104
15 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 17 2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................ 26 2.2. O dogma central da biologia molecular ............................................................. 26 2.3. O genoma humano....................................................................................................... 27 2.3.1. Estrutura e propriedades do DNA ............................................................... 29 2.3.2. Replicação do DNA ............................................................................................. 33 2.3.3. Organização dos genes .................................................................................... 36 2.3.4. Transcrição do DNA e tradução do RNA................................................. 40 2.4. Reação em cadeia da polimerase (PCR) ......................................................... 48 2.5. As bases genéticas da variação humana......................................................... 52 2.5.1. Mutação vs. Polimorfismo................................................................................ 57 2.6. Herdabilidade de variáveis associadas ao desempenho esportivo.... 58 2.7. Polimorfismos associados à aptidão física e ao desempenho esportivo.......................................................................................................................................... 61 2.7.1. Enzima conversora de angiotensina .......................................................... 61 2.7.2. ACTN-3 ...................................................................................................................... 67 2.8. O gene PDLIM3 como candidato a associação com o desempenho esportivo.......................................................................................................................................... 75 3. OBJETIVOS ............................................................................................................................. 82 3.1. Objetivo geral ...................................................................................................................... 82 3.2. Objetivos específicos .................................................................................................. 82

SUMÁRIO€¦ · Assim, Kiss e colaboradores (KISS, BÖHME, MANSOLDO, DEGAKI e REGAZZINI, 2004) pontuam que o desempenho esportivo deve ser entendido como um sistema aberto que expressa

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15    

SUMÁRIO

 

1.   INTRODUÇÃO  .........................................................................................................................  17  

 

2.   REVISÃO DE LITERATURA  ............................................................................................  26  

2.2.   O dogma central da biologia molecular  .............................................................  26  

2.3.   O genoma humano  .......................................................................................................  27  

2.3.1.   Estrutura e propriedades do DNA  ...............................................................  29  

2.3.2.   Replicação do DNA  .............................................................................................  33  

2.3.3.   Organização dos genes  ....................................................................................  36  

2.3.4.   Transcrição do DNA e tradução do RNA  .................................................  40  

2.4.   Reação em cadeia da polimerase (PCR)  .........................................................  48  

2.5.   As bases genéticas da variação humana  .........................................................  52  

2.5.1.   Mutação vs. Polimorfismo  ................................................................................  57  

2.6.   Herdabilidade de variáveis associadas ao desempenho esportivo  ....  58  

2.7.   Polimorfismos associados à aptidão física e ao desempenho

esportivo  ..........................................................................................................................................  61  

2.7.1.   Enzima conversora de angiotensina  ..........................................................  61  

2.7.2.   ACTN-3  ......................................................................................................................  67  

2.8.   O gene PDLIM3 como candidato a associação com o desempenho

esportivo  ..........................................................................................................................................  75  

 

3.   OBJETIVOS  .............................................................................................................................  82  

3.1. Objetivo geral  ......................................................................................................................  82  

3.2.   Objetivos específicos  ..................................................................................................  82  

 

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16    

4.   MÉTODOS  ................................................................................................................................  83  

4.1. Construção do banco de DNA de atletas e controles não atletas  ..........  83  

4.1.1. Participantes  ...............................................................................................................  83  

4.1.2. Coleta de material biológico para extração do DNA genômico  .......  84  

4.1.3. Extração de DNA genômico das amostras de sangue  ........................  84  

4.1.4. Extração de DNA genômico das amostras de lavagem bucal  .........  85  

4.2.   Estudo de associação do polimorfismo CNV do gene PDLIM3 com o

desempenho esportivo  ............................................................................................................  86  

4.2.1.   Participantes  ...........................................................................................................  86  

4.2.2.   Determinação do genótipo relativo ao polimorfismo CNV do gene

PDLIM3  .......................................................................................................................................  89  

4.2.3.   Validação da reação de PCR  .........................................................................  91  

4.2.4.   Determinação do impacto do polimorfismo CNV do gene PDLIM3

sobre a expressão proteica da proteína ALP  .........................................................  91  

4.2.5.   Análises estatísticas  ...........................................................................................  93  

 

5.   RESULTADOS  .......................................................................................................................  94  

 

6.   DISCUSSÃO  ............................................................................................................................  98  

 

7.   REFERÊNCIAS  ...................................................................................................................  106  

 

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1. INTRODUÇÃO A busca pelo entendimento dos inúmeros fatores que determinam o

desempenho esportivo e o sucesso competitivo tem sido uma constante nas

áreas de educação física e ciências do esporte. Inúmeros estudos vêm

observando a relação entre variáveis morfológicas, fisiológicas, metabólicas e

psicológicas, entre outras, e o desempenho nas mais diversas modalidades

esportivas (ARTIOLI, GUALANO, FRANCHINI, BATISTA, POLACOW e

LANCHA, 2009; CHAOUACHI, BRUGHELLI, LEVIN, BOUDHINA, CRONIN e

CHAMARI, 2009; GIRARD e MILLET, 2009; NEVILL, ALLEN e INGHAM,

2009; STOGGL, ENQVIST, MULLER e HOLMBERG, 2010; ALVES,

PASQUA, ARTIOLI, ROSCHEL, SOLIS, TOBIAS, KLANSENER, BERTUZZI,

FRANCHINI, LANCHA JUNIOR e GUALANO, 2012). De fato, muitos estudos

propõem que variáveis antropométricas e/ou fisiológicas podem, de certa

forma, predizer o sucesso em uma dada modalidade (IZQUIERDO-

GABARREN, EXPOSITO, DE VILLARREAL e IZQUIERDO; FRANCHINI,

DEL VECCHIO, MATSUSHIGUE e ARTIOLI, 2011).

A excelência competitiva no esporte é um fenômeno complexo,

multidimensional e extremamente dinâmico, o qual sofre influências

constantes de inúmeros aspectos que permeiam o ambiente específico de

uma dada modalidade esportiva. A natureza dinâmica do (in)sucesso

competitivo expressa-se pela relativa incapacidade que a maior parte dos

atletas de alta-elite têm em manter constantes suas conquistas ao longo de

suas carreiras. É comum, portanto, que atletas de sucesso intercalem

momentos de vitória com outros de fracasso. Assim, Kiss e colaboradores

(KISS, BÖHME, MANSOLDO, DEGAKI e REGAZZINI, 2004) pontuam que o

desempenho esportivo deve ser entendido como um sistema aberto que

expressa, em um determinado ponto do tempo, a condição global do atleta.

Tal condição refere-se a fatores internos ao atleta (isto é, genética, estado de

treinamento, estado nutricional e estado psicológico, entre outros), embora

fatores externos também contribuam de forma dinâmica nesse sistema (isto

é, fatores ambientais, condições de seus colegas de time e de seus

adversários, entre outros) (KISS, BÖHME, MANSOLDO et al., 2004).

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A quantidade de fatores que determinam o sucesso individual em

competições de alto nível é surpreendentemente grande. Numerosos são

também os modelos que se propõem a enumerar e classificar tais fatores. De

forma simplificada, pode-se categorizar os fatores determinantes do

desempenho competitivo em dois grandes grupos: os fatores genéticos e os

não genéticos (BOUCHARD, MALINA e PÉRUSSE, 1997).

Em relação aos fatores não genéticos, é possível elencar uma

complexa gama de aspectos que envolvem o domínio esportivo e o não

esportivo, com base nos trabalhos de Henriksen et al. (HENRIKSEN,

STAMBULOVA e ROESSLER, 2010) e Vaeyens et al. (VAEYENS, LENOIR,

WILLIAMS e PHILIPPAERTS, 2008). Dentro do domínio esportivo, destacam-

se a cultura esportiva geral do ambiente onde o indivíduo se encontra, o

papel da mídia nesse contexto, os esportes mais populares, os principais

ídolos esportivos e outros ícones nos quais os jovens atletas possam se

espelhar. Ainda no domínio esportivo encontram-se aspectos como o

treinamento nas diferentes etapas de maturação, as relações com técnicos,

colegas de treino, gerentes esportivos e etc. No domínio não esportivo,

figuram fatores como a cultura familiar, educação formal, além de

oportunidades de desenvolvimento e de engajamento em atividades

desportivas.

Já os fatores genéticos que contribuem para o fenótipo do

desempenho esportivo excelente, segundo Bouchard et al. (BOUCHARD,

MALINA e PÉRUSSE, 1997), dividem-se entre os chamados “genes

necessários” e “genes de susceptibilidade”, ou “genes predisponentes”, além

das interações entre os diferentes genes de um mesmo indivíduo (isto é,

interações gene-gene no sentido de compor um “genótipo ideal” para um

esporte específico) e as interações gene-ambiente (no sentido de que

indivíduos com “genótipos ideais” obrigatoriamente precisam ser expostos a

um ambiente ótimo que lhes permita o pleno desenvolvimento de suas

aptidões).

“Genes necessários” referem-se a um grupo de genes ou, de forma

mais precisa, um grupo de variantes gênicas sem as quais não seria possível

a qualquer pessoa atingir a excelência esportiva. Exemplificando, uma

pessoa com um quadro de distrofia muscular grave de origem genética, como

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é o caso da Distrofia Muscular de Duchenne (causada por mutação no gene

DMD, que codifica para a proteína muscular chamada distrofina) certamente

não se tornaria atleta ou teria sucesso em qualquer esporte.

“Genes de susceptibilidade”, por sua vez, referem-se a um grupo de

variantes gênicas que são capazes de potencializar/maximizar as respostas

ao treinamento, o aprendizado e execução de gestos desportivos ou o

desempenho competitivo em sua manifestação final. Tais genes serão

abordados adiante neste documento de forma aprofundada, em tópico

específico na revisão de literatura. Cada gene de susceptibilidade contribui,

de forma isolada, com uma parcela muito pequena, ainda que inegavelmente

relevante, da variação observada em um dado fenótipo (no caso em questão,

o desempenho em um esporte qualquer). Portanto, tais genes não são

necessários, tampouco suficientes para que um dado fenótipo se expresse

(BOUCHARD, MALINA e PÉRUSSE, 1997). De fato, dados recentes de

corredores de longa distância que atingiram os mais elevados níveis

competitivos confirmam que, embora muitas das variações que

conhecidamente melhoram o desempenho de endurance estejam presentes

em muitos desses atletas, nem todos eles apresentam todas as variações

que poderiam constituir um “genótipo ideal” para a excelência em esportes de

endurance (GONZALEZ-FREIRE, SANTIAGO, VERDE, LAO, OIIVAN,

GOMEZ-GALLEGO e LUCIA, 2009). Em outras palavras, muitos atletas

atingem os maiores níveis competitivos a despeito de não serem

necessariamente “ideais” do ponto de vista genético. A figura 1 apresenta um

modelo que se propõe a delimitar os aspectos mais relevantes para o

sucesso competitivo.

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20    

Figura 1. Modelo teórico com algumas das principais variáveis que contribuem para o

surgimento de atletas de alta-elite (construído com base nos trabalhos de Henriksen et al.

(HENRIKSEN, STAMBULOVA e ROESSLER, 2010), Vaeyens et al. (VAEYENS, LENOIR,

WILLIAMS et al., 2008) e Bouchard et al. (BOUCHARD, MALINA e PÉRUSSE, 1997)).

Embora o papel dos aspectos ambientais no desempenho esportivo

tenha sido amplamente debatido nas últimas décadas, é bem estabelecido

que os fatores ambientais por si só não são suficientes para explicar o

sucesso de um grupo tão seleto de atletas no esporte de alto nível (DIAS,

PEREIRA, NEGRÃO e KRIEGER, 2007). Obviamente, a genética favorável

desses atletas extraordinários ajuda a explicar seu sucesso. Ainda que a

importância da genética no contexto do esporte de competição tenha sido,

por muito tempo, amplamente reconhecida (BOUCHARD, MALINA e

PÉRUSSE, 1997), somente no final da década de 1990 foram publicados os

primeiros estudos que objetivaram identificar variações gênicas capazes de

explicar, mesmo que parcialmente, o sucesso competitivo (GAYAGAY, YU,

HAMBLY, BOSTON, HAHN, CELERMAJER e TRENT, 1998;

MONTGOMERY, MARSHALL, HEMINGWAY, MYERSON, CLARKSON,

DOLLERY, HAYWARD, HOLLIMAN, JUBB, WORLD, THOMAS, BRYNES,

SAEED, BARNARD, BELL, PRASAD, RAYSON, TALMUD e HUMPHRIES,

1998). Atualmente, já foram identificados mais de 200 genes capazes de

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influenciar de alguma forma o desempenho esportivo ou a aptidão física

(RANKINEN, ROTH, BRAY, LOOS, PERUSSE, WOLFARTH, HAGBERG e

BOUCHARD, 2010). O desenvolvimento rápido da genética e o constante

aperfeiçoamento das técnicas de biologia molecular têm contribuído

sobremaneira para esse acelerado avanço no conhecimento sobre as bases

das diferenças individuais no desempenho e aptidão física (BOUCHARD,

MALINA e PÉRUSSE, 1997).

A conclusão do projeto genoma em 2001 permitiu o sequenciamento

completo do genoma humano. Sabe-se que cerca de 99,9% do genoma é

idêntico entre todos os seres humanos e, portanto, a clara diferença entre

cada indivíduo é explicada pelos ~0,1% restantes. Evidentemente, a ciência

tem dedicado grandes esforços para compreender esses 0,1% do genoma

que englobam as bases da variação humana, pois é nele que estão

respostas para questões como susceptibilidade a doenças, respostas a

tratamentos, diversidade fenotípica (DOLGIN, 2008a) e o talento. Embora a

maior parte da variação até hoje conhecida seja constituída por trocas de um

único par de bases (ou SNP, do inglês single nucleotide polymorphism)

(SHARP, 2008), estudos relativamente recentes identificaram que a inserção

ou deleção de um número grande de pares de base em determinadas regiões

do genoma (fenômeno conhecido por variação no número de cópias ou CNV,

do inglês copy number variation) é característica comum do genoma humano

(MILLS, LUTTIG, LARKINS, BEAUCHAMP, TSUI, PITTARD e DEVINE,

2006). Esse tipo de variação, embora menos frequente do que os SNPs, é

responsável por uma maior parte da variação no genoma do que os SNPs, se

considerado o número absoluto de pares de base (JAKOBSSON, SCHOLZ,

SCHEET, GIBBS, VANLIERE, FUNG, SZPIECH, DEGNAN, WANG,

GUERREIRO, BRAS, SCHYMICK, HERNANDEZ, TRAYNOR, SIMON-

SANCHEZ, MATARIN, BRITTON, VAN DE LEEMPUT, RAFFERTY, BUCAN,

CANN, HARDY, ROSENBERG e SINGLETON, 2008). Isso significa que os

polimorfismos do tipo CNV são, no mínimo, tão importantes quanto os SNPs

para a variação no genoma humano (DOLGIN, 2008a; JAKOBSSON,

SCHOLZ, SCHEET et al., 2008).

Dentre os polimorfismos que já foram associados ao desempenho

esportivo até o presente momento, o do gene da alfa-actinina 3 é, sem

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dúvidas, o mais bem documentado e com as mais fortes evidências. Em

humanos, estão presentes no músculo esquelético duas isoformas de alfa

actinina: alfa-actinina 2 e alfa-actinina 3, codificadas pelos respectivos genes

ACTN2 e ACTN3 (PASQUA, ARTIOLI, PIRES e BERTUZZI, 2011). Enquanto

a ACTN2 é expressa em todas as fibras musculares, ACTN3 é expressa

somente nas fibras do tipo IIb, com menor função oxidativa e maior função

glicolítica (NORTH, YANG, WATTANASIRICHAIGOON, MILLS, EASTEAL e

BEGGS, 1999; NORMAN, ESBJORNSSON, RUNDQVIST, OSTERLUND,

VON WALDEN e TESCH, 2009).

Um polimorfismo comum do tipo SNP no gene ACTN3, o qual consiste

na troca de uma citosina por uma timina (polimorfismo nonsense denominado

R577X), resulta na conversão do códon do aminoácido arginina (R) na

posição 577 da cadeia polipeptídica a um stop codon prematuro (X). Essa

variação faz com que exista um alelo R (funcional) e um alelo X (nulo).

Indivíduos homozigotos para o alelo não funcional (indivíduos X/X) possuem

deficiência na proteína alfa-actinina-3 (NORTH, YANG,

WATTANASIRICHAIGOON et al., 1999).

Como alfa-actinina-3 está presente nas fibras do tipo IIb, de contração

rápida, Van Damme et al. (VAN DAMME, WILSON, VANHOOYDONCK e

AERTS, 2002) observaram que a frequência do polimorfismo R577X em

atletas de endurance é significantemente maior em comparação a indivíduos

não atletas, o que sugere que a falta dessa proteína favorece o metabolismo

aeróbio. Similarmente, Yang et al. (YANG, MACARTHUR, GULBIN, HAHN,

BEGGS, EASTEAL e NORTH, 2003) genotiparam 301 atletas australianos

caucasianos de elite e compararam com 436 indivíduos australianos

caucasianos controles. Os autores observaram que todos os atletas de sprint

possuíam genótipos semelhantes, com uma baixa frequência do genótipo XX.

Esses dados também suportam a ideia de que a ausência da proteína alfa-

actinina-3 favorece o desempenho aeróbio e que sua presença, por outro

lado, favorece o desempenho de força/velocidade/potência.

Posteriormente, estudos com camundongos nocaute (KO) para

ACTN3 foram realizados com o intuito de mimetizar o genótipo R577X e a

falta da proteína no músculo esquelético (MACARTHUR, SETO, RAFTERY,

QUINLAN, HUTTLEY, HOOK, LEMCKERT, KEE, EDWARDS, BERMAN,

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23    

HARDEMAN, GUNNING, EASTEAL, YANG e NORTH, 2007; MACARTHUR,

SETO, CHAN, QUINLAN, RAFTERY, TURNER, NICHOLSON, KEE,

HARDEMAN, GUNNING, COONEY, HEAD, YANG e NORTH, 2008). Os

camundongos KO não demonstraram alterações estruturais no sarcômero e

também não apresentaram perda de fibras do tipo IIb. Logo, o polimorfismo

provavelmente não resulta em alguma alteração fenotípica da ultraestrutura

sarcomérica porque a presença da alfa-actinina 2 é capaz de compensar a

falta da alfa-actinina 3 (MACARTHUR, SETO, RAFTERY et al., 2007). Em

relação ao metabolismo, fibras de camundongos KO apresentaram maior

atividade de enzimas oxidativas (mitocondriais, citrato sintase, succinato

desidrogenase e citocromo c oxidase), corroborando a ideia de que o

genótipo R577X favorece o metabolismo aeróbio. Similarmente, enzimas

relacionadas à oxidação de ácidos graxos também foram detectadas em

maiores concentrações. Por outro lado, foi observada menor produção de

força e desenvolvimento de massa muscular nos camundongos KO quando

comparados ao grupo controle. Essa perda de massa muscular está

relacionada à diminuição do diâmetro das fibras rápidas do tipo IIb

(MACARTHUR, SETO, RAFTERY et al., 2007).

Uma característica importante das alfa-actininas é a capacidade de

ligar-se a diversas outras proteínas estruturais do sarcômero, em especial às

que compõe a linha Z (LEK, MACARTHUR, YANG e NORTH; LEK e

NORTH). Dentre elas, destaca-se a proteína ALP (do inglês, Actinin-

associated LIM Protein), uma das quatro proteínas da família PDZ-LIM e

também conhecida como PDLIM3 (ZHENG, CHENG, BANERJEE e CHEN,

2010).

A proteína ALP é expressa no músculo esquelético e sua isoforma um

pouco menor, codificada pelo mesmo gene e resultante em de um splicing

alternativo (POMIES, MACALMA e BECKERLE, 1999), é expressa no

músculo cardíaco (POMIES, PASHMFOROUSH, VEGEZZI, CHIEN,

AUFFRAY e BECKERLE, 2007). Estudos in vitro demonstraram que ALP

purificada aumenta a capacidade das alfa-actininas de se ancorarem nos

filamentos de actina, o que indica que a ALP pode ter um papel importante na

organização estrutural do sarcômero (PASHMFOROUSH, POMIES,

PETERSON, KUBALAK, ROSS, HEFTI, AEBI, BECKERLE e CHIEN, 2001).

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O estudo de Pashmforoush et al. (PASHMFOROUSH, POMIES, PETERSON

et al., 2001) demonstrou que a superexpressão de ALP induz a formação de

arranjos de actina altamente robustos e organizados. Ainda, sabe-se que a

ALP apresenta uma regulação positiva muito forte durante o desenvolvimento

embrionário do tecido muscular estriado, tanto o cardíaco quanto o

esquelético (POMIES, MACALMA e BECKERLE, 1999). Estudos com

camundongos KO para ALP demonstraram prejuízo na função cardíaca,

alterações na câmara ventricular direita e cardiomiopatia no ventrículo direito

(PASHMFOROUSH, POMIES, PETERSON et al., 2001), mas nenhuma

alteração evidente no tecido muscular esquelético foi observada (JO,

RUTTEN, BUNN e BREDT, 2001).

Existem descritos, atualmente, cerca de 400 loci que apresentam

variações no número de cópias (JAKOBSSON, SCHOLZ, SCHEET et al.,

2008). Um dos genes descritos nesse banco de dados é o ALP. Uma análise

in silico realizada por nosso grupo de pesquisa no banco de dados do site

UCSC genome browser constatou que existe um polimorfismo do tipo CNV

no gene ALP que consiste na inserção ou deleção de ~2,6 Kb em uma região

não codificadora. Embora nosso grupo não tenha encontrado nenhum dado

na literatura a respeito dos efeitos desse CNV sobre a estrutura, função ou

regulação da expressão da proteína, dados não publicados do Sanger

Institute (Daniel McArthur, comunicação pessoal) demonstraram, em um

estudo piloto, que a frequência do polimorfismo foi de 100% em uma

população da Etiópia (20 polimorfismos em 20 sujeitos avaliados) e de

apenas 10% em uma população caucasiana europeia (2 polimorfismos em 20

sujeitos). Considerando sua importante função no desenvolvimento do tecido

muscular estriado, na regulação da estrutura sarcomérica, sua importante

relação com as alfa-actininas e sua provável frequência diferencial entre

etnias, o polimorfismo de variação no número de cópias do gene ALP torna-

se um importante gene candidato para apresentar relação com a função da

musculatura esquelética e/ou cardíaca e, por consequência, com o

desempenho esportivo.

