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OS CARREGADORES DO PORTO DE TEFÉ – UMA ANÁLISE GEOGRÁFICA.
Sthephano Mhae Alves Fernandes Viviane Pimentel Moscardini Sussumo
Leonardo de Oliveira Mendes CEST\UEA
O presente texto trata-se de uma análise da dinâmica do trabalho dos carregadores portuários da
cidade de Tefé-Am a partir no resultado da pesquisa realizada entre agosto de 2012 a agosto de
2013, desenvolvida junto à Universidade do Estado do Amazonas e financiada pela FAPEAM. A
pesquisa iniciou-se com o intuito de compreender como se territorializam no porto da cidade de
Tefé-AM a dinâmica do trabalho dos carregadores, mediante as transformações em curso no mundo
do trabalho. São eles, que através de seus corpos, carregam e descarregam barcos e balsas tornando
possível o consumo de mercadorias da população tefeense e contribuindo para a dinâmica
econômica da cidade. Entretanto os mesmos estão submetidos a condições e relações de trabalho
precárias e esquecidos pelo poder público. Buscando compreender tal dinâmica é que procuramos
identificar quem são esses trabalhadores, quais condições de trabalho estão inseridos, se estão
organizados em alguma entidade sindical, como se dão as relações de trabalho, se são assalariados
ou não, como é estabelecida a jornada de trabalho e de que forma eles se organizam para o trabalho.
Para alcançar tais objetivos fez-se necessário buscar referências bibliográficas que tratassem sobre a
temática do mundo do trabalho, das pequenas cidades da Amazônia e trabalhos já desenvolvidos
sobre os carregadores portuários da região. Utilizou-se na pesquisa de campo a observação,
aplicação de questionários e entrevistas realizadas junto aos carregadores do porto de Tefé-Am.
Portanto, ao final da pesquisa constatamos que a dinâmica do trabalho dos carregadores do porto de
Tefé ocorre de modo dinâmico entre os carregadores em relação ao seu trabalho que é imprevisível,
pois somente haverá trabalho se tiver produtos industrializados, agropecuários, hortifrútis,
cosméticos, eletrônicos e outros a serem transportados para os supermercados, tabernas e feiras. O
trabalho dos carregadores não necessita de nenhum grau de escolaridade, trabalham em condições
precárias expostos a sol e chuva e sem equipamento de segurança. Não são trabalhadores formais,
seu trabalho é pago diariamente e não tem sindicato. Portanto, os carregadores estão sujeitos há
exploração para ganhar uma renda baixa para sustentar sua família, mas, estão sempre acreditando
em ter um bom local de trabalho e de serem respeitados por exercerem esta árdua profissão, mas
que beneficia toda a sociedade Tefeense.
Palavras-chave: Geografia do Trabalho, Carregadores, Porto de Tefé.
e-mail para contato:[email protected] INTRODUÇÃO
No porto da cidade de Tefé há um intenso fluxo de pequenas e grandes embarcações,
como barcos e balsas, onde embarcam e desembarcam passageiros e mercadorias vindos de
Manaus e cidades vizinhas. Apesar desse intenso fluxo o porto da cidade é formado por três
flutuantes que não oferecem a estrutura necessária para a realização das atividades portuárias,
tanto no que diz respeito ao fluxo de passageiros como também o de mercadorias.
Na cidade de Tefé não se tem rodovias que ligue a Manaus ou qualquer outro município,
sendo assim a grande maioria desses produtos são levados fluvialmente até o seu destino final,
além de ser um meio de transporte mais barato quando se compara ao aéreo. É pelo rio que
chegam os mais diversos tipos de mercadorias que vão desde os alimentícios, bebidas e estivas
em geral até os materiais de construção.
