadas por portugueses e espanhóis, como a almotaçaria. O al muhtasib árabe virou o almotacé português, que era titular da almotaçaria e foi trazido para o Brasil, durante a colonização portuguesa, para cuidar do ordenamento urbano das vilas e cidades coloniais.

Ensino Médio | Modular 41

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42 História Medieval

1. Relacione as informações apresentadas no texto e no mapa de modo a justificar a seguinte afirmação: O processo histórico de expansão árabe-islâmica medieval não é apenas paralelo às Idades Médias europeia e bizantina, eles se entrecruzam em diversas ocasiões, complementando-se mutuamente.

2. O Islam está presente na África desde o século VII, principalmente no extremo norte e nas regiões banhadas pelas águas do Mar Vermelho e do Oceano Índico. Entretanto, a presença islâmica foi se espalhando ao sul do Deserto do Saara até chegarem a regiões tropicais. Ouro, marfim e escravos eram produtos de interesse dos povos árabes, que levaram sua religião à diversidade étnica e cultural dos africanos. A historiadora Claudia Lima afirma que a disseminação do islamismo na África “resultou, antes de tudo, de ter o Islam aprendido a tolerância, a adaptabilidade, a capacidade de respeitar o modo de viver tipicamente africano das sociedades tradicionais”. Nesse sentido, faça uma pesquisa reunindo informações a respeito da presença islâmica na África, priorizando os fatores que caracterizaram a rápida expansão e aceitação do Islam naquele continente. Depois, reúna-se com seus colegas e debatam acerca da importância da religião islâmica na África contemporânea.

Fonte: McEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 59 e 61. DRÈGE, Jean-Pierre. Marco Polo e a rota da seda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 122-123. (As rotas da Seda, mapa de Patrick Mérienne). Adaptação.

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Ensino Médio | Modular 43

HISTÓRIA

I. No século VIII, o fato de as relações comerciais estarem fortemente concentradas na porção oriental do mapa ajuda a compreender o estabelecimento do feudalismo na porção ocidental da Europa.

II. A ausência de cidades com representatividade demográfica na porção central da Europa está relacio-nada com a ascensão do modelo de organização feudal.

III. De acordo com o mapa, pode-se afirmar que, após a unificação religiosa das tribos árabes, a região deixou de estar economicamente envolvida com o comércio.

IV. As informações do mapa permitem concluir que a cidade de Constantinopla aparece como centro de efervescência (agitação e movimento) comercial e urbana.

De acordo com seus estudos e com a análise das afirmações, pode-se afirmar que:

a) todas as afirmativas estão certas.

b) todas as afirmativas estão erradas.

c) apenas a afirmativa III está errada.

d) apenas as afirmativas I e III estão erradas.

e) apenas as afirmativas II e IV estão erradas.

1. Observe com atenção o mapa e analise as afirmações a seguir:

Fonte: McEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 45. Adaptação.

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História Medieval44

2. Entre as contribuições culturais árabe-islâmicas, assinale o que for correto:

(01) Astronomia: a necessidade de localização no deserto favoreceu o desenvolvimento astronômico.

(02) Algarismos arábicos mais a utilização do número zero.

(04) Medicina e química: descoberta de substân-cias e o uso da anestesia.

(08) Arquitetura e urbanismo: planejamento e organização de cidades.

(16) Vocábulos da língua portuguesa com origem árabe: alface, álcool, alecrim, açougue, alfafa.

3. O islã, como o cristianismo, é uma fé expansio-nista e monopolista da verdade. Os consecutivos impérios árabes e muçulmanos expandiram a fé muçulmana, a língua árabe e padrões culturais comuns. Hoje, perto de 95% da população do Oriente Médio é muçulmana. No entanto, quan-do o islã ali chegou, possivelmente 95% era cris-tã. A diminuição do cristianismo na zona de seu nascimento gerou um conflito duradouro entre essas duas religiões rivais. Nos últimos duzen-tos anos, a influência do cristianismo também diminuiu na Europa, mas a relação antagôni-ca com o Oriente Médio só se exacerbou por fatores econômicos e geopolíticos. Os Estados muçulmanos do Oriente Médio se enfraquece-ram; mas a região cresceu em importância es-tratégica – afinal, muito do petróleo do mundo está lá – e tornou-se espaço privilegiado para as rivalidades com e entre as potências europeias.DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2008. p. 16.

Considerando o fragmento de texto sobre o islamismo e seus conhecimentos, analise as se-guintes afirmações:

I. O islamismo teve seu processo de expansão relacionado com a busca por riquezas e ter-ritórios mais férteis, dado que a origem da religião islâmica foi a Península Arábica.

II. Um pilar religioso do islamismo é o livro sa-grado denominado de Alcorão, com precei-tos que devem ser fielmente seguidos pelos muçulmanos, pois são considerados como verdades absolutas.

III. A justaposição de vários fatores – religiosos,

estratégicos e econômicos – explica por que o Oriente Médio capta tanta atenção de políticos, jornalistas e da opinião pública internacional.

Pode-se afirmar que a(s) afirmação(ões):

a) I está correta.

b) I e II estão corretas.

c) I e III estão corretas.

d) II e III estão corretas.

e) I, II e III estão corretas.

4. Sobre o islamismo, responda às questões a seguir:

I. Quem é o profeta da religião islâmica?

II. Em qual cidade o islamismo começou a ser difundido?

III. Qual denominação recebe a saída de Maomé de Meca para Yathrib ou Medina?

IV. Qual é o livro sagrado do povo muçulmano?

5. Sobre a religião islâmica, analise as afirmativas a seguir:

I. Os árabes sempre foram politeístas e, de acordo com os preceitos sagrados do Corão, permanecem cultuando vários deuses.

II. A característica mais marcante da religião is-lâmica é a sua grande liberalidade, pois os fiéis muçulmanos podem escolher como e quando realizar suas orações.

III. O islamismo é a única religião, ainda exis-tente no mundo contemporâneo, que nunca teve qualquer relação com eventos violentos, como guerras ou ataques terroristas.

De acordo com a análise, pode-se afirmar que:

a) todas as afirmativas estão certas.

b) todas as afirmativas estão erradas.

c) apenas as afirmativas I e II estão certas.

d) apenas as afirmativas I e III estão certas.

e) apenas as afirmativas II e III estão certas.

6. (ENEM) Existe uma regra religiosa, aceita pelos praticantes do judaísmo e do islamismo, que proíbe o consumo de carne de porco. Estabeleci-da na Antiguidade, quando os judeus viviam em regiões áridas, foi adotada, séculos depois, por árabes islamizados, que também eram povos do deserto. Essa regra pode ser entendida como:

a) uma demonstração de que o islamismo é um ramo do judaísmo tradicional.

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Ensino Médio | Modular 45

HISTÓRIA

b) um indício de que a carne de porco era rejeita-da em toda a Ásia.

c) uma certeza de que do judaísmo surgiu o isla-mismo.

d) uma prova de que a carne do porco era larga-mente consumida fora das regiões áridas.

e) uma crença antiga de que o porco é um ani-mal impuro.

7. (UEG-GO) O mundo islâmico, cotidianamente presente nos noticiários internacionais, possui um rico passado que remonta à Idade Média. Acerca da trajetória dessa civilização naquele pe-ríodo, julgue a validade das sentenças a seguir.