Assim sendo, o presente projeto de pesquisa terá como objetivos

avaliar a associação entre o CNV do gene ALP e o sucesso competitivo e

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avaliar o impacto do polimorfismo na expressão proteica de ALP (PDLIM3) no

músculo esquelético.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.2. O dogma central da biologia molecular   O dogma central da biologia molecular é um conceito desenvolvido por

Francis Crick em 1973 (CRICK, 1970) e trata do fluxo de informações

genéticas que ocorre na natureza. Segundo esse conceito, as informações

necessárias para a síntese de todas as proteínas de um indivíduo encontram-

se no genoma, ou no conjunto total de DNA desse indivíduo. Para que seja

formada uma proteína, o DNA é inicialmente convertido em RNA, o qual é

responsável por transmitir a mensagem ou a informação necessária para que

essa proteína seja sintetizada. Portanto, o fluxo primário das informações é

DNAàRNAàProteína (figura 2). Adicionalmente, deve-se mencionar a

capacidade das células em se multiplicarem, ou dos organismos em se

reproduzirem. Isso pressupõe a realização de cópias de sua informação

genética, para que seja possível passá-las às novas células ou às novas

gerações de indivíduos. Portanto, nesse fluxo de informações, também deve

ser considerado que o DNA é capaz de gerar DNA (figura 2). Entretanto,

existem espécies que lidam com essas informações de modo diferente. Por

exemplo, algumas espécies de vírus não são constituídas de DNA, mas sim

de RNA e, durante seu processo proliferativo, convertem RNA em DNA.

Igualmente, existem casos raros na natureza de organismos que produzem

proteína diretamente a partir de DNA e que produzem cópias de moléculas

de RNA (figura 2). De qualquer modo, é importante destacar que, no caso da

espécie humana, o único fluxo possível de informações é

DNAàRNAàProteína e DNAàDNA.

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Figura 2. Representação esquemática do dogma central da biologia molecular. As setas

destacadas em vermelhos representam os fluxos de informação que são relevantes à

espécie humana. As setas pretas pontilhadas representam fluxos alternativos que ocorrem

com frequência muito menor na natureza, especialmente em micro-organismos (adaptado de

Crick, 1970 (CRICK, 1970).

2.3. O genoma humano   Genoma refere-se ao conjunto total de informações genéticas de uma

espécie, ou a tudo aquilo que é passado para a geração seguinte (WEAVER,

2011). Toda a informação genética é armazenada sob a forma de código, o

qual é constituído por quatro nucleotídeos. Esses nucleotídeos são capazes

de se ligar entre si, formando um polímero extremamente extenso que, em

última análise, forma uma molécula de ácido desoxirribonucleico, ou DNA

(NELSON e COX, 2005).

Toda a informação genética necessária para constituir um indivíduo

está armazenada nas sequências de bases, no DNA. O material genético

encontra-se nos núcleos das células, embora exista uma pequena

quantidade de DNA nas matrizes mitocondriais (NELSON e COX, 2005).

Dentro do núcleo, o DNA organiza-se sob a forma de cromossomos, os quais

podem apresentar diferentes estados de condensação, a depender da fase

do ciclo celular que a célula se encontra. Em todas as células, com exceção

das hemácias que não possuem núcleo e dos gametas, os cromossomos

apresentam-se em pares.

Nos seres humanos, o número de pares de cromossomos é 23,

formando um total de 46 cromossomos. Portanto, os seres humanos têm

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duas formas semelhantes, mas não idênticas, de cada cromossomo. Embora

os genes que cada um dos membros de um par de cromossomos contém

sejam absolutamente os mesmos, eles apresentam algumas pequenas

diferenças nas sequências das bases (LODISH, BERK, KAISER, KRIEGER,

SCOTT, BRETSCHER, PLOEGH e MATSUDAIRA, 2007). Isso porque um

dos alelos é herdado do pai, ao passo que o outro alelo é herdado da mãe

(para cada cópia dos genes que se encontram em um membro de um par de

cromossomos dá-se o nome de alelo). Logo, todos possuem dois alelos, ou

duas variantes, de cada gene, um deles herdado do pai e o outro, da mãe.

Os cromossomos podem ser classificados como cromossomos

somáticos (também chamados de autossomos) ou cromossomos sexuais

(também chamados de alossomos). Os seres humanos possuem 22 pares de

autossomos homólogos (isto é, cromossomos não sexuais que contêm genes

equivalentes, sendo um deles materno e o outro, paterno) no núcleo de cada

célula, além de um par de cromossomos sexuais. Enquanto os autossomos

são numerados de 1 a 23, os alossomos são denominados X e Y

(STRACHAN e READ, 2010). Os cromossomos sexuais são os que conferem

as características sexuais do indivíduo, sendo que o indivíduo que possui um

par de cromossomos X é do sexo feminino e aquele que possui um

cromossomo X e um Y é do sexo masculino. A figura 3 ilustra um par de

cromossomos.

Figura 3. Representação ilustrativa de um par de cromossomos homólogos. Um dos

cromossomos corresponde ao de origem maternal enquanto o outro corresponde ao de

origem paternal. A ilustração mostra o padrão típico de diferenciação de cores das bandas

claras e escuras, os braços longo e curto (cujas bandas são classificadas como “q” e “p”,

respectivamente) e o centrômero, que une seus braços.

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29    

Além dos milhões de pares de bases e dos milhares de genes que são

encontrados nos 46 cromossomos em cada célula que contém núcleo, as

células humanas também possuem uma pequena molécula de DNA em suas

cristas mitocondriais. Cada mitocôndria apresenta uma única cópia do DNA

mitocondrial (STRACHAN e READ, 2010). Isso significa que uma célula pode

possuir de 100 a mais de 10000 cópias do DNA mitocondrial, a depender do

número de mitocôndrias presentes nessa célula. Diferente do DNA nuclear, o

DNA mitocondrial apresenta-se sob a forma circular, sendo composto por,

aproximadamente, 15 mil pares de bases, cujas sequências totalizam 37

genes (NELSON e COX, 2005). Apenas uma parte desses genes resulta em

proteínas, já que muitos deles codificam diferentes classes de RNA. Tais

genes são expressos ou transcritos na própria matriz mitocondrial, de tal

forma que as proteínas sintetizadas na mitocôndria exercerão suas funções

na própria mitocôndria (NELSON e COX, 2005). Não surpreendentemente,

esses genes mitocondriais codificam proteínas da cadeia de transporte de

elétrons e da fosforilação oxidativa.

A conclusão do projeto genoma, em 2001, finalizou o trabalho de

sequenciamento completo dos mais de 3 bilhões de pares de bases que

compõem o genoma humano. Estima-se que, desse total, apenas 5%

contenha sequências com informações para formação de proteínas,

formando cerca de 20 a 25 mil genes, espalhados pelos 23 cromossomos e

pelo DNA circular mitocondrial (ALBERTS, JOHNSON, LEWIS, RAFI,

ROBERTS e WALTER, 2007). Interessantemente, ainda que a sequência

completa do genoma esteja descrita há 10 anos, muitos desses genes ainda

são praticamente desconhecidos, de forma que pouco ou nada se sabe sobre

suas funções (http://ghr.nlm.nih.gov/handbook/basics/gene).

2.3.1. Estrutura e propriedades do DNA  

Em 1953, James Watson e Francis Crick publicaram um dos trabalhos

mais importantes da história da ciência moderna, descrevendo a estrutura do

DNA (WATSON e CRICK, 1953). As moléculas de DNA são longas cadeias

de nucleotídeos. Cada nucleotídeo que forma o DNA é composto por uma

molécula de desoxirribose, um grupo fosfato e uma de quatro possíveis

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30    

bases nitrogenadas: adenina, citosina, timina e guanina, ou simplesmente A,

C, T e G (figura 4). As bases timina e citosina pertencem ao grupo das

pirimidinas, enquanto que as bases adenina e guanina pertencem ao grupo

das purinas, isto é, um grupamento pirimidina conjugado a um anel

imidazólico (figura 5) (NELSON e COX, 2005).

Figura 4. Painel A: ilustração esquemática de um nucleotídeo com seus três componentes,

uma base nitrogenada, uma pentose e um fosfato. No caso representado, a molécula é um

nucleotídeo de DNA, já que a pentose é, em específico, uma desoxirribose. Painel B:

ilustração esquemática da estrutura molecular de um nucleotídeo de adenina. Nesse caso,

também está sendo representado um nucleotídeo de DNA. Os números menores marcados

em cinza indicam a numeração dos carbonos da ribose que são utilizadas como referência

para o sentido da fita de DNA (isto é, 5’ e 3’).

Figura 5. Ilustração esquemática das nucleobases, ou bases nitrogenadas, que compõe os

ácidos nucleicos, de acordo com sua classificação química. Note que as purinas possuem

estrutura molecular semelhante às pirimidinas, com a fusão de um grupamento químico

denominado anel imidazólico.

Para formar os longos polímeros de nucleotídeos, cada um desses

nucleotídeos liga-se a um outro por meio de uma ligação fosfo-diéster,

conforme ilustra a figura 6. Uma quantidade grande de nucleotídeos contendo

diferentes bases nitrogenadas ligados de forma linear dá origem a uma fita

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31    

simples de DNA. A sequência das bases nitrogenadas de uma fita simples

linear de DNA contém toda a informação necessária para a produção de

proteínas com estruturas tridimensionais (NELSON e COX, 2005). Mais

especificamente, o genoma completo contém a informação para a síntese de

todas as proteínas do organismo, mas a sequência de nucleotídeos

necessária para a produção de uma única proteína está contida em um gene.

Figura 6. Ilustração demonstrando esquematicamente (à esquerda) e estruturalmente (à

direita) como os nucleotídeos ligam-se por meio de ligação fosfodiéster para formar a

molécula de DNA.

Além de serem capazes de se ligar através de ligações fosfodiéster, os

nucleotídeos possuem outra importante característica, a complementaridade.

Por meio de interações denominadas ponte de hidrogênio, as bases

nitrogenadas dos nucleotídeos permitem que dois deles se estabilizem,

formando um par de bases. As bases adenina e timina possuem maior

probabilidade de interagir entre si, pois suas estruturas químicas possibilitam

a formação de duas pontes de hidrogênio (figura 7). Portanto a base timina é

complementar à base adenina, e vice-versa. Já as bases guanina e citosina

possuem maior probabilidade de interagir entre si porque suas estruturas

possibilitam a formação de três pontes de hidrogênio (figura 7). Logo,

guanina é complementar a citosina, e vice-versa. Obviamente, a ligação C-G

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32    

é mais estável do que a ligação A-T. Em função dessa complementaridade

entre as bases, uma fita simples de DNA apresenta uma fita complementar

antiparalela (figura 8). Isto é, as ligações fosfodiéster se encontram no

sentido 5’à3’ em uma das fitas e no sentido 3’à5’ em sua fita complementar.

Ambas as fitas mantêm-se unidas pelas pontes de hidrogênio. As forças

exercidas pelas pontes de hidrogênio e pelas ligações fosfodiéster conferem

a uma molécula de DNA de dupla fita sua característica estrutura

tridimensional de dupla-hélice (figura 9) (WEAVER, 2011).

Figura 7. Ilustração demonstrando as ligações por pontes de hidrogênio entre as bases A-T

(parte superior) e C-G (parte inferior), o que confere complementaridade às bases e permite

que uma fita simples de DNA tenha uma fita complementar, formando uma dupla fita.

Figura 8. Representação esquemática de uma molécula dupla-fita de DNA, com sua fita

complementar antiparalela.

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33    

Figura 9. Representação esquemática da estrutura tridimensional da molécula de DNA, em

sua dupla-hélice antiparalela formada pela ligação fosfodiéster de seus nucleotídeos, e

mantida por quatro diferentes bases que, por complementaridade, ligam-se por pontes de

hidrogênio.

2.3.2. Replicação do DNA  

Em função da complementaridade entre as bases nitrogenadas que

compõem os nucleotídeos, cópias virtualmente idênticas podem ser feitas a

partir das longas moléculas de DNA, num processo denominado replicação.

A replicação ocorre sempre que uma célula vai entrar em divisão, seja para

dar origem a uma célula idêntica (o que se dá pela mitose), seja para passar

a informação genética para a próxima geração, dando origem a uma célula

com apenas 50% de identidade da célula “mãe” (o que se dá pela meiose)

(STRACHAN e READ, 2010).

A função primordial da replicação é, portanto, sintetizar uma nova

dupla-fita de DNA que seja idêntica à fita que precisa ser duplicada, a qual

também é chamada de fita molde. Tal processo ocorre no núcleo das células

e sua fina regulação faz com que ele somente seja iniciado quando houver

real necessidade de divisão celular, o que evita a proliferação celular

descontrolada (STRACHAN e READ, 2010). Foge aos objetivos desta revisão

discutir tal regulação.

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34    

Além de ser bem regulada, a replicação é um processo complexo que

envolve uma série de enzimas e outros elementos, cujos nomes e funções

estão destacados na tabela 1. No início da replicação, a enzima

topoisomerase atua sobre a dupla hélice de DNA, desfazendo sua estrutura

tridimensional, o que torna a dupla hélice uma dupla fita linearizada. Outra

importante função da topoisomerase é manter a estabilidade da molécula de

DNA durante toda a replicação (ALBERTS, JOHNSON, LEWIS et al., 2007).

Em seguida, a dupla fita, agora em formato linear, sofre a ação da enzima

helicase, que age sobre as pontes de hidrogênio entre as nucleobases,

rompendo-as. O resultado do rompimento das pontes de hidrogênio que

mantém as duas fitas unidas é a soltura das mesmas, o que dá origem uma

região do DNA, mais exatamente em uma de suas extremidades, que se

passa a se apresentar como duas fitas simples separadas. Essa separação

das fitas em uma das extremidades forma uma estrutura conhecida como

forquilha de replicação (ALBERTS, JOHNSON, LEWIS et al., 2007).

Tabela 1. Relação dos elementos necessários para a replicação do DNA e suas respectivas

funções durante esse processo.

Elemento Função

Enzima Topoisomerase Linearizar a estrutura de hélice e manter sua

estabilidade

Enzima Helicase Romper as pontes de hidrogênio, “abrindo” a

dupla-fita em duas fitas simples

Enzima DNA Polimerase Sintetizar a nova fita de DNA com base na

fita molde

Iniciadores, ou Primers Elemento indispensável para que a DNA

Polimerase inicie a síntese de DNA

Nucleotídeos (A, C, T e G) Elementos indispensáveis que irão compor a

nova fita de DNA

Enzima DNA Ligase

Realiza a fusão dos fragmentos de DNA

formados durante a síntese da nova fita

(fragmentos de Okazaki)

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35    

A forquilha de replicação expõe os nucleotídeos da fita molde para

que, a partir da complementaridade das nucleobases, a nova fita de DNA

seja sintetizada. Tal processo de síntese, que também pode ser entendido

como polimerização ou alongamento de uma cadeia de nucleotídeos, é

realizado pela enzima DNA polimerase (NELSON e COX, 2005). Essa

enzima, para estar apta a dar início à polimerização, necessita da presença

de uma curta sequência de nucleotídeos que seja complementar a algum

ponto da região de início da replicação. A essa curta sequência de

nucleotídeos, ou a esse oligonucleotídeo, dá-se o nome de iniciador ou

primer (LODISH, BERK, KAISER et al., 2007). Uma vez que a forquilha esteja

preparada e que os iniciadores estejam ligados às suas sequências

complementares nas fitas molde, a enzima DNA polimerase é então capaz de

realizar sua função de síntese da nova fita de DNA. Isso é feito pela adição

consecutiva de nucleotídeos à nova fita, por meio de ligações fosfodiéster. A

sequência dos nucleotídeos será exatamente complementar à sequência da

fita molde, o que, em última análise, resulta em uma nova fita dupla que é, na

verdade, composta por uma fita recém-sintetizada e uma fita que já estava

presente na célula (fita molde). Considerando que esse processo ocorre

simultaneamente nas duas fitas molde, o resultado final da replicação é a

formação de duas fitas duplas novas, ambas compostas por uma fita recém-

sintetizada complementar à fita “antiga”, ou fita molde (LODISH, BERK,

KAISER et al., 2007).

Um importante detalhe desse processo é que a DNA polimerase só é

capaz de realizar a extensão no sentido 5’à3’. Já que as fitas

complementares são antiparalelas (ou seja, o sentido 5’à3’ de uma fita é

invertido em relação à sua fita complementar – veja figura 6), a DNA

polimerase fará a síntese da nova fita em um sentido em uma das fitas, e no

sentido oposto na fita complementar. Em outras palavras, em uma das fitas a

nova cadeia será sintetizada em direção à forquilha de replicação (cuja

nomenclatura é fita líder, do inglês leading strand), ao passo que na fita

complementar, a nova cadeia será sintetiza a partir da forquilha (cujo nome é

fita tardia, do inglês lagging strand) (WEAVER, 2011). Como resultado, a

síntese da fita líder pode ser feita de forma contínua, enquanto que síntese

da fita tardia é constantemente interrompida à medida que a forquilha avança

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36    

sobre a região do DNA que ainda não foi copiado. Isso faz com que a fita que

foi recém-sintetizada a partir da forquilha se apresente sob a forma de

inúmeros fragmentos, os quais são conhecidos por fragmento de Okazaki

(NELSON e COX, 2005). Ao final da replicação, a ação de uma última

enzima, a DNA ligase, une os fragmentos de Okazaki uns aos outros,

tornando a fita contínua e completando a cópia do DNA (NELSON e COX,

2005). A figura 10 apresenta um esquema que resume a replicação do DNA.

Figura 10. Ilustração esquemática que representa o processo de replicação ou cópia do

DNA, com os seus principais elementos.

2.3.3. Organização dos genes   Gene refere-se a uma região cromossômica que contém uma

sequência de pares de bases com a informação necessária para a síntese de

um produto biologicamente ativo (BROWN, 2010). Embora esse produto seja,

na maioria das vezes, uma proteína, alguns genes codificam moléculas de

RNA que exercem suas funções sem que sejam convertidas em proteínas

(PEARSON, 2006). Os genes também contêm sequências que não codificam

para proteínas ou RNAs, mas que, por outro lado, permitem a regulação de

sua expressão (PENNISI, 2007). Em alguns casos, um único gene pode dar

origem a mais de uma isoforma de uma proteína, o que ocorre pelo processo

denominado splicing alternativo (ver tópico “Transcrição do DNA e tradução

do RNA” adiante).

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37    

Em humanos, conforme descreve o dogma central da biologia

molecular, o gene, que é uma região do DNA, deve ser convertido em RNA

para então poder ser convertido em proteína. A esse processo de conversão

do DNA em RNA, dá-se o nome de transcrição, ao passo que a conversão do

RNA em proteína é chamada de tradução. A transcrição de um gene em seu

RNA correspondente é referida como “expressão gênica” e a tradução do

RNA em sua proteína correspondente é denominada “expressão proteica”.

Todas as células de um organismo possuem a mesma informação

genética, ou o genoma completo daquele indivíduo. Entretanto, para que

possam cumprir diferentes funções especializadas, cada célula deve produzir

apenas as proteínas necessárias para que sua função específica seja

realizada. Exemplificando, uma célula muscular e um neurônio possuem os

mesmos genes e, portanto, potencial para produzir as mesmas proteínas.

Contudo, o que permite que tais células possuam um grau tão elevado de

especialização e sejam tão diferentes do ponto de vista fenotípico é a

capacidade que ambas possuem de produzir apenas as proteínas que lhes

conferem seu fenótipo. De forma simplificada, uma célula muscular só

consegue contrair-se porque expressa proteínas contráteis, enquanto que um

neurônio só consegue transmitir informações porque expressa

neurotransmissores e receptores. Isso ocorre a despeito do fato de ambas as

células possuírem as informações necessárias para sintetizar tanto as

proteínas contráteis quanto os neurotransmissores. Tal grau de

especialização celular só é possível pela capacidade que as células têm de

“ativar” e “desativar” a expressão de seus genes. Assim, torna-se claro que a

regulação da expressão gênica é fundamental para a homeostase de uma

célula e de um organismo como um todo.

A regulação fina da expressão gênica é possível graças à estrutura de

um gene, o qual contém regiões que ativam sua expressão, além de outras

regiões que aumentam ou diminuem a sua taxa de expressão (BROWN,

2010) (figura 11). Existem diversos mecanismos de controle da expressão

gênica, que incluem regulação pela heterocromatina (isto é, quando o

cromossomo está compactado, não há acesso das enzimas e fatores de

transcrição ao gene e, assim, o gene não se expressa) e regulação

epigenética (isto é, o padrão de metilação, especialmente em regiões CpG –

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38    

sequência citosina-guanina ligadas por fosfato – geralmente leva à repressão

da expressão gênica (JAENISCH e BIRD, 2003)), entre outras. O mais

importante mecanismo de regulação da expressão gênica é, no entanto, o

controle do início da transcrição.

O início da transcrição de um gene é, de forma simplificada, controlado

pela interação de elementos denominados fatores de transcrição com

sequências do DNA com funções regulatórias, conhecidas como promotores

(WESOLOWSKI e RAMASWAMY, 2011). Os fatores de transcrição podem

ser diversos, como proteínas, hormônios ou outros elementos. Em geral, as

sequências regulatórias de um gene localizam-se algumas dezenas ou

centenas de pares de bases antes das sequências codificadoras (tomando

como referência o sentido 5’à3’, que corresponde ao sentido em que ocorre

a transcrição gênica) (figura 11). A ligação de fatores de transcrição às

sequências promotoras de um gene tem o potencial de ativar a enzima RNA

polimerase que, em última análise, é responsável por transcrever a região

codificadora de um gene em seu RNA correspondente (ALBERTS,

JOHNSON, LEWIS et al., 2007). Assim, a própria estrutura de um gene,

combinada com fatores que muitas vezes resultam da interação do

organismo com o ambiente (como, por exemplo, exposição a agentes

patológicos, fármacos, nutrientes e o próprio exercício físico) (RAUE,

TRAPPE, ESTREM, QIAN, HELVERING, SMITH e TRAPPE, 2012),

possibilita a regulação de sua expressão.