É nesse contexto que se insere os carregadores portuários. São eles os responsáveis pelo
embarque/desembarque dessas diversas mercadorias nos mercados, tabernas, feira e até em
residências. A rotina desses trabalhadores faz parte da história da cidade de Tefé, entretanto
permanecem esquecidos pelo poder público municipal e estadual. Promessas do governo do ano
de 2009 foram feitas para a construção de um novo porto que ficaria localizado na Emade, mas
nada saiu do papel, e o que se encontra hoje são flutuantes soerguidos por bóias de madeira,
onde a estrutura é bem rudimentares que não oferece segurança a quem visita o estabelecimento
ou quem trabalha nele. Logo na chegada se vê a dificuldade, quando nos deparamos com
pranchas de madeiras, onde temos que nos equilibrar para chegar ao flutuante, sendo este
flutuante de propriedade privada e funciona em tais condições citadas anteriormente. A estrutura
do outro flutuante é feito com estrutura metálica, ou seja, são balsas ligadas uma a outra para
formação do flutuante, pois deixa a desejar pelo fato de serem balsas velhas, que no seu convés
está em grande maioria enferrujado e apresenta buracos no piso, onde o proprietário soluciona
este problema cobrindo os buracos com chapa de ferro, sendo perigoso por ficarem expostas e
qualquer pessoa pode tropeçar ou se corta nas chapas, ou por acaso pisar em um dos buracos,
ou seja, ele resolve um problema com outro problema.
Os flutuantes chamados de “porto” são todos de poder privado de empresários da cidade,
pois as condições que os carregadores trabalham é de forma improvisada pelo fato de precisarem
do dinheiro para sustentar suas famílias e enfrentam o perigo de se machucar seriamente, dois
flutuantes estão em condições precárias, onde os trabalhadores tem que se equilibrar em
pranchas de madeira para não caírem na água, a situação se agrava mais ainda quando eles vão
carregando peso nas costas e ficam eminentemente expostos acontecer algum acidente.
É nesse sentido que a presente pesquisa justifica-se pela necessidade de compreender as
condições e as relações de trabalho desses trabalhadores braçais do porto da cidade de Tefé,
tendo em vista a importância dos mesmos para a sociedade tefeense, já que são pelos braços
desses trabalhadores que ocorre o abastecimento de grande parte da mercadoria da cidade de
Tefé.
Diante de tal problemática e com enfoque nesses trabalhadores é que buscamos
compreender as condições e relações de trabalho dos trabalhadores braçais do porto da cidade
de Tefé. Observando e analisando a rotina que eles passam para sobreviverem buscamos
entender as condições ambientais de trabalho, o equilíbrio que precisam ter em cima dos carros
junto às mercadorias, o transporte das mercadorias nos ombros desses trabalhadores, o pouco
descanso que tem para se alimentarem, os danos causados na saúde desses trabalhadores em
função do trabalho exercido, se trabalham formalmente ou informal, identificar o perfil desses
trabalhadores bem como verificar se o poder público tem feito alguma melhoria por essa classe
trabalhadora.
Desde já agradecemos aos carregadores que colaboraram dispostamente com essa
pesquisa, que vem enaltecer e valorizar o trabalho desempenhado pelos carregadores do Porto
da cidade de Tefé.
Esta pesquisa traçou o percurso metodológico de levantamento bibliográfico, para
fundamentação teórica do trabalho, deste modo alguns autores possibilitaram o enriquecimento
desta pesquisa, como: Ruy Moreira, Thomas Júnior, Tatiana Shor, Ricardo José, Roberto Correa,
Suzana Albornoz. Pesquisa exploratória para assim ter uma visão panorâmica do cotidiano de
vida dos trabalhadores braçais do porto da cidade de Tefé. Algumas entrevistas foram feitas na
hora do trabalho, outrora no intervalo e outras na residências dos próprios carregadores, foram
feitas entrevistas informais e questionários fechados. As visitas no local da pesquisa ocorreram
no período de 17/05/2013 até 05/07/2013, quando o rio está cheio e no período de 17/11/2012 até
25/01/2013 , quando o rio está na vazante ou seco, o que nos permitiu perceber as dificuldades
passadas por esses trabalhadores no período sazonal. Podemos ainda acompanhar o
esfacelamento dos flutuante configurando em uma nova organização geográfica.