I. Em virtude das divergências religiosas e cul-turais entre muçulmanos e cristãos, poucas foram as influências da civilização islâmica sobre o mundo Ocidental até o final do sé-culo XV.

II. Originalmente nômades, os povos árabes pos-suíam uma forte tendência para a atividade comercial, altamente lucrativa em virtude de, até o século XV, o Oriente Médio ser a única rota comercial ligando a Europa às Índias.

III. A região islâmica, tendo como figura o pro-feta Maomé, fundiu elementos judaicos e cristãos em uma mesma fé, espalhando-se rapidamente por todo o Oriente Médio e pelo Norte da África, a partir do século VII.

a) As sentenças I e II são verdadeiras.

b) As sentenças I e III são verdadeiras.

c) As sentenças II e III são verdadeiras.

d) Todas as sentenças são verdadeiras.

8. (UNESP-SP)

As caravanas do Sudão ou do Niger trazem re-gularmente a Marrocos, a Tunes, sobretudo aos Montes da Barca ou ao Cairo, milhares de escravos negros arrancados aos países da África tropical [...] os mercadores mouros organizam terríveis razias, que despovoaram regiões inteiras do interior. Este tráfico muçulmano dos negros de África, prosse-guindo durante séculos e em certos casos até os mais recentes, desempenhou sem dúvida um papel primordial no despovoamento antigo da África.

(Jacques Heers, O trabalho na Idade Média.)

O texto descreve um episódio da história dos muçulmanos na Idade Média, quando:

a) Maomé começou a pregar a Guerra Santa no Cairo como condição para a expansão da reli-gião de Alá, que garantia aos guerreiros uma vida celestial de pura espiritualidade.

b) atuaram no tráfico de escravos negros, domina- ram a África do Norte, atravessaram o estreito de Gibraltar e invadiram a Península Ibérica.

c) a expansão árabe foi propiciada pelos lucros do comércio de escravos, que visava abas-tecer com mão de obra negra as regiões da Península Ibérica.

d) os reinos árabes floresceram no sul do conti-nente africano, nas regiões de florestas tropi-cais, berço do monoteísmo islâmico.

e) os árabes ultrapassaram os Pirineus e manti-veram o domínio sobre o reino Franco, até o final da Idade Média ocidental.

9. O encontro entre islã e o “Ocidente” não é recen-te. Ambos se definiram, num grau significativo, por sua diferenciação um do outro. Historica-mente, as relações entre as civilizações oscilam entre os polos de diálogo e conflito. Elas se cho-cam quando (e porque) não há comunicação aberta. O relacionamento entre islã e Ocidente não é uma exceção. De fato, o primeiro aspec-to que sobressai é a semelhança entre ambos – comparado às outras civilizações do Oriente, pelo menos até o advento da modernidade secu-larista no Ocidente com as revoluções políticas e industriais dos séculos XVIII-XIX.DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contex-

to, 2008. p. 346.

Com base no texto, responda ao que se pede:

a) Explique como se constitui a relação entre a civilização islâmica e o “Ocidente”.

b) Considerando o processo de expansão árabe- -islâmico, justifique o trecho do texto que afir-ma que “o primeiro aspecto que sobressai é a semelhança entre ambos [islã e Ocidente] – comparado às outras civilizações do Oriente”.

c) “Historicamente, as relações entre as civilizações oscilam entre os polos de diálogo e conflito”. Le-vando em conta essa afirmação, cite um aspecto que caracterize o diálogo e outro que caracteri-ze o conflito entre o Islam e o Ocidente.

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História Medieval46

Em pleno século XVIII, o chamado Século das Luzes, século do Iluminismo e da Revolução Francesa (1789), o poeta germânico Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781) afirmou, contrariando o senso comum da época, que a Idade Média não havia sido um “período de trevas”: “Noite da Idade Média, sim! Mas noite resplandecente de estrelas!”. O medievalista francês Jacques Le Goff explicou melhor a opinião de Lessing: deve-se compreender a Idade Média como, “simultaneamente, uma idade de trevas e uma idade de ouro”.

Bastaria aceitar a posição de Lessing e Le Goff para negar que a Idade Média tenha sido somente um período de “escuridão”, de retrocessos, superstições e misticismos. Que houve “trevas”, não há dúvidas. Porém, também foi uma época de transformações, de desenvolvimentos e avanços nos mais variados campos da atuação humana.

Identificar tanto o lado ruim como o lado bom da Idade Média é tarefa relativamente fácil. Difícil é pontuar de maneira exata quando aconteceram as mudanças, ou seja, é mais complicado indicar uma data precisa para todas as transformações (boas ou más).

Da mesma maneira, é pouco provável que exista um acordo quanto ao que foi bom ou ruim, quanto a aceitar que determinadas mudanças tenham sido positivas ou negativas. O que pode ter sido bom para um cristão da Europa Ocidental no século XI, pode ter sido extremamente ruim para um muçulmano no Oriente Médio, e vice-versa.

Por isso, para melhor compreender a História do período final da Idade Média, é necessário considerá-lo como uma época de mudanças. Muitas delas começaram antes dos séculos X e XI. Outras ainda não haviam se completado depois do século XV. Assim, para evitar que muitas injus-tiças, em relação ao passado e à História, sejam cometidas, preferiu-se denominar esse processo histórico, com suas rupturas e permanências, de “transição da Idade Média para a Idade Moderna”.

Transição, nesse sentido, é a passagem de um determinado modelo de organização da sociedade para outro. Não há como precisar quando, exatamente, o modelo da Idade Média deixou de existir completamente, nem quando o modelo moderno se impôs definitivamente. Essa imprecisão caracte- riza a transição, pois muito do que é considerado moderno já existia antes do fim da Idade Média, assim como muito do que é aceito como medieval continuou existindo durante a Idade Moderna.

Cruzadas

Cruzadas foi a denominação dada às peregrinações que se tornaram uma das mais conhecidas características da Idade Média. Desde os anos finais do Império Romano do Ocidente, em 476, já ocorriam peregrinações incentivadas pela Igreja Cristã. O objetivo daquelas jornadas podia ser alcançar alguma graça divina, ser absolvido de um pecado ou o pagamento de uma promessa.

Tradicionalmen-te considera-se

como Idade Média o inter-valo de tempo entre o fim do

Império Romano do Ocidente, em 476, e a tomada

da cidade de Constantinopla

pelos turco- -otomanos, em

1453. O inter-valo também é

dividido em Alta Idade Média (aproximada-

mente os seis-centos primeiros

anos) e Baixa Idade Média (aproximada-

mente do século XI ao XV).

Transição da Idade Média para a Idade Moderna

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Ensino Médio | Modular 47

HISTÓRIA

Entre os locais de peregrinação, certamente se destacavam Roma e Jerusalém. Como forma de demonstrar a fé, anualmente afluíam para aquelas cidades centenas, ou milhares, de cristãos. Para chegar às duas cidades, os mais variados caminhos e estradas passavam em territórios controlados pela cristandade. Entretanto, a facilidade de acesso a Jerusalém deixou de existir a partir do século VII, pois o controle político da região, até então cristã, foi perdido para os persas e, depois, para os árabes muçulmanos.