A expressão de um gene não é regulada apenas pelo início da sua

transcrição. Tal regulação, na verdade, determinará se certo gene será ou

não transcrito, isto é, se ele será expresso ou se será mantido silenciado

(NELSON e COX, 2005). Adicionalmente, um gene ativo também pode ter

sua taxa de expressão regulada, seja por meio de sua potencialização ou de

sua repressão. Isso se dá graças à presença de sequências de DNA

(conhecidas como enhancers e repressores) que normalmente se encontram

algumas centenas ou milhares de pares de bases antes do sítio de início da

transcrição de um gene (figura 11). Assim como ocorre no controle do início

da transcrição, a taxa de expressão de um gene é aumentada ou diminuída

através de ligação dos mais diversos tipos de moléculas com as sequências

enhancers ou repressoras (LODISH, BERK, KAISER et al., 2007).

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39    

Uma das mais importantes regiões promotoras de um gene é

conhecida como TATA-box (figura 11). Tal nome deve-se ao fato de

virtualmente todos os genes apresentarem uma região rica em sequências

TATA. Essa região normalmente se localiza poucos pares de base, algumas

dezenas, antes do sítio de início da transcrição (LODISH, BERK, KAISER et

al., 2007). Sua função primária é permitir que a enzima RNA polimerase se

ligue à molécula de DNA logo antes do sítio de início da transcrição,

sinalizando onde a transcrição deve ser iniciada (LODISH, BERK, KAISER et

al., 2007). Obviamente, a sequência TATA por si só não é capaz de promover

a ligação da RNA polimerase ao DNA, pois isso redundaria na transcrição

irrestrita de virtualmente todos os genes em uma mesma célula. Ao contrário,

a sequência TATA por ser um importante promotor de transcrição gênica,

deve apresentar-se ligada a fatores de transcrição para que a enzima RNA

polimerase possa reconhecê-la e, assim, dar início à transcrição de um gene

específico (WEAVER, 2011).

Conforme mencionado anteriormente, apenas 5% do genoma humano

correspondem a sequências de DNA que contêm código para formação de

proteínas. Obviamente, 95% do DNA não é composto por sequências sem

função. Ao contrário, as sequências não codificadoras desempenham

importantes funções, dentre as quais se destacam a regulação e a

manutenção da estrutura do DNA (STRACHAN e READ, 2010).

Além das sequências regulatórias que geralmente se apresentam

antes das regiões codificadoras, os genes quase sempre possuem regiões

codificadoras que se intercalam com regiões não codificadoras. Às regiões

codificadoras dá-se o nome de éxons e, às não codificadoras, íntrons. A

figura 11 ilustra a estrutura simplificada de um gene, com suas regiões

regulatórias, éxons e íntrons.

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Figura 11. Ilustração esquemática da estrutura de um gene. A figura mostra um gene, que

ocupa uma região pequena em relação ao total de pares de bases de um cromossomo, com

suas regiões regulatórias, codificadoras (éxons) e não codificadoras (íntrons). O número de

íntrons e éxons, bem como seus tamanhos, varia de acordo com cada gene.

2.3.4. Transcrição do DNA e tradução do RNA   Quando um gene se expressa, ou é transcrito, ele é convertido em seu

RNA correspondente. Em outras palavras, uma região específica do DNA

(isto é, a parte de um gene que deve ser transcrita) é usada como molde para

que seja sintetizada uma molécula de RNA, a qual é complementar à fita

molde de DNA (figura 12) (ALBERTS, JOHNSON, LEWIS et al., 2007).

Embora esse processo guarde alguma semelhança à replicação do DNA,

inúmeras são as diferenças. Dentre as mais importantes, destacam-se: i) na

replicação, uma molécula inteira de DNA é copiada em sua totalidade,

resultando em duas moléculas de DNA idênticas. Já na transcrição, apenas

parte de um gene é transcrito; ii) na replicação, DNA dupla fita é sintetizado a

partir de DNA dupla fita. Na replicação, uma fita simples de RNA é sintetizada

a partir de DNA dupla fita; iii) na replicação, a nova fita de DNA é feita com

base em uma fita molde, adicionando-se os nucleotídeos A, C, T e G através

de ligações fosfodiéster. Na transcrição, a nova fita de RNA é sintetizada pela

adição de A, C, U (uracila) e G, também por meio de ligações fosfodiéster; iv)

na replicação, uma única enzima DNA polimerase liga-se ao DNA para fazer

uma cópia única de cada molécula. Na transcrição, diversas enzimas RNA

polimerase podem ligar-se ao DNA para fazer inúmeras cópias do RNA

daquele gene. Isso determina a taxa de transcrição do gene e pode ser

regulado pelos enhancers e pelos repressores.

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41    

Figura 12. Representação de uma molécula de RNA recém-sintetizada (destacada em

vermelho) com base na informação contida em uma sequência de DNA (gene). Note que a

sequência da fita de RNA é complementar à fita molde de DNA, o que a torna idêntica à fita

complementar de DNA (exceto pela troca de timina por uracila, em vermelho).

A troca de timina por uracila deve-se a diferenças estruturais entre

moléculas de DNA e RNA (ALBERTS, JOHNSON, LEWIS et al., 2007). Cabe

salientar que enquanto o DNA é formado por bases nitrogenadas ligadas a

uma desoxirribose, o RNA é formado pelas mesmas bases nitrogenadas

(exceção da timina que é substituída por uracila) ligadas a uma ribose (figura

13).

Figura 13. Ilustração esquemática da estrutura do RNA. O desenho mostra como as

nucleobases se ligam para formarem as fitas de RNA, por meio de ligações fosfodiéster, a

exemplo do que ocorre nas moléculas de DNA. As principais diferenças estruturais em

relação ao DNA estão destacadas em vermelho (presença da base uracila em substituição à

timina e um grupo hidroxil a mais na pentose, que a configura como uma ribose).

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42    

Para que a transcrição seja iniciada, é preciso que a enzima

responsável pela transcrição RNA polimerase (no caso dos eucariotos,

incluindo os seres humanos, a RNA polimerase II realiza a transcrição

gênica) ligue-se a regiões promotoras do gene a ser expresso. Essa ligação

só ocorrerá se fatores de transcrição estiverem anexados à região promotora

(RAUE, TRAPPE, ESTREM et al., 2012). Uma vez que a região promotora do

gene apresenta ligações com fatores de transcrição e com a RNA polimerase

II, forma-se o chamado complexo de transcrição e a transcrição tem início.

Para que a transcrição de um gene de fato ocorra é necessário,

entretanto, que a enzima RNA polimerase II tenha acesso às regiões

promotoras e ao sítio de início da transcrição (NELSON e COX, 2005). Isso

ocorre graças à ação da enzima helicase que, a exemplo do que ocorre

durante a replicação do DNA, rompe as pontes de hidrogênio das

nucleobases entre as fitas, expondo o DNA à ação da RNA polimerase. Para

evitar que a dupla fita de DNA forme superexpirais nas regiões anteriores e

posteriores ao sítio de transcrição, a enzima topoisomerase, semelhante ao

que ocorre na replicação, mantém a estrutura do DNA durante a transcrição

(NELSON e COX, 2005). A tabela 2 mostra os principais elementos

necessários para que um gene seja transcrito.

Tabela 2. Enzimas e elementos necessários para a transcrição gênica.

Elemento Função

Enzima Topoisomerase Linearizar a estrutura de hélice e manter sua estabilidade

Enzima Helicase Romper as pontes de hidrogênio, “abrindo” a dupla-fita em duas fitas simples

Fatores de transcrição Ligarem-se às regiões promotoras do DNA para ativar a RNA polimerase e dar início à transcrição daquele gene

Enzima RNA Polimerase Sintetizar a fita de RNA com base na fita molde de DNA

Nucleotídeos (A, C, U e G) Elementos indispensáveis que irão compor a nova fita de RNA

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43    

Uma vez ligada ao DNA poucos pares de bases antes do sítio de início

da transcrição, a enzima RNA polimerase inicia sua leitura do gene na

direção 5’à3’, dando início à transcrição assim que encontrar o sítio de início

de transcrição (figura 11). Durante a transcrição, a RNA polimerase utiliza

apenas uma das fitas de DNA como molde, fazendo o alongamento da

cadeia de RNA a partir da sequência encontrada no molde de DNA (figura

14) (NELSON e COX, 2005). Em consequência, a fita de RNA recém-

sintetizada terá sequência idêntica à fita de DNA complementar àquela que

foi usada como molde, exceto pelas trocas de timina por uracila (figuras 11 e

14). É importante reforçar que, diferente do DNA, o RNA apresenta-se sob a

forma de fita simples, molécula cujo nome é transcrito primário (figura 14).

Ao contrário da replicação, a transcrição não percorre toda a molécula

de DNA do início ao fim, mas tem início e término em um pequeno segmento

da fita (NELSON e COX, 2005). Assim, a transcrição não resulta em uma

forquilha, mas em uma estrutura semelhante a uma bolha, a qual é

denominada bolha de transcrição. Tal bolha nada mais é do que a região na

qual as fitas de DNA estão separadas (pela ação da helicase) e a RNA

polimerase faz a síntese da molécula de RNA com base na fita molde de

DNA (ALBERTS, JOHNSON, LEWIS et al., 2007) (figura 14).

O processo de finalização da transcrição de um gene em células

eucarióticas não é muito bem compreendido e parece ser diferente para cada

isoforma de RNA polimerase e dependente da ligação de proteínas à RNA

polimerase no sítio de término da transcrição. A figura 14 apresenta uma

representação de como ocorre esse processo de transcrição de um gene.

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44    

Figura 14. Ilustração esquemática do processo de transcrição de um gene, com a síntese de

uma molécula de RNA mensageiro a partir de um molde de DNA. A enzima RNA polimerase

é responsável pela leitura da fita molde e alongamento da fita de RNA. O sentido da leitura é

5’à3’. A quebra das pontes de hidrogênio é feita pela enzima helicase, o que forma a bolha

de replicação. A topoisomerase, por sua vez, mantém a estrutura do DNA, evitando a

formação de superexpirais antes e depois da bolha de transcrição.

O resultado final da transcrição de um gene é uma molécula de RNA

mensageiro (mRNA), conforme ilustrado nas figuras 12 e 14. Esse transcrito

primário carrega a informação (ou a mensagem) para a síntese de uma

determinada proteína e, para tanto, precisa deixar o núcleo e chegar até o

ribossomo (ALBERTS, JOHNSON, LEWIS et al., 2007). Entretanto, é

importante salientar que um gene é transcrito desde o sítio de início da

transcrição até o sítio de término da transcrição. Isso inclui regiões que não

contêm informações para a síntese proteica (figura 15), quais sejam: i) região

entre o sítio de início de transcrição e o códon inicial (ver definição de códon

adiante); ii) região entre o códon de parada e o sítio de término da

transcrição; iii) íntrons (ALBERTS, JOHNSON, LEWIS et al., 2007).

Consequentemente, um transcrito primário necessita ser processado

antes de deixar o núcleo e dirigir-se ao ribossomo. Tal processamento

envolve três etapas básicas (WEAVER, 2011). Uma delas é a adição de um

cap (cuja possível tradução para o português seria “boné” ou “touca”) à sua

extremidade 5’, também chamado de “5’ cap”. O cap recebe esse nome pelo

seu papel de “cobrir” a extremidade do RNA sujeita à ação de enzimas que

podem degradá-lo, protegendo assim o transcrito primário e preservando

sua estrutura e integridade. Do ponto de vista de sua estrutura química, o

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5’cap é uma base nitrogenada (guanina) com um grupamento metil na

posição 7 e, por isso, recebe o nome de 7-metilguanilato (WEAVER, 2011).

Além de proteger o mRNA, o 5’cap também possui outras funções, como

sinalizar o transporte do mRNA para fora do núcleo e iniciar sua tradução

nos ribossomos (WEAVER, 2011).

Uma segunda etapa é a adição de uma cauda poli-A (isto é, um

poliadenilato, ou uma cadeia de adeninas ligadas em série, com

aproximadamente 100-250 bases de comprimento) a extremidade 3’ do

transcrito primário. A cauda poli-A também tem a função de aumentar a

estabilidade do mRNA e impedir sua degradação (WEAVER, 2011).

Por fim, o transcrito primário também deve ter seus íntrons retirados

antes que possa levar a mensagem ao núcleo. Após a retirada dos íntrons,

os éxons que contém a informação para síntese da proteína devem ser

reconectados uns aos outros. Esse processo de retirada de íntrons e fixação

de éxons é chamado de splicing (WEAVER, 2011). A figura 15 ilustra o

processamento do transcrito primário.

Figura 15. Ilustração da transcrição de um gene e processamento do transcrito primário.

Diversas regiões do gene não são transcritas, mas apenas as sequências que estão

compreendidas entre os sítios de início e fim da transcrição. Como os íntrons encontram-se

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46    

nessa região, eles são transcritos, mas precisam ser removidos por meio do splicing. A figura

também ilustra o transcrito primário com sua cauda poli-A na extremidade 3’ e o 5’ cap na

extremidade 5’, bem como regiões do transcrito maduro que não são traduzidas, as UTRs

(do inglês Untranslated Region).

Interessantemente, alguns genes podem dar origem a mais uma

isoforma proteica, devido à capacidade de ocorrência de splicing alternativos.

Nos splicing alternativos, o mRNA é formado a partir de diferentes

composições de éxons, cada qual resultando em um transcrito primário com

uma sequência única de bases (figura 16) (LODISH, BERK, KAISER et al.,

2007). Assim, diferentes proteínas, ainda que com certa similaridade, podem

ser formadas a partir de um mesmo gene.

Figura 16. Ilustração esquemática de como o splicing alternativo do mesmo transcrito

primário pode levar à formação de diferentes isoformas de uma proteína.

Após o processamento do transcrito primário, o mRNA atinge o estado

de transcrito maduro, sendo então capaz de deixar o núcleo e dirigir-se ao

ribossomo. No ribossomo o mRNA maduro transmitirá a informação contida

no DNA para a síntese de uma cadeia de aminoácidos que posteriormente

será convertida em uma proteína ativa, no processo chamado de tradução.

No ribossomo, a tradução do mRNA dá-se através da leitura do código

genético, realizada pelas moléculas de RNA transportadores (tRNA).

Segundo o código genético, cada três bases da cadeia de RNA

correspondem a um aminoácido específico da cadeia polipeptídica que está

sendo sintetizada (figura 17) (LODISH, BERK, KAISER et al., 2007). Cada

trinca de bases que contém a informação para um dado aminoácido recebe o

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47    

nome de códon. Além dos códons que levam à incorporação de aminoácidos,

existem também códons que sinalizam o início da cadeia de aminoácidos

(isto é, em que posição do mRNA a tradução deve começar a ser feita), bem

como o fim da cadeia (isto é, em que posição do mRNA a tradução deve ser

interrompida) (figura 17).

Figura 17. O código genético. Cada três bases na fita de mRNA correspondem a um códon,

com a informação para a incorporação de um aminoácido específico à cadeia polipeptídica

que está sendo sintetizada. A trinca AUG, destacada em verde, corresponde ao aminoácido

metionina e é o códon de início da tradução. Já as trincas em vermelho correspondem a

códons de término da tradução (stop códons).

Para cada trinca de bases (ou códon) existe um tRNA com uma trinca

de bases complementares, isto é, com um anticódon (figura 18). Isso significa

que cada molécula de tRNA tem a capacidade de reconhecer um códon

específico do mRNA, o que ocorre graças à complementaridade

códonàanticódon. Cada tRNA carrega consigo um aminoácido

correspondente ao códon que seu anticódon é capaz de reconhecer. Assim

que um tRNA reconhece um códon no mRNA, ele adiciona seu aminoácido

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48    

correspondente à cadeia peptídica que está sendo formada (figura 18)

(LODISH, BERK, KAISER et al., 2007).

Figura 18. Ilustração esquemática da tradução de um mRNA em sua proteína

correspondente, processo que ocorre nos ribossomos. Os RNAs transportadores (tRNAs)

contém uma trica de bases, ou anticódon, capaz de reconhecer um códon do mRNA. Cada

tRNA carrega consigo o aminoácido correspondente ao códon que ele é capaz de

reconhecer. Assim que o anticódon do tRNA reconhece o códon do mRNA, o aminoácido

que ele transporta é adicionada à cadeia polipeptídica que está sendo sintetizada.

Após a síntese completa da cadeia polipeptídica, a proteína ainda não

se encontra em sua forma ativa, pois ela necessita ser submetida a

modificações pós-traducionais. Tais modificações envolvem basicamente o

enovelamento da cadeia peptídica (isto é, a formação de sua estrutura

tridimensional) e a adição de diferentes grupos químicos (como, por exemplo:

grupo heme, fosfatos, sulfetos, entre outros). Ao final desse processo, a

proteína recém-sintetizada já terá atingido seu estado ativo e poderá exercer

suas funções dentro ou fora da célula (LODISH, BERK, KAISER et al., 2007).

2.4. Reação em cadeia da polimerase (PCR)  

Em 1983, um grupo de pesquisadores da Califórnia publicou um

trabalho descrevendo uma técnica que iria revolucionar o campo da genética,

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49    

biologia molecular e ciências da saúde (BARTLETT e STIRLING, 2003).

Trata-se de uma reação que ficou conhecida como PCR (do inglês

Polymerase Chain Reaction). A reação acabou tendo tantas aplicações e

possibilitando tantos avanços científicos que foi contemplada com o prêmio

Nobel em 1993, apenas dez anos depois de sua primeira divulgação

(BARTLETT e STIRLING, 2003).

A técnica do PCR é baseada nas propriedades do DNA dupla fita e da

DNA polimerase de uma bactéria denominada Thermus Aquaticus. Essa

bactéria foi descoberta em gêiseres em 1969, quando foi demonstrado que

era capaz de se reproduzir em temperaturas extremas, de aproximadamente

70º C (BROCK e FREEZE, 1969). Em temperaturas tão altas, nenhuma

enzima de qualquer célula eucariótica é capaz de manter sua estrutura

tridimensional, tampouco de manter sua atividade biológica (VAN PELT-

VERKUIL, VAN BELKUN e HAYS, 2010). Ao mesmo tempo, em

temperaturas assim elevadas, o DNA dupla fita apresenta-se desnaturado,

isto é, com suas pontes de hidrogênio rompidas. Logo, o DNA desnaturado

não tem a estrutura de dupla fita, mas de duas fitas simples. Com base nisso,

foi possível criar uma reação na qual a enzima DNA polimerase extraída da

Thermus Aquaticus faz a extensão de uma nova cadeia de DNA (ou seja, faz

a cópia de uma fita molde de DNA) enquanto o DNA encontra-se

desnaturado (VAN PELT-VERKUIL, VAN BELKUN e HAYS, 2010).

Baseada nesse princípio básico, a reação de PCR utiliza de ciclos de

temperaturas diferentes para produzir inúmeras cópias de um fragmento de

DNA. A quantidade de cópias do(s) fragmento(s) amplificado(s) em uma

reação de PCR é tão grande, que é possível identificá-lo(s) com técnicas

simples de separação, sem que seja necessário nenhum procedimento de

purificação (VAN PELT-VERKUIL, VAN BELKUN e HAYS, 2010). Para que

possa ocorrer, a PCR requer os seguintes reagentes:

1. Enzima Taq Polimerase (DNA polimerase purificada de bactéria

Thermus Aquaticus);

2. Primers que flanqueiem a região do DNA a ser amplificada;

3. DNA que contenha a região a ser amplificada;

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50    

4. Nucleotídeos (A, C, T e G, também denominados dNTPs)

necessários para que a extensão dos fragmentos de DNA seja

realizada pela Taq Polimerase;

5. MgCl2, que doam íons Mg++ durante a reação, indispensáveis ao

funcionamento da enzima Taq Polimerase;

6. Tampão cuja formulação (isto é, concentração de sais, presença de

detergentes, antioxidantes, valor de pH e etc.) permita a atividade

ótima da enzima Taq Polimerase.

Uma vez que todos os reagentes estão presentes no tubo de ensaio,

os mesmos são submetidos a uma grande quantidade de ciclos de

temperaturas diferentes. Normalmente, uma reação convencional de PCR

utiliza cerca de 35 a 40 ciclos de 3 temperaturas, a saber: i) 95º C, durante a

qual ocorre a desnaturação das fitas de DNA; ii) 60º C, durante a qual ocorre

a anelamento dos primers às regiões do DNA que se são complementares a

eles; iii) 70º C, durante a qual a enzima Taq Polimerase apresenta sua

atividade máxima e, portanto, realiza a extensão das novas cadeias de DNA

a partir dos primers (BROWN, 2010). Normalmente, cada uma das

temperaturas é mantida por 30 a 60 segundos, mas tais condições podem

sofrer alguns pequenos ajustes, a depender do tipo de Taq Polimerase que

se está usando, do par de primers que se está usando e do tamanho do

fragmento a ser amplificado (BROWN, 2010). A figura 19 apresenta um

esquema de como funciona a reação de PCR. Nota-se que, a cada ciclo de

temperatura, a quantidade de cópias do(s) fragmento(s) de DNA é

multiplicada por 2, o que resulta em uma quantidade exponencialmente

crescente do(s) fragmento(s) amplificado(s). O padrão de amplificação do(s)

fragmento(s) deixa de ser exponencial e atinge um platô quando a reação

começa a aproximar-se de seu ponto de saturação. Isso ocorre porque a

quantidade de reagentes disponíveis do tubo de ensaio (especialmente os

dNTPs) começa a diminuir, uma vez que eles deixam de estar livres e

passam a estar incorporados nas novas cadeias de DNA sintetizadas durante

a reação (VAN PELT-VERKUIL, VAN BELKUN e HAYS, 2010). Logo, a curva

matemática que melhor representa o padrão de amplificação do(s)

fragmento(s) de DNA em uma reação de PCR está ilustrada na figura 20.

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51    

Figura 19. Ilustração esquemática do mecanismo de funcionamento da reação de PCR. Na

figura, estão representados apenas os dois primeiros ciclos, durante os quais uma única

molécula de DNA é convertida em 4 cópias do fragmento flanqueado pelos primers

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(destacados em vermelho). Em última análise, é a sequência dos primers que irá determinar

qual o segmento do DNA será amplificado durante a reação.

