28
SUCESSO DO ALUNO: AINDA O GRANDE DESAFIO Maria Alair Guilherme 1 Agradecimento 2 RESUMO: O presente estudo tem por objetivo explicitar a reflexão realizada sobre o processo de ensino e aprendizagem junto aos alunos de 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio e aos docentes que atuavam com estes alunos, numa escola da rede pública estadual do município de Irati-PR. Através deste, buscaram-se pressupostos pela melhoria da aprendizagem, visando diminuir os índices de evasão e reprovação e consolidando ações que venham contribuir com o acesso, mas também com a permanência e o sucesso do aluno na escola. Neste contexto, realizou-se o trabalho de pesquisa por amostragem, através da aplicação de um questionário com perguntas abertas, cujas questões formuladas objetivavam abordar a visão que os docentes e alunos têm sobre o processo de ensino e aprendizagem. O referencial teórico foi elaborado com base na Tendência Libertária, do educador brasileiro, Paulo Freire, da Pedagogia Histórico Crítica, expressa por Dermeval Saviani e contribuições de José Carlos Libâneo e João Luiz Gasparin. Os resultados do estudo apontam a necessidade de garantir a continuidade dos direitos já adquiridos, através da legislação e das políticas públicas implantadas e a efetivação de uma metodologia do trabalho pedagógico que contemple os anseios e necessidades do aluno com vistas à sua aprendizagem. ABSTRACT: The present study aims to clarify the discussion held on the process of teaching and learning together with students from 7 th and 8 th from 1 Pedagoga formada pela FECLI/UNICENTRO. Professora-Pedagoga integrante do programa PDE/2007 – SEED-PR, atuando no Colégio Estadual João de Mattos Pessôa- EFM – Irati – PR. 22 À professora Nelsi Antonia Pabis, UNICENTRO-Campus de Irati-PR, pela colaboração durante as atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE e na elaboração deste artigo.

Sucesso do aluno: ainda o grande desafio · que contemple os anseios e necessidades do aluno com vistas à sua aprendizagem. ABSTRACT: ... acesso, a permanência e o sucesso do aluno

Embed Size (px)

Citation preview

SUCESSO DO ALUNO: AINDA O GRANDE DESAFIO

Maria Alair Guilherme1

Agradecimento2

RESUMO:

O presente estudo tem por objetivo explicitar a reflexão realizada sobre o processo de ensino e aprendizagem junto aos alunos de 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio e aos docentes que atuavam com estes alunos, numa escola da rede pública estadual do município de Irati-PR. Através deste, buscaram-se pressupostos pela melhoria da aprendizagem, visando diminuir os índices de evasão e reprovação e consolidando ações que venham contribuir com o acesso, mas também com a permanência e o sucesso do aluno na escola. Neste contexto, realizou-se o trabalho de pesquisa por amostragem, através da aplicação de um questionário com perguntas abertas, cujas questões formuladas objetivavam abordar a visão que os docentes e alunos têm sobre o processo de ensino e aprendizagem. O referencial teórico foi elaborado com base na Tendência Libertária, do educador brasileiro, Paulo Freire, da Pedagogia Histórico Crítica, expressa por Dermeval Saviani e contribuições de José Carlos Libâneo e João Luiz Gasparin. Os resultados do estudo apontam a necessidade de garantir a continuidade dos direitos já adquiridos, através da legislação e das políticas públicas implantadas e a efetivação de uma metodologia do trabalho pedagógico que contemple os anseios e necessidades do aluno com vistas à sua aprendizagem.

ABSTRACT:

The present study aims to clarify the discussion held on the process of teaching and learning together with students from 7 th and 8 th from

1 Pedagoga formada pela FECLI/UNICENTRO. Professora-Pedagoga integrante do programa PDE/2007 – SEED-PR, atuando no Colégio Estadual João de Mattos Pessôa-EFM – Irati – PR.22 À professora Nelsi Antonia Pabis, UNICENTRO-Campus de Irati-PR, pela colaboração durante as atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE e na elaboração deste artigo.

elementary schools and 1 th, 2 nd and 3 rd grades from high school and teachers who worked with these students, in a public state school of the council of Irati – Pr, in a search of better conditions for the learning, in order to decrease the dropout rates and disapproval and consolidating actions that come to contribute to the access, but also with the permanency and success of the student in school. In this context, it took place the research work by sampling, through the questionnary application with open questions, whose formulated questions aimed to approach the vision of students and teachers have about the teaching and learning process. The theoretical reference was elaborated in a Libertary Tendency basis of the brazilian educator, Paulo Freire, the Pedagogy of Critical History, expressed by Dermeval Saviani and contributions from José Carlos Libâneo and João Luiz Gasparin. The study results suggest the need to ensure the continuity of the rights already acquired, through legislation and the public politics implanted and the realization of a methodology of the pedagogical work that includes the desires and needs of the studentes with a view to their learning.

Palavras-chave: Ensino-

aprendizagem.Aluno.Acesso.Permanência.Sucesso.

INTRODUÇÃO:

A Constituição Federal do Brasil, contempla em seu Artigo

205 que: A educação é direito de todos e dever do Estado e da

Família, será promovida e incentivada com a colaboração da

sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo

para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Portanto, a temática escolhida – Sucesso do aluno: ainda

o grande desafio – a partir da prática pedagógica desenvolvida em

nossas escolas, tanto no “olhar” do aluno quanto do professor, nos

remete a analisar os dados obtidos na pesquisa realizada com docentes

e alunos. Estes dados serão confrontados com o contexto histórico e as

tendências educacionais dos últimos anos, destacando principalmente a

garantia constitucional do direito do aluno ao acesso à escola e as

2

implicações ocorridas para que a aprendizagem seja efetivada num

contexto de desigualdades sociais.

Estas desigualdades exigem do docente, além da

qualificação e formação profissional, uma postura crítica frente ao

conhecimento e os papéis que a Escola deve desempenhar. De acordo

com a Tendência Libertária de Paulo Freire (1975), para o educador

engajado na prática transformadora, Educador e Educando são sujeitos

do mesmo processo, numa relação dialógica com o conhecimento. Na

Pedagogia Histórico-Crítica defendida por Saviani (1980), professor e

aluno são sujeitos ativos, situados numa realidade e o professor o

mediador do processo pedagógico, interferindo e criando as condições

para que este se aproprie do conhecimento. O docente deve conhecer o

contexto em que seu aluno está inserido e ser consciente que a ação de

ensinar é política e por isso, tem comprometimento político com a

socialização, tanto do conhecimento científico, como cultural.

