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Artigo Original Waldir Périco (1) Abílio da Costa-Rosa (2) 1) Graduado em Psicologia pela UNESP – Campus de Assis Aprimoramento Profissional em Saúde Mental e Saúde Pública pela Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo, Mestre em Psicologia pela UNESP – Campus de Assis, Membro do “Laboratório Transdiciplinar de Intercessão-Pesquisa em Processos de Subjetivação e ‘Subjetividadessaúde’” (UNESP – Campus de Assis) e Psicólogo da Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Presidente Prudente (SP). 2) Professor Livre-Docente do departamento de Psicologia Clínica da UNESP – Campus de Assis, Psicanalista e Analista Institucional, Coordenador do “Laboratório Transdiciplinar de Intercessão- Pesquisa em Processos de Subjetivação e ‘Subjetividadessaúde’” (UNESP – Campus de Assis). Recebido em: 10/12/2012 Revisado em: 22/09/2014 Aceito em: 22/09/2014 SUJEITO, SUBJETIVIDADE E “CIÊNCIA” EM FREUD E LACAN: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS PRÉVIAS A UMA INTERCESSÃO-PESQUISA NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL COLETIVA 1 Subject, subjectivity and “science” in Freud and Lacan: some prior theoretical considerations to an Intercession-Research in the field of Collective Mental Health Sujeto, subjetividad y “ciéncia” en Freud y Lacan: algunas considerações teóricas prévias a una Intercessão-Búsqueda en el campo de la Salud Colectiva Sujet, Subjectivité et « science » chez Freud et Lacan : quelques considérations théoriques précédentes à une Intercession- Recherche dans le champ de la Santé Collective Resumo Tendo a psicanálise de Freud e Lacan como referência, buscamos tecer considerações teóricas prévias a uma Intercessão-Pesquisa no contexto da Saúde Mental Coletiva. Para tal, esboçamos as teorizações de sujeito e subjetividade, bem como a visão de “ciência” e de produção de saber que se faz possível a partir destes conceitos. A psicanálise elucida um sujeito além do eu, na medida em que a fala deflagra o furo no discurso. Sujeito este que, por não se esgotar em um significante, sempre emerge do movimento simbólico ao ser representado por um significante para outros significantes. É por ser produzido a partir da cascata de significantes, como enxame de sentido, estando esta em constante movimento, que enunciamos a hipótese do processamento subjetivo. Falamos de subjetividade ativa, que não cessa de produzir novos significantes: produção de sentidos novos a partir dos efeitos- sujeito. Com a psicanálise, vemos uma revolução paradigmática no campo epistemológico, que coloca em relevo a produção subjetiva sempre pela via do sujeito. Possibilita uma práxis que se coloca em condição de tratar o Real pelo Simbólico; tratamento sempre parcial, uma vez que o Simbólico não tem o último significante capaz de dizer por completo o Real do sujeito. De tal modo, é a partir da perspectiva da castração simbólica que se pode conceber o que podemos denominar um campo “científico” psicanalítico: uma “ciência” não-toda. No Dispositivo Intercessor, a produção do saber na práxis está inevitavelmente atrelada a um saber-se por parte do sujeito, capaz de operar equacionamentos nos impasses de subjetivação vivenciados. Quanto ao saber da pesquisa, esse é produzido a posteriori, e corresponde a uma reflexão de estatuto epistemológico sobre o processo de produção do saber na práxis clínica. Palavras-chave: sujeito; subjetividade; modos de subjetivação; paradigma científico; psicanálise. Abstract Taking psychoanalysis of Freud and Lacan as a reference, we seek to weave previous theoretical considerations of an Intercession-Research in the Collective Mental Health context. To this end, we outline the theories of subject and subjectivity, as well as the vision of “science” and knowledge production that is made possible from these concepts. Psychoanalysis elucidates a subject other than I (Ego/Moi), as the speech deflagrates the hole in the speech. A subject 1 Trabalho elaborado a partir das discussões “theóricas” realizadas no “Laboratório Transdisciplinar de Intercessão-Pesquisa em Processos de Subjetivação e ‘Subjetividadessaúde’” (UNESP-Assis). Abarca, também, parte das elaborações de uma pesquisa de Mestrado em Psicologia (Périco, 2014), orientada pelo prof. Dr. Abílio da Costa-Rosa e financiada pela “Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo” (FAPESP).

Sujeito, Subjetividade e “Ciência” em Freud e Lacan: Algumas Considerações Teóricas Prévias a uma Intercessão-Pesquisa no campo da Saúde Mental Coletiva

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Revista Subjetividades, Fortaleza, 14(3): 418-432, dezembro., 2014

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  • 418 Revista Subjetividades, Fortaleza, 14(3): 418-432, dezembro., 2014

    Waldir Prico e Ablio da Costa-Rosa

    Artigo Original

    Waldir Prico(1)Ablio da Costa-Rosa(2)

    1) Graduado em Psicologia pela UNESP Campus de Assis Aprimoramento Profissional em Sade Mental e Sade Pblica pela Secretaria de Estado da Sade do Estado de So Paulo, Mestre em Psicologia pela UNESP Campus de Assis, Membro do Laboratrio Transdiciplinar de Intercesso-Pesquisa em Processos de Subjetivao e Subjetividadessade (UNESP Campus de Assis) e Psiclogo da Secretaria de Sade da Prefeitura Municipal de Presidente Prudente (SP).

    2) Professor Livre-Docente do departamento de Psicologia Clnica da UNESP Campus de Assis, Psicanalista e Analista Institucional, Coordenador do Laboratrio Transdiciplinar de Intercesso-Pesquisa em Processos de Subjetivao e Subjetividadessade (UNESP Campus de Assis).

    Recebido em: 10/12/2012Revisado em: 22/09/2014

    Aceito em: 22/09/2014

    SUJEITO, SUBJETIVIDADE E CINCIA EM FREUD E LACAN: ALGUMAS CONSIDERAES TERICAS PRVIAS A UMA INTERCESSO-PESQUISA NO CAMPO DA SADE MENTAL COLETIVA1

    Subject, subjectivity and science in Freud and Lacan: some prior theoretical considerations to an Intercession-Research in the field of Collective Mental Health

    Sujeto, subjetividad y cincia en Freud y Lacan: algunas consideraes tericas prvias a una Intercesso-Bsqueda en el campo de la Salud Colectiva

    Sujet, Subjectivit et science chez Freud et Lacan : quelques considrations thoriques prcdentes une Intercession-Recherche dans le champ de la Sant Collective

    Resumo

    Tendo a psicanlise de Freud e Lacan como referncia, buscamos tecer consideraes tericas prvias a uma Intercesso-Pesquisa no contexto da Sade Mental Coletiva. Para tal, esboamos as teorizaes de sujeito e subjetividade, bem como a viso de cincia e de produo de saber que se faz possvel a partir destes conceitos. A psicanlise elucida um sujeito alm do eu, na medida em que a fala deflagra o furo no discurso. Sujeito este que, por no se esgotar em um significante, sempre emerge do movimento simblico ao ser representado por um significante para outros significantes. por ser produzido a partir da cascata de significantes, como enxame de sentido, estando esta em constante movimento, que enunciamos a hiptese do processamento subjetivo. Falamos de subjetividade ativa, que no cessa de produzir novos significantes: produo de sentidos novos a partir dos efeitos-sujeito. Com a psicanlise, vemos uma revoluo paradigmtica no campo epistemolgico, que coloca em relevo a produo subjetiva sempre pela via do sujeito. Possibilita uma prxis que se coloca em condio de tratar o Real pelo Simblico; tratamento sempre parcial, uma vez que o Simblico no tem o ltimo significante capaz de dizer por completo o Real do sujeito. De tal modo, a partir da perspectiva da castrao simblica que se pode conceber o que podemos denominar um campo cientfico psicanaltico: uma cincia no-toda. No Dispositivo Intercessor, a produo do saber na prxis est inevitavelmente atrelada a um saber-se por parte do sujeito, capaz de operar equacionamentos nos impasses de subjetivao vivenciados. Quanto ao saber da pesquisa, esse produzido a posteriori, e corresponde a uma reflexo de estatuto epistemolgico sobre o processo de produo do saber na prxis clnica.

    Palavras-chave: sujeito; subjetividade; modos de subjetivao; paradigma cientfico; psicanlise.

    Abstract

    Taking psychoanalysis of Freud and Lacan as a reference, we seek to weave previous theoretical considerations of an Intercession-Research in the Collective Mental Health context. To this end, we outline the theories of subject and subjectivity, as well as the vision of science and knowledge production that is made possible from these concepts. Psychoanalysis elucidates a subject other than I (Ego/Moi), as the speech deflagrates the hole in the speech. A subject

    1 Trabalho elaborado a partir das discusses thericas realizadas no Laboratrio Transdisciplinar de Intercesso-Pesquisa em Processos de Subjetivao e Subjetividadessade (UNESP-Assis). Abarca, tambm, parte das elaboraes de uma pesquisa de Mestrado em Psicologia (Prico, 2014), orientada pelo prof. Dr. Ablio da Costa-Rosa e financiada pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP).

