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1 19. DESERDAÇÃO. O TESTAMENTEIRO Conceito. Causas. Requisitos. Efeitos 19.1. DESERDAÇÃO 19.1.1. Conceito Consiste a deserdação em ato pelo qual o testador exclui da sucessão herdeiro necessário mediante testamento, devendo fundamentar em uma das causas previstas em lei. Além da indignidade, existe outra forma de afastar o herdeiro necessário da sucessão, ocorrendo, neste caso, por conta da vontade do autor da herança. Todavia, não basta indicar os motivos da deserdação, fazendo-se necessária a comprovação judicial de que a causa invocada integra o rol previsto em lei (arts. 1961, 1962 e 1963). Como se sabe, herdeiro necessário é aquele que tem direito à legítima, também denominada de reserva, correspondente à metade do patrimônio do autor da herança. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge (art. 1845). Somente em situações excepcionais poderá o autor da herança excluir da sucessão herdeiro necessário, ocorrendo apenas nos casos expressamente previstos em lei. A deserdação pode atingir herdeiros e legatários (art. 1814). No que se refere aos colaterais, não se vê o testador obrigado a contemplá-los, bastando dispor de seu patrimônio sem inclui-los na disposição de última vontade (art.1850).

SUCESS+òES 2012 - 19 - DESERDA+ç+âO. O TESTAMENTEIRO

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Direito Civil VI

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19. DESERDAO. O TESTAMENTEIROConceito. Causas. Requisitos. Efeitos19.1. DESERDAO

19.1.1. Conceito

Consiste a deserdao em ato pelo qual o testador exclui da sucesso herdeiro necessrio mediante testamento, devendo fundamentar em uma das causas previstas em lei. Alm da indignidade, existe outra forma de afastar o herdeiro necessrio da sucesso, ocorrendo, neste caso, por conta da vontade do autor da herana. Todavia, no basta indicar os motivos da deserdao, fazendo-se necessria a comprovao judicial de que a causa invocada integra o rol previsto em lei (arts. 1961, 1962 e 1963).Como se sabe, herdeiro necessrio aquele que tem direito legtima, tambm denominada de reserva, correspondente metade do patrimnio do autor da herana. So herdeiros necessrios os descendentes, os ascendentes e o cnjuge (art. 1845). Somente em situaes excepcionais poder o autor da herana excluir da sucesso herdeiro necessrio, ocorrendo apenas nos casos expressamente previstos em lei. A deserdao pode atingir herdeiros e legatrios (art. 1814).

No que se refere aos colaterais, no se v o testador obrigado a contempl-los, bastando dispor de seu patrimnio sem inclui-los na disposio de ltima vontade (art.1850).

O instituto da deserdao tem origem remota, existindo no Cdigo de Hamurabi, no Direito Romano, e chegando aos dias atuais, apesar das crticas de alguns doutrinadores brasileiros (dentre os quais Clvis Bevilqua e Orozimbo Nonato), para os quais a deserdao reflete a dureza de costumes antigos. No entanto, esteve disciplinada no Cdigo Civil de 1916 e permaneceu no atual cdigo em vigor.

No direito brasileiro, o instituto da deserdao tomou por base a disciplina estatuda no direto portugus, onde foi considerado importante. 19.1.2. Causas de deserdao

O art. 1961 estabelece que os herdeiros necessrios podem ser privados de sua legtima, ou deserdados, em todos os casos em que podem ser excludos da sucesso. Significa que a deserdao poder ocorrer em todas as situaes referidas no art. 1814, situaes estas que podem ser resumidas em atentado contra a vida, a honra e a liberdade de testar do de cujus. O art. 1814 enumera as causas de excluso de herdeiros e legatrios:

a) Autoria, co-autoria ou participao em homicdio doloso ou tentativa deste, contra o autor da herana e seus parentes prximos (cnjuge ou companheiro, descendentes ou ascendentes).

b) Denunciao caluniosa do de cujus em juzo ou prtica de crime contra sua honra ou de seu cnjuge ou companheiro,

c) Criao de obstculo livre disposio de bens por parte do autor da herana por ato de ltima vontade, mediante violncia ou meios fraudulentos. A norma visa preservar a liberdade de testar do autor da herana.