Conforme Libâneo (1987, p. 75):

“A escola é o lugar de ensino e difusão do conhecimento, é instrumento para o acesso das camadas populares ao saber elaborado; é, simultaneamente, meio educativo de socialização do aluno no mundo social adulto.”

O estudo e a pesquisa desenvolvida compartilham

reflexões junto aos professores a partir das idéias expostas, frente ao

desafio de proporcionar ao aluno um ensino de qualidade, onde a

aprendizagem seja significativa, pautada e contextualizada histórica,

social, política e economicamente com a realidade deste aluno. Objetiva

também contribuir com a ação docente, através da análise dos dados

obtidos sobre o processo de ensino e aprendizagem na visão dos alunos,

fundamentando-os com os pressupostos teóricos citados.

A expectativa docente se traduz em como garantir a

permanência e o sucesso do aluno no processo educativo, pois esta

ultrapassa suas ações ou da própria Escola, precisando ser

3

compartilhada pelo Governo, através das Políticas Educacionais que

priorizem o efetivo acesso à aprendizagem; a Família assumindo seu

papel na educação dos filhos e não delegando esta atribuição somente à

escola; o Aluno demonstrando interesse pela aprendizagem; a Escola

dispondo da infra-estrutura tanto física, quanto pedagógica e do

professor comprometido com a Educação, inovando suas metodologias

de trabalho e se qualificando para atender a demanda de diversidade

existente na escola.

Os problemas ou desafios educacionais das escolas públicas

perpassam momentos históricos e continuam a se firmar em resultados

negativos sobre a aprendizagem, reiterados pelos índices de evasão e

reprovação, onde ações e envolvimento coletivo podem ser fatores de

contribuição para se atingir o propósito da ação educativa: garantir ao

aluno o acesso, mas também a permanência e o sucesso na

escola.

DESENVOLVIMENTO:

Nas últimas décadas, através da criação de políticas

públicas no Brasil, o governo tem feito um grande esforço no sentido de

garantir acesso, permanência e sucesso a todas as crianças e jovens na

escola.

Apesar dos avanços ocorridos, os indicadores apontam que

reprovação e evasão são alarmantes na escola brasileira. As

estatísticas são um sinal de alerta para o trabalho pedagógico

desenvolvido, fazendo com que continue sendo o grande desafio da

ação educativa: a melhoria da qualidade de ensino, para garantir o

acesso, a permanência e o sucesso do aluno na escola. (grifos

meus).

É notório que a aprendizagem não perpassa somente a

escola, ou o professor, é reflexo do contexto social em que o aluno está

4

inserido e das políticas públicas, especialmente as educacionais

adotadas. Atualmente, estão acontecendo discussões e análises sobre as

práticas pedagógicas realizadas pelos professores e o desempenho dos

alunos, porém, muitas vezes na prática não são enfrentadas no sentido

de que mudanças se viabilizem.

Desde o início da colonização até mais ou menos o final da

década de 1970, quando se consolidou o processo de democratização no

Brasil, a educação foi para poucos, excluindo-se a maioria, a qual nem

sequer ingressava na escola, conforme cita Saviani (2002, p. 3):

“De acordo com estimativas relativas a 1970, cerca de 50% dos alunos das escolas primárias desertavam em condições de semi-analfabetismo ou de analfabetismo potencial na maioria dos países da América Latina (Tedesco, 1981, p. 67). Isto sem levar em conta o contingente de crianças em idade escolar que sequer têm acesso à escola e que, portanto, já se encontram a priori marginalizadas dela.”

Além disto, se nos reportarmos para exemplificar a

história, perceberemos que a educação num período muito curto de

tempo passou por muitas mudanças e que quando uma tendência

educacional ainda não era incorporada pela maioria dos professores e

demais profissionais da educação, outra já era apontada como a solução

para o quadro educacional que se configurava. Assim foi com a

concepção de Escola Nova, da Educação Técnica, com as Pedagogias

Progressistas.

Como diz Vasquez, citado por Saviani (2002, p.73):

“A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma e, em primeiro lugar tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal transformação...”

5

A década de 1980 destacou-se pela mobilização dos

educadores pela busca da universalização da Escola Pública, pela

garantia de uma educação de qualidade para todos, mas os

desdobramentos mostraram que não atingiram os objetivos esperados

no que se refere à qualidade e desempenho. Conforme Saviani (2002),

no contexto vivenciado, em que intensificava-se a organização em busca

da universalização da escola pública, esperava-se que a educação

garantisse um ensino de qualidade a toda a população brasileira, o que

não aconteceu.

Na década de 1990, a política neoliberal assumida pelos

governantes da época foi marcada por um período de perplexidade e

descrença por parte dos educadores ao perceberem que as políticas

educacionais reconheciam a importância da Educação, mas

transferiam, em parte, a responsabilidade do financiamento da

Educação à iniciativa privada.

Para Saviani, (2002), esta orientação neoliberal ressalta a

importância da Educação, porém, mescla um discurso entre a

importância e a redução dos investimentos na área educacional,

eximindo o Estado de sua função.

As Políticas Educacionais neste contexto, acabaram sendo

direcionadas pelas orientações de organismos econômicos

internacionais, principalmente pelo Banco Mundial. Após quase duas

décadas, as avaliações continuam pontuadas nos baixos níveis de

aprendizagem dos alunos, na pouca valorização e profissionalização dos

professores, ou seja, algumas conquistas dos anos 80, ficaram

reduzidas ao acesso de crianças na escola, ainda que sem condições,

sequer materiais para seu atendimento.

Como já mencionado, pode-se dizer que há anos o Brasil

continua a “passos lentos” na educação, apesar do grande esforço da

universalização de acesso ao saber. Índices demonstram que o número

de alunos que ingressaram na escola aumentou em todos os níveis, mas

6

os índices dos que concluem o Ensino Médio ou Universidade são

poucos. Os índices alarmantes de evasão e reprovação mostram que

temos muito ainda que avançar. Garantiu-se o acesso, mas um

desempenho satisfatório do aluno em relação à aprendizagem ainda não

aconteceu.