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    Sujeito, Subjetividade e Cincia em Freud e Lacan: Algumas Consideraes Tericas Prvias a uma Intercesso-Pesquisa no campo da Sade Mental Coletiva

    that is not limited to a signifier, but it emerges from the symbolic movement to be represented by a signifier to other signifiers. It is because it is produced from the cascade of signifiers, like a swarm of meaning and it is in constant motion, the reasons enunciated the hypothesis of subjective processing. We speak of active subjectivity, which continues to produce new signifiers: production of new meanings from the subject-effects. With psychoanalysis we see a paradigmatic revolution in the epistemological field, while laying emphasis on the subjective production always via the subject. It enables a praxis which is placed in condition of treating the Real by the Symbolic; an only partial treatment since the Symbolic does not have the last signifier able to fully tell the Real of the subject. In this way, it is from the perspective of the symbolic castration that is conceivable what we may call a psychoanalytic scientific field: a not-whole science. In the Intercessor Device the production of knowledge on the praxis is inevitably tied to a subjects knowledge of himself, who is capable of operating equations in the impasses of the experienced subjectivity. Regarding to the knowledge of the research, it is produced a posteriori, and corresponds to a reflection on the epistemological status about the process of production of knowledge on the clinical praxis.

    Keywords: subject; subjectivity; modes of subjectification; scientific Paradigm; Psychoanalysis.

    Resumen

    Teniendo la psicanlisis de Freud y Lacan como referencia, intentamos tejer reflexiones tericas previas a una Intercesin-Investigacin en la Salud Mental Colectiva. Con eso, esbozamos las teorizaciones del sujeto y subjetividad, as como una visin de cincia y de produccin de saber que se hace posible a partir de estos conceptos. La psicanlisis elucida un sujeto ms all del yo, en la medida que el habla deflagra el agujero en el discurso. Un sujeto que no se agota en un significante, pero emergente del movimiento simblico. Es por ser producido desde la cascada de significantes, como enxmen de sentido, estando esta en constante movimiento, que enunciamos la hiptesis del procesamiento subjetivo. Hablamos de subjetividad activa, que no cesa de producir nuevos significantes: produccin de sentidos nuevos desde de los efectos-sujeto. Como revolucin paradigmtica epistemolgica, la psicanlisis produce subjetividad y teorizacin por la va del sujeto. Posibilita una praxis que se pone en condicin de tratar el Real por el Simblico; tratamiento siempre parcial, una vez que el Simblico no tiene el ltimo significante capaz de decir por completo el Real del sujeto. De tal modo, desde la perspectiva de la castracin simblica que se puede concebir lo que podemos denominar un campo cientfico psicanaltico: una cincia no-toda. En el Dispositivo Intercesor la producin del saber en la prxis est inevitablemente atraillada a un saberse por parte del sujeto, capaz de operar ecuacionamentos en los impedimentos de subjetivacin vivenciados. Con respetcto al saber de la bsqueda, ese es producido a posteriori, y corresponde a una reflexin de estatuto epistemolgico sobre el proceso de producin del saber en la prxis clnica.

    Palavras-claves: Sujeto; Subjetividad; Modos de subjetivacin; Paradigma Cientfico; Psicanlisis.

    Rsum

    Ayant la psychanalyse de Freud et Lacan comme rfrence, on cherche produire des considrations thoriques prcdentes une Intercession-Recherche de la Sant Mentale Collective. Ainsi, on bauche les thorisations du sujet et de la subjectivit, aussi que la vision de science et de production du savoir qui se rend possible partir ces concepts. La psychanalyse lucide un sujet au-del du je, dans la mesure o la parole incite le trou dans le discours. Un sujet qui ne spuise pas en un signifiant, mais mergent du mouvement symbolique. Cest pour tre produit partir la cascade de signifiants, comme essaim de sens, tant en constant mouvement, que lon nonce lhypothse du processus subjective. On parle de la subjectivit active, que ne cesse pas de produire nouveaux signifiants: production de sens nouveaux partir les effets-sujets. Comme rvolution paradigmatique, la psychanalyse produit travers le sujet. Cela rendre possible une prxis que se met en condition de traiter le Rel par le Symbolique ; traitement toujours partial, parce que le Symbolique na pas le dernier signifiant capable de dire par complet le Rel du sujet. De tel faon, cest partir la perspective de laction de chtrer symbolique que lon peut concevoir ce que lon appelle un champ scientifique psychanalytique : une science pas entire. Dans le Dispositif Intercesseur la production du savoir dans la prxis est invitablement lie un se savoir du sujet, capable de oprer quation dans les impasses de subjectivisme vcus. Quant au savoir de la recherche, il est produit a posteriori, et correspond une rflexion de statut pistmologique propos du processus de production du savoir dans la prxis clinique.

    Mots-cls: sujet; subjectivit; moyens de rendre subjectif; paradigme scientifique; psychanalyse.

    Com Freud faz irrupo uma nova perspectiva que revoluciona o estudo da subjetividade e que mostra justamente que o sujeito no se confunde com o indivduo (Lacan, 1954-55/1985, p. 16).

    Em se tratando do Homem s h produtores de conhecimento, portanto, no pode haver conhecimento do outro como objeto que no seja colonizao aviltante (Costa-Rosa, 2013, p. 123).

    Introduo

    Se existe uma contribuio da psicanlise para a clnica da Sade Mental Coletiva (SMC), como previa o prprio Freud (1919/1996c), esta j vem se configurando, mesmo que timidamente, nas ltimas quatro dcadas no contexto das propostas substitutivas ao que se convencionou chamar de Paradigma Psiquitrico Hospitalocntrico Medicalizador (PPHM). a partir da psicanlise de Freud, revigorada e potencializada pela tica de Lacan, que podemos vislumbrar uma clnica que tem em seu horizonte a produo de subjetividade singularizada e, consequentemente, os

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    Waldir Prico e Ablio da Costa-Rosa

    efetivos equacionamentos dos sintomas e demais impasses psquicos que se apresentam nas instituies de tratamento. Partimos da perspectiva de que a psicanlise, a despeito de no ser o nico, apresenta-se como o principal referencial terico-tcnico e tico-poltico para uma clnica dos processos de subjetivao na SMC.

    Seguindo a proposta de Costa-Rosa (2008a; 2012b; 2013), utilizamos a concepo de intercessor encarnado para fazer referncia ao trabalhador necessrio ao horizonte tico-singularizante do Paradigma Psicossocial (PPS), paradigma que desponta dialtica e rigorosamente alternativo ao seu antpoda: o PPHM2. Lanamos mo do conceito de intercesso, pinado da filosofia de Deleuze (1992), e o relemos principalmente mas no somente a partir da psicanlise, com a inteno de maximizarmos sua potncia em termos de Disposto de produo de subjetividade singularizada junto aos sujeitos do sofrimento e aos coletivos de trabalho institucional. Partindo dessa perspectiva, definimos as intercesses como sendo aes operadas por um trabalhador, qualquer que seja sua categoria profissional, posicionado a partir da tica psicossocial, definida por Costa-Rosa (2013) com base nas ticas psicanaltica e marxista: perspectiva que tem no horizonte a singular[iz]ao do sujeito, considerando, para tal, a produo de sujeito e de subjetividade enquanto processamento subjetivo, passando, necessariamente, pela implicao subjetiva (Lacan, 1959-60/2008a) e sociocultural (Costa-Rosa, 2000, 2012b, 2013). Esse trabalhador de um novo tipo, cujos referencias terico-tcnicos superaram a relao sujeito-objeto, Costa-Rosa (2013) convencionou chamar de trabalhador-intercessor. Trabalhador que, ao encanar posies intercessoras de objeto a, faz descaridade (Lacan, 2003b, p. 518).

    O Dispositivo Intercessor, como Intercesso-Pesquisa, definido em dois momentos especficos: a Intercesso (Dispositivo Intercessor como Modo de Produo de subjetividade singularizada DImpss), que visa produo de subjetividade singular protagonizada pelo indivduo e

    2 Importante frisar que a partir da proposta de anlise paradigmtica de Costa-Rosa (1987, 2000, 2013) redefinimos a Ateno Psicossocial como conjunto de aes de um novo paradigma, o PPS, cuja insurgncia ainda est em curso; vislumbrado, portanto, como um passo alm do conjunto de aes operado pela Reforma Psiquitrica brasileira (RPb). Esta, apesar das importantssimas mudanas que operou at o presente momento histrico, apresenta-se como um conjunto de prticas ainda intermedirias entre o PPHM e o PPS. Nossa hiptese base, igualmente de outros importantes autores (Bezerra, 2013; Figueiredo, 1997; Alberti e Figueiredo, 2006; Rinaldi, 2005; Rinaldi e Bursztyn, 2011; Quinet, 2006; Vigan, 1999), de que, apesar de operar certa ampliao da clnica no sentido da diversificao dos dispositivos clnicos, RPb faltaria ainda uma ampliao da clnica stricto sensu, a partir da ampliao da concepo de sujeito. No entanto, para-alm do que esses autores visualizam sendo por isso mesmo que no diferenciam a RPb da Ateno Psicossocial , Costa-Rosa quem nos d, com sua proposta de anlise, a bssola que nos indica o sentido de tal ampliao rumo a um novo paradigma de produo (Prico; Costa-Rosa, 2013).

    pelo sujeito3; e a Pesquisa (Dispositivo Intercessor como Modo de Produo do conhecimento DImpc) que visa, a posteriori, produzir o saber sobre o processo de produo do saber na prxis. A Intercesso, como DImpss, possvel e necessria em dois planos: no campo da [ampliao da] psicanlise em intenso junto aos sujeitos do tratamento psquico; e no plano da psicanlise em extenso nos coletivos de trabalho das instituies (trabalho em equipe). Estes dois momentos bastante delimitados do Dispositivo so inspirados no horizonte tico da psicanlise que visa o drible dos discursos da dominao (Discurso do Mestre, Discurso da Universidade e Discurso do Capitalista4) nos quais se baseia a Cincia, para possibilitar a colocao do sujeito no seu devido lugar de trabalho e protagonismo no processo de produo de subjetividade e saber. Desta Forma, ento indispensvel que o analista[-intercessor] seja ao menos dois. O analista para ter efeitos [DImpss] e o analista que esses efeitos teoriza [DImpc] (Lacan, 1974-75/Lio de 10/12/1974).