Após a invasão árabe-islâmica, em 638, a cidade de Jerusalém continuou a receber os peregrinos cristãos, apesar da quantidade de visitantes ter reduzido bastante. Nos séculos seguintes, o fato de a cidade sagrada estar sob domínio dos sarracenos, chamados pelos cristãos de infiéis, tornou a peregrinação ainda mais sagrada. As dificuldades para chegar a Jerusalém representavam, na imaginação dos cristãos, um desafio divino. Ultrapassar o desafio era uma prova que reforçava a fé do peregrino.

Até o fim do século XI, houve poucos incidentes entre os fiéis das três grandes religiões monoteístas. A cidade de Jerusalém recebia judeus, cristãos e muçulma-nos em relativa tranquilidade. Mas, nessa época, influenciada por vários fatores, a situação começou a mudar.

Os bizantinos chamavam os árabes de sarracenos,

termo derivado do grego sarakenoi e do

latim saraceni, que significava “o povo das barracas”. A alusão às barracas refere-se ao

nomadismo característico do povo árabe, com suas caravanas de beduínos e

acampamentos itinerantes.

Fonte: McEVEDY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 33, 34 e 37. Adaptação.

O controle de Jerusalém

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História Medieval48

Entre os vários fatores, pode-se citar o avanço árabe-islâmico. A expansão territorial árabe, que foi acompanhada pela disseminação da religião islâmica, deixou o mundo cristão apreensivo. A rapidez com que aconteceu tal processo chamou a atenção da Igreja, que passou a considerar os muçulmanos como “bár-baros” e o profeta Muhammad como o verdadeiro anticristo. Para os cristãos, o islamismo representava uma ameaça.

É conveniente recordar que a própria cristandade estava dividida. Na porção ocidental da Europa predominavam os reinos germânicos, vivendo no meio rural e praticando uma economia de subsistência. A cristandade ocidental era influenciada pelo papa. Na porção oriental, território do Império Bizantino,

a vida urbana e o comércio subsistiam. A cristandade bizantina sofria a interferência do imperador, que governava de acordo com o sistema cesaropapista, concentrando poderes temporais e religiosos.

A divisão da cristandade também influenciou, a seu modo, o acesso à cidade de Jerusalém. Para os bizantinos, os cristãos ocidentais eram “bárbaros”, sendo chamados genericamente de francos. Os cristãos do Ocidente, por sua vez, consideravam os bizantinos um povo fraco que, diante da riqueza comercial e dos desenvolvi-mentos da vida urbana, preferia evitar guerras.

Como os cristãos do Ocidente valorizavam a guerra e as batalhas, e acreditavam que uma de suas principais funções era lutar por Deus, logo se evidenciaram as divergências entre eles, os bizantinos e os muçulmanos. Nesse processo, a Igreja exerceu um papel ativo, defendendo que a luta dos cristãos contra os “infiéis” era justa e legítima, uma verdadeira “guerra santa”. Assim, o espírito guerreiro dos cavalheiros medievais floresceu justificado pela Igreja, havia uma missão religiosa que era proteger os fracos e os oprimidos em nome de Deus.

A mentalidade guerreira, uma característica dos povos “bárbaros” que “destruíram” o Império Romano do Ocidente, foi reforçada por uma oportunidade magnífica de se empunharem espadas e lutar por Deus e pela Igreja: a cidade sagrada de Jerusalém estava nas mãos dos “infiéis”.

Os motivos religiosos para reconquistar a Terra Santa, como era chamada Jerusalém, eram mais do que suficientes. Mas não eram os únicos. Uma “revolução agrícola”, ocorrida entre o primeiro e o segundo milênio da Era Cristã, possibilitou um aumento da produção de alimentos e, consequen-temente, promoveu um crescimento demográfico na Europa Ocidental. O aumento populacional ocasionou a escassez de terras cultiváveis e de trabalho para todos.

A ideia de “guerra santa”

apoiava- -se na noção de

guerra justa, que foi articulada por Santo Agostinho

e, segundo a historiadora

Márcia Maria de Medeiros, para

as Cruzadas “tomou outra proporção, e

pode-se dizer se completou: a

guerra ‘válida’ é aquela que se volta para uma reta intenção,

dirigida para esse fim por

uma autoridade legítima e

com objetivo defensivo ou de retomada

de um bem injustamente

adquirido”.

A cidade de Jerusalém, centro de importância religiosa para judeus, cristãos e muçul-manos, protegida por suas muralhas. Com as Cruzadas, as peregrinações à Terra Santa adquiriram características de guerra religiosa

BREYDENBACH, Bernhard von. Cidade de Jerusalém. Imagem original no livro “Peregrinação à Terra Santa”. 1 xilogravura, 150 mm x 160 mm. Mainz, 1486. Biblioteca Britanica, Londres, Inglaterra.

Os cruzados levaram suas espadas para defender, militarmente, a cidade sagrada de Jerusalém. O sinal da cruz aparecia nas roupas, nos escudos e nos es-tandartes dos cristãos que peregrinavam para libertar a Terra Santa

Iluminura integrante do livro “Le Livre des faiz monseigneur saint Loys” confeccionado a pedido do cardeal de Bourbon e da Duquesa de Bourbon. Biblioteca Nacional da França, Paris.

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Ensino Médio | Modular 49

HISTÓRIA

Os livros medievais eram manuscritos e, em alguns casos, traziam em suas páginas desenhos em miniaturas, chamadas de iluminuras. No século XV, um duque francês, Jean de Berry (1340-1416), encomendou aos irmãos Limbourg um livro de horas. Tais livros continham orações e devoções e eram usados para a orientação dos laicos.

1. As iluminuras dos irmãos Limbourg são uma fonte histórica rica em informações sobre o cotidiano medieval. Nesse sentido, utilizando o material de apoio, analise as imagens e, no caderno, descreva as informações referentes às práticas agrícolas presentes nas miniaturas.

2. Com base na análise das iluminuras, responda às questões a seguir:

a) Explique como era a economia do sistema feudal:

b) Considerando as práticas agrícolas medievais, cite uma de suas principais características:

c) Explique a afirmação a seguir: “o principal elemento definidor da riqueza era a terra”:

3. (UFTM – MG) Assinale a alternativa que caracteriza corretamente o período da história europeia representado

Detalhes das iluminuras dos meses de março e outubro

na imagem a seguir.

a) A agricultura era a base da economia, praticada em grandes propriedades rurais denominadas feudos; o rei concentrava amplos poderes, submetendo os nobres a seu domínio.

b) Os monarcas tinham poderes absolutos, justificados pela teoria do direito divino; havia reduzida mobilidade social, pois a sociedade estamental dependia do nascimento.

c) A sociedade vivia, em sua maioria, no campo e estava dividida basicamente em se-nhores e servos; a economia centrava-se na agricultura e procurava a autossuficiência.

d) As atividades mercantis eram favorecidas pela produção de excedentes e pela estabi-lidade social; o trabalho estava organizado em corporações, comandadas pelos nobres.

e) A vida urbana era ainda reduzida, mas a burguesia ampliava sua riqueza e questionava a autoridade dos reis; a servidão constituía a base das relações de trabalho.

O que são

iluminuras?

@HIS740

LIMBOURG, Herman, Paul, Johan. As ricas horas do duque de Berry. 1410 – 1416. Museu Condé, Chantilly.

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História Medieval50

A partir do século X, um tímido renascimento urbano e comercial alterou a vida em determinadas regiões do Oci-dente cristão, como o norte da Península Itálica. Inicialmente tímido, tal renascimento tornou-se gradativamente mais importante, reativando antigas rotas comerciais no Mar Mediterrâneo, estimulando o uso de moedas e incentivando o deslocamento de pessoas.