Segundo dados do MEC – Ministério da Educação, no

Estado do Paraná, no período de 2001 a 2005 as taxas de reprovação no

Ensino Fundamental, no período diurno aumentaram, na maioria das

séries. Já as taxas de evasão diminuíram no mesmo período. Em

contrapartida, no ensino noturno, os índices de reprovação diminuíram,

enquanto a evasão aumentou.3

Em 2007, a melhoria do desempenho nos índices do IDEB

(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), avança na superação

dos índices de evasão e reprovação, mas ainda é muito pouco na

escalada do desenvolvimento de uma sociedade. Os índices

conquistados, por exemplo, no estado do Paraná (vide quadro abaixo),

onde atingiu ou superou-se a meta/2009, revela ainda um caminho

muito longo a ser percorrido na garantia de um ensino de qualidade a

todos os alunos.

IDEBs observados em 2005, 2007 e Metas para rede Estadual - PARANÁ

3 Disponível em http://portal.mec.gov.br/ideuf/layout/gerarTabelas.php?estado=PR acessado em 29/01/2008.

7

Fases de Ensino

IDEB Observado Metas Projetadas

2005 20072007

2009

2011

2013

2015

2017

2019

2021

Anos Iniciais do Ensino Fundamental

5,0 5,2 5,0 5,4 5,7 6,0 6,2 6,5 6,7 6,9

Anos Finais do Ensino Fundamental

3,3 4,0 3,3 3,5 3,8 4,2 4,5 4,8 5,1 5,3

Ensino Médio 3,3 3,7 3,3 3,4 3,6 3,9 4,2 4,6 4,9 5,1 Fonte: Saeb e Censo Escolar.

Disponível: http://ideb.inep.gov.br/Site/ acessado em 28.11.2008

Estes indicadores servem de referencial aos professores

sobre o trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas no sentido de

que práticas pedagógicas sejam revistas. Quanto às políticas públicas

voltadas para a educação o que se deseja é que contemplem a

continuidade das ações já efetivadas e se busquem especificidades

necessárias à aprendizagem no decorrer do processo, com vistas a uma

verdadeira formação integral do aluno, pois conforme afirma Buarque,

(2007):

“Comemoramos o aumento do acesso, mas não assumimos o fracasso do sucesso. A escola aumentou o acesso graças à Bolsa-Escola, à merenda, ao transporte, mas não aumentou a permanência, nem a aprendizagem. Acesso não é sucesso.”4

Segundo este autor, para o acesso, basta uma escola

com professores frente às crianças. Mas o acesso não terá sucesso se a

escola não tiver qualidade, se o aluno não aprender. Além do acesso, é

preciso garantir freqüência, assistência, permanência e aprendizado,

4 Disponível em http://www.senado.gov.br/lidpdt/artigo.asp?data=01/06/2007&codigo=845 - Acesso e sucesso- acessado em 25/06/2007.

8

garantindo desta forma a possibilidade de comemorar realmente o

sucesso do aluno.

Enquanto cidadão, é direito do aluno, o acesso a uma

educação pública, gratuita e de qualidade, garantida

constitucionalmente e que contemple na prática os aspectos básicos do

conhecimento. Esta idéia é respaldada por Saviani (1986, p. 82):

“...o fundamental hoje no Brasil é garantir uma escola elementar que possibilite o acesso à cultura letrada para o conjunto da população. Logo, é importante envidar todos os esforços para a alfabetização, o domínio da língua vernácula, o mundo dos cálculos, os instrumentos de explicação científica estejam disponíveis para todos indistintamente. Portanto, aquele currículo básico da escola elementar (Português, Aritmética, História, Geografia e Ciências) é uma coisa que temos que recuperar e colocar como centro das nossas escolas, de modo a garantir, que todas as crianças, assimilem esses elementos, pois sem isso elas não se converterão em cidadãos com a possibilidade de participar dos destinos do país e interferir nas decisões e expressar seus interesses, seus pontos de vista.”.5

É função da escola garantir a todos indistintamente o

acesso ao conhecimento como modo de romper com a dominação,

causada pela distribuição desigual do poder sócio-econômico, do saber,

do acesso à cultura. O exercício pleno da cidadania supõe que o

indivíduo tenha dominado os conteúdos comuns à sociedade,

necessários à convivência social, bem como tenha condições de adquirir

informações sobre si mesmo e sobre a sociedade em que vive para

poder assumir uma postura crítica. Conforme Gasparin (2005, p. 2):

“Se, por exemplo, a aprendizagem dos conteúdos por parte dos alunos significou, por muito tempo, um requisito para obter uma boa nota numa prova ou exame e ser promovido, agora uma nova dimensão deve ser considerada: qual a finalidade social dos conteúdos

5 SAVIANI, Dermeval APUD Documento-Síntese do PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional – SEED./PR, p.16, 2007.

9

escolares?...Nessa perspectiva, o novo indicador da aprendizagem escolar consistirá na demonstração do domínio teórico do conteúdo e no seu uso pelo aluno, em função das necessidades sociais a que deve responder. Esse procedimento implica um novo posicionamento, uma nova atitude do professor e dos alunos em relação ao conteúdo e à sociedade: o conhecimento escolar passa a ser teórico-prático. Implica que seja apropriado teoricamente como um elemento fundamental na compreensão e na transformação da sociedade”.

Nesse contexto, a aprendizagem requer que o professor

oportunize ao aluno a reflexão e sistematização do que foi ensinado,

cabendo ao professor criar situações desafiadoras, onde sejam

exploradas todas as possibilidades de aprendizagem para o êxito de

todos os educandos. É o desafio de contemplar a diferença que se faz

necessário, é a busca de novos caminhos que possam dar um novo

significado a aprendizagem de todos indistintamente.