Figura 20. Ilustração representativa da curva que descreve o padrão de amplificação do(s)

fragmento(s) de DNA durante a reação de PCR. O número de cópias do(s) fragmento(s)

amplificado(s) varia em função do número inicial de fitas duplas de DNA que contêm o(s)

fragmento(s) a ser(em) amplificado(s). O número de ciclos necessários até que o ponto de

saturação da reação seja atingido também varia, de acordo com detalhes específicos da

reação como, por exemplo, a quantidade de reagentes disponíveis no tubo de ensaio e o

número inicial de fitas de DNA contendo o(s) fragmento(s) alvo.

Ao final da reação, é possível visualizar o fragmento amplificado ou

separar os fragmentos, caso a reação tenha sido desenhada para amplificar

mais de um segmento de DNA (BROWN, 2010). A separação é na maioria

das vezes feita por eletroforese em gel de agarose, utilizando-se algum

corante capaz de identificar DNA dupla fita (como, por exemplo, brometo de

etídio) (BROWN, 2010).

2.5. As bases genéticas da variação humana   O genoma humano é composto por ~3 bilhões de pares de bases, as

quais se encontram espalhadas por 23 pares de cromossomos e dão origem

a cerca de 25 mil genes. Todo e qualquer indivíduo da espécie humana

possui virtualmente os mesmos genes que qualquer outro indivíduo da

mesma espécie. De fato, sabe-se que as sequências de DNA são ~99,9%

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53    

idênticas entre quaisquer representantes de nossa espécie (DOLGIN, 2008b)

e que, portanto, toda a vasta diversidade que existe entre os Homens é

explicada por diferenças em apenas 0,01% do genoma. Ainda que pareça

pouco, isso equivale a cerca de 3 milhões de pares de bases.

Evidentemente, a ciência tem dedicado grandes esforços para

compreender esses 0,1% do genoma, nos quais estão as bases da variação

humana. É nessa pequena parcela polimórfica que estão respostas para

questões como susceptibilidade a doenças, respostas a tratamentos,

diversidade fenotípica (DOLGIN, 2008b) e o talento. Tal diferença

relativamente pequena no genoma pode ocorre de diversas formas, sendo a

mais comum delas a troca de pares de bases (DOLGIN, 2008b). Esse tipo de

troca pode ocorrer em apenas um par de bases, fenômeno chamado de SNP

(do inglês, single nucleotide polymorphism), ou em segmentos um pouco

maiores (SCHRIDER e HAHN, 2010).

Quando há uma troca em um único par de bases em um gene, as

consequências podem ser as mais diversas. Muitas das trocas de um único

par de bases não levam a alterações na cadeia proteica que será originada a

partir do gene polimórfico. Isso porque, conforme ilustra a figura 17, o código

genético humano é degenerado (isto é, um mesmo aminoácido é codificado

por mais de uma única combinação de trincas de bases). Exemplificando, a

troca de um C por um U no códon GUC levaria ao códon GUU. Ambos os

códons levam à incorporação do aminoácido valina à cadeia peptídica.

Assim, a troca de bases CàU levou à mudança de códon GUCàGUU, mas

não resultou em mudança no aminoácido codificado, em ambos os casos,

valina (figura 21). Esse tipo de variação tem pouco ou nenhum impacto

fenotípico e é chamado de “substituição sinônima” (STRACHAN e READ,

2010).

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54    

Figura 21. Ilustração representativa de uma substituição sinônima, na qual um único par de

bases é trocado por outro, mas não há alteração na sequência da proteína correspondente.

Todas as demais formas de troca em um único par de bases que

resultam na modificação da sequência de aminoácidos de uma proteína são

chamadas de “substituições não sinônimas”. Quando a troca de um par de

bases leva à troca de um aminoácido, diz-se que a substituição é missense

(STRACHAN e READ, 2010). Exemplificando, ao se considerar o códon UCU

(codifica o aminoácido tirosina), uma troca de C por A (CàA) levaria à

formação do códon UAU, o qual codifica uma tirosina. Como resultado,

haveria a troca do aminoácido serina por tirosina na cadeia peptídica (figura

22).

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Figura 22. Ilustração representativa de uma substituição do tipo missense, na qual uma troca

de um único par de bases resulta na troca de um aminoácido na cadeia peptídica

correspondente.

Uma outra possível consequência da troca de um par de bases é a

modificação de um códon de um aminoácido qualquer para um stop códon.

Nesses casos, a substituição chama-se nonsense (STRACHAN e READ,

2010). Como exemplo, a troca CàG no códon UAC levaria ao códon UAG, o

que implicaria o fim da síntese proteica em vez da incorporação do

aminoácido tirosina (figura 23). Certamente, substituições nonsense tendem

a ter um impacto fenotípico muito maior do que as substituições missense e

as sinônimas (STRACHAN e READ, 2010).

Figura 23. Ilustração representativa de uma substituição do tipo nonsense, na qual a troca de

um único par de bases leva à interrupção precoce da síntese da proteína correspondente

devido à inclusão de um códon de parada.

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56    

É possível, ainda, que segmentos pequenos ou um único par de bases

esteja presente em alguns indivíduos e ausente em outros, tipo de variação

que recebe o nome de “indel” (referência a “inserção/deleção”). Enquanto a

deleção de três pares de bases pode resultar na perda de apenas um

aminoácido em uma cadeia peptídica, a deleção ou inserção de um único par

de bases pode ser muito mais comprometedora para a estrutura e função de

uma proteína (STRACHAN e READ, 2010). Isso porque pode ocorrer uma

mudança no quadro de leitura (fenômeno também conhecido frameshift) em

todos os códons posteriores ao sítio de deleção ou inserção (figura 24)

(STRACHAN e READ, 2010).

Figura 24. Ilustração representativa de uma mudança de quadro de leitura (frameshift)

causada pela deleção de um único par de bases. Esse tipo de alteração poderia também ser

causado pela inserção de um ou mais pares de bases, bem como pela deleção de alguns

pares de bases. A vasta maioria dos aminoácidos localizados depois do ponto polimórfico

será diferente da sequência “original” de aminoácidos, levando à formação de uma proteína

provavelmente pouco ou nada funcional.

Uma outra importante forma de variação genotípica são as variações

de número de cópias, ou CNV (do inglês, copy number variation) (KING,

RATHOUZ e NICOLAE, 2010). Por definição CNV é um segmento de DNA

maior do que 1000 pares de bases cuja similaridade das sequências entre

indivíduos é maior do que 90%, mas que difere no número de cópias entre

diferentes indivíduos. De fato, uma região com CNV pode se apresentar

como deleção, inserção, duplicação ou até mesmo como mais de três cópias

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(BAILEY, KIDD e EICHLER, 2008; SCHRIDER e HAHN, 2010). Embora

menos comum do que os SNPs, os CNVs são responsáveis por uma maior

variação no genoma, considerando o número absoluto de pares de base

(JAKOBSSON, SCHOLZ, SCHEET et al., 2008). Isso significa que os

polimorfismos do tipo CNV são, no mínimo, tão importantes quanto os SNPs

para a variação no genoma humano. Notavelmente, muitos autores têm

considerado genes que apresentam CNV como potenciais candidatos para

associação com doenças (BAILEY, KIDD e EICHLER, 2008) e também para

a variação fenotípica comum (SCHRIDER e HAHN, 2010). De fato, sabe-se

que mais de 400 genes do genoma humano possuem esse tipo de variação

(BAILEY, KIDD e EICHLER, 2008), e que os CNVs contribuem tanto para

variação gênica (BAILEY, KIDD e EICHLER, 2008) quanto para a variação no

padrão de expressão de alguns genes (SCHRIDER e HAHN, 2010).

É importante salientar que todo e qualquer tipo de variação na

sequência de nucleotídeos de DNA terá impacto sobre a estrutura de uma

proteína apenas se ocorrer em uma região codificadora de um gene que

codifica uma proteína. Em contraste, muitos sítios polimórficos encontram-se

em regiões não codificadoras, sejam elas íntrons ou regiões regulatórias.

Ainda que variações em regiões não codificadoras não resultem, como regra,

em alteração da estrutura proteica, muitas delas são capazes de alterar

significativamente o grau de expressão da proteína, o que certamente pode

resultar em um marcante impacto biológico. Um exemplo clássico disso no

campo das ciências do esporte é o polimorfismo indel do gene ACE

(GAYAGAY, YU, HAMBLY et al., 1998), que será discutido em detalhes mais

adiante.

2.5.1. Mutação vs. Polimorfismo  

Todos os tipos de variações acima descritos podem ser considerados

polimorfismos ou mutações. Basicamente, uma variação é considerada

mutação quando leva a algum impacto negativo sobre o indivíduo e, por esse

motivo, sua frequência na população é rara (geralmente menor do que 1%).

Por outro lado, variações que não resultam em perda de função para o

indivíduo e, portanto, apresentam frequências populacionais normalmente

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superiores a 1%, são consideradas polimorfismos. Como regra geral, uma

mutação é causa de uma doença ou anormalidade de origem genética ao

passo que o polimorfismo é causa apenas de variações normais entre

indivíduos saudáveis (BRECKPOT, THIENPONT, ARENS, TRANCHEVENT,

VERMEESCH, MOREAU, GEWILLIG e DEVRIENDT, 2011).

2.6. Herdabilidade de variáveis associadas ao desempenho esportivo

  Embora a identificação de genes que se associam ao desempenho

esportivo tenha sido iniciada há pouco mais de dez anos, diversos estudos

anteriores já haviam produzido evidências de que algumas variáveis

determinantes do desempenho físico e esportivo apresentam um forte

componente herdado.

Lortie et al. (LORTIE, SIMONEAU, HAMEL, BOULAY, LANDRY e

BOUCHARD, 1984) em 1984 foi um dos primeiros a demonstrar que a

variação interindividual da resposta do VO2max ao treino aeróbio é enorme.

Em seu estudo, 24 indivíduos jovens e sedentários (13 mulheres e 11

homens) foram submetidos a 20 semanas de treinamento físico aeróbio e

avaliados antes e após o período de treino. O ganho médio de VO2max após o

treinamento foi de ~35%. Todavia, alguns sujeitos responderam com ganho

ínfimo de potência aeróbia (isto é, 5% de aumento no VO2max) ao passo que,

no outro extremo, outros indivíduos experimentaram ganhos de cerca de

90%, o que corresponde a, aproximadamente, 1 L de O2. Tal variação

ocorreu a despeito do estímulo de treino ter sido idêntico para todos os

indivíduos, o que levou os autores a especular que diferentes genótipos

poderiam explicar tamanha variação no ganho de VO2max. Além disso, a

magnitude do ganho de VO2max também variou bastante entre esses dois

extremos, conforme ilustra a figura 25. Estudos posteriores realizados em

diferentes centros com um grupo bastante numeroso de sujeitos confirmaram

o mesmo padrão de variação na resposta ao treino (BOUCHARD, AN, RICE,

SKINNER, WILMORE, GANONG, PERUSSE, LEON e RAO, 1999).

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Figura 25. Ilustração representativa da variação interindividual no ganho de VO2max em

resposta ao treinamento físico aeróbio. Cada barra cinza representa o ganho de VO2max de

cada indivíduo (desenhado a partir de Bouchard et al. (BOUCHARD, AN, RICE et al., 1999)).

Assim como o VO2max, a composição dos tipos de fibras musculares é

também uma variável que indubitavelmente interfere no desempenho

esportivo e que apresenta elevado grau de variação interindividual. Um

estudo realizado com mais de 400 indivíduos norte-americanos de ambos os

sexos (SIMONEAU e BOUCHARD, 1989) mostrou que cerca de 25% da

amostra apresentou menos de 35% ou mais de 65% de fibras do tipo I. Isso

significa que significativa parcela da população possui um percentual muito

baixo ou muito alto de fibras do tipo I e que, assim, a variação individual é

muito grande e, como tal, não pode ser negligenciada. É necessário saber,

contudo, qual o grau de influência da genética nessa variação.

De fato, um estudo de 1977 realizado com 31 pares de ambos os

sexos de gêmeos dizigóticos e homozigóticos (KOMI, VIITASALO, HAVU,

THORSTENSSON, SJODIN e KARLSSON, 1977) demonstrou que a

distribuição dos tipos de fibras musculares é fortemente influenciada por

fatores genéticos. Mais detalhadamente, esses autores retiraram uma

amostra do músculo vasto medial por meio de biópsia e compararam a

variação da distribuição dos tipos de fibra e da atividade de diversas enzimas

musculares entre os gêmeos. Os autores verificaram que, diferente do

observado nos gêmeos não idênticos, a distribuição dos tipos de fibras era

essencialmente idêntica entre os irmãos homozigóticos. Assim, foi calculado

que o fator de herdabilidade desse fenótipo é de ~95%. Por outro lado, não

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60    

foi verificada influência de fatores genéticos sobre a atividade das enzimas

ATPase, creatina fosfoquinase, mioquinase, fosforilase e lactato

desidrogenase.

Em contraste, um estudo posterior realizado pelo mesmo grupo de

pesquisadores revelou que, quando os dados são ajustados pela idade e

gênero, o percentual de herdabilidade da distribuição dos tipos de fibra varia

em torno de 50% (BOUCHARD, SIMONEAU, LORTIE, BOULAY,

MARCOTTE e THIBAULT, 1986). Outras fontes de variação desse fenótipo

estão relacionadas a fatores ambientais (cerca de 40%) e de questões

técnicas, como coleta, processamento e análise da amostra de tecido

muscular (cerca de 10%) (SIMONEAU e BOUCHARD, 1989).

O mesmo estudo mostrou, ainda, que a relação oxidativa/glicolítica

(avaliada pela razão de atividade das enzimas chaves da via glicolítica e do

ciclo de Krebs, LDH/OGDH) do músculo também é significantemente

influenciada por fatores hereditários. Confirmando os resultados do estudo

anterior (KOMI, VIITASALO, HAVU et al., 1977), o trabalho de Bouchard et al.

(BOUCHARD, SIMONEAU, LORTIE et al., 1986) também produziu

evidências de que a atividade da maioria das enzimas envolvidas no

metabolismo energético muscular é majoritariamente dependente de fatores

ambientais.

A despeito da considerável influência genética sobre a composição

das fibras musculares em estado não treinado, a resposta dos tipos de fibra

ao treinamento aeróbio parece não estar relacionada a fatores genéticos

(RICO-SANZ, RANKINEN, JOANISSE, LEON, SKINNER, WILMORE, RAO e

BOUCHARD, 2003). Esse dado foi confirmado por estudos com gêmeos

tanto após um período de treinamento anaeróbio de alta intensidade

(SIMONEAU, LORTIE, BOULAY, MARCOTTE, THIBAULT e BOUCHARD,

1986) quanto após o treinamento de endurance (HAMEL, SIMONEAU,

LORTIE, BOULAY e BOUCHARD, 1986). Interessantemente, a resposta ao

treinamento da atividade de algumas enzimas musculares envolvidas no

metabolismo energético (por exemplo: CK, PFK, e citrato sintase) parecer ser

influenciada por fatores genéticos (SIMONEAU, LORTIE, BOULAY et al.,

1986; RICO-SANZ, RANKINEN, JOANISSE et al., 2003), ao contrário do que

parece ocorrer para este fenótipo no estado não treinado.

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61    

As influências genéticas que, ao menos em parte, comandam

fenótipos como a potência aeróbia, a atividade de enzimas oxidativas e

glicolítica, e a distribuição dos tipos de fibras musculares permaneceram

indeterminadas por muito tempo (SIMONEAU e BOUCHARD, 1995). Ainda

que a ciência esteja muito longe do completo entendimento dessas questões,

estudos mais recentes começaram a identificar polimorfismos que até certo

ponto explicam a variação interindividual de fenótipos relacionados ao

desempenho esportivo. Esses polimorfismos serão discutidos nos tópicos

que seguem.

2.7. Polimorfismos associados à aptidão física e ao desempenho esportivo

  Embora existam atualmente centenas de polimorfismos associados ao

desempenho esportivo, as evidências para a maioria deles ainda são

bastante limitadas (RANKINEN, ROTH, BRAY et al., 2010). Assim, este

tópico abordará apenas os dois polimorfismos que cuja quantidade de

estudos e evidências disponíveis permitem determinar a associação com o

desempenho de forma mais conclusiva. A saber, são os polimorfismos I/D do

gene ACE1 e R577X do gene ACTN3.

2.7.1. Enzima conversora de angiotensina   Um polimorfismo no gene que codifica a enzima conversora de

angiotensina (ECA), a qual desempenha papel crucial no sistema renina-

angiotensina-aldosterona, foi o primeiro a ser descrito como capaz de

influenciar o desempenho esportivo, em um estudo de bastante repercussão

publicado na revista Nature em 21 de maio de 1998 por Montgomery e seus

colaboradores (MONTGOMERY, MARSHALL, HEMINGWAY et al., 1998).

Já é bem conhecida a função chave que o sistema renina-

angiotensina-aldosterona exerce sobre a homeostase circulatória (GUYTON

e HALL, 2001). Brevemente, o peptídeo angiotensinogênio é produzido e

liberado na circulação sanguínea pelos hepatócitos. O angiotensinogênio é

uma longa cadeia peptídica de ação biológica direta negligenciável, embora

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62    

sua concentração plasmática seja regulada por alguns hormônios, como o

estrógeno e o hormônio tireoidiano T3. A principal função do

angiotensinogênio, contudo, é servir de substrato da renina, uma enzima

produzida por células renais especializadas e liberada na corrente sanguínea

em resposta à queda da pressão arterial, diminuição da concentração

plasmática de sódio e ao aumento da atividade nervosa simpática. A renina

age sobre o angiotensinogênio, clivando-o e dando origem a um

oligopeptídeo composto por 10 aminoácidos denominado angiotensina I. Tal

qual o angiotensinogênio, a angiotensina I parece não possuir efeito biológico

relevante, senão servir como substrato de uma outra enzima presente no

sangue, a enzima conversora de angiotensina. A ECA, por sua vez, retira

dois aminoácidos da angiotensina I, clivando-a e dando origem a um

oligopeptídeo extremamente ativo composto por 8 aminoácidos, cuja

denominação é angiotensina II. A angiotensina II possui potentes efeitos

sistêmicos, os quais são mediados pelo receptor de angiotensina I (AT1-R) e

culminam em aumento da pressão arterial. Trata-se, assim, de um sistema

capaz de evitar ou contornar crises hipotensivas. Dentre esses efeitos

sistêmicos, destacam-se a ação direta nos vasos periféricos, causando

vasoconstrição, e a ação mediada pela aldosterona, causando diminuição da

eliminação de água e sódio pelos rins. Além dos efeitos sistêmicos clássicos,

outro importante efeito da ECA é a clivagem da bradicinina, um oligopeptídeo

composto por 9 aminoácidos que possui potente ação vasodilatadora

(DENDORFER, WOLFRUM, WAGEMANN, QADRI e DOMINIAK, 2001). Ao

ser clivada pela ECA, a bradicinina deixa de exercer sua ação de

relaxamento dos vasos.

Em adição aos efeitos sistêmicos mencionados acima, o sistema

renina-angiotensina também possui alguns efeitos locais, tanto parácrinos

quanto autócrinos, que podem ser observados em diferentes tecidos e que

são de grande importância biológica. Em geral, esses efeitos estão

relacionados ao crescimento tecidual e à resposta de reparo tecidual após

uma injúria (PUTHUCHEARY, SKIPWORTH, RAWAL, LOOSEMORE, VAN

SOMEREN e MONTGOMERY, 2011). Dos efeitos locais desse sistema que

apresentam implicações para o cenário esportivo, pode-se destacar:

alteração do uso de lipídios como substrato energético nas células

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63    

musculares (RENNIE, WINDER e HOLLOSZY, 1976), alteração da

densidade mitocondrial dos miócitos e alteração do conteúdo de mioglobulina

das células musculares esqueléticas (BLOOM, JOHNSON, PARK, RENNIE e

SULAIMAN, 1976; HUDLICKA, WRIGHT, HOPPELER e UHLMANN, 1988).

Embora existam diversos polimorfismos nos genes que codificam as

proteínas envolvidas no sistema renina-angiotensina-aldosterona

(PUTHUCHEARY, SKIPWORTH, RAWAL et al., 2011), a variante mais

estudada até o momento é, sem dúvidas, a rs4340 do gene ACE1 (nome

oficial do gene, do inglês Angiotensin-Converting Enzyme). Trata-se de um

polimorfismo do tipo indel (ou I/D), no qual um fragmento de 288 pares de

bases pode estar presente (genótipo I – inserção) ou ausente (genótipo D –

deleção) no íntron 16 do gene que, por sua vez, encontra-se no cromossomo

17 (www.ncbi.nlm.nih.gov/projects//SNP/snp_ref.cgi?rs=4340).

Estudos mostram que os níveis plasmáticos de ECA são altamente

variáveis entre diferentes indivíduos (ALHENC-GELAS, RICHARD,

COURBON, WARNET e CORVOL, 1991) e que o polimorfismo I/D do gene

ACE1 contribui com cerca de 50% da variação observada nesse fenótipo

(RIGAT, HUBERT, ALHENC-GELAS, CAMBIEN, CORVOL e SOUBRIER,

1990). Mais especificamente, o alelo sem o fragmento de 288 pares de bases

(ou seja, o alelo D), está associado com elevada atividade da ECA no plasma

e nos tecidos (RIGAT, HUBERT, ALHENC-GELAS et al., 1990; DANSER,

SCHALEKAMP, BAX, VAN DEN BRINK, SAXENA, RIEGGER e

SCHUNKERT, 1995). Portanto, o alelo D está relacionado à exacerbação do

sistema renina-angiotensina-aldosterona, tanto em nível sistêmico quanto em

nível tecidual (PUTHUCHEARY, SKIPWORTH, RAWAL et al., 2011), fato que

não ocorre para o alelo I.