Estas causas so as mesmas previstas para a excluso por indignidade.d) Alm destas causas previstas no art. 1814, o art. 1962 elenca outras situaes que possibilitam o ascendente deserdar seus descendentes:- ofensa fsica: mesmo que provocando leses de natureza leve, no sendo exigida condenao criminal. No se exige reiterao, bastando uma nica ofensa. No so suficientes ameaas ou intimidaes. Como excludente, aplica-se a legtima defesa.

- injria grave, dirigida ao testador. O inciso II do art 1814 dispe que a injria dirigida ao cnjuge ou companheiro do autor da herana pode ser causa de deserdao. A injria deve ser grave, consistindo em ofensa moral honra, dignidade, reputao.

- relaes ilcitas com a madrasta ou o padrasto: dizem respeito a comportamentos lascivos, intimidade, luxria.

- desamparo do ascendente em alienao mental ou grave enfermidade: abrange falta de assistncia material, moral ou espiritual. No caso de alienao mental do testador, s ser possvel a deserdao se ele recuperar o discernimento.

e) A legislao em vigor permite a deserdao de descendentes em relao a ascendentes. Segundo o art. 1963, alm das causas mencionadas no art. 1814 autorizam este tipo de deserdao causas semelhantes s disciplinadas no art. 1962 com relao ao ascendente poder deserdar o descendente:

- ofensa fsica

- injria grave

- relaes ilcitas com a mulher ou companheira do filho ou do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou do neto- desamparo do filho ou neto com deficincia mental ou grave enfermidade: na redao deste inciso, foi modificada a expresso alienao mental constante do art. 1962 para deficincia mental.

Para a doutrina, prevendo o Cdigo a deserdao para ascendentes e descendentes, ambos herdeiros necessrios, deveria o cnjuge, tambm herdeiro necessrio ser, igualmente, passvel de deserdao, porm isto no aconteceu. 19.1.3. Requisitos de eficcia

Segundo o art. 1964, a deserdao ordenada por testamento deve conter a declarao expressa da causa. Significa que a deserdao deve ser fundamentada e que a causa deve ser prevista em lei. As causas so aquelas taxativamente enumeradas nos artigos 1962 e 1963, no se admitindo nenhuma outra.

A excluso expressa no testamento deve ser provada. Deve ser proposta ao ordinria em cujo procedimento seja provada a veracidade da causa referida pelo testador, conforme dispe o art. 1965: Ao herdeiro institudo ou quele a quem aproveite a deserdao, incumbe provar a veracidade da causa alegada pelo testador.

A prova condio de eficcia da deserdao, e, caso no fique patente, a legtima do deserdado no fica prejudicada. O prazo para a propositura da ao de 4 anos, contados da abertura do testamento (pargrafo nico do art. 1965).

Na hiptese de o testador deserdar todos os seus herdeiros, por serem todos co-autores do fato que gerou a deserdao, e se o testador no distribuiu os bens em legados, a herana ser destinado ao Municpio, nos termos do art. 1844, cabendo a este promover a ao de deserdao.

19.1.4. Efeitos da deserdao

Segundo o art. 1816 a indignidade somente atinge o culpado pelo ato que a originou, acarretando a excluso do indigno como se morto fosse. Significa dizer que seus efeitos so pessoais, no atingindo terceiros. O Cdigo, no entanto, no faz referncia a este efeito no que se refere deserdao.