Nos últimos anos, mais precisamente a partir de 2003, o

Estado do Paraná , preocupado com este desafio, retoma a discussão

sobre o ensino ofertado aos alunos da rede pública e a formação dos

docentes na perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica, expressa por

Saviani. Uma de suas ações foi a elaboração das Diretrizes Curriculares

Estaduais para a Educação Básica, retomando a busca por uma

educação pública e democrática, comprometida com o conhecimento

contextualizado e historicamente construído.

A Pedagogia Histórico-Crítica, referenciada neste trabalho,

surge no Brasil, nos anos de 1980, como tentativa de superar o

tecnicismo dominante dos anos de 1970 e buscar novas formas de

pensar e realizar, através da escola, a democratização e o acesso ao

conhecimento. Sabendo-se das dificuldades e das desigualdades

vivenciadas pela sociedade brasileira, marcada pela miséria de muitos e

riqueza de poucos, tem-se consciência que a escola não pode

equacionar estas situações, mas pode fornecer sua contribuição

10

buscando a qualidade do processo de ensino e aprendizagem, para que

através da apropriação do conhecimento possa contribuir no sentido de

minimizar as desigualdades sociais, assumindo o compromisso de

transformação da sociedade.

Analisando as várias tendências educacionais, entende-se

que a Pedagogia Histórico-Crítica é a que mais se aproxima do que

acredita-se que seja o ideal para ser vivenciado nas escolas. Professor

e aluno, numa relação de trabalho com o conhecimento científico,

inserido no contexto sócio-econômico-político do educando, onde o

ensino produza aprendizagens significativas, capazes de transformar a

realidade.

Gasparin (2005, p. 144) afirma que a educação:

“...transforma de modo indireto e mediato, isto é, agindo sobre os sujeitos da prática” (Saviani, 1999).”Não basta, porém, atuar intelectualmente, possibilitando ao aluno a compreensão teórica e concreta da realidade. É, mister, ainda que em pequena escala, possibilitar ao educando as condições para que a compreensão teórica se traduza em atos, uma vez que a prática transformadora é a melhor evidência da compreensão da teoria”.

E é nesta perspectiva de educação, retomando a real função

da escola como “porta” de acesso ao conhecimento, com vistas a

assegurar à maioria da população, tanto a cultura formal como o

conhecimento científico, que se apresenta o resultado da pesquisa, cujo

objetivo era demonstrar a visão de alunos e professores sobre o

processo de ensino e aprendizagem.

Diante dos pressupostos abordados, os dados obtidos na

pesquisa realizada, são considerados relevantes, pois abordam

mudanças na prática docente, porém, demonstram as dificuldades em

se efetivar um ensino de qualidade, que abranja a totalidade.

A pesquisa foi realizada por amostragem com 25 (vinte e

cinco) alunos, sendo 10 (dez) do Ensino Fundamental (7ª e 8ª séries) e

11

15 (quinze) do Ensino Médio (1ª, 2ª e 3ª séries) de uma escola da rede

pública estadual e 18 (dezoito) docentes que atuavam com estes alunos.

Somente 13 (treze) destes professores retornaram o instrumento de

pesquisa.

Foi aplicado aos docentes um questionário com sete

questões abertas, que abordavam a compreensão dos mesmos sobre o

processo de ensino e aprendizagem, as maiores dificuldades

encontradas na efetivação do trabalho pedagógico, a metodologia

adotada nas aulas, o papel do professor, a visão docente sobre o aluno

da escola pública e o que era necessário para efetivação da melhoria da

aprendizagem. Aos alunos aplicou-se um questionário com seis

questões abertas, que versavam sobre a importância de freqüentar à

escola, a metodologia de trabalho dos docentes, as disciplinas em que

encontravam mais facilidade e mais dificuldade na aprendizagem dos

conteúdos e ainda, sugestões que julgavam importantes para melhorar

a maneira do professor ensinar. A análise dos dados obtidos na

pesquisa foi realizada a partir de duas categorias: o aluno e o

docente.

Quanto aos alunos pesquisados, quando questionados sobre

se havia reprovado, 52% nunca reprovaram na escola, 24% haviam

reprovado uma vez e 24% duas vezes ou mais. Estes dados por si

demonstram a fragilidade do ensino, pois a reprovação do aluno está

efetivada em 48%, ou quase metade dos pesquisados, revelando o

insucesso do aluno frente à aprendizagem, como já apresentado nos

dados do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica e pelas

análises dos autores, como Saviani (2002) e Gasparin (2005).

Porém, estes alunos, mesmo com alto índice de reprovação

em sua aprendizagem, 48%, quando perguntado sobre a importância da

escola na sua totalidade, 100%, vê a escola como referencial na

aquisição de conhecimentos que contribuam para o seu futuro,

destacando a busca pela profissionalização.

12

A escola, para o aluno pesquisado, é a que oportuniza

conhecimento, aprendizado, “coisas novas”, que facilitarão o seu

“sucesso” no futuro, principalmente a conquista de um emprego.

O aluno nesta visão não é imediatista, sua percepção de

aprendizagem se evidencia no conhecimento acumulado a longo prazo,

mas que o possibilite participar da sociedade, mais especificamente, no

mundo do trabalho.

Quando questionado sobre a melhor forma de aprender um

conteúdo, o aluno relata que: através da explicação do professor tanto

individual quanto coletiva (40%), com aulas mais dinâmicas (20%), com

o professor esclarecendo suas dúvidas (16%), prestando atenção nas

explicações (12%), relacionando a teoria com a prática (8%) e da

maneira que o professor achar melhor para ensinar (4%).

A explicação do professor, ou a intervenção do mesmo, para

os alunos pesquisados, está “enraizado” como aquele que ensina

individual ou coletivamente e está presente para sanar suas dúvidas,

reforçando a postura do docente no ensino tradicional. No entanto, cita

aulas mais dinâmicas, embora não explique o que são aulas mais

dinâmicas.

Na perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica, a dinâmica

é vista pela relação teórico-prático, ocorrendo numa relação dialética,

com a mediação do professor, em que este articula o trabalho

pedagógico permitindo ao aluno relacionar os processos de aquisição

do conhecimento e as ações necessárias à transformação de sua

realidade.

Quanto à metodologia utilizada por seus professores, dos

alunos pesquisados, 84% afirmam que a metodologia utilizada por seus

professores contribuem para a sua aprendizagem, enquanto 16%

afirmam não estarem sendo auxiliados pela metodologia adotada.