De fato, o trabalho pioneiro de Montgomery e colaboradores

(MONTGOMERY, MARSHALL, HEMINGWAY et al., 1998) foi o primeiro a

demonstrar como esse polimorfismo poderia influenciar o desempenho

esportivo. Partindo de evidências de que existe um sistema muscular renina-

angiotensina de ação local (RENELAND e LITHELL, 1994), os autores

formularam a hipótese de que o alelo D pudesse favorecer o crescimento do

tecido muscular e, assim, influenciar o desempenho (MONTGOMERY,

MARSHALL, HEMINGWAY et al., 1998). Contudo, os autores relatam que

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64    

seus estudos preliminares apontavam que o alelo I estava associado ao

desempenho de endurance. Para testar essa hipótese, dois experimentos

diferentes foram conduzidos.

No primeiro experimento, 25 montanhistas com histórico de escaladas

superiores a 7000 metros de altura fizeram parte do estudo. Eles foram

genotipados para os alelos D/I do gene ACE1 e a frequência dos alelos e dos

genótipos foi comparada com a de 1906 sujeitos não atletas (grupo controle).

Foi observado que a frequência do alelo I e do genótipo II foi

significativamente maior no grupo de atletas em relação ao controle. Ainda,

dentre os 15 montanhistas que conseguiram escalar altitudes superiores a

8000 metros sem suplementação de oxigênio, nenhum era homozigoto para

o alelo D. Por fim, dentre os escaladores com maior número de escaladas

superiores a 8000 metros, todos eram homozigotos para o alelo I

(MONTGOMERY, MARSHALL, HEMINGWAY et al., 1998).

No segundo experimento, 78 adultos jovens tiveram seu genótipo

determinado e foram submetidos a 10 semanas de treinamento físico geral.

Antes e após o período de treinamento, os sujeitos realizaram um teste de

repetições máximas de flexão de cotovelo com uma carga de 15 kg. Os

autores verificaram que os 66 sujeitos que tinham o alelo I (isto é, DI ou II)

experimentaram melhoras no desempenho após o período de treino,

enquanto que os sujeitos DD não apresentaram melhora alguma.

Comparando somente os homozigotos, a melhora no desempenho nos

indivíduos II foi onze vezes maior do que a melhora nos indivíduos DD. Uma

vez que o treino não foi específico para a tarefa avaliada e que não teve

duração suficiente para promover hipertrofia muscular, essa diferença na

resposta ao treinamento não pode ser explicada por diferenças na adaptação

neuromuscular, tampouco por diferenças no crescimento muscular entre os

genótipos. Os autores sugerem que o alelo I, pela menor atividade do

sistema renina-angiotensina, é capaz de favorecer o desempenho de

endurance por um ou mais dos seguintes mecanismos: maior vasodilatação,

maior oxidação de gorduras, maior densidade mitocondrial muscular, maior

conteúdo de mioglobulina ou por diferenças na composição das fibras

musculares (MONTGOMERY, MARSHALL, HEMINGWAY et al., 1998).

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65    

Menos de dois meses depois da publicação do trabalho de

Montgomery e colegas, Gaygay et al. (GAYAGAY, YU, HAMBLY et al., 1998)

também apresentaram dados confirmando a associação do alelo I no

desempenho de endurance. Nesse estudo, 64 remadores australianos (43

homens e 21 mulheres) que participaram da seletiva nacional para os jogos

olímpicos de Atlanta foram genotipados para a o polimorfismo I/D do gene

ACE1. A frequência dos alelos e dos genótipos foi comparada com 114

controles saudáveis. Segundo os autores, o remo foi escolhido por ser um

esporte de endurance. Foi verificado que o alelo I é super-representado entre

os remadores e que o genótipo I/I também é consideravelmente mais

frequente nos atletas do que nos controles (GAYAGAY, YU, HAMBLY et al.,

1998).

Em seguida, inúmeros outros estudos reproduziram dados de maior

frequência do alelo I em atletas de endurance, corroborando a hipótese de

associação com o desempenho de resistência. Tais estudos foram feitos em

coortes mistas de atletas de endurance de diferentes modalidades

(ALVAREZ, TERRADOS, ORTOLANO, IGLESIAS-CUBERO, REGUERO,

BATALLA, CORTINA, FERNANDEZ-GARCIA, RODRIGUEZ, BRAGA,

ALVAREZ e COTO, 2000; TURGUT, TURGUT, GENC, ATALAY e ATALAY,

2004; MORAN, VASSILOPOULOS, TSIOKANOS, JAMURTAS, BAILEY,

MONTGOMERY, WILSON e PITSILADIS, 2006), e também em grupos de

atletas de modalidades específicas, como natação (TSIANOS, SANDERS,

DHAMRAIT, HUMPHRIES, GRANT e MONTGOMERY, 2004), corrida (MIN,

TAKAHASHI, ISHIGAMI, HIRANUMA, MIZUNO, ISHII, KIM e NAKAZATO,

2009) e triátlon (COLLINS, XENOPHONTOS, CARIOLOU, MOKONE,

HUDSON, ANASTASIADES e NOAKES, 2004).

Além da maior frequência do alelo I em atletas de endurance, outros

estudos também mostraram que atletas carregando o alelo I desempenham

melhor tarefas de endurance, sejam elas testes de desempenho ou o

sucesso em situações reais (ZHAO, MOOCHHALA, THAM, LU, CHIA,

BYRNE, HU e LEE, 2003; CAM, COLAKOGLU, SEKURI, COLAKOGLU,

SAHAN e BERDELI, 2005; TSIANOS, ELEFTHERIOU, HAWE, WOOLRICH,

WATT, WATT, PEACOCK, MONTGOMERY e GRANT, 2005;

HRUSKOVICOVA, DZURENKOVA, SELINGEROVA, BOHUS,

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66    

TIMKANICOVA e KOVACS, 2006; MORAN, VASSILOPOULOS,

TSIOKANOS et al., 2006).

Se, por um lado, o alelo I tem sido consistentemente associado ao

desempenho de endurance, o alelo D, por sua vez, tem sido associado ao

desempenho em tarefas de curta duração, com forte componente de força,

potência e velocidade. Cerit et al. (CERIT, COLAKOGLU, ERDOGAN,

BERDELI e CAM, 2006), por exemplo, investigando os efeitos de 6 meses de

treinamento físico sobre o desempenho em corrida de 2400 m em jovens

saudáveis não atletas, verificaram que os indivíduos com o genótipo DD

melhoraram mais o desempenho do que aqueles com genótipo DI ou II. Além

disso, esses autores também observaram um “efeito de dose” do alelo D

sobre as melhoras no desempenho, de tal forma que o grupo DD foi melhor

do que o DI que, por sua vez, foi melhor do que o II (CERIT, COLAKOGLU,

ERDOGAN et al., 2006).

No mesmo sentido, os trabalhos de Costa et al. (COSTA, SILVA,

GARRIDO, LOURO, DE OLIVEIRA e BREITENFELD, 2009) e Woods et al.

(WOODS, HICKMAN, JAMSHIDI, BRULL, VASSILIOU, JONES,

HUMPHRIES e MONTGOMERY, 2001) também mostraram que o alelo D é

super-representado em nadadores de elite que competem em provas de

curta e média distância. Outra importante evidência da associação do alelo D

com tarefas com predominância de força vem do estudo de Juffer et al.

(JUFFER, FURRER, GONZALEZ-FREIRE, SANTIAGO, VERDE,

SERRATOSA, MORATE, RUBIO, MARTIN, RUIZ, ARENAS, GOMEZ-

GALLEGO e LUCIA, 2009), o qual mostrou que a frequência do alelo D é

maior em jogadores profissionais de futebol quando comparados com

corredores de longa distância. Similarmente, Colakoglu et al. (COLAKOGLU,

CAM, KAYITKEN, CETINOZ, COLAKOGLU, TURKMEN e SAYIN, 2005)

demonstraram que indivíduos homozigotos para o alelo D apresentam

maiores ganhos de força em resposta ao treinamento de força.

Apesar da quantidade grande de investigações confirmando a

associação do alelo I com o desempenho de endurance e a associação do

alelo D com o desempenho de força e potência, a literatura científica não é

unânime nesse aspecto, já que alguns estudos falharam em demonstrar tais

associações (TAYLOR, MAMOTTE, FALLON e VAN BOCKXMEER, 1999;

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67    

RANKINEN, WOLFARTH, SIMONEAU, MAIER-LENZ, RAURAMAA,

RIVERA, BOULAY, CHAGNON, PERUSSE, KEUL e BOUCHARD, 2000; OH,

2007). Além dos estudos que não mostraram nenhuma associação do

polimorfismo I/D do gene ACE1 com o desempenho esportivo, outros

demonstraram ainda associações incomuns entre o alelo D e o desempenho

de endurance (LUCIA, GOMEZ-GALLEGO, CHICHARRO, HOYOS, CELAYA,

CORDOVA, VILLA, ALONSO, BARRIOPEDRO, PEREZ e EARNEST, 2005).

Obviamente, esses estudos que produziram resultados controversos não

invalidam a forte associação dessa variante gênica com o desempenho.

Alguns autores ponderam que a principal causa de tais resultados

discrepantes é a heterogeneidade das amostras, em sua maioria compostas

por atletas de diferentes modalidades esportivas e/ou de diferentes origens

étnicas, além da inclusão de atletas que não são, de fato, competidores de

elite (RANKINEN, ROTH, BRAY et al., 2010; PUTHUCHEARY, SKIPWORTH,

RAWAL et al., 2011).

2.7.2. ACTN-3   Sarcômeros são as unidades contráteis dos músculos estriados. As

principais proteínas contráteis do músculo esquelético são actina e miosina,

cujos polímeros formam os filamentos finos e grossos do aparato contrátil,

respectivamente (GUYTON e HALL, 2001). Ambos os filamentos finos e

grossos ancoram-se nas linhas Z do sarcômero (figura 25). As proteínas alfa-

actininas são as principais componentes da linha Z, e suas principais funções

são manter o metabolismo e a estrutura do citoesqueleto, coordenando o

processo de contração muscular (BLANCHARD, OHANIAN e CRITCHLEY,

1989; MACARTHUR e NORTH, 2004; MACARTHUR, SETO, CHAN et al.,

2008). Isso ocorre porque essas proteínas mantêm os filamentos de actina

em arranjos paralelos, favorecendo a interação proteica (figura 26). Além

disso, as alfa-actininas são responsáveis por manter a integridade da linha Z,

devido à sua interação com componentes do citoesqueleto (YANG, GARTON

e NORTH, 2009).

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Figura 26. Ilustração representativa da ultraestrutura do sarcômero de uma célula muscular

estriada esquelética (acima). No quadro inferior está representada a linha Z com mais

detalhes, sendo possível observar o papel das alfa-actininas no ancoramento dos filamentos

finos de actina.

Em humanos, estão presentes no músculo esquelético duas isoformas

de alfa actinina: alfa-actinina-2 e alfa-actinina-3, codificadas por dois genes

diferentes, quais sejam: ACTN2 e ACTN3, respectivamente. Enquanto o

ACTN2 é expresso em todas as fibras musculares, o ACTN3 é expresso

somente nas fibras do tipo IIb (com menor função oxidativa e maior função

glicolítica) (MILLS, YANG, WEINBERGER, VANDER WOUDE, BEGGS,

EASTEAL e NORTH, 2001; YANG, GARTON e NORTH, 2009).

O gene ACTN3 encontra-se no cromossomo 11, possui 16407 pares

de bases e mais de 130 variações comuns, porém a maior parte delas ocorre

em regiões intrônicas e não resulta em alterações fenotípicas aparentes

(www.genome.uscs.edu). Contudo, existe uma variante polimórfica do gene

ACTN3 que ocorre na posição 1747 do gene, em uma região codificadora, e

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69    

consiste na troca de citosina por uma timina no (CàT). Essa troca resulta na

substituição de um códon do aminoácido arginina (R) por um stop códon

prematuro (X), na posição 577 da cadeia polipeptídica

(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/projects/SNP/snp_ref.cgi?rs=1815739). Logo,

trata-se de um polimorfismo do tipo nonsense e sua denominação é “R577X”

(número de referência rs1815739). Tal variante, embora bastante comum na

população caucasiana geral (NORTH, YANG, WATTANASIRICHAIGOON et

al., 1999), resulta em uma proteína truncada não funcional. O alelo nulo é

denominado X, ao passo que o alelo não polimórfico que produz a proteína

íntegra é denominado R. Vale salientar que indivíduos homozigotos para o

alelo X (XX) possuem deficiência total na proteína alfa-actinina-3, ao passo

que é assumido que indivíduos com o genótipo RX (ou seja, que carregam

um alelo funcional e o outro nulo) produzem cerca de metade da quantidade

de alfa-actinina-3 daqueles que carregam os dois alelos funcionais (RR). É

provável que a alfa-actinina-2 compense a ausência de alfa-actinina-3 nas

fibras do tipo II em indivíduos que carregam o alelo X, haja vista a que a

ausência de alfa-actinina-3 não acarreta nenhuma anormalidade fenotípica

(BERMAN e NORTH, 2010).

Embora essa compensação possa conduzir à ideia de que as alfa-

actininas 2 e 3 possuam funções redundantes, alguns autores consideram tal

hipótese pouco provável. Isso porque a sequência do gene ACTN3

provavelmente surgiu da sequência do ACTN2 há cerca de 300 milhões de

anos, e ambas as sequências têm se mantido altamente conversadas ao

longo desse período em diversas espécies (MILLS, YANG, WEINBERGER et

al., 2001). Outra importante evidência que dá suporte à tese de funções

distintas entre ACTN2 e ACTN3 é o padrão de expressão desses genes

durante o desenvolvimento embrionário. Segundo Mills et al. (2001), esses

genes expressam-se tanto em momentos quanto em locais diferentes.

Dessa forma, acredita-se que pressões seletivas ambientais dirigiram

mais ou menos a presença ou ausência do gene polimórfico na população.

Interessantemente, dados sobre a frequência do polimorfismo em diferentes

populações indicam que o gene pode, de fato, ter sofrido pressões

ambientais. Estudos mostram que a frequência do genótipo XX na população

comum varia de 1%, como ocorre em populações africanas Buntu (YANG,

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70    

MACARTHUR, WOLDE, ONYWERA, BOIT, LAU, WILSON, SCOTT,

PITSILADIS e NORTH, 2007), até aproximadamente 25%, como ocorre no

leste asiático (NORTH, 2008). Na Europa, a frequência desse polimorfismo

atinge cerca de 18% da população (NORTH, YANG,

WATTANASIRICHAIGOON et al., 1999). Provavelmente, a ausência da

proteína alfa-actinina-3 confere um padrão de aptidão física que pôde ter sido

desfavorável para a sobrevivência em certas regiões da África, mas

adequado para a sobrevivência na Ásia (MILLS, YANG, WEINBERGER et al.,

2001; MACARTHUR e NORTH, 2004).

Com base nessa perspectiva evolutiva de conservação diferencial do

polimorfismo R577X em populações distintas, alguns autores conjecturaram

que essa variante poderia estar associada com a função musculoesquelética

(YANG, MACARTHUR, GULBIN et al., 2003). De fato, diversos estudos de

associação mostraram que a produção de alfa-actinina-3 influencia o

desempenho do músculo esquelético, favorecendo a tese de que o

polimorfismo pode ter sido selecionado em função de pressões ambientais

que exigiam um perfil metabólico mais direcionado à produção de força ou ao

metabolismo oxidativo (YANG, MACARTHUR, GULBIN et al., 2003;

CLARKSON, DEVANEY, GORDISH-DRESSMAN, THOMPSON, HUBAL,

URSO, PRICE, ANGELOPOULOS, GORDON, MOYNA, PESCATELLO,

VISICH, ZOELLER, SEIP e HOFFMAN, 2005; DELMONICO, KOSTEK,

DOLDO, HAND, WALSH, CONWAY, CARIGNAN, ROTH e HURLEY, 2007;

MACARTHUR, SETO, RAFTERY et al., 2007; DRUZHEVSKAYA,

AHMETOV, ASTRATENKOVA e ROGOZKIN, 2008; MACARTHUR, SETO,

CHAN et al., 2008; AHMETOV, DRUZHEVSKAYA, LYUBAEVA, POPOV,

VINOGRADOVA e WILLIAMS, 2011; CHIU, WU, TANG, YU, HSIEH e

HSIEH, 2011; GINEVICIENE, PRANCULIS, JAKAITIENE, MILASIUS e

KUCINSKAS, 2011; PASQUA, ARTIOLI, PIRES et al., 2011).

Um grupo de pesquisadores australianos liderado pela Profa. Kathryn

North foi o primeiro a publicar evidências contundentes de que o polimorfismo

R577X está associado com o desempenho esportivo (YANG, MACARTHUR,

GULBIN et al., 2003). Mais especificamente, 301 atletas australianos de elite,

todos caucasianos, de diferentes modalidades esportivas, foram genotipados

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71    

quanto ao polimorfismo R577X do gene ACTN3 e comparados com 436

controles, também caucasianos. Todos os atletas avaliados competiram

internacionalmente, dos quais 50 já haviam participado dos jogos olímpicos.

Eles foram divididos em dois grupos distintos: os atletas dedicados a

modalidades de força e potência e os de endurance. Os resultados

mostraram que a frequência do alelo X não diferiu entre os atletas e os

controles. Entretanto, quando os atletas foram separados em modalidades de

força/potência e endurance, foi observado que o alelo R foi super-

representado nos atletas de força/potência (50% de indivíduos RR vs. 30%

no grupo controle). Da mesma forma, alelo X foi subrepresentado nos atletas

de força/potência (6% de indivíduos XX vs. 18% no grupo controle). Já os

atletas de endurance apresentaram frequência maior do alelo X em relação

ao grupo controle (24% vs. 18%). A frequência dos alelos R e X em direções

opostas nos atletas de força/potência e endurance resultam em um processo

de “cancelamento” das diferenças, o que explica porque não foram

observadas diferenças quando o grupo de atletas como um todo foi

comparado ao grupo controle.

Esses dados indicam que a presença da alfa-actinina-3 pode ter um

papel no desenvolvimento de força e produção de energia em atividades de

alta intensidade e curta duração, ao passo que sua ausência pode favorecer

o metabolismo aeróbio e a resistência à fadiga. De fato, os autores

especulam que a alfa-actinina-3 pode ser responsável por transmitir a força

gerada na linha Z durante a contração muscular rápida (YANG,

MACARTHUR, GULBIN et al., 2003). Vale salientar que alguns estudos

mostram que as alfa-actininas sarcoméricas ligam-se à frutose-1,6-

bisfosfatase (GIZAK, RAKUS e DZUGAJ, 2003), glicogênio fosforilase

(CHOWRASHI, MITTAL, SANGER e SANGER, 2002) e calsarcinas (FREY e

OLSON, 2002). Isso sugere que a presença da alfa-actinina-3 pode estimular

a atividade de enzimas importantes da via glicolítica, bem como a atividade

da calsarcina. Considerando que as calsarcinas modulam a calcineurina, um

fator de sinalização para determinação da distribuição dos tipos de fibras

musculares (SERRANO, MURGIA, PALLAFACCHINA, CALABRIA,

CONIGLIO, LOMO e SCHIAFFINO, 2001), é possível que a alfa-actinina-3

também possa influenciar a proporção de fibras de contração lenta e rápida,

Page 58: SUMÁRIO€¦ · Assim, Kiss e colaboradores (KISS, BÖHME, MANSOLDO, DEGAKI e REGAZZINI, 2004) pontuam que o desempenho esportivo deve ser entendido como um sistema aberto que expressa

72    

mais especificamente contribuindo para maior quantidade de fibras do tipo II

(YANG, MACARTHUR, GULBIN et al., 2003).

É interessante notar que, no estudo de Yang et al. (2003), as

diferenças na frequência dos alelos R entre atletas de força/potência foram

mais acentuadas no sexo feminino do que no masculino. Segundo os

autores, o efeito dos hormônios esteroides anabólicos produzidos em

grandes quantidades pelos homens pode se sobrepor aos efeitos do alelo R,

minimizando sua importância para o desenvolvimento de força muscular. Nas

mulheres, em consequência da produção relativamente baixa desses

hormônios, o alelo R provavelmente tem um papel mais visível no

desenvolvimento da força muscular. Isso pode explicar porque nenhum atleta

olímpico de força/potência do sexo feminino apresentou o genótipo XX

(frequência de 71% do alelo R), fato que não foi observado no sexo

masculino.

Diversos estudos posteriores confirmaram os dados de Yang et al.

(2003), fortalecendo as evidências de que o polimorfismo R577X do gene

ACTN3 influencia o sucesso competitivo de atletas de força/potência (para os

que carregam o alelo R) e o de endurance (para os que carregam o alelo X)

(AHMETOV, DRUZHEVSKAYA, LYUBAEVA et al., 2011; PASQUA, ARTIOLI,

PIRES et al., 2011). Os dados de frequência do polimorfismo foram

reproduzidos em diferentes populações, como do sudeste asiático (CHIU,

WU, TANG et al., 2011), Rússia (DRUZHEVSKAYA, AHMETOV,

ASTRATENKOVA et al., 2008), Israel (EYNON, ALVES, YAMIN, SAGIV,

DUARTE, OLIVEIRA, AYALON, GOLDHAMMER e MECKEL, 2009), Grécia

(PAPADIMITRIOU, PAPADOPOULOS, KOUVATSI e TRIANTAPHYLLIDIS,

2008) e China (SHANG, HUANG, CHANG, ZHANG e HUANG, 2010), entre

outras. Alguns desses estudos também confirmaram que a influência desse

polimorfismo sobre o desempenho é maior em atletas do sexo feminino em

relação aos do sexo masculino (SHANG, HUANG, CHANG et al., 2010;

CHIU, WU, TANG et al., 2011).

Embora a maioria dos estudos tenha indicado a associação do

polimorfismo R577X do gene ACTN3 com o desempenho esportivo, alguns

poucos trabalhos falharam em reproduzir esses dados (YANG,

MACARTHUR, WOLDE et al., 2007; DORING, ONUR, GEISEN, BOULAY,

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73    

PERUSSE, RANKINEN, RAURAMAA, WOLFAHRT e BOUCHARD, 2010).