Também devem-se considerar as relações sociais da época, que eram rigidamente hierarquizadas. A impossibilidade de alteração do status social motivou muitas pessoas a buscarem novas oportunidades. Os mais humildes e despossuídos de riquezas ansiavam por mudanças. Da mesma maneira, o cos-tume medieval que valorizava a primogenitura no recebimento de heranças incentivou nobres a buscarem suas próprias terras.

Assim, os diversos fatores citados influenciaram o acesso à cidade de Jerusalém, já que, juntos, tornaram-se motivo e justificativa para algumas das mais famosas peregrinações da Idade Média, as Cruzadas. No século XI, os cristãos do Ocidente estavam, ao mesmo tempo, maravilhados e teme-rosos. Maravilhavam-se com as riquezas e belezas da capital bizantina, a cidade de Constantinopla, e temiam os árabe- -islâmicos, que avançavam em suas conquistas territoriais subjugando milhares de cristãos.

Constantinopla também despertava o interesse dos árabe-islâmicos, que tentaram invadi-la inúmeras vezes, sempre sem sucesso. Alguns peregrinos, no retorno de Je-rusalém, comentavam no Ocidente as dificuldades que os bizantinos estavam tendo para evitar a invasão dos turcos, um dos grupos de “infiéis”.

Os comentários chegaram aos ouvidos do papa Urbano II (1042-1099) que, em 1095, atendeu a uma missão de “cons-trangidos bizantinos que necessitavam de ajuda para erguer uma força de voluntários visando a combater os turcos”, como afirmou o historiador Colin McEvedy. Considerando--se o Cisma do Oriente, de 1054, que dividiu oficialmente a cristandade, fica fácil entender o constrangimento dos bizantinos.

O papa viu, no apelo bizantino, uma extraordinária opor-tunidade de demonstrar o poder da Igreja Católica. Afinal, as forças ocidentais poderiam não só salvar o Oriente, mas

avançar até Jerusalém e reconquis-tar a própria Terra Santa. No final do século XI, a cristandade ocidental começou a pregar a necessidade de uma Cruzada cristã contra os “infiéis”.

No ano de 1096, depois que o papa Urbano II, no Concílio de Clermont, tornou oficial a luta contra os “infiéis” para reconquistar a Terra Santa, os cruce signati, soldados de Cristo marcados pelo sinal da cruz, partiram em direção ao Oriente. A Primeira Cruzada era uma massa disforme de cristãos, e apesar da presença dos nobres, foi formada por muitas pessoas que não sabiam e nem podiam lutar: mulheres, crianças e idosos.

O que se viu nessa Cruzada parecia-se mais com qualquer guerra da época do que com uma missão religiosa. Pilhagens e massacres viraram rotina entre muitos cristãos que, apa-rentemente, tinham vários outros motivos para lutarem além da defesa da cruz. A diversidade de intenções fica explícita nos relatos de um observador anônimo do século XII:

[...] As intenções daquela variedade de homens eram diferentes. Alguns, na verdade, ansiavam por novidades e foram em busca de informações de novas terras. Outros foram estimulados pela extrema pobreza em que viviam nas suas casas; estes homens foram lutar, não apenas contra os “infiéis”, mas também contra simpatizantes do nome cristão, em qualquer lugar onde aparecesse a oportunidade de reduzirem sua pobreza. Havia outros que eram oprimi-dos por dívidas ou desejavam fugir dos serviços impostos pelos seus senhores, ou quem esperava ser castigado pelos seus vergonhosos pecados. Muitos desses homens fingiam adorar Deus e tentavam fugir dos seus problemas e ansie-dades. Uns poucos, que ainda não tinham se curvado ao demônio, podiam, com dificuldade, ser encontrados com propósitos verdadeiros e motivados pela fé e, que pelo amor à majestade divina, lutavam sinceramente, derrubando seu próprio sangue, pelo Santo de todos os santos.

ANNALES Herbipolenses, s.a. 1147, in MGH, SS, XVI, 3. In: BRUNDAGE, James. The Crusades: a documentary history. Milwaukee, WI: Marquette University Press, 1962. p. 115-121. Disponível em: <http://www.fordham.edu/halsall/source/1147critic.html>. Acesso em: 25 maio 2010. Tradução livre.

(ENEM) Os cruzados avançavam em silêncio, encontrando por todas as partes ossadas humanas, trapos e bandeiras.

No meio desse quadro sinistro, não puderam ver, sem estremecer de dor, o acampamento onde Gauthier havia deixado as mulheres e crianças. Lá, os cristãos tinham sido surpreendidos pelos muçulmanos, mesmo no momento em que os sacerdotes celebravam o sacrifício da Missa. As mulheres, as crianças, os velhos,

A rota da

Primeira Cruzada

@HIS940

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HISTÓRIA

Ensino Médio | Modular 51

todos os que a fraqueza ou a doença conservava sob as tendas, perseguidos até os altares, tinham sido levados para a escravidão ou imolados por um inimigo cruel. A multidão dos cristãos, massacrada naquele lugar, tinha ficado sem sepultura.MICHAUD, J. F. História das cruzadas. São Paulo: Editora das Américas, 1956. (Com adaptações).

Foi, de fato, na sexta-feira 22 do tempo de Chaaban, do ano de 492 da Hégira, que os franj* se apossaram da Cidade Santa, após um sítio de 40 dias. Os exilados ainda tremem cada vez que falam nisso, seu olhar se esfria como se eles ainda tivessem diante dos olhos aqueles guerreiros louros, protegidos de armaduras, que espelham pelas ruas o sabre cortante, desembainhado, degolando homens, mulheres e crianças, pilhando as casas, saqueando as mesquitas.

*franj = cruzados.

MAALOUF, Amin. As Cruzadas vistas pelos árabes. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. (Com adaptações).

Avalie as seguintes afirmações a respeito dos textos acima, que tratam das Cruzadas.

I. Os textos referem-se ao mesmo assunto – as Cruzadas, ocorridas no Período Medieval –, mas apresentam visões distintas sobre a realidade dos conflitos religiosos desse período histórico.

II. Ambos os textos narram partes de conflitos ocorridos entre cristãos e muçulmanos durante a Idade Média e revelam como a violência contra mulheres e crianças era prática comum entre adversários.

III. Ambos narram conflitos ocorridos durante as Cruzadas medievais e revelam como as disputas dessa época, apesar de ter havido alguns confrontos militares, foram resolvidas com base na ideia do respeito e da tolerância cultural e religiosa.

É correto apenas o que se afirma em:

a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III.

Enquanto os nobres batalhavam, o clero se encarregava de controlar a produção e o acesso ao conhecimento. Durante a Idade Média, o poder da Igreja foi muito amplo, inclusive limitando as atividades militares com a trégua da “paz de Deus”

Iluminura integrante da obra Crônicas de Froissard, de Jean de Froissard, (volume IV, Parte 1). 1470-1475. Biblioteca Britânica, Londres.

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História Medieval52

Entre o fim do século XI e o fim do século XIII ocorreram várias Cruzadas, que mesclavam interesses religiosos com a busca pessoal por riquezas e terras. Os benefícios espirituais prometidos pela Igreja, como a remissão dos pecados e a vida eterna no paraíso, caso a morte ocorresse em batalha, atraíram tantos cruzados como as esperanças de encontrar fortuna e territórios.