Neste contexto, a metodologia de trabalho do docente

contribui com a aprendizagem dos alunos, quando relatam que alguns

13

docentes diversificam as aulas com debates, pesquisas, vídeos e outros

explicam o conteúdo e se necessário retomam novamente para que o

aluno compreenda. Percebe-se entre os pesquisados a necessidade de

explicação, exposição do conteúdo pelo docente (aulas expositivas),

enquanto outros contemplam a diversidade da metodologia,

proporcionando uma visão transitória de um ensino tradicional, de uma

“educação bancária”, como apresenta Freire (1975), onde o professor

transmitia os conhecimentos e o aluno era o expectador, para um

processo de participação do aluno através de debates, pesquisas,

métodos diferenciados onde o aluno possa construir, reelaborar com a

mediação docente, o conhecimento.

Para Gasparin (2005, p. 2) é preciso:

“Trabalhar os conteúdos de forma contextualizada em todas as áreas do conhecimento humano. Isso possibilita evidenciar aos alunos que os conteúdos são sempre uma produção histórica de como os homens conduzem sua vida nas relações sociais de trabalho em cada modo de produção.Conseqüentemente, os conteúdos reúnem dimensões conceituais, científicas, históricas, econômicas, ideológicas, políticas, culturais, educacionais que devem ser explicitadas e aprendidas no processo ensino-aprendizagem”.

A contextualização dos conteúdos nesta perspectiva,

evidencia a integração do conhecimento com as demais áreas, pois a

integração dos saberes escolares com os saberes cotidianos da

realidade contrapõe a visão hierárquica do conhecimento, ou seja,

aquela que o professor ensina e o aluno aprende.

Na pesquisa, mesmo com a afirmativa dos alunos que estão

aprendendo, esta diverge com os dados de reprovação apresentado nas

escolas. Portanto, a metodologia utilizada precisa ser revista, pois o

educador tem clareza que toda ação educativa precisa estar pautada no

educando e direciona ou deve direcionar o seu trabalho utilizando

métodos de ensino para o seu êxito.

14

Nos pressupostos teóricos que fundamentam este estudo, a

teoria dialética do conhecimento com a correspondente metodologia de

ensino-aprendizagem, contempla as sugestões de Saviani, citado por

Gasparin (2005, p. 5):

“o movimento que vai da síncrese (“a visão caótica do todo”) à síntese (“uma rica totalidade de determinações e de relações numerosas”) pela mediação da análise (“as abstrações e determinações mais simples”) constitui uma orientação segura tanto para o processo de descoberta de novos caminhos (o método científico) como para o processo de transmissão-assimilação de conhecimento (o método de ensino)”.

Ou ainda, segundo Gasparin (2005), quando descreve que: o

primeiro passo da Pedagogia Histórico-Crítica diz respeito ao nível de

desenvolvimento real do educando, a prática social inicial, é o

momento de mobilização do aluno para o conhecimento, a primeira

leitura da realidade e o contrato inicial com o que será estudado, para

conhecer o que o aluno já sabe sobre o tema abordado.

O segundo, constitui a ligação entre a prática social e a

instrumentalização, é a problematização, ou seja, é o elemento chave

na transição entre a prática e a teoria, é o caminho que desperta o

educando para a aprendizagem significativa, pois são levantadas as

situações-problemas que estimulam seu raciocínio.

O terceiro, refere-se às ações didático-pedagógicas para a

aprendizagem, a instrumentalização, é o momento de confrontar os

alunos com o conteúdo, utilizando-se das questões abordadas na prática

social inicial e na problematização. Alunos e conteúdos são colocados

numa relação mediada pelo professor, para que através da

apresentação sistemática do professor e da ação intencional do aluno,

este se aproprie do conhecimento.

O quarto, configura a elaboração da nova forma de

entender a prática social, catarse; enquanto na instrumentalização,

15

uma das operações básicas para que o conhecimento seja construído é

a análise, na catarse, é a síntese. Pode-se dizer que a catarse é a síntese

do cotidiano e do científico, do teórico e do prático que o educando

chegou, marcando sua nova posição em relação ao conteúdo e a forma

de sua construção social e reconstrução na escola.

E o quinto e último, é o momento de surgimento de uma

nova proposta de ação a partir do conteúdo aprendido, é a prática

social final, onde durante o processo, professor e aluno, modificaram

suas concepções em relação ao conteúdo aprendido, ultrapassando o

grau de compreensão científica de menor valor para uma fase de

compreensão dentro da totalidade.

O detalhamento dos passos metodológicos que

fundamentam a Pedagogia Histórico-Crítica, contribui com a prática

docente, pois esta pressupõe a compreensão da concepção de ensino e

aprendizagem, da relação professor e aluno, da metodologia

desenvolvida e dos conteúdos e suas finalidades. Estas questões são

importantes para que se busque a coerência entre o que se pensa estar

fazendo e o que realmente faz.

Porém, a mudança na prática docente constitui-se um

processo lento, pois este traz consigo experiências e práticas da sua

vivência como aluno e da sua formação acadêmica, exigindo um “novo”

aprendizado para concretização da “nova” prática, que contemple os

anseios e necessidades do aluno frente à aprendizagem.

No intuito de confrontar a relação da metodologia com a

aprendizagem, indagou-se o aluno sobre a disciplina que aprende com

mais facilidade e como o professor faz para ensinar, sendo que: 36%

responderam Matemática, 20% - Português, 12% - Geografia, 12% -

Física, 8% - Arte, 4% - História, 4% - Química e 4% - Educação Física.

Nas disciplinas citadas relatam novamente que a maneira de ensinar do

professor é através da exposição do conteúdo e “fazendo e refazendo”

os exercícios, dados que se assemelham, quando o aluno é indagado

16

sobre a disciplina que encontra maiores dificuldades e como o professor

faz para ensinar: Matemática – 40%, Português – 20%, Química – 16%,

Geografia – 8%, Artes – 4%, Física – 4%, Nenhuma – 4%.

Em percentuais praticamente evidencia-se a equivalência

das disciplinas e a metodologia utilizada pelo professor é a mesma

citada na questão anterior.