Provavelmente, o polimorfismo não influencia o desempenho esportivo em

todas as populações, como é o caso do leste e do oeste asiático (YANG,

MACARTHUR, WOLDE et al., 2007), da Jamaica e de negros norte-

americanos (SCOTT, IRVING, IRWIN, MORRISON, CHARLTON, AUSTIN,

TLADI, DEASON, HEADLEY, KOLKHORST, YANG, NORTH e PITSILADIS,

2010). Apesar disso, estudos com atletas caucasianos não observaram

diferenças na frequência dos genótipos e dos alelos entre atletas e controles

(SAUNDERS, SEPTEMBER, XENOPHONTOS, CARIOLOU,

ANASTASSIADES, NOAKES e COLLINS, 2007; DORING, ONUR, GEISEN

et al., 2010). Uma possível explicação para a falta de associação observada

nos estudos de Doring et al. (2010) e Saunders et al. (2007) é a composição

de suas amostras, que contaram apenas com atletas do sexo masculino.

Ainda que os estudos de associação tenham mostrado de forma

bastante consistente a influência do alelo R para o desempenho de

força/potência, muitos estudos que utilizaram outras abordagens

experimentais não foram capazes de demonstrar o papel da presença da

alfa-actinina-3 na produção de força e potência. Mais especificamente, o

desempenho de potência de membros superiores em jogadores de vôlei

parece não ser influenciado pelo genótipo R577X (RUIZ, FERNANDEZ DEL

VALLE, VERDE, DIEZ-VEGA, SANTIAGO, YVERT, RODRIGUEZ-ROMO,

GOMEZ-GALLEGO, MOLINA e LUCIA, 2011). O mesmo parece ocorrer com

os índices de desempenho em ciclistas de endurance profissionais (LUCIA,

GOMEZ-GALLEGO, SANTIAGO, BANDRES, EARNEST, RABADAN,

ALONSO, HOYOS, CORDOVA, VILLA e FOSTER, 2006). Assim como

ocorre em atletas, os índices de desempenho muscular, avaliados por meio

do teste de Wingate (NORMAN, ESBJORNSSON, RUNDQVIST et al., 2009;

HANSON, LUDLOW, SHEAFF, PARK e ROTH, 2010) e de avaliação

isocinética (HANSON, LUDLOW, SHEAFF et al., 2010), não são diferentes

entre os genótipos RR, RX e XX em indivíduos fisicamente ativos.

Em 2007, o mesmo grupo australiano que publicou o primeiro estudo

com ACTN3 e desempenho esportivo apresentou dados de um modelo

animal desenvolvido para mimetizar o genótipo XX de humanos

(MACARTHUR, SETO, RAFTERY et al., 2007). Trata-se de um camundongo

Page 60: SUMÁRIO€¦ · Assim, Kiss e colaboradores (KISS, BÖHME, MANSOLDO, DEGAKI e REGAZZINI, 2004) pontuam que o desempenho esportivo deve ser entendido como um sistema aberto que expressa

74    

nocaute para o gene ACTN3. Em consonância com os dados de frequência

dos genótipos que indicam o favorecimento do alelo X para o metabolismo

aeróbio e do alelo R para a produção de força, estudos experimentais com os

animais ACTN3-/- mostraram que a ausência da alfa-actinina-3 leva ao

aumento de importantes enzimas do metabolismo aeróbio, como NADH-

redutase, citrato sintase, citocromo-C oxidase e succinato desidrogenase,

além de redução de enzimas da via glicolítica, como a lactato desidrogenase

(MACARTHUR, SETO, RAFTERY et al., 2007). No mesmo sentido,

marcadores mitocondriais também se mostraram aumentados nos

camundongos nocaute (MACARTHUR, SETO, RAFTERY et al., 2007). Em

relação o desempenho, os camundongos XX conseguiram correr uma

distância, em média, 33% maior do que seus pares selvagens em um teste

máximo até a exaustão (MACARTHUR, SETO, RAFTERY et al., 2007).

É interessante notar que a falta da alfa-actinina-3 foi compensada por

um aumento da expressão de alfa-actinina-2 nos animais nocaute

(MACARTHUR, SETO, RAFTERY et al., 2007). Apesar da ausência da

proteína, nenhuma alteração fenotípica ou histológica foi observada na

musculatura esquelética desses animais (MACARTHUR, SETO, RAFTERY et

al., 2007). Ainda assim, os camundongos nocaute apresentam redução da

massa magra total, causada provavelmente pela redução no diâmetro das

fibras do tipo IIb (MACARTHUR, SETO, CHAN et al., 2008), o que pode ser

demonstrado pela diminuição da massa de todos os grupos musculares

compostos por fibras brancas (MACARTHUR, SETO, CHAN et al., 2008).

Diminuição da força de preensão e alteração das propriedades contráteis do

músculo isolado (i.e., aumento do tempo de relaxamento e melhor

recuperação da fadiga) também são características dos camundongos

ACTN3-/- que corroboram a hipótese de mudança na distribuição dos tipos

de fibra e do metabolismo muscular em consequência da ausência da

proteína alfa-actinina-3 (MACARTHUR, SETO, CHAN et al., 2008; YANG,

GARTON e NORTH, 2009).

Em humanos, os dados sobre a influência dos genótipos sobre os

tipos de fibras musculares ainda são controversos. Vincent et al. (2007),

avaliando amostras do músculo vasto lateral de 90 homens saudáveis,

mostraram que o percentual de fibras do tipo IIx é maior em indivíduos RR

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75    

em relação aos XX. Por outro lado, Norman et al. (2009) não demonstraram

qualquer dependência entre os genótipos RR, RX ou XX e o padrão de

distribuição de fibras em 120 homens e mulheres treinados (NORMAN,

ESBJORNSSON, RUNDQVIST et al., 2009). Sem dúvidas, mais estudos com

humanos se fazem necessários para determinar de forma mais clara a

influência do polimorfismo R577X sobre o padrão de distribuição de fibras

musculares e seu impacto sobre o metabolismo energético muscular.

2.8. O gene PDLIM3 como candidato a associação com o desempenho esportivo

  O gene PDLIM3 (ou ALP; accession number NM_014476) encontra-se

no cromossomo 4, banda q35.1, mais especificamente entre os pares de

bases 186422852 e 186456712. O mesmo é composto for 33861 pares de

bases, formando 8 éxons. A proteína codificada pelo gene PDLIM3 também

é chamada de PDLIM3, ou ALP (do inglês, Alpha-actinin-associated LIM

Protein).

Em humanos, o gene é altamente expresso nos tecidos musculares,

em especial os estriados, embora níveis discretos de expressão tenham sido

detectado em outros tecidos (OHSAWA, KOEBIS, SUO, NISHINO e

ISHIURA, 2011). Isso sugere que a principal função da PDLIM3 esteja

relacionada à estrutura ou funcionamento do sarcômero.

A proteína PDLIM3 foi identificada e descrita pela primeira vez em

1997, a partir de amostras de músculo esquelético e cardíaco de ratos (XIA,

WINOKUR, KUO, ALTHERR e BREDT, 1997). Inicialmente, duas isoformas

diferentes foram identificadas, resultantes de splicings alternativos. Uma

delas foi primordialmente encontrada no músculo cardíaco enquanto a outra

isoforma foi primordialmente encontrada no músculo esquelético (XIA,

WINOKUR, KUO et al., 1997). Ambas isoformas são constituídas por 3

regiões diferentes: domínio PDZ (N-terminal), domínio central e LIM (C-

terminal) (figura 27). Na isoforma cardíaca, o domínio central é composto por

182 aminoácidos ao passo que a isoforma do músculo esquelético contém

230 aminoácidos (figura 26) (XIA, WINOKUR, KUO et al., 1997). A proteína

PDLIM3 se colocaliza com as alpha-actininas na linha Z sarcomérica

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76    

(AROLA, SANCHEZ, MURPHY, HASLE, LI, ELLIOTT, MCKENNA, TOWBIN

e BOWLES, 2007), provavelmente em função da capacidade que o domínio

PDZ tem de interagir com a região C-terminal das alpha-actininas (XIA,

WINOKUR, KUO et al., 1997) (figura 27).

Figura 27. Ilustração esquemática das duas isoformas da proteína PDLIM3 (ALP)

inicialmente identificadas em músculo esquelético e cardíaco de ratos (XIA, WINOKUR, KUO

et al., 1997) (painel à esquerda). A estrutura das alfa-actininas-sarcoméricas e seus

domínios estão representados no painel à direita (XIA, WINOKUR, KUO et al., 1997; YANG,

GARTON e NORTH, 2009).

O tema estrutural PDZ (sigla que representa as iniciais das três

primeiras proteínas que foram descritas com o mesmo domínio: PSD95, Dlg1

e Zo-1) é comumente encontrado em diversas proteínas, a maioria das quais

interage com outras proteínas do citoesqueleto (PONTING e PHILLIPS,

1995). Os temas PDZ geralmente contêm entre 80 e 120 aminoácidos e

apresentam múltiplas funções, dentre as quais se destaca a transmissão de

sinais que chegam à membrana celular para proteínas-alvo intracelular (XIA,

WINOKUR, KUO et al., 1997).

Já os domínios LIM são compostos por dois domínios do tipo Zinc-

finger contíguos e recebem esse nome por estarem presentes nas proteínas

Lin11, Isl1 e Mec3, as três primeiras descritas que dividiam o mesmo domínio

(BACH, 2000). No músculo esquelético, proteínas contendo o domínio LIM

são capazes de se interagir com fatores de transcrição (WADMAN, LI, BASH,

FORSTER, OSADA, RABBITTS e BAER, 1994), proteína quinase C

(KURODA, TOKUNAGA, KIYOHARA, HIGUCHI, KONISHI, MIZUNO, GILL e

KIKKAWA, 1996) e receptor de tirosina quinase (WU, DURICK, SONGYANG,

CANTLEY, TAYLOR e GILL, 1996). Sabe-se que o músculo esquelético

possui uma proteína composta apenas por um domínio LIM (MLP, do inglês

Muscle LIM Protein), a qual se encontra na linha Z dos sarcômeros e tem

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77    

importante função na regulação da diferenciação miogênica no período

embrionário (ARBER, HALDER e CARONI, 1994). Considerando que o

domínio LIM da PDLIM3 interage com o domínio LIM de outras proteínas, é

possível que a proteína PDLIM3 interaja com a MLP e, de alguma forma,

interfira no processo de diferenciação muscular (XIA, WINOKUR, KUO et al.,

1997).

Embora a literatura científica não disponha de muitas informações

sobre as funções da proteína PDLIM3, tem sido sugerido que essa proteína

desempenhe papéis na estabilização estrutural do miócito, na geração e

transmissão de tensão mecânica durante a contração e na

mecanotransdução de sinais durante os processos de crescimento e

remodelamento (CLARK, MCELHINNY, BECKERLE e GREGORIO, 2002).

Um estudo recente confirmou, em humanos, que PDLIM3 é altamente

expressa no músculo esquelético, e demonstrou que existem três isoformas

da proteína, todas resultantes de splicings diferentes (OHSAWA, KOEBIS,

SUO et al., 2011). Em condições normais, apenas duas dessas isoformas

são encontradas no músculo esquelético (PDLIM3a e PDLIM3c). Uma delas,

a PDLIM3a, tem 364 aminoácidos e resulta de um splicing que mantém os

éxons 2-3-5-6-7. A outra, PDLIM3c, tem 276 aminoácidos, resulta de um

splicing alternativo que mantém os éxons 2-3-5-7 (isto é, exclui o éxon 6) e é

menos expressa do que a PDLIM3a (OHSAWA, KOEBIS, SUO et al., 2011).

Interessantemente, uma isoforma que só é expressa no músculo durante o

desenvolvimento embrionário foi encontrada em grandes quantidades em

amostras de músculo esquelético de um paciente adulto com distrofia

muscular miotônica (OHSAWA, KOEBIS, SUO et al., 2011). Trata-se de uma

isoforma de 316 aminoácidos proveniente de um splicing que, em músculo

esquelético maduro é aberrante, e que mantém os éxons 2-3-4-7 (isto é,

exclui os éxons 5 e 6, mas inclui o éxon 4) (OHSAWA, KOEBIS, SUO et al.,

2011) (figura 28).

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Figura 28. Representação das três isoformas da proteína PDLIM3 (ALP) encontradas em

humanos, resultantes de splicings alternativos do mesmo transcrito primário. As isoformas

PDLIM3a e PDLIM3c são encontradas no músculo esquelético adulto, sendo a isoforma “a” a

mais predominantemente expressa. A isoforma PDLIM3b é expressa apenas durante o

desenvolvimento embrionário, mas foi encontrada no músculo esquelético de um paciente

adulto com distrofia muscular (OHSAWA, KOEBIS, SUO et al., 2011).

Essa isoforma anormal da proteína PDLIM3 é muito raramente

encontrada em pacientes com distrofia miotônica, o que indica que tal

condição clínica, na maioria dos casos, não tem relação com PDLIM3.

Entretanto, a alta expressão da isoforma embrionária (PDLIM3b) encontrada

em um paciente com distrofia amiotônica sugere que anormalidades na

PDLIM3 também podem levar à anormalidades fenotípicas no músculo

esquelético (OHSAWA, KOEBIS, SUO et al., 2011). Sabe-se que PDLIM3 é

da mesma família da proteína ZASP (também conhecida como Cypher ou

LDB3) (MCKEOWN, HAN e BECKERLE, 2006), cuja variante truncada já foi

relacionada com miopatia congênita em humanos (SELCEN e ENGEL, 2005).

Conforme mencionado anteriormente, a PDLIM3 liga-se às alfa-

actininas, o que ocorre via domínio PDZ. Para que tal interação ocorra, o

tema semelhante ao ZASP, codificado pelo éxon 6, é essencial. Logo, as

isoformas que não incluem o éxon 6 (isto é, isoformas “b” e “c”) podem não

se ligar de forma apropriada às alfa-actininas, o que poderia de alguma forma

explicar os sintomas de distrofia muscular observados no paciente que não

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79    

expressava a isoforma “a” no músculo esquelético (OHSAWA, KOEBIS, SUO

et al., 2011).

Algumas outras importantes funções têm sido atribuídas à proteína

PDLIM3. Segundo Pomies et al. (POMIES, PASHMFOROUSH, VEGEZZI et

al., 2007), essa proteína pode regular a diferenciação muscular durante o

período embrionário, uma vez que a falta de PDLIM3 afeta a expressão de

MyoD e miogenina, responsáveis pelos estágios iniciais da formação e pela

manutenção dos mioblastos. Uma importante evidência que apoia essa teoria

é o fato da expressão do gene PDLIM3 ser drasticamente regulado para mais

durante a diferenciação muscular (POMIES, PASHMFOROUSH, VEGEZZI et

al., 2007). É provável que o éxon 6 tenha função específica no músculo

esquelético maduro, o que possivelmente ocorre via interação com as alfa-

actininas (OHSAWA, KOEBIS, SUO et al., 2011). Já o éxon 4 pode exercer

algum papel importante no desenvolvimento do músculo (OHSAWA,

KOEBIS, SUO et al., 2011), muito embora sua exata função ainda permaneça

desconhecida.

Estudos in vitro mostraram que PDLIM3 aumenta a capacidade das

alfa-actininas de se ligar aos filamentos de actina, o que indica que PDLIM3

tem algum papel na organização do sarcômero e ancoramento dos filamentos

finos de actina (PASHMFOROUSH, POMIES, PETERSON et al., 2001). De

fato, a superexpressão de PDLIM3 demonstrou-se capaz de induzir arranjos

de actinina altamente robustos e organizados (PASHMFOROUSH, POMIES,

PETERSON et al., 2001).

Estudos com camundongos nocaute para o gene PDLIM3

demonstraram prejuízo na função cardíaca, alterações na câmara ventricular

direita e cardiomiopatia no ventrículo direito (PASHMFOROUSH, POMIES,

PETERSON et al., 2001). Curiosamente, outro estudo que utilizou um modelo

de camundongo nocaute para o gene PDLIM3 não observou qualquer

alteração evidente no tecido muscular esquelético (JO, RUTTEN, BUNN et

al., 2001), o que refuta todas as funções atribuídas ao gene PDLIM3 para o

desenvolvimento do músculo esquelético durante o período embrionário e

para a manutenção de sua estrutura e regulação de seu funcionamento após

no período maduro. Entretanto, é importante ressaltar que o estudo de Jo et

al. (JO, RUTTEN, BUNN et al., 2001) gerou camundongos nocautes apenas

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80    

para o éxon 1 do gene PDLIM3. Embora os autores tenham assumido que a

falta do éxon 1 iria levar à produção de uma proteína não funcional, é muito

provável que os camundongos nocautes de seu estudo não fossem, de fato,

nulos para a forma funcional da proteína PDLIM3, haja vista que,

posteriormente, foi demonstrado que o éxon 1 não participa de nenhuma das

isoformas da proteína (figura 27) (OHSAWA, KOEBIS, SUO et al., 2011).

Assim, as escassas evidências apontam, até o momento, para um papel

importante da proteína PDLIM3 no desenvolvimento e manutenção dos

músculos estriados esquelético e cardíaco.

A respeito do gene PDLIM3, estudos mostram que ele consta dentre

os cerca de 250 genes do genoma humano que apresentam polimorfismos

de variação do número de cópias (BAILEY, KIDD e EICHLER, 2008;

CONRAD, PINTO, REDON, FEUK, GOKCUMEN, ZHANG, AERTS,

ANDREWS, BARNES, CAMPBELL, FITZGERALD, HU, IHM,

KRISTIANSSON, MACARTHUR, MACDONALD, ONYIAH, PANG, ROBSON,

STIRRUPS, VALSESIA, WALTER, WEI, TYLER-SMITH, CARTER, LEE,

SCHERER e HURLES, 2010). Uma análise in silico realizada por nosso

grupo de pesquisa em bancos de dados sobre genes constatou que existe

um polimorfismo do tipo CNV no gene PDLIM3 que consiste na inserção ou

deleção de cerca de 2600 pares de base em uma região não codificadora,

mais especificamente no íntrons 3. Embora nosso grupo não tenha

encontrado nenhum dado na literatura a respeito dos efeitos desse CNV

sobre a estrutura, função ou regulação da expressão da proteína, dados não

publicados do Wellcome Trust Sanger Institute (Daniel G McArthur,

comunicação pessoal) verificou, em um estudo piloto, que a frequência do

polimorfismo foi de 100% em uma população da Etiópia (20 polimorfismos em

20 sujeitos avaliados) e de apenas 10% em uma população caucasiana

europeia (2 polimorfismos em 20 sujeitos).

Considerando sua importante função no desenvolvimento do tecido

muscular estriado, na regulação da estrutura sarcomérica, sua importante

relação com as alfa-actininas e sua provável frequência diferencial entre

etnias, o polimorfismo de variação no número de cópias do gene ALP torna-

se uma importante variante candidata a apresentar relação com a função da

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81    

musculatura esquelética e/ou cardíaca e, por consequência, com o

desempenho esportivo.

Assim sendo, o presente projeto de pesquisa teve como objetivos

avaliar a associação entre o CNV do gene ALP e o sucesso competitivo e

avaliar o impacto do polimorfismo na expressão gênica e protéica de ALP

(PDLIM3) e de alfa-actinina 3 no músculo esquelético de Humanos

saudáveis.

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3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo geral   Com base no que foi discutido até então, o presente estudo tem por

objetivo avaliar a associação do polimorfismo de variação do número de

cópias do gene PDLIM3 com o estado atlético.

3.2. Objetivos específicos   São objetivos específicos deste estudo:

1. Construir um amplo banco de DNA de atletas de diferentes

modalidades esportivas e de controles não atletas para que estudos

futuros sobre genética e esporte possam ser realizados no Brasil;

2. Determinar a frequência do polimorfismo CNV do gene PDLIM3 na

população geral brasileira e contrastá-la com uma coorte de atletas

brasileiros;

3. Determinar a frequência do polimorfismo CNV do gene PDLIM3 na

população geral australiana e contrastá-la com uma coorte de atletas

australianos;

4. Avaliar a associação do polimorfismo CNV do gene PDLIM3 com o

estado atlético considerando as especificidades do esporte, como

solicitação predominante (força/potência ou resistência), nível

competitivo e modalidade específica;

5. Avaliar o impacto do polimorfismo CNV do gene PDLIM3 sobre a

expressão da proteína ALP no músculo esquelético.

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83    

4. MÉTODOS

4.1. Construção do banco de DNA de atletas e controles não atletas

4.1.1. Participantes  

Por meio de contato direto com atletas, colegas, técnicos e dirigentes

esportivos, convidamos o maior número possível de atletas a participar da

coleta de material biológico. Para ser considerado atleta, o indivíduo deveria

ter dedicação de, no mínimo, 6 horas por semana aos treinos de sua

modalidade esportiva, ser federado e participar regularmente de competições

oficiais de sua modalidade esportiva. No momento da coleta, cada atleta

preencheu um questionário informando sobre a modalidade em que era

especialista, horas de treinamento por semana, histórico competitivo,

competição mais proeminente em que já havia participado, além de etnia

própria e etnia dos pais.

Para coleta de material biológico dos indivíduos não atletas, nossa

equipe dirigiu-se a diversas unidades da Universidade de São Paulo (FFLCH,

FEA, POLI, EEFE e CEPE) e convidou o maior número possível de

estudantes que transitavam próximos dos pesquisadores para participar do

estudo. Para serem considerados controles não atletas, os indivíduos não

poderiam se encaixar nos critérios adotados neste estudo para definição de

atleta. No momento da coleta, cada indivíduo respondia a um questionário

informando a etnia própria, etnia dos pais e a presença de desordens

genéticas conhecidas. O único critério de exclusão adotado foi a presença de

doença de origem genética (cromossômica ou monogênica) confirmada por

diagnóstico clínico e molecular.

Todos os procedimentos deste estudo foram aprovados pelos Comitês

de Ética da EEFE-USP e do Children’s Hospital at Westmead, Sydney,

Austrália. Antes de participarem das coletas de material biológico, os sujeitos

eram esclarecidos sobre os objetivos do estudo, os procedimentos que

seriam utilizados e sobre o armazenamento de seu material genético. Em

seguida, os participantes assinaram o termo de consentimento livre e

esclarecido.

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Aos sujeitos foi dado o direito de optar por permitir ou não o

armazenamento de seu DNA para estudos futuros e por conhecer ou não os

resultados do estudo. As amostras de todos os indivíduos que não permitiram

armazenamento foram descartadas tão logo as análises deste estudo foram

concluídas.