Considerando a semelhana entre indignidade e deserdao, admite-se que os efeitos so os mesmos, ou seja, pessoais, no podendo a pena extrapolar a pessoa que se comportou de maneira reprovvel. Por este motivo, a deserdao no se estende aos descendentes do excludo. Para esclarecer qualquer dvida, proposta a incluso de um novo pargafo ao art. 1965 com a seguinte redao: So pessoais os efeitos da desrdao: os descendentes do herdeiro deserdado sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucesso. Mas o deserdado no ter direito ao usufruto ou administrao dos bens que a seus sucessores couberem na herana, nem eventual sucesso desses bens.Se a ao de deserdao for julgada procedente, seus efeitos retroagem abertura da sucesso. Por este motivo, ao inventariante caberia a conservao dos bens para entreg-los aos beneficiados com a deserdao.

Na hiptese de ser nulo o testamento, tambm ser nula a deserdao. Se a deserdao for nula, o deserdado deixa de s-lo e mantm sua condio de herdeiro necessrio.

19.1.5. Semelhanas e diferena entre deserdao e indignidade

Segundo o art. 1961, Os herdeiros necessrios podem ser privados de sua legtima, ou deserdados, em todos os casos em que podes ser excludos da sucesso.

Tanto a deserdao como a indignidade tem por objetivo excluir o herdeiro que haja praticado atos ofensivos contra o autor da herana. O fundamento de ambos a vontade do de cujus, embora na indignidade a vontade seja presumida, enquanto na deserdao a vontade do testador expressa. Para a doutrina, a indignidade consiste na privao do direito, cominada por lei, presumindo-se que o autor da herana excluiria o herdeiro se tivesse feito declarao de ltima vontade.

Diferem, assim, os institutos pelo fato de decorrer a indignidade da lei, que a prev somente para os casos enumerados no art. 1814, enquanto que na deserdao o prprio autor da herana que exclui o herdeiro, consoante os casos previstos no art. 1814, ademais daqueles dispostos no art. 1962.

Por outro lado, a deserdao instituto pertinente sucesso testamentria, enquanto que a indignidade diz respeito sucesso legtima.

19.2. O TESTAMENTEIRO

a) Conceito - Pessoa encarregada de cumprir as disposies de ltima vontade do testador. aquele que vai executar o testamento.

Trata-se de encargo de confiana, sendo, por isso, personalssimo, intransfervel e indelegvel (art. 1985). Poder o testamenteiro, no entanto, fazer-se representar em juzo ou fora dele por procurador com poderes especiais.

Testamentaria o conjunto de funes atribudas ao testamenteiro, consoante seus direitos e obrigaes.

b) Espcies de testamenteiro- institudo - indicado pelo prprio testador, mediante testamento ou codicilo.

- testamenteiro dativo - No ocorrendo a nomeao, ou encontrando-se ausente o nomeado, ou, ainda, no aceitando este o encargo, caber ao juiz nomear testamenteiro (art.1127 do CPC), considerando a preferncia legal disciplinada no art. 1984 .

Na falta de testamenteiro nomeado pelo testador, a execuo do testamento ser deferida ao cnjuge e, na falta deste, ao herdeiro nomeado pelo juiz.

- universal - na hiptese de ter-lhe sido outorgada a posse e a administrao da herana ou parte dela (art. 1977).

Segundo o art. 1978, se o testamenteiro tiver a posse e a administrao dos bens, a ele cabe requerer o inventrio e cumprir o testamento.

- particular - se no dispuser destes direitos acima citados, por no terem sido a ele conferidos ou por hav-los perdido. Neste caso, dever exigir dos herdeiros os meios necessrios para o cumprimento das disposies testamentrias.

c) Nomeao - A nomeao do testamenteiro pelo testador feita no prprio testamento, podendo, tambm, ser expressa mediante codicilo (art. 1883). Qualquer pessoa natural idnea e capaz poder ser nomeada testamenteiro, excetuando-se aquelas que forem inimigas do testador e seus sucessores, ou que tenham dbito para com o ele, ou, ainda, aquelas que estejam litigando com os herdeiros. No se recomenda a testamentria para quem escreveu a rogo o testamento, embora no exista proibio legal. Por se tratar de indicao intuitu personae, no poder ser atribuda a pessoa jurdica.