Assim abordaremos no decorrer do texto, teóricos que tratem sobre o trabalho, o porto da
cidade de Tefé, as relações de trabalho e o trabalhador braçal.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE O TRABALHO
A palavra trabalho pode ser classificado de diversas formas, segundo ALBORNOZ (2002),
assumindo vários significados.
Na linguagem cotidiana a palavra trabalho tem muitos significados. Embora pareça
compreensível, como uma das formas elementares de ação dos homens, o seu
conteúdo oscila. Ás vezes, carregada de emoção, lembra dor, tortura, suor do
rosto, fadiga. Noutras, mais que aflição e fardo, designa a operação humana de
transformação da matéria natural em objeto de cultura. (ALBORNOZ, 2002, p. 08).
Essa variação da palavra “trabalho” está materializada desde antigos tempos, e conforme
as épocas vão passando novas definições vão sendo criadas e novos textos redigidos com
alterações. Na Europa a palavra é complexa pelos seus vários significados, como afirma
ALBORNOZ (2002).
[...] em quase todas as línguas da cultura europeia, trabalho tem mais de uma
significação. O grego tem uma palavra para fabricação e outra para esforço,
oposto a ócio; por outro lado, também apresenta pena, que é próximo da fadiga. O
latim distingue entre labore, a ação de labor, e operare, o verbo que corresponde a
opus, obra. (ALBORNOZ, 2002, p. 08).
Segundo a autora a palavra trabalho tem vário significados e que vai depender de cada
situação para poder ser usada, como é caso da distinção do trabalho humano e o esforço dos
animais que não é considerado trabalho, como afirma ALBORNOZ (2002).
Algo que definitivamente distingue o trabalho humano do esforço dos animais,
embora para todos a primeira motivação possa ser a sobrevivência, é que no
trabalho do homem há liberdade: posso parar de fazer o que eu estou fazendo,
embora seja um servo, embora não me seja reconhecido o direito de greve , e
embora venha a sofrer por causa deste meu gesto [...].(ALBORNOZ, 2002, p. 12).
O homem pode fazer o trabalho para ter o reconhecimento diante da sociedade, esse
reconhecimento pode permanecer além da vida do homem, até o trabalho rotineiro, onde o
homem trabalha para se sustentar, sem opção de escolher em que quer trabalhar, pois ele tem
suas necessidades de comer, beber e vestir. Tendo pois que se adaptar a lógica capitalista.
Entretanto as relações de trabalho são alteradas no decorrer do tempo, variando desde a
complementação da natureza até as relações mais complexas do capitalismo. Assim de acordo
com ALBORNOZ (2002).
O trabalho neste primeiro estagio da economia isolada e extrativa é um esforço
apenas complementar ao trabalho da natureza: o homem colhe o fruto produzido
pela arvore da mata virgem; extrai do rio o peixe que sobrevive ao assalto das
piranhas; mata para comer o animal que se reproduziu e cresceu dentro do seu
grupo sem nenhum auxilio além de seus instintos [...]. (ALBORNOZ, 2002, p. 16).
Com o trabalho o homem passar a usar a natureza para as suas necessidades, usando
ferramentas, que facilite o trabalho. No trabalho primitivo, a humanidade contava com
instrumentos de trabalho muito rudimentares: pau, machado de pedra, facas feitas de pedras e
com o passar dos tempos foi se desenvolvendo novos objetos, como o arco e flecha, como afirma
ALBORNOZ (2002, p.13), “Natureza e invenção se entrelaçam no trabalho humano, em níveis
diversos, da ação mais mecânica e natural á mais controlada e consciente [...]”.
Posteriormente o homem começa com agricultura e vai utilizando objetos para perfurar a
terra e plantar sementes retiradas da floresta para seu alimento. Assim segundo ALBORNOZ
(2002, p.16), “[...] nas comunidades mais isoladas o trabalho serve apenas indiretamente a
subsistência”, onde o trabalho como agricultura, e a caça era praticamente o único meio de
garantir a obtenção dos recursos necessários para sua vida.