4.1.2. Coleta de material biológico para extração do DNA genômico   O DNA genômico dos participantes foi extraído a partir de amostras de

sangue venoso ou de lavagens bucais. Nas coletas de sangue venoso, cerca

de 5 ml de sangue era retirado por meio de punção da veia antecubital em

tubos a vácuo (Vacutainer, BD®) contendo anticoagulante EDTA. O sangue

coletado era armazenado a -80º C até o momento da extração do DNA.

Nas coletas de lavagem bucal, os indivíduos eram instruídos a realizar

uma breve limpeza da boca utilizando soro fisiológico para que a presença de

restos de alimentos ou outros contaminantes fosse minimizada. Em seguida,

os pesquisadores pediam que os sujeitos raspassem a linga e bochechas

com os dentes, a fim de aumentar a quantidade de células da mucosa bucal

coletada durante o bochecho. Cerca de 10 ml de soro fisiológico era então

fornecido aos sujeitos em tubos livres de DNA e DNAse, para que eles

fizessem um forte e prolongado bochecho. Ao final do bochecho, o material

era coletado em um tubo cônico de 50 ml livre de DNA a DNAse. O

procedimento era repetido três vezes por coleta. Os tubos contendo o

produto da lavagem bucal eram armazenados a -20º C até o momento da

extração do DNA.

4.1.3. Extração de DNA genômico das amostras de sangue   Cerca de 700 µl do sangue coletado era transferido para um microtubo

de 1,7 ml contendo cerca de 900 µl de tampão de lise de células vermelhas

(0,01 M Tris-HCl pH 7,6; 320 mM sacarose; 5 mM MgCl2; 1% Triton X-100).

Após leve agitação, o tubo era submetido à centrifugação a 2000 g por 4

minutos e o sobrenadante era descartado. Ao pellet remanescente, 1000 µl

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85    

do mesmo tampão era adicionado e o procedimento era repetido duas ou três

vezes, até que as células vermelhas tivessem sido quase 100% eliminadas.

Em seguida, o pellet contendo o concentrado de células brancas era

submetido à lise por meio da adição de um tampão de lise de células brancas

(0.01 M Tris-HCl pH 7,6; 11,4 mM citrato de sódio; 1 mM EDTA; 1% dodecil

sulfato de sódio) e 100 µl de NaCl 5 M. Após a lise, as amostras eram

separadas por gradiente de densidade utilizando-se 300 µl de clorofórmio e

centrifugação a 5000 g por 5 minutos. Ao final da centrifugação, o

sobrenadante contendo ácidos nucleicos era transferido a um novo

microtubo. Os ácidos nucleicos eram precipitados pela adição de 500 µl de

etanol 100% ou isopropanol 100% e separados por centrifugação a 3000 g

por 5 minutos. Após a retirada do sobrenadante, o pellet contendo ácidos

nucleicos purificados era deixado em temperatura ambiente por 15 minutos

para evaporação de etanol e isopropanol residuais. Finalizada a secagem, o

pellet era ressuspendido em 100-300 µl de tampão TE (Tris-EDTA) livre de

DNA e DNAse. O DNA purificado era então submetido à determinação da

concentração e pureza por meio de leituras espectrofotométricas (NanoDrop

ND 2000®) e armazenado a -20º C para posterior análise.

4.1.4. Extração de DNA genômico das amostras de lavagem bucal   Os tubos cônicos contendo o produto da lavagem bucal eram,

inicialmente, submetidos à centrifugação a 7000 g por 10 minutos para

separar as células da mucosa do soro fisiológico e da saliva. A maior

quantidade possível de células era então transferida para um microtubo de

1,7 ml juntamente com 700 µl de tampão de lise celular (100 mM Tris-HCl pH

8,0; 0,5 mM EDTA; 0,2 M NaCl; 0,2% SDS; 50 mg Proteinase K) para

incubação por mínimo de 8 horas a 55º C. Após a incubação, as amostras

eram separadas por gradiente de densidade utilizando-se 300 µl de

clorofórmio e centrifugação a 5000 g por 5 minutos. Ao final da centrifugação,

o sobrenadante contendo ácidos nucleicos era transferido a um novo

microtubo. Os ácidos nucleicos eram precipitados pela adição de 500 µl de

etanol 100% ou isopropanol 100% e separados por centrifugação a 3000 g

por 5 minutos. Após a retirada do sobrenadante, o pellet contendo ácidos

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86    

nucleicos purificados era deixado em temperatura ambiente por 15 minutos

para evaporação de etanol e isopropanol residuais. Finalizada a secagem, o

pellet era ressuspendido em 100-300 µl de tampão TE (Tris-EDTA) livre de

DNA e DNAse. O DNA purificado era então submetido à determinação da

concentração e pureza por meio de leituras espectrofotométricas (NanoDrop

ND 2000®) e armazenado a -20º C para posterior análise.

4.2. Estudo de associação do polimorfismo CNV do gene PDLIM3 com o desempenho esportivo

4.2.1. Participantes   Fizeram parte deste estudo 1074 indivíduos dos gêneros masculino e

feminino, os quais foram classificados como atletas (n=635) ou controles não

atletas (n=439). Nenhum indivíduo da amostra possuía qualquer relação

conhecida de parentesco com qualquer outro indivíduo. Do total de 1074

sujeitos avaliados, 617 pertenceram à coorte de indivíduos brasileiros

(atletas: n=328; controles: n=289) enquanto 457 pertenceram à coorte de

indivíduos australianos (atletas: n=307; controles: n=150). Somente

indivíduos caucasianos fizeram parte da coorte australiana ao passo que

representantes das principais etnias (isto é, brancos, negros, pardos,

asiáticos e índios) foram incluídos na coorte brasileira. A etnia dos

participantes foi determinada de forma autorrelatada, conforme procedimento

adotado pelo IBGE (IBGE, 2008). Atletas de diversas modalidades esportivas

de ambos os gêneros e de todos os níveis competitivos foram avaliados nas

coortes brasileira e australiana. Os critérios para classificação do nível

competitivo dos atletas estão descritos na Tabela 3. As características gerais

dos participantes deste estudo estão apresentadas nas Tabelas 4 e 5.

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Tabela 3. Critérios adotados neste estudo para classificação dos atletas segundo seu nível

competitivo (adaptado de Ostrander et al. 2009(OSTRANDER, HUSON e OSTRANDER,

2009).

Classificação Critério

Alta-elite Participante de jogos olímpicos, campeonatos mundiais ou

competição equivalente em sua modalidade

Elite Participante de campeonatos continentais

Sub-elite Participante de campeonatos nacionais

Não elite Participante de campeonatos estaduais ou regionais

Tabela 4. Características gerais das coortes avaliadas neste estudo. *diferente de controles

(p<0,05; teste do qui-quadrado); NA=não se aplica; SI=sem informação. Dados apresentados

em %(número de indivíduos).

Coorte brasileira (n= 617) Coorte australiana (n= 457)

atletas (n=328) controles (n=289) atletas (n=307) controles (n=150)

Homens 72% (237)* 57% (166) 65% (200) 66% (99)

Mulheres 28% (91)* 43% (123) 35% (107) 34% (51)

Etnia

branco 57,1% (186)* 73,3% (211) 100% (307) 100% (150)

negro 13,1% (43)* 6,6% (19) 0% 0%

pardo 25,2% (82)* 12,8% (37) 0% 0%

asiático 4% (13) 7,3% (21) 0% 0%

índio 0,6% (2) 0% 0% 0%

Classificação

alta-elite 24% (79) NA SI NA

elite 14% (45) NA SI NA

sub-elite 39% (130) NA SI NA

não elite 23% (77) NA SI NA

Predomínio

força/potência 76% (246) NA 36,5% (112) NA

resistência 24% (79) NA 63,5% (195) NA

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Tabela 5. Modalidades esportivas dos participantes deste estudo.

Coorte brasileira Coorte australiana

Lutas judô 11,8% (39) 2,9% (9) jiu-jitsu 9% (30) 0% MMA 3% (10) 0% luta-olímpica 0,3% (1) 0% tae-kwon-do 0,3% (1) 0% muai-tai 0,9% (3) 0% Esportes coletivos basquete 9,9% (33) 0% vôlei 8,2% (27) 0% futebol 0,3% (1) 0% polo aquático 0,3% (1) 0% Atletismo 100m e 200m 4,0% (13) 8,5% (26) 110m c/ barreira 2,4% (8) 5,9% (18) lançamento martelo 0,3% (1) 0% salto em distância 0,3% (1) 1,6% (5) salto com vara 0,9% (3) 0% 800m/maratona/triátlon 1,5% (5) 4,6% (14) Ciclismo velocidade (pista) 5,5% (18) 2,3% (7) resistência (estrada) 16,3% (54) 24,8% (76) Natação <400m 11,2% (37) 14,3% (44) >400m 1,2% (4) 4,9% (15) Canoagem velocidade 4,0% (13) 0% maratona/remo 5,1% (17) 27% (83) Esqui velocidade 0% 1,0% (3) endurance 0% 2,3% (7) Ginástica olímpica 3,3% (11) 0% Dados expressos em % (número de indivíduos).

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4.2.2. Determinação do genótipo relativo ao polimorfismo CNV do gene PDLIM3

  O DNA extraído e purificado de cada participante foi submetido à

reação em cadeia da polimerase utilizando-se três primers diferentes (Tabela

6) que permitiram amplificar a região com o polimorfismo (inserção de ~2600

pares de bases) ou sem o polimorfismo (deleção).

Tabela 6. Sequências dos três primers utilizados neste estudo para amplificação das regiões

contendo ou não a inserção.

Designação do primer Sequência

PDLIM3-Forward TGACGCAAAGTCATGGAATG

PDLIM3-Reverse TTCGAGGTCTTCACCCAGAT

PDLIM3-Insertion TACCTGGACCAACCAGAAGG

O primer Forward foi desenhado para se anelar a uma sequência não

variável na região upstream em relação ao ponto de quebra da inserção, de

tal forma que o mesmo anela-se ao DNA de todos os indivíduos,

independente de apresentarem ou não a inserção (figura 28). O primer

Reverse foi desenhado para anelar-se a uma sequência não variável na

região downstream em relação ao ponto de quebra da inserção, de tal forma

que ele se anela ao DNA de todos os indivíduos, independente de

apresentarem ou não a inserção (figura 28). Já o primer Insertion foi

desenhado para anelar-se a uma região exclusiva da inserção, localizada

cerca de 500 pares de base downstream ao ponto de quebra. Dessa forma, a

reação de PCR em indivíduos homozigotos que apresentem a inserção (isto

é, genótipo I/I) vai resultar em fragmentos de apenas um tamanho, com 632

pares de bases (resultado da amplificação direcionada pelos primers

Forward+Insertion). Em indivíduos homozigotos sem a inserção (isto é,

genótipo D/D), a reação terá como produto fragmentos com um único

tamanho, com 152 pares de bases (resultado da amplificação direcionada

pelos primers Forward+Reverse). Já os indivíduos heterozigotos (isto é,

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90    

genótipo D/I), ambos os fragmentos poderão ser visualizados ao final da

reação de PCR (figura 29).

Figura 29. Ilustração da reação de PCR desenhada especificamente para amplificar o

fragmento de inserção do gene PDLIM3 e, assim, determinar o genótipo para o polimorfismo

CNV do gene PDLIM3.

As reações de PCR foram preparadas em microtubos de 0,1 ml

contendo: 1 µl de DNA a 10 ng/µl, 1,0 ul de cada primer a 10 nM, 1,6 µl de

MgCl2 a 25 mM, 1,6 µl de dNTPs a 10 mM, 4 µl de 5x Green Buffer

(Promega®), 0,2 µl da enzima GoTaq Polimerase (Promega®) a 5 U/µl e 8,6 µl

de água ultrapura livre de DNA a DNAse (Invitrogen®), totalizando volume

final de reação de 20 µl. Após o preparo das amostras e reagentes, os tubos

eram alocados em um termociclador (Rotor Gene Q, Quiagen®) e submetidos

à seguinte condição de ciclagem de temperatura:

a) 94º C por 2 minutos (desnaturação inicial);

b) 94º C por 30 segundos (desnaturação);

c) 61º C por 30 segundos (anelamento dos primers);

d) 72º C por 60 segundos (extensão das cadeias pela Polimerase);

e) 72º C por 7 minutos (período final de extensão das cadeias),

sendo que os ciclos “b”, “c” e “d” foram repetidos por 40 vezes.

Após a amplificação, os fragmentos foram separados em função de

seu tamanho por eletroforese em gel de agarose 2%, corados com brometo

de etídio e visualizados por meio de luz ultravioleta, com o auxílio de um

transiluminador acoplado a um fotodocumentador (Image-Quant, GE®). A

determinação dos genótipos era feita visualmente, observando-se a presença

dos fragmentos de 152 e 632 pares de bases, conforme indica a figura 28.

Para garantir a correção na determinação dos genótipos e para assegurar de

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91    

que as reações não estavam apresentando fragmentos oriundos de

contaminação, a cada corrida eram acrescentados controles positivos (isto é,

amostras cujos genótipos já eram conhecidos) e controles negativos (isto é,

mistura de reagentes sem a presença de DNA).

4.2.3. Validação da reação de PCR   Para garantir que a reação de PCR estava, de fato, amplificando os

fragmentos desejados do gene PDLIM3, amostras de 3 indivíduos

genotipados como D/D e de outros 3 genotipados como I/I foram submetidas

à amplificação por PCR conforme descrito acima, ajustando-se o volume final

para 40 µl. Após a amplificação, todo o volume da reação foi aplicado ao gel

de agarose para confirmação da reação e dos genótipos. Ao final da

eletroforese e após a confirmação dos genótipos, as bandas contendo os

fragmentos amplificados foram cortadas do gel manualmente, com o auxílio

de um bisturi e, em seguida, inseridas em um microtubo para purificação. Os

fragmentos foram purificados e separados da agarose utilizando-se um kit

comercialmente disponível (Jetquick Gel Extraction Spin Kit 50, Genomed®).

Após a extração dos fragmentos do gel, os mesmos foram preparados para

reação de sequenciamento adicionando-se 1 µl de cada primer aos tubos, os

quais foram devidamente etiquetados e enviados para um laboratório

especializado em sequenciamento (Children’s Hospital at Westmead,

Sydney, Austrália). O resultado do sequenciamento foi entregue em formato

eletrônico e imediatamente lançado ao banco de dados do genoma humano.

As 3 amostras de cada genótipo foram idênticas em suas sequências e a

análise in silico confirmou que as sequências correspondiam ao gene ALP,

sendo as dos sujeitos I/I pertencentes à inserção que é objeto deste estudo.

4.2.4. Determinação do impacto do polimorfismo CNV do gene PDLIM3 sobre a expressão proteica da proteína ALP

  Para avaliar o efeito do polimorfismo CNV do gene PDLIM3 sobre os

níveis de expressão de sua proteína correspondente, amostras de biópsia

muscular de 26 pacientes sem identificação, pertencentes ao banco de

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tecidos do Children’s Hospital at Westmead, foram submetidas à extração de

DNA e genotipadas, conforme os procedimentos já descritos acima. Desses,

4 foram identificadas como carreadores do alelo I (3 pacientes D/I e 1

paciente I/I), cujas amostras quais foram, juntamente com as de outros 5

pacientes D/D pareados por gênero e idade, submetidas à análise qualitativa

de expressão da proteína ALP por meio da técnica de Western Blot.

As amostras de tecido muscular foram obtidas por meio de biópsia e

armazenadas na fase gasosa de um tanque de nitrogênio líquido. Elas foram

cortadas em criostato de chão (CM1900, Leica®) de modo a serem obtidas

10 fatias de 10 µm cada. Os cortes foram transferidos a um microtubo de 1,5

ml, ao qual foi adicionado 200 µl de tampão de lise (100 mM KCl; 10 mM

HEPES; 3 mM MgCl2; 5 mM EDTA; glicerol 50%; 1 mM DTT; SDS 3%;

coquetel inibidor de proteases e azul coomassie). Em seguida, as amostras

foram rompidas por meio de 10 pulsos ultrassônicos em desruptor de células

(TissueRuptor, Qiagen®) e homogeneizadas. Para garantir que a quantidade

de proteína aplicada ao gel de eletroforese fosse similar para todas as

amostras, uma eletroforese de verificação de carregamento em gel de

poliacrilamida com gradiente de 4 a 12% (NuPage Bis-Tris, Invitrogen®) foi

realizada. Ao final da eletroforese, o gel foi corado com solução corante

(0.1% azul coomassie, 10% ácido acético e 40% metanol) e a intensidade

das bandas correspondentes à actina e miosina foi utilizada como indicativo

de que o conteúdo total de proteína estava sendo adicionado ao gel de modo

equivalente entre todas as amostras (figura 30).

Figura 30. Gel de carregamento de proteínas dos pacientes que carregavam a inserção (DI e

II) e seus controles (DD). A banda superior corresponde à miosina e a banda inferior

corresponde à actina. A intensidade das bandas mostra que o carregamento foi

adequadamente semelhante entre as amostras.

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Após o ajuste da quantidade de cada amostra que deveria ser aplicada

ao gel, uma nova eletroforese foi realizada em gel de poliacrilamida com

gradiente de 8 a 16%. Após a separação das proteínas por peso molecular,

as mesmas foram transferidas para uma membrana de nitrocelulose

utilizando-se um sistema úmido de transferência (XCell II, Invitrogen®). O

tempo de transferência foi de 90 minutos. Em seguida, a membrana foi

incubada com solução de bloqueio ao longo de uma noite (leite desnatado

liofilizado 5% em PBST). Na manhã do dia seguinte, a membrana foi

incubada por 2 horas com anticorpo primário para a proteína PDLIM3

humana (Sigma-Aldrich®, número de catálogo HPA004749) diluído a 1:2000.

Terminado o tempo de incubação, a membrana foi lavada 5 vezes por 5

minutos com PBST e então incubada com o anticorpo secundário anticoelho

(Sigma-Aldrich®, número de catálogo R2004) diluído a 1:2000 por 1 hora.

Após a incubação, a membrana foi novamente lavada 5 vezes por 5 minutos

com PBST e, em seguida, um kit de reagentes quimioluminescentes

(Amersham ECL Plex®) foi derramado sobre a membrana para que, em

seguida, ela fosse exposta, em uma sala escura, a um filme fotossensível.

Por fim, o filme foi revelado em um equipamento automatizado (Kodak X-

Omat 1000A®).

4.2.5. Análises estatísticas   Todos os dados foram submetidos à análise de frequência e estão

apresentados como % da população (número de indivíduos). Para

comparação das frequências dos genótipos e dos alelos em diferentes

populações, foram construídas tabelas de contingência e o teste do qui-

quadrado de Pearson foi aplicado. Sempre que o número de observações em

um grupo fosse menor do que 5, foi utilizado o teste exato de Fischer. O nível

de significância adotado previamente foi de 5%.

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5. RESULTADOS

Na coorte brasileira, a frequência do genótipo I/I nos atletas foi

aproximadamente duas vezes maior do que nos controles (Tabela 7). Na

coorte australiana, resultado similar foi observado, mas o percentual de

indivíduos I/I foi muito menor em comparação com a coorte brasileira, e

nenhuma diferença estatística foi observada entre os genótipos (Tabela 7). A

análise da frequência dos alelos confirmou os dados observados nas

frequências genotípicas, sendo o alelo I significantemente mais representado

nos atletas brasileiros, mas não nos australianos (Tabela 7). Confirmando os

dados inicialmente obtidos pelo Wellcome Trust Sanger Institute (Daniel G

McArthur, comunicação pessoal), a frequência do alelo I parece ter forte

associação com a etnia, já que a inserção foi notadamente mais frequente na

população brasileira em relação à australiana (Tabela 7).

Tabela 7. Frequências dos genótipos e dos alelos nas coortes de atletas e não atletas

brasileiros e australianos.

%DD (n) %DI (n) %II (n) %alelo D (n) %alelo I (n) x2 (p)

Coorte brasileira

atletas 48,3 (158)# 35,2 (115)# 15,9 (52)# 66,3 (431) 33,7 (219) 8,34 (0,004)

controles 56 (158) 35,8 (101) 8,2 (23) 73,9 (417)* 26,1 (147)* -

Coorte australiana

atletas 80,1 (246)ns 18,6 (57)ns 1,3 (4)ns 89,4 (549) 10,6 (65) 1,11 (0,21)

controles 83,8 (134) 15,6 (25) 0,6 (1) 91,6 (293) 8,4 (27) -

*significantemente diferente dos controles australianos (x2=39,02; p<0,0001); #significantemente diferente dos controles brasileiros (x2=9,12; p=0.01); nsnão

significantemente diferente de controles australianos. Os valores de x2 e p reportados na

tabela referem-se à comparação das frequências alélicas entre atletas vs. controles.

Conforme mostra a Tabela 8, a frequência dos genótipos é, de fato,

bastante diferente entre os principais grupos étnicos brasileiros (isto é, o

genótipo I/I é especialmente mais frequente na população negra),

independente dos indivíduos serem atletas ou não. Apesar disso, a

comparação da frequência dos genótipos entre atletas e controles do mesmo

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grupo étnico confirma que os genótipos D/I e I/I são super-representados nos

atletas (Tabela 8).

Tabela 8. Distribuição dos genótipos e dos alelos entre atletas e controles da coorte

brasileira de acordo com os três principais grupos étnicos.

%DD (n) %DI (n) %II (n) %alelo D (n) %alelo I (n) x2 (p)

Atletas

brancos$ 36,6% (106) 31,9% (59) 10,8% (20) 73,2% (271) 26,8% (99) 0,69 (0,40)

negros$ 14,3% (6)* 47,6% (20)* 38,1% (16)* 38,1% (32) 61,9% (52) 0,53 (0,47)

pardos 43,9% (36) 37,8% (31) 18,3% (15) 62,8% (103) 37,2% (61) 0,82 (0,36)

Controles

brancos 56,1% (115)& 40% (82)& 3,9% (8)& 76,1% (312) 23,9% (98) -

negros 38,9% (7)# 16,7% (3)# 44,4% (8)# 47,32% (17) 52,8% (19) -

pardos 54,3% (19) 31,4% (11) 14,3% (5) 70% (49) 30% (21) -

*diferente de brancos e pardos (x2>30; p<0,0001); #diferente de brancos (x2>30; p<0,0001) e

diferente de pardos (x2=5,96; p=0,05); &diferente de pardos (x2=6,53, p=0,04); $frequências

dos genótipos diferente do grupo controle para o mesmo grupo étnico (brancos: x2=8,26,

p=0,016; negros: x2=6,8, p=0,033). Os valores de x2 e p apresentados na tabela referem-se

às comparações da frequência dos alelos entre atletas vs. controles dentro de cada uma das

etnias.

