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2END - 2ª Conferência Nacional em Ensaios não destrutivos 2END 1 DETECÇÃO DE FUGAS DE ALTA SENSIBILIDADE COM HÉLIO VANTAGENS E CASOS DE ESTUDO Flávio Silva 1(*) 1 A. Jorge Lima, Lda. (*) Email: [email protected] RESUMO Este trabalho pretende demonstrar as potencialidades e aplicabilidade dos Ensaios de Estanquidade com a utilização de Hélio como gás sinalizador. Por forma a comprová-lo, serão descritos dois casos específicos onde foram utilizadas duas técnicas diferentes ensaio com sniffer num Permutador de Calor de uma Central Termosolar que colapsou após um erro durante o seu funcionamento e um ensaio em vácuo num Liofilisador de uma farmacêutica que, devido a uma fuga, não passava o Performance Test. INTRODUÇÃO Na prática, é impossível produzir um sistema 100% estanque e como tal, tornando-se relevante especificar qual a taxa de fuga comprovando assim a sua estanquidade. Para tal são necessárias verificações durante a sua produção, após a montagem final e durante o seu funcionamento. É aqui que a detecção de fugas desempenha um papel fundamental porque garante as condições de pressão e composição do gás do sistema (Hilleret, 1999). A taxa de fuga é definida como a quantidade de gás que escapa por um determinado elemento permeável. O caudal é função do tipo de gás, da diferença de pressão e da temperatura. Num sistema de volume V, a taxe de fuga Q é dada por: t p V Q 1 (1) Onde Δt é a variação de pressão durante o intervalo de tempo Δt. Tabela 1 Factores de conversão da taxa de fuga em vários sistemas de unidades (Lafferty, 1998). mbar.l/s Torr.1/s Pa.m 3 /s cm 3 /s * mbar.l/s 1 0,75 0,1 0,99 Torr.1/s 1,33 1 0,133 1,32 Pa.m 3 /s 10 7,5 1 ≈ 10 cm 3 /s 1,01 0,76 0,101 1 * Condições PTN Para simplificar e ter uma idéia destes valores, assume-se que uma fuga é um canal com uma forma circular. Um diâmetro de 0,01 mm corresponde a uma taxa de fuga de 10 -2 mbar.l/s, ou seja, uma fuga com uma taxa de 10 -10 mbar.l/s = 10 -10 cm 3 /s, isto é, o volume de 1 cm 3 de gás necessita de 317 anos a escapar-se (Zapfe,2007). As fugas podem aparecer sob diferentes formas e em diferentes locais: em ligações permanentes por soldadura, brasagem ou colagem;

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DETECÇÃO DE FUGAS DE ALTA SENSIBILIDADE COM HÉLIO –VANTAGENS E CASOS DE ESTUDO

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  • 2END - 2 Conferncia Nacional em Ensaios no destrutivos

    2END 1

    DETECO DE FUGAS DE ALTA SENSIBILIDADE COM HLIO

    VANTAGENS E CASOS DE ESTUDO Flvio Silva1(*) 1A. Jorge Lima, Lda.

    (*)Email: [email protected]

    RESUMO

    Este trabalho pretende demonstrar as potencialidades e aplicabilidade dos Ensaios de

    Estanquidade com a utilizao de Hlio como gs sinalizador. Por forma a comprov-lo, sero

    descritos dois casos especficos onde foram utilizadas duas tcnicas diferentes ensaio com

    sniffer num Permutador de Calor de uma Central Termosolar que colapsou aps um erro

    durante o seu funcionamento e um ensaio em vcuo num Liofilisador de uma farmacutica

    que, devido a uma fuga, no passava o Performance Test.

    INTRODUO

    Na prtica, impossvel produzir um sistema 100% estanque e como tal, tornando-se

    relevante especificar qual a taxa de fuga comprovando assim a sua estanquidade. Para tal so

    necessrias verificaes durante a sua produo, aps a montagem final e durante o seu

    funcionamento. aqui que a deteco de fugas desempenha um papel fundamental porque

    garante as condies de presso e composio do gs do sistema (Hilleret, 1999).