No decorrer do tempo o meio de vida vai se transformando e junto o meio de produção. O
homens apreendem a moldurar os metais, melhorando a qualidade das armas e ferramentas
agrícolas, usam animais para aumentarem a produtividade, como: bois e cavalos
Começa a se produzir excedente e primeiramente pelo “escambo”, que é troca equivalente
por outro objeto e mais tarde começa o crescimento comercial urbano, tendo a produção cada vez
maior e a imigração do campo para a cidade, são alguns dos fatores que possibilitaram as bases
para o alicerce do capitalismo. Deste modo ALBORNOZ (2002) diz que.
[...] o crescimento das cidades também se deve ás migrações, á necessidade de
emigrar do campo por falta de uma boa distribuição de terra, ou á migração
movida pela esperança que representa a integração no mercado de trabalho
moderno e no modo de vida urbano. (ALBORNOZ, 2002, p. 11).
E com o grande marco no capitalismo, a Revolução Industrial, torna-se ainda mais forte e
sustenta os seus pilares, tornando a cidade o espaço por excelência da reprodução do capital. A
cidade passa a ser atrativo para uma imensidão de pessoas que deixam o campo e vão em
direção as cidades, originando o êxodo rural. Entretanto poucos são aqueles que tem a felicidade
de ter um bom emprego e não viver como escravos do capital, pois se antes o trabalhador era
dono ou tinha o direito sobre seus instrumentos e meios de trabalho., no capitalismo o trabalhador
é destituído de todos esse direito, exceto de sua própria força de trabalho, se tornando livres
apenas para vendê-la.
Assim a sociedade ficou refém do capitalismo, e ideologicamente o capital faz com que as
pessoas pensem que a única forma para se dar bem na vida e trabalhar mais e mais. Entretanto
enquanto o trabalhador ganha o salário pelo seu esforço, a burguesia através da mais valia
acumula capital. O que nos indica que trabalhamos para enriquecer poucas pessoas e ficamos
fadados a cumprir essas regras impostas pelo capital que aparecem mascaradas, como exemplo
estar sempre buscando novas especializações de trabalho, pois se não tiver o trabalhador corre o
risco de ser demitido, deste modo, o tempo de trabalho aumenta e nos tornamos dependente
dessa economia.
A sociedade vem evoluindo lutando por um sistema social e econômico mais igualitário,
sendo talvez o grande sonho, hora talvez possa acontecer de aparecer um novo modo de
produção social que supra as necessidades de quem realmente precise. Sabemos que a
sociedade vive nesse dinamismo de ações, mas o capital é ardiloso e vem se reestruturando para
se fortalecer cada vez mais e continuar no processo de exploração do trabalho e do trabalhador,
onde desses muitos são desempregados e excluídos do mercado de trabalho, seja por falta de
qualificação, ou por idade. O capitalismo requer dos trabalhadores qualificação, entretanto mesmo
que esses fossem todos qualificados, certamente não teria emprego a todos. Como afirma
THOMÁS JÚNIOR (2002).
Disso podemos entender que a face espacial do trabalho tem no processo social
sua significação primeira. Dados os limites deste texto, a título de exemplo,
poderíamos assumir que a base constituinte da classe operária (trabalhadores
vendedores da força-de-trabalho), está a (des)terreação do campesinato. As
consequências espaciais desse processo, (que coincide com a acumulação
primitiva de capital), da proletarização à formação do exército industrial de
reserva, base fundante do universo operário-fabril, também ganham as outras
esferas do mundo da produção de forma geral. (JÚNIOR, 2002, p. s/n).
Desta forma o ser humano não tem chances de lutar contra os sistema capitalista e o
homem acaba se rendendo as atividades capitalista e contribuindo na busca de seu crescimento
econômico, como afirma MARIN e MARIN (2012).