Embora os genótipos D/I e I/I estejam associados com a condição

atlética, essa variante parece não ter qualquer tipo de influência sobre o

sucesso e sobre o nível competitivo alcançado (Tabela 9). De forma similar, a

frequência dos genótipos não mostrou associação com o predomínio de

solicitação da modalidade, embora uma discreta associação do alelo I com

modalidades de força/potência tenha sido observada nas coortes australiana

e brasileira (Tabela 10).

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Tabela 9. Distribuição dos genótipos e dos alelos entre atletas da coorte brasileira de acordo

com os níveis competitivos.

%DD (n) %DI (n) %II (n) %alelo D (n) %alelo I (n)

alta-elite 51,9 (40) 35,1 (27) 13 (10) 69,5 (107) 30,5 (47)

elite 42,2 (19) 35,6 (16) 22,2 (10) 60 (54) 40 (36)

sub-elite 48,1 (62) 34,1 (44) 17,8 (23) 65,1 (168) 34,9 (90)

não elite 50,7 (38) 37,3 (28) 12 (9) 69,3 (104) 30,7 (46)

nenhuma diferença estatisticamente significante foi observada entre os níveis competitivos,

tanto para frequência do polimorfismo como para frequência do alelo.

Tabela 10. Distribuição dos genótipos e dos alelos entre atletas das coortes brasileiras e

australianas de acordo com o predomínio das modalidades (isto é, força/potência ou

resistência).

%DD (n) %DI (n) %II (n) %alelo I (n) %alelo D (n) x2 (p)

Coorte brasileira

potência 49,2 (121)ns 34,6 (85)ns 16,3 (40)ns 66,5 (327)ns 33,5 (165)ns 6,7 (0,01)

resistência 46,8 (37) 38 (30) 15,2 (12) 65,8 (104) 34,2 (54) 3,65 (0,06)

Coorte australiana

potência 75,9 (85)ns 22,3 (25)ns 1,8 (2)ns 87,1 (195)ns 12,9 (29)ns 2,85 (0,06)

resistência 82,6 (161) 16,4 (32) 1,0 (2) 90,8 (354) 9,2 (36) 0,14 (0,99) nssem diferença estatisticamente significante em relação aos atletas de resistência. Os

valores de x2 e p apresentados na tabela referem-se às comparações da frequência dos

alelos entre atletas vs. controles dentro de cada uma das coortes.

Ao avaliar a frequência dos genótipos e alelos entre os atletas de

diferentes modalidades, observamos que a inserção é mais representada nas

modalidades de ciclismo, esportes coletivos e, em especial, no atletismo

(Tabela 11). Surpreendentemente, essa associação foi bastante similar em

ambas as coortes de atletas, muito embora o percentual de indivíduos

carregadores do alelo I tenha sido consideravelmente menor na coorte

australiana (Tabela 11). Curiosamente, a frequência do alelo I foi

significantemente menor em atletas de remo em relação aos controles, o que

vai de encontro aos resultados encontrados até aqui neste estudo.

Page 83: SUMÁRIO€¦ · Assim, Kiss e colaboradores (KISS, BÖHME, MANSOLDO, DEGAKI e REGAZZINI, 2004) pontuam que o desempenho esportivo deve ser entendido como um sistema aberto que expressa

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Tabela 11. Distribuição dos genótipos e dos alelos entre atletas das coortes brasileira e

australiana de acordo com modalidades esportivas específicas.

%DD %DI %II x2 (p) %alelo D %alelo I x2 (p)

Coorte brasileira

lutas 52,4 32,9 14,6 3,07 (0,21) 68,9 31,1 1,38 (0,24)

ciclismo 44,4 43,1 12,5 3,44 (0,18) 66 34 3,25 (0,07)

natação 65,9 26,8 7,3 1,47 (0,48) 79,3 20,7 0,81 (0,36)

canoagem 50 34,6 15,4 1,58 (0,45) 67,3 32,7 0,76 (0,36)

coletivos 41,7 36,7 21,7 10,5 (0,005) 60 40 8,76 (0,003)

atletismo 33,3 33,3 33,3 18,89 (<0,0001) 50 50 14,14 (0,0002)

Coorte australiana

ciclismo 72,6 26,2 1,2 4,26 (0,12) 85,7 14,3 4,01 (0,027)

natação 86,4 13,6 0 0,53 (0,77) 93,2 6,8 0,34 (0,58)

remo 92,8 7,2 0 4,05 (0,13) 96,4 3,6 4,48 (0,02)

atletismo 70,8 24,6 4,6 7,16 (0,028) 83,1 16, 9 6,05 (0,008)

os valores de x2 e p apresentados na tabela corresponde à comparação vs. controles.

Apesar dos dados de frequência alélica e genotípica confirmarem de

certa forma nossa hipótese inicial, a análise da expressão da proteína

PDLIM3 mostrou que, ainda que ela sofra forte regulação, o genótipo, a idade

e o gênero não são fatores determinantes nessa regulação (figura 31).

Figura 31. Determinação da expressão da proteína PDLIM3 em 4 pacientes carregadores do

alelo I e em 5 pacientes não carregadores do alelo I pareados por gênero e idade.

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98    

6. DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo avaliar a associação do

polimorfismo de variação do número de cópias do gene PDLIM3 com o

desempenho no esporte. Tal variante no gene PDLIM3 foi tratada como um

provável candidato para associação com o desempenho esportivo por

algumas razões, as quais serão discutidas abaixo.

O gene PDLIM3 se expressa a elevadas taxas nos tecidos musculares

estriados, tanto o esquelético quanto o cardíaco. Esses tecidos são, muito

provavelmente, os mais diretamente relacionados com o desempenho físico e

esportivo (THOMPSON, MOYNA, SEIP, PRICE, CLARKSON,

ANGELOPOULOS, GORDON, PESCATELLO, VISICH, ZOELLER,

DEVANEY, GORDISH, BILBIE e HOFFMAN, 2004). Alguns autores

consideram o músculo esquelético como o tecido mais propenso a exibir

variantes gênicas que apresentem relação com o desempenho (THOMPSON,

MOYNA, SEIP et al., 2004). Isso porque o tamanho dos músculos, a massa

muscular e a força muscular são altamente variáveis entre indivíduos

(THOMIS, BEUNEN, MAES, BLIMKIE, VAN LEEMPUTTE, CLAESSENS,

MARCHAL, WILLEMS e VLIETINCK, 1998; THOMIS, BEUNEN, VAN

LEEMPUTTE, MAES, BLIMKIE, CLAESSENS, MARCHAL, WILLEMS e

VLIETINCK, 1998). Além disso, o tecido muscular é extremamente plástico,

podendo responder de forma rápida e diversificada aos mais diversos

estímulos como, por exemplo, o exercício físico (THOMPSON, MOYNA, SEIP

et al., 2004). Muitos dos genes que se expressam no músculo esquelético

apresentam um ou mais sítios de variação, muitas das quais são do tipo não

sinônimas e que, portanto, resultam em alteração na sequência de

aminoácidos (THOMPSON, MOYNA, SEIP et al., 2004). De fato, o gene

PDLIM3 apresenta um sítio de variação que figura dentre os maiores em

termos de número absoluto de pares de bases (JAKOBSSON, SCHOLZ,

SCHEET et al., 2008) e seu padrão de distribuição diferencial entre

populações diferentes sugere que pode ter tido alguma importância evolutiva,

provavelmente afetando o desenvolvimento e/ou função dos músculos

esquelético e cardíaco.

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99    

Embora as funções exatas que o gene PDLIM3 exerce nesses tecidos

não estejam elucidadas, algumas evidências apontam que a presença da

proteína é indispensável durante o período de desenvolvimento embrionário,

provavelmente atuando na sinalização para a diferenciação muscular (XIA,

WINOKUR, KUO et al., 1997; POMIES, PASHMFOROUSH, VEGEZZI et al.,

2007). Outras evidências sugerem que PDLIM3 atua na estabilização

estrutural do sarcômero, na transmissão de tensão mecânica e na sinalização

da mecanotransdução de sinais oriundos do citoesqueleto (CLARK,

MCELHINNY, BECKERLE et al., 2002). A proteína PDLIM3 tem a capacidade

de ligar-se às alfa-actininas sarcoméricas, provavelmente regulando sua

atividade de ancoramento dos filamentos de actina (AROLA, SANCHEZ,

MURPHY et al., 2007). Considerando que a presença ou ausência da alfa-

actnina-3 tem um profundo impacto sobre o metabolismo muscular, resposta

ao treino e alta associação com desempenho esportivo (YANG,

MACARTHUR, GULBIN et al., 2003; MACARTHUR e NORTH, 2004;

MACARTHUR, SETO, RAFTERY et al., 2007; MACARTHUR, SETO, CHAN

et al., 2008; YANG, GARTON e NORTH, 2009), é plausível especular que

alterações na proteína PDLIM3 possam de forma direta ou indireta, por meio

de sua relação com as alfa-actininas, influenciar o metabolismo muscular.

Os resultados deste estudo, em confluência com nossa hipótese

inicial, mostram que o polimorfismo CNV do gene PDLIM3 está associado

com o desempenho esportivo. Mais corretamente, essa variante está

associada com o fato de um indivíduo ser ou não um atleta. Tal associação,

no entanto, foi observada apenas na coorte brasileira, mas não na

australiana. É possível que essa associação tenha sido observada apenas na

coorte brasileira em função de diferenças étnicas entre as coortes estudadas.

Nesse sentido, é possível observar que a frequência do alelo I na coorte

brasileira de controles foi mais do que 3 vezes maior do que o encontrado na

coorte australiana (26% vs. 8,4%), resultado similar para os genótipos D/I e I/I

(35,8% e 8,2% vs. 15,6% e 0,6%, respectivamente). Em vista da raridade do

alelo I na coorte australiana, seria muito improvável que algum tipo de

associação com um fenótipo tão complexo fosse de fato encontrada. Esses

dados indicam que o polimorfismo CNV do gene ALP, a exemplo de outras

variações encontradas em outros genes (RANKINEN, ROTH, BRAY et al.,

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100    

2010), é relevante para o desempenho apenas em determinados grupos

étnicos, mas não em outros.

Ainda em relação às diferenças étnicas, foi possível observar que, a

despeito de todas as limitações inerentes à relação entre cor da pele e

background genético (PIMENTA, ZUCCHERATO, DEBES, MASELLI,

SOARES, MOURA-NETO, ROCHA, BYDLOWSKI e PENA, 2006;

OSTRANDER, HUSON e OSTRANDER, 2009), o alelo I e os genótipos D/I e

I/I foram muito mais frequentes na população negra em relação aos brancos

e pardos, e mais frequentes nos pardos em relação aos brancos. A principal

implicação desses resultados é que, em função da maior proporção de

negros e pardos na coorte de atletas em comparação com os controles, é

possível que a diferenças encontradas nas distribuições alélicas e

genotípicas sejam reflexo da maior quantidade de representantes desses

grupos étnicos, ao invés de refletirem uma associação propriamente dita do

polimorfismo com o desempenho. Contudo, ao se contrastar a frequências

genotípicas entre atletas e controles dentre de cada grupo étnico, o alelo I

continua sendo super-representado entre os atletas. Ainda que o grau de

associação seja um pouco menor do que o observado quando as

comparações não levam em conta a etnia, esses dados corroboram a tese de

que o polimorfismo CNV do gene PDLIM3 é associado ao estado atlético. De

qualquer forma, todas as análises desse polimorfismo devem levar em

consideração a proporção dos grupos étnicos para que isso não se torne um

viés. Com base nisso, todas as análises de associação entre subgrupos

apresentadas neste estudo foram previamente testadas quanto ao

desbalanceamento de etnias entre os grupos.

Surpreendentemente, o polimorfismo CNV do gene PDLIM3 não se

mostrou distribuído de forma diferencial entre atletas de diferentes níveis

competitivos. Embora esse dado enfraqueça um pouco a tese de associação

com o desempenho esportivo, é possível que tal variação não influencie o

tecido muscular de modo tão impactante a ponto de determinar o grau de

sucesso competitivo. Essa é uma provável consequência do tipo de

abordagem utilizada neste estudo, a abordagem de gene único. De acordo

com Flueck et al. (FLUECK, VAUGHAN e WESTERBLAD, 2010), o gene

estudado, por qualquer que seja, pode não ser o “gargalo” da regulação das

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101    

variáveis que contribuem para o desempenho, como força e massa

musculares, capacidade aeróbia, entre outras. É muito provável que haja, na

verdade, sobreposição de genes sobre essas variáveis de forma que uma

variação em um único gene pode ser compensada por outros genes, o que

pode ser entendido como um indicativo da robustez do sistema em “proteger-

se” de eventuais falhas comuns (FLUECK, VAUGHAN e WESTERBLAD,

2010). No mesmo sentido, é possível que uma variação tenha certo impacto

no local onde o gene se expressa, mas em nível sistêmico ela pode ser

apenas marginalmente relevante e, portanto, difícil de ser identificada

(FLUECK, VAUGHAN e WESTERBLAD, 2010), especialmente quando o

fenótipo que está sendo associado com a variação é tão complexo e

multifatorial.

A comparação da frequência dos genótipos entre atletas de

força/potência e resistência não revelou nenhuma diferença estatisticamente

significante, tanto na coorte de atletas brasileiros como na de australianos.

Por outro lado, a análise da frequência alélica mostrou que o alelo I tende a

ser mais frequente em atletas de força/potência em relação aos de

resistência, na coorte australiana. Resultado semelhante foi observado na

coorte brasileira. Embora ambos o grupo de atletas de resistência tenha

apresentado uma tendência de associação com o alelo I, o grau dessa

associação foi maior entre os representantes de força/potência. Apesar da

falta de informação disponível a respeito do impacto desse polimorfismo

sobre a função muscular, é possível especular que tal associação esteja

relacionada com a função da proteína PDLIM3 em contribuir para sarcômeros

mais robustos, provavelmente capazes de gerar e transmitir melhor a tensão

produzida pela contração muscular (CLARK, MCELHINNY, BECKERLE et al.,

2002). Uma outra possível explicação estaria baseada na função da proteína

PDLIM3 sobre o processo de mecanotransdução de sinais (CLARK,

MCELHINNY, BECKERLE et al., 2002), o que poderia afetar diretamente o

processo de adaptação muscular pós-treino e, em consequência, modular as

respostas hipertróficas ao treinamento físico. Contudo, é importante salientar

que essas explicações ainda são sobremaneira especulativas, de tal forma

que não há evidências diretas que as sustentem. Sem dúvidas, estudos

prospectivos devem determinar se indivíduos que carregam o alelo I

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102    

respondem melhor ao treino de força do que aqueles que não o carregam.

Ainda, estudos mais específicos devem determinar a influência da inserção

sobre a arquitetura, metabolismo e função musculares.

Curiosamente, a frequência do alelo I foi significantemente maior em

atletas de atletismo, fato observado tanto na coorte australiana quanto na

coorte brasileira. De modo muito similar, a frequência do alelo tendeu a ser

maior em ciclistas na coorte brasileira e foi, de fato, maior na coorte

australiana. O mesmo foi observado em atletas de esportes coletivos da

coorte brasileira (a maior parte deles competindo basquete e vôlei – a coorte

australiana não tem representantes dessas modalidades). Embora seja

extremamente difícil estabelecer uma conexão entre o alelo e as demandas

específicas dessas modalidades, é ainda mais difícil assumir que a maior

frequência do alelo I nas mesmas modalidades em ambas as coortes, a

despeito das enormes diferenças étnicas, tenha sido mera coincidência.

Certamente, explicações que conectem esses resultados com informações

fisiológicas só serão possíveis quando houver entendimento das alterações

provocadas pelo polimorfismo CNV do gene PDLIM3 sobre o fenótipo

muscular. Baseado apenas nos dados obtidos e nas escassas informações

da literatura, é possível apenas especular que, de alguma forma, essa

variação genética é mais importante para o atletismo e para o ciclismo do que

para outras modalidades. De fato, para as demais modalidades, nenhuma

associação foi observada com o alelo I em nenhuma das cortes.

Surpreendentemente, foi observada uma maior frequência do alelo D nos

remadores australianos, outro resultado para o qual não é possível prover

uma explicação que ligue a função do gene e da proteína com as

especificidades da modalidade.

Por fim, o ensaio de determinação de expressão da proteína PDLIM3

não revelou nenhuma diferença em função dos genótipos. Pode-se observar

que, de fato, sua expressão é bastante regulada, já que os níveis da proteína

são marcadamente diferentes entre os indivíduos. Entretanto, o fato dos

indivíduos carregarem ou não o alelo I parece ter pouca ou nenhuma

influência sobre a quantidade de PDLIM3 no tecido muscular. As outras

variáveis conhecidas e que também poderiam exercer algum tipo de

influência sobre o padrão de expressão proteica (isto é gênero e idade)

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103    

também não parecem ter qualquer tipo de relação com a quantidade de

PDLIM3 encontrada nos músculos dos pacientes avaliados. Esses resultados

tornam o estabelecimento de uma relação fisiológica entre o genótipo e o

fenótipo ainda mais difícil. Se, por um lado, os dados são consistentes o

suficiente para demonstrar a associação entre o polimorfismo e o estado

atlético, por outro, tal associação não está baseada na alteração do padrão

de expressão da proteína PDLIM3 causada pelo polimorfismo. Considerando

que a inserção ocorre no íntron 3, ou seja, uma região não codificadora, não

é razoável assumir que o polimorfismo afete a função da proteína por alterar

sua estrutura. Uma vez que o polimorfismo estudado não altera a expressão

tampouco a estrutura da proteína, outros mecanismos devem explicar a

associação com o desempenho esportivo observada neste estudo. Tais

mecanismos podem envolver a alteração da expressão das proteínas com as

quais ele interage, como alfa-actinina-2 e alfa-actinina-3, ou alterações que

ocorrem durante a diferenciação e desenvolvimento musculares que não

seriam detectáveis em tecido muscular adulto, mas que poderiam ter algum

impacto sobre a ultraestrutura do sarcômero. Mais uma vez, somente estudos

mais específicos poderiam confirmar ou refutar tais essas hipóteses. Embora

o presente estudo tenha demostrado de forma razoavelmente contundente

que o polimorfismo CNV do gene ALP está associado com a condição

atlética, ainda há muito a se investigar a respeito das razões biológicas que

levam a tal associação.

Este estudo tem algumas limitações, as quais precisam ser

destacadas. Primeiramente, este estudo é primordialmente correlacional, o

que limita qualquer tentativa de estabelecimento de relação causa-efeito.

Portanto, todas as evidências aqui apresentadas de associação do

polimorfismo CNV do gene PDLIM3 com a condição atlética precisam ser

estendidas ou refutadas por meio de estudos cujos desenhos experimentais

prospectivos permitam que relações de causa e efeito. Ainda assim, é preciso

reconhecer o mérito deste trabalho, o qual conta com uma amostra

geneticamente heterogênea e que, a despeito disso, foi capaz de observar

associação entre a variante gênica estudada e a condição atlética.

Uma segunda limitação inerente a qualquer estudo de associação

entre uma variável genética e um fenótipo tão complexo quanto o

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desempenho esportivo é o aspecto multifatorial do desempenho esportivo.

Deve-se ponderar que a genética é apenas um de inúmeros fatores que

determinam se um indivíduo é ou não bem sucedido no esporte

(BOUCHARD, MALINA e PÉRUSSE, 1997; VAEYENS, LENOIR, WILLIAMS

et al., 2008; HENRIKSEN, STAMBULOVA e ROESSLER, 2010) e, dentre os

inúmeros fatores genéticos, este estudo focou-se em apenas um.

Uma última limitação que deve ser discutida refere-se ao ensaio de

quantificação da expressão da proteína PDLIM3 realizada neste estudo.

Deve ser enfatizado que apenas amostras de tecido muscular já disponíveis

no banco de tecidos do Children’s Hospital at Westmead estavam disponíveis

para análise. Entretanto, todos os tecidos desse banco pertenciam a

pacientes com diferentes doenças neuromusculares de origem genética.

Embora nossa equipe tenha tomado o cuidado de parear os genótipos por

idade e gênero, é importante ressaltar que apena 1 sujeito I/I foi identificado

nesse grupo. Logo, os efeitos da presença total da inserção não puderam ser

avaliados nesse ensaio. Ainda, a amostra de nenhum sujeito que

apresentasse algum tipo de desordem muscular foi incluída nesse ensaio.

Todas as amostras pertenciam ao banco de pacientes com doenças

musculares de causa genética, para os quais havia apenas identificação

mínima, conforme as normas do comitê de ética local. Mesmo que a

desordem genética que os sujeitos apresentavam tivesse impacto direto

mínimo, se algum, sobre a expressão da proteína PDLIM3, não se pode

negligenciar o impacto da diminuição da atividade física sobre o padrão geral

de expressão das proteínas musculares. Logo, os resultados aqui

apresentados podem não necessariamente corresponder aos efeitos do

genótipo sobre o padrão de expressão da proteína PDLIM3 em sujeitos

saudáveis, tampouco em atletas. Assim, é indispensável que estudos futuros

confirmem/refutem esses resultados em um grupo de sujeitos saudáveis.

Em conclusão, o presente estudo mostrou que o polimorfismo CNV do

gene PDLIM3 é associado à condição atlética, em especial na população

brasileira. Tal associação não tem relação com o nível competitivo, embora

pareça ter associação mais forte com os esportes de força/potência. Em

particular, esse polimorfismo parece favorecer as modalidades de ciclismo,

atletismo e basquete/vôlei. A presença do alelo I parece não influenciar o

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105    

padrão de expressão da proteína PDLIM3 e, portanto, estudos futuros devem

avaliar os mecanismos responsáveis pela associação observada neste

estudo.

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106    

7. REFERÊNCIAS

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