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Série Estratégias de Ensino 28

Série Estratégias de Ensino 28 - UFPA · Irandé Antunes 6. Ensinar o brasileiro — respostas a 50 perguntas de professores de língua materna, Celso Ferrarezi 7. Semântica para

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Série Estratégias de Ensino 28

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Estratégias de Ensino

1. O ensino do espanhol no Brasil, João Sedycias [org.]

2. Português no ensino médio e formação do professor, Clecio Bunzen & Márcia Mendonça [orgs.]

3. Gêneros catalisadores — letramento e formação do professor, Inês Signorini [org.]

4. A formação do professor de português — que língua vamos ensinar?, Paulo Coimbra Guedes

5. Muito além da gramática — por um ensino de línguas sem pedras no caminho, Irandé Antunes

6. Ensinar o brasileiro — respostas a 50 perguntas de professores de língua materna, Celso Ferrarezi

7. Semântica para a educação básica, Celso Ferrarezi

8. O professor pesquisador — introdução à pesquisa qualitativa, Stella Maris Bortoni-Ricardo

9. Letramento em eja, Maria Cecilia Mollica & Marisa Leal

10. Língua, texto e ensino — outra escola possível, Irandé Antunes

11. Ensino e aprendizagem de língua inglesa — conversas com especialistas, Diógenes Cândido de Lima (org.)

12. Da redação escolar ao texto — um manual de redação, Paulo Coimbra Guedes

13. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social, Roxane Rojo

14. Libras? Que língua é essa?, Audrei Gesser

15. Didática de línguas estrangeiras, Pierre Martinez

16. A palavra e a sentença — estudo introdutório, Ronaldo de Oliveira Batista

17. Coisas que todo professor de português precisa saber, Luciano Amaral Oliveira

18. Gêneros textuais & ensino, A. Paiva Dionisio, A. R. Machado, M. A. Bezerra (orgs.)

19. As cadeias do texto — construindo sentidos, Cláudia Roncarati

20. Produção textual na universidade, Désirée Motta-Roth, Graciela Rabuske Hendges

21. Análise de textos — fundamentos e práticas, Irandé Antunes

22. Dicionários escolares — políticas, formas & usos, Orlene Lúcia de Sabóia Carvalho,

Marcos Bagno (orgs.)

23. Inglês em escolas públicas não funciona?, Diógenes Cândido de Lima (org.)

24. Dicionários na teoria e na prática — como e para quem são feitos, Claudia Xatara, Cleci Regina Bevilacqua, Philippe René Marie Humblé

25. Gêneros textuais — reflexões e ensino, Acir Mário Karwoski, Beatriz Gaydeczka, Karim Siebeneicher Brito (orgs.)

26. Letramentos de reexistência — poesia, grafite, música, dança: hip-hop, Ana Lúcia Silva Souza

27. Pesquisar no labirinto — a tese, um desafio possível, Francisco Perujo Serrano

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Capa: Andréia Custódio

Editor: Marcos Marcionilo

projEto gráfiCo: Geminy Comunicações

ConsElho Editorial: Ana Stahl Zilles [Unisinos] Carlos Alberto Faraco [UFPR] Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP] Gilvan Müller de Oliveira [UFSC, Ipol] Henrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela] Kanavillil Rajagopalan [Unicamp] Marcos Bagno [UnB] Maria Marta Pereira Scherre [UFES] Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP] Roxane Rojo [UNICAMP] Salma Tannus Muchail [PUC-SP] Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

S713c

Souza, Cláudia Nívia Roncarati deCadeias do texto : construindo sentidos / Cláudia Nívia Roncara-

ti de Souza. - São Paulo : Parábola Editorial, 2010. -(Estratégias de ensino ; 19)

Inclui bibliografiaISBN 978-85-7934-010-9

1. Linguística. 2. Linguagem e línguas. 3. Análise do discurso. 4. Língua portuguesa - Estudo e ensino. I. Título. II.Série.