O capital é o grande impulsionador da atividade humana nas sociedades
capitalistas. O homem está constantemente em busca de crescimento econômico
e acúmulo de riqueza. A atividade produtiva, principalmente a baseada na
industrialização, que prepondera após a Revolução Industrial, é o centro da
atividade econômica das sociedades modernas. (MARIN e MARIN, 2012, p.2).
ESSAS DUAS CITAÇÕES ESTÃO FALANDO EM UM MOMENTO DO CAPITAL E DO
CAPITALISMO ANTERIOR A SUA REESTRUTURAÇAO PRODUTIVA. PORTANTO SE QUISER
UTILIZÁ-LA TEM QUE COLOCÁ-LA ANTERIOREMENTE E REFAZER SEUS COMENTÁRIOS. E FALE
SOBRE A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO CAPITAL A PARTIR DA DÉCADA DE 1970.
POSTERIOR A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL.
Essa reestruturação produtiva do capital inaugura uma nova forma de acumulação do
capital a partir da Revolução Industrial, mais a história do trabalhador, sua exploração continua,
onde o trabalhador tem que aumentar a produção, logo enriquecendo mais o patrão
Assim a reestruturação produtiva, tem implicação direta nos trabalhadores, que são
obrigados a aumentar sua produtividade e se adequarem com as novas técnicas do trabalho ou
trabalhar na informalidade e assim deixam de receber os direitos trabalhistas. Onde se enquadram
os trabalhadores braçais do porto de Tefé.
UM OLHAR GEOGRÁFICO NO PORTO DA CIDADE DE TEFÉ
A referente pesquisa foi desenvolvida no Município de Tefé, que fica localizado no interior
do Estado do Amazonas, distante da capital Manaus 516 Km em linha reta e 663 Km por via
fluvial, contendo o município 23.705 Km², fazendo limites com os municípios de Coari, Carauari,
Alvarães, e Maraã, pode se chegar a Tefé por barco ou avião.
Tefé é considerada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades na Amazônia
Brasileira (NEPECAB), de cidade média de responsabilidade territorial, como afirma SHOR
(2006).
Exerce uma função na rede que vai além das suas características em si, pois
detém uma responsabilidade territorial que a torna um nódulo importante
internamente na rede. Exerce diversas funções urbanas e contém diferentes
arranjos institucionais que são importantes não só para o município, mas
principalmente para as cidades e municípios ao seu redor. A importância territorial
da cidade têm origem no desenvolvimento histórico-geográfico que constituiu a
rede urbana nesta região. Normalmente o desenvolvimento econômico desta
cidade tende a agregar valor na região. (SHOR, 2006, p. s/n).
A cidade de Tefé por ter uma localização estratégica, agrega fixos e gera fluxos e acaba
sendo um pólo no interior do Amazonas. As mercadorias ao chegarem ao porto são
comercializadas e transportadas para as cidades vizinhas. E Tefé faz esse intercâmbio de
produtos e acaba sendo importante para economia local, pois muitas pessoas vêm à cidade para
comprar produtos para seus supermercados e tabernas e acabam precisando se instalar em
hotéis, utilizam restaurantes e para embarcarem acabam precisando do serviço dos carregadores
braçais.
Para as cidades da Amazônia os portos ganham destaque, pois, o transporte fluvial é o
principal meio de locomoção e de recepcionar quem chega, entretanto o descaso com o porto é
expresso em sua paisagem, pois há problemas na estrutura e organização por parte dos
proprietários e do poder público que não fiscaliza e não promove melhorias no “porto”.
Todos os dias há um grande fluxo de pessoas no porto, formando uma grande rede, tanto
para viajar, enviar algum objeto, pegar encomendas vindas de outro município, para trabalhar de
carregador ou taxista, vendedores de lanche e entre outros, pois quando não tem barco saindo do
porto, se tem barco chegando no porto. A partir da definição ancorada em CORRÊA, que indica
que as redes geográficas constituem um “conjunto de localizações geográficas interconectada por
um certo número de ligações (CORREA apud NOGUEIRA, 2007, p.42), nota- se que o porto de
Tefé serve de intercambio da rede e de nó da economia regional, como afirma NOGUEIRA.