    A intercesso ganha importncia maior ao tomarmos os fenmenos que se nos apresentam como processos de subjetivao, ou seja, como subjetividade em movimento significante (Costa-Rosa, 2012a). Dado o fato de que os possveis impasses que esses processos podem apresentar noticiam certa parada na produo de sentido novo, a intercesso tem como intenso tica a retomada, ou maximizao, da movimentao significante, necessria s demandas de processamento subjetivo advindas das injunes (impasses subjetivos) do Real (pulso) e da realidade subjetiva (scio-imaginria-simblica); o que nos leva, necessariamente, para alm dos princpios doena-cura (psicopatologia) e normal-anormal filhos gmeos do princpio cartesiano sujeito-objeto , bem como da tica da adaptao social, caros ao PPHM.

    As possibilidades de intercesses nos impasses de subjetivao e nos coletivos de trabalho pressupem um trabalhador precavido principalmente, mas no exclusivamente j que se trata de um trabalho em

    3 Falar em protagonismo do sujeito, na perspectiva da psicanlise, demanda esclarecimentos tericos. Como veremos ao longo deste artigo, o sujeito do inconsciente no entificvel, dado que aparece j se apagando. Trata-se do sujeito definido como efeito do significante (Lacan, 1964/2008b, p. 203). O protagonismo do sujeito expressa o fato de que o sujeito enquanto isso que pulsa entre dois significantes [S1-S2] e coloca o sentido em movimento na produo de sentido novo: S1(S1(S1(S1S2))) (Lacan, 1972-73/2008c, p. 154) que ocupa o lugar do trabalho no dispositivo analtico. Por outro lado, cabe ainda considerar que esses processos so encarnados num ente, ou seja, no indivduo que afetado pelo inconsciente (Lacan, 1972-73/2008c, p. 152). Assim, ao falarmos do protagonismo do sujeito fazemos uma meno tese freudiana fundamental do indivduo mais o inconsciente.4 Aqui fazemos referncia teoria dos Discursos como laos sociais de produo introduzidos por Lacan no Seminrio livro 17: o avesso da psicanlise (Lacan, 1969-70/1992b).

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    Sujeito, Subjetividade e Cincia em Freud e Lacan: Algumas Consideraes Tericas Prvias a uma Intercesso-Pesquisa no campo da Sade Mental Coletiva

    instituies5 , pela psicanlise. A pertinncia tica da utilizao do Dispositivo Intercessor na SMC se d a partir da necessidade de se pensar a especificidade de tal clnica que, diferentemente do lcus tradicional da psicanlise, est inserida em instituies, fato que no sem implicaes importantes (Freud, 1919/1996d; 1933/1996f; Oury, 2009). nesses termos, alis, que nos permitimos falar de ampliao do campo da psicanlise em intenso (Costa-Rosa, 2012a; Elia, 2010).

    Nosso objetivo tecer consideraes tericas prvias a uma Intercesso-Pesquisa no contexto da SMC, sobretudo a partir da psicanlise como espinha dorsal desse novo Modo de Produo de subjetividade e pesquisa. Faz-se necessrio, portanto, passarmos pelas conceituaes de sujeito e subjetividade, como concebidos pela psicanlise do campo de Freud e Lacan, bem como pela viso de cincia e da especificidade da produo de saber que se faz possvel, e eticamente necessria, a partir desta perspectiva. Ao fim deste percurso, temos a inteno de apresentar nossa hiptese de trabalho segundo a qual a psicanlise, como clnica e como pesquisa, provm necessariamente das concepes de sujeito e de subjetividade. Do mesmo modo, pretendemos versar sobre como a psicanlise se posiciona quanto s possibilidades de produo do saber, ou seja: o qu, o quanto e como possvel saber; considerando, obviamente, a especificidade do saber do qual se trata na Intercesso (DImpss) e do saber therico que se produz na Pesquisa a posteriori (DImpc).

    O sujeito desvendado

    Eu apenas um dos espasmos instantneos do mundo (Lispector, 2009, p. 178).

    Uma concepo de sujeito to sui generis como a que prope a psicanlise s foi possvel aps o advento da Cincia Moderna, preconizada pelo racionalismo cartesiano no sc. XVII (Lacan, 1966/1998a). Para que o sujeito pudesse ser chamado de volta sua casa no inconsciente, foi imprescindvel a concepo de outro sujeito, suposta-5 Segundo Costa-Rosa (2000, 2008a, 2013), para lidar com as dinmicas institucionais, um trabalhador-intercessor dever estar instrumentado por outros campos bsicos de saber: o Materialismo Histrico, a Anlise Institucional francesa e a Filosofia da Diferena. Essa necessidade, inclusive, j indicada por Freud (1933/1996f, p. 144) quanto ampliao da psicanlise em outros contextos. Do Materialismo Histrico, por exemplo, vemos ressoar essa necessidade recomendada por Freud, j que [...] a alienao no se revela apenas no resultado, mas tambm no processo da produo, no interior da prpria atividade produtiva (Marx, 1844/1993, p. 161, grifo do autor). Desta forma, um trabalhador-intercessor, necessariamente, nunca poder ser um trabalhador alienado quanto s especificidades do Modo de Produo da Ateno da qual faz parte, bem como da natureza dos efeitos tico-polticos produtivos desse Modo.

    mente consciente da certeza de si mesmo e da realidade. H uma relao necessria entre o sujeito tal qual enunciou Descartes e o sujeito que Freud veio desvendar, no incio do sculo XX (Lacan, 1964/2008b). Entretanto, trata-se de uma relao de superao dialtica. Se a psicanlise pode ser considerada um dos efeitos reativos da Cincia, no sendo, portanto, integrante do seu campo epistemolgico, por propor uma subverso de tal campo pelo vis de uma concepo radicalmente nova de sujeito.

    Em Viena, antes de Freud, buscava-se investigar nas histricas o sujeito cartesiano. Nada encontravam, pois o importante se passava em Outra cena. Foi assim que Freud decidiu dar voz ao que se apresentava para alm da razo. este ato de Freud que abre possibilidade para o advento do sujeito do inconsciente, at ento amordaado, rejeitado por um discurso que eleva a razo e despreza tudo o que no se oferece como claro, lmpido6. Freud subverte o sujeito cartesiano (Soler, 1997), pondo-o de cabea para baixo e, tomando-o pelo avesso, traz tona a dimenso subjetiva do dizer para alm do dito. Assim, para o sujeito recusado pelo racionalismo cientfico que Freud vai se voltar. O Cogito, a partir da psicanlise, no mais o lugar da verdade do sujeito; seno seu desconhecimento, imagem [re]velada de si mesmo. Apesar de Freud no ter feito referncia direta a uma concepo de sujeito (Fink, 1998), esta pode ser possvel por ser suposta nas entrelinhas do texto freudiano; questo da qual muito se ocupou Jacques Lacan ao longo de seus Seminrios e Escritos.

    O processo de anlise: da alienao imaginria separao simblica

    Ali onde era o reino do sono, eu [je] devo advir, devir (Lacan, 1967-68/2006, p. 93).

    De incio, vejamos o que nos diz o poeta: de dia as coisas ficam em suspenso [...]. De noite a sua casa no sua. E range como um navio [...]. Voc uma casa que mal conhece, voc tem quartos em que nunca entrou (Verssimo, 1984, p. 93). O sujeito desvendado por Freud o que deflagra a terceira grande ferida narcsica na onipotncia humana, depois de Coprnico e Darwin: o eu no mais mestre absoluto em sua prpria casa (Freud, 1917/1996e). Ferida ainda responsvel pelas implacveis resistncias psicanlise, principalmente no perodo histrico contemporneo caracterizado por uma profunda

    6 Descartes (1637/1996) prope jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu no conhecesse evidentemente como tal [...] que no se apresentasse to clara e to distintamente a meu esprito, que eu no tivesse nenhuma ocasio de p-lo em dvida (p. 78).