Os cristãos alcançaram parcialmente seus objetivos. Em um primeiro momento, reconquistaram Jerusalém e criaram vários Estados cristãos na costa litorânea do Oriente Médio. O controle cristão na região atingiu seu auge em meados do século XII. Entretanto, dali em diante os “infiéis”, os mu-çulmanos, demonstraram mais habilidade militar e fervor religioso em manter o controle da região.

Se as Cruzadas de reconquista da Terra Santa não lograram sucesso, por outro lado, elas abriram as portas para um produtivo intercâmbio comercial e cultural com o Oriente. Em outras palavras, as Cruzadas inauguraram uma nova era, uma era de fusão entre as tradições judaicas, cristãs, bizantinas e islâmicas.

As transformações impulsionadas pelas Cruzadas continuaram acontecendo muito tempo depois da última peregrinação oficial para libertar a cidade de Jerusalém. Foram aquelas mudanças que caracterizaram o período de transição da Idade Média para a Idade Moderna.

As Cruzadas não libertaram Jerusalém do jugo islâmico. Porém, abriram as portas para um produtivo intercâmbio comercial e cultural com o Oriente. Leia o texto a seguir e converse com seus colegas a respeito do intercâmbio cultural propiciado pelas Cruzadas.

[...] nos monastérios [...], até o século XIII, havia uma sala especial chamada scriptorium (do latim scribere, “escrever”), onde os monges redigiam livros de devoção que eles mesmos ilustravam [...].LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007. p. 100.

Entre os religiosos, eram poucos que tinham acesso às obras disponíveis. A imagem retrata

o interior de um monastério e a complexa e demorada elaboração de um manuscrito. No livro aberto sobre a mesa estão sendo

acrescentados títulos e notas marginais

Considerando-se a imagem ampliada em seu material de apoio e o fragmento de texto, sobre a difusão do conhecimento na Idade Média, é correto afirmar que:

a) os livros, na Idade Média, eram difundidos livremente, inclusive pelos clérigos.

b) os monges escreviam, principalmente, romances de cavalaria.

c) a imagem representa o acesso democrático às obras literárias.

d) para a religião cristã, a literatura deveria honrar a Deus, e os clérigos divulgaram esse ideal.

e) a imagem enfatiza o caráter laico da cultura medieval.

PARRAL, Mestre de. São Jerônimo em seu escritório. [ca. 1480-1490]. 1 óleo sobre madeira, 176 cm x 100 cm. Escola

Catalã. Museu Lázaro Galdiano, Madri.

[...] as Cruzadas alcançaram um benefício que nunca havia sido pensado pelos cruzados: os cristãos conhece-ram no distante Oriente a cultura dos árabes, suas construções, seu sentido de beleza e sua erudição. E ainda não tinha passado cem anos desde a Primeira Cruzada, quando os escritos do professor de Alexandre Magno, os livros de Aristóteles, foram traduzidos do árabe para o latim e lidos e estudados com empenho na Itália, França e Alemanha.

GOMBRICH, Ernst H. Breve historia del mundo. Barcelona: Ediciones Península/Oceano, 2004. p. 168-169. Tradução livre.

A rota da

Segunda

Cruzada

@HIS998

A rota da

Terceira

Cruzada

@HIS876

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Ensino Médio | Modular 53

HISTÓRIA

Renascimento Comercial e Urbano

Considere-se Europa Oci-

dental como a porção relativa aos territórios,

naquele con-tinente, que

pertenciam ao antigo Império

Romano do Ocidente, com

exceção da Pe-nínsula Ibérica,

que foi ocupada por grupos

islâmicos a partir do século VIII.

Desde meados do século III, os territórios do antigo Império Romano experimentaram a aproximação dos chama-dos povos “bárbaros”. A porção ocidental do Império sofreu mais, tendo se extinguindo no último quartel do século V, mais precisamente em 476. As transformações decorrentes do intercâmbio entre romanos e “bárbaros” favoreceram o surgimento de um novo modelo de organização da sociedade, que foi denominado de feudalismo.

Entretanto, a consolidação do sistema feudal consistiu em um longo processo histórico de mudanças e adaptações. Em

geral, os historiadores concordam que o feudalismo só alcançou o seu pleno estabelecimento na Europa Ocidental por volta do século X. Prova disso é o fato de ser bastante comum encontrar quem afirme que, entre os séculos IX e XII, o feudalismo atingiu o seu auge.

Quando se diz que o feudalismo chegou ao seu auge, está se afirman-do que ele chegou ao seu apogeu, ao seu ponto mais elevado de desenvol-vimento. Consequentemente, essa concepção de História e do passado medieval implica que, após esse mo-

As cidades na Europa Ocidental, nos primeiros séculos da Idade Média, praticamente não tiveram importância. Porém, do século XII em diante, o afluxo de camponeses fez com que os centros urbanos extrapolassem os limites das muralhas de proteção e crescessem em todas as direções

REVEL, Guillarme. Armorial d’Auvergne Bourbonois et Foretz de Guillarme Revel. Século XV. Biblioteca Nacional da França, Paris.

O Renascimento Urbano e Comercial foram processos históri-cos paralelos, que se completavam mutuamente. Nas cidades, atividades artesanais se desenvolveram para atender ao cres-cimento populacional. Fábricas de tijolos e de vidro indicavam que as construções urbanas se multiplicavam

MANDEVILLE, Sir John. Vidraceiro do poço de Memnon. Imagem original no “Livro de Viagens do Sir Jonh Mandeville”. [ca. 1410]. Biblioteca Britânica, Londres.

mento, o feudalismo entrou em decadência. Apesar de não ser errado pensar assim, tal simplificação não contempla uma série de especificidades em relação à substituição do sistema feudal.

Em outras palavras, o feudalismo, após ter alcançado o seu auge, foi deixando de existir. Em algumas regiões, o processo foi mais acelerado. Em outras, o sistema feudal custou a desaparecer. Nesse processo, uma transformação merece destaque especial: o Renascimento Comercial e Urbano na Europa Ocidental.

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História Medieval54

A cidade, o centro por excelência do comércio, com suas muralhas, oferecia segurança aos mercadores. Foram os comerciantes, habitantes dos antigos burgos, que formaram a nascente classe social da burguesia

Juntamente com a vida eminentemente rural, baseada em uma economia agrária de subsistência, que caracterizou o feudalismo, a importância das cidades e das atividades mercantis foi ressurgindo. Chamar esse processo de Renas-cimento Comercial e Urbano significa que algo que já havia existido voltou a existir. Obviamente, o referido renascimento pressupõe que a importância das cidades e do comércio desa-pareceu por um determinado intervalo de tempo, justamente o período de desenvolvimento e consolidação do feudalismo.

Assim, durante os séculos XI e XII, uma série de fatores se combinou aleatoriamente e favoreceu a valorização das atividades comerciais. Um dos fatores foram as Cruzadas, as peregrinações dos cristãos ocidentais em direção à Terra Santa, que colocou a população da Europa Feudal novamente em contato com cobiçadas mercadorias.

Pelas rotas comerciais, terrestres e marítimas, tecidos finos, especiarias variadas, perfumes, tapetes e, até mesmo, escravos, eram transportados da Ásia para a Europa desde os últimos séculos da República Romana (509-27 a.C.). Na região de Jerusalém, assim como nos territórios bizantinos, o comércio permaneceu, por todo o Período Medieval, como uma importante atividade econômica.