A semelhança e/ou contradição nas respostas direcionam

novamente para mudança de metodologia adotada pelos docentes, uma

vez que ao mesmo tempo que os alunos aprendem, também estão sendo

prejudicados em sua aprendizagem pela maneira de ensinar dos

docentes. Evidenciam em suas respostas que a aprendizagem acontece

através da transmissão, da exposição do conteúdo pelo professor. O

aluno parece desconhecer outras maneiras de se apropriar do

conhecimento, senão esta que lhe é oportunizada em sala de aula, ou

seja, a aula expositiva.

Referenciando a Pedagogia Histórico-Crítica, para que uma

aprendizagem significativa aconteça, é preciso disponibilidade para o

envolvimento do aluno na aprendizagem, o empenho em estabelecer

relações entre o que já sabe e o que está aprendendo, em usar os

instrumentos adequados que conhece e dispõe para alcançar a maior

compreensão possível. Esta aprendizagem precisa ser ousada, para se

colocar os problemas, buscar soluções e experimentar novos caminhos,

ser significativa; o aluno precisa tomar para si a vontade de aprender e

a prática docente precisa garantir as condições para que esta atitude

favorável se manifeste.

A prática docente se manifesta ainda, quando o aluno é

indagado sobre sugestões que considera importantes para melhorar

ainda mais as aulas ou a maneira de seu professor ensinar: Para 52%

dos alunos, o professor deve diversificar a metodologia das aulas, 28%

que o professor tenha domínio, conhecimento do conteúdo e 20% que

17

há necessidade de disciplina (bom comportamento) em sala de aula, por

parte dos alunos.

Novamente nesta questão, há divergência em relação à

metodologia, visto que a maioria sugere a diversificação da mesma, mas

não explica como deve ser a diversificação. Quanto ao conhecimento do

conteúdo é imprescindível que os docentes tenham o total domínio,

para contemplar os anseios dos discentes em relação ao ensino. O

educador que não tem domínio do conhecimento a ser socializado com

o aluno, não consegue entender a dimensão política do ato pedagógico,

possivelmente desconhece a concepção de educação, consciente e

criticamente construída, que possa definir e direcionar sua atuação

profissional.

Outro fator relatado pelos alunos é a indisciplina em sala de

aula, que por si só, seria merecedora de estudo. O próprio aluno afirma

que a indisciplina e o desinteresse presente nas salas de aula são

fatores que prejudicam a aprendizagem.

A indisciplina e desinteresse podem ter origem na prática

pedagógica praticada nas salas de aulas, ou estar na obrigatoriedade da

lei quanto à freqüência à escola, pois muitos alunos ainda não

perceberam o real significado de ter o direito à escola assegurado. São

questões desafiadoras a serem enfrentadas como compromisso dos

envolvidos no processo educativo.

Através dos dados fornecidos pelos alunos, percebe-se que

mesmo com respostas genéricas, sem detalhamento, contribuem na

reflexão sobre a prática docente, oportunizando a estes análise da sua

prática a partir da visão dos alunos, com um único objetivo, a melhoria

da aprendizagem.

Para uma visão ampla e de conjunto, solicitou-se aos

docentes a reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem a partir

das questões já descritas e com pontos em comum.

18

Dos professores pesquisados: 46% estão na atividade

docente há mais de cinco anos; 23% há cinco anos e 23% menos de

cinco anos. Quanto às disciplinas de atuação, dos 13 (treze)

pesquisados estão assim distribuídos: Matemática (03); Português (01);

Português/Artes (01); História (02); Geografia (01); Educação Física

(01); Espanhol (01); Inglês (01); Física (01); Biologia (01).

Quando perguntado sobre o que compreende por ensino e

aprendizagem: 63,3% responderam que são processos que ocorrem

simultaneamente, ou seja, numa relação dialética; enquanto 30,7% é a

transmissão de conhecimentos.

Referenciando as idéias de Saviani, para a maioria dos

professores o processo de ensino e aprendizagem é simultâneo -

professor precisa ensinar e o aluno aprender - e contínuo, é troca de

conhecimentos onde professor e aluno interagem através do diálogo, da

pesquisa, na busca pelo conhecimento; enquanto para os demais

pesquisados é um processo de transmissão de conhecimentos,

revelando o professor como transmissor deste conhecimento. Pelas

respostas apresentadas, percebe-se que o docente conceitua o

processo de ensino e aprendizagem, reiterando conceitos obtidos na

vivência como aluno, na sua formação acadêmica e nas experiências

vivenciadas profissionalmente, o que conseqüentemente está refletindo

na sua prática pedagógica.

Já, no que se refere às maiores dificuldades encontradas na

efetivação do trabalho pedagógico: 61,5% se referiu a indisciplina e

desinteresse do aluno e da família e 38,5% atribuiu ao material

didático.

É difícil acontecer aprendizagem sem interesse do aluno,

como relata o professor. O aluno precisa estar atento e aberto à

aprendizagem, demonstrando interesse pelo que quer, caso contrário, o

sucesso com um aluno desmotivado, desinteressado em aprender não

será efetivado. Se por um lado, as políticas educacionais priorizam o

19

acesso, por outro lado, as escolas não estão preparadas e nem os

professores para dar conta da diversidade social, cultural e econômica

existente hoje em nossas escolas, entendendo-se que o desinteresse é

resultado do meio em que o aluno está inserido. A democratização abriu

o “leque” de acesso a uma maioria que estava à marginalização do

conhecimento, mas talvez, ainda não tenha clareza do que isto

representa. Freqüenta a escola por motivos alheios ao conhecimento,

como a obtenção de benefícios sociais, Bolsa-escola, Bolsa-família,

entre outros. Não vislumbra sua promoção enquanto ser humano que

lhe está sendo garantida.

Em relação à metodologia utilizada nas aulas 46,1% dos

docentes utiliza aulas expositivas, 38,5% aulas mais dinâmicas,

utilizando-se de recursos diversos, como vídeos, pesquisas, debates,

entre outros e 15,4% aulas expositivas e práticas; sendo que 76,9%

acredita que a metodologia que utiliza contribui para a aprendizagem

de seu aluno, enquanto 23,1% afirma que contribui parcialmente e

atribui a falta de recursos físicos e materiais, como limitadores para

que os objetivos possam ser atingidos.