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    Waldir Prico e Ablio da Costa-Rosa

    ojeriza dor. Freud enuncia que, paralelamente ao discurso do eu, num Outro discurso, um sujeito (que j gritava tanto nas fogueiras da inquisio quanto em Salptrire) pede vez e voz. Isso o fez perceber que h um discurso alm do discurso, na medida em que os tropeos da fala enunciada deflagram intenes inconscientes que descentram o eu. Disso, alis, decorre o princpio psicanaltico fundamental: o analisando diz sempre mais do que pensa saber. O saber inconsciente, estruturado como uma linguagem, possui gramtica prpria, diferente da consciente, merc do processo de funcionamento primrio caracterizado pelos mecanismos de condensao (metfora) e deslocamento (metonmia). Desses mecanismos derivam as formaes de compromisso, entre o desejo e a censura, para enganar o eu consciente e realizar satisfaes substitutivas. Processo no qual o eu do sujeito se acomoda ao preo de se alienar para no responder diretamente diante de um conflito psquico, no responder que Freud (1925/1996c) chamou de covardia moral (fuga para a neurose) e Lacan (1959-60/2008a) formulou como um ceder do desejo singular. Respostas subjetivas a partir das quais o indivduo acaba por mais repetir (mais-gozar) que diferir (desejo): dimenso da alienao linguagem, que tende ao sentido tautolgico, posto que enquanto o eu pensa que utiliza os significantes para dizer de si so os significantes que falam por ele, onde o sujeito refm do poder de repetio do significante (Quinet, 2008). por isso que ao recalcar sua dimenso de sujeito do [desejo] inconsciente, o eu no dono da casa que habita: ali onde alienado aos significantes joguete do desejo do Outro. E se os sintomas-que-fazem-sofrer so efeitos do recalcamento de impasses subjetivos angustiosos, trata-se ento de maximizar, pela regra da livre associao, as possibilidades de sua apario e elaborao desses impasses. Mas como isso se processa em um tratamento analtico?

    O surgimento de um saber inconsciente (S1) na fala do sujeito em transferncia com um analista que sustenta uma posio vazia de Saber-Poder o que traz um sentido novo cuja caracterstica a de no ser fixo, ao remeter, por livre associao, a outros significantes (S2). Em outros termos, quer dizer que o analista, abstendo-se de saber pelo outro, possibilita com que o sujeito produza o prprio saber, ao deslizar na sua cadeia significante para entrar em trabalho de decifrao dos sintomas. Desta forma, as aparies de saber inconsciente na fala do sujeito em anlise, situaes em que isso fala dele (e nele), sero potenciais aberturas subjetivas para o sentido novo extrator do gozo angustioso. Portanto, se o sintoma concebido como o que porta um saber ainda no sabido, o sujeito do inconsciente, que pulsa forando entrada, , pois, essa ocorrncia perturbadora no domnio da conscincia do eu que revela o inconsciente como diferir[-se], fazendo com isso deslocamento de

    sentido. Por isso, quanto mais nos afirmamos como eu mais nos alienamos.

    O sujeito pode apresentar-se nos processos de subjetivao de duas formas: como sujeito fixado (alienao imaginria), refm do poder repetitivo dos significantes da demanda do Outro, ou como sujeito singularizado (separao simblica), como o que assume o seu prprio desejo singular para alm dessas fixaes. Na primeira forma, o desejo o desejo do Outro, na segunda o desejo desejo de Outra coisa, desejo como diferir constante, j que em tal perspectiva os significantes capazes de representar os objetos do desejo esto, metonimicamente, sempre se deslocando. Linguagem pressupe desejo e vice-versa (Fink, 1998, p. 73). Se todo sujeito inserido na linguagem impulsionado por desejo, resta saber se este est mais preso ao imaginrio [da demanda do Outro] ou mais livre por sua relao com o Simblico.

    O desejo , inicialmente, fixado pelo desejo do Outro: dos outros (me, pai, irmos, avs, entre outros) elevados condio de Outro. Outro com letra maiscula, pois esses desejos so expressos, transmitidos e cravados por significantes. Portanto, se ele pela linguagem tornado sujeito, ao custo de ser encoberto na inicial e inevitvel alienao aos significantes da demanda do Outro (como primeiro tempo da causao do sujeito).

    Somos alienados na medida em que somos falados por uma linguagem que funciona, de certa forma, como [...] um dispositivo de gravao/montagem com vida prpria; na medida em que nossas necessidades e prazeres so organizados e canalizados [...] pelas demandas de nossos pais (o Outro como demanda); e na medida em que nosso desejo surge como o desejo do Outro (Fink, 1998, p. 9).

    Nessa verso do sujeito, temos o sujeito como fixado, como sintoma, como um modo repetitivo e sintomtico de desfrutar o gozo (Fink, 1998, p. 11, grifo nosso).

    Por outro lado, suponhamos um sujeito que, por no suportar mais viver na alienao imaginria do desejo fixado, a partir da ecloso de uma angstia, chega a fazer uma demanda de tratamento e encontra um trabalhador-intercessor. Esse sujeito ter a possibilidade de advir em sua singularidade ao ser dada a ele uma oferta transferencial que possibilitar com que chegue a fazer uma demanda de anlise propriamente dita, que se d quando, para alm da demanda de alvio imediato, entrega-se ao deslize da associao livre. Esta maximiza as possibilidades de apario do saber inconsciente. Se, do lado do analista, o tratamento deve ser conduzido na abstinncia (Freud, 1915/1996b, p. 182) porque somente no respondendo demanda de alvio do sujeito que ele poder, aos poucos, articular em sua fala os significantes primordiais da sua

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    Sujeito, Subjetividade e Cincia em Freud e Lacan: Algumas Consideraes Tericas Prvias a uma Intercesso-Pesquisa no campo da Sade Mental Coletiva

    histria, nos quais o seu desejo havia se fixado demanda do Outro. Na situao analtica, impulsionado por uma causa pulsional (a) em relao a qual o analista faz semblante , o efeito-sujeito o que aparece na fala do analisante como lampejo no vazio entre-significantes (S1 S2): o significante-mestre (S1) como enxame de significantes, estes que representam o sujeito para outros significantes (S2), o que coloca o sentido em movimento, a partir do nonsense que a abertura para o sentido novo. Somente dessa forma conseguir, reposicionando-se em relao ao enigma do desejo do Outro que o determina, ir alm da verso de sujeito fixado. Essa des-fixao advm porque, na perspectiva da separao simblica evidenciada no tratamento, a tendncia imaginria de totalizao do sentido colocada em xeque, operando um relativo divrcio entre o significante e o significado:

    Tomemos um significante e fixemos seu significado com um significante. Se, em seguida, formos definir este ltimo, vamos encontrar outro significante, e assim por diante. O inconsciente constitudo dessa forma: pelo desfilamento dos significantes, que deslizam sem cessar no se detendo em significados (Quinet, 2008, p. 30).

    Na dimenso do desejo singular, no h uma nica significao que se sustente seno remetendo sempre a outra significao (Lacan, 1998b, p. 628), pois [...] a significncia algo que se abre em leque (Lacan, 1972-73/2008c, p. 25). O engano do indivduo supostamente mestre de si, que conduz ao pior da alienao, ele acreditar que aquilo, e somente aquilo, que em um determinado momento lhe d um sentido, uma identidade. A tendncia do eu, do indivduo, querer parar a significao. Por outro lado, um sujeito singular aquele que assume a responsabilidade pelo seu diferir inconsciente. O efeito-sujeito, na fala do indivduo, que no se esgota em um significante (representando-o pontual e evanescentemente), o que movimenta a cadeia significante. O sujeito no outra coisa [...] seno o que desliza numa cadeia de significantes (Lacan, 1972-73/2008c, p. 55). Deslize, tanto no sentido da escorregadela, do equvoco, quanto no sentido de mutao. O efeito singularizante do inconsciente se processa no fato de que deslizamos nas palavras. No nos relacionamos diretamente com as coisas, mas sim com significantes incumbidos de represent-las, todavia, no cabalmente. Nossa experincia como falantes nos mostra constantemente que to logo tomamos a palavra comeamos a perder a essncia daquilo que pretendamos dizer nisso mesmo consistindo a potncia do simblico porque o desejo, no se detendo em objetos, nos proporciona o sentido em movimento. A representao deve ser entendida como uma construo que d ao mundo, e ao prprio sujeito, um sentido sempre

    novo, colorindo-os com significaes diversas, sem que nenhuma possa ser apontada como ltima e verdadeira. E, no processo de aceder ao significante, algo fica estrutural e incessantemente fora da significao. No entanto, isso que fica fora passa a ser objeto sempre-l, causando o movimento do sujeito. De tal modo, como referiu Lacan, a riqueza do significante est no fato dele morder (simbolizar, metaforizar) o Real angustioso. Alis, a linguagem come o real (Lacan, 1975-76/2007, p. 31). Essa tentativa incessante impossvel [em sua totalidade], mas no impotente [em parte] o que caracteriza a plasticidade simblica necessria aos equacionamentos singularizantes dos tambm incessantes impasses de subjetivao que sempre se colocam para um indivduo: dimenso do desejo singular, ou seja, da perspectiva de deslizamento perptuo de sentido que todo discurso que almeja abordar a realidade [de forma singular] obrigado a se manter (Lacan, 1957-58/1999, p. 83, grifo nosso).

    O sujeito na alienao e na separao: Lacan alm de Freud

    Ao crescer o indivduo liberta-se [separa-se] dos pais [...]. Existe, porm, uma classe de neurticos cuja condio determinada visivelmente por terem falhado nessa tarefa (Freud, 1909/1996a, p. 219).