10-2938. CDD: 401.41 CDU 81´42

Direitos reservados àParábola EditorialRua Dr. Mário Vicente, 394 - Ipiranga04270-000 São Paulo, SPpabx: [11] 5061-9262 | 5061-8075 | fax: [11] 2589-9263home page: www.parabolaeditorial.com.bre-mail: [email protected]

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão por escrito da Parábola Editorial Ltda.

ISBN: 978-85-7934-040-6

© do texto: Maria Irandé Costa Morais Antunes, 2012© da edição: Parábola Editorial, São Paulo, fevereiro de 2012

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

A672T

Antunes, Irandé, 1937-O território das palavras : estudo do léxico em sala de aula / Irandé

Antunes. - São Paulo : Parábola Editorial, 2012. 176. : 23 cm (Estratégias de ensino ; 28)

Inclui bibliografia

ISBN 978-85-7934-040-6

1. Língua portuguesa - Semântica. 2. Língua portuguesa - Lexicografia.

I. Título. II. Série.

12-0112. CDD: 469.5 CDU 811.134.3’36 032567

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A Helena , uma “palavrinha” a mais

enchendo de sentido e de encanto o ‘dicionário’ de nossas vidas.

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Sumário

Prefácio .......................................................................................... 11

Introdução ..................................................................................... 13

Capítulo 1 O ensino do léxico: breve análise ............................................19

1. Qual tem sido o lugar do ensino do léxico nos programas de ensino?...............................................................................20

2. O que o ensino do léxico tem focalizado? Qual a perspectiva com que é explorado na escola? .............24

Capítulo 2 O léxico de uma língua ...............................................................27

1. O que é o léxico de uma língua? Em que consiste? ..............272. Unidades do léxico vs. unidades da gramática .....................323. Que questões estão implicadas no âmbito do léxico? ...........344. O léxico como manifestação de nossa identidade cultural ...46

Capítulo 3 O vocabulário de um texto ........................................................ 51

1. A palavra enquanto unidade do sistema lexical e enquanto ocorrência em determinado texto ......................... 51

2. A submissão da escolha dos vocábulos às condições da atividade discursiva .........................................................53

Capítulo 4 O vocabulário e sua função na coesão entre partes do texto: o recurso da repetição lexical..................................61

1. A repetição de palavras ........................................................62

7 § Sumário

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2. A distribuição no texto das palavras repetidas ...................66

Capítulo 5 O vocabulário e sua função na coesão entre partes do texto: o recurso da variação lexical ..................................75

1. A coesão conseguida pelo uso de palavras semanticamente equivalentes .............................................. 76

2. O nexo possibilitado pelo uso de uma palavra e de seu sinônimo ................................................................................78

3. O nexo possibilitado pelo uso de uma palavra e de seu hiperônimo .............................................................................81

4. A equivalência criada por uma espécie de definição ou caracterização ........................................................................85

5. Os nexos criados pela aproximação semântica entre as palavras do texto .....................................................87

Capítulo 6 O vocabulário e sua função na coerência do texto ..............93

Capítulo 7 Conexão entre vocabulário e gramática na expressão dos sentidos de um texto .......................................................... 105

1. Existe uma gramática, ou existem gramáticas? ................ 1062. O ensino da gramática na escola ........................................ 1093. Que dizer da conexão entre a gramática e o vocabulário

de um texto? ........................................................................ 112

Capítulo 8O texto literário: suporte lexical da criação estética ........ 119

1. A especificidade do texto literário ...................................... 1192. A relevância do texto literário ............................................1233. A coerência do texto literário ..............................................1244. E o léxico como suporte linguístico da criação estética? ....1265. O ensino do texto literário ................................................. 133

Capítulo 9 O uso do dicionário como objeto de estudo ......................... 135