“[...] Pode se perceber (...) que o objetivo das redes não são necessariamente os
mesmos, porém o que termina por dar identidade às mesma é o fato de serem
constituídas por pontos ou nós que geralmente apresentam uma hierarquização
por onde passam ou circulam os fluxos na forma de mercadorias e informações,
as ordens e normas[...]” (NOGUEIRA, 2008, p. 42).
Entretanto o porto de Tefé por ter esse grande fluxo de passageiros e mercadorias e fazer
parte dessa rede, é deplorável ver as condições que os passageiros desembarcam o modo como
é feito o transporte de mercadorias, pois o porto por ser desmembrado e formado por flutuantes
sua localização exata oscila de lugar e sempre encontram-se em lugares improvisados a beira do
rio, na frente da cidade de Tefé.
Poderemos ver a situação que se encontra um dos flutuantes que faz parte do porto da
cidade de Tefé. Na figura a seguir pode-se notar a precariedade deste flutuante em pleno século
21, com os meios técnicos sendo desenvolvidos para facilitar nossas vidas, os trabalhadores
braçais que tem como trabalho transportar objetos nas costas em condições precárias.
Figura 1: Primeiro porto da cidade de Tefé.
.
Fonte: Levantamento Próprio.
Hoje são esses os flutuantes atracados à beira do lago, gerando uma má impressão de
desorganização a quem chega a cidade Tefé, que logo se vê pessoas trabalhando sem
segurança, no meio do lixo jogado por visitantes do porto, por aqueles que ali convivem e ou
trazidos pela correnteza. Através das imagens pode se perceber que as condições são
preocupantes e o poder público não promove as melhorias necessárias, pois no porto trabalham
cidadãos, pais de família que desse trabalho tiram o sustento para seus filhos. Trabalho esse que
exige esforço e é extremamente importante para o município, entretanto a sociedade não analisa
a realidade que os cerca, pessoas que todos os dias escrevem sua vida, seu caminho, traçado dia
após dia.
Figura 2: Segundo porto da cidade de Tefé
Fonte: Levantamento Próprio.
Esta figura acima retrata as condições deste flutuantes que os trabalhadores tem de
enfrentar para sobreviver deste trabalho. Por estas tábuas postas em cima do flutuante é que as
pessoas tem que se equilibrar para passar, nota-se a dificuldade, pois ao passar pelas tábuas,
elas ficam balançando, dificultando ainda mais o equilíbrio de quem carrega peso, no caso os
carregadores braçais que fazem essa travessia.
Recentemente no ano de 2012, um novo flutuante faz parte do porto de Tefé, também
privatizado, mas contendo uma melhor estrutura para desembarque e embarque de passageiros e
mercadorias, o que facilita o trabalho dos carregadores. Esse flutuante é capaz de suportar uma
grande quantidade de carros, motos em sua estrutura que podem subir ao seu convés, e descer
com facilidade e fazer manobras de retorno. Esses fatos trouxeram agilidade aos clientes que
necessitam de transporte como táxis que ficam disponíveis com maior rapidez e o desembarque é
mais rápido, pois os carregadores nesses flutuante não precisam carregar as mercadorias nas
costas, pela facilidade que o flutuante disponibiliza aos carros de ficarem bem próximo dos
barcos. ELES NÃO CARREGAM NA COSTA POR UM LONGO PERCURSSO QUE TIRA
E COLACA AS MERCADORIAS DO BARCO?
Vejamos a seguir a figura deste flutuante para entendermos melhor seus benefícios:
Figura 3: Terceiro porto da cidade de Tefé
Fonte: Levantamento Próprio.