    No Seminrio 11, Lacan enuncia os processos referentes ao advento do sujeito: a alienao e a separao como as duas operaes fundamentais em que convm formular a causao do sujeito (Lacan, 1998d, p. 854). No incio do processo de constituio primria, o infans7, como condio para sua entrada no Simblico e no lao social, abdica da condio de Ser todo-gozoso diludo no mortfero Desejo da Me-incondicional. O prprio corpo, primeiramente vislumbrado como imagem, inscrito no significante, posto que o banho na linguagem cifra o corpo puramente pulsional, fazendo-o advir tambm como corpo no Imaginrio e no Simblico. Tal possibilidade depende de uma conjuntura favorvel, relativa ao posicionamento do Outro da maternagem na relao com o seu desejo. Momento fundamental, mais lgico que cronolgico, onde ou se nega a entrada na subjetividade enquanto ser de/na linguagem em que o autismo a possibilidade mais aproximada , ou se escolhe a alienao ao significante. No entanto, ponham esse escolher entre aspas, porque o sujeito to passivo quanto ativo nisso, pela simples razo de que [ao menos inicialmente] no ele quem manipula as cordinhas do simblico (Lacan, 1957-58/1999, p. 192, grifo do autor). Lacan versa sobre um momento crucial

    7 Do latim: aquele que no fala.

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    onde est em jogo uma escolha forada: ou nada [de sentido] ou uma parte [de sentido]. A escolha forada, j que a alienao o destino daquele que fala (Soler, 1997, p. 62). No entanto, perde-se para poder ganhar. Para a escolha forada, Lacan (1964/2008b, p. 207) prope o dilema da bolsa ou a vida, explicitando metaforicamente a condio inevitvel quele que se constitui como sujeito no Simblico: diante do ladro, que promete matar caso no entregue a bolsa com o dinheiro, o sujeito s pode ser forado a escolher pela vida em sua falta-a-ser. A entrada no Simblico, referida como separao (ser para ao), possibilita o desejo, por barrar o gozo do Outro.

    H sempre uma entropia inerente produo (perda estrutural do objeto primrio de gozo) e ao funcionamento da mquina humana de subjetivar. No funcionamento da mquina, ou seja, nos processos de subjetivao ao longo da vida, a entropia, que Lacan chamou de mais-gozar, ser tanto maior em um sujeito quanto mais ele for fixado aos significantes do Outro. O imaginrio o que resiste simbolizao por fixar o sujeito ao objeto, deixando-o refm da estagnao demandante. Se a vida s possvel sem a bolsa, esta poder ou ser imaginria e repetitivamente demandada, ou simblica e incessantemente deslocada para o horizonte, condensada no objeto a.

    O sujeito estruturalmente constitudo por recalcamento (Verdrngung), na dimenso da alienao imaginria, confunde o desejo do Outro com sua demanda (Lacan, 1961-62/2003c, p. 365); indcio de que, apesar de ter estruturalmente se separado do Outro, separou-se de forma insuficiente. Eis o que o torna suscetvel a constantes impasses na subjetivao. Desta forma, o neurtico, em relao ao Outro, impulsionado por uma imaginria demanda-a-Ser, elege objetos concretos na realidade para sua fantasia, passando ao largo da metonmia desejante: neste caso, o objeto a est mais distante de ser semblante no horizonte. Essa linha do horizonte no formulada no neurtico, e por isso que ele neurtico (Lacan, 1957-58/1999, p. 510).

    Mesmo que o sujeito, em seu processo primrio de constituio, venha a se separar estruturalmente do Outro, mais comum que a separao se processe de forma insuficiente, preservando, com isso, contedos imaginrios importantes. Eis do que se trata na neurose. O sujeito ingressa no Simblico e no lao social, mas com recursos de subjetivao que tendem estaticidade tpica ao registro Imaginrio. o sujeito em sua normalidade que no plano tico-poltico apresenta-se como adaptao ao institudo social opressor (Althusser, 1984) , vivendo e agindo sem [se] questionar, posto que os sintomas inclusive custa de inibies diversas fazem sua funo de velamento da angstia (Freud, 1926/2006) que, nem por isso, deixa de eventualmente aparecer de forma paroxstica.

    Nossa hiptese, a partir da psicanlise, de que aqueles que demandam tratamento na Sade Coletiva so acometidos por impasses da subjetivao ocasionados pelo gozo angustioso que se desvela em funo da perda da funcionalidade adaptativa do sintoma. No entanto, no paradigma de Ateno hegemnico (PPHM), onde o indivduo impulsionado pela angstia, que a manifestao clnica-subjetiva do sujeito, estaria potencialmente pedindo uma escuta intercessora, a psiquiatria-DSM e as psicoterapias em geral, que esto no mesmo paradigma suturam, ao dar a ele tanto um suprimento qumico, quanto um suposto nome para isso que o faz sofrer. Desta forma, o sujeito agenciado pelo saber enciclopdico-pedaggico-cuidador que o toma como objeto de estudo-diagnstico-interveno (Costa-Rosa, 2013). O que est em questo aqui, auxiliado pela ao do frmaco, o processo de recapeamento do imaginrio do sujeito, fazendo-o retornar condio de alienao subjetiva e social, agora como colagem a um significante tautolgico oferecido pela nosologia psicolgica e psiquitrica: voc isso, e nada mais!.

    Na alienao, o sujeito petrificado pelo significante o que imagina ser mestre em sua prpria casa, e por esse motivo o oposto do sujeito em anlise. o ego forte e adaptado, que Lacan (1967-68/2006, p. 28) diz ser necessrio para ser um bom empregado. Trata-se da fixao aos significantes do desejo do Outro da linguagem que me antecede, sendo exatamente esse estranho, gozo do qual eu nada quero saber, o responsvel por uma determinao que me escapa: e quanto mais me escapa, mais me determina. Para Freud (1917/1996e), quanto ao processo de separao simblica, as formaes do inconsciente como efeitos-sujeito vm sempre nos mostrar que no somos mestres em nossa prpria casa; e, custa de sempre deflagrar no interior do eu essa fenda pulsante, so as rememoraes e elaboraes do recalcado da histria do indivduo, como processo de significao, as responsveis pelo cessamento do poder de repetio do significante. No entanto, [...] a rememorao da biografia, tudo isso s marcha at um certo limite, que se chama o real (Lacan, 1964/2008b, p. 55). O acrscimo de Lacan que no invalida a concepo freudiana, mas sim a maximiza est em considerar a significantizao (inscrio) de partes do gozo at ento impalatveis:

    Lacan ultrapassa dialeticamente a concepo freudiana do sujeito dividido entre a conscincia e inconsciente o inconsciente como outra cena (recalcado da histria individual) , e introduz a noo de sujeito como corte, como efeito de enunciao, interdito nos enunciados; trata-se do sujeito que aparece como um significante no Outro (campo do sentido simblico): lapso, esquecimento, sintoma, ou achado de sentido novo; tambm novo saber-

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    Sujeito, Subjetividade e Cincia em Freud e Lacan: Algumas Consideraes Tericas Prvias a uma Intercesso-Pesquisa no campo da Sade Mental Coletiva

    fazer com o sintoma. Essa noo de sujeito expressa a noo de inconsciente como processo de produo de sentido indito para o indivduo (Costa-Rosa, 2013, p. 243, grifo nosso).

    Nesse ponto, importante notar que qualquer sujeito constitudo de/na linguagem guardadas as devidas diferenciaes quanto s modalidades de estrutura subjetiva , est sujeito aos efeitos-sujeito (lapsos, atos falhos, sonhos, chistes e sintomas). No entanto, as possibilidades de efeitos produtivos singularizantes dependero do fato do sujeito, para alm de apenas sofrer [d]os efeitos-sujeito, poder acessar os efeitos dos efeitos-sujeito, ou seja, uma apreenso [...] por onde tem lugar o retorno do efeito (Lacan, 1967-68/s/d., p. 234, grifo nosso).

    Deste modo, se a alienao o destino, a separao eventual. Se pela alienao que o sujeito advm fixado em significantes, por meio do processo de separao que pode advir devir, tanto quanto possvel, independentemente das amarras do desejo do Outro; que pode advir no mais como sentido fixado (adaptao) apenas como potencialidade , mas sim desejante (singularizao). Trata-se de tudo que a linguagem traz em si, que se manifesta nos momentos de criao significativa, e que j nela est em estado no ativo, latente (Lacan, 1957-58/1999, p. 121, grifo nosso). Nessa perspectiva, o sujeito pode se safar, pode ser-devir para alm daquilo que estava determinado pelo Outro (Soler, 1997). Talvez possamos dizer que, na neurose, o sujeito paga um valor excedente (valor-a-mais) ao Outro como seu senhorio e a situamos o mais-gozar do seu sintoma , para poder habitar a linguagem como sua casa. Assim, se na alienao o sujeito forado a escolher a linguagem como sua casa [onde, dada sua alienao, ele inquilino], atravs da segunda operao a separao ele realiza uma interveno ativa, atacando a prpria rede de significantes para separar-se dela (Souza, 2008, p. 47, grifo do autor), para somente assim vir a tomar posse, tanto quanto possvel, da casa que habita.