Pelas respostas apresentadas, observa-se que pouco mudou

na prática docente no que se refere à metodologia e as aulas

expositivas ainda predominam na prática pedagógica dos pesquisados.

Alguns docentes inovam, utilizando-se de recursos disponíveis na

escola, o que demonstra a dificuldade de implantar o novo, mas acena

que o diferente possa se desenvolver.

Entende-se que a metodologia é um dos fatores

contribuintes para o sucesso na aprendizagem. Em alguns casos,

porém, os professores percebem que a contribuição pode tornar-se

deficitária devido à falta de recursos físicos e materiais. Acreditam que

a metodologia por eles utilizada contribui para o aprendizado de seus

alunos, pois procuram diversificar e utilizar os recursos disponíveis

conforme a realidade e disponibilidade da escola em que atuam.

20

Reiterando o que já foi citado anteriormente sobre a

metodologia, há que se considerar a necessidade de mudanças na

prática docente, sob a perspectiva dialética da construção do

conhecimento. Conforme Gasparin (2005, p. 5):

“Essa metodologia dialética do conhecimento perpassa todo o trabalho docente-discente, estruturando e desenvolvendo o processo de construção do conhecimento escolar, tanto no que se refere à nova forma de o professor estudar e preparar os conteúdos e elaborar e executar seu projeto de ensino...”

Neste contexto, poderá se efetivar uma prática

comprometida com a transformação, onde pelo processo de ensino e

aprendizagem, ao se trabalhar com os saberes necessários à integração

do homem na sociedade, se promova quem aprende e quem ensina,

diminuindo as desigualdades de acesso ao conhecimento.

Os docentes pesquisados consideram-se facilitadores da

aprendizagem de seus alunos, pois 76,9% estão abertos a novas

experiências, inovando sempre em suas aulas, motivando seus alunos,

conhecendo suas dificuldades, enquanto 23,1% se consideram em parte

facilitadores da aprendizagem, pois muitas vezes desempenham o papel

da família na educação, fazem trabalhos de outras áreas, como Saúde,

Serviço Social, Psicologia, entre outras. Além disso, sentem-se

frustrados frente ao desinteresse e indisciplina dos alunos, percebendo-

se como um mero transmissor de conteúdos.

O posicionamento dos professores pesquisados demonstram

que tem buscado inovar na sua prática pedagógica, o que ocorre é a

fragmentação deste trabalho, como conseqüência das mudanças

ocorridas no cenário educacional e a descontinuidade de políticas

educacionais. Atualmente, nas escolas públicas paranaenses, o

professor tem seu trabalho direcionado numa perspectiva de

recuperação destas e no compromisso do resgate do conhecimento

21

científico e cultural, no qual norteia suas ações, porém, alguns sentem-

se insatisfeitos frente ao que realmente é sua função de educador,

enquanto mediador do processo de aprendizagem, pois como já citado

anteriormente, desempenha funções de responsabilidade de outras

instituições, o que contribui com a visão descrita sobre o aluno da

escola pública atualmente.

Sobre o desinteresse do aluno, 61,5% dos docentes

entendem que este fator é resultado do reflexo da sociedade, 15,4% a

aprendizagem dos mesmos está comprometida pela indisciplina e

benefícios sociais, 7,7% a escola pública está sucateada e o aluno é o

“espelho”, 7,7% o aluno tem senso comum, mas não prioriza o

conhecimento científico e 7,7% o aluno de hoje não valoriza o que

recebe da escola.

É passível de compreensão a angústia dos professores

frente ao desinteresse do aluno pela aprendizagem, o comprometimento

da aprendizagem pela indisciplina e benefícios sociais desviando a

escola da sua real função. Há desinteresse do aluno quanto de suas

famílias que matriculam os filhos pela obrigatoriedade da lei, mas não

acompanham efetivamente a vida escolar dos mesmos.

A última questão foi sobre como garantir o sucesso do

aluno na escola. Para 53,8% é preciso comprometimento de todos os

segmentos: Escola, Família, Comunidade, Governantes; 23,1% a

sensibilização do aluno para que este perceba a necessidade da

educação; 7,7% a qualificação e formação dos docentes para trabalhar

com a diversidade; 7,7% melhoria da estrutura física e material das

escolas; 7,7% reformulação da metodologia de ensino nas séries

iniciais.

Os itens citados acima, são considerados relevantes, mas

destaca-se a organização e gestão democrática de todo o sistema

educativo, constituído com a participação efetiva de todos os

envolvidos: a Escola enquanto instituição formadora e o docente,

22

enquanto detentor do conhecimento, além da Família, Aluno,

Governantes e Sociedade.

Ressalta-se também a qualificação e formação docente como

fatores contribuintes na aprendizagem, pois conforme Gadotti (2000, p.

8) “os educadores numa visão emancipadora, não só transformam a

informação em conhecimento, mas também formam pessoas”, daí a

necessidade de investimento na formação docente, que tem seu papel

relevante, enquanto mediador do aluno frente à aprendizagem.

A melhoria da estrutura física e material é necessária,

porém é preciso concentrar esforços em ações que contemplem a

democratização do processo de ensino e aprendizagem, onde todos

possam assumir suas responsabilidades.

Em aspectos gerais, das questões abordadas, evidencia-se a

semelhança entre alunos e professores quanto à metodologia utilizada.

Ambos expressam que se aprende e se ensina com aulas expositivas,

evidenciando a função da escola como local de transmissão de

conhecimentos, como na Pedagogia Tradicional, onde o papel da escola

era difundir a instrução e transmitir os conhecimentos acumulados pela

humanidade.

A indisciplina e desinteresse também citados como uma das

causas que interferem na aprendizagem, é relatada tanto por aluno

quanto pelos professores, o que nos remete desencadear a investigação

das causas que geram esta indisciplina e a falta de interesse. De um

lado, o docente que vê seu trabalho prejudicado, pois não consegue

atingir seus objetivos na atividade educativa e do outro, o aluno que

não consegue se apropriar do conhecimento.