1. Uma pequena introdução .................................................... 135

8 O território das palavras § Irandé Antunes

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2. Gramáticas e dicionários: itens que se completam ............ 1373. Mais especificamente, que informações contêm os

dicionários? ..........................................................................1384. A tarefa de elaborar um dicionário .................................... 1405. Funções do dicionário ......................................................... 143

Capítulo 10 Perspectivas para o estudo do léxico .................................... 151

1. Um programa de estudo do léxico ....................................... 1532. A escolha dos textos ............................................................ 1603. As armadilhas da rotina da escolarização dos conteúdos . 162

Capítulo 11 Fechando, por enquanto, nossa conversa ........................... 163

Agradecimentos ......................................................................... 169

Referências bibliográficas ....................................................... 171

9 § Sumário

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Prefácio

Ataliba T. de CastilhoUSP, Unicamp, CNPq

Pouco depois do final dos anos 1980, a Linguística brasilei-ra passou a experimentar uma grande alteração em sua agen-da. E é que, depois de muitos ataques à gramática tradicional e ao ensino da língua portuguesa em nossas escolas, os linguis-tas brasileiros arregaçaram as mangas e passaram a debater essas questões, produzindo trabalhos vitais para a renovação dos procedimentos em sala de aula.

O traço comum a esses trabalhos se concentrava na divul-gação dos achados de projetos coletivos de pesquisa — uma das marcas da Linguística que se faz em nosso país.

Irandé Antunes esteve presente desde logo nestas ativida-des, lidando com as questões do texto, da gramática e do léxico, temas aos quais dedicou cinco livros, fora capítulos de livros, ensaios, e muita, muita atividade em sala de aula.

Nesta nova contribuição, ela encara o problema do léxico e do vocabulário, que considera marginalizados no ensino, todo ele ocupado pela gramática. Ela mostra que seria de grande valia lidar com o léxico do ponto de vista de sua atuação no texto, atenuando a atual ênfase na estrutura gramatical das palavras.

11 § Prefácio

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Nessa perspectiva, ela começa por operar com conceitos tais como sinonímia, antonímia, hiperonímia e meronímia, familia-rizando seu leitor com os jogos discursivos que fazemos com as palavras o tempo todo. Pouco a pouco, ela vai tornando familiares conceitos tais como os de inferência e pressuposição, efeitos de sen-tido, ambiguidade, estratégias referenciais, expressões cristaliza-das, entre outros, indispensáveis ao tratamento textual do léxico.

Preparado o caminho, Irandé mostra agora como escolhe-mos as palavras em nossos textos. Para tornar claro esse per-curso, ela trabalha os seguintes conceitos: tema textual, fina-lidade de construção do texto, adequação vocabular ao gênero que está sendo construído, sua modalidade, sua formalidade ou informalidade. Selecionada a unidade textual, a autora de-monstra como a elaboramos lexicalmente, via inserção de uma palavra, sua repetição ou sua paráfrase, além dos vários pro-cessos de retomada da palavra-tema. Ao final deste percurso, o leitor entende o papel coesivo do vocábulo na trama do texto.

Assim devidamente instruído, o leitor é agora conduzido a uma percepção mais fina do papel das palavras na organização do texto, de que assegura a coerência. Todo o cap. 6 é dedicado a essa questão, central para os propósitos da autora, ou seja, a consideração da palavra em sala de aula, não como um elemen-to solto, mas como parte solidária da organização do texto.

O próximo passo da autora foi mostrar as relações entre o lé-xico e a gramática, o que ocorre nos últimos capítulos de seu livro. Vários textos são examinados, culminando com a explicação do uso do dicionário em sala de aula. Destacando que em nossas escolas pouco se compulsa o dicionário, Irandé apresenta aos professores um roteiro de importantes atividades para sanar essa falha.

Em suma, temos aqui um trabalho que muito contribuirá para a melhora do ensino de língua portuguesa, indispensável ao continuado progresso da nação brasileira.