Na época das Cruzadas, a maioria dos produtos orientais era inacessível ao mundo feudal. Quando alguns ocidentais se viram diante de belas e ricas cidades, como Constantinopla, com suas feiras e seus mercados, eles despertaram para a oportunidade de fazer fortuna com o comércio. Às vezes, a missão religiosa de resgatar Jerusalém era abandonada e os peregrinos se ocu-pavam em saquear as cidades que estavam no seu caminho.

Então, vários contratos comerciais foram selados entre ocidentais e os mercadores orientais. Nesses casos, não im-portava a origem étnica do comerciante, tampouco sua orien-tação religiosa. A Igreja condenava as relações entre cristãos e “infiéis”, mas cristãos de cidades, como Veneza, Gênova, Pisa, Florença, na Península Itálica, ou de Bruges, Ghent, An-tuérpia, Lubeck, no litoral do Mar do Norte, comercializavam intensamente com judeus, bizantinos e muçulmanos.

Anônimo. Mercadores. Escola Lombarda. Século XV (manuscrito latino Da Sphera, nº 209). Biblioteca Municipal, Módena, Itália.

Com o tempo, as transações comerciais foram se inten-sificando e, com elas, alguns vilarejos foram se destacando como centros urbanos e comerciais. Na mesma época, alguns povoados tiveram um aumento demográfico significativo. A “revolução agrícola”, ocorrida entre os séculos X e XII, contribuiu para o aumento da população urbana. Com as inovações técnicas na agricultura, uma parcela da mão de obra rural, que foi substituída por novas ferramentas, migrou para as vilas.

Os povoados e vilas foram aumentando em tamanho e importância e, aos poucos, constituíram-se nas princi-pais cidades medievais. A necessidade de se organizar a vida urbana fez surgir estruturas políticas e econômicas, como administradores e a criação de impostos urbanos. Em tais centros urbanos, a vida assumiu características completamente distintas da vida nos feudos.

A vida urbana era, de fato, mais livre do que a vida rural. Desde o renascimento das primeiras cidades medievais, ser um citadino, um habitante de uma cidade, era sinônimo de ser livre. Mas a liberdade exigia certos cuidados, pois as cidades ainda estavam expostas a diversos perigos, como o assédio de bandidos e estrangeiros. Como proteção, ao redor de várias cidades foram construídas muralhas e portões de acesso, que restringiam a entrada ao interior da cidade durante o dia e permaneciam fechados durante a noite.

Essas cidades medievais, que renasceram juntamente com o desenvolvimento do comércio, eram chamadas de burgos; e seus habitantes, de burgueses. O surgimento de uma classe social caracterizada pela vida urbana relacionada às atividades comerciais é um dos elementos do processo de transição da Idade Média para a Idade Moderna.

LORENZETTI, Ambrogio. Alegoria do bom governo. C. 1337-1339. (detalhe: torre da cidade) Siena, Palácio Público.

Revolução

Agrícola

@HIS1187

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Ensino Médio | Modular 55

HISTÓRIA

Formação da burguesia

Burgo deriva do termo germânico burgs, que significa pe-quena cidade. No latim medieval, burgus significava pequena fortaleza. Por isso, durante a Idade Média, o habitante dos burgos era o burguês, do latim burgensis.

Portanto, burguês passou a ser a deno-minação daquele que vivia nos burgos, nas cidades medievais. Como a grande maioria dos burgueses dependia do comércio, ser burguês

virou uma distinção social que se caracte-rizava pelas atividades lucrativas desen-volvidas por aquelas pessoas, a burguesia.

O enriquecimento da burguesia alterou definitivamente a hierarquização da socie-dade feudal, que era baseada nas relações de dependência entre os senhores e seus servos. Os antigos senhores passaram,

progressivamente, a perder poder político e econômico, que se restringia, cada vez mais, aos limites de seus próprios feudos. Ou seja, nas cidades, os senhores não desfrutavam de nenhum direito ou privilégio que um burguês não pudesse também pleitear.

Talvez, essa tenha sido uma das mais importantes mudanças ocorridas na Idade Média, e que se fizeram presentes na Idade Moderna: a formação de uma classe social para quem os privi-légios de nascimento foram perdendo importância.

Nesse processo histórico da formação da burguesia, as estru-turas políticas predominantes do feudalismo, como a descentra-lização do poder, foram, gradativamente, substituídas por outro modelo político. De acordo com o historiador José Luis Romero, a burguesia, em geral, compartilhava a ideia de que as relações abstratas entre um indivíduo e o Estado eram incomparavelmente preferíveis às relações pessoais entre servos e um senhor.

Explicando melhor, as relações comerciais, das quais dependia a burguesia, exigiam certas condições e segurança que somente um poder centralizado podia oferecer. Por exemplo, como o comércio dependia de moedas que pudessem ser facilmente trocadas por produtos, era mais fácil que um Estado organizasse a cunhagem de moedas únicas com validade em um determinado território do que se cada senhor feudal tivesse suas próprias moedas. Da mesma maneira, em um Estado governado por um poder centralizado, era possível estabelecer regras comerciais e impostos válidos para todos, ao contrário das restrições impostas por cada senhor.

Enfim, a burguesia, enquanto classe social que surgiu na transi-ção entre a Idade Média e a Idade Moderna, aos poucos foi adquirin-do poder econômico e, cada vez mais, representação política. Assim, o crescimento e a consolidação da classe burguesa contribuíram para o fim da Idade Média e o fim do próprio feudalismo.

Crise do século XIV

Os três primeiros séculos do segundo milênio foram um período de muitas e profundas mudanças para a Europa Ocidental. O feudalismo atingiu o seu auge, que foi sucedido por um longo processo de desaparecimento. As cidades e o comércio recuperaram importância e possibilitaram que uma nova classe social, a burguesia, despontasse no cenário medieval. Resumidamente, esses acontecimentos criaram condições para que, no século XIV, uma crise se abatesse na Europa Ocidental, com consequências que ultrapassaram os limites geográficos daquele território.

A crise do século XIV foi um momento de mudanças súbitas, de dificuldades. Juntamente com outros fatores, o aumento populacional nos centros urbanos e o crescente desenvolvimento das atividades comerciais foram causa-dores da crise.

A “revolução agrícola”, ocorrida entre os séculos X e XII, permitiu a produção de mais alimentos, que foi acompanhada pelo crescimento demográfico e pelo aumento da população urbana. Entretanto, os centros urbanos não estavam devida-mente preparados para suportar um inchaço populacional, pois não possuíam estrutura física que oferecesse boas condições de vida. Faltavam água corrente, esgotos e coleta de lixo. As casas eram construídas sem planejamento, construções feitas de materiais inflamáveis se sobrepunham em estreitas ruas.

No espaço urbano conviviam homens e animais, prin-cipalmente os domésticos e os de tração. Cavalos, burros, cães, galinhas, porcos e, na maioria das vezes, algum gado, dividiam o mesmo espaço com a população humana. Os detritos de todos eles se acumulavam nas ruas e passeios, aguardando que as águas das chuvas limpassem a cidade. Em suma, as cidades medievais eram sujas, constituindo um ambiente propício para o aparecimento de ratos, baratas, piolhos, pulgas e outros causadores de doenças.