    A taxa de fuga definida como a quantidade de gs que escapa por um determinado elemento

    permevel. O caudal funo do tipo de gs, da diferena de presso e da temperatura. Num

    sistema de volume V, a taxe de fuga Q dada por:

    t

    pVQ

    1 (1)

    Onde t a variao de presso durante o intervalo de tempo t.

    Tabela 1 Factores de converso da taxa de fuga em vrios sistemas de unidades (Lafferty, 1998).

    mbar.l/s Torr.1/s Pa.m3/s cm

    3/s

    *

    mbar.l/s 1 0,75 0,1 0,99

    Torr.1/s 1,33 1 0,133 1,32

    Pa.m3/s 10 7,5 1 10

    cm3/s 1,01 0,76 0,101 1

    * Condies PTN

    Para simplificar e ter uma idia destes valores, assume-se que uma fuga um canal com uma

    forma circular. Um dimetro de 0,01 mm corresponde a uma taxa de fuga de 10-2

    mbar.l/s, ou

    seja, uma fuga com uma taxa de 10-10

    mbar.l/s = 10-10

    cm3/s, isto , o volume de 1 cm

    3 de gs

    necessita de 317 anos a escapar-se (Zapfe,2007).

    As fugas podem aparecer sob diferentes formas e em diferentes locais:

    em ligaes permanentes por soldadura, brasagem ou colagem;

  • Porto/FEUP, 16 Dezembro 2011

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    poros e fissuras devido a esforos mecnicos ou trmicos, que na maioria dos casos esto sempre presentes mas em quantidades e tamanhos de tal forma reduzidos que

    no so relevantes;

    flanges;

    fugas devido a aquecimentos/arrefecimentos bruscos;

    fugas virtuais, onde o gs se evapora de rugosidades internas, o que poder eventualmente levar a longos tempos de criao de vcuo.

    O objectivo da deteco destas fugas localiz-las e/ou determinar a taxa de fuga e

    dependendo do tamanho da fuga, devem ser utilizadas diferentes tcnicas de deteco. Todos

    os mtodos se baseiam no princpio da medio de uma determinada propriedade fsica num

    dos lados do sistema enquanto a presso ou natureza do gs alterada no lado oposto

    (Zapfe,2007).

    A norma europeia EN1779:2004 define 17 tcnicas para a realizao de um ensaio de

    estanquidade, podendo estas serem agrupadas de uma forma mais sinplificada conforme

    mostra a figura 1.

    Fig. 1 Tcnicas do Ensaio de Estanquidade

    Pode-se ento definir dois grandes grupos ou mtodos de ensaios de estanquidade, os ensaios

    de variao de presso onde se incluem os tradicionais ensaios com sabonria em presso ou

    vcuo, e os ensaios com gs sinalisador onde se inclui, por exemplo, o ensaio com amonaco e

    os ensaios com hlio. Para se poder ter uma noo das ordens de grandeza destas tcnicas, a

    norma define que o limite de sensibilidade de um ensaio com sabonria de 1E-3

    Pa.m3.s

    -1

    comparativamente com 1E-7

    Pa.m3.s

    -1 de um ensaio de hlio com sniffer e 1E

    -10Pa.m

    3.s

    -1 de

    um ensaio de hlio em vcuo.

    Para alm de obedecer as premissas de um bom gs sinalisador:

    Sinal inequvoco no espectrmetro de massa; Inerte qumica e fsicamente, no explosivo e barato; Quantidade pouco significativa no ar; Facilmente retirado por bombas e que no contamine o sistema.

    O hlio tem um tamanho que lhe permite detectar fugas muito pequenas.

  • 2END - 2 Conferncia Nacional em Ensaios no destrutivos

    2END 3

    A forma de detectar este hlio, prende-se no recurso

    a um detector equipado com um espectrmetro de

    massa optimizado para a deteco do hlio (fig. 2).

    Portanto, quando se pretende realizar um ensaio de

    estanquidade, dever ser:

    definida a taxa de fuga admisvel para o sistema a ensaiar;

    definidas as condies de servio do sistema;

    definido o tipo de ensaio: Quantitativo/Qualitativo Global/Local Com ou sem localizao

    As aplicaes para este tipo de ensaios so

    inmeras. As indstrias mais exigentes so aquelas

    que mais procuram este gnero de soluo, com as

    indstrias aeronutica, automvel, nuclear,

    farmacutica, qumica e petroqumica e energias

    renovveis. Exemplos de aplicaes:

    Verificao da estanquidade de permutadores de calor ou de autoclaves durante o seu fabrico;

    Deteco de fugas em depsitos de combustvel em avies; Deteco de fugas em sistemas de refrigerao nos automveis; Verificao da estanquidade de liofilisadores para a indstria farmacutica.