12 O território das palavras § Irandé Antunes

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Introdução

Por que este livro?Minha pretensão é, antes de tudo, estabelecer mais um con-

tato com os professores de português: com aqueles que já estão em sala de aula e com aqueles que se preparam para lá atuar. Pretendo, desta vez, deter-me nas questões relativas ao ensino do léxico, ou, mais especificamente, ao ensino do vocabulário com que construímos nossas ações linguísticas para dar corpo aos sentidos e às intenções que queremos expressar.

Por muitas razões históricas, sobejamente exploradas em diversos estudos, a gramática assumiu nas atividades de ensino um lugar hegemônico, ou, melhor dizendo, um lugar de quase monopólio, deixando fora de análise os outros componentes que tornam possível a atividade da comunicação verbal. Consequen-temente, o estudo do léxico tem constituído um interesse secun-dário nas atividades do ensino, realizado de forma irrelevante e pouco significativa do ponto de vista dos usos sociodiscursivos da língua.

Não descarto também o propósito de estabelecer um diálo-go com qualquer pessoa que tenha algum interesse em avaliar o trabalho da escola no que tange ao ensino da língua. Muito frequentemente, os pais dos alunos procuram interferir nas op-ções pedagógicas da escola, e essa interferência tem tido como

13 § Introdução

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objeto principal o ensino da gramática, sobretudo quando, na visão dos pais, a gramática parece estar fora das prioridades dos programas e projetos de ensino. Muito já se tem falado so-bre a avassaladora inserção da gramática no ensino da língua, centralizando os objetivos e conteúdos do trabalho pedagógico, a ponto de, no consenso geral, ‘estudar uma língua’ correspon-der a ‘estudar gramática’.

Penso, portanto, em oferecer elementos — conceituais e me-todológicos — que possam levar professores, alunos e pais de alunos a considerar o ensino do léxico como algo de extrema importância para o desenvolvimento das competências neces-sárias aos usos da linguagem verbal.

Me parece de extrema urgência entender que, para conse-guirmos a tão apregoada competência em falar, ler, compreen-der e escrever, é necessário conhecer, ampliar e explorar o ter-ritório das palavras, tão bem ou melhor do que o território da gramática. Os saberes sobre a gramática da língua já os temos ‘internalizados’ desde tenra idade. O que nunca deixa de estar sob exigências permanentes de atualização são as demandas sociais por um conhecimento lexical mais vasto, mais diversi-ficado, mais específico, capaz de cobrir as particularidades de contextos em que acontecem nossas atuações verbais.

As diferenças entre os usos prestigiados da língua e aque-les que são objeto de discriminação se evidenciam muito mais no âmbito do vocabulário do que naquele da gramática. Até porque, como foi há pouco referido e já é do conhecimento de muitos, os saberes gramaticais já são do domínio de todos os falantes, que os manejam satisfatoriamente em suas atuações verbais cotidianas. A ampliação do repertório lexical é que de-manda experiências bem mais diversificadas e distantes dos espaços informais do cotidiano coloquial.

14 O território das palavras § Irandé Antunes

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Para ilustrar esse entendimento de que os usos menos co-muns das escolhas lexicais conferem a nossa linguagem um visível teor de qualidade — muito mais do que a estrita ob-servância das determinações gramaticais — ponho em análise um fragmento de uma reportagem publicada recentemente na revista Veja.