    Em vias de finalizar esse tpico, no podemos deixar de exprimir o que Roudinesco (2000) descreveu como a derrota do sujeito no momento histrico contemporneo, em uma Formao Econmico-Social que tende a uma supresso da Lei Simblica, onde a nica lei a de mercado; lei fajuta, pois faz rejeio da mediao simblica, apresentando-se como imperativo ao gozo. A mo invisvel que regula o mercado [...] no tem regulao nenhuma possvel pois no h lei, s imperativo (Quinet, 2006, p. 40). Tomado como objeto portanto, sem intermediao simblica pelos significantes da sociedade de massas (que inclui o Saber de Mestre da psiquiatria organicista-DSM), escravo da demanda consumista, preso ao Outro do apelo comercial, o indivduo em sua dimenso singular (que inclui

    o sujeito) desaparece de cena como protagonista em sua produo subjetiva, bem como portador e produtor de uma historicidade. Predominncia do Discurso do Capitalista (Lacan, 1969-70/1992b), que, por no fazer enlaamento social, tm como efeitos os novos impasses subjetivos da atualidade: impasses do luto, pnicos, sintomas psicossomticos e, sobretudo, as compulses de vrios dos tipos, com destaque para o alcoolismo e as toxicomanias (Costa-Rosa, 2013; Melman, 1992). No auge da alienao social proporcionada pelo Modo Capitalista de Produo, o que mais-valia para o indivduo, sua posio de sujeito, lhe expropriada:

    So mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidncia [...], e fazem de mim homem-anncio itinerante, escravo da matria anunciada. Estou na moda. doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade [...]. Onde devo ter jogado fora meu gosto e minha capacidade de escolher, minhas idiossincrasias to pessoais [...]. Hoje sou costurado, sou tecido, sou gravado de forma universal, saio da estamparia, no de casa, da vitrine me tiram, recolocam, objeto pulsante, mas objeto que se oferece como signos de outros (Andrade, 2007, p. 1252-4, grifo nosso).

    Nenhum significante pode significar fixamente o sujeito e o seu objeto de desejo, uma vez que o significante, por no significar o significado, s lhe empresta uma roupagem temporria. O significante que empresta uma vestimenta para o sujeito, pelo fato de represent-lo para outro(s) significante(s), estaria submetido ao figurino ditado pela cadeia significante. Se o sistema simblico no como uma vestimenta que se colaria s coisas (Lacan, 1953-54/2009, p. 344, grifo nosso), a questo do sintoma neurtico seria relativa a uma limitao do acesso variedade desse figurino: aqui, o sujeito, somente apreensvel nas breves manifestaes inconscientes, aprisionado ao eu do ente, seria sufocado por certo estacionamento no significante. Ao trabalhador-intercessor caberia, portanto, possibilitar as condies de restabelecimento ou maximizao dessa movimentao.

    Por fim, um vislumbre mais aproximado sobre o sujeito do [desejo] inconsciente: sujeito que, originado de uma diviso constituinte (spaltung) entre saber (Conscincia) e verdade (Inconsciente), quando despido de demandas imaginrias de completude, movido pelo diferir singular (desejo). Sujeito que advm em sua separao simblica do Outro, cuja potencializao, operada por uma escuta analtica, possibilita ao indivduo a condio de produzir sempre novas significaes diante dos tambm sempre novos impasses da subjetivao. No que diz respeito questo da interpretao, a partir da tica da psicanlise,

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    Waldir Prico e Ablio da Costa-Rosa

    trata-se de um sujeito para o qual no podemos falar, o qual no podemos interpretar (hermeneuticamente), dado o fato de ser [e]feito de enunciao: d isso no se fala, pois isso fala! (Lacan, 1998a, p. 849). O sujeito evanescente, que transita na cadeia significante na fala do indivduo, como uma estrela cadente em final de queda, ao passo que, quando viramos os olhos para avist-lo, o que vemos somente o seu rastro, tambm a se apagar; todavia, no sem fazer efeitos de singularizao, j que [...] o que se chama de desejo, no ser humano, impensvel a no ser dentro dessa relao com o significante e os efeitos que ali se inscrevem (Lacan, 1961-62/2003c, p. 192, grifo nosso). Dos efeitos-sujeito, o que podemos ter como legado so seus efeitos de singularizao na subjetividade, em termos de produo de sentido novo e contnuo como significao e significantizao ante o gozo angustioso.

    A subjetividade como processo de subjetivao

    Tal corrente no aparelho [psquico], que parte do desprazer e visa o prazer, o que chamamos de desejo. Afirmamos que nada exceto um desejo capaz de colocar o aparelho em movimento (Freud, 1900/2012, p. 626, grifo nosso).

    Da concepo de sujeito, derivamos o que concebemos por subjetividade e seus processamentos. Se o eu o lugar das identificaes alienantes, o sujeito em sua singularidade pode advir pelo processo de subjetivao/separao. Se o sujeito representado por um significante para outro(s) significante(s), por se produzir na cadeia significante, e por esta ter a possibilidade do constante movimento, que enunciamos a hiptese do processamento subjetivo. no gerndio do tempo verbal que se conjuga a subjetivao singular. J dizia Heidegger (1969) que aquilo no que se sustenta o consistente, o ser do sendo (p. 88, grifo nosso). Se o processo de subjetivao algo que no cessa porque o sujeito tem um pezinho no Real, sendo este o que nunca cessa de no se inscrever (Lacan, 1972-73/2008c). Real pulsante, algumas vezes angustioso, motor das mudanas subjetivas. Lacan nos mostra que o significante no significa o sujeito: ele coloca o sentido em movimento capaz de extrair gozo angustioso. Lacan (1956-57/1995) refere que:

    [...] a constelao significante opera mediante o que podemos chamar de um sistema de transformaes, isto , um movimento giratrio que, se examinarmos mais de perto, cobre a cada instante o significado de uma maneira diferente e, ao mesmo tempo, parece exercer sobre este uma ao profundamente remanejadora (p. 310, grifo nosso).

    Para tal, preciso que haja deslizamento na cadeia significante, aonde estes vo constantemente se recombinar a fim de produzir sempre novos e contnuos efeitos de significao e significantizao. Resta-nos enunciar que o objeto a, enquanto objeto causa do desejo, o que faz movimentar o sujeito na incessante busca do sentido, sendo o desejo o lubrificante do deslize. Desejo que renova-se a cada encontro com o desejado. Se o gozo angustioso, na dimenso imaginria-tautolgica-demandante, a energia psquica estagnada, dissipada, nas engrenagens da mquina humana de subjetivar porque o real, justamente, [...], o que no para de se repetir para entravar essa marcha (Lacan, 1974/1986, p. 22, grifo nosso) , o sujeito do inconsciente, na metonmia desejante, aparece como movimentao da mquina.

    Para os efeitos do que propomos apresentar neste tpico, faz-se inevitvel retomarmos conceitos-chave da metapsicologia lacaniana. Para Lacan, os processos de subjetivao se dariam no entrelaamento borromeano do que chamou de Real, Imaginrio e Simblico, pois [...] sem esses trs sistemas de referncia no possvel compreender a tcnica e a experincia freudiana (Lacan, 1953-54/2009, p. 101). O Real no a realidade psquica, o que no tem remdio nem nunca ter, o que no tem um significante que sirva de socorro. O que aparece, portanto, como gozo, angstia no significantizada. O Real tambm o que foi estruturalmente subtrado, subjetivado, funcionando como pulsao (uma das vertentes do objeto a). O Imaginrio relativo s imagens vindas de um momento lgico-subjetivo que Lacan denominou estdio do espelho, auge do narcisismo humano na relao com o Outro da maternagem; tambm, em sua tendncia Lgica do Signo, o lugar do eu e suas alienaes, significaes cristalizadas. Por fim, o Simblico diz respeito a um sistema de representaes calcado na linguagem, campo do Outro regido pela Lgica do Significante, que estrutura o desejo e autoriza nossa ascenso ao campo propriamente humano. O Real, se fosse possvel de se experienciar integralmente, seria o sentido absolutamente esttico; o Imaginrio o que tende ao sentido esttico; e o Simblico caracterizado pelo sentido em movimento. Se o Real todo, o Imaginrio quer-ser-todo e o Simblico no-todo, segundo uma sutil metfora de Durval Checchinato (1979), o homem estar entre o real (impossvel) e o simblico [possvel]. O imaginrio o eixo da gangorra (p. 12).

    Lendo Freud, Lacan teoriza a existncia de trs modos de habitar a realidade imaginria-simblica; modalidades estruturais do processo de constituio subjetiva, a saber8: a) o 8 Neste ponto preciso mencionar que algumas particularidades da teorizao que se segue so inspiradas nos Seminrios do prof. Dr. Ablio da Costa-Rosa, proferidos nos cursos de graduao e ps-graduao em psicologia da UNESP-campus de Assis.