Poder haver a nomeao de mais de um testamenteiro e, neste caso, as atribuies podero ser desempenhadas conjunta ou separadamente (art.1796)

d) Aceitao - A pessoa nomeada no obrigada a aceitar, podendo recusar a nomeao porque a funo de testamenteiro no consiste em encargo pblico

A aceitao da testamentaria deve constar de um termo assinado pelo juiz e pelo testamenteiro (art. 1127 do CPC).

Aps este registro, ser extrada cpia autntica do testamento para ser juntada aos autos do inventrio para cumprimento das disposies.

e) Renncia - Mesmo tendo iniciado as funes, o testamenteiro poder abdicar, ou renunciar, devendo comunicar ao juiz, justificando esta deciso.

f) Atribuies do testamenteiro - Segundo uma viso geral, cumpre ao testamenteiro executar as atribuies definidas pelo testador. No havendo esta definio, dever praticar os atos que a lei especifica como sendo atribuies do testamenteiro:

1) Apresentar o testamento em juzo para cumprimento das formalidades de abertura ou publicao, registro e ordem de cumprimento. Se o testamento no estiver em seu poder, dever requerer ao juiz que ordene a intimao de tal pessoa para trazer o testamento ao juzo (art. 1979).

2) Aps o registro, dever o testador iniciar a execuo das disposies, dispondo do prazo de 180 dias, ou seja, 6 meses, contados da aceitao da testamentaria. Este prazo poder ser maior, caso assim o determine o testador, ou havendo motivo suficiente para sua prorrogao, conforme dispe o art. 1983. Como motivo, pode ocorrer dificuldades no cumprimento de disposies complexas, ou em caso de litgio acerca da herana.

3) Defender a validade do testamento devendo batalhar pelo seu cumprimento (art. 1981).

4) Na hiptese de ter-lhe sido transmitida a posse e administrao dos bens, ou no havendo cnjuge sobrevivente, ao testamenteiro cabe exercer as funes de inventariante. Nesta eventualidade, dever cumprir os encargos da herana e pagar os legados. Se houver necessidade de vender algum bem para cumprir os encargos, dever requerer autorizao ao juiz.

5) Prestar contas da testamentaria (art. 1980). Todas as despesas devero ser feitas com base no acervo hereditrio, cabendo ao juiz apreci-las.

6) Defender a posse dos bens da herana, velando por sua conservao e aproveitamento (art. 1137,III do CPC)

No cumprimento de suas atribuies, o testamenteiro assume responsabilidade perante os herdeiros, por danos causados aos haveres que lhe foram entregues, por sua culpa ou prejuzos oriundos de omisso, quando se tratar de testamento universal.

Em relao aos legatrios, sua responsabilidade se vincula ao cumprimento dos legados, entregando os objetos aos beneficiados.

g) Remunerao do testamenteiro. A testamentria consiste em funo remunerada, mesmo que a as dvidas absorvam todo o acervo, devendo sair do monte e ser, assim, suportada pelos credores. O pagamento feito em dinheiro.

Os servios prestados pelo testamenteiro so remunerados de acordo com aquilo que for livremente fixado pelo testador, sendo esta remunerao denominada vintena.

Caso o testador no tenha determinado, ser fixada pelo juiz, em valores situados entre 1% a 5% sobre a herana lquida (depois de pagas todas as despesas). Dever ser levada em considerao a maior ou menor dificuldade observada na execuo do testamento (art. 1987).

Se o testamenteiro for herdeiro ou legatrio, poder preferir a vintena herana ou ao legado, no podendo, contudo cumular os dois recebimentos (arts. 1988 do Cdigo Civil e 1138, pargrafo 2, do CPC).

h) Remoo - O testamenteiro ser removido :

- caso faa despesas ilegais ou contrrias s disposies testamentrias

- ou quando deixar de cumprir as disposies testamentrias ou for negligente e o inventrio no se conclua no prazo previsto.

O valor da remunerao ser revertido herana (art. 1989).

A destituio ser decretada a requerimento dos interessados, ou ex officio, podendo, tambm, ser requerida pelo Ministrio Pblico.