Como citei anteriormente há no embarque e desembarque dos carros, facilidade para o transporte das mercadorias pelos trabalhadores e melhora a mobilidade para a retirada da mercadoria do barco pelos carregadores braçais, como pode se notar.
Figura 4: Terceiro porto da cidade de Tefé
Fonte: Levantamento Próprio.
A partir da visualização e análise da paisagem do porto é que se pode perceber a
materialidade territorial das relações e condições de trabalho dos carregadores, objeto de estudo
dá pesquisa. Vejamos agora sob análise das relações de trabalho, onde os carregadores estão
separados do seu meio de produção, restando apenas sua força de trabalho a ser vendida.
A DINÂMICA DO TRABALHO DOS CARREGADORES DO PORTO DE TEFÉ
Nesse momento iremos ressaltar o trabalho árduo desses bravos homens que trabalham
no porto de Tefé, onde o capital se apropria do trabalho dos carregadores braçais de forma
arcaica. Esses carregadores não trabalham de carteira assinada, logo são trabalhadores informais
e não tem direitos trabalhistas como férias, décimo terceiro, aviso prévio, seguro desemprego,
auxílio doença, FGTS, INSS. Não são organizados em nenhum sindicato, o que sua classe
trabalhista perde muita. Os trabalhadores devem se organizar, para irem a procura de melhores
condições do espaço físico que trabalham, de formarem um sindicato e de montarem um estatuto,
de terem um registro como o CNPJ, que lhes daria suporte e amparo em questões de lei e
poderiam desta forma se organizar e montarem postos específicos de trabalho, como: pessoas
destinadas a fazer o contrato de mercadorias para transporte, de ter somente carregadores
membros da associação, desta forma estariam organizados enquanto classe trabalhadora e
teriam um número certo de carregadores no porto da Cidade de Tefé.
A dinâmica do trabalho no porto é flexível, pois não é possível se ter um número exato de
quantos trabalhadores trabalham no porto. Esses trabalhadores encaram essa jornada de trabalho
sem compromisso algum no dia seguinte, no entanto qualquer pessoa pode ser carregador por um
dia, basta está disposto principalmente a carregar muito peso, e não existe fiscalização para se
trabalhar no porto da cidade de Tefé. Para entender essa dinamicidade a observação in lócus
iniciou-se por volta das 5:40 da manhã, foi observado que os primeiros carregadores começam a
chegar entre 6:00 as 7:00 da manhã para obterem uma vaga para trabalharem na diária que varia
entre 40 a 60 reais o dia, podemos notar que os trabalhadores tem hora pra chegar, já a hora da
saída é imprevisível.
Após a chegada dos trabalhadores, quando um barco atraca em um dos portos, o dono da
mercadoria faz um contrato informal para levar o seu produto em seu estabelecimento, geralmente
os contratantes dos carregadores são os donos dos veículos ou são carregadores braçais do
porto que ali já trabalham a muito tempo e as pessoas tem confiança. O contratante procura fazer
o máximo de contratos na manhã para ganhar dinheiro através do esforço dos carregadores,
existem duas situações: a primeira, quando o contratante é um carregador de confiança ele
procura negociar o que vai ser pago pelo frete do carro no dia todo, juntamente negociar a quantia
a ser paga aos carregadores. A segunda situação é quando é o dono do veículo que é
contratante, ele negocia o preço da diária com os carregadores, dai em diante os carregadores
abastecem os carros com mercadorias e descarregam nos estabelecimento e esse processo de
ida e vinda para o porto se repete as vezes por todo o dia, até ser entregue a última mercadoria e
ao final recebem o seu dinheiro.
Foi perguntado aos carregadores o que fez escolher esse trabalho? As respostas dadas,
eram praticamente as mesmas, não estudei e aqui no porto isso não faz diferença, pelo dinheiro
ganho diário, e o que todos sem exceção falaram, pela falta de emprego na cidade. Segundo os
carregadores é triste olhar em suas geladeiras e não ter o que comer, sendo em sua grande
maioria pais de família e terem filhos. Por esse motivo se submetem a esse trabalho braçal de
chegarem carregar em suas costas mais de 100 kg, o que lhes trazem sérios problemas na saúde
desses trabalhadores, ao final do dia sentem dores em suas costas, braços, e pernas.