O início do século XIV foi marcado, na Europa Ocidental, por condições climáticas atípicas, que comprometeram a pro-dução agrícola. Para o historiador Marco Antônio de Oliveira Pais, “a conjugação de chuvas torrenciais e de más colheitas inaugurou um período de fome”. Como a população havia crescido significativamente nas últimas décadas, a falta de alimentos gerou uma situação extremamente perigosa.

Some-se à escassez de comida, a grande concentração de pessoas nas imundas cidades medievais. Eram muitas pessoas em um espaço relativamente pequeno, e todas com fome. A desnutrição, como se sabe, debilita o sistema imunológico, tornando o desnutrido potencialmente suscetível a contrair doenças. Nesse sentido, o fortalecimento das transações comer-

O casal

Arnolfini

@HIS977

A grande

fome

@HIS1243

Guerra dos

Cem Anos –

A Batalha de

Crécy

@HIS1002

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História Medieval56

[...] Tanto nas aldeias como nas cidades, a latrina fica junto ou perto da porta dos fundos da maioria das casas, sem qualquer preocupação com o cheiro... nem com as moscas, que tinham tão pouca distância a percorrer para os alimentos que as pessoas comiam. Não havia noção de como as doenças podem ser dis-seminadas pelas bactérias. As pessoas consideravam como um fato normal que seus corpos oferecessem hospitalidade para parasitas, que variavam dos tricuros [parasitos intestinais] relativamente inofensivos à sinistra solitária, que pode alcançar trinta centímetros de comprimento. A solitária pode sair inesperada-mente por qualquer orifício, inclusive – o mais alarmante – pelos cantos dos olhos da pessoa.LACEY, Robert. O ano 1000: a vida no início do primeiro milênio. Rio de Janeiro: Campus, 1999. p. 105-106.

ciais entre Oriente e Ocidente tornou aquela situação perigosa em uma combinação tão dramática como altamente mortífera.

As dezenas de embarcações, que cruzavam as águas do Mar Mediterrâneo, repletas de mercadorias orientais para serem vendidas na Europa Ocidental também levavam em seu interior muitos ratos. Os ratos carregavam inúmeras

A pestilência devastadora gerou uma crise na Europa Ocidental. Eram tantos os mortos que não havia mais espaço para os corpos nos cemitérios, tampouco madeira para fazer os caixões. Estima-se que, durante o verão de 1348, um terço da população europeia tenha sucumbido à Peste Negra. Nessa época, o costume de sepultar defuntos de famílias ricas no interior das igrejas não pôde ser seguido à risca. Como essa doença não escolhia entre ricos e pobres, os milhares de mortos eram jogados em valas comuns

Anônimo. Imagem original do livro O livro das horas de Angers. [ca. 1430-1435]. Biblioteca Nacional, Paris.

Anônimo. A peste em Louvain. 1578. Museu da Comunidade, Louvain.

pulgas que difundiram uma verdadeira praga pela Europa: a Peste Negra. Não há dados precisos a respeito dos danos causados por ela, mas estimativas indicam que, aproxima-damente, um terço da população europeia sucumbiu diante da terrível pestilência.

A fome, a Peste Negra e a diminuição populacional e do comércio, juntas, resultaram em um período de crise para a Europa Ocidental. A crise colocou em xeque todo o sistema feudal, com suas estruturas políticas, econômicas e sociais, de modo que, ao fim do século XIV, o feudalismo estava em pleno processo de desaparecimento. Na mesma época, outro modelo de organização político-econômica começava a aparecer, era o surgimento do capitalismo.

A peste e suas

consequências

@HIS1595

Os flagelantes

@HIS1660

Obra de Pieter

Brüegel, O triunfo da morte

@HIS885

A Peste Negra

está extinta?

@HIS944

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Ensino Médio | Modular 57

HISTÓRIA

[...] da mesma forma que a Aids, a epidemia, em geral, e a Peste Negra, em particular, foram consi-deradas como uma punição do pecado. Na desordem, procuravam-se responsáveis e bodes expiatórios: eram os judeus e os leprosos. Dizia-se que eles tinham envenenado os poços. Houve um desencadeamento de violência contra os que apareciam como os instrumentos de um Deus vingativo, que fustigava suas criaturas lançando sobre elas a doença. [...]

Chamava-se “lepra” a muitas doenças. Toda erupção pustulenta, a escarlatina, por exemplo, qualquer afecção cutânea passava por lepra. Ora, havia, com relação à lepra, um terror sagrado: os homens daquele tempo estavam persuadidos de que no corpo reflete-se a podridão da alma. O leproso era, só por sua aparência corporal, um pecador. Desagradara a Deus e seu pecado purgava através dos poros.DUBY, Georges. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998. p. 87, 89, 91.

1. Com base nos textos, faça o que se pede.

a) Relacione as condições sanitárias da Europa durante a Baixa Idade Média com a disseminação de doenças.

b) Explique de que maneira a sociedade medieval relacionou a disseminação da Peste Negra e de outras doenças com a religião.

2. (ENEM)A Peste Negra dizimou boa parte da população europeia, com efeitos sobre o crescimento das cidades.

O conhecimento médico da época não foi suficiente para conter a epidemia. Na cidade de Siena, Agnolo di Tura escreveu: “As pessoas morriam às centenas, de dia e de noite, e todas eram jogadas em fossas cobertas com terra e, assim que essas fossas ficavam cheias, cavavam-se mais. E eu enterrei meus cinco filhos com minhas próprias mãos [...]. E morreram tantos que todos achavam que era o fim do mundo.”.TURA, Agnolo di. The Plague in Siena: An Italian Chronicle. In: BOWSKY, William M. The Black Death: a turning point in history? New York: HRW, 1971. (Com adaptações).

O testemunho de Agnolo di Tura, um sobrevivente da Peste Negra, que assolou a Europa durante parte do século XIV, sugere que:

a) o flagelo da Peste Negra foi associado ao fim dos tempos.

b) a Igreja buscou conter o medo da morte, disseminando o saber médico.

c) a impressão causada pelo número de mortos não foi tão forte, porque as vítimas eram poucas e identificá-veis.

d) houve substancial queda demográfica na Europa no período anterior à Peste.

e) o drama vivido pelos sobreviventes era causado pelo fato de os cadáveres não serem enterrados.

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História Medieval58

O mercador de joias e de metais preciosos aparece satisfeito com suas moedas, ao lado de sua esposa, que folheia um livro ornamentado com iluminuras. A dinamização das relações comerciais exigiu a monetização da economia, isto é, a cunhagem de moedas. Apesar do sucesso econômico da burguesia, a Igreja Católica condenava a usura, o lucro excessivo advindo de juros

MASSYS, Quentin. O prestamista e sua esposa. 1514. 1 óleo em painel, 71 cm x 68 cm. Museu do Louvre, Paris.

Transição do feudalismo para o capitalismo

Assim como o feudalismo não desapareceu de maneira súbita, tampouco o capitalismo surgiu repentinamente. Entre o fim de um e o começo do outro, houve um período de transição, a passagem do feudalismo para o capitalismo.

O feudalismo, com sua população eminentemente rural e sua economia agrária de subsistência, foi sendo, desde os séculos X, XI e XII, substituído por um outro tipo de organização da sociedade. Politicamente, o advento do capitalismo foi acompanhado por um processo de contínua centralização do poder. Economicamente, o comércio exigiu alguns elementos que eram dispensáveis nos feudos medievais, como moedas e regras claras e bem definidas para as trocas mercantis.