Observemos o trecho em destaque no final do fragmento:

O medo de volta 66 anos depoisO Japão é o único paí s do mundo que já teve seu território atacado com armas nucleares. Duas bombas lançadas sobre as cidades de Hi-roshima e Nagasaki por aviões americanos puseram fim à II Guerra Mundial. Mais de 140.000 pessoas morreram nas duas cidades, vo-latilizadas instantaneamente pelo calor de 1 milhão de graus. Outras dezenas de milhares morreram nas semanas e meses seguintes, vit ima-das pelas sequelas da radiação. Na semana passada, 66 anos depois dos primeiros e únicos bombardeios nucleares da história, a radiação voltou a atemorizar o Japão.O perigo vem dos reatores da usina nuclear de Fukushima 1 , seriamen-te atingida pelo terremoto e pelo tsunami que devastaram o nordeste do Japão no dia 11 passado. Aplacada a fúria da natureza, a força descomunal do átomo libertada pelo engenho humano passou a ser a ameaça maior e mais insidiosa, por invisível, incolor e inodora.

(Veja , 23 de março, 2011: 87)

Chamo a atenção para os segmentos: “[pessoas] volatiliza-das instantaneamente”; “vitimadas pelas sequelas da radiação”; “[terremoto e tsunami] que devastaram”; “Aplacada a fúria da natureza”; “a força descomunal do átomo libertada pelo engenho

15 § Introdução

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humano”; “a ameaça maior e mais insidiosa, por invisível, inco-lor e inodora”, para ficar apenas nesse trechinho. Evidentemen-te, o fato de as normas da língua culta terem sido observadas confere também a esse comentário relevância linguística. No entanto, o que se configura como algo mais distante do falar informal e não monitorado e, portanto, mais adequado a um contexto formal, são as escolhas lexicais pouco comuns à expe-riência dos menos letrados.

Por outro lado, realizações lexicais que destoam daquilo que seria um ‘léxico’ mais formal ou mais elaborado são logo perce-bidas como ‘evidências’ de uma competência linguística muito limitada.

Considero, portanto, oportuna a iniciativa de propor uma reflexão sobre as condições de ensino do léxico nas escolas. Esse é o objetivo central deste trabalho. Dentro desses limites, vale a pena advertir que não me dirijo aqui a especialistas em léxico e semântica e, portanto, dispenso-me de apresentar, no espaço destas páginas, amplas e profundas considerações teóricas acerca das várias questões implicadas no âmbito do léxico, sobretudo aquelas relacionadas à semântica. Vou indi-car fontes onde essas questões podem ser aprofundadas e ape-nas referir — na medida do necessário — os pontos que mais diretamente podem ser objeto de ensino nos ciclos do ensino fundamental e médio.

Na verdade, pretendo chegar “mais perto da sala de aula”, para — sem abrir mão de bases teóricas consistentes — ofere-cer aos professores opções de trabalho que, de fato, concorram para um maior desenvolvimento dos alunos em relação às com-petências que precisam ter no uso oral e escrito da língua, nos diferentes contextos sociais que precisam enfrentar.

Nessa perspectiva, minha pretensão é concentrar a aten-ção no papel do léxico na construção da coesão e da coerência

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do texto1; muito mais, portanto, do que fixar-me em questões de seus valores semânticos.

Maior ainda é minha pretensão de contribuir para emprestar às au-las de linguagem um ‘sabor’ de coisa proveitosa, socialmente relevante, e, por vezes, sedutora e fascinante.

Sob a inspiração de Drummond, pensemos em nossos exercícios esco-lares e em como deixá-los com mais sabor de linguagem e de interação:

“As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.”(Drummond. Antologia poética, 11a ed.

Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1978: 15).

1 Neste trabalho, vou deter-me mais especificamente em considerações à volta do texto escrito. Reconheço, no entanto, que as noções aqui abordadas, em geral, podem ser aplicadas também às funções do léxico e a seu papel na construção do texto falado. A propósito, vale a pena referir que já dispomos de uma farta bibliografia sobre a oralidade e seu estudo em sala de aula, como se pode ver em Marcuschi (1986, 2001, 2008), Koch (1997), Ramos (1997) Schneuwly, Dolz et alii (2004) e, muito particularmente, nos volumes organizados por Castilho (1990; 1993) sobre a Gramática do português falado. Também vale a pena a consulta a Castilho (2000 e 2010).

17 § Introdução