Os acidentes são eminentes pelo fato de os trabalhadores do porto de Tefé trabalharem
sem nenhum tipo de equipamento de segurança e estão propícios a acidentes também na entrada
e saída dos portos. Alguns carregadores já utilizam protetores para as costas, mas comprados
com recursos próprios, já visando à redução do impacto da força feita pelo individuo e se
protegendo de algum tipo de fratura. Pode-se notar que esses carregadores da figura não tem
equipamentos de segurança e nas pranchas de madeira não existe suporte para porém a mão, o
que ajudaria a ter equilíbrio.
Figura 5: Primeiro porto da cidade de Tefé
Fonte: Levantamento Próprio.
VOCÊ PRECISA IDENTIFICAR AINDA A ORIGEM DESSES TRABALHADORES E COLOQUE NO INÍCIO DO TÓPICO E DIZER SOBRE AS SUAS RELAÇÕES DE TRABALHO SE SÃO ASSALARIADAS OU NÃO. Arrume a configuração das fotos e do texto e precisa fazer um parágrafo finalizando esse tópico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar as reais condições dos trabalhadores braçais do porto de Tefé e de buscar
entender a dinâmica dos carregadores, juntamente com a análise da leitura teórica que tratem
sobre o trabalho, pode-se constatar que os trabalhadores são explorados e não fazem nada para
mudar essa situação que acontece dia após dia no porto da cidade de Tefé.
Os trabalhadores trabalham informalmente, não tem a carteira de trabalho assinada, logo
não tem se quer um salário mínimo, trabalham expostos a sol e chuva sem proteção e carregam
peso nas costas e braços. Notou-se no decorrer da pesquisa que as condições de trabalho são
precárias e o trabalhador está exposto a qualquer momento a sofrer acidente principalmente no
período de cheia quando se tem um maior índice de pluviosidade e as tábuas ficam escorregadias
podendo cair com as mercadorias, o que segundo eles, já veio acontecer.
Já no período da seca a distância é maior para chegarem até os carros e segundo os
carregadores o sofrimento é maior, pois o sol está quente, a areia está quente e fofa o que
dificulta ainda mais carregar peso e o desgaste físico é maior, nota-se a exploração desses
carregadores principalmente pelos donos dos carros que fazem o transporte das mercadorias. É
importante ressaltar, que quando esses trabalhadores sofrem qualquer tipo de acidente eles
recebem ajuda do contratante que lhe leva no hospital e custeia com o remédio, aquela pequena
ajuda foi apenas no dia que ele se acidentou, não havendo nenhum tipo de assistência até o
trabalhador ficar bom.
Não foi possível fazer uma estimativa de quantos carregadores tem no porto da cidade de
Tefé, pelo fato de não terem sindicato e de seres trabalhadores informais e segundo alguns
carregadores o trabalho no porto só é uma complementação de renda, pois em outro momento
são serventes de pedreiros, pescadores, agricultores, catadores de sucatas, pintores e etc.
Contudo, através dessa pesquisa pudemos constatar as reais condições e relações de
trabalho nas quais estão submetidos os trabalhadores do porto da cidade de Tefé-Am, bem como
ficou claro o descaso do poder público para com esses trabalhadores e com a precariedade do
local de trabalho, pois inexiste ações públicas que beneficie essa classe de trabalhador.
Entretanto apesar de serem explorados e das dificuldades que eles enfrentam diariamente, estão
sempre acreditando em ter um bom local de trabalho e de serem respeitados por exercerem esta
árdua profissão, mas que beneficia toda a sociedade Tefeense.
REFERENCIAL TEÓRICO:
________Os sentidos do trabalho. Ensaio sobre a firmação e a negação
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