Novamente nos reportamos a Saviani (2002), quando diz

que uma pedagogia articulada com os interesses do aluno, valorizará a

escola e estimulará métodos de ensino eficazes, que oportunizarão ao

aluno demonstrar seu interesse pelo conhecimento. São alternativas

23

possíveis de serem buscadas pelo docente, minimizando o desinteresse

e a indisciplina instaurados em sala de aula.

Os docentes por sua vez, evidenciam em suas respostas a

preocupação em relação a aprendizagem, porém, durante o processo

com o acúmulo de atividades e o número excessivo de alunos nas salas

de aulas, não conseguem direcionar objetivamente a sua ação

pedagógica. Percebe-se um avanço na formação continuada, no

conhecimento teórico, mas não existe concretização de ações, quanto a

mudanças efetivas que precisam acontecer, principalmente em relação

à metodologia.

Portanto, as reflexões apresentadas indicam que é preciso

romper com práticas no desenvolvimento do trabalho pedagógico, que

seguem rotinas de exposição de conteúdo e execução de exercícios,

pois desconsideram a contribuição e participação do aluno no processo

de ensino e aprendizagem.

Em Educação, há que se considerar os aspectos sociais,

políticos, culturais e psicológicos, imprescindíveis à formação do aluno.

Dessa forma, o processo de escolarização passa a ser, de fato, um

colaborador da construção de uma sociedade democrática.

Enfim, é preciso conhecer melhor os alunos e sua realidade,

elaborar novas propostas de trabalho, redefinir os objetivos, buscar

conteúdos significativos e novas formas de avaliar que resultem em

propostas metodológicas mais inovadoras, as quais tenham por

objetivo, a aprendizagem e o sucesso dos alunos.

CONCLUSÃO:

24

Considerando este estudo, tanto nos aspectos teóricos,

como na análise dos dados obtidos através da pesquisa, espera-se que

possa servir de referencial aos integrantes do processo educativo, no

sentido de contribuir para uma reflexão mais profunda dos aspectos

abordados.

O sucesso e a permanência do aluno fundamentados na

Pedagogia Histórico-Crítica se consolidam com a apropriação do

conhecimento científico e cultural, de forma contextualizada,

considerando para isto uma nova postura do professor como do aluno

frente ao processo de ensino e aprendizagem, por isso o docente

precisa rever a prática pedagógica, visto que há contradição entre o

que apregoa teoricamente na pesquisa e o que realmente se efetiva em

sala de aula. Na metodologia utilizada, evidenciaram-se as aulas

expositivas, tanto no parecer do aluno, quanto do docente, o que se

contrapõe à didática defendida na Pedagogia Histórico-Crítica.

O professor parece ter consciência sobre as mudanças que

ainda se fazem necessárias na sua prática pedagógica, porém, há

influências que acabam por interferir neste processo, como a falta de

continuidade das Políticas Públicas na área educacional, a diversidade

social, cultural e econômica presente na sala de aula, recaindo no

desinteresse do aluno pela aprendizagem.

O aluno, por sua vez, relata ver a importância da escola e

afirma estar aprendendo. O que então está faltando para que a

permanência e o sucesso sejam garantidos, visto que os dados

estatísticos de evasão e reprovação divergem do que o aluno descreve?

Neste contexto, sugere-se maior envolvimento da família e do aluno nas

atividades desenvolvidas pela escola. O processo é lento, mas só

oportunizando esta integração, onde a família e aluno possam interagir

sobre a importância do conhecimento é que se saberá se o objetivo será

atingido ou não.

25

A Escola, enquanto instituição formadora, precisa assumir a

responsabilidade de atuar na transformação e na busca do

desenvolvimento dos sujeitos que dela fazem parte, assegurando a

construção coletiva do Projeto Político Pedagógico, fazendo com que

todos se sintam co-responsáveis na concretização do que foi discutido e

elaborado.

A escola desempenha um papel importante na construção

da “nova” sociedade, elevando o nível de conhecimento e

conscientização de seus educandos e educadores, pois na sociedade em

que vivemos, alicerçada nos marcos da contradição, todos os que vivem

em torno e dentro dela, participam do processo em busca de uma

sociedade justa e igualitária, assumida por todos que fazem parte,

conforme afirma Gadotti, (2000, p. 7):

“A escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer sua própria inovação, planejar-se a médio e longo prazo, fazer sua própria reestruturação curricular, ... enfim ser cidadã. As mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras”

Quanto ao Governo, compete-lhe garantir as condições

básicas para que a Escola Pública possa ser vista com qualidade,

destinando os recursos financeiros necessários à infra-estrutura, bem

como, promover a democratização no âmbito escolar, oportunizando a

autonomia da gestão escolar e investindo na formação dos profissionais.

Dessa forma, atingir-se-á a organização do trabalho pedagógico,

fundamentado em princípios democráticos e comprometidos com uma

escola que contemple as reais necessidades da sociedade.

Ciente das dificuldades na busca pelo êxito do aluno na

aprendizagem, acredita-se que somente com o envolvimento dos que

fazem parte do cotidiano da escola é que se chegará ao sucesso. Por

isso, compromissos e responsabilidades precisam ser assumidos

coletivamente, pois ninguém conseguirá mudar o quadro educacional

26

atual, se não se retomar a concepção de que cada um precisa fazer a

sua parte de forma integrada, para que o todo tenha sucesso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARROYO, Miguel. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis, RJ. Editora Vozes, 2000.

BUARQUE, Cristovam. Acesso e Sucesso. Disponível em: http://www.senado.gov.br/lidpdt/artigo.asp?data=01/06/2007&codigo=845. Acesso em25/06/2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, SP, Editora Paz e Terra, 1996.

GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre, RS. Ed. Artes Médicas, 2000.

GASPARIN, João Luiz. Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. 3ª edição revista. Campinas, SP, Editora Autores Associados, 2005.

http://ideb.inep.gov.br/Site/. Acesso em 28/11/2008.

http://portal.mec.gov.br/ideuf/layout/gerarTabelas.php?estado=PR. Acesso em 29/01/2008.

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização a Escola Pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1987.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Programa de Desenvolvimento Educacional. Documento-Síntese. Curitiba, 2007.

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 35ª edição, Campinas, SP, Editora Autores Associados, 2002.

27

28