A intensa descentralização política, com cada senhor estipulando regras próprias em seus domí-nios, era um obstáculo inconveniente para o desenvolvimento comercial. Desde cedo, os mercadores perceberam que o seu sucesso comercial estava intimamente relacionado à formação de um conjunto político forte e unificado. Assim, fazia-se necessária a existência de um Estado no lugar daquela variedade de feudos independentes.

A quase inexistência de moedas nos feudos era outro empecilho para o comércio. Nos feudos, as necessidades de consumo eram supridas com trocas naturais, em que um produto era trocado por outro, como uma quantidade de ovos por uma quantidade de leite. Nesse tipo de troca, não se objetivava o lucro. Trocava-se aquilo que se considerava justo. Porém, com a mercantilização da economia, o lucro passou a orientar as transações comerciais.

Por isso, a busca por vantagens nas trocas tornou indispensável a utilização de moedas. Uma moeda forte e confiável exigia, em contrapartida, um governo que também fosse forte e confiável. Logo, fica fácil compreender os fatores que favoreceram o surgimento, quase que paralelo, dos Estados centralizados e do capitalismo. E, como ambos atendiam aos interesses e às expectativas da nascente

classe burguesa, criou-se um estreito vínculo entre os Estados, a burguesia e o capitalismo.

Como na História nada é estático e imutável, os Estados, a burguesia e o ca-pitalismo também sofreram mudanças e adaptações, transformando-se no decorrer dos séculos e assumindo novas formas e ca-racterísticas. Apesar de ainda hoje existirem Estados, burguesia e capitalismo, eles são algo completamente diferente daquilo que foram na época de transição da Idade Média para a Idade Moderna.

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HISTÓRIA

1.

[...] Uma ‘villa’ [...] é o centro de um grande do-mínio. Do ponto de vista dos materiais, a cons-trução permanece em geral bastante modesta, mesmo quando se usa a pedra: não se pode fa-lar de castelo. Enfim, a ‘villa’ é um domínio com um prédio principal que pertence ao senhor; em consequência, é um centro de poder, não apenas de poder econômico, mas também de poder em geral sobre todas as pessoas, os camponeses e os artesãos que vivem nas terras ao redor. Desse modo, quando se passa a dizer, em francês, ‘la ville’ (o italiano conservará o termo città), marcar--se-á bem a passagem do poder do campo para a cidade. O termo ‘villa’, esse se aplicará à aldeia nascente a partir dos séculos IX e X.

LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1988. p. 12.

Agora, analise as afirmativas a seguir:

I. O fragmento aborda o surgimento das cidades medievais logo após as invasões dos povos de-nominados de “bárbaros” pelos romanos.

II. O fragmento trata das vilas e suas caracte-rísticas, afirmando que um modelo geral iria se consolidar nos séculos finais do primeiro milênio da Era Cristã.

III. Um aspecto priorizado pelo fragmento é a organização política, que era centralizada, pois essas vilas são o que posteriormente foi chamado de países.

De acordo com a análise, pode-se afirmar que

a) todas as afirmativas estão certas. b) todas as afirmativas estão erradas. c) apenas a afirmativa I está certa. d) apenas a afirmativa II está certa. e) apenas a afirmativa III está certa.

2. A respeito das Cruzadas, responda o que se pede: a) Explique de que maneira as Cruzadas se relacio-

naram com o desenvolvimento comercial verifi-cado entre a Europa Ocidental e o Oriente.

b) Cite uma consequência que pôde ser verificada na Europa Ocidental com o desenvolvimento das relações comerciais com o Oriente.

3. Sobre o mundo feudal, assinale a alternativa correta. (01) A característica básica da sociedade feudal era

a acessível mobilidade entre classes distintas.

(02) A economia feudal fundou-se na economia natural, caracterizada pela troca de produtos por outros produtos, sem objetivar lucro.

(04) Apesar da supremacia religiosa da Igreja Católica durante o período medieval, essa instituição nunca interferiu na cultura e na política do sistema feudal.

(08) O período medieval ficou conhecido como uma época de fartura de alimentos, devido aos avanços técnicos relacionados à agricul-tura praticada nos feudos.

(16) Politicamente, a sociedade medieval era or-ganizada com os diversos feudos, devendo obediência diretamente aos reis.

4. (UTFPR) As Cruzadas são tradicionalmente defi-nidas como expedições de caráter “militar” or-ganizadas pela Igreja, para combater os inimi-gos do cristianismo e libertarem a Terra Santa (Jerusalém) das mãos desses infiéis. O movimen-to estendeu-se desde os fins do século XI até me-ados do século XIII. Sobre esse assunto, assinale a alternativa incorreta.

a) O termo Cruzadas passou a designar esse mo-vimento em virtude de seus adeptos serem identificados pelo símbolo da cruz bordado em suas vestes.

b) As peregrinações em direção a Jerusalém, assim como as lutas travadas contra os mu-çulmanos na Península Ibérica e contra os hereges em toda a Europa Ocidental, foram justificadas e legitimadas pela Igreja.

c) O movimento cruzadista foi motivado pelo predomínio da Igreja sobre o comportamento do homem medieval.

d) Muitos nobres passaram a encarar as expedi-ções à Terra Santa como uma real possibilida-de de ampliar seus domínios territoriais.

e) As Cruzadas Medievais foram um conjunto de fatos isolados e em nada influenciaram a su-peração da crise que se instalava na sociedade feudal durante a Idade Média.

5. (UFRN) Em 1095, atendendo ao apelo do papa Urbano II para que iniciassem uma guerra contra os muçulmanos, os nobres cristãos, motivados por ideais religiosos e econômicos, organizaram as Cruzadas.Considerando-se o conjunto dessas expedições, que se prolongaram até 1270, pode-se destacar como uma de suas consequências:

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8. Observe a tirinha a seguir:

LAERTE. Classificados: livro 3. São Paulo: Devir, 2004. p. 18.

Considerando que a tirinha apresenta um gigante, um dragão e uma bruxa dentro do castelo, explique as principais características religiosas do mundo ocidental durante a Idade Média.

a) O enfraquecimento do comércio italiano no Mar Mediterrâneo, em razão da insegurança e dos perigos gerados pelos conflitos militares.

b) O fortalecimento da autoridade dos senhores feudais, cujas finanças foram consolidadas com a exploração dos territórios do Oriente.

c) A difusão e a assimilação da cultura germânica pelo Império Bizantino, alterando significativa-mente o modo de viver dos povos orientais.

d) A ampliação do universo cultural dos povos eu-ropeus, possibilitada pelo contato com a rica cultura dos povos orientais.

6. (UDESC) De certo modo a sociedade medie-val teve uma estrutura muito mais estática e

hierárquica que outras sociedades. Nela o ser humano estava, ao menos teoricamente, subme-tido à onipotência divina.Tendo em vista essas características do período medieval, discorra a respeito da arte e da sua função nesse período, na Europa Ocidental.

7. Sobre a Idade Média, responda o que se pede:

a) Pode-se afirmar, atualmente, que a Idade Mé-dia foi um período de obscurantismo, uma “Idade das Trevas”? Justifique a sua resposta.

b) Considerando a sociedade medieval, cite um dos grupos que a compunham.

c) A partir de sua resposta no exercício anterior, ex-plique qual era a função do grupo social citado.

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