    De seguida sero abordados dois casos de estudo onde o ensaio de hlio foi empregue com

    sucesso para resolver dois problemas completamente distintos: um permutador de calor de

    uma central termosoldar e um liofilisador de uma farmacutica.

    CASO DE ESTUDO 1 PERMUTADOR DE CALOR

    Este caso ocorreu numa central termosolar espanhola onde, durante o funcionamento do

    permutador, uma falha no controlo fez com que o sal fundido solidificasse nas paredes

    exteriores do feixe tubular fazendo com que alguns desses tubos partissem. O permutador

    tinha um feixe tubular com cerca 6100 tubos, cada um com 22,2m de comprimento.

    As falhas foram detectadas durante o ensaio hidrosttico pelo lado exterior aos tubos,

    comeando os referidos tubos a verter gua. Os tubos foram identificados e tamponados.

    Quando se voltou a repetir o ensaio hidroesttico, mas pelo lado dos tubos, voltou-se a

    verificar a existncia de fuga muito mais pequena e impossvel de localizar uma vez que no

    existia acesso possvel a parte exterior do feixe tubular.

    A nica soluo vivel para detectar estas fugas era recorrer a um gs sinalisador que pudesse

    indicar qual ou quais dos tubos fugavam ensaio qualitativo. O uso de amonaco no

    contribuia com nada uma vez que as fugas estavam no interior dos tubos, hidrognio no era

    Fig. 2 Espectrmetro de massa com

    campo magntico de 180o, optimizado para

    o 4He.

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    Figura 3 Esquema do ensaio de hlio com sniffer

    realizado no permutador.

    de todo a melhor opo sendo a verificao realizada num espao confinado, como tal, o hlio

    surgiu como a soluo mais vivel.

    A tcnica selecionada, sem dvida alguma a mais adequada, foi a do sniffer com acumulao.

    Nesta tcnica pressuriza-se a parte externa dos tubos e deixa-se acumular, durante um

    intervalo de tempo definido (ver fig.3). Quanto maior o tempo de acumulao mais

    sensibilidade se obtm.

    Atendendo que se tratava de um espelho

    com 6100 tubos comeou-se por dividir

    em 8 partes o espelho (4 em cima e 4 em

    baixo). Esta operao permitiu, no s

    localizar as fugas mais significativas,

    como tambm excluir as zonas do feixe

    tubular que ficaram intactas aps o

    acidente foram detectadas fugas nesta

    fase 4.

    As fugas foram reparadas e voltou a repetir-se o mesmo procedimento, mas agora com a

    denominada zona crtica tamponada tubo a tubo ( 500 tubos). Aps este ensaio foram

    detectadas duas novas fugas e todas as outras zonas passaram sem qualquer indicao de

    presena de hlio.

    Os prejuzos da central estar parcialmente inoperacional rondavam os 200K dirios e a

    problema j perdurava cerca de 1 ms. Estes dois ensaios duraram 5 dias (contando com

    todo o tempo de preparao) e permitiram de uma forma fcil e rpida localizar as fugas

    existentes.

    CASO DE ESTUDO 2 LIOFILIZADOR

    Este caso passa-se numa farmacutica que aps a interveno de manuteno a um dos seus

    liofilizadores, verifica que este apresenta uma fuga superior ao limite estabelecido (12bar.l.s-1).

    Esta fuga detectada durante o Performance Test que no mais que um ensaio de

    estanquidade de variao de presso ensaio global.

    O liofilizador composto, por uma cmara, um condensador e, generalizando, por um sistema

    de tubagem com flanges, vlvulas e soldadura. Ou seja, os pontos possveis de fuga existentes

    so vrios.

    A seleco da tcnica, atendendo taxa de fuga admissvel, podera ter recado num ensaio

    com sabonria, mas para isso sera necessrio pressurizar o sistema o que, apesar de ser

    possvel, no era a condio real de servio. Para alm disto, a estanquidade das vlulas

    necessitava ser testada e o acesso para aplicao de sabonria no existia. Posto isto, a nica

    alternativa era o hlio. Para alm da sensibilidade ser mais do que suficiente, realizava-se o

    ensaio nas condies reais de funcionamento vcuo.

    Foi ento conectado o detector junto s bombas do sistema de forma a que o hlio viesse

    sempre na direco do detector e para minimizar o tempo de resposta do mesmo (ver fig.4).

  • 2END - 2 Conferncia Nacional em Ensaios no destrutivos

    2END 5

    Aps colocar todo o sistema em

    vcuo, inicia-se o spraying de

    hlio em todos os pontos

    possveis de fuga. Ao contrrio

    do ensaio com o sniffer,

    importante quando se realiza este

    tipo de teste que a verificao

    seja realizada de cima para baixo

    uma vez que o hlio, devido

    sua densidade, sobe.

    Devido grande sensibilidade

    deste tipo de tcnica, o facto de existirem fugas demasiado grandes faz com que todo o

    sistema fique poludo e quando assim , torna-se necessrio limpar todo o sistema e reiniciar o

    ensaio. Foi exactamente isto que aconteceu. Durante o primeiro teste e aps terem sido

    detectadas algumas fugas, verificou-se a existncia de uma fuga considervel na porta o que

    fez com que todo o sistema ficasse contaminado e no pudessemos continuar o ensaio.

    Aproveitou-se a descompresso do sistema para reparar as fugas detectadas e substituir o

    vedante da porta para voltar a ser testado.

    O cliente arriscou realizar um novo Performance Test aps as reparaes e verificou que a

    taxa de fuga tinha realmente descido para cerca de 10x menos mas continuava acima dos

    12bar.l.s-1

    .

    Decidiu-se, antes de se iniciar um novo teste com hlio, verificar se a cmara, isolada do

    condensador, passava o Performance Test. Passou. Esta operao, permitiu-nos focar somente

    no condensador. Voltou-se a testar todos os pontos de fuga incluindo agora as borboletas das

    vlvulas e detectou-se novamente que existia realmente fuga nas vlvulas de vapor.

    Aps a substituio destas vlvulas o Performance Test apresentou resultados satisfatrios e

    bastante abaixo do valor que apresentava antes de ser realizada a manuteno do

    equipamento.

    Foram novamente gastos cerca de 4 dias para realizar os ensaios contando com tempos de

    compresso/descompresso. Se no tivesse sido realizado este teste e o equipamento no

    fosse reparado a tempo da data prevista de arraque, a empresa corria riscos de prejuzos na

    ordem dos 20K por turno.

    CONLUSES

    Os ensaios de estanquidade podem ser realizados tanto na fase de fabrico dos equipamentos

    como na fase de funcionamento conforme os dois casos de estudo demonstram.

    Os diferentes ensaios de estanquidade existentes tm diferentes sensibilidades, estando os

    ensaios de hlio entre os mais sensveis 1E-10

    Pa.m3s

    -1 para as tcnicas A1 e A2 (EN1779).

    Para alm da sensibilidade, outros factores deve ser levados em conta, nomeadamente:

    Necesidade de localizao das fugas; Limites de resistncia presso/vcuo Condies de funcionamento do sistema

    Fig. 4 Esquema de montagem do detector no liofilisador.

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    Os ensaios de hlio tm a versatilidade de poderem detectar fugas desde uma gama muito alta

    1E-2

    Pa.m3s

    -1 a uma gama muito baixo 1E

    -10 Pa.m

    3s

    -1 e poderem ser realizados quer com

    presso quer em vazio.

    AGRADECIMENTOS

    Queria aproveitar para deixar uma palavra de agradecimento ao Eng. Accio Lima pela

    oportunidade que me deu para me formar neste tipo de ensaios e por continuar a apostar em

    mim.

    REFERNCIAS

    Vacuum Technology Helium leak detection, p. 349-361.

    Zapfe K. Leak Detection. Technical Note, 2007.

    Hilleret N. Leak Detection. CERN, 1999, p. 203-212.

    Hodot C. Formation des Contrleur dtanchit de Niveau 2, Cegelec, 2009