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RESENHA ANALÍTICA STRATHERN, Marilyn. O gênero da dádiva: problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2006. Ronan de Almeida Siqueira – 201073099C A respeito dos problemas metodológicos no campo da antropologia, Marilyn Strathern desenvolve de maneira peculiar, em “O Gênero da Dádiva”, estratégias para a reavaliação e compreensão da cultura e organização social Melanésia, a partir deles mesmos, como objeto de seu estudo. Atentandose para o gênero e as relações de sociabilidade, como base para suas observações, a autora minuciosamente estabelece as dimensões que orientam o convívio entre estes indivíduos. Reexaminando a vasta produção etnográfica sobre este povo, ela põe em cheque os problemas das sociedades e a dependência da imaginação para a vida em conjunto. Strathern desconstrói a noção ocidental existente sobre culturas exóticas e, a ideia de que a natureza é a mesma entre nós, capaz de classificar culturas distantes como “os outros”, apenas como objeto de estudos antropológicos. Dessa maneira, ela identifica que nossa individualidade é compreendida perante e, até mesmo, antes da própria sociedade. Ela observa que na Melanésia, a “consciência” da individualidade se dá a partir da dualidade, onde a vida coletiva é representada por uma unidade e, as “pessoas” são “composições” resultantes das analogias e homologias, criadas a partir dos gêneros e, que nunca apresentam uma hierarquia. Como ela mesmo explica, as pessoas melanésias, pelas relações de gêneros, estão longe de serem concebidas como entidades singulares como ocorre no Ocidente. Elas são representadas tanto no singular como no plural, por isso, há de ser considerado o termo “divíduo”, já que, em oposição, a ideia expressa pela palavra indivíduo equivale a uma unidade indivisível. Ao contrário, ela conclui que, nas sociedades modernas ocidentais, a construção de gênero se dá pela diferença e conflito, antagonismos e separação, capazes de mapear as relações. A ideia de que todos os povos têm a mesma visão e orientação de vida em conjunto, ou “sociedade”, da mesma forma que temos, é referente à “ditadura” etnocêntrica. Strathern pensou numa forma de explicação antropológica mais plausível para a “interpretação” da cultura

STRATHERN,   Marilyn.   O   gênero   da   dádiva:   problemas   com   as   mulheres   e   problemas   com   a   sociedade   na   Melanésia

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Resenha analítica

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  • RESENHA ANALTICA

    STRATHERN, Marilyn. O gnero da ddiva: problemas com as mulheres e

    problemas com a sociedade na Melansia. Campinas, SP: Ed. Unicamp,

    2006.

    Ronan de Almeida Siqueira 201073099C

    A respeito dos problemas metodolgicos no campo da antropologia, Marilyn Strathern desenvolve de maneira peculiar, em O Gnero da Ddiva, estratgias para a reavaliao e compreenso da cultura e organizao social Melansia, a partir deles mesmos, como objeto de seu estudo. Atentando-se para o gnero e as relaes de sociabilidade, como base para suas observaes, a autora minuciosamente estabelece as dimenses que orientam o convvio entre estes indivduos. Reexaminando a vasta produo etnogrfica sobre este povo, ela pe em cheque os problemas das sociedades e a dependncia da imaginao para a vida em conjunto. Strathern desconstri a noo ocidental existente sobre culturas exticas e, a ideia de que a natureza a mesma entre ns, capaz de classificar culturas distantes como os outros, apenas como objeto de estudos antropolgicos. Dessa maneira, ela identifica que nossa individualidade compreendida perante e, at mesmo, antes da prpria sociedade. Ela observa que na Melansia, a conscincia da individualidade se d a partir da dualidade, onde a vida coletiva representada por uma unidade e, as pessoas so composies resultantes das analogias e homologias, criadas a partir dos gneros e, que nunca apresentam uma hierarquia. Como ela mesmo explica, as pessoas melansias, pelas relaes de gneros, esto longe de serem concebidas como entidades singulares como ocorre no Ocidente. Elas so representadas tanto no singular como no plural, por isso, h de ser considerado o termo divduo, j que, em oposio, a ideia expressa pela palavra indivduo equivale a uma unidade indivisvel. Ao contrrio, ela conclui que, nas sociedades modernas ocidentais, a construo de gnero se d pela diferena e conflito, antagonismos e separao, capazes de mapear as relaes. A ideia de que todos os povos tm a mesma viso e orientao de vida em conjunto, ou sociedade, da mesma forma que temos, referente ditadura etnocntrica. Strathern pensou numa forma de explicao antropolgica mais plausvel para a interpretao da cultura

  • Melansia. No entanto, ressalto que, o termo interpretao que aqui utilizo para a explicao referente em questo diferente antropologia interpretativa de Geertz, pois a obra de Strathern tambm uma crtica a este ltimo autor, apesar de sua grande contribuio para a disciplina. Ela usa a ideia da exegese simblica a ser utilizada nas produes antropolgicas de explicao de mundos distantes. Em outras palavras, para uma aproximao, preciso e veracidade dos fatos, que esto longe da nossa realidade, a produo descritiva, segundo Strathern, h de ser desenvolvida uma rentabilidade heurstica, sem uso de metforas, mas com invenes simblicas na intepretao. Ela prope uma linguagem analtica para uma descrio mais detalhada das invenes culturais no ocidentais, a fim de transmitir com maior preciso a complexidade da produo dos fatos, bem como, as significaes dadas aos eventos particulares dos nativos. Strathern explora o mundo melansio no intuito de contribuir com os avanos antropolgicos em curso, ainda que, ela utilize de uma abordagem feminista que ressalte as diferenas e conflitos da construo de gnero nas sociedades ocidentais. Nas prprias palavras de Paul Rabinow*, que utiliza os estudos de Strathern como argumento para sua posio sobre as crticas levantadas as autoridades etnogrficas, entre dilogo e identidade, o feminismo antropolgico de Strathern insiste em no perder de vista diferenas fundamentais, relaes de poder e dominao hierrquica. Contudo, existe uma grande e significativa diferena entre a antropologia feminista de Strathern, que visa os avanos da disciplina e o feminismo antropolgico, que objetivado em construir uma comunidade feminista. Apesar de, sua perspectiva oferecer uma viso crtica sobre regras normativas de separao, antagonismos e dominao que permeiam nossas relaes , elas vo muito alm que simplesmente dar voz ao discurso feminista de onde so obtidos seus pressupostos na atuao de sua razo prtica, em moldes ocidentais: a posio da mulher na sociedade. Vale a pena destacar, que se assim o fizesse, seus enfoques e objetivos estariam em desacordo com o que ela mesmo props: construo e desenvolvimento do pensamento antropolgico e avanos cientficos. * no havia na cpia os dados de referncia bibliogrfica desde autor.