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    Sujeito, Subjetividade e Cincia em Freud e Lacan: Algumas Consideraes Tericas Prvias a uma Intercesso-Pesquisa no campo da Sade Mental Coletiva

    recalcamento (Verdrngung), b) a renegao (Verleugnung) e c) a foracluso (Verwerfung). Estes modos seriam dependentes do desencadear de um momento primordial no processo de constituio subjetiva primria, onde estaria em questo o nascimento do sujeito no campo Simblico, ou seja, a Separao Simblica que Lacan teoriza como o advento do significante da falta no Outro S (A/ ). De cada uma dessas modalidades estruturais de constituio subjetiva deriva um modo especfico de relao do sujeito com o significante e com o gozo. Os processos de subjetivao secundrios se dariam ao longo da vida, aps a constituio da mquina humana de subjetivar9 segundo um desses trs modos. O sujeito constitudo por Verdrngung ascenderia ao Simblico, acatando a Lei primordial da interdio do gozo por meio do que Lacan denominou Metfora Paterna (substituio dos significantes do narcisismo pelo significante Nome-do-Pai) ou processo de separao do Outro. Tal operao metafrica constituinte suprime a lei dos caprichos maternos para fazer advir a Lei Simblica, cujo efeito a relativizao do gozo que se chama desejo. O sujeito constitudo por Verleugnung tambm alcanaria o campo Simblico, mas com uma atitude de renegao da Lei, buscando gozar por meio do desafio e da transgresso desta. J o sujeito constitudo por Verwerfung entraria no mundo Simblico, sustentado por uma suplncia terceira de teor imaginrio-simbolizante, por conta da foracluso do significante Nome-do-Pai, significante S2 em torno do qual se organizaria o estatuto propriamente simblico de sua realidade psquica. Assim, as injunes da vida cotidiana podem fazer desmoronar (desencadeamento foraclusivo) a sua mquina de subjetivar, restando como possibilidade de defesa o terreno arenoso da experincia do Imaginrio sem o anteparo simblico da fantasia inconsciente fundamental (que ter que ser reconstruda); neste caso, o sujeito levado a uma demanda de reconstruo subjetiva, pela via do delrio (Freud, 1911/2010b, p. 94), diante da qual o trabalhador-intercessor no deve recuar. Neste ponto, importa destacar, reafirmando a hiptese de Costa-Rosa (2012a; 2013) sobre uma Clnica Crtica dos processos de subjetivao, que no se trata de atribuir ao modo de estruturao por Verwerfung nenhuma deficincia ou anormalidade quanto ao Simblico. No contexto das suas ltimas teorizaes, ao falar das perverses, Lacan (1975-76/2007) faz meno aos modos estruturais de subjetivao como pre-versions (verses do pai): modos diferentes de se posicionar frente ao significante da Castrao Simblica, dos quais derivam processos de subjetivao com seus impasses e possveis equacionamentos especficos, bem 9 O prprio Freud (1900/2012), quando estava a falar dos processos subjetivos onricos, refere-se a uma mecnica desses processos (p. 627), o que legitima nossa metfora do aparelho psquico como mquina humana de subjetivar. Da parte de Lacan (1954-55/1985), temos que a mquina a estrutura [...]. O mundo simblico o mundo da mquina (p. 66).

    como, desta forma, demandas tambm especficas de tratamento que ao trabalhador da Sade Mental Coletiva ser imprescindvel conhecer para melhor instrumentar posies intercessoras. Por fim, as manifestaes psquicas tpicas dessas trs estruturas subjetivas seriam, respectivamente, o sintoma, o fetiche e a alucinao (Quinet, 2006); manifestaes que podero se apresentar como impasses de subjetivao menores ou maiores.

    Na clnica do recalcamento, o trabalho subjetivo visaria uma separao adicional (Fink, 1998), vislumbrando, com os avanos terico-tcnicos de Lacan, um para-alm do sentido recalcado. Um tanto diferente a situao do tratamento de sujeitos originariamente constitudos por foracluso: aps o desmoronamento, coloca-se em questo a possibilidade de produzir algo de castrao/separao, capaz de aparelhar o gozo que tende totalidade; em outros termos, est em questo produzir um sujeito (Miller, 1996; Quinet, 2006) cerzido novamente pela construo de uma singular e criativa metfora delirante guardadas as devidas propores de tal possibilidade entre os diferentes tipos clnico-subjetivos desse modo de estruturao: esquizofrenia, paranoia e melancolia-mania. O que h em comum entre essas duas clnicas, a partir da tica da psicanlise, o fato de que contra a angstia Real no h remdio, s constante [re]mediao imaginria-simblica.

    O diagnstico psicanaltico realizado sob transferncia e enquanto funo de compreenso diagnstica para o posicionamento quanto direo do tratamento. No pode ser reduzido estritamente ao fenmeno nosogrfico (como fazem a psiquiatria-DSM, e a psicologia disciplinar que lhe correlata). Para a psicanlise, o diagnstico estrutural. Mesmo em Freud (1913/2010a), apesar de no haver ainda uma sistematizao da noo de estrutura subjetiva no obstante o fato disso j se esboar , encontramos o diagnstico diferencial entre as estruturas subjetivas como ferramenta imprescindvel quanto estratgia de direo do tratamento. Se h uma estruturao psquica constituinte, h que se considerar que uma coisa a estrutura ser irreversivelmente determinada, outra, ser a economia do seu funcionamento sujeita a variaes de regime (Dor, 1991, p. 25). Como sujeitos divididos, somos sempre efeito do significante. Como sugere Fink (1998, p. 10), temos que pensar onde termina a estrutura e comea algo que novo, devir, movimento absoluto do tornar-se como refere Marx (1857/1984, p. 81). Se Lacan, mais enfaticamente na primeira parte do seu ensino, fala em estrutura, que a relativa ao Outro da linguagem, por este ser-na-falta que aquela no-toda (fechada). Estrutura sempre aberta a possibilidades Outras de subjetivao. Modalidades da mquina humana de subjetivar. O que carregam de comum, mesmo que cada uma ao seu modo,

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    Waldir Prico e Ablio da Costa-Rosa

    a possibilidade do processo de subjetivao contnua.

    Palavras finais: uma cincia sem palavra final

    No, nossa cincia no uma iluso. Seria iluso, porm, acreditar que pudssemos conseguir em outra parte aquilo que ela no pode nos dar (Freud, 1927/2010c, p. 133).

    Com a psicanlise vemos uma revoluo paradigmtica no campo epistemolgico. Diferentemente da Cincia inaugurada por Descartes que segundo a leitura freudiana alentava a mesma pretenso atribuda aos deuses da religio a psicanlise enuncia a possibilidade de-ser uma cincia no to onisciente: nosso deus logos talvez no seja muito onipotente e cumpra apenas uma pequena parte do que seus antecessores prometeram (Freud, 1927/2010c, p. 130). Uma cincia que, despida de ideais flico-narcsicos pode, sempre a posteriori, produzir saber sobre a realidade se, primeiramente, faz intercesso, como coadjuvante (porm fundamental) em uma produo subjetiva sempre pela via do sujeito. NO futuro de uma iluso, Freud (1927/2010c) contrariado por seu opositor fictcio que afirma que o homem no se encontra na posio de dispensar a religio como consolo ante o fardo que lhe corresponde. Ao que responde Freud (1927/2010c): seria mais interessante ao homem ministrar o seu doce ou agridoce veneno desde a infncia (p. 119), condio que exigiria a elaborao das demandas imaginrias do narcisismo e a consequente Castrao Simblica. A diminuio das demandas narcisistas de completude corresponderia ao que Freud (1927/2010c) chamou de educao para a realidade (p. 120). Realidade da falta-a-ser, acrescenta Lacan. As crenas msticas pautadas em discursos totalizantes de matiz imaginrio, seja na religio, seja em uma Cincia messinica (a exemplo das promessas de curas da farmacologia psiquitrica respaldadas pelo discurso neurocientfico), ou ainda nas ofertas do consumismo, viriam ao encontro e surgiriam da demanda subjetiva de completude narcsica arraigada em maior ou menor grau nos indivduos contemporneos (Costa-Rosa, 2008b). Por um lado Outro, a psicanlise tem como fim a orientao tica de auxiliar o sujeito em anlise a se encontrar diante do seu desamparo primordial (horror da castrao) e o consequente reposicionamento subjetivo.

    A concepo de cincia psicanaltica arquitetada pelo ltimo Freud, j despido do iderio cientificista (Freud, 1933/1996f), bem como por Lacan, mostra-se como no totalizadora, pois contempla a incompletude estruturante inerente ao campo do Simblico, uma vez que este incapaz de proporcionar ao falante a possibilidade de dizer, por completo, o que e o que quer. Trata-se de uma cincia

    Outra, na medida em que a prxis psicanaltica definida como ao realizada pelo homem que o coloca em condies de tratar o Real pelo Simblico (Lacan, 1964/2008b); ao, entretanto, sempre parcial. Parcial, mas no e por isso mesmo! impotente (Lacan, 2003a; 1972-73/2008c). Se a Cincia tambm trata o Real pelo Simblico querendo fazer deste uma tampa para aquele, o que evidencia que Cincia e psicanlise no partem da mesma definio de Simblico. Se Simblico concebido pela psicanlise a partir da teoria do significante, para a Cincia estruturado pelo signo lingustico, que visa o casamento entre o significante e o significado, sendo que Lacan (1964/2008b, p. 203) se refere ao signo como aquilo que representa alguma coisa para algum que sabe o seu sentido. O cientista sabe; j o psicanalista sabe o limite tico do seu saber: no poder saber pelo outro. desta forma que o psicanalista fracassa l mesmo onde o cientista [con]vence. No entanto, para Lacan (1970, p. 166), nesse fracasso que consiste o sucesso da psicanlise10. Para a Cincia, o que no pode ser nomeado pelo seu campo discursivo varivel descartada, sem ver que o beb desaparece no descarte da agua do banho. O que a Cincia rejeita, ao foracluir o sujeito de seu campo discursivo, o prprio furo pulsante-desejante inerente ao sujeito banhado no Simblico; em outros termos, a prpria dimenso subjetiva singular. Se o sujeito da psicanlise o mesmo sujeito da Cincia porque a psicanlise se ocupa com o rebotalho do discurso cientfico, ou seja, com isso que Lacan (1998c, p. 234) chamou de o retorno da verdade do sujeito na falha do saber [cientfico]. Ento, a diferena fundamental entre Cincia e psicanlise consistiria no fato desta se ocupar exatamente daquilo que aquela persiste em deixar fora de seu campo prtico e discursivo. Por isso, a psicanlise no uma cincia [...] exata (Lacan, 1992a, p. 11). Ao teorizar sobre o limite entre Cincia e psicanlise, Lacan traz os pontos de divergncia quanto ao estatuto da verdade: o dizer [a verdade] sobre o desejo sempre semi-dizer. E por ser sempre semi-dizer que o desejo diferir, devir. Assim, a partir da perspectiva da Castrao Simblica que podemos conceber um campo cientfico psicanaltico: um discurso sem uma palavra derradeira sobre a verdade, dado que esta somente acessvel se no-toda e, por isso, sempre outra. Alis, no por acaso os poetas foram os autores mais citados por Freud, pois disso eles bem sabem: Tenho uma pena que escreve / Aquilo que 10 Nas magnficas palavras da poetisa, temos uma definio da psicanlise como tratamento do Real angustioso pelo Simblico: Eu tenho medida que designo e este o esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho muito mais medida que no consigo designar. A realidade a matria-prima, a linguagem o modo como vou busc-la e como no acho. Mas do buscar e no achar que nasce o que eu no conhecia, e que instantaneamente reconheo. A linguagem o meu esforo humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mos vazias. Mas, volto com o indizvel. O indizvel s me poder ser dado atravs do fracasso de minha linguagem. S quando me falha a construo, que obtenho o que ela no conseguiu (Lispector, 2009, p. 176).

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    Sujeito, Subjetividade e Cincia em Freud e Lacan: Algumas Consideraes Tericas Prvias a uma Intercesso-Pesquisa no campo da Sade Mental Coletiva

    eu sempre sinta. / Se mentira escreve leve / Se verdade no tem tinta (Pessoa, 1994, p. 660).

    No podemos deixar de lembrar que toda pesquisa em psicanlise e, portanto, a Intercesso-Pesquisa na Sade Coletiva clnica, j que implica que o trabalhador-intercessor-pesquisador empreenda a intercesso, como poderamos afirmar com Elia (2000), [...] a partir do lugar definido no dispositivo analtico como sendo o lugar do analista, lugar de escuta e sobretudo de causa para o sujeito (p. 23). Pesquisa que nunca demais ressaltar sempre a posteriori em relao intercesso. Assim, o ponto central do mtodo clnico psicanaltico est em ter reintegrado o sujeito, foracludo pelo discurso cientfico moderno, tendo a clnica, que inclui o sujeito do inconsciente, como o seu campo de intercesso, e no campo de pesquisa (p. 24) como afirma o mesmo autor11. Se a psicanlise faz em seu favor a reivindicao de que, em sua execuo, tratamento e investigao coincidem (Freud, 1913/2010a, p. 152), no devemos deixar de ressaltar algo fundamental, esboado em Freud e radicalizado por Lacan: a necessidade de delimitarmos a psicanlise em intenso, como a prxis propriamente clnica, e a psicanlise em extenso, como um saber terico produzido aps o primeiro momento, que permite ao psicanalista questionar e implementar a teoria e ressituar-se novamente em outros momentos da prxis clnica. Isso porque o saber terico da psicanlise no opera no momento da intercesso, o que seria tomar o outro como objeto de ao tirnica e/ou pedaggica e no enquanto no lugar do trabalho subjetivo: o saber que opera na intercesso o saber produzido pelo sujeito diante do intercessor posicionado como facilitador desse processo. Esse saber de sujeito tem uma consistncia absolutamente peculiar. No permite que dele se faa enciclopdia, [...] pois pertence ao sujeito que dele necessariamente se apropria no prprio ato da sua produo (Costa-Rosa, 2013e p. 303). Desse saber nada sabe o trabalhador-intercessor-pesquisador, dado ser o inconsciente um saber que no se sabe. No fazemos pesquisa do inconsciente, fazemos pesquisa a posteriori acerca do processo de produo da intercesso.

    Em seu Seminrio 17, Lacan (1969-70/1992b) enuncia que o discurso da Cincia Moderna se alicera no Discurso da Universidade, colocando o saber no comando, ditando teorias universais sobre tudo e para todos, desembocando na objetificao do sujeito. Noutras vezes, o discurso da Cincia se assemelha ao Discurso do Mestre, quando esse 11 A ns bastante claro que o prof. Dr. Luciano Elia, no texto em questo, no est afirmando que o pesquisador-analista, como ele o denomina, faa pesquisa enquanto est na prxis clnica. Da nossa parte, trata-se apenas de fazer uma pontuao que achamos ser mais precisa quanto delimitao dos dois momentos terica, tcnica e eticamente necessrios Intercesso-Pesquisa. A mesma ressalva fazemos fala de Birman (1992), ao afirmar que [...] a clnica psicanaltica o lugar da pesquisa psicanaltica (p. 22).

    Saber lhe possibilita um Poder sobre outrem (Clavreul, 1983). J a-cientificidade da psicanlise em intenso prope um lao social Discurso do Analista a partir do qual o sujeito analista se apaga para ser somente a causa do desejo, lugar de vazio central de Saber-Poder, possibilitando a transferncia de trabalho subjetivo. Aqui, a produo do saber est inevitavelmente atrelada a um saber-se. Ou ainda, sintnica tica da psicanlise, uma cincia Outra, a partir do Discurso da Histeria, se considerarmos que o psicanalista impulsionado pela experincia da prxis a produzir/implementar o saber therico12, agora no contexto do que Lacan chamou de psicanlise em extenso. Uma cincia Outra se configuraria, portanto, em uma prxis a partir de dois momentos especficos. a partir da psicanlise em intenso, operado no lao social Discurso do Analista e da psicanlise em extenso, no lao social Discurso da Histeria (Julien, 2002; Quinet, 2006; Regnault, 1989), que definimos os dois momentos da Intercesso-Pesquisa: no primeiro, atuamos a partir do DImpss, sempre pela via da colocao do indivduo e o sujeito no lugar do trabalho no processo de produo; no segundo, impulsionados pelas questes postas pela prxis intercessora, passamos ao DImpc, ento situados como sujeitos questionadores da theoria no lugar do agente do lao social. Nesse momento do Dispositivo Intercessor, visa-se tanto uma intercesso na prxis da Universidade quanto transmisso do saber para formao de novos trabalhadores-intercessores-pesquisadores (Costa-Rosa, 2008a). Por fim, a essa altura, praticamente desnecessrio dizer que o conhecimento do qual se trata de produzir, como saber therico, radicalmente diferente do conhecimento paranoico oriundo da cincia cartesiana, que, como efeito de colocar a carroa na frente dos bois, acaba sempre achando exatamente o que procurava.

    Tratando os processos de subjetivao pelo vis estrutural, ouvimos os desavisados que, com o dedo em riste, acusam Lacan de estruturalista. No veem que Lacan parte do estruturalismo antropolgico e lingustico da sua poca, superando-os dialeticamente. A fim de reconduzir a psicanlise ao essencial do discurso freudiano, vislumbrando seu para-alm, mas servindo-se dele (Lacan, 1969-70/1992b), entre outras referncias, Lacan se utiliza de conceitos caros lingustica estrutural signo, significante e significado, cadeia significante, metfora e metonmia para continuamente subvert-los, ao ponto de enunciar que no faz lingustica, mas sim linguisteria (Lacan, 1972-73/2008c, p. 24). O Dispositivo Intercessor, como materializao de uma cincia Outra, parte do fato de que Lacan quem mais fez ampliaes, tanto da

    12 O saber therico tpico psicanlise, diferentemente do saber epistmico da Cincia (Milner, 1996, p. 39), caracteriza-se por um saber incompleto e, por isso mesmo, sempre em movimento de construo dialtica em relao prxis de onde ele emerge.

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    Waldir Prico e Ablio da Costa-Rosa

    psicanlise em intenso quanto da psicanlise em extenso. Ora, partir da hiptese de que Freud e Lacan versam sobre processos de subjetivao cujos impasses muitas vezes demandam, nas instituies de tratamento, a existncia de trabalhadores-intercessores para que tais impasses possam ser subjetivados , servindo-nos de conceituaes da Filosofia, do Materialismo Histrico e da Anlise Institucional, no seria continuar marchando no mesmo sentido?

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    Endereo para correspondncia: Waldir Prico Endereo: Rua Cndido Mota, n 1610, Vila Rodrigues. Assis/SP. - CEP: 19807-200. E-mail: [email protected]

    Endereo para correspondncia: Ablio da Costa-Rosa Endereo: Avenida Dom Antnio, n 2100, Parque Universitrio. Assis/SP. - CEP: 19 806-900. E-mail